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CONTABILIDADE E ADMINISTRAO
MICROECONOMIA
1 ano
TEXTO DE APOIO 01
Elementos fundamentais da oferta e procura
Interveno do Estado
Conceio Castro
2
Estes apontamentos tm por objetivo sistematizar os conceitos fundamentais que os
estudantes devem aprender no mbito desta unidade curricular, e que sero objeto de
discusso e exemplificao nas horas de contacto. O estudo destes conceitos deve ser
complementado com a leitura de manuais de microeconomia, conforme bibliografia (Ficha da
Unidade Curricular).
Conceio Castro
3
ndice Geral
Captulo I - Elementos Fundamentais da Procura e da Oferta ....................................................................... 5
1. A Procura .................................................................................................................................................. 5
1.1. A Curva da Procura: Noo, Pressupostos e Determinantes .................................................................. 5
1.1.1. Funo Procura ................................................................................................................................... 5
1.2. Procura Individual e Procura de Mercado ............................................................................................... 6
2. A Oferta ..................................................................................................................................................... 6
2.1. A Curva da Oferta: Noo, Pressupostos e Determinantes..................................................................... 6
2.2.- Oferta Individual e Oferta de Mercado .................................................................................................. 7
3. O Equilbrio entre a Oferta e a Procura ...................................................................................................... 8
4. Elasticidade preo da procura e elasticidade preo da oferta .................................................................... 9
4.1. Conceito de Elasticidade ........................................................................................................................ 9
4.2. Elasticidade Preo da Procura .............................................................................................................. 10
4.2.1. Conceito ............................................................................................................................................ 10
4.2.1. Determinantes da elasticidade ........................................................................................................... 13
4.2.2. A Elasticidade Preo da Procura e a Despesa do Consumidor (ou Receita do Produtor) ................... 14
4.2.2.1. Elasticidade Preo da Procura e Receita Marginal .......................................................................... 16
4.2.2.2. Representao Grfica das Funes Receita Total e Receita Marginal .......................................... 17
4.2.2.3. A Curva de Laffer............................................................................................................................ 18
4.3. Elasticidade Preo da Oferta ................................................................................................................ 19
5. Outras funes procura ........................................................................................................................... 22
5.1. A Procura em Funo do Rendimento .................................................................................................. 22
5.1.1. A curva de Engel. Bens Normais e Bens Inferiores ............................................................................ 22
5.1.2. Elasticidade Rendimento ................................................................................................................... 23
5.2. Funo Procura Cruzada ...................................................................................................................... 25
5.2.1. Curva da Procura Cruzada. Bens Sucedneos e Bens Complementares. ......................................... 25
5.2.2. Elasticidade Cruzada ......................................................................................................................... 27
6. Deslocamentos ao Longo da Curva da Procura versus Deslocamentos da Curva da Procura ................. 28
7. Deslocamentos ao Longo da Curva da Oferta versus Deslocamentos da Curva da Oferta ...................... 29
8. Deslocamentos das Curvas da Procura e da Oferta e Alteraes do Equilbrio ....................................... 32
CAPTULO II- INTERVENO DO ESTADO ......................................................................................................... 34
1. Impacto dos Impostos Indiretos nas Transaes de Mercado .................................................................. 34
1.1. Imposto Especfico ............................................................................................................................... 34
1.2. Imposto ad valorem .............................................................................................................................. 36
2. Subsdios Produo ............................................................................................................................. 37
3. Fixao de Preos ................................................................................................................................... 38
3.1. Preos Mximos ................................................................................................................................... 38
3.2. Preos Mnimos .................................................................................................................................... 39
4
ndice de quadros
Quadro 1 Elasticidade preo da procura .................................................................................................................... 12
Quadro 2 Elasticidade preo da procura para diferentes bens ................................................................................... 13
Quadro 3 Elasticidade preo da procura para determinados meios de transporte ...................................................... 13
Quadro 4 Comportamento da despesa conforme a elasticidade preo da procura ..................................................... 15
Quadro 5 Elasticidade preo da oferta ....................................................................................................................... 21
Quadro 6 Elasticidade rendimento para diferentes bens ............................................................................................ 24
Quadro 7 Elasticidade cruzada para alguns pares de produtos .................................................................................. 27
Quadro 8 Elasticidade preo da procura e elasticidade cruzada para alguns produtos .............................................. 27
Quadro 9 Elasticidade preo da procura, elasticidade rendimento elasticidade cruzada da Coca e da Pepsi Cola..... 28
Quadro 10 Fatores que fazem deslocar a curva da procura ....................................................................................... 29
Quadro 11 Fatores que fazem deslocar a curva da oferta .......................................................................................... 31
Quadro 12 - Deslocamentos da procura e da oferta e alteraes do equilbrio .............................................................. 32
ndice de figuras
Figura 1 - Curva da procura ............................................................................................................................................ 5
Figura 2 - Curvas da procura individuais e de mercado................................................................................................... 6
Figura 3 - Curva da oferta ............................................................................................................................................... 7
Figura 4 - Equilbrio entre procura e oferta, excedentes de procura, excedentes de oferta ............................................. 8
Figura 5 - Conjunto de pontos de transaco .................................................................................................................. 9
Figura 6 - Determinao grfica da elasticidade preo da procura num ponto .............................................................. 10
Figura 7 Despesa Total .............................................................................................................................................. 15
Figura 8 - Relaes entre a curva da procura, a receita total e marginal e a elasticidade preo da procura .................. 18
Figura 9 Curva de Laffer ............................................................................................................................................ 19
Figura 10 - Determinao grfica da elasticidade preo da oferta ................................................................................. 20
Figura 11 Curva de Engel para bens normais ............................................................................................................ 23
Figura 12 Curva de Engel para bens inferiores .......................................................................................................... 23
Figura 13 Curva de Engel ........................................................................................................................................... 24
Figura 14 Curva da procura cruzada para bens sucedneos ou substitutos ............................................................... 25
Figura 15 Curva da procura cruzada para bens complementares .............................................................................. 26
Figura 16 - Deslocamentos da curva da oferta .............................................................................................................. 29
Figura 17 - Incidncia real de um imposto especfico ................................................................................................... 35
Figura 18 - Incidncia real de um imposto ad valorem .................................................................................................. 36
Figura 19 - Incidncia real de um subsdio ad valorem produo ............................................................................... 37
Figura 20 - Preos mximos ......................................................................................................................................... 38
Figura 21 - Preos mnimos .......................................................................................................................................... 39
5
CAPTULO I - ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA PROCURA E DA OFERTA
1. A PROCURA
1.1. A CURVA DA PROCURA: NOO, PRESSUPOSTOS E DETERMINANTES
Os determinantes da procura de um bem so o preo desse bem, o rendimento dos
consumidores, os seus gostos, a tradio e os hbitos culturais, o preo dos outros bens, as
expectativas quanto evoluo dos preos e rendimento no futuro, e fatores especficos,
prprios de cada bem.
