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ISSN 1984-9583 Ano III - n. 7 -abr/jun 2011 Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Megatraficantes Como o MPF em Goiás atuou para pôr fim a uma das maiores quadrilhas internacionais de tráfico de drogas Os bastidores da investigação

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Fato Típico - abr/jun 2011

ISSN 1984-9583Ano III - n. 7 -abr/jun 2011

MegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesMegatraficantesComo o MPF em Goiás atuou

para pôr fim a uma das maioresquadrilhas internacionais de

tráfico de drogas

Os bastidores da investigação

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Fato Típico - Goiânia, ano III, n° 7, abr/jun 20112

Ano III - n. 7 - 2011

Fato TípicoRevista do Núcleo de Persecução Criminal daProcuradoria da República em Goiás (PR/GO)

Chefe da PR/GOMarco Túlio de Oliveira e Silva

Coordenador do Núcleo de Persecução CriminalMarcelo Ribeiro de Oliveira

Conselho EditorialDaniel de Resende SalgadoLéa Batista de OliveiraWladimir Ferreira LimaViviane Sousa Lima Ribeiro de OliveiraLucas Carvalho de OliveiraMarcelo Borges Proto de Oliveira

ColaboraçãoMartha Izabel de Sousa Duarte

Produção jornalística(projeto gráfico, diagramação, reportagens e fotos)Ascom da PR/GOAldo RizzoDiene Batista dos SantosJoanatha MoreiraMurillo Buaretto

RevisãoCelso Luiz Correia

EndereçoAvenida Olinda, Edifício Rosângela Pofahl Batista,Quadra “G”, Lote 2, Park Lozandes, Goiânia/GOCEP 74884 120Fone: (62) 3243-5400E-mail: [email protected]

Internetwww.prgo.mpf.gov.br/fato_tipico

Tiragem: 1.000 exemplares

Expediente

04 “O sistema prisionalbrasileiro não tem

nenhuma eficiência”

Nesta edição

ISSN 1984-9583

Marcelo Ribeiro de OliveiraProcurador da República

Entrevista

07 Por trás das grades

Mentes perigosas11

Operação Pérola e suasparticularidades

13

Reportagem

Entrevista

Artigo

Paulo Augusto Moreira Lima Juiz Federal

Renato PosterliPsiquiatra Clínico e Forense

Leia na internet a íntegra dasentrevistas e mais informações sobre o

combate ao tráfico internacional dedrogas em Goiás no site

www.prgo.mpf.gov.br/fato_tipico

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Fato Típico - abr/jun 2011 3

Prezado leitor,

Editorial

Esta edição da Revista Fato Típico descrevea atuação do Ministério Público Federal emGoiás no desbaratamento de uma das

maiores organizações criminosas do país. Trata-se da organização comandada por Leonardo Diasde Mendonça, que foi responsável por intensotráfico internacional de drogas. Fato alarmante éque, mesmo preso, o narcotraficante continuoucoordenando um grande esquema de importaçãoe de distribuição de drogas. Como o direito penalé a expressão de uma política criminal, a análisedesse caso, pela sua magnitude,enseja uma importante reflexãoconcernente ao enfrentamento aotráfico de drogas.

Nesse sentido, a solidez de algunsgrupos criminosos organizadospreocupa. A quadrilha chefiada porLeonardo Dias de Mendonça tinhaexpressiva força, constituída porsua inegável organização. Entresuas principais característicasestavam o planejamentoempresarial, a conexão funcionalcom agentes públicos e acooperação com outrasorganizações criminosas. O poderfinanceiro da quadrilha eraassustador, o que permitia orefinanciamento da atividade criminosa e seuconsequente proveito econômico.

Em razão dos consideráveis rendimentosfinanceiros, que geralmente são utilizados paracorroer as estruturas da Administração Pública,os ordenamentos jurídicos nacional e internacionalobjetivam retirar o principal incentivo do tráficode drogas, qual seja, o lucro. Como se sabe, otráfico internacional de drogas gera consideráveisrendimentos financeiros e forma grandes fortunas.Destarte, o enfrentamento ao tráfico ilícito só seráeficaz quando se conseguir inviabilizareconomicamente essa atividade criminosa.

Com efeito, a utilização de diversas medidas énecessária, como o confisco, resultando na perdade bens utilizados na perpetração do delito e debens provenientes de seu lucro. Ademais, oemprego de instrumentos processuais adequadosé fundamental nesses casos. A não oponibilidadede sigilo fiscal concomitante ao uso de técnicasinvestigativas eficazes pode ser a única forma paraenfrentar satisfatoriamente o crime organizado.

Para tanto, calha asseverar a necessidade deaprimoramento legislativopertinente às possibilidadesprocessuais existentes. Além dainterceptação telefônica etelemática, ganha relevância ouso de técnicas especiais deinvestigação, como escutaambiental, ação controlada,operação encoberta, colabora-ção premiada, vigilância eletrô-nica, proteção a testemunhas.Sem embargo, a falta deregulamentação técnica impedea investigação de recorrer aessas diligências. Por outro lado,os órgãos de controle formalcarecem de investimentos emrecursos humanos e materiais, oque daria maior qualidade à

persecução criminal.

Efetivamente, a sociedade precisa amadurecer arepressão ao tráfico de drogas, que lesiona a saúdepública, destrói famílias e fomenta a criminalidadede rua. Voltar as baterias do Estado para ocombate às grandes organizações que vivem dodelito, especialmente anulando suasmovimentações financeiras, certamente é amelhor solução para viabilizar o efetivoenfrentamento à criminalidade.

Lucas Carvalho de Oliveira

A análise dessecaso, pela sua

magnitude,enseja umaimportante

reflexãoconcernente aoenfrentamentoao tráfico de

drogas

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Fato Típico - Goiânia, ano III, n° 7, abr/jun 20114

Julya SottoSálua Omais

Entrevista

Mestre em Ciências Penais pelaUniversidade Federal de Goiás, PauloAugusto Moreira Lima é juiz federal

substituto da 11ª Vara Federal de Goiânia eprofessor do curso jurídico Emagis. Ex-Delegadode Polícia Federal. Foi aprovado também nosconcursos para Promotor de Justiça e DefensorPúblico. Em seu gabinete, o magistrado recebeua equipe da revista Fato Típico. Na conversa, ojuiz falou sobre os principais problemas queenvolvem o sistema prisional brasileiro.

No Brasil, o que é mais difícil: prender osacusados, condená-los ou mantê-los presos?As dificuldades encontradas pelo MinistérioPúblico, pela Polícia e pela Justiça são praticamenteas mesmas, mas em momentos diferentes. Todostemos várias reclamações a respeito da nossaestrutura, das leis, do orçamento e da falta deinvestimento e de capacitação. A investigação ea prisão dos acusados são difíceis de serem feitasporque esses criminosos acumularam um know-how para praticar os crimes, o que vem nossurpreendendo a cada dia. Depois, o desenrolardo processo e a esperada sentença condenatóriaencontram um ambiente jurídico extremamentearcaico como o nosso, com uma série deinterpretações distorcidas a respeito das garantiasindividuais e um sem-número de recursos.

