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1 PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Denise Perroud Amaral A Rede de Atenção a População em Situação de Rua: possibilidades de interferência na definição e concretização de uma política pública na cidade de São Paulo. MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2010

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Denise Perroud Amaral

A Rede de Atenção a População em Situação de Rua: p ossibilidades de

interferência na definição e concretização de uma p olítica pública

na cidade de São Paulo .

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

2010

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Denise Perroud Amaral

A Rede de Atenção a População em Situação de Rua: p ossibilidades de

interferência na definição e concretização de uma p olítica pública

na cidade de São Paulo .

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de MESTRE em

Serviço Social, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª

Regina Maria Giffoni Marsiglia.

SÃO PAULO

2010

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Banca Examinadora: __________________________________ __________________________________ __________________________________

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Cecília e Luiz, por me ensinarem o valor da vida humana.

À Lisa, meu anjo desta vida, por me ensinar o valor do amor incondicional.

À Bia, meu anjo de luz, por me ensinar a perseverar.

À minha grande mestra de vida, Regina, por me ensinar que o conhecimento é um

bem valioso capaz de transformar a si mesmo.

Ao Hélvio, companheiro de lutas recentes, por me ensinar o que é apoio

incondicional.

A todos aqueles que estão em situação de rua e inspiraram este trabalho pela busca

constante da condição de cidadania.

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AGRADECIMENTOS

À CAPES, aos Programas de Pós-Graduados em Serviço Social e

Administração da PUC-SP, pela oportunidade impar de aprofundar um tema

desafiante para a prática profissional como Assistente Social, às redes sociais de

atenção, às pessoas em situação de vulnerabilidade social.

À Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, à Faculdade de Ciências Médicas da

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e ao Centro de Saúde Escola Barra Funda

Dr. Alexandre Vranjac, pela oportunidade de conhecer metodologias de pesquisa e

de ação para inclusão social de grupos em situação de vulnerabilidade e reconhecer

a necessidade de políticas intersetoriais efetivas que respondam as suas

necessidades sociais.

Ao Centro de Referência da Assistência Social da Sé, em especial ao

coordenador do Observatório de Política Social Local, pela disposição das

informações sobre os serviços sociais disponíveis no território.

Aos amigos do Subgrupo de Redes do Núcleo de Estudos Avançados do

Terceiro Setor – NEATS do Programa de Pós-Graduação em Administração da

PUC-SP, pelo convívio semanal, com o intuito de aprofundar estudos sobre redes

sociais e a complexidade da realidade social de pessoas em situação de

drogadependência.

Aos membros do Fórum Permanente de Acompanhamento de Políticas

Públicas da População em Situação de Rua de São Paulo, e, em especial, ao colega

Alderon Pereira da Costa, pelo acolhimento e apoio na difícil tarefa de revelar os

atores sociais envolvidos hoje na atenção à população em situação de rua.

Aos entrevistados, às organizações sociais e ao Movimento Nacional de

População de Rua, pela cooperação neste estudo na troca de conhecimento sobre

a realidade social dessa população e as respostas institucionais dada as suas

necessidades.

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“Não basta interpretar a realidade das cidades, há que se

experimentar mudá-las nos marcos de um amplo projeto

social e político, pois cerca de um terço dos moradores das

áreas urbanas mundiais, cerca de um bilhão de pessoas se

encontram em situações de extrema pobreza e morando

em assentamentos precários, à fome e a vários tipos de

riscos e ameaças. Para incluir essas pessoas nas cidades,

gerando condições de cidadania, é preciso mais do que

ampliar suas capacidades de consumo. É preciso promover

uma reconfiguração estrutural dos seus territórios

integrando-os a todas as esferas políticas, econômicas,

culturais e materiais da vida urbana” (KAZUO NAKANO,

2010).

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RESUMO

AMARAL, Denise Perroud. A Rede de Atenção a População em Situação de Rua: possibilidades de interferência na definição e conc retização de uma política pública na cidade de São Paulo . São Paulo, 2010. Dissertação (Mestrado).

Programa de Pós Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo.

A necessidade de resolver a complexidade da realidade social da população em

situação de rua na cidade de São Paulo vem mobilizando desde a década de 90

diversos atores sociais em redes, principalmente organizações e movimentos

sociais, para a discussão e efetivação de uma política pública dirigida a essa

população e a organização de serviços para o atendimento socioassistencial de

suas necessidades. O objetivo desse estudo foi identificar os arranjos existentes

referentes aos atores sociais que compõe a denominada Rede de Atenção a

População em Situação de Rua na região central da cidade de São Paulo. O tema

redes sociais, propiciou uma aproximação teórica com a análise de autores como

Castells (1999), Marques (1999, 2006), Junqueira (2000, 2002 e 2004), Rico e

Raichelis (1999), Quandt e Souza (2008), Mizruchi (2006) e Scherer-Warren (1996).

O uso de uma abordagem qualitativa incluindo análise de conteúdo das entrevistas

semiestruturadas, o método de amostragem Bola de Neve e a Sociometria, permitiu

identificar as relações que os atores estabelecem entre si, nos espaços coletivos e

com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, a intensidade

dessas relações e a percepção que tem sobre sua capacidade de influir na

efetivação da política pública nacional. O estudo revelou uma rede de perfil

socioassistencial da sociedade civil, com destaque para organizações tradicionais de

caráter religioso que se articulam numa rede política do poder público através de

convênios. A rede estudada apresentou duas tríades centrais (subgrupos): uma sob

influência do Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da

População em Situação de Rua de São Paulo e outra sob influência da Rede de

Atendimento Socioassistencial da SMADS. A primeira tríade sobressaiu pela

intensidade das relações estabelecidas entre si através de contatos diários, e pela

capacidade de articular diversos atores para influir na definição da política pública

nacional destinada a essa população. A intermediação que faz a conexão entre

essas duas tríades realizada por uma única organização social evitou a constituição

de dois subgrupos desconectados com objetivos diferenciados.

Palavras-chave: Redes Sociais, População em Situação de Rua, Política Pública

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ABSTRACT

AMARAL, Denise Perroud. The Attention Network to Populations in Street Situation: Possibilities of Interfering on the Defi nition and Achievement of a Public Policy in the City of São Paulo. São Paulo, 2010. Dissertation (Master’s

Degree). Program Of Post-Graduation Studies in Social Services of Pontifícia

Universidade Católica of São Paulo.

The need of solving the complexity of the social reality of the population in street

situation of the city of São Paulo has been mobilizing several social actors in

networks, especially social organizations and movements since the 90s. These

actors intend to discuss and accomplish a public policy aiming at this population and

at the organization of socio-assistance services for their necessities. The objective of

this research was to identify the existing arrangements related to the social actors

who compose the so-called Attention Network for Populations in Street Situation in

the central area of the city of São Paulo. The theme of the social networks has

allowed a theoretical approach to the analyses of authors such as Castells (1999),

Marques (1999, 2006), Junqueira (2000, 2002, and 2004), Rico and Raichelis (1999),

Quandt and Souza (2008), Mizruchi (2006), and Scherer-Warren (1996). The use of

a qualitative approach, including analysis of the content of semi-structured

interviews, Snowball pattern methods, and Sociometrics, allowed to identify the

relations that the actors establish among themselves, in the collective spaces, and

also with the Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. It was

also possible to identify the intensity of these relations and the perception that the

actors have of their capacity of influencing the accomplishment of the national public

policy. The study revealed the network of socio-assistance character of the society,

notably in the case of traditional organizations of religious aspect which are

articulated in a political network with public authorities through the establishment of

conventions. The network which was studied here presented two central triads or

subgroups: one under the influence of the Permanent Forum for the Assistance of

Public Policies of Populations in Street Situation of São Paulo, and the other under

the influence of the Network for the Socio-Assistance Attendance of SMADS. The

first triad was notable for the intensity of the relations established through contacts in

a daily basis, and for the capacity of articulating different actors to influence on the

definition of a national public policy dedicated to this population. The intermediation

that connects these two triads achieved by only one social organization avoided the

constitution of two isolated subgroups with different objectives.

Keywords: Social Networks, Population in Street Situation, Public Policy.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................... .................................................................... 12

CAPÍTULO 1 – A complexidade da realidade social da população em situação de rua:

interface do trabalho das organizações sociais com o poder público na região central

da cidade de São Paulo ..................................................................................................

17

1.1. O Perfil da População em Situação de Rua na cidade de São Paulo ................... 21

1.2. A População em Situação de Rua na Região Central do Município de São Paulo

................................................................................................................................

29

1.3. A Reorganização da Atenção à População em Situação de Rua em São Paulo

................................................................................................................................

31

CAPÍTULO 2 – Redes Sociais e Políticas Públicas: Aproximação teórica e

metodológica ..................................................................................................................

41

2.1. Aproximações teórica ............................................................................................ 41

2.2. Objetivos ................................................................................................................. 49

2.3. Caminho Metodológico ........................................................................................... 50

2.4. Pesquisa de Campo: Processo .............................................................................. 51

2.5. Apresentação dos Resultados ................................................................................ 58

CAPÍTULO 3 – O Mapeamento da Rede de Atendimento Socioassistencial,

Movimentos Sociais e Espaços Coletivos de Atenção à População em Situação de

Rua na Região Central da Cidade de São Paulo ...........................................................

60

3.1. Resultados da Fase I: Mapeamento das organizações sociais, movimentos e

espaços coletivos e rede de atendimento socioassistencial dirigidos à

população em situação de rua .............................................................................

60

3.1.1. Breve Histórico das Organizações Sociais Mapeadas ....................................... 60

3.1.2. Movimentos Sociais e Espaços Coletivos Mapeados ......................................... 83

3.1.3. A Rede de Atendimento Socioassistencial da Secretaria Municipal da

Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo Mapeada .........................

93

CAPÍTULO 4 – A Rede de Atenção à População em Situação de Rua na cidade de

São Paulo .......................................................................................................................

102

4. Resultados da Fase II, III e IV: Segundo utilização da entrevista semiestruturada,

do Método Bola de Neve e Análise de Redes Sociais .............................................

102

4.1. As Entrevistas ........................................................................................................ 102

4.2. Caracterização das Organizações Sociais e do Movimento Social ...................... 103

4.3. Compreensão dos entrevistados sobre redes sociais e a sua participação nelas. 114

4.4. Análise da Rede de Atenção à População em Situação de Rua .......................... 130

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CONCLUSÃO ................................................................................................................. 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 150

ANEXO............................................................................................................................. 157

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INDÍCE DE TABELAS

Tabela 1: Número de serviços conveniados com a SMADS por organização social

São Paulo, 2010 .........................................................................................

95

Tabela 2: Número de serviços das organizações sociais mapeados por

Coordenadoria de Assistência Social. São Paulo, 2010.............................

97

Tabela 3: Número de serviços das organizações sociais mapeados por tipo. São

Paulo, 2010 ................................................................................................

97

Tabela 4: Organizações sociais e movimento social entrevistados segundo década

de fundação. São Paulo, 2010 ...................................................................

104

Tabela 5: Número de organizações sociais entrevistadas por tipo: tradicional e

nova. São Paulo, 2010 ..............................................................................

105

Tabela 6: Localização das sedes das organizações sociais entrevistadas por

CRAS do CAS Centro Oeste. São Paulo, 2010 ........................................

108

Tabela 7: Número de serviços conveniados entre as organizações sociais e a

SMADS na CAS Centro- Oeste. São Paulo, 2010 .....................................

110

Tabela 8: Número de organizações sociais entrevistadas por atividade prestada

nos serviços de referência da região Centro- Oeste. São Paulo,

2010..............................................................................................................

114

Tabela 9: Grau de Centralidade de cada organização social na rede. São Paulo,

2010. Matriz 2 – Relação de indicados entre as organizações sociais por

intensidade do vínculo. São Paulo, 2010. ...................................................

135

Tabela 10: Número de organizações sociais entrevistadas por motivo de contato

com outras organizações indicadas. São Paulo, 2010................................

142

INDÍCE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Quantidade de organizações sociais confessionais por tipo de religião.

São Paulo, 2010..........................................................................................

111

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APRESENTAÇÃO

A Rede de Atenção à População em Situação de Rua:

Possibilidades de interferência na definição e con cretização de uma

política pública na cidade de São Paulo

Este estudo, apresentado para o Programa de Mestrado do Programa de Pós-

Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC/SP), constitui-se num esforço para responder a um desafio posto na prática

profissional, e ao mesmo tempo contribuir para a produção de conhecimento sobre

um tema atual de relevância acadêmica: as redes sociais.

O interesse por este estudo ocorreu pela minha inserção como assistente

social no Centro de Saúde Escola Barra Funda "Dr. Alexandre Vranjac”, pela

participação no “Subgrupo Redes” do Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro

Setor – NEATS do Programa de Pós- Graduação em Administração da PUC-SP e

pela participação no desenvolvimento da pesquisa intitulada "Metodologia de

pesquisa e de ação para inclusão social de grupos em situação de vulnerabilidade

no centro da cidade de São Paulo” da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho e

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Se por um lado, o serviço de saúde colocou-me diante da necessidade de

participar das discussões dos principais fóruns relacionados à população em

situação de rua em São Paulo, para entender a complexidade de sua realidade

social e das organizações sociais que dispõem de serviços para sua atenção, com o

intuito de estabelecimento de um trabalho em rede, por outro, a pesquisa da qual

participei permitiu estudar as ações e políticas intersetoriais existentes, dirigidas a

essa população em situação de vulnerabilidade social na região central do município

de São Paulo.

Minha aproximação com esse grupo social, no cotidiano da prática

profissional como assistente social num centro de saúde escola, foi um diferencial

para este estudo. Essa permitiu não somente conhecer o perfil da população em

situação de rua, mas o contexto, as histórias e as lutas de sobrevivência desse

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grupo na região central de uma grande metrópole, as organizações sociais

envolvidas e os entraves para consolidação de uma política pública, que esteve em

discussão no país, durante o ano de 2009, dirigida a essa população.

A pesquisa ligada à Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho1, com Subvenção

Internacional da União Europeia e da Prefeitura da Cidade de São Paulo,

representada pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, foi

desenvolvida na área central da cidade junto ao Projeto Inclusão Social Urbana –

Nós do Centro no ano de 2009. Seu objetivo principal foi desenvolver ações e

políticas intersetoriais a fim de ampliar as redes de inclusão social a partir da

minimização das vulnerabilidades sociais, programáticas e individuais, de grupos em

situação de exclusão social, da região central do município de São Paulo.

Ao garantir a visibilidade de grupos vulneráveis junto às instituições sociais e

de saúde da região central do município de São Paulo e compreender suas

necessidades específicas no campo dos direitos sociais assegurados pela

Constituição Brasileira de 1988, esta pesquisa me permitiu acompanhar a definição

de metodologias adequadas para sua inclusão social, aproximar-me das

necessidades de formação dos profissionais de Assistência Social e Saúde, bem

como identificar as facilidades/dificuldades do trabalho profissional junto a esses

grupos, resultando no processo de pactuação de redes intersetoriais efetivas de

apoio às necessidades específicas de cada grupo social pesquisado.

Considerando que a formação de redes sociais de apoio entre os serviços

pode fortalecer a atuação dos profissionais da Assistência Social e da Saúde e a

participação do próprio grupo social na efetivação de uma política pública de

atenção às suas necessidades, mostrou-se pertinente analisar a relação existente

entre os atores que, compunham várias redes sociais, empenhadas na atenção a

cinco grupos sociais distintos: população em situação de rua, população em situação

de moradia precária, mulheres em situação de prostituição, imigrantes ilegais e

travestis. Dentre os cinco grupos sociais que se encontram em situação de exclusão

1 Mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) e suas instituições: Departamento de Medicina Social, Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão - CEALAG e Centro de Saúde Escola Barra Funda “Dr. Alexandre Vranjac” – CSEBF.

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e vulnerabilidade social na região central de São Paulo, um, especificamente,

chamou minha atenção pelo número expressivo de instituições e movimentos que o

representavam e pela sua forma de organização: a população em situação de rua.

Nesse contexto, diante do desafio de acompanhar um processo de pactuação

de redes intersetoriais de apoio para populações em situação de vulnerabilidade

social, estava dada uma oportunidade ímpar de estudo sobre redes sociais dirigidas

à população em situação de rua.

Esses estudos, propiciados pelo projeto de pesquisa da Fundação Arnaldo

Vieira de Carvalho e as aproximações do âmbito profissional, colaboraram muito

para a escolha do estudo da denominada “Rede de Atenção à População em

Situação de Rua na Região Central da Cidade de São Paulo” e permitiram

concluir a seguinte indagação como ponto de partida deste estudo: Que arranjos

existem hoje referentes aos atores desta rede que l hes possibilitam ou não

interferir na definição e concretização da política pública nacional de inclusão

social desta população?

A importância do tema redes sociais nesse estudo está relacionada à

qualidade destas enquanto estratégias para a análise e entendimento de uma dada

realidade social. A rede social revelada mostrou-se pertinente para caracterizar na

sociedade contemporânea os novos modelos de gestão dos negócios privados ou

públicos em escala local, com a presença dos movimentos sociais na perspectiva de

efetivação de uma política pública nacional.

A aproximação com a população em situação de rua, bem com as

organizações sociais que realizam um trabalho de atenção a essa população na

área central, colocou-me diante de alguns desafios. Os desafios se referiam à

produção de conhecimento para responder se havia uma rede de atenção a essa

população, como eram os arranjos dessa rede (relação entre os atores sociais) e se

os atores sociais consideravam ter capacidade para interferir na política pública em

construção.

A representação dessa rede social de atenção à população em situação de

rua e a relação de seus atores no processo atual de definição e concretização de

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uma política pública contribuíram para reforçar um olhar mais qualificado sobre as

necessidades das organizações sociais que desenvolvem ações de inclusão social,

para esse grupo, numa região central de uma metrópole.

O estudo permitiu a identificação de várias organizações sociais que se

articulam com o poder público, por meio de convênios com a Secretaria Municipal de

Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS em prol da atenção à população em

situação de rua e que ocupam os seguintes espaços para a definição da política

pública, dirigida a essa população:

• Fórum das Organizações Sociais que Trabalham com a População em

Situação de Rua;

• Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da

População em Situação de Rua de São Paulo;

• Fórum de Debates sobre a População em Situação de Rua;

• Conselho de Monitoramento da Política de Direitos das Pessoas em

Situação de Rua na Cidade de São Paulo e;

• Grupos de Trabalho Interministeriais (GTIs).

Além desses, foram identificados dois movimentos da sociedade civil:

Movimento Nacional da População de Rua - MNPR e Mov imento Estadual da

População em Situação de Rua de São Paulo. O poder público mostrou-se

presente no Conselho e nos Grupos de Trabalho referidos.

Revelou ainda documentos importantes que demonstraram avanços

relevantes para análise de uma política pública dirigida a esse grupo, no caso a

política municipal representada pela Lei de nº 12.316 de 16 de Abril de 19972,

regulamentada pelo Decreto de nº 40.232 de 02 de Janeiro de 2001 e a política

nacional, pelo Decreto de nº 7.053, de 23 de Dezembro de 2009.

Para a organização deste trabalho, priorizamos quatro capítulos. O primeiro

capítulo, A complexidade da realidade social da população em situação de rua:

2 Dispõe sobre a obrigatoriedade do poder público municipal a prestar atendimento à população em situação de rua na Cidade de São Paulo (Projeto de Lei n. 207/94, da Vereadora Aldaíza Sposati).

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interface do trabalho das organizações sociais com o poder público na região central

da cidade de São Paulo, discute a complexidade da realidade social da população

em situação de rua e a interface do trabalho das organizações sociais com o poder

público na região central da cidade de São Paulo. Apresenta, cronologicamente, de

que forma as organizações de entidades públicas e privadas e movimentos sociais,

desde a década de 50 até hoje, foram se reorganizando de maneira que as repostas

institucionais a essa população fossem dadas.

O segundo capitulo, Redes Sociais e Políticas Públicas: Aproximação teórica

e metodológica mostra uma aproximação teórica com o tema das redes sociais e

políticas públicas. Apresenta o caminho metodológico percorrido e o processo da

pesquisa de campo, pautado em uma abordagem de natureza qualitativa, com o uso

de algumas técnicas quantitativas importantes para análise de redes sociais.

O terceiro capítulo, O Mapeamento da Rede de Atendimento

Socioassistencial, Movimentos Sociais e Espaços Coletivos de Atenção à População

em Situação de Rua na Região Central da Cidade de São Paulo, apresenta os

resultados obtidos na Fase I da Metodologia. Apresenta também um breve histórico

sobre as organizações sociais, movimentos sociais e espaços coletivos de

discussões e ações políticas visando à representação dessa população, bem como

as características da Rede de Atendimento Socioassistencial de atenção a essa

população ligada à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da

Cidade de São Paulo.

O quarto capítulo, intitulado Rede de Atenção à População em Situação de

Rua na cidade de São Paulo, apresenta os resultados das Fases II, III e IV da

Metodologia, identificando essa rede social, por meio do perfil dos entrevistados nas

organizações e movimentos que compõem a rede: caracterização das organizações

sociais e movimentos sociais a que pertencem os entrevistados; compreensão de

que os entrevistados têm sobre redes sociais e a sua participação nelas; análise da

rede social existente, representada através da construção de sociogramas.

Capítulo 1

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A complexidade da realidade social da população em situação de rua:

interface do trabalho das organizações sociais com o poder público

na região central da cidade de São Paulo

“Morar na rua é reflexo visível do agravamento da questão social nas grandes metrópoles” (Posfácio de Rosalina de Santa Cruz Leite In: Vieira ET al, 1994 p. 159).

Dada a importância de revelar a relação das organizações sociais com o

poder público na efetivação do trabalho dirigido à população em situação de rua, não

poderíamos desconsiderar o objeto principal, protagonista desta rede de atenção.

Vários autores têm discutido a complexidade da realidade social dessa

população a partir da categoria trabalho como um eixo relevante de análise que

favorece o ingresso nas ruas como Silva (2009), Rosa (2005) e Vieira et al (1994).

Outros como Giorgetti (2006) e Costa (2007) discutem a representação social do

lugar ocupado pelos moradores de rua no imaginário social de grandes cidades

como São Paulo e as relações entre os atores sociais, discursos e instituições

envolvidas com essa população situada no centro de São Paulo. Suas contribuições

permitiram algumas inferências.

Falar da população em situação de rua é revelar um conjunto heterogêneo de

pessoas que utilizam a rua para o trabalho ou atividade de geração de renda para

sobrevivência, bem como para a contravenção, como um espaço, que é possível

contrapor-se às regras societárias existentes, principalmente as relacionadas à

concepção moral fundada no dever e na ética do trabalho. É falar de

pessoas/trabalhadores com direitos sociais mínimos, que romperam com a ordem

vigente na sociedade capitalista contemporânea, e se encontram diante de

situações-limites de pobreza3, de vulnerabilidade, de estigmatização, de carência da

relação afetiva, de dependência em relação a serviços socioassistenciais e de

articulação social.

3 Pobreza aqui entendida como falta, carência de bens, status e poder (Zaluar, 1992 e Telles, 1990 apud Vieira et al, 1994) ou ainda como uma “experiência (real ou virtual) dos limites ou mesmo da ruptura com os parâmetros que constroem a noção de uma ordem legítima de vida” (Vieira et al, 1994, p.17). Entendida ainda como a impossibilidade de decidir sobre sua própria vida e estar privado de direitos sociais, principalmente os relacionados às necessidades básicas de todo cidadão (Le Monde Diplomatique Brasil, Erradicar a pobreza nas metrópoles por Silvio Caccia Bava, ano 3 número 32, março de 2010).

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Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2006),

a população em situação de rua foi definida da seguinte forma:

"Grupo populacional heterogêneo, caracterizado por sua condição de pobreza extrema, pela interrupção ou fragilidade dos vínculos familiares e pela falta de moradia convencional regular. São pessoas compelidas a habitar logradouros públicos (ruas, praças, cemitérios, etc.), áreas degradadas (galpões e prédios abandonados, ruínas, etc.) e, ocasionalmente, utilizar abrigos e albergues para pernoitar."

Na proposta do Documento Política Nacional para Inclusão Social da

População em Situação de Rua produzido em 2008, esses diversos grupos de

pessoas que estão vivendo o cotidiano das ruas foram caracterizados como

imigrantes, desempregados, egressos do sistema penitenciário, doentes

psiquiátricos e “trecheiros”: pessoas que transitam de uma cidade a outra (na

maioria das vezes, caminhando a pé pelas estradas, pedindo carona ou se

deslocando com passes de viagem concedidos por entidades assistenciais).

São pessoas, que segundo Silva (2009), apresentam múltiplas determinações

para estarem nas ruas, desde aspectos estruturais como ausência de moradia,

inexistência de trabalho e renda, mudanças econômicas e institucionais de forte

impacto social, dentre outras, até fatores biográficos relacionados à sua própria

história de vida (vínculos familiares, doenças mentais, drogadependência, etc) e

fatores da natureza como terremotos, inundações, catástrofes, por exemplo, (p.105).

Rosa (2005) sintetiza que: “a presença de processos sociais complexos, de

natureza política, socioeconômica, político-institucional e familiar que, conjugados

entre si, contribuem para a compreensão do que pode estar acontecendo com as

pessoas que vivem em albergues e nas ruas” (p. 27).

Considerado pelas suas múltiplas determinações, Silva (2009) explica que o

fenômeno da população em situação de rua apresenta causas estruturais vinculadas

à própria estrutura da sociedade capitalista (acumulação do capital e produção da

superpopulação relativa ou exército industrial de reserva). Segundo Rosa (2005), o

desenvolvimento capitalista e as transformações sociais na perspectiva da

globalização propiciaram alguns aspectos que alijaram muitos do mercado de

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trabalho e reconstituíram a vulnerabilidade social como a precarização do trabalho, a

progressiva fragilização dos vínculos familiares e sociais, o empobrecimento das

redes de suporte social e a desqualificação social (referenciada a análise de Serge

Paugam4) evidenciada pelo caráter multidimensional, dinâmico e evolutivo da

pobreza.

Por outro lado, a questão social na contemporaneidade aparece como um

aspecto importante desse fenômeno da população em situação de rua discutido por

Silva (2009). Sua análise nos remete a responsabilização dessa população pela

situação em que se encontra, sendo vítima de massacres e perseguições policiais,

submetida a programas de natureza residual (priorização de abrigos e albergues) ao

invés de políticas sociais acessíveis. E resume:

“Nesse contexto, este fenômeno constitui expressão radical da questão social na contemporaneidade, que materializa e dá visibilidade à violência do capitalismo sobre o ser humano, despojando-o completamente dos meios de produzir riqueza para uso próprio e submetendo-o a níveis extremos de degradação de vida” (p.116).

O estudo dos processos complexos da vida da população em situação de rua

dá visibilidade também ao tipo diferenciado de relação que esta estabelece com a

rua: ora fica (circunstancialmente), ora está (recentemente), ora é (permanente), e

que lança muitos desafios às políticas públicas pela ocupação dos espaços públicos,

principalmente nos grandes centros metropolitanos. Essa ocupação por sua vez

revela contradições inerentes a essa população com tamanha heterogeneidade

social: se por um lado o uso da rua como abrigo pode ocorrer pela ruptura com os

parâmetros societários do trabalho, por outro essa população no seu vínculo com a

rua e a cidade torna-se um trabalhador urbano no trato com o lixo e a reciclagem.

Daniel de Lucca Reis Costa em entrevista ao Jornal O Estado de São Paulo explicita

que “Hoje, o catador de lixo é um trabalhador urbano cujas condições de vida estão

sujeitas às cotações do alumínio na bolsa. É peça chave na engrenagem que tornou

o Brasil um dos países que mais reciclam no mundo. É preciso reconhecer que os

moradores de rua estão enredados em processos complexos” (12/07/2009).

4 Paugam, Serge. Desqualificação social – ensaio sobre a nova pobreza. São Paulo, EDUC: Cortez, 2003.

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De certa forma, a análise dos dados que caracterizam essa população

apresenta muitas outras especificidades que a perpassam e devem ser

consideradas como gênero, raça e cor e idade, assim como deficiências e doenças

físicas e mentais.

Ao nos depararmos com a análise dos documentários “Dizem que sou louco”

e “Sobreviventes, da psicanalista Miriam Chnaiderman5, percebemos uma das

especificidades que aparece na relação dessa população com a rua. Refere-se ao

sofrimento psíquico, sendo a rua entendida ora como um alívio, ora como uma fonte

de sofrimento. Para a autora, é fundamental consideramos o aspecto da Saúde

Mental nessa população:

“Quando comecei a fazer o ‘Dizem que sou louco’ em 1992 a questão era descobrir que a cidade nomeava como louco, sem entrar na discussão se é ou não. Mas como diferenciar um sem-teto que perdeu os documentos do dito ‘louco de rua’? Aos poucos fomos descobrindo. Nesses personagens [os loucos], a questão que os motivou a ir para as ruas não foi o desemprego, foi um momento de muito sofrimento psíquico, e a rua os aliviou, como se o barulho da rua aliviasse o barulho interno. Mas o fato é que, estando na rua, em condições muito terríveis de vida, emergem o sofrimento psíquico e coisas muito primitivas não trabalhadas psiquicamente. (...) Uma das perguntas que eu tinha e que hoje acho que consigo responder melhor, é se o viver na rua pode enlouquecer ou levar a um grande sofrimento mental. Não é que a rua enlouqueça, mas, nessa situação de precariedade e de limite, emerge aquilo que se tem de mais primitivo, os recalques nos comportamentos ficam mais relativizados. (...) No ‘Dizem que sou louco’ aprendemos a discernir alguém que está na rua positivando seu jeito de existir. Os loucos de rua são aqueles que têm um capuz, uma roupa esquisita ou que andam com pombas ou bichos, são parte da paisagem. É impressionante como eles se afirmam e a cidade se curva a eles, porque conseguiram se recortar e existir. São todos muito dignos e nobres, e eles dão uma lição para nós todos, de se poder exercer aquilo que é. A gente tem muito o que aprender com essa vida sem eira nem beira, que não se rege por parâmetros tão estáveis como estamos acostumados” (p.11-12).

Em suma, a análise de Silva (2009) nos permitiu delinear cinco características

gerais dessa população: heterogeneidade, pobreza extrema, vínculos familiares

interrompidos e fragilizados, inexistência de moradia convencional regular e a

utilização da rua como espaço de moradia e sustento por contingência temporária ou

de forma permanente. O perfil contemporâneo identificado pela autora nas quatro

capitais estudadas (Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e Recife) sob esses

5 Entrevista a Revista “OCAS saindo das ruas” número 66 de Julho/Agosto de 2009, seção cabeça sem teto – Reportagem Travessias, páginas 8-13.

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aspectos nos aproximou de uma população predominantemente masculina, que está

envelhecendo nas ruas, sem que sejam implementadas políticas sociais específicas

a essa atenção. Quanto à escolaridade, a maioria sabe ler e escrever, possuindo um

grau de escolaridade maior do que o apresentado nos censos anteriores. Essas

pessoas são provenientes do próprio estado e respectivamente de suas capitais.

Têm um tempo maior de permanência na rua, principalmente desacompanhadas de

familiares. Apesar de terem conhecimento da existência de suas famílias de origem,

estabelecem pouco ou nenhum contato. Sobre trabalho, já tiveram experiência

anterior à condição de rua, mesmo em ocupações precárias, que para muitos,

garantem hoje sua sobrevivência (mendicância, catar materiais recicláveis, lavar,

manobrar e vigiar carros, bicos em serviços especializados, trabalho sem carteira

assinada na construção civil, dentre outros). Essa população ainda mantém o

trabalho regular como principal referência material, psicológica e cultural e faz uso

frequente de álcool e outras drogas.

1.1. O Perfil da População em Situação de Rua na ci dade de São Paulo

“É importante observar que a população de rua nunca foi incluída em censos oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, seu número está sempre sob suspeita. Poucas são as referências sobre estimativas existentes nos anos 1970” (ROSA, 2005, p. 67).

Apesar de autores como Vieira et al (1994) e Rosa (2005) explicarem a

grande dificuldade de coleta de dados sobre a população de rua na cidade de São

Paulo, em razão da questão da heterogeneidade e deslocamento geográfico,

econômico e social, algumas pesquisas e estudos consistentes foram realizados

desde a década de 90.

Nos anos anteriores, as estimativas apontadas, principalmente por meio de

reportagens jornalísticas, que tentavam denunciar a situação crítica das condições

de vida dessa população, por terem interesses e conceitos diversos das

organizações envolvidas, não se mostraram fontes fidedignas (Rosa, 2005, página

67-75).

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Conforme aponta Rosa (2005), foram realizados, na cidade de São Paul, seis

estudos, sendo quatro pela antiga Secretaria Municipal da Família e do Bem-Estar

Social e os dois últimos pela atual Secretaria Municipal de Assistência e

Desenvolvimento Social (SMADS), em parceria com a Fundação Instituto de

Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo - FIPE/USP.

O primeiro censo de pessoas em situação de rua da cidade de São Paulo

realizado em 1991 pela antiga Secretaria Municipal da Família e do Bem-Estar

Social apresentou um conjunto de 3.392 moradores de rua na cidade com o seguinte

perfil:

“Do total de pessoas que passaram pelas instituições (para o perfil optaram por questionários em: abrigo, casa de convivência e albergue), 90% são do sexo masculino e 10%, do feminino. Destes, aproximadamente 65% têm menos de 40 anos. O levantamento constatou 329 pontos pela cidade onde as pessoas dormem. 70% dos quais se localizam nos distritos da Liberdade, Bela Vista e Sé. O levantamento apontou como segmento mais significativo os homens, em grupos ou sozinhos. Destacou, também, a heterogeneidade da população, composta por famílias, homens e mulheres sós, crianças e adolescentes. Dos moradores de rua que foram contatados em albergues, 46% possuíam trabalho até um ano antes. Quanto à origem da população que freqüenta abrigo, casa de convivência e albergue, apenas 13, 14 e 10%, respectivamente, são da cidade de São Paulo, e os demais são do interior do estado ou de outros estados da federação. (VIEIRA et al., 1994)

O segundo censo realizado pela mesma secretaria em 1994 demonstrou um

aumento do número de pessoas em situação de rua pelo universo de 4.549

indivíduos, sendo que a grande maioria continuou sendo do sexo masculino. No ano

de 1996, um terceiro censo contabilizou 5.334, principalmente nas regiões Sé e

Lapa (aproximadamente 78% do total computado de moradores de rua da cidade).

Este número chegou a 6.453 pessoas no ano de 1998, num quarto censo.

Entre 2000 e 2003, sob encomenda da SMADS, dois censos foram realizados

pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo -

FIPE/USP. Os estudos apontaram que: “Apesar da reconhecida diversidade, as

pessoas em situação de rua partilham inúmeras características. São todos muito

pobres e com uma trajetória de vida cheia de fracassos pessoais e desamparo

institucional. Sem casa e sem lar, reinventam diariamente as soluções para sua

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subsistência: alimentos, abrigo, dinheiro, bebida, remédios e segurança”. (SILVIA

SCHOR, 15/05/2007, www.fipe.org.br, acessado em Janeiro de 2010)

No primeiro censo de Fevereiro de 2000, foi estimado um total de 8.088

moradores de rua, em São Paulo. Destes, 4.395 foram encontrados nos logradouros

da cidade e 3.693 encontravam-se nos albergues. É importante mencionar que no

estudo feito por Rosa (2005) e Silva (2009) aparece um total maior, de 8.706

pessoas (3.693 em albergues e 5.013 em logradouros), correspondente à frequência

total de pessoas em situação de rua identificadas pelo primeiro censo da cidade de

São Paulo.

