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MEMÓRIA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FISICA SOBRE AS POLITICAS EDUCACIONAIS DO ESTADO DO PARANÁ (1995 – 2002): O COLÉGIO
ESTADUAL POLIVALENTE DE LONDRINA
Nilton Rodrigues Santana1
Tony Honorato2
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo: Identificar as políticas educacionais
implantadas no Estado do Paraná, no período de 1995 – 2002, e seus
desdobramentos no fazer pedagógico segundo a memória dos professores da
disciplina de Educação Física do Colégio Estadual Polivalente. Intervir por meio de
um grupo de reflexão para compartilhar, com os atuais professores do Colégio
Estadual Polivalente, as políticas desenvolvidas e as memórias preservadas, para
que assim seja possível dialogar passado e presente na ação pedagógica e na
organização da Escola.
Palavra-chave: Educação física, memória e políticas educacionais. Abstract: This research aims to: Identify educational policies that are deployed in the
State of Paraná, in the period 1995-2002, and its ramifications in doing teachers '
memory in teaching of physical education discipline of Colégio Estadual Polivalente.
Intervene through a reflection group to share with today's Multipurpose, State College
teachers the policies pursued and the memories preserved, so you can discuss past
and present in the educational action and organization of the school.
Keyword: Education physic, memory and Politic Educational.
1 Professor Pesquisador PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional. Londrina – PR/ 2012.
Graduação em Educação Física – UEL - Universidade Estadual de Londrina - Pr. Especialista em Sociologia e
Sociologia da Educação pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Educação de Jovens e
Adultos pela UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
E mail: [email protected].
2 Professor Orientador: Dr. Departamento de Educação Física. Universidade Estadual de Londrina – UEL.
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história a escola pública brasileira tem passado por mudanças
que podemos caracterizá-las de diversas formas e contextos políticos ideológicos.
Períodos de natureza política que contribuíram para seus avanços ou retrocessos
são intitulados tais como: Império, Primeira República, Estado Novo, Ditadura Militar,
Nova república.
Nessa periodização histórica de natureza política, uma das ideologias
presente nos anos noventa do século XX, considerada a década da globalização,
fundamenta-se nos princípios do neoliberalismo. Princípios esses que reorganizam o
Estado. Nesse sentido, nosso objeto de estudo visa analisar tal período de
referência histórica, a fim de entender que os paradigmas postos vinham sendo
introjetados, dissimuladamente, na sociedade brasileira e interferindo na
organização da educação pública (GENTILI, 1998; NOGUEIRA, 2001; HIDALGO,
2001; SAPELLI, 2003).
As políticas neoliberais se fizeram mais presentes nos governos dos
presidentes José Sarney (1986 a 1990), Fernando Collor (1990 a 1992), Itamar
Franco (1993 a 1994) e, com muita força, no do Fernando Henrique Cardoso (1995 a
2002). Essas políticas foram organizadas, cada governo ao seu modo, com
orientações de organismos internacionais, tais como Fundo Monetário Internacional
(FMI), Banco Mundial (BM), Banco Internacional Para Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Para
este estudo dialogamos, principalmente, com as políticas educacionais do período
do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
As concepções neoliberais na educação e nas políticas públicas brasileiras e
latinoamenricanas foram inseridas desde 1970 na perspectiva de se adequar ao
modelo articulado pelos organismos financeiros internacionais, tendo como seus
pensadores Frederick Hayek e Milton Friedman (MINTO, 2010, p. 187). Elas
atingiram seu ápice nos anos de 1990, tendo em vista a deteriorização das
economias latinoamenricanas, bem como das ditaduras vigentes em alguns países,
tais como Brasil e Argentina. Isto é, em estado-nação referência de consumo para o
capital internacional que visava sua expansão, porém, com discurso neoliberal, tais
como o da desregulamentação da legislação trabalhista, redução do Estado na
economia, livre comercio, exclusão das barreiras protecionistas e presença só nas
3
atividades típicas de Estado (VIEIRA, 2000, p. 26).
Devemos considerar que neoliberalismo não é algo novo, pois, o mesmo
surgiu da necessidade do liberalismo se travestir com outra roupagem, tendo em
vista que sua base teórica é fundamentada no individualismo e na liberdade do
capital e das empresas sem a regulação do Estado em suas ações (CADERNO, nº
3, Divida Externa,1993, p.29).
Falar em políticas educacionais é pensar historicamente a passagem de
várias formas de acumulação do capital, bem como em suas mudanças que se
concretizaram na forma de trabalho, sem desvincular da relação social na qual
objetiva e sem contextualizar informações sobre o passado da organização do
capital (NAGEL, 2001, p. 101). Sendo assim, o passado torna-se indispensável para
compreensão e entendimento de tudo que aparece como inovação ou progresso.
Segundo Gonçalves (2001, p. 22), o neoliberalismo é nova forma de
acumulação do capital, tendo três pilares básicos: a economia, a política e as
culturas ditas pós-modernas. Estes referenciais estruturam um Estado omisso
intencional no que diz respeito à manutenção da escola pública, ganhando força
assim o discurso da autonomia. O estado neoliberal enquanto responsável pela
manutenção da escola pública, procurou se eximir das suas obrigações
constitucionais.
Para melhor evidenciar o desmonte do estado dentro dos princípios
neoliberalismo tomamos como referência de análise o Estado do Paraná, no período
entre 1995 e 2002, sob o governo de Jaime Lerner (Partido Democrático Trabalhista
– PDT, posteriormente Partido da Frente Liberal - PFL). A nossa proposta reside em
analisar as políticas educacionais nessa gestão e seus impactos no ensino ofertado
em uma escola do interior.
