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A
Saúde
do
Trabalhador
traz
a
particularidade
de
ser
uma
área
que
institui
práticas
potencialmente transformadoras, que perseguem a integralidade da atenção à saúde buscando a
superação da dicotomia existente entre assistência individual e coletiva, entre a vigilância epidemiológica e a vigilância sanitária, entre ações preventivas e curativas. Além disso, traz em sua trajetória a busca da participação e do controle social por parte dos trabalhadores e suas organizações. Na realidade, é uma área que se instaura desde o início a partir da mobilização e
luta dos trabalhadores pela saúde no trabalho. O exercício da intersetorialidade é também uma característica fundamental de práticas efetivas em Saúde do Trabalhador.
No entanto, tratam-se de práticas que estão em processo de construção e, a despeito da existência de experiências inovadoras, a integralidade da atenção ainda persiste no horizonte. E aqui identifica-se um dos nós críticos�
, que nos remete à questão do modelo assistencial. Na realidade histórico-concreta a saúde do trabalhador foi sendo construída centrando-se,
basicamente, na criação e funcionamento de centros ou unidades de referência, que tornaram-se
quase “ilhas autônomas”, marginais ao restante do Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso
concorreu uma grande dificuldade de articulação intra-setorial, tanto com os níveis básicos da atenção, como com os níveis especializados, com a rede hospitalar e também com as vigilâncias – epidemiológica, sanitária e, agora, ambiental. A despeito de vários desses centros tornarem-se referência para instituições externas ao setor saúde - sindicatos de trabalhadores, Ministério Público e mesmo para as empresas – segue sendo muito pouco orgânica a integração de suas
ações com as demais instâncias do SUS, que até hoje não incorporaram a saúde do trabalhador em suas práticas cotidianas, nem consideram o trabalho como um determinante do processo
saúde-doença. (Nobre, 1999).
Ressalta-se, no âmbito de muitos destes centros de referência em saúde do trabalhador,
especialmente nos primeiros anos de existência, a utilização de referenciais normativos e
metodológicos das normas trabalhistas e previdenciárias, a despeito do esforço em construir
novos referenciais teórico-metodológicos próprios – especialmente o da determinação social do
processo saúde-doença e da consideração do trabalho - o processo de produção – enquanto
Epidemiologia e Vigilância da Saúde do Trabalhador
categoria central. Assim, mesmo que atuando sob a ótica da garantia dos direitos sociais, tais referenciais são restritos, tanto do ponto de vista das intervenções necessárias e do potencial impacto sobre a saúde dos trabalhadores, quanto do ponto de vista da população atendida, constituída principalmente por trabalhadores do mercado formal, celetistas, das categorias mais organizadas.
A produção de normas e protocolos próprios para o SUS, na perspectiva da qualidade técnico-científica, inclusive na área de Saúde do Trabalhador, ainda é escassa. Pouco se trabalha na ótica da vigilância em saúde e da qualidade da atenção à saúde, em seu sentido amplo, e não apenas assistencial. Persiste a necessidade de melhor definir conceitos e concepções, especialmente aqueles de vigilância, de educação e promoção em saúde aplicados às intervenções em saúde do trabalhador. A despeito de importantes contribuições (Pinheiro, 1996; Machado, 1996), pode-se afirmar que a construção do processo de vigilância em saúde do trabalhador ainda ressente-se de maior reflexão, tanto nesta dimensão teórico-conceitual quanto tático-operativa. Esta última, especialmente face à necessidade de incorporação de critérios epidemiológicos para definição de prioridades, de tecnologias relativas ao planejamento e acompanhamento das ações. Além disso, ressente-se de uma maior reflexão quanto à mobilização e informação de atores sociais, de modo a contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas saudáveis e para a inclusão de outros segmentos de trabalhadores e da população, que ainda estão à margem das intervenções em saúde.
Uma contribuição quanto aos aspectos teórico-conceituais
A Portaria MS/GM Nº 3.120, de 1° de julho de 1998, que aprovou a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, compreende a Vigilância em Saúde do Trabalhador como:
“uma atuação contínua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los ou controlá-los” (Brasil, 1998).
A Vigilância em Saúde do Trabalhador compõe, portanto, um conjunto de práticas sanitárias, vinculadas à vigilância em saúde como um todo, devendo estar articulada às ações da atenção básica, da atenção especializada e hospitalar, às práticas das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, bem como às práticas de programas específicos ou estruturantes como saúde da mulher, saúde da criança e do adolescente, do idoso, saúde mental, redução da violência, Programa de Agentes Comunitários de Saúde, Programa de Saúde da Família etc. Além desses, deve se articular com os demais setores, externos à saúde, de interesse à área, a exemplo do Trabalho, Previdência, Meio Ambiente, Agricultura, Educação, Ministério Público, entre outros.
De forma mais específica, pode-se dizer que a VISAT é o:
“conjunto de ações que visa conhecer a magnitude dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho, identificar os fatores de risco ocupacionais, estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde de forma permanente, visando a transformação das condições de trabalho e a garantia da qualidade da assistência à saúde do trabalhador”. (Bahia, 1996).
O conceito de VISAT toma como referência mais geral o conceito de vigilância à saúde (VISAU), e isto merece um comentário mais detalhado.
A VISAU pode ser entendida como um dos modelos de atenção à saúde alternativos (contra-hegemônico), compatível com o projeto universal publicista do SUS. Entende-se por modelo não o caso exemplar, ideal, mas a lógica ou racionalidade que caracterizaria o processo de trabalho em saúde. Trata-se de um conjunto de práticas, objetos, instrumentos e relações socialmente construídos, de modo a conformar uma dada combinação tecnológica estruturada a responder determinados problemas e necessidades de saúde historicamente definidos. (Paim,1999; Teixeira e cols.,1998.)
A construção do conceito da VISAU se dá num contexto específico, já que se trata de uma “produção” latino americana de meados da década de 80, inicialmente articulada a discussões internacionais promovidas pela Organização Panamericana da Saúde (OPS) sobre a reorganização dos sistemas nacionais de saúde através dos sistemas locais de saúde (SILOS). Enfatiza-se, neste período, que tais propostas de reorganização necessariamente deveriam implicar em processos de descentralização. A descentralização é vista como condição necessária para democratizar a gestão e o acesso à saúde, além de contribuir para maior efetividade e eficiência das intervenções em saúde, dada a proximidade do nível local com os problemas e necessidades da população. (Mattos, 1989; OPS, 1992)
A OPS neste período promoveu inúmeros seminários e vários autores brasileiros passam a refletir sobre a questão. Conforme aponta Mendes (1993, p.8) “Contribuições teóricas de autores e campos diferenciados vão conformando uma proposta. Dentre elas, a visão de território-processo da nova geografia, especialmente, de Milton Santos; o geo-sistema de informação do planejamento urbano; o planejamento estratégico-situacional de Carlos Matus; a teoria de problemas de Mitrof�2; as concepções de processo saúde-doença e de processo de trabalho em saúde da medicina social latino-americana e outras”. É bom lembrar que o contexto brasileiro é da distensão do regime militar, mobilização da sociedade para discussão dos graves problemas sociais, construção do projeto da reforma sanitária, elaboração e promulgação da Constituição de 1988. Portanto, um contexto favorável às propostas de descentralização e de reformulação das políticas sociais assumidas pelo Estado, dentre as quais a da saúde, que significassem democratização e enfrentamento da dívida social. (Fleury, 1994).
Vários autores apontam que o conceito de VISAU pode conter distintas formulações (Pinheiro, 1996; Machado, 1996; Teixeira e cols.,1998). Assim, a VISAU pode ser entendida como:
1. vigilância da situação de saúde, no sentido de monitorar e avaliar tal situação segundo condições de vida (Mendes, 1993, p.16), ganhando ênfase a racionalidade epidemiológica;
2. monitoramento de doenças no sentido da vigilância médica ou da saúde;
3. articulação institucional das ações de VE e VS;
4. organização tecnológica do trabalho em saúde que busca articular promoção/prevenção/ recuperação/reabilitação, abrangendo dimensões coletiva e individual (Paim, 1999). Neste sentido, enfatiza-se o processo de trabalho em saúde. Trata-se do chamado “núcleo duro das mudanças nas práticas de saúde e modelos assistenciais” (Paim, 2000). Abordar tal núcleo nos remete às práticas e processos do cuidado em saúde;
5. prática sanitária que organiza os processos de trabalho em saúde, sob a forma de operações, para enfrentamento contínuo de problemas num dado território-população (Mendes, 1993). Este enfrentamento exige ações que atuem sobre os condicionantes e determinantes dos problemas de modo convergente (o que inclui ações intersetoriais), sistemático e com impacto favorável sobre a qualidade de vida de uma população (Mendes,1993) Neste caso, pode-se
� Lembrar que tal teoria está também presente no Planejamento Estratégico Situacional de Carlos Matus, conforme análise de Rivera (1992
dizer que a VISAU estaria articulada ao conceito de Distritos Sanitários (SILOS) e ao processo de implantação destes, onde ganha ênfase a dimensão gerencial.
A VISAT recebe, ainda, forte influência teórico-metodológica do “modelo operário italiano”. (Oddone e cols., 1986; Machado 1996; Pinheiro, 1996).
No entanto, o conceito de VISAU subjacente a muitos discursos parece permear pelo menos as três últimas formulações problematizadas acima. Trechos da Portaria MS/GM Nº 3.120/98, por exemplo, parecem sugerir a VISAT enquanto articulação VE/VS, ainda que considerando a singularidade da ST, que toma como objeto processos e ambientes de trabalho.
O uso do termo “vigilância” pode nos remeter às ações de VE e VS tradicionalmente fragmentadas e voltadas para a doença ou aspectos disciplinares-punitivos. A VISAU, enquanto prática sanitária diferenciada, pretende superar, ainda que não negue a necessidade do “estoque de saberes e fazeres” construídos pela VE, VS, assistência médico-hospitalar, educação em saúde (Mendes,1993, p.17).
A singularidade da área da ST no SUS é que ela atua num campo de ação multi-institucional e multidisciplinar, tendo não apenas o desafio de construir sua legitimação, mas também de operar com impacto positivo sobre a saúde dos trabalhadores (seja transitando pela intersetorialidade, seja transitando pela transdisciplinaridade)�3 . Estes desafios, por sinal, também são semelhantes aos do processo de implantação da VISAU num plano mais geral, enquanto um modelo alternativo de atenção à saúde a ser construído, segundo os princípios do SUS. (Fernandes e cols., 1999).
O Capítulo 4 discute mais enfaticamente as especificidades da VISAT.
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A Vigilância em Saúde do Trabalhador pauta-se nos princípios do Sistema Único de Saúde, e, dadas as peculiaridades da área, pode ter acrescidas outras diretrizes plenamente compatíveis e que são resumidos da seguinte forma.
Universalidade: todos os trabalhadores, independentemente de sua localização, urbana ou rural; de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal; de seu vínculo empregatício, público ou privado; autônomo, doméstico, aposentado ou demitido, são objeto e sujeitos da Vigilância em Saúde do Trabalhador. Na realidade, o termo “trabalhador” não deve ser utilizado enquanto mais um adjetivo que caracteriza um grupo específico da população. Trata-se de um substantivo que permeia a identidade dos diversos pacientes e cidadãos que têm direito à saúde.
Integralidade: busca articular as ações de assistência e recuperação, com aquelas de prevenção de agravos e de controle de seus determinantes, através da intervenção sobre os ambientes e processos de trabalho, com ênfase para a promoção de ambientes de trabalho saudáveis.
Descentralização: aponta para a necessária consolidação do papel do gestor municipal, identificando o nível local (o que inclui os distritos sanitários) como instância fundamental para a formulação e o efetivo desenvolvimento das ações de vigilância em saúde do trabalhador. Este nível deve estar, portanto, integrado aos níveis estadual e nacional do SUS, cada um com suas atribuições e competências específicas, comuns e complementares.
� O conceito de transdiciplinariedade aqui utilizado tem como referência as reflexões de Almeida Filho (1997
Controle social: incorporação dos trabalhadores e das suas organizações em todas as etapas da vigilância em saúde do trabalhador, compreendendo sua participação na identificação das demandas, no planejamento, no estabelecimento de prioridades e adoção de estratégias, na execução das ações, no seu acompanhamento e avaliação e no controle da aplicação de recursos.
Intersetorialidade: a saúde do trabalhador tem interfaces com diversas áreas e setores, sendo responsabilidade dos gestores do SUS promover a adequada integração e articulação entre eles. Essa articulação envolve desde a normalização de aspectos específicos, o acesso a bancos e bases de dados, até práticas conjuntas de intervenção e promoção em saúde, bem como a formulação de políticas públicas saudáveis.
Interdisciplinaridade: a abordagem multiprofissional sobre o objeto da vigilância em saúde do trabalhador deve compreender os saberes técnicos, com a concorrência de diferentes áreas do conhecimento e, fundamentalmente, o saber operário, necessários para o desenvolvimento da ação.
Pesquisa-intervenção: o entendimento de que a intervenção, no âmbito da vigilância em saúde do trabalhador, é o deflagrador de um processo contínuo, ao longo do tempo, em que a pesquisa é sua parte indissolúvel, subsidiando e aprimorando a própria intervenção.
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Objetivos da VISAT
De forma esquemática pode-se dizer que a vigilância em saúde do trabalhador tem como objetivos (Bahia, 1996):
1. Conhecer a realidade de saúde da população trabalhadora, através da:
• caracterização do adoecimento e morte relacionados ao trabalho, em relação a sua magnitude, distribuição e tendências;
• avaliação dos ambientes, dos processos e das condições de trabalho, identificando os fatores de risco e as cargas de trabalho a que estão expostos os trabalhadores e as possibilidades de intervenção;
2. Intervir nos fatores determinantes de agravos à saúde da população trabalhadora, visando eliminá-los, atenuá-los ou controlá-los, através de:
• investigação dos ambientes, dos processos e das condições de trabalho, orientando e acompanhando as mudanças necessárias à prevenção de agravos e à promoção da saúde;
• fazer cumprir as normas e legislações existentes, nacionais ou, na ausência destas, internacionais;
• negociação coletiva em saúde do trabalhador, com participação dos trabalhadores, seus representantes e órgãos afins.
3. Avaliar o impacto das medidas adotadas para a eliminação, atenuação e controle dos fatores determinantes de agravos à saúde.
4. Subsidiar a tomada de decisões dos órgãos competentes, principalmente no que se refere a:
• estabelecimento de políticas públicas para a promoção da saúde;
• o aprimoramento das normas legais existentes e a criação de novas normas necessárias à defesa da saúde dos trabalhadores;
• o planejamento das ações e o estabelecimento de suas estratégias;
• a estruturação da atenção à saúde dos trabalhadores;
• a formação, capacitação e treinamento de recursos humanos;
• o desenvolvimento de estudos e pesquisas de interesse à área;
• o estabelecimento de redes de informações em saúde do trabalhador.
5. Divulgar as informações sobre riscos e agravos, para fins de promoção do controle social.
Operacionalização da VISAT:
Para a operacionalização das ações de VISAT, impõe-se traçar estratégias que viabilizem a articulação da Saúde do Trabalhador com os demais setores do SUS, sejam eles da assistência (básica, hospitalar, especializada), das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, dos setores de informação, de regulação, de controle e auditorias. É necessário que as práticas desses setores incorporem a possibilidade da relação do trabalho com a situação de saúde que o trabalhador apresenta e supervisionem o cumprimento das atribuições em cada nível de gestão.
As atividades relacionadas ao funcionamento dos sistemas de informação em saúde são muito importantes para a VISAT. O nível municipal, através da atenção básica e dos setores de vigilância em saúde, pode elaborar análises da situação de saúde, traçando o perfil de morbi-mortalidade da população trabalhadora, utilizando os sistemas de informação de mortalidade e morbidade já existentes, além de outras bases de dados, como IBGE, RAIS, DATAPREV etc. A esse respeito consultar capítulo específico de Sistemas de Informações em Saúde do Trabalhador deste Manual (Cap. 3).
Por fim, deve-se ressaltar a questão do controle social. A participação dos trabalhadores nas instâncias de gestão do SUS não tem sido suficientemente valorizada. Existe grande resistência por parte dos gestores em admitir como legítima a participação dos trabalhadores, dada a natureza política, complexa e conflituosa da relação capital-trabalho e suas implicações no processo saúde-doença. A tendência é a recusa em admitir essa complexidade e situações de conflito, imputando as reivindicações dos trabalhadores a interesses específicos de classe.
Ainda se tem pouca experiência no processo de negociação político-gerencial no âmbito do próprio SUS, seja entre as instâncias e câmaras tripartites e bipartites próprias do SUS, seja em negociações com empresas, sindicatos, trabalhadores e outras instituições, como Ministério Público. Por outro lado, há as dificuldades inerentes ao próprio processo histórico das lutas e conquistas sindicais; a persistência de práticas assistencialistas, o peso na resolução de problemas básicos e individuais, como por exemplo conseguir a emissão de uma CAT; a desestruturação dos sindicatos frente às mudanças no mundo do trabalho, às práticas de terceirização, precarização e flexibilização das relações e condições de trabalho. Aliás, o entendimento e enfrentamento das recentes mudanças no mundo do trabalho colocam-se como desafios não só para os sindicatos e trabalhadores, como também para os próprios técnicos da área da saúde.
Os sindicatos de trabalhadores pouco cobram dos gestores a efetiva implantação e funcionamento do SUS, seja através das instâncias já definidas – conselhos de saúde, câmaras técnicas – seja através de outras formas de participação e reivindicação (Nobre, 1999).
Ainda, é necessário pensar estratégias para incorporação de outras categorias de trabalhadores, como os informais, os subcontratados e prestadores de serviços, os trabalhadores rurais, os domésticos - e de outras representações sociais – associações comunitárias, organizações não governamentais – nas instâncias de controle social, bem como ampliá-las, construindo práticas de controle social mais efetivas (Nobre, 1999).
Dessa forma, o exercício do controle social explicita claramente a natureza política das relações, não só entre trabalhadores e empregadores, mas entre estes e o estado; questiona a racionalidade técnica; coloca diante dos técnicos e dos gestores, a necessária reflexão sobre “o conflito da vigilância” e o discernimento da “vigilância do conflito”, no dizer de Pinheiro (1996).
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Diagnóstico, caracterização e tratamento e reabilitação das
Doenças Profissionais, do Trabalho e Relacionadas ao
Trabalho
Doenças relacionadas com o Trabalho
Quando o ambiente de trabalho não é adequado às características e funcionamento da
máquina humana, colocando-a em situações penosas, o que se pode observa é o
surgimento de diferentes tipos de doenças.
Cassou (1991) salienta que a relação entre o trabalho e a saúde é complexa, destacando
três situações principais.
A) Quando as condições de trabalho ultrapassam os limites toleráveis do organismo, a
probabilidade de provocar uma doença no trabalhador é significativa. Neste caso, têm-
se uma Doença Profissional que, no sentido restrito, se define como uma doença devido
a fatores (físicos, químicos e biológicos) bem determinados do meio de trabalho. Ex: a
exposição a um nível elevado de ruído gera uma perda auditiva nos trabalhadores
expostos.
B) O meio profissional pode também ter um papel importante, porém, associado a
outros fatores de risco do ambiente fora do trabalho ou do modo de vida do trabalhador,
gerando as doenças do trabalho. Diversos estudos mostram a ocorrência de perturbações
digestiva, do sono, do humor com os trabalhadores em turnos alternados. Os horários
deslocados; a dificuldade das tarefas efetuadas à noite, no momento de menor
resistência do organismo, podem influenciar o desenvolvimento destas patologias.
Outros fatores, não profissionais, ligados por exemplo ao patrimônio genético, ao estado
de saúde ou aos hábitos de vida (alcoolismo, tabagismo) têm também um papel
importante na aparição e no progresso destas doenças.
C) Quando o trabalho é bem adaptado ao homem, Não só às suas atitudes e seus limites,
mas também a seus desejos e seus objetivos, ele pode ser um trunfo à saúde do
trabalhador. Neste sentido, o trabalho nem sempre significa algo patogênico. Ele é,
muitas vezes, um poder estruturante em direção a saúde mental. Ao dar ao trabalhador a
oportunidade de se realizar em seu trabalho, estar-se-á contribuindo para a sua
satisfação e bem-estar.
Em resumo, com relação às doenças profissionais existe uma relação direta de causa e
efeito entre o fator de risco no trabalho e a doença. Ao contrário, nos casos ligados à
profissão, o fator de risco no trabalho é somente um fator entre outros.
Neste sentido, considerando os autores nacionais, bem como a legislação brasileira,
assinala-se abaixo as definições cabíveis.
Doença Profissional
Definição:
As doenças profissionais decorrem da exposição a agentes físicos, químicos e
biológicos que agridem o organismo humano. Essa simples conceituação permite
imaginar a freqüência e a gravidade que devem revestir as doenças profissionais. Todo
trabalhador que sofrer uma intoxicação, afecção ou infecção causado por estes agentes
foi acometido por uma doença profissional (Sobrinho, 1995).
Exemplos de doenças profissionais
a) As lesões por esforço repetitivo (LER)
O conjunto de doenças que atingem os músculos, tendões e nervos superiores e que têm
relação com as exigências das tarefas, dos ambientes físicos e da organização do
trabalho, é chamado de LER. São inflamações provocadas por atividades de trabalho
que exigem movimentos manuais repetitivos durante longo tempo. As funções mais
atingidas têm sido os datilógrafos, digitadores, telefonistas e trabalhadores de linha de
montagem.
Há diversas doenças geradas por esforços repetitivos: tenossinovite, tendinite, síndrome
do túnel de carpo. O projeto inadequado do microcomputador, mas também do
mobiliário em que o aparelho está inserido provoca desconforto ao trabalhador. O
formato do teclado, um apoio para os pulsos do digitador ou um suporte para manter os
pés firmes no chão, são fundamentais paro o conforto do operador (Sell, 1995).
b)Perda auditiva
A perda auditiva é a mais freqüente doença profissional reconhecida desde a Revolução
Industrial, sendo provocada, na maioria das vezes, pelos altos níveis de ruído.
c) Bissinose: ocorre com trabalhadores que trabalham com algodão.
d) Pneumocarnose (bagaçose): ocorre com trabalhadores com atividades na cana-de-
açucar, as fibras da cana esmagada são assimiladas pelo sistema respiratório.
e) Siderose: ocorre quando de atividades desenvolvidas com limalha e partículas de
ferro, para quem trabalha com o metal.
f) Asbestose: ocorre com trabalhadores que trabalham com amianto, o que provoca
câncer no pulmão.
Enfim existem inúmeras doenças profissionais que irão se caracterizar de acordo com o
risco, podendo causar vários problemas ao organismo e até a morte. As doenças
profissionais podem ser prevenidas respeitando-se os limites de tolerância de cada risco,
utilizando-se adequadamente os equipamentos de proteção individual e com formas
adequadas de atenuação do risco na fonte (ou seja, maneiras de atacar as causas das
doenças nas suas origens), por exemplo, construindo uma parede acústica, caso haja
nível elevado de ruído no ambiente de trabalho.
Doença do Trabalho
Definição:
As doenças do trabalho, segundo Sobrinho, 1995, são resultantes de condições especiais
de trabalho, não relacionadas em lei, e para as quais se torna necessária a comprovação
de que foram adquiridas em decorrência do trabalho. Portanto, no caso de doenças do
trabalho, como nos demais fatores de interferência da saúde, o trabalhador deve ser
conscientizado sobre a importância de preservar sua saúde. É preciso que ele esteja
preparado ou predisposto a receber orientações, utilizar os equipamentos de proteção
individual e obedecer as sinalizações e as normas que objetivam proteger a saúde.
Atualmente, estas doenças são verificadas, com maior intensidade, nas empresas de
pequeno e médio porte, situação que é vivenciada em todos os países, pois os mesmos
negligenciam a segurança e as condições dos ambientes, levando os trabalhadores a
desenvolverem doenças do trabalho com maior freqüência.
Exemplos de doenças do trabalho
a) Alergias respiratórias provenientes de locais com ar-condicionado sem manutenção
satisfatória, principalmente limpeza de filtros e dutos de circulação de ar.
b) Estresse
O estresse nada mais é do que a resposta do organismo a uma situação de ameaça,
tensão, ansiedade ou mudança, seja ela boa ou má, pois o corpo está se preparando para
enfrentar o desafio. Isto significa que o organismo, em situação permanente de estresse,
estará praticamente o tempo todo em estado de alerta, funcionando em condições
anormais.
A prevenção desta doença implica em mudanças organizacionais e tratamentos
individualizados. No plano organizacional recomenda-se: incentivar a participação dos
trabalhadores; flexibilidade dos horários; redução dos níveis hierárquicos. Já no plano
individual sugere-se: técnicas de relaxamento; mudança na dieta alimentar e exercícios
físicos (Dimenstein, 1993).
8.1.3. Algumas recomendações para prevenir as doenças profissionais e do trabalho
(Ribeiro et al, 1984; Dimenstein , 1993 ).
Aspectos Físicos Aspectos Organizacionais
- Enclausuramento e automação dos
processos e máquinas;
- Exaustão;
- Ventilação do ambiente de trabalho;
- rotatividade das tarefas;
- pausas;
- redução da carga horário;
- evitar premiações por produtividade que
- Alterações de processos;
- Utilização dos equipamentos de
proteção individuais e coletivos;
- Móveis adequados às características
físicas dos trabalhadores;
- Limpeza regular dos aparelhos de ar-
condicionado
- Quando da concepção da instalação,
aproveitar da melhor forma possível a
ventilação natural.
traga prejuízo à saúde do trabalhador;
- maior participação dos trabalhadores nas
decisões;
- flexibilidade dos horários;
- técnicas de relaxamento.
- conhecimento do perigo;
- manter sob controle os exames médicos
dos trabalhadores que desenvolvem
atividades com grande perigo;
Acidentes do Trabalho
Definições de Acordo com a legislação vigente (Salem Neto, 1997)
Art. 131 da Constituição:
Acidente do trabalho - ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou ainda,
pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional, podendo causar tanto a morte como a perda ou redução da
capacidade para o trabalho (temporária ou permanente).
Art. 132 da Constituição:
Consideram-se acidentes do trabalho as seguintes entidades mórbidas:
I - doença profissional;
II - doenças do trabalho:
Não serão consideradas como doença do trabalho:
a doença degenerativa;
a inerente a grupo etário;
a que não produz incapacidade laborativa;
a doença endêmica adquirida por segurados habitantes de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho.
Art. 133 da Constituição:
Equiparam-se também ao acidente do trabalho:
I - o acidente ligado ao trabalho – não é causa única, mas contribuiu para a morte do
trabalhador, redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão
que exija atenção médica para a sua recuperação;
II - o acidente sofrido pelo trabalhador no local e no horário do trabalho;
III - a doença proveniente de contaminação acidental do trabalhador no exercício de sua
atividade;
IV - o acidente sofrido pelo trabalhador, ainda que fora do local e horário de trabalho.
Aspectos gerais sobre acidentes do trabalho
Conceição et al (1997) ressaltam que os acidentes do trabalho revestem-se de grande
importância por diversos fatores, que vão desde o grande número de pessoas expostas
até a possível gravidade dos mesmos, resultando em incapacidade funcional temporária,
permanente ou mesmo na morte do trabalhador. Os acidentes do trabalho implicam em
altos custos sociais: aposentadorias, às vezes, precoces; indenizações; anos de vida
perdidos; perda de familiares, entre outros.
Segundo Machado (1994), quanto aos acidentes totais, vários países do chamado
primeiro mundo apresentam números maiores que o Brasil, indicando, provavelmente,
sistemas de registros mais apurados. Em primeiro lugar, em números absolutos, figuram
os EUA, seguido da Alemanha, onde mesmo o acidente em trabalhador à procura de
emprego é registrado. Em relação à taxa de incidência, a Alemanha ocupa a primeira
posição e a Espanha, a segunda. Países como a Inglaterra, EUA e México situam-se
antes do Brasil.
De acordo com a OIT, em 1995, enquanto o crescimento da mão-de-obra empregada no
Brasil foi de apenas 2,59%, os acidentes do trabalho subiram 9,22% e as mortes
aumentaram 23,7%. No total ocorreram 424.137 acidentes, sendo 3.967 fatais. Esses
dados da OIT colocam o Brasil no 10° lugar no ranking mundial de acidentes laborais
(Bevilacqua, 1997).
Conceição et al (1997) salientam que o Brasil aparece como recordista mundial de
mortes por acidentes do trabalho, segundo avaliação da OIT. Os dados do INSS
mostram que no Brasil, no período de 1990 a 1995, ocorreram em média 513.456/ ano
acidentes e doenças no trabalho, com 3.943 óbitos/ano (Fundacentro, 1997).
Em Santa Catarina, o número de acidentes (notificados) diminuiu de 29.500 em 1992
para 27.923 em 1996, enquanto a quantidade de óbitos se manteve em torno de 160
mortes por ano. Somente no ano de 1996, segundo dados do INSS, ocorreram 27.923
acidentes, sendo 22.531 típicos (no próprio local de trabalho), 525 por doença e 1.575
de trajeto (a caminho do trabalho) (Bevilacqua, 1997).
Distribuição dos acidentes do trabalho entre setores (internacional e nacional)
Nesta seção, mostrar-se-á dados importantes de acidentes do trabalho no mundo e no
Brasil, objetivando chamar a atenção para tal problema. A tabela 1 mostra que o Brasil
encontra-se numa posição preocupante em relação aos outras países colocados, no que
diz respeito as mortes de trabalhadores em seus ambientes de trabalho.