“Na região central da cidade constatou-se a presença de 2.071 pessoas (24%). Alguns outros dados da pesquisa são os seguintes: 85% do total são homens e 15% mulheres. Quanto à idade 70% estão entre 18 e 49 anos; 19% entre 50 e 64 anos e 4% acima dos 65 anos. Segundo o tempo de permanência nas ruas, 16% estão entre 2 e 5 anos. No período de 6 meses a 1 ano, 15%. Até um mês, 13%. De um a 3 meses, 13%. Entre um e 2 anos, 13%. De 3 a 6 meses, 11%. No intervalo de 5 a 10 anos, 11%. Acima de 10 anos, 8%.Vale ressaltar que em 2009 o número de pessoas em situação de rua chegou a 15 mil, e, considerando que a pesquisa da FIPE, supra mencionada, é referente ao ano de 2000” (www.fipe.org.br).

No segundo censo de Outubro de 2003, intitulado "Estimativa do Número de

Pessoas em Situação de Rua da Cidade de São Paulo em 2003", foram contadas

10.399 pessoas, sendo 6.186 em albergues e 4.213 nas ruas.

Considerando a pesquisa recente realizada por Silva (2009), podemos indicar a

partir destes censos (2000 e 2003) algumas características gerais do perfil da

população em situação de rua na cidade de São Paulo:

• 84,31% (8.767) são do sexo masculino;

• 33,57% (3.491) estão com idade entre 41 e 55 anos;

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• 73,64% (6.411) estão com 1ª a 8ª série completa e incompleta6 (censo

2000);

• Apenas 5,39% (469) sabem ler e escrever (censo 2000), o que representa

um número bem inferior se comparado aos das três outras capitais

estudadas que apresentaram frequências acima de 63%;

• 65,71% (5.721) são ainda provenientes de outros estados (censo 2000);

• 43,25% (3.766) estão a até um ano na rua;

• 11,83% (1.230) não estão acompanhadas de nenhuma pessoa da família;

• 97,43% (8.483) tinham um trabalho anterior à rua (censo de 2000);

• 29,72% realizavam serviços especializados como auxiliar de pedreiro,

catadores de materiais recicláveis, auxiliares de serviços gerais dentre

outros (censo de 2000);

• 81,09% faziam “bicos”;

• 24% afirmaram ter usado drogas (estudo realizado pela FIPE em 2005 com

usuários de albergues conveniados com a Prefeitura de São Paulo).

� A Pesquisa Nacional sobre a População em Situação d e Rua

Durante a realização do I Encontro Nacional sobre População em Situação

de Rua em setembro de 2005 organizado pela Secretaria Nacional de Assistência

Social (SNAS) do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS),

os participantes, em conjunto com os movimentos sociais representantes dessa

população, retomaram na pauta a importância da realização de estudos quantitativos

nacionais capazes de permitir a caracterização socioeconômica da população em

6 Sobre escolaridade a autora baseou-se nos dados do censo de 2000 já que as frequências de 2003 não deixaram claro a que se referem, se ao total estimado de 10.399 ou se ao total encontrado em logradouros ou albergues.

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situação de rua, de modo a orientar a elaboração e implementação de políticas

públicas efetivas. Dessa discussão surgiu a proposta da Pesquisa Nacional sobre

a População em Situação de Rua , realizada no período de agosto de 2007 a

março de 2008, em que foram identificadas 31.922 pessoas em situação de rua.

Essa pesquisa nacional censitária e por amostragem, que extrapolou o universo da

capital paulista, foi realizada em 71 cidades com mais de 300 mil habitantes. Não

foram consideradas as cidades que realizaram recentemente levantamento

parecido, no caso Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Porto Alegre.

Os dados apresentados, apesar de mostrarem-se semelhantes aos coletados

nas pesquisas municipais, sugeriram um novo perfil desta população: trabalhadores

pobres sem uma moradia convencional (70,9% exercem alguma atividade

remunerada). Apontaram também um elevado grau de cristalização da situação de

rua e elevado grau de institucionalização de pessoas que dormem em albergues

(MDS, 2008)

A diversidade relativa ao perfil (características socioeconômicas e formação

escolar); trajetória de rua (razões de ida à rua, deslocamentos, entre outros);

histórico de internação em instituições; pernoite, vínculos familiares e trabalho;

acesso à alimentação, serviços e cidadania; discriminações sofridas e participação

em movimentos sociais, apresentamos a seguir:

• A população em situação de rua é predominantemente masculina, 82%;

• Mais da metade (53,0%) se encontra em faixas etárias de população

ativa entre 25 e 44 anos;

• A proporção de negros (pardos - 39,1% somados a pretos - 27,9%) é

substancialmente maior;

• Os níveis de renda são baixos. A maioria (52,6%) recebe entre R$ 20,00

e R$ 80,00 semanais;

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• 74% dos entrevistados sabem ler e escrever;

• 48,4% não concluíram o primeiro grau e 17,8% não souberam

responder/não lembram/não responderam o seu nível de escolaridade.

Apenas 3,2% concluíram o segundo grau;

• A maioria afirmou que costuma dormir na rua (69,6%);

• Dentre os 46,5% que dormem na rua, 43,9% apontaram a falta de

liberdade como o principal motivo da não preferência por dormir em

albergue. O segundo principal motivo foi o horário (27,1%) e o terceiro a

proibição do uso de álcool e drogas (21,4%);

• Dentre os 43,8% que manifestaram preferência por dormir em albergues,

67,6% apontaram a violência como o principal motivo;

• Os principais motivos pelos quais essas pessoas passaram a viver e

morar na rua se referem aos problemas de alcoolismo e/ou drogas (35,5);

desemprego (29,8%) e desavenças com pai/mãe/irmãos (29,1%). Dos

entrevistados no censo, 71,3% citaram pelo menos um desses três

motivos (que podem estar correlacionados entre si ou ser consequência

do outro);

• 5,8% dos entrevistados sempre viveram no município em que moram

atualmente. Dos restantes (54,2% do total), 56,0% vieram de municípios

do mesmo estado de moradia atual e 72,0% vieram de áreas urbanas;

• A maioria dos entrevistados (59,9%) viveu, em sua vida, em um número

pequeno de cidades (até três cidades). Apenas 11,9% viveram em seis

cidades ou mais, indicando um comportamento que pode ser

caracterizado como o de um “Trecheiro”;

• 48,4% estão há mais de dois anos dormindo na rua ou em albergue;

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• Dentre os que dormem em albergue, estima-se que o tempo de

permanência seja elevado: 30,4% encontram-se no tempo regular de

permanência (1 até 6 meses) 33,3% estão há mais tempo e 36,3% não

informaram;

• Grande parte apresentou histórico de internação em instituições: 28,1%

afirmaram já ter passado por casa de recuperação de dependentes

químicos; 27,0% já estiveram em algum abrigo institucional; 17,0%

admitiram já ter passado por alguma casa de detenção; 16,7% afirmaram

já ter passado por hospital psiquiátrico; 15,0% dos entrevistados já

estiveram em orfanato; 12,2% já estiveram na Fundação CASA ou

instituição equivalente;

• 51,9% dos entrevistados possuem algum familiar residente na cidade

onde se encontram. Porém, 38,9% deles não mantêm contato com esses

parentes e 14,5% mantêm contato em períodos espaçados (de dois em

dois meses até um ano);

• A população em situação de rua é composta, em grande parte, por

trabalhadores: 70,9% exercem alguma atividade remunerada. Destas

atividades destacam-se: catador de materiais recicláveis (27,5%),

flanelinha (14,1%), construção civil (6,3%), limpeza (4,2%) e

carregador/estivador (3,1%);

• 58,6% dos entrevistados afirmaram ter alguma profissão. Entre as

profissões mais citadas destacam-se aquelas vinculadas à construção

civil (27,2%), ao comércio (4,4%), ao trabalho doméstico (4,4%) e à

mecânica (4,1%);

• A maior parte dos trabalhos realizados situa-se na chamada economia

informal;

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• A maioria (79,6%) consegue fazer ao menos uma refeição ao dia, sendo

que 27,1% compram a comida com o seu próprio dinheiro e 4,3% utilizam

o restaurante popular;

• 29,7% dos entrevistados afirmaram ter algum problema de saúde:

hipertensão (10,1%), problema psiquiátrico/mental (6,1%), HIV/Aids

(5,1%) e problemas de visão/cegueira (4,6%);

• Dentre os entrevistados, 18,7% fazem uso de algum medicamento

através de postos/centros de saúde. 43,8% dos entrevistados procuram

em primeiro lugar o hospital/emergência. Em segundo lugar, 27,4%

procuram o posto de saúde;

• Os principais locais utilizados pelas pessoas em situação de rua, para

tomar banho são: a rua (32,6%), os albergues/abrigos (31,4%), os

banheiros públicos (14,2%) e a casa de parentes ou amigos (5,2%);

• Para fazer suas necessidades fisiológicas, é mais utilizada a rua (32,5%),

os albergues/abrigos (25,2%), os banheiros públicos (21,3%), os

estabelecimentos comerciais (9,4%) e a casa de parentes ou amigos

(2,7%);

• 24,8% das pessoas em situação de rua não possuem quaisquer

documentos de identificação: título de eleitor 61,6%, carteira de trabalho

59,9%, CPF 57,4%, certidão de nascimento ou de casamento 49,2% e

carteira de identidade 40,7%. Possuem todos os documentos de

identificação mencionados apenas 21,9%;

• A grande maioria não é atingida pela cobertura dos programas

governamentais: 88,5% afirmaram não receber qualquer benefício dos

órgãos governamentais. Entre os benefícios recebidos se destacaram a

aposentadoria (3,2%), o Programa Bolsa Família (2,3%) e o Benefício de

Prestação Continuada (1,3%).

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Até o momento de conclusão deste estudo, os dados recentes coletados pela

FIPE sobre a população em situação de rua no ano de 2009 e 2010 não foram

publicados.

1.2. A População em Situação de Rua na Região Centr al do Município de São

Paulo

Considerada um aspecto característico dessa população em situação de rua,

a localização nos grandes centros urbanos não é um fenômeno recente, apesar de

hoje sua concentração mostrar-se mais evidente. Silva (2009) nos remete à análise

de um fenômeno que se iniciou desde a constituição de cidades pré-industriais no

início do capitalismo.

Dados já apontados no censo de 1994 referiam à região administrativa da Sé,

que abrange o centro e bairros vizinhos, com um número significativo de pessoas

em situação de rua. Segundo Vieira et al (1994), das 3.392 pessoas, 2.647 (78,2%)

estavam nessa região.

Conforme apresentado pela SMADS (2007), no Relatório de Inscrição para o

Prêmio São Paulo Cidade de 2007, os dados dos censos de 2000 e 2003 da FIPE

revelaram que:

“A distribuição das pessoas em situação de rua nos 29 distritos da cidade não se alterou significativamente. Assim, a área central da cidade e Santana (os 11 distritos recenseados) abrigavam, em 2000, 62,2% das pessoas em situação de rua, passando este percentual para 61,6% em 2003. A distribuição da população entre albergados e pessoas pernoitando nas ruas nesses distritos, entretanto, se alterou: em 2000, 58,3% pernoitavam nas ruas, enquanto que, em 2003, esse percentual cai para 44,2%. Assim embora o número absoluto de pessoas pernoitando nas ruas da área central tenha praticamente se mantido, entre 2000 e 2003, sua participação na população total caiu, dando medida de eficácia da ação da secretaria junto ao segmento”

Esse relatório inclusive indicou uma forte concentração dessa população nos

distritos de República, Pari, Santa Cecília e Sé com a seguinte desagregação:

“Enquanto no Pari, o total encontrado reflete fortemente o número de albergados,

na Sé, a maior participação refere-se às pessoas pernoitando nas ruas. O total

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encontrado em Santa Cecília, entretanto, mostra participação bastante eqüitativa

entre albergados e pessoas pernoitando nas ruas”. (p.7)

Diversos fatores podem explicar por que o centro da cidade de São Paulo

mostra-se um local atrativo para essa população. Considerando as facilidades

apresentadas simplesmente pela localização, a região central da cidade dispõe de

espaços na rua que possibilitam essa população abrigar-se em esconderijos

(galerias subterrâneas, becos, etc.), espaços públicos não utilizados à noite (praças,

largos, etc.), sob pontes, viadutos e marquises em grandes avenidas, em áreas

próximas à reciclagem de material e depósitos, assim como em prédios fora de uso,

casas e prédios abandonados:

“Ao mesmo tempo a arquitetura urbana é mais rica em possibilidade de abrigo que a das pequenas cidades” (SILVA, 2009).

O uso desses espaços, segundo análise de Frangella (2004), evidencia uma

questão importante da dimensão espacial do lugar:

“Está evidente o grau de sofrimento dessa população, decorrente dos embates cotidianos. Porém, é entre vivenciar dolorosamente a permanência na contramão e “localizar-se” cotidianamente no espaço público manipulando códigos sociais, criando novas territorialidades e atravessando os sentidos urbanos, que os moradores de rua garantem sua sobrevivência e permanência. São táticas imprevisíveis, contingentes, as quais, “quando associadas à dimensão espacial do lugar, que a tornam vernacular, constituem-se em um contra uso” (Leite, 2002, p. 122) e possibilitam a construção de novos lugares, onde os habitantes de rua “cabem” por um determinado tempo e espaço” (p. 226).

As interpretações mais apontadas pelos autores referidos foram a

permanência na área central pela proximidade com instituições públicas e a de

caráter filantrópico para a garantia da sobrevivência (Vieira et al., 1994, p.50) -

obtenção de alimentação gratuita, abrigo, lavanderia, guarda de pertences e

atendimento do Serviço Social (considerando a concentração da Rede de

Atendimento Socioassistencial da SMADS nessa região), e com as diversas

alternativas de trabalho e atividade de geração de renda para garantir a subsistência

diária (Silva, 2009), através de grupos organizados, cooperativas, associações,

organizações sociais, dentre outros.

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Enquanto uma área de concentração de atividades econômicas importantes

(comerciais, bancárias, religiosas e de lazer) é preferida por essa população,

segundo Silva (2009), pela facilidade também em receber doações e obter

rendimentos através de atividades econômicas informais. Para a autora “a

conjugação de vários fatores, como a maior circulação do capital, a infraestrutura, a

arquitetura e a geopolítica dos grandes centros, ajuda a explicar por que o fenômeno

da população em situação de rua é essencialmente urbano” (p. 119).

1.3. A Reorganização da Atenção à População em Situ ação de Rua em

São Paulo

“(...) as ações voltadas à população de rua localizam-se prioritariamente no âmbito da Assistência Social, executadas por meio de parcerias com organizações socioassistenciais, geralmente confessionais. Disso podem decorrer práticas isoladas ou assistencialistas que reforçam o caráter benemerente dessa política” (ROSA, 2005).

Revelada de certa forma a complexidade da população em situação de rua,

sobra-nos divulgar as respostas institucionais dadas pelas organizações sociais na

interface com o poder público. Para se falar numa rede de atenção à população em

situação de rua, os atores principais precisavam ser revelados e compreendidos

num determinado contexto.

O aprofundamento na literatura especializada e a pesquisa documental e

exploratória permitiram identificar, cronologicamente, a organização de entidades

públicas e privadas e movimentos sociais, desde a década de 50 até hoje, que têm o

intuito de dar repostas institucionais à população em situação de rua.

A presença de diferentes instituições religiosas sempre se fez presente em

todo processo histórico de luta a favor dessa população, bem como a concentração

destas na região central da metrópole paulista.

A possibilidade de alternativas criadas pelo centro como a predominância de

comércio e serviços, de prédios de instituições administrativas e públicas

subutilizados para pernoite, a afluência e circulação intensa de pessoas e a oferta de

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espaços públicos sempre atraiu a população em situação de rua para essa área

geográfica delimitada e consequentemente as instituições representativas. Segundo

autores “o fato de os moradores de rua viver e circularem numa área circunscrita

demonstra que a rua não é para eles um espaço indiferenciado. A apropriação de

determinados lugares se faz em função de um conjunto de fatores que vão desde a

permissão social para ocupação, menor pressão do poder público e dos munícipes,

até as possibilidades de sobrevivência oferecidas pela região”, no caso o centro

(VIEIRA et al, 1994).

Desde a década de 50, a Organização de Auxílio Fraterno (OAF) de São

Paulo já mobilizava iniciativas com os Centros Comunitários, a Casa de Oração e a

Missão do Povo de Rua para se criar um entendimento acerca dessa população em

situação de exclusão social. Sua criação em 1955 permitiu o acompanhamento do

processo de mudança do centro urbano e consequentemente do uso do espaço

público por pessoas que ficavam circunstancialmente na rua, estavam recentemente

na rua e eram permanentemente da rua (VIEIRA et al, 1994).

Nas décadas posteriores de 70 e 80, o desenvolvimento de uma arquitetura

da exclusão (Rosa, 2005) pela gestão municipal (governo Janio Quadros e governo

Paulo Maluf) que se manteve, induziu o início de um processo de organização e

resistência de grupos e comunidades comprometidas com essa população, que

naquele momento, encontrava-se cerceada no seu direito de ir e vir nas vias

públicas e de trabalhar nos espaços públicos existentes.

“Por um lado, a política de segregação dos moradores de rua na cidade de São Paulo teve um auge com uma lei de cercamento das praças públicas pelo governo municipal, na gestão do falecido Jânio Quadros (PTB – Partido Trabalhista Brasileiro), de 1985 a 1988. A partir do ano de 1994, setores da sociedade procuraram evitar a presença dos ‘mendigos’ com a construção de prédios sem marquise, com funcionário de loja jogando óleo queimado na calçada em frente, com a prefeitura realizando operação ‘anti-mendigo’ – como a colocação de grades em árvores de praças. Estas atitudes tiveram o apoio do Administrador Regional da Sé, na época” (JUSTO, 2008).

Era um período em que se observava também uma tendência à

institucionalização do trabalho com essa população, num padrão convencional de

atendimento nos conhecidos albergues, segundo Rosa (2005).

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No entanto, foi apenas na década de 90, mais especificamente no governo da

prefeita Luiza Erundina (1989-1993), que se iniciaram avanços importantes na

organização da rede de proteção à população em situação de rua e na estrutura das

políticas de atendimento dantes de responsabilidade do Governo do Estado de São

Paulo e da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo7. Falava-se em práticas

inovadoras de caráter participativo desenvolvidas em um trabalho de parceria entre

o poder público e as ONGs, mesmo ainda diante de atividades preponderantemente

filantrópicas produzidas em padrões de atendimento considerados tradicionais.

Neste período, os primeiros convênios da Prefeitura de São Paulo foram

estabelecidos com organizações sociais de cunho religioso, católico, metodista e

presbiteriano, para a criação de “Casas de Convivência”8, no final de 1989 e início

dos anos 90, conforme relatado por Vieira et al (1994).

O campo aberto a uma rede de organizações sociais de caráter privado de

cunho religioso baseado na caridade cristã revelava a existência de instituições

empenhadas, principalmente, nos serviços sociais e na distribuição gratuita de

alimentos. Falava-se no duplo sentido dessas organizações: a consecução dos

princípios doutrinários e a ação social. As principais instituições e grupos

identificados numa rede ainda pouco articulada pertenciam à doutrina espírita de

orientação Kardecista, outros ligados à Igreja Católica, ou de orientação evangélica

e alguns estabelecimentos de caráter comercial. O conjunto de ações desenvolvidas

apresentava ainda uma forma precária de enfrentamento da pobreza, mas sendo,

naquele momento, o único instrumento de acesso dessa população a recursos e

serviços sociais.

Em 1992, o então criado Fórum das Organizações Sociais que Trabalham

com a População em Situação de Rua pelas entidades, que naquele momento,

trabalhavam com a população em situação de rua, constituiu-se num espaço de

7 Pastoral Social da Igreja Católica presidida pelo Padre Júlio Lancellotti, responsável pelo Vicariato Episcopal do Povo de Rua pela Arquidiocese de São Paulo. 8 Segundo Rosa (1994) estas casas norteavam-se pelos princípios de uma ética da dignidade humana, numa direção de não reprodução da subalternidade, exploração de mão de obra e confinamento. “São espaços onde as pessoas que se encontram na rua podem sentir-se acolhidas, conviver, organizar-se, buscar soluções para seus problemas básicos visando à recuperação dos direitos, respeito e dignidade” (p. 141).

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discussão e de resistência frente aos entraves para a construção de uma política

pública de atenção a essa população.

As discussões realizadas em 1993 entre as organizações do Fórum e a

Câmara Municipal de São Paulo culminaram na elaboração e aprovação da Lei nº.

12.316/97, que afirmava os direitos da população de rua e garantia a municipalidade

do atendimento.

“(...) no mesmo ano de 1994 ocorreu, no dia 10 de maio, na Câmara Municipal de São Paulo, uma celebração do quarto ano de luta da população de rua. Estavam presentes moradores de rua em geral, membros de centros comunitários e de direitos humanos (que são moradores de rua), membros da Pastoral do Povo da Rua, secretários municipais, sindicalistas e vereadores. Nessa oportunidade, a vereadora Aldaísa Sposati, do PT (Partido dos Trabalhadores), entregou ao presidente da Câmara seu projeto de lei (no 207/94) de uma política de atenção à população de rua. Em seu depoimento, a vereadora disse que quando era Secretária Municipal das Administrações Regionais foi procurada por moradores de ruas e Irmãs católicas para reivindicar o direito de recolher o papel das ruas porque viviam disso. Em 1997 foi aprovada lei municipal (no 12.316/97) que estabelece como dever do poder público municipal da cidade de São Paulo, manter serviços e programas de atenção à população de rua garantindo “padrões éticos de dignidade” (JUSTO, 2008).

A tendência à institucionalização do trabalho com a população em situação de

rua manteve-se e foi intensificando-se nesta década pelo crescimento de convênios

do poder público municipal com organizações sociais, visando ao aumento de vagas

nos albergues e nas casas de convivência, com foco no atendimento de pernoite,

higiene e alimentação. Conforme Vieira et AL (1994):

“A prestação de serviços de higiene e alimentação em maior escala é considerada pelas Casas como distante dos seus princípios de ação, caracterizando-se como assistencialismo. Prefere-se valorizar o atendimento de grupos pequenos, com relações personalizadas. A situação torna-se mais complexa quando se percebe que a prestação de serviços é a maior demanda apresentada pelos usuários das Casas de Convivência. São poucos os que participam de atividades produtivas ou de reflexões, sejam elas doutrinárias, de caráter educativo mais amplo ou organizativo.” (p.146)

Justo (2008) comenta que nesta década de 1990, as pessoas em situação de

rua passaram a ser tema relevante em diversos eventos e encontros realizados:

“Destacam-se alguns eventos: a Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de 1995, teve como tema ‘os excluídos’; o curso de jornalismo de uma faculdade privada começou a produzir um jornal sobre essas pessoas, para ser vendido por meninos de rua. Outra iniciativa foi a realização do Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, em 1995, pelo Núcleo de Seguridade e Assistência

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Social da PUC/SP em conjunto com outras entidades, que se refere até mesmo a homeless. Dois Seminários Nacionais sobre População de Rua foram realizados, um em 1992 em São Paulo, e outro, em 1995, em Belo Horizonte (MG). Vale lembrar O Trecheiro, jornal publicado pela Rede Rua de Comunicação desde 1990, e a organização da primeira cooperativa dos catadores autônomos de papel, fundada em 1989”.

No início dos anos 2000, novas perspectivas de trabalho entre as

organizações e secretarias municipais foram discutidas e culminaram em 2001, na

regulamentação da Lei de nº 12.316 de 16 de Abril de 1997 9 pelo Decreto de nº

40.232 de 02 de Janeiro . Pretendia-se estender a atenção a essa população para

outras áreas, que não somente a da Assistência Social, e avançar na continuidade

de uma política pública a ela destinada, com ampliação da rede de serviços em toda

a cidade, e não somente, na região central.

As reações diante do Massacre da Sé, que aconteceu em agosto de 2004,

marcam a história de lutas da população em situação de rua: conhecido como um

dos atos de violência mais cruéis contra pessoas em situação de rua da história do

país, com repercussão inclusive internacional, esse fato mobilizou a sociedade

paulista na época e instigou a reação das organizações sociais contra as políticas

municipais de cunho higienista, intensificando o processo de mobilização para a

construção de uma proposta de política nacional destinada à população em situação

de rua.

Três espaços de mobilização e discussão surgiram: o Movimento Nacional

da População em Situação de Rua (MNPR), o Movimento Estadual da

População em Situação de Rua e o Conselho de Monitoramento da Política de

Direitos das Pessoas em Situação de Rua no município de São Paulo.

Em Setembro de 2005, o Governo Federal organizou o I Encontro Nacional

sobre a População em Situação de Rua, com o objetivo de discutir os desafios e

traçar estratégias para a construção de políticas públicas nacionalmente articuladas.

Silva (2009) explicita que a partir do relatório produzido nesse encontro, que contou

com a participação da própria população, alguns entraves foram revelados:

9 Dispõe sobre a obrigatoriedade do poder público municipal a prestar atendimento à população em situação de rua na Cidade de São Paulo (Projeto de Lei n. 207/94, da Vereadora Aldaíza Sposati).

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• Atitude preconceituosa, falta de capacitação, compromisso e habilidade

dos servidores públicos;

• Inadequação dos programas sociais oferecidos tanto pelo governo federal

como pelos governos municipais;

• Falta de articulação intersetorial de políticas sociais com imposição de

limites de cobertura;

• Discriminação e o não reconhecimento de pessoas, como sujeitos de

direito;

• Manutenção da Violência por meio da materialização do preconceito e a

intolerância da sociedade civil e da ação do Estado por intermédio de ação

policial.

Silva (2009) ainda sintetiza a dificuldade de acesso dessa população às

políticas de proteção social aos trabalhadores:

“Tem sido assim no Brasil. Inúmeras iniqüidades sociais decorrem dessa situação. A população em situação de rua é expressão concreta disso. Por um lado, esse grupo populacional não tem acesso ao trabalho assalariado ou a outra forma de trabalho que, no Brasil, assegura o acesso às políticas de proteção social aos trabalhadores. Por outro lado, não têm acesso às políticas sociais dirigidas aos incapazes para o trabalho (assistência social) por que são aptos para o trabalho, embora não estejam usufruindo esse direito. Assim, enfrentam uma degradação crescente da vida, em face da pobreza extrema e da ausência da proteção social” (p.185).

Nos últimos anos, as organizações sociais, fortemente presentes na

realização das políticas públicas no país e o Movimento Nacional da População de

Rua vêm reunindo esforços para construir um intenso processo de debates e

discussões sobre a política pública em discussão desde 2005. Na cidade de São

Paulo, os encontros iniciaram-se em maio de 2008, quando o Governo Federal abriu

consulta pública para a formulação da política e propiciou a organização de um

grupo coordenador constituído por representantes do MNPR e pelas organizações

sociais: Pastoral do Povo da Rua, Organização de Auxílio Fraterno (OAF-SP),

Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) e Associação Rede Rua. Em

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fevereiro de 2009, o grupo ampliado transformou-se no Fórum Permanente de

Acompanhamento das Políticas Públicas da População em Situação de Rua de

São Paulo , considerando a opção por uma ação coletiva capaz de ampliar o

protagonismo da própria população em situação de rua.

Diversos encontros e plenárias denominadas de “Fala Rua”, que já existiam,

foram intensificados durante todo o ano de 2008 e 2009 com ampla divulgação nas

ruas, albergues, abrigos, moradias provisórias e hotéis sociais para estimular a

participação social dessa população. Como resultado dessa ação coletiva, um

documento final, elaborado conjuntamente e incorporando propostas de outros

estados brasileiros, foi enviado ao Governo Federal no início de maio de 2009, para

apreciação. Formaram-se Grupos de Trabalho Interministeriais (GTIs) em

Brasília, com ampla participação de representantes dos fóruns e organizações

sociais, para discutir políticas específicas para a população em situação de rua, em

cada área. É importante destacar que esses grupos foram constituídos apenas no

lançamento da consulta pública “Política para inclusão social da população em

situação de rua”, no segundo semestre de 2008, mesmo com o Decreto sem número

de 25/10/2006.

Conforme referiu Anderson Lopes, coordenador do Movimento Nacional da

População de Rua, em entrevista para o Fórum Centro Vivo: “O ineditismo é a marca

registrada de todo o processo de construção da proposta. Pela primeira vez houve

uma construção de política para a população de rua de forma democrática e

participativa” 10.

Verifica-se que hoje, parte da população em situação de rua discute suas

questões em fóruns compostos por entidades que trabalham com essa população e

movimentos sociais organizados por eles próprios, e apresentam suas

reivindicações prioritárias, tendo como temas os direitos sociais, a segurança, a

moradia, o trabalho, a saúde entre outros, no Dia Nacional de Luta do Povo de Rua

conhecido pelo Grito dos Excluídos. (JUSTO, 2008)

10 Fonte: www.centrovivo.org. Fórum Centro Vivo.

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O número de convênios da Prefeitura de São Paulo (SMADS) com as

organizações sociais intensificou-se ao longo desses anos, de forma a aumentar a

prestação de atendimento direto a essa população nos serviços. No entanto, uma

Carta Aberta, lançada em Março de 2009, por essas organizações de São Paulo

articuladas no Fórum das Organizações, revelou denúncias de situações de

desrespeito no que se refere ao repasse mensal de verbas, bem como dificuldade

de comunicação entre as instâncias da Prefeitura. Fica evidente nesse documento a

falta de diálogo e o repasse de informações truncadas e fragmentadas:

“De acordo com o documento, o repasse mensal de verbas não vem acontecendo dentro do prazo estabelecido, o que desestabiliza o funcionamento das organizações e gera incertezas quanto ao futuro dos atendimentos. A verba de humanização, por exemplo, aprovada dia 29 de dezembro de 2008, que obrigou as organizações a executarem o gasto às pressas, ainda não foi repassada para o reembolso. “Em decorrência desses atrasos, o atendimento ficou muito prejudicado, os salários atrasados e algumas organizações tiveram a água e a luz cortada por falta de pagamento”, afirmam as organizações. Há um desgaste ainda para os gestores das organizações e para os serviços no período de dissídios salariais das categorias que trabalham nas organizações sociais. “Solicitamos mais precisão e transparência na política de reajustes dos convênios e um acordo entre Prefeitura, sindicatos e organizações”. O dissídio de 2008, por exemplo, ainda não foi repassado pela prefeitura. As organizações estão arcando com este reajuste, mas “não temos condições de manter esse repasse por muito tempo”, relata a carta. Baixos salários, o alto número de atendimento por profissional, a falta de uma estrutura de serviços intersecretarias que efetivem a saída das pessoas da rede de assistência também estão na relação das precariedades vividas pelas organizações. Tudo isso “tem gerado extremo desgaste e desmotivação dos profissionais, ocasionando inclusive, inúmeros casos de licença médica por stress, depressão, dentre outras doenças”, declara a carta”.

Nesse processo, alguns espaços representativos deixaram de ser

considerados como espaços de aliança e diálogo pelo poder público, que convoca

as reuniões para o repasse de decisões já tomadas:

“O próprio Conselho de Monitoramento da Política de Direitos das Pessoas em Situação de Rua, de acordo com Ricardo Mendes Mattos, que é conselheiro titular, acabou sendo descartado pela prefeitura como espaço de participação da sociedade na formulação de políticas”

Outra preocupação que a carta revelou foi a falta de informações sobre a

possibilidade de fechamento de centros de acolhida (antigos albergues), diante de

uma nova reorganização dos serviços da atual SMADS, sob a gestão da secretária

Alda Marco Antonio. Se por um lado as organizações estão preocupadas com o

aumento crescente no atendimento diário nos demais serviços, por outro a Prefeitura

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justifica que o fechamento ocorreu por falta de infraestrutura do equipamento e foi

realizado a partir de um levantamento da secretaria que identificou cerca de 90%

das pessoas atendidas em equipamentos na região central da cidade.

Na Carta Aberta (2009), as organizações sociais reivindicam do poder público

o cumprimento das seguintes exigências:

• Cumprimento da lei de Atenção à População de Rua, Lei nº. 12.316/97;

• Reconhecimento dos serviços como de alta complexidade, conforme o

SUAS, através da revisão da portaria 28 da SMADS;

• Normalização do repasse mensal até o quinto dia útil de cada mês,

inclusive as demais verbas de humanização, frentes frias e outras

definidas;

• Cálculo das verbas, conforme o gasto real de cada organização social

através da revisão da portaria 28 da SMADS;

• Reflexão mais aprofundada sobre a continuidade do Programa Operação

Trabalho (POT), já que para as organizações sociais, o trabalho é a mais

importante alternativa para a formação e geração de renda;

• Reconhecimento do Fórum das Organizações Sociais pelo poder público;

• Continuidade do Programa Parceria Social como uma alternativa de saída

da Rede de Assistência Social. Deve ser um programa contínuo, para a

efetivação do trabalho intersetorial. Enfatizam que os Programas de

Repúblicas têm grande importância nesse processo;

• Empenho maior da SMADS, na convocação dos demais representantes

das secretarias para as reuniões do Conselho de Monitoramento, fazendo

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valer o reconhecimento deste espaço, fortalecendo inclusive a política

intersecretarial, conforme previsto em lei;

• Implementação da proposta de desenvolvimento de um piloto de formação

pedagógica, para o fortalecimento das equipes de educadores a partir da

experiência e prática das organizações, em parceria com o Fórum das

Organizações;

• Criação de um grupo de trabalho com as organizações sociais e poder

público na perspectiva de avaliação, reflexões e busca de avanços para os

serviços já prestados pela Rede de Atendimento Socioassistencial;

• Criação de novas Casas de Convivência com atendimento de grupos

menores, além da ampliação de locais para dormida ,respeitando a Lei

12.316/97;

• Estabelecimento de parceria efetiva com a Secretaria de Habitação, para

que as pessoas possam deixar a rede socioassistencial e adquirir

habitação definitiva.

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Capítulo 2

Redes Sociais e Políticas Públicas: Aproximação teó rica

e metodológica

2.1. Aproximações teóricas

Nestas últimas décadas, a discussão do tema polissêmico “Redes Sociais”

aparece como um campo de estudos recente, em rápido desenvolvimento no

contexto brasileiro. Sua fundamentação teórica permeia diversas áreas do

conhecimento cujas características assumem teorias dominantes em cada campo

estudado. No âmbito das Ciências Sociais, segundo Mizruchi (2006), a análise de

redes é uma das abordagens que mais crescem: “acumulam-se evidências de que a

ação humana é afetada pelas relações sociais em que os agentes estão imersos.”

(p. 82).

Embora seja um tema relevante na atualidade, os conceitos e aplicações de

redes datam desde a década de 30, considerando o cenário acadêmico

internacional.

O levantamento bibliográfico realizado sobre redes sociais pela Nupef-Rits11

(2005) apontava que os estudos desenvolvidos entre as décadas de 1930 e 1980,

no âmbito da Antropologia e da Sociologia, apresentavam um recorte teórico

metodológico que ainda não incorporava as tecnologias de informação e

comunicação na análise da intermediação das relações interpessoais e sociais.

Utilizavam-se das metáforas de tecido em teia para apontar as relações de

entrelaçamento e de interconexão através das quais as interações humanas e ações

coletivas eram articuladas. Nos anos 80, com a intensificação dos movimentos

sociais e a participação da sociedade civil, novos desafios apareceram para a

pesquisa de redes sociais em virtude da análise desenvolvida pelos próprios

ativistas. Ao mesmo tempo, constata-se a disseminação de redes eletrônicas e as

11 O Núcleo de Pesquisas, Estudos e Formação da Rede de Informações do Terceiro Setor – Nupef-Rits , em 2005 realizou um levantamento bibliográfico sobre estudos de redes sociais no Brasil, a partir da literatura acadêmica produzida de 1996 a 2006 por pesquisadores doutores com currículos disponíveis na Plataforma Lattes do CNPq (www.nupef.org.br).

