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Junho de 200 Professora

Michelangelo, Arquiteto

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O trabalho arquitetônico de Michelangelo Buonarotti.

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Michelangelo, arquiteto.ARQ 111 Histria e Teoria da Arquitetura IITrabalho FinalJunho de 2009Professora Joslia Godoy PortugalMaressa Fonseca e Souza 61069rika Cristvo Novais 61099

ResumoEste trabalho tem como temtica a produo arquitetnica de Michelangelo Buonarotti (1475 1564), que embora se considerasse verdadeiramente um escultor, obteve grande prestgio em vrias expresses artsticas. No contexto do Alto Renascimento se apresentou como um grande contestador das regras clssicas precedentes, suas obras so a reflexo desse pensamento inovador e a expresso da sua maneira de criar. Atravs das anlises de duas de suas obras, a Capela Medici e a Biblioteca Laurenciana, pretendemos mostrar como seu processo criativo, carregado de subjetividade e questionamentos, pode nos influenciar na concepo de projetos atualmente.

IntroduoQuando se diz que Michelangelo um gnio, no somente se exprime uma apreciao sobre a sua arte, mas se formula um juzo histrico. Gnio, no pensamento do Quinhentos, uma fora extranatural (angelical ou demonaca), que age sobre o esprito humano; o que na poca romntica se denominar inspirao. Leonardo um formidvel engenho, mas no , nesse sentido, um gnio, porque toda a sua obra insiste na rea da experincia e do conhecimento; Michelangelo um gnio porque a sua obra inspirada, animada por uma fora que se diria sobrenatural e que a faz nascer da profundeza e tender ao sublime, transcendncia pura. (ARGAN, 2003 : 47)

A Itlia do sculo XVI vivenciava o perodo do Alto Renascimento, conhecido como Cinquecento. Foi um sculo dramtico, cheio de transformaes e contrastes. Na Europa, as reformas religiosas levaram a Igreja Catlica a repensar sobre suas estruturas e sua conduta, o absolutismo se consolidou como forma de governo e grandes imprios foram formados no continente. Dentro desse contexto, algumas caractersticas do Renascimento comearam a ser abandonadas. O homem no mais a medida do universo e um forte sentimento religioso volta a florescer no pensamento europeu.Questionamentos quanto perfeio do classicismo e o anseio de libertao formal das antigas regras comeam a surgir. Os artistas desenvolvem caractersticas anticlssicas com desejo de superao dos ideais clssicos. Esse perodo ficou conhecido como Maneirismo.

Fig. 1 Michelangelo Buonarroti.Nesse contexto, Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni (figura 1) foi um grande precursor da arte maneirista. Nasceu na pequena provncia de Caprese, na Itlia, em 1475, no seio de uma famlia aristocrtica. Seu pai faleceu quando ele ainda era criana ficando aos cuidados de uma ama-de-leite, cujo marido era cortador de mrmore. Desde ento Michelangelo entrou em contato com o material que seria to importante para sua produo artstica. Assim como outros artistas do Renascimento, Michelangelo se dedicou a diversas artes, era escultor, pintor, poeta e arquiteto. Sua genialidade lhe concedeu o ttulo de o divino. Ele criou uma linguagem visual prpria, muitas vezes contrria aos ideais clssicos. Para Michelangelo, a arte no era apenas um ofcio, era inspirao interior e a busca pela beleza era um caminho de se chegar a Deus.

Fig. 2 - Piet de Michelangelo.Apesar de seu talento incomparvel em variados campos artsticos, Michelangelo se considerava primeiramente um escultor (figura 2), para ele as figuras estavam presas dentro dos blocos, a tarefa do escultor era simplesmente retir-las de l. Dentre suas esculturas mais conhecidas esto Piet e Davi. Na pintura tambm teve grande expresso e se consagrou com as obras do teto da Capela Sistina e o Juzo Final, localizado atrs do altar da mesma.

