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Pressupostos Jurídicos Modernos: a) Monismo Jurídico b) Positivismo Normativo e c) Racionalização Formal suporte ideológico e material do predominante dogmatismo jurídico Rodrigues [2010 101] do Direito como Ontologia (Expressão da Lei Natural Divina) ao Direito como Deontologia (Expressão do Dever Moral) ==== Direito & Estado Modernos: Absolutismo Contratualismo & Monismo Jurídico ===== OLIVEIRA [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Princípios do Direito: Unicidade & Estatalidade [Teoria do Estado] ==== Direito Racional: Generalidade, Impessoalidade ============= OLIVEIRA [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Características da Norma Jurídica: Generalidade Abstratalidade Coercitividade e Impessoalidade (pg 23) === Fundamentos Filosóficos: Monismo Jurídico, Racionalismo Formal & Positivismo Jurídico === OLIVEIRA [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Princípios do Direito: Unicidade & Estatalidade Direito Moderno: Monismo Jurídico Condicionamento do Direito à Idéia Exclusiva de Lei Medievo: direito plural era obra da sociedade e dos seus costumes Estado Moderno: monopoliza a produção jurídica Para compor a fórmula ideológica, além do monismo estatal, tem-se que acrescentar a idéia de Direito reduzido à lei, e ainda a racionalização formal/científica do Direito. Direito Moderno: Fundamentação Filosófica (pg 26) Direito Moderno: Pressupostos do Positivismo Jurídico Normativo Monismo Jurídico, Racionalismo Formal & Positivismo Jurídico Direito Moderno: Racionalidade Legal-Formal Questão: Como as características gerais do Positivismo Jurídico Transformaram-se hegemonicamente em significado puro do Direito. "Apesar do positivismo ter tido a França como seu ambiente histórico natural, constituindo-se desde logo em ideologia da burguesia vitoriosa da revolução de 1789, ele espalhou-se por toda a Europa oitocentista"

Max Weber e a Racionalizacao Do Direito Na Modernidade

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Max Weber Sociologia Direito Modernidade Racionalização Justiça x Legalidade Legitimidade Material x Legitimidade Formal

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Pressupostos Jurdicos Modernos: a) Monismo Jurdico b) Positivismo Normativo e

c) Racionalizao Formal suporte ideolgico e material do predominante dogmatismo jurdico Rodrigues [2010 101] do Direito como Ontologia (Expresso da Lei Natural Divina)

ao Direito como Deontologia (Expresso do Dever Moral)

==== Direito & Estado Modernos: Absolutismo Contratualismo &

Monismo Jurdico ===== Oliveira [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Princpios do Direito: Unicidade & Estatalidade [Teoria do Estado] ==== Direito Racional: Generalidade, Impessoalidade =============

Oliveira [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Caractersticas da Norma Jurdica: Generalidade Abstratalidade Coercitividade e Impessoalidade (pg 23) === Fundamentos Filosficos: Monismo Jurdico, Racionalismo Formal &

Positivismo Jurdico === Oliveira [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Princpios do Direito: Unicidade & Estatalidade

Direito Moderno: Monismo Jurdico Condicionamento do Direito Idia Exclusiva de Lei

Medievo: direito plural era obra da sociedade e dos seus costumes

Estado Moderno: monopoliza a produo jurdica Para compor a frmula ideolgica, alm do monismo estatal, tem-se que acrescentar a idia de Direito reduzido lei, e ainda a racionalizao formal/cientfica do Direito. Direito Moderno: Fundamentao Filosfica (pg 26) Direito Moderno: Pressupostos do Positivismo Jurdico Normativo

Monismo Jurdico, Racionalismo Formal & Positivismo Jurdico Direito Moderno: Racionalidade Legal-Formal Questo: Como as caractersticas gerais do Positivismo Jurdico Transformaram-se hegemonicamente em significado puro do Direito. "Apesar do positivismo ter tido a Frana como seu ambiente histrico natural, constituindo-se desde logo em ideologia da burguesia vitoriosa da revoluo de 1789, ele espalhou-se por toda a Europa oitocentista" (Coelho [2003] Teoria Crtica do Direito)

Duas esferas diferentes, porm concomitantes e, sobretudo, comunicantes:

Positivao do Direito: "uma certa via ou caminho, o caminho da positivao, em direo positividade"

Positivismo Jurdico: "o modo de viver o direito e de conceb-lo identificando-o, apenas, com o direito positivo, ou seja, com o direito sancionado-positivado pelo Estado" (Clve [2001] O Direito e os Direitos: Elementos para uma Crtica do Direito Contemporneo) ==== Weber: Dominao Racionalizao Burocratizao Capitalismo ====

Oliveira [2008] Crise Direito Moderno & Concretizacao Alternativa Dignidade Weber: Racionalizao Secularizao (pg 40)

Quintaneiro, Barbosa & Oliveira [2002] Um Toque de Clssicos ==== Ocidente Moderno & Racionalizao =====================

Se quisssemos caracterizar, em uma s idia, a marca distintiva que Weber identifica nas sociedades ocidentais modernas, esta seria de que o mundo tende inexoravelmente racionalizao em todas as esferas da vida social. Dizem seus bigrafos: At mesmo uma rea de experincia to interiorizada e aparentemente subjetiva como a da msica se presta a um trabalho sociolgico sobre o conceito de racionalizao de Weber. A fixao de padres de acordes atravs de uma anotao mais concisa e o estabelecimento da escala bem temperada; a msica tonal harmoniosa e a padronizao do quarteto de sopro e dos instrumentos de corda como o ncleo da orquestra sinfnica. Tais fatos so vistos como racionalizaes progressivas. Os sistemas musicais da sia, as tribos indgenas pr-letradas da Antigidade e do Oriente Mdio, so comparveis no que se relaciona com o seu mbito e grau de racionalizao. O prprio estudo que elabora sobre a Sociologia da religio visa a "contribuir para a tipologia e Sociologia do racionalismo", e por isso o estudo "parte das formas mais racionais que a realidade pode assumir", ou seja, as tpico-ideais. Weber procura, assim, "descobrir at que ponto certas concluses racionais, que podem ser estabelecidas teoricamente, foram realmente formuladas. E talvez descubramos por que no". Isto no significa que outras formas de atividade, que se tornaram altamente racionalizadas, sempre tivessem tido tal orientao, mesmo no caso da ao econmica que hoje se utiliza amplamente do clculo como tcnica racional. Em sua forma primitiva, todo afanar-se dos homens por sua alimentao muito semelhante quilo que nos animais tem lugar sob o imprio dos instintos. Do mesmo modo, encontra-se pouco desenvolvido o grau de calculabilidade da ao econmica conscientemente orientada pela devoo religiosa, pela emoo guerreira, pelos impulsos de piedade ou por outros afetos semelhantes.

