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471 A ATUAÇÃO DO HISTORIADOR JUNTO A ACERVOS UNIVERSITÁRIOS: CASO DO MEMORIAL JESUÍTA UNISINOS ISABEL CRISTINA ARENDT Memorial Jesuíta, Biblioteca Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS São Leopoldo – RS- Brasil [email protected], [email protected] Resumo O Memorial Jesuíta é composto de riquíssimo acervo histórico, entre os quais um expressivo número de obras raras e especiais, editadas entre os séculos XV e XX, somando mais de 200 mil itens, bem como milhares de documentos. Essas coleções foram reunidas, a partir da década de 1840, pelos jesuítas em diversas bibliotecas, necessárias a suas atividades educacionais, pastorais e sociais. A guarda e responsabilidade sobre este acervo reunido no Memorial foram confiadas à Biblioteca da Unisinos. Dentre as finalidades do Memorial, está a difusão e acesso a este importante acervo de teor cultural, histórico, científico e informativo. O objetivo da presente comunicação é o de apresentar o Memorial Jesuíta e destacar a importância da atuação de historiadores na área de preservação e difusão de acervos históricos, especificamente em universidades, abordando este Memorial como estudo de caso. Palavras-chave: Atuação do historiador. Preservação e difusão de acervos. Memorial Jesuíta Unisinos. 1 O Memorial Jesuíta Unisinos Lugar da memória [...], espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico, uma biblioteca é também o teatro de uma alquimia complexa em que, sob o efeito da leitura, da escrita e de sua interação, se liberam as forças, os movimentos do pensamento. É um lugar de diálogo com o passado, de criação e inovação, e a conservação só tem sentido como fermento dos saberes e motor dos conhecimentos, a serviço da coletividade inteira. 1 “A serviço da coletividade inteira” pretende estar também a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, que se comprometeu, há mais de dez anos, através de sua Biblioteca, a reunir e preservar acervos e coleções de livros, periódicos e documentos relativos à memória e à história de atuação dos jesuítas no sul do Brasil. Com esta finalidade, foi criado o Memorial Jesuíta Unisinos. O Memorial é composto de riquíssimo acervo histórico, somando mais de 200 mil itens, entre os quais um expressivo número de obras raras, editadas entre os séculos XV e XIX, bem como milhares de documentos. Essas coleções foram reunidas, a partir da década de 1840, pelos jesuítas em diversas bibliotecas, necessárias a suas atividades educacionais, pastorais e sociais. A guarda e responsabilidade sobre este acervo reunido no Memorial foram confiadas 1 Prefácio de Christian Jacob ao livro “O poder das bibliotecas; a memória dos livros no Ocidente” (JACOB; BARATIN, 2006: 9).

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A ATUAÇÃO DO HISTORIADOR JUNTO A ACERVOS UNIVERSITÁRIOS: CASO DO MEMORIAL JESUÍTA UNISINOS

Isabel CrIstIna arendt

Memorial Jesuíta, Biblioteca Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

São Leopoldo – RS- [email protected], [email protected]

Resumo

O Memorial Jesuíta é composto de riquíssimo acervo histórico, entre os quais um expressivo número de obras raras e especiais, editadas entre os séculos XV e XX, somando mais de 200 mil itens, bem como milhares de documentos. Essas coleções foram reunidas, a partir da década de 1840, pelos jesuítas em diversas bibliotecas, necessárias a suas atividades educacionais, pastorais e sociais. A guarda e responsabilidade sobre este acervo reunido no Memorial foram confiadas à Biblioteca da Unisinos. Dentre as finalidades do Memorial, está a difusão e acesso a este importante acervo de teor cultural, histórico, científico e informativo. O objetivo da presente comunicação é o de apresentar o Memorial Jesuíta e destacar a importância da atuação de historiadores na área de preservação e difusão de acervos históricos, especificamente em universidades, abordando este Memorial como estudo de caso.

Palavras-chave: Atuação do historiador. Preservação e difusão de acervos. Memorial Jesuíta Unisinos.