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preocupações, especialmente nos estudos norte-americanos, com o

desenvolvimento de técnicas e ferramentas computacionais para descrever e

analisar as redes sociais.

No Brasil, o tema se torna um fenômeno social proeminente somente a partir

da década de 90, com um acúmulo mais significativo nas ciências humanas e

sociais, acompanhando as principais discussões sobre a gestão social, movimento

social e as novas formas associativas emergentes dos processos de resistência à

Ditadura Militar, à globalização da economia e à proposição do desenvolvimento

sustentável.

Na análise de Scherer-Warren (1996) sobre a perspectiva para os anos 90 de

emergência de novos temas e de novos enfoques analíticos nas pesquisas sobre os

movimentos sociais latino-americanos, as redes de movimentos sociais aparecem

como “possibilidades de constituição de movimentos sociais no momento atual,

partindo da hipótese de que este movimento vem se formando no Brasil a partir das

redes que se estabelecem entre organizações populares, outras entidades culturais

e políticas e organizações não governamentais” (p.11). A autora ainda explica:

“(...) trata-se de passar da análise das organizações sociais específicas, fragmentadas, para a compreensão do movimento real que ocorre na articulação destas organizações nas redes de movimentos. Na América Latina, os estudos do significado destas articulações, em termos de redes, ainda são bastante emergentes, principalmente quando se considera o grande número de redes de movimentos que vem se organizando” (p. 23).

Para Cruz et al (2009), a discussão sobre um novo modelo de gestão social

perpassa pelo entendimento de gestão em redes, que busca na formação de

parcerias entre a iniciativa privada, o governo e a sociedade civil organizada,

baseada principalmente na cooperação e na confiança, mudanças sociais em uma

determinada localidade, potencialização do compartilhamento de informação e a

geração de conhecimento e inovações tecnológicas.

Consideradas centrais na sociabilidade dos indivíduos, as redes sociais se

estruturaram sistemicamente pelas relações sociais que envolvem principalmente

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indivíduos, grupos e organizações, denominados por Marques (1999) de atores

sociais12, conduzindo para uma transformação da organização social.

Como as redes sociais estruturam os campos das diversas dimensões do

social, Marques (2006) justifica que os vínculos entre indivíduos, grupos e

organizações estruturam as mais variadas situações sociais, influenciando o fluxo de

bens materiais, ideias, informação e poder. Os vínculos, que podem ser de diversas

naturezas, são construídos, conforme Junqueira (2000), de forma intencional ou não

e estão em constante interação e transformação. As posições nas redes constituem

estruturas relacionais que permitem constranger escolhas, dar acesso diferenciado a

bens e instrumentos de poder, promover certas alianças ou conflitos viáveis e

influenciar os resultados de uma política (Marques, 2006).

Nessa perspectiva, a sociedade moderna é caracterizada pela predominância

da forma organizacional de redes em todos os campos da vida social, e está,

portanto, sujeita, conforme apontado por Castells (1999), às modificações de

maneira significativa da operação e resultados dos processos produtivos e de

experiência, poder e cultura.

Entende-se que nos novos espaços criados pelas redes encontram-se atores

sociais que podem contribuir para reformulação das políticas públicas, para a

prestação de serviços sociais, em geral, para a formação mais adequada de

recursos humanos para esses serviços, bem como podem contribuir na reformulação

do modelo de atenção e das práticas sociais destinadas a essa população.

Entretanto, esses novos espaços dependem da produção de novas estratégias, da

manutenção da capacidade de análise crítica, da produção de conhecimento sobre

as iniciativas de mudança e de novos conceitos que estão sendo construídos nas

práticas, e da amplitude participativa dos atores sociais nesse movimento da rede.

(FEUERWERKER E ALMEIDA, 2002)

A articulação de pessoas e instituições está relacionada aos objetivos

definidos coletivamente pela rede, que se comprometem, inclusive, a superar de

12 No artigo que apresenta um estudo sobre as relações entre Estado e sociedade na formulação e gestão de uma política pública urbana, Marques (1999) destaca que as redes são a estrutura do campo no interior do qual estão imersos os atores sociais e políticos relevantes em cada situação concreta (p. 46).

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maneira integral os problemas sociais: “Nesse contexto de rede, a criatividade e a

compreensão são mais importantes que a certeza e a predição. As redes, no

universo de mudanças, surgem como uma linguagem de vínculos, das relações

sociais entre organizações que interagem mediadas por atores sociais que buscam

entender de maneira compartilhada a realidade social. São formas de agir que

privilegiam os sujeitos, que, de maneira interativa, apropriam-se do conhecimento

dos problemas sociais e de sua solução” (JUNQUEIRA, 2000).

Num mundo complexo, globalizado e com multiplicidades de atores sociais, a

atuação em rede aparece como uma importante forma de expressão dos interesses

coletivos e se expande, conforme a complexidade da realidade social das diferentes

sociedades. Essa complexidade, que se expressa na heterogeneidade de grupos

sociais vulneráveis e em risco social, pela degradação do espaço coletivo urbano e

pelo aumento da miserabilidade e exclusão social desses grupos, nos grandes

centros urbanos, tem exigido dos gestores sociais um novo olhar sobre a política

pública. Um olhar capaz de articular diversos atores sociais para dar respostas

eficazes junto ao Estado, às necessidades sociais do cotidiano de uma determinada

população.

O formato de novas articulações em rede entre as diversas organizações

públicas, privadas e estatais, na gestão das políticas sociais para defesa de

condições dignas e direitos de populações em situação de vulnerabilidade social,

pode se mostrar como uma alternativa para a redução da pobreza e o fortalecimento

da democracia nas sociedades. (RICO E RAICHELIS, 1999)

Entendemos que a formação de redes sociais interorganizacionais e

intraorganizacionais se constitui como um importante elemento de inovação na

gestão das políticas sociais, por possibilitar respostas intersetoriais. Junqueira

(2004) explica que “ao invés de estabelecer parcerias isoladas por políticas, muda-

se a lógica, ou seja, identificam-se os problemas sociais, integrando saberes e

experiências das diversas políticas, passando a população também a desempenhar

um papel ativo e criativo nesse processo” (página 34). Nesse sentido, o estudo de

redes sociais, como estratégia para entender a realidade social, pode resultar num

saber intersetorial, ou mesmo transetorial, que transcende as relações intersetoriais

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na construção de novos saberes, de novos paradigmas no campo das Ciências

Sociais e da Saúde, principalmente. Permite potencializar e fomentar processos de

aprendizagem, através da conformação de parcerias entre serviços, universidades e

organizações da sociedade civil, como uma forma de produzir transformações que

respondam às demandas de uma população em toda a sua complexidade.

As redes também podem ser entendidas de três formas, nas diversas

tradições das ciências sociais, segundo análise de Marques (2007): “de maneira

metafórica ou de forma descritiva e ensaística, como prescrição normativa para uma

determinada situação, como em estudos em administração de empresas, por

exemplo, e como um conjunto de ferramentas analíticas para o estudo de situações

sociais específicas por meio da análise das conexões sociais nelas presentes”.

(p. 158)

A abordagem de redes apresentada por Mizruchi (2006) infere sobre a análise

de redes como um subtipo do arcabouço geral da sociologia estrutural baseada nos

efeitos das relações sociais sobre o comportamento individual e grupal:

“A sociologia estrutural é uma abordagem segundo a qual estruturas sociais, restrições e oportunidades são vistas como afetando mais o comportamento humano do que as normas culturais ou outras condições subjetivas” (p.73).

Uma visão estruturalista de redes permite justificar a conformação de

organizações não governamentais em atores sociais influentes na sociedade civil

capazes de se tornarem um instrumento de implantação, controle social e efetivação

das políticas públicas. (JUNQUEIRA, 2002)

O conceito de redes na visão estruturalista revela os processos interativos

entre indivíduos a partir de suas relações; e a rede social pode ser interpretada

como uma estrutura composta de elementos em interação, isto é, um conjunto de

atores que se interconectam por meio de relações relativamente estáveis, não

hierárquicas e independentes (PENNA E FREY, 2006).

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Entretanto, Mizruchi (2006) explica que apesar de haver brechas nas

explicações estruturais, que podem exigir explicações complementares, como

culturais ou normativas para suplantar as perspectivas existentes, a análise de redes

mostra-se como uma estratégia de pesquisa versátil com significativo poder

analítico:

“(...) a análise de redes é particularmente promissora no que se refere ao tratamento das questões de cultura e agência humana que vem representando problemas para a sociologia estrutural de modo geral. Com a ênfase que dá às relações sociais concretas em vez de às categorias, a análise de redes apresenta uma concepção mais dinâmica da ação social do que os modelos normativos ou estruturais tradicionais” (p. 81).

� Redes Sociais e Políticas Públicas

“A análise de redes nos permite identificar detalhadamente os padrões de relacionamento, entre atores de uma determinada situação social, assim como as suas mudanças no tempo. Esse estruturalismo de origem empírica apresenta grande potencialidade para o estudo da relação entre público e privado na formulação e gestão de ações do Estado” (MARQUES, 1999).

Enquanto Junqueira (2000) enfatiza que a análise das relações dos atores da

rede pode ser utilizada para o entendimento das políticas sociais, uma vez que

permite entender as inúmeras dimensões tanto de seu desenvolvimento quanto de

seus resultados, para Marques (2006), os estudos existentes têm apontado

especialmente para as dinâmicas internas aos Estados e as relações entre ele e a

sociedade mais ampla na condução da política pública.

A revisão da literatura realizada por Marques (2006) sobre esse tema aponta

as vantagens do uso da análise de Redes Sociais para estudos dos processos

decisórios na esfera política sobre movimentos sociais, políticas públicas, esfera dos

negócios e elites políticas dentre outros temas relevantes (p.19).

Marques (2006) ressalta a importância do contexto e da interação entre os

atores responsáveis pela formulação e implementação de políticas. Entende que

essa interação é capaz de conformar-se em “estruturas de implementação”

entendidas como um conjunto de organizações que atuam sobre o mesmo

problema, participando do processo por auto-seleção e intervindo todas ao mesmo

tempo sobre certo conjunto de objetos. Marques (2006) identificou, na utilização do

método de análise de redes, que esta permite no estudo das políticas (p. 20):

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1. Discutir os efeitos da complexa interdependência presente na produção

de políticas sobre a ação social, considerando não apenas as ligações em

torno dos atores, mas também a estrutura dos vínculos e os padrões

gerais em que estes estão inseridos;

2. Incorporar o contexto em que se dá o desenvolvimento de uma

determinada política levando à produção de interpretações mais

sociológicas do comportamento dos atores;

3. Incorporar fenômenos e relações informais às análises, capazes de

produzir tanto permeabilidade como coesão estatal;

4. Abrir novos horizontes para o estudo do poder no Estado;

5. Analisar como as ações do Estado combinam transformação e inércia.

Em seu estudo sobre políticas urbanas no Rio de Janeiro e São Paulo,

Marques (2006) aponta que estudos sobre políticas do Estado utilizando análise de

redes têm contribuído para o detalhamento dos processos que estruturam

internamente as organizações estatais, isto é, revelam o denso e complexo tecido

relacional interno ao Estado que emoldura a dinâmica política e influencia fortemente

a formulação e a implementação das políticas públicas (p. 15).

Marques (2006) aponta ainda as relações entre redes e poder. Incita que os

detentores do poder institucional necessitam de alicerces no interior das

comunidades para implementar políticas, conforme os seus projetos de interesse.

Avança descrevendo os dois tipos de poderes, distintos, que o Estado incorpora

para o seu controle: o poder institucional, relacionado à ocupação de cargos

institucionais e à capacidade de dar ordens e comandos sobre a máquina pública; e

o poder posicional, que se encontra inscrito nas redes sociais, que compõem os

campos da política e está relacionado à ocupação de determinadas posições nessas

redes.

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“(...) o poder institucional, ao contrário de fraco ou inexistente, opera conjugado e articulado com o poder posicional oriundo de determinados padrões de relação pessoal e expressa a sua presença não apenas na rede da comunidade, mas também por meio da presença inegável de uma lógica institucional no cálculo dos funcionários do Estado" (MARQUES, 2006, p. 23).

Para Marques (2006), as redes também explicam as relações entre o público

e o privado, estabelecidas no contexto brasileiro, no que ele denominou como

“Permeabilidade do Estado”:

"Ao contrário dos conceitos de privatização do Estado e de anéis burocráticos, a permeabilidade do Estado aponta para uma característica potencial, perene no tempo e presente em todos os campos de ação do Estado. Na verdade, a permeabilidade é apenas a especificação do efeito das redes presentes em todas as dimensões sociais para os locais onde ocorre o encontro (ou a superposição) do Estado com o privado. O seu funcionamento potencial apóia-se predominantemente em vínculos não intencionais, construídos ao longo das trajetórias dos indivíduos e das organizações e marcados por intensa dependência da trajetória, embora seja possível delimitar regiões específicas das redes produzidas de forma intencional e orientada a lesar o Estado” (p. 33).

Avança sua análise complementando que as redes não são privilégios da

ação estatal, mas encontram-se na ação do Estado e nas atividades em torno desta

para “conformar a permeabilidade, tornando difusas as fronteiras entre público e

privado” (MARQUES, 1999, p.49).

A opção pela metodologia de análise de redes permite, segundo o autor,

analisar a interação entre a sociedade e o Estado, sem utilizar um padrão de

relações a priori, dando espaço para que esses dois campos se interpenetrem,

possibilitando uma interpretação mais precisa da complexidade da realidade social.

Conclui que: “o uso do conceito de redes permite chegar a um grande detalhamento

das relações individuais sem perder de vista a estrutura do campo inteiro e os

padrões mais gerais, introduzindo dimensões novas e inusitadas na compreensão

do Estado” (p. 47).

Para autores como Oliveira (2004), na articulação de políticas sociais

públicas, como forma de garantir direitos sociais, devem ser constituídas “Redes

Interpolíticas Sociais”, que esta denominou de “Rede Socioassistencial”. Como

indicativo dessa construção, a autora refere a necessidade de conjugar e articular as

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redes internamente a cada política social, bem como em relação às diferentes ações

empreendidas pelas diversas políticas sociais públicas. Refere que a formação

desse tipo de rede não só objetiva o atendimento às necessidades humanas

básicas, como institui formas de integralidade da assistência aos vários grupos

sociais e sua organização deve ser um processo de ação coletiva entre o Estado e a

Sociedade. A constituição dessa rede pressupõe relações de horizontalidade,

interdependência e complementaridade, permeando as ações propostas e

executadas pelas redes de políticas sociais.

Em sua análise, Oliveira (2004) aponta ainda que as redes socioassistenciais

devem ser definidas prezando alguns elementos básicos norteadores ao seu

planejamento e intervenção na perspectiva clara de integração das ações, através

da organização integrada e complementar de benefícios, programas, projetos e

serviços. Descreve inclusive que esses elementos devem ser concebidos partindo

de níveis de intervenção bem definidos: proposição, articulação e operacionalização

e categorias de ação: visibilidade social, responsabilidade compartilhada,

resolutividade, integralidade e qualidade.

Nessa perspectiva é que investigamos a “Rede de Atenção à População em

Situação de Rua na Região Central da Cidade de São Paulo” para responder às

necessidades emergentes da população em situação de rua, mais concentrada na

região central da metrópole paulista.

2.2. Objetivos

O presente estudo teve como objetivo principal contribuir para a análise da

Rede de Atenção à População em Situação de Rua na R egião Central da

Cidade de São Paulo.

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Objetivos Específicos:

1) Identificar as organizações sociais, movimentos sociais e espaços

coletivos, enquanto atores sociais, envolvidos no processo de implementação da

política pública de atenção à população em situação de rua na região central da

cidade de São Paulo;

2) Identificar as relações que eles estabelecem entre si e com a Secretaria

Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social no contexto atual;

3) Analisar qual a percepção que esses atores sociais têm sobre sua

capacidade de influenciar na efetivação da política pública dirigida à população em

situação de rua.

2.3. Caminho Metodológico

Neste estudo foi adotada uma abordagem ampliada de natureza

qualitativa , incluindo instrumentos quantitativos, de forma a contribuir para o

desenvolvimento de um processo de pesquisa mais adequado à produção de

conhecimento que possibilitasse compreender esta rede social.

As técnicas de coleta de dados escolhidas compreenderam: pesquisa

bibliográfica, análise documental, observação participante, entrevistas aberta

exploratórias e semiestruturadas com duas pessoas-chave, e 12 entrevistas

semiestruturadas com coordenadores ou profissionais ligados às organizações

sociais conveniadas com a SMADS e o coordenador geral do Movimento Nacional

de População em Situação de Rua. A escolha dos 12 entrevistados se deu pelo

método de Bola de Neve.

Com relação aos métodos de análise dos dados, o estudo priorizou a análise

de conteúdo das entrevistas, o método Bola de Neve e a análise de redes sociais

para a construção de sociogramas que representassem a rede social estudada.

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2.4. Pesquisa de Campo: Processo

Prezando a coerência com os objetivos propostos, esta pesquisa envolveu

três fases e foi realizada durante o período de Outubro de 2009 a Fevereiro de 2010:

� Fase I

Este estudo partiu de um levantamento bibliográfico sobre redes sociais, o

qual permitiu conhecer mais de 40 artigos e mais de 5 livros editados. Dentre os

autores que trabalham a temática rede social, destacaram-se as análises de Castells

(1999), Marques (1999, 2006 e 2007), Junqueira (2000, 2002 e 2004), Feuerwerker

e Almeida (2002), Rico e Raichelis (1999), Quandt e Souza (2008), Penna e Frey

(2006), Rovere (1998), Oliveira (2004), Mizruchi (2006) e Scherer-Warren (1996). O

aprofundamento desses textos permitiu produzir um referencial teórico atualizado

acerca de redes sociais, inclusive sobre a análise de redes sociais e sua relação

com as políticas públicas e as organizações sociais do terceiro setor.

Uma análise documental foi realizada sobre os relatórios e atas produzidos

pelos fóruns existentes de discussão sobre a população em situação de rua, os

bancos de dados de recursos sociais da Assistência Social disponibilizados na

Internet (livre acesso) e pelo Observatório de Políticas Sociais do Centro de

Referência da Assistência Social da região Sé da cidade de São Paulo e toda

produção da mídia impressa sobre o tema, identificada no Jornal “O Trecheiro –

notícia do povo de rua” da Associação Rede Rua e a Revista Ocas.

Foram realizadas seis observações participantes nos principais espaços

coletivos, sendo duas nos Fóruns de Debates sobre a População em Situação de

Rua e quatro no Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da

População em Situação de Rua de São Paulo. Essas observações permitiram

conhecer toda a estrutura formal e informal de trabalho desses espaços, bem como

me aproximar das organizações sociais que trabalham com essa população na

cidade de São Paulo, principalmente as que dispõem de serviços na região centro-

oeste.

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Após o levantamento bibliográfico, análise documental e as observações

participativas, procedemos a realização de uma entrevista exploratória com o

coordenador e editor do Jornal “O Trecheiro – notícias do povo de rua”, da

Associação Rede Rua, o que permitiu o mapeamento das organizações sociais,

movimentos e espaços coletivos atuais, incluindo a Rede de Atendimento

Socioassistencial da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social,

que compõem a Rede de Atenção à População em Situação de Rua na cidade de

São Paulo.

� Fase II

Para identificar os atores sociais mais relevantes da rede foi escolhido como

estratégia metodológica o método de amostragem “Bola de Neve” de Biernacki e

Waldorf (1981).

Este método de amostragem, conhecido como Snowball, estudado por

Biernacki e Waldorf (1981), consiste em entrevistar um conjunto de atores para

coletar dados sobre suas relações. Cada um desses atores indica um número de

relações com outros atores do conjunto original (ou não), que, por sua vez, indicam

outras relações com atores já conhecidos ou não. Esse processo deve ser repetido

entre os atores entrevistados até o objetivo ser alcançado. Geralmente, mostra-se

um método rápido de amostragem quando a escolha é iniciada a partir de elementos

mais significativos, que no caso deste estudo foram as pessoas-chave.

Este método possibilitou o mapeamento de atores sociais que mais se

relacionavam entre si, partindo de duas entrevistas semiestruturadas com pessoas-

chave: coordenador e editor do Jornal “O Trecheiro – notícias do povo de rua” da

Associação Rede Rua e organizador do Fórum Permanente de Acompanhamento

das Políticas Públicas da População em Situação de Rua (ponto de partida 1);

coordenadora de um serviço de acolhida especial da Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS (ponto de partida 2).

A escolha dessas pessoas-chave partiu de critérios definidos: conhecimento

sobre a população em situação de rua, influência na rede social que participa;

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influência nos espaços coletivos de discussão da política pública para essa

população e tipo de serviço diferenciado da Rede de Atendimento Socioassistencial

da SMADS.

Neste estudo, a amostra intencional utilizada inicialmente, foi a amostragem

com critérios, isto porque foi utilizado para a seleção das pessoas-chave o critério de

conhecimento e influência para o entendimento da rede social (PATTON, 1990;

TAYLOR & BOGDAN, 1998).

Como primeiro passo para a obtenção da amostra, essas duas pessoas-

chave indicaram três atores sociais mais próximos na rede, e estes, por sua vez,

indicaram outros três e assim sucessivamente até a amostra apresentar

denominadores comuns, que não mais se apresentavam relevantes para o estudo.

Nesse caso, a amostra foi concluída quando o “ciclo de indicação” fechou sobre si

mesmo não revelando novos atores sociais.

Quanto aos demais componentes da amostra, os atores sociais revelados

foram os que detiveram os atributos que a pesquisa pretendia conhecer (MINAYO,

1993). A indicação dos atores sociais respeitou os critérios de inclusão da amostra,

o princípio da aleatoriedade e da adesão voluntária.

O roteiro criado para as entrevistas semiestruturadas (anexo) visou a identificar

os atores que estabelecem relações mais próximas na rede com o entrevistado,

identificar a que instituições, serviços ou movimentos pertencem, bem como capturar

informações referentes ao Modus Operandi, que possibilitou identificar a estrutura da

rede social estudada. O objetivo foi obter uma resposta imediata e espontânea dos

entrevistados, apontando os padrões mais estáveis de relação, já que as interações

eventuais ou mais fracas raramente são lembradas (WASSERMAN e FAUST, 1999).

Foram acrescidas ao roteiro perguntas abertas que viabilizaram o entendimento

acerca da intensidade das relações estabelecidas e a capacidade de influência que

os atores exercem para efetivar a proposta de política pública de inclusão social da

população em situação de rua.

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1) As entrevistas semiestruturadas foram gravadas com a concordância

prévia dos entrevistados e a organização e a análise do material coletado

foram realizadas por registro em meio eletrônico, com obediência à

seguinte ordem:

• Transcrição das gravações;

• Leitura do material transcrito;

• Seleção dos principais temas extraídos dos discursos;

• Criação de categorias que permitam analisar os discursos e classificá-los.

� Fase III

É importante explicitar que apesar do estudo centrar-se especificamente na

representação dos atores sociais da rede de atenção à população em situação de

rua, estes foram indagados sobre seu entendimento acerca de redes sociais, sua

participação nos principais espaços coletivos de discussão da política pública e sua

capacidade de influência na política pública, entendida aqui como uma terceira fase.

O aprofundamento da visão da forma como se relacionam os atores sociais,

constituintes da rede em outras redes e espaços coletivos referidos, permitiu

conhecer a configuração da ação desta e suas interfaces em relação à efetivação da

política pública.

Para tanto, utilizamos como método de análise dos dados qualitativos a

análise de conteúdo , enquanto uma técnica pertinente para a descrição objetiva,

sistemática e quantitativa do conteúdo evidente da comunicação mais empregado

nas ciências sociais (MARCONI E LAKATOS, 1988).

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� Fase IV

A partir dos dados coletados durante as entrevistas semiestruturadas, em que

foi possível levantar as organizações sociais com as quais cada organização

mantinha mais contato e em que intensidade isso ocorria, se diário, semanal ou

mensal, foi possível fazer uma análise e elaborar uma representação gráfica da rede

social existente na atenção à população em situação de rua. Nessa análise e

representação, usamos a sociometria.

Segundo Marconi e Lakatos (1988), a sociometria é uma técnica quantitativa,

que procura representar graficamente as relações interpessoais entre os indivíduos

de um grupo. Essa técnica de investigação social interessa-se pela análise de

interações sociais ou a falta destas entre indivíduos de qualquer grupo,

compreendendo inclusive sua estrutura interna, com indicação de subgrupos e as

posições de cada indivíduo em relação aos demais.

Jacob L. Moreno (1934), considerado por muitos teóricos o pioneiro na

utilização de redes sociais, foi quem desenvolveu a sociometria, utilizando-se de

matrizes e sociogramas (diagramas) para representar os relacionamentos de grupos

familiares, grupos de trabalho e grupos escolares e as posições de cada indivíduo

nesses grupos.

Optou-se neste estudo pela aplicação da sociometria na construção e análise

da rede de relacionamentos existentes entre os atores sociais entrevistados pela

preferência a uma perspectiva teórica mais sociológica, não se detendo

exclusivamente na utilização de métodos estatísticos, mesmo sendo estes

considerados importantes como afirma Hanneman e Riddle (2005), que os considera

pertinentes, por possibilitarem descrever e entender os padrões de comportamento

tanto da rede como um todo, quanto de seus atores.

Entre os anos de 1970 e 1990, as análises de redes sociais, com o apoio de

programas de computador, ficaram restritas a pesquisadores acostumados com

linguagens matemáticas e metodologias quantitativas. Mas o desenvolvimento de

pesquisas multidisciplinares, decorrente do aumento da complexidade da realidade

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social urbana, permitiu a retomada do uso da sociometria, sob diversas perspectivas

teóricas, tendo em vista captar todos os elementos e a diversidade dessa realidade.

Por essas razões, o presente estudo não incluiu como instrumentos de

análise os softwares estatísticos existentes para a representação da rede social,

como o ORA – Organizational Risk Analyzer e o UCINET13, por exemplo, mas

utilizou-se de planilhas do software Microsoft Excel® para a construção de matrizes

que permitiram elaborar os sociogramas , considerando a densidade e centralidade

dos atores sociais envolvidos14.

A primeira matriz foi elaborada a partir da indicação dos entrevistados sobre

os três atores sociais com que estabelece mais contato para identificação dos

vínculos existentes, dos graus de centralidade dos atores e dos subgrupos. Para a

primeira escolha, relacionamos o número um (1), segunda escolha o número dois (2)

e assim sucessivamente. Das respostas informadas pelos entrevistados sobre as

três escolhas, criamos a seguinte legenda para representar o primeiro sociograma:

Sociograma da Estrutura Geral da Rede :

• Utilização de Retângulos Azuis para representar as organizações sociais

e Movimento Social indicados, a partir da primeira pessoa-chave (Fórum

Permanente);

• Utilização de Retângulos Verdes para indicar as organizações sociais

indicadas, a partir da segunda pessoa-chave (Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS);

• Para os entrevistados que referiram primeira escolha estabelecemos a

seta azul continua ( );

13 O ORA é um programa gratuito elaborado pela equipe da Dra. Kathleen Carley, da Universidade Carnegie Mellon nos Estados Unidos para análise de redes sociais. O UCINET por sua vez é um programa de mesma finalidade desenvolvido por Steve Borgatti, Martin Everett e Lin Freeman e distribuído pela Analytic Technologies nos Estados Unidos que dispõe de gratuidade apenas para um primeiro teste do programa. 14 Entende-se por densidade e centralidade à proporção de elos existentes com base no total de elos possíveis e aos graus de centralização geral da estrutura da rede. Fonte: SOUZA, Queila; QUANDT, Carlos. Metodologia de análise de redes sociais. In: DUARTE, Fabio;QUANDT, Carlos;SOUZA, Queila (org). O tempo das Redes.1ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2008.

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• Para os entrevistados que referiram segunda escolha estabelecemos um

tipo de seta descontínua ( );

• Para os entrevistados que referiram terceira escolha estabelecemos outro

tipo de seta descontínua ( );

• Para os que se escolheram mutuamente utilizamos as seguintes setas:

– ( ) primeira escolha;

– ( ) segunda escolha;

– ( ) terceira escolha;

Considerando que as organizações sociais estabelecem contatos com as

outras organizações que apontaram nas suas escolhas, questionamos os

entrevistados com que intensidade isso era realizado, o que permitiu elaborar a

segunda matriz, a partir da seguinte graduação definida:

• Para os entrevistados que responderam contato pelo menos uma vez ao

dia estabelecemos a graduação “20”. Justificamos que em um mês

podemos estabelecer vinte contatos, considerando vinte dias úteis;

• Para os entrevistados que responderam contato pelo menos uma vez por

semana estabelecemos a graduação “4”, já que em um mês dispomos de

quatro semanas;

• Para os entrevistados que responderam contato pelo menos uma vez por

mês estabelecemos a graduação “1”.

Dessa matriz, partimos para a seguinte legenda, de forma a construir o

segundo sociograma: Sociograma da Intensidade da Relação da Rede mantém os

atores na mesma posição em que foram representados no primeiro sociograma, mas

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usa, desta vez, círculos no lugar de retângulos por facilitarem o direcionamento das

setas na representação gráfica:

• Para os entrevistados que responderam a graduação “20” estabelecemos

a seguinte seta ( );

• Para os entrevistados que responderam a graduação “4”, definimos uma

seta intermediária ( );

• Para os entrevistados que responderam a graduação “1” estabelecemos

uma seta fina ( ).

A análise de redes sociais, a partir dos sociogramas representados por

legendas criadas especificamente para essa rede (ver capítulo 4), numa adaptação

dos estudos de Moreno (1934), possibilitou conhecer a posição dos atores no interior

da rede e a estrutura da própria rede (Quiroga, 2003). E ainda calcular a

centralidade de cada ator, identificando a posição em que ele se encontra em

relação às trocas e à comunicação na rede a centralidade em uma rede traz consigo

a idéia de poder.

2.5. Apresentação dos Resultados

Os resultados da pesquisa de campo estão apresentados e discutidos da

seguinte forma, nos capítulos 3 e 4:

• No capítulo 3, apresentamos o mapeamento das organizações sociais,

movimentos e espaços coletivos e rede de atendimento socioassistencial

dirigidos à população em situação de rua, por meio de:

a) Levantamento de um breve histórico sobre as organizações sociais,

movimentos sociais e espaços coletivos de discussão e ação política

existentes hoje, de representação e protagonismo da população em

situação de rua;

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b) Apresentação das características da Rede de Atendimento

Socioassistencial de atenção a essa população da Secretaria Municipal

de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo – SMADS.

• No capítulo 4, apresentamos uma análise do material coletado nas

entrevistas, através do método bola de neve:

a) Perfil dos entrevistados das organizações e movimentos que compõem

a rede;

b) Caracterização das organizações sociais e movimentos sociais a que

pertencem os entrevistados: fundação das organizações sociais e do

movimento social; localização das sedes e dos serviços das

organizações sociais por Coordenação de Assistência Social; número

de serviços conveniados entre as organizações sociais e a SMADS na

Coordenação de Assistência Social Centro Oeste; aspecto

confessional; constituição formal e atividades desenvolvidas;

c) Compreensão dos entrevistados sobre as redes sociais e a sua

participação nelas, participação nos principais espaços coletivos de

discussão existentes hoje sobre a política pública dirigida à população

em situação de rua e compreensão sobre sua capacidade de influir na

efetivação da política pública dirigida a essa população;

d) Análise da rede social constituída a partir da construção do

Sociograma para representação da sua estrutura geral e das relações

entre os atores sociais no seu interior.

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Capítulo 3

O Mapeamento da Rede de Atendimento Socioassistenci al, Movimentos

Sociais e Espaços Coletivos de Atenção à População em Situação de

Rua na Região Central da Cidade de São Paulo

3.1. Resultados da Fase I: Mapeamento das organiz ações sociais,

movimentos e espaços coletivos e rede de atendiment o

socioassistencial dirigidos à população em situação de rua

O mapeamento inicial resultante da Fase I - exploratória da Metodologia -

permitiu a aproximação com 20 organizações sociais que dispõem de serviços

dirigidos à população em situação de rua na cidade de São Paulo.

Com o intuito de identificá-las e conhecê-las no trabalho realizado junto a

essa população, este mapeamento não somente culminou no levantamento de um

breve histórico sobre essas vinte organizações como permitiu identificar dois

movimentos sociais e seis espaços coletivos de discussão e ação política existentes

hoje, de representação e protagonismo da população em situação de rua. Este

comportou ainda a caracterização da estrutura da Rede de Atendimento

Socioassistencial de atenção a essa população ligada a Secretaria Municipal de

Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo – SMADS.

3.1.1. Breve Histórico das Organizações Sociais Map eadas

� Associação Rede Rua 15

De um grupo de leigos e religiosos (das Igrejas Católica, Metodista e

Luterana), em 1989, nasceu uma proposta de pastoral da comunicação a partir dos

excluídos. Com a criação do Centro de Documentação e Comunicação dos

Marginalizados - CDCM (responsável pela produção de jornal, vídeos,

15 Fontes: http://www.rederua.org.br e http://www.metodista.br – artigo “As igrejas e um Trecho da história do povo da rua” de Cloves Reis Costa e Marlise da Silveira Costa.

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documentários fotográficos, rádio e cine-rua) e posteriormente da Casa de

Convivência do Pedroso, em convênio com o Centro Social do Parque Fernanda

em parceria com a Prefeitura da Cidade de São Paulo, (1990 a 1995), o grupo

consolidou diversos projetos de atenção à população em situação de rua. Em 1998,

o projeto CDCM reformulado torna-se a Associação Rede Rua como conhecemos

hoje. Consolidada como entidade civil, dá continuidade aos trabalhos desenvolvidos

anteriormente de assessoria e comunicação. Neste caso, com a continuidade da

edição do jornal “O Trecheiro – Notícias do Povo de Rua” (criado em 1991). A

contribuição desse meio de comunicação, na visibilidade das difíceis condições de

vida de homens e mulheres em situação de rua da cidade de São Paulo e no Brasil,

e a assessoria de trabalhos de comunicação de diversas organizações e

movimentos sociais e populares abriram espaço para um trabalho de articulação civil

e educação popular. Em 1998, a associação expande suas ações para o município

de Santo André contribuindo na concepção e gerenciamento do Programa de

Atenção à População de Rua em Santo André, que conta com uma casa de

convivência, um albergue e duas casas “moradia”. Atualmente, a Rede Rua

coordena alguns projetos conveniados com a Prefeitura Municipal de São Paulo,

principalmente localizados na região central e sul (Santo Amaro) da cidade. Dentre

os trabalhos de assistência social, que realiza para suprir as necessidades básicas

das pessoas em situação de rua, conta com:

• Núcleo de Convivência e Restaurante Comunitário do Povo de Rua

“Pena Forte Mendes” (2000) - Oferece refeições diárias, entre café da

manhã, almoço e jantar. Além do atendimento básico de alimentação,

orientado por uma nutricionista, são desenvolvidas atividades

socioeducativas como oficinas de artesanato, de comunicação (rádio,

cinema, teatro, leitura, filmes) e palestras, dentre outras acompanhadas por

educadores e voluntários. A alimentação é preparada por organizações

parceiras e servida no refeitório. Localizado na região central da cidade

(distrito da Consolação) é conveniado com a Prefeitura de São Paulo;

• Centro de Acolhida Pousada da Esperança (2001) - Atende,

diariamente, homens em situação de rua, na região de Santo Amaro,

oferecendo abrigo, alimentação e condições de higiene. Após

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acompanhamento do serviço social, o convivente pode ser encaminhado,

entre alternativas, para o Centro de Acolhida Santo Dias, ambos

conveniados com a Prefeitura de São Paulo;

• Associação de Catadores Reciclando a Esperança (200 4). O projeto de

reciclagem, localizado no distrito de Santo Amaro, possibilita alternativas

de geração de renda para população de rua;

• Centro de Acolhida Santo Dias (2002) - Presta atendimento diário

também a homens. Acolhe e incentiva a criação de projetos de vida para a

saída das ruas. Atende pessoas encaminhadas pelo serviço social dos

albergues da cidade, dando continuidade ao trabalho de resgate da auto-

estima e autonomia, integrando-as a uma rede de projetos sociais.