Mortes de trabalhadores (a cada 10.000 acidentados)
Brasil 86, 4
Espanha 20,7
Inglaterra 16,3
Itália 15,4
Canadá 15,3
Dinamarca 13,8
França 13,7
Alemanha 11,4
Finlândia 9,7
EUA 9,5
Bélgica 8,8
Portugal 6,9
Tabela 1: Óbitos em ambientes de trabalho
Fonte: Anuário Estatístico da OIT (1994)
No Brasil, em 1966, os dados do INSS apontaram os seguintes casos de óbitos entre as
diferentes regiões :
Acidentes do trabalho em 1996
País e grandes regiões Anos Total Óbitos
Brasil 1994
1995
1996
358.289
414.048
428.072
3.126
3.967
5.538
Norte 1994
1995
1996
3.275
5.627
5.627
72
128
191
Nordeste 1994
1995
1996
14.472
21.023
26.897
425
557
906
Sudeste 1994
1995
1996
282.376
334.069
292.473
1.916
2.554
3.041
Sul 1994
1995
1996
49.862
43.727
91.337
518
518
994
Centro-Oeste 1994
1995
1996
8.304
9.600
11.738
198
210
406
Distrito federal 1994
1995
1996
1.095
2.245
2.415
18
49
62
Tabela 2: Acidentes do trabalho em diferentes regiões brasileiras (Bossolan, 1997)
A região sudeste apresentou uma queda no número total de acidentes do trabalho, de
334.069 em 1995 foi para 292.473 em 1996 (12,5%), mas o número de óbitos aumentou
de 2.554 casos para 3.041 (19%).
As regiões Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Distrito Federal tiveram aumento na
quantidade total de acidentes. A região Norte manteve o mesmo valor de 1995, 5.627
casos. A região que mostra o maior índice de aumento de acidentes do trabalho em 1996
é a Sul, com 109% de casos a mais em relação ao ano anterior.
Do total de acidentes do trabalho ocorridos em SC, em 1996, envolvendo 4699
empresas de ramos de atividades diferentes, foram selecionados os que apresentam
maior freqüência, conforme a tabela abaixo:
ATIVIDADE ECONÔMICA N. %
Desdobramento de madeira 977 5,30
Fabricação de móveis com predominância de
madeira
840 4,55
Edif. Resid. Ind. Comerc. Serv. Amp. Reforma 775 4,20
Fabricação de peças fundidas de ferro e aço 678 3,68
Abate de aves e peq. animais 548 2,97
Fabricação de cabines, carrocerias. e reb. p/ outros
veículos
481 2,61
Fabricações de fogões, refrigeradores e máquinas
de lavar e secar
394 2,14
Abate de reses., Prep. de produção de carne 381 2,07
Atividade de serviço relacionado com a agricultura 365 1,98
Fabricação de produção de cerâmica não refratária
p/ uso Est. Const. Civil
361 1,96
Confecção de peças do vestuário 332 1,80
Transporte rodoviário de cargas em geral 316 1,71
Atividades organizacionais sindicais 270 1,46
Total 18444 100,00
Tabela 4: Acidentes do trabalho em 1996 em SC, segundo o ramo de atividade.
Fonte: INSS (1996).
O número de acidentes do trabalho na indústria madereira e nas serrarias no Planalto
Serrano é preocupante. Somente no ano passado, mais de 200 trabalhadores sofreram
algum tipo de ferimento, normalmente com a mutilação de algum dedo ou mesmo da
mão inteira. A maior parte desses acidentes acontecem em pequenas empresas, onde os
critérios de segurança normalmente não são seguidos. Nos setores de fabricação de
móveis (madeira) e da construção continua crescendo o número de acidentes do
trabalho.
Causalidade
Para Iida (1992) os acidentes geralmente resultam de interações inadequadas entre o
homem, a tarefa e o seu ambiente.
Quando da ocorrência de um acidente do trabalho de grande monta, ouve-se,
freqüentemente, a expressão "o acidente foi causado por erro humano". Wisner (1991)
afirma que este pensamento está equivocado. A ocorrência dos acidentes está ligada a
várias causas, dificilmente a uma única, por isso, utiliza-se, habitualmente, o método da
árvore de causas para avaliar a ocorrência de acidentes do trabalho. As causas dos
acidentes, freqüentemente, têm três componentes: organizacional, tecnológico e
humano. Neste sentido, seria falso acreditar que somente o operador comete os erros.
Wisner coloca que se viveu durante anos sobre a grande ilusão que o dispositivo técnico
era um suporte infalível. Hoje se sabe que, por mais complexo que seja o dispositivo
técnico, eles também pode apresentar falhas.
A complexidade dos sistemas deve respeitar as capacidades do cérebro humano.
Quando do funcionamento normal, não ocorre nenhum problema, mas quando ocorrem
disfunções no sistema, há uma propagação rápida das perturbações e, pela
complexidade das combinações, o operador pode ter dificuldade de localizar as suas
origens. O autor salienta, ainda, que não se pode prever todos os acidentes, nem todas as
reações dos operadores. Mas, deve-se colocar todas as condições ótimas de segurança e
de prevenção para os operadores.
Cita-se abaixo algumas causas importantes responsáveis pela ocorrência de acidentes
(ANACT, 1981) :
Causas relacionadas às máquinas e aos produtos
máquinas e equipamentos
. inadequados aos usuários;
. sem manutenção;
. utilizados em condições não previstas;
produtos
. produtos tóxicos;
. produtos radioativos;
. produtos químicos.
Causas relacionadas ao ambiente
. trabalho em alturas (construção civil);
. trabalho em profundezas (minas subterrâneas);
. trabalho submarino (plataforma de petróleo);
. trabalho em ambiente ruidoso;
. trabalho em temperaturas extremas;
. trabalho em ambiente com deficiência lumínica;
. trabalho com ferramentas vibrantes;
. trabalho em atmosfera poluída.
Causas relacionadas à organização do trabalho
. horários;
. trabalho em turnos;
. cadências elevadas;
. salários;
. comunicação difícil entre os diferentes níveis hierárquicos.
Causas relacionadas ao indivíduo
. fadiga devido a uma sobrecarga física e mental;
. envelhecimento;
. formação e treinamento insuficiente;
. problemas sociais.
Segundo o Manual de Capacitação dos trabalhadores da Construção Civil (1997), os
acidentes ocorrem devido à:
. falta de conscientização dos riscos de serviço e das formas de evitá-los (engenheiros e
operários);
. falta de atenção;
. falta de conhecimento do trabalho que deve ser feito;
. falta de equipamentos de proteção individual e coletivo;
. falta de treinamento e informação;
. falta de organização;
. excesso de confiança;
. máquinas e equipamentos com defeitos.
Programas de apoio à prevenção de acidentes do trabalho:
COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES (CIPA – encontra-se na
CLT, regulamentada pela Portaria 3214/78-NR5).
Obrigatoridade: Toda a empresa privada ou pública, que tenham empregados regidos
pela CLT.
Objetivos da CIPA:
Observar e relatar as condições de riscos nos ambientes de trabalho;
Solicitar medidas para reduzir ou eliminar os riscos existentes;
Discutir os acidentes ocorridos, encaminhando ao SESMT (Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) (se houver) e ao empregador o
resultado da discussão e solicitar medidas preventivas.
Orientar os demais trabalhadores quanto a prevenção de acidentes.
Investigar as causas de circunstâncias dos acidentes e doenças ocupacionais;
Promover anualmente a SIPAT (Seminários Internos de Prevenção de Acidentes do
Trabalho);
Realizar inspeções de segurança.
b) PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAUDE OCUPACIONAL – PCMSO
(NR 7)
objetivo principal: a promoção e preservação da saúde dos trabalhadores.
c) PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS – PPRA (NR 9)
objetivo principal: a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores,
considerando a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
d) PROGRAMA DE CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE DE
TRABALHO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO - PCMAT.
N.R.18/3214
objetivo principal: definir medidas de controle e sistemas
preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio
ambiente de trabalho na Indústria de Construção (20 trabalhadores)
DOENÇAS PROFISSIONAIS E DO TRABALHO
As doenças abaixo especificadas são consideradas pela Coordenação de Saúde do
Trabalhador do Ministério da Saúde prioridades para notificação e investigação
epidemiológica. São elas:
- Doenças de vias aéreas: dependem do material inalado, "da susceptibilidade
individual e do local de deposição das partículas". As principais são:
Pneumoconioses: "resultantes da deposição de partículas no parênquima pulmonar"
gerando um quadro de fibrose do tecido pulmonar.
A silicose "é a principal pneumoconiose no Brasil". É causada pela "inalação de sílica
livre cristalina (quartzo)". Atinge trabalhadores que atuam em "indústria extrativa, em
beneficiamento de materiais, em fundições", etc. Tem evolução lenta e progressiva e,
em geral, seus sintomas se iniciam entre 10 a 20 anos de exposição. O indivíduo começa
apresentando tosse e escarro não tendo alteração radiográfica. Com o agravamento da
doença, surge dispnéia podendo evoluir para cor pulmonare crônico (BRASIL, 2001).
A asbestose é resultante da inalação do asbesto ou amianto. Estão expostos os
trabalhadores da indústria extrativa, indústria de transformação, construção civil,
manutenção de telhados e fornos (tijolos refratários), etc. Pode se manifestar após
alguns anos de exposição e é caracterizada por dispnéia de esforço, estertor crepitante
em bases, baqueteamento digital e pequenas alterações radiográficas. A exposição às
fibras de asbesto pode ainda causar câncer de pulmão (BRASIL, 2001).
A asma ocupacional "é a obstrução difusa e aguda das vias aéreas", reversível, causada
pela inalação de substâncias alergênicas como poeiras de algodão, linho, couro, etc. O
indivíduo apresenta-se com um quadro de asma brônquica, dispnéia, tosse, sibilância,
rinorréia e espirros. Tais sintomas podem aparecer no local da exposição ou após
algumas horas desaparecendo quando há afastamento do local (BRASIL, 2001). Nos
três casos, deve ser feito o afastamento imediato e definitivo da exposição; notificação e
investigação do caso; solicitação de emissão de CAT (Comunicação de Acidente de
Trabalho) pela empresa e outras medidas conforme o caso.
- PAIR - Perda Auditiva Induzida por Ruído: Caracterizada pela "diminuição
gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição continuada a níveis elevados de
ruído" no local de trabalho. É neurossensorial, irreversível e não progride após cessado
o ruído. Confirmado o diagnóstico, o trabalhador deverá ser afastado da exposição. O
caso tem que ser notificado e investigado e a empresa emitir o CAT (BRASIL, 2001).
- LER/DORT: Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares
Relacionadas com o Trabalho são "decorrentes das relações e da organização do
trabalho existentes no moderno mundo do trabalho" em atividades com movimentos
repetitivos, posturas inadequadas por tempo prolongado, ritmo intenso, sobrecarga
mental, entre outros. Os acometidos, geralmente mulheres e trabalhadores da linha de
montagem do setor metalúrgico, financeiro, de autopeças e de processamento de dados,
apresentam dor crônica, parestesia, fadiga muscular e ainda, medos, dúvidas e
ansiedade. Na suspeita, o trabalhador deverá ser avaliado por profissional habilitado e,
confirmado o diagnóstico, "deverá ser afastado das atividades laborais", realizado
fisioterapia e tratamento medicamentoso. A notificação será feita e a CAT emitida.
- Intoxicações:
-Agrotóxicos: praguicidas, pesticidas, agrotóxicos ou venenos causam grandes danos à
saúde humana e ao meio ambiente. São classificados quanto à toxicidade (extremamente
tóxico, altamente tóxico, medianamente tóxico e pouco tóxico), a qual grupo químico
pertence (organofosforados, organoclorados, piretróides, etc.) e sobre qual organismo
atuam (inseticidas, fungicidas, bactericidas, etc.)
-Chumbo (Saturnismo): provoca intoxicação a longo prazo e a intoxicação "depende das
propriedades físico-químicas do composto, da concentração no ambiente , do tempo de
exposição, das condições de trabalho ( ventilação, umidade, esforço físico, etc.) e dos
fatores individuais do trabalhador". Acomete os trabalhadores de "fabricação de
baterias; indústria de plásticos; fabricação de tintas; pintura a pistola/pulverização com
tintas à base de pigmentos de chumbo; fundição de chumbo, latão, cobre e bronze;
trabalhos com solda; envernizamento de cerâmica", dentre outros. Surgem dores
abdominais e em articulações, cansaço e alterações sangüíneas e diuréticas (BRASIL,
2001).
-Mercúrio (Hidrargirismo): o mercúrio adentra o organismo "por inalação, absorção
cutânea e por via digestiva". Acomete aqueles ligados à extração e fabricação do
mineral, manômetros, termômetros, lâmpadas, no garimpo, etc. É irritante de pele e
mucosas, afeta os pulmões e nos casos crônicos é caracterizado por gengivite, sialorréia,
irritabilidade, tremores (BRASIL, 2001).
-Solventes Orgânicos: os hidrocarbonetos são utilizados "como solubilizantes,
dispersantes ou diluentes em empresas, meios rurais e em laboratórios químicos". Os
solventes são inalados pelos trabalhadores expostos atingindo os alvéolos pulmonares e
o sangue capilar. Efeitos tóxicos são observados no fígado, pulmões, rins, sangue e
sistema nervoso (BRASIL, 2001).
-Benzeno (Benzenismo): mielotóxico, os sintomas podem ser fadiga, palidez, infecções,
epistaxe. Pode estar relacionado com leucemia mielóide crônica, com a leucemia
linfocítica crônica, com a doença de Hodking e com a hemoglobinúria paroxística
noturna.
-Cromo: utilizado em galvanoplastias; na indústria do cimento; na produção de ligas
metálicas; soldagem de aço inoxidável; na produção e utilização de pigmentos na
indústria têxtil, de cerâmica, vidro e borracha; é irritante da pele e vias aéreas
superiores. Causam prurido nasal, rinorréia, epistaxe, dispnéia, tosse e até câncer.
- Picadas por animais peçonhentos:
Acidentes ofídicos: possui grande importância por ser grave e bastante freqüente no
país. É importante a classificação da cobra em peçonhenta e não peçonhenta. Tal
identificação viabiliza o reconhecimento das espécies de importância médica e auxilia
na indicação do antiveneno a ser administrado (MANUAL, 1999). Os critérios de
diferenciação das cobras não são totalmente confiáveis e podem gerar erros, devendo
portanto, ter-se o cuidado com a manipulação do animal. As principais características
das cobras peçonhentas são:
- presença de fosseta loreal (orifício situado entre a narina e o olho, órgão
responsável pela termorregulação);
- presença de presas;
- forma da pupila em fenda vertical;
- formato da cabeça triangular;
- afunilamento brusco da região caudal;
- hábitos noturnos.
Os gêneros de interesse médico são: Bothops (jararaca), Crotalus (cascavel), Lachesis
(surucucu) e Micrurus (coral). Os sinais e sintomas da picada varia conforme o gênero
da cobra e pode incluir edema e dor locais, mal-estar, náuseas e vômitos
(SCHVARTSMAN, 1991).
Acidentes escorpiônicos: os escorpiões de maior importância médica pertencem ao
gênero Tytus destacando-se o T. serrulatus (patas amarelas e presença de uma serrilha
na região dorsal), T, bahienses ( todo escuro) e T. stigmurus, este, mais comum na
região nordeste do país (MANUAL, 1999).
A dor é imediata e o tratamento se baseia em medidas sintomáticas e de suporte e
soroterapia (SCHVARTSMAN, 1991).
Acidentes aracnídeos: as principais aranhas são as do gênero Phoneutria (armadeira),
Loxosceles, Latrodectus e Lycosa (aranha-de-jardim). As picadas da caranguejeira não
possuem importância médica. Os animais peçonhentos não fazem teia. O quadro clínico
é variável e, geralmente, é encontrada dor local (SCHVARTSMAN,1991).
As picadas de insetos com ferrão provocam reações de hipersensibilidade como
hiperemia, edema, dor e calor local que variam de indivíduo para indivíduo devendo
ficar atento à sinais de dificuldade respiratória (MANUAL, 1999).
O acidente causado pelo contato com lagartas é chamado de "erucismo". Causa
dermatite urticante com dor local intensa. Dentre as principais espécies destacam-se a
Lonomia sp. e Podalia sp (MANUAL, 1999).
O HC/UNICAMP conta com um serviço de controle de intoxicações onde são
fornecidas informações sobre animais peçonhentos. O telefone para contato é (19) 3788-
7555 ou (19) 3289- 3128.
- Dermatoses ocupacionais: Caracterizada por toda alteração de pele, mucosas e
anexos. Causadas por substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho.
- Distúrbios Mentais e Trabalho: causados pelas condições de trabalho, vinculadas à
execução do trabalho e sua organização estruturação hierárquica, divisão de tarefa,
jornada, ritmo, trabalho em turno, intensidade, monotonia, repetitividade,
responsabilidade excessiva que podem desencadear distúrbios psíquicos. O indivíduo
apresenta-se irritado, cansado, com alterações no padrão do sono, humor alterado,
descontrolado emocionalmente ou tristeza, acompanhados ou não de dores, inapetência,
sudorese, taquicardia, entre outros.
Para saber mais sobre o assunto, consulte o livro “Patologia do Trabalho” de René
Mendes, editora Atheneu.
LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS
As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT) são agravos relacionados ao trabalho caracterizados
pela ocorrência de vários sintomas entre eles dor, parestesia, sensação de peso e fadiga
acometendo geralmente os membros superiores. "Freqüentemente são causa de
incapacidade laboral permanente ou temporária" e resultam "da superutilização das
estruturas anatômicas do sistema osteomuscular e da falta de tempo para recuperação"
das mesmas (BRASIL, 2001).
São vários os fatores que podem levar ao distúrbio como:
· a repetitividade de movimentos;
· posturas inadequadas por longos períodos de tempo;
· esforço físico;
· invariabilidade de tarefas;
· pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo;
· trabalho muscular estático;
· choques e impactos;
· vibração, frio;
· fatores organizacionais como ritmo de trabalho, pressão e autoritarismo por parte da
chefia e horas excessivas trabalhadas;
· predisposições individuais como idade, estado geral de saúde, habilidade manual, etc.
Para o diagnóstico, é necessária uma história clínica detalhada da doença atual,
relevando as principais queixas do indivíduo, assim como a história ocupacional do
mesmo. Também são considerados os antecedentes pessoais e familiares, hábitos e
comportamentos, exame físico e investigação do seu ambiente de trabalho como meio
ambiente, mobiliário, instrumentos de trabalho, possibilidades de mudança postural, de
pausa e de variabilidade de tarefas.
Alguns fatores devem ser associados como idade, sexo, principais queixas clínicas
considerando intensidade, duração e freqüência da lesão, se o quadro é local ou
generalizado, características da organização do trabalho e ainda, presença de outros
casos na mesma empresa.
Confirmado o diagnóstico, a empresa deverá emitir a CAT em até 24 horas. O segurado
deverá ser encaminhado ao INSS para receber o auxílio doença até que lhe seja
concedido alta por esta intituição. Com a alta sem restrição, o trabalhador retorna à sua
atividade habitual. Na alta com restrições, o indivíduo deverá exercer uma nova função
compatível com o seu quadro atual.
Os acometidos precisam ter ciência e fazer uma reflexão sobre a sua nova condição, já
que a LER/DORT é uma doença incapacitante, conota o trabalhador como um ser frágil
pela sociedade e, ainda, se encontra fora do mercado de trabalho. A atuação sindical é
necessária e bastante válida por parte desses trabalhadores e das categorias profissionais
envolvidas a fim de "interferir na adoção de políticas públicas na área de Saúde do
Trabalhador" (SATO, p.148, 2001).
Através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), a vigilância
entra em ação buscando uma "articulação entre as ações da assistência e de promoção
da saúde". Além do diagnóstico individual uma abordagem coletiva em empresas e
locais de trabalho onde há uma maior freqüência de casos da doença é importante.
Uma abordagem multidisciplinar em saúde e trabalho pode ser criada para a
"investigação da doença, diagnóstico e tratamento", contando com diversos
profissionais como médicos, engenheiros, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas,
ergonomistas, dentre outros. Cabe a esta equipe prestar informações, orientações,
diminuir ansiedades, estimular o autocuidado, ajudar o trabalhador na reinserção no
mercado de trabalho e a lidar com o seu problema. Para tanto, a equipe se utiliza de
sessões em grupo, oficinas terapêutico-pedagógicas, técnicas de relaxamento,
fisioterapia e tratamento medicamentoso (BRASIL, 2001).
Ações de educação, "desenvolvimento da metodologia de investigação dos ambientes de
trabalho", relações interinstitucionais entre empresas e centros de referência e
capacitação e interação nas equipes são alguns dos objetivos do tratamento e
reabilitação dos acometidos (BRASIL, 2001).
As mulheres são as principais vítimas das LER devido à sexualização dos postos de
trabalho e ainda, a alternância do trabalho assalariado e o doméstico fazendo com que as
trabalhadoras não tenham o devido descanso.
Quanto à prevenção, devem ser pensadas modificações organizacionais, relacionais
entre trabalhador-trabalho. Somente a diminuição dos fatores de risco não é
eficiente(SATO, p.150, 2001).
No Brasil, não há um sistema que informe o número total de acidentes de trabalho, nem
os acometidos pela LER. O que existe são dados da previdência social que computam
apenas os trabalhadores formais e os que possuem contrato trabalhista representando
menos de 50% da população economicamente ativa. Segundo os dados de 1997 pode-se
comprovar a alta incidência da doença com relação a outras como convalescença pós-
cirúrgica, ferimentos de dedos de mão e fraturas. Sua alta incidência e a importância da
sua manifestação fez com que as DORT sejam consideradas um grave problema de
saúde. Desde 1987, quando a doença passou a ser reconhecida como ocupacional pela
Previdência Social, os registros de casos aumentaram significativamente, fato este que
pode ser explicado por alguns fatores como a intensificação do trabalho e aumento da
expressão social dos acometidos, que acabam tendo maior poder de pressão sobre os
órgãos públicos e empresas para que tomem providências quanto à prevenção,
reabilitação, indenização, legislação, disseminação do problema entre as categorias
profissionais e ampliação dos canais de informações.
ACIDENTES DE TRABALHO
Acidentes de trabalho são aqueles que ocorrem "pelo exercício do trabalho formal ou
informal" podendo causar lesões, doenças - que podem levar a redução temporária ou
permanente da capacidade laboral - ou morte. Também são considerados os acidentes
ocorridos no trajeto da residência ao local de trabalho e vice-versa (BRASIL, 2001).
"São eventos agudos decorrentes de situações de risco no local de trabalho" como
ruídos, vibração, radiação, ventilação, umidade, exposição a microorganismos
patológicos, a gases tóxicos e a poeira, divisão organizacional do trabalho (jornada,
ritmo, trabalho noturno, postura inadequada, repetitividade de movimentos, esforço
físico, entre outros), falta do uso de equipamentos de segurança e manipulação de
ferramentas defeituosas (BRASIL, 2001).
Os acidentes fatais devem ser notificados pela empresa através da CAT imediatamente,
enquanto que os acidentes menos graves têm que ser notificados em até 24 horas.
A CAT (comunicação de acidentes de trabalho) é um formulário emitido pela empresa
preenchido em seis vias, onde cada uma delas segue um determinado destino. O INSS
fica com a primeira via, a empresa com a segunda via, a terceira com o segurado, a
quarta com o sindicato, a quinta ao SUS e finalmente, a sexta via com a Delegacia
Regional do Trabalho. O emitente da CAT é que deve entregar as vias para os
respectivos destinos.
São considerados acidentes graves:
· Os que ocorreram em menores de 18 anos;
· Ocular;
· Fraturas;
· Amputação traumática;
· Traumatismo crânio-encefálico, de nervos e medula;
· Politraumatismo;
· Asfixia, afogamento;
· Queimaduras de III grau.
O profissional da saúde deve acompanhar e articular a assistência na rede de referência,
acompanhar a emissão da CAT, notificar e investigar o caso e ainda, intervir no
ambiente de trabalho desenvolvendo ações e orientação para os funcionários.
O TRABALHO FEMININO
A inserção da mulher no mercado de trabalho vem crescendo, aumentando de 18,2% em
1970 (Perfil Estatístico/UNICEF/IBGE) para 41,4%, em 1999, da população
economicamente ativa (PEA) de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílio, 2001). Segundo dados do Relatório de Desenvolvimento Humano da
ONU (1995) as mulheres representam 53% do trabalho total - remunerado e não
remunerado - nos países em desenvolvimento. As assalariadas correspondem a 44% das
trabalhadoras brasileiras (IBGE/PNAD, 2001).
A prestação de serviço é o setor no qual as mulheres atuam com maior freqüência,
representando 29,4%, seguida da atividade agrícola, 20,4% e atividade social, 17,4%
(IBGE/PNAD, 1999).
Os trabalhos considerados masculinos "podem ter características como insalubridade,
periculosidade e exigência de força física" e os "femininos são caracterizados pela
meticulosidade, leveza, sedentarismo", entre outros aspectos. Isso permite "ocultar as
diferenças de salário e de critérios de promoção, dificultar a união das reivindicações e
justificar muitas das discriminações e penalidades a que as mulheres estão sujeitas"
(COHN & MARSIGLIA, p.65, 1993).
As mulheres, muitas vezes ainda, atuam em postos menos qualificados sob ritmos
extenuantes de trabalho em indústrias. Precisam demonstrar habilidade manual,
paciência e disponibilidade, qualidades consideradas natas.
No que diz respeito às funções repetitivas, estas são majoritariamente realizadas por
mulheres podendo causar lesões osteoarticulares. Ainda, estão expostas também à
deterioração da capacidade visual, estresse, fadiga, dermatose, problemas reprodutivos e
desordens emocionais. Geralmente são vítimas de violência verbal e físicas e ocupam
locais menos favorecidos que os homens em seu ambiente de trabalho (BRITO, 1997).
As desigualdades de gênero são observadas nos salários (estes de valores inferiores
mesmo que a função exercida seja a mesma), na hierarquização do trabalho,
manifestando-se na sua organização e nos direitos. O rendimento médio das mulheres
em relação ao dos homens, em janeiro de 2001, em São Paulo foi de 61,9% e, em Belo
Horizonte, 60,5% mostrando tal disparidade (DIEESE/SEADE/PED - Pesquisa de
Emprego e Desemprego). Na legislação, são notadas a inadequação das condições de
trabalho feminino, além da restrição para caracterização dos adicionais de insalubridade,
periculosidade e penosidade (BRITO, 1997).
Há ainda as trabalhadoras autônomas, informais (vendedoras, lavadeiras, etc.) que
realizam um trabalho precário exercendo suas atividades no próprio lar, buscando um
aumento da renda familiar, além de realizarem o serviço doméstico e o cuidado com os
filhos. No Brasil, em 1999, 26,0% das mulheres sustentavam suas famílias
(IBGE/PNAD, 2001). No trabalho por conta própria foi encontrado 16,6% e,
trabalhavam sem remuneração, 13%. Ainda, 9% realizavam o trabalho de subsistência.
Essas mulheres não possuem carteira de trabalho assinada e, portanto, encontram-se
sem proteção trabalhista (DIEESE/SEADE/PED, 2001).
A precariedade pode ser definida tanto "em relação às novas formas de emprego, quanto
às condições de trabalho, em função do enfraquecimento ou perda dos direitos sociais,
sindicais, de prevenção e de reparação dos riscos". Isso pode ser a causa da
desvalorização do trabalho feminino (BRITO, p.200, 2000). O trabalho feminino tem se
caracterizado também pela dupla e, as vezes, tripla jornada de trabalho (COCCO, 1997).
Alguns autores relatam que é culturalmente atribuída à mulher a responsabilidade pelo
cuidado dos filhos fazendo com que sua participação no mercado de trabalho diminua a
medida que ela tenha filhos. A falta de recursos em empresas como creches e berçários
fazem com que as mulheres abandonem sua atividade remunerada para que possa cuidar
dos seus filhos (SENNA & FREITAS, 1993).
Segundo BRITO (p.197, 2000) algumas tendências em relação ao trabalho feminino
podem ser apontadas:
· "Incorporação de elevada proporção de mulheres em processos produtivos por
multinacionais onde o custo de produção seja menor";
· "Acirramento da diversidade e heterogeneidade das situações de trabalho dos homens e
mulheres";
· Aumento "do trabalho feminino e maior vulnerabilidade das trabalhadoras frente a
precarização o trabalho".
Enfim, "a divisão sexual do trabalho, produzida pela organização do trabalho, impõe-
lhes jornadas ilimitadas que, associadas ao trabalho familiar e aos menores recursos de
que dispõem, representa esforço excessivo contribuindo para deterioração progressiva
da saúde dessas mulheres", inclusive a saúde mental (BRITO, p.203, 2000).
Estratégias para intervir nos problemas que afetam a saúde da mulher trabalhadora
devem ser elaboradas e colocadas em prática como manifestar contra sua situação,
"denunciando a opressão" e trazendo novos temas para o sindicalismo, propor "adoção
de práticas sindicais sobre o assédio sexual", a violência e o questionamento da divisão
sexual do trabalho. Conforme documento redigido no I Congresso Mundial "Mulher,
Trabalho e Saúde" em abril de 1996, a questão do gênero deve ser introduzida na
investigação a fim de promover a saúde das mulheres (BRITO, 1997).
Nesta exposição, procuraremos apresentar algumas consideraçõessobre a Psicopatologia no Trabalho e alguns dos desafios que tal cam-po de estudos e de práticas encontra no mundo contemporâneo. Naseqüência, pretendemos mostrar as peculiaridades em que se mani-festam, na atualidade, alguns tipos de transtorno mental relacionadosao trabalho.
Cabe esclarecer que temos adotado a expressão Psicopatologiano Trabalho (PPT) de preferência à Psicopatologia do Trabalho porconsiderar que quem sofre e/ou adoece é o ser humano que trabalha.Por mais que, metaforicamente, seja possível falar de um “trabalhomórbido”.
Numa perspectiva histórica vemos que o conhecimento da relaçãoentre trabalho e alterações da Saúde Mental é bastante antigo. O re-conhecimento da existência de uma psicopatologia no trabalho, igual-mente, desde os anos 20 do século passado já mereceu publicações,seja no âmbito do que era denominado Psiquiatria Ocupacional ou,um pouco depois, já sob a designação de Psicopatologia do Trabalho.
