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MEMÓRIAS LÚDICAS DO MOVIMENTO BANDEIRANTE EM BELÉM DO PARÁ
(1960-1980)
Valdeci Augusto Costa Vilhena
Acadêmico concluinte do CEDF/UEPA
Ana Cristina Guimarães de Oliveira
Orientadora e Docente do Curso de Educação Física/UEPA
RESUMO Este estudo pretende compreender as influências da ludicidade no Movimento Bandeirante
(MB) em Belém do Pará. Este movimento social e filantrópico atende, desde sua criação até os nossos dias, crianças e adolescentes de diferentes faixas etárias. Para isso a questão da problemática busca desvelar as memórias das pioneiras que vivenciaram as atividades lúdicas na Federação de Bandeirantes do Estado do Pará no período de 1960 a 1980. Para sistematizar a pesquisa nos valemos do tipo de pesquisa qualitativa com a técnica de coleta de dados através do levantamento documental e da história oral. O lócus da pesquisa documental ocorreu na sede estadual do Movimento Bandeirante, e a história oral, através da entrevista narrativa aplicada a três bandeirantes pioneiras. Posteriormente analisa as fontes encontradas e as entrevistas. Concluindo após a análise que o lúdico era utilizado pelos bandeirantes, através de atividades específicas do grupo, buscando desenvolver o potencial de seus participantes.
PALAVRAS-CHAVE: Movimento Bandeirante. Ludicidade. Metodologia.
ABSTRACT
This study intends to understand the influences of playfulness in the Bandeirante Movement (MB) in Belém do Pará. This social and philanthropic movement has served children and adolescents from different age groups since its inception. In order to systematize the research we use the type of qualitative research with the technique of data collection. In order to systematize the research we use the type of qualitative research with the technique of data collection through the documentary survey and oral history. The locus of documentary research occurred at the state headquarters of the Bandeirante Movement, and oral history, through the narrative interview applied to three pioneering pioneers. Later it analyzes the found sources and the interviews. Concluding after the analysis that the ludic was used by the bandeirantes, through specific activities of the group, seeking to develop the potential of its participants. KEYWORDS: Bandeirante Movement. Ludicidade. Methodology.
1. INTRODUÇÃO
O movimento bandeirante é uma instituição não governamental, com o intuito
de transformar crianças, jovens e adultos em cidadãos responsáveis pelo mundo.
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Criado pelo mesmo fundador dos escoteiros, Robert Baden-Powell, o grupo e seu
método chamaram a atenção também das meninas. Com isso, Robert e sua irmã
Agnes Baden-Powell criaram, em 1909, o Girl Guides, movimento que no Brasil
recebeu o nome de Bandeirantes.
O movimento Bandeirante chega ao Brasil, através da elite carioca, voltado
estritamente ao gênero feminino e tendo como propulsora Jerônima Mesquita, sendo
a 1ª comandante-chefe nacional. A Federação de Bandeirantes do Brasil (FBB)
iniciou suas atividades em 1919, no Rio de janeiro, expandiu-se para Bahia em
1933, e 14 de março de 1934 chegou ao Pará, através de Alzira Sodré, até hoje
conhecida nacionalmente como a fundadora no estado do Pará.
No contexto da sociedade, entre as décadas de 1960 e 1970, o feminismo
eclode na Europa e nos Estados Unidos, o qual está diretamente relacionado com
toda a efervescência política e cultural que essas regiões do globo experimentaram
na época.
No Brasil, o cenário era visivelmente distinto, e aconteceu de maneira mais
branda (CARVALHO, 2014). Isso devido ter ocorrido em meio à ditadura militar,
motivo pelo qual qualquer manifestação popular seria vista como ameaça a
segurança nacional.
Carvalho (2014) afirma que, nesse período o movimento bandeirante estava
sofrendo uma evasão, pelo fato das moças não terem contato com rapazes, em
virtude disso, houve uma proposta de mudança na metodologia de suas líderes para
que se incluíssem atividades mistas no final década de 60.
Havia contraposições ideológicas estabelecidas pelo grupo conservador e
feminista do movimento bandeirante que não concordavam com a mistura. No
entanto, iniciou-se uma interação maior entre crianças e jovens, independente do
gênero, assim, possibilitando o surgimento de novas metodologias para a instituição.
Esse acesso da diversidade possibilitou as coordenadoras terem liberdade em seu
planejamento, podendo criar novos projetos e atividades.
Houve, portanto entre as décadas de 60 a 70 a transição de um grupo
conservador, feminista, elitista, vinculado ao catolicismo e considerado higienista,
para outro que trabalha com vários projetos e atividades feitas sem distinção de
gênero e sexo, permitindo nortear trabalhos voltados para a sustentabilidade,
preservação da natureza e atuação junto a comunidades mais carentes e a
sociedade.
3
Com as mudanças que ocorreram ao longo dos anos, ainda é vago, como os
Bandeirantes introduziram o lúdico em suas atividades, mesmo ocorrendo de forma
natural no movimento bandeirante desde sua chegada ao Brasil. Principalmente, se
relacionado com musicalidade, artes, jogos e brincadeiras.
No artigo busco transparecer parte do processo histórico das mudanças
ocorridas dentro de uma instituição social quanto às atividades lúdicas entre as
décadas de 1960 até a década 1980.
O estudo traz à sociedade, compreender as atividades voltadas ao lúdico
dentro do movimento bandeirante, o qual buscava métodos de educação informal,
através de jogos, acampamentos, oficinas e projetos sociais. A metodologia
bandeirante desde sua criação procura através destas vivencias integrar e incluir
crianças, jovens e adultos na sociedade. Além de possibilitar experiências com a
natureza com vista a uma vida saudável.