1 O Memorial Jesuíta Unisinos

Lugar da memória [...], espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico, uma biblioteca é também o teatro de uma alquimia complexa em que, sob o efeito da leitura, da escrita e de sua interação, se liberam as forças, os movimentos do pensamento. É um lugar de diálogo com o passado, de criação e inovação, e a conservação só tem sentido como fermento dos saberes e motor dos conhecimentos, a serviço da coletividade inteira.1

“A serviço da coletividade inteira” pretende estar também a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, que se comprometeu, há mais de dez anos, através de sua Biblioteca, a reunir e preservar acervos e coleções de livros, periódicos e documentos relativos à memória e à história de atuação dos jesuítas no sul do Brasil. Com esta finalidade, foi criado o Memorial Jesuíta Unisinos.

O Memorial é composto de riquíssimo acervo histórico, somando mais de 200 mil itens, entre os quais um expressivo número de obras raras, editadas entre os séculos XV e XIX, bem como milhares de documentos. Essas coleções foram reunidas, a partir da década de 1840, pelos jesuítas em diversas bibliotecas, necessárias a suas atividades educacionais, pastorais e sociais. A guarda e responsabilidade sobre este acervo reunido no Memorial foram confiadas

1 Prefácio de Christian Jacob ao livro “O poder das bibliotecas; a memória dos livros no Ocidente” (JACOB; BARATIN, 2006: 9).

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à Unisinos pela sua mantenedora, a Associação Antônio Vieira (ASAV).Atendendo aos objetivos do Memorial, dentre eles a difusão e acesso a este importante

acervo de teor cultural, histórico, científico e informativo, disponibiliza o acesso às Coleções de Obras Raras e Especiais e apresenta algumas de suas obras na presente Exposição.

Cabe lembrar que o Memorial Jesuíta foi agraciado pelo Ministério da Cultura com o Prêmio Ordem do Mérito Cultural 2011, a mais alta condecoração da cultura brasileira.

2 As Coleções de Obras Raras e Especiais

Dentre os livros que compõem a Coleção de Obras Raras e Especiais do Memorial Jesuíta, encontram-se de fato obras expressivas e valiosas e são testemunho da história do livro. Há, por exemplo, dentre os exemplares raros, editados nos diferentes séculos – XV ao XIX, um incunábulo de 1496 – testemunho dos primeiros livros impressos. Além disso, obras com frontispícios ricamente ilustrados e com capas em madeira revestida por couro.

Apreciar estas obras significa voltar ao tempo em que foram editadas. Como afirma Fischer, ao estudar a história da leitura (2006),

Nos lares das poucas pessoas que, de fato, tinham livros nos séculos XVI e XVII, os textos religiosos impressos quase sempre decoravam as prateleiras do quarto de dormir: o livro de horas, a Bíblia, a vida dos santos, um breviário (contendo salmos, hinos ou preces para repetição diária) ou, em alguns casos os padres da Igreja – sobretudo santo Agostinho. (FISCHER, 2006: 211)

Grande parte das obras, impressas entre os séculos XV e XVII, era produzida em latim e destinada às bibliotecas de sacerdotes e eruditos. No final do século XVII, porém, aumentou a demanda por livros em vernáculo, apesar de o latim ter sido considerado o único idioma de erudição pelos cientistas daquele século (FISCHER, 2006: 219-220). Isto explica, de certa forma, o fato de as obras estarem impressas em latim, além do alemão e do francês.

Os principais temas do Acervo versam sobre teologia, filosofia, ciências, letras e artes, o que o torna testemunho da formação da comunidade científica do nosso Estado.

2.1 Detalhamento e histórico das Coleções

2.1.1 Coleção de Obras Raras e Especiais

Nesta coleção encontram-se obras de alto valor pela sua antigüidade e pela sua raridade. Requerem um tratamento especializado em termos de conservação, preservação e, não em poucos casos, de restauração. A guarda, o acesso, o manuseio e a utilização das obras constantes neste acervo obedecem a normas específicas, para assegurar a preservação e a integridade das mesmas.