Nos estudos de psicopatologia, historicamente, sempre houveobscurecimento do papel que é desempenhado, na gênese de trans-tornos mentais, pelas condições de trabalho e por certos modos deobter incremento de produtividade, conforme foi bem analisado porDoray já há mais de 30 anos (DORAY, 1972).
Giovanni Jervis, importante integrante da Psiquiatria Democráticaitaliana, que já nos anos 60 realizou pesquisas e ações de saúde cole-tiva voltados para os trabalhadores fabris, muito criticou o reducionismopredominante na teorização e na prática psiquiátricas. É o queexemplifica o seguinte trecho de seu livro “Psiquiatria Y Sociedad
Psicopatologia do trabalho
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(JERVIS, 1981):“Se os transtornos psíquicos, tal e como concretamente se mani-
festam na vida do indivíduo, são sobretudo o reflexo pessoal parcialde algumas contradições sociais, se também é certo que até agora apsiquiatria tentou, ocultar este fato (esforçando-se por apresentar osofrimento individual como um fato privado, contingente e vergonho-so) então é hoje necessário que da contradição individual e particularpassemos à tomada de consciência do dano coletivo, e a partir deste,a das condições sociais que o geraram.” (p. 68).
Vale ainda outro esclarecimento inicial: a noção de sofrimentomental não corresponde à de doença nem à do transtorno mental ca-racterizado pela nosologia oficial. Existem mecanismos psicológi-cos de defesa que são acionados nas situações de vida – e portanto,também nas de trabalho – para evitar a ansiedade, o medo, a depres-são, as vivências de desproteção ou de sentir-se ameaçado. AnnaFreud estudou estes mecanismos (ANNA FREUD, 1968). Podemosexemplificar aqui a repressão (ou recalque) como mecanismo dedefesa pelo qual são excluídos da consciência os pensamentos relaci-onados aos impulsos ou sentimentos perturbadores e/ou socialmentecensurados. Outro mecanismo que nos parece oportuno destacar é anegação da realidade, muito utilizada na infância, mas que pode severificar na vida adulta, quando o indivíduo vivencia a impotência parao enfrentamento de certas situações ameaçadoras ou penosas. O modopelo qual mecanismos de defesa surgem nas situações de trabalho eassumem caráter coletivo , foi revelado por JAQUES em estudo rea-lizado em uma fábrica inglesa, no início dos anos 50 (JAQUES, 1955).Mais tarde, o fenômeno foi analisado em amplo detalhamento porDejours, que em vários textos examinou estratégias coletivas defensi-vas e descreveu a forma pela qual as mesmas chegam a configuraruma ideologia defensiva (por ex., DEJOURS, 1993). Tanto os meca-nismos individuais de defesa psicológica quanto as estratégias coleti-vas defensivas podem amenizar o sofrimento e protelar a eclosão detranstornos mentais. Mas não são defesas duradouras e podem serrompidas, seja pelo acúmulo dos desgastes, seja por circunstânciasque impactam o trabalhador – como o acidente do trabalho, conformetivemos oportunidade de constatar em pesquisas, nas quais tivemosocasião de estudar, ainda nos anos 80, as repercussões do trabalhona saúde mental de operários das indústrias de Cubatão (Estado deSão Paulo) e de uma siderúrgica da cidade de São Paulo (SELIGMANN-SILVA, 1983 e 1994).
Nem todas as defesas psicológicas são negativas do ponto de vista
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da preservação de saúde mental. É preciso lembrar que uma delas - asublimação - favorece a saúde e tem o potencial de transformar osofrimento em prazer. Assume, portanto, um papel vitalizador. Atravésda sublimação o indivíduo lança mão de sua força criativa para trans-formar o trabalho e torná-lo significativo. Entretanto para que a subli-mação tenha lugar é imprescindível um duplo espaço de liberdade -tanto exterior quanto interior à própria subjetividade. A sofisticação ea introjeção psíquica do controle, no presente, estrangulam cada vezmais este espaço.
Constatamos, assim, que para que o sofrimento mental relaciona-do ao trabalho seja limiar da psicopatologia, deverão existir condiçõesdesfavoráveis à elaboração de defesas individuais e coletivas. É doque trataremos mais adiante.
Do ponto de vista dos estudos epidemiológicos , vêm aumentan-do o número das pesquisas e análises que demonstram o papel dotrabalho na morbidade psiquiátrica, papel este reconhecido pela OIT(Organização Internacional do Trabalho). Na América Latina, destaca-mos estudos epidemiológicos pioneiros realizados no México por MiguelMatrajt, que uniu ao enfoque socioepidemiológico a análise dasociogênese e da dinâmica subjetiva (MATRAJT, 1994).
A historiadora e psicanalista Elizabeth Roudinesco critica oreducionismo dos critérios com que a Classificação de doenças ecausas de morte oficialmente adotado no plano internacional – a CID-10. categoriza, em seu capítulo V, os transtornos mentais, apontandoa ausência da subjetividade nestes critérios (ROUDINESCO, 2000).A natureza social dos agravos, encontra-se igualmente abstraída, qua-se sempre, e em especial quando envolve as situações de trabalho.Pois, como já tivemos ocasião de expor anteriormente (SELIGMANN-SILVA, 2003), a classificação oficial reflete bem a hegemonia das ci-ências naturais e da perspectiva positivista na fixação dos critériosdiagnósticos.
Procurando contornar essa dificuldade, foi elaborada no Brasil umalista dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao tra-balho publicada, - no contexto de uma lista maior abrangendo Doen-ças relacionadas ao Trabalho, - no Decreto 3.048/99 do Ministério daPrevidência e Assistência Social. A mesma lista integra a Portaria doMinistério da Saúde MS/1.339/1999. São 12 os agravos que compõe alista, que constitui um passo significativo para o reconhecimento darelação entre situações de trabalho e agravos mentais. (Ministério daSaúde, 2001). Trataremos, adiante, de examinar como alguns destesagravos se colocam diante do cenário contemporâneo. Antes, cabem
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algumas considerações.
2 RESSONÂNCIAS DA METAMORFOSE CONTEMPORÂ-NEA SOBRE A SUBJETIVIDADE E SOBRE A PSICOPA-TOLOGIA
Na atualidade, uma discussão perpassa as fronteiras da Psicopa-tologia no Trabalho e atravessa o campo da Psicopatologia Geral, en-volvendo psiquiatras, psicólogos e psicanalistas. Tal discussão parteda percepção de uma transformação na forma pela qual os processospsicopatológicos se constituem, desenvolvem e expressam no con-texto das imensas transformações que, no bojo da chamada globali-zação, atingiram a estrutura e o funcionamento da sociedade (seriapreferível, em nossa opinião, não adotar o termo globalização , pois omesmo passou a ter conotação de uma ideologia que se sobrepôs àética e em nome da qual tudo se justifica).
As metamorfoses observadas na psicopatologia geral decorrem damultiplicidade de transformações de contexto internacional que, afe-tando a estrutura e a dinâmica social em suas várias esferas e institui-ções – da família ao Estado – provocam reflexos na vida cotidiana, nasociabilidade e na vida mental em pessoas de todas as idades.
No que diz respeito às crianças e adolescentes, as depressõesinfantis e os dados sobre suicídios e tentativas de suicídio em criançase adolescentes têm causado enorme preocupação em vários paísese, assim como o significativo aumento da prevalência de bulimia e daanorexia nervosa, expressam o impacto, sobre os mais jovens, daspressões que carregam em si injunções de adesão aos valores agoradominantes: competir, maximizar a capacitação para essa competi-ção, ser rápido, esbelto e esperto para tornar-se um vencedor.
A expansão das depressões em todas as faixas etárias constituium fenômeno complexo que tem merecido muitas tentativas de inter-pretação. A depressão ocupa o primeiro lugar em freqüência no cená-rio mundial dos transtornos mentais (OMS). É consenso, entre os queestudam a questão, de que esse dado não pode ser dissociado doestreitamento das perspectivas de realização pessoal que decorreu,para muitos, do estrangulamento do mercado de trabalho e do au-mento da precarização das relações de trabalho.
Na atualidade, além do que se modificou no mundo do trabalho,várias grandes mudanças têm sido consideradas nos impactos produ-zidos sobre a sociogênese dos distúrbios mentais: mudanças
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socioambientais, demográficas (migrações, aumento da populaçãoidosa), urbanização desordenada, hipertrofia das metrópoles, intensi-ficação da velocidade dos meios de transporte e de comunicação, au-mento da violência em muitos contextos, poder das mídias, expansãotecnológica em geral, além de tantas outras que afetaram a cultura –os modos de perceber o mundo e andar na vida.
As transformações em curso, além de apresentarem reflexosepidemiológicos - isto é, na prevalência e no modo como essas pa-tologias estão distribuídas na população e vinculados a diferentesfatores de risco - também têm sido relacionadas a alterações naspróprias expressões clínicas dos transtornos, isto é, na forma comoestes se apresentam, nas pessoas, desafiando a categorização ofici-al (CID-10).
Não podemos nos alongar na descrição das metamorfoses pelasquais a Psicopatologia Geral vem passando. O que desejamos enfatizar,é que além da Psicopatologia no Trabalho, que nos lança novos desa-fios na atualidade, as transformações contemporâneas também atin-giram, mais amplamente, os processos em que se constituem as pato-logias mentais , e, também - devemos assinalar, apesar de não poder-mos aqui expandir o tema - as da área psicossomática .
3 A IDEOLOGIA DA GLOBALIZAÇÃO E A REESTRUTU-RAÇÃO PRODUTIVA
A reestruturação produtiva tem sido vinculada à chamadaglobalização econômica e ao desenvolvimento tecnológico. Analisa-das conjuntamente por vários autores, globalização e reestruturaçãoprodutiva têm sido objeto de numerosos estudos, alguns dos quaistambém identificaram reflexos para os relacionamentos humanos, paraa identidade e para a saúde mental (BAUMAN, 1999 e 2005;GAULEJAC, 1987).
O desenvolvimento tecnológico foi apontado como a grande cau-sa da “globalização” e usado como argumento poderoso para justificara inevitabilidade da reestruturação produtiva em nível internacional edas reestruturações que se desencadearam nas organizações empre-sariais transnacionais e nacionais.
Instaurado o processo de reestruturação em escala internacional,a exclusão social dos que foram considerados excedentes ou“descartáveis” logo se fez sentir. Porém, as reações ou respostas aessas forças “reestruturantes” foram, em grande parte, constringidas
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pela expansão de uma postura fatalista associada à idéia deinexorabilidade .
Mais do que uma idéia, a inexorabilidade se transformou em umapoderosa crença. Vários são os pensadores da atualidade que enten-deram a disseminação da crença na inexorabilidade como fruto deuma instrumentação, pelos ideólogos da doutrina neoliberal, na impo-sição ao mundo contemporâneo de uma ideologia - a ideologia daglobalização.
Nesta exposição, entretanto, precisamos nos ater aos limites domicrossocial e da subjetividade, mas sem esquecer as mediações, queinterligam este patamar a estruturas intermediárias e ao panorama in-ternacional. E alertando para que a análise não seja determinist a (istoé, interações precisam ser visualizadas, resiliências e resistênciaspodem ter lugar) nem estabeleça um falso isolamento entre os planosmacro e micro.
4 A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM SUARELAÇÃO COM A ÉTICA
A economia moderna afastou-se da ética, lamenta o economistaAmartya Sen. O autor identifica, nas publicações da economia moder-na, “o descaso pela influência das considerações éticas sobre a carac-terização do comportamento humano real.” (p.23). Sen contrasta umavertente da economia que é profundamente vinculada à ética e temraízes no pensamento de Aristóteles, à corrente agora dominante,centrada na logística, na atenção aos meios de alcançar a riqueza,deixando de lado as finalidades humanas da economia (SEN, 1999).Certamente essa tendência identificada por Sen tem muita relação comas diretrizes empresariais prevalecentes quanto às opções de produ-ção e administração de pessoal.
No sofrimento mental relacionado ao trabalho e em suas expres-sões mórbidas, é a subjetividade do indivíduo que é atingida. A subje-tividade é construída ao longo das experiências sociais da exis-tência de cada ser humano .
Para visualizar os processos sociais que vão incidir na subjetivaçãodos empregados, não poderia deixar de ser mencionado o patamarempresarial no qual se definem as políticas internas da organização.Aí são decididas transformações de processo de trabalho, adoção denovos equipamentos poupadores de mão-de-obra e a política de pes-soal. É nesse âmbito que se delineiam novas práticas gerenciais e de
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organização do trabalho que irão impactar nas subjetividades(HELOANI, 2003). As políticas de pessoal assumem grande peso nacaracterização da sociabilidade e dos mecanismos psicológicos dedefesa dos trabalhadores, conforme já estudado no Brasil por ElizabethAntunes Lima (1996). Ressaltamos a importância das análises críticasfeitas por Eugene Henriquez às atuais políticas de pessoal. Essa crí-tica também é realizada por autores brasileiros (ENRIQUEZ, 1991 e1992; DAVEL e VASCONCELOS, 1996).
Em recente e magnífico livro – “Ética, Trabalho e Subjetividade” -o médico e sociólogo Henrique Caetano Nardi nos fala das metamor-foses deste processo de subjetivação, a partir de profunda revisão dotema e do estudo de duas gerações de trabalhadores metalúrgicos noRio Grande do Sul (NARDI, 2006a).
Conforme Nardi explica em recente entrevista, modo de subjetivaçãoé um conceito tomado de Michel Foucault e, de forma muito resumida,podemos dizer que é a forma predominante como somos conduzidos anos tornarmos sujeitos de nossos atos pela incitação, imposição ouconvencimento com relação aos valores e verdades dominantes emum determinado tempo e em um determinado contexto (NARDI, 2006b).
Nardi constata que “ética empresarial, embora ressaltada em qua-se todos os artigos que traçam o perfil dos executivos, é, entretantouma ética subordinada a um valor maior, a competitividade.” (p. 119).O autor analisou o discurso da empresa em que trabalhavam osmetalúrgicos que entrevistou, encontrando elementos essenciais paraidentificar os valores impostos à subjetivação dos trabalhadores.
Além de valores e verdades impostos, as pressões sociopsicológi-cas também engendram sentimentos, nos processos de subjetivaçãoque vão criar novas condutas e novas culturas. Poderíamos, então,formular a seguinte questão e tentar respondê-la:
Quais os componentes, isto é, os ingredientes, que podemos iden-tificar nos processos de subjetivação que tendem cada vez mais aprevalecer na atualidade?
1. A disseminação do medo . Como escreveu Pelbart, “O medo jánão é reação a um perigo iminente, é a tonalidade afetiva dominante.”O medo generalizado acionou a criação de espaços microssociais ondeele impera e passa a gerar novos medos. Como diz o mesmo autor“seria preciso compreeender como um tal microfascismo ‘pega’, ‘fun-ciona’, se alastra, se propaga, dispara consensos, produz intimidação,anestesia, sede de vingança, torpor político...”. Pelbart, neste texto,não focalizava o mundo do trabalho e, sim, escrevia a propósito da“guerra urbana” que eclodiu em São Paulo, em 2006, apontando, como
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esclarece o subtítulo de seu artigo, que “em tempos de Hezbollahh eguerra urbana, o medo não é efeito de perigo à vista.É o jeito-padrãode reagir ao cotidiano.” (PELBART, 2006).
Podemos discernir que diferentes medos dominam o panoramacontemporâneo no qual a violência se alastra, atingindo de modo es-pecial os que ainda habitam no interior do mundo do trabalho. O pró-prio cotidiano de trabalho é cada vez mais impregnado por violência,às vezes explícita, mas predominantemente sutil e perversa. Entre osmedos que aí proliferam, vale lembrar que no chão de fábrica aindasubsiste o medo de sucumbir aos riscos de acidente, para os operá-rios pressionados por sobrecargas de trabalho em ritmos cada vezmais acelerados. Mas sobressaem outros medos: medo do desem-prego, o medo da exclusão, o medo de não conseguir ser polifuncionalou dominar novos conhecimentos e técnicas; de não agüentar as exi-gências do trabalho e adoecer; o medo de enlouquecer; o medo de serdesqualificado, prejudicado no desenvolvimento profissional ou na tra-jetória funcional. E ainda, o medo de ser agredido durante o trajeto oudurante o próprio trabalho. É possível evocar, ainda, o medo de nãocorresponder ao modelo de super-homem ou super-mulher que é im-posto, às vezes conjuntamente, pela família, pela mídia e pelas orga-nizações em que atuam.
O medo, permeando as relações interpessoais, abre espaço para adesconfiança que vai impregnar a sociabilidade fora e dentro dosambientes de trabalho, rompendo ou impedindo laços interpessoais,produzindo isolamento entre as pessoas. Uma desconfiança que estána raiz das manifestações paranóides que se alastram no mundo dotrabalho e na sociedade.
Sobre o medo, cabe ainda lembrar que, para alguns, se faz presen-te juntamente com a consciência da própria vulnerabilidade. Mas quesuscita, na maioria, os mecanismos individuais e coletivos de defesaque se voltam para abafá-lo, convertendo a vulnerabilidade em imagi-nária onipotência.
2. Insegurança e incerteza . Nem sempre é possível separar o medode um amálgama de percepções, entre as quais destacamos as deinsegurança e incerteza. Em geral, nestas circunstâncias, o medo co-letivo desencadeia vivências individuais de insegurança. Estas, porsua vez, brotam de um conjunto complexo, que não se resume aosmedos específicos que acabamos de enumerar. Existe uma outra in-segurança, gerada pela incerteza quanto ao futuro, que além de sergerada pelo conjunto das ameaças percebidas, está também forte-mente associada, à insuficiência e ao desmonte do chamado “Esta-
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dos de Bem-Estar Social”.A propósito da generalização das carências sociais que tem pres-
sionado e transformado os sistemas de proteção social nos paísesdesenvolvidos, Pierre Rosanvallon (1995), em seu livro “A Nova Ques-tão Social”, é bastante esclarecedor quando afirma: “Os fenômenosde exclusão, de desemprego de longa duração, desgraçadamentedefinem amiúde estados sociais ” (p. 27). O autor pontua que, dianteda predominância de tais situações de mais difícil reversibilidade, asnecessidades de proteção não dizem respeito, meramente, aos ris-cos sociais que anteriormente eram objeto da cobertura previdenciáriapara momentos mais transitórios como a doença, o acidente, o de-semprego momentâneo. Perplexo, sem ver perspectiva para superarsua desinserção, o indivíduo vivencia a sensação de sofrer uma para-lisia na qual se percebe impotente para direcionar seu futuro.
Atualmente, ao anseio de escapar da insegurança o indivíduo vêcontraposto o discurso que remete seu destino pessoal (e o daquelespara os quais é o/a provedor/a) ao nível global. Da mesma forma, otrabalhador que teme o desemprego escuta que o destino dos empre-gos do setor da economia em que se insere a empresa em que eletrabalha, - e, portanto, seu próprio emprego, - dependem de um pata-mar “superior”. Resistências individuais ou coletivas são inibidas edesacreditadas (“Não adianta recorrer à hierarquia da empresa nemao sindicato” ou “Não existe a quem recorrer - o que decide é o merca-do global)”.
Esta incerteza se agrava nos contextos nacionais onde as estrutu-ras de proteção social ainda não haviam alcançado seu desenvolvi-mento pleno à época em que se avolumou a onda neoliberal. Nestespaíses também se desenvolveram pressões e discursos direcionadosa uma regressão, em nome da adequação a novos tempos decompetitividade , nos quais os indivíduos se autonomizem para cui-dar de si mesmos. No Brasil tem estado fortemente ativa uma retóricaque vem se voltando para mostrar como obsoleta a proteção que ema-na da formulação dos dispositivos do Título VIII (da Ordem Social),presente na Constituição de 1988. Muito embora reações importantestenham surgido a esta retórica, o poder da mesma não pode ser igno-rado. Pois além das ameaças regressivas tem sido obstaculizada aregulamentação de vários dispositivos constitucionais importantes parao avanço da proteção social.
Ainda para acentuar a magnitude da vivência de incerteza, nãopode deixar de ser assinalada a extensão da população que se encon-tra sem cobertura da Previdência Social, seja por estar em situação de
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trabalho informal , seja por não ter conseguido inserção no mercadoformal, seja, ainda, por viver em desemprego de longa duração. Esti-ma-se que, atualmente, no Brasil, apenas aproximadamente um terçoda população economicamente ativa (PEA) possua cobertura (DIAS eMELO, 2003).
3. O apagamento da justiça como valor fundamental (NARDI,2006). Justiça sempre foi o núcleo da própria ética, assumindo a fei-ção de imperativo ético historicamente consolidado e firmemente in-serido na subjetividade. A disseminação da injunção de “competir parasobreviver” aparece como uma explicação insuficiente para que pos-samos entender a fragilização de um princípio tão essencial e deveestar associada a aspectos de maior complexidade presentes em nos-so momento histórico - numa dinâmica que ainda precisa ser melhorconhecida.
4. O individualismo que se sobrepõe à solidariedade(GÉNÉRAUX, 1998; NARDI, 2006; ROSANVALLON, 1995; ZOLL, 2000,entre outros). Trata-se de um individualismo solitário, cuja emergênciajá vem sendo analisada desde o final dos anos 70. Ele vem permeandoa sociedade de um modo difuso, mas assume expressões especiaisno mundo do trabalho.
O individualismo tornou-se essencial para a internalização docontrole. O controle dos trabalhadores que se fazia na gestão taylorista-fordista passou por uma transformação na empresa hipermoderna. Nolivro que Pages e Cols publicaram em 1979 na França (O Poder dasOrganizações) já era mostrado o deslocamento em que o poderorganizacional abandonou parcialmente o controle exterior e passoua comandar a subjetividade, atuando sobre os desejos e as fantasias.Deste modo foi internalizada a dominação. Este livro revelou como sefez a articulação entre os objetivos da direção e as aspirações pesso-ais. A instrumentação de um individualismo cada vez mais acirradofoi um dos meios utilizados neste processo (PAGÈS et alli, 1987).
Oito anos depois, um dos autores deste livro, Vincent de Gaulejac(1987), descreve as engrenagens que têm conduzido ao domínio desteindividualismo: “Em nossas sociedades “narcísicas” dominadas pelomodelo de desenvolvimento das sociedades multinacionais que quali-ficamos como “modelo gerencial” (modèle managerial), os ideais desucesso social, de promoção individual, de mobilidade individual per-manente (ao mesmo tempo profissional e geográfica) correspondemaos dispositivos dominantes de legitimação social: a ideologia da rea-lização de si, do desenvolvimento pessoal é veiculada através da mai-oria das mídias, das instituições educacionais e das organizações pro-
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fissionais. Ela atravessa a maior parte das classes sociais” (p. 180).
5 SUBJETIVAÇÃO NOS CONTEXTOS ORGANIZACIONAISCONTEMPORÂNEOS. A IDEOLOGIA E A CULTURA DAEXCELÊNCIA
Na seqüência, passamos a examinar alguns outros ingredientes,mais específicos dos processos de subjetivação que se fazem a partirde diretrizes que nasceram e foram impostas no contexto das grandesorganizações – mas que logo atingiram as demais. Assim, para ostrabalhadores, eles coexistem com aqueles que atingem toda a socie-dade. Consistem em idéias e princípios que fazem parte de uma ide-ologia que se tornou predominante. Essa ideologia permeia areestruturação produtiva e ao impregnar as políticas de pessoal, foiinicialmente identificada na origem do quadro clínico que Aubert eGaulejac denominaram neurose de excelência (AUBERT eGAULEJAC, 1981).
Nosso ponto de vista é de que desvelaram uma ideologia da exce-lência que é a face apresentada, no mundo empresarial, pela mesmaideologia da globalização , identificada e analisada por tantos soció-logos da atualidade. Essa ideologia originou o que se pode reconhe-cer como uma verdadeira cultura (cultura da excelência) na qual osvalores instaurados presidem aos comportamentos e passaram aconformar crenças e mitos. Pela importância de levar em conta a vari-edade dos quadros clínicos ‘que tem se apresentado em íntimavinculação ao fortalecimento de imposições articuladas a tal ideolo-gia, vamos em seguida examinar alguns componentes da mesma. Semdesconsiderar que a força de tais princípios também atinge a própriacultura do entorno social mais amplo, e, portanto, também os indivídu-os que estão fora do trabalho (por exemplo, aqueles que estão sepreparando para ingressar no mercado de trabalho e que tomam co-nhecimento destas injunções). Passemos, pois, a examinar os ele-mentos que fazem parte da ideologia da excelência e da cultura quelhe corresponde:
1. competitividade. Como valor maior designado a todos os níveisda organização e diretriz das condutas individuais;
2. flexibilidade . A palavra flexibilidade tem aparecido como umtêrmo-chave na retórica que comanda a reestruturação produtiva, pas-sando a assumir a configuração de valor e de princípio imposto simul-taneamente às relações sociais de trabalho, aos processos de produ-
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ção e às pessoas que trabalham. A empresa que não é flexível estácondenada a não sobreviver. O assalariado não flexível está sob riscode desemprego. A imposição deste princípio aos trabalhadores temacarretado prejuízos importantes à saúde mental (SELIGMANN-SIL-VA, 2001). Um dos pontos a destacar é a forma pela qual sob o impé-rio do princípio de flexiblidade - e aqui estamos falando não só daflexibilização e desregulamentação das relações de trabalho - são cri-ados temores (de não conseguir corresponder às exigências de serflexível , por exemplo), o que leva a ansiedade, bem como as vivênciasde instabilidade e insegurança. Richard Sennet, refletindo sobre a fle-xibilidade, concluiu que ela contribui fortemente para a corrosão docaráter que identificou em casos que estudou. O autor mostra que amudança continuada institui uma superficialidade degradante, pois “aspessoas sentem falta de relações humanas constantes e de objetivosduráveis” (SENNET, 1999, p. 117). Outro ponto é que a exigência deflexibilidade prejudica freqüentemente duas fontes importantes deSaúde Mental: a sublimação e o reconhecimento ;
3. o culto à velocidade , à agilidade , a tudo que é “rápido ” e “enxu-to ” (estruturas e pessoas “enxutas” nas organizações) (AUBERT eGAULEJAC, 1981; SELIGMANN-SILVA, 1991). Na exaltação a umamobilidade que deve ser cada vez mais rápida, também o tempo éatingido: o passado é desvalorizado, vale o que se realiza num pre-sente fugaz, que logo será sucedido por um futuro onde as metas po-derão já ser outras. Não se aprofundam, nem reflexões, nem compro-metimentos, pois não há tempo para se fixar em nada, logo virá umnovo deslocamento;
4. a evitação dos sentimentos : um bloqueio que tem sido estuda-do no que denominamos síndromes da insensibilidade , que foi evi-denciado, por exemplo, no estudo de analistas de sistemas publi-cado em texto de ROCHA (2000);
5. o apagamento da ética . Dejours nos fala de um sofrimentoético em situações de trabalho nas quais o indivíduo sofre pressõespara abandonar seu sentido ético, sofrimento este que pode levar a“estratégias defensivas que se tornem eficazes na atenuação da cons-ciência moral e meio de aquiescência ao exercício do mal.” (DEJOURS,1999, p. 141). Na violentação da dignidade de subordinados, verificadano assédio moral e em outras circunstâncias, ocorre, por exemplo,este apagamento da ética;
6. a polivalência pode ser vista como outro componente da culturada excelência. Quando um trabalhador especializado é forçado a pas-sar à condição de polivalente, ele vivencia uma perda importante, que
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fere seu amor-próprio e sua identidade. A diretriz voltada à polivalênciatambém pode gerar temor e insegurança, pelo receio de não conseguirdar conta de tantas técnicas e atribuições. A polivalência tende a deslo-car para plano secundário, em muitos contextos de trabalho e para cer-tas atividades, o valor constituído anteriormente pela competência, de-senvolvida ao longo da formação e da experiência profissional.
O impacto destes “ingredientes” na subjetividade, abre um lequeamplo de possibilidades quanto ao desenvolvimento ou não de umsofrimento mental que venha a tornar-se patológico. E, caso hajaadoecimento, irá variar a configuração clínica do mesmo, que poderáser um quadro psicossomático ou um entre os vários transtornos men-tais relacionados ao trabalho. Parece-nos mais apropriada essa refle-xão, ao invés de adotar como “rótulo” diagnóstico genérico nas cultu-ras de excelência a expressão neurose de excelência - que constacomo alternativa diagnóstica entre as modalidades de transtorno mentalconsideradas na Lista Brasileira de Transtornos Mentais Relaciona-dos ao Trabalho.
A Lista de Transtornos Mentais (oficializada) relacionados ao traba-lho traz na descrição da categoria “Outros transtornos neuróticos es-pecificados” (48.8) a observação de que “o grupo inclui transtornosmistos de comportamento, crenças e emoções que tem uma as-sociação estreita com uma determinada cultura. ” Essa categoriainclui a neurose profissional, sendo que a neurose de excelência éapresentada como uma das formas clínicas desta (MINISTÉRIO DASAÚDE, 2001).
Passaremos, na seqüência, a enfocar outros transtornos mentaisconsiderados pela mesma Lista. Não será possível tratar aqui de to-dos eles. Para os interessados nos transtornos mentais orgânicos re-feridos pela Lista, em sua maioria relacionados com a exposição aneurotóxicos, sugerimos a leitura do artigo de Camargo, Caetano eGuimarães indicado na bibliografia deste texto (CAMARGO, CAETA-NO e GUIMARÃES, 2005), além das orientações da própria Lista. Umartigo de Sílvia Jardim e Débora Glina, também constante da biblio-grafia, traz orientação diagnóstica para o reconhecimento de todas aspatologias listadas.
6 EPISÓDIO DEPRESSIVO RELACIONADO AO TRABALHO
Roudinesco afirma que a sociedade atual pode ser caracterizadacomo uma sociedade depressiva, considerando que “a depressão do-mina a subjetividade contemporânea.” No ano de 1999 a autora es-
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crevia: “às vésperas do terceiro milênio, a depressão tornou-se a epi-demia psíquica das sociedades democráticas, ao mesmo tempo quese multiplicam os tratamentos para oferecer a cada consumidor umasolução honrosa” (p.17). Essa depressão, explica Roudinesco, não épropriamente uma doença, mas um estado. Torna-se necessário, as-sim, distinguir tal estado dos quadros clínicos (individuais) onde umaação terapêutica se possa fazer útil e é importante a advertência daautora, apoiada em estudo feito por Pierre Juillet, para os riscos daampliação da definição clínica de depressão - que vem ocorrendo econduzindo a uma medicalização da sociedade – através do usoindiscriminado de produtos psicotrópicos - na tentativa de amenizarum mal-estar que é de natureza sobretudo social.
