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Colóquio «Arquivos de família, sécs. XIII-XIX: que presente, que futuro?» 29-30 outubro de 2010 AN/TT e FCSH A METODOLOGIA DE TRATAMENTO DOS ARQUIVOS DE FAMÍLIA NO ARQUIVO MUNICIPAL DE VILA REAL Palavras-chave Metodologia arquivística/Arquivos de Família/Arquivos Municipais Pedro de Abreu Peixoto* Arquivo Municipal de Vila Real Rua Augusto Rua, nº 3-5 5000-575 VILA REAL PORTUGAL Tel: 259309620 E-MAIL: [email protected] Resumo Todo o trabalho no Arquivo Municipal de Vila Real (ArqMVR) é visto numa perspetiva integradora. Se por um lado a sua missão é a gestão da informação documental do Município, na qual assume uma ação eminentemente técnica e administrativa, compete-lhe também atuar diretamente enquanto agente cultural. No papel de agente cultural, a ação do arquivo promove uma atividade que, de acordo com as estratégias do município, procura proporcionar aos cidadãos melhores conhecimentos para se situarem de forma consciente no contexto social que lhes é próprio, com o intuito de contribuir para a sua evolução. A ação cultural dos Arquivos Municipais deve, assim, transmitir o valor do nosso património documental, como parte fundamental da herança cultural do município, e converter-se num centro de ação cultural, que possa oferecer aos cidadãos elementos úteis para a valorização e análise da sociedade atual e das suas possibilidades futuras.

Metodologia de tratamento de arquivos de família no Arquivo Municipal de Vila Real

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Page 1: Metodologia de tratamento de arquivos de família no Arquivo Municipal de Vila Real

Colóquio «Arquivos de família, sécs. XIII-XIX: que presente, que futuro?» 29-30 outubro de 2010

AN/TT e FCSH

A METODOLOGIA DE TRATAMENTO DOS ARQUIVOS DE FAMÍLIA

NO ARQUIVO MUNICIPAL DE VILA REAL

Palavras-chave

Metodologia arquivística/Arquivos de Família/Arquivos Municipais

Pedro de Abreu Peixoto*

Arquivo Municipal de Vila Real

Rua Augusto Rua, nº 3-5

5000-575 VILA REAL

PORTUGAL

Tel: 259309620

E-MAIL: [email protected]

Resumo

Todo o trabalho no Arquivo Municipal de Vila Real (ArqMVR) é visto numa perspetiva

integradora. Se por um lado a sua missão é a gestão da informação documental do Município, na

qual assume uma ação eminentemente técnica e administrativa, compete-lhe também atuar

diretamente enquanto agente cultural.

No papel de agente cultural, a ação do arquivo promove uma atividade que, de acordo com

as estratégias do município, procura proporcionar aos cidadãos melhores conhecimentos para se

situarem de forma consciente no contexto social que lhes é próprio, com o intuito de contribuir

para a sua evolução.

A ação cultural dos Arquivos Municipais deve, assim, transmitir o valor do nosso

património documental, como parte fundamental da herança cultural do município, e converter-se

num centro de ação cultural, que possa oferecer aos cidadãos elementos úteis para a valorização e

análise da sociedade atual e das suas possibilidades futuras.

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O projeto relacionado com os Arquivos de Família e Pessoais insere-se nesta vertente de

ação cultural, estrategicamente assumido no decorrer da missão da instituição, bem como de apoio

aos munícipes, na salvaguarda e valorização do património cultural em espaço privado.

Partindo das premissas do apoio à preservação e divulgação do património documental e do

apoio à investigação e divulgação da história local, chegamos à constatação do grande número de

fundos de família e pessoais que, por razões de vária índole, se encontram inacessíveis e/ou em

risco.

Considerando o diálogo entre o interesse público e o interesse demonstrado pelos

proprietários dos fundos documentais, o ArqMVR desenvolve um projeto, baseado em quatro

premissas fundamentais:

Privilégio à preservação e divulgação do património documental em

detrimento das considerações geográficas.

Manutenção física da documentação na posse da família.

Retorno do investimento público através da valorização da disponibilização

integral da informação e da preservação do património documental.

Ligação estreita com a universidade.

No que concerne ao privilégio à preservação e divulgação do património documental, em

detrimento das considerações geográficas, a existência de um determinado conjunto documental,

relacionado com um Arquivo de Família, no espaço de influência geográfica do ArqMVR, ou na

posse de um dos seus munícipes é, perante o estado avassalador de recuperação patrimonial que há

a realizar, suficiente para exigir a intervenção do Arquivo Municipal, na sua qualidade de agente

cultural, com evidentes responsabilidades na preservação e divulgação do património cultural

nacional.

O ArqMVR atenta assim a que, mais do que as considerações geográficas nas ligações

familiares dos fundos documentais, que se lhe apresentam para tratamento, preservação e

divulgação, vale a responsabilidade que lhe assiste na preservação da memória coletiva de um

povo.

É bom assim que se entenda, logo à partida, que as razões que levam um Arquivo

Municipal a tratar um Arquivo de Família, não devem fundar-se em razões de origem geográfica

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das entidades produtoras, já que essas razões apenas se tornam ponderosas na hora do

enquadramento técnico documental.

A questão da manutenção física da documentação na posse da família, filia-se no destaque

e valor que o município dá à informação e à sua divulgação e comunicação, libertando-se da

componente patrimonial e dos aportes mais ou menos subjetivos que transporta, reservando aos

proprietários o direito, que lhes é inalienável, a ficar de posse da documentação, sendo que os

mesmos devem assegurar as condições físicas para a sua salvaguarda e comunicação dos originais.

Assim, num encontro de interesses público/privado, o ArqMVR disponibiliza o tratamento

técnico dos fundos documentais, enquanto os proprietários asseguram a disponibilização integral

da informação contida na documentação e a liberdade de divulgação e comunicação da mesma, por

parte desta instituição, tudo consubstanciado num protocolo assinado entre as partes.

O retorno do investimento público, cuja afetação de recursos-humanos e meios materiais

do ArqMVR, aos projetos de tratamento dos Arquivos de Família gera, é efetuado através da

divulgação da informação produzida no espaço privado –permitindo a exceção à divulgação de

documentos de excecional conteúdo privado - , que concorrerá para o conhecimento mais efetivo

da memória coletiva, bem como pela preservação e divulgação do património documental

nacional.

A perspetiva integradora é, também, motivadora da forma como o ArqMVR procura, nas

instituições de ensino superior, as parcerias que possam dar a dimensão científica necessária, para

a compreensão da complexidade sociológica e histórica imanente aos Arquivos de Família.

Para além do conhecimento absorvido da própria família e da história local, as instituições

de ensino superior permitem, tanto no apoio ao processo de tratamento documental, como à

interpretação, divulgação e animação dos fundos documentais, um maior entendimento dos

processos intrínsecos e extrínsecos de formação e evolução do contexto familiar, que permitirão

não só uma melhor organização documental, mas, o que é determinante, partir para o patamar da

história da família, a qual já não está no horizonte da missão do Arquivo Municipal.

_____________ * Arquivista e diretor do Arquivo Municipal de Vila Real.