A coleção está subdividida em duas partes: - coleção de obras impressas entre o século 15 e o século 18, compondo 2.636 itens;- coleção de obras do século 19, somando 23.371 itens.A própria Biblioteca da Unisinos já possuía uma coleção com livros raros que coordenava

desde sua formação. Com a transferência do acervo para o prédio atual em 2000, esta Coleção

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foi ampliada com a vinda da Biblioteca Patrum do Colégio Cristo Rei de São Leopoldo, do Colégio Anchieta de Porto Alegre, do Colégio Santo Inácio de Salvador do Sul, do Colégio Gonzaga de Pelotas e do Colégio Stella Maris de Rio Grande. Ao longo do tempo também foram recebidas doações de particulares.

2.1.1.1 Exemplos específicos de obras raras e especiais2

A título de exemplo de obra rara que compõe a Coleção, citamos o incunábulo “Repertorii Totius Summe Domini Antonini Archiepiscopi Florentini Ordinis Predi”, de Santo Antonino, Arcebispo de Florença, impresso em Strasbourg no ano de 1496. Esta obra é composta por quatro volumes, do que nos falta o terceiro. As capas são em madeira, revestidas por couro com ornamentações, sem a presença das lombadas e fechos da encadernação. Seu texto é apresentado em duas colunas, em caracteres góticos e letras capitulares em azul, vermelho e preto. Por tratar-se de um incunábulo, os volumes não apresentam folha de rosto. A data da impressão e o seu responsável foram retirados do colofão, ou seja, o parágrafo que fecha cada volume.

Incunábulo de 1496 (foto de Christiaan Van Hattem/UNISINOS)

Livro raro do final do Século 16, o “Liber Exercitiorvm Spiritvalivm triplicis viae”, de Jean-Michel de Coutances, versa sobre teologia ascética e mística e foi impresso na Alemanha em 1599. A folha de rosto apresenta a marca do impressor alemão Johannes Gymnicum, que viveu em Colônia no século 16, e ficou conhecido pelo unicórnio impresso nesta marca, por isso o apelido de Monocerote acompanhava seu nome em todas suas impressões.

Também em latim, a obra “Concionum in Quadragesimam Reverendi Patris Claudii de Ligendes e Societate Jesu” reúne os sermões do Jesuíta Claude de Ligendes e foi impressa, na sua segunda edição, na Alemanha em 1664. Os três volumes trazem a doutrina social da Igreja estão encadernados em exemplar único, com capa em madeira revestida por couro. Os frontispícios apresentam vinheta ilustrada com monograma do Nome do Santíssimo Senhor.

Outra obra rara, “De origine, progressu, valore ac fructu indulgentiarum[...]”, do teólogo alemão Eusebius Amort, versa sobre teologia dogmática. O exemplar impresso na Alemanha, entre os anos de 1735 e 1736, possui capa de papelão, revestida por couro, com

2 Informações sobre as obras obtidas a partir do catálogo online da Biblioteca Unisinos - http://www.unisinos.br/biblioteca/.

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ilustração calcográfica na primeira e segunda capas relativa ao Evangelho de São João (cena da crucificação de Jesus Cristo, com Sol e Lua ao alto da cruz, imagem de Nossa Senhora e São João aos pés da cruz, dentro do sol que compõe o estema da Companhia de Jesus).

Escrita pelo jesuíta Drexel, que compunha obras de cunho devocional, a obra “Reverendi Patris Hieremiae Drexelii e Socie: Iesu. Opera Omnia [...]” foi impressa na Alemanha em 1680. Apresenta belíssimo frontispício ilustrado por Philippus Harpff, representando o céu e o inferno em páginas opostas, constando o retrato do autor.