Discernir, em tal contexto, as formas pelas quais o trabalho atua nagênese e evolução de episódios depressivos aumenta o desafio diag-nóstico, desafio que exige, sempre, um estudo acurado do histórico devida e trabalho para que as correlações sejam identificadas.
A gênese de episódios depressivos em sua vinculação ao trabalhose processa, geralmente, articulada a uma perda importante ou a umasucessão de frustrações verificadas no contexto. As probabilidadesde desenvolvimento de episódio depressivo aumentam na falta de apoiosocial e ausência de alternativas concretas para superação do ocor-rido. A não obtenção ou a perda de reconhecimento, gera decepção epode também desencadear depressão. É o que acontece freqüente-mente com pessoas que defrontam uma das seguintes situações: a)trabalhadores que viram suas especialidades serem superadas peloavanço tecnológico; b) trabalhadores que possuíam especialidades eque sofreram deslocamento para setores ou cargos onde não podiammais exercê-las, vivenciando desqualificação, e ,em suma, autodes-valorização, mesmo quando os remanejamentos eram feitos sob odisfarce de uma “modernização” em que eram incentivados a setornarem “trabalhadores polivalentes” (multifuncionais).
Outras ocorrências que podem favorecer a patogênese do episó-dio depressivo são:
- sentir-se alvo de injustiça, desconsideração ou humilhação, espe-cialmente, se de forma reiterada e se não houver possibilidade de re-agir;
- ser preterido sistematicamente ou em ocasiões sucessivas, porocasião das promoções que ocorrem na empresa ou em eventos nosquais se efetiva reconhecimento público dos funcionários (premiaçõesou outras), percebendo isto como injustiça;
- ser excluído de eventos significativos promovidos pela empresa
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ou pelo grupo de trabalho do qual faz parte;- ser prejudicado freqüentemente por não receber informações im-
portantes para seu desempenho ou progressão funcional;- sofrer outras formas de discriminação, humilhação ou isolamento
no ambiente de trabalho.Evidentemente, várias das possibilidades acima elencadas podem
corresponder a uma forma de promover intencionalmente o desprestí-gio, o aniquilamento moral e a desestabilização emocional do empre-gado, dentro dos aspectos que atualmente identificam o assédio mo-ral. Margarida Barreto, em tese de doutorado, identificou a correlaçãoentre a reestruturação produtiva e a expansão do assédio moral, bemcomo da repercussão deste no surgimento de quadros depressivos(HIRIGOYEN, 1998; BARRETO, 2005).
Em conflitos gerados na competição pelos cargos que restaramnas empresas que foram reestruturadas, foram rompidos laços de con-fiança que uniam antigos companheiros de trabalho, provocando pre-juízos e decepções dolorosas aos preteridos - ou “perdedores” na lin-guagem adotada em alguns ambientes onde a retórica é a da guerrapela sobrevivência.
Por outro lado, tem sido observado que em seqüência às demis-sões maciças que foram realizadas na reestruturação de muitas em-presas, o corte também feriu psiquicamente os funcionários remanes-centes, ao romper bruscamente parcerias e solidariedadesestabelecidas ao longo de muito tempo de convívio (ATHAYDE, 1997).
No atendimento de trabalhadores atingidos por depressão, os re-latos dos mesmos identificam muitas vezes que estes pacientespassaram por situações de humilhação no trabalho. É o que já haviasido observado por Barreto, em um amplo estudo sobre trabalhado-res de indústrias químicas realizado em São Paulo (BARRETO, 2000).Este estudo evidenciou uma degradação dos relacionamentosinterpessoais que feriu a dignidade dos atingidos e acarretou profun-das feridas à identidade. Determinadas práticas de avaliação podemassumir conotação de humilhação, quando também atacam a dignida-de dos avaliados. Outras vezes, a humilhação se processa na ocasiãoem que ocorre a apresentação pública dos resultados das avaliaçõesde que os funcionários foram alvo. Existem relatos, denunciados in-clusive pela imprensa, de empresas que adotam a prática de ridicula-rizar publicamente, de modo sistemático, os profissionais de vendasque não obtiveram bons resultados.
No amplo leque de circunstâncias em que a depressão brota desituações de trabalho degradadas, assume enorme proporção na atu-
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alidade a problemática dos trabalhadores que atuam no setor infor-mal . Uma vez que constituem aproximadamente um terço da PEA (po-pulação economicamente ativa), essa questão não pode ser relegadaa segundo plano e demanda, além de maiores estudos, medidas ur-gentes de enfrentamento. A desproteção previdenciária e a ausênciade vínculo contratual coexistem, para muitos destes trabalhadores, comcondições onde o ambiente e a organização do trabalho os expõem amaiores riscos físicos e mentais. Vivendo em insegurança permanen-te, acumulando desgastes e vivendo a incerteza quanto ao futuro,muitos destes trabalhadores mergulham no desalento e desenvolvemquadros depressivos diretamente derivados dessas situações de pre-cariedade. Aqui, mais uma vez, os episódios em que sobrevêm humi-lhações se fazem sentir com freqüência.
SINTOMAS: O episódio depressivo pode se apresentar num qua-dro agudo ou já cronificado. As manifestações predominantes numadepressão são, em geral, o humor triste, o desânimo, as vivências deperda, sentimentos de fracasso, dificuldade de visualizar perspectivaspositivas, tendência a se auto-culpabilizar, pensamentos sombrios ondeperpassa. Ocorrem, ainda, lentificação do pensamento e dos desem-penhos, dificuldade para concentrar atenção, perturbações do sono(freqüentemente insônia no final do período noturno, mas em algunscasos, também, sonolência diurna), dificuldades de tomar iniciativa.Idéias negativas ocupam o pensamento, às vezes perpassam pensa-mentos de morte. A fadiga mental advém com facilidade diante do pro-longamento das atividades. Diante das exigências do trabalho, oindivíduo se sente muitas vezes frágil e incapacitado, mesmo em situ-ações nas quais sua formação e experiência profissionais lhe permiti-riam sair-se bem, se não houvesse a depressão. Nestas circunstânci-as, as pressões organizacionais – ou a pressão pessoal exercida pelachefia ou mesmo por colegas de equipe – poderão aumentar a an-gústia e agravar a depressão. Este agravamento será tanto maior quan-to mais presente estiver a ameaça de perda da função ou do lugar queo indivíduo ocupa na hierarquia e, pior ainda, a ameaça de perder oemprego.
No contexto contemporâneo, as vivências de desesperança sãointensificadas com base no conhecimento de uma realidade na qualas alternativas de um novo emprego foram consideravelmente reduzi-das - o que desalenta mais ainda quem já se encontra deprimido. Acres-cente-se que a falta de perspectivas é ainda mais desanimadora paraaqueles trabalhadores que se aproximam dos 40 anos ou que já ultra-passaram esta idade - conforme demonstram os estudos e as estatís-
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ticas sobre desemprego e mercado de trabalho. E os trabalhadoressabem disso (SELIGMANN-SILVA, 1997).
Estudos epidemiológicos referentes à depressão associada ao tra-balho, embora já tenham evidenciado elevadas prevalências desteagravo mental em muitas categorias profissionais (JARDIM e GLINA,2000) merecem ser expandidos.
Patologias que se transformam ou que se associam: deve ser lem-brado, ainda, que uma depressão pode desenvolver-se em seqüênciaa um acidente de trabalho ou associar-se a uma doença profissionalou relacionado ao trabalho ou, ainda, a outras patologias de longaevolução. BORGES (2000), em caixas de estabelecimentos bancári-os, verificou que as LER/DORT podem evoluir intimamente imbricadasa sintomas depressivos e prejuízos da sociabilidade. Principalmente,diante de seqüelas de um acidente ou do prolongamento de uma do-ença, o temor de quebra da trajetória de desenvolvimento pessoal eprofissional bem como, o medo de desemprego são vivenciados comangústia e impotência. É, por exemplo, o que tem sido evidenciado noacompanhamento de numerosos pacientes de LER/DORT.
A depressão pode ainda vir a se caracterizar associando-se aodesenvolvimento de outros transtornos mentais relacionados ao tra-balho. Destacamos três situações:
1. no transtorno orgânico de personalidade relacionado ao trabalhoem que existem agentes químicos do ambiente de trabalho que agri-dem as estruturas do sistema nervoso e que, entre outras manifesta-ções, determinam também sintomas depressivos. Exemplos, entreoutras, são as seguintes substâncias ou seus compostos tóxicos: mer-cúrio, chumbo, manganês, solventes aromáticos tóxicos, solventesorgânicos tóxicos (JARDIM e GLINA, 2000). Na progressão da patolo-gia ocasionada pelos danos orgânicos e funcionais provocados pelaação neurotóxica dessas substâncias, podem surgir manifestaçõesdepressivas, a partir do sofrimento psíquico advindo da percepção doagravamento dos efeitos da intoxicação. Agressões provenientes dotrabalho ferem assim, duplamente , atingindo o trabalhador no planoorgânico e no plano subjetivo;
2. em pessoas com diagnóstico de esgotamento profissional (burn-out) , ao longo da evolução, a sintomatologia pode configurar aos pou-cos a caracterização de um quadro de depressão crônica, conformemuitas observações clínicas;
3. do mesmo modo, na evolução do estresse pós-traumático re-lacionado ao trabalho pode vir a inscrever-se um quadro de depres-são.
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Cabe ainda mencionar um achado freqüentíssimo nos serviços deatenção psiquiátrica: trata-se da depressão mascarada pelos quadrosclínicos de alcoolismo. O que se revela aí à primeira vista, é asintomatologia do alcoolismo e só uma abordagem mais aprofundadae prolongada permitirá ao médico ou psicólogo identificar que a bus-ca da bebida alcoólica – que levou posteriormente à dependência al-coólica – foi, em verdade, a busca de um meio de anestesiar o sofri-mento ligado a uma depressão relacionada ao trabalho (ou a outrotipo de depressão). Poderá ser caracterizado, então, muitas vezes,um diagnóstico associado: depressão e alcoolismo relacionados aotrabalho . Psicopatologia de confluências, onde o uso de bebida termi-na por agravar os sentimentos de culpa, aprofundando o quadrodepressivo, levando a vivências insuportáveis que irão incrementar aprocura da bebida. Poderemos ver mais a respeito no próximo tópico.
A prevenção tanto quanto o tratamento da depressão ralacionadaao trabalho exigem, que dentro das empresas e de outros contextosde trabalho, se assuma desvelar e modificar as condicionantesorganizacionais responsáveis pela escalada de episódios depressivosque procuramos resumidamente identificar neste tópico.
7 ALCOOLISMO CRÔNICO RELACIONADO AO TRABALHO
A dependência de bebidas alcoólicas é problemática de alta com-plexidade sendo explicada pela interação de fatores biológicos, psico-lógicos e sociais. Os processos psicossociais assumem importânciadecisiva nesta questão.
Para contextualizar este tópico parece-nos apropriado o seguintetrecho extraído do livro já citado de Elizabeth Roudinesco (2000). Diza autora:
“Todos os estudos sociológicos mostram (...) que a sociedadedepressiva tende a romper a essência da vida humana entre o medoda desordem e a valorização de uma competitividade baseada unica-mente no sucesso material, muitos são os sujeitos que preferem entre-gar-se voluntariamente a substâncias químicas a falar de seus sofri-mentos íntimos.” (p. 30).
Neste texto, Roudinesco está apontando para o uso generalizadode psicotrópicos na sociedade depressiva, mas o que diz se aplicatambém ao indivíduo oprimido pelo aprisionamento em uma situaçãode trabalho que se sente impotente (e solitário) para modificar, e querecorre à bebida alcoólica para anestesiar o sofrimento, “esquecê-lo”,vivenciar uma sensação prazerosa e/ou conseguir uma distensão, um
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relaxamento (pela ação ansiolítica do álcool). O álcool possui proprie-dades farmacológicas relaxantes, calmantes, anestesiantes,euforizantes, desinibidoras e estimulantes e é, assim, capaz de pro-porcionar um bem-estar que, embora passageiro, constitui a grandeatração que leva milhões de indivíduos à sua utilização.
As bebidas alcoólicas também podem funcionar como indutoras dosono, o que faz com que muitas vezes sejam procuradas para ajudara conciliar o sono em portadores de insônia – inclusive das insôniasvinculadas às inquietações do trabalho, o que pode tornar-se um hábi-to. Nestes casos, não é raro que se estabeleça o percurso que podelevar do hábito à dependência alcoólica.
O alcoolismo crônico é considerado como uma síndrome de de-pendência - dependência que é psicológica e ao mesmo tempo física- o que significa que quando o individuo cessa de incorporar a subs-tância surgem mal-estar e sintomas decorrentes da perturbação nafisiologia (funcionamento do organismo).
O desenvolvimento do processo mórbido caracterizado pelo esta-belecimento da dependência possui ingredientes biológicos, psicoló-gicos e sociais, mas não obstante a complexidade deste processo,tornou-se indiscutível a importância das condicionantes sociais queconduzem ao hábito alcoólico e à dependência alcoólica. Os aspectosatinentes ao trabalho vêm merecendo crescente destaque neste con-junto.
Carvalho (2003), reportando-se ao Brasil, afirma que o alcoolismocompromete 20% da nossa força de trabalho (p. 1854).
Na prática, os pacientes dependentes de bebidas alcoolicas nãoprocuram os serviços de Saúde do Trabalhador e sim, afluem a servi-ços de Atenção Psiquiátrica em fases mais avançadas da dependên-cia. Em crises de agudização do alcoolismo, são levados a serviços deemergência como prontos-socorros. A explicação da não procura deserviços de Saúde do Trabalhador pelos dependentes pode serexplicada pela fortíssima defesa psicológica de negação da depen-dência, presente de forma generalizada nestes casos. Desta forma, acaracterização de uma relação entre a dependência alcoólica e o tra-balho, quando existe, tende a ser obscurecida pelo modo que se faz autilização da rede dos serviços de saúde. Pois no atendimento deemergência em geral a anamnese é sumária e não identifica os as-pectos laborais. No contexto brasileiro pode ser acrescentado, tam-bém, que os conhecimentos de Psicopatologia do Trabalho, de modogeral, ainda passam longe da formação daqueles que atuam em ser-viços psiquiátricos e de atendimento emergencial.
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A experiência dos que fazem atendimento de portadores de alcoo-lismo indica que a prática do uso reiterado de bebida alcoólica é cau-sa de demissão em grande parte das empresas, sem que seja analisa-da a relação do alcoolismo com o contexto do trabalho. Na situação dedesemprego, costuma agravar-se o alcoolismo, ocorrendo muitas ve-zes a ruptura de laços familiares, o que leva os atingidos à marginali-dade. Nos anos 70, seu destino era um rodízio pelos hospitais psiqui-átricos. Atualmente, são encaminhados principalmente à rede de cer-ca de 400 Centros do SUS (Sistema Único de Saúde) que são, espe-cialmente, voltados às questões de alcoolismo e uso de drogas. Nãodispomos de informações sobre a formação dos profissionais atuan-tes nestes centros em Psicopatologia no Trabalho nem às conexõesinterinstitucionais destes serviços com aqueles que se dedicam àvigilância e atendimento em Saúde do Trabalhador.
O alcoolismo é o agravo mental que apresenta a 2ª maior magnitu-de nas estatísticas mundiais de morbidade psiquiátrica (o primeiro lu-gar é ocupado pelas depressões). No Brasil, a estimativa é da existên-cia de 12 milhões de adulto em situações de dependência do álcool,segundo publicação da FAPESP (setembro de 2006) na qual é cha-mada a atenção para uma nova preocupação: o mascaramento daembriaguez alcoólica pelo uso concomitante de bebidas energéticas –que aumentam a euforia e a desinibição. A dependência e o abuso debebidas alcoólicas se apresentam com relevância na problemática maisgeral da violência e na questão mais específica dos acidentes de trân-sito.
Torna-se extremamente difícil isolar dos contextos de trabalho, ascondicionantes sócio-culturais que, a partir do entorno mais amplo,fortalecem a expansão do uso de bebidas alcoólicas. Por exemplo, apropaganda de bebidas alcoólicas, carregada de apelos sedutores.Reforçada pela mídia, a crença na associação entre bebida, virilidadee coragem é, às vezes, utilizada para tentar neutralizar sensações dedesalento e fracasso. Lembramos também que nossa cultura aindaestá impregnada pelo sentido milenar atribuído às bebidas alcoólicascomo elemento de confraternização. Os exemplos são numerosos. Noespaço desta exposição é impossível nos estendermos mais a respei-to de tantos aspectos sócio-culturais relevantes que indiretamente tam-bém influem na problemática do alcoolismo relacionado ao trabalho.Os mesmos contribuem para acentuação do hábito e para o enfraque-cimento dos esforços de auto-controle.
Ao pensar nas condicionantes da nossa época não podemos dei-xar de ressaltar, entretanto, a vinculação entre alcoolismo e a violên-
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cia, presente na realidade social e comprovada por numerosos estu-dos epidemiológicos que correlacionaram homicídios e outros crimesao consumo de bebidas alcoólicas. Mas, assim como o alcoolismo podelevar a decorrências violentas, a ingestão de bebidas pode ser tam-bém expressão de violência - violência auto-destrutiva , do indiví-duo contra si mesmo ou violência indireta contra outros . É somenteno nível individual, através de estudos de casos, que estas dinâmicasda violência têm sido identificadas e analisadas.
Lesões e mortes provocadas por colisões, atropelamentos e outrosacidentes com veículos automotores têm sido analisadas quanto àimpressionante relevância que o consumo de bebidas alcoólicas apre-senta nos mesmos. Em estudo publicado por Vilma Leyton e colabora-dores, são relatados os achados de alcolemia verificados em 2360vítimas fatais de acidentes de trânsito (colisões e atropelamentos),constatando presença de álcool etílico em quase metade (47%) dasvítimas mediante os exames realizados no Núcleo de Toxicologia Fo-rense do Instituto de Medicina Legal (IML) de S. Paulo (LEYTON etalli., 1999).
O estudo das situações de trabalho de motoristas profissionais emsua relação com a dinâmica causal da dependência do álcool ainda éincipiente em nosso país.
Da mesma forma, o estudo de acidentes de trabalho em sua rela-ção com alcoolismo mereceria ser pesquisado no Brasil. Já existempesquisas a respeito, no contexto latino-americano, como a de Truccoet alli. realizada no Chile (TRUCCO et alli., 1998). Lacerda (2000) cha-ma a atenção para o fato de que muitos acidentes de trajeto relaciona-dos ao uso de álcool são em verdade acidentes de trabalho. O mesmoautor apresenta uma revisão de estudos realizados basicamente nosEstados Unidos, onde foram traçadas correlações entre acidentes detrabalho e uso de bebidas alcoólicas, com o envolvimento do álcoolem 25% de todos os acidentes de trabalho e 16% dos acidentes fatais.
Estudos epidemiológicos têm revelado importante prevalência dealcoolismo em determinadas ocupações e situações de trabalho. Pes-quisas qualitativas analisaram a dinâmica psicossocial que explica taisachados. É possível tentar categorizar essas verificações, mas con-vêm assinalar que as várias situações que apontaremos constituemterreno fértil não apenas para o alcoolismo, freqüente em todas elas,mas, de modo mais amplo, para o sofrimento mental, que poderá sedesdobrar em diferentes formas de adoecimento. Apenas no primeirogrupo de situações, que iremos apresentar em seguida, o alcoolismotem se mostrado como o transtorno mental mais característico:
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a) situações em que se realizam atividades socialmentedesprestigiadas por envolverem atos ou materiais considerados desa-gradáveis ou repugnantes. Exemplos: o trabalho dos coveiros em ce-mitérios, atividades em esgotos, trabalho com lixo e dejetos em geral.Inclui-se nesta categoria também o trabalho de apreensão e sacrifíciode cães. Nestas situações as pessoas costumam ser de fato discrimi-nadas e passam a sentir-se “confundidas” e identificadas como com-ponentes do “trabalho sujo”. Um mecanismo possível é o de que aautodesvalorização conduza à auto-agressão por meio do álcool. Nasentrevistas efetivadas em estudos qualitativos, outras explicações têmsido encontradas, mas um agravante concreto tem sido a falta de pers-pectivas – quanto à capacitação e desenvolvimento profissional. O ál-cool aparece como forma de “anestesiar” o mal-estar e o sentimentode repugnância. Outro fator que aumenta o risco é o tratamento des-respeitoso e humilhante que estes trabalhadores recebem muitas ve-zes de suas chefias, suscitando dor e raiva que a bebida deverá “acal-mar”. Em outros indivíduos, de modo mais complexo, a bebida serviráà auto-agressão, canalizando contra si próprio a raiva que não podeser direcionada para o autor da ofensa, porque é necessário preservaro emprego;
b) situações em que a tensão gerada é constante e elevada. Englo-bam vários tipos de atividades tensiógenas:
- trabalho perigoso: o perigo pode estar associado a condições emque há elevado risco de acidente, por condições inseguras, ritmos ex-cessivos e desproteção. Recorrer à bebida alcoólica, para estes tra-balhadores, seria um recurso para não pensar no perigo, esquecê-lono intervalo entre as jornadas de trabalho - pois é preciso reencarar operigo no dia seguinte. Isso ocorre numa prática que muitas vezes érealizada coletivamente, como bem estudou Dejours em operários daconstrução civil (DEJOURS, 1990);
- trabalho intensivo sob altas exigências de desempenho e rapidez;- trabalho que exige auto-controle emocional intenso e continuado;- trabalho repetitivo, monótono, que gera tédio e insatisfação;- trabalho em situações de isolamento. Caso em que se situam
vigias que zelam pela segurança de empresas ou residências. Tam-bém condutores que viajam por longos períodos, em cabines isoladas,seja em trens ou em outros tipos de transporte. Tivemos ocasião deestudar o problema no sistema ferroviário de São Paulo;
- atividades que envolvem afastamento prolongado do lar. Comoexemplo temos os trabalhadores de plataformas submarinas e aque-les cujas atividades envolvem viagens continuadas, como acontece
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no caso dos marinheiros e dos viajantes comerciais.Deve ser enfatizada a importância dos estudos epidemiológicos,
que poderão oferecer base importante, sempre que a prevalência doagravo seja indicativa, para estabelecer a relação entre a situação detrabalho e o alcoolismo crônico. Pois se em determinada unidade deuma empresa existem, por exemplo, porcentuais significatiivos deempregados em afastamento por alcoolismo e/ou por patologias deri-vadas do mesmo - neuropatias, cirrose hepática, gastrite alcoólica,entre outras - essa constatação, juntamente com os achados clínicose o histórico ocupacional compatíveis, respaldará o diagnóstico de al-coolismo crônico relacionado ao trabalho.
Não nos deteremos na exposição do quadro clínico, limitando-nosa lembrar que o que o caracteriza é a perda do controle em relaçãoà ingestão de bebidas alcoólicas e que esta perda pode apresentar-sede forma continuada ou em episódios periódicos que se sucedem notempo. No capítulo que trata dos Transtornos Mentais e do Comporta-mento relacionados ao Trabalho, o Manual de Procedimentos para“Doenças Relacionadas ao Trabalho” (Ministério da Saúde, 2001) de-talha com clareza os critérios diagnósticos, podendo ser destacada aimportância de identificar no trabalhador examinado um forte desejoou compulsão de consumir álcool em situações de forte tensão pre-sente ou gerada pelo trabalho. Outras manifestações são elencadas,sendo uma delas a que diz respeito aos sintomas de abstinência(síndrome de abstinência) - típicos e que aparecem na diminuição ouinterrupção do uso da bebida. Ressaltamos, ainda, a seguinte diretrizpresente no Manual: As manifestações devem ocorrer juntas, de formarepetida durante período de 12 meses, devendo ser explicitada a rela-ção da ocorrência com a situação de trabalho” (p.176).
Reiteramos a freqüência com que na história clínica poderá seridentificada uma depressão prévia à instalação do alcoolismo e que,muitas vezes, já estava relacionada com a situação de trabalho.
A irritabilidade e outras alterações do humor geralmente levam adificuldades e conflitos nas relações interpessoais, tanto no ambientede trabalho quanto na vida familiar e em outros espaços sociais. Oportador de alcoolismo em geral diminui seu desempenho no trabalhoe sofre ao sentir que perde credibilidade, que não se confia mais nele.Muitas vezes é concretamente discriminado e acaba sendo demitidopor “justa causa”, sem ter oportunidade nem de ver reconhecida a re-lação entre sua doença e a situação de trabalho nem a de receber oapoio e orientação necessários à recuperação de sua saúde. Em muitascircunstâncias, estas pessoas são submetidas a pressões que as fa-
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zem assinar acordos pelos quais são rompidos seus contratos de tra-balho.
O diagnóstico de alcoolismo para muitos ainda tem o sentido de umrótulo ultrajante. Por isto, e também para não se sentir pressionado adeixar algo que passou a ser sentido como essencial e imprescindível– a bebida – é que aqueles que desenvolveram a adição às bebidasalcoólicas desenvolvem, também, tão intensas formas de negação.Negam a dependência e a necessidade de ajuda para enfrentá-la.Vivenciam uma profunda ferida no amor próprio (ferida narcísica), ador e a raiva pelas humilhações e muitas vezes também fortíssimossentimentos de vergonha e tristeza. A dinâmica em que são mobiliza-dos estes conteúdos cresce concomitantemente à incompreensão deseus comportamentos pelos demais, no ambiente de trabalho e nosdemais ambientes de sua vida cotidiana. Em muitos casos sobrevêma separação da família e o isolamento social. A exacerbação do con-sumo alcoólico pode conduzir, nestas circunstâncias, ao agravamentodo quadro mental ou ao coma alcoólico. A psicose alcoólica e o deliriumtremens são alguns dos agravos que poderão se apresentar.
8 SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL(BURN-OUT) - Z73-0
A expressão inglesa burn-out corresponde a “queimado até o final”e foi traduzida para o português como “estar acabado”, na versãobrasileira da CID-10. Esta é a denominação de um quadro clínico, quetambém foi chamado Síndrome do Esgotamento Profissional e querecebe o código Z73-0 na Classificação oficial. Consideramos pejora-tiva a designação “estar acabado”, por isso utilizaremos aqui as deno-minações “síndrome de esgotamento profissional” e por já haver setornado corrente na área “psi”- o termo “burn-out”.
Herbert Freudenberger, em seu livro Burn-out, publicado em 1980,associa a síndrome à seguinte representação: um incêndio devasta-dor, um “incêndio interno” (subjetivo) que reduz a cinzas a energia, asexpectativas e a auto-imagem de alguém que antes estava profunda-mente envolvido em seu trabalho. Baseando-se em um grande núme-ro de estudos de caso, Freudenberger identificou que especialmentedois tipos de pessoas estão expostas ao “apagão interno”consubstanciado no “burn-out”: 1) indivíduos particularmente dinâmi-cos e propensos a assumir papéis de liderança ou de grande respon-sabilidade; 2) idealistas que colocam grande empenho em alcançar
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metas freqüentemente impossíveis de serem atingidas.Foram já realizados numerosos estudos sobre burn-out, tanto em
abordagens epidemiológicas - na Europa, nos Estados Unidos, no Ca-nadá e, mais recentemente, na América Latina - quanto em pesquisasqualitativas. Estes estudos têm analisado profissionais dos setores deeducação e saúde. Os profissionais que desenvolvem o burn-out sãoem sua maioria aqueles que prestam serviços a outras pessoas, es-pecialmente os denominados cuidadores, isto é, aqueles que cuidamde outras pessoas. Têm sido constatadas altas freqüências da síndromeem professores/as, enfermeiras/os, médicos/as e assistentes sociaisem diferentes países. Freudenberger também estudou casos de exe-cutivos.
Atualmente, nas empresas, vem sendo observado número cres-cente de casos da síndrome, a partir da incrementação das grandesmudanças organizacionais que acompanham a reestruturação produ-tiva. Ela tem incidido em gerentes de vários níveis da administração eem outros executivos. Nestas mudanças, as pressões sofridascontinuadamente para que os indivíduos atinjam metas cada vez maisavançadas, adquirem caráter extenuante, podendo levar ao esgota-mento profissional (NARDI,2006; JARDIM e GLINA, 2000). Verifica-se nestes casos de reestruturação, tanto nas áreas administrativasquanto de produção, a importância assumida pelo sentimento de per-da de algo que o indivíduo se sente impossibilitado de reconstituir. Nocontexto contemporâneo as perdas tornam-se especialmenteimpactantes quando remetem para a dificuldade de encontrar alterna-tivas, seja dentro do contexto de trabalho que foi transformado de modoa não haver retorno a uma situação anterior (“minha função desapare-ceu” , “meu antigo setor foi extinto”, “desfizeram a minha equipe”), sejafora da organização, pelo estreitamento do mercado de trabalho.
Existem dois tipos principais de perda quando se “encolhe” a es-trutura de uma empresa. O primeiro é a perda de uma função, deuma atividade na qual o indivíduo havia desenvolvido experiência emuitas vezes investido criatividade, atividade que era fonte de orgulhoprofissional e alicerce de identidade. Resulta em insegurança diantedos deslocamentos de cargo e mudança de função. O segundo tipode perda corresponde à perda afetiva, dos relacionamentosinterpessoais e da relação solidária que existia dentro de um coletivoque foi extinto (já falamos a respeito no tópico referente aos episódi-os depressivos).