==== Cincia & Desencantamento do Mudo ====================

Uma das conseqncias da racionalizao operada por meio da cincia o que Weber denomina o "desencantamento do mundo".

A humanidade partiu de um universo habitado pelo sagrado, pelo mgico, excepcional e chegou a um mundo racionalizado, material, manipulado pela tcnica e pela cincia. O mundo de deuses e mitos foi despovoado, sua magia substituda pelo conhecimento cientfico e pelo desenvolvimento de formas de organizao racionais e burocratizadas. Com isso, "os valores ltimos e mais sublimes retiraram-se da vida pblica, seja para o reino transcendental da vida mstica, seja para a fraternidade das relaes humanas diretas e pessoais". A crescente racionalizao significa que no h foras misteriosas incalculveis. Significa mas que podemos, em princpio, dominar todas as coisas pelo clculo. Isto significa que o mundo foi desencantado. J no precisamos recorrer aos meios mgicos para dominar ou implorar aos espritos. (...) Os meios tcnicos e os clculos realizam o servio. Isto, acima de tudo, o que significa a racionalizao . ==== Racionalizao & Decadncia =========================

Quais as conseqncias dessa racionalizao operada por meio da cincia e da tcnica? Acaso ela garantiria que os homens encontraram o caminho para o verdadeiro Deus ou para a felicidade? A despeito da dimenso iluminista do seu pensamento, na qual a histria revela-se como um progresso, existe um Weber pessimista que aponta para as conseqncias negativas, mas inevitveis, do processo de racionalizao.

Isto d sua obra, certamente crtica, um tom de resignao. Como participante ativo da produo cultural de sua poca, Weber partilhava a viso de que o avano da racionalidade tinha tambm como resultado uma decadncia geral da cultura clssica, em especial da alem. O sentido em que o processo de evoluo vem ocorrendo tal que "limita cada vez mais o alcance das escolhas efetivas abertas aos homens". Estes no s tm poucas alternativas como vo se tornando cada vez mais medocres.

ao menos teramos hoje um conhecimento mais claro das nossas prprias condies de vida do que tinham os primitivos? o prprio Weber que responde a essas indagaes:

A menos que seja um fsico, quem anda num bonde no tem idia de como o carro se movimenta. E no precisa saber. Basta-lhe poder contar com o comportamento do bonde e orientar sua conduta de acordo com essa expectativa; mas nada sabe sobre o que necessrio para produzir o bonde ou moviment-lo. O selvagem tem um conhecimento incomparavelmente maior sobre suas ferramentas. (...) A crescente intelectualizao e racionalizao no indicam, portanto, um conhecimento maior e geral das condies sob as quais vivemos. ==== Protestantismo & Capitalismo ========================

Weber abordou "os motivos que determinaram as diferentes formas de racionalizao tica da conduta de vida". Encontrou explicaes internas prpria esfera religiosa. Weber busca a relao entre uma tica religiosa e os fenmenos econmicos e sociais, ou melhor, os tipos de conduta ou de modos de agir que possam ser mais favorveis a certas formas de organizao da esfera econmica e a uma tica econmica. Atravs da anlise de uma das direes em que evolui a esfera religiosa no sentido de uma racionalizao crescente, Weber encontrar a base para explicar o predomnio de concepes e prticas econmicas racionalizadas nas sociedades ocidentais. No caso de algumas seitas protestantes, as tenses entre os campos econmico e religioso so superadas, e podemos dizer que a afinidade eletiva entre os elementos dominantes em cada um deles refora o desenvolvimento da tica asctica [intramundana] e do capitalismo enquanto uma forma de orientar a ao econmica. =============

Assim como na economia e na poltica, tambm tem-se assistido na vida religiosa, especialmente em algumas seitas ocidentais, ao estabelecimento de um conjunto de valores conducentes racionalizao das condutas dos fiis. conseqncias prticas da religiosidade em termos das suas possibilidades de racionalizao da conduta social.Weber considerou este um fenmeno fundamental para a transformao das prticas econmicas e para a constituio da estrutura das sociedades modernas. A religio pode fomentar o racionalismo prtico. Em outras palavras, estimular a intensificao da racionalidade metdica, sistemtica do modo de vida, e uma objetivao e socializao racional dos ordenamentos terrenos. Isto foi o que ocorreu com os mosteiros catlicos cujas prticas cotidianas somadas frugalidade dos internos tiveram como conseqncia inesperada um acumulo considervel de riqueza. A diferena histrica decisiva entre as religiosidades de salvao predominantes no mundo oriental e no ocidental consiste em que a primeira desemboca essencialmente na contemplao, e a ltima, no ascetismo. [contemplao: estado "no qual o indivduo no um instrumento, mas um recipiente do divino"] Enquanto os ascetas procuravam participar nos processos do mundo, os msticos dispunham-se possesso contemplativa do sagrado [...] e portanto foge do mundo para unir-se aos deuses. A atitude religiosa asctica conduz o virtuoso a submeter seus impulsos naturais ao modo sistematizado de levar a vida, o que pode provocar uma reorientao da vida social da comunidade num sentido tico religioso, um domnio racional do universo. Para concentrar-se nas obras de salvao pode ser necessria uma separao do mundo - incluindo-se a as relaes familiares, os interesses econmicos, erticos etc. (ascetismo negador do mundo) - ou a atividade dentro e frente ordem do mundo (ascetismo orientado para o mundo, secular ou intramundano). No primeiro caso, o crente defende-se contra as distraes que a vida terrena oferece, no segundo, o mundo torna-se uma obrigao, e a misso do crente, que se torna um reformador ou revolucionrio racional, consiste em transform-lo segundo os ideais ascticos. Para o asceta [extramundano], entregar-se aos bens mundanos pe em perigo a concentrao sobre os bens de salvao: preciso, ento, neg-los. Para o asceta intramundano, atuar sobre as esferas seculares e submeter seus prprios impulsos naturais convertem-se numa vocao que ele tem que cumprir racionalmente. ==== Ordem Social & Tipos de Dominao =====================