1.1.1. FUNO PROCURA
A curva da procura de um bem (D) indica as quantidades procuradas de um bem para cada
nvel de preo desse bem, supondo que o rendimento, os gostos do consumidor, o preo dos
outros bens, as expectativas quanto aos preos e rendimento no futuro, etc., so constantes.
XD=f (px) ceteris paribus
Figura 1 - Curva da procura
Px
X
D
Onde:
XD representa a quantidade procurada
Px o preo do bem X
D (Demand) a curva da procura do bem X
A curva da procura tem, normalmente, uma inclinao negativa, obedecendo lei da procura,
segundo a qual medida que o preo aumenta a quantidade procurada diminui e vice-versa,
ceteris paribus. Tal facto deve-se, fundamentalmente, a dois fatores:
1. medida que o preo de um bem (X) aumenta, os consumidores tendem a
substituir este bem por outros relativamente mais baratos ( o efeito substituio),
reduzindo, por isso, a quantidade procurada do bem X.
6
2. Aumentando o preo do bem, o rendimento real dos consumidores (ou o seu
poder de compra) diminui, pelo que consomem menos do bem ( o efeito
rendimento).
Os bens que obedecem lei da procura designam-se por bens de procura normal. Os bens de
procura anormal so aqueles cuja quantidade procurada aumenta medida que o preo desse
bem aumenta, ceteris paribus.
Neste captulo, a anlise centra-se apenas nos bens de procura normal.
1.2. PROCURA INDIVIDUAL E PROCURA DE MERCADO
A curva da procura de um bem no mercado no mais do que a soma, para cada preo, das
quantidades procuradas por cada indivduo.
Supondo um bem procurado por apenas trs grupos homogneos de consumidores, cuja
procura de cada grupo designamos por d1, d2 e d3, a curva da procura de mercado (D)
obtida conforme a figura infra:
Figura 2 - Curvas da procura individuais e de mercado
Preo
d1
p3
p2
p1
q2 q1
Preo
d2
p3
p2
p1
q'1
Preo
D d3
q''3
p4 p4
Preo
Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade q''2 q''1 Q33
Q2 Q1
Onde:
Q1=q1+q'1+q''1 Q2=q2+q''2 e Q3=q''3
2. A OFERTA
2.1. A CURVA DA OFERTA: NOO, PRESSUPOSTOS E DETERMINANTES
Os determinantes da oferta de um bem so o preo desse bem, a tecnologia, a alterao na
oferta de inputs, o preo dos inputs (custos dos fatores de produo), o nmero de produtores
no mercado, as expectativas quanto evoluo futura dos preos, os impostos e subsdios,
entre outras.
A curva da oferta de um bem (S) indica a quantidade de um bem que o produtor est disposto
a oferecer no mercado a cada nvel de preo, ceteris paribus.
XS=f(px) ceteris paribus
7
Figura 3 - Curva da oferta
Onde:
X representa a quantidade oferecida
Px o preo do bem X
S (Supply) a curva da oferta do bem X
A curva da oferta tem normalmente uma inclinao positiva, obedecendo lei da oferta,
segundo a qual a quantidade oferecida maior a preos mais elevados e menor a preos mais
baixos. Tal deve-se ao facto de um produtor para estar disposto a produzir (e vender) o seu
produto deve cobrir (pelo menos uma parte) os seus custos de produo. Como iremos ver na
Teoria dos Custos, a partir de certo volume de produo, a produo de uma unidade adicional
de produto origina custos acrescidos. Este fenmeno decorre da lei dos rendimentos fsicos
decrescentes: um acrscimo na utilizao dos inputs variveis (combinados com uma certa
quantidade de fatores fixos) provoca aumentos menos do que proporcionais no volume de
produo, a partir de um dado nvel. Supondo os preos dos inputs constantes, o custo de uma
unidade adicional do bem maior do que o da anterior. Desta forma, os empresrios s
produzem essa unidade adicional se a venderem a um preo superior.
2.2.- OFERTA INDIVIDUAL E OFERTA DE MERCADO
A curva da oferta de um bem no mercado a soma, para cada preo, das quantidades
oferecidas por cada produtor.
8
3. O EQUILBRIO ENTRE A OFERTA E A PROCURA
Suponha-se que um bem transacionado num mercado de concorrncia pura e perfeita1.
A interceo da curva da oferta e da procura de um bem determina um par preo/quantidade
de equilbrio (ponto E, Figura 4).
Figura 4 - Equilbrio entre procura e oferta, excedentes de procura, excedentes de oferta
Naquele ponto todos os intervenientes no mercado esto satisfeitos:
os compradores adquirem a quantidade que desejam quele preo;
os vendedores vendem a quantidade que desejam quele preo.
1 As principais caractersticas do mercado de concorrncia pura e perfeita so:
Grande nmero de pequenos vendedores e compradores.
O nmero destes agentes econmicos deve ser elevado de forma que nenhum deles possa, por si s,
afetar as condies de mercado, isto , preo e quantidade transacionada. As empresas inseridas nesta estrutura de
mercado so price-takers.
Homogeneidade do produto.
O produto homogneo pelo que no h diferenas entre o produto de cada empresa, nem entre cada
unidade produzida.
Livre entrada e sada de empresas na indstria.
No existe qualquer barreira entrada e sada das empresas da indstria em que se inserem.
Inexistncia de qualquer influncia do governo na atividade econmica.
O governo no atua sobre o funcionamento do mercado atravs de, por exemplo, o lanamento de
impostos, subsdios, etc..
O objetivo de cada empresa a maximizao do seu lucro e dos consumidores a maximizao da
utilidade que retira do consumo dos bens.
Mobilidade perfeita dos fatores de produo.
Esta caracterstica traduz-se em que os mercados de fatores sejam, tambm, de concorrncia perfeita.
Perfeito conhecimento das condies de mercado, quer presentes quer futuras.
9
Qe e Pe designam-se por quantidade e preo de equilbrio, respetivamente.