Fig. 3 - Igreja de San Lorenzo em Florena.Ainda que sua fama seja, na maioria das vezes, atribuda ao seu talento como escultor e pintor, o foco deste trabalho ser sua produo enquanto arquiteto, mostrando seu questionamento s regras renascentistas, a subjetividade implcita em suas obras e como sua maneira de projetar e criar pode nos influenciar no processo de concepo de projetos hoje. Nossas anlises sero voltadas para duas de suas obras, a Capela Medici e a Biblioteca Laurenziana, ambas na cidade de Florena.

Desenvolvimento Apesar de sua insistncia no fato de ser, antes de mais nada, um escultor, nenhum arquiteto de profisso teve um impacto to surpreendente na arquitetura quanto Miguel ngelo. (SUMMERSON, 1994 : 47)Era comum aos arquitetos renascentistas trabalharem baseados na gramtica dos tratados de Vitrvio e observando a arquitetura da antiguidade romana. Para eles a antiguidade tinha uma autoridade que deveria ser referncia na composio arquitetnica. Michelangelo no levou em considerao tal autoridade, no sentia necessidade de se prender as prticas comuns e tinha liberdade para ousar, uma vez que j tinha o domnio de formas e de materiais enquanto escultor.E esse mesmo poder de ver, atravs de formas mortas e estabelecidas algo intensamente vivo, permitiu a Miguel ngelo transcender a gramtica vitruviana com absoluta segurana. (SUMMERSON, 1994 : 47)Em sua produo arquitetnica Michelangelo concebe as formas com sublime desenvoltura, no questionando seu sentido. A composio deveria ter contrastes plsticos relevantes, num jogo de luz e sombra onde cada detalhe era importante. No tinha interesse na rusticao e utilizava paredes lisas onde o foco estaria concentrado em superfcies delimitadas, com alternncia de planos e elementos pouco ornamentados. Uma grande inveno de Michelangelo na arquitetura foi a combinao do uso de ordens em diferentes escalas. A ordem colossal, compreendida de uma grande coluna que se eleva do cho e chega a recobrir mais de dois andares, faz com que o edifcio adquira grandes dimenses. Entretanto, os andares mantm sua prpria escala uma vez que so empregadas ordens de dimenses proporcionais a cada andar. A produo arquitetnica de Michelangelo se desenvolveu no perodo de sua maturidade, quando j possua fama e influncia. Em Florena, fez projetos para as fachadas da Baslica de San Lorenzo, as quais no foram executadas, na mesma igreja Michelangelo foi encarregado da Nova Sacristia, onde se encontram os tmulos de Lorenzo e Giuliano de Medici (Capela Medici), e da Biblioteca Laurenziana. J em Roma algumas de suas obras foram a reforma do Capitlio, a cpula da Baslica de So Pedro, a Porta Pia, entre outras.

A Capela Mdici: inovao e ousadia

Nas eleies de 1513, os Medicis retornam ao poder com o papa Leo X, e em 1516 ele encomenda a Michelangelo sua primeira obra arquitetnica, a fachada da Igreja de San Lorenzo em Florena, projetada por Brunelleschi, cujo interior fora concludo por volta de 1470.

Fig. 4 - Maquete em madeira para a fachada da Igreja de San Lorenzo.Leo X queria completar a fachada para que esta representasse um monumento glria de sua famlia. Em 1516, Michelangelo ento convidado pelo papa a executar uma maquete em madeira (figura 4) para o projeto da fachada e em 1518 um acordo foi firmado para sua execuo. Michelangelo concebe a fachada em duas ordens, como um plano plstico em que as esculturas devero estar integradas em profundidade (nichos), em nvel, salientes.[footnoteRef:1] [1: c.f. ARGAN 2003 : 66]

Apesar de todo trabalho, em 1520 desfeito o acordo e o projeto para a fachada abandonado. Para compensar, o papa encarrega a Michelangelo o projeto para a Nova Sacristia da Igreja de San Lorenzo assim como os tmulos para Lorenzo, o Magnfico, e seu irmo Giuliano, e tambm para os duques Lorenzo e Giuliano, todos membros da famlia Medici. Para a Nova Sacristia, Michelangelo se inspira na Antiga Sacristia projetada por Brunelleschi, transformando-a tambm em um mausolu. Mesmo sendo iguais em planta, nota-se grande diferena na elevao das duas capelas (ver croqui I em anexo).