Quais os fatores que mais dificultam ainvestigação e a aplicação de pena em réus

que atuaram no tráfico internacional?Um dos grandes problemas é a popularização dainterceptação telefônica. A divulgação realizadapelos grandes telejornais trouxe um medogeneralizado entre os traficantes de seremapanhados em diálogos telefônicoscomprometedores. Então, eles se utilizam cada vezmais de linguagem cifrada, de MSN, de Skype ede outras tecnologias. Além disso, as proporçõescontinentais do nosso país, as inúmeras estradase aeroportos clandestinos impedem que a políciafaça um acompanhamento mais próximo deles,até porque não tem efetivo para tal.

Quais as principais deficiências existentes nosistema prisional brasileiro?O sistema prisional brasileiro não tem nenhumaeficiência, com raríssimas exceções. Tudo começacom o tipo de edifícios que são planejados, quetêm capacidade para milhares de pessoas. Essesistema é completamente ultrapassado. Deve-sebuscar prédios menores, com capacidade para nãomais que 250 presos. Outro problema são osagentes prisionais, que precisam ser mais bemremunerados, em contrapartida a uma políticasevera de punição para aqueles que fizerem o levae traz de celulares, drogas, armas e documentospara presidiários.

O sistema penitenciário falha ao administrarinfiltração de aparelhos celulares?A entrada dos celulares é facilitada pela própria

“O sistemaprisional

brasileiro nãotem nenhuma

eficiência”

“O sistemaprisional

brasileiro nãotem nenhuma

eficiência”Paulo Augusto Moreira Lima

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estrutura carente do sistema prisional e pelonúmero diminuto de agentes penitenciários paracobrir a entrada numerosa de familiares. Éhumanamente impossível que os agentesprocedam a uma busca adequada em tudo o queentra no presídio. Isso sem contar que não contamcom equipamentos básicos, a exemplo dedetectores de metal e aparelhos de raios x. Alémdisso, há também alguns maus agentes que utilizamessa estrutura precária como desculpa parajustificar algumas falhas que venham a cometer.

O senhor acredita na efetiva ressocializaçãodos presos?Em relação aos líderes das organizaçõescriminosas, sinceramente não. Para estes urge umtratamento mais severo. A experiência demonstraque essas pessoas não abando-nam a prática criminosa. Alguémque se acostumou a ganharmilhares de reais por semana nãoquer trabalhar depois ganhandoum salário mínimo. Nesse caso,o presídio deve ser usado para aneutralização do criminosocontumaz. Por isso, a legislaçãonão pode ser a mesma para ocriminoso ocasional e para o líderda organização criminosa.

Qual a opinião do senhorsobre a privacidade mínima aque os presos têm direito?Os direitos de intimidade devemser preservados. Mas eu entendoque, conforme ocorre em paísescomo Estados Unidos e Itália, alguns presos têmque ter isolamento total. Qualquer contato com omundo exterior deve ser filmado e gravado. Nãoconcordo, nesses casos, nem com o direito à visitaíntima, porque nessa visita o preso pode transmitirplanos criminosos para a companheira repassarpara seus comparsas que estejam em liberdade.

Mas isso teria que estar claro na legislaçãopenal brasileira?Sim, tem que ser aperfeiçoado. A Lei do CrimeOrganizado (lei nº 9.034/95) é muito tímida paravários desses assuntos.

Pela legislação, é proibida a prisão deusuários de qualquer droga. O senhorconcorda com essa determinação?O nosso sistema não tem uma separação por grau

de periculosidade e classificação de acordo como crime praticado. Então, se admitirmos a prisãodo usuário, ele será encarcerado com o traficante,com o assaltante de banco. Daí, ele tende a serexplorado e arregimentado por algumas facçõescriminosas. Por outro lado, se tivéssemos espaçosadequados, poderíamos até admitir pelo menostratamento compulsório, o que a atual Lei deDrogas não permite. Se o usuário quiserdescumprir todas as medidas impostas fica sujeito,no máximo, a uma pena de multa.

O senhor concorda que o réu o qual cometeo tráfico privilegiado tenha pena restritiva dedireitos em vez de prisão?Não concordo. Esse réu que comete tráficoprivilegiado, via de regra, é explorado pelo médio

traficante que, sabedor que otransporte de grandesquantidades de droga atraibastante a atenção das polícias epode resultar em apenações maisaltas, opta por fazer “tráfico-formiga”, em quantidadespequenas. Ao prevalecer esseentendimento, nenhum traficanteque faz a venda para oconsumidor final vai portar nasruas mais que poucos gramas dedroga. A “mula” não vai sentirtanto receio em ser presa ao sedeparar com o assédio detraficantes. Então, eu entendoque a pena restritiva é umestímulo a essa prática, e os

traficantes agradecem.

O interessante é que, com o objetivo deencontrar brechas nas leis para agirem, ospróprios criminosos se informam muito bemsobre a legislação, não é?Tão bem quanto nós. Na última operação quejulguei, por exemplo, eu recebi três petiçõeselaboradas por alguns presos com um alto graude perfeição técnica. O estilo de escrita era bemtécnico, com qualidade tão boa quanto a derenomados advogados.

Analisar a quantidade e o tipo da drogaapreendida é o suficiente para aplicar a pena?A Lei de Drogas prevê a aplicação de acordo comvários traços: conduta, personalidade, questõesobjetivas e subjetivas. Mas a preponderância é

A legislaçãonão pode ser amesma para o

criminosoocasional e

para o líder daorganizaçãocriminosa

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O Congresso “Liberalismo, Comunitarismo e Garantismo Penal Integral: perspectivas contemporâneas”aconteceu no auditório da Procuradoria da República em Goiás.

da quantidade e da qualidade da droga. Eu entendoque esse padrão é até razoável. A nossaproblemática com as drogas é muito mais amplaque eventuais falhas na legislação. Exemplo disso,tem que ser redefinida nossa política internacionalem relação à Colômbia, Bolívia, Peru e Paraguai,principais exportadores de droga para o Brasil.Sinceramente, não vejo propostas de sanções ouqualquer pressão nesse sentido, apesar da nossapseudo-condição de país líder da América do Sul.Temos uma fronteira seca com mais de 17 milquilômetros, em sua maior parte sem fiscalização.

O embate diplomático que essas sançõescausariam não seria bem mais prejudicial doque a falta de repressão?Então como ninguém quer discutir isso da maneiracomo deve ser feita, os traficantes continuamproduzindo; as pessoas con-tinuam consumindo; e a Polícia,o Ministério Público e os juízesse desdobram para prendermenos de 1% da droga quecorre no mundo. É o mesmoraciocínio que se faz em relaçãoaos paraísos fiscais. Poucostributos, contas numeradas ouem nome de empresas defachada, nenhuma fiscalização.A quem estes países servem?