Frontispício da obra do jesuíta Drexel, impressa em 1680 (foto de André Seewald/UNISINOS)

Como interpretação da Sagrada Escritura, apresentamos “Commentaria in Quatuor Sancta Jesu Christi Evangelia” de Adam Contzen. Esta impressão em latim, hebraico, grego e siríaco, publicada na Alemanha em 1707, possui capa de papelão, revestida por couro com ornamentações e aparas em dourado com desenho de flores, um cuidado no embelezamento dos livros que compõe as obras do século 17.

Detalhe da obra de Contzen, impressa em 1707 (foto de André Seewald/UNISINOS)

Por fim, apresentamos a “Encyclopedie Française”, que compreende 35 volumes em suas diferentes edições. Na Coleção de Obras Raras e Especiais do Memorial encontram-se os 28 volumes da primeira edição, datados entre 1751 e 1772. Esta obra foi publicada durante o reinado de Luis XV, período em que ocorreu a expulsão dos Jesuítas da França e Espanha, vindo culminar com a supressão da Companhia de Jesus. Obra controversa e grandiosa teve sua organização iniciada por Denis Diderot e Jean Le Rond d’ Alembert, mas contou também com Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e inúmeros outros iluministas na confecção de seus verbetes, além de ilustradores como Louis-Jacques Goussier, Bonaventure-Louis Prévost e Charles Nicolas Cochin.

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Livros – séc. XVI e XVII (foto de André Seewald/UNISINOS)

2.1.2 Coleção Cristo Rei

A coleção compreende 58 mil itens que abrangem todas as áreas do conhecimento. Nela encontram-se muitas obras localizadas em número restrito de bibliotecas nacionais ou internacionais. Esta Coleção, pertencente à Biblioteca Patrum do Colégio Cristo Rei de São Leopoldo, foi transferida à Biblioteca da Unisinos em 2001, mediante um acordo de Comodato com a Associação Antônio Vieira.

Esta Coleção foi reunida primeiramente no Seminário Diocesano em Porto Alegre, passando em 1913 para o Seminário Provincial de São Leopoldo, e em 1942 nas Faculdades de Filosofia e Teologia Cristo Rei. Neste contexto, a Coleção foi composta em parte pela biblioteca do Seminário Episcopal em Porto Alegre (1892 e 1898); outra parte veio a integrar-se no acervo a partir de 1913, quando o arcebispo D. João Becker confiou aos jesuítas a formação do seu clero, especialmente a Filosofia e Teologia, no Seminário Central de São Leopoldo, o qual abrigou e formou não só o clero da arquidiocese de Porto Alegre, mas abriu as portas e acolheu candidatos ao sacerdócio, tanto secular como regular, de todo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, bem como de outros estados até 1956. Neste ano, ocorreu o fechamento do Seminário Provincial de São Leopoldo, porém não afetou a continuidade da Faculdade de Teologia Cristo Rei, que seria transferida em meados de 1960 para Belo Horizonte. A Coleção Cristo Rei permaneceu, a partir de então, restrita ao uso interno, ou seja, indisponível aos pesquisadores externos até 2001, quando foi transferida à Biblioteca da Unisinos, mediante um acordo de Comodato com a Associação Antônio Vieira.

2.1.3 Coleção de Periódicos Santo Inácio de Loyola

Trata-se de uma coleção de periódicos dos séc. XIX e XX formada por mais de 1.200 títulos. Soma-se a ela um conjunto documental de partituras de música e algumas edições em braile. São provenientes do Colégio Máximo Cristo Rei, do Colégio Santo Inácio, da Residência Jesuíta do Colégio Anchieta e da Biblioteca da Província do Brasil Meridional S.J.

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2.1.4 Coleção Antônio Vieira

Também reunida desde meados do século XIX, esta coleção é composta por aproximadamente 83.000 itens e foi transferida da antiga sede da Unisinos, no centro de São Leopoldo. Originou-se da reunião das bibliotecas dos colégios, seminários, paróquias e outras instituições dos jesuítas que foram sendo desativados a partir da década de 1950. Trata-se de uma coleção aberta, na qual poderão ser incorporados outros acervos provindos de instituições dos jesuítas ou não.