O Estado Paraná, no período supra, pode ser considerado como neoliberal na
perspectiva da literatura de Gentili (1998), Hidalgo (2001) e Silva (2001). Pois, nele
se objetiva o enxugamento e a redefinição de papéis dos atores sociais, delegando à
educação um objetivo mercadológico em detrimento de um ato político pedagógico
mais democrático (SILVA, 2001, p. 129).
Sendo mais preciso, a sociedade paranaense pôde observar projetos e
programas na área educacional, tais como: Projeto de Adequação Idade-série
(Correção de Fluxo), Programa de Expansão, Melhoria e Inovação do Ensino Médio
(PROEM), Programa Qualidade no Ensino Público do Paraná (PQE) e seus
4
desdobramentos no cotidiano inerentes às disciplinas escolares, em particular para
este estudo, a Educação Física.
Considerando tal conjuntura, problematizamos no sentido de saber quais
foram as políticas educacionais do governo paranaense entre 1995 e 2002, sob o
governança de Jaime Lerner? E quais foram as suas implicações para a educação
física escolar da rede pública estadual, particularmente no Colégio Estadual
Polivalente de Londrina-PR?
A fim de responder tais questionamentos tomaremos como hipótese o fato de
que a Educação Física foi usada para operacionalizar aspectos da teoria neoliberal
na educação pública paranaense.
O objetivo geral foi Identificar as políticas educacionais implantadas no Estado
do Paraná (1995–2002), e seus desdobramentos no fazer pedagógico segundo a
memória dos professores da disciplina de Educação Física do Colégio Estadual
Polivalente.
A opção por este tema justifica-se em razão do professor-pesquisador ter
vivenciado as políticas públicas no Governo Jaime Lerner no Paraná na condição de
agente administrativo da SEED, Professor da Rede Pública Paranaense e membro
dos conselhos de ADM e do CEPE/UEL como representante discente de pós lato
sensu. Nesse momento foram vividas angustias e clamores de colegas e amigos,
tanto da comunidade universitária que passou por um período extremamente difícil
na sua dimensão financeira e pedagógica, bem como dos profissionais da Rede
Estadual de Ensino – universo no qual pude participar efetivamente no Núcleo
Sindical da cidade de Cascavel, Pr.
Ainda, o estudo foi motivado em saber qual a contribuição do “período Lerner”
no amadurecimento político ideológico, e possíveis avanços ou retrocessos na
educação paranaense, em especial da Educação Física na escola, segundo o olhar
de quem vivenciou o chão da escola paranaense no “período Lerner”.
Por essas razões, realizou-se um resgate da legislação do período e uma
reconstrução da memória dos professores de educação física sobre o seu fazer
pedagógico no Colégio Polivalente de Londrina em “tempos de Lerner”.
A intervenção pedagógica foi realizada junto aos professores do Colégio
Polivalente de Londrina que são remanescentes na instituição desde o “tempo
Lerner”. Para a ação pedagógica e coletiva tomou-se como referência excertos da
legislação e das entrevistas concedidas pelos professores de educação física a partir
5
da história oral.
2. METODOLOGIA / ESTRATÉGIAS DE AÇÃO:
2.1 A legislação escolar
Foi interpretado o conjunto de legislação da Educação Pública do Paraná
publicadas pela SEED/PR, e divulgadas no período de 1995 a 2002, a saber:
Resolução nº 4056/1996 sobre o PROEM – Programa de Expansão Melhoria
e Inovação no Ensino Médio
Resolução nº 4396/1996 – sobre o PROEM – Programa de Expansão
Melhoria e Inovação no Ensino Médio
Resolução nº 2617/2001 (A Educação Física Passou a ser facultativa para o
período noturno)
Lei nº 10.328/1996 (A obrigatoriedade da educação Física em todos os
turnos)
Lei nº 10.793/2003 (Pertinente à educação Física)
Resolução nº 2618/2001 (Extinção do Ensino Fundamental Regular Noturno)
A legislação supracitada foi interpretada à luz das proposições de Faria Filho
(1998). Para o autor, a formação de um discurso da legislação educativa produz
consentimento, persuasão e legitimidade a partir da linguagem escrita e de sua
oralidade.
A legislação oferece um amparo tanto na perspectiva do ordenamento jurídico
da educação formal inerente ao fazer pedagógico, quanto para a investigação
histórica em torno de suas praticas e representações, assim contribuindo para o
entendimento do fenômeno educativo em suas diversas dimensões. (FARIA FILHO,
1998, p. 92)
Há dois momentos da lei enquanto pratica social: o momento da produção e o
momento da realização. A produção da legislação escolar é decorrente de outras
leis, fazendo o pesquisador recorrer a sujeitos e instituições para tecer um olhar
6
sobre suas praticas sociais diversificadas. (FARIA FILHO, 1998, p. 92)
Seguindo as orientações de Faria Filho (1998), relacionou-se a legislação
com as práticas de professores produzidas decorrente da mesma. Isso implicou
reconhecer a legislação como recurso metodológico e objeto de estudo.
Ainda, a legislação estudada fomentou pensamentos sobre o passado recente
dos professores de Educação Física colaboradores deste estudo. A partir dos
recortes da legislação em foco deflagramos e provocamos o processo de entrevista
realizado com procedimentos da história oral.
2.2 A história oral como procedimento de pesquisa
O resgate da memória dos professores Educação Física buscou reconstituir
falas e acontecimentos que permearam a Educação Física Escolar no Colégio
Polivalente (CEP) de Londrina-PR, período de1995 a 2002.