É através do exercício da cidadania e de princípios éticos que o bandeirante
tem a oportunidade de se relacionar consigo e com outros de modo dinâmico e
lúdico. Há de se considerar que todo grupo institucional possuí ideologias, e,
portanto o Movimento Bandeirante contribuiu com conhecimentos específicos que
prima pela responsabilidade social.
A metodologia do movimento bandeirante para a educação informal prima
pelo permanente diálogo com aspectos ligados as questões sociais e culturais.
Assim, a ludicidade é utilizada como processo mediador e integrativo. E, são
utilizados até hoje.
As vivencias lúdicas aqui são entendidas como princípios de liberdade do ato
de brincar. E observamos que alguns jogos trabalhados em espaços escolares
fazem parte daqueles ensinados no Movimento Bandeirante. Poder-se-ia considerar
que os conhecimentos das atividades lúdicas ultrapassaram os limites do movimento
bandeirante e se estenderam, contribuindo com outras instituições sociais.
Daí a relevância do estudo em retomar e conservar as memórias através dos
relatos das bandeirantes mais antigas, para o registro das dinâmicas e atividades
lúdicas que ocorreram no período do inicio do Movimento Bandeirante no Pará.
A contribuição do estudo é poder trazer ao conhecimento acadêmico e social,
as atividades lúdicas, que seguem até os dias atuais, e refletir nas mudanças que
pode ter ocorrido com o passar dos anos, assim possibilitando uma visibilidade
maior de grupo.
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Minha aproximação com a temática provém do fato de fazer parte do grupo
desde a infância e atualmente como coordenador bandeirante de um dos grupos,
conhecido como B2 (faixa etária de 12 a 15 anos), o qual me possibilita conhecer
vários aspectos de dentro do Movimento Bandeirante.
O estado da arte foi realizado para um breve levantamento das produções
acadêmicas existentes.
Para que obtivesse o resultado com coerência, pesquisamos no site da
CAPES/MEC, BTDT (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações), e Google
acadêmico o qual encaminhou para o banco de dados da UNESP. Sendo somente
três os trabalhos sobre a temática, listados abaixo.
Quadro 01: Levantamento de Trabalhos Stricto Sensu que falam sobre o Movimento Bandeirante.
Fonte: Pesquisador, realizado em 2018.
Observasse que os trabalhos supramencionados no quadro 1 são todos da
região sul e sudeste, não tendo identificado qualquer produção na região norte.
Com todas as mudanças ocorridas dentro do bandeirantismo, isto, para que
sempre esteja inserido no contexto da atual sociedade, há alguns aspectos que
ainda prevalecem e outros que se alteraram.
Sendo assim, nossa questão de investigação nos leva, a saber, quais as
memórias das vivencias lúdicas existentes entre as décadas de 1960 até a década
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de 1980, que faziam parte da metodologia utilizada na Federação de Bandeirantes
do Pará?
Para esse estudo tem-se o objetivo geral de compreender as influências da
ludicidade no bandeirantismo do Pará através das bandeirantes mais antigas e de
documentos entre as décadas de 1960 até a década de 1980. E, para que a
pesquisa possa ser contemplada pleiteamos como objetivos específicos serão
levantados e analisados os documentos oficiais que possuam informações das
atividades lúdicas do movimento bandeirante, além disso, registradas as memórias
das atividades lúdicas vivenciadas no movimento bandeirante no Pará entre as
décadas de 1960 a 1980, a partir das entrevistas realizadas com as bandeirantes
pioneiras e também esta identificando as atividades lúdicas mais utilizadas e quais
suas mudanças ao longo dos anos após a década de 1960.
Mediante a necessidade de dar mais clareza ao assunto, utilizei como
questão norteadora para o trabalho, de que forma era inserido o lúdico dentro das
atividades do movimento bandeirante?
2. APROXIMAÇÕES ENTRE MEMÓRIA, LUDICIDADE E AS SUAS VIVÊNCIAS
NO MOVIMENTO BANDEIRANTE.
O lúdico no bandeirantismo pode ser destacado nas memórias guardadas da
história de algumas pioneiras, sendo consideradas as bandeirantes que deram início
a grupos aqui no Pará ou que fizeram parte do grupo em décadas passadas, porém,
tem-se que entender algumas das teorias referente as categorias utilizadas em
nosso artigo para refletir sobre memória (Le GOFF, 1990 e HALBWACHS, 1968);
ludicidade (MOREL, 2003 e Huizinga, 2000).
Segundo Le Goff (1990), memória surge com o objetivo de conservar certas
informações, nos levando a um conjunto de funções psíquicas, essas, possibilitando
o homem a atualizar impressões ou informações vividas anteriormente. Tal conceito
nos remete ao psiquismo do ser humano, que armazena seus melhores
pensamentos de algo que ocorreu somente uma vez na vida, contudo, o termo
memória começou a ser utilizado desde a Grécia antiga.
A memória nos proporciona a imaginar como foi algo que ocorreu com uma
única pessoa, contudo, há também memórias com civilizações, então, a memória se
divide em individual e coletiva.
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Segundo Halbwachs (1968), o indivíduo que armazena lembrança esta
envolvido em uma sociedade, assim, havendo sempre um grupo como referencial, a
memória é então sempre construída de forma coletiva, assim, afirmando que cada
memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, como se pode ver,
o trabalho do sujeito no processo de rememoração não é descartado, indicando que
as lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que
trate de eventos em que somente um indivíduo esteja envolvido e objetos que
somente o mesmo teve contato, acontecendo isso pelo simples fato de jamais
estarmos sós.