2.1.5 Acervo Documental e de Pesquisa

Há ainda Fundos Documentais que completam o acervo de obras especiais do Memorial Jesuíta, os quais recebem tratamento arquivístico apropriado e são descritos a seguir3.

2.1.5.1 Arquivos Pessoais de jesuítas que atuaram na promoção humana e social, na educação e na produção científica e intelectual, dentre eles os legados documentais:

a) Pe. Theodor Amstad, S.J. (1851-1938): o seu legado está relacionado aos projetos de promoção humana postos em prática no meio colonial do sul do Brasil, na primeira metade do século vinte. Foi o idealizador, incentivador e concretizador da Associação Riograndense de Agricultores - Bauernverein (1900-1910), e da Sociedade União Popular, de 1912 e 1938, ano do seu falecimento. Os documentos desta coleção referem-se ao período de 1899 a 1951 e compreendem correspondências, publicações, recortes de jornal, mapas, dados biográficos. Acesso:

http://www.unisinos.br/memorialjesuita/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid=74

b) Pe. Max von Lassberg. S.J. (1857-1944): os documentos referem-se ao período de 1909 a 1940, dentre eles correspondência e textos originais. Acesso:

http://www.unisinos.br/memorialjesuita/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid=74

c) Pe. Johannes Rick, S.J. (1869-1946): compõe-se de documentos referentes ao período de 1881 a 1947 (naturalidade, passaporte militar, salvo conduto, atestado escolar, registro de estrangeiro, fotografias; e correspondência científica de 1902 a 1945); Acesso:

http://www.unisinos.br/memorialjesuita/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid=74

d) Pe. Balduino Rambo, S.J. (1905-1961): o espólio por ele deixado refere-se a sua produção científica nas áreas de botânica, literatura e poética, além de livros didáticos, originais de textos de sua autoria, bem como em torno de 12.000 correspondências enviadas e recebidas referentes a sua atuação científica e social (1930 a 1961); o diário de quarenta volumes encadernados (1919-1961) em estenografia ou alemão. Acesso: http://www.unisinos.br/memorialjesuita/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid

3   Confira informações detalhadas sobre os Fundos Documentais que se encontram no acervo do Memorial Jesuíta pelo site http://www.unisinos.br/memorialjesuita/

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e) Pe. Werner von und zur Mühlen, S.J. (1874-1939): este legado inclui correspondências, conferências, publicações referentes a sua atividade como formador de elites católicas na década de 1930;

2.1.5.1.2 Arquivos pessoais de não jesuítas: o Acervo Documental compreende também arquivos pessoais de não jesuítas:

a) Júlio Marcos Germany Gaiger (1956-2004): advogado do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão de Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como Assessor Legislativo da Câmara dos Deputados prestava consultoria de direito agrário e indígena. Este arquivo pessoal é composto por: textos de sua autoria; correspondências; pareceres jurídicos emitidos por Júlio Gaiger; documentos de processos e acordos judiciais em terras indígenas; processos judiciais civis e da União sobre terras indígenas; mandados de Segurança Nacional - Recurso Especial; alguns livros e textos de apoio referentes ao Estatuto do Índio, a estatutos indígenas de países latino-americanos, CIMI, Câmara de Deputados, Senado Federal, Projetos de Lei.

b) Clodomir Vianna Moog (1906-1988), advogado, jornalista, romancista e ensaísta, nascido em São Leopoldo – RS, também ocupou a Cadeira n. 4 da Academia Brasileira de Letras. O acervo é composto por documentos pessoais, originais de livros, correspondências, textos inéditos, conferências, álbuns de recortes de críticas, álbuns de artigos de jornais (referentes à atuação de Vianna Moog como diretor da Folha da Tarde), fotografias, comendas e coleção de relatórios do Comitê de Ação Cultural da OEA;

c) Aldo Obino (1913-2007), professor de filosofia e crítico de música e arte, do Jornal Correio do Povo em Porto Alegre. O legado compreende especialmente recortes de periódicos com matérias referentes à produção artística, eventos culturais e crítica literária, por ele colecionados desde 1940 até 2007.