Nossa pesquisa tomou como referência a proposta metodológica da história
oral elaborada por Freitas (2002), particularmente o livro “História oral:
procedimentos e possibilidades”.
A história oral enquanto conjunto de princípios teórico-metodológicos nos
possibilitou o registro das reminiscências das memórias individuais, a reinterpretação
do passado, isto é, uma história como opção a história oficial. (FREITAS, 2002).
A historia oral se constitui em uma fonte de pesquisa, um documento, uma
entrevista gravada que podemos usar da mesma forma que usamos uma noticia de
um jornal ou referencia. ( FREITAS, 2002, p.17).
Denomina-se história oral moderna àquela cujo método consiste na realização
de depoimentos pessoais orais por meio da técnica de entrevistas que utiliza o
gravador, como foi o nosso caso neste estudo (FREITAS, 2002, p.27).
A história oral põe em duvida não só os caminhos para a construção do
conhecimento, mas, sobretudo, a historia oral é definida como técnica na
perspectiva de que propõe um conjunto de estratégias para o desenvolvimento da
pesquisa oral e nas diversas formas de apreendê-la e registrá-la. Por esta razão as
entrevistas livres ou semi-estruturadas, gravadas como no nosso caso, apresentam-
se como um principal instrumento de abordagem dos atores sociais da pesquisa.
(ALBERTI apud CONCEIÇÃO, 2009, p.14-15)
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A história oral pode ser de vida, tradicional e temática. A nossa opção recaiu
na história oral temática. Isto é, sobre um determinado tema ou grupo socialmente
constituído.
A história oral temática é um método de pesquisa que utiliza a técnica de
entrevistas e outros procedimentos articulados entre si, com objetivo de registrar as
narrativas e experiências humanas. Ela permite a identificação de um tema
específico junto a um grupo de pessoas. (FREITAS, 2002, p. 21-22). No caso deste
estudo centrou-se num grupo de professores de Educação Física, tendo como tema
específico: as reformas educacionais do Governo Jaime Lerner e a Educação Física
no CEP.
Para o registro da memória, Freitas (2002) recomenda a técnica de entrevista,
e, caso possível, outros instrumentos articulados. Assim as vozes dos sujeitos, a
partir de narrativas de suas experiências, são registradas por meio do uso de
diversos meios eletrônicos ou analógicos. Desse modo, uma das finalidades do
resgate da memória via oralidade é a criação de fontes históricas a serem
produzidas, organizadas, armazenadas, conservadas e disponibilizadas. (FREITAS,
2002, p. 18).
2.3 Colaboradores da pesquisa
Nessa pesquisa o grupo entrevistado foi constituído por quatro professores
que lecionaram a disciplina Educação Física, entre 1995 e 2002, no Colégio
Estadual Polivalente (CEP) da Rede Estadual de Ensino. Para preservar a
identidade dos professores optou-se pela codificação: Professor A, Professor B,
Professor C e Professor D.
Outros dois professores de Educação Física também lecionaram no CEP no
mesmo período dos professores supracitados, a eles o convite de participação na
pesquisa foi estendido, porém optaram por não participar.
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2.4 As entrevistas:
Foram realizadas com base no roteiro de Freitas (2002). Inicialmente os
entrevistados informaram: nome, idade, formação acadêmica, tempo de formação e
de trabalho na Rede Estadual de Ensino do Paraná. No processo eles passaram a
dialogar sobre as seguintes questões norteadoras:
1) No período de 1995 a 2002, havia discussão sobre a gestão das políticas públicas voltadas para a disciplina de Educação Física ofertada na grade curricular da sua Escola?
2) Como a comunidade escolar tratava a Educação Física Escolar em relação às outras disciplinas?
3) Como foi a participação dos professores de Educação Física na discussão da nova grade proposta em 1998 no CEP?
4) Os Professores de Educação Física eram chamados a participar das discussões das políticas educacionais encaminhadas pela SEED para o CEP?
5) Houve impacto no CEP quando extinguiu o ensino fundamental noturno através da Resolução 2618/2001?
6) As decisões mais importantes do Polivalente eram discutidas previamente pelos professores, funcionários e organismos (Conselho Escolar e APMF) do CEP? Caso sim, as práticas eram encaminhadas conforme tais decisões do CEP?
7) Como você via a disciplina Educação Física no contexto das políticas públicas educacionais do período de 1995 a 2002?
8) Em 1996 houve implantação do PROEM (Resolução 4394/96) no CEP. Os professores debateram sobre a extinção dos cursos e as consequências para os professores que ministravam aulas para os respectivos cursos?
Dos quatro entrevistados, três optaram pela própria casa como lugar para
realização de entrevista, e um optou pelo CEP. Para cada entrevistado o tempo de
duração da entrevista foi em média de duas horas, sendo que para um dos
colaboradores foi necessário mais de uma visita, em razão de seus compromissos
pessoais previamente assumidos.
Procedimentos a pós-entrevistas foram: transcrição na íntegra das falas,
conferência por parte do pesquisador e do colaborador; armazenamento em Word e
Catalogação da entrevista CD/DVD.
Ainda, como referência a fundamentação procedimental de transcrição de
entrevista, atemos-nos: a leitura concisa do material, intercalado com a escuta do
material gravado concomitantemente com o material transcrito deixando aflorar o
tema, atentando para construção, a retórica dando vazão aos investimentos afetivos.
(SPINK, 1995, p.130).