Uma das questes colocadas Sociologia a que se refere persistncia das relaes sociais. O que pode levar a que o contedo dessas relaes ou elas prprias se mantenham? Dito de outro modo, o que faz com que os indivduos dem s suas aes um sentido determinado que perdure com regularidade no tempo e no espao? Qual a base da regularidade nas aes das pessoas se o que lhes d sentido no uma instituio abstrata? Para Weber, o fundamento da organizao social a dominao ou a produo da legitimidade, da submisso de um grupo a um mandato. fundamental ento distinguir os conceitos de poder e dominao.

O poder "a probabilidade de impor a prpria vontade dentro de uma relao social, mesmo contra toda a resistncia e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade". Como diria Rousseau, em Do Contrato Social: "Ceder fora constitui ato de necessidade, no de vontade; quando muito, ato de prudncia. Em que sentido poder representar um dever?".

A probabilidade de encontrar obedincia dentro de um grupo a um certo mandato torna os conceitos de dominao e de autoridade de interesse para a Sociologia j que possibilitam a explicao da regularidade do contedo de aes e das relaes sociais. Enquanto a disciplina deve-se obedincia habitual, por exemplo por parte das massas ou da famlia, "sem resistncia nem crtica", a dominao um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta (mandato) do dominador ou dos dominadores influi sobre os atos de outros (do dominado ou dos dominados), de tal modo que, em um grau socialmente relevante, estes atos tm lugar como se os dominados tivessem adotado por si mesmos e como mxima de sua ao o contedo do mandato (obedincia).

Para Weber, a dominao legtima pode justificar-se por trs motivos de submisso (ou princpios de autoridade): tradicionais, afetivos ou racionais. Pode depender diretamente de uma constelao de interesses, ou seja, de consideraes utilitrias de vantagens e inconvenientes por parte daquele que obedece. Pode tambm depender de mero costume, do hbito cego de um comportamento inveterado.

Ou pode fundar-se, finalmente, no puro afeto, na mera inclinao pessoal do sdito. No obstante, a dominao que repousasse apenas nesses fundamentos seria relativamente instvel. Nas relaes entre dominantes e dominados, por outro lado, a dominao costuma apoiar-se internamente em bases jurdicas, nas quais se funda a sua legitimidade, e o abalo dessa crena na legitimidade costuma acarretar conseqncias de grande alcance. Em forma totalmente pura, as bases de legitimidade da dominao so somente trs, cada uma das quais se acha entrelaada - no tipo puro - com uma estrutura sociolgica fundamentalmente diversa do quadro e dos meios administrativos.

So, portanto, trs os tipos de dominao legtima: a legal, a tradicional e a carismtica. As formas bsicas de legitimao justificam-se com base em distintas fontes de autoridade, a do "ontem eterno", isto , dos mores santificados pelo reconhecimento inimaginavelmente antigo e da orientao habitual para o conformismo. o domnio tradicional exercido pelo patriarca e pelo prncipe patrimonial de outrora. (...) A do dom da graa (carisma) extraordinrio e pessoal, a dedicao absolutamente pessoal e a confiana pessoal na revelao, herosmo ou outras qualidades da liderana individual. o domnio carismtico exercido pelo profeta ou - no campo da poltica - pelo senhor de guerra eleito, pelo governante plebiscitrio, o grande demagogo ou o lder do partido poltico. Finalmente, h o domnio da legalidade, em virtude da f na validade do estatuto legal e da competncia funcional, baseada em regras racionalmente criadas. Nesse caso, espera-se o cumprimento das obrigaes estatutrias. o domnio exercido pelo moderno servidor do Estado e por todos os portadores do poder que, sob este aspecto, a ele se assemelham.

A luta pelo estabelecimento de uma forma de dominao legtima isto , de definies de contedos considerados vlidos pelos participantes das relaes sociais marca a evoluo de cada uma das esferas da vida coletiva em particular e define o contedo das relaes sociais no seu interior. As atitudes subjetivas de cada indivduo que parte dessa ordem passam a orientar-se pela crena numa ordem legtima, a qual acaba por corresponder ao interesse e vontade do dominante. Desse ponto de vista, a dominao o que mantm a coeso social, garante a permanncia das relaes sociais e a existncia da prpria sociedade. Ela se manifesta sob diversas formas: a interpretao da histria de acordo com a viso do grupo dominante numa certa poca, a imposio de normas de etiqueta e de convivncia social consideradas adequadas, e a organizao de regras para a vida poltica. importante ressaltar que a dominao no um fenmeno exclusivo da esfera poltica, mas um elemento essencial que percorre todas as instncias da vida coletiva.