A legalização resolveriaparte do problema?O tráfico é uma questãointerminável. Se houver alegalização do uso das drogas,quem vai passar a ser alvo dos traficantes? Osmenores de idade, que não podem comprar. Ouse vai para uma nova substância ou se vai paraum público que não pode adquirir aquelasubstância. O proibido é inerente à sociedade.Você fecha uma porta e abrem outra.

O senhor defende a criação de presídios comalas específicas?Alas específicas; presídios menores; agentespenitenciários mais bem pagos, estimulados emelhor vigiados; aparelhos de raios x nospresídios; e bloqueadores de sinais de celulares.Tudo isso precisa ser feito. E eu não observoinvestimentos no sistema penitenciário conformeo que seria adequado.

Em relação ao Brasil, qual a posição do estado

de Goiás na rota internacional do tráficode drogas?Goiás tem uma posição importante, pois estásituado justamente entre São Paulo (que é oprincipal destino final ou a última porta até a saídapara a Europa) e as fronteiras com Bolívia eParaguai – que são as maiores portas de entradade drogas no Brasil. Dessa forma, o estado éutilizado como entreposto de drogas ou mesmocomo destino final. Além disso, temos grandesfazendas. Por esses fatores, é necessária atençãoespecial a esse fator.

A Lei do Crime Organizado prevê apossibilidade de infiltração de agente nasorganizações criminosas mediante préviaautorização judicial. Quais são os pontospositivos e negativos dessa medida?

Essa lei precisa ser mudada,pois não adianta prever ainfiltração se não houvergarantias àquele policial que vaiparticipar da medida. Quaisatos ele poderia praticar? Elepoderia praticar algum atocriminoso? Há a previsão dealguma aposentadoria especial,remoção para outro estado oumudança de identidade?Imagine um policial civil de umestado pequeno que participade uma infiltração. O que elevai fazer depois disso? Elepoderá ser removido, seráaposentado, ganhará uma

pensão? Ou vai ficar lá, aguardando a retaliaçãodo crime contra ele? O Estado não pode colocarseu policial em risco. Essa infiltração semregulamentação é um faz-de-conta.

Quais medidas devem ser tomadas paracombater eficientemente o narcotráfico?A prevenção é o básico. A demanda de drogasvem sendo crescente a cada ano. Isso alimenta otráfico. Mas não adianta trabalhar só na questãoda prevenção se a repressão for deficiente. Nãopodemos ser simplistas e dizer que uma é maisimportante que a outra. As duas frentes sãoimportantes e têm que ser igualmente trabalhadas.

Leia na internet a íntegra desta entrevistano site www.prgo.mpf.gov.br/fato_tipico

O tráfico é umaquestão

interminável (...).O proibido é

inerente àsociedade. Vocêfecha uma porta

e abrem outra

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Um roteiro digno do cinema de Francis FordCoppola: de dentro do presídio, um detentocomanda uma das maiores quadrilhas

especializadas em tráfico internacional de drogasdo Brasil. Com maestria, o presidiário superaforças policiais e consegue administrar uma equipeformada por 35 pessoas, todas elas organizadasem um esquema que trazia cocaína da Colômbiae da Bolívia e a revendia para outros países eestados brasileiros. Entretanto, o que parece serficção não é. Ao longo de quatro anos, essaorganização, de fato, existiu e, após anos deinvestigação, foi desmantelada em uma operaçãoconjunta do Ministério Público Federal em Goiás(MPF/GO) e da Polícia Federal (PF).

Leonardo Dias de Mendonça é o personagemprincipal dessa história real. De meados de 2006até outubro de 2009, ele – que estava preso noComplexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO)– comandou essa associação para o tráfico dedrogas. Denunciada pelo MPF/GO em dezembrode 2009, a quadrilha foi condenada pela JustiçaFederal em 29 de julho de 2010.

Como Leonardo Dias conseguiu comandar essa“macro-organização” criminosa? Como agia cadaum dos envolvidos nesse esquema? Quaiselementos foram necessários para derrubar essaorganização? Por que o estado de Goiás foi opalco onde atuou um dos maiores narcotraficantesdo país? As respostas a estas questões passampor um processo judicial de mais de 520 páginasque levou três anos para ser concluído.

O desbaratamento desse esquema só foi possíveldevido à utilização de técnicas especiais deinvestigação autorizadas pelo juízo da 11ª VaraFederal. A partir daí, o MPF/GO pôde reunirelementos que comprovaram a atuação dessegrupo criminoso que agiu no estado de Goiás.

Um dos fatores que mais contribuiu para facilitara ação dessa quadrilha foi o uso de aparelhos

celulares dentro do presídio. Segundo asinvestigações, em apenas 3 anos – enquantoestava detido na Penitenciária Estadual OdenirGuimarães –, Leonardo Dias de Mendonça trocoude celulares por, pelo menos, 50 vezes. Tal medidaera adotada com o objetivo de despistar o trabalhopolicial. Além disso, os presos chegaram a utilizartelefones públicos instalados no próprio presídio.

Outro aspecto que viabilizou o empreendimentode tal esquema criminoso foi a relação estabelecidaentre determinados detentos com alguns agentespenitenciários do Complexo Prisional de Aparecidade Goiânia. “A organização criminosa somenteconseguiu manter tal logística de comunicaçãoinfiltrando-se, de forma estável, na administraçãocarcerária goiana”, explica a peça acusatória.

Segundo os procuradores da República, LeonardoDias e outros três presos obtinham facilidades“incomuns” na manutenção de diálogos compessoas externas à prisão. Essa relação só foipossível porque os presos do regime fechadoobtiveram o apoio de um dos agentes de segurançaprisional do Complexo. Mádson MachadoMilhomen, que era diretor da penitenciária, permitiuque Leonardo Dias e demais presos executassem,dentro do presídio, uma espécie de “empresa decall center”. Além disso, Mádson Machadorepassava cartas com orientações e estratégiasde ação a outros membros da organização.

Um outro grupo que também atuava no tráficointernacional de drogas se associou ao bando deLeonardo Dias. A quadrilha chefiada por EmílioTeixeira Campos mantinha contato com o grupoformado por Leonardo Dias. Ambos atuavam, nasnegociações do tráfico, lavando dinheiro econferindo apoio logístico a membros da outraquadrilha. Por suas atuações, Emílio Teixeira veioa se tornar um “megatraficante”, maior, inclusive,que o próprio Leonardo Dias.