A quantidade transacionada no ponto de equilbrio mxima.
Para preos inferiores ao de equilbrio a quantidade transacionada situa-se ao longo da curva
da oferta (verificando-se um excesso de procura) e para preos superiores ao de equilbrio a
quantidade transacionada situa-se ao longo da curva da procura (verificando-se um excesso de
oferta). O conjunto de pontos de transao indica a quantidade transacionada para cada nvel
de preo (Figura 5).
Figura 5 - Conjunto de pontos de transao
4. ELASTICIDADE PREO DA PROCURA E ELASTICIDADE PREO DA OFERTA
4.1. CONCEITO DE ELASTICIDADE
Genericamente, a elasticidade uma medida de sensibilidade de uma varivel dependente
face a alteraes na varivel independente (observ.: consideram-se sempre variaes
percentuais).
Seja X=f(Z)
Variao percentual na var ivel dependente Variao percentual em XElasticidade
Variao percentual na var ivel independente Variao percentual em Z
10
4.2. ELASTICIDADE PREO DA PROCURA
4.2.1. CONCEITO
Muitas vezes no suficiente saber que h uma alterao da quantidade procurada resultante
da alterao do preo do bem: importa conhecer a magnitude daquela variao. A elasticidade
preo da procura o conceito que nos auxilia a compreender aquela medida.
Se considerarmos a curva da procura, ao longo da qual se vai medir a elasticidade preo da
procura (XD=f(px) ceteris paribus), onde a varivel dependente a quantidade procurada e o
preo a varivel independente, tem-se:
Elasticidade preo da procura (D ) Mede a variao percentual da quantidade procurada de um
bem devido a uma variao percentual no preo desse bem,
ceteris paribus
Nota: Na expresso da elasticidade preo da procura coloca-se o sinal negativo uma vez que, para bens de procura
normal, a quantidade procurada varia inversamente com o preo, permitindo, assim, que o valor da elasticidade para
estes bens seja positiva (ou calcula-se em mdulo). A interpretao do seu valor deve ter presente este facto.
A elasticidade preo da procura pode ser medida entre dois pontos (elasticidade arco) ou num
ponto da curva da procura (elasticidade ponto):
X
D DD
X X
D D D D D XD
p 0X X X X X D
Elasticidade arco :
X /XVariaes discretas : (I)
p /p
Elasticidade ponto :
X /X dX /X dX pVariaes contnuas : lim (II)
p /p dp /p dp X
No caso de variaes contnuas, e recorrendo expresso do membro direito da equao (II),
tem-se que a elasticidade da procura no ponto A (Figura 6) conforme o grfico seguinte:
Figura 6 - Determinao grfica da elasticidade preo da procura num ponto
1D
1
ptg .
Q
11
Nota: demonstra-se que a elasticidade preo da procura, num ponto, pode ser calculada pela distncia do ponto ao
eixo das quantidades sobre a distncia do ponto ao eixo dos preos, medida sobre a reta tangente curva da procura
no ponto.
A curva da procura pode ser classificada (Quadro 1) conforme os valores que a elasticidade
assuma:
12
Quadro 1 Elasticidade preo da procura
Valores da
elasticidade
Descrio Classificao da
curva da procura
Representao grfica
D0 A quantidade procurada no varia
com alteraes no preo do bem
Perfeitamente regida ou
perfeitamente inelstica
Quantidade
PreoD
X
D1 A variao percentual na
quantidade procurada igual
variao percentual no preo do
bem
Unitria
(a curva da procura
uma hiprbole
equiltera)
Quantidade
Preo
D
D0 1 A variao percentual na
quantidade procurada inferior
variao percentual no preo do
bem
Rgida ou Inelstica
Quantidade
Preo
D
D1 A quantidade procurada varia em
percentagem superior do preo
Elstica
Quantidade
Preo
D
D Os compradores esto dispostos a
obter tudo o que possam adquirir
a um certo preo e nada a um
preo ligeiramente superior
Perfeitamente elstica
Quantidade
Preo
Dp
13
Quadro 2 Elasticidade preo da procura para diferentes bens
Produto
Elasticidade preo da procura
Sal 0,1
gua 0,2
Caf 0,3
Cigarros 0,3
Calado 0,7
Moradia 1
Automveis 1,2
Viagens ao exterior 1,8
Refeies em restaurante 2,3
Viagem area 2,4
Filmes 3,7
Marcas especficas de caf 5,6
Fonte: Vrios autores em OSullivan et al (2004), pp. 76-77.
4.2.1. DETERMINANTES DA ELASTICIDADE
A principal determinante da elasticidade preo da procura a existncia de substitutos (bem
que satisfaz a mesma necessidade) do bem em causa. Se um bem tem substitutos muito
prximos tende a ter uma procura muito elstica. No caso de no existirem substitutos
prximos (acar, sal) a procura inelstica.
Para um turista a elasticidade preo da procura de viagens areas relativamente elstica,
uma vez que existem alternativas. Mas para uma viagem de negcios, a elasticidade reduz-se
ligeiramente, uma vez que, devido a uma maior sensibilidade ao fator tempo, o automvel, por
exemplo, pode no ser um substituto desejvel.
Quadro 3 Elasticidade preo da procura para determinados meios de transporte
Produto
Elasticidade preo da procura
Viagens areas, lazer 1,52
Viagens de comboio, lazer 1,40
Viagens areas, negcios 1,15
Viagens de comboio, negcios 0,70
Transportes urbanos Entre 0,04 e 0,34
Fonte: Oum, Tae Hoon, W. G. Waters II, e Jong-Say Yong (1992), Concepts of Price Elasticities of Transport Demand and
Recent Empirical Estimates, Journal of Transport Economics and Policy, May, 139-154.
Para alm da disponibilidade de bens substitutos, h outros fatores que determinam o valor da
elasticidade preo da procura:
1. Necessidade: enquanto para os bens de primeira necessidade (po, gua, arroz) a procura
relativamente inelstica, os bens suprfulos apresentam procuras elsticas (jantares em
restaurantes, viagens areas de lazer, joias).
14
2. Importncia da despesa no bem no oramento do consumidor tpico: se a despesa
representa uma parcela muito pouco significativa no oramento do consumidor a alterao de
preo ter pouca influncia na quantidade procurada. Se o preo de um rolo de fita-cola
aumentar 5% quase no ter efeito na quantidade procurada deste bem. O mesmo no
acontecer se o preo de um automvel aumentar 5%. A elasticidade preo da procura de
alimentos em pases ricos como Estados Unidos da Amrica, Canad e Alemanha, onde
aquele tipo de despesa no tem um peso muito significativo no oramento familiar, a
elasticidade preo da procura de cerca de 0,15; Na ndia, Nigria e Bolvia, aquela
elasticidade de 0,34 (OSullivan (2004)).