Sendo assim, é interessante salientar a importância da memória, sendo a
individual ou a coletiva para o estudo do passado, pois, contribui com pesquisas que
queiram retomar representações que já foram vivenciadas por grupos ou pessoas,
todavia, que não são mais utilizadas.
Com o enfoque central na memória do lúdico no bandeirantismo, e já haver
supramencionado as definições de memória, vamos entender, o que é o lúdico, e
como esta inserido dentro do processo da evolução do ser humano, e se pode haver
uma ligação entre o lúdico e o movimento bandeirante.
Morel (2003) afirma que o lúdico é algo essencial e peculiar para todas as
etapas da vida humana, isto, por entender que se encontra envolvido no
desenvolvimento da criança, ocorrendo através da ludicidade, e possibilitando que a
criança use o brincar nas etapas de seu crescimento, para que possa encontrar o
equilíbrio com o que lhe rodeia. Assim sendo, o lúdico é caracterizado pela
experiência de plenitude que ele possibilita a quem o vivencia em seus atos. A
ludicidade é um termo criado a partir da palavra latina ludus ou “ludos”, que significa
jogo.
Huizinga (2000) traz em sua obra Homo Ludens, uma visão antropológica do
jogo, e nos mostra a ajuda do mesmo no desenvolvimento humano, mostrando o
jogo como fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições mais
rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana, todavia, o autor destaca o lúdico
como algo prazeroso, “Mas reconhecer o jogo é, forçosamente, reconhecer o
espírito, pois o jogo, seja qual for sua essência, não é material. Ultrapassa, mesmo
no mundo animal, os limites da realidade física” (HUIZINGA, 2000, p. 6)
Sendo assim o jogo para Huizinga (2000, p. 33)
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(...) é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida num certo nível de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas e absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, atividade acompanhada de um sentimento de tensão e alegria, e de uma consciência de ser que é diferente daquela da vida cotidiana.
O jogo perfaz uma necessidade voluntaria de participação que envolve
diferentes sensações cognitivas e sociáveis, mas prima pela liberdade de
consentimento, esta liberdade que provém do ser lúdico.
O movimento bandeirante conseguia contemplar os interesses sociais, assim,
possibilitando a inclusão da mulher em atividades que envolvem a ludicidade, mas
também, em um contexto eurocêntrico de lutas sociais a favor do feminismo. E isso
historicamente se deu inicialmente pelo Movimento de escoteiros.
Através da busca da socialização de jovens, criando o método do aprender
fazendo, que deu inicio ao movimento Escoteiro, o qual foi criado na Inglaterra no
início do século XX, Robert Stephenson Smith Baden-Powell, chamado B-P, foi um
soldado inglês que ao retornar da guerra na África do Sul, percebeu que sua
experiência poderia ajudar a juventude. Motivado por isso, realizou estudos sobre
métodos educativos para jovens e desenvolveu seu método educativo baseado no
aprender fazendo, no trabalho em equipe, e na vida ao ar livre. Para testar seu
método, B-P convidou vinte jovens para um acampamento na Ilha de Brownsea, o
que se tornou o primeiro acampamento escoteiro.
Observando a eficiência de seu método, escreveu o livro “Escotismo para
Rapazes”, lançado na forma de manual, em 1908. A partir daí o Movimento
Escoteiro se expandiu e se tornou mundial. Contudo, o método de B-P não atraia
somente aos rapazes, mas também as moças, o que lhe chamou a atenção, com
isso, B-P conversou com sua irmã Agnes Baden-Powell e decidiram criar, em 1909,
um grupo somente de meninas, o Girl Guides, Agnes Baden-Powell ficou na
presidência das Bandeirantes até 1918, quando Olave, esposa de B-P, assumiu a
presidência, e expandiu ainda mais o movimento bandeirante pelo Mundo.
Ao chegar no Brasil, através da elite carioca com a família Mackenzie, o
Guidismo, como fora chamado inicialmente foi fundado pela feminista Jerônima
Mesquita, que também foi a 1ª comandante-chefe nacional, que já havia observado
o movimento na Europa, além de fundar oficialmente o Guidismo no Brasil, Jerônima
foi integrante da Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF), como
vice-presidente da organização. Participou também da fundação da Cruz Vermelha
no Brasil e de outras obras sociais que lhe renderam muitas condecorações.
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Em 1922, o movimento das Girls Guides no Brasil recebe o nome de
Movimento Bandeirante, segundo os documentos oficiais, o pedagogo Jonathas
Serrano sugeriu à instituição o nome “Bandeirante” ao buscar na história do Brasil
um termo que fizesse referência à ideia de pioneirismo.
No Pará, os Bandeirantes começaram suas atividades em 14 de março de
1934, após o início das ações dos Bandeirantes no Rio de Janeiro (1919 - marco da
fundação no Brasil) e dos Bandeirantes na Bahia (1933). Os grupos do Pará foram
formados na cidade de Belém com a ajuda de Alzira Sodré, esposa do escoteiro
Benjamin Sodré, nora do ex-governador do estado do Pará, Lauro Sodré. Alzira é
reconhecida nacionalmente como fundadora do bandeirantismo no Estado do Pará.
No início das atividades no Pará, os Bandeirantes atuavam em diversos
bairros mais centrais de Belém, inicialmente a Organização Não Governamental
(ONG) era também integrada somente por moças, lembramos, mas sempre em
ações de cidadania, educação das jovens membros e serviço às comunidades de
Belém.
O Movimento Bandeirante é filiado à Associação Mundial de Bandeirantes
(World Association of Girl Guides and Girl Scouts – WAGGGS), um movimento
educacional, sem fins lucrativos, dirigido a crianças entre os 6 e 18 anos, e com a
participação de adultos voluntários, tendo como objetivo principal, desenvolver o
potencial máximo de crianças e jovens como responsáveis cidadãos do mundo. No
total, o Movimento tem cerca de 600 membros só em Belém (dados registrados em
2016). Parte dos 10 milhões de membros espalhados pelo mundo.