Para manter um esquema criminoso tão complexoe tão duradouro, todos os envolvidosdesenvolveram técnicas de “contra-inteligência”.Nas conversas que mantinham com pessoas defora do presídio, os detentos utilizavam umalinguagem cifrada. Nos áudios gravados, é possívelencontrar uma série de termos metafóricos (parareferir-se à cocaína, falavam “motores”,“bezerros”, “cacau”, “cadeiras”, “queijos” etc.).Nos diálogos, os membros tomavam o cuidado deresguardar contatos pessoais e detalhes decisivos

Capa

Por trásdas grades

Por trásdas grades

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de uma determinada operação de tráfico.

Apesar disso, foram realizadas pequenasapreensões de cocaína importada e transportadapela associação. Entretanto, a maior parte dosgrandes carregamentos não foi flagrada pelosórgãos de persecução criminal. Ao longo de trêsanos, a quadrilha de Leonardo Dias de Mendonçatraficou cerca de 360 quilos de cocaína.

Depois do trabalho de investigação, coube ao MPF/GO elaborar as denúncias e encaminhá-las àJustiça. As peças acusatórias explicam,detalhadamente, como agiam cada um dosenvolvidos no esquema criminoso deflagrado pelaintitulada Operação Pérola.

Diante da complexidade do caso – que sediferenciou de qualquer outro esquema que jáhouvera existido em Goiás –, a aplicação da leiaos fatos exigiu da Justiça Federal uma análisecriteriosa sobre as ações de todos os membrosdesse “macrocrime”. “A denúncia descreveusuficientemente e de forma individualizada os fatosatribuídos a cada um dos acusados, possibilitando-lhes claramente a compreensão dos contextosfático-delituosos”, explica a sentença.

A decisão judicial considerou, na dosimetria daspenas, uma série de fatores, entre eles:culpabilidade, antecedentes criminais,personalidade do réu, conduta social, motivos docrime e circunstâncias. Por isso, há uma notáveldiferença nas penas aplicadas aos membros doesquema criminoso. Leonardo Dias de Mendonça,por exemplo, foi sentenciado em 8 anos e 2 mesesde prisão em regime fechado, ao passo que amaioria dos outros envolvidos, em 4 a 5 anos dedetenção. Leonardo Dias cumpre pena no presídiode segurança máxima de Catanduvas (PR).

O ex-diretor do Complexo Prisional de Aparecidade Goiânia Mádson Machado Milhomen foicondenado a 4 anos e 6 meses em regimesemiaberto. A maior pena foi aplicada a EmílioTeixeira Campos. Sua pena foi de 18 anos e 6meses de prisão em regime fechado. Até hoje, 16pessoas foram condenadas.

O crime de associação para o tráfico está previstono artigo 35 da Lei 11.343/2006. A configuraçãodo tipo penal exige a finalidade voltada para ocometimento dos crimes descritos nos artigos 33,caput e §1º, e 34 – ambos da Lei de Drogas. Alémdisso, exige ainda a estabilidade e a permanência

do vínculo entre os participantes do esquema criminoso –situações presentes nesse caso.

Com o objetivo de controlar e reprimir o crescimento docrime organizado, a comunidade internacional estabeleceua Convenção de Palermo. Esse modelo foi adotado no Brasilpelo Decreto 5.015/2004, que deve ser lido em conjuntocom a Lei 9.034/1995. Em virtude desse instrumentonormativo, para julgar as quadrilhas que foram deflagradasna Operação Pérola, a Justiça observou os traçosdelineadores estipulados no referido decreto.

Além da visível fragilidade do sistema penitenciário goiano– que viabilizou e, literalmente, permitiu a conduta doscriminosos –, o esquema coordenado por Leonardo Dias deMendonça foi facilitado ainda pela localização de Goiás noterritório nacional. Devido à sua posição geográfica, o estadode Goiás funcionou como um ponto estratégico no tráficointernacional de drogas. Por estar localizado entre São Pauloe as fronteiras terrestres com Bolívia e Paraguai, Goiás foiutilizado como entreposto nas rotas do narcotráfico.

Modus operandi complexo, linguagens cifradas, muitaspessoas envolvidas no crime, corrupção por parte de agentespenitenciários, sistema prisional deficiente, localização

Processo 14319-32.2010.4.01.3500 JF/GOCondenações em Regime Fechado)13. Emílio Teixeira Campos – 18 anos e 6 meses

Processo 14319-32.2010.4.01.3500 JF/GO(Condenações em Regime Fechado):

Emílio Teixeira Campos – 18 anos e 6 mesesMarcelo Santos Sarruf – 7 anos e 7 meses

Ronaldo Ferreira de Melo – 12 anos e 10 mesesWanderson Campos Silva – 5 anos e 10 meses

SentençasProcesso 0015131-74.2010.4.01.3500 JF/GO

(Condenações em Regime Fechado):Leonardo Dias de Mendonça – 8 anos e 2 meses

Weyvel Zanelli da Silva – 4 anos e 4 mesesJoão Daniel Alves Rabelo – 4 anos e 1 mês

Clodoaldo Antônio Felipe – 5 anos e 3 mesesRóbson Rangel – 4 anos e 1 mês

João Luís Diógenes Freitas – 4 anos e 8 mesesWagner Luís Bernardes de Freitas – 4 anos e 8 meses

Waldirene Watt Alves da Silva – 3 anos e 6 mesesMazolene Alves dos Santos – 4 anos e 4 meses

Glékson André dos Santos – 4 anos e 1 mêsWogno Aparecido Vitor Martins – 7 anos e 9 mesesMádson Machado Milhomem – 4 anos e 6 meses

(em regime semiaberto)

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Fato Típico - abr/jun 2011 9

estratégica do estado de Goiás na rota do crime.Os motivos que tornaram a quadrilha coordenadapor Leonardo Dias de Mendonça uma das maioresjá instaladas em Goiás são muitos. E, apesar detodos esses fatores, as ações do Ministério PúblicoFederal e da Polícia Federal garantiram odesmantelamento efetivo do grupo.

Modus OperandiO assombro desse caso revela quão qualificado é ocrime organizado no Brasil. Para desmantelar essarede criminosa, foi necessário o uso de técnicas deinvestigação apuradas, além de uma estratégiacoerente do MPF/GO para denunciar os 35envolvidos presos na denominada Operação Pérola,deflagrada em outubro de 2009. O trabalho dosprocuradores do Núcleo de Persecução Criminalteve que se dividir em duas peças acusatórias. Aprimeira, com 70 páginas, denuncia o grupo lideradopor Leonardo Dias de Mendonça (13 pessoas),enquanto que a segunda aponta o grupo de EmílioTeixeira Campos (22 pessoas).

Como em toda associação criminosa, havia divisãode trabalho e compartimentação de informações emestrutura hierarquizada. Assim, é perfeitamentepossível afirmar que o comando das operaçõesficava a cargo dos traficantes encarcerados, aopasso que aos demais denunciados restavam ocumprimento de ordens e a execução de tarefasdeterminadas pelos líderes.