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Portanto, sem perder de vista as orientações de Spink (1995) e as de Freitas
(2002), as entrevistas foram realizadas objetivando resgatar e preservar a memória
de professores de Educação Física sobre as políticas educacionais do período do
Governador Jaime Lerner (1995-2002).
2.5 Estratégia e Intervenção pedagógica: Considerando as falas resgatadas, a ação pedagógica, desenvolvida entre
agosto e setembro de 2011, consistiu em intervir junto a um Grupo de Reflexão.
Neste Grupo compartilhou, com os atuais professores do Colégio Estadual
Polivalente, as políticas desenvolvidas e as memórias preservadas pelos
professores de Educação Física. A partir do Grupo foi possível dialogar passado e
presente na ação pedagógica e na organização da Escola.
Para constituição do Grupo de Reflexão os procedimentos adotados foram:
1) Identificou-se: quais são os professores atuais do Colégio Polivalente que viveram a docência no mesmo o período da Gestão do Governador Jaime Lerner (1995-2002). Seis professores foram identificados.
2) Os professores identificados foram convidados a compor o Grupo de Reflexão sobre a legislação do período e a realidade do Colégio Polivalente. Quatro professores aceitaram participar (Professor A2, Professor B2, Professor C2, Professor D2)..
3) No funcionamento do Grupo o professor/pesquisador PDE disponibilizou, por meio de textos, suas interpretações sobre a legislação do período.
4) No funcionamento do Grupo o professor/pesquisador PDE compartilhou as memórias dos professores de educação física entrevistados, objetivando sensibilizar cada participante a pensar o seu passado pedagógico e administrativo no Colégio Polivalente (1995-2002).
5) Foram organizadas reuniões do Grupo até que todo o material da pesquisa (legislação e entrevistas) fosse compartilhado com os professores do Grupo de reflexão. Foram realizados seis encontros semanais, as quintas-feiras, das 17h30 as 19h00, nas dependências do CEP.
6) Os encontros do Grupo foram registrados por meio de um gravador digital, as discussões também foram transcritas e seguiram as orientações apresentadas no tópico anterior deste texto.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Memórias dos professores de Educação Física do CEP 3.1.1 O que pensa os professores do CEP sobre o período Jaime Lerner:
As reflexões dos professores sobre o período Jaime Lerner, evidencia os
pontos convergentes na sua maioria, quando os mesmos relatam suas experiências
docentes no CEP. Ao longo desse trajeto, houve fatos positivos e negativos que
contribuíram direta ou indiretamente para o seu desenvolvimento profissional fatos
estes que influenciam o modo de pensar, de sentir e de atuar dos professores.
(HOLLY apud NÓVOA,1992, p.01)
“Sinto que faltava, não era tanto apoio do governo que a gente pode trabalhar com ou sem governo a gente tem que trabalha com o que tem aqui no Colégio que são os alunos”. (Professor A)
Há uma evidente contradição na fala por não situar as responsabilidades do
Estado na manutenção efetiva da educação, vindo de encontro a fala de Gentili
(1998), quando o mesmo salienta que “[...] Os governos foram incapazes de assegurar a
democratização mediante o acesso das massas às instituições educacionais, e ao mesmo
tempo, a eficiência produtiva que deve caracterizar as práticas pedagógicas nas escolas de
qualidade”.(GENTILI,1998, p.17).
Dentre os avanços apontamos a implantação da hora atividade de 10% em
1998 para os professores que lecionasse no Programa Correção de Fluxo, em 2001
para os demais professores Estatutários e CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas),
No final de setembro de 2002, últimos meses do Governo Lerner ampliou-a para
20% através da Lei 13807/02.
“Acho que dentro da educação em geral foi um período muito critico, porque ele privou os professores de muitas coisas contribuiu em algumas, mas deixou muitas outras, inclusive esta questão de salário que teve uma época que ele não deu aumento, progreção, não deu incorporação de pós não deu nada, isso deixava o professor aflito; por exemplo, eu saía de Arapongas pra dar aulas lá,...[ ]” (Professor B).
“A educação física sempre foi levada a segundo plano, pelo seguinte; porque a secretária de Educação na época era muito na teoria na pratica era completamente diferente e os professores de educação física nunca tinha estabilidade[...]” (Professor D).
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As narrativas dos professores de Educação Física do período 1995-2002,
evidenciam por parte dos professore uma frustração com o governo Jaime Lerner,
principalmente no seu segundo mandato. Sendo que a professora B externa o
cerceamento dos direitos previstos na Legislação educacional. Quanto a professora
A externa uma visão ambígua da responsabilidade do Governo nas demandas das
unidades educacionais, dentre eles o CEP.
3.1.2 Como ocorriam as discussões da mudança da grade curricular na
Educação Física
As falas dos professores veem de encontro a dissertação de Rodrigues,
(2001), em que a mesma aponta a diversas controvérsias sobre a Lei de Diretrizes e
Base da Educação Brasileira, bem como os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs). A referida autora salienta o caráter neoliberal dos PCNs.
Gentili (1998, p.27) faz referencia a gênese Espanhola dos PCNs e suas
contradições, pois o mesmo não considerava as peculiaridades sociais e culturais do
Brasil e seu entes federativos.