Weber interessou-se pelas estruturas de dominao especialmente sob duas formas: a burocrtica e a carismtica. A dominao burocrtica corresponde ao tipo especificamente moderno de administrao, racionalmente organizado, ao qual tendem as sociedades ocidentais e que pode aplicar-se tanto a empreendimentos econmicos e polticos quanto queles de natureza religiosa, profissional etc. Nela a legitimidade se estabelece atravs da crena na legalidade das normas estatudas e dos direitos de mando dos que exercem a autoridade. Em oposio a ela, as duas outras formas (tradicional e carismtica) fundamentam-se em condutas cujos sentidos no so racionais. Em comparao com a carismtica, a tradicional mais estvel. Mas, em certas circunstncias, cada uma dessas formas de dominao pode converter-se na outra ou destru-la. As formas de dominao tradicionais ou racionais podem ser rompidas pelo surgimento do carisma que institui um tipo de dominao que se baseia na "entrega extra-cotidiana santidade, herosmo ou exemplaridade de uma pessoa e s regras por ela criadas ou reveladas". Ela representa a possibilidade, no sistema terico weberiano, de rompimento efetivo, apesar de temporrio, das outras formas de dominao. Em algum momento de seu exerccio e mesmo para manter-se, a dominao carismtica tende a tornar-se tradicional ou racional-legal, o que chamado de rotinizao ou cotidianizao do carisma.

==== Racionalizao & Burocracia =========================

Um dos meios atravs do qual a racionalizao se atualiza nas sociedades ocidentais a organizao burocrtica. Da administrao pblica gesto dos negcios privados, da mfia polcia, dos cuidados com a sade s prticas de lazer, escolas, clubes, partidos polticos, igrejas, todas as instituies, tenham elas fins ideais ou materiais, estruturam-se e atuam atravs do instrumento cada vez mais universal e eficaz de se exercer a dominao que a burocracia.

Entre os trs tipos puros de dominao legtima, a racional ou legal a forma de organizao na qual mais se reduz a importncia de outras influncias como a riqueza, os costumes, a parentela e os amigos, substituindo-as por leis ou regulamentaes administrativas. As ordens passam a ser dadas de maneira previsvel e estvel; cuida-se da execuo dos deveres e dos direitos dos que se submetem a ela; a especializao necessria para o exerccio de cargos ou funes claramente determinada; apelam-se para as normas e os registros escritos, os arquivos, "o sistema de leis, aplicadas judicial ou administrativamente de acordo com determinados princpios, vale para todos os membros do grupo social". A burocracia enquanto tipo ideal pode organizar a dominao racional-legal por meio de uma incomparvel superioridade tcnica que garanta preciso, velocidade, clareza, unidade, especializao de funes, reduo do atrito, dos custos de material e pessoal etc. Ela deve tambm eliminar dos negcios "o amor, o dio e todos os elementos sensveis puramente pessoais, todos os elementos irracionais que fogem ao clculo". A organizao burocrtica hierrquica, e o recrutamento para seus quadros d-se atravs de concursos ou de outros critrios objetivos. Funcionrios que pudessem ser eleitos pelos governados modificariam o rigor da subordinao hierrquica j que isto estabeleceria uma relativa autonomia frente ao seu superior. O tipo ideal do burocrata o do funcionrio que age em cooperao com outros, cujo ofcio separado de sua vida familiar e pessoal, regulamentado por mandatos e pela exigncia de competncia, conhecimento e percia e que no pode usar dos bens do Estado em proveito prprio ou apropriar-se deles. O salrio determinado de acordo com o cargo e existe uma carreira que estrutura a hierarquia. Ao ocupar um posto, o funcionrio

no se subordina como, por exemplo, sucede na forma de dominao feudal ou patrimonial a uma pessoa como a um senhor ou patriarca, mas coloca-se a servio de uma finalidade objetiva impessoal. (...) O funcionrio pblico, por exemplo pelo menos num Estado moderno avanado , no considerado um empregado particular de um soberano. Embora configuraes burocrticas tenham existido no Egito e na China antigos, e seja tambm desse modo que se organize a Igreja romana, essa por excelncia a forma do Estado moderno que assim expressa a racionalizao da dominao poltica por parte dos grupos que o controlam, seja numa sociedade capitalista ou socialista. Dotada de inmeras facetas, a organizao burocrtica tanto pode exacerbar o centralismo decorrente da racionalizao, e com isso superar os valores democrticos, como representar um elemento de democratizao j que, diante da norma burocrtica, todos so em princpio rigorosamente iguais. Weber acreditava que a racionalizao acentuar-se-ia ainda mais nas sociedades em que a propriedade dos meios de produo fosse coletivizada. Tais consideraes tericas inspiraro as cincias administrativas assim como os estudos sobre organizaes formais e dos partidos polticos.

O processo de burocratizao tambm ocorre na economia e na empresa modernas a partir do estabelecimento de um controle contbil de custos, de formas racionais de organizao do trabalho e da mecanizao. Com a finalidade de obter o mximo lucro, as empresas capitalistas procuram organizar de modo racional o trabalho e a produo, necessitando, para tanto, garantir-se contra as irracionalidades dos afetos e das tradies que perturbam a calculabilidade indispensvel ao seu desenvolvimento. Os indivduos tenderiam, igualmente, a se tornar mais racionais em suas aes. A disciplina da moderna fbrica capitalista espelha-se na disciplina militar, mas utiliza-se de mtodos completamente racionais como aqueles desenhados pela administrao cientfica que o autor conheceu nos Estados Unidos. As sociedades modernas caminham no sentido de uma crescente racionalidade e burocratizao tambm em suas formas de conhecimento, como o caso da cincia.