As grades do Complexo Penitenciário de Aparecidade Goiânia não impediram a entrada de celulares;os muros e as paredes não separaram o “megatraficante”Leonardo Dias de Mendonça dos companheiros que estavamem liberdade e da organização criminosa que comandava.A conivência de agentes prisionais foi fundamental paradriblar o isolamento das celas e propiciar o contato com omundo externo. Entretanto, o trabalho do Ministério PúblicoFederal e da Polícia Federal, devidamente reconhecido pelaJustiça Federal, pôs fim à atuação do bando.

O grupo associado para o tráfico internacional einterestadual de cocaína começou a ser desbaratado emoutubro de 2006. Junto com os comparsas Robson Rangel,Clodoaldo Felipe e Mazolene Alves, Leonardo Diascomandava a importação e a distribuição de grandesquantidades de droga provenientes da Colômbia e da Bolívia.

Encarcerado, o “megatraficante” valia-se dos demaisacusados, especialmente dos advogados Wogno Vítor eWeyvel Zanelli, do comerciante João Daniel Rabelo e desua esposa, Waldirene Watt, de João Luís, de Wagner LuisBernardes de Freitas, de Glékson Santos, de Alber Tolosa e

do então diretor da Penitenciária OdenirGuimarães, Mádson Machado Milhomen, paracontinuar no controle do esquema de tráficointernacional e interestadual de entorpecente.

A logística de comunicação só pôde ser mantidapor causa da infiltração, de forma estável, naadministração carcerária de Goiás. De acordocom os procuradores da República, “a quadrilhaexplorou as mazelas do falido sistema prisionalgoiano. Enquanto os presos do regime fechadofaziam uso de telefones, Clodoaldo Felipe, presodo regime semiaberto, tinha ampla liberdade parapassear pelo país e continuar suas atividades notráfico de drogas.”

O uso da linguagem cifrada não impediu que aPolícia Federal apreendesse pequenasquantidades de cocaína importadas etransportadas pela associação, mas evitou que amaior parte dos grandes carregamentos fosse

Europa

Colômbia

Suriname

AM PA

GO

TO

RR

Bolívia

Venezuela

Da Venezuela, a cocaína entrava no Brasil por terra até Manaus ouBoa Vista e, a partir daí, a droga era distribuída para outros pontos

Das regiões produtoras da Colômbia, a cocaína era enviada parao Suriname em pequenos aviões, e de lá, para os estados do Pará,Tocantins ou Goiás (rota Suri-Cartel).

A partir de 2007, utilizando transporte aéreo, a quadrilha passou atraficar cocaína direto da Bolívia para Goiás. No Brasil, a cocaínaera distribuída para diversos estados.

A Rota do Tráfico

Brasil

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Fato Típico - Goiânia, ano III, n° 7, abr/jun 201110

flagrada pelos órgãos de persecução. Porém,detalhes decisivos das operações de tráfico eramrepassados apenas pessoalmente. Leonardo Dias,Robson Rangel e Clodoaldo Felipe tinham comoprincipais contatos pessoais o comerciante JoãoDaniel Rabelo e o advogado Weyvel Zanelli, quese dirigiam até o Núcleo de Custódia de Aparecidade Goiânia e levavam ordens dos traficantespresos aos demais membros da organização, tantoaos financiadores do esquema quanto aosreceptadores da droga.

Rota do tráficoO traficante Leonardo Dias de Mendonça montouum articulado esquema para importar cocaína denações vizinhas e distribuí-la em diversos estadosbrasileiros, além de exportá-la para a Europa e para osEstados Unidos. A ação daorganização criminosaconsistia, primeiramente, emimportar para o territórionacional grandes quantidadesde cocaína da Colômbia ou daBolívia. A droga eratransportada em pequenosaviões diretamente dasregiões produtoras para oBrasil. Dois eixos geográficoseram usados para aimportação: das regiõesprodutoras da Colômbia parao Suriname e do Surinamepara os estados do Pará,Tocantins ou Goiás.

Durante um longo período, aorganização criminosa operousomente na rota Colômbia-Suriname, conhecidacomo Suri-Cartel, na qual a cocaína colombiana épaga via contrabando de armas (com a principalfinalidade de abastecer o grupo armado ForçasArmadas e Revolucionárias da Colômbia – Farc).A Venezuela também chegou a ser utilizada comoescala. Nesse caso, a quadrilha trazia a cocaína,por via terrestre, até Manaus ou Boa Vista edistribuía a droga para outros pontos do Brasil porvia aérea.

Em um segundo momento (entre agosto de 2007e outubro de 2009), a quadrilha passou a traficarquase que exclusivamente cocaína da Bolívia, dequalidade e de preço inferiores. O tráfico pela rotaboliviana utilizava-se do transporte aéreo

diretamente para Goiás, principalmente pelaquestão da proximidade territorial.

Para realizar as importações, Leonardo Dias deMendonça manteve, durante o ano de 2006, ocomparsa Wogno Vítor, na Colômbia, para servircomo garantia pessoal de que a droga seria paga,além de tratar pessoalmente dos detalhes para otransporte da cocaína. Por trás das grades, ostraficantes Leonardo Dias e Róbson Rangelcomandavam, via telefone, a negociação deentorpecente, combinando inclusive preços,quantidade e forma de pagamento.

João Daniel Rabelo, Weyvel Zanelli e João LuísFreitas eram utilizados por Leonardo Dias de

Mendonça para a realizaçãode contatos com osreceptadores da droga, naobtenção de valores e degarantias para a importaçãoilícita. Com a droga em mãos,iniciava-se uma segunda erápida etapa: a venda doentorpecente para umreceptador já contratado.Assim, a quadrilha recebia omais rápido possível o lucrodos negócios. Essa era aestratégia usada para diminuiros riscos de serem flagradospela polícia ou de precisaremarmazenar a droga noterritório nacional.

De acordo com o processo, ogrupo pretendia ainda fazer doBrasil e do Suriname apenas

uma escala logística para o transporte da cocaína,que seria encaminhada diretamente para a Europa.No segundo semestre de 2007, a quadrilha passoua contatar traficantes bolivianos ou brasileirosradicados na Bolívia, como Robin Rosales,Romilton Queiroz, Ademir de Almeida Amadeu eEcival de Pádua Santomé.

Nessa logística, Leonardo Dias de Mendonça,Mazolene Alves e Clodoaldo Felipe negociavamdiretamente a quantidade e o preço da cocaína evaliam-se dos serviços de Weyvel Zanelli, de JoãoDaniel, de Glékson Santos e de Alber Tolosa, parabuscarem a droga e entregarem em Goiânia eadjacências. Wogno e João Luís tambémdistribuíram entorpecente da Bolívia no Brasil.