O quadro clínico da síndrome de esgotamento profissional apre-senta como manifestação central uma exaustão que eclode de modo
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aparentemente brusco, sob forma de uma crise. Freudenberger des-creve uma fase prévia à irrupção do “incêndio aniquilador”, na qual seinstala uma sensação de tédio que substitui o habitual entusiasmopelo trabalho aparecendo, também, irritabilidade e mau-humor. O fe-nômeno central da vivência de esgotamento e exaustão é acompa-nhado por uma segunda manifestação característica desta síndrome:uma aguda reação emocional negativa, de rejeição, ao que antes, notrabalho, era objeto de dedicação e cuidado. Professoras não supor-tam mais ver os alunos diante de si; enfermeiras referem não aguentarmais a proximidade dos doentes de quem cuidavam, médicos sentemigualmente esta súbita rejeição pelos clientes, da mesma forma queassistentes sociais sentem necessidade de se afastar das pessoasque esperam atendimento. Instala-se o desinteresse pelo trabalho. Tudoo que, anteriormente, “movia a alma” passa a ser indiferente ou irritan-te, sobrevém a dificuldade de concentração nas atividades e queda dodesempenho - terceira manifestação característica. O indivíduo perce-be com inquietação e desânimo esta queda, ao mesmo tempo quediminui seu envolvimento pessoal no trabalho. Uma tonalidadedepressiva caracteriza o humor. Há perda de disposição, dificuldadepara levantar, alterações do sono, num conjunto de manifestações quecostuma exigir um diagnóstico diferencial das depressões. Em algunscasos, a ansiedade pode ser mais evidente que a depressão - que semantém submersa (FREUDENBERGER ,1980). A insensibilidade, queemerge no que foi identificado como um fenômeno dedespersonalização por Maslach (1982), transforma e endurece o rela-cionamento dos cuidadores com as pessoas que recebem seus ser-viços (Maslach tem desenvolvido muitas pesquisas sobre burn-outadotando como referencial a teoria do estresse, ao passo queFreudenberger é um psicanalista).
Freudenberger (1980) constatou que o esgotamento profissionalatinge pessoas que se dedicavam intensamente a seu trabalho. Nasatividades voltadas para a formação e desenvolvimento humano (edu-cadores), bem como na prestação de cuidados de saúde e proteçãosocial em geral, essas pessoas tinham muitas vezes uma história pes-soal que evidenciava que se atribuíam uma verdadeira missão e quemantinham expectativas grandiosas quanto ao que almejavam reali-zar e ao reconhecimento que esperavam merecer. Devemos acres-centar que nestas profissões, sempre existiu, em geral, uma consciên-cia sobre o sentido social e humano de suas atividades, sentido esteque é de natureza ética. Saúde e educação constituíam valores intrín-secos que davam sentido a seu trabalho, respectivamente para profis-
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sionais de saúde e para professores. Assistentes sociais formaramsua identidade profissional fundamentados na concepção de que pro-teção social era um direito vinculado à idéia de justiça social, e pro-fundamente integrado à própria idéia da justiça como valor maior,ao qual deveria estar direcionado seu trabalho. Dentro desta perspec-tiva, podemos entender o esvaziamento subjetivo vivenciado no “burn-out” que agora se dissemina no interior das redes institucionais emque atuam estes profissionais, considerando que surgiram ameaças eataques à preservação do sentido de seu trabalho. Estes constrangi-mentos estão embutidos em reformulações organizacionais acopladasou não à introdução de novos recursos técnicos (mas, um alerta: nãoculpemos as novas tecnologias, o que importa são as decisões quan-to aos modos como elas são inseridas no processo de trabalho).
Este ataque ao sentido do trabalho se deu, também, pela imposi-ção de métodos e metas que se opõem ou são estranhos à dimensãoética que era inerente a esses tipos de trabalho e explica, assim, adisseminação atual do esgotamento profissional nas categorias men-cionadas. A imposição de pressões de tempo e exigências de produ-tividade prejudicam a qualidade do contato interpessoal com os paci-entes, na área de saúde e a própria realização dos procedimentos ediagnósticos de uma consulta médica. A burocratização do trabalhodas enfermeiras e o volume de registros computadorizados que têmque operacionalizar, impedem que desenvolvam aspectos essenciaisde sua profissão, na prestação de atenção direta aos pacientes.
Divisamos, assim, a questão da agressão ao sentido do trabalho,no cerne da diferença entre o que foi encontrado por Freudenbergernos anos 70 e o que se verifica na atualidade, quanto ao que desen-cadeia o processo subjetivo do “burn-out” em professores e cuidadores.O esvaziamento que foi descrito por Freudenberger é preponderante-mente o do profissional que se dedicava ao trabalho como à uma cau-sa, encontra incompreensão ou outras dificuldades, continua a esfor-çar-se, até que advenha, dolorosamente, a percepção de que está“dando murro em ponta de faca” – momento em que ocorre a exaustãoe sobrevém a sensação de saturação e fracasso, abrindo dolorosaferida no amor-próprio (ferida narcísica). A crise ocorre, na atualidade,diante do desmoronamento não apenas de uma visão idealizada desi mesmo e de uma missão (como dizia Freudenberger), mas agora,também diante da percepção de que foi abalado o caráter ético quedava sentido às atividades de educação, saúde e assistência social.Uma observação relevante que tem sido feita é a de que o “burn -out”ocorre principalmente quando o profissional não encontra apoio soci-
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al para resistir contra pressões que burocratizam, tecnificam artifi-cialmente e esvaziam o sentido de suas atividades. O apoio preven-tivamente valioso pode ser o constituído no ambiente de trabalho, mastambém são significativos os espaços exteriores nos quais o trabalhoe o sofrimento possam ser discutidos e repensados, desenvolvendo-se ações solidárias.
Existem diversas pesquisas sobre saúde mental dos professoresno Brasil. Assinalamos uma acurada análise de repercussões na saú-de relacionadas à uma reforma administrativa que impôs diretrizesneoliberais à organização do trabalho e aos conteúdos do ensino, narede pública da cidade de Vitória. Esse estudo foi realizado por MariaElizabeth Barros (2001) e, entre outras expressões de sofrimento men-tal, a autora encontrou nos depoimentos destes professores a percep-ção de um “esgotamento físico e mental” que os professores relacio-navam às mudanças administrativas que haviam sido implantadas. Tal“esgotamento”, ao lado de outros sintomas, havia feito com que vári-os professores tivessem se afastado da atividade docente em licençamédica (BARROS, 2001). As manifestações de desgaste mental queMary Yale Neves identificou em professoras da cidade de João Pes-soa assumiram igualmente configurações “que as aproximavam dasíndrome patológica do Burnout.” (NEVES, 2000, p.159). É interes-sante salientar que tanto Barros como Neves constataram a importân-cia que a sublimação e a criação de um espaço coletivo de discussãoassumiram, entre as professoras da rede pública de ambas as cida-des, na resistência e superação do caráter patogênico do sofrimentomental.
Não encontramos estudos publicados no Brasil sobre esgotamen-to profissional em uma outra área na qual a ética é ao mesmo tempoprincípio e substância, pois a promoção da Justiça configura o objeti-vo primordial: o sistema Judiciário e o Ministério Público.
Finalizando este tópico, para aplicação a questão do “burn-out” entreexecutivos, desejamos salientar ainda um aspecto: Freudenberger(1980) via uma outra característica psicológica articulada ao elevadonível de auto-exigência de desempenho. É algo que também vale apena comentar no seu aspecto contemporâneo. Trata-se do esforçodestas pessoas em identificar-se a um modelo ideal de profissional docampo a que pertence. Sabemos que, correspondendo a esse anseiopor um modelo, mitos foram construídos em muitas organizações.Estímulos evidentes ou subliminares são direcionados para acendera identificação com um modelo que não raro é uma figura mítica nohistórico da própria empresa, às vezes, seu próprio fundador (no Bra-
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sil, tornou-se clássico o caso da organização Bradesco e da míticafigura do dirigente-herói que serviu de modelo de identificação a mi-lhares de funcionários durante várias décadas - caso este que foimagnificamente analisado por Segnini no livro A Liturgia do Poder )(SEGNINI, 1988).
Na cena contemporânea, o discurso empresarial, em consonân-cia com os meios de comunicação, veicula, colado ao ideal e à metade excelência, a imagem de um colaborador autônomo, hiper-respon-sável e perfeito. O ideal de perfeição é o novo modelo e traz em si avisão de uma saúde e uma disposição inesgotáveis. A imagem é im-pregnada de onipotência. O empregado – ou colaborador, no novodiscurso empresarial - recebe a imposição – feita com sutileza - deuma imagem que extrapola os limites humanos e a identidade pessoalque constituiu ao longo da vida. Fabricada e projetada “de fora”, aimagem ideal é interiorizada e vira auto-imagem. Nesta, é abstraído oser humano que tem um corpo e uma fisiologia, afetos e víinculossociais, limites e necessidades próprias ( GAULEJAC, 1987). Existeapenas o “produtor incansável”. No ideal de perfeição fica implícita aidéia de saúde perfeita (SFEZ, 1996; SELIGMANN-SILVA, 2001). Apersistência continuada em corresponder ao modelo assiminteriorizado, negando o próprio desgaste, encontra após certo tempo,seu limite, desembocando na crise de “burn-out”.
O grande número de estudos existentes a respeito do burn-outparece evidenciar a magnitude que o problema vem assumindo. Nãopoderíamos, portanto, esgotar aqui o tema.
O Manual de Serviços para Doenças Relacionadas ao Trabalho,do Ministério da Saúde (2001), oferece diretrizes para o diagnósticoclínico, a prevenção e o tratamento da síndrome de esgotamento pro-fissional, assim como para os demais transtornos mentais relaciona-dos ao trabalho.
Observações complementares:·ao tomar em conjunto as análises feitas a respeito das três pato-
logias, acreditamos constatar que as três se enraízam num mesmo“terreno” coletivo - o estado depressivo que prepondera no panoramapsicossocial contemporâneo. Sustentando a imersão neste estadodepressivo aparecem os medos e a incerteza. As características pes-soais e situacionais de cada trabalhador presidem às interações quedirecionam o desenvolvimento patológico para uma das três expres-sões clínicas do sofrimento mental vinculado ao trabalho que aqui ten-tamos estudar;
·nosso plano inicial com relação a esta exposição era incluir o
estresse pós-traumático relacionado ao trabalho, o que não seria pos-sível pelo tempo disponível. Resumimos brevemente: é um transtornodecorrente da vivência de uma agressão psíquica desencadeada porum evento violento: por ex: testemunhar ou passar por um acidentegrave, testemunhar ou ser vítima de assalto ou outro tipo de agressãofísica, encarar cenas onde a violência deixou corpos mutilados oupessoas mortas. A sintomatologia se inicia, geralmente, após um perí-odo de latência, inclui revivescências da cena traumática (fenômenosde flash back ) e também a ocorrência de sonhos repetidos referentesa mesma cena. O quadro se acompanha de ansiedade e pode desen-volver-se associado a um quadro depressivo.
RISCOS OCUPACIONAIS
A) Classificação dos Riscos Profissionais.
Os riscos profissionais são os que decorrem das condições precárias inerentes ao ambiente ou ao próprio processo operacional das diversas atividades profissionais. São, portanto, as condições ambientes de insegurança do trabalho, capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar do trabalhador.
As condições ambientes relativas ao processo operacional, como por exemplo, máquinas desprotegidas, ferramentas inadequadas, matérias-primas, etc., são chamadas de riscos de acidente .
As condições ambientes relativas ao ambiente de trabalho, como por exemplo a presença de gases, vapores, ruído, calor, etc., são chamadas de riscos ambientais.
As condições ambientes relativas ao conforto, postura, como por exemplo, esforços repetitivos, postura viciosa, etc..., são chamados de riscos ergonômicos .>
Os riscos profissionais dividem-se, pois em riscos de acidente, riscos ambientais e riscos ergonômicos. Os riscos ambientais são, então, aqueles inerentes ao ambiente de trabalho que poderão, em condições especiais, ocasionar as doenças profissionais ou do trabalho, ou ocupacionais.
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B) Riscos Ambientais.
Os fatores desencadeantes das doenças do trabalho são chamados de agentes ambientais e podem ser classificados segundo a sua natureza e forma com que atuam no organismo humano. Essa classificação é dada a seguir:
- Riscos físicos
- Riscos químicos
- Riscos biológicos
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C) Riscos Físicos.
Os agentes físicos causadores em potencial de doenças ocupacionais são:
- Ruído
- Vibrações
- Temperaturas extremas (calor e frio)
- Pressões anormais
- Radiações ionizantes (raios x, raios alfa, raios beta, raios gama)
- Radiações não-ionizantes (infravermelha,...)
- Umidade
- Nível de iluminamento
Ruído.
Reduz a capacidade auditiva do trabalhador, a exposição intensa e prolongada ao ruído atua desfavoravelmente sobre o estado emocional do indivíduo com conseqüências imprevisíveis sobre o equilíbrio psicossomático.
De um modo geral, quanto mais elevados os níveis encontrados, maior o número de trabalhadores que apresentarão início de surdez profissional e menor será o tempo em que este e outros problemas se manifestarão.
É aceito ainda que o ruído elevado influi negativamente na produtividade, além de ser freqüentemente o causador indireto de acidentes do trabalho, quer por causar distração ou mau entendimento de instruções, quer por mascarar avisos ou sinais de alarme.
Vibrações.
As vibrações são também relativamente freqüentes na indústria, e podem ser divididas em duas categorias: vibrações localizadas e vibrações de corpo inteiro.
Temperaturas Extremas.
As temperaturas extremas são as condições térmicas rigorosas, em que são realizadas diversas atividades profissionais.
Pressões Anormais.
As pressões anormais são encontradas em trabalhos submersos ou realizados abaixo do nível do lençol freático.
Radiações Ionizantes.
Oferecem sério risco à saúde dos indivíduos expostos. São assim chamadas pois produzem uma ionização nos materiais sobre os quais incidem, isto é, produzem a subdivisão de partículas inicialmente neutras em partículas eletricamente carregadas. As radiações ionizantes são provenientes de
materiais radioativos como é o caso dos raios alfa (a), beta (b) e gama (g), ou são produzidas artificialmente em equipamentos, como é o caso dos raios X.
Radiações Não-ionizantes.
São de natureza eletromagnética e seus efeitos dependerão de fatores como duração e intensidade da exposição, comprimento de onda de radiação, região do espectro em que se situam, etc.
Umidade.
As atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcados, com umidade excessiva, capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores.
Nível de Iluminamento
A partir da Teoria da relatividade - Albert Einstein - podemos estabelecer as seguintes definições relacionadas à luz:
- A luz é constituída de variados comprimentos de ondas ou de partículas que são os fótons, ou seja, tem comportamento ondulatório ou corpuscular, manifestando-se conforme o caso.
- A luz é uma forma de energia radiante que se manisfeta pela capacidade de produzir a sensação da visão.
No caso da Higiene Industrial, basta-nos o estudo da luz em seu comportamento ondulatório, uma vez que trataremos principalmente da forma como vamos iluminar os ambientes de trabalho.
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D) Riscos Químicos.
São os agentes ambientais causadores em potencial de doenças profissionais devido à sua ação química sobre o organismo dos trabalhadores. Podem ser encontrados tanto na forma sólida, como líquida ou gasosa.
Além do grande número de materiais e substâncias tradicionalmente utilizadas ou manufaturadas no meio industrial, uma variedade enorme de novos agentes químicos em potencial vai sendo encontrados, devido à quantidade sempre crescente de novos processos e compostos desenvolvidos.
Eles podem ser classificados de diversas formas, segundo suas características tóxicas, estado físico, etc. Conforme foi observado, os agentes químicos são encontrados em forma sólida, líquida e gasosa.
Os agentes químicos, quando se encontram em suspensão ou dispersão no ar atmosférico, são chamados de contaminantes atmosféricos. Estes podem ser classificados em:
- Aerodispersóides
- Gases
- Vapores
Aerodispersóides.
São dispersões de partículas sólidas ou líquidas de tamanho bastante reduzido (abaixo de 100m, que podem se manter por longo tempo em suspensão no ar. Exemplos: poeiras (são partículas sólidas, produzidas mecanicamente por ruptura de partículas maiores), fumos (são partículas sólidas produzidas por condensação de vapores metálicos), fumaça (sistemas de partículas combinadas com gases que se originam em combustões incompletas), névoas (partículas líquidas produzidas mecanicamente, como por em processo “spray”) e neblinas (são partículas líquidas produzidas por condensações de vapores).
O tempo que os aerodispersóides podem permanecer no ar depende do seu tamanho, peso específico (quanto maior o peso específico, menor o tempo de permanência) e velocidade de movimentação do ar. Evidentemente, quanto mais tempo o aerodispersóide permanece no ar, maior é a chance de ser inalado e produzir intoxicações no trabalhador.
As partículas mais perigosas são as que se situam abaixo de 10m, visíveis apenas com microscópio. Estas constituem a chamada fração respirável pois podem ser absorvidas pelo organismo através do sistema respiratório. As partículas maiores, normalmente ficam retidas nas mucosas da parte superior do aparelho respiratório, de onde são expelidas através de tosse, expectoração, ou pela ação dos cílios.
Gases.
São dispersões de moléculas no ar, misturadas completamente com este (o próprio ar é uma mistura de gases).
Vapores.
São também dispersões de moléculas no ar, que ao contrário dos gases, podem condensar-se para formar líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura e pressão. Uma outra diferença importante é que os vapores em recintos fechados podem alcançar uma concentração máxima no ar, que não é ultrapassada, chamada de saturação. Os gases, por outro lado, podem chegar a deslocar totalmente o ar de um recinto.
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E) Riscos Biológicos .
São microorganismos causadores de doenças com os quais pode o trabalhador entrar em contato, no exercício de diversas atividades profissionais.
Vírus, bactérias, parasitas, fungos e bacilos são exemplos de microorganismos aos quais freqüentemente ficam expostos médicos, enfermeiros, funcionários de hospitais, sanatórios e laboratórios de análises biológicas, lixeiros, açougueiros, lavradores, tratadores de animais, trabalhadores de cortume e de estações de tratamento de esgoto, etc.
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F) Riscos Ergonômicos .
São aqueles relacionados com fatores fisiológicos e psicológicos inerentes à execução das atividades profissionais. Estes fatores podem produzir alterações no organismo e estado emocional dos trabalhadores, comprometendo a sua saúde, segurança e produtividade.
Exemplos: movimentos repetitivos, levantamento e transporte manual de pesos, movimentos viciosos, trabalho de pé, esforço físico intenso, postura inadequada, controle rígido de produtividade, desconforto acústico, desconforto térmico, mobiliário inadequado, etc.
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G) Riscos de Acidentes
É qualquer circunstância ou comportamento que provoque alteração da rotina normal de trabalho. ----------------------------------------------------------------
MEDIDAS DE CONTROLE São medidas necessárias para a eliminação e a minimização dos riscos ocupacionais.
Quando comprovado pelo empregador ou instituição a inviabilidade técnica da adoção de medidas de proteção coletiva, ou quando estas não forem suficientes ou encontrarem-se em fase de estudo, planejamento ou implantação, ou ainda em caráter complementar ou emergencial, deverão ser adotados outras medidas, obedecendo-se a seguinte hierarquia:
a) medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho;
b) utilização de equipamento de proteção coletiva - EPC e individual - EPI.
Todo EPI deverá apresentar, em caracteres indeléveis e bem visíveis o nome comercial da empresa fabricante ou importador, e o número do CA.
Ergonomia
Introdução
Os novos modos de produção, condicionados por sucessivas mutações (demográficas,
económicas, tecnológicas, de organização social) vieram tornar cada vez mais
interdependentes:
· as condições de execução do trabalho;
· e a condição do trabalhador.
Assim, a vocação da Ergonomia evoluiu e ao longo das últimas cinco décadas tem sido
objecto de reflexão e de debate.
Até aos anos 70, a intervenção ergonómica centrava-se sobre o trabalho penoso, o
trabalho nocivo, características da maioria das situações industriais.
A partir da década de 70, com a evolução tecnológica e, consequentemente, das
condições de trabalho, tem-se vindo a observar uma profunda alteração das exigências
do trabalho.
Este período (a partir dos anos 70), pode considerar-se marcado essencialmente por
três tipos de evolução:
• uma evolução técnica;
• uma evolução da organização do trabalho;
• uma evolução do pessoal.
A evolução técnica é caracterizada:
o pela maior eficiência das máquinas,
o pela miniaturização de certos produtos;
o por uma informatização cada vez mais difundida;
o por uma automatização.
Estes aspectos estão cada vez mais presentes em certos ramos da indústria, mas
também, em muitos outros sectores de actividade.
Quanto à evolução da organização do trabalho podemos dizer que ela se
verificou essencialmente a partir de:
o novas modalidades de repartição de tarefas, criando exigências
notáveis devido ao carácter parcelar destas e á frequente sujeição a
ritmos de funcionamento técnico.
No que respeita à evolução do pessoal, pode dizer-se que foi essencialmente
marcada:
o pelo prolongamento da escolaridade;
o pela formação técnica e profissional;
o que conduziu naturalmente
o a diferentes expectativas em relação ao trabalho;
o e a uma inadequação dos modelos de gestão tradicionais.
Sintetizando, pode dizer-se que este desenvolvimento provocou,
inevitavelmente, uma alteração na paisagem laboral, verificando-se:
o Uma imposição da mecanização, desencadeando novos agentes
agressores frequentemente presentes nos locais de trabalho.
o Uma progressiva abolição do trabalho físico dinâmico (através das
ajudas mecânicas, o que acarretou, em certa medida, uma degradação
biológica do Homem).
o Uma implementação de um trabalho estático, prolongado, utilizando
pequenos grupos musculares, geralmente numa posição fixa, com um
ritmo de trabalho intenso e requerendo, por vezes, um elevado grau
de precisão.
Assim, estas alterações da natureza do trabalho vieram provocar um número de
problemas de ordem vária, que têm vindo a aumentar com implicações para o
indivíduo, na sua vida profissional e social, assim como no sistema produtivo.
A nível dos operadores estas consequências reflectem-se, normalmente, no seu
estado de saúde, não só no que respeita às já consideradas doenças
profissionais, mas a tantas outras identificadas com a situação de trabalho.
A nível do sistema produtivo, estas consequências podem ser objectivadas:
o pelo aumento do absentismo;
o pelo aumento do número de acidentes;
o pela necessidade de recolocação profissional;
e, consequentemente,
o Pela diminuição da produtividade, do ponto de vista qualitativo e
quantitativo.
• Ergonomia – Conceitos Gerais
O termo Ergonomia, deriva do grego,' "ERGON", que significa Trabalho e
"NOMOS" que significa Leis ou Regras, atribuindo-se a sua denominação a MURREL,
um Engenheiro inglês, no ano de 1949.
De facto, a Ergonomia procura optimizar as condições de trabalho, segundo critérios de
eficiência, conforto e segurança.
Evolução histórica da Ergonomia
A Ergonomia como disciplina, teve as suas origens na Segunda Guerra Mundial,
mais propriamente em 1949, quando falharam as formas tradicionais de resolução do
conflito entre homens e máquinas - a selecção e o treino.
Foi nessa época, que se evidenciam as incompatibilidades entre o progresso humano e o
progresso técnico. Os equipamentos militares exigiam dos operadores, decisões rápidas
e execução de actividades novas (aviões mais velozes, radares e submarinos) em
condições críticas, o que implicava complexidade e riscos de decisão.
A guerra solicitou e produziu máquinas novas e complexas, inovações essas, que não
corresponderam ao que delas se desejava porque, na sua concepção, não foram tomadas
em consideração, as características e as capacidades humanas.
Surgiu, então, a necessidade do aparecimento de uma nova ciência, a Ergonomia.
Tal como nos diz Chapanis, na sua importante lição sobre Engenharia, "as máquinas
não lutam sozinhas".
Por exemplo, o radar foi chamado "o olho da armada"; mas o radar não vê. Por mais
rápido e preciso que seja, será quase inútil, se o operador não puder interpretar as
informações apresentadas no écran e decidir a tempo. Similarmente um avião de caça,
por mais veloz e eficaz que seja, será um fracasso se o piloto não puder pilotá-lo com
rapidez, segurança e eficiência. Cabe ao ser humano avaliar a informação, decidir e
agir.
Foi, pois, nos meios militares britânicos, que a Ergonomia teve o seu grande
incremento, com a criação de um grupo de estudos sobre a capacidade produtiva dos
trabalhadores nas fábricas de munições (Health of Munitions Workers Committee).
Vivia-se um momento dúbio: por um lado, existia uma grande necessidade de aumentar
a produção de armas e de munições; por outro, existia uma escassa mão-de-obra, pelo
facto da maior parte do operariado se encontrar na guerra.
A partir do início da década de 50, com a criação, em Inglaterra, da Ergonomics
Research Society, a Ergonomia começou a sua expansão no mundo industrializado,
desenvolvendo-se, assim, o interesse pelos problemas inerentes ao trabalho humano.
Entre 1960 e 1980 assistiu-se a um rápido crescimento e expansão da Ergonomia para
além das fronteiras militares, pois o meio industrial tomou consciência da importância
da Ergonomia na concepção dos produtos e dos sistemas de trabalho (equipamentos,
ferramentas, ambiente físico, ambiente químico, organização do trabalho, etc.).
Mais tarde, a Ergonomia foi aplicada com o objectivo de optimizar o trabalho humano.
Os primeiros estudos centraram-se no aperfeiçoamento das máquinas, às quais os
trabalhadores se tinham de adaptar, algumas vezes à custa de uma longa e difícil
aprendizagem.
No entanto, com o aumento da complexidade e dos custos das máquinas, e
simultaneamente, com a imposição do valor da vida humana, surgiu a preocupação de:
• conceber máquinas adaptadas ao homem;
• criar condições de realização do trabalho mais adaptadas às características
humanas, do ponto de vista antropométrico, biomecânico, fisiológico,
psicológico, de formação, de competência, etc.
Nesta evolução, alguns países europeus fundaram a Associação Internacional de
Ergonomia, para congregar as várias Sociedades de Factores Humanos e de Ergonomia
que foram surgindo.
A Ergonomia continuou a crescer a partir dos anos 80, particularmente, devido às novas
tecnologias informatizadas.
A tecnologia informatizada propiciou novos desafios à Ergonomia. Os novos
dispositivos de controlo, a apresentação de informação por écran e, sobretudo, o
impacto da nova tecnologia sobre o homem, constituem áreas de análise e de
intervenção para o ergonomista, sobre as quais iremos falar nas próximas aulas.
O papel do profissional de Ergonomia nas indústrias nucleares e de controlo de
processos, cresceu após os acidentes de Three Mile Island, nos Estados Unidos, e de
Bhopal, na Índia.
Em Portugal, por esta altura, a Ergonomia é ainda praticamente inexistente. No
entanto, as necessidades sociais criadas com a integração europeia e o cumprimento das
normas comunitárias relativamente à regulamentação do trabalho e das suas condições
ambientais, provocou uma certa inquietação para o desenvolvimento da formação nesta
área.
Basta recordar o 1º parágrafo do Decreto-Lei nº 441/91: "A realização pessoal e
profissional encontra na qualidade de vida do trabalho, particularmente a que é
favorecida pelas condições de segurança, higiene e saúde, uma matriz fundamental para
o seu desenvolvimento", para se perceber que, sem a implementação de uma prática
ergonómica, esta qualidade de vida no trabalho, dificilmente será alcançada.
Numa perspectiva histórica, consideram-se três pontos fundamentais na evolução da
Ergonomia:
� Um primeiro, em que o estudo se centrava sobre a máquina, à qual o
trabalhador se tinha de adaptar. Procurava-se seleccionar e formar o operador de
acordo com as exigências e características das máquinas, ainda que por vezes, à
custa de uma longa e difícil aprendizagem.
· Um segundo, em que, face aos problemas levantados pelos erros humanos, o
estudo começou a centrar-se no Homem. Procurava-se uma modificação das
máquinas, tendo em consideração os limites próprios do Homem.
• Um terceiro, ou seja, o actual, em que se considera a análise do Sistema
Homem – Máquina, ou mais correctamente, Homem – Trabalho.
Em Portugal, a Ergonomia surgiu no ano de 1987, com a introdução de um curso no
Instituto Superior de Educação Física (ISEF), a actual Faculdade de Motricidade
Humana.
Conceitos de Ergonomia
Muitos são os conceitos de Ergonomia já publicados. Passando em revista várias
definições, é possível admitir que a Ergonomia engloba um conjunto de actividades que
tendem a adaptar o trabalho ao Homem, consistindo essa adaptação, numa optimização
do Sistema Homem - Trabalho.
Eis uma pequena revisão da literatura:
• "A Ergonomia é um conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao
Homem e necessários para conceber os utensílios, as máquinas e os dispositivos
que possam ser utilizados com o máximo conforto, segurança e eficácia"
(WISNER);
• "A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar que compreende a psicologia do
trabalho, a antropologia e a sociologia do trabalho. O alvo prático da Ergonomia
é a adaptação do posto de trabalho, dos utensílios, das máquinas, dos horários e
do meio ambiente às exigências do Homem. A realização dos seus alvos a nível
industrial, dá lugar a uma facilitação do trabalho e a um aumento do rendimento
do esforço humano" (GRANDJEAN);
• "A Ergonomia é uma disciplina científica que estuda o funcionamento do
homem em actividade profissional" (A. LAVILLE);
• "A Ergonomia é uma tecnologia que agrupa e organiza os conhecimentos de
modo a torná-los úteis para a concepção dos meios de trabalho" (A. LAVILLE);
• "A Ergonomia é uma arte quando trata de aplicar os conhecimentos para a
transformação de uma realidade existente ou para a concepção de uma realidade
futura" (A. LAVILLE);
• "A Ergonomia é entendida como o domínio científico e tecnológico
interdisciplinar que se ocupa da optimização das condições de trabalho
visando de forma integrada, a saúde e o bem estar do trabalhador e o
aumento da produtividade" (Departamento de Ergonomia da Faculdade de
Motricidade Humana).