Fig. 5 - Elevaes da Capela de Michelangelo e Brunelleschi, respectivamente.Dentre as principais diferenas esto o tico, que foi acrescentado entre a ordem de pilastras e a regio dos pendentes, e a cpula, que no mais rasa e com pregas como a de Brunelleschi, mas possui um formato hemisfrico, fazendo aluso aos caixotes do Panteo e coroada com um alongado lanternim (figuras 6 e 7).Devido elevada altura do interior, a cpula se torna mais vazia e estreita, sendo acentuada pelas pilastras que foram empregadas nas quatro paredes. Os vos entre as pilastras foram preenchidos por ornamentos bem demarcados, suas pilastras, frontes, nichos e volutas fazem um contraste com a ordem das pilastras principais, tanto em estilo quanto em escala.

Fig. 6 e 7 Diferenas entre a Velha e a Nova Sacristia. Segundo Vasari[footnoteRef:2], esse arranjo no estava de acordo com a tradio do Quatrocento e to pouco com as regras clssicas, podendo ser notado na comparao entre as portas de entrada de Michelangelo e de Brunelleschi. Na Antiga Sacristia, as portas esto emolduradas por frontes e colunas, as quais estabelecem uma relao proporcional com a escala humana, uma vez que esto posicionadas ao nvel do observador. J na Capela Medici as molduras das portas so, na verdade, elementos que sustentam grandes tabernculos (figura 8). Estes, feitos de mrmore, so alongados e altos sendo delimitados por pilastras e frontes arredondados. Segundo Summerson, no possvel descrever o nicho feito por Miguel ngelo na capela Medici com o vocabulrio vitruviano: a intensidade da emoo desafia a descrio tcnica.[footnoteRef:3] certo que esse nicho foi uma inovao inspirada, nunca se tinha visto algo semelhante na arquitetura. Sua escala grandiosa e sua expressividade formal fizeram com que se tornasse um elemento de destaque no ambiente. As portas tornaram-se apenas elementos secundrios, suprimidas pelos tabernculos acima delas. [2: c. f. LOTZ 1998 : 90] [3: c. f. SUMMERSON 1994 : 60]

Diante da porta de Michelangelo impossvel ao observador estabelecer uma relao com a escala humana, como se a arquitetura possusse uma escala dentro de si mesma (figura 8). Outro exemplo so os sarcophagi, as esculturas de figuras humanas presentes nos tmulos, os quais apresentam tamanho maior que o natural e se encontram posicionadas acima do visitante, obrigando-o a olh-las de baixo para cima. Essa arquitetura, portanto, tem como caracterstica causar uma sensao de diminuio do tamanho do observador.

Fig. 8 Porta da Nova Sacristia com o grande tabernculo situado acima.Os tmulos para os duques Lorenzo e Giuliano encontram-se nas duas paredes laterais, os quais so verdadeiros monumentos ornamentados com trs grandes esttuas em cada um. Michelangelo usou como tema para suas esculturas a Alegoria do Tempo, ligado memria, que simbolizaria o triunfo da famlia Medici atravs do tempo.

Fig. 9 Tmulo de Giuliano de Medici.As figuras das alegorias foram postas sobre as sepulturas e abaixo das esculturas dos duques. Para a tumba de Giuliano (figura 9) foram escolhidas as esculturas representando o Dia e a Noite, e para a de Lorenzo, o Crepsculo e a Aurora. Todas so caracterizadas por possurem tores e alongamentos, e foram deixadas incompletas em algumas partes para que o observador faa uma interpretao pessoal. O Dia est posicionado virado de costas, demonstrando uma expresso misteriosa nos olhos e um vulto somente esboado. O corpo da Noite representa o abandono durante o sono, a Aurora parece ter sido retratada no ato de acordar, compreendendo que os olhos de Lorenzo esto para sempre fechados.