A fragilidade dosistema

penitenciáriogoiano e a

localização deGoiás no paísviabilizaram o

esquema criminosocomandado porLeonardo Dias

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Entrevista

Ao iniciar o comércio de drogas, um indivíduovai, aos poucos, tornando-se cada vezmais frio e insensível ao sofrimento do

usuário, do dependente e de seus familiares. Éassim que a psiquiatria forense descreve a condutado grande traficante. Para conhecer a mente e asmotivações de quem ganha a vida trilhando as rotasdo tráfico, a equipe da Fato Típico conversou como psiquiatra Renato Posterli. Professor deMedicina Legal e Psiquiatria Forense na Faculdadede Medicina da Universidade Federal de Goiás,Posterli tem várias obras publicadas, entre elas,“Aspectos da psicopatologia forense aplicada”.

Quais os principais fatores sociais epsicológicos/psiquiátricos que impulsionamum indivíduo a se tonar um grande traficante?De um modo geral, um grande traficantecaracteriza-se por transtorno de personalidadeantissocial, que não é doença. De uma maneiramais simplista, é personalidade psicopática, oclássico psicopata. Não é por fator social que tal

indivíduo é impulsionado para esse tipo de crime.Ser psicopata é de sua constituição, ou seja, nadade ambiental influindo. Essa grave alteração deconduta é incorrigível, não tem tratamento, poisnão é doença. O grande traficante sempre faz comque os outros sofram e é egossintônico, isto é,harmonizado, sintonizado tão-somente consigomesmo. Ele é personalidade psicopática fria deânimo, amoral, aética, perversa, desalmada, capazde, se preciso for, matar sem ser atingidoemocionalmente e sem ter remorso, desde quematar seja-lhe vantajoso. Pelo seu comportamento,o traficante é personalidade anormal, porém nãoé doente mental. Ele tem conhecimento do certoe do errado, mas não vivencia emocionalmenteesse certo e esse errado. Apresenta mímica deemoção, ou seja, não tem o acompanhamentofisiológico com reação mímica verdadeira, típicade quando vivenciamos emoções que tocam nossosuceder interno. Chama-se isso muro ilegítimo deexpressão, pois é frio de ânimo. Pode até ser queum grande traficante mostre-se, na prisão,aparentemente polido, cordato, educado, semcometer infrações e respeitoso das formalidades,dos funcionários e das autoridades. Isso é o quese chama formação reativa: desenvolvimento detraços psicológicos exatamente o oposto do quese é na realidade.

Que mudanças podem ser verificadas nasatitudes de quem passa a vender drogas?Quem passa a comercializar drogas vai, aospoucos, tornando-se cada vez mais frio de ânimoe insensível ao sofrimento do usuário, dodependente e de seus familiares. Costuma, demodo espúrio, escuso, “prosperar” e, visando aolucro, rege-se tão-só pela “intenção lucrativa”,pelos ganhos. Não raro, além de vender e decomprar, pode até roubar e mesmo matar,sequestrar, para satisfazer o desejo de lucro, deganho perverso. Bem se sabe, tristemente, que asdrogas constituem verdadeira pandemia que varreo mundo da juventude. E assim, o traficante fazfortuna à custa da desgraça e do sofrimentoalheios. Por isso mesmo, é desprovido desentimentos superiores como o dó, a compaixão,a honestidade, o remorso, a consciência moral,pois, o traficante é “disposicionalmente” frio deânimo, aético, perverso, desalmado.

Como o senhor analisa a situação de famíliasque mudam totalmente o estilo de vida,adquirindo bens materiais, com os recursos

Mentes perigosas

Mentes perigosas

Renato PosterliRenato Posterli

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Fato Típico - Goiânia, ano III, n° 7, abr/jun 201112

Janice Agostinho Barreto Ascari. Procuradora Regional daRepública. Mestre em Direito, especialista em Mercado

Financeiro e de Capitais. É membro da AcademiaBrasileira de Direito Criminal.

do tráfico? Nesses casos, os traficantes sãoreforçados a continuar na criminalidade?Com os recursos do tráfico, esse condutopata, queobviamente visa ao lucro, vende a droga, e com oarrecadado, ou empata em mais droga para vendere aumentar o capital, ou empata em outra áreaque supõe bom negócio, até mesmo como fachada.Nesse âmbito, pode adquirir casas, carros e outrosbens materiais, propiciando um estilo de vidadiferenciado para a família e para si mesmo.Família essa que não há por onde escapar, pois ésatélite girando em torno de conduta antissocialdo genitor. É este o centro das provisões e osfamiliares o epicentro daespúria conduta. Ora, se seugesto “pseudoprofissional” vaidando certo, a par de aparente,de novo e de promissor estilode vida, inclusive à família, ostraficantes são, comportamen-talmente, reforçados aprosseguir na criminalidade,pois essa mudança plena deestilo de vida é o elementoreforçador positivo à cri-minogênese. Daí, a neces-sidade de rigor na execuçãodas penas, bem como aatualização delas e, porconseguinte, ausência delaxismo ou de leniência da leipenal brasileira.

O trabalho com o tráfico dedrogas pode fazer que ocriminoso acredite que éum empresário comoqualquer outro?Pode sim comportar-se comose fosse empresário. É um “como se”. Trata-se,pois, de um comércio ilícito, de mercancia escusa.Assim sendo, é como se fosse “firma”, de mentira,inautêntica, já que não tem o respaldo dosrequisitos que a classifiquem como aberta, decapital fechado ou então pública. Existe,perniciosamente, de fato e não de direito, comose “empresa” fosse. Daí o modo de se conduzirsempre à marginalidade, pois a motivação é asatisfação plena do desejo lucrativo seja como for,mesmo que isso envolva, nos casos mais radicais,tortura, sequestro, assassinato. Há no caso, nasubcultura do crime, uma identificação como

“empresário”, com um arremedo de empresário,sem limite, sem barreira, sem fronteira, como tudono mundo psicopático. E isso, do ponto de vistafenomenológico, não é explicável e, sim,compreensível psicologicamente, claro queinaceitável. Haja vista, Fernandinho Beira-Marque mesmo preso em cadeias de “segurançamáxima”, desembolsa, no total, coisa de um milhãode reais, em compra de maconha e cocaína doParaguai, e embolsa, tranquilamente, sem ônusprevistos em lei, outros dois milhões e meio dereais, mensalmente. Que ou quantos empresários,em nossos dias, embolsam todos os meses,

seguramente, dois milhões emeio de reais? Como tal nãoconta com respaldo jurídico,trabalhista e de receitaempresarial que a lei prevê edisciplina. Por isso mesmo, osnegócios soem ser, no caso deBeira-Mar, a “pulso-de-ferro”: ninguém ousatrapacear. É uma persona-lidade, no seu modo de agir,no seu caráter, que é aexpressão social e volitiva dapessoa, proativa à suamaneira, incisiva, inflexível,implacável. Em síntese, vê-seque um grande traficantecerca-se de cuidados tais porsaber que não é um“empresário” como outroqualquer, justamente porperpetrar e para perpetuarseus negócios de naturezamalsã. Entende e sedetermina de acordo comesse entendimento, qual seja,

o do fato ilícito, quando na verdade, do ponto devista comportamental e moral, há exigibilidade deconduta diversa. Tem sua libertas intellectus,libertas judicii de acordo com sua libertaspropositi, libertas consilii. Sente-se “empresário”no âmbito lucrativo, apesar de convicto da ilicitude.Já um verdadeiro empresário não age, obviamente,como um grande traficante em relação aoscuidados referidos, pois disso não necessita, umavez que tem a estrutura e o respaldo que a leiprevê e disciplina. Assemelha, sim, quanto àobtenção de lucro, que é fato-objeto de todaempresa, mas distancia no modo de consegui-lo.