O grupo tem como um dos métodos a vida em equipe, para que pudesse
haver estímulos determinados à idade correspondente, dividiu-se então por faixas
etárias, por observar que o desenvolvimento da criança se dá de forma diferente,
essas divisões foram nomeadas ao passar dos anos de grupo de cirandas, os quais
contem crianças de 6 a 8 anos, Bandeirantes de 9 a 14 e Guias (jovens de 15 a 18
anos), após esse último grupo, as jovens eram chamadas de Cadetes até 21 anos,
obtendo treinamentos para estarem assumindo grupos como coordenadoras, que
são as responsáveis de executar as atividades aos grupos de sua preferência, isto
somente até 1969, quando o grupo Bandeirantes foi dividido em B1(bandeirante 1)
crianças de 9 a 11 anos e B2 (bandeirante 2) pré-adolescentes de 12 a 14, e pelo
fato da criação dos grupos mistos o grupo de Cadetes foi encerrado.
As atividades do Movimento Bandeirante estão enquadradas em uma
educação não convencional, pois, incluem atividades voltadas à preservação da
9
natureza, convivência em sociedade, respeito ao próximo e suas as diferenças, usar
recursos da natureza sem prejudicá-la, valores e princípios éticos, além de outros
ensinamentos os quais podem ser encontrados no livro “Chama Acesa – O livro
Bandeirante”, o qual também apresenta os códigos de comportamentos do
bandeirante, suas metodologias, representações, histórico do movimento
bandeirante e simbologias desde o primeiro grupo até os órgãos mundiais.
3. METODOLOGIA
A metodologia que priorizamos para o estudo foi realizada a partir de uma
abordagem Dialética que segundo Lakatos (2005) “método que penetra o mundo
dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno
e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade”. Considerando que
os processos da pesquisa sobre ludicidade, memórias perpassam por
transformações, compreendemos que a abordagem dialética consegue dialogar com
todas essas relações.
Quanto ao tipo de pesquisa, será realizada através da Qualitativa, sendo uma
pesquisa de campo e documental, da qual, não queremos nos preocupar com dados
que quantifiquem, por tanto, segundo Minayo (2002, p.22) “a abordagem qualitativa
aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado
não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”.
O Lócus da pesquisa será realizada na sede estadual do Movimento
Bandeirante no Pará, localizada na rua 3 de maio, 1601, entre Av. Gentil Bittencourt
e Gov. Magalhães Barata.
Sendo as amostras, primeiramente livros, revistas e jornais. Havendo a
delimitação de todos pelo período e pelo tema, que será a ludicidade, e
posteriormente com as pioneiras, a qual realizou-se uma entrevista com as
bandeirantes mais antigas dentro do estado do Pará, sendo três no total.
No primeiro momento para a utilização dos recursos, da aquisição de acesso
a coleta documental, priorizou-se entrar em contato com o presidente da FBB-PA,
Raimundo de Brito e Silva Silva Filho, que nos permitiu o acesso dos documentos
dentro da Sede, foram coletadas da seguinte forma: revista bandeirantes, programas
de grupos, especialidades de coordenação, atas de assembleia do grupo no estado,
livros como o documento básico nº2, acampar, FBB-SP. O trato inicial deu-se pelo
período da fonte pesquisada, delimitando de 1960 a 1980, em seguida observou-se
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item a item e no momento que identificava-se alguma atividade que fosse
considerada de caráter lúdico, esse material passou então a integrar a pesquisa.
O outro processo utilizado foi o levantamento e contato com três pioneiras
que estavam no momento do surgimento do movimento bandeirante no estado do
Pará e são elas: Raimunda de Oliveira Messias; Maria de Nazaré Ataíde dos Santos;
Joana d’Árc Guimarães de Oliveira; processo o qual se priorizou uma entrevista
narrativa, para que a partir disso pudéssemos correlacionar de uma maneira mais
efetiva, trazendo à tona as memórias da ludicidade no movimento bandeirante do
Pará, nas entrevistas precisou-se do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), pois, as respostas foram gravadas, transcritas e posteriormente analisadas.
4. APONTAMENTOS REGISTRADOS E AS MEMÓRIAS NOS DISCURSOS
SOBRE O LÚDICO NO MOVIMENTO BANDEIRANTE DO PARÁ.
Para que se pudesse compreender a ludicidade dentro do bandeirantismo do
Pará, era de primordial importância realizar uma busca em seus documentos, o que
foi realizado na sede estadual do Movimento Bandeirante no Pará, denominada
FBB-PA, no dia 13 de abril de 2018, a pesquisa objetivou-se em fazer uma coleta de
informações em livros, revistas e jornais, com isso, estabeleceu-se uma linha de
pesquisa, a qual buscaria relação direta entre a ludicidade e o bandeirantismo, e
delimitando o período, sendo da década de 1960 a 1980. Com a pesquisa
obtiveram-se livros do próprio grupo, contudo, nenhum feito no Pará, todos vindo da
região sudeste, mas especificamente Rio de Janeiro, local onde se localiza até os
dias atuais a Sede Nacional da FBB.
Não há qualquer livro sobre a temática dentro da sede estadual ou revista do
período da década de 1960 e poucos registros do final da década de 1970, contudo,
as fontes encontradas contribuíram com as representações de alguns registros de
atividades lúdicas no bandeirantismo a nível nacional, sendo esses os livros
encontrados: Documento Básico nº2, Revista Bandeirantes, Acampar, Programa de
Grupos (B2 e Guia). Sendo assim, entende-se que pode haver livros que foram
arquivados na sede nacional que se localiza no estado do Rio de Janeiro, por isso,
havendo poucos registros dentro da sede estadual do Movimento Bandeirante no
Pará. As fontes colhidas e analisadas foram utilizadas para que se pudesse enfatizar
as entrevistas apresentadas.