Desenvolve oficinas e encaminha para cursos de profissionalização;

• Moradia Provisória (2003) - Oferece um lar para homens, em duas casas,

em regime de co-gestão. Essa iniciativa possibilita o protagonismo e

autonomia, estimulando a criação de vínculos pessoais, a autoconfiança e

a emancipação financeira das pessoas que estão saindo da situação de

rua e em condições de trabalhar no mercado de trabalho formal ou

informal.

� Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos 16

Do fortalecimento de trabalhos sociais de agentes das Pastorais Sociais da

região Sé e militantes populares na área central realizados em 1984, com base na

educação popular e na defesa dos direitos, foi criado em 1988 o Centro Gaspar

Garcia de Direitos Humanos17, organizado hoje, em três núcleos de trabalho:

Programa Moradores de Cortiços, Programa de Catador es de Materiais

Recicláveis e Pessoas em Situação de Rua, e Núcleo de Educação, Informação

e Documentação (NEIDOC). Tem como missão contribuir para a melhoria das

16 Fonte: http://www.gaspargarcia.org.br 17 Nome foi escolhido em homenagem ao padre Gaspar Garcia Laviana. Fonte: http://www.gaspargarcia.org.br/institucional.asp

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condições de vida de moradores de cortiços, favelas e habitações precárias,

pessoas em situação de rua e catadores de materiais recicláveis da região central

da cidade de São Paulo. Pela defesa dos direitos humanos, econômicos, sociais,

culturais e ambientais e com propostas de intervenção em políticas públicas, o

centro localizado no distrito do Bom Retiro oferece, além de atividades de educação

popular, plantão jurídico, acompanhamento de causas judiciais e assessoria a

movimentos de moradias. Quanto ao Programa de Catadores de Materiais

Recicláveis e Pessoas em Situação de Rua, este dispõe de dois projetos

conveniados com a Prefeitura de São Paulo:

• Projeto Coorpel (1998) – Por meio da gestão compartilhada de uma

cooperativa de coleta seletiva de material reciclável, o projeto tem como

objetivo gerar renda e fortalecer a cidadania de catadores desses

materiais. Articulado com o Movimento Nacional dos Catadores de

Materiais Recicláveis (MNCR), esse projeto procura trabalhar em parcerias

com o poder público e a sociedade civil;

• Projeto Reviravolta (2001) - Baseia-se em oficinas de produção artesanal

que visam à acolhida e à criação de oportunidades de inclusão social para

as pessoas em situação de rua, por meio da confecção e comercialização

de produtos feitos de materiais reutilizados ou reciclados. Articulado com a

Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo e com o Fórum de

Organizações que Trabalham com a População em Situação de Rua, visa,

também, à formação de lideranças e a intervenção em políticas públicas.

� Organização de Auxílio Fraterno – OAF 18

Criada em 1955, por um grupo de cristãos da Igreja Católica, preocupados em

“trabalhar para os pobres”, tornou-se uma organização civil autônoma, sendo hoje

uma referência no trabalho com a população em situação de rua. O contato com sua

história possibilitou verificar, que apesar da organização ter uma fundamentação

dentro da “prática de Jesus” e manter certa articulação com alguns grupos católicos,

18 Fontes: http://www.oafsp.org.br e folder da organização (impressão Ogra Indústria Gráfica Ltda).

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não é considerada um serviço confessional da Igreja Católica. Diante do

rompimento em 1978, com a prática assistencial, à população adulta em situação de

rua, a organização iniciou um trabalho inovador “com” essa população, voltado para

sua participação ativa, o resgate de recursos próprios internos e a promoção de sua

emancipação. Tal ruptura vem permitindo a realização de um trabalho

socioeducativo e a criação de serviços existentes até hoje, principalmente

relacionados à reciclagem de materiais. A organização mantém equipes de

educadores que apoiam a administração dos projetos Coopamare e Coopere-centro

(Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Central) e ainda

colabora na organização do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais

Recicláveis – MNCR criado em 2001. Dentre os serviços dirigidos à população de

rua foram identificados os seguintes:

• Coopamare (1989) - Primeira cooperativa de catadores de papel e

materiais recicláveis do país, criada a partir do povo da rua, que garante a

subsistência de seus cooperados, gera matéria-prima e presta importante

serviço à cidade. Atualmente, o Núcleo Cooperar Reciclando - Reciclar

Cooperando é que realiza acompanhamento pedagógico e administrativo

na COOPAMARE;

• Núcleo Cooperar Reciclando - Reciclar Cooperando - Núcleo escola e

espaço dedicado à inserção produtiva da população adulta de rua no

distrito de Pinheiros, (sob o viaduto Paulo VI). Oferece atividades

socioeducativas, além de oficinas de arte e artesanato com pet, vidro,

metal e tecido, oficinas de inclusão digital, alfabetização e suplementação

escolar e acesso à Biblioteca Comunitária - Ler é preciso. O Núcleo ainda

coordena e acompanha, desde 2003, o programa de Crédito Solidário para

a construção de moradias, em regime de mutirão, para famílias de

catadores e pessoas em situação de rua;

• Associação Minha Rua Minha Casa (1996) - Criada em 1996, por meio

da parceria do Pensamento Nacional das Bases Empresariais - PNBE com

a OAF. Hoje é um Centro de Acolhida para moradores de rua adultos da

região central da cidade, localizado no viaduto do Glicério. A partir da

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convivência, socialização e organização pessoal, o projeto busca formas de

autonomia que possibilitem o rompimento das relações de dependência

dessa população. A participação social acontece por intermédio de

programas socioeducativos, de lazer e cultura, serviços de higiene pessoal,

alimentação, programas de inclusão em moradias e de geração de renda.

Conta com a orientação metodológica da OAF, mantendo convênios com a

Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Município de São

Paulo - SMADS e com diversos parceiros da sociedade civil. Dispõe de

voluntários que trabalham junto à equipe técnica especializada. O suporte

financeiro vem de contribuições, doações, parcerias com empresas e

convênios com entidades públicas e privadas;

• Oficina Escola Arte que Vem da Rua - Por meio da reciclagem,

moradores de rua e adolescentes em situação de risco produzem arte em

oficinas como marcenaria e mosaico. A metodologia da oficina visa à:

liberdade de ação para o desenvolvimento da criatividade,

responsabilidade individual e de grupo, socialização e preparação para o

trabalho, lazer, cultura e educação;

• A Casa Acolhe a Rua- Moradia Provisória - República com participação

ativa da população de rua na organização da casa e nas atividades de

manutenção destinada a quem dispõe de alguma alternativa de renda.

Essa moradia apresenta como proposta a reconstrução de vínculos

pessoais, comunitários e as relações de trabalho. Encontra-se localizada

junto à sede, no distrito da Liberdade;

• Cor da Rua - Loja da OAF - Loja com diferentes ambientes para venda de

peças produzidas nas oficinas-escolas da OAF, localizada no distrito da

Liberdade, próxima à sede. A matéria- prima dos produtos são os

descartes urbanos, recolhidos nas ruas ou ofertados. Como referido pela

organização, essa loja contribui para dar visibilidade à arte-reciclagem

utilizada como ferramenta de desenvolvimento e inclusão social.

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� Associação Evangélica Beneficente – AEB 19

Essa associação civil sem fins lucrativos, de caráter social e beneficente hoje,

foi criada em 1928, pela sensibilização de uma família sobre as pessoas acometidas

pela doença tuberculose, conhecida na época como “peste branca”. O trabalho

iniciou-se pela fundação de cinco casas de cuidados em São José dos Campos (Vila

Samaritana), com o objetivo primeiro de socorrer especialmente os membros das

igrejas evangélicas sem recursos. Ao longo dos anos, a associação expandiu seus

projetos sociais para São Paulo e Sorocaba em seis polos de referência, incluindo

um hospital geral em Sorocaba. Atualmente, conta com 33 projetos desenvolvidos

nas áreas de Educação, Cultura, Assistência Social e Saúde, voltados para vários

segmentos como crianças, adolescentes, jovens, adultos, pessoas em situação de

rua e idosos, com a inclusão de portadores de necessidades especiais e jovens

aprendizes. Especificamente, para a população em situação de rua, a associação

dispõe de dois projetos:

• Núcleo de Convivência Porto Seguro (1992) - Espaço de acolhimento

localizado no distrito Bom Retiro, que dispõe de serviços de lavanderia,

banheiro e alimentação (almoço), além da oferta de atividades

socioeducativas e atendimento social. Realiza um trabalho de educação

cristã (prática religiosa), voltado para a ressocialização de homens e

mulheres em situação de rua, conforme exposto pela associação;

• Condomínio AEB – República, que oferece condições de habitação para

pessoas em situação de rua provenientes da rede socioassistencial do

município de São Paulo, que já dispõe de certa autonomia financeira.

Considerado porta de saída da população em situação de rua, esse

condomínio se estrutura num sistema de cogestão em que os moradores

dividem a responsabilidade pela gestão do condomínio, localizado no

distrito da Bela Vista. OBS. conforme verificado durante levantamento,

esse serviço terá suas atividades encerradas pela P refeitura, em

março de 2010.

19 Fonte: http://www.aeb-brasil.org.br

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� Serviço Franciscano de Solidariedade – SEFRAS 20

Coordenado pelos frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição

do Brasil, o Sefras apresenta-se como uma rede de serviços e projetos sociais

desenvolvidos nos estados do Sul e Sudeste do Brasil. Fundamentado em princípios

cristãos e franciscanos e nos direitos humanos e ecológicos, o serviço refere

promover ações e atitudes de solidariedade com os empobrecidos e marginalizados,

contribuindo para o exercício da cidadania e inclusão social. Presta também serviços

socioassistenciais e articula com outras entidades e movimentos sociais para o

atendimento e a participação no processo de construção de políticas públicas

efetivas que assegurem os direitos da população. Conforme prezado pela Política

Nacional de Assistência Social, seus serviços e projetos estão divididos de acordo

com o segmento atendido: crianças e adolescentes, idosos, famílias, população em

situação de rua, intervenção social na área da saúde, formação e educação para o

trabalho. Em São Paulo, o Sefras, que é mantido pelo Santuário e Convento São

Francisco, localizado no Largo São Francisco, região central da cidade, dispõe dos

seguintes serviços identificados de atenção direta à população em situação de rua:

• Centro Franciscano de Reinserção Social - Espaço criado com o

intuito de contribuir para a reinserção social das pessoas em situação de

rua da cidade de São Paulo, a partir da conscientização, mobilização e

organização na luta por seus direitos sociais e intervenção em políticas

públicas. Encontra-se localizado no distrito da Sé;

• Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem – RECIFRA N (1999) -

Criado em 1999, no distrito da Liberdade como um espaço de

organização e profissionalização de catadores de materiais recicláveis

em situação de rua.

20 Fontes: http://www.acolhe.org.br

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� Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto – BOMPAR 21

Ligado à Pastoral do Menor, esse Centro Social, hoje conhecido como

BOMPAR, foi fundado em 1946, por um grupo de senhoras católicas frequentadoras

da Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, no distrito do Tatuapé (Zona Leste de São

Paulo), com o intuito de desenvolver ações de formação e capacitação profissional para a

geração de renda de mulheres em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, o Centro

Social prioriza programas socioeducativos e o desenvolvimento do protagonismo social da

população atendida. Apesar da maior parte dos projetos sociais estar dirigida ao

atendimento de crianças, adolescentes, jovens, idosos e inclusive famílias do Programa

Ação Família, a população em situação de rua dispõe de atenção específica em 2 unidades

dentre as 57 existentes:

• Núcleo de Convivência e Restaurante Comunitário São Martinho de

Lima (1990) - Por meio de convivência e atividades socioeducativas, o

centro localizado no distrito de Belém oferece para a população em

situação de rua serviços de higiene pessoal, lavagem de roupa, corte de

cabelo e barba e atendimentos de saúde relacionados a pequenos

curativos e encaminhamento ao serviços do SUS. Oferece também

atendimento psicológico e social, grupos de reflexão, leitura, artesanato,

limpeza, bazar, marcenaria, atividades culturais e esportivas, teatro,

música, lazer e horta comunitária.

• Programa A Gente na Rua (2003) - Programa de saúde desenvolvido

junto com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo como uma

Estratégia Saúde de Família em Situação de Rua. As atividades dos

agentes comunitários consistem em abordar pessoas que vivem em

situação de rua e encaminhá-las às Unidades Básicas de Saúde - UBS e

monitorar os seus tratamentos. O programa conta ainda com médicos,

enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes de políticas públicas,

psicólogos e assistentes sociais e compreende as regiões Sudeste e

Centro-Oeste da cidade.

21 www.acolhe.org.br

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� Associação Reciclázaro 22

Em meio a uma ação da paróquia São João Maria Vianney, localizada no

distrito da Lapa, para recuperar a Praça Cornélia, degradada pela miséria e o tráfico

de drogas, foi criada a Associação Reciclázaro. Resultado das ações das pastorais

sociais da Igreja Católica, esta associação teve como primeiro projeto em 1998, a

abertura da Casa São Lázaro, enquanto um centro de acolhimento das pessoas em

situação de rua que moravam naquela praça. A sede da organização, que funciona

até hoje nesse local, possui outros serviços dirigidos a ações sociais, educativas e

ambientais visando à retomada de seus vínculos familiares e de empregabilidade a

essa população. Diante de uma proposta de alternativas de inserção social da

comunidade, oferece como serviços: albergues, casas de convivência, comunidade

produtiva, comunidade terapêutica, além de atendimento social, psicológico, jurídico,

odontológico e psiquiátrico gratuitos para a comunidade carente da Água Branca.

Tem o apoio da comunidade, parceria com outras organizações sociais, empresas e

convênios com o poder público. A associação dispõe ao todo de sete projetos,

destes alguns realizam um trabalho direto com a população de rua. São eles:

• Casa São Lázaro (Sede) - A sede administrativa mantém programas de

apoio e orientação permanentes, nas áreas de atendimento jurídico, social,

psicológico, fonoaudiológico e psiquiátrico, assim como a alfabetização de

adultos;

• Centro de Acolhida Casa São Lázaro - Atende, em caráter de

acolhimento, homens em situação de rua e orienta-os quanto a novas

oportunidades de convívio social e relação com o trabalho. É porta de

acesso a vários outros serviços da rede da Assistência Social;

• Centro de Acolhida Casa Samaritanos - Espaço de acolhida destinado

para população masculina adulta em situação de rua. Funciona em caráter

de abrigamento provisório, com disponibilidade de permanência de seis

meses;

22 http://www.reciclazaro.org.br

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• Centro de Acolhida Especial Casa Simeão - Espaço de acolhida e

inclusão social para idosos e pessoas com deficiência física que estavam

em situação de rua. O centro realiza um programa regular de atividades

socioeducativas, inclusive com sala de alfabetização de adultos, padaria-

escola e encaminhamento para oficinas de capacitação e geração de

renda. Realiza um trabalho baseado na cogestão em que o usuário

participa ativamente da organização, cuidado e planejamento do espaço.

Há escala mensal e divisão em turnos e horários, considerando sua

limitação, seu trabalho temporário e seu tratamento de saúde;

• Coleta Seletiva - Funciona como uma cooperativa de reciclagem formada

por ex-pessoas em situação de rua, catadores de materiais recicláveis e

dependentes químicos provenientes da rede social da organização. O

programa de coleta e triagem de materiais recicláveis, considerado uma

experiência pioneira da Comunidade Produtiva Reciclázaro, foi criado na

mesma Praça Cornélia, onde tudo começou. Hoje, essa comunidade está

sediada no Butantã, num terreno de mil metros quadrados, e recicla 90

toneladas de materiais por mês (lata, papelão, plástico, vidro e alumínio);

• Núcleo Produtivo - Espaço de capacitação e geração de trabalho e renda

para pessoas em situação de rua, provenientes das demais casas

pertencentes à organização. O Centro Gasômetro comporta as oficinas de

costura, marchetaria, marcenaria, vidro moldado, silkscreen, vassouras e

esculturas de PET, produção de instrumentos musicais, corte e vinco e

terceirização de mão de obra.

� Coordenação Regional das Obras de Promoção Humana – CROPH 23

Desde sua fundação em 1972, a CROPH assessora, coordena e administra

iniciativas sociais em parceria com a Prefeitura da Cidade de São Paulo (Assistência

Social, Educação, Agricultura e Abastecimento) e com o Governo do Estado,

destinadas aos segmentos da população em situação de vulnerabilidade: criança e

23 Fonte: http://www.croph.org.br

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adolescente, idoso e adulto em situação de rua. Atualmente, conta com 16 serviços

e projetos com enfoque num trabalho socioassistencial, pedagógico e psicológico,

que atinge e beneficia a população de todas as idades. O tipo de serviço oferecido

para pessoas em situação de rua é o Centro de Acolhimento em caráter provisório

de permanência, que possui espaços para higienização, alimentação e atendimento

individual da equipe multidisciplinar. Dentre esses estão:

• Centro de Acolhida Estação Vivência - Localizado no distrito do Pari, o

serviço, que acolhe homens em situação de rua, dispõe também de um centro

de uso diurno e vespertino com oficinas de “artesanato em jornal” para

promoção social e profissional. Realiza acompanhamento psicológico e social

com a presença de educadores. O tempo mínimo de permanência do usuário

no serviço é de seis meses, porém, dependendo do caso, pode ser

prorrogado. Sua estrutura tem espaços para banho e higiene pessoal,

bagageiro, lavanderia, alimentação (café da manhã, almoço e jantar),

entretenimento, oficinas e palestras;

• Centro de Acolhida Portal do Futuro - Localizado no distrito de Bom Retiro,

esse centro de acolhida promove oficinas pedagógicas de fuxico e artesanato

para aqueles que permanecem no serviço durante o dia, além de oferecer

atendimentos social, pedagógico e psicológico. Há também outras atividades

como: biblioteca de uso livre aos usuários, sessão de cinema (cada 15 dias),

passeios e caminhadas, exposições de trabalhos e atividades elaboradas

pelos próprios usuários;

• Centro de Acolhida Vivenda da Cidadania - Com o mesmo princípio e

objetivos dos outros centros de acolhida administrados pela CROPH, o

Vivenda da Cidadania atende todos os usuários com um acompanhamento

social e psicológico. Durante o dia, oferece um amplo Núcleo de Serviços com

oficinas artesanais, biblioteca para o acesso à leitura e sala de vídeo (Sessão

Pipoca). Há um espaço também para o atendimento a pessoas com

deficiência e gestantes. Encontra-se localizado no Canindé, numa ampla área

verde;

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• Casa de Apoio Maria-Maria - Localizada também no Canindé, é dirigida

somente ao público feminino e tem como objetivo a reinserção social de

mulheres em situação de rua e vulnerabilidade social. Dispõe de

acompanhamento social e psicológico, refeitório, lavanderia, sala de televisão

e área para o lazer das crianças;

• Repúblicas - Moradias provisórias para pessoas maiores de 18 anos,

encaminhadas pela rede socioassistencial do município, e que já estão em

processo avançado de autonomia. A CROPH administra três repúblicas: uma

para mulheres em Santana, uma para homens em Santana e outra para

homens na região central mais conhecida como Condomínio da Rua

Mercúrio;

• Centro de Acolhida Especial Sítio das Alamedas (par a idosos) - Esse

centro especial, localizado no Canindé, é destinado aos idosos em situação

de rua. Oferece acompanhamento psicológico e socioassistencial

individualizado, bem como atividades artesanais (pintura em madeira), físicas

e laborativas (Oficina Padaria do Vovô), dentre outras.

� Instituto Lygia Jardim 24

Inaugurado em 1978, pela sensibilização dos trabalhadores do Centro Espírita

Discípulos de Jesus. Com o aumento da população em situação de rua, o Instituto

Lygia Jardim foi criado junto com o serviço Albergue Noturno Lygia Jardim. Em

1999, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, desenvolveu um projeto chamado

SASECOP- Serviço de Apoio Socioeducativo de Capitação e Orientação Profissional

para a população em situação de rua, preparando-a para a reintegração no mercado

de trabalho e na sociedade. De um modo geral, a entidade que possui esses

serviços oferece condições de alojamento, alimentação, pernoites, higiene pessoal,

regularização de documentos, encaminhamento profissional, tratamento médico

ambulatorial e capacitação profissional. Dispõe ainda de atendimento social e

atividades socioeducativas organizadas pelos educadores e voluntários.

24Fonte: http://www.asapam.org.br/Lygia_Jardim

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• Centro de Acolhida Lygia Jardim - Localizado na Bela Vista, esse centro

de acolhida conveniado com a Prefeitura oferece por um período pré-

determinado de três meses diversos serviços como os referidos

anteriormente. Dispõe da Unidade I (Feminina) destinada ao atendimento

de clientes transitórios femininos, mais crianças acompanhadas de suas

respectivas mães e a Unidade II (Masculina). Vale-se de recursos obtidos

através de trabalhos voluntários como o bazar da pechincha, realizado todo

segundo domingo de cada mês na escadaria da Rua 13 de maio, chás

beneficentes, donativos, bem como subvenção do Órgão Municipal;

• Serviço de Apoio Socioeducativo de Capacitação e Or ientação

Profissional – SASECOP (1999) - Projeto desenvolvido e implantado pelo

Instituto Lygia Jardim, em parceria com a Secretaria da Assistência e

Desenvolvimento Social da cidade de São Paulo. Oferece formação técnica

qualificada. Atende adultos de ambos os sexos, sem moradia e emprego

fixos, com qualquer nível de escolaridade, encaminhados por organizações

que firmaram parceria. Oferece cursos de eletricista, instalador predial,

pedreiro, assentador e revestidor de tijolos, pintura imobiliária e decorativa,

em parceria com o SENAI e o Curso de Assistente de Cabeleireiro, em

parceria com o PROJETO TESOURINHA. Possui, ainda, as Oficinas de

Arte e Educação, Alfabetização e Reforço escolar, Grupos de Orientação

Profissional (GOP), Palestras educativas e preventivas, e atendimento

psicológico e social. Com a extensão da profissionalização, o SASECOP

busca parcerias para viabilizar a empregabilidade daqueles que concluem

o curso.

� Grupo Espírita Batuíra 25

Criado em 1964, o Grupo Espírita Batuíra (GEB) é uma entidade direcionada

à assistência e promoção social de crianças, jovens, gestantes, famílias em situação

de vulnerabilidade, idosos e pessoas em situação de rua. Também é um centro de

excelência na formação e divulgação doutrinária dentro dos princípios da

25 Fonte: http://www.geb.org.br

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Codificação Espírita elaborada por Allan Kardec. O grupo compreende quatro

unidades, que apresentam atendimentos nas áreas de Higiene, Saúde e Educação.

Na área de Saúde, presta serviço de assistência médica e odontológica à

população, inclusive em situação de exclusão social. Já na área educacional,

oferece atendimento de educação infantil (2 a 7 anos), além de atividades de

Educação Espírita Infantil para crianças e jovens de 4 a 17 anos. Proporciona,

inclusive, cursos de formação em Padaria, Informática e Corte de Cabelo. O projeto

desse grupo mais direcionado à população em situação de rua é a Casa de

Cuidados / Lar Transitório Batuíra:

• Casa de Cuidados / Lar Transitório Batuíra (2002) - Localizada na

região da Bela Vista, foi criada para atendimento a pessoas em situação

de rua, recém-egresso de cirurgias hospitalares, que necessitam, após a

alta, de cuidados pós-operatórios. Oferece os seguintes serviços:

atendimento médico, de psicologia e de fisioterapia, orientação sobre

cuidados de higiene dentária e sobre autocuidado. Sua infraestrutura

conta com espaço para refeitório, área de lazer e oficina de trabalhos

manuais.

� Catedral Metodista de São Paulo – Comunidade Metodi sta do Povo

de Rua 26

A Comunidade Metodista do Povo de Rua foi criada em 1992, a partir de um

trabalho da Faculdade de Teologia – FATEO da Universidade Metodista, direcionado

ao acompanhamento da população em situação de rua. A Igreja Metodista da Luz,

que já havia começado um trabalho em parceria com a Igreja Metodista Coreana

Ebenezer, que quatro anos antes já servia café na Praça Fernando Costa para a

população de rua, aceitou a proposta da prefeitura de São Paulo (1991) para

melhorar o atendimento a essa população durante os meses de inverno. Oferecido o

abrigo localizado no Viaduto Pedroso, essa comunidade instalou um centro de

acolhida, que se tornou permanente em 1996, sendo reconhecido hoje como o maior

projeto metodista voltado para população de rua em todo o Brasil:

26 Fonte : http://www.metodista.br

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• Centro de Acolhida Pedroso - Localizado no distrito da Liberdade, esse

centro de acolhida atende, preferencialmente, homens adultos, embora

auxilie também mulheres e crianças acompanhadas pelo responsável,

munidas de documentos que comprovem a paternidade. O projeto conta

com um pequeno acervo de livros e televisão a cabo. Disponibiliza aulas

de artesanato e cursos profissionalizantes. Oferece ainda

acompanhamento de profissionais da saúde. Nas reuniões em grupo

durante a semana, os profissionais trabalham a autoestima dos usuários.

� Associação de Auxílio Mútuo da Zona Leste - APOIO 27

Essa associação foi criada em 1993, por um grupo formado de pessoas de

vários segmentos sociais preocupadas com a situação de pobreza de várias famílias

em situação de vulnerabilidade. O engajamento dessa associação iniciou-se com

campanhas de combate à fome junto a agentes sociais e pastorais. Nesse trabalho,

a associação firmou o primeiro convênio com o poder público, no caso o governo

estadual de São Paulo, com o programa “Vida Alimento”. Em 1996, expandiu seus

projetos sociais para diversos bairros da região Leste da cidade de São Paulo a

partir de convênios internacionais (CAFOD-Inglaterra, PPM-Alemanha, e D&P do

Canadá - organizações ligadas às igrejas católicas e protestantes), o que permitiu a

inclusão de atividades sociais junto a moradores de favelas e cortiços do centro

expandido da cidade. Em parceria com a Secretaria de Assistência e

Desenvolvimento Social do Município de São Paulo, a associação veio assumindo

alguns convênios no segmento população de rua:

• Centro de Acolhida Espaço Luz - Localizado no distrito da Sé, esse

espaço acolhe adultos homens e mulheres. Dispõe dos serviços de

higiene, lavanderia, alimentação e pernoite, bem como realizam

atividades recreativas e educacionais. Essas pessoas recebem orientação

e estímulo para reconstruir suas vidas, sendo encaminhadas para

emprego ou retorno à família, através do atendimento social. Assim como

esse centro a APOIO, conta ainda com: Centro de Acolhida Nova Vida

27 Fonte: http://www.apoio-sp.org.br

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(Sé), Centro de Acolhida Reencontro (Santo Amaro), Centro de

Acolhida Começar de Novo (Penha), Centro de Acolhid a São Mateus

e Ermelino Matarazzo (Zona Leste);

• Projeto Oficina Boracea (2003) - Localizado no distrito da Sé, esse

projeto se divide em centro de acolhida 24 horas para homens e

mulheres, em centro de acolhida especial para idosos em situação de

rua e conta com serviço de enfermaria para pessoas em processo de

convalescença por doença. Inicialmente, foi criado para atender os

carroceiros, mas atualmente abrange outros segmentos. Conta com o

atendimento da Estratégia Saúde da Família, estando localizado ao lado

da Unidade Básica Boracea. Oferece ainda vários cursos como:

lavanderia, limpeza, camareira, costura, construção civil (pintor, eletricista,

encanador e pedreiro), artes plásticas com material reciclado,

alfabetização, inglês, espanhol, pintura, artesanato, música, dança, entre

outros. Dispõe de um Telecentro, que funciona dentro do serviço e

oferece aulas de informática;

• Apoio Núcleo I e Apoio Núcleo II – Repúblicas - Estão localizadas nos

distritos de Liberdade e Santa Cecília e atendem homens em situação de

rua encaminhados por outros serviços considerados portas de entrada;

• Hotel Social Ipiranga - Localizado no Ipiranga, esse espaço atende

somente homens adultos em situação de rua, que já dispõe de certa

autonomia de renda;

• Atenção Urbana – Bela Vista - Conhecidos como Agentes Pró-Ativos

(agentes sociais), esses abordam todos os dias as pessoas em situação

de rua e em situação de moradia precária localizadas nos “mocós”, baixo

de viadutos, favelas e cortiços, de forma a estabelecer vínculo. A

finalidade desse trabalho é encaminhar essas pessoas para os diversos

equipamentos sociais da região (Saúde e Assistência Social

principalmente) para resolutividade de suas necessidades como tirar

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documentos, reencontrar a família, regressar à terra natal, tratar da

saúde, inserir-se em centros de acolhida e convivência, dentre outras.

� Sociedade Beneficente São Camilo 28

Em 1923, o Padre Inocente Radrizzani criou a Sociedade Beneficente São

Camilo para representar juridicamente a Província Camiliana Brasileira em todas as

suas atividades. Após a década de 70, esta sociedade passou a realizar somente

atividades de assistência à saúde e assistência social. Ao longo dos anos, veio

sofrendo algumas alterações para atender às suas necessidades, inclusive, às do

seu estatuto interno. Essa entidade filantrópica deu início às atividades de

assistência social em 1984, com a criação do Departamento Ação Social Camiliana.

Em 1997, por meio de um convênio com a Prefeitura Municipal de São Paulo,

assumiu 12 creches e 2 casas de passagem. Atualmente, mantém 13 Centros de

Educação Infantil, 2 Abrigos, 2 Centros de Acolhida e 1 Núcleo Socioeducativo,

todos localizados no Estado de São Paulo. Para a população em situação de rua,

essa sociedade dispõe na cidade de São Paulo, em convênio com a Secretaria de

Assistência e Desenvolvimento Social, os seguintes serviços:

• Centros de Acolhida São Camilo I e São Camilo II (T atuapé e Belém) -

Esses espaços foram criados para atender às necessidades básicas do

homem adulto em situação de rua. Oferece atendimento social, de

higiene, guarda-pertences, alimentação e pernoite. Realiza também

encaminhamentos para recursos da região e promove atividades junto

aos mesmos para valorização humana, na tentativa de capacitá-los e

reintegrá-los à sociedade e à família. A modalidade de atendimento da

instituição é de 16 horas.

28 Fonte: http://www.saocamilosede.org.br

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� Pastoral do Povo da Rua 29

Essa pastoral nasceu do trabalho das Irmãs Oblatas de São Bento, junto com

a Organização de Auxílio Fraterno - OAF, que acolhiam e assistiam pessoas em

situação de rua. Em 2003, esse trabalho resultou na criação de uma Arquidiocese

com autonomia de ação e plena jurisdição junto à sociedade. O Chamado Vicariato

Episcopal do Povo de Rua passou a ser responsável pela atenção a essa

população, com o objetivo de evangelização e de articulação para a promoção de

protagonistas de ações políticas em relação à sociedade. Atualmente, esse

Vicariato, coordenado pelo Padre Lúcio Lancellotti, dispõe em São Paulo da Casa

de Oração do Povo da Rua, no bairro da Luz, um espaço religioso e ecumênico,

construído com material reciclável pelos próprios moradores de rua, por meio da

doação do prêmio Nirvana, recebido pelo cardeal Arns dos budistas do Japão.

Conforme a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, esta pastoral tem

como objetivo estimular a promoção de ações junto à população de rua e catadores

de materiais recicláveis, que construam alternativas em defesa da Vida e contribuam

na elaboração de políticas públicas. Dentre as atividades relacionam: incentivar a

criação da Pastoral do povo da rua nas dioceses onde existem moradores de rua e

catadores de materiais recicláveis; dar visibilidade às questões referentes à

população de rua e denunciar ações violentas e discriminatórias; e apoiar a

articulação da população de rua e dos catadores de materiais recicláveis na sua

organização em movimentos.

� Centro de Promoção Humana e Assistência Social da P aróquia de

Santana – CEPHAS 30

Ligado à Paróquia de Sant’Ana, o CEPHAS foi criado em 1938, para a

finalidade de promoção humana e a assistência social da coletividade. Objetivava o

bem do indivíduo e de sua família, de forma a conjugar esforços para estimular a

sua participação na sociedade e a colaborar na solução dos problemas sociais,

principalmente das pessoas do bairro de Santana. Situado em Santana atende,

29 Fontes: http://www.arquidiocesedesaopaulo.org.br/vicariato_do_povo_de_rua.htm / http://www.pastoralpovodarua.com.br / http://www.cnbb.org.br/site/do-povo- da - rua. 30 Fonte: http://www.paroquiasantana.org.br/

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diariamente, pessoas em situação de rua com café da manhã, almoço,

medicamentos, atendimento médico, corte de cabelo, banho e troca de roupas.

Enquanto uma ONG sem fins lucrativos, esse centro assumiu em 2001, o projeto

"Casa Abrigo São Francisco de Assis", em parceria com a Secretaria Municipal de

Assistência e Desenvolvimento Social. Este ainda administra outros serviços que

não de atenção direta à população de rua como: a Casa Abrigo São Martinho

(tratamento de dependentes de álcool e drogas) e a Casa Comunitária São José

(moradia para pessoas dependentes e sozinhas, com atendimento total de

alimentação, hábitos de higiene, administração de medicamentos, fisioterapia,

atendimento médico e entretenimento).

• Centro de Acolhida Casa Abrigo São Francisco de Ass is - Enquanto

serviço de atenção permanente acolhe diariamente no período noturno,

homens e mulheres que buscam melhores condições de vida, no resgate

da dignidade e no reencontro com a família e com a sociedade em geral.

No período diurno, oferece atividades sócio-ocupacionais e educacionais,

objetivando o apoio e estímulo dos conviventes mais vulneráveis no

resgate da autoestima.

� Associações Internacionais para o Desenvolvimento – Associação

ASSINDES SERMIG 31

Criada em 1990, pelo encontro entre Dom Décio Pereira (então Bispo Auxiliar

de São Paulo), e Dom Luciano Mendes de Almeida (na época, Arcebispo de Mariana

e Presidente da CNBB), com a comunidade paroquial da Igreja São Rafael

(localizada no distrito da Mooca - São Paulo) e o SERMIG (Servizio Missionario

Gionavi – Turin/Itália), a associação conseguiu desenvolver alguns centros de

formação, escolas e estruturas comunitárias em prol de pessoas em situação de

vulnerabilidade. Para tanto, criou a Casa Vida (centro de acolhida para crianças

abandonadas, portadoras do vírus HIV/Aids) e em 1996 o Centro de Acolhida

Arsenal da Esperança abrigando os primeiros consagrados do SERMIG -

31Fonte: http://www.arsenaldaesperanca.org.br/pages_A/pag_A02.html

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Fraternidade da Esperança, pela relação com o Governo do Estado de São Paulo e

a Igreja de São Paulo.

• Centro de Acolhida Arsenal da Esperança - Enquanto serviço de

acolhida em tempo integral, localizado na Mooca, ofertado para homens,

principalmente, em situação de rua. Dispõe de serviço de refeitório.