Os instrumentos deeducação de massa

só oferecem aojovem ou modelos

inautênticos deexistência ou

padrõescaricaturescos que

transformam os maispuros valoresexigidos pelajuventude em

simples objeto deconsumo

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Fato Típico - abr/jun 2011 13

“Os administradores daAvestruz Master tentavam, de

todas as formas, burlar e escaparda fiscalização da CVM”Lamentavelmente, nos dias atuais, a notíciade apreensão de grande quantidade dedroga não se mostra grande novidade. O

Brasil é rota para a promoção do tráficointernacional de drogas, sobretudo, provenientesde países vizinhos.

Nesse cenário, as apreensões, no total de mais detrezentos quilos de cloridrato de cocaína, ao longodas investigações, que ficaram conhecidas comoOperação Pérola e que redundaram nooferecimento de ações penais por tráfico e porassociação para o tráfico internacional de drogas,julgadas procedentes em sua maior extensão, nãotornam o caso particularmente relevante.

Os aspectos que despertam maior interesse e quejustificam as presentes reflexões são os seguintes:o contexto em que os crimes foram perpetrados eas investigações iniciadas; o uso de avançadastécnicas de “contrainteligência” por uma dasassociações investigadas; a natureza horizontal daoutra associação condenada e a adoção detécnicas especiais de investigação.

As apurações tiveram início quando se tevenotícia de que L.D.M., traficante anteriormentecondenado em ação penal movida pelo MinistérioPúblico Federal e então preso na PenitenciáriaOdenir Guimarães, vinha mantendo suasatividades de tráfico, mesmo custodiado. Pelosterminais telefônicos utilizados, coincidentes, emparte, com alguns dos telefones monitorados nainvestigação anterior em que dito traficante foipreso, a probabilidade de que a notícia fosseverdadeira era grande. Considerando-se que omonitoramento telefônico seria medida invasiva,optou-se pela checagem dos terminais telefônicos

Um grande traficante comporta-se então “comose” e, por isso mesmo, cerca-se de cuidados.

O senhor acredita que atuação das escolas,das famílias e até mesmo de movimentosreligiosos é importante para coibir a entradade jovens para a criminalidade?Sim, isso faz pleno sentido. Por isso mesmo, asociedade há de ter participação no enfrentamentoao tráfico, por meio, por exemplo, das escolas,das próprias famílias e do importante eindispensável substrato religioso. O que temosganhado em comodidade externa, havemos, emcontrapartida, perdido no aprimoramento anímico,espiritual. A meta da escola é o preparo do alunopara viver e conviver neste mundo em que égritante a falta de humanidade e do binômio ético-moral. É a educação que deve mostrar ao jovemque a Moral não é um código de proibições e,sim, uma doutrina para tornar os homensmelhores. No âmbito culturalista, deve colocar ojovem em contato com os grandes espíritos dahumanidade, com as pessoas veneráveis de suacomunidade, que personificam os valoressubstanciais da existência, para com elesidentificar-se e introjetar valores autênticos, ouseja, incorporá-los no seu âmago. Os instrumentosde educação de massa como cinema, rádio, jornal,teatro e televisão só oferecem ao jovem oumodelos inautênticos de existência ou padrõescaricaturescos que transformam os mais purosvalores exigidos pela juventude em simples objetode consumo. Diante do trinômio “escola-família-religião”, dentro de uma visão culturalista para ainterpretação desse gravíssimo fenômeno socialdas drogas, é preciso considerar a psicologia dojovem; a circunstância do mundo atual; a educaçãopara que não descuide da formação dapersonalidade do jovem; os modos inadequadosde o jovem procurar resolver seus problemas econflitos; a estrutura familiar como “célula-máter”da sociedade, essa casa grande da família enorme;atenção à política de saúde pública comparticipação efetiva do Estado, que tem deixadomuito a desejar; o substrato religioso, pois averdadeira religião orienta, edifica, transcende.

Leia na internet as edições anteriores darevista Fato Típico no site

www.prgo.mpf.gov.br/fato_tipico

Artigo

OperaçãoPérola e suas

ParticularidadesFactuais eJurídicas

OperaçãoPérola e suas

ParticularidadesFactuais eJurídicas

Por Marcelo Ribeiro de Oliveira*

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NOTÍCIASutilizados nas imediações da penitenciária, tendosido confirmada a utilização dos númerosanteriormente conhecidos e de diversos contatos,muitos com outros terminais em Portugal e,principalmente, no Suriname.

Com essa base indiciária, iniciou-se, após o devidopedido em juízo, a realização de escutastelefônicas. Com elas, confirmou-se a intensanegociação de drogas, em particular, cocaína,sendo que L.D.M. contatava tanto fornecedorescolombianos quanto intermediários no Suriname.O destino da droga, em regra, era a Europa.

O que mais chamou a atenção e que pode tambémser comprovado foi a presença de advogados,notadamente um, W.Z.S., realizando a função depombo correio, inclusive, paraa entrega de chips paraaparelhos de telefonia móvel,de baterias e de novosaparelhos e, principalmente, aabsoluta conivência da direçãodo presídio à época dasapurações, tendo sidointerceptado áudio em que háexpresso pedido de umavantagem por parte do entãodiretor, M.M.M., a um dos“funcionários” de L.D.M.,J.D.A.R., que, em audiência,destacou, gesticulando o sinal deaspas, o funcionamento das“visitas assistidas” em favor deL.D.M., em que a sala dodiretor era franqueada a ele e a um visitante dele,sem qualquer espécie de monitoramento ouacompanhamento de ambos. A sua exposiçãodeixou bastante claro que com o completobeneplácito da administração, L.D.M. agia comobem entendia dentro daquele Presídio. Suaremoção para um presídio federal de segurançamáxima, pedida pelo Ministério Público Federal eacolhida pelo Judiciário Federal, mostrou-seabsolutamente necessária.

Esse, nas breves considerações sobre o que sepretende fazer aqui, é um dos aspectosdiferenciados da Operação Pérola. A promoçãode intensas negociações de drogas em larga escaladeveu-se à corrosão, ao menos temporária, departe do sistema prisional goiano. As facilidadesviabilizadas por servidores públicos, que tinham omister de zelar pela segurança e pela disciplina

no local, foram fundamentais para a consecuçãodo tráfico. Felizmente, sem embargo de oMinistério Público Federal ter recorrido visandoao aumento de pena, sobretudo, ante a nãoaplicação da causa de aumento ao servidor quedetinha cargo de direção, a gravidade de tais fatosfoi reconhecida em sentença com a condenaçãonão apenas dos traficantes, mas do servidor, pelaprática de corrupção passiva.