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O movimento bandeirante no período era dividido por faixas etárias, assim
como ainda ocorre, para que cada grupo possa realizar atividades que sejam
referentes a seu desenvolvimento, sendo assim, na década de 1960 era dividido em
fadas (7 a 9 anos), bandeirantes (9 a 14 anos), Guias (15 a 18 anos) e Cadetes (18
a 21 anos), grupo o qual se preparava para ser coordenadora, somente existindo o
termo B1 e B2, segundo o Livro Chama Acessa (2008), na assembleia de 1969,
patrulhas passaram a serem equipes, companhias a serem grupos, chefia a ser
coordenação, ramo bandeirante dividido em B1 e B2 e ramo fada a ser ciranda.
Após a observação, nas fontes encontradas do fim da década de 1970,
encontrou-se registros de atividades lúdicas e metodologias voltadas aos grupos de
forma específica, então irei pautar os livros já supramencionados, iniciando da 1ª
publicação.
Para que pudesse haver os livros de programas, houve primeiramente a
elaboração do “Documento Básico nº 2”, no ano de 1976. (fig.1)
Fig.01: documento básico nº2 (capa), índice e imagem que demonstra a criatividade.
Esse documento trás a metodologia já utilizada na época, em resumo este
documento foi criado como base metodológica a ser adotado pelos grupos de
bandeirantes no Brasil inteiro, assim, já vem demonstrando os primeiros registros do
lúdico dentro do bandeirantismo do Pará, sendo um deles, o acampamento e suas
atividades voltadas ao lúdico que são o Grande Jogo e o Fogo de Conselho,
especificando como os coordenadores devem estar atuando em seus respectivos
grupos, trazendo algumas atividades que são de caráter lúdico, sendo essas:
atividades artísticas (artes manuais e plásticas, dramatização, artes audiovisuais,
música); Jogos, sendo esses especificados como “Grande Jogo” (Fig.2)
(denominado como a reunião de vários jogos em um), “Jogo Noturno” (sendo
Fonte: Pesquisador
12
denominado um “Grande Jogo”, realizado durante a noite) e Jogo do Kim (seria a
observação de uma quantidade especifica de objetos durante um determinado
tempo, o qual teriam que ser escritos sua sequencia em um papel).
Fig.02: Fogo de Conselho com o tema Bumba meu Boi
Font
Fonte: Pesquisador, 2018
Como já citado anteriormente sobre a criação dos grupos mistos, na revista
“Bandeirantes” de 1978 há relatos sobre o seu inicio, assunto qual não enfatizarei,
por não haver ligação direta com a temática. O tópico a ser destacado seria o do
acampamento Nacional de Guias, o qual teve como objetivo iniciar os programas de
grupos, havendo nesse primeiro momento a participação de guias do Brasil inteiro,
na citação a seguir há um trecho que evidencia o inicio da criação dos livros de
grupo “[...] depois de elaborar o documento básico nº2, com as bases da educação
bandeirante, seria preciso complementá-lo com um programa para cada ramo.
Começaríamos com o Ramo Guia. Acreditamos que seria fundamental a
participação dos próprios guias na elaboração desse programa”, isso ocorrendo
durante um acampamento realizado no final da década de 70 com bandeirantes do
Brasil inteiro. O trecho citado traz o registro do inicio dos livros de programas dos
grupos que serão relatados posteriormente.
O Terceiro livro encontrado foi o “Acampar”, feito de forma experimental em
1978, e publicado somente em 1980, o livro vem trazendo como deve ser realizado
um acampamento, que seria uma atividade de lazer do Bandeirantismo, o qual inclui
toda a metodologia a ser trabalhada em uma única atividade, com duração
determinada pela coordenação. O livro descreve algumas atividades lúdicas (fig.3),
Fogo de Conselho e “O Serão” que segundo o livro Chama Acessa (2008, pág.165)
13
“à noite, em volta da fogueira [...], os bandeirantes se reúnem para cantar, tocar
violão, brincar, improvisar esquetes de teatro, contar histórias de mistério, recitar
poemas, contar piadas ou simplesmente conversar”, essa atividade dentro do
acampamento dá a liberdade para usarem sua criatividade com total autonomia.
Fig.3: Atividades do Livro “Acampar”
Fonte: pesquisador, 2018
Como supramencionado, após o acampamento de Guias foi elaborado o livro
em 1980, o “Programa de Guias” (fig.4), baseado no “documento básico nº 2”, sendo
o primeiro dentre os grupos, o livro trás para os bandeirantes, uma relação mais
intima com a comunidade, além de pautar algumas atividades lúdicas que podem
ser realizadas pelos guias dentro de suas reuniões destacando as atividades de
Lazer (destacando as atividades prazerosas nas horas vagas e desenvolver atitude
lúdica diante a vida), os jogos que estimulem observação, percepção, atenção,
imaginação, os sentidos, destreza e etc. Dando exemplo de alguns desses jogos
como: grande jogo, jogos noturnos, jogos dramáticos, jogos esportivos, jogos de
salão, jogos coletivos, jogo do Kim e etc.
Demonstrando também sobre a vida fisiológica, a qual buscava trabalhar com
a respiração, digestão, circulação, vida sexual e eliminação, exemplificando
atividades como: exercício respiratório, ginástica, dança e jogos. Além de também
demonstrar as atividades que podem ser trabalhadas junto à comunidade, se
destacando pelo caráter lúdico: os festivais de arte, esporte e teatro, assim como a
atividade denominada “ruas do recreio” (trabalha com recreações).