3. Tempo: as pessoas vo-se adaptando s alteraes do preo dos bens ao longo do tempo.
Quando o governo aumenta os impostos sobre a gasolina e, em consequncia, o preo desta
aumenta, os consumidores reagem, mas no muito, s alteraes do preo. Mas com o tempo,
vo-se adaptando: compram carros mais econmicos, mudam-se para residncias mais
prximas do local de trabalho (ou procuram empregos mais prximos de casa), isto , a
procura torna-se mais elstica.
4. A procura tende a ser menos sensvel ao preo quando, devido a seguros ou dedues
fiscais, os consumidores pagam apenas uma parte do preo total.
o caso de dos consumidores que dispe de seguro mdico: so menos sensveis aos preos
das consultas ou outros tratamentos, na medida em que no os suportam na totalidade.
5. A procura tende a ser menos elstica quando o produto utilizado complementarmente com
outro. Por exemplo, um consumidor que tem uma fotocopiadora ser pouco sensvel s
alteraes do preo do toner, uma vez que essencial para o funcionamento da fotocopiadora.
H, ainda, que ter em conta a elasticidade preo da procura de um produto e de uma marca de
produto.
Se um produto pode ter uma procura rgida, como o caso do caf ou do sal (no h
substitutos), a procura de uma determinada marca pode ser muito elstica (se o preo de uma
marca de caf aumentar substancialmente, o consumidor passa a comprar outra mais barata).
4.2.2. A ELASTICIDADE PREO DA PROCURA E A DESPESA DO CONSUMIDOR (OU RECEITA DO
PRODUTOR)
A despesa total (DT) que um consumidor tem com um bem quando adquire Xo unidades ao
preo po : DT= po * Xo, correspondente rea [O po AX o ] da Figura 7.
15
Figura 7 Despesa Total
D
Quantidade
preo
Xo
po
O
A
Se o preo do bem aumenta a quantidade procurada diminui (tratando-se de um bem de
procura normal), desconhecendo-se, por isso, o efeito sobre a despesa que tanto pode
aumentar como diminuir. Tudo depende das variaes relativas da quantidade e do preo: se a
quantidade procurada diminuir proporcionalmente mais do que o aumento do preo ento a DT
vai diminuir; caso contrrio aumenta.
Podemos, ento, verificar que a evoluo da DT depende da reao da procura s
variaes de preo, isto , da elasticidade preo da procura. Esta anlise pode, igualmente,
aplicar-se receita total (RT), que corresponde ao produto da quantidade transaccionada pelo
preo.
Quadro 4 Comportamento da despesa conforme a elasticidade preo da procura
Classificao da procura quanto
elasticidade
Significado Efeito na Despesa Total ou Receita
Total
Procura inelstica A variao percentual na quantidade
menor do que a variao
percentual do preo
Reduo no preo provoca uma
reduo na despesa total (receita
total)
Procura unitria A variao percentual na quantidade
igual variao percentual do
preo
Uma alterao no preo no tem
qualquer efeito na despesa total
(receita total)
Procura elstica A variao percentual na quantidade
maior do que a variao percentual
do preo
Reduo no preo provoca uma
aumento na despesa total (receita
total)
Formalmente, podem-se estabelecer relaes entre a elasticidade preo da procura, a receita
total e a receita marginal, uma vez que a evoluo da RT (RT=x*p) depende da reao da
procura s variaes de preo, isto , da elasticidade preo da procura.
Analisemos este fenmeno mais pormenorizadamente.
16
Se o preo aumentar em p a quantidade procurada varia em x, sendo, portanto, o novo
preo de p+p e a quantidade procurada de x+x. A nova Receita Total (RT) ser:
RT'=(x+x)(p+p)
=xp+xp+px+xp
Subtraindo a nova Receita Total inicial obtemos a variao na RT (RT):
RT=RT'-RT=xp+px+xp
Para variaes muito pequenas no preo e na quantidade procurada a parcela xp no
significativa (xp 0) pelo que:
RT= xp+px [a]
isto , a variao na RT igual quantidade inicial vezes a variao no preo acrescida do
preo inicial vezes a variao na quantidade.
Se dividirmos a eq. [a] por p vem:
p
xpx
p
RT
)x
p
p
x1(x
p
RT
O segundo termo entre parnteses o simtrico da elasticidade preo da procura, pelo que se
pode pr:
)1(xp
RTD
Para que a RT aumente quando o preo aumenta necessrio que 0p
RT
. Como x
positivo basta que 01 D o que equivale a 1D .
Desta forma, a RT aumenta quando o preo aumenta se a curva da procura for inelstica, ou
seja, se a quantidade procurada diminuir pouco relativamente ao aumento do preo.
Se a procura for elstica a diminuio da quantidade procurada compensa o aumento do preo,
pelo que a RT diminui.
4.2.2.1. ELASTICIDADE PREO DA PROCURA E RECEITA MARGINAL
Vimos que a evoluo das receitas totais da venda de um bem resultante da variao no preo
desse bem depende do valor da elasticidade preo da procura. Interessa agora analisar como
que a RT evolui com as alteraes na quantidade do bem, isto , analisar a receita marginal.
A receita marginal (Rmg) o acrscimo de receita resultante da venda da ltima unidade de
produto:
17
(p * x)RTRmg
x x
(em termos discretos)
d(p * x)dRTRmg
dx dx (em termos contnuos)
Retomando a eq. [a] e dividindo por x vem:
x
xp
x
px
x
RTRmg
[b]
o que equivalente a:
)p
x
x
p1(p
x
RTRmg
onde o segundo elemento entre parnteses o simtrico do inverso da elasticidade preo da
procura:
)1
1(px
RTRmg
D
Se a procura for inelstica ( 1D ) ento 01
1D
pelo que tambm o a receita marginal
(p sempre positivo). Desta forma a receita total decresce com o aumento da quantidade.
Se a procura for elstica ( 1D ) ento 01
1D
, sendo tambm, a receita marginal
positiva pelo que a receita total cresce com o aumento da quantidade. Neste caso como a
procura reage muito a variaes no preo, se o preo descer ligeiramente a quantidade
procurada aumenta proporcionamente mais pelo que a RT aumenta.