Não chegou a ser objeto da operação em tela,mas esses graves fatos não pararam no tráfico.Há depoimentos absolutamente chocantes detestemunhas sobre homicídios ordenados a mandode um dos traficantes e executados na frente dodiretor do presídio que, sadicamente, assistia atudo. Esses fatos foram comunicados ao Ministério

Público do Estado de Goiás,ante a atribuição para conduzira possível persecução penal.

Outro aspecto, que seapresenta como traço distintivoda Operação Pérola, emanálise comparativa comoutras investigações eposteriores persecuçõespenais, revela-se no uso deavançadas técnicas de“contrainteligência” poruma das organizaçõescriminosas investigadas.

Nas investigações, em que háo uso de interceptação tele-

fônica, percebe-se que chega a ser lugar-comum,o uso de linguagem dissimulada, muitas vezesapenas compreensível no contexto global dosdiálogos e na vigilância dos investigados. Por vezes,como ocorreu na Operação Pérola, alguns errosna “codificação” empregada facilitam aconstatação da natureza, no mínimo, suspeita dosdiálogos travados.

Na Operação Pérola, observou-se o uso deanagramas, nos quais a mensagem apresentaconteúdo ininteligível sem uma compreensãoprévia dos interlocutores. O número de umtelefone, por exemplo, 9123-4567, poderia serencaminhado para contato futuro entre osmembros da quadrilha, pelo código OPERNAMB,bastando, previamente, que os interlocutoresajustassem o código “PERNAMBUCO”, em quecada letra, na ordem, corresponde a um número.

O Brasil é rotapara a promoção

do tráficointernacional de

drogas,sobretudo,

provenientes depaíses vizinhos

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Daniel Salgado

Esses números eram trocados em mensagens detexto e telemáticas. Nessas, além dessas trocasde números para ulteriores contatos telefônicos,observaram-se diversos diálogos, em regra, muitocifrados e com constantes trocas de endereçoseletrônicos. Mesmo com a adoção dos expedientesdiversionistas, o trabalho consistente decompilação de informações, aliados a diligênciasde campo, permitiram o oferecimento das açõespenais e a procedência delas, em sua maior parte,sem prejuízo de recursos tanto do MinistérioPúblico, quanto dos apenados.

Aspecto que despertou a atenção na OperaçãoPérola deu-se também sob o ângulo factual,notadamente, sob o prisma da estruturação de umadas organizações criminosas denunciadas. É muitofrequente, pautado no sensocomum ou até por inspiraçãohollywoodiana, acreditar que asorganizações criminosas sãoestruturadas unicamente sob oarranjo piramidal, com a figura deum chefe, de um “capo”. Esseformato, por óbvio, existe, masnão é o único.

Em uma das quadrilhasdenunciadas, o que se viu foijustamente uma associaçãohorizontal para a prática decrimes. Havia uma quadrilha bemdefinida, com pessoas semhierarquização entre si, quepossuíam atividades criminosasisoladas, ou com seus funcionáriose as quais se reuniam, habitualmente, para aprática de crimes de modo associados. Em umparalelo simplório com estruturas comerciais,poder-se-ia dizer que a quadrilha denunciada comtal formatação era uma holding de diversasempresas do crime.

Por fim, nessas breves considerações, destaca-se o papel de primazia do Ministério PúblicoFederal na condução do método especial deobtenção de meios de prova, consubstanciado nacolaboração premiada.

Os membros que oficiaram no feito analisaram oselementos de prova anteriormente colhidos e adisposição de alguns integrantes da organizaçãoem colaborar com o caso, não tendo sido aceitasas propostas de delação realizadas. A grande

dificuldade na condução dessas colaborações foipontuar com os acusados e com seus defensoresque a delação não se confunde com confissão eque os benefícios são pugnados pelo MPF,conforme o grau de relevância da colaboração.

Evidentemente, alguns envolvidos, de plano, foramexcluídos sequer da possibilidade de se conversarsobre a colaboração. Entre eles, estão as figurasque pareciam possuir menor conhecimento sobreo caso, desempenhando funções maisoperacionais e, sobretudo, aqueles que exerciampapel de líderes das organizações. Não faz sentidopremiar-se o chefe de uma quadrilha por entregaro modo de atuação de seus subordinados.Desejasse ele colaborar com a investigação, ter-se-ia um caso de confissão e não de delação

premiada. Graças a uma dessasdelações, foi possível aapreensão de mais de 30quilogramas somados aos demaisapreendidos. Nas drogasapreendidas, foram feitosexames químicos a fim de osresultados serem confrontadosentre si, o que foi útil parademonstrar a identidade do“DNA” das drogas e a origemcomum, sepultando aargumentação de que seriamapreensões desconexas.

A operação foi desmembrada,não sendo julgada a demanda emrelação a réus foragidos, aos quenão foram presos e àqueles que

não continuaram presos no curso da instrução.Não se espera resultado distinto em relação a essaação pendente.

Sem prejuízo dos diversos perdimentos decretadose da existência dos procedimentos para a alienaçãocautelar dos bens apreendidos e sequestrados,conforme pedido do Ministério Público Federal,por ocasião da deflagração da operação, resta ainvestigação para apurar a lavagem de ativos.Esta, todavia, será em larga medida facilitada, hajavista o descortino da estruturação dasorganizações promovido ao longo dessas açõespenais ora relatadas.

* Marcelo Ribeiro de Oliveira é procurador daRepública em Goiás, Mestre em Direito e Estadopela UnB e Coordenador do Nucrim/PR/GO.

É muito frequenteacreditar que as

organizaçõescriminosas são

estruturadasunicamente sob oarranjo piramidal,com a figura de

um chefe

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ProjetoProjetoProjetoProjetoProjetoMPF/GO em MPF/GO em MPF/GO em MPF/GO em MPF/GO em CampusCampusCampusCampusCampus

ProjetoProjetoProjetoProjetoProjetoMPF/GO em MPF/GO em MPF/GO em MPF/GO em MPF/GO em CampusCampusCampusCampusCampus

Objetivo: Apresentar a Instituição,suas Atribuições e Despertar Vocações

Objetivo: Apresentar a Instituição,suas Atribuições e Despertar Vocações

Público Alvo: Estudantes UniversitáriosPúblico Alvo: Estudantes Universitários

Programação: Palestras comProcuradores da República,

Vídeos Institucionais eVisita ao Acervo do Memorial.

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Agendamento de visitas:e-mail: [email protected]

ou pelos telefones: (62) 3243-5337 ou 5396

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