Fig. 10 - Cpula da Nova Sacristia vista de baixo.Os duques foram representados sentados em dois nichos sobre os tmulos, um de frente para o outro e vestidos como comandantes romanos. Suas esculturas so idealizadas e expressam suas caractersticas psicolgicas, Giuliano, em postura orgulhosa, altivo e decidido, j Lorenzo, em posio pensativa, melanclico e meditativo. Na parede em frente ao altar, se encontram uma esttua de Nossa Senhora com Jesus no colo entre as imagens de So Cosme e So Damio, santos protetores da famlia. Embora estejam tambm sepultados na Capela, os tmulos monumentais de Lorenzo e seu irmo Giuliano no puderam ser executados. Na cpula, as estruturas entre os caixotes guiam a viso para o interior do lanternim, cujas grandes janelas permitem a iluminao das formas slidas, e fazem com que ele parea extremamente alto.A Capela Mdici foi o nico projeto de interior executado e supervisionado por Michelangelo. Em 1534, quando mudou para Roma, a decorao e a estaturia no haviam sido terminadas. S em 1545 foram empregadas as figuras sobre os tmulos e, em 1559 suas idias de complementar a decorao da capela foram abandonadas.

A Biblioteca Laurenciana: a expressividade maneirista.O salo e o vestbulo da biblioteca Laurenciana so o ponto de partida da arquitetura do maneirismo, isto , de uma arquitetura no mais voltada a imitar ou repetir na prpria estrutura a estrutura do universo ou a construir um espao que seja a imagem racional da natureza. (ARGAN, 2003 : 68)

Figura 11 - Vista externa da Biblioteca Laurenciana.Concebida sob encomenda do papa Clemente VII com o objetivo de abrigar os livros e manuscritos pertencentes famlia Medici, a Biblioteca Laurenciana, como conhecida atualmente, foi instalada no claustro da ala oeste da igreja de San Lorenzo (figura 11). A obra teve incio em 1525 e ainda no tinha sido concluda em 1534, quando Michelangelo partiu de Florena devido uma rebelio contra os Medici ocorrida na cidade. Continuou sendo supervisionada pelos arquitetos Tribolo, Vasari e Ammannati, que continuaram recebendo instrues provenientes de Michelangelo, sendo inaugurada em 1571.Sua forma foi previamente definida uma vez que foi construda em um terceiro andar, acima de um claustro que no deveria ser alterado. No andar entre o claustro e a Antiga Sacristia h um vestbulo, chamado de ricetto, o qual foi destinado a abrigar a escadaria que leva sala de leitura.

Figura 12 - Sala de leitura.A sala de leitura (figura 12) um ambiente estreito e longo, tem 46,2 m de comprimento, 10,5 m de largura e 8,4 m de altura. Existem duas fileiras de assentos que so separadas por um longo corredor onde cada encosto serve de banco de leitura para o assento anterior. Os assentos so iluminados por janelas dispostas nas duas paredes de maior comprimento. Essas janelas so emolduradas por pilastras que apiam a cornija e sustentam as vigas transversais de um pesado teto de madeira. Nas paredes foi empregado um recuo de camadas triplo: o frontal apresenta as pilastras e suas bases, o intermedirio contm molduras cegas na parte superior e painis onde esto inseridas as janelas, e, por fim, na camada mais profunda esto as molduras das prprias janelas.Neste ambiente Michelangelo encontrou uma tima soluo para um problema estrutural. O peso das paredes deveria ser reduzido de forma que no trouxesse danos antiga estrutura do andar inferior. Com o uso dos recuos em camadas o arquiteto conseguiu reduzir o volume e o peso dos vos entre as pilastras. Por fim as pilastras, alm de serem elementos para a composio esttica das paredes, exerceram sua original funo estrutural.Quando Michelangelo partiu de Florena em 1534 somente as paredes da sala de leitura estavam prontas, o teto e o piso foram finalizados apenas em 1550. O ricetto s foi totalmente concludo no sculo XX, em 1904 quando duas janelas voltadas para o claustro foram terminadas. Em 1558 a escadaria foi terminada por Ammannati, o qual se baseou em um modelo em argila que Michelangelo o tinha enviado.