No caso da elasticidade preo da procura ser unitria a Rmg nula pelo que a RT no varia
com o aumento do output.
4.2.2.2. REPRESENTAO GRFICA DAS FUNES RECEITA TOTAL E RECEITA MARGINAL
Consideremos o caso de uma curva da procura linear, do tipo:
x=a-bp
o que equivalente a:
xb
1
b
ap
e considerando b
a'a e
b
1'b , obtemos:
x'b'ap [c]
que no mais do que a expresso da curva da procura resolvida em ordem ao preo.
2RT px (a' b'x)* x a'x b'x
18
Sendo a receita marginal dada por:
dRTRmg a' 2b'x
dx
A curva da Rmg tem a mesma ordenada na origem que a curva da procura mas com uma
inclinao duas vezes superior.
Graficamente tem-se:
Figura 8 - Relaes entre a curva da procura, a receita total e marginal e a elasticidade preo da procura
A Figura 8 mostra a evoluo da Rmg e da RT de acordo com a grandeza de valores da
elasticidade preo da procura. Supondo que ocorre uma reduo no preo do bem, a RT
aumenta quando a elasticidade preo da procura superior a um (a procura elstica) e atinge
um mximo para uma quantidade de produto x para o qual a receita marginal nula (a
elasticidade preo da procura unitria). A partir deste ponto a curva da procura passa a ser
inelstica e a RT comea a decrescer com aumentos no preo do bem.
4.2.2.3. A CURVA DE LAFFER
A curva de Laffer uma aplicao do que estudamos anteriormente.
ARTUR B. LAFFER argumentava que um aumento na taxa de tributao no sempre
acompanhado por um aumento nas receitas fiscais governamentais, e o inverso possivelmente
D
Rmg
RT
1D
1D
1D
p
X
19
verifica-se2. Defensor da teoria do lado da oferta, considera que um aumento na taxa de
imposto, a partir de um dado valor desta, provoca uma reduo da base tributvel no
compensada pelo aumento das taxas, de onde resulta uma diminuio das receitas fiscais do
Estado.
A relao inversa entre a receita fiscal e a taxa de imposto designada, na literatura
econmica, por hiptese de Laffer ou efeito Laffer, e a representao grfica entre aquelas
duas variveis por curva de Laffer.
De acordo com esta teoria, se a taxa de imposto nula, o Estado no tem receitas fiscais; se
for de 100% nenhum agente econmico estar disposto a oferecer os fatores produtivos no
mercado, reafectando-os a atividades no tributadas sendo, portanto, tambm as receitas
fiscais nulas. Entre aqueles dois valores, as receitas fiscais inicialmente tendem a aumentar
com aumentos nas taxas de impostos (embora a ritmos decrescentes) at atingirem um
mximo. A partir da taxa crtica de imposto, que maximiza as receitas fiscais, qualquer aumento
daquela taxa reduzir as receitas.
Considerando alteraes na taxa de imposto sobre o rendimento, supondo as restantes taxas
de impostos constantes, a evoluo das receitas fiscais dada pela Figura 9, que traduz a
curva de Laffer:
Figura 9 Curva de Laffer
Receitas fiscais
(RF)
Taxa de imposto
(taxa crtica de imposto)
RF*
0% 100%*
4.3. ELASTICIDADE PREO DA OFERTA
A elasticidade preo da oferta mede a variao percentual da quantidade oferecida de um
bem face a uma variao percentual no preo desse bem, ceteris paribus.
2 CANTO, Victor A., JOINES, Douglas H. e LAFFER, Arthur B. (1978), Taxation, GNP, and Potencial GNP, Proceedings of the business and
economic statistics section in San Diego, American Statistical Association, Agosto, p. 126.
20
S SS
x x
S S S xS
x x x S
Elasticidade arco
X XVariaes discretas I
p p
Elasticidade ponto
dX X dX pVariaes contnuas II
dp p dp X
:
/: ( )
/
:
/: ( )
/
No caso de variaes contnuas, e recorrendo expresso do membro direito da equao
(II), tem-se que a elasticidade preo da oferta no ponto A (Figura 10) :
1
1S
Q
p.tg
Figura 10 - Determinao grfica da elasticidade preo da oferta
NOTA: demonstra-se que a elasticidade preo da oferta, num ponto, pode ser calculada pela
distancia do ponto ao eixo das quantidades sobre a distancia do ponto ao eixo dos preos,
medida sobre a recta tangente curva da oferta no ponto.
A curva da oferta pode ser classificada conforme os valores que a elasticidade assuma:
21
Quadro 5 Elasticidade preo da oferta
Valores da
elasticidade
Descrio Classificao da
curva da oferta
Representao grfica
S0 A quantidade oferecida no varia
com alteraes no preo do bem
Perfeitamente regida ou
perfeitamente inelstica
Quantidade
PreoS
X
S1 A variao percentual na
quantidade oferecida igual
variao percentual no preo do
bem
Unitria
Quantidade
Preo
S
S0 1 A variao percentual na
quantidade oferecida inferior
variao percentual no preo do
bem
Rgida ou Inelstica
Quantidade
Preo
S
S1 A quantidade oferecida varia em
percentagem superior do preo
Elstica
Quantidade
Preo
S
S Os vendedores satisfariam
qualquer procura quele preo e
nada a um preo ligeiramente
inferior
Perfeitamente elstica
Quantidade
Preo
Sp
22
5. OUTRAS FUNES PROCURA
5.1. A PROCURA EM FUNO DO RENDIMENTO
5.1.1. A CURVA DE ENGEL. BENS NORMAIS E BENS INFERIORES
A procura de um bem depende do rendimento mdio dos consumidores. A curva de Engel
estabelece relaes entre o rendimento e a quantidade procurada de um bem, ceteris paribus,
(Figura 11): XD=f( R )
As curvas D, D e D foram traadas para os nveis de rendimento Ro, R1, R2 (ceteris paribus),
sendo R2> R1 >Ro. Verifica-se que medida que o rendimento dos consumidores aumenta a
quantidade procurada de X aumenta (x2> x1 >xo). A curva de Engel indica as quantidades
procuradas de um bem para cada nvel de rendimento, ceteris paribus.