2.1.5.1.3 Arquivos Institucionais, compostos pelos seguintes acervos documentais:

a) Fundo da Sociedade União Popular - Volksverein (1912-1990), somando em torno de 70 mil documentos, dentre os quais correspondência expedida e recebida (1912 a 1991), Livros Caixa e Conta Corrente (1912 a 1960), Fichas de Associados, Livros de Atas de Reuniões da Diretoria (1926 a 1991) e Assembléias Gerais (1926 a 1937), além de alguns livros e periódicos.

b) Fundo do Centro de Documentação e Pesquisa – CEDOPE (1970-2001), soma em torno de 350 mil documentos. As primeiras seções organizadas e disponibilizadas para a pesquisa são as seguintes:

• Seção Pedro Calderan Beltrão S.J• Seção Roque Lauschner S.J• Seção José Ivo Follmann S.JAcesso:http://www.unisinos.br/memorialjesuita/index.php?option=com_content&task=vie

w&id=28&Itemid=75A documentação deste Fundo trata de temas relativos às áreas de Ecologia; População

e Família; Cooperativismo com ênfase no Desenvolvimento Rural e Urbano, atendendo

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também às áreas de Movimentos Sociais e Cultura, Religiões e Sociedade. Compreende também periódicos diversos (dentre eles, o Jornal Elo Cooperativo – 1984 a 1993; Jornal Porantim – 1980-2004; Cotrijornal – 1973 a 1992; Cooperjornal – 1987 a 2000; Interior – 1974 a 2004; A Ponte – 1985 a 2004). Neste Fundo está inserida, ainda, uma Coleção de documentos sobre o Círculo Operário Leopoldense (1904-1988).

c) Fundo do Frigorífico Vacariense – FRIVA (1972-2008), o qual compreende 540 m lineares de documentos referentes à Massa Falida do mesmo, dentre eles documentos fiscais, de fornecedores, livros fiscais, razão e diário, correspondências expedidas e recebidas, abrangendo o período de 1972 a 2002.

d) Fundo da Assessoria a Movimentos de Mulheres da UNISINOS (1990-2008): compreende a documentação desta Assessoria que fazia parte do Setor de Serviço e Assistência Social da Universidade, e cujo objetivo geral era prestar “assessoria, na perspectiva dos movimentos sociais populares, almejando contribuir na construção de um projeto ético-político profissional sintonizado com a utopia de um projeto societário sem exploração/dominação de classe, gênero e etnia” (ZIEBELL, 2005).

3 O Memorial como espaço de atuação do historiador ou estudante de história

A temática das fontes de pesquisa e do patrimônio cultural e histórico no país tem sido objeto dos historiadores há várias décadas, e, por sua vez, tem aberto espaço de atuação para o historiador e para os estudantes de história. Como aponta Ana L. Martins (2009: 282), com base na finalidade de “qualificação metodológica da pesquisa histórica”, universidades, institutos de fomento à pesquisa, fundações, associações e museus têm se ocupado mais e com muito cuidado com a “produção e trato dos acervos”. Tendo sido uma necessidade que nasceu em meio ao fazer historiográfico, será um processo naturalmente conduzido por historiadores, sejam profissionais ou em formação. O Memorial Jesuíta, por estar diretamente vinculado a uma Biblioteca universitária, tornou-se, mais um espaço de atuação para os profissionais e estudantes desta área. Consta outro vínculo com a área da história: grande parte do acervo que hoje constitui o Memorial, foi reunido por professores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos.

Além da preocupação com a tarefa de organizar e disponibilizar os seus acervos, papel assumido por tantas universidades e instituições privadas voltadas à guarda de acervos históricos e do patrimônio cultural brasileiro, a Universidade busca ampliar a formação de seus alunos em história, voltando-a também para uma atuação na área de patrimônio e memória. Neste sentido, o Curso de História da Unisinos indica a seus alunos o Memorial como espaço para atuação de estagiários curriculares obrigatórios e/ou remunerados, inserindo-os nos projetos de organização e difusão de acervos aí desenvolvidos.