“As mudanças na grade curricular em 1998? Eram brigas feias, porque falavam
assim : a educação física pode diminuir, porque vocês só dão uns courinhos lá (quadra) mesmo; eles ficam jogando bola pode diminuir aulas porque ninguém vai reclamar.”( Professora A) “Na época a direção pontuou; a grade hoje é assim, tá vendo, mas ela não influenciou ela deixou a discussão por parte dos professores e cada um teve que defender seu peixe, cada um teve que defender sua disciplina, [risos] e foi uma época de briga. A gente conseguiu segurar as 3 aulas do ensino fundamental e no ensino médio ficou com 2 e no 3º ano do ensino médio eles tinham uma aula só.” (Professora B) “Houve uma polêmica muito grande entre os professores mesmos, os professores queriam que não mudasse a grade e tem escolas que estavam querendo colocar 2 aulas direto pro primeiro grau da 5ª a 8ª series. Na época a equipe pedagógica era composta por professores de Educação Física.”(Professor C) “Na realidade quem chegou (determinou) não foi os professores e sim a direção das escolas mais a Secretaria de Educação na época”,(Professor D)
O governo foi incapaz de assegurar qualidade e quantidade, sendo o mesmo
12
inapto para combinar estas duas dinâmicas [...].(GENTILI, 1998, p.17)
A construção de uma nova matriz curricular gerou a transformação na
educação, através do conflito na prática e da reflexão sobre elas, ou seja, da criação
de uma nova matriz curricular evidenciou a falta de conhecimento pertinentes a
disciplina de Educação física, pôs em lados opostos àqueles que viam na discussão
a oportunidade de ampliar sua carga horária sem haver uma discussão aprofundada
das necessidades efetivas do CEP.
A Secretaria de Estado da Educação (SEED) desejava a implantação da
matriz curricular enviada previamente para as Escolas discutirem, tendo como pano
de fundo os baixos resultados nos exames nacionais realizados pelo MEC nas
disciplinas de Matemática e Português. Tornou-se possível evidenciar que, muitas
vezes a discussão local predominou no embate por interesse da SEED/PR, que o
fato de termos professores de Educação Física à frente de Unidades Educacionais
não foi sinônimo de manutenção da carga horária da disciplina na nova Matriz
curricular.
Em dezembro de 1996 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB, 9.394/96) depois de uma década de grandes embates teórico-
metodológicos e político-ideológicos no país. Aprovada a LDB, o Ministério da
Educação se encarregou da elaboração dos programas e diretrizes que pudessem
subsidiar a nova etapa da educação no país, dentre eles os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs).
Os PCNs constituem-se no programa curricular oficial, com sua gênese na
Espanha, foram apresentados para subsidiar as ações pedagógicas das secretarias
estaduais e municipais de educação, das escolas e dos professores na seleção e
sistematização de conteúdos, assim como orientação da prática pedagógica.
(RODRIGUES, 2001, p. 88)
O Art. 26 da LDB frisa que “A Educação Física, Integrada à proposta da Escola, é
componente curricular da Educação Básica”. Nota-se que os professores não tinham
amplo conhecimento sobre a legislação vigente, sendo que as discussões
pautavam-se mais no campo dos interesses da unidade Escolar.
Para o CEP cumprir com o que diz a LDB em relação à Educação Física só
aconteceu após a publicação do Decreto Federal, que obrigava que a Educação
Física deveria ser componente curricular, isto é, só com amparo da Lei 10.328/2001.
13
3.1.3 Quanto à extinção do ensino fundamental do período noturno no CEP
A extinção do ensino fundamental Regular noturno ocorreu por determinação
da SEED, através da Resolução nº 2618/2001 e posterior oferta do Ensino de
Jovens e Adultos – EJA, porém o CEP não o ofertou, e sim a Educação Geral em
nível de ensino médio.
Na mesma perspectiva ocorreu a implantação do Programa Correção de
Fluxo, PAIS-S através da Resolução 1553/97. Isto é, adequação idade-série dos
alunos que estavam em defasagem escolar. Nota-se com isso uma sequência de
programas visando excluir o aluno do sistema.
O aspecto positivo do mesmo foi a implantação de 10% da hora atividade pelo
referido governo numa visão compensatória aos professores que iriam assumir o
programa, os professores efetivos da Rede.
“[...] para nós até que foi um pouquinho bom a 5ª a 8ª caí a noite aí ficou só ensino médio.” (Professora A) “Houve em geral, em todas as cidades ali, houve um questionamento muito grande a respeito das aulas de educação física, primeiro, porque até os alunos estavam divididos porque no noturno existem aqueles alunos fora de idade etc”. (Professora B) “[...] eu não trabalhava no período noturno na época. eu trabalhava somente no diurno. Mas eu me lembro que os professores tiveram que sair por aí”. ( Professor C)
Conforme a narrativa dos professores as decisões já vinham tomadas,
restando aos professores e direção referendar a Resolução, tornando os debates em
torno do ensino noturno vazio e sem objetivos, sendo que muitas das decisões
tomadas pela SEED/NREs foram de forma intimidativa, conforme nos aponta Sapelli
(2003, p. 96),
Os professores A e C apontam a concordância na extinção do ensino
fundamental noturno por entender que os mesmos só vinham à escola para passear.
Para o grupo de discussão o ensino noturno era frequentado por alunos repetentes
que se encontrava fora da idade-série além de ter o agravante do E.C.A que não
permitia que menores de 14 anos estudassem a noite tendo em vista que a
necessidade do aluno trabalhar não o teria apoio Legal tendo como justificativa sua
idade, pois o mesmo ao terminar seus estudos na idade certa não teria tal problema
para fazer o ensino médio noturno que continuou a ser ofertado no CEP na
14
modalidade educação geral.
3.1.4 Em relação ao PROEM (Programa de Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná) A discussão sobre o cumprimento da Resolução 4356/96 pertinente ao
PROEM, decorreu da aceitação do CEP realizar o encerramento gradativo do Curso
Técnico em Segurança do Trabalho – TST oferecido até o ano de 1997, com
posterior implantação do ensino médio na modalidade de educação geral.