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Depois do “programa de guias” surgiu também no mesmo ano o “programa de
B2” (fig.5), com o mesmo formato e destaques lúdicos, contudo, diminuindo de forma
proporcional o trabalho comunitário, por ser um grupo com idade inferior, em
contramão, destacando-se a relação com a natureza, descrevendo mais atividades
desenvolvidas para a idade do grupo, incluindo tópico “criatividade” para estimular a
descoberta do potencial individual, o qual exemplifica atividades como:
dramatizações, teatro de fantoches, assim como, atividades de pintura, colagem,
modelagem, escultura, artesanato e cerâmica.
A partir da análise das fontes encontradas o processo seguinte, foi realizar as
entrevistas logo após a elaboração das perguntas baseadas nas questões
problemáticas, assim, realizou-se as entrevistas nos dias 14, 15 e 16 de maio, na
entrevista com as bandeirantes pioneiras, foi utilizada uma entrevista narrativa, com
quatro perguntas no total, sendo essas:
Fig.4: Capa do Livro Programa de Guia
Fonte: Pesquisador
Fonte: Pesquisador
Fig.5: Capa do Livro Programa de B2
15
1ª Como eram realizadas as atividades lúdicas entre a década de 1960 e 1980?
2ª Quais as atividades lúdicas mais frequentes? descreva.
3ª Havia uma metodologia específica utilizada? Ex: Livros, Revistas, Cartilhas e etc.
4ª Qual sua visão da importância do lúdico no bandeirantismo?
A seguir estarei colocando a entrevista transcrita das Bandeirantes na ordem
das datas, contudo, darei destaque a transcrições que abordem o tema ludicidade, e
que respondam as perguntas supramencionadas, não utilizando na totalidade a
entrevista.
Para fins de análise, a cada uma das entrevistadas utilizou-se os símbolos A,
B e C.
1ª Entrevistada (A) - Raimunda de Oliveira Messias, 78 anos, participa desde
a década de 60, atualmente como membro do conselho estadual.
2ª Entrevistada (B) - Maria de Nazaré Ataíde dos Santos, 78 anos,
Fundadora do Núcleo São Domingos (Bairro - Terra Firme) em 1974.
3ª Entrevistada (C) - Joana d’Árc Guimarães de Oliveira, 83 anos, professora
aposentada de educação física da UEPA, nas disciplinas recreação e folclore, 42
anos de bandeirantismo, Fundadora do Núcleo São Francisco de Assis (Bairro -
Guamá).
1ª Pergunta: Como eram realizadas as atividades lúdicas entre a década de
1960 e 1980?
E. A: As atividades lúdicas eram utilizadas dentro de um conteúdo e
planejamento de uma reunião, [...] trabalhava-se lúdico com recreação e a fantasia, sendo esse o faz de conta, [...] na forma de encantamento (representação da entrada na fantasia), elas podiam fazer danças, cantos, brinquedos cantados e jogos, [...] tinham sempre uma brincadeira de roda, onde elas cantavam, [...] o elemento lúdico principal do ramo ciranda era o circulo. [...] a continuação da parte lúdica se dava principalmente com o acampamento, pois, lá o menino nadava, fazia fogo de conselho, com cerimoniais que havia a parte de canto, de danças de representações, [...] tendo como base a vida em equipe, nos trabalhos de jogo, brincadeiras, se via a atitude que o menino vai ter quando ele se desenvolve, [...] além das habilidades que eles utilizavam para atingir seus objetivos. E. B: Sempre foram assim, como acantonamento, que vai de manha e volta de tarde, acampamento quando tem 2 a 3 dias para acampar, as reuniões e sede [...]. Nessa convivência há uma divisão nossa de conhecimentos, adquirimos e doamos esses conhecimentos, mas sempre aprendendo com a juventude e as crianças. E. C: Utilizávamos além de jogos, dramatizações, pegamos bem a parte de teatro, utilizávamos excursões, acampamentos, sabe, muitos jogos livres e jogos educacionais também, porque a criança
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tinha que aprender alguma coisa, tinha sempre um objetivo a alcançar. Os cirandas não acampavam, mas nós tínhamos o acampamento nas outras faixas etárias, pras cirandas utilizávamos o acantonamento, excursões , na parte de dramatização, as vezes eram temáticas e outras não, cantos, muitas canções, inclusive era saudação quando chegava uma pessoa, cantavam para homenagear a pessoa que tava chegando ou quando saia também, canções, pinturas, desenhos, todas essas atividades voltadas pro lazer a gente utilizava.
Após a análise, observasse que as entrevistadas A e C vem apontando que o
lúdico era mais utilizado através de dramatização, jogos e canções, contudo,
deixando bem evidente o estimulo a criatividade e liberdade de se expressarem, isto,
evidenciando-se na A, que cita o faz de conta, que segundo Huizinga (2000, pág.6)
“esta característica de ‘faz de conta’ do jogo exprime um sentimento da inferioridade
do jogo em relação à ‘seriedade’, o qual parece ser tão fundamental quanto o próprio
jogo”.
Além da liberdade criativa, destacasse no acampamento como uma das
formas de se utilizar a atividade lúdica, por esta atividade possibilitar um convívio
com a natureza e proporcionar os estímulos ao potencial que se deseja alcançar dos
bandeirantes, e como destacado no supramencionado “livro acampar”, o
acampamento é uma atividade na qual pode esta se utilizando um grande número
de atividades lúdicas, como o “Serão”, “Grande Jogo”, jogos noturnos, gincanas,
recreação, musicalidade, dramatização, entre outras atividades.