Diz-se que um bem normal quando a quantidade procurada aumenta quando o rendimento
aumenta. Os bens normais so de primeira necessidade quando as variaes no rendimento
tm efeitos muito reduzidos na variao da quantidade procurada (leite). Se quando h
alteraes no rendimento, a quantidade procurada de um bem varia numa proporo superior
trata-se de um bem de luxo (cruzeiro).
No caso de se tratar de um bem inferior a procura do bem diminui quando o rendimento mdio
do consumidor aumenta (margarina, carros usados). Regra geral os bens inferiores so bens
de baixa qualidade, que as pessoas reduzem o seu consumo quando o seu rendimento
aumenta.
23
Figura 11 Curva de Engel para bens normais
D (Ro)
Px
X
D'(R1)
D''(R2)
X
R
Ro
R1
R2curva de Engel
Pxo
xo x1
x2xo x1
x2
Tratando-se de um bem normal (como o caso apresentado) a curva de Engel tem uma
inclinao positiva. No caso de um bem inferior esta curva apresenta uma inclinao negativa,
conforme figura seguinte:
Figura 12 Curva de Engel para bens inferiores
X
R
Ro
R1
R2
curva de Engel
x2 xox1
O rendimento aumentou (R2> R1 >Ro) e a quantidade procurada diminuiu (x2
24
Esta elasticidade calculada a partir da curva de Engel: X=f( R ):
D
DD
D
RX
R*
dR
dX
R
dR
X
dX
Considere-se a seguinte curva de Engel:
Figura 13 Curva de Engel
0 Ro
RendimentoR2R1
X
Curva
de
Engel
Para rendimentos entre 0 e Ro no se consome o bem X. Quando o rendimento est entre Ro e
R1 o bem corporta-se como um bem de luxo e para nveis de rendimento entre R1 e R2 como
bem de 1 necessidade. A partir do nvel de rendimento R2 o bem torna-se inferior.
1 bem de luxo0 bem normal
1 bem primeira necessidadeElasticidade Rendimento
0 bem inferior
Quadro 6 Elasticidade rendimento para diferentes bens
Produto
Elasticidade rendimento
Automveis 2,46
Mobilirio 1,48
Refeies em restaurantes 1,40
gua 1,02
Tabaco 0,64
Gasolina e leo 0,48
Eletricidade 0,20
Margarina -0,20
Produtos derivados de porco -0,20
Transportes pblicos -0,36
Fonte: Vrios autores em Frank (1997), pp. 131
25
5.2. FUNO PROCURA CRUZADA
5.2.1. CURVA DA PROCURA CRUZADA. BENS SUCEDNEOS E BENS COMPLEMENTARES.
A curva da procura cruzada (X=f(py)) estabelece a relao entre a quantidade procurada de
um bem (X) e o preo de outro bem (Y), ceteris paribus.
Diz-se que X e Y so bens substitutos ou sucedneos quando podem ser utilizados
alternativamente para satisfazer uma necessidade (carne de vaca/carne de porco). A
substituibilidade entre os bens pode ser ou no perfeita.
A curva da procura cruzada, no caso de bens sucedneos, tem uma inclinao positiva: para
nveis crescente do preos de y (py2>py1>pyo) a quantidade procurada de X aumenta
(x2>x1>xo).
Figura 14 Curva da procura cruzada para bens sucedneos ou substitutos
D (pyo)
Px
X
D'(py1)
D''(py2)
X
py
pyo
py1
py2
curva-procura cruzada
Pxo
xo
x1
x2
xo
x1
x2
Se os bens X e Y forem substitutos, o aumento (diminuio) do preo do bem Y faz aumentar
(diminuir) a procura do bem X. Enquanto que para o bem Y h um deslocamento ao longo da
curva da procura (a quantidade procurada varia em resultado da alterao do preo deste bem)
26
a curva da procura do bem X desloca-se uma vez que a quantidade procurada deste bem
altera-se em resultado da variao no preo de um outro bem.
Considere-se, agora, dois bens X e Z complementares, isto , que tm que se utilizar
conjuntamente para satisfazer uma necessidade. Por exemplo, para ouvir msica de um CD
necessrio uma aparelhagem de som apropriada. Desta forma, CD e aparelhagem de som
para CDs so bens complementares. Genericamente, se os bens X e Z forem complementares,
a diminuio (aumento) do preo do bem Z faz aumentar (diminuir) a procura do bem X.
Enquanto que para o bem Z h um deslocamento ao longo da curva da procura (a quantidade
procurada varia em resultado da alterao do preo deste bem) a curva da procura do bem X
desloca-se, uma vez que a quantidade procurada deste bem altera-se em resultado da
variao no preo de um bem que lhe complementar (isto , preo de outro bem).
No caso dos bens complementares a curva da procura cruzada (X=f(pz)) tem uma inclinao
negativa:
Figura 15 Curva da procura cruzada para bens complementares
D (pzo)
Px
X
D'(pz1)
D''(pz2)
X
py
pz2
pz1
pzo
curva-procura cruzada
Pxo
xo
x1
x2
xo
x1
x2
medida que o preo do bem Z diminui a quantidade procurada deste bem aumenta bem
como a de X (complementar). A curva da procura do bem X desloca-se para a direita. Desta
27
forma, para nveis de preos do bem Z menores (pz2< pz1 x1 >xo).
5.2.2. ELASTICIDADE CRUZADA
A elasticidade cruzada ( Y,X ) mede a variao percentual na quantidade procurada de um
bem face a uma variao percentual no preo de outro bem. Calcula-se a partir da curva da
procura cruzada: XD=f(py), ceteris paribus.
D
DD
D
y,xX
py*
dpy
dX
py
dpy
X
dX
Se a elasticidade cruzada negativa, h uma relao inversa entre quantidade consumida do
bem X e o preo de Y: os bens so complementares. Caso aquela elasticidade seja positiva os
bens so substitutos.
Quadro 7 Elasticidade cruzada para alguns pares de produtos
Produto
Produto com alterao no preo
Elasticidade cruzada
Manteiga Margarina 0,81
Margarina Manteiga 0,67
Gs natural Gasleo 0,44
Vaca Porco 0,28
Eletricidade Gs natural 0,20
Lazer Alimentao -0,72
Cereais Peixe fresco -0,87
Fonte: Vrios autores em Frank (1997), pp. 133
Quadro 8 Elasticidade preo da procura e elasticidade cruzada para alguns produtos
Produto
Preo do
bife
Preo da
carne de
porco
Preo do
frango
Procura de bife 0,65 0,01 0,20
Procura de carne de porco 0,25 0,45 0,16
Procura de frango 0,12 0,20 0,65
Fonte: Daniel B. Suits, Agriculture, Cap. I em The Structure of amercican industry, 8 Ed. New Jersey: Prentice Hall,
1990.