Para terminar, são referidos, ainda, os conceitos ditados por duas grandes organizações
de renome internacional:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE: "A Ergonomia é uma ciência que visa o
máximo rendimento, reduzindo os riscos do erro humano ao mínimo, ao mesmo tempo
que trata de diminuir, dentro do possível, os perigos para o trabalhador. Estas funções
são realizadas com a ajuda de métodos científicos e tendo em conta, simultaneamente,
as possibilidades e as limitações humanas devido à anatomia, fisiologia e psicologia".
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE TRABALHO: "A Ergonomia consiste na
aplicação das ciências biológicas do Homem em conjunto com as ciências de
engenharia, para alcançar a adaptação do homem com o seu trabalho medindo-se os
seus efeitos em torno da eficiência e do bem estar para o Homem".
Principais Correntes
Os debates e as reflexões a que se tem vindo a assistir nos últimos 20-30 anos,
conduziram à preocupação da complementaridade dos fundamentos das duas principais
correntes em Ergonomia.
Na opinião de Montmolin, a primeira corrente, a mais antiga, a Anglo-Saxónica
considera a Ergonomia como a utilização de algumas ciências para melhorar as
condições de trabalho humano.
A título de exemplo, a Anatomia e a Fisiologia permitem conceber assentos, écrans e
horários mais adaptados ao organismo humano e a Psicologia permite, por exemplo,
uma melhor apresentação das informações.
Esta corrente orienta a Ergonomia para a concepção de dispositivos técnicos
(máquinas, utensílios, postos de trabalho, ecrãs, impressoras, programas, etc.)
A segunda corrente, a mais recente, a Europeia, considera a Ergonomia como o
estudo específico do trabalho humano com vista a melhorá-lo.
Sem querer pretender constituir uma "Ciência do Trabalho", completamente autónoma,
a Ergonomia reivindica, no entanto, a autonomia dos seus métodos.
Nesta perspectiva, a Ergonomia preocupar-se-á menos com o assento ou com o ecrã
isolado do que com o conjunto da situação de trabalho e do trabalhador em questão.
Nesta perspectiva, a sua fadiga e os seus erros só podem ser realmente explicados e
minorados se a sua tarefa particular e a forma como ela é realizada (a sua actividade)
forem analisadas pormenorizadamente nos seus locais específicos.
Ergonomia está pois, nesta corrente orientada essencialmente para a organização do
trabalho, levantando questões como, por exemplo:
Quem faz? O que faz? Como faz? Como poderia fazer? Etc.
Em síntese, podemos dizer que a corrente Americana centra-se sobre o factor humano,
considerando o Homem como uma componente do sistema de trabalho e que a corrente
Europeia centra-se sobre a actividade humana, considerando o Homem como um
actor do sistema de trabalho.
Classificação em Ergonomia
Numa empresa ou organização, em que a competitividade e a força do mercado onde
esta opera, são parâmetros fundamentais de Gestão, a Ergonomia é uma das as áreas de
formação passíveis de lhe acrescentar valor.
Assim, modalidades de intervenção ergonómica serão diferentes, em termos de
objecto, objectivo, contexto e dimensão da intervenção.
É Objecto
No que respeita ao objecto de intervenção, podemos distinguir:
• a Ergonomia de Produção;
• a Ergonomia do Produto.
A Ergonomia da Produção está vocacionada para a procura das condições de
trabalho adequadas, em termos organizacionais, de posto e ambiente de trabalho,
adaptados às características e capacidades dos trabalhadores.
A Ergonomia do Produto, centra-se na área de estudos e pesquisas, colaborando com o
sector comercial, em estudos de mercado; com o sector de produção, na avaliação
dos custos da produção e na definição da sua finalidade; e com outros sectores da
concepção do produto, desde o "design" ao controlo da qualidade.
É Objectivo
Quanto ao objectivo, fala-se em:
•
• Ergonomia de Concepção,
•
• Ergonomia de Correcção.
A Ergonomia de Concepção permite agir desde a fase inicial, sobre um produto ou
posto de trabalho, criando condições de trabalho adaptadas e perspectivadas no sentido
da eficácia, da segurança e do conforto.
A Ergonomia de Correcção dá resposta às inadaptações, que se traduzem por
problemas na segurança e no conforto dos trabalhadores, ou na qualidade e quantidade
da produção.
É Contexto
Seja qual for o objecto ou o objectivo, a intervenção ergonómica desenvolve-se nos
mais variados contextos, tais como: industrias, hospitais, escolas, transportes,
construção e obras públicas, etc.
É Dimensão
Numa perspectiva de dimensão da intervenção, podemos classificar a Ergonomia em
Macro, Meso e Micro :
• A Macro-Ergonomia considera o sistema integral Homem-Máquina, ou seja,
uma organização cujas componentes são os Homens e as Máquinas, trabalhando
em conjunto para alcançar um fim comum, estando ligadas por uma rede de
comunicações;
• A Meso-Ergonomia centra-se sobre um utensílio ou uma máquina, estudando
a interdependência entre os dispositivos metrológicos e os indicadores, as
alavancas de comando e de regulação, assim como, a sua disposição em função
da velocidade e da sucessão das operações;
• A Micro-Ergonomia estuda os diversos elementos específicos de uma situação
de trabalho, tais como, a insonorização de uma máquina, a iluminação de uma
sala de trabalho informatizado, etc.
Deste modo, a Ergonomia tem uma acção concreta sobre melhoria das condições de
trabalho em geral, promovendo a saúde do trabalhador. Contribuindo para a diminuição
de absentismos por acidentes de trabalho e doenças profissionais, a Ergonomia procura
manter e/ou aumentar a qualidade e, consequentemente, a produtividade.
A Ergonomia no Trabalho
A Ergonomia é uma disciplina que fundamenta a sua acção numa perspectiva científica
do trabalho humano. Pelos seus métodos, a Ergonomia permite uma outra
inteligibilidade do funcionamento dos sistemas produtivos, a partir da compreensão de
toda a actividade de trabalho do homem. Para tal, torna-se imperioso o conhecimento do
funcionamento humano, nos diversos planos.
1.
2. Tarefa e Actividade
Numa situação de trabalho, há que distinguir o conceito de tarefa e de actividade.
A tarefa ou trabalho prescrito abrange tudo o que, na organização, define o trabalho
de cada operador, ou seja:
• os objectivos a atingir em contrapartida da remuneração;
• a maneira de os atingir, as indicações e os procedimentos impostos;
• os meios técnicos colocados à disposição (instrumentos, máquinas, ferramentas);
• a repartição das tarefas entre os diferentes trabalhadores;
• as condições temporais do trabalho (horários, duração, pausas);
• as condições sociais (qualificação, salário);
• o envolvimento físico do trabalho.
Quer a empresa seja de grande ou de pequena dimensão, existe sempre uma parte
implícita , um trabalho esperado, do qual os responsáveis e os trabalhadores têm a sua
própria representação.
Sendo a tarefa uma prescrição, um quadro formal, é o trabalho real dos trabalhadores
ou actividade, que permite a produção.
De uma maneira mais simplificada diz-se que, a actividade se refere às condutas e
comportamentos dos trabalhadores, na execução de uma determinada tarefa.
Em todos os planos definidos pela organização do trabalho, manifestam-se diferenças
entre o prescrito e o real, pois o trabalho real dos trabalhadores nunca é o puro reflexo
da tarefa, nem uma mera execução.
A distinção entre tarefa e actividade é importante, na medida em que:
• põe em evidência as falhas de organização;
• ajuda a hierarquizar os constrangimentos da situação de trabalho;
• permite explicar as relações entre as condições internas (inerentes ao
trabalhador) e as condições externas (respeitantes ao envolvimento de trabalho);
• ajuda a compreender as consequências sobre a saúde.
Prática Ergonómica
Considerando:
· que em Ergonomia o homem que trabalha não é um simples executante, mas um
operador, na medida em que gere as suas dificuldades, aprende, actuando, adapta o
seu comportamento às variações do seu estado interno e dos elementos da situação de
trabalho, decide quais as melhores maneiras de proceder, adquire habilidades
específicas para melhorar a eficácia, enfim, opera.
· que a actividade real de trabalho desenvolvida pelo operador difere sempre da tarefa
prescrita pela organização do trabalho, pois não é uma simples resposta a um estímulo,
mas a expressão de um saber e de uma vivência profissional, que é o resultado de uma
história individual e colectiva e se inscreve num determinado contexto sócio-
económico.
• que a compreensão da actividade de trabalho como uma experiência
particular da relação do homem com o seu envolvimento impõe um método
próprio dirigido à relação das condicionantes "externas" da actividade do
trabalhador com a realidade do seu próprio Corpo entendido como sede original
da capacidade produtiva e da auto-estima na segurança e conforto no trabalho.
• que em Ergonomia não se pode fazer um diagnóstico à distancia baseado em
sintomas descritos e em resultados de análise, mas deve observar-se o operador
em actividade, ouvi-lo, analisar elementos da situação de trabalho, interpretar
resultados, fazer um diagnóstico para estudar as transformações necessárias.
� que a transformação de uma situação de trabalho não pode consistir numa
aplicação directa dos conhecimentos científicos gerais relativos ao homem, sem
que antes sejam confrontados com a especificidade de cada situação.
• que a compreensão da actividade real de trabalho é o verdadeiro fundamento
da acção ergonómica.
Distinguimos na prática da Ergonomia duas fases: uma primeira, chamada de
ANÁLISE ERGONÕMICA e, a segunda, denominada de INTERVENÇAO
ERGONÓMICA, entendendo-se que:
1. Análise Ergonómica consiste na identificação e compreensão das relações
existentes entre as condições organizacionais técnicas, sociais e humanas que
determinam a actividade de trabalho e os efeitos desta sobre o operador e o
sistema produtivo.
2. Intervenção Ergonómica consiste na operacionaIização de planos de acção
resultantes da análise ergonómica. Pode situar-se a diferentes domínios de
actuação: concepção e/ou reformulação, formação profissional, higiene,
segurança e saúde ocupacional.
Deve-se pois:
a. COMPREENDER O TRABALHO, entendido como expressão da actividade
humana, ou seja, como algo que põe em jogo capacidades físicas, psicológicas,
de competência, de experiência,…
b. TRANSFORMAR O TRABALHO a partir da concepção de um projecto
centrado sobre o Homem no Trabalho, com vista a proporcionar-lhe conforto,
segurança e bem estar mas, ao mesmo tempo, favorecer a eficácia e a
produtividade.
Análise e Intervenção Ergonómica
Importa, pois, começar por entender o que é Análise do Trabalho.
Definir Análise do Trabalho não é tarefa fácil. Uma reflexão sobre à análise do trabalho
não deve fazer-se sem uma atenção especial sobre o entendimento do objecto desta
análise - o trabalho.
O conceito de trabalho assume pontos de vista diferentes, dentro e fora da empresa.
O economista falará do resultado do trabalho em termos do valor produzido. O
sociólogo verá no trabalho, as normas e os valores sociais e concentrar-se-á nas
relações entre os operadores. O representante sindical, reportar-se-á a "uma situação
vivida", global, donde emergem as necessidades dos trabalhadores.
Apercebemo-nos, assim, que o termo "trabalho" designa, quer o resultado de uma
acção, quer as condições de realização, quer ainda, a função ou a actividade do
operador que a realiza e neste sentido, admite-se que existam traços típicos de análise
do trabalho, bem como, modalidades várias.
Sendo objectivo da Ergonomia, conceber situações de trabalho adaptadas às
características dos operadores, ao trabalho que lhe é confiado e às condições em que o
trabalho é realizado, a análise ergonómica do trabalho tem como objecto, o estudo
das exigências e das condições de trabalho, das atitudes e das sequências
operatórias que emergem aquando da realização de uma determinada tarefa.
A título de exemplo, a análise psicológica visa, essencialmente, analisar os
mecanismos da actividade (preceptivos, sensório-motores e cognitivos) presentes na
situação de trabalho, enquanto a análise ergonómica visa analisar a situação de trabalho
no sentido de a transformar, sendo a Psicologia uma das suas dimensões mas não,
necessariamente, a principal.
A análise ergonómica ao procurar dar resposta a questões fundamentais, como "qual o
trabalho a executar?", "como é que o operador executa o trabalho?", afasta-se da
análise tradicional do trabalho, dado que esta se limita a enumerar o que o operador
deveria fazer e não o que o operador faz, isto é, considera apenas o trabalho prescrito e
não o trabalho real, podendo esta diferença ser essencial para a transformação de uma
determinada situação de trabalho.
A análise ergonómica reside, então, numa análise realista do trabalho, efectuada
momento a momento sobre o terreno, partindo das exigências do trabalho, sendo esta,
a única forma de melhorar as verdadeiras causas de desadaptação, nomeadamente, da
carga de trabalho suportada pelo indivíduo.
Este tipo de análise distingue-se das que só consideram os dados relativos ao trabalho
prescrito e dos que contemplam apenas as declarações dos agentes do trabalho.
Uma análise ergonómica do trabalho não poderá, de modo algum restringir-se a estes
dados, mas integrá-los numa análise mais ampla da actividade.
É neste sentido que falamos em Análise do Trabalho, como Método de Análise
Ergonómica do Trabalho formalizado em 1955 por Ombredane e Faverge.
Actualmente, diz-se que a Análise do Trabalho caracteriza a Ergonomia, porque
constitui uma etapa indispensável para todo o estudo ergonómico e toda a intervenção
ergonómica.
Segundo alguns autores, a Análise do Trabalho confronta uma dupla perspectiva, a do
"quê" e a do "como" . Refere ainda que, considerando a evolução da organização do
trabalho importa ainda saber, "quem faz?" e "quem faz o quê?".
Diz-nos que a Análise do Trabalho se fixa sobre duas abordagens complementares a da
Tarefa e a da Actividade.
TAREFA indica o que é para fazer; evoca a ideia de obrigação: "um objectivo a
alcançar em condições determinadas"; é o trabalho prescrito.
ACTIVIDADE indica o que realmente é feito por um operador para executar uma
tarefa precisa num dado momento. A actividade reporta-se portanto às condutas, aos
processos operatórios do indivíduo, ou seja ao trabalho real.
Entre uma e outra há, invariavelmente diferenças, por vezes profundas e que são
reveladas pela análise da actividade. Mas porque a primeira condiciona a segunda, a
análise da diferença torna-se extremamente importante.
Neste sentido, que esta análise permite:
• Pôr em evidência as falhas da Organização
• Ajuda a hierarquizar os constrangimentos da situação de trabalho
• Explicar as relações entre as condições internas e externas
• Ajuda a compreender as consequências sobre a saúde
Podemos sintetizar dizendo que a Análise do Trabalho comporta sempre, em paralelo:
• uma descrição da Tarefa
• uma descrição da Actividade
Neste sentido a actividade de trabalho constitui o elemento central organizador e
estruturante das duas componentes implicadas na situação de trabalho:
� · por um lado, os operadores, com as suas características próprias, no
momento em que realizam a actividade ou seja, a idade, o sexo, o seu estado de
saúde do ponto de vista físico e psíquico, a formação, experiência, competência,
etc.
· por outro, a empresa, que define:
- o espaço de trabalho: dimensões do posto de trabalho, áreas de deslocamento.
- as características dos meios materiais de trabalho: dimensões, manuseamento das
ferramentas, das máquinas, dos comandos, modalidade de apresentação das
informações.
- as características dos objectos de trabalho: documentos, peças a montar, a transformar.
- os ambientes físicos: iluminação, ruído, vibrações, calor ou frio, poeiras.
- imposições temporais: horários e duração do trabalho, rendimento.
- a organização do trabalho: repartição das tarefas, ordens operatórias.
- os sinais a respeitar para assegurar a segurança, a qualidade e a quantidade de
produção.
Domínios de Análise e Intervenção Ergonómica
Neste capítulo pretende-se revelar um pouco de como e onde o Ergonomista tem a sua
acção, consistindo esta acção ergonómica em colocar à disposição dos orgãos de gestão
uma informação precisa e operacional sobre a realidade de trabalho para que, desta
forma, todas as decisões organizacionais, técnicas, sociais e humanas visem alcançar
eficiente e eficazmente os objectivos definidos.
Como principais domínios da análise ergonómica referiremos:
1. Actividade de Trabalho
2. Efeitos sobre o Operador e o Sistema Sócio-Técnico
Actividade de Trabalho
Com base nestes dados, os domínios da análise ergonómica são centrados na actividade
de trabalho humano, permitindo identificar , descrever e quantificar os
comportamentos observáveis, nomeadamente:
• acções exercidas directamente sobre o objecto de trabalho e/ou dispositivos
técnicos;
• a comunicação interpessoal;
• os deslocamentos no envolvimento de trabalho;
• a recolha de informação directamente sobre o objecto de trabalho e/ou
dispositivos técnicos;
• as posturas de trabalho;
Desta forma, a Análise Ergonómica da actividade identifica as funções sensoriais,
motoras e cognitivas subjacentes aos comportamentos observáveis.
1.
2. - Efeitos sobre o Operador e o Sistema Sócio-Técnico
Para além de uma análise centrada no estudo e compreensão da Actividade de Trabalho,
é igualmente oportuna uma análise sobre os Efeitos desta Actividade no Homem e no
Sistema Socio-técnico que o envolve.
Nesta análise, os dados técnicos a recolher referem-se a:
Ao operador
• Saúde e capacidade funcional
• Erros e omissões
• Lesões decorrentes de acidentes de trabalho
• Carga de trabalho
• Competência
• Satisfação e motivação
Aos elementos técnicos
• Manifestação de disfuncionamentos ao nível técnico
• Eficiência
Ao sistema sócio-técnico
• Cultura organizacional
• Produtividade
• Qualidade
• Acidentes de trabalho
• Segurança
• Inovação e flexibilidade
Concretamente sobre o Operador, é necessária a recolha de dados relativos a:
• características pessoais (físicas, sensoriais, motoras, cognitivas, etc.) e
biográficas
• competência (formação base, experiência e formação profissionais, criatividade
e iniciativa, etc.)
• estado funcional momentâneo (fadiga, ritmos biológicos, etc.)
• aspectos relevantes da vida extra-profissional (organização do tempo extra-
profissional, tempo gasto nos transportes de e para o local de trabalho, etc.)
No que se refere à recolha de elementos relativos ao Sistema Socio-Técnico, é
importante conhecer:
• o objectivo das tarefas (performances exigidas, normas de produção, resultados
visados, etc.)
• as exigências da situação (físicas, sensoriais, motoras, cognitivas…)
• os meios técnicos disponíveis (máquinas, ferramentas, suportes de informação,
normas…)
• os procedimentos ou modos operatórios prescritos (forma como o operador deve
atingir os objectivos definidos)
• as condições temporais (horário, pausas e ritmos de trabalho, flutuações
temporais,…)
• meios humanos e condições sociais (estrutura organizacional, políticas sociais,
avaliação de desempenho, plano de carreiras, cultura organizacional...)
Tendo por base a recolha e análise ergonómica de todos os elementos anteriormente
referenciados, estamos em posição de avançar para uma "transformação do
trabalho" , isto é, a chamada Intervenção Ergonómica.
A Intervenção Ergonómica consiste na operacionaIização de planos de acção
resultantes da Análise Ergonómica, podendo situar-se nos seguintes domínios de
actuação: concepção e/ou reformulação, formação profissional, higiene, segurança e
saúde ocupacional.
Como principais domínios da Intervenção Ergonómica referiremos:
1. Concepção e Reformulação
2. Formação Profissional
3. Higiene, Segurança e Saúde Ocupacional
1.Concepção ou Reformulação
Um dos domínios em que se poderá centrar a Intervenção Ergonómica é na Concepção
ou Reformulação de situações de trabalho, como seja:
• Fornecendo informações sobre novos cenários da actividade de trabalho;
• Participando na concepção de produtos, serviços e/ou sistemas produtivos ao
nível:
• Forma, dimensão, disposição, acessibilidade, funcionalidade e inteligibilidade;
• Dos suportes informacionais e respectivos fluxos de informação.
• Optimizando, sob o ponto de vista ergonómico, o interface operador/sistema
técnico;
• Desenvolvendo e implementando as especificações ergonómicas nos produtos
e/ou serviços, tendo em vista a satisfação das necessidades dos
utilizadores/clientes alvo;
• Colaborando na implementação de novas formas de organização do trabalho.
2.Formação Profissional
Outro nível de Intervenção Ergonómica, e não menos importante, é a Formação
Profissional.
Neste domínio, a Intervenção Ergonómica visa desenvolver, implementar e avaliar
programas de formação centrados:
• na compreensão do funcionamento do sistema sócio-técnico;
• na utilização segura e eficiente dos materiais, ferramentas e máquinas;
• na adaptação à utilização de novas tecnologias;
• na adaptação aos postos de trabalho dos colaboradores com "handicaps" ou
dificuldades;
Ainda neste domínio, promove acções de formação visando a sensibilidade para a
Análise e Intervenção Ergonómicas.
3.Higiene, Segurança e Saúde Ocupacional
Tendo por base toda a avaliação realizada, quer sobre as variáveis que influenciam a
situação de trabalho e do correspondente impacto na Saúde e Bem-Estar do trabalhador,
quer sobre a própria Actividade de Trabalho, no domínio da Higiene, Segurança e
Saúde Ocupacional, a Intervenção Ergonómica visa:
• desenvolver estratégias de melhoria das condições de trabalho;
• definir e divulgar critérios e acções para o desenvolvimento da educação
sanitária e de uma atitude de prevenção;
• promover a aplicação de normas relativas à higiene, segurança e saúde
ocupacional;
• projectar alterações tendentes a melhorar o funcionamento do sistema
organizacional no âmbito da higiene, segurança e saúde ocupacional.
Postura e Força
Quando é exigido algum esforço, na realização de uma tarefa, o trabalhador tende a
adoptar uma determinada postura, que pode não ser a mais adequada.
Em trabalho ou em repouso, o corpo pode assumir três posturas básicas:
• deitado;
• sentado;
• de pé.
Interessa-nos, pois, as posturas geralmente adoptadas em situação de trabalho.
Definimos postura como sendo a posição e orientação dos segmentos corporais no
espaço.
A postura está, então, dependente da força, sendo esta, o resultado de um conjunto de
contracções musculares que se realizam, no sentido de executar uma acção.
Um trabalho que obriga uma pessoa a assumir a postura de pé durante todo o dia, exige
grandes esforços, principalmente das pernas, que incham.
Os trabalhos que requerem uma grande força muscular, mobilidade e um grande
alcance, devem muitas vezes, ser executados de pé.
De seguida, são indicados alguns procedimentos a considerar, quando se trabalha de
pé:
• devem ser evitadas todas as inclinações do corpo, pois a manutenção destas
posturas, implica grandes esforços ao nível dos músculos das pernas, da coluna e
dos ombros. Os músculos da coluna ficam em tensão e quando a pessoa se
endireita, sente-se rígida e endurecida;
• a altura da superfície de trabalho, deve ser ajustada à altura do trabalhador,
de modo a estar ao nível dos cotovelos, quando se está direito, de pé e com os
ombros descontraídos;
• deve-se poder estar parado e direito , em frente e perto da superfície sobre a
qual se trabalha e com o peso do próprio corpo, igualmente distribuído sobre
os pés. Deve haver espaço suficiente para as pernas ou pés;
• a natureza especial de um trabalho, pode obrigar a mudar a altura do plano de
trabalho;
• os controlos e outros objectos necessários à realização do trabalho, devem
encontrar-se a uma altura inferior à dos ombros;
• se possível, o trabalhador deve ter a possibilidade de alternar entre a postura
de pé e sentado;
• se o trabalho se faz parcialmente sentado, deve-se poder dispor de uma cadeira
móvel ou equivalente;
• a superfície sobre a qual o trabalhador permanece de pé, deve ser adequada às
condições de trabalho;
• sapatos adequados diminuem os esforços ao nível das pernas e coluna lombar.
Os trabalhos que não requerem grandes esforços musculares e que se podem executar
dentro de uma área limitada, devem ser feito na postura de sentado. A área de trabalho
deve estar ao alcance, sem haver necessidade de fazer esforços excessivos.
Para trabalhar sentado numa posição correcta, deve haver possibilidade de estar
sentado direito, em frente e perto do local em que se realiza o trabalho. A mesa e a
cadeira de trabalho, devem ser desenhadas, de modo que a superfície sobre a qual se
trabalha, fique ao nível dos cotovelos, quando a pessoa está sentada, com o tronco
direito e ombros descontraídos.
Quando se faz um trabalho de precisão, deve haver um apoio ajustável para os
cotovelos, antebraços ou mãos.
Os princípios fundamentais da postura de sentado, são:
• o tronco, a cabeça e os membros devem estar numa posição natural e relaxada,
devendo ser evitada a cifose da coluna lombar;
• as frequentes alterações de posição, são importantes na prevenção da fadiga;
• a superfície de apoio deve ser ampla, para que seja mínima a pressão por
unidade de superfície;
• a altura do assento deve ser ligeiramente inferior ao comprimento da perna,
estando o pé completamente apoiado no solo e o joelho flectido num ângulo
recto; a profundidade do assento deve ser tal, que o seu bordo não exerça
pressão contra a parte posterior do joelho;
• as cadeiras devem ter um encosto que proporcione um apoio à região lombar,
permitindo o relaxamento da musculatura lombar;
• os cotovelos do indivíduo que trabalha sentado, devem ter, com a sua mesa de
trabalho, a mesma relação que haveria se estivesse de pé. A altura do plano de
trabalho, varia de acordo com a pressão que precisa de ser exercida.
Manipulação e Transporte de Cargas
No dia-a-dia, são vulgares as situações de transporte e/ou levantamento de cargas,
seja em contexto industrial, de comércio, de serviços ou mesmo no domicílio.
As situações de manipulação e transporte de cargas podem trazer consequências
graves na saúde e segurança dos indivíduos, se os mesmos não tiverem cuidados
especiais quando estão a manipular e/ou transportar cargas. Aliás, esta tem sido uma das
mais frequentes causas de acidentes e de doenças profissionais. Daí que, é um problema
que merece grande atenção.
É do conhecimento geral que o levantamento e o transporte manual de cargas devem ser
evitados e realizados por equipamentos mecânicos. Se isso não for possível, várias
pessoas devem trabalhar em conjunto, sendo importante que todas elas utilizem os
métodos correctos de levantamento.
A penosidade das tarefas de manipulação de cargas está dependente de vários
factores, como:
• O peso da carga;
• O volume e forma da carga;
• A existência ou não de pegas;
• A localização da carga;
• A postura adoptada;
• A técnica de manipulação adoptada;
• A frequência de ocorrência;
• O tempo dedicado a esta tarefa;
• As condições fisiológicas do(s) operador(es).
Relativamente à manipulação de cargas, as situações de trabalho podem ser
classificadas em dois tipos:
Manipulação Esporádica, quando está relacionado com a capacidade muscular dos
indivíduos para manipular e levantar as cargas.
Manipulação Repetitiva, relacionada com três factores:
• a duração do trabalho;
• a capacidade energética do trabalhador;
• a fadiga física.
Qualquer que seja o tipo de manipulação, o levantamento correcto de cargas de
obedecer ao seguinte:
• utilização da musculatura das pernas e não da coluna;
• ombros para trás e costas direitas;
• carga mantida o mais próximo possível do corpo;
• pés separados e peso do corpo correctamente distribuído;
• joelhos flectidos;
• pescoço e costas alinhadas;
• pernas distendendo-se lentamente;
• manutenção da carga simétrica, apoiada nas duas mãos;
• carga a, aproximadamente, 40-50 cm acima do chão;
• remoção de todos os obstáculos que possam atrapalhar os movimentos, antes de
levantar um peso.
Um outro aspecto importante a considerar, é o transporte de uma carga de um local
para outro:
• durante o transporte do peso, a coluna vertebral deve ser mantida na vertical;
• devem-se manter os pesos próximos do corpo;
• as cargas assimétricas devem ser evitadas, pois exigem um esforço adicional da
musculatura dorsal para manter o equilíbrio (usar cargas simétricas);
• quando a carga apresenta uma forma longa, esta deve ser transportada na
vertical.
Quando a carga a transportar é volumosa ou pesada, deverão ser solicitados os dois
membros superiores, dando-se atenção aos seguintes aspectos:
• a carga deve ser mantida à altura da cintura;
• os braços devem ser conservados estendidos: o transporte da carga com os
braços flectidos, aumenta a carga estática dos músculos;
• sempre que possível, deve ser mantida uma simetria de cargas, com os dois
braços carregando, aproximadamente, o mesmo peso. No caso de cargas
grandes, compridas e desajeitadas, devem ser usados dois carregadores para
facilitar essa simetria;
• o corpo deve estar ligeiramente inclinado para trás, de modo a que o centro de
gravidade da carga se aproxime da linha vertical do corpo;
• de acordo com a altura da superfície onde irão ser colocados os objectos
transportados, assim se flectem mais ou menos os joelhos e nunca a coluna.
No caso de se tratar de transportar uma carga tipo fardo, então deve-se:
• colocar o mais perto possível do lado anterior ou posterior do tronco, e se
possível utilizar alças ou correias, que distribuam o peso entre os ombros e a
pélvis;
• sem dispositivos de ajuda, recomenda-se que segure a carga com os braços na
linha média;
• o levantamento deste tipo de carga deve ser feito com a flexão dos joelhos,
elevando-a até um dos ombros e segurando-a com ambas as mãos.
Existem outras formas de transporte, como o puxar e o empurrar . As consequências
ao nível da coluna vertebral, serão diferenciadas para cada uma destas situações:
• é sempre melhor empurrar ou puxar qualquer objecto, quando este desliza sobre
o chão, ajudado por rodas;quando se utilizam carros de transporte pequenos, a
sobrecarga para a coluna lombar é menor a empurrar do que a puxar;
• em geral, quando se puxa, adopta-se uma postura assimétrica e em rotação, o se
traduz em perigo para a coluna;
• para mover um objecto grande e pesado, é melhor empurrá-lo com os pés
separados, um adiantado em relação ao outro, mantendo-se firme contra o chão,
devendo contrair activamente os abdominais, aproveitando o próprio peso do
corpo para a frente, como força adicional;
• o puxar, especialmente às sacudidelas, é muito perigoso pela grande sobrecarga
lombar que origina.