2ª Quais as atividades lúdicas mais frequentes? descreva.
E. A: [...] O canto era muito importante, a musicalidade era a mais
frequente, assim como a saudação através de bravos (criado pelas crianças, para incentivar a outra equipe após algo realizado), algo que gostavam de fazer era uma atividade que faziam fantasmas por trás de lençóis, com luzes em cima da equipe, para que as outras do outro lado adivinhassem o que estavam representando, como um teatro de sombra, usando muito a criatividade.
E. B: Eles trabalham muito com recreações. [...] As brincadeiras
sempre tinham aquelas que não nos gastavam nada como roda, pira, bandeirinha, coisa de criança brincar, a gente tirava aquelas atividades pra brincar com eles, fazia concursos, e os próprios trabalhos que o movimento bandeirante usava como pintura, desenho, essas coisas para instruir as crianças para entra no caminho da sociedade [...].
E. C: Sempre havia uma progressão na educação, então o quê que
nós utilizávamos bastante, jogos, muitos mesmo, jogos de correr, saltar, jogos psíquicos, emocionais e grandes jogos, a gente utilizava
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para a preparação de algum esporte, quando eles tivessem no ramo guia já tinham de participar de um esporte, vôlei, basquete, o que eles tivessem interesse, então a gente usava pequenos jogos e grandes jogos, e essa parte esportiva que já visava um esporte[...]. Jogos, dramatização, muito teatro, às vezes fazíamos teatro de sombra viva, teatro de mascaras, fantoches, todas essas atividades a gente utilizava, [...] acampamento, nós participamos de vários acampamentos [...], nessa parte de jogos, em todas as reunião tinham que ter jogos, seja os que fossem intelectuais, seja o da parte física, mas tinha que ter, e no cerimonial a parte cívica.
Nesta pergunta há três relatos distintos, indicando que provavelmente não
participaram dos mesmos grupos bandeirantes ou que cada memória destaca o que
lhe mais era satisfatório, assim como afirma Halbwachs(1968), que cada memória
individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, porém, mesmo havendo
respostas distintas, destacasse a liberdade que era proporcionada aos bandeirantes
e seus coordenadores em tudo que realizavam, novamente sendo enfatizado os
jogos, musicalidade, dramatizações, artes entre outros.
3ª Havia uma metodologia específica utilizada? Ex: Livros, Revistas, Cartilhas e etc.
E. A: O bandeirante é rico em publicações, sempre tiveram o livro do
conteúdo, da criança e do coordenador, livros de cantos criados, livros de especialidades, onde eles poderiam ser nadador, ciclista, corredor, fotógrafo, campista, saber fazer vídeo, tudo fazendo parte da metodologia, com publicações internacionais, esses livros são modificados de acordo com a evolução do nosso tempo, tanto que os livros de habilidade que eram do nosso tempo, hoje em dia estão novamente sendo reformulados, estão fazendo um novo programa para cada grupo [...].
E. B: Procurava ter o tema, uma revista bandeirante, nós aqui,
convivíamos com o grupo todo, e em cada grupo o coordenador sentia a necessidade daquelas crianças, [...] então nos reuníamos, conversávamos sobre o que estava acontecendo, formávamos um acantonamento, e colocávamos o problema em reunião [...]. Tinha revistas e livros da metodologia, [...] não fomos nós que criamos, assim quando dizíamos que o bandeirante é puro em pensamento, palavras e ações, estava tudo contido lá no livro, o bandeirante é leal e sincero, esse código que era usado assim, era pra que pudéssemos colocar pra criança compreender, [...] usando assim a base metodológica, mas sempre pautado na necessidade da criança.
E. C: Havia um livro sim, mas não de edição da federação (Pará), a
federação tinha um jornal chamado “Bandeirantes” e que nesse jornal vinham sugestões, orientações para qualquer atividade, então eles publicavam isso, esse jornal muito importante, inclusive, trazia assim, por exemplo, quadra junina, lá apresentavam uma série de
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elementos para que a pessoa trabalhasse encima daquilo, a metodologia só vinha de livros a nível nacional.
Com a análise das três respostas, percebe-se que há uma metodologia
especifica, contudo, nada criado especificamente na federação de Bandeirantes do
Pará, mas na federação Nacional, a qual era utilizada como base, porém,
possibilitando a liberdade de trabalhar com o grupo o que se via como necessário e
na realidade dos bandeirantes, isto, sem fugir da metodologia a qual o grupo utiliza,
demonstrando assim, a importância da coordenação esta preparada para que
pudesse colocar em prática as atividades com facilidade, objetivando atrair mais
bandeirantes e evitar que houvesse evasão no grupo.
4ª Qual sua visão da importância do lúdico no bandeirantismo?
E. A: O lúdico é uma parte muito importante, porque todo ser livre
tem que ter um pouco de recreação, participar de atividades, digamos que seu espírito possa ser fortalecido, desde o ciranda onde a característica maior é a grande roda, o circulo, brincadeiras onde exijam mais o físico, brincar de bola, brincar de roda, andar em equilíbrio. Passando por b1, onde a criança gosta muito mais de correr, mas não apenas pelo correr, praticando todos os esportes, gostavam de joga bola, peão, empinar papagaio, e muitos jogos de mímica. O b2 já é mais intelectual, passando pra distração do filme, contar o que foi visto e tirar lição dos mesmos, e os guias, que partem pra criação de vídeos, fotos, dependendo de suas habilidades, [...] fazem fogo de conselho com temas atuais, grandes caminhadas, competições esportivas, precisando ocupar a cabeça, sempre dizemos que o bandeirante bom é o que trabalha, se diverti, canta, dança, mas que faz a espiritualidade [...]. Se o movimento bandeirante não tiver a parte lúdica não seguramos nossas crianças, porque é mente são e corpo são, se não for assim a criança não fica, porque criança gosta de brincar, o movimento bandeirante é de educação informal, porque estudamos e temos nossa metodologia, mas não é como na escola [...].