� Associação União Beneficente das Irmãs de São Vicen te de Paulo de

Gysegem 32

De forte tradição católica, a associação é uma das dezessete Obras Sociais

mantidas pela Congregação das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem -

“Servas dos Pobres”, fundada em 21/01/1818 em Gysegem, na Bélgica. Essa

associação mantém em São Paulo o Centro Promocional Dino Bueno com o apoio

da Paróquia Nossa Senhora do Brasil, que dispõe do seguinte serviço para

população em situação de rua idosa:

• Casa de Convivência São Vicente de Paulo - Enquanto centro de

acolhida, localizado em Campos Elíseos para pessoas idosas em

situação de rua, oferece cursos de computação, escola de cabeleireiro,

serviço de confeitaria e tratamento dentário. Conta com o suporte

financeiro proveniente dos Colégios Vicentinos.

� Liceu Coração de Jesus 33

Coordenada por religiosos salesianos, a conhecida Inspetoria Nossa Senhora

Auxiliadora é responsável pela animação de mais de cem comunidades educativo-

pastorais – entre escolas, instituições universitárias, obras sociais, oratórios e

paróquias – constituídas em vinte e cinco obras localizadas no estado de São Paulo.

A primeira obra salesiana no Estado foi o Liceu Coração de Jesus, fundado na

cidade de São Paulo em 1885, quando ainda era vivo Dom Bosco, iniciador da

congregação salesiana e de um vasto movimento chamado Família Salesiana. O 32 Fonte: http://www.colegiosvicentinos.com.br/conteudo/institucional/nossas_obras.aspx 33 Fonte: http://www.liceudesaopaulo.com.br/liceu/historico.htm

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Liceu Coração de Jesus, localizado em Campos Elíseos, além de ser uma instituição

de ensino, mantém sob sua coordenação a Creche Coração de Jesus, que atende

180 crianças, o Abrigo Dom Bosco (2001) para catadores de material reciclável e o

Oratório Festivo, espaço de lazer, recreação e formação, para criança e

adolescentes do bairro aos sábados e domingos.

• Abrigo Dom Bosco - Especificamente para população em situação de

rua que trabalha como catadores de materiais recicláveis. Segundo

referem, o projeto reflete a busca pela limpeza urbana, o descarte correto

de resíduos, a geração de trabalho para a comunidade e a acolhida.

� Centro de Orientação à Família – COR 34

Criado em 1971, por um grupo de cristãos pertencentes à Legião de Maria,

associação católica leiga dedicada à promoção humana, esse centro sempre se

dedicou à vocação para o trabalho com a família. Nestas três décadas de serviços

prestados, já desenvolveu projetos sociais com diversas atividades, destacando-se o

atendimento a crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, grupos de mães, cursos

profissionalizantes, atendimento à população com problemas de subsistência,

atendimento a refugiados de Angola, Moçambique e Cabo Verde (1975 a 1977) e

educação de adultos. Especificamente para a população em situação de Rua,

mantém as seguintes unidades:

• Centro de Acolhida Pousada Cor-ação (Brás), Centro de Acolhida

Esperança (Pinheiros) e Centro de Acolhida para fam ílias “Lar de

Nazaré” (Brás) - São serviços que oferecem acolhimento provisório num

regime de 16 horas para homens e famílias que se encontram em

situação de rua;

• Bagageiro – Cor - É um serviço destinado a pessoas em situação de rua

que não possuem domicílio próprio ou familiar e não dispõem de lugar

34 http://www.corfamilia.org.br

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seguro para guarda provisória de seus pertences: homens ou mulheres,

famílias, inclusive idosos e pessoas com deficiência.

� Associação Aliança de Misericórdia 35

A Associação Aliança de Misericórdia foi fundada no ano 2000, pelos

sacerdotes Antonello Cadeddu e Enrico Porcu. Localizada em 34 cidades do Brasil,

além de uma unidade na Itália e Portugal, essa associação desenvolve programas,

projetos e ações direcionados à população em situação de rua e moradores de

favelas: Casas de Acolhida, Creches, Atenção Urbana à População em Situação de

Rua, Centro de Apoio à Família em Situação de Alta Vulnerabilidade Social, Centro

de Apoio à População em Situação de Rua, Moradores de favelas e regiões

periféricas, programas de lazer, cultura, educação e qualificação profissional.

Conveniada à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São

Paulo, essa associação administra quatro projetos direcionados à população em

situação de rua:

• Casa Restaura-me (Brás) - Enquanto núcleo de convivência com

restaurante comunitário, oferece o serviço de assistência social,

psicológica, jurídica, arte, cultura, alimentação e higiene, além do trabalho

de triagem. O trabalho de triagem é a primeira fase do Programa das

Casas de Acolhida. É realizado o encaminhamento das crianças e

adolescentes, bem como dos adultos às Casas de Acolhida da entidade,

introduzindo-os no processo de ressocialização;

• Morada Nova Luz (Santa Cecília) - Considerado um centro de acolhida

especial, este serviço inaugurado em 2007 oferece moradia provisória

para idosos homens e mulheres em situação de rua, encaminhados de

outros serviços da rede socioassistencial de São Paulo;

• Centro de Convivência Jardim da Vida e Centro de Co nvivência

Tenda (Atenção Urbana) - São espaços destinados à população de rua

35 Fonte: http://www.misericordia.com.br.

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da região central de São Paulo, que oferecem diversas atividades

socioeducativas, socioassistenciais, culturais, de lazer e higiene. Não

dispõem de uma estrutura de abrigo, e não impõem regras, o que permite

liberdade aos usuários para sua utilização. O intuito é fazer com que, aos

poucos, os usuários voltem espontaneamente, até que se sintam prontos

para uma acolhida mais concreta. Segundo a associação, entre os

serviços mais procurados pelos usuários do local estão as atividades

educativas e lúdicas e o banho. Esses também estão recebendo ajuda na

elaboração de cartas destinadas a seus familiares e de pedidos para

retornarem às suas cidades de origem.

3.1.2. Movimentos Sociais e Espaços Coletivos Mape ados

“Depois de um processo de amadurecimento, a política pública para a população em situação de rua saiu no papel. Alguns pontos são frutos de uma longa e solitária prática de alguns grupos, mas no geral são políticas que precisam ainda acontecer para que esta situação se transforme. Claro que o grande desafio de todos é colocá-la em prática. Em parte vai depender de uma grande mobilização dos movimentos sociais, da sociedade e do governo federal para que os municípios se apropriem e executem essa política” (Oportunidades Além da Rua, jornal O Trecheiro, Janeiro de 2010, p. 2 – www.rederua.org.br).

� Movimento Nacional da População em Situação de Rua - MNPR:

“Outro resultado dessa história de massacres foi o surgimento de organizações que passaram a agir em defesa do povo da rua, como o Movimento Nacional da População em Situação de Rua, que neste ano completa cinco anos de existência. ‘O movimento surgiu com a dor da morte dos companheiros e companheiras que, por falta de uma política pública, foram mortos”, explica Anderson Lopes. Na época, pessoas em situação de rua passaram a realizar encontros e, com a intenção de pressionar o poder público a elaborar políticas específicas para esse segmento, criaram o movimento. Hoje eles têm organização nacional e já ocupam espaços em conferências e conselhos de participação. “A gente está discutindo e criando uma lei nacional para a população de rua vinda do movimento. Temos também um comitê específico em Brasília e foi formado um GIT, Grupo Interministerial de Trabalho, para discutir políticas da área” (Um Massacre Cotidiano por Bruna Escaleira e Camila Souza Ramos. Revista Fórum nº 78 de Setembro de 2009 In: http://www.revistaforum.com.br).

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Esse movimento social foi criado em 2004, pelas pessoas em situação de rua,

mobilizadas após o massacre que ocorreu em 20 de Agosto do mesmo ano e se

estendeu por mais três dias. Considerado o mais brutal ataque às pessoas em

situação de rua, no Brasil, sua repercussão inicial dantes de medo se transformou

em mobilização, possibilitando a formação desse movimento, que passou a realizar

encontros sistemáticos para pressionar o poder público a elaborar políticas mais

específicas para suas necessidades sociais. Contando hoje com uma organização

nacional coordenada por Anderson Lopes Miranda, esse movimento ocupa diversos

espaços importantes em conferências e conselhos de participação (Saúde,

Assistência Social e Habitação, principalmente), bem como em fóruns e grupos de

trabalho representativos. Tem o apoio de diversas organizações sociais locais

(Associação Rede Rua, OAF dentre outras), bem como da Pastoral do Povo de Rua.

O movimento tornou-se hoje, um dos principais protagonistas na discussão da

política pública e já está constituído de representatividade nacional em sete capitais

brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre,

Salvador e Fortaleza).

O movimento tem se pautado atualmente na efetivação do Comitê

Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a

População em Situação de Rua , instituído pelo Decreto Federal de nº 7.053 de 23

de Dezembro de 2009 e que será composto por representantes de nove ministérios

e por nove integrantes da sociedade civil, sob a coordenação da Secretaria Especial

dos Direitos Humanos (SEDH), com o objetivo de elaborar e coordenar políticas

públicas, em áreas como segurança alimentar, habitação, saúde e educação.

� Movimento Estadual da População em Situação de Rua em São

Paulo:

Poucas informações puderam ser obtidas sobre esse movimento. Conforme

depoimento de Robson Cesar Correia de Mendonça, coordenador geral ao

Newsletter do Viva o Centro36, foi possível verificar que o movimento estadual

36 http://www.vivaocentro.org.br/noticias/arquivo/110509_a_infonline.htm

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procura trabalhar a questão do morador de rua por meio de eventos culturais,

estimulando sua participação: “Por meio da cultura conseguimos inserir a pessoa no

mercado de trabalho e na família, pois se nós olharmos o começo da humanidade,

tudo vem da cultura. Foi a partir desse pensamento que fundamos o movimento”.

Atualmente, o movimento participa da organização de eventos na Câmara Municipal

de São Paulo e no Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São

Paulo - APEOESP, promovendo concursos para caçar talentos (poesia) e parcerias

com a Ordem dos Músicos do Brasil para promoção de cursos musicais, bem como

com o SENAI, SENAC e SESC, para inclusão social e ampliação da rede de

serviços culturais a essa população.

� Fórum das Organizações Sociais que Trabalham com a População

em Situação de Rua:

Esse primeiro fórum de atenção à população em situação de rua foi criado em

1992, pelas organizações sociais, que realizavam no período um trabalho direto de

atenção a essa população. Segundo reportagem “Em busca de Dignidade”, do jornal

“O Trecheiro” 37, esse fórum foi concebido “como espaço de discussão, de

resistência frente aos desmandos e de construção de política pública de atenção à

população em situação de rua” (p.1).

Esse fórum esteve presente na elaboração e aprovação das leis e decretos

municipais e federais num processo, que se iniciou em 1992 e continua até hoje.

Atualmente, não só mantém interface com o Fórum de Acompanhamento das

Políticas Públicas da População em Situação de Rua de São Paulo, como tem

representatividade no Conselho de Monitoramento da Política de Direitos das

Pessoas em Situação de Rua organizado pela Secretaria de Assistência e

Desenvolvimento Social de São Paulo.

Enquanto um espaço também de denúncia, as organizações sociais que

integram esse fórum sempre se colocaram diante das ações do poder público. Em

2005, já acusavam que “a prefeitura imprimia uma política ‘higienista’ – com o

objetivo de tirar os moradores de rua do centro da cidade, cercando praças e

37 Matéria publicada no jornal O Trecheiro, edição de março/2009.

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construindo rampas que impossibilitem o abrigo sob alguns viadutos – e ‘alberguista’

– que sana apenas a necessidade de abrigo transitório e alimentação” (Higienismo‚

retrocesso na luta por mínimos sociais, Jornal do CRESS, nº 51 out e dez de 2005).

Dentre as organizações sociais que participam desse fórum identifiquei:

Associação Reciclázaro, Associação União Beneficente das Irmãs de São Vicente

de Paulo, Serviço Franciscano de Solidariedade – SEFRAS, Centro Social Nossa

Senhora do Bom Parto – BOMPAR, Associação Evangélica Beneficente – AEB,

Associação Rede Rua, Liceu Coração de Jesus - Abrigo Dom Bosco, Pastoral do

Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, Centro Gaspar Garcia de Direitos

Humanos, Centro de Promoção Humana e Assistência Social da Paróquia de

Santana - CEPHAS, Associações Internacionais para o Desenvolvimento –

Associação ASSINDES SERMIG, Instituto Lygia Jardim, Centro de Defesa dos

Direitos Humanos Padre Ezequiel Ramin e Organização de Auxílio Fraterno - OAF.

Conforme principais matérias de jornais localizadas no período de 2009, esse

fórum tem tido visibilidade pelas denúncias de situações que vêm sofrendo por parte

da Prefeitura de São Paulo, na atual gestão do Prefeito Gilberto Kassab, inclusive

por meio de carta aberta dirigida à sociedade civil:

“As organizações sociais parceiras do poder público municipal no atendimento à população em situação de rua, em São Paulo, articuladas no Fórum das Organizações, lançaram uma carta aberta em que denunciam situações de desrespeito que vêm sofrendo por parte da Prefeitura de São Paulo. De acordo com o documento, o repasse mensal de verbas não vem acontecendo dentro do prazo estabelecido, o que desestabiliza o funcionamento das organizações e gera incertezas quanto ao futuro dos atendimentos. (...) Há um desgaste ainda para os gestores das organizações e para os serviços no período de dissídios salariais das categorias que trabalham nas organizações sociais. (...) Baixos salários, o alto número de atendimento por profissional, a falta de uma estrutura de serviços intersecretariais que efetivem a saída das pessoas da rede de assistência também estão na relação das precariedades vividas pelas organizações” (Em Busca da Dignidade, jornal O Trecheiro, Março de 2009, p.1 – www.rederua.org.br).

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� Conselho de Monitoramento da Política de Direitos d as Pessoas em

Situação de Rua:

Este Conselho de Monitoramento do município de São Paulo foi instituído em

2003, no governo da Prefeita Marta Suplicy e tinha como objetivo a fiscalização da

qualidade dos equipamentos de atendimento às pessoas em situação de

vulnerabilidade social.

Mantido, atualmente, pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento

Social de São Paulo, e funcionando através de uma reunião mensal, o conselho foi

formado em Setembro de 2009, por dezoito novos conselheiros e vinte e um novos

suplentes empossados pelo Prefeito Gilberto Kassab, em Setembro de 2009. Dos

conselheiros, sete são representantes de órgãos governamentais (Secretarias da

Assistência e Desenvolvimento Social, Trabalho, Habitação, Saúde, Comissão

Municipal de Direitos Humanos e Comissão Extraordinária de Direitos Humanos,

Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais), três são usuários dos

programas e serviços à população em situação de rua, três pertencem ao Fórum das

Organizações e cinco são da sociedade civil (associações civis de defesa de direitos

humanos e entidades que congregam empresas com responsabilidade social).

O objetivo desse conselho passou a ser o desenvolvimento de ações de

monitoramento e fiscalização das políticas públicas à população de rua na cidade de

São Paulo. Entretanto, em matéria ao jornal “O Trecheiro”, as organizações sociais

referem que pelo “diálogo e as informações entre as instâncias da Prefeitura estar

truncado e fragmentado, o próprio Conselho de Monitoramento acabou sendo

descartado pela Prefeitura como espaço de participação da sociedade na

formulação de políticas” (Em Busca da Dignidade, jornal O Trecheiro, Março de

2009, p.1 – www.rederua.org.br).

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� Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Pú blicas da

População em Situação de Rua de São Paulo:

Em maio de 2008, com a abertura de consulta pública do Governo Federal,

para formulação de uma política dirigida à população em situação de rua, foi

formado em São Paulo um grupo coordenador para iniciar o debate constituído por

representantes do movimento nacional e pelas organizações sociais Pastoral do

Povo da Rua, Organização de Auxílio Fraterno -OAF, Serviço Franciscano de

Solidariedade - Sefras e Associação Rede Rua. A ampliação desse grupo, em

fevereiro de 2009, culminou na criação do Fórum Permanente de Acompanhamento

da Política Nacional em São Paulo, de forma a promover a ampliação do

protagonismo da própria população de rua nos debates sobre sua política nacional.

Com o intuito principal de contribuir na Elaboração da Política Nacional de

Inclusão Social da População em Situação de Rua, instituído pelo Decreto s/nº, de

25 de outubro de 2006, esse fórum por intermédio do Movimento Nacional da

População em Situação de Rua – MNPR compôs o Grupo de Trabalho

Interministerial 38.

Como forma de orientar a construção e execução dessa política, o fórum

organizou no ano de 2009 encontros e plenárias “Fala Rua” para a população em

situação de rua, divulgados nas ruas, albergues, abrigos, moradias provisórias e

hotéis sociais, bem como criou grupos temáticos de discussão nas áreas da

Assistência Social, Cultura, Direitos Humanos, Educação, Habitação, Saúde,

Trabalho e Emprego. Além das organizações sociais e os movimentos sociais, o

fórum ainda contou com a participação de outros coletivos de profissionais

(sindicatos) e de representantes do Fórum Municipal da Assistência Social de

São Paulo – FAS e das prefeituras de Araraquara, Campinas, Diadema, Jacareí,

Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo e São Carlos.

38 Este grupo era composto ainda pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Cultura, Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Justiça, Secretaria Especial de Direitos Humanos e Defensoria Pública da União, além da participação de representantes da Pastoral do Povo da Rua e do Colegiado Nacional dos Gestores Municipais da Assistência Social (CONGEMAS), representando a sociedade civil organizada.

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Em 2009, esse fórum ainda participou da organização da Visita do Presidente

Luis Inácio Lula da Silva à população em situação de rua, em São Paulo (realizada

em 23/12/2009 na Quadra dos Bancários) e da sexta edição do evento Natal

Solidário do Povo de Rua – “Natal da Solidariedade: um presente para você, um

presente para a cidade”39.

Mantido através de uma reunião mensal coordenada por representantes da

Associação Rede Rua e Sefras, o Fórum Permanente vem trabalhando em 2010 na

efetivação da política nacional por meio da participação nas reuniões do(s):

• Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política

Nacional para a População em Situação de Rua, em Brasília com o

Ministro Paulo Vannuchi para a formação do Centro Nacional de Direitos

Humanos para a População em Situação de Rua;

• Comitê Intersetorial com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -

IBGE e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA para contagem

da população em situação de rua, no Brasil;

• Fórum Nacional da População em Situação de Rua;

• Movimento Nacional da População em Situação de Rua;

• Fórum Municipal da Assistência Social de São Paulo– FAS que vem

discutindo num grupo de trabalho junto à Secretaria Municipal de

Assistência e Desenvolvimento Social - SMADs a situação dos serviços

de atenção à população em situação de rua quanto ao repasse de verbas,

ao orçamento aprovado pelo Conselho Municipal de Assistência Social de

São Paulo - COMAS para ampliação de serviços, à eleição do COMAS

(2010-2012) e às Portarias Técnica e Administrativa Financeira que

regulam os serviços 40.

39 Este evento cultural de confraternização ocorreu na Praça da Sé no dia 24 de dezembro de 2009. Segundo reportagem do jornal “O Trecheiro” de Janeiro de 2010 cada ano esta festividade agrega mais e mais parceiros. Em 2009 contou com o apoio do MDS, Sindicato dos Comerciários de São Paulo e várias organizações sociais coordenado pelo Movimento Nacional da População de Rua. 40 Portaria 28/SMADS/2008 e Portaria 32/SMADS/2008.

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• “Projeto de Capacitação e Fortalecimento Institucional da População em

Situação de Rua”, financiado pelo MDS, em parceria com a UNESCO, e

executado pelo Instituto Pólis, que abrange além de São Paulo, os

Estados de Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,

Paraná, Ceará e o Distrito Federal;

• Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas em Situação de Rua

(instituída em 2 de dezembro de 2009 pela Câmara Municipal de São

Paulo - projeto de resolução do vereador Chico Macena de nº 27/09).

� Plenárias Fala Rua:

Por meio da coordenação do Movimento Nacional da População de Rua e a

organização da Comissão São Paulo e o Centro Franciscano de Reinserção Social

do Sefras, essas plenárias vem acontecendo mais intensamente na cidade de São

Paulo, desde Março de 2009, para debater a efetivação da política pública nacional.

No entanto, a pesquisa documental revelou convites para participação nessas

plenárias, desde 200541.

Com o intuito de estabelecer um diálogo entre movimentos sociais, gestores,

políticos, acadêmicos, representantes das organizações sociais e população em

situação de rua, as plenárias abordaram alguns temas de relevância para a própria

população como:

• “Movimento de rua: Por quê? Para quê? Como?”;

• “As portas de saída das ruas a partir das políticas públicas para a

população em situação de rua”: condição dos albergues municipais,

problemas de atendimento à saúde da população e política agressiva de

higienização do poder público;

• “SOS Moradias Provisórias” por Moradia Definitiva;

41 Jornal “O Trecheiro” de Abril e Maio de 2006.

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• Violência contra a população de rua nas ruas de São Paulo - O que está

acontecendo no Bairro da Luz? (operação saturação);

• Formação em Direitos Humanos e Ouvidoria;

• Organização do Natal Solidário do Povo de Rua;

• Ato pela Humanização do Centro Histórico;

• Criação do Decreto nº 7.053, 23/12/09 que Institui a Política Nacional para

População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de

Acompanhamento e Monitoramento;

• Criação do Comitê Técnico da Saúde para a população em situação de

rua;

• Criação da Frente Parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo para

População em Situação de Rua;

• Projeto de Capacitação e Fortalecimento Institucional da População em

Situação de Rua (UNESCO MDS e Pólis);

� Fórum Municipal da Assistência Social de São Paulo – FAS:

Criado no final de 1993, o Fórum da Assistência Social da Cidade de São

Paulo foi pensado durante seminário da Câmara Municipal sobre a Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS, enquanto um espaço de controle da sociedade civil

organizada na área. Durante os anos, esse fórum mostrou-se como um espaço de

debate, dissensos e resistência a ações do poder público, formado por

representantes das organizações de assistência social não governamentais e

governamentais do município, das organizações de usuários de programas e

serviços de assistência social, dos trabalhadores (principalmente da categoria

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profissional dos assistentes sociais), dos movimentos sociais, das universidades e

do Poder Legislativo Municipal.

“Como outros fóruns, este se constituiu desde sua origem em espaço aberto de debate e de construção de propostas para a área da assistência social, assumindo a interlocução em negociações com os poderes Executivo e Legislativo. E, ao longo de seis anos, os protagonistas desse Fórum buscaram trazer para a cidade de São Paulo os direitos sociais assegurados pela LOAS” (YASBEK, 2004).

Apesar de esse fórum discutir os direitos sociais de todos os segmentos

sociais, seu trabalho congrega ações importantes para a política pública da

população em situação de rua. Inclusive dispõe de um espaço interno de discussão

dentro do Fórum Permanente referido anteriormente.

O FAS vem organizando em 2010 diversas manifestações contrárias à

administração municipal, principalmente pelo pouco investimento da Assistência

Social nos serviços de atenção à população em situação de rua como a falta de

repasse de verbas para esses serviços, bem como a instituição de portarias que os

regulam em relação à competência, complexidade, valor de convênio e forma de

prestação de contas.

� Fórum de Debates sobre a População em Situação de R ua

Conforme pesquisa documental, o Fórum foi concebido em 2003, durante a

realização da "Semana de Psicologia: Inclusão e Exclusão nos Territórios da Psicologia,

segundo diálogo estabelecido entre o Centro de Estudos da População em Situação de Rua

da antiga Secretaria da Assistência Social – SAS e a Faculdade de Psicologia da

Universidade São Marcos.

“Inicialmente, com o nome de Fórum de Estudantes sobre a População em Situação de Rua, contava com a colaboração de estudantes de diversas áreas (Arquitetura, Ciências Sociais, Fisioterapia, Jornalismo, Medicina, Psicologia, Serviço Social, Sociologia, Terapia Ocupacional, dentre outras) representando várias universidades (Universidade São Marcos, Universidade de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade de Santo Amaro, FMU, dentre outras). As reuniões quinzenais enfatizavam o compartilhamento de conhecimentos oriundos de pesquisas científicas e eram coordenadas pelo Centro de Estudos em parceria com alunos e professores das unidades de ensino citadas”.

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(http://debaterua.atspace.com/historia/historia.htm acessado em Janeiro 2010).

No entanto, segundo Costa (2007) sua criação deu-se antes em 2001, sob

coordenação de Cleisa Maffei Rosa, através de reuniões realizadas no Centro de

Estudos sobre População de Rua localizado no projeto Boraceia – Barra Funda

(p.12).

Em 2004 as reuniões foram transferidas para a ONG Mudança de Cena, na

Praça da Sé, ampliando a participação da população em situação de rua, de alunos

e de profissionais que atuam nos serviços e equipamentos dirigidos a essa

população.

O Fórum de Debates foi constituído na época como um importante espaço de

debates sobre a população em situação de rua, enfatizando as discussões a

respeito da participação efetiva da população na elaboração, monitoramento e

avaliação das políticas públicas, bem como na reflexão a propósito das alternativas

de saída das ruas. Atualmente, sob a coordenação de Daniel De Lucca Reis Costa

(Antropologia – USP), esse fórum mostra-se como ele mesmo refere como “espaço

público intermediário” de formação, apoio e articulação onde participam profissionais

da área, estudantes e a própria população em situação de rua (Costa, 2007, p.12).

3.1.3. A Rede de Atendimento Socioassistencial da Secretaria Municipal

da Assistência e Desenvolvimento Social de São Paul o Mapeada

“No Corpo da Lei, todos estes elementos são acompanhados por maiores detalhes em relação aos padrões de procedimento adequados a cada tipo de serviço prestado, suas normas de higiene, qualidade de recursos materiais e humanos, bem como informações pormenorizadas sobre a flexibilidade ou não de determinadas regras, espaços, horários, e modos de atendimento. O que se tem então é uma regulação que não só obriga o poder público a articular – por meio de orçamentos, supervisões e reavaliações de convênios e parceiras – os diferentes serviços prestados, mas que também imprime modelos de relações que tanto os usuários, quanto os funcionários devem observar em suas atividades rotineiras. Uma das idéias presentes na lei, e que orienta os modos de atuação na rede, é que os tipos de serviços prestados devem acompanhar o grau de autonomia dos usuários e as diferentes etapas do processo de reinserção social” (Costa, 2007, p. 183).

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Conforme Decreto de nº 40.232 de 02 de Janeiro de 200142, uma rede de

serviços e programas de caráter público, voltada para a população em situação de

rua foi prevista sob competência da Secretária Municipal de Assistência Social,

através da articulação intersetorial com outros órgãos municipais (Abastecimento,

Saúde, Planejamento Urbano, Habitação e Desenvolvimento Urbano, Trabalho,

Verde e Meio Ambiente, Educação, Cultura, Esportes Lazer e Recreação, Finanças

e Desenvolvimento Econômico e da Guarda Civil de São Paulo).

Essa rede de serviços, que foi desenhada ao longo desses nove anos, de

forma a considerar toda uma estrutura e complexidade definida pelo decreto,

adequou-se aos padrões de exigência de diferentes tipos de serviço em

conformidade com o grau de autonomia do usuário em relação à rua e se

estabeleceu através de convênios do poder público com organizações sociais não

governamentais de finalidade filantrópica. Conhecida como Rede de Atendimento

Socioassistencial , esta integra hoje as principais ações da Coordenadoria de

Proteção Social Especial da SMADS.

O presente estudo mapeou um total de 64 serviços existentes hoje, de

atenção à população em situação de rua na cidade de São Paulo, que podem ser

detalhadamente identificados no Quadro Geral 1, no anexo 143. Distribuída em cinco

Coordenadorias de Assistência Social – CAS, que compõem a atual Secretaria

Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS, essa variedade de

serviços encontra-se sob a gestão de 28 organizações sociais conveniadas.

Destacam-se entre as organizações, a APOIO com 12 serviços conveniados, a

SMADS (18,75%) e a CROPH com oito (12,50%).

42 DECRETO Nº 40.232, DE 2 DE JANEIRO DE 2001: Regulamenta a Lei nº 12.316, de 16 de abril de 1997, que dispõe sobre a obrigatoriedade do Poder Público Municipal a prestar atendimento à população de rua da Cidade de São Paulo, e dá outras providências. 43 Este mapeamento foi realizado a partir de informações extraídas no site oficial da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da Cidade de São Paulo (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/), consultadas na Relação das Organizações Sociais Inscritas no COMAS-SP e disponibilizados pelos Observatórios de Política Social Local das cinco Coordenadorias de Assistência Social – CAS.

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Tabela 1 – Número de serviços conveniados com a SMA DS por

organização social São Paulo, 2010.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

NÚMERO DE SERVIÇOS

CONVENIADOS COM A SMADS

%

Associação de Auxilio Mútuo da Zona Leste - APOIO 12 18,75

Coordenação Regional de Obras de Promoção Humana - C ROPH 8 12,50

Centro de Orientação a Família - COR 4 6,25

Associação Reciclázaro 4 6,25

Organização do Auxilio Fraterno - OAF 4 6,25

Associação Aliança de Misericórdia 4 6,25

Associação Rede Rua 3 4,69

Instituto Social Santa Lucia 2 3,12

Província Camiliana 2 3,12

Associação Evangélica Beneficente - AEB 2 3,12

Instituto Ligia Jardim 2 3,12

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos 1 1,56

Serviço Franciscano de Solidariedade - SEFRAS 1 1,56

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto - BOMPAR 1 1,56

Comunidade Metodista do Povo de Rua 1 1,56

Obras Sociais Nossa Senhora Achiropita 1 1,56

Associação Assindes Sermig 1 1,56

Associação Beneficente Caminho da Luz - ABECAL 1 1,56

Associação Beneficente Nossa Sra. do Bom Conselho e São Luis Gonzaga 1 1,56

Centro de Assistência Social e Promoção da Vila Alpina - CASP 1 1,56

Paróquia de Sant’ ana - CEPHAS 1 1,56

Grupo Espirita Batuíra - GEB 1 1,56

Instituto Humanização e Desenvolvimento Integral - IHDI 1 1,56

Instituto Rogacionista 1 1,56

Lar do Alvorecer Cristão 1 1,56

Liceu Coração de Jesus 1 1,56

Centro Integrado de Estudos e Prog. de Desenvolvimento Sustentável- CIEDS 1 1,56

Sociedade Amiga e Esportiva do Jardim Copacabana 1 1,56

TOTAL 64 100,00

Após comparação com o mapeamento realizado, foram identificadas dez

novas organizações sociais, que dispõem de serviços de atenção à população em

situação de rua na cidade de São Paulo:

1. Instituto Social Santa Lucia;

2. Obras Sociais Nossa Senhora Achiropita;

3. Associação Beneficente Caminho Da Luz – ABECAL;

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4. Associação Beneficente Nossa Senhora do Bom Conselho e São Luis

Gonzaga;

5. Centro de Assistência Social e Promoção da Vila Alpina – CASP;

6. Instituto Humanização e Desenvolvimento Integral – IHDI;

7. Instituto Rogacionista;

8. Lar do Alvorecer Cristão;

9. Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento

Sustentável- CIEDS;

10. Sociedade Amiga e Esportiva do Jardim Copacabana.

Por outro lado, duas organizações não foram identificadas nessa Rede de

Atendimento Socioassistencial: Pastoral do Povo de Rua e Associação União

Beneficente das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem.

Destes 64 serviços, 35 (53,12%) encontram-se na região centro-oeste da

cidade e 20, (31,25%) na região sudeste, como pode ser vislumbrado na tabela 2 a

seguir:

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Tabela 2 – Número de serviços das organizações soci ais mapeados por

Coordenadoria de Assistência Social. São Paulo, 201 0.

COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

NÚMERO DE SERVIÇOS %

Centro Oeste 34 53,12

Sudeste 20 31,25

Sul 4 6,25

Norte 3 4,69

Leste 3 4,69

Total 64 100,00

Conforme a complexidade do tipo de atendimento prestado e o grau de

autonomia do usuário dessa rede, os serviços apresentam-se divididos em 11 tipos

como mostra a tabela 3. Esta tipificação relacionada é a mesma utilizada pela

SMADS.

Tabela 3 – Número de serviços das organizações soci ais mapeados por

tipo. São Paulo, 2010.

TIPOS DE SERVIÇO 44

NÚMERO DE SERVIÇOS %

Centros de Acolhida II 21 32,82

Centros de Acolhida Especial 9 14,06

Centros de Acolhida I 8 12,50

Repúblicas 7 10,94

Projetos de Atenção Urbana 5 7,81

Núcleos de Convivência 4 6,25

Núcleos de Inserção Produtiva 4 6,25

Núcleos de Convivência com Restaurante Comunitário 3 4,69

Hotel Social 1 1,56

Núcleo de Serviço de Capacitação Técnica 1 1,56

Bagageiro 1 1,56

Total 64 100,00

44 Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/.

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O tipo de serviço mais presente na rede referida é o Centro de Acolhida II ,

dantes denominado “albergue”, com atendimento permanente numa carga horária

diária de 24 horas (32,82%). Esse difere dos demais tipos exatamente pelo tempo

de permanência maior do usuário. Oferece não somente pernoite, mas todas as

refeições do dia, bem como atividades de convivência e até de geração de renda, no

sentido de incentivar um trabalho com o usuário, que lhe permita certa autonomia e

independência financeira. De certa forma, a reorganização dos serviços dessa rede

contribuiu por definir uma nova funcionalidade a esse espaço considerado porta de

entrada da rede, que favorece hoje o acolhimento, a assistência e a proteção social

básica, conforme desígnios do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

Já o Centro de Acolhida I apresenta características semelhantes ao de

acolhida II no que se refere à entrada na rede, mas presta um atendimento num

regime diário de 16 horas e oferece apenas serviços de pernoite com direito a

banho, jantar e café da manhã.

Os chamados Centros de Acolhida Especial funcionam também em período

integral, mas são direcionados, exclusivamente, para o cuidado de segmentos

específicos como idosos e mulheres com ou sem filhos em situação de rua e

catadores de materiais recicláveis, assim como para pessoas que necessitam de

cuidados especiais de saúde, após alta hospitalar do Sistema Único de Saúde –

SUS.

Considerando esses três tipos de serviço, temos um total aproximado de 60%

de locais de abrigamento na rede socioassistencial da SMADS. Segundo artigo 5º do

Decreto nº 40.232, esses serviços relacionados acima devem obedecer ao seguinte

padrão:

“Abrigos Emergenciais (constituídos por instalações físicas adequadas mantidas por SAS, diretamente ou em parceria com organizações sociais, equipados com recursos humanos e materiais necessários para acolhida e pernoite, no período de inverno, da população de rua, fornecendo condições de higiene pessoal, alimentação, vestuário, guarda de volumes, trabalho sócio-educativo e acesso aos serviços de referência na Cidade) e Albergues/Abrigos Especiais (constituídos por instalações físicas adequadas, equipados com recursos humanos e materiais necessários à acolhida e alojamento de até cem pessoas por unidade, operacionalizados diretamente ou em parceria com organizações sociais, com funcionamento permanente, fornecendo condições de pernoite, higiene pessoal, lavagem e

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secagem de roupas, alimentação, guarda-volumes, trabalho sócio-educativo e serviços de documentação e referência na Cidade, destinados a: a) pessoas em tratamento de saúde; b) imigrantes recém-chegados; c) pessoas em situação de despejo ou em desabrigo emergencial; d) mulheres vítimas de violência;e) mulheres com crianças)”.