Fig. 13 - Croquis de Michelangelo com as idias iniciais para a escada do vestbulo.Para o vestbulo, Michelangelo primeiramente havia projetado dois lances de escadas junto s paredes laterais, as quais se encontrariam em uma ponte em frente entrada da sala de leitura (figura 13). Entretanto abandonou essa idia, criando uma escadaria de trs lances que ocuparia a parte central do vestbulo (figura 14). Os dois pequenos lances laterais se uniriam ao lance central maior na parte superior.

Fig. 14 - Escadaria de acesso Biblioteca.Os trs lances inferiores da escadaria so paralelos e contm nove degraus, o lance central mais largo do que os laterais e seus degraus so convexos, enquanto que os dois lances laterais so menores e com degraus retos. Os trs primeiros degraus do lance central so maiores e mais altos, sendo o que o primeiro se projeta para alm do limite da escadaria. O ricetto ocupa um espao quase perfeitamente quadrado, de 9,5 m por 10,3 m e com 14,6 m de altura. O p-direito alto foi uma soluo encontrada para a iluminao, inicialmente as alturas tanto da sala de leitura quando do vestbulo seriam iguais, este ltimo deveria receber iluminao atravs de clarabias ou janelas em uma abbada, entretanto a soluo utilizada foram janelas em um clerestrio[footnoteRef:4] (ver croqui II em anexo). [4: Parte da parede de uma nave, iluminada naturalmente por um conjunto de janelas laterais do andar superior. De forma geral, refere-se fiada de janelas altas, dispostas sobre um telhado adjacente.]

Fig. 15 - Maquete para o vestbulo da Biblioteca Laurenciana, destaque para a escadaria e para a marcao de definida de trs pisos nas paredes.No vestbulo possvel notar a marcao de trs pisos nas paredes (figura 15). No primeiro, que contm a escadaria, o tratamento das paredes mais simples, com alguns recuos e grandes volutas distribudas sob as colunas do segundo piso. Essas colunas do piso intermedirio so distribudas aos pares e situam-se em recuos feitos na parede, nos vos entre elas existem nichos profundos coroados com frontes e acima deles encontram-se painis cegos emoldurados e ornamentados. No terceiro piso existem pares de pilastras localizados acima das colunas e, nos vos, as janelas so contornadas por molduras quadradas. Essas colunas duplas seriam empregadas tambm na sala de leitura, entretanto Michelangelo restringiu-se a utiliz-las somente no vestbulo, o que conferiu a este espao uma fora bastante expressiva.

Fig. 16 No ricetto, o observador tem a sensao de que h um grande peso comprimido no espao.Segundo Lotz[footnoteRef:5], para o visitante que entra no vestbulo as paredes so extremamente altas, de modo que este no consegue fazer uma relao racional entre sua altura e a altura das paredes. Na escadaria, a largura dos degraus aumenta de cima para baixo e o observador parece estar diante de foras carregadas. Uma pessoa que desce as escadas sente que os degraus desguam no vestbulo, e quem sobe sente que eles esto fluindo em sua direo. Os degraus inferiores se projetam para o exterior, enquanto que os superiores, na medida em que vo diminuindo de tamanho, parecem puxar o observador para dentro da sala, convidando-o a um momento de leitura e meditao. [5: c. f. LOTZ, 1998 : 94.]

Outro ponto que exerce um efeito visual e emocional ao visitante so as colunas do ricetto, a moldura superior mais larga do que a inferior de modo que essa diferena desperta uma sensao de que h um grande peso sendo comprimido no espao. Para Michelangelo, a fora expressa pelas pedras seria uma metfora da tragdia da vida humana.At mesmo seus contemporneos perceberam que a composio e os detalhes da Laurenziana eram um rompimento revolucionrio com a tradio. Isso verdadeiro no apenas para seu vocabulrio formal. Se a organizao espacial do ricetto parece opressiva, exagerada ou dominadora, se as colunas parecem ter sido introduzidas fora na parede, porque a arquitetura pretende despertar emoes definidas no observador. Em seus sonetos, Michelangelo expressou a sua viso de figura presa ao bloco, mas que liberada pelo escultor. Idias similares encontram expresso visual na relao entre a parede e a coluna na estrutura da Biblioteca Laurenziana. (LOTZ, 1998 : 94)