28
Quadro 9 Elasticidade preo da procura, elasticidade rendimento elasticidade cruzada da Coca e da Pepsi Cola
Tipo de elasticidade
Coca-Cola Pepsi
Elasticidade preo da procura 1,47 1,55
Elasticidade cruzada 0,52 0,64
Elasticidade rendimento 0,58 1,38
Fonte: F. Gasmi, J.J. Laffont, e Q. Vuong, Econometric Analysis of Collusive Behavior in a Soft Drink Market, Journal of Economics and
Management Strategy, n 1, 278-311.
6. DESLOCAMENTOS AO LONGO DA CURVA DA PROCURA VERSUS DESLOCAMENTOS DA CURVA DA
PROCURA
Fala-se em deslocamentos ao longo da curva da procura quando h alterao da quantidade
procurada resultante de uma variao no preo do bem, ceteris paribus.
Os deslocamentos da curva da procura ocorrem quando h alterao da quantidade procurada
resultante de uma variao no rendimento dos consumidores, ou nos gostos, ou no preo dos
outros bens, ou nas expectativas, etc..
A curva da procura desloca-se para a direita, nos seguintes casos, entre outros (D D',
Quadro 10)
Aumento do rendimento dos consumidores (no caso de um bem normal);
Maior preferncia pelo bem (alterao dos gostos);
Diminuio do preo de um bem complementar;
Aumento do preo de um bem sucedneo;
Expectativas de que o preo do bem vai aumentar;
Expectativa de aumento no rendimento;
Etc..
Em resumo,
29
Quadro 10 Fatores que fazem deslocar a curva da procura
D
Px
X
D'
D
Px
X
D'
D
Px
X
D'
Preo de um bem complementar diminui Crescimento populacional Previso que o preo do bem aumente
D'
Px
X
D
D
Px
X
D'
D
Px
X
D'
Preo de um bem substituto diminui Aumento do rendimento monetrio, no
caso de um bem normal
Expectativa que o rendimento aumente
D'
Px
X
D
D
Px
X
D'
Aumento do rendimento monetrio, no
caso de um bem inferior
Alterao dos gostos, no sentido de uma
maior preferncia pelo bem
7. DESLOCAMENTOS AO LONGO DA CURVA DA OFERTA VERSUS DESLOCAMENTOS DA CURVA DA
OFERTA
Fala-se em deslocamentos ao longo da curva da oferta quando h alterao da quantidade
oferecida resultante de uma variao no preo do bem, ceteris paribus.
Fala-se em deslocamentos da curva da oferta quando h alterao da quantidade oferecida
resultante de uma variao no preo dos fatores de produo, ou na tecnologia, ou na oferta de
inputs, etc..
A curva da oferta desloca-se para a direita (SS',Figura 16), isto , aumenta, nos seguintes
casos, entre outros:
Figura 16 - Deslocamentos da curva da oferta
Quantidade
Preo
S
S'
S''
30
Diminuio no preo dos inputs: a alterao no preo dos fatores de produo altera a
rentabilidade das linhas de produo. Se um produto for intensivo em mo-de-obra e os
salrios diminurem, ao mesmo preo do produto final, o empresrio ir, agora, oferecer uma
maior quantidade do seu produto.
Alterao na oferta de inputs: um aumento na oferta de inputs pode provocar um aumento
na oferta de bens que utilizam esse fator no processo produtivo.
Avano tecnolgico: estas alteraes englobam modificaes dos processos de fabrico que
originam aumentos de produtividade no associados s quantidades de capital e trabalho
utilizadas. possvel, com avanos tecnolgicos, produzir mais unidades a um menor custo, o
que leva os produtores a aumentarem a oferta.
Aumento no nmero de produtores: sendo a oferta de mercado a soma, para cada preo, da
quantidade oferecida por cada produtor, se o nmero de produtores aumentar maior a oferta.
Expectativas de preos futuros mais baixos: se as empresas consideram que, no futuro, o
preo do produto vai diminuir, estaro dispostos a aumentar a oferta no momento atual..
A concesso de subsdios produo por parte do governo torna a produo mais lucrativa e
as empresas aumentam a oferta.
A curva da oferta desloca-se para a esquerda (isto , os produtores esto dispostos a oferecer
uma menor quantidade ao mesmo preo ou a mesma quantidade a um preo superior, SS')
se:
Os preos dos inputs aumentarem;
A oferta de inputs diminuir;
Ocorrer aumentos nos impostos sobre a produo (a desenvolver no captulo III);
As condies climatricas forem desfavorveis.
Em resumo:
31
Quadro 11 Fatores que fazem deslocar a curva da oferta
S
Px
X
S'
S
Px
X
S'
S
Px
X
S'
Inovao tecnolgica Aumento do nmero de empresas Taxas de juros mais elevadas
S
Px
X
S'
S
Px
X
S'
S
Px
X
S'
Salrios mais elevados Expectativas de preos mais elevados no
futuro
Subsdios produo
S
Px
X
S'
S
Px
X
S'
Aumento no preo da principal matria-
prima
Aumento nos impostos
32
8. DESLOCAMENTOS DAS CURVAS DA PROCURA E DA OFERTA E ALTERAES DO EQUILBRIO
Um aumento da oferta no acompanhado de um aumento da procura tem como efeito uma
diminuio no preo no mercado e um aumento da quantidade transacionada.
Um aumento da procura no acompanhado de um aumento da oferta tem como efeito um
aumento do preo no mercado e da quantidade transacionada.
Um aumento da procura acompanhado de um aumento da oferta aumenta a quantidade
transacionada, mas o preo pode aumentar, manter-se ou diminuir; tudo depende dos aumentos
relativos da oferta e de procura:
Se a procura aumentar relativamente mais do que a oferta verifica-se um aumento do preo
no mercado;
Se a procura aumentar relativamente menos do que a oferta verifica-se uma diminuio do
preo no mercado;
Se a procura aumentar na mesma proporo que a oferta o preo mantm-se.
(dedues semelhantes podem ser realizadas para outras situaes).