Os Núcleos de Convivência são espaços criados para fortalecer o convívio

do usuário com os seus pares e educadores por meio de oficinas e atividades

técnicas especializadas, de forma a promover sua reinserção social. Esse serviço

realiza, inclusive, encaminhamentos para os demais serviços da rede

socioassistencial, principalmente quando o abrigamento ou a proposta de saída das

ruas torna-se necessário. Dentre esses núcleos, há ainda os que contam com

serviço de Restaurante Comunitário , ou seja, são núcleos que disponibilizam um

local para diversas organizações sociais que realizavam distribuição de alimentos

nas ruas.

De um modo geral, o artigo 5º do Decreto nº 40.232 citado refere-se a esses

serviços como Casas de Convivência e explica que devem ser “espaços dotados de

recursos humanos e materiais para promoção de trabalho sócio-educativo em

regime de atendimento diário, desenvolvendo atividades de convivência,

socialização e organização grupal, atividades ocupacionais, educacionais, culturais e

de lazer, assim como oferecendo condições de higiene pessoal, lavagem e secagem

de roupas, alimentação, guarda de volumes, serviços de documentação e referência

na cidade”.

Quanto ao Hotel Social e as Repúblicas , esses são dirigidos para usuários

que dispõem de certa autonomia financeira e estariam em processo de reinserção

social. Enquanto os hotéis são vinculados aos centros de acolhida, as repúblicas

que se encontram em caráter de moradia provisória trabalham num sistema de

cogestão com os usuários independentes ou socialmente ativos, que já dispõem de

emprego ou atividade de geração de renda. Ambos são considerados "porta de

saída" da rede socioassistencial e, conforme o decreto devem adequar-se ao

seguinte padrão:

“(...) com provisão de instalações, próprias ou locadas, com capacidade de uso temporário por até 15 pessoas moradoras de rua e em processo de reinserção social, funcionando em regime de co-gestão. O acesso à moradia provisória estará subordinado à avaliação sócio-educativa do

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estágio de reinserção social do interessado, realizada pelos albergues e casas de convivência da rede. Manutenção através de contrato de vagas em pensões e congêneres por tempo determinado. A operacionalização desses serviços envolverá responsabilidades compartilhadas, assim discriminadas: ao Poder Público caberá prover e manter as instalações físicas, envolvendo adaptações, reformas e pagamento de tarifas públicas, bem como estabelecer parceria para pagamento de pessoal; às organizações sociais e empresas caberá garantir padrões adequados de qualidade do atendimento bem como participar da gestão compartilhada” (artigo 5º do Decreto nº 40.232).

Os Núcleos de Inserção Produtiva oferecem oficinas de capacitação para

qualificar e reinserir os usuários no mercado de trabalho ou numa atividade de

geração de renda. Nessa rede, as oficinas são mais dirigidas para um trabalho com

material reciclado. Apesar da denominação e do convênio recente com a SMADS,

boa parte desses serviços já existiam. Alguns deles, inclusive, já trabalham no

formato de cooperativas de catadores de material reciclável desde a década de 90.

Quanto ao Núcleo de Serviços com Capacitação Técnica , a rede

socioassistencial dispõe de um único serviço, que oferece cursos nas áreas de

construção civil, elétrica, pintura, manicure e cabeleireiro, conhecido como

SASECOP (Serviço de Apoio Socioeducativo de Capacitação e Orientação

Profissional) mantido pelo convênio da SMADS com a organização social Instituto

Ligia Jardim.

O Projeto Atenção Urbana – Espaço de Convivência criou novas

modalidades de serviço objetivando a reintegração familiar e o convívio comunitário

de pessoas adultas em situação de rua. O trabalho de abordagem direta de agentes

sociais e orientadores socioeducativos tem a intenção maior de atuar na

reconstrução da saída das ruas destes usuários que se integram aos serviços de

forma espontânea. Para tanto, utilizam-se de atividades de educação social e de

encaminhamentos para os demais serviços da rede. Estes se encontram todos

localizados na região central da cidade e dispõem hoje de espaços próprios como as

“tendas” montadas em lugares abertos e de fácil acesso a essa população.

Para fins de compor essa rede, outros serviços foram mapeados,

considerando que funcionam de forma a integrar todos os demais:

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• Central de Atendimento Permanente e de Emergência – CAPE - Esse

serviço de transporte, que funciona 24 horas por dia, tem como proposta

o atendimento às solicitações provenientes de qualquer cidadão da

cidade de São Paulo referentes às pessoas em situação de rua, para

encaminhamento efetivo destas aos centros de acolhida e aos serviços de

saúde, se necessário. Quando acionado, o transporte se dirige ao local

com agentes especializados, que abordam as pessoas em situação de

rua para acolhimento e encaminhamento. Durante o período de inverno,

essa rede através do CAPE intensifica suas ações na conhecida

Operação de Baixas Temperaturas . Neste período, a maioria dos

centros de acolhida já disponibiliza um número definido de vagas para o

CAPE;

• Central de Atendimento Telefônico Ininterrupto – CA TI - Esse serviço

telefônico, que funciona também 24 horas por dia, realiza um trabalho

integrado ao CAPE para abordagem e encaminhamento da população em

situação de rua para a rede de serviços socioassistenciais;

• Sistema Integrado de Informações da População de Ru a – SISRua –

Esse canal eletrônico computadorizado de informações funciona

conectado a diversos serviços da rede através de senha, com a finalidade

de cadastrar o usuário e disponibilizar o maior número de informações

sobre ele e o atendimento realizado.

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Capítulo 4

A Rede de Atenção à População em Situação de Rua

na cidade de São Paulo

4. Resultados da Fase II, III e IV: Segundo utiliza ção da entrevista

semiestruturada, do Método Bola de Neve e Análise d e Redes

Sociais

4.1. As Entrevistas

Na utilização do método Bola de Neve, partimos de uma segunda entrevista

com a pessoa chave45, organizador do Fórum Permanente de Acompanhamento das

Políticas Públicas da População em Situação de Rua (ponto de partida 1) e uma

primeira entrevista com a pessoa-chave, coordenadora de um serviço de acolhida

especial da Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS46 (ponto de partida 2),

no sentido de identificar a rede. Solicitamos, inicialmente, três informações visando à

caracterização do perfil do entrevistado, da sua organização e citação das atividades

desenvolvidas. Ao final, pedimos a indicação de três organizações sociais com as

quais mantinham mais contato naquele momento.

A indicação do primeiro ponto recaiu sobre duas outras organizações sociais e

um movimento social de população em situação de rua. Já a indicação do segundo

ponto recaiu sobre três outras organizações sociais. Na sequência, procedemos da

mesma forma com cada um dos entrevistados e, ao final, chegou-se a um total de

treze organizações sociais e um movimento social que se relacionam nessa rede.

O método utilizado atingiu seus resultados e alcançou o objetivo da pesquisa quando

o “ciclo de indicação” fechou-se sobre si mesmo, sem a revelação de novos atores

sociais.

Sendo assim, foi realizado um total de 14 entrevistas semiestruturadas nesta

pesquisa. Essas foram realizadas de duas formas: metade pessoalmente e metade

45 Coordenador e editor do Jornal “O Trecheiro – Notícias do Povo de Rua” da Associação Rede Rua e organizador do Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da População em Situação de Rua. 46 Coordenador de um Centro de Acolhida Especial referência para os demais serviços da Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS pelo tipo de atendimento prestado.

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por contato telefônico, por solicitação dos sujeitos indicados, sem implicação na falta

de informações do roteiro. Todas as entrevistas foram gravadas em meio digital,

conforme autorização destes, inclusive as realizadas por telefone.

Dentre os 14 entrevistados, 6 (50,00%) exerciam a função de coordenadores

de serviços no interior da organização social, 6 (42,85%) prestavam serviço técnico

profissional e 1 (7,15%) era secretário executivo da organização.

Quanto à escolaridade, 10 informaram ter o terceiro grau completo: Filosofia e

Jornalismo (1), Pedagogia e Teologia (1), Serviço Social (8), dentre os quais 2

exerciam a função de coordenadores de serviços e 6 exerciam função técnica

profissional.

4.2. Caracterização das Organizações Sociais e do M ovimento Social

� Fundação das organizações sociais e do movimento so cial

Conforme o ano de fundação, das 13 organizações sociais, 8 (57,14%) foram

criadas entre as décadas de 20 e 70, antes do processo de democratização do

Estado Brasileiro com a promulgação da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, conforme tabela 4, abaixo. Duas dessas (14,28%) nasceram

exatamente neste período de grande mobilização política. A partir da década de 90,

surgiram 3 novas organizações sociais e foi fundado o Movimento Nacional de

População em Situação de Rua, o mais recente em 2004, após o marco histórico

referido como o “Massacre da Sé” (Agosto de 2004).

Tabela 4 – Organizações sociais e movimento social entrevistados

segundo década de fundação. São Paulo, 2010.

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ORGANIZAÇAO SOCIAL ANO DE FUNDAÇÃO PERIODO Nº

ORG %

Sociedade Beneficente São Camilo 1923

Associação Evangélica Beneficente 1928

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto 1946

Organização do Auxilio Fraterno 1955

Grupo Espírita Batuíra 1964

Coordenadoria Regional das Obras de Promoção Humana 1972

Catedral Metodista de São Paulo 1978

Instituto Ligia Jardim 1978

DECADA DE 20 A 70 8 57,14%

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos 1988

Serviço Franciscano de Solidariedade 1988

DECADA DE 80

2 14,28%

Associação de Auxilio Mútuo da Região Leste 1993

Associação Reciclázaro 1997

Associação Rede Rua 1998

Movimento Nacional de População de Rua 2004

DECADA DE 90 E

2000 4 28,58%

TOTAL 14 100,00

Com relação ao ano de fundação das organizações e movimentos, e com a

utilização de tipologia definida neste estudo, que reforça os estudos de Rosa (1994),

considerou-se, conforme pode ser visto na tabela 5 abaixo, que: 71,42% (10) são

organizações tradicionais e 28,58% (4) são novas.

Foram denominadas de organizações tradicionais aquelas que, fundadas

nas décadas anteriores até o final dos anos 80, realizavam atividades que

apresentavam um caráter assistencialista predominante de acordo com o

entendimento daquela conjuntura. Segundo Rosa (2005), as relações institucionais

estabelecidas na época reforçavam a subordinação e dependência, por meio da

submissão às regras e normas na maioria das vezes abusivas, impondo certos

modos obedientes de comportamentos, cujos programas reiteravam ações

conservadoras e preconceituosas de caráter emergencial e assistencialista,

conduzidas de forma autoritária e infantilizadora da população em situação de rua

(p.173).

Tabela 5 – Número de organizações sociais entrevist adas por tipo:

tradicional e nova. São Paulo, 2010.

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ORGANIZAÇAO SOCIAL E MOVIMENTO SOCIAL ANO DE FUNDAÇÃO Nº % Tipo

Sociedade Beneficente São Camilo 1923

Associação Evangélica Beneficente 1928

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto 1946

Organização do Auxilio Fraterno 1955

Grupo Espírita Batuíra 1964

Coordenadoria Regional das Obras de Promoção Humana 1972

Catedral Metodista de São Paulo 1978

Instituto Ligia Jardim 1978

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos 1988

Serviço Franciscano de Solidariedade 1988

10 71,42

OR

GA

NIZ

ÕE

S T

RA

DIC

ION

AIS

(déc

ada

de 2

0 a

60)

Associação de Auxilio Mútuo da Região Leste 1993

Associação Reciclázaro 1997

Associação Rede Rua 1998

Movimento Nacional de População de Rua 2004

4 28,58

OR

GA

NIZ

A-

ÇÕ

ES

N

OV

AS

(déc

ada

de 9

0 a

2000

)

TOTAL 14 100,00

Apesar de denominadas tradicionais, algumas podem ser consideradas

“renovadas” , como a OAF, por terem passado por um processo interno de

modernização das ações. Segundo (Vieira et al, 1994), a OAF que já trabalhava com

a população em situação de rua através dos albergues modelos e oficinas abrigadas

dentre outros projetos, questionou sua prática institucional, num momento em que a

Igreja renovada fez a opção pelos pobres numa perspectiva crítica e libertadora.

Nesse movimento, fechou todos os seus serviços e partiu ao seu reencontro com a

rua, junto ao apoio das Comunidades Eclesiais de Base, colaborando com a criação

da Casa de Oração (p.141).

O depoimento de uma das pessoas entrevistadas retrata bem este momento:

“O incentivo de uma avaliação mais profunda do trabalho social foi quando Dom Paulo, Cardeal da Arquidiocese de São Paulo nos instigou a criar no centro um “pueblo” diferente dos criados na periferia. Verificamos que não adiantava focar a pessoa no universo do trabalho por que muitos estavam na rua por rejeitarem trabalho ou porque lhe faltavam necessidades mais básicas. Essa discussão levou a organização da entidade a repensar os projetos e renovar. O problema que mais aparecia é que na rua não é só o desemprego a questão central, mas a desestruturação familiar, o êxodo rural e regional, a doença mental. Realmente tem muita coisa. Um das alavancas para os novos projetos foi a questão espiritualista. Começamos a fazer um círculo de leitura bíblica e começamos a avaliar junto aos vários técnicos dos projetos. Verificamos que precisávamos começar tudo do zero.

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Naquela época a OAF era referência e ninguém entendeu nossa mudança baseada muito nos ensinamentos de Paulo Freire. Continuamos somente com o trabalho na rua e recomeçamos com um quadro de pessoal reduzido conforme decisão da Fraternidade apoiada pela Diretoria. Ai então fomos pra rua para sermos treinados. Fomos criando programas na rua para essas pessoas participarem. Acompanhamos a Missão do Povo da Rua para dar visibilidade a essa população politicamente. Fomos discutindo que a problemática não era individual, mas da conjuntura, de uma estrutura. Era necessário um trabalho conjunto na perspectiva da autonomia. Por isso (nos anos 80) começamos um trabalho com os catadores da região e isso teve um desdobramento em associação, depois em cooperativa e depois um trabalho com outras cidades, Belo Horizonte, por exemplo, até chegar ao Movimento Nacional dos Catadores” de hoje (coordenação da OAF, 2010).

A partir de 1989, as antigas organizações que tinham influência da Igreja

Católica foram estimuladas pela própria Arquidiocese de São Paulo, para

desenvolver um trabalho novo, numa perspectiva de autonomização da população

em situação de rua, levando as entidades recém-criadas, na década de 90, a

seguirem também a mesma linha. Essas foram classificadas como organizações

novas.

É importante ressaltar que neste período, os primeiros convênios com a

Prefeitura de São Paulo foram também estabelecidos por meio das novas

modalidades de serviços conhecidas como “Casas de Convivência”, incorporando

uma pluralidade de organizações orientadas por outras religiões: metodista,

presbiteriana, evangélica e espírita. Essas novas modalidades já eram utilizadas por

organizações tradicionais como a OAF.

No depoimento a seguir, podemos verificar os tipos de organizações citadas

na relação de convênio com o poder público:

“Acho que tem organizações que deveríamos estabelecer certo critério, pois não tem historicamente uma preocupação com a realidade da população de rua que as organizações históricas têm, pois nasceram independentes do convênio com a Prefeitura. Já essas novas organizações que entraram a menos de 10 anos tem um trabalho somente por conta de um convênio estabelecido. Duas pelo menos que eu sei, tem um trabalho com moradia e viram na população de rua uma possibilidade de aumentar o seu espectro político. Temos desconfiança sobre isso, mas não temos nenhum indicativo concreto” (Coordenador da Associação Rede Rua).

Fica evidente em Rosa (2005) que somente a partir de 1993, as organizações

sociais, mesmo dependentes de verbas públicas, procuraram inovar de forma a não

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“reiterar as ações imediatistas ligadas a higiene e alimentação destituídas de

conteúdo de natureza socioeducativa” até então mantidas (p.174). O marco

importante citado em sua análise neste período foi a retomada das discussões sobre

o atendimento à população em situação de rua entre as organizações sociais e a

Câmara Municipal de São Paulo em 1993, partindo do documento formulado em

Abril de 1992 - Proposta de Criação de Dotação Orçamentária - que resultou na Lei

12.316/9747.

� Localização das sedes e dos serviços das organizaçõ es sociais por

Coordenação de Assistência Social

Verifica-se, na tabela 6 abaixo, que a maior parte das sedes das organizações

encontra-se na região compreendida pela Coordenadoria de Assistência Social

Centro-Oeste (CAS Centro - Oeste). Essa coordenadoria envolve a área de quatro

subprefeituras da cidade de São Paulo: Sé, Lapa, Pinheiros e Butantã, sendo que

em cada uma delas existe pelo menos um Centro de Referência da Assistência

Social – CRAS48.

Tabela 6 – Localização das sedes das organizações s ociais

entrevistadas por CRAS do CAS Centro Oeste. São Pau lo, 2010.

47 A Lei nº 12.316, de 16 de abril de 1997, que dispõe sobre a obrigatoriedade do Poder Público Municipal a prestar atendimento à população de rua da Cidade de São Paulo, e dá outras providências, foi regulamentada pelo Decreto Nº 40.232 de 02 de Janeiro de 2001. 48 Conforme Decreto nº 50.365, de 30 de Dezembro de 2008 que dispõe sobre a criação da Coordenadoria Geral de Assistência Social – COGEAS da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social; transfere as Supervisões de Assistência Social das Subprefeituras; altera a denominação e lotação de cargos de provimento em comissão, bem como extingue a Coordenadoria de Atenção à População em Situação de Rua - COPSRua, criada pelo Decreto nº 49.545, de 29 de maio de 2008.

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ORGANIZAÇAO SOCIAL E MOVIMENTO SOCIAL DISTRITOS CRAS Nº %

Movimento Nacional de População de Rua Sé Sé

Associação Rede Rua Brás Sé

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos Bom Retiro Sé

Organização do Auxilio Fraterno Sé Sé

Associação Evangélica Beneficente Consolação Sé

Serviço Franciscano de Solidariedade Sé Sé

Catedral Metodista de São Paulo Liberdade Sé

Associação de Auxilio Mútuo da Região Leste Santa Cecília Sé

Instituto Ligia Jardim República Sé

9 64,28%

Associação Reciclázaro Lapa Lapa

Grupo Espírita Batuíra Perdizes Lapa

Sociedade Beneficente São Camilo Perdizes Lapa

3 21,42%

Coordenadoria Regional das Obras de Promoção Humana Santana Santana 1 7,15%

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto Belém Mooca 1 7,15%

TOTAL 14 100,00

Ao vislumbrar o Mapa 1, apresentado abaixo, verifica-se que a maior parte

(64,28%) das organizações entrevistadas mantém sua sede e pelo menos um

serviço de referência prestado na região do CRAS Sé, especialmente nos distritos

de Sé, Brás, Bom Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade, Santa Cecília e

República.

Identificam-se ainda três sedes das organizações sociais na região do CRAS

Lapa, também sob Coordenação do mesmo CAS Centro-Oeste, uma sede próxima

ao CRAS Mooca (CAS Sudeste) e outra sede na área de abrangência do CRAS

Santana (CAS Norte).

Quanto aos serviços, apenas três são encontrados na região Sudeste da

cidade.

No que se refere ao Movimento Nacional da População em Situação de Rua,

apesar de não dispor de serviços conveniados com a Prefeitura, mantém uma sede

atuante na região da Sé.

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Mapa 1 – Organizações sociais entrevistadas e servi ços de referência

que trabalham com a população em situação de rua na região central da cidade

de São Paulo. São Paulo, 2010.

Fonte: Google Maps 49 LEGENDA:

Organizações Sociais: Sede

Movimento Social

Serviço de referência prestado

Ponto de Referência: Sé

� Número de serviços conveniados entre as organizaçõe s sociais e a

SMADS na Coordenação de Assistência Social Centro-O este

49 O Google Maps do Brasil dispõe de uma ferramenta que permite a criação de mapas personalizados por qualquer usuário que tenha login numa conta do Google.

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Considerando o mapeamento geral inicial da Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS (item 4.1.3); dos 34 serviços prestados de atenção à

população em situação de rua na região centro-oeste da cidade de São Paulo,

67,64% (23) estão sendo realizados pelas organizações sociais entrevistadas, como

pode ser visto na tabela 7 abaixo.

Dentre estes 23 serviços, 34,78% (8) são convênios da organização social

Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste – Apoio com a SMADS e 17,40% (4)

da Organização do Auxílio Fraterno - OAF.

Tabela 7 – Número de serviços conveniados entre as organizações

sociais e a SMADS na CAS Centro- Oeste. São Paulo, 2010.

ORGANIZAÇAO SOCIAL E MOVIMENTO SOCIAL

NÚMERO DE SERVIÇOS

CONVENIADOS COM A SMADS -

CAS CENTRO OESTE

%

Associação de Auxilio Mútuo da Região Leste 8 34,78

Organização do Auxilio Fraterno 4 17,40

Coordenadoria Regional das Obras de Promoção Humana 2 8,69

Associação Evangélica Beneficente 2 8,69

Instituto Ligia Jardim 2 8,69

Associação Rede Rua 1 4,35

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos 1 4,35

Serviço Franciscano de Solidariedade 1 4,35

Grupo Espírita Batuíra 1 4,35

Catedral Metodista de São Paulo 1 4,35

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto 0 0

Sociedade Beneficente São Camilo 0 0

Associação Reciclázaro 0 0

TOTAL 23 100,00

Importante referir que três organizações sociais citadas, Centro Social Nossa

Senhora do Bom Parto, Sociedade Beneficente São Camilo e Associação

Reciclázaro não dispõe de nenhum serviço conveniado com a SMADS no CAS

Centro-Oeste, apenas no CAS Sudeste que compreende as Subprefeituras da

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Mooca, Aricanduva/Formosa/Carrão,Penha, Ipiranga, Vila Mariana, Jabaquara e Vila

Prudente/Sapopemba, conforme Decreto nº 50.365, de 30 de Dezembro de 2008.

� Aspecto Confessional das organizações sociais

Com base nos princípios, objetivos e forma de atuação das organizações

sociais entrevistadas identificou-se que 76,92% (10) são confessionais

predominando as ligadas a religião católica (5), seguidas de duas espíritas, uma

metodista, uma evangélica e uma ecumênica, fundada pelas Igrejas Católica,

Metodista e Luterana, conforme Gráfico 1:

Gráfico 1 – Quantidade de organizações sociais conf essionais por tipo

de religião. São Paulo, 2010.

Foi afirmado durante as entrevistas que apesar do aspecto confessional de

sua origem, as ações desenvolvidas pelas organizações sociais apresentam um

trabalho de caráter mais social do que religioso e de evangelização. Esse aspecto foi

ressaltado na entrevista do coordenador da Associação da Rede Rua ao comentar a

atuação das organizações sociais ligadas à Igreja Católica:

“A influência da Igreja Católica se dá, mas de diversas formas diferentes. Seria uma mesma igreja com duas ações diferenciadas. Diria até que é outra igreja católica (risadas). Eu identifico duas grandes linhas com uma “lupa bem grande”: uma linha mais espiritualista e uma linha mais social preocupada com as questões sociais. Essa organização que esta mais dentro da Pastoral e do Fórum Permanente é uma linha mais engajada socialmente. Sua preocupação, sua missão é entendida como uma ação social. Já a outra linha trabalha numa ação espiritualista em que tem que

50,00%

20,00%

10,00%

10,00%

10,00%

Católica

Espírita

Metodista

Evangélica

Grupo (Católicos, Metodistas e Luteranos)

TOTAL: 10 ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

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“aceitar Jesus”. Na linha social independe sua crença. A Pastoral ligada a uma ação social tem um vínculo com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), por isso se articulou nacionalmente e teve um peso muito grande na construção da política nacional” (Coordenador da Associação Rede Rua).

� Constituição Formal

Exceto o movimento social, que ainda não dispõe de estrutura jurídica formal,

constatamos que as 13 organizações sociais entrevistadas estavam inscritas no

Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ, sendo 2 na qualidade de

associações e 11 como organizações sociais. Conforme outra consulta realizada

junto ao Sistema de Informação do Conselho Nacional de Assistência Social –

SICNAS na Rede SUAS 50, verificamos que 11 estavam registradas no Conselho

Nacional de Assistência Social – CNAS e apenas 9 possuíam Certificado de

Entidade Beneficente de Assistência Social – CEBAS, concedido pelo CNAS, sendo

7 na área de Assistência Social e 2 não enquadradas em nenhuma área.

Durante a entrevista, 12 organizações, tendo sido apresentadas à Tabela de

Classificação Internacional de Organizações Sem Fins Lucrativos da EAESP/FGV51

(anexo 2) sobre o terceiro setor, se autoclassificaram no item 4 como organizações

filantrópicas, sem fins lucrativos,52 dedicadas à área de Serviços Sociais e 1 não

soube se autoclassificar.

50Fonte: http://www.mds.gov.br/cnas/. (Relação de Entidades Certificadas no CNAS e Relação de Entidades Registradas no CNAS - dados disponíveis de Agosto de 2009). 51 Fonte: Mapa do Terceiro Setor – Centro de Estudos do Terceiro Setor da EAESP/FGV. 52 As organizações filantrópicas são entidades privadas, sem finalidade lucrativa, que gozam de regime fiscal diferenciado (Brasil, 1988, artigo 150, VI, alíneas c, parágrafo 4º) e de preferência como prestadoras de assistência nas áreas de Saúde, Assistência Social, Educação, Habitação dentre outras.

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� Atividades desenvolvidas

Segundo os entrevistados, eles desenvolviam 21 tipos de atividades que

estão apresentadas na tabela 8 abaixo, por ordem decrescente de frequência.

As atividades mais referidas foram a prestação de atividades socioeducativas

(92,85%), o atendimento social por assistentes sociais (78,57%), a oferta de centros

de acolhida (57,14%) e as relacionadas à conscientização, mobilização e

organização na luta por direitos e intervenção em políticas públicas (42,85%).

Especificamente sobre o Movimento Nacional de População em Situação de

Rua que não presta serviços, este referiu realizar atividades de comunicação,

conscientização, mobilização e organização na luta por direitos e intervenção em

políticas públicas e educação popular, por meio de seus membros, principalmente

nos diversos espaços coletivos de discussão da política pública e nos serviços das

organizações sociais.

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Tabela 8 – Número de organizações sociais entrevist adas por atividade

prestada nos serviços de referência da região Centr o- Oeste. São Paulo, 2010.

ATIVIDADES PRESTADAS PELOS SERVIÇOS

NÚMERO DE ORGANIZAÇÕES QUE REFERIRAM

A ATIVIDADE

%

Atividades socioeducativas 13 92,85

Atendimento social 11 78,57

Oferta de Centro de acolhida 8 57,14

Conscientização, mobilização e organização na luta por direitos e intervenção em políticas públicas 6 42,85

Oferta de República/Moradia Provisória 4 28,57

Formação de Associação/Cooperativa/Projeto/Núcleo de Catadores de Material Reciclável

4 28,57

Oferta de Oficina-escola/Núcleo produtivo (capacitação e geração de renda) 4 28,57

Oferta de Centro de Formação Profissional e Educação Ambiental 4 28,57

Atendimento psicológico/fonoaudiológico/fisioterapeuta 4 28,57

Oferta de Centro de acolhida especial 4 28,57

Atendimento médico (clinico geral/psiquiátrico) 3 21,42

Oferta de Centro de convivência 2 14,28

Oferta de Centro de convivência com restaurante comunitário 2 14,28

Oferta de Hotel Social/Condomínios 2 14,28

Comunicação 2 14,28

Atendimento jurídico 1 7,15

Alfabetização de adultos 1 7,15

Educação Popular 1 7,15

Organização em movimento social 1 7,15

Gestão de Programa de Saúde 1 7,15

Venda de produtos de fabricação própria; 1 7,15

4.3. Compreensão dos entrevistados sobre redes soci ais e a sua

participação nelas

Para compreender o entendimento dos entrevistados sobre redes sociais e

sua participação numa rede ou fórum de discussão relacionado à população em

situação de rua, optou-se pela análise de conteúdo das 14 entrevistas realizadas por

meio da aproximação de temáticas comuns e relevantes, presentes nas falas.

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� Compreensão sobre outras organizações sociais que t rabalham com a

população em situação de rua

Todos os entrevistados referiram que conhecem outras organizações sociais

que trabalham com a população em situação de rua na cidade de São Paulo.

Alguns, como os coordenadores da Associação Rede Rua e do Movimento

Nacional, estimaram conhecer um total próximo a 35 organizações que realizam

algum tipo de trabalho com essa população, sendo conveniadas com o poder

público e organizadas juridicamente. Referem ainda que esse número mostra-se

maior e chega a a aproximadamente 100, quando são considerados os trabalhos

pontuais realizados por grupos religiosos ou de amigos, ou mesmo por entidades da

religião espírita com finalidades de doação de alimentos, serviços de higiene (corte

de cabelo e barba) e de saúde (realização de pequenos curativos).

Os entrevistados reconhecem que existem diversos serviços com perfis

diferenciados de atuação, que complementam a atenção à população em situação

de rua, principalmente atrelados a Rede de Atendimento Socioassistencial da

SMADS. Na fala da assistente social da organização Apoio, este reconhecimento

fica claro:

“Sim, conheço várias ligadas à rede da proteção especial da SMADS. Conheço como Rede Socioassistencial. Estes serviços dependem do perfil do usuário. Existem serviços de porta de entrada, os que acolhem no período de desenvolvimento da autonomia e as moradias provisórias quando os usuários já apresentam condições de sair da situação da rua e assumir sua própria vida. As portas de entrada seriam os albergues, depois vem os centros de acolhida como hotéis sociais e depois vêm as moradias provisórias (repúblicas), onde os usuários participam da gestão e já assumem responsabilidades na manutenção de sua renda. Realizo muitos encaminhamentos para as moradias da AEB e OAF, com quem fiz convênio recentemente” (Assistente Social da Apoio).

Apesar da Rede de Atendimento Socioassistencial ter sido citada, pela

maioria dos entrevistados, como o principal meio de aproximação com outras

organizações sociais que atuam com o mesmo público alvo, o Fórum Permanente

de Acompanhamento das Políticas Públicas da População em Situação de Rua

também foi mencionado por três entrevistados. Diversas outras formas foram

referidas ainda como o contato entre serviços através dos Serviços Sociais

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existentes, para encaminhamento direto do usuário e o contato entre as

coordenações das organizações, através dos fóruns de luta por direitos sociais e das

atividades promovidas pelo Movimento Nacional de População em Situação de Rua.

As parcerias informais entre as organizações sociais mostram-se importantes

no trabalho de atenção à população em situação de rua como pode ser visto em um

dos depoimentos:

“Isso porque precisamos de parcerias inclusive com serviços diferenciados dos nossos para atender nossos idosos dependentes, sem familiares, adoecidos. Um exemplo disso são as instituições de longa permanência que não tem na prefeitura. Por isso busco fora da rede conveniada de modo informal sim. Temos um contato bom também com o Conselho do Idoso pelo recorte que fazemos: população idosa em situação de rua. Essa participação externa é importante pelos contatos. Na nossa organização há bastante a presença das universidades. No caso o pessoal da USP Leste do Curso de Gerontologia (coordenado por Marisa Accyoli) faz estágio aqui. Isso acabou se tornando uma parceria até com a SMADS. No entanto isso se dá de modo muito pessoal, informal. Veja que as parcerias são muito importantes, pois nem a rede da prefeitura e nem a rede da própria ONG mostra-se suficiente em recursos sociais. Fomos atrás também de parceria com o SENAI para o curso de informática e em contrapartida seus formandos faziam estágio aqui na nossa padaria escola ensinando os conviventes daqui. Vamos realmente atrás do que existem na região e na comunidade em termos de recursos para dar respostas as necessidades desses idosos em situação de rua”. (Assistente Social da Reciclázaro)

Por outro lado, uma característica ressaltada por um dos entrevistados, que

merece destaque, é que as organizações sociais que trabalham com a população

em situação de rua e que se conhecem, não conseguem realizar um trabalho

compartilhado na rua de atenção específica, nem conseguem responder totalmente

às verdadeiras necessidades sociais dessa população:

“(...) não é fácil organizar um trabalho das organizações assim como não é fácil organizar um trabalho na rua, por que cada organização vem com seu interesse. Temos que fazer algo que responda a população da rua e não o que queremos. Será que estamos respondendo hoje ao povo da rua? Não posso dar trabalho, não posso dar moradia, mas acredito que o caminho é o que começamos a fazer com a conscientização da sociedade em relação a essa realidade e ao mesmo tempo a conscientização de embate em relação ao poder público. No fundo a rede mostra a necessidade de organização para responder ao povo da rua e ao mesmo tempo fazer a pressão encima de quem podemos fazer. A organização pode fazer pequenos insights de trabalho de geração de renda, mas não resolve o problema de desemprego, por exemplo” (Coordenadora da OAF).

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� Compreensão sobre fazer parte de uma rede social

Todos os entrevistados referiram fazer parte de uma rede social relacionada

ao segmento população em situação de rua. Somente dois entrevistados

mencionaram fazer parte de outras redes que dispõem de atenção específica ao

idoso e à questão de pessoas em situação de moradia precária (favelas e cortiços,

principalmente).

As redes sociais mais relacionadas foram a Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS e a rede formada pelas organizações que promovem o

Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da População em

Situação de Rua.

Considerada como uma rede política do poder público, com o objetivo de

prestar atendimento à população em situação de rua, a Rede de Atendimento

Socioassistencial, formada por serviços de organizações sociais conveniadas com a

SMADS, foi referida pelos entrevistados como uma rede de encaminhamento de

usuários organizada pelo Serviço Social:

“Fazemos parte da rede de serviços da SMADS. Sempre estamos trocando. Quando precisamos encaminhar um usuário para outro serviço utilizamos essa rede através de contato telefônico. Independe de ser da mesma organização e do mesmo Centro de Referencia da Assistência Social – CRAS. Os CRAS se movimentam de um para o outro. Nos dos equipamentos fazemos o contato direto com outro técnico. Geralmente essa rede funciona mais com a coordenação dos projetos ou organizações. Não há muita burocracia. Se houver vaga e um colega (assistente social) solicita providenciamos a liberação o quanto antes. Há uma ajuda mutua” (Assistente Social da CROPH).

“(...) realizamos articulação da rede de apoio social e de saúde promovendo encaminhamento aos equipamentos visando à continuidade do trabalho iniciado na Casa de Cuidados. Já fizemos parte da Rede Bela Vista e das reuniões referentes a um projeto conhecido como SASECOP - mantido pelo Instituto Ligia Jardim junto a SMADS, mas atualmente não temos freqüentado tais redes, por isso temos mantido contatos mais individualizados, pontuais com as instituições para garantir o encaminhamento dos nossos usuários. Fazemos parte sim da Rede de Serviços da SMADS” (Coordenadora de Serviço do Grupo Espírita Batuíra).

“Sim acredito fazer parte de uma rede social, especialmente faço parte da rede socioassistencial da proteção social da SMADS, como um centro de acolhida onde trabalho a autonomia do usuário. Seria um trabalho de saída da rua. Contamos muito com os encaminhamentos da rede, pois cada usuário tem um prazo estipulado de permanência nos serviços desde que

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entra até quando conseguimos realmente efetivar sua saída da rua. Mantenho muito contato com os serviços de albergue próximos na região (Assistente Social da organização APOIO).