Weber enlaa esses temas e responde s suas indagaes mais persistentes e fundamentais sobre o desenvolvimento do capitalismo no Ocidente e a racionalizao da conduta promovida por um sistema tico, por meio do que se torna sua obra mais conhecida: A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo. ==== Racionalizao & Capitalismo ========================

Entre os elementos especficos das sociedades ocidentais que teriam levado ao surgimento e desenvolvimento do capitalismo no se destacam o incremento da populao nem a afluncia de metais preciosos. Tal processo ocorrera por meio "da empresa permanente e racional, da contabilidade racional, da tcnica racional e do Direito racional. A tudo isso se deve ainda adicionar a ideologia racional, a racionalizao da vida, a tica racional da economia. "70 Em suma, o capitalismo vinculava-se racionalizao na vida prtica. Foi a presena muito significativa de protestantes de vrias seitas entre os empresrios e os trabalhadores qualificados nos pases capitalistas mais industrializados que sugerira a Weber a possibilidade da existncia de algum tipo de afinidade particular entre certos valores presentes na poca do surgimento do capitalismo moderno e aqueles disseminados pelo calvinismo. Por meio da anlise de obras de puritanos e de autores que representavam a tica calvinista - baseada numa atividade incessante no mundo - Weber procurou encontrar uma possvel relao entre valores e condies para o estabelecimento do capitalismo. Para os puritanos,

a perda de tempo (...) o primeiro e o principal de todos os pecados. (...) A perda de tempo, atravs da vida social, conversas ociosas, do luxo e mesmo do sono alm do necessrio para a sade - seis, no mximo oito horas por dia - absolutamente dispensvel do ponto de vista moral.71 Por isso, at mesmo o esporte deveria "servir a uma finalidade racional: a do restabelecimento necessrio eficincia do corpo" e nunca como diverso ou como meio "de despertar o orgulho, os instintos, ou o prazer irracional do jogo". Por motivos semelhantes reprovava-se o teatro - o que angariou o dio e o desprezo de Shakespeare pelos puritanos - e as demais atividades estticas e artsticas como a poesia, a msica, a literatura e at mesmo as que se referiam ao vesturio e decorao pessoal. Para fundar as possveis conexes ou paralelos entre as mudanas na esfera religiosa e as transformaes na economia, Weber cita mximas publicadas pelo norte-americano Benjamin Franklin, em meados do sculo 18, as quais servem de expresso do que ele est chamando de esprito do capitalismo:

Lembra-te de que tempo dinheiro. Aquele que pode ganhar dez xelins por dia por seu trabalho e vai passear ou fica vadiando metade do dia, embora no dispenda mais do que seis pences durante seu divertimento ou vadiao, no deve computar apenas essa despesa; gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais. Lembra-te deste refro: o bom pagador o dono da bolsa alheia. Aquele que conhecido por pagar pontual e exatamente na data prometida, pode, em qualquer momento, levantar tanto dinheiro quanto seus amigos possam dispor. Isso , s vezes, de grande utilidade. Depois da industriosidade e da frugalidade, nada contribui mais para um jovem subir na vida do que a pontualidade e a justia em todos os seus negcios; portanto, nunca conserves dinheiro emprestado uma hora alm do tempo prometido, seno um desapontamento fechar a bolsa de teu amigo para sempre. O som de teu martelo s cinco da manh ou s oito da noite, ouvido por um credor, o far conceder-te seis meses a mais de crdito; ele procurar, porm, 70 WEBER. "Origem do Capitalismo Moderno", pg. 169.

71 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 112. por seu dinheiro no dia seguinte se te vir em uma mesa de bilhar ou escutar tua voz numa taverna quando deverias estar no trabalho.72 O trabalho torna-se portanto um valor em si mesmo, e o operrio ou o capitalista puritanos passam a viver em funo de sua atividade ou negcio e s assim tm a sensao da tarefa cumprida. O puritanismo condenava o cio, o luxo, a perda de tempo, a preguia. Assim, a peculiaridade dessa filosofia da avareza parece ser o ideal de um homem honesto, de crdito reconhecido e, acima de tudo, a idia do dever de um indivduo com relao ao aumento de seu capital, que tomado como um fim em si mesmo. Na verdade, o que aqui pregado no uma simples tcnica de vida, mas sim uma tica peculiar, cuja infrao no tratada como uma tolice, mas como um esquecimento do dever. (...) No mero bom senso comercial (...) mas, sim, um ethos.73 Para estarem seguros quanto sua salvao, ricos e pobres deveriam trabalhar sem descanso, "o dia todo em favor do que lhes foi destinado" pela vontade de Deus, e glorific-lo por meio de suas atividades produtivas. Estas tinham se tornado um dever a ser metodicamente executado, possuindo um fim em si mesmas. Assim, os puritanos prescrevem: "Contra as dvidas religiosas e a inescrupulosa tortura moral, e contra todas as tentaes da carne, ao lado de uma dieta vegetariana e banhos frios, trabalha energicamente em tua Vocao. "74 Essa tica tinha como resultado operrios disciplinados

que se aferravam ao trabalho como a uma finalidade de vida desejada por Deus. Dava-lhes, alm disso, a tranqilizadora garantia de que a desigual distribuio da riqueza deste mundo era obra especial da Divina Providncia que, com essas diferenas e com a graa particular, perseguia seus fins secretos, desconhecidos do homem.75 E, por outro lado, empresrios que se sentiam abenoados ao estar inteiramente dedicados produo de riqueza. Weber identificou a presena desse conjunto de valores nos Estados Unidos, na Holanda e na Alemanha e notou que seu desenvolvimento favorecera "uma vida econmica racional e burguesa". A essa dedicao verdadeiramente religiosa ao trabalho ele chamou vocao, fruto de um ascetismo mundano, oposto ao ascetismo catlico em dois pontos fundamentais: primeiro, no seu carter de ao metdica no mundo e, segundo, na valorizao do sucesso econmico. 72 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 29-30.

73 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 31.

74 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 113.