ConclusoMichelangelo Buonarroti foi, sem dvida, um artista inspirado que transcendeu a produo artstica de sua poca. Ele conseguiu superar as consagradas regras vitruvianas, aplicando sua maneira de produzir com liberdade, o que lhe proporcionou grandes inovaes, fruto de sua ousadia e originalidade. Em sua produo arquitetnica pudemos notar como ele se preocupou com as sensaes e sentimentos que o espao planejado poderia causar nos usurios, e como esse espao refletiria o seu pensamento. A partir desses estudos, podemos concluir que enquanto futuros arquitetos, necessrio que desde j tenhamos a conscincia de que a arquitetura um grande instrumento de persuaso, seja de ideologias ou sentimentos. Devemos buscar sempre aprimorar a capacidade de expressar nossa linguagem atravs das obras que produzimos, nunca nos esquecendo que nossas criaes tero o poder de despertar emoes diferenciadas nos usurios. Se dominarmos as tcnicas, as formas e os materiais, teremos plenas condies de atuarmos com liberdade produzindo uma arquitetura ao mesmo tempo ousada e singular.

BibliografiaARGAN, Giulio Carlo. Histria da Arte Italiana: De Michelangelo ao Futurismo. So Paulo: Cosac & Naify, 2003.ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuaso: Ensaios Sobre o Barroco. So Paulo: Companhia das Letras, 2004.LOTZ, Wolfgang. Arquitetura na Itlia 1500-1600. So Paulo: Cosac & Naify, 1998.SUMMERSON, Sir John. A Linguagem Clssica da Arquitetura. So Paulo: Martins Fontes, 1994.WLFFLIN, Heinrich. Renascena e Barroco. So Paulo: Editora Perspectiva, 1989.

Crditos das FigurasFigura 1 - Disponvel em http://www.glbtq.com/literature/michelangelo,zoom.html Acesso em: 10/06/09Figura 2 - Disponvel em http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL771684-7084,00.html Aceso em: 10/06/09Figura 3 - Disponvel em http://www.homeandabroad.com/s/siteImages/2/1292_BibliotecaLaurPD.jpg Acesso em: 10/06/09Figura 4 - Disponvel em LOTZ, Wolfgang. Arquitetura na Itlia 1500-1600. So Paulo: Cosac & Naify, 1998, pgina 89.Figura 5 - Disponvel em LOTZ, Wolfgang. Arquitetura na Itlia 1500-1600. So Paulo: Cosac & Naify, 1998, pgina 90.Figura 6 - Disponvel em http://picasaweb.google.com/lh/photo/V1v5vul0DYQEi88UjcW4xQ Acesso em: 10/06/09Figura 7 - Disponvel em LOTZ, Wolfgang. Arquitetura na Itlia 1500-1600. So Paulo: Cosac & Naify, 1998, pgina 91.Figura 8 - Disponvel em LOTZ, Wolfgang. Arquitetura na Itlia 1500-1600. So Paulo: Cosac & Naify, 1998, pgina 91.Figura 9 - Disponvel em http://clasesdearte.blogspot.com/2006_12_01_archive.html Acesso em: 10/06/09Figura 10 - Disponvel em http://entertainment.howstuffworks.com/michelangelo-buildings3.htm Acesso em: 10/06/09Figura 11 - Disponvel em http://modblog.tate.org.uk/?p=54 Acesso em: 10/06/09Figura 12 - Disponvel em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Biblioteca_medicea_laurenziana_interno_01.JPG Acesso em: 10/06/09Figura 13 - Disponvel em http://www.bdonline.co.uk/story.asp?storycode=3121270 Acesso em: 10/06/09Figura 14 - Disponvel em http://almez.pntic.mec.es/~jmac0005/Bach_Arte/renacimiento/arquitectura_renacentista3.htm Acesso em: 10/06/09Figura 15 - Disponvel em http://www.flickr.com/photos/10673969@N00/3409124885 Acesso em: 10/06/09Figura 16 - Disponvel em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Biblioteca_medicea_laurenziana_vestibolo_04.JPG Acesso em: 10/06/09