E. B: Pra mim no bandeirantismo é muito importante [...], e tem
muitos grupos agora que são diferentes, e trabalhar o movimento bandeirante, é trabalhar na construção de um mundo melhor, é colocar na criança que ele brincando, conversando e sendo amigo resolve muita coisa [...] o lúdico é essencial para construção da cidadania da criança.
E. C: Demais, pra mim a educação é, digo assim a educação básica,
porque nós procurávamos através da atividade desenvolver todo potencial da criança [...], porque às vezes a gente descobre nos grupos, crianças que criam poesias, canções e eles tinham potencial, a criança tem potencial, o problema é explorar esse potencial, e dentro das atividades de lazer a gente consegue, só que não é valorizado [...].
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Segundo Huizinga (2000, p.56), Tanto a magia como o mistério, os sonhos de
heroísmo, os primeiros passos da música, da escultura e da lógica,
todos estes elementos da cultura procuram expressão em nobres formas lúdicas.
Com pontos de vistas diferentes, porém, destacando a importância da inserção do
lúdico como algo essencial no movimento bandeirante. Com uma educação informal
norteada na busca do potencial máximo daqueles que participam do grupo, o lúdico
faz parte deste método, para que assim se pudesse alcançar o objetivo e
despertando o interesse de crianças e jovens para estarem adentrando e
permanecendo no grupo.
Além de proporcionar atividades que contribuem na descoberta e
desenvolvimento do potencial em artes cênicas, musicalidade, atividades corporais e
atividades artísticas, o bandeirante também possibilitava a construção da cidadania
e do civismo.
CONCLUSÃO
Com a pesquisa em geral, conseguiu-se contemplar as dúvidas em relação
das influências do lúdico no Movimento Bandeirante do Pará, contudo, percebeu-se
que há uma base metodológica, que mesmo com as mudanças ocorridas a partir da
década de 1960 não se modificou, porém, observou-se que houve mais autonomia
nos grupos, possibilitando maior liberdade aos coordenadores que assim
oportunizou que ocorressem as reformulações, isto, para que o Movimento
Bandeirante sempre estivesse inserido ao momento que a sociedade se encontrava.
Apesar de não haver contato com fontes documentais da década de 1960, somente
encontrando a partir de 1970, percebe-se que o lúdico tem um vínculo muito forte
com o grupo pelas atividades lúdicas que foram observadas e analisadas nos livros.
Além das fontes encontradas confirmarem uma forte ligação do Movimento
Bandeirante com a ludicidade, há o relato das bandeirantes pioneiras que
vivenciaram esse período, as quais relataram como era utilizado o lúdico no grupo,
isto, citando que aconteciam atividades de musicalidade, expressões corporais,
artísticas, cognitivas entre outras, e assim conseguiam estimular os membros de
cada grupo, auxiliando no desenvolvimento de seu potencial no que lhe era
satisfatório e prazeroso.
Antes de iniciar a pesquisa e buscando me aprofundar cada vez mais no que
os bandeirantes ofereciam, observei que a história do grupo é imensa, com muitos
percalços e desafios conquistados, e com a concessão de 100 anos que irão
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completar de sua história, percebe-se que é uma ONG tímida, que mesmo com
muita história e grandes conquistas, poucos conhecem e tiveram a oportunidade de
participar, e dos poucos privilegiados a grande maioria obteve sucesso no que se
propôs para o futuro, isto, observado a partir das entrevistas com as pioneiras e na
paixão que falaram do grupo, e como se sentem orgulhosas em terem feito a
diferença para muitas crianças e jovens.
Concluo assim, que a metodologia do Movimento Bandeirante é única, usada
como base, contudo, havendo diferentes métodos para que se pudessem alcançar
seus objetivos, por haver grupos bandeirantes com diferentes realidades, ocorrendo
assim uma busca incessante de sempre estar se enquadrando no momento em que
a sociedade se encontra, é uma educação informal, voltada a cidadania, priorizando
a busca do potencial máximo de seus participantes, lhes dando a oportunidade de
escolher o melhor caminho que pudessem seguir em suas vidas, e isso tudo com o
prazer da ludicidade, proporcionando momentos de diversão e alegria, fazendo com
que a criança esqueça momentaneamente sua realidade por pior que possa ser.
REFERÊNCIAS
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contexto social brasileiro do século XX. Marília, 2014.
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bandeirante, ED.2008. Rio de Janeiro.
FELLINI, Mariella. O movimento bandeirante entre tensões e contradições: a
reformulação institucional de 1968. São Leopoldo, RS, Universidade do Vale dos
Rios dos Sinos, 2017.
HALBWACHS, Maurice, A memória Coletiva, Paris, França, 1968.
HUIZINGA , Johan. Jogo e Trabalho: do Homo Ludens; Tradução: João Paulo
Monteiro; 4ª edição – reimpressão, editora perspectiva s.a, 2000.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade - Fundamentos de
metodologia científica. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.
LE GOFF, Jacques. História e memória; tradução Bernardo Leitão
... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990.
MAGALHÃES, Tamara. MEMÓRIA E ESCOTISMO: as estratégias de preservação
desenvolvidas pelo Movimento Escoteiro no Brasil. Brasília, 2015.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social.
Teoria, método e criatividade. 21ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
MOREL, Yolanda. Educação e ludicidade. Laureate International Universities, 2003.