Problemas por Movimentos Repetitivos
Actualmente, existem formas de organização do trabalho, particularmente, na indústria,
que determinam a execução de tarefas repetitivas e de elevadas exigências de
precisão.
Este tipo de tarefas impõe, por um lado, a realização de gestos, que, analisados
isoladamente, não representam um esforço importante, mas a sua repetitividade ao
longo do período de trabalho, confere-lhe uma carga elevada.
A repetitividade é, aliás, uma característica do trabalho em cadeia.
O trabalho em cadeia, constitui uma forma de organização do trabalho, na qual a
produção é repartida por um conjunto de postos, cada um ocupado por um operador.
As correspondentes tarefas são distribuídas em função da sua duração, que é
determinada a partir da decomposição do conjunto de gestos inerentes às diferentes
operações.
As consequências deste tipo de tarefas, estão bem patentes na frequência de
perturbações músculo-esqueléticas, ao nível do canal cárpico.
Estas perturbações resultam, geralmente, de um desequilíbrio entre as solicitações
biomecânicas e as capacidades individuais, existindo um nível próprio de cada
indivíduo.
Existem, no entanto, diversos factores que podem influenciar o risco de desenvolver
estas patologias, numa relação directa com a duração da exposição e o número de
factores acumulados. Estes factores podem intervir directa ou indirectamente no
desenvolvimento das perturbações músculo-esqueléticas.
São factores directos:
• a actividade gestual no trabalho, particularmente, se existirem solicitações de
força excessiva, se as diferentes operações implicarem posições articulares
extremas e se houver repetitividade;
• o estado de saúde;
• a idade;
• o sexo;
• os factores relativos ao património genético.
Os factores indirectos no desenvolvimento das perturbações músculo-esqueléticas, são:
• a percepção subjectiva do operador, relativamente à Ergonomia, ao
envolvimento do posto e à organização do trabalho;
• o stress;
• a insatisfação profissional;
• a percepção negativa do trabalho.
A identificação destes factores de risco e, em particular, das suas causas, é essencial à
sua eliminação, sem a qual não poderá ser equacionada qualquer solução para
transformação do trabalho.
Ergonomia e Novas Tecnologias
A introdução das Novas Tecnologias Informatizadas (NTI) nas unidades
produtivas, permite:
• reduzir o tempo de trabalho, com a incorporação das novas tecnologias
informatizadas, em cada unidade de produção;
• racionalizar e optimizar os processos de trabalho;
• reduzir os custos de produção;
• integrar as distintas áreas funcionais da empresa;
• flexibilizar a produção, de modo a permitir uma adequação rápida e constante às
exigências do mercado;
• incrementar a produtividade no trabalho;
• controlar os processos de trabalho.
Estes são exemplos habituais do que as Novas Tecnologias Informatizadas
proporcionam no mundo do trabalho actual. Por tudo isto, as diversas modalidades de
automatização disponíveis na micro-informática, constituem hoje, uma ferramenta
insubstituível na modernização do mundo laboral.
Há que levar em consideração que a implementação das NTI no mundo do trabalho vai
implicar inquestionavelmente outras inovações de carácter organizacional, tanto ao
nível do próprio posto de trabalho, como ao nível da organização de todo o processo
produtivo e da gestão de recursos humanos.
Evolução das Novas Tecnologias
As NTI podem ser agrupadas de diversas formas, de acordo com o sector em que se
inserem no sistema produtivo:
• a Robótica, que designa o conjunto de técnicas que permitem a concepção de
dispositivos destinados a substituir o homem em funções motoras, sensoriais e
intelectuais;
• a Burótica ou Automatização de Escritórios, que se define como a aplicação
da informática no trabalho de escritório com o objectivo de tratar as mensagens
formais e os textos de uma forma automatizada;
• os Sistemas Informatizados, que integram tarefas administrativas e
directamente produtivas, como por exemplo os sistemas CAD (computer aided
design – desenho assistido por computador) / CAM (computer aided
manufacturing – fabricação assistida por computador).
O "símbolo" das NTI é, sem dúvida, o computador. Este é uma máquina electrónica
programada para processar informação digital.
Pode-se dizer, que o computador prolonga o cérebro humano, no que se refere ao
raciocínio lógico, e que o completa, pela sua grande velocidade de tratamento da
informação, traduzindo-se pela possibilidade de poder realizar milhões de operações por
segundo, e pela extraordinária capacidade da sua potente memória, poder armazenar
e restituir informação de uma forma rápida e eficaz.
Vive-se numa sociedade informatizada e em constante evolução tecnológica, com
reflexos nos hábitos das pessoas, na sua forma de viver, de trabalhar e de
relacionamento com os outros.
É a era da Informática que exige um contínuo esforço de adaptação à nova realidade.
Há que aproveitar as vantagens da informática nas mais variadas esferas da actividade
económica e social (no lar, na empresa, na escola, na administração pública, etc.), e
utilizá-la no progresso da sociedade e na satisfação das necessidades da população.
A informática é, então, a ciência do tratamento racional, nomeadamente, através de
máquinas automáticas e da informação considerada como suporte de conhecimento e de
comunicação, nos domínios técnico, económico e social.
Resumidamente, define-se informática como sendo um conjunto de técnicas e
métodos mediante os quais se trata a informação, com a ajuda dos meios
automáticos.
Interacções do Homem com as Novas Tecnologias
Não só em situações de lazer, mas principalmente em situação de trabalho, o homem
interage com as novas tecnologias.
São muitas as situações, nas quais o computador, é um meio privilegiado para
desenvolver um determinado tipo de trabalho, mas também são inúmeros os riscos, a
que o trabalhador está sujeito, por utilizar um computador durante longos períodos de
tempo.
Por este motivo, faz todo o sentido que a Ergonomia tenha criado um campo de
intervenção, na área das NTI e que se tenha servido delas para intervir em outras áreas.
Assim, distinguem-se três fases de evolução até à mais recente aplicação da
Ergonomia ao software:
Fase 1)
na sua origem, esta disciplina preocupava-se com:
• a postura do utilizador e o melhoria do equipamento (écrans, teclados, rato, etc.);
• a antropometria dos postos de trabalho informatizado (implantação, dimensões
do posto, cadeiras, etc.);
• o envolvimento (iluminação, disposição, cor, etc.);
• a organização do trabalho (tarefas, circuitos de informação, horários, formação
de pessoal).
Estes domínios são os mais conhecidos do grande público e os resultados são ainda
correntemente integrados na concepção de equipamento profissional (equipamento e
material de escritório, computador, etc.).
Fase 2)
de seguida, a Ergonomia interessou-se:
• pela disposição espacial de toda a informação no écran;
• pelas cores;
• pela sua fixação;
• pela análise de melhores condições de iluminação e de contraste, etc.
Esta segunda fase não é, no fundo, mais do que a aplicação particular da investigação
aos écrans dos computadores, para um melhor conforto fisiológico.
A passagem do equipamento para o software, isto é da 1ª para a 2ª fase, carrega, nada
mais, do que a semente do fundamento da Ergonomia moderna. Pois esta mudança
coloca o problema da qualidade da interacção Homem-Computador, um termo cuja
origem remonta somente a duas décadas atrás.
A imagem da Ergonomia, para os informáticos, está ainda ligada a essa época, mas o
problema da apresentação da informação no écran não é mais a questão essencial.
Fase 3)
a terceira fase da Ergonomia resulta da experiência adquirida através dos estudos da
interacção Homem-Computador, que fizeram surgir dois pontos fundamentais:
• a aparência dos écrans modifica pouco a natureza dos problemas, pois as
principais dificuldades do utilizador têm origem na estrutura interna do
software;
• a efectiva melhoria das qualidades ergonómicas do software, requer uma tomada
de consciência, desde as primeiras fases de concepção do equipamento, do
funcionamento intelectual das pessoas e dos hábitos de trabalho.
Assim, a melhoria da interacção do "diálogo" entre o Homem e a máquina (o
computador) impõe um melhor conhecimento dos processos cognitivos do trabalhador
e dos seus modos operatórios aquando na realização do trabalho, ou seja, a sua
actividade propriamente dita.
Entretanto a Ergonomia conserva uma abordagem global e pluridisciplinar, que se
debruça no estudo dos mais variados aspectos, relativos à introdução da informática
no mundo laboral, tais como:
• elaboração da organização dos processos de trabalho;
• adaptação das funcionalidades da ferramenta às necessidades reais do utilizador;
• adaptação do diálogo Homem-Computador às características individuais dos
utilizadores;
• concepção, especificação e realização do software;
• redacção de documentos e de manuais destinados ao utilizador ou às equipas de
manutenção;
• organização dos diferentes postos de trabalho adaptado às tarefas específicas de
cada utilizador.
Uma intervenção ergonómica, seja ela ou não, numa situação de trabalho
informatizado, permite evidenciar e considerar as dificuldades ou exigências dos
utilizadores.
As proposições são formuladas e as soluções aplicadas. Os resultados práticos de tal
procedimento são a melhoria das condições de trabalho e, simultaneamente, o ganho de
qualidade e eficácia, reduzindo os custos do funcionamento.
A Ergonomia é uma resposta adaptada aos problemas específicos do terreno e não, a
aplicação estandardizada de receitas pré-estabelecidas.
Consequentemente, dizer que determinado utensílio ou processo é ergonómico, não é
suficiente. Para avaliar tal qualidade, é necessário avaliar esse utensílio / processo, em
função de quem o vai utilizar e com que objectivo.
É de salientar que adaptar o trabalho ao homem, representa uma outra forma de
conceber / corrigir uma determinada situação de trabalho.
Ao servir-se do conhecimento sobre o funcionamento humano e dos métodos que
melhor permitem aprender a realidade das situações de trabalho, a Ergonomia pode
contribuir para a evolução dos métodos de análise de todo o processo de
informatização.
As principais componentes a serem analisadas num sistema caracterizado por um
processo de informatização ou pelo estudo de determinada situação individual de
trabalho informatizado, deve incluir sempre os subsistemas:
O estudo da interacção entre as várias componentes ou subsistemas de uma situação
de trabalho, mostra uma abordagem global dos problemas. Assim, cada situação de
trabalho representa uma união às múltiplas dimensões de uma empresa.
Os domínios de aplicação da Ergonomia dividem-se em áreas, nos diferentes
contextos do trabalho informatizado.
Podem-se, então, classificar em quatro, as grandes áreas de aplicação da
Ergonomia informática ou Ergonomia do trabalho informatizado, de acordo com o
âmbito de estudo específico de cada uma. São elas:
• a Ergonomia dos materiais e dos postos de trabalho;
• a Ergonomia da programação;
• a Ergonomia dos processos de informatização;
• a Ergonomia do software.
Passemos, de seguida, a caracterizar cada uma destas áreas.
• ERGONOMIA DOS MATERIAIS E DOS POSTOS DE TRABALHO
Está centrada, essencialmente, nos equipamentos que constituem o posto de trabalho
informatizado e áreas que lhe são adjacentes, nomeadamente, ao nível:
• dos periféricos (monitor, teclado, écran, rato, impressora, etc.);
• de todo o meio de trabalho (iluminação, ruído, temperatura, etc.);
• do layout (disposição física de todo o equipamento de trabalho).
Foi, e ainda é, a este nível que se situam os estudos mais vastos e em maior número,
assim como, a maioria dos pedidos de intervenção ergonómica, dado que é também a
este nível que surgem as queixas mais facilmente perceptíveis.
• ERGONOMIA DA PROGRAMAÇÃO
Esta área da Ergonomia centra-se ao nível da construção de novos programas e da
manutenção informática, no que diz respeito às linguagens de programação e à sua
inteligibilidade, ou seja, propõe a facilitação da escrita e da leitura de programas,
conduzindo a uma utilização posterior, igualmente facilitada.
• ERGONOMIA DOS PROCESSOS DE INFORMATIZAÇÃO
Está centrada no processo de informatização de serviços, cujo objectivo principal
consiste, não apenas em informatizar mas, em distinguir o que deve efectivamente ser
informatizado, visando uma melhor eficácia das futuras instalações. Tenta salvaguardar,
na medida do possível, todos os aspectos positivos dos hábitos dos trabalhadores que
estes desejem conservar.
• ERGONOMIA DO SOFTWARE
Está centrada nos utilizadores dos sistemas informáticos e na adequação do
software às necessidades das tarefas e simultaneamente, às capacidades do utilizador.
Os problemas são inúmeros e crescentes, dada a especificidade das tarefas. Estes
colocam-se, essencialmente, a dois níveis:
• visualização do écran, no que se refere à formatação da imagem, à codificação,
à estruturação dos campos, à escolha do vocabulário e às abreviações mais
significativas;
• linguagens de comando, relativamente à estrutura dos diálogos e à sintaxe da
linguagem.
A linguagem de software tem por objectivo, facilitar os processos cognitivos de
percepção e tratamento de informação por meio de um diálogo mais intuitivo, entre o
Homem e o computador.
O diálogo entre o Homem e o computador, tem o objectivo de mascarar o
funcionamento técnico do software para libertar o trabalhador dos problemas ligados à
manipulação do utensílio.
O seu papel é de facilitar a comunicação entre os dois sistemas que assentam em
modelos diferentes:
• O Homem é vivo, criativo, "adaptável", raciocina por analogia em associação de
ideias e constrói os seus modelos mentais, no decurso da sua actividade.
• O computador é algorítmico, sequencial e a sua programação é fixa.
Estes dois mundos são estranhos um ao outro e o interface deve servir de interprete
para facilitar as trocas de informação entre dois sistemas.
Do ponto de vista ergonómico, a vocação principal do diálogo é, portanto, a adaptação a
todos os casos, para tornar simples o manuseamento do utensílio informático.
Muitos conceptores de sistemas de software, acabam por perceber que o sistema que
estão a criar é algo mais do que apenas o software, e que o âmbito e o objectivo do
sistema é mais vasto do que a funcionalidade proporcionada pelo software.
Esta é, apenas, uma componente de um amplo sistema e fornece uma parte da
funcionalidade pretendida. Este amplo sistema inclui, pelo menos, outros utilizadores e
outros sistemas de software.
ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO
Ergonomia é conjunto de ciência e tecnologia que procura a adaptação
confortável e produtiva entre o ser humano e seu trabalho.
A ergonomia é um trunfo importantíssimo na atualidade, é uma medida de
prevenção de lesões e acidentes, aumento da produtividade.
A visão da tecnologia é um conjunto que permite um aumento de
produtividade preservando o conforto do trabalhador, sem o mesmo saia fatigado, é
antes de tudo uma visão compatível com o que denominamos empresa como
sistema social eficaz, em que o ser humano trabalha é considerado cidadão, não
considerado como máquina.
A aplicação da ergonomia tem o objetivo de melhor qualidade de vida de
seu empregado; diminuição de assistência médica; menor numero de acidente;
aumento da eficiência do trabalho humano;diminuição da rotatividade no quadro de
empregados da empresa.
Para a amplitude dessa dimensão influenciando na atividade do trabalho é
preciso que tenha uma abordagem de ação da disciplina, conhecimentos domínios
especializados da Ergonomia; clássica - Projeto ergonômico do local de trabalho
(antropométrico, neurológico), Cognitiva (aprendizagem,interpretação,
empática,medição, percepção)
A técnica de sucesso da aplicação da ergonomia na organização é elaborar
projetos que analise as operações da empresa desde o chão de fabrica até a alta
administração, sendo assim solucionara todos os problemas da empresa; os
objetivos esperado serão alcançado.
1. ERGONOMIA O termo Ergonomia é derivado das palavras grega Ergon (trabalho)e nomos
(normas,regras, leis).
Ergonomia: A ciência do conforto humano, a busca do bem-estar, a
promoção da satisfação no trabalho. (Antonio Nunes)
Ergonomia É o termo designativo da aplicação multidisciplinar de
conhecimento que trata de uma série de cuidados que envolvem o homem e as
particularidades inerentes a cada tarefa que realiza nas condições de trabalho,
observadas as característica e limitações individuais. (Antonio Nunes)
Na historia do trabalho, aplicação da Ergonomia é muito recente, e somente
pode ser falar de ergonomia aplicada ao trabalho. Para que possamos entender
perfeitamente o conceito de ergonomia, é necessário nos recordarmos um pouco
historia do trabalho. Frederick Winslow Taylor e seus seguidores desnvolveramu estudo para se racionalizar o trabalho dos operário, estudos de tempos e movimentos (motion-timer study). Verificou que o trabalho pode ser executado melhor e mais economicamente por meio de análise do trabalho, isto é divisão e subdivisão de todos os movimentos necessários a execução de cada tarefa. Os movimentos inuteis eram eliminados . Essa análise do trabalho seguia-se o estudo dos tempos e movimentos. Frank B. Gilberth engenheiro americano que acompanhou Taylor passou a desenvolver expressar percentual de eficiência para representar resultado; Assim como a eficiência esta voltada para melhor maneira, pela qual as coisas devem ser feitas ou executadas, a fim de que os recursos) seja Aplicada de formar mais radical possível.(Adalberto Chiavetato, 1997)
O estudo de tempo e movimento baseia-se na Anatomia e fisiologia
humana. Verificou que a Fadiga predispõem do trabalhador para:
Diminuição da produtividade;
Perda de tempo;
Aumento da rotatividade de pessoal;
Doenças e acidentes;
Diminuição da capacidade e esforço;
Nos estados Unidos, usa-se também, como human Factors (fatos
humanos). Pode se dizer que ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de
máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a
segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho. A definição formada pela IEA
(International Ergonomics Association é: Ergonomia (ou fatores humanos) é uma disciplina científica que
estuda as interações dos homens com outros elementos do sistema,
fazendo aplicações da teoria, princípios e métodos de projetos, com
o objetivo de melhorar o bem-estar humano e o desempenho global
do sistema. (Jan Dul, Bernard. Weerdmeester, ).
Em Ergonomia, o binômio conforto-produtividade andam juntos. Não é
possível pensar-se somente no conforto, sem pensar na produtividade se não
pensar no conforto, porque este resultado de produtividade será transitório.
A Ergonomia é capaz de dar sustentação positiva as formas modernas de
se administrar a produção, mas também é capaz de ajudar as fabricas diminuir a
incidência dos problemas, principalmente das lesões por esforços repetitivos/trauma
cumulativos.
2. ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO Neste caso a Ergonomia tem cinco casos de aplicação no trabalho
Ergonomia na organização do trabalho pesado Trata-se da implantação do planejamento em atividade fisicamente pesadas
do trabalho, sendo atividade de auto dispêndio energético, no sentido de que não
sejam fatigante decorrente da atividade física pesada, também estuda trabalho em
ambiente de altas temperaturas, devido a enorme freqüência com que trabalho
pesado é aplicado pelas condições adversas de temperatura do ambiente.
Biomecânica aplicada ao trabalho: Estudo dos movimentos humanos sob a luz da mecânica: esta é área de
maior aplicação ergonômica; nesta área estudamos a coluna vertebral humana e a
prevenção das lombalgias; estudamos as posturas no trabalho e a prevenção da
fadiga e outras complicações; estudamos a mecânica dos membros superiores,
estudamos o que acontece com ser humano quando trabalha na posição sentada.
Adequação ergonômica no posto de trabalho Antropometria, pode-se medir dimensões humanas e seus ângulos de
conforto/desconforto, e com base nisso, planejar posto de trabalho corretos, tanto
para se trabalhar sentado para quando se trabalha em pé e semi-sentado, tanto para
o trabalho leve como trabalho pesado, com regra básica a ergonomia se contenta
quando se consegue planejar um posto de trabalho com condições que atenda 90%,
para isso o conhecimento padrão antropométrico do trabalhador consiste em um
item fundamental.
Prevenção da fadiga do trabalho Ergonomia trata da fadiga física, e as demais atividades de recursos
humanos nas organizações tratam prevenir fadiga psíquica; neste caso procura se
entender por que trabalhador entra em fadiga, e a ergonomia propõe regras capazes
de diminuir ou compensar fatores de tal sobrecarga.
Prevenção de erro humano Procura adotar medidas para o endivido com relação a seu trabalho.
Naturalmente quando ocorre erro humano é devido às condições Ergonômica; e
conhecer as regras norteadas para aumentar a confiabilidade humana.
3. IMPLANTAÇÃO DA SOLUÇÃO ERGONOMIA NA ORGANIZAÇÃO
Revezamento; visam não causar sobrecarga a um grupamento muscular
Pausa; Torna-se necessário quando não é possível adotar o revezamento de forma
eficaz
Melhoria da organização do sistema de trabalho; Isto equivale a dizer:
administrar melhor o sistema de produção, evitando horas extras rotineiras, Adotar
padrões de produção com base cientifico- tecnológicas.
Melhorias o método do trabalho: Estudar e adotar formas mais racionais de se
realizar o trabalho, evitando esforço desnecessário.
Pequenas melhorias em posto de trabalho; Ex. Baixar uma plataforma, colocar
um apoio para aos braços, aproximar um instrumento de controle, elevar um plano
de trabalho, adquirir cadeiras ergonomicamente corretas, remanejar os locais de
armazenamento colocando as peças mais pesadas a 50 cm do chão e as mais leves
em baixo ou mais acima.
4. COMO INTRODUZIR AS TÉCNICAS NA ORGANIZAÇÃO
A técnica de sucesso é formão uma camisão de Ergonomia, grupo técnico-
operacional da própria organização incluir representantes dos trabalhadores que
aprende e faz um mapeamento ergonômico da empresa que deduza as medidas
necessária para melhoria ergonômica da organização, realizando um cronograma de
soluções necessário e aprovado pela diretoria da empresa.
A etapa mais importante dessa implantação é o treinamento básico de
ergonomia para supervisores e chefes de produção e manutenção partir do qual elas
mesma iram concluir medidas necessária das condições ergonômicas. Também
necessário treinamento para engenheiros e demais profissionais da área técnica,
pois são eles em ultima analise que iram projetar a empresa com novos
equipamentos.
Também será necessário fazer parte desse comitê uma pessoa da área de
compras, pois muitas vezes solucionara muitos problemas e eles continuaram
entrando ns empresa pela porta da frente, através de compras feitas sem qualquer
consideração ergonômica.
Muitas vezes os administradores e gerentes são permissivos quanto às
práticas. Permitindo que o trabalhador faça as tarefas da forma que quiser pouco
atentos que as práticas incorretas quando a condição de trabalho esta adequada a
uma forma importante de lesões que, como dissemos aparece depois de algum
tempo; por isso, há que se ter rigor quanto a este item. Não tem sentido cobrara do
trabalhador praticas corretas quando a condição de trabalho não as permite.
A ergonomia assume, cada vez mais, o papel de extrema importância
dentro das empresas, quando inter-relaciona a qualidade do produto e dos
processos a um aumento de produtividade e melhoria nas condições de trabalho.
Seu campo de aplicação e crescimento é amplo, pois a evolução técnica do trabalho
tem sido um fator decisivo no desenvolvimento desta ciência. A cada dia que passa,
a tecnologia das máquinas alcança maior perfeição e complexidade, com menores
custos e obrigando o homem a uma adaptação rápida a esta nova situação. É
importante lembrar que, ao se desenvolver essas novas tecnologias,
especificamente novas máquinas ou equipamentos para o sistema produtivo, as
novas condições de trabalho devem atender ao ser humano em todos os aspectos, e
serem melhores que as condições anteriores. Essas novas tecnologias devem se
adaptar ao ser humano, usuário da mesma, e não o ser humano "ser obrigado" a se
adaptar a essas novas tecnologias.
Trabalho noturno e em turnos
Turnos e Noturnos
O trabalho em turnos
O trabalho em turnos são formas de organização da jornada diária de
trabalho em que são realizadas atividades em diferentes horários ou em horário
constante p[orem incomum.
O turno é resultante das mesmas atividades realizadas em diferentes
períodos do dia e da noite.
Nas grandes indústrias trabalha-se geralmente em turnos seguidos, e
nas empresas apresenta-se na forma de turnos irregulares (pelo fato de
acúmulos de trabalhos nos diferentes horários).
Formas básicas de sistemas de trabalho em turnos
Em princípio, podemos dizer, que existem duas formas básicas de
trabalhos em turnos, sendo elas:
ü Permanentes: são os turnos em que o trabalhador tem um
determinado horário por muitos anos ou por toda a vida de trabalho,
ou seja, este trabalhador trabalha todos os dias no mesmo horário,
por exemplo só durante o dia, ou à tarde, ou anoitecer, ou turno da
noite.
ü Alternados ou rodiziantes: é quando os funcionários fazem
rodízios de turnos, pelo fato que todos devem ter o mesmo salário
(esta é uma das causas para ser em forma de rodízio), portanto,
todos devem cumprir tanto horários matutinos quanto vespertinos ou
noturnos, assim, o salário não é modificado no valor final. Esta forma
de turnos, pode ter uma rotação lenta, ou seja, a rotação ou rodízio é
maior que uma semana, geralmente é em torno de 21 dias
trabalhando no mesmo turno. Outra forma deste rodízio é a rotação
semanal, onde a cada cinco ou sete dias o trabalhador troca de
turno, indo para a manhã, a tarde ou à noite.
Segundo a literatura, existem ainda mais tipos de turnos, mas os mais
utilizados e mais comuns são estes dois citados. Quando a empresa que possui
3 turnos de trabalho, de acordo com a constituição brasileira, deve-se ter 5
turmas de funcionários para suprir o trabalho contínuo ou ininterrupto de
revezamento, para que a produção da fábrica não seja cessada durante as 24hs
do dia. Já o trabalho descontínuo, caracteriza-se pela atividade do trabalho ser
inferior a 24hs diárias dentro da empresa.
Os turnos podem ser programados de acordo com 2 tipos de tempo ou
horas de trabalhos, mas este sistema, para ser utilizado, varia de empresa para
empresa, depende da organização empresarial e econômica/ financeira:
ü Tempo flexível: ou flextime, dá ao trabalhador considerável
escolha para programar suas horas de trabalho diário no atendimento
de suas obrigações semanais.
ü Horas escalonadas: ou staggered, os trabalhadores são
designados ou se permite que escolham as horas de começar a
trabalhar dentro dos turnos já existentes.
Porque existe o trabalho em turno
“O trabalho em turnos não é uma invenção da era industrial; ao
contrário, já existe desde o início remoto da vida social dos homens em
formação organizada, como cidades e estados...” (Rutenfranz, Knauth & Fisher,
1989), percebeu-se a presença desta forma de trabalho, desde a antiguidade,
onde, eram necessário a presença de pessoas que pudessem fazer a vigília do
local, sem que animais perigosos ou possíveis ataques de tribos inimigas
pudessem chegar ao local.
Na idade média, o trabalho em turnos e noturno cresceu radicalmente,
mas a maior comprovação e permissão para um melhor trabalho em turnos foi
a partir do séc. XIX, quando a lâmpada elétrica de Thomas Edison foi
inventada, gerando assim, uma fonte segura do crescimento do trabalho
juntamente com a presença da energia elétrica. A revolução industrial permitiu
a entrada de mais pessoas nas grandes fábricas, aumentando assim, o número
de funcionários e diminuição da carga horária do turno. Nas grandes guerras
mundiais, pode-se verificar a quantidade de pessoas que deixaram a agricultura
para trabalhar nas indústrias bélicas, aumentando assim, o número de
trabalhadores que trabalhavam em turnos e noturnos.
Hoje, podemos observar esta crescente idéia de trabalho, nos
permitindo saber que 25% da população são de trabalhadores que trabalham
em turnos e noturnos.
“Apesar das origens da existência do trabalho em turnos à época da
separação do trabalho entre os componentes de uma determinada sociedade,
as suas razões situam-se, atualmente, entre as de ordem técnica, ou seja,
processos industriais que utilizam operações contínuas, econômica, onde o
custo do maquinário exige seu ininterrupto para tornar a produção
economicamente viável, social, pela exigência do aumento da capacidade
industrial, com a utilização do sistema em turnos, para possibilitar o aumento
da capacidade industrial, com a utilização do sistema em turnos, para
possibilitar o aumento de trabalhadores empregados, de demanda, pelo
aumento da procura por determinado produto e por exigência de alguns
segmentos do setor de serviços, como por exemplo ferrovias, correios,
aeroportos, polícia, hospitais,... etc” (apud Gilsée, 1998).
Outras abordagens, que citadas por Rutenfrans, Knauth e Fischer
(1989), nos mostra que temos hoje a presença dos turnos de trabalho para
uma melhor forma de organização de acordo com 3 motivos:
1. causas tecnológicas: onde certos tipos de produtos só podem ser
elaborados com alta qualidade se o processo produtivo não for
interrompido a cada 8 ou 16 horas. Estes motivos tecnológicos quase
sempre levam ao trabalho ininterrupto, no qual o trabalho não ocorre em
função da hora, mas sim em função da semana.
2. imposições econômicas: porque leva à instalação de máquinas
extremamente caras e só podem ser pagas através de prazos, levando
assim, ao seu funcionamento contínuo para gerar lucro e assim, ser
paga.
3. atendimento à população: este aspecto é direcionado à população, seus
desejos e necessidades de consumo, ou seja, por exemplo: se uma
padaria deixasse de funcionar aos domingos, deixaria de atender à
vizinhança, que está em casa, descansando e que mais deseja seus
produtos, enquanto que a padaria em si, deixa de ter lucro com a venda
dos pães e gasta menos com os funcionários que deveriam estar de
plantão naquele dia.
Quando ocorrem os turnos?
Dificilmente consegue-se fazer uma descrição da distribuição dos
turnos, mas sabe-se que as empresas, estão sempre em negociação com seus
trabalhadores, e sempre implantando novas idéias baseadas em pesquisas e
relatos ou estudos anteriores, de acordo com o ramo de atividade e com o
porte da empresa.
Estes turnos são sempre estabelecidos dentro de 8 a 12 horas de
trabalho em horários diferentes (matutino, vespertino e noturno – quando
existe na empresa um sistema de 3 turnos; ou então, matutino e noturno – nas
empresas que mantém 2 turnos).