As entrevistas revelaram ainda sobre essa rede de atendimento alguns entraves:

• Comunicação truncada entre os serviços para instigar parcerias quanto ao

encaminhamento de usuários da rede, pois somente ocorre entre os que

apresentam o mesmo perfil e afinidade, ou estão sob a mesma gestão da

organização social;

• Menos encaminhamentos formais entre todos os serviços da rede, pois a

formalização ocorre, em parte, entre os que estão na mesma região e sob

a supervisão da mesma organização social ou da mesma Coordenadoria

de Assistência Social – CAS;

• Pouca participação das organizações sociais que dispõem de muitos

serviços conveniados com a SMADS nos fóruns de discussão da política

pública da população em situação de rua, o que dificulta a organização do

trabalho na rua entre as mesmas;

• Dificuldade de interlocução entre as organizações sociais e o poder

público, principalmente relacionada à discussão sobre repasse de verbas

do convênio, reajustes das verbas, reorganização dos serviços existentes

dentre outros, ocasionando o fechamento de serviços e a diminuição de

postos de trabalho;

• Falta de consonância com a política pública e com a própria população

em situação de rua, pois as organizações sociais que fazem parte desta

encontram-se isoladas, com pouca comunicação entre si e trabalham sob

interesses e ideais diferenciados;

• Dificuldade em lidar com a problemática de inserção de usuários com

problemas de saúde mental e drogadependência nos serviços da rede.

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Conforme análise de um dos entrevistados, esta rede de serviços, que ainda

está em construção, começou a se estabelecer apenas no final da década de 90,

principalmente através de um sistema informatizado, denominado de “SISRUA”,

pensado pelas organizações sociais de forma a integrar todas as informações sobre

a população em situação de rua usuária dos serviços. Entretanto, relata que esse

sistema tornou-se uma ferramenta de controle do poder público sobre essas

informações.

“Apesar de não entender o conceito de rede digo intuitivamente que temos uma rede de serviços em prol da população de rua que está sendo construída. Passamos a falar desta rede com mais clareza a partir de 2000. Já vínhamos falando antes, mas em 2000 viemos estabelecendo alguns elementos de rede como a idéia do SISRUA que era um sistema pensado por nós em que todas as organizações estivessem integradas com todas as informações sobre a população de rua num sistema de informática virtual. A partir daí a idéia de rede mostrou-se presente pelo ideal que tínhamos dessa rede possibilitar troca de informações entre as organizações para mapear as ações e ter uma gestão coletiva. Mas infelizmente as coisas não andaram como idealizamos, pois o SISRUA acabou virando um sistema, uma ferramenta de controle do poder público especificamente da Prefeitura” (Coordenador da Associação Rede Rua).

Quanto à rede, formada em prol do Fórum Permanente, esta foi considerada

pelos entrevistados uma rede em construção e recente, objetivada para a discussão

da política pública nacional da população em situação de rua e para fomentar o

protagonismo dessa população na implementação da política. Nos depoimentos dos

entrevistados fica evidente o objetivo e a formação dessa rede:

“Sobre o Fórum Permanente, este tem uma perspectiva mais de ser uma rede de implementação e acompanhamento da política pública. Antes desse já tínhamos o Fórum das Organizações do qual faço parte, assim como o “Fala Rua” que acompanhei a criação, enquanto um espaço específico da própria população de rua. (...) No caso vejo o Movimento e os Fóruns Estaduais, muito representados por organizações também. O Fórum Permanente neste momento responderá pelo Estado de São Paulo no Fórum Nacional. (...) Por conta da discussão da política nacional começamos a nos reunir, fizemos seminários, nos relacionamos com o pessoal do ministério e então fomos criando o Fórum Permanente que tem um caráter muito mais de implementação e acompanhamento da política pública nacional e de certa forma induziu e induz a uma discussão local. O Fórum foi se consolidando nessa produção da lei que foi coletiva por incorporar as organizações, os serviços, a população de rua, os especialistas e as pessoas da academia. A política foi uma construção muito profunda. Foi muito estudada. Depois que se faz um trabalho desta natureza você mobiliza e tem um grupo mobilizado que continua nessa perspectiva de se organizar em função da cidade, mas ao mesmo tempo também de estar dialogando com esse comitê e esse fórum, os nacionais” (Coordenadora da OAF).

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“É uma rede para criar força, para ter a população como sujeita do processo e discutir sobre políticas públicas que no momento estão muito flutuantes. Isso porque cada secretário que entra inventa uma política. Não há políticas permanentes que eu diria de Estado. Agora por ser um ano eleitoral todas as subprefeituras estão mudando de dirigentes. Hoje vivemos uma grande dificuldade de interlocução com o poder público” (Secretário Executivo do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos). “Sobre fazer parte de uma rede, acredito sim. Faço parte apesar de haver falhas no Fórum Permanente. Este congrega o movimento, entidades, academia, sindicato e se reúnem mensalmente.(...) Os principais objetivos do Fórum Permanente é discutir, propor e implementar a política nacional da população de rua. Tem três papeis: saber o que esta acontecendo com as organizações, com a população de rua e se a política publica criada para essa população está de fato acontecendo” (Coordenador do Movimento Nacional da População em Situação de Rua).

Um dos entrevistados ressalta possibilidades dessa rede, de forma a

concretizar uma ação intersetorial e desconsiderar um personalismo na sua

estrutura:

“O grande objetivo desta rede, Fórum Permanente é possibilitar uma política efetiva. Entendo que ao firmar esta rede tenho condições de possibilitar uma política mais efetiva. Entendo uma rede efetiva aquela que tem uma ação intersetorial, seja transversal, que mescle as várias necessidades das pessoas que querem sair da rua e dêem possibilidades de acesso a serviços para isso na Saúde, Educação, Assistência Social, enfim responda a integralidade da vida dessas pessoas para que tenham uma vida digna inclusive permanecendo na rua. Outro objetivo é a articulação. Este fórum deve ser capaz de articular os serviços e as organizações para promover o primeiro objetivo referido. Há uma questão importante a ser considerada que é sobre o personalismo na rede. Apesar de ter isso hoje na rede, a idéia é que aos poucos a rede funcione independente de quem esteja. Inclusive desejamos que essa rede funcione independe de que partido esteja no poder. Isso é um longo caminho a ser percorrido. No momento essa personalização tem sido importante na sua construção pois depende de pessoas comprometidas, mas sabemos que precisamos formá-la impessoal numa estrutura que independa de quem esteja na coordenação. Importante também que seja capaz de se reproduzir para outros grupos para que este movimento continue. O grande segredo da rede é esse, de possibilitar a reprodução e o aprimoramento desta reprodução no sentido de sempre agregar coisas novas e positivas nesse trabalho” (Coordenador da Associação Rede Rua).

Outra característica apontada sobre essa rede é sua informalidade. Conforme

relata o Coordenador da Associação Rede Rua, “esta rede informal de amigos em

que fazem parte organizações que se identificam entre si, esta sendo formalizada no

“Fórum Permanente”. Neste fórum juntaram a população de rua e varias

organizações que são direta e indiretamente ligadas a essa população. Inicialmente

esta rede previa a participação do Ministério Público e da Defensoria, mas não

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conseguiram sua participação ainda, pelo pensamento elitista que detém. A

Defensoria até tem estabelecido algumas conversas, mas não tem ainda nada

formalizado. A idéia do Fórum Permanente sempre foi organizar o fórum de

organizações junto com o Movimento Nacional que nasceu em 2004 e outras

organizações parceiras numa rede formal”. Por outro lado, acrescenta ainda que

essa se encontra num processo inicial de formalização:

“(...) há muito que acontecer até porque ela hoje não tem uma estrutura formal. Este fórum permanente acontece informalmente com uma coordenação provisória, mas não tem nenhuma autonomia financeira e nenhuma força política, digo reconhecimento político. Esta rede tem um ano e meio (meados de 2008) e foi sendo construída em função da política publica. Não foi uma necessidade da força local que fez essa rede, mas a necessidade de discutir a política nacional. Ela vem se estabelecendo aos poucos e estamos no momento exato de definir se é isso mesmo que queremos. Pessoalmente muitas pessoas acreditam nesta rede, mas na pratica precisamos analisar se vai dar certo, pois depende muito da construção da política nacional de como ela vai se dando. Se o comitê da política nacional (aprovada em Dezembro de 2009) se firmar haverá a necessidade deste fórum permanente que articula uma rede de organizações”.

Para os entrevistados da Associação Rede Rua, OAF e AEB, essa rede não

somente articula os serviços conveniados com as SMADS, mas representantes das

próprias organizações sociais, que os mantém, bem como os demais fóruns

existentes (principalmente os Fóruns das Organizações Sociais e da Assistência

Social), o Movimento Nacional, os centros de direitos humanos e a própria

população em situação de rua para discutir a política pública nacional. Essa

articulação de pessoas foi possível pela “via ideológica, pela proximidade histórica

no trabalho com essa população e por questões metodológicas nesse trabalho”.

Essa rede difere neste momento do Fórum das Organizações, pois este último

somente articula a base das organizações pelos serviços prestados no dia a dia para

discussão sobre os convênios estabelecidos.

O Coordenador da Associação Rede Rua acredita que o Fórum Permanente

assumirá as questões existentes sobre os convênios com a SMADS no nível de

cidade, quando dispuser de representação estadual legitimada pelos seus membros.

Segundo seu depoimento, o Fórum ainda não tem essa representação, mas

pretende formalizar-se como:

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“De certa forma ele é considerado um fórum estadual de São Paulo. Em determinados momentos conseguimos trazer grupos de São Carlos, Assis, Campinas por exemplo. O que dificulta é a distância grande. Por isso a idéia ainda é a constituição em um Fórum Metropolitano com a presença de Osasco, Guarulhos e municípios do ABC paulista. Estamos avaliando isso, mas parece muito complicado. Talvez tenhamos que estabelecer um fórum estadual anual ou mesmo mensal. É necessária uma representação estadual para constituirmos o Fórum Nacional, que também ainda é muito embrionário e nasceu da articulação da Pastoral Nacional”. “(...) há sim alguns fóruns metropolitanos do que estaduais considerando sua composição de membros. Mas com certeza vai chegar o momento que vamos discutir a pertinência da representação, pois como vou me identificar como representante de um fórum de São Paulo se não está constituído formalmente? Como não há base não posso me intitular representante de São Paulo, somente do Fórum Permanente. Na verdade cada município deveria ter o seu representante ou organização responsável para indicar membros para o fórum estadual, mas a coisa não se dá tão pacificamente assim. Creio que nunca conseguiremos a representação de um estado de São Paulo completo, talvez consigamos umas 30 cidades participantes para estabelecer algo com encontros semestrais, pois o deslocamento tem um custo financeiro que pesa, alem da hospedagem”.

Um dos entrevistados refere que a gestão atual da Prefeitura de São Paulo é

que dificulta a participação de representantes de outros municípios no Fórum

Permanente:

“Entendo que quando criamos esse fórum permanente era com o intuito de criar uma rede capaz de incluir as organizações e falar o mesmo linguajar que elas, bem como incluir as universidades, o poder público no sentido de construção de uma política publica consoante com todos. Diria até um espaço em que as organizações pudessem estabelecer uma mesma regra, um mesmo regimento enquanto serviço de forma a criar uma mesma acessibilidade e condições de atendimento a população de rua, como o SUS. Pensamos nisso começando por São Paulo, mas outras cidades já aderiram no inicio como Guarulhos, Jacareí, Santo André, Campinas ao fórum permanente. Por isso o identificamos como um fórum estadual. Hoje só vemos Guarulhos, pois há muita dificuldade de participação dessas cidades pela gestão política atual” (Coordenador do Movimento Nacional da População em Situação de Rua).

Na relação com a política pública atual, os entrevistados da Associação Rede

Rua, OAF, AEB e Sefras concordaram que o Fórum Permanente mostra-se ainda

marginal, enquanto um movimento de resistência de um grupo pequeno de pessoas

que influenciam a política na relação com o poder público e já influenciaram muito

durante a construção do documento de referência, assinado em Dezembro de 2009,

pelo Governo Federal. Dessa forma, explicam que o grande desafio desse fórum é a

ampliação do leque de organizações participantes:

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“O grande desafio deste fórum inclusive discutido no ultimo encontro se trata da ampliação do leque de organizações. Por que não conseguimos levar o Ministério Público? Por que não conseguimos levar um grupo tão importante hoje como o das organizações que lidam com os recicláveis? O que acontece? As organizações Apoio e Santa Lucia que são grandes e tem muita influencia por que não participam? Até mesmo a organização tradicional “Bom Parto” que trabalha há um bom tempo com a população de rua, efetivamente participa atualmente com os agentes de saúde, mas da administração e pessoas que tem o poder de decisão, estas não participam. Outra questão que coloco é, e as outras redes? Porque os sindicatos não entram neste debate, inclusive o sindicato que trabalha com funcionários das entidades que tem convênio com a Prefeitura ou o próprio sindicato patronal. Por que não entram?” (Coordenador da Associação Rede Rua.)

Explicam a necessidade de um estudo aprofundado sobre a não presença

das grandes organizações que influenciam a política no Fórum Permanente.

Apontam apenas que as organizações sociais acreditam que as soluções estão

nelas e não na rede, o que inclui a não participação nos principais espaços como o

Fórum Permanente, o Fórum das Organizações e até mesmo o Fórum Nacional. O

Coordenador do Movimento Nacional acrescenta ainda que um dos motivos seria a

falta de consonância na discussão com o poder público. Refere que o esvaziamento

das organizações sociais nesses espaços criados ocorre pelo medo da exposição

diante da negociação com o poder público, o que não impede posicionamentos

contrários à iniciativa do poder público de criar serviços para essa população, na

lógica da exclusão e não da inclusão social na rede existente. Até mesmo

encaminha sua entrevista para a relação existente entre a gestão municipal, os

partidos políticos e as organizações, comprometendo a participação destas: “A partir

do momento que você tem uma gestão participativa e compartilhada as

organizações do poder público participam. A partir do momento que você tem uma

gestão nada democrática de alguns partidos, as próprias organizações não

participam. Fora que depende também muito dos técnicos dessas organizações

públicas e sua representatividade partidária”.

� Participação nos principais espaços coletivos de di scussão existentes

hoje sobre a política pública dirigida à população em situação de rua

Quando questionados sobre a participação nos principais espaços coletivos

de discussão existentes hoje sobre a política pública dirigida à população em

situação de rua, todos os entrevistados referiram fazer parte da Rede de

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Atendimento Socioassistencial da SMADS, mesmo que apresentada como uma rede

de prestação de serviços técnicos e especializados. Essa escolha reflete o

depoimento de um dos entrevistados que afirma que fazer parte desta rede é fazer

parte de uma política do poder público mesmo que indiretamente: “fazemos parte

dos serviços de acolhida e atendemos a população de rua, por isso fazemos parte

da política de forma indireta” (Assistente Social do Instituto Ligia Jardim).

A apresentação aos 14 entrevistados de 6 espaços coletivos 53, utilizada

como estratégia metodológica para escolha, estes definiram sua participação da

seguinte forma:

• 64,28% participam indiretamente do Conselho de Monitoramento, pois

elegeram um representante54;

• 57,15% (8) participam do Fórum das Organizações Sociais e do Fórum

Permanente;

• Metade participa do Fórum de Assistência Social;

• Apenas 35,71% (5) participam do Fórum de Debates;

• Apenas 21,43% (3) frequentam as Plenárias “Fala Rua”.

Fica evidente que em alguns fóruns a presença não se dá diretamente pelo

profissional técnico do serviço, mas por um representante da organização social que

ora representa varias organizações, ora se mantém como interlocutor para os seus

serviços:

“Geralmente são pessoas da organização passando todas as informações para o projeto. Dentro da organização tem uma pessoa responsável em

53 Fórum das Organizações Sociais que Trabalham com a População em Situação de Rua, Conselho de Monitoramento da Política de Direitos das Pessoas em Situação de Rua, Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da População em Situação de Rua de São Paulo, Fórum Municipal da Assistência Social de São Paulo – FAS, Fórum de Debates sobre a População em Situação de Rua e Plenárias Fala Rua. 54 Dentre os representantes do Fórum das Organizações Sociais no Conselho de Monitoramento estão as seguintes organizações entrevistadas: Sefras, Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste – APOIO, Associação Rede Rua e OAF. O Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos aparece como um dos representantes de associações civis de defesa de direitos humanos.

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acompanhar os movimentos e disponibilizar as informações. Recebo sim informações dos fóruns” (Assistente Social da CROPH). “Eu particularmente não, mas a Rede Rua participa com um membro no Fórum das Organizações Sociais que Trabalham com a População em Situação de Rua e no Fórum de Debates. Atualmente a organização tem acompanhado o Comitê da Política Nacional. No Conselho de Monitoramento participamos através de um representante do Fórum das Organizações, que por coincidência tem um membro que é o “João Batista” aqui da Rede Rua. Neste conselho quem tem uma vaga é o fórum não as organizações separadamente, o que podemos dizer que estamos indiretamente neste espaço” (Coordenador da Associação Rede Rua).

Desse questionamento pudemos identificar que os seis entrevistados

profissionais técnicos (assistentes sociais) apresentam dificuldade de participar de

todos os espaços coletivos e argumenta falta de tempo e disponibilidade em

detrimento dos atendimentos diretos à população em situação de rua como o

principal motivo:

“Apesar do convênio com a SMADS, as regras internas são da organização. O movimento hoje é que isso seja mais homogêneo entre as organizações, no entanto a manutenção dessas faz com que se individualizem. A forma de acolhimento na porta é de cada uma. Uma dificuldade na participação dos fóruns são os atendimentos. Não posso deixar meu trabalho aqui. Essa fala eu sinto de vários técnicos na rede” (Assistente Social do Instituto Ligia Jardim). “Sempre que tem alguma questão muito importante corremos para os principais espaços. (...) geralmente priorizamos o atendimento, pois o fluxo é muito grande, somente vamos quando realmente achamos muito importante” (Assistente Social da CROPH).

Considerando a fala da Assistente Social da organização APOIO, podemos

verificar ainda que a participação dos profissionais técnicos depende muito da forma

de gestão da organização: “Quanto aos fóruns, já acompanhei muito quando

trabalhava no SEFRAS pois havia um interesse político e da instituição nessa

participação. Hoje já não participo. (...) hoje a Apoio tem 12 projetos e representa na

rede SMADS a organização com maior número de convênios, no entanto há extrema

dificuldade de nós profissionais da rede fazermos um trabalho integrado ou

participarmos desses espaços de discussão. Difere esses espaços coletivos da rede

socioassistencial por ser político e explica sua falta de participação em muitos deles

pela falta de comunicação no repasse de informações sobre as reuniões e pautas:

“Vejo que o Fórum é político e falta muita informação sobre eles para nós que fazemos parte diretamente da rede da SMADS. A SMADS não contribui para diminuir a dificuldade de interação entre os profissionais da rede que acabam ficando isolados” (Assistente Social da APOIO).

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Acrescenta ainda a pouca articulação da rede com as demais políticas

públicas como Saúde, Habitação e Educação principalmente, o que dificulta,

segundo a entrevistada, o trabalho de promoção de saída da rua dos usuários da

rede.

Quanto às especificidades desses espaços, chama atenção a entrevista da

Coordenadora da OAF, que faz uma crítica sobre a perda do dinamismo de

produção intelectual do Fórum de Debates pensado como um espaço de reflexão

sobre a população em situação de rua e o trabalho realizado com essa população.

Explica que: “(...) o Fórum de Debates teve um declínio. Não sei se foi na condução

dele, mas o pessoal começou a querer que ele fosse executivo, deliberativo e não é

essa sua finalidade. Fórum de Debates é para o debate e produção do

conhecimento. Espaço para troca da academia e constantes produções sobre a

população em situação de rua. Poderia ter se mantido nesse caráter, mas para o

pessoal da rua é difícil entender isso. Para eles após o debate eles voltam para a

mesma situação de rua ou de albergue. A gente entende a reação”.

Outro ponto importante sobre esses espaços coletivos é a presença constante

da população em situação de rua, como pode ser visto no depoimento da

Coordenadora da OAF:

“(...) dos grupos em situação de exclusão social hoje, a população de rua tem vários espaços de debate, e o interessante é que em todos esses espaços o povo da rua está. Dá outra dinâmica e para nós somente tem sentido esses espaços por isso. Todo trabalho nosso mudou para que o povo da rua fosse protagonista e então é esse o maior objetivo. Já tivemos grupo de teatro, de música para o povo de rua se mostrar. É outra relação”.

� Compreensão sobre a capacidade da organização socia l que representa

de influenciar na efetivação da política pública di rigida à população em

situação de rua

Ao questionar os entrevistados sobre a capacidade da sua organização social

de influenciar na efetivação da política pública dirigida à população em situação de

rua, todos foram unânimes em acreditar que sim. Entretanto, a forma de influenciar

na política é que foi apresentada de maneira diferenciada pelos entrevistados. É

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importante mencionar que essa questão envolveu a discussão sobre os decretos

municipal e nacional referidos anteriormente no capítulo 1 e o envolvimento dessas

organizações sociais na tomada de decisão e participação na elaboração desses

documentos.

Conforme ressaltam alguns entrevistados, a influência ocorre pela própria

organização que pode contribuir na melhoria da rede social que participa. O

depoimento do Coordenador da Associação Rede Rua ilustra bem isso:

“Eu acredito que sim. Qualquer organização influencia. Creio que dependa somente de uma avaliação que pode fazer verificando se contribui para melhorar essa rede independe de melhorar a organização por si só ou se está prejudicando esta rede. Estas influenciam, por exemplo, a partir do momento que fazem um debate sobre o tema de acolhida na época do inverno. Se minha organização tem um entendimento de que o programa de acolhida no inverno tem que ser diferenciado do programa permanente, e eu levo este debate para os órgãos competentes ou os fóruns competentes eu já estou influenciando na política. Não em curto prazo. Entendo que até as novas organizações que não são tradicionais no cuidado com essa população e estão assumindo os convênios que foram desfeitos com outras organizações tradicionais, influenciam na política porque ela esta se aliando ao poder público. Normalmente as organizações tradicionais que deixam esses convênios, estão deixando numa situação de ação contestatória por questões financeiras, por não concordar com a política do governo atual enfim também influenciam na política. A Rede Rua tem uma influência com certeza”.

Inclusive, pelo depoimento do Secretário Executivo do Centro de Direitos

Humanos, Gaspar Garcia, as organizações em rede mostram-se capazes de gerar

uma política pública:

“A rede é fundamental, por isso só trabalhamos com ela. O princípio do centro é trabalhar em rede para gerar política pública e a partir daí conscientizar a população, que enquanto sujeitos de direitos tem que ter acesso a eles e entendê-los para poder questionar. Ter consciência do que é ter cidadania plena.”

Explicam que a influência dessas organizações também pode se dar na forma

com que se colocam diante do poder público e através de um espaço coletivo

democrático de discussão da política pública: “A partir do momento que eu questiono

certas práticas da Prefeitura em nome da entidade com certeza estou influenciando,

pois trago um conflito. A partir do momento que eu entro num fórum permanente

para debater a discussão de uma política pública nacional que estabelece algumas

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regras contraditórias ao que é praticado no município, eu também estou

estabelecendo uma influência na política, principalmente quando neste espaço está

presente a própria população de rua” (Coordenador da Associação Rede Rua).

Por outro lado, alguns entrevistados mostraram a importância do trabalho dos

técnicos como outra forma de influenciar na política, já que ao lidar diretamente com

a população em situação de rua, realizam um trabalho educativo e formativo sobre a

participação e decisão deles na política. Entretanto, esse tipo de trabalho se dá

muitas vezes de maneira pontual e isolada, pois nem o poder público nem os

espaços coletivos contribuem para diminuir a dificuldade de interação entre os

técnicos da rede.

Questionados sobre o grau de influência na mudança da política pública atual,

os entrevistados das organizações sociais referiram uma graduação baixa, tendo em

vista a dificuldade enfrentada na relação com o poder público.

“(...) aí você vai discutir o grau. Até que ponto tem realmente uma ação efetiva na mudança da política. Isso muda a história, pois tem outros elementos que interferem na mudança da política que não é só a organização, mas os vereadores, os gestores que estão lá na gestão da Assistência Social e que tem a centralidade do segmento população de rua, enfim outros atores. Considerando a Associação Rede Rua no Fórum Permanente e o grau de influência que exerce posso dizer que sou pessimista. Na atual situação que as organizações se encontram a influência como fórum é baixa, porque a nossa capacidade de juntar, agregar todas as organizações é muito pequena para lidar com o poder público neste momento sério de crise da relação, da comunicação e do próprio convênio com a Prefeitura. Nunca tivemos essa realidade no Estado de São Paulo. Mesmo nas piores gestões existiam canais de comunicação com a Prefeitura que hoje não existem. A própria Assistência Social não sabe o que fazer. Nesse tempo de 20 anos da associação nunca vivemos nada parecido. Até hoje as organizações não receberam o pagamento, sendo que a Prefeitura nunca esteve tão bem de caixa como está. A dificuldade acredito estar na gestão e na relação política.” (Coordenador da Associação Rede Rua.)

No caso da AEB, esta situação tem trazido questionamentos importantes

sobre em que medida influencia ou não na política. Avalia que somente se dá de

forma ainda incipiente, por meio da participação nos espaços coletivos de discussão

e não através da Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS:

“Na política de atendimento mesmo relacionado ao convênio com a SMADS eu creio que não influenciamos nada. A relação do poder público com as

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organizações está muito difícil. Agora estamos na luta pela garantia dos direitos dessa população, pela missão de defender a questão da rua, o que imprime certa influência. Quanto à questão do atendimento ficaremos só com a Casa Porto Seguro. Não entendemos que um convênio signifique só um albergue. Realmente a única coisa que está nos segurando com sinceridade é nossa influência na política pública nacional através dos fóruns e espaços coletivos”.

Complementa ainda que o compartilhamento das informações desta relação

difícil entre as organizações e a Prefeitura com os vários envolvidos, inclusive com

os usuários, numa conversa franca e o movimento social é o que estão propiciando

a manutenção do trabalho realizado no centro de acolhida. Acredita que as

organizações que não dispõem desse apoio devem estar com muita dificuldade e

entende que o Fórum Permanente, visível pela troca e apoio entre as organizações,

mostra-se como um espaço para debater soluções para o que tem acontecido.

Por outro lado, o Movimento Nacional refere influenciar muito mais a política

pública pelas discussões e provocações diretas dirigidas ao poder público, no que se

refere ao cumprimento dos direitos sociais da população em situação de rua,

principalmente relacionado à acessibilidade aos equipamentos sociais existentes.

Explica que o trabalho do movimento, permeado pelo engajamento político de seus

membros, facilita essa influência, diferente das organizações, que para manter os

convênios, afastam-se dos espaços políticos de discussão. Em sua conclusão

ressalta a importância da participação da própria população de rua nos processos de

discussão e elaboração da política nacional, principalmente nos espaços existentes

na capital paulista:

“Hoje verificamos que nossa constituição pela participação dos moradores de rua permite chamar políticos engajados e influentes para a discussão. Por exemplo, na Plenária do Fala Rua de Janeiro quem apareceu foi o Deputado Jose Cândido, Presidente da Comissão de Direitos Humanos e o Senador Eduardo Suplicy. Sem falar da presença anual do nosso Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva no encontro da população de rua e catadores, organizado em Dezembro. Isso mostra que a população pode, tem como e deve cobrar muito dos governos. Isso nos mostra que a política foi feita de baixo pra cima, partiu do povo de rua e tornou-se lei. A rua construiu e entregou para o governo a discussão iniciada com a Assistência, a Habitação, a Saúde, a Educação e a Cultura. Esta discussão iniciou antes do Fórum Permanente, nos grupos locais e interministeriais. Através da Pastoral e algumas organizações conseguimos a participação de outros estados nessa discussão. São Paulo hoje enquanto berço do Brasil repercute suas ações em vários lugares inclusive fora do país, por isso a discussão da política começou em São Paulo sim. É importante dizer isso, os outros estados também dizem que é São Paulo

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130

que há 20, 30 anos que vem carregando essa luta da organização da população de rua a nível nacional ” (Coordenador do MNPR).

Em sua entrevista, menciona ainda que o movimento tem influência

internacional, pois leva a outros países como Argentina e Chile o debate sobre a

política local definida em São Paulo referente à municipalidade dos serviços técnicos

especializados dirigidos ao atendimento da população em situação de rua, e o

processo de construção da política nacional.

Considerando a entrevista com a Coordenação da OAF, fica evidente que a

influência pelas organizações tradicionais também tem um peso significativo na

política pública. Influência esta identificada desde a prática do trabalho com a

população em situação de rua nos serviços técnicos até em documentos construídos

coletivamente ao longo dos dez anos com outras organizações históricas e de

mesma ideologia política.

“(...) antes muitas coisas incentivadas na secretaria de assistência social partiram da nossa prática. Quando Cleisa Rosa foi Supervisora da Sé ela copiou os modelos de casas de convivência a partir do que ela conheceu do trabalho da OAF. Depois quando a OAF teve aquela mudança, a instituição saiu de cena. Depois de 10 anos é que retomamos melhor os trabalhos, pois entendemos que enquanto organização social tinha um papel fundamental de parceria junto ao que nascia como o movimento da rua e a cooperativa dos catadores. Quando a OAF aparece como organização já vem influenciando a política municipal e hoje tem lutado pela implementação da política nacional. Acho que a intensidade da influência é alta, pois vejo que não há nenhum documento da população de rua que não esteja a OAF lá relacionada. A história não nega. Tudo foi fruto de uma construção coletiva e domínio popular. Isso porque quase todos passaram por aqui, pelos trabalhos. A OAF tem um papel fundamental nesse conjunto, são 30 anos de construção de uma nova mentalidade. Acredito que o Fórum Permanente está neste caminho”.

4.4. Análise da Rede de Atenção à População em Situ ação de Rua

“A rede pode ser estudada por meio de uma representação gráfica (sociograma, escalagem etc.), de forma a permitir a visualização das posições e da estrutura, ou por meio de uma reconstituição matemática do padrão de vínculos (matriz de relações), de maneira a possibilitar a análise quantitativa das posições e da estrutura geral. Em ambos os casos, é necessário dispor de informações detalhadas sobre os limites da rede, os vínculos presentes, seu tipo e momento de estabelecimento” (MARQUES, 1999, p. 51).

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O Sociograma (representação gráfica da técnica sociométrica) possibilitou

identificarmos as relações sociais existentes entre os atores sociais (as 13

organizações sociais e 1 movimento social entrevistados) e suas posições na Rede

de Atenção à População em Situação de Rua na Cidade de São Paulo.

Utilizando uma variação da técnica desenvolvida por Moreno (1934), já

referenciada na metodologia, pudemos criar um Sociograma da Estrutura Geral da

Rede, apresentado abaixo. É Importante mencionar que esta técnica versátil foi

aplicada para representar os relacionamentos existentes entre essas organizações e

o movimento social no contexto deste estudo.

Para tanto, partimos de uma pergunta direta aos entrevistados sobre com

quem estabelecem mais contato (indicação de três organizações sociais por ordem).

As entrevistas foram interrompidas, conforme método de Bola de Neve, quando os

entrevistados não indicaram novos atores sociais.

Os resultados permitiram a elaboração da Matriz 1, disposta abaixo, que

subsidiou a construção do sociograma:

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Matriz 1 – Relação de indicados entre as organizaç ões sociais por ordem de escolha. São Paulo, 2010.

Rede Rua MNPR Gaspar

Garcia OAF AEB Bom Parto Sefras Batuíra Recicla CROPH Metodista APOIO Ligia

Jardim São

Camilo A000 A001 A002 A003 A004 A005 A006 A007 A008 A009 A 010 A011 A012 A013

A000 0 1 2 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

A001 2 0 0 1 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0

A002 1 0 0 2 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0

A003 2 0 1 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0

A004 2 0 0 1 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0

A005 0 0 1 0 2 0 0 0 3 0 0 0 0 0

A006 3 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

A007 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 2 1 0

A008 0 0 0 0 3 0 0 0 0 2 0 0 0 1

A009 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 3 0

A010 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 1 2 0

A011 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 3 0

A012 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 3 0 0

A013 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 3 1 0

132

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133

Esse sociograma, criado sem o uso de nenhum software (ferramenta

computacional), permitiu compreender alguns conceitos e medidas utilizados pela

análise de redes sociais. Cada retângulo representa um ator social da rede

(organização social e movimento social) e cada linha representa um vínculo

estabelecido entre eles.

Se observarmos as escolhas realizadas pelos entrevistados, podemos verificar

que foram mútuas apenas em três pontos: entre a AEB e Associação Reciclázaro,

entre a Comunidade Metodista e o Instituto Ligia Jardim e a Apoio e o Ligia Jardim.

Quanto às indicações diretas, na primeira escolha sobressai a organização

social OAF indicada por três outras. Já a Associação Reciclázaro se destaca por ter

sido indicada três vezes como terceira escolha.

A análise dessa rede demonstra que ao partir de duas organizações sociais

diferentes, uma influenciada pelo Fórum Permanente de Acompanhamento da

Política Pública da População em Situação de Rua e outra pela Rede de

Atendimento Socioassistencial da SMADS, identificamos duas tríades centrais: uma

formada pela Associação Rede Rua, Centro Gaspar Garcia e OAF e outra formada

pela organização APOIO, Instituto Ligia Jardim e a CROPH.

___________________________________________________________________

Legenda para a Figura 1, que representa o Sociogram a da Estrutura Geral da Rede:

• Retângulos Azuis: Organizações Sociais e Movimento Social indicados a partir da

primeira pessoa-chave (Fórum Permanente);

• Retângulos Verdes: Organizações Sociais indicadas a partir da segunda pessoa-chave

(Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS);

• Para os entrevistados que referiram primeira escolha: ( );

• Para os entrevistados que referiram segunda escolha: ( );

• Para os entrevistados que referiram terceira escolha: ( );

• Para os que se escolheram mutuamente utilizamos as seguintes setas:

– ( ) primeira escolha;

– ( ) segunda escolha;

– ( ) terceira escolha;

___________________________________________________________________

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134

Figura 1. Sociograma da estrutura geral da rede.

GASPAR GARCIA

MNPR

REDE RUA

OAF

BOM PARTO

AEB

SEFRAS

RECICLA

SÃO CAMILO

CROPH

METODISTA

APOIO

LIGIA JARDIM

BATUIRA

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Segundo análise de Mizruchi (2006), sobre a discussão de Simmel (1917 e

1950) a respeito de díades e tríades, podemos verificar que as duas tríades

entificadas não são hierárquicas, uma vez que a interação ocorre entre os três

atores de forma a beneficiar a comunicação entre eles:

“A discussão de Simmel a respeito de tríades [1917] (1950) ilustra o princípio segundo o qual a estrutura das relações sociais afeta seu conteúdo. Não só a entrada de uma terceira pessoa num encontro entre duas outras altera a natureza da relação entre as duas pessoas originais, como também a natureza da tríade em si é significativa. Numa tríade fechada, cada agente interage com dois outros. Numa tríade hierárquica, o agente central ocupa uma posição de corretagem entre os dois outros, que são obrigados a lidar com o corretor para efetuar comunicação um com o outro (...)” (página 74).

Considerando essas tríades como pontos centrais da rede, aproximamos-nos

do conceito de centralidade, utilizado na análise de redes sociais, pois

apresentamos as organizações sociais que dispõem de maior número de vínculos

comparados aos demais. A Tabela 8 a seguir demonstra melhor o grau de

centralidade dessas organizações na rede:

Tabela 9 – Grau de Centralidade de cada organizaçã o social na rede. São

Paulo, 2010.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

GRAU

Rede Rua 8

OAF 8

Gaspar Garcia 7

AEB 5

MNPR 4

SEFRAS 4

Bom Parto 4

APOIO 8

Ligia Jardim 8

CROPH 8

Reciclázaro 6

Metodista 6

São Camilo 4

Batuíra 3

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As organizações mais indicadas na rede são aquelas que apresentam oito

pontos de vínculos. No entanto, um dado interessante dessa análise é que se

retirarmos as duas tríades centrais, a rede se mantém por meio da centralidade da

Associação Reciclázaro, porém deixa isoladas as organizações Sefras e Metodista,

como podemos verificar na figura 2 abaixo. Essa rede mantém sua estrutura de

vínculos apenas se retiramos uma das organizações da tríade conservando as duas

outras, o que mostra a importância dessas na estrutura geral da rede.