75 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 127. ... o trabalho velho e experimentado instrumento asctico, apreciado mais do que qualquer outro na Igreja do Ocidente, em acentuada contradio no s com o Oriente, mas tambm com quase todas as ordens monsticas do mundo.76 O trabalho vocacional , como dever de amor ao prximo, uma dvida de gratido graa de Deus (...) no sendo do agrado de Deus que ele seja realizado com relutncia. O cristo deve assim mostrar-se industrioso em seu trabalho secular.77

Deve-se lembrar que a doutrina catlica, dominante naquela poca, condenava a ambio do lucro e a usura. Para os calvinistas, no entanto, desejar ser pobre era algo que soava to absurdo como desejar ser doente; "a prosperidade era o prmio de uma vida santa". O mal no se encontrava na posse da riqueza, mas no seu uso para o prazer, o luxo, o gozo espontneo e a preguia. Essa moralidade levou a que alguns milionrios norte-americanos preferissem no legar sua fortuna aos prprios filhos como meio de temper-los no esforo produtivo. "Para os calvinistas, o deus inescrutvel tem seus bons motivos para repartir desigualmente os bens de fortuna, e o homem se prova exclusivamente no trabalho profissional. "78 Segundo Weber, a adoo dessa nova perspectiva trazida pelo protestantismo permite aos primeiros empresrios reverter sua condio de baixo prestgio social e se transformarem nos heris da nova sociedade que se instalava. Essa tica teve conseqncias marcantes sobre a vida econmica e, ao combinar a "restrio do consumo com essa liberao da procura da riqueza, bvio o resultado que da decorre: a acumulao capitalista atravs da compulso asctica da poupana".79 Mas este foi apenas um impulso inicial. A partir dele, o capitalismo libertou-se do abrigo de um esprito religioso e a busca de riquezas passou a associar-se a paixes puramente mundanas. O capitalismo moderno j no necessita mais do suporte de qualquer fora religiosa e sente que a influncia da religio sobre a vida econmica to prejudicial quanto a regulamentao pelo Estado. Weber adverte ter analisado apenas uma das possveis relaes entre o protestantismo asctico e a cultura contempornea e que no pretendeu contrapor sua anlise ao materialismo de Marx, mas evidenciar as outras conexes causais possveis que contribuem para a realizao de uma individualidade histrica concreta: o capitalismo ocidental. Para iniciar o exame dessas relaes, elaborou um modelo abstrato, um tipo ideal, do que chamou de esprito do capitalismo, composto dos elementos que considerou serem seus aspectos definitrios. 76 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 112-113. 77 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 205. 78 WEBER. Economa y sociedad, pg. 461. 79 WEBER. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, pg. 124. CONCLUSES

A possibilidade de entender a estrutura social como um conjunto de mltiplas lgicas oferece ricas perspectivas de anlise para sociedades cada vez mais complexas. As diferenas sociais, os princpios diversificados que as produzem e a irredutibilidade dos fenmenos sociais de esferas especficas so balizas fundamentais para se pensar as sociedades do sculo 20. A nfase no conceito de dominao como parte integrante das relaes sociais em qualquer esfera outro instrumento precioso para se entender a natureza dessas relaes. As tendncias informatizao no comrcio, na indstria, no Estado, nos sistemas financeiros etc., podem tambm ser analisadas adequadamente com os conceitos de burocratizao e racionalizao. A gama de temas e de possibilidades que so abertos por Weber so a demonstrao de que se trata de um clssico no sentido mais vigoroso da expresso. A complexidade e a abrangncia de sua Sociologia, portanto, tornam difcil a tarefa de sintetizar toda a riqueza terica nela contida. Procurar a unidade de sua obra como montar um quebra-cabea - atraente e instigante - que permite mltiplas combinaes. __________________________________________________________________________________________________

==== Weber: Racionalizao & Direito Moderno =================

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Max Webers main problem was to discover the causes of the rise of modern capitalism. In his discussions of the law he is primarily concerned with finding what features of Western law were favorable to the development of the capitalistic economy and in what ways this economy has reacted upon methods of legal thought. Among the other problems he discusses are: freedom of contract, its origins, its rise and its place among the institutions of capitalist and non-capitalist societies

development of rational processes of law making connections between kinds of legal thought and the types of social functionaries by whom law is shaped in a given society

social factors favoring or counteracting codification economic and political significance of ideas of natural law _______________________________ Borges [ ] Racionalizacaodo do Direito & Alteracao dos Tipos Penais Max Weber & racionalizao do Direito nas sociedades ocidentais. Weber faz uma relao entre a racionalizao das aes dos indivduos e a evoluo da civilizao ocidental. Weber v no Direito moderno como uma "expresso do processo da racionalizao peculiar das sociedades ocidentais". (MELLO, 2004:215)1. 1 MELLO, Marcelo Pereira de. Sociologia do Direito de Max Weber: O Mtodo Caleidoscpio. Cadernos de Direito FESO. Ano V, no. 7, segundo semestre: 2004.

Mello, Marcelo Pereira de

"Sociologia do Direito de Max Weber: o Mtodo Caleidoscpio" in Cadernos de Direito FESO v 5 n 7 [2004]

Revolues Burguesas: A incorporao dos ditos "direitos subjetivos pblicos" nos textos constitucionais, demonstra que a positividade jurdica - conferida pela burguesia destruiu o absolutismo e atendeu aos direitos imediatos de seus interesses econmicos e polticos, e, neste cenrio, os at ento "direitos naturais", conquistaram a posio de direitos subjetivos pblicos.

Nessa clivagem entre o direito pblico e o privado ocorre gradativamente um fenmeno importante que influencia a consumao do direito racional ocidental. Durante longos sculos, especialmente durante o exerccio do poder feudal, havia uma confluncia entre o dominium e o imperium e, somente com o declnio do poder absolutista, que o direito romano conseguiu alicerar um pensamento "racional" ao definir como direito pblico aquele que tinha por base o imperium e, por direito privado aquele baseado no dominium. Durante o perodo das revolues, entre os sculos XVII e XVIII, comea a consolidao do grande campo de atuao do direito privado (responsvel por regular vrios segmentos do direito como por exemplo o direito de famlia e o direito das sucesses). Trata-se de um leque amplo de leis escritas que controlam o dominium (leia-se a propriedade). Estas revolues liberais permitiram a nova classe burguesa o domnio dos locais em que o direito era produzido, tanto no parlamento (legislativo), quanto no governo (executivo). 6 2. A Racionalizao do Direito no Ocidente importante enfatizar o perodo no qual Weber analisa a tendncia de desenvolvimento do capitalismo ocidental. O conceito de racionalizao7 no ocidente se desenvolveu antes do capitalismo moderno e incorporou-se s esferas mais importantes da vida social e econmica. (GIDDENS, 1998: 55). Dentre alguns dos elementos destaca-se a formao da jurisprudncia racional herdada do direito romano um facilitador inquestionvel da ascenso do capitalismo moderno. A idia de proteo dos bens jurdicos, atravs da legalidade e de outras garantias decorre, em certa medida, do enfraquecimento do absolutismo e do reforo da razo. O perodo de incorporao da lei racional marcado por esse pensamento classificatrio e enciclopdico e o desenvolvimento da "racionalidade tcnica" estava vinculado s normas racionalizadas de "tipo legal". A construo de um pensamento jurdico formalmente racional contribuiu para diminuir o poder dos sistemas tradicionais de dominao. Somente no Ocidente que ocorreu a criao de um corpus de leis racionais, e estas, s foram possveis, em decorrncia da "aliana entre o Estado Moderno e os juristas com o objetivo de fazer valer suas reivindicaes de poder". (GIDDENS, 1998: 61). 6 PRATA, Ana. A Tutela Constitucional da Autonomia Privada. Coimbra: Livraria Almedina, 1982. p.29.