“Sobre a extinção do TST (Técnico em Segurança do Trabalho..) no CEP. (Resolução 4653/96) Eles saindo de uma 8ª série, eles faziam ensino médio profissionalizante, eles com 16 anos não tinham condições de fazer um curso profissionalizante”. ( Professora A) “Fechar curso significa diminuir aulas e diminuir aulas significa: se eu não tiver todas as aulas o que eu vou ganhar no final do mês”; [...] (Professora B)
“Olha, o negocio é o seguinte o curso técnico do PROEM para o colégio era difícil eu como professor de educação básica do curso técnico, para muitos alunos de menor idade que não sabiam ainda o porque estava fazendo o curso técnico.[...] Há, eu não me recordo Nilton, já faz muitos anos.Voltando atrás no negocio do PROEM, foi entinto gradativamente os 1º, 2º e 3º anos dos cursos técnicos, mas, em contrapartida também aumentou se as aulas do ensino médio noturno”. ( Professor C)
Ao analisar as falas dos professores de Educação Física percebe-se que nem
a direção nem os professores fizeram objeção efetiva. Não fizeram nenhuma
objeção em cumprir com a resolução 4356/96 pertinente a extinção do Curso TST
por acharem que os alunos que os faziam não levava o curso a sério e não tinha
responsabilidades. Essa fala vem de encontro o que nos diz Gentili (1998, p. 19)
sobre a falsificação do consenso “alunos mais responsáveis e comprometido com o
estudo”.
A extinção do curso Técnico em Segurança do Trabalho - TST do CEP para
atender a Resolução 4356/96 não havia necessidade, pois o mesmo atendia uma
clientela, mesmo não sendo do bairro, porém atendia as necessidades da cidade de
Londrina, sendo que ao citar com satisfação a volta do TST (Técnico em segurança
do Trabalho) ao CEP, o professor A rememora com orgulho o referido curso que
existe no CEP, porém com uma nova matriz curricular, sendo o mesmo oferecido na
modalidade sequencial, pós-médio e na modalidade PROEJA, para aqueles alunos
que só tem o ensino fundamental e deseja fazer o ensino Médio/técnico. Com o
15
passar do tempo mostrou com isso que foi um equivoco o CEP ter terminado com o
TST, tendo em vista que a nova Resolução NRE
3.1.5 A construção do ginásio esportivo como questão pedagógica das aulas de Educação Física no CEP As razões que nos levaram a realizar o referido questionamento sobre a
influencia da construção do ginásio na qualidade pedagógica nas aulas de Educação
Física, decorrente do dilema aulas praticas, aulas teóricas, se elas só ocorrem em
sala, isto é, nas quatro paredes da unidade escolar.
“Na verdade o ginásio quando saiu (novo), eu tirei foto da construção dele que foi um sonho realizado, mas só vejo assim: futebol, futebol, só isso que vejo” [...] (Professora A) “[...] a construção do ginásio aconteceu durante este governo [...] A gente tinha conhecimento era, a escola vivia se a comunidade não auxiliar e naquela época também, diversas vezes fizemos promoções, os alunos sabiam, o destino do dinheiro era promoção de pizza para a construção do ginásio,[...] No dia que a gente tinha o ginásio que era a quadra coberta a gente fazia as atividade praticas muitas das vezes voltadas aos conteúdos que a gente estava vendo e o dia que a gente não tinha o ginásio que tinha que ser atividades alternativas nos espaços que tinha a gente trabalhava com a teoria [...]” (Professora B)
“Na época para nós que somos professores tecnicistas foi muito difícil porque encarar a aula teórica dentro da sala de aula, o próprio aluno já acostumado com a parte pratica com a parte na quadra com a parte no campo foi dificílimo falavam que justamente estavam aguardando a aulas de EF para praticar atividade física, e não pra ficar na aula vendo teoria.etc” (Professor C) “Quando eu trabalhava lá, quando eu exercia minha profissão lá ela era direitinha eu e o outro professor que não me lembro quem era, a gente tinha uma noção exata a gente tinha um trabalho conjunto. [...]”(Professor D)
Percebi nas falas dos professores, C e D, decorrente de sua formação
técnica, que os mesmos tinham uma certa dificuldade em trabalhar conteúdos que
não fossem os das modalidades elencadas como quarteto (futsal, voleibol, basquete
e handebol). A narrativa da professora A aponta que não houve avanço para a
disciplina na sua perspectiva pedagógica.
A construção do ginásio, sendo um sonho, não alterou a rotina e o formato
dos professores da disciplina ministrarem suas aulas e os conteúdos das mesmas,
tendo alguns projetos que foram realizados, mas de forma esporádica. Contudo,
devemos salientar que o conteúdo teórico da disciplina não acontece só em sala de
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aula, sendo um ledo engano falar de conhecimento achar que para dar teoria haja
necessidade de estar em sala.
Salientamos que não houve reflexo objetivo na qualidade do ensino do CEP
tendo como referencia o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB/2005 Observado 2005 3.0). O Projeto Qualidade no Ensino Público
(PQE) trouxe poucos resultados efetivos aos professores do CEP, apesar do
marketing produzido pelo Governo Jaime Lerner.
3.1.6 A relação professor aluno no CEP Contemporaneamente vivemos o dilema do Bulling que ocorre na relação
aluno X aluno, bem como aluno X professor. No período Jaime Lerner ocorrera tais
fatos, porém com outra nomenclatura.
