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Exame de Ordem Damásio Educacional XVI EXAME DA ORDEM 2ª FASE DIREITO PENAL Enunciado 3 Mário de Britto foi denunciado pela prática de homicídio qualificado. Segundo o Ministério Público, o acusado passava por uma ponte, ocasião em que encontrou a vítima Dionísio, seu suposto pai. Começaram então a discutir, ocasião em que Mário teria disparado tiros contra a vítima, tiros estes que a levaram a óbito. Durante a instrução, foram ouvidas 8 testemunhas de acusação e 8 testemunhas de defesa. As testemunhas de acusação foram unânimes em destacar a animosidade existente entre o acusado e a vítima, que negava ser pai do acusado. Também disseram que havia ação de investigação de paternidade em andamento. As testemunhas assistiram a tudo de uma distância de cerca de um quilometro e não puderam precisar maiores detalhes da luta entre ambos. Já as testemunhas de defesa disseram que o acusado simplesmente se defendeu do avanço da vítima, que vinha em sua direção empunhando uma espada. Disseram ainda que Mário estava no chão quando disparou os tiros contra a vítima, que estava em cima dele. Informaram, por fim, que o acusado e a vítima já brigavam há bastante tempo e que as discussões e agressões entre eles eram constantes. O acusado, em seu interrogatório apresentou a versão das testemunhas, embora tenha sido ouvido na audiência antes delas. Ao final da instrução, a acusação requereu a pronúncia de Mário por homicídio consumado qualificado em razão da surpresa à vítima, que impossibilitou a sua defesa, com fundamento no artigo 121, parágrafo 2º, inciso IV, do Código Penal. Elabore a medida cabível em favor de Mário.

MEMORIAIS

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ART. artigos 403, §3º, c/c artigo 394, §5º, do Código de Processo Penal.

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Exame de Ordem Damásio Educacional

XVI EXAME DA ORDEM

2ª FASE DIREITO PENAL

Enunciado 3

Mário de Britto foi denunciado pela prática de homicídio qualificado. Segundo o Ministério Público, o acusado

passava por uma ponte, ocasião em que encontrou a vítima Dionísio, seu suposto pai. Começaram então a

discutir, ocasião em que Mário teria disparado tiros contra a vítima, tiros estes que a levaram a óbito.

Durante a instrução, foram ouvidas 8 testemunhas de acusação e 8 testemunhas de defesa. As testemunhas de

acusação foram unânimes em destacar a animosidade existente entre o acusado e a vítima, que negava ser pai do

acusado. Também disseram que havia ação de investigação de paternidade em andamento. As testemunhas

assistiram a tudo de uma distância de cerca de um quilometro e não puderam precisar maiores detalhes da luta

entre ambos.

Já as testemunhas de defesa disseram que o acusado simplesmente se defendeu do avanço da vítima, que vinha

em sua direção empunhando uma espada. Disseram ainda que Mário estava no chão quando disparou os tiros

contra a vítima, que estava em cima dele. Informaram, por fim, que o acusado e a vítima já brigavam há bastante

tempo e que as discussões e agressões entre eles eram constantes.

O acusado, em seu interrogatório apresentou a versão das testemunhas, embora tenha sido ouvido na audiência

antes delas.

Ao final da instrução, a acusação requereu a pronúncia de Mário por homicídio consumado qualificado em razão

da surpresa à vítima, que impossibilitou a sua defesa, com fundamento no artigo 121, parágrafo 2º, inciso IV, do

Código Penal.

Elabore a medida cabível em favor de Mário.

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2ª FASE DIREITO PENAL

RESPOSTA - TREINO 2 – ENUNCIADO 3

Cliente: Mário de Britto (réu).

Crime/Pena: Artigo 121, §2º, inciso IV, do Código Penal – 12 a 30 anos.

Ação Penal: Pública incondicionada.

Rito: Júri: trata-se de crime doloso contra a vida (artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “d”, da Constituição Federal).

Suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei 9.099/95)

Não é cabível: a pena mínima (12 anos) é superior a 1 ano.

Momento processual:

Finda a instrução, a acusação pugnou por sua pronúncia.

Peça: Memoriais – artigos 403, §3º, c/c artigo 394, §5º, do Código de Processo Penal.

Competência: Juiz de Direito da ... Vara do Júri da Comarca de ...

Teses:

(APRESENTAÇÃO DA TESE) No caso dos autos, o acusado foi interrogado antes da oitiva das testemunhas, o que configura nulidade processual. Vejamos.

(PREMISSA MAIOR) Conforme dispõe o artigo 411 do Código de Processo Penal, que traz a ordem da realização dos atos da audiência de instrução no rito do júri, a oitiva das testemunhas deve preceder o interrogatório do acusado.

(PREMISSA MENOR) No caso, entretanto, primeiro foi interrogado o acusado, para somente depois proceder-se à oitiva das testemunhas de acusação e de defesa, o que contraria o mencionado dispositivo do diploma processual penal e configura cerceamento de defesa, em afronta ao artigo 5ª, inciso LV, da Constituição Federal, acarretando a nulidade processual, nos termos do artigo 564, inciso IV, do Código de Processo.

(CONCLUSÃO) Portanto, de rigor a decretação da nulidade processual a partir da audiência de instrução.

(APRESENTAÇÃO DA TESE) No mérito, deve o réu ser absolvido sumariamente, eis que agiu em legítima defesa, conforme se demonstrará a seguir.

(PREMISSA MAIOR) Nos termos dos artigos 23, inciso II, e 25, ambos do Código Penal, age acobertado pela excludente de ilicitude da legítima defesa aquele que, “usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

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2ª FASE DIREITO PENAL

(PREMISSA MENOR) No caso em apreço, restou devidamente comprovado que o ora recorrente agiu em legítima defesa, repelindo injusta agressão da vítima.

De fato, as testemunhas de defesa afirmaram que o acusado simplesmente defendeu-se da agressão da vítima, que empunhava uma espada em sua direção. Segundo as testemunhas, ainda, o acusado estava no chão quando disparou os tiros contra a vítima, que estava em cima dele. Mário, por sua vez, ao ser ouvido em Juízo, trouxe a mesma versão apresentada pelas testemunhas.

(CONCLUSÃO) Portanto, verificada a incidência da referida causa excludente de ilicitude, nos termos do artigo 23, inciso II, e do artigo 25, ambos do Código Penal, deve Mário ser absolvido sumariamente, nos termos do artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal.

(APRESENTAÇÃO DA TESE) Em caso de pronúncia, deve ser afastada a qualificadora prevista no §2º, inciso IV, do artigo 121 do Código Penal.

(PREMISSA MAIOR) Conforme a mencionada previsão legal, deve responder por homicídio qualificado aquele que o pratica com surpresa à vítima, dificultando ou impedindo a sua defesa.

(PREMISSA MENOR) No caso em tela, entretanto, além de ter sido a vítima quem iniciou a agressão, não houve o fator de surpresa, pois a vítima e o acusado brigavam há bastante tempo, sendo constantes as discussões e brigas entre eles. Ora, tal fator afasta a possibilidade de aplicação da qualificadora em questão, pois a constância nos desentendimentos demonstra que não houve surpresa para a vítima em relação à conduta de Mário.

(CONCLUSÃO) Assim, deve ser afastada a qualificadora em questão, eis que não há que se falar em surpresa da vítima.

Por fim, deve ser concedido a Mário o direito de recorrer em liberdade.

Pedidos:

Ante o exposto, requer-se anulação do processo a partir da audiência de instrução. Caso não seja esse o entendimento, pugna-se pela absolvição sumária do réu, com fulcro no artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal. Subsidiariamente, em caso de pronúncia, requer-se a exclusão da qualificadora prevista no inciso IV do parágrafo 2º do Código de Processo Penal. Por fim, pleiteia-se a concessão do direito de recorrer em liberdade.