7 GIDDENS, Anthony. Poltica, Sociologia e Teoria Social: encontros com o pensamento social clssico e contemporneo. Traduo Cibele Saliba Rizek. So Paulo: Fundao Editora UNESP, 1998.

"De acuerdo com nuestra manera actual de pensar, la tarea de la sistematizacin jurdica consiste en relacionar de tal suerte los preceptos obtenidos mediante el anlisis que formen um conjunto de reglas claro, coherente y, sobre todo,

desprovisto, em principio, de lagunas, exigncia que, necesariamente implica la de que

todos los hechos posibles puedan ser subsumidos bajo alguna de las normas del mismo sistema, pues, de lo contrario, este careceria de su garantia esencial" (WEBER, 1993: 510). Segundo Weber a criao e a aplicao do Direito pode ser racional ou irracional. Adotando um ponto de vista formal, refere irracionalidade presente na criao de normas, ou at mesmo na atividade judicial, quando se recorre a procedimentos no controlados racionalmente, por exemplo, atravs da consulta aos orculos. Essas atividades so irracionais sob um aspecto material, quando a deciso dos casos depende de apreciaes valorativas, ticas, sentimentais ou polticas e no de normas gerais. (WEBER, 1993: 511).

Uma aplicao do Direito racional tambm possui um sentido formal e um sentido material. Veja-se que todo direito formal tambm relativamente racional, pois tanto o jurdico material, quanto o jurdico processual, consideram as caractersticas gerais e "unvocas" dos fatos. Atravs desse formalismo Weber define dois aspectos: (i) "as caractersticas juridicamente relevantes so de ordem sensvel e a sujeio a estas caractersticas externas representam o caso extremo de formalismo jurdico". (ii) "o formalismo absoluto da caracterstica externa implica necessariamente casusmo" e, somente com uma abstrao interpretativa, torna-se possvel a tarefa sistemtica de ordenar e racionalizar, com ajuda da lgica, as regras jurdicas cuja validez se aceita, formando com elas um sistema coerente de preceitos abstratos. (WEBER, 1993: 511). O exame minucioso feito por Weber sobre os poderes que influenciam na criao do Direito, suscita alguns postulados:

"1) toda decision jurdica concreta representa la "aplicacion"de un precepto abstracto a un "hecho" concreto; 2) que sea posible encontrar, em relacion con cada caso concreto, gracias al empleo de la lgica jurdica, una solucion que se apoye en los preceptos abstractos en vigor; 3) el derecho objetivo vigente es un sistema "sin lagunas" de preceptos jurdicos o encierra tal sistema em estado latente o, por lo menos, tiene que ser tratado como tal para los fines de la aplicacion del mismo a casos singulares; 4) todo aquello que no es posible "construir"de un modo racional carece de relevncia para el derecho; 5) la conducta de los hombres que forman una comunidad tiene que ser necesariamente concebida con "aplicacion" o "ejecucion" o, por el contrario como "nfracion" de preceptos jurdicos. (Aun cuando no expressis verbis, esta es la conclusion de Stammler; pues consecuencia de "la ausencia de lagunas del sistema jurdico" es la ordenacion jurdica efectiva del acontecer social.) (WEBER, 1993: 511). _______________________________________________________ Setti [2008] Max Weber e o Direito A sociologia weberiana do Direito [Weber 1999] foi concebida nas redes do processo de racionalizao que Weber diagnosticou nas sociedades ocidentais. Tal como apresentado neste captulo, este processo de racionalizao da sociedade ocidental

(...)

O trao caracterstico da racionalizao da civilizao ocidental o fato de tratar-se de um processo de intelectualizao universal (no restrita a um setor determinado da atividade humana) e progressiva da vida, despojando o mundo de seus encantos e o transformando cada vez mais em obra artificial do homem, de modo a tornar-se progressivamente mais sujeito a ser governado pelos mesmos princpios tcnico-instrumentais com que, por exemplo, se planeja o funcionamento de uma mquina [empresa].

No campo especfico do Direito, o evento mais significativo do processo de racionalizao da sociedade ociedental foi a separao entre Moral e Direito.

De acordo com Weber , no processo de evoluo geral do Direito e dos procedimentos legais, podemos identificar quatro etapas fundamentais: a criao legal carismtica, mediante os profetas da lei; criao e descobrimento emprico da lei, a cargo de juristas notveis; imposio da lei por poderes seculares ou teocrticos; e elaborao sistemtica do Direito e administrao profissionalizada da Justia por pessoas com preparao tcnica e formalmente lgica da disciplina jurdica [Weber 1991 650].