O efeito dos turnos nos trabalhadores
Nossa sociedade é representada por seu aspecto onde o homem tem
sua vida social e ritmo orgânico ligada à vivência diurna, ou seja, o homem
costuma acordar no período da manhã, onde temos a luz do dia e dormir
durante a noite (quando o sol se põe).
A organização temporal do trabalho em turnos e noturno traz inegáveis
prejuízos para a saúde do trabalhador, tanto no aspecto físico, como psíquico,
emocional e social; em virtude das organizações do trabalho, ocorrem marcas
indeléveis no trabalhador.
O trabalho em turnos e noturnos pode ser causa de uma série de
distúrbios fisiológicos e psicossociais devido às mudanças dos ritmos biológicos,
dessincronização familiar e social da vida do trabalhador, levando, a um quadro
designado como Síndrome de Maladaptação do trabalho em turnos.
Num primeiro mês de trabalhos em turnos e noturnos, o trabalhador já
pode apresentar algumas manifestações agudas como a insônia, excessiva
sonolência durante o trabalho, distúrbios do humor, aumento de acidentes e
problemas familiares, sociais e emocionais. Após alguns anos nesta forma de
trabalho, o indivíduo passa a apresentar algumas manifestações crônicas como
desordens do sono, doenças cardiovasculares e gastrointestinais, absenteísmo,
separação e divórcios.
Esta inadaptação do trabalhador aos turnos e noturnos, pode também
leva-lo ao uso abusivo de substâncias para dormir e uso de álcool, sem contar a
presença de uma fadiga crônica e manifestações contínuas de estresse. Este
quadro, de uma forma geral, pode levar em conta também a segurança e vigília
do trabalhador, causando posteriormente, acidentes de trabalho que podem
leva-lo a sérios riscos de vida ou mesmo a morte.
Distúrbios de saúde
Cronobiologia
O organismo do ser humano funciona de acordo com um relógio
biológico, que possui ritmos distintos funcionando de acordo com os fatores
ambientais externos e internos. A ritimicidade natural para diversas funções de
nosso corpo segue um comportamento periódico, definido de acordo com sua
freqüência, e classificado em 3 tipos:
1. circadiano: leva cerca de um dia, ou seja, tem freqüência próxima
das 24hs do dia.
2. ultradiano: tem freqüência maior que o ciclo circadiano, porém
inferior às 24hs de um dia.
3. infradiano: tem freqüência menor que o ritmo circadiano, porém
seus ciclos têm duração superior às 24hs de um dia.
Os ritmos circadianos estão presentes em diversas funções corpóreas
como por exemplo: temperatura corporal, corticosteróides e eletrólitos do soro
e urinários, funções cardiovasculares, secreção de enzimas gástricas, número
de leucócitos do sangue, força muscular, estado de alerta, humor, memória
imediata e a longo prazo.
Já os ritmos ultradianos estão presentes no intervalo de 90 a 100
minutos entre as repetições do movimento rápido dos olhos durante o sono
paradoxal. E, os ritmos infradianos estão presentes dentro do ciclo menstrual
das mulheres.
Na maior parte dos ciclos biológicos, tem-se a princípio, uma média de
um período de 25,2hs, existindo sempre as diferenças de indivíduo para
indivíduo, pois, a zero hora para um não é a mesma para o outro. Portanto,
existem os indivíduos matutinos que são aqueles que acordam e dormem cedo,
e os indivíduos vespertinos, que são aqueles que dormem muito tarde e
acordam por volta do meio dia. Este aspecto citado, é de extrema importância,
pois estas funções influenciam no ciclo do sono deste indivíduo.
Além destes aspéctos, temos também os estímulos externos, ou seja, a
luz ou escuridão também faz parte de um item que influencia na sincronização
dos ritmos internos, ou dos ritmos biológicos.
Este sincronizador poderoso em nossas vidas, a luz do dia, faz com que
a presença de algumas glândulas possam funcionar de forma tal que a
produção de alguns hormônios necessários sejam realmente aproveitados e não
nos causando sérios distúrbios como no caso de alguns trabalhadores noturnos,
que posteriormente, sofrem sérios danos.
Hormônios liberados pelo organismo durante as 24hs
Alguns exemplos de liberação de hormônios que seguem o ciclo biológico
e que, quando alterados, nos trazem conseqüências devido ao desregulamento,
que no caso, acontecem durante os trabalhos noturnos.
O ritmo natural destes hormônios são:
Meia noite: é quando aumenta a produção do hormônio responsável pelo
crescimento. Açúcares e gorduras são armazenados neste horário.
1 hora: as contrações uterinas alcançam seu ritmo máximo de intensidade
2 horas: cresce o número de glóbulos brancos. O estado de alerta diminui.
3 horas: cai a temperatura corporal
4 horas: horário em que podem ocorrer casos de asma e abortos espontâneos
5 horas: começam a aumentar as secreções hormonais que chegam a seu
ponto máximo às 8hs.
6 horas: podem surgir dores articulares, que se prolongam até as 8hs.
7 horas: os hormônios associados ao stress têm sua primeira alta; ganham
eficácia os anti-histamínicos, remédios que neutralizam as alergias.
8 horas: até as 12 hs, aumento do ritmo cardíaco.
9 horas: bom para o trabalho intelectual (até as 11hs) e para cirurgias, devido
ao aumento de substâncias cicatrizantes na circulação.
10 horas: as secreções ácidas do estômago chegam ao seu ponto máximo; o
álcool se concentra mais rapidamente ao sangue.
11 horas: podem surgir cansaço e diminuição do estado de alerta.
12 horas: sobem a pressão arterial e a temperatura do corpo.
13 horas: baixa a atenção (até as 15hs.).
14 horas: cai a quantidade de glóbulos brancos; a produção de insulina alcança
o seu ponto mais alto.
15 horas: a força muscular está em sua plenitude, não havendo perigo de
lesões nas articulações.
16 horas: a temperatura corporal alcança o ponto máximo (até as 18hs.)
17 horas: o rendimento intelectual está favorecido (até as 21hs.)
18 horas: a pele está mais receptiva à ação de medicamentos em forma de
creme ou gel (até as 20hs)
19 horas: o organismo absorve melhor antiinflamatórios, remédios para úlcera,
asma e artrite (até as 22hs)
20 e 21 horas: são horas fatídicas, onde geralmente aparecem a angustia e a
depressão.
22 horas: diminui o calibre dos brônquios; aumentam, ao mesmo tempo, as
dificuldades respiratórias.
23 horas: baixa o estado de alerta (até a meia noite); também é o período de
maior excitação sexual e fertilidade femininas (até as 2hs da manhã).
Ciclo sono/ vigília
Para entender o ciclo do sono, devemos estabelecer basicamente três
critérios a serem avaliados: atividade elétrica do córtex cerebral (através do
eletroencéfalograma – EEG – são interpretadas as ondas presentes), grau de
facilidade com que o indivíduo pode ser acordado e o tônus muscular.
A partir destes fatores, devemos saber que o ciclo do sono é divido em
cinco fases, sendo elas:
1ª fase: início da sonolência e diminuição da amplitude das ondas.
2ª fase: a atividade elétrica é alternada, aparecendo episódios de alta
freqüência, fusos do sono, ondas grandes e lentas de ocorrência ocasiona. É a
fase do sono caracterizado.
3ª fase: ocorre uma certa freqüência de ondas e a manutenção do tônus
muscular.
4ª fase: é a fase do sono profundo, com a presença de ondas lentas, redução
da facilidade de acordar, diminui o tônus muscular, diminuição da freqüência
cardíaca e respiratória e redução da pressão arterial. É o sono repousante
considerado de recuperação física.
5ª fase: é a última fase do sono e é caracterizado por movimentos rápidos dos
olhos, aumento da freqüência cardíaca, respiratória e pressão arterial, porém
com tônus muscular baixo. Este é o sono Paradoxal, pois a pessoa está
dormindo e mantém a atividade cerebral, sem ter conhecimento do que a
cerca. Nesta fase, o indivíduo dificilmente acorda.
O padrão do sono, nos seres humanos, são variáveis em função da
idade, sendo que a quantidade do sono diminuem com a meia idade, e a
qualidade da vigília se traduz em dificuldades ao cumprir atividades ou trabalho.
No caso de indivíduos que tem seus horários de sono alterados, teem
fatores de desequilíbrio psicofisiológicos.
Temperatura corporal, desempenho e carga cognitiva
A temperatura corporal do homem sofre variações durante o dia
inteiro, onde ocorrem aumento durante o tempo de maior atividade (na parte
da tarde) e depois tem um declínio considerável (na madrugada, por volta das
2hs da manhã). Estas variações consideráveis da temperatura durante todo o
dia, indica que não há uma adaptação e desempenho do homem ao trabalho
noturno assim como existe no trabalhador diurno.
A carga cognitiva não acompanha o mesmo ritmo que a temperatura
corporal, portanto, podemos observar que as atividade que necessitam de
memória complexa podem ser realizadas durante o dia ou à noite com bons
desempenhos. Os trabalhadores que utilizam a memória imediata se mostram
muito bem durante o dia, enquanto que aqueles que precisam da memória
funcional demonstram maior desempenho ao meio dia, e os trabalhadores que
necessitam de uma carga cognitiva elevada são melhor realizados e com
demonstração de melhor desempenho é durante a noite.
Desta forma, podemos perceber, que dependendo da atividade ou
tarefa, ocorre um desempenho diferente em cada horário do dia.
Distúrbios nervosos
Um dos distúrbios nervosos mais presentes nos trabalhadores de
turnos e noturnos advém das longas jornadas de trabalho, sendo o estresse,
onde, estão mais presentes nos trabalhadores noturnos que nos diurnos ou
vespertinos (que dificilmente apresentam).
Distúrbios gastrointestinais
Os distúrbios gastrointestinais aparecem geralmente pelo fato dos
trabalhadores não terem horários adequados para a ideal alimentação, sendo
que na maior parte das vezes, ocorre a alteração de alimentos por lanches.
Existe também o fator que influencia diretamente, que é o horário de trabalho
em seu turno (diurno, vespertino ou noturno).
Estes distúrbios em geral, são: azia, gastrite, ulceração péptica,
dispepsias (dificuldade na digestão), colites, diarréias, constipação intestinal e
etc.
Distúrbios cardiovasculares
Os distúrbios cardiovasculares mais presentes nos trabalhadores em
turnos, indicados através de pesquisas e diversos estudos, e que ainda não se
tem uma certeza ou que seja concreto, mas que realmente aparecem como
fatores predisponentes do trabalho , são as doenças cardiovasculares
isquêmicas e a hipertensão arterial. A primeira, não é detectado a presença de
hábitos como o fumo que causem predisposição, mas a segunda, aponta o
fumo como indicador de risco e de grandes chances do distírbio.
Fadiga e acidentes
A fadiga é uma das maiores e fundamentais queixas dos trabalhadores
de longas horas, principalmente está presente nas falas dos trabalhadores
noturnos.
Podem causar acidentes de trabalho devido ao desequilíbrio orgânico, a
presença de tensões, conflitos, emoções e rotina. Todos estes fatores
desencadeiam um processo de fadiga, que pode vir a se tornar altamente
prejudicial através de acidentes nos finais dos turnos, principalmente nos
noturnos.
Aspéctos psicossociais, familiares e interpessoais
Há influência dos horários nos diversos turnos sobre a vida do
trabalhador, e podemos observar que está diretamente ligado ao seu cotidiano
ou seja, pode acarretar importantes dificuldades no plano de vida familiar e
social, só que somente serão ressaltados após longo período na vida deste
trabalhador.
ACIDENTE DO TRABALHO - CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO
Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa, com o segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como
com o segurado especial, no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou
permanente, da capacidade para o trabalho.
O acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS,
mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo.
Considera-se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se
verificar nexo técnico epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida
motivadora da incapacidade, elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Considera-se agravo para fins de caracterização técnica pela perícia médica do
INSS a lesão, doença, transtorno de saúde, distúrbio, disfunção ou síndrome de
evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza clínica ou subclínica, inclusive
morte, independentemente do tempo de latência.
Reconhecidos pela perícia médica do INSS a incapacidade para o trabalho e o
nexo entre o trabalho e o agravo, serão devidas as prestações acidentárias a que o
beneficiário tenha direito, caso contrário, não serão devidas as prestações.
OBRIGAÇÕES DA EMPRESA – ENVIO DE CAT
A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais
de proteção e segurança da saúde do trabalhador, sendo também seu dever prestar
informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a executar e do produto a
manipular.
Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as
normas de segurança e higiene do trabalho.
Nos casos de negligência quanto às normas de segurança e saúde do trabalho
indicadas para a proteção individual e coletiva, a previdência social proporá ação
regressiva contra os responsáveis.
O pagamento pela Previdência Social das prestações decorrentes do acidente
do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de terceiros.
Por intermédio dos estabelecimentos de ensino, sindicatos, associações de
classe, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, órgãos
públicos e outros meios, serão promovidas regularmente instrução e formação com
vistas a incrementar costumes e atitudes prevencionistas em matéria de acidentes,
especialmente os acidentes de trabalho.
A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o
primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à
autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite
máximo do salário-de-contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências,
aplicada e cobrada pela Previdência Social. Desta comunicação receberão cópia fiel o
acidentado ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua
categoria. Deverá ser comunicado os acidentes ocorridos com o segurado empregado
(exceto o doméstico), o trabalhador avulso, o segurado especial e o médico-residente.
Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio
acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu
ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo de apenas um dia
útil. Nesta hipótese, a empresa permanecerá responsável pela falta de cumprimento da
legislação. Caberá ao setor de benefícios do INSS comunicar a ocorrência ao setor de
fiscalização, para a aplicação e cobrança da multa devida.
Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a
cobrança, pela Previdência Social, das multas previstas para o descumprimento desta
obrigatoriedade.
Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do
trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade
habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o
diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.
ESTABILIDADE PROVISÓRIA DO ACIDENTADO
O segurado que sofreu acidente de trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo
de 12 meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do
auxílio-doença acidentário, independentemente da percepção de auxílio-acidente.
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Segurança e Saúde no Trabalho
Este assunto é matéria constitucional, regulamentada e normalizada.
A Constituição Federal, em seu Capítulo II (Dos Direitos Sociais), artigo 6º e artigo 7º,
incisos XXII, XXIII, XXVIII e XXXIII, dispõe, especificamente, sobre segurança e
saúde dos trabalhadores.
A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT - dedica o seu Capítulo V à Segurança e
Medicina do Trabalho, de acordo com a redação dada pela Lei 6.514, de 22 de
dezembro de 1977.
O Ministério do Trabalho, por intermédio da Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978,
aprovou as Normas Regulamentadoras - NR - previstas no Capítulo V da CLT. Esta
mesma Portaria estabeleceu que as alterações posteriores das NR seriam determinadas
pela Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho, órgão do atual Ministério do
Trabalho e Emprego.
A segurança do trabalho rural tem regulamentação específica através da Lei nº 5.889, de
5 de junho de 1973, cujas Normas Regulamentadoras Rurais - NRR - foram aprovadas
pela Portaria nº 3.067, de 12 de abril de 1988. Há pouco tempo essa portaria foi
revogada e a regulamentação do trabalho rural está concentrada em uma norma
regulamentadora específica, que é a NR-31.
Incorporam-se às leis brasileiras, as Convenções da OIT - Organização Internacional do
Trabalho, quando promulgadas por Decretos Presidenciais. As Convenções
Internacionais são promulgadas após submetidas e aprovadas pelo Congresso Nacional.
Além dessa legislação básica, há um conjunto de Leis, Decretos, Portarias e Instruções
Normativas que complementam o ordenamento jurídico dessa matéria. Uma excelente
fonte de referência é o Volume 16 (Segurança e Medicina do Trabalho) dos Manuais de
Legislação Atlas, da Editora Atlas. Sempre com edições atualizadas, esse livro contém a
íntegra das Normas Regulamentadoras - NR - e da legislação complementar. Na
Internet, você também poderá encontrar a íntegra das NR e da CLT a partir da página do
Ministério do Trabalho e Emprego.
Além disso, há a legislação acidentária, pertinente à área da Previdência Social. Aqui se
estabelecem os critérios das aposentadorias especiais, do seguro de acidente do trabalho,
indenizações e reparações.
Completando essa extensa legislação, devemos lembrar que a ocorrência dos acidentes
(lesões imediatas ou doenças do trabalho) pode dar origem a ações civis e penais,
concorrendo com as ações trabalhistas e previdenciárias.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR RURAL
Algumas atividades de trabalho podem trazer problemas de saúde para ostrabalhadores, por isso, são desenvolvidas metodologias e equipamentos paraprotegê-los. Por exemplo, pessoas que trabalham em obras, devem tomar cuida-do para não cairem objetos sobre elas, sendo o capacete de grande utilidade, etambém para não caírem de lugares altos, então usam cinto de segurança e traba-lham em plataformas de proteção, entre outras medidas.
O trabalhador rural também está exposto a riscos de acidentes. Se ele sabe que emuma área existem cobras, ele evita de passar por ela ou usa botas com cano longo oubotina com perneira (uso de EPI) para se proteger.
Cuidados também devem ser tomados ao se trabalhar com produtos fitos-sanitários, os chamados agrotóxicos. Eles, como outros produtos químicos, devemser utilizados e manuseados com cuidado, a fim de preservar o meio ambiente, asaúde dos trabalhadores e dos consumidores. São produtos químicos e sempredevemos tomar cuidado ao utilizá-los. As pessoas evitam que água sanitária caiaem seu corpo, especialmente em seus olhos, não se deve tomar remédios emquantidade maior que o médico receitou e ninguém vai comer um tubo de pastade dentes. No entanto, nem sempre se tomam cuidados ao manusear agrotóxicos.A maioria das pessoas se preocupa com a etapa da pulverização, porém não deve-mos descuidar da segurança em outras etapas:
1.Aquisição: Tudo começa com a assistência técnica de um profissional legal-mente habilitado, que procederá o Manejo Integrado de Culturas, valendo-se damelhor tecnologia, aplicando os princípios básicos da boa prática agrícola, levandoem conta o Manejo Integrado de Pragas - MIP, dentro de uma agricultura suste-ntável, ou seja, aquela capaz de produzir alimentos para a atual população, semcomprometer a produção e alimentação das futuras gerações.
Este profissional, ao decidir fazer o controle químico, prescreverá a receitaagronômica. Ele verifica se realmente é necessário aplicar o produto e orienta oprodutor. Também coloca na receita os equipamentos de proteção individual (EPI)necessários, instruções sobre destinação de sobras e embalagens, precauções deuso, primeiros socorros no caso de acidentes, faz advertências relacionadas aomeio ambiente etc.
2.Transporte: Parte dos produtos fitossanitários são considerados perigosos paratransporte e, consequentemente, requerem medidas de prevenção para diminuir os
1Gerente de Educação e Treinamento da ANDEF; 2Assessora de Educação eTreinamento da ANDEFRua Capitão Antônio Rosa, 376 – 13º andar – São Paulo, SP - CEP 01443-101Fone: (11) 3087-5033; e-mail: [email protected]; site: www.andef.com.br
riscos de acidentes e cumprir a legislação. O transporte só pode ser realizado porveículos e equipamentos cujas características técnicas e estado de conservação ga-rantam segurança compatível com os riscos correspondentes aos produtos trans-portados e o motorista deve portar a documentação recomendada. O desrespeito àsnormas pode gerar multas para quem vende e para quem transporta o produto.Acima de determinados volumes de carga, a legislação exige motorista habilitadopelo SENAT, ficha de emergência, envelope de emergência, equipamentos de pro-teção etc. Mesmo abaixo dos limites, deve-se transportar o produto em veículos tipocaminhonete, em perfeitas condições de uso (pneus e amortecedores em ordem),carroceria limpa, carga bem acondicionada e coberta com lona, não misturada comrações, medicamentos, alimentos etc. O motorista deve portar a nota fiscal do produto,contendo números de risco, número da ONU, nome apropriado para embarque (ex.produto tóxico inflamável), classe ou sub-classe do produto, declaração de confor-midade com a legislação, assinada pelo expedidor e a expressão inserida “Quan-tidade Limitada”quando for o caso.
3.Armazenamento: Com relação ao armazenamento na propriedade rural , olocal do depósito deve ser livre de inundações e, de acordo com a NR-31, deveser afastado trinta metros das habitações e locais onde são conservados ou con-sumidos alimentos, medicamentos ou outros materiais, e de fontes de água. Asparedes devem ser de alvenaria, inclusive as divisórias internas, com boa venti-lação e iluminação natural. O piso deve ser cimentado e liso para facilitar a limpe-za. Telhado resistente e leve, sem goteiras. Os drenos de chuva devem ser cana-lizados e muito bem protegidos dos efeitos da movimentação de pessoas e veícu-los. Drenos separados para possíveis vazamentos devem ser dirigidos para umacaixa de contenção. As instalações elétricas devem estar em bom estado de con-servação para evitar curto circuito e incêndios. O depósito deve estar sinalizadocom uma placa “cuidado veneno”. As portas do armazém devem permanecertrancadas para evitar a entrada de crianças, animais e pessoas não autorizadas.Os produtos devem estar de forma organizada, de preferência em prateleiras,afastados do chão, com os rótulos voltados para frente, e separados de alimen-tos, rações, medicamentos e sementes. Os produtos granulados ou em pó devemser armazenados acima dos de formulação líquida, para evitar contaminação;alem disso, devem ser separados por classe de produto: herbicidas, inseticidas,fungicidas etc. Não é recomendável armazenar estoques de produtos além dasquantidades para uso a curto prazo (no máximo uma safra). Quanto aos restosde produtos, não devem ser retirados de suas embalagens originais ou guarda-dos sem tampa. Observar se as embalagens não têm vazamento. Recomenda-seter no interior do armazém, materiais absorventes como areia para conter vaza-mentos – não usar água.
4.Equipamentos de Proteção Individual – EPI são ferramentas de trabalhoque visam preservar a saúde do trabalhador que manuseia produtos fitossanitári-os, a fim de reduzir a exposição ao produto e, consequentemente, diminuir/anulara probabilidade de intoxicações. Vem ser um complemento a outras medidas parareduzir os riscos de contaminação.
O trabalhador pode se intoxicar pela pele, boca, nariz ou olhos.
É importante ressaltar que o risco de intoxicação é definido como a probabi-lidade estatística de uma substância química causar efeito tóxico. O risco é umafunção da toxicidade do produto e da exposição. A toxicidade é a capacidade po-tencial de uma substância causar efeito adverso à saúde. Em tese, todas as substân-cias são tóxicas e a toxicidade depende basicamente da dose e da sensibilidade doorganismo exposto. Quanto menor for a dose de um produto que cause um efeitoadverso, mais tóxico é o produto. Esta característica é intrínsica ao produto e nãohá como alterá-la; portanto, para diminuir o risco, devemos diminuir a exposição,utilizando os EPI.
Os Principais Equipamentos de Proteção Individual são: Respiradores: (más-caras) tem por objetivo evitar a inalação de vapores orgânicos, névoas ou finaspartículas; Luvas: um dos equipamentos de proteção mais importantes, devido àalta exposição das mãos ao produto. Devem ser a base de nitrila ou Neopreneâ,sem forro e ter cano longo; Viseira Facial: protege os olhos e o rosto contrarespingos durante o manuseio e a aplicação. A viseira deve ter a maior transparên-cia possível e não distorcer as imagens. O suporte deve permitir que a viseira nãofique em contato com o rosto do trabalhador e embace; Jaleco e Calça Hidro-Repelentes: são confeccionados em tecido de algodão tratado para tornarem-sehidro-repelentes, este é um tecido especial que permite a passagem do ar e repeleas gotas de produto, de forma que sejam mais confortáveis ao trabalhador, poisantigamente a vestimenta era impermeável e por isso muito quente. Há tambémo material em não tecido - Tivekâ. São apropriados para proteger o corpo dosrespingos do produto formulado; Boné Árabe: confeccionado em tecido de al-godão tratado para tornar-se hidro-repelente. Protege o couro cabeludo e o pescoçocontra respingos; Capuz ou Touca: peça integrante de jalecos ou macacões, po-dendo ser em tecidos de algodão tratado para tornarem-se hidro-repelente ou emnãotecido. Substituem o boné árabe na proteção do couro cabeludo e pescoço;Avental: produzido com material resistente a solventes orgânicos (PVC, bagumou não tecidos), aumenta a proteção do aplicador contra respingos de produtosconcentrados durante a preparação da calda ou de eventuais vazamentos de equi-pamentos de aplicação costal; Botas: devem ser de cano alto e resistentes aossolventes orgânicos, por exemplo, PVC, preferencialmente de cor branca. Suafunção é a proteção dos pés.
É necessário alertar que, de acordo com a legislação, os EPI, com exceção dabota, devem ter o número do C.A. – Certificado de Aprovação fornecido peloMinistério do Trabalho. É proibida a comercialização de EPI sem o C.A.
Os trabalhadores devem receber um treinamento sobre os cuidados que devemtomar ao manusear e aplicar os agrotóxicos e como utilizar e conservar seus EPIs.
Após a aplicação, o trabalhador deve tomar banho com bastante água e sabo-nete, vestindo roupas limpas. As vestimentas de proteção devem ser lavadas comágua abundante e sabão neutro, separados da roupa da família. Elas não devemser esfregadas e nem deixadas de molho para não comprometer o tratamento.Recomenda-se que as vestimentas de algodão sejam passadas a ferro para aumen-tar sua vida útil. As botas, luvas e viseiras devem ser enxaguadas com bastanteágua.
A intoxicação durante o manuseio ou a aplicação de produtos fitossanitários éconsiderado acidente de trabalho. A legislação trabalhista brasileira determina o usode EPI que possua o Certificado de Aprovação – C.A. no Ministério do Trabalho. Onão cumprimento poderá implicar em multas ao empregador e ações de respon-sabilidade cível e penal. O empregado poderá ser demitido por justa causa, pois é suaobrigação usar o EPI. O empregador tem como função: fornecer os EPI adequadosao trabalho; instruir e treinar quanto ao uso; fiscalizar e exigir o uso e fazer a ma-nutenção e a reposição dos EPI. A fim de uma eventual comprovação na justiça,recomenda-se que o empregador arquive notas fiscais de compra de EPI, compro-vantes de recebimento de EPI assinados pelos empregados, lista de presença e fotosde treinamentos ministrados. É preciso ressaltar que parte dos empregadores ale-gam que EPI são caros. Estudos comprovam que os gastos com EPI representam,em média, menos de 0,05% dos investimentos necessários para uma lavoura. Emalguns casos como a soja e o milho, o custo cai para menos de 0,01%.
5.Tecnologia de Aplicação: O sucesso do controle de pragas, doenças e plantasdaninhas depende muito da qualidade da aplicação do produto fitossanitário. Amaioria dos problemas de mau funcionamento dos produtos na lavoura é devidoà aplicação incorreta. Além de desperdiçar produto, poderá haver contaminaçãodo meio ambiente e dos trabalhadores. O defensivo agrícola deve exercer a suaação sobre o organismo que se deseja controlar. O alvo a ser atingido é esseorganismo, seja ele uma planta daninha, um inseto, uma bactéria (alvo biológico)etc. Qualquer quantidade do produto químico que não atinja esse alvo, não teráqualquer eficácia e se constituirá em perda. Quando se planeja uma aplicação deve-se levar em consideração também, as características do produto utilizado, do equi-pamento, o momento da aplicação e as condições ambientais.
A manutenção/preparo do equipamento é fundamental. Colocar bicos e filtrosadequados e fazer manutenção dos mesmos. Existem vários modelos de pontasdisponíveis, cada uma produzindo um espectro de tamanho de gotas diferente,larguras e padrões diferentes de deposição, sendo portanto, muito importante saberescolher àquela mais adequada ao trabalho a ser realizado. O tipo e tamanho sãoselecionados em função do produto que se deseja aplicar, da superfície a ser tratadae do volume de calda desejado. A regulagem e calibração são fundamentais.
Não aplicar nas horas mais quentes do dia – o produto evapora antes de alca-nçar o alvo, com ventos fortes – problemas de deriva, e com possibilidade dechuva (dependendo do produto).
Lavar o equipamento e verificar seu funcionamento após cada dia de trabalho.É fundamental, antes de qualquer pulverização, ler a bula para tomar conhe-
cimento das medidas a serem tomadas para melhor eficiência do produto e mini-mização dos riscos.
6.Preparo da calda é a atividade de maior risco, pois o usuário irá manipular oproduto puro, altamente concentrado. A calda deve ser preparada numa quan-tidade suficiente para aplicar na área. Caso sobre calda após a aplicação, diluir 10vezes e aplicar em carreadores e bordaduras.
7.Destino de embalagens vazias dos produtos fitossanitários é uma preocu-pação antiga da indústria. Através da ANDEF, que estabeleceu parcerias no início
da década de 90, em particular com a Associação de Engenheiros Agrônomos doEstado de São Paulo, foi desenvolvida uma metodologia pioneira na descontami-nação das embalagens rígidas (plásticas, metálicas e de vidro) de produtos diluídosem água – a Tríplice Lavagem. Com o advento da Lei Fed. 9.974, de 06/06/00,regulamentada na época pelo Dec. Fed. 3694, de 21/12/00, foi determinada adestinação final de embalagens para reciclagem ou inutilização, tornandoobrigatória, sempre que possível, a operação de tríplice lavagem/lavagem sobrepressão. Foi então criado o INPEV – Instituto Nacional de Processamento de Em-balagens Vazias, uma entidade sem fins lucrativos para gerir o sistema de desti-nação final de embalagens vazias de agrotóxicos. Ela representa a indústria fabri-cante de produtos fitossanitários em sua responsabilidade de conferir a corretadestinação final às embalagens vazias destes produtos utilizados na agriculturabrasileira. Hoje, vigora o Dec. Fed. 4.074, de 08/01/02 que mantém essas exigên-cias. A legislação estabeleceu responsabilidades para os usuários (tríplice lavagemou lavagem sob pressão e entrega de embalagens nas unidades de recebimento),os revendedores (disponibilização e gerenciamento de unidades de recebimento eos fabricantes (recolhimento e destinação adequada das embalagens dos produtosfitossanitários).