Figura 2. Sociograma da rede sem as duas tríades ce ntrais.

Outra característica importante é a medida de centralidade utilizada nesse

Sociograma, (figura 1) que demonstra a intermediação, ou seja, uma organização

social que conecta subgrupos, que de outra forma apresentada estariam

desconectados. Nesse caso, se observarmos a Associação Reciclázaro, ela faz a

intermediação da rede entre o Fórum Permanente e a Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS. Se não fosse essa organização, teríamos dois

MNPR

BOM PARTO

AEB

SEFRAS

RECICLA

METODISTA

BATUIRA

SÃO CAMILO

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subgrupos desconectados, que representariam redes diferenciadas, como já são, se

considerarmos seus objetivos (considerar a análise de conteúdo dos entrevistados).

Mizruchi (2006) aponta que a identificação de subgrupos da rede é outra área

importante da análise de redes e geralmente ocorre segundo duas grandes

tradições: modelo relacional com técnicas gráfico-teóricas e modelo posicional com

técnicas de matriz algébrica. A autora refere como uma das técnicas mais

proeminentes deste último modelo, o Blockmodeling que são “representações

binárias de matrizes relacionais entre agentes de uma rede, permutadas de tal

maneira que agentes estruturalmente equivalentes se agrupem em submatrizes

quadradas ou blocos” (página 75). Sua análise avança sobre a possibilidade de

agrupamentos específicos apresentarem comportamentos semelhantes por estarem

sujeitos a fontes comuns de influência direta. Ao vislumbrarmos as tríades centrais

da Rede de Atenção à População em Situação de Rua, verificamos que há uma

influência direta do Fórum Permanente e da Rede de Atendimento Socioassistencial

da SMADS. No subgrupo da rede sob influência do Fórum Permanente, encontram-

se organizações e um movimento social que compõem o campo de discussão e

efetivação da política pública dirigida a essa população. Por outro lado, no subgrupo

da rede da SMADS, os depoimentos sugerem, que apesar dessas organizações

produzirem certo impacto na política, estabelecem padrões de relacionamento para

a prestação de serviço direto à população em situação de rua.

Como terceira medida de centralidade, deparamo-nos com a distância entre

os atores na rede. Para que uma organização estabeleça contato com outra, nesta

rede com a qual não tenha tido nenhum relacionamento são necessários alguns

intermediários. Para que qualquer organização/movimento social do Fórum

Permanente e da Rede da SMADS estabeleça relação entre si por intermédio da

Associação Reciclázaro são necessários pelo menos quatro intermediários. Isso

reforça que há uma forte tendência de centralidade em torno dos subgrupos

existentes.

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Considerando que as organizações sociais estabelecem contatos com suas

escolhas, questionamos com que intensidade faziam isso. A tabulação desses

dados permitiu criar a Matriz 2 e a Figura 3 a seguir, referentes à representação

gráfica da intensidade das relações, segundo a legenda:

___________________________________________________________________

Legenda para a Figura 3 que representa o Sociograma da intensidade da relação da rede:

• Para os entrevistados que responderam a graduação “20”: ( );

• Para os entrevistados que responderam a graduação “4”: ( );

• Para os entrevistados que responderam a graduação “1”: ( );

___________________________________________________________________

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Matriz 2 – Relação de indicados entre as organizaçõ es sociais por intensidade do vínculo. São Paulo, 2 010.

Rede Rua MNPR Gaspar

Garcia OAF AEB Bom Parto Sefras Batuíra Recicla CROPH Metodista APOIO Ligia

Jardim São

Camilo A000 A001 A002 A003 A004 A005 A006 A007 A008 A009 A 010 A011 A012 A013

A000 0 20 4 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

A001 20 0 0 20 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0

A002 20 0 0 20 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0

A003 20 0 20 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0

A004 20 0 0 20 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0

A005 0 0 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0

A006 20 0 1 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

A007 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0

A008 0 0 0 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 1

A009 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 1 4 0

A010 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 4 1 0

A011 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 1 0

A012 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 4 4 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 1 0

139

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Figura 3. Sociograma da intensidade da relação da r ede.

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A Figura 3 permite verificar que com relação à intensidade da relação a partir

do contato estabelecido entre as organizações sociais, sobressai a tríade central

ligada ao Fórum Permanente. Neste Subgrupo da rede verificamos que o contato

estabelecido é pelo menos uma vez por dia, seja através de contato telefônico, e-

mail ou mesmo pelo grupo virtual criado para comunicação na internet a partir do

“Yahoo Grupos”. A organização social que articula mais contato é a Associação

Rede Rua, seguida da OAF.

Em relação à Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS, a tríade

central mantém nesse subgrupo um contato pelo menos uma vez por semana por

meio de contato telefônico, principalmente para encaminhamento de usuários da

rede. O Contato com a Metodista mostra-se significativo também, mesmo sendo um

ponto mais isolado da rede. Nessa tríade, a organização CROPH é que articula mais

contato por semana.

Chama atenção que o Grupo Espírita Batuíra, que apresenta um serviço

especializado diferenciado do restante das organizações da rede, recebe contatos

mensais. Verifica-se que isso acontece, pois, conforme entrevista com a

coordenação do serviço, o fluxo de encaminhamento da população em situação de

rua é de prioridade da Rede Hospitalar do SUS e não da Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS:

“A missão desta casa é oferecer assistência a pessoas submetidas a intervenções cirúrgicas que, após a alta hospitalar, necessitam de cuidados no período de recuperação pós-operatório e encontra-se em situação de exclusão social. Temos dentre as atividades a promoção de cuidados de saúde no período de convalescença, realizando a execução das recomendações médicas pós a alta hospitalar (curativos, medicações, dietas especiais, controle de sinais vitais, repouso relativo, etc.) e o acompanhamento diário da evolução do quadro por parte dos médicos voluntários e demais profissionais da saúde assim como tratamento e/ou encaminhamento a serviços de saúde nos casos que apresentam co-morbidade, dentre outros” (Coordenadora de Serviço do Grupo Espírita Batuíra).

O motivo pelo qual mantém contato com os atores indicados foi também

questionado aos entrevistados, conforme se verifica na tabela 10.

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Tabela 10 – Número de organizações sociais entrevis tadas por motivo de

contato com outras organizações indicadas. São Paul o, 2010.

MOTIVO DO CONTATO Número de

organizações (1ª Escolha)

% Número de

organizações (2ª Escolha)

% Número de

organizações (3ª Escolha)

%

Encaminhar para Rede de

Atendimento

Socioassistencial da SMADS 7 50,00 7 50,00 7 50,00

Articulação 6 42,85 6 42,85 6 42,85

Trocar Conhecimento e

Informação 6 42,85 6 42,85 4 28,57

Fortalecer Fóruns 5 35,71 5 35,71 6 42,85

Partilhar Novidades 4 28,57 4 28,57 3 21,42

Relação de Confiança 2 14,28 3 21,42 3 21,42

Afinidade Ideológica 2 14,28 3 21,42 3 21,42

Resolver Conflitos 2 14,28 2 14,28 2 14,28

Discutir sobre o serviço

(equipamento social) 1 7,15 1 7,15 1 7,15

Planejar reinserção social 1 7,15 1 7,15 1 7,15

Ajuda Mutua 1 7,15 1 7,15 0 0

Encaminhar para outras

redes/serviços 0 0 0 0 2 14,28

Metade deles referiu nas três escolhas que o contato ocorre especificamente

para encaminhamento de pessoas em situação de rua, para a Rede de Atendimento

Socioassistencial da SMADS. O segundo motivo apontado para as organizações

indicadas nas três escolhas foi a necessidade de articulação para funcionamento

dos serviços. A possibilidade de troca de conhecimento e informação também

aparece como um segundo motivo, menos para a terceira organização escolhida,

que prioriza seu empenho para o fortalecimento de fóruns existentes para a

discussão da política pública. Os entrevistados ainda referiram que realizam

contatos para partilhar novidades, por ter uma relação de confiança e afinidade

ideológica com a organização indicada, para resolver conflitos, discutir sobre os

serviços (equipamento social), planejar reinserção social dos usuários inseridos nos

serviços, estabelecer ajuda mútua e encaminhar para outras redes e/ou serviços,

que não a Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS.

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Conclusão

Abordar a problemática da população em situação de rua significa falar de

pessoas/trabalhadores com direitos sociais mínimos, que romperam com a ordem

vigente na sociedade capitalista contemporânea, e, se encontram diante de

situações-limites de pobreza, de vulnerabilidade, de estigmatização, de carência de

relações afetivas, de dependência em relação aos serviços socioassistenciais e de

articulação social.

Trata-se de uma população que pode ser compreendida a partir de cinco

características gerais: heterogeneidade, pobreza extrema, vínculos familiares

interrompidos e fragilizados, inexistência de moradia convencional regular e a

utilização da rua como espaço de moradia e sustento por contingência temporária ou

de forma permanente (Silva, 2009).

Os dados apresentados pela Pesquisa Nacional sobre a População em

Situação de Rua, realizada no período de agosto de 2007 a março de 2008, apesar

de semelhantes aos coletados em outras pesquisas municipais, sugeriram um novo

perfil dessa população: trabalhadores pobres, sem uma moradia convencional, com

um elevado grau de cristalização da situação de rua e de institucionalização nos

albergues, hoje denominados Centros de Acolhida (MDS, 2008).

Em São Paulo, os censos realizados em 2000 e 2003, mostraram algumas

características gerais do perfil da população em situação de rua, que ainda

permeiam os estudos recentes. Predominam pessoas do sexo masculino com idade

entre 41 e 55 anos e com 1ª a 8ª série completa e incompleta. São provenientes de

outros estados e estão aproximadamente há um ano na rua, sem o

acompanhamento de nenhuma pessoa da família. Tinham um trabalho anterior à

situação de rua em que realizavam serviços como auxiliar de pedreiro, catadores de

materiais recicláveis, auxiliares de serviços gerais, dentre outros. Muitos

desempenhavam os chamados “bicos”, trabalhos temporários sem nenhum vínculo

empregatício ou contratual e fizeram uso de álcool e drogas.

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A localização nos grandes centros urbanos, enquanto um aspecto

característico dessa população em situação de rua, não é um fenômeno recente,

apesar de hoje sua concentração em São Paulo mostrar-se mais evidente,

principalmente nos distritos da República, Pari, Santa Cecília e Sé, mas com certa

desagregação em relação ao número de pessoas pernoitando em Centros de

Acolhida ou diretamente nas ruas.

Os diversos levantamentos realizados na cidade de São Paulo, pela antiga

Secretaria Municipal da Família e do Bem-Estar Social entre 1991 e 1998 e os

censos de 2000 e 2003, realizados pela atual Secretaria Municipal de Assistência e

Desenvolvimento Social (SMADS), em parceria com a Fundação Instituto de

Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo - FIPE/USP, mostraram que o

contingente dessa população em São Paulo vem crescendo: em 2003 o censo

apontou um contingente de 10.399 e as estimativas extra-oficiais, dos que trabalham

com essa população, são, que no momento atual, se tenha chegado a

aproximadamente quinze mil pessoas.

A necessidade de resolver a complexidade dos problemas sociais dessa

população mobilizou diversos atores sociais criando, desde a década de 90 até hoje,

redes formadas principalmente por organizações não governamentais que se

relacionavam e continuam a se relacionar em diferentes espaços coletivos de

discussão da política pública, dirigida a essa população, e de organização de

serviços para o atendimento socioassistencial.

A estrutura e a dinâmica dessas redes mostraram-se profundamente

influenciadas pelo perfil socioassistencial da sociedade civil, com destaque especial

para organizações de caráter religioso, especialmente ligadas à Igreja Católica, que

se articulam com o poder público,, por meio de convênios com a Secretaria

Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS.

O presente estudo mapeou um total de 64 serviços existentes de atenção a

essa população na cidade de São Paulo, distribuídos em cinco Coordenadorias de

Assistência Social – CAS em que está organizada a SMADS (Norte, Centro-Oeste,

Sudeste, Leste e Sul). Esses serviços são geridos por 28 organizações sociais

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conveniadas com a SMADS, sendo que 34 estão localizados na região centro-oeste

da cidade, predominando os Centros de Acolhida, do tipo I, que funcionam 16 horas

por dia e do tipo II, com atendimento permanente de 24 horas diárias. Mais da

metade das organizações mantém sua sede e pelo menos um serviço de referência

prestado na região do CRAS Sé, especialmente nos distritos de Sé, Brás, Bom

Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade, Santa Cecília e República.

Identificam-se ainda três sedes das organizações sociais na região do CRAS

Lapa, ainda sob Coordenação do mesmo CAS Centro-Oeste, uma sede próxima ao

CRAS Mooca (CAS Sudeste) e outra sede na área de abrangência do CRAS

Santana (CAS Norte).

Considerados como constitutivos da Rede de Atendimento Socioassistencial

da SMADS, esses serviços reorganizados, conforme Decreto de nº 40.232 de 2 de

Janeiro de 2001, contribuíram para definir uma nova funcionalidade aos Centros de

Acolhida, considerados como porta de entrada da rede, que favorecem o

acolhimento, a assistência e a proteção social básica, segundo definição do Sistema

Único de Assistência Social – SUAS.

Além dessas, constatou-se a existência de outras ações, voltadas à

população em situação de rua, realizadas por pequenos grupos e organizações, que

não estabeleceram parceira com o poder público e, enfatizam o trabalho relacionado

à doação, principalmente de alimentos.

Neste universo das 28 organizações sociais, identificadas na cidade de São

Paulo, durante a pesquisa de campo em que utilizamos o método de Bola de Neve,

pudemos identificar que 13 organizações e 1 movimento social constituem uma rede

social na região central da cidade de São Paulo destinada à atenção da população

em situação de rua.

A maioria das organizações sociais que fazem parte dessa rede, que

denominamos de “Rede de Atenção à População em Situação de Rua na Região

Central da Cidade de São Paulo”, podem ser consideradas “organizações

tradicionais”, no sentido empregado por Rosa (2005), isto é, fundadas até o final

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dos anos 80, e que realizavam atividades que apresentavam um caráter

assistencialista predominante. As demais podem ser classificadas como “novas ” ou

mesmo “renovadas”, no sentido utilizado pela mesma autora, por terem passado

por um processo interno de modernização das ações numa perspectiva de

autonomização da população em situação de rua, influenciadas pelo movimento das

Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica e estabelecendo convênios com

a Prefeitura de São Paulo para operacionalizar as denominadas “Casas de

Convivência”, na década de 90. Atualmente, mais da metade dos convênios com a

SMADS foram celebrados apenas com duas organizações: Associação de Auxílio da

Zona Leste – APOIO e Organização do Auxílio Fraterno – OAF.

Com exceção do movimento social que ainda não dispõe de estrutura jurídica

formal, constatamos que 11 organizações sociais estavam registradas no Conselho

Nacional de Assistência Social – CNAS e 9 possuíam Certificado de Entidade

Beneficente de Assistência Social – CEBAS concedido pelo CNAS.

Segundo os entrevistados, as atividades mais frequentemente desenvolvidas

por essas organizações eram de caráter socioeducativo, atendimento social, oferta

de centros de acolhida, e relacionadas à conscientização, mobilização e organização

na luta por direitos e intervenção em políticas públicas.

Os entrevistados apontaram que existem diversos serviços com perfis

diferenciados de atuação, que complementam a atenção à população em situação

de rua, principalmente atrelados à Rede de Atendimento Socioassistencial da

SMADS, que se constitui como um instrumento importante de aproximação entre as

organizações sociais, diferentemente do Fórum Permanente de Acompanhamento

das Políticas Públicas da População em Situação de Rua de São Paulo, que para os

entrevistados não tem exercido esse papel.

As parcerias informais estabelecidas entre as organizações sociais foram

consideradas por elas como importantes para o desenvolvimento de suas atividades,

mas que mesmo assim mostraram-se insuficientes para que se pudesse atender a

todas as necessidades sociais dessa população. A pouca articulação da área da

Assistência Social com as demais políticas públicas como Saúde, Habitação e

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Educação dificulta, segundo os entrevistados, o trabalho de promoção de saída da

rua dos usuários da rede.

Metade das organizações sentia-se parte exclusivamente da Rede de

Atendimento Socioassistencial da SMADS, embora apontasse muitas dificuldades e

entraves nesse relacionamento, no qual o contato era limitado aos problemas do dia

a dia do atendimento e prestação de serviços. Considerada como uma rede política

do poder público com o objetivo de prestar atendimento à população em situação de

rua, essa rede de atendimento socioassistencial, foi referida pelos entrevistados

como uma rede de encaminhamento de usuários organizada pelo Serviço Social. No

entanto, é importante ressaltar que a maioria dessas organizações também

considerou que, de alguma forma, tem conseguido influenciar a política pública

destinada a esse segmento da população, mesmo que seja apenas através da

discussão das cláusulas dos convênios estabelecidos com o poder público, ou do

trabalho técnico profissional, que apresenta um caráter educativo e formativo no

sentido de incentivar a participação do próprio segmento nos espaços coletivos

existentes e na discussão da política a ele destinada.

Já o Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas da

População em Situação de Rua de São Paulo foi apontado como uma rede muito

recente, ainda em construção, influenciado pelas organizações tradicionais e o

Movimento Nacional da População em Situação de Rua, mas com capacidade de

articulação entre diversos atores sociais, tendo em vista influir na definição da

política pública nacional, destinada a essa população. Foi referido ainda como um

movimento de resistência de um grupo pequeno de pessoas, articuladas pela

mesma ideológica, pela proximidade histórica no trabalho com essa população e por

questões metodológicas nesse trabalho, na relação com o poder público.

Outros aspectos que chamam atenção para esse fórum são: a presença em

suas reuniões e atividades de representantes dos movimentos sociais e da própria

população em situação de rua e a pouca participação de novas organizações

sociais.

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Essas constatações apontam para a necessidade do aprofundamento das

razões para a não presença das grandes organizações sociais que fazem parte da

Rede de Atendimento Socioassistencial da SMADS, nos espaços coletivos de

discussão da política, como é o caso do Fórum Permanente referido.

No Sociograma elaborado para representar as relações estabelecidas entre

as organizações que compõem a rede social estudada, pudemos constatar,

verificando a centralidade dos atores sociais, a existência de duas tríades centrais:

uma formada pela Associação Rede Rua, Centro Gaspar Garcia e OAF sob

influência do Fórum Permanente e outra formada pela organização APOIO, Instituto

Ligia Jardim e a CROPH sob influência da Rede Socioassistencial da SMADS.

Outra característica importante identificada nesse Sociograma é a

intermediação realizada pela Associação Reciclázaro, que faz a conexão entre as

duas tríades, evitando a constituição de dois subgrupos desconectados, com

objetivos diferenciados. No entanto, os contatos entre as organizações que

compõem uma das tríades e as organizações da outra tríade não são realizados

diretamente: devem passar por pelo menos quatro intermediários, o que reforça que

há uma forte tendência de centralidade, mas no interior dos dois subgrupos

existentes.

Com relação à intensidade das relações estabelecidas entre as organizações

sociais, sobressai a tríade central, influenciada pelo Fórum Permanente. Nesse

Subgrupo da rede, verificamos que o contato estabelecido entre seus integrantes

ocorre pelo menos uma vez por dia, seja por meio de de contato telefônico, e-mail

ou mesmo pelo grupo virtual criado para comunicação na internet a partir do “Yahoo

Grupos”. Esses contatos diários destinam-se principalmente à troca de

conhecimento ou informação, à articulação para ações conjuntas e ao fortalecimento

dos fóruns existentes. Na outra tríade, influenciada pela Rede Socioassistencial, os

contatos estabelecidos entre os seus integrantes ocorrem semanalmente ou apenas

mensalmente, e em geral para o encaminhamento mútuo de usuários.

Dada a complexidade da realidade social enfrentada pelas organizações

sociais que fazem parte da Rede de Atenção a População em Situação de Rua, a

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metodologia de análise de redes sociais permitiu focar o aspecto relacional da

interação entre os atores sociais que fazem parte dela. Foi possível também

enfatizar os efeitos da centralidade do atores sobre o comportamento, bem como

identificar a existência de subgrupos na rede e a intensidade das relações

estabelecidas entre as organizações sociais que a compõem, isto é as relações

interorganizacionais, no sentido apontado por Mizruchi (2006).

Considerando o interesse pela gestão pública, estudar redes sociais nesse

contexto permite dar visibilidade à ação pública dos diversos sujeitos do fazer social:

o Estado, a sociedade civil, a iniciativa empresarial, a comunidade e inclusive o

próprio grupo social ao qual se destina a ação pública.

Permite assim, uma leitura mais abrangente dos elementos que participam da

efetivação da política pública, incorporando a ação e a visão dos movimentos sociais

que procuram influenciar na definição dessas políticas e as formas de organização

não hierárquicas entre diversos atores sociais no mesmo espaço social, de modo a

criar novas possibilidades de mobilização e formas de ação coletiva.

Outra questão que este estudo suscita, ao apontar a necessidade de outras

pesquisas sobre o tema, é a importância de se conhecer qual é a influência que

esses atores sociais podem desempenhar efetivamente na definição, implementação

e monitoramento de políticas públicas destinadas a grupos sociais que apresentam

alto grau de vulnerabilidade social, como é o caso da população em situação de rua

na região central da cidade de São Paulo.

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ANEXO 1

Roteiro das entrevistas semiestruturadas

� Dados da entidade que representa:

• Nome da entidade;

• Endereço completo;

• Responsável pela entidade;

• Natureza Jurídica (Associação, Fundação e Organização Social);

• Certificação (OSCIP, Filantrópica, outras ou nenhuma);

• Classificação da entidade (Tabela de Classificação Internacional de

Organizações Sem Fins Lucrativos, conforme Fonte: Mapa do Terceiro

Setor – Centro de Estudos do Terceiro Setor da EAESP/FGV);

• Constituição formal (Ata da Assembleia da Fundação, Estatuto, CNPJ,

inscrição no(s) conselho(s) correspondente(s), etc);

• Atividades desenvolvidas;

• Público-alvo atendido;

• Missão (finalidade) da entidade.

� Dados do entrevistado:

• Nome completo;

• Cargo que ocupa na entidade;

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• Grau de escolaridade;

• Data de admissão na entidade.

� Ações em Rede:

• Existem outras entidades que trabalham com o mesmo público-alvo

que a sua? Se sim, quantas? Quais?

• Você acredita fazer parte de uma rede social? Se sim, qual (ais)? Por

quê?

• Quais são os principais objetivos da rede social em que participa?

• Quantas entidades compõem atualmente a rede social em que

participa?

• Indique três entidades(s) pertencentes(s) à rede com quem sua

entidade mantém mais contato:

ENTIDADE QUANTAS

VEZES ?

DE QUE

FORMA ?

COM QUE

PESSOA ?

COM QUAL

OBJETIVO ?

1.

2.

3.

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• Sua entidade participa dos principais espaços de discussão existentes

hoje sobre a política pública dirigida à população em situação de rua?

Quais? Com que frequência? (Fórum das Organizações Sociais que

Trabalham com a População em Situação de Rua, Fórum Permanente

de Acompanhamento das Políticas Públicas da População em Situação

de Rua de São Paulo, Fórum de Debates sobre a População em

Situação de Rua, Conselho de Monitoramento da Política de Direitos

das Pessoas em Situação de Rua na Cidade de São Paulo e Grupos

de Trabalho Interministeriais);

• Você acredita que sua entidade é capaz de influenciar na efetivação da

política pública dirigida à população em situação de rua? Se sim, com

qual intensidade (alta, média ou baixa)? Por quê?

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ANEXO 2 Quadro Geral 1 – Serviços das Organizações Soc iais Mapeados da Rede de Atendimento Socioassistenc ial da Secretaria Municipal de Assistência e Desenv olvimento

Social de São Paulo

TIPO DE SERVIÇO

COORDENADORIA DE ASSISTENCIA SOCIAL NOME DO SERVIÇO ORGANIZAÇÃO SOCIAL ENDEREÇO TEL E-MAIL

CAS CENTRO-OESTE 1 LYGIA JARDIM INSTITUTO LIGIA JARDIM Rua São Domingos, 39/51 - República 3242-7601

[email protected]

2 ESPAÇO LUZ APOIO Praça Princesa Isabel, 75/77 - Santa Cecilia 3221-2835

espaç[email protected]

3 NOVA VIDA APOIO Rua Francisca Miquelina, 343 - Republica 3106-2036 [email protected]

CAS SUDESTE 4 CASA SAMARITANOS RECICLAZARO Rua Com. Nestor Pereira, 77 - Pari 3311-7184 [email protected]

5 COR-AÇÃO COR Av. Alcântara Machado, 91 - Bras 3341-3391 [email protected]

6 SÃO CAMILO I PROVINCIA CAMILIANA Av. Celso Garcia, 3316/2440 - Mooca 6192-0097

[email protected]

CAS SUL 7 POUSADA DA ESPERANÇA ASSOCIAÇÃO REDE RUA Rua Isabel Schimidt, 489 - Santo Amaro 5695-0457 pousadaesperanç[email protected] CEN

TR

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E A

CO

LH

IDA

I

8 SANTOS DIAS ASSOCIAÇÃO REDE RUA Rua Suzana Rodrigues, 135 - Santo Amaro 5548-2672 [email protected]

CAS CENTRO-OESTE 9 PROJETO OFICINA BORACEA APOIO Rua Norma Pieruccini Gianotti, 77 - Santa Cecilia 392-1055 [email protected]

10 PEDROSO CATEDRAL METODISTA Viaduto Pedroso, 111 - Liberdade 3289-2755

[email protected]

11 PORTAL DO FUTURO CROPH Rua Deocleciana, 25 - Bom Retiro 3313-7020

[email protected]

12 ZANCONE INSTITUTO ROGACIONISTA Av. Imperatriz Leopoldina, 1335 - Vila Leopoldina

3832-2301

[email protected]

13 LAR TRAVESSIA LAR DO ALVORECER CRISTÃO Rua Cláudio Soares, 144 - Pinheiros 3815-2407

[email protected]

14 ESPERANÇA COR Rua Cardeal Arco Verde, 3041 - Pinheiros 3812-9298

[email protected]

CAS SUDESTE 15 ARSENAL DA ESPERANÇA ASSINDES SERMIG Rua Dr. Almeida Lima, 900 - Bras 2292-0977 [email protected]

16 SOLIDARIEDADE - ABECAL ABECAL Av. Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 1392 - Jabaquara

5015-2990 [email protected]

17 ESTAÇÃO BEM ESTAR IHDI Av. Pres. Tancredo Neves, 270 - ipiranga 5062-1200

[email protected]

18 ESTAÇÃO VIVÊNCIA CROPH Rua Pedro Vicente, 421 - Pari 3315-0286 [email protected]

19 VIVENDA DA CIDADANIA CROPH Rua Comendador Nestor Pereira, 75 B - Pari 3226-6880 [email protected]

20 CASA SÃO LAZARO RECICLAZARO Rua Brigadeiro Machado, 243/253 - Brás 2693-8015 [email protected]

21 SÃO CAMILO II PROVINCIA CAMILIANA Rua Ivai, 187 - Tatuapé 2294-8025 [email protected]

22 PORTO CIDADÃO CASP Rua Iguara, 560 - Vila Prudente 2912-6021 [email protected]

23 COMEÇAR DE NOVO APOIO Rua Emídio de Sousa, 41 - Penha 2681-6860 [email protected]

CAS SUL 24 REENCONTRO APOIO Rua Promotor Gabriel Nettuzzi Perez, 81 - Santo Amaro

5523-8546 [email protected]

25 CAPELA DO SOCORRO INSTITUTO SOCIAL SANTA LUCIA Av. Senador Teotônio Vilela, 83 - Cidade Dutra 5667-9847 [email protected]

CAS LESTE 26 SÃO MATEUS APOIO Av. Mateo Bei, 1409 - São Mateus 2013-9693 [email protected]

27 ERMELINO MATARAZZO APOIO Rua Guilherme Oliveira de Sá, 795 - Ermelino Matarazzo

2214-7176 [email protected]

28 SÃO MIGUEL INSTITUTO SOCIAL SANTA LUCIA Rua Ribeiro dos Santos, 165 - São Miguel 2058-3948

[email protected]

CEN

TR

OS D

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CO

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II

CAS NORTE 29 CASA ABRIGO SÃO FRANCISCO DE ASSIS CEPHAS Rua Antonio dos Santos Neto, 40 - Santana 2251-2277 [email protected]

CAS CENTRO-OESTE 30 CASA DE CUIDADOS LAR TRANSITÓRIO BATUÍRA GEB Rua Maria José, 311 - Bela Vista 3242-1854

[email protected]

31 ABRIGO DOM BOSCO - PARA CATADORES LICEU CORAÇÃO DE JESUS Alameda Dino Bueno, 735 - Bom Retiro 361-3161 [email protected]

32 PROJETO OFICINA BORACEA – IDOSOS APOIO Rua Norma Pieruccini Gianotti, 77 - Santa Cecilia 3392-1055

[email protected]

33 MORADA NOVA LUZ - IDOSOS ALIANÇA DE MISERICORDIA Rua Helvétia, 234 - Santa Cecília

CAS SUDESTE 34 CASA DE APOIO MARIA MARIA CROPH Rua Comendador Nestor Pereira, 77 - Pari 3313-6067 [email protected]

35 SITIO DAS ALAMEDAS – IDOSOS CROPH Rua Comendador Nestor Pereira, 75 A - Pari 3313-6067 [email protected]

36 CASA DE MARTA E MARIA RECICLAZARO Rua Catumbi, 427 - Belem 2692-4416 [email protected]

37 LAR DE NAZARE - FAMÍLIAS COR Rua Brigadeiro Machado 279 - Bras 2292-6552

[email protected]

CEN

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OS D

E A

CO

LH

IDA

ESP

EC

IAIS

38 CASA DE SIMEÃO – IDOSOS RECICLAZARO Rua Assunção, 480 - Brás 3228-2064 [email protected]

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TIPO DE SERVIÇO

COORDENADORIA DE ASSISTENCIA SOCIAL NOME DO SERVIÇO ORGANIZAÇÃO SOCIAL ENDEREÇO TEL E-MAIL

CAS CENTRO-OESTE 39 PORTO SEGURO AEB Rua Porto Seguro, 235 Bom Retiro 3326-6640

[email protected]

40 CENTRO DE ACOLHIDA DOM ORIONE ACHIROPITA Rua 13 de maio, 320/430 - Bela Vista 3106-7235

[email protected]

41 MINHA RUA MINHA CASA OAF Rua Dr. Lund, 361 - Sé 3271-8718

[email protected]

CLEO

S D

E

CO

NV

IVÊN

CIA

42 REBOUÇAS SÃO LUIS GONZAGA Av. Rebouças, 305 - Jardim Paulista 3081-3485

[email protected]

CAS CENTRO-OESTE 43 RESTAURANTE COMUNITARIO POVO DE RUA ASSOCIACÃO REDE RUA Rua Penaforte Mendes, 56 - Bela Vista 3259-2776

[email protected]

CAS SUDESTE 44 SÃO MARTINHO DE LIMA BOMPAR Rua Siqueira Bueno, 667 - Agua Rasa 2693-6251

[email protected]

NUCLEOS DE CONVIVENCIA

COM RESTAURANTE COMUNITARIO

45 CASA RESTAURA-ME ALIANÇA DE MISERICORDIA Rua Monsenhor de Andrade, 746 – Brás 3326-7134

HOTEIS SOCIAIS CAS CENTRO-OESTE 46 HOTEL SOCIAL IPIRANGA APOIO Rua Coronel Frias, 281

2062-5583 [email protected]

CAS CENTRO-OESTE 47 CONDOMINIO AEB AEB Av. Brigadeiro Luis Antonio, 1645/1647- Bela Vista

3262-3469

[email protected]

48 RUA MERCURIO CROPH Av. Mercurio, 518 - Sé 3228-7350

[email protected]

49 APOIO NUCLEO I APOIO Rua São Paulo, 263 - Liberdade 3207-4659 [email protected]

50 APOIO NUCLEO II APOIO Rua Guaianases, 1417 - Santa Cecilia 3207-4659

[email protected]

51 A CASA ACOLHE A RUA OAF Rua dos Estudantes 547/549/561/571 - Sé 3208-5096

[email protected]

CAS NORTE 52 SANTANA (MULHERES) CROPH Rua Claudino Alves, 170 - Santana [email protected]

REP

ÚB

LIC

AS

53 SANTANA (HOMENS) CROPH Rua Urupiara, 99 - Santana [email protected]

CAS CENTRO-OESTE 54 RECONSTRUINDO VINCULOS CIEDS Rua Riachuelo, 354 - Republica 3101-5578

[email protected]

55 BELA VISTA APOIO Rua Francisca Miquelina, 343 - Republica 3106-2036

[email protected]

56 SANTA CECILIA SOCIEDADE DO JD COPACABANA Rua Barra Funda, 491 - Santa Cecilia 3392-3941

[email protected]

57 ESPAÇO DE CONVIVENCIA Jardim da Vida - Dom Luciano Mendes de Almeida

ALIANÇA DE MISERICORDIA Rua Dom Pedro, 1015 - Sé 8612-9775

[email protected]

PR

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TO

ATEN

ÇA

O

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BA

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58 ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA (TENDA) ALIANÇA DE MISERICORDIA Rua Frederico Alvarenga, 1015 - Sé 3496-7461 [email protected]

CAS CENTRO-OESTE 59 RECIFRAN SEFRAS Rua Junqueira Freire, nº 176 – Liberdade 3209-4112 [email protected]

60 COORPEL/REVIRAVOLTA CENTRO GASPAR GARCIA Rua 25 de Janeiro, 274 - Bom Retiro 3311-9961 [email protected]

61 A ARTE QUE VEM DA RUA OAF Rua dos Estudantes 283/477 - Sé 3209-3419 oafadm@u ol.com.br

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62 COOPAMARE OAF Rua Galeno de Almeida, 639/659 - Jardim Paulista 30 86-4411 [email protected]

NÚCLEO DE SERVIÇOS DE

CAPACITAÇÃO TÉCNICA

CAS CENTRO-OESTE 63 SASECOP INSTITUTO LIGIA JARDIM Rua São Domingos 39/51 - República 3337-6646 sasec [email protected]

BAGAGEIRO CAS SUDESTE 64 BAGAGEIRO COR Rua Visconde de Parnaiba, 700 - Bras

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ANEXO 3

Tabela de Classificação Internacional de Organizaçõe s Sem Fins Lucrativos

Classificação: 01 Cultura e recreação; 02 Educação e pesquisa; 03 Saúde (hospitais, clínicas de reabilitação, residências para idosos, intervenção em saúde

mental e crises); 04 Serviços Sociais; 05 Meio Ambiente (ambiente e proteção animal); 06 Desenvolvimento e habilitação (desenvolvimento econômico social e comunitário, habilitação,

emprego e treinamento e geração de renda); 07 Direitos civis, defesa de direitos e direitos políticos (organizações cívicas e de defesa de

direitos, serviços legais e legislação); 08 Organizações filantrópicas intermediárias e promoção de voluntário; 09 Atividades Internacionais; 10 Organizações profissionais, de Classes e Sindicatos; 11 Religião; 12 Outra.

Fonte: Mapa do Terceiro Setor – Centro de Estudos do Terceiro Setor da EAESP/FG