O resultado da crescente racionalizao do Direito e da administrao profissionalizada da Justia o surgimento de um sistema jurdico baseado nos seguintes postulados:

(a) toda deciso jurdica concreta representa a aplicao de um preceito abstrato a um fato concreto;

(b) possvel encontrar, em relao a cada caso concreto, uma soluo que se apoie nos preceitos jurdicos em vigor;

(c) o Direito um sistema de preceitos jurdicos sem lacunas

(ou encerra tal sistema em estado latente,

ou pode ser hipoteticamente considerado como tal)

(d) tudo aquilo que no possvel construir racionalmente carece de relevncia para o Direito

[Weber 1991 511]

Esta ordem legal ancorada em regras institudas e previsveis gera um Direito racional e formal. Seu carter abstrato, genrico e sistemtico implicou uma neutralizao e preservao do universo do Direito em relao s interferncias dos interesses polticos e econmicos do Estado e das classes politicamente hegemnicas ou portadoras de direitos corporativos ou estamentais tradicionais.

Essa nova ordem legal, subjacente ao desenvolvimento do capitalismo, (a) garantiu que as transaes capitalistas pudessem ter um maior grau de previsibilidade [segurana jurdica] e (b) assegurou a liberdade de ao para os agentes capitalistas no mercado livre.

Com a Revoluo Francesa, por exemplo, temos a Declarao Universal dos Direitos do Homem e o Cdigo Napolenico, que garantiam os direitos e liberdades individuais em conformidade com os interesses da nascente burguesia, contra a autoridade [privilgios] aristocrata;

Pela primeira vez, ento, o Direito aparece como algo que se postula, algo cuja legitimidade est vinculada ao consentimento soberano (contrato social) institucionalizado nas regras democrticas da justia processual.

O Direito passa a representar um reino de liberdade em que permitido fazer tudo o que compatvel com a liberdade dos outros iguais.

A racionalizao do Direito, neste perodo inicial do capitalismo, possui portanto um grande efeito liberatrio [das amarras da sociedade monrquica]. A nova ordem legal concebida como um sistema normativo que legitima as relaes econmicas capitalistas, a partir da eqidade das relaes fundamentadas na liberdade e autonomia individual (contrato racional livremente celebrado entre as partes).

[Junto liberdade econmica: liberdade de expresso]

[frente ao Imperium e aos poderes principescos patrimoniais]

Weber: Modernidade como eroso da liberdade e do sentido moral-valorativo da vida

Sua expresso no Direito se d no processo de positivao e instrumentalizao do Direito ao longo do sculo XIX.

Progressivamente a legitimidade se identifica com [se reduz] a legalidade [Weber 1991 23]

O Direito torna-se cada vez mais instrumentalizado, progressivamente se enfraquecendo o vnculo entre Direito e eqidade, baseado no contrato entre sujeitos iguais e livres.

____________________________________________________ Coelho [2013] Mais Weber Menos Kelsen Equvoco: supor que a influncia dominante do positivismo jurdico sobre a dogmtica e sobre a prtica jurdica tenha algo a ver com a teoria de Kelsen.

Na verdade, o formato positivista que a dogmtica e a prtica jurdica assumiram no tem a ver com a influncia de nenhuma teoria em particular, e sim com as caractersticas do Estado moderno, da economia capitalista, da racionalidade formal, do saber jurdico especializado etc. que se tornaram dominantes na passagem das sociedades pr-modernas para as modernas. A explicao do nosso modo habitual de lidar com o direito muito mais uma explicao histrica e sociolgica que uma explicao filosfica. E, neste sentido, o terico que pode fornecer um histrico social mais abrangente de como este processo se realizou e culminou no tipo de dogmtica e prtica jurdica que temos hoje Weber.

Em vez de investir tempo em fazer o aluno entender ideias abstrusas e pouco teis na prtica, um contato inicial com as ideias de separao das esferas de valor, de transio da razo substantiva para a razo formal, de burocratizao, de autoridade legal, de formalizao do direito, de especializao do saber jurdico etc. cumpriria melhor o papel de explicar ao aluno iniciante por que o direito que ele, mais tarde no curso, encontrar nas obras de dogmtica e na prtica jurdica d primazia lei, autoridade, forma, segurana e linguagem tcnica. O "positivismo jurdico" ao qual o aluno iniciante precisa ser apresentado mais urgentemente no a teoria filosfica (que dista bastante da dogmtica e da prtica), e sim o fenmeno histrico-social que moldou nossa forma contempornea de lidar com o direito.

O tipo de positivismo jurdico que predomina em nossa dogmtica e prtica jurdica moderna no positivismo kelseniano, como no benthamiano, nem austiniano, nem hartiano, nem raziano etc. Ele um tipo de positivismo que se desenvolveu em resposta a uma srie de transformaes sociais e institucionais tpicas da modernidade e que, por isso mesmo, no pode ser apresentado como resultante de nenhuma teoria filosfica em particular.

Pode ser explicado por meio de uma explicao ampla do que a modernidade, a racionalizao, a especializao, a burocratizao etc. Para desempenhar esta tarefa de dizer ao aluno o que o direito e como ele funciona que Weber fornece mais ferramentas que Kelsen. A dogmtica e a prtica jurdica em que o aluno ser treinado durante todo o restante do curso esto dominados pela centralidade do Estado, pela centralidade da lei, pelo primado da forma, pelo ofcio burocratizado e especializado etc., ou seja, elas tm precisamente a forma com que Weber as descreveu e que Weber ajuda a explicar de onde vieram. Ento, mesmo que Weber fosse visto tanto na sociologia do direito como na introduo ao direito, seria de formas distintas, com nfases e propsitos distintos.

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GERTH; MILLS. "Orientaes Intelectuais", pg. 69.

WEBER. "Rejeies Religiosas do Mundo e Suas Direes", pg. 372.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 82.

WEBER. "A Cincia como Vocao", pg. 182.

WEBER. "A Cincia como Vocao", pg. 165.

Ver COHN. Crtica e Resignao: Fundamentos da Sociologia de Max Weber.

WEBER. "A Cincia como Vocao", pg. 165.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 429.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 43.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 699.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 706-707.

WEBER. "A Poltica como Vocao", pg. 99.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 172.

WEBER. Economa y Sociedad, pg. 732.

69 WEBER. Economa y Sociedad, pg. 719.