“[...] então não tenho medo, vem ameaça, vem tudo junto com a ameaça; o que eu já apanhei de aluno aqui na escada. (viela de acesso para sua casa) já apanhei de aluno Professora A: Se a zeladora não souber mexer com estes moleques pode até sair daí, pode ir trabalhar em outra coisa.” (Professora A) “Então no começo teve um pouco de conflitos e tudo mais, mas devagar a gente foi conseguindo introduzir e fazer acontecer, porque no período que eu trabalhei ali houve varias mudanças em termos de legislação.”( Professora B)
“Na época que eu ministrava aulas aqui, eu fui muito bem aceito dentro do Colégio. [...]” (Professor C) “Bom a minhas expectativas foi negativa pelo seguinte: porque a gente, nós professores, não podíamos cobrar muito, não podíamos dar muitas aulas com exercícios, mais na parte recreativa, tudo recreação, voleibol, tênis de mesa e sempre recreação não exigindo muito do aluno (Professor D)
Nota-se na fala da professora A as formas de intimidação e ameaças
realizadas pelos alunos que viviam em situação de risco e com envolvimento com a
criminalidade, demonstrando com isso que a violência propagada no seio da escola
está além dos muros das unidades educacionais. Essa situação vem de encontro
aos apontamentos realizados por (ZALUAR, 1995).
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3. 2 - Memórias do Grupo de Reflexão/Intervenção
3.2.1. O que pensa os demais professores do CEP sobre o período Jaime Lerner
“[...] não houve avanço para os professores e sim um retrocesso [...]” (Professores: A2, B2, C2 e D2) “Nós não conseguimos ainda sair do que estávamos porque não houve incentivo para os professores” [...] (Professora B2) “ [...] A professora B2 faz a resalva de que em meio as contradições do período, foi no mesmo que deu-se inicio efetivo a hora atividade[...].(Professora C2)
Quanto à implantação e implementação da hora atividade durante o governo
Lerner, “a retórica neoliberal, enfatizando a necessidade de desconfiarmos da
capacidade milagrosa do Governo para melhorar a qualidade da Escola”. (GENTILI,
1998, p. 22)
3.2.2 Como ocorriam as discussões da mudança da grade curricular
“Pela instrução que veio para fazer a grade que inclusive não se permitia de chamar grade curricular era matriz curricular [...] (Professora B2)
[...] Bom a historia é que durante este período que eu trabalhei o que aconteceu com a Educação Física e não só com a EF mas também com outras disciplinas houve muitas discussões,alguns professores, foram feitas muitas reuniões e cada um estava preocupado com sua área na verdade nesse período que houve e no meu caso e da EF. no meu colégio a gente procurava usar algum tempo houve muitas disputas com a união das áreas a Educação Física no colégio que eu estava foi reduzida a nível de 2º grau foi reduzida a 1 aula, mas houve uma briga e muito debate, até falta de ética entre os professores [...] (Professor A 2)
[...] Concordo contigo plenamente muita falta de ética na hora de discutir a questão de grade, não houve uma discussão fundamentada em princípios filosóficos, pedagógicos, a preocupação maior não era essa a preocupação dos professores era de garantir a sua carga horária e o governo ele estava mais preocupado em ampliar a carga horária de português e matemática e essa discussão levava sempre a tendência de quem perderia aulas seria a Educação Física. (Professor C2) Para manutenção e ampliação ou não de outras disciplinas e a Educação Física até então ela passou a ser marginalizada e disputada enquanto espaço, pois tinha professores que achava inconcebível você ter em EF 3 aulas.só que também ele não conseguia justifica, fundamentar o porque de ser contra.(Sandra), na verdade foi uma orientação que veio de cima, então ela veio fechada, de maneira que não tinha como escapar daquilo, a briga era: quem ia pegar, porque a Educação Física já tinha perdido. (Professor B2)
“[...] ele (Governo) não tinha essa preocupação de dar essa orientação a
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orientação do estado era para que ampliasse a carga horária de matemática e português decorrente dos resultados negativos que a educação paranaense e brasileira vinha tendo. (Professor D2) [...] na verdade usou uma instrução que derrubou as disciplinas de educação física , quando retirou-a do noturno, ele fez essa redução de hora aula do ensino médio aí ficou sobrando h/aula no ensino médio, uma h/aula a gente colocava, e até eu coloquei minha de biologia, colocamos a oficina de no 2º ano tinha 3 aulas de biologia e era aula de educação física e a noite tinha o TEC/Projeto, aí esse projeto dependia do Diretor para fazer estes projetos, na verdade era para ser o professor de EF. O governo dizia, mas isso era mentira, porque o Diretor fazia, colocava o professor que ele queria inclusive o pessoal que estava na e orientação e supervisão na época,[...] (Professor B2)
A professora B2 se refere o PEC (Programa de Enriquecimento Curricular),
que foi criado através da Resolução 1214/2000. A princípio as orientações da
SEED/PR eram para ser ofertadas nas disciplinas de Português, Matemática e
Língua Estrangeira Moderna. Com a implantação dos projetos conforme a
Resolução houve a redução de 17% da carga horária, isto é não presencial,
consequentemente afetou diretamente as aulas atribuídas aos professores
(SAPELLI, 2003. p. 94-95).