Dentre os projetos desenvolvidos pelo Memorial com participação efetiva de estudantes de história ou recém-formados, destacamos os seguintes:

a) Organização do Fundo Documental CEDOPE, o qual recebeu patrocínio da Petrobrás. O profissional de história teve inclusive contato, mesmo que indiretamente, com a configuração e implicações de um projeto executado mediante apoio externo, bem como a oportunidade de apresentar e publicar texto referente ao projeto (ARENDT et al., 2011).

b) Organização e disponibilização da Coleção de Partituras: dois estagiários da história atuaram neste projeto que, até o momento em torno mais de 4.000 partituras foram catalogadas, cujo inventário está disponível para consulta local. Nele, as partituras estão identificadas pelo título da obra, por autor, tipo de instrumentos musicais e tipologias, dentre sacras e

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profanas. c) Catalogação e difusão da Coleção de Obras do século XIX e da Coleção Cristo Rei: estes dois

projetos envolveram diversos alunos do curso de História. Estes têm oportunidade de lidar diretamente com livros raros e especiais do século XIX, bem como as obras das primeiras décadas do século XX. Também possuem acesso às obras mais raras e especiais, datadas dos séculos XVI ao XVIII, em oportunidades específicas, como montagem de Exposições e realização de visitas guiadas ao acervo. Os alunos têm contato com a história do livro, conhecendo a forma e composição de livros com mais de dois séculos, bem como com metodologias e técnicas de preservação e conservação destas obras. A imagem a seguir mostra uma técnica utilizada para proteger as lombadas dos livros das etiquetas comumente utilizadas em livros catalogados: trata-se de um clips de papel neutro, no qual é então colada a etiqueta.

Detalhe do clips de papel (foto de André Seewald/UNISINOS)

Considerações finais

Os acervos que compõem o Memorial Jesuíta, Biblioteca da Unisinos, são importante suporte para pesquisas científicas, e a participação do historiador e estudante de história é de fundamental importância para a sua preservação e difusão. O presente texto não pretendeu esgotar o tema em questão. A salvaguarda de acervos com tal valor histórico e cultural, nacional e até internacional, representa a seriedade dedicada ao patrimônio cultural por parte da UNISINOS e sua mantenedora, a Associação Antônio Vieira, no cumprimento da função de guarda da memória histórica, papel hoje também assumido pelas universidades (CAMARGO, 199: 49), em parceria com a esfera pública, mediante apoio e fomento de instituições públicas e privadas..

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REfERêNCIAS

ARENDT, Isabel Cristina; KEPPLER, Carlos Dinarte de Oliveira; MARQUES, Marli Pereira. Fundo CEDOPE: um capital informacional em difusão. In: Mostra de pesquisa do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (9. : 2011 : Porto Alegre, RS). Anais: produzindo história a partir de fontes primárias / 9. Mostra de Pesquisa do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre 13, 20, 27 de agosto e 03 de setembro de 2011. – Porto Alegre: Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas - CORAG, 2011. p. 346-361.

CAMARGO, Célia Reis. Os Centros de Documentação das Universidades: tendências e perspectivas. In: SILVA, Zélia Lopes da (Org.) Arquivos, patrimônio e memória; trajetórias e perspectivas. São Paulo: Ed. UNESP, FAPESP, 1999.

FISCHER, Steven Roger. História da leitura. Trad. de Claudia Freire. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.

JACOB, Christian; BARATIN, Marc. O poder das bibliotecas; a memória dos livros no Ocidente. Trad. de Marcela Mortara. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2006.

MARTINS, Ana Luiza. Uma construção permanente. In: LUCA, Tania Regina de; PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p. 281-308.

ZIEBELL, Clair Ribeiro. Movimentos Sociais e Serviço Social: protagonismo ético-político de mulheres. In: História Unisinos. Revista do Programa de Pós Graduação em História, v.9, n.2, São Leopoldo, Unisinos, mai/ago 2005.