3.2.3 Quanto à extinção do ensino fundamental do período noturno no CEP
“[...] Não, o Polivalente não porque o Polivalente acabou fechando o noturno, ele ficou só com o pós médio, porque a intenção aqui no CEP era acabar com o ensino médio e transformar em uma escola técnica que era o que o Diretor almejava na época”. (Professor B2)
“ O Estatuto da Criança e do Adolescente não permite que tenha ensino de 5ª a 8ª noturno para crianças na idade que temos aqui. A discussão do ponto de vista do estado que nós fazíamos é para menores de 14 anos (Rose) a noite só vai aqueles repetentes. A reflexão que os professores neste parágrafo realizaram foi o quanto a aplicação da Lei 8.069 (Estatuto da Criança e do adolescente) impactou na organização das atividades pertinentes aos alunos e sua permanência no ensino noturno” (Professor B2)
“[...] no caso da aula de EF, neste período eu me lembro que foi extintas as aulas de Educação Física, mas também havia um projeto de contra turno, que você poderia fazer um projeto, desde que se montasse turma, no contraturno, eu fui um destes, por ter perdido as aulas de treinamento que eu gostava de participar(40 alunos)o que eu fiz então: fui de sala em sala, ai procurei os alunos interessados e formei turma e eu conseguir seis horas aulas.” (Professor A2)
“[...] a questão é a seguinte; a gente até discutia, vinha pronta a decisão tomada pra gente discutir o que foi decidido, a gente não decidia, e exatamente, mas, aquilo que eu já disse foi imposto que não se daria Educação Física no noturno.
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Simplesmente a discussão era de quem ia ficar com essas aulas”. (Professor C2)
O professor A2 aponta a concordância na extinção do ensino fundamental
noturno por entender que os alunos só vinham à escola para passear. Já o professor
B2, pontua que na maioria os alunos que estavam no fundamental noturno eram
repetentes e estava fora da idade-série.
Por parte da SEED, havia o entendimento que a evasão em níveis elevados
respaldava sua decisão em extinguir o ensino fundamental noturno e implantar o
ensino fundamental na modalidade EJA – Ensino de Jovens e adultos. Diga-se de
passagem, que o auto-índice de evasão no CEP é decorrente do ensino noturno
conforme dados do próprio Colégio.
3.2.4 Em relação ao PROEM, qual a posição dos professores
“[...] Eu acho que eles ficaram fora da escola, fora do sistema. Foi uma medida que retirou então ele teria que retirar gradativamente e não foi. Foi um negócio assim: vem o PROEM prá cá e vocês tem que seguir com estas regras. E esta foi uma das impostas pelo PROEM. Para a instalação do pós-médio e qual era o interesse dos Diretores em instalar o pós- médio? Era a verba que era maior que a do ensino fundamental.” (Professor B2) “No CEP, decorrente do PROEM foi implantada a Educação Geral em substituição ao Técnico em Segurança do Trabalho e ao ensino Médio regular.” “[...] nos colégios que trabalhei também não tinha. o técnico que nós tivemos,(TST), quando veio a LDB extinguiu esses cursos (contabilidade, comercialização)técnicos do ensino médio e daí passou a ter educação geral aí, com o Governo Jaime Lerner ele fez a proposta de pós-médio e daí não conseguimos instalar o pós médio quem coordenou não foi os NREs, foi PARANATÉC, isso, era uma empresa privada e aí muitas das vezes nós nem sabíamos o que era proposto. (Professor C2)
A Paranatec foi criada para gerenciar, extinguir e criar cursos Técnicos na
modalidade ensino Médios e pós - médio, usurpando uma função que deveria ser da
Secretaria de Estado da Educação (SEED) e dos (Núcleos Regionais de Educação
(NREs), que muitas das vezes não tinha conhecimento das ações da PARATEC no
seu raio de ação. (SAPELLI, 2003, p.113)
No caso do Polivalente não houve tal ingerência por ter o diretor feito à opção
em extinguir o TST – Técnico em Segurança do Trabalho do CEP. O professor A2
sinaliza os aspectos do curso (TST) ter retornado ao CEP, aí é que pontuamos do
por que não o reformulou em vez de extinguir.
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3.2.5 A relação professor aluno no CEP
As analises realizadas pelo grupo de reflexão
“[...] objetivo da correção de fluxo foi excluir esse aluno que estava com a idade avançada, excluí-lo do sistema” A professora B faz a resalva de que em meio as contradições (Professora C2)
4. Considerações Finais Considerando que o professor enquanto ser expressa diferentes destrezas,
atitudes e inquietações durante seu percurso na educação, o presente artigo teve
como objetivo resgatar as memórias dos professores de Educação Física do CEP,
identificando as políticas educacionais implantadas no Estado do Paraná, no período
de 1995 – 2002. Realizamos um contraponto por meio de um Grupo de Reflexão
compartilhando, com os atuais professores do Colégio Estadual Polivalente, as
políticas desenvolvidas e as memórias preservadas, para que assim fosse possível
dialogar passado e presente na ação pedagógica e na organização da Escola.
Consideramos que do ponto de vista pedagógico, o período foi permeado por
mudanças decorrentes das políticas no âmbito federal, tais como Leis de Diretrizes
da Educação Básica e dos PCNs que impactaram na educação paranaense. Além
da Legislação local já citada, consideramos que do ponto de vista educacional não
conseguimos interferir substancialmente nas mudanças, pois as mesmas vinham
prontas, cabendo aos professores referendá-las.
Houve um retrocesso à Educação Física, tal como a redução do número de
hora/aula da disciplina, avançamos na hora/atividade e na obrigatoriedade da
Educação Física enquanto componente curricular, todavia a disciplina ficou a mercê
dos interesses e pensamentos ideológicos hora predominante.
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SAPELLI, Marlene. L. S. Políticas educacionais do governo Lerner no Paraná, Cascavel, PR: Gráfica Igol, 2003.
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