Quadro 12 - Deslocamentos da procura e da oferta e alteraes do equilbrio
33
Simbologia
P(-) = Preo diminui
Q(-) = Quantidade transacionada de equilbrio diminui
P(+) = Preo aumenta
Q(+) = Quantidade transacionada de equilbrio aumenta
p(?) = O efeito sobre o preo incerto; depende da variao relativa da oferta e da
procura
Q(?) = O efeito sobre a quantidade incerto; depende da variao relativa da oferta e da
procura
34
CAPTULO II- INTERVENO DO ESTADO
1. IMPACTO DOS IMPOSTOS INDIRETOS NAS TRANSAES DE MERCADO
A existncia de impostos sobre as transaes de bens e servios ou de subsdios produo tm
efeitos sobre os preos e quantidades transacionadas no mercado.
O nosso objetivo analisar o impacto do lanamento de um imposto indireto ou de um subsdio
produo sobre o equilbrio de mercado.
Os impostos indiretos incidem sobre a transao de bens e servios e s afetam o rendimento
das pessoas indiretamente. Estes impostos podem ser especficos (o montante do imposto
constante por unidade do produto transacionada) ou ad valorem (a taxa de imposto incide
sobre o valor da transao e como tal o montante do imposto por unidade de produto depende
do valor deste).
A incidncia do imposto deve ser diferenciada entre incidncia fiscal e incidncia econmica. O
imposto pode incidir fiscalmente sobre o consumidor ou sobre o produtor. A incidncia fiscal
indica quem tem que repor o imposto nos cofres do Estado. Independentemente de sobre
quem recai fiscalmente o imposto devemos, tambm, analisar a incidncia real ou
econmica, isto , quem sofre com a existncia do imposto.
Na presena de impostos o preo pago pelo consumidor e o preo praticado pelos produtores
(aqui identificado com vendedores) diferente:
Preo pago pelo consumidor = Preo praticado pelo produtor + Imposto
1.1. IMPOSTO ESPECFICO
O imposto especfico pouco frequente na fiscalidade. No entanto, para permitir uma anlise
acadmica mais simplificada vamos iniciar este estudo com aquele tipo de imposto e supor
que, em toda a anlise, a incidncia fiscal sobre o produtor. Nesta situao, o lanamento do
imposto provoca um deslocamento paralelo da curva da oferta (o aluno deve procurar justificar
este efeito). A diferena entre as duas curvas da oferta (medida na vertical), para qualquer
quantidade, mede o imposto especfico unitrio (Figura 17).
35
Figura 17 - Incidncia real de um imposto especfico
O lanamento do imposto gera uma reduo da quantidade transacionada e um aumento no
preo de mercado.
Qual a incidncia econmica do imposto sobre o produtor e o consumidor?
O preo pago pelo consumidor mais elevado (Pe) e o preo recebido pelo produtor, lquido
de impostos (isto , depois de retirado o valor do imposto a repor ao Estado) menor (Po, onde
Po=P'e -T, sendo T=imposto unitrio).
A alterao de preos para o consumidor PC=P'e Pe e para o produtor PP=Po-Pe.
A soma dos sacrifcios para o consumidor e o produtor iguala o montante do imposto:
Imposto=|PC|+ |PP|=|P'e Pe| + Po-Pe|
A maior ou menor incidncia econmica sobre o consumidor e produtor depende dos valores
relativos das elasticidades preo da procura e da oferta.
PPPC
PTP
PP
P
PP
Q
P
PTP
Q
ee
ee
e
ee
e
ee
e
ee
e
ee
D
S
'
''
'
'
'
'
36
Assim,
Quanto mais rgida for a procura relativamente oferta maior a incidncia econmica do
imposto sobre o consumidor;
Quanto mais rgida for a oferta relativamente procura maior a incidncia econmica do
imposto sobre o produtor.
(o aluno deve procurar justificar estas afirmaes; prope-se que considere, por exemplo, o
caso extremo em que a procura perfeitamente rgida)
1.2. IMPOSTO AD VALOREM
A anlise semelhante ao caso anterior. A diferena fundamental que o valor do imposto
aumenta medida que o preo do bem mais elevado; por este facto, a curva da oferta no se
desloca paralelamente: quanto mais elevado o preo maior a distncia, medida na vertical,
entre as duas curvas da oferta, refletindo um valor de imposto cada vez mais elevado.
Figura 18 - Incidncia real de um imposto ad valorem
37
2. SUBSDIOS PRODUO
Os subsdios produo tm efeitos opostos aos dos impostos. Na presena de subsdios,
tambm o preo pago pelo consumidor e o preo praticado pelos produtores diferente:
Preo pago pelo consumidor = Preo praticado pelo produtor - Subsdio
A atribuio de um subsdio gera um aumento da quantidade transacionada e uma diminuio
no preo de mercado.
Qual a incidncia econmica sobre o produtor e o consumidor? (isto , quem beneficia mais com
o subsdio?)
O preo pago pelo consumidor mais baixo ( P'e - Pe) e o preo recebido pelo produtor,
lquido de impostos (isto , depois de adicionado o valor do subsdio concedido pelo Estado)
maior (Po-Pe, onde Po=P'e +S, sendo S=subsdio unitrio).
A maior ou menor incidncia econmica sobre o consumidor e produtor depende dos valores
relativos das elasticidades preo da procura e da oferta. Assim:
Quanto mais rgida for a procura relativamente oferta maior o benefcio para o
consumidor;
Quanto mais rgida for a oferta relativamente procura maior o benefcio para o produtor.
(o aluno deve procurar justificar estas afirmaes; prope-se que considere, por exemplo, o
caso extremo em que a procura perfeitamente rgida).
Figura 19 - Incidncia real de um subsdio ad valorem produo
38
Observ.: o aluno deve analisar as consequncias do lanamento de um subsdio ad ralorem.
3. FIXAO DE PREOS
3.1. PREOS MXIMOS
O Estado por vezes fixa limites para os preos, isto preos mximos que podem vigorar para
o produto. Pretende-se, com isto, permitir que os agentes econmicos com rendimentos mais
baixos possam adquirir o produto.
Figura 20 - Preos mximos
S
Pe
Preo
Quantidade
D
E
Qe
Preo
Mximo
Esta medida s produz efeito se o preo mximo for inferior ao preo de equilbrio. Nesta caso
origina um excesso de procura, isto , a oferta no suficiente para satisfazer toda a procura,
pelo que ter como consequncias no mercado uma reduo do preo e da quantidade
transacionada para valores inferiores ao de equilbrio. Normalmente esta situao d origem ao
39
aparecimento de um mercado paralelo, provocando situaes de injustia e desigualdade
social.
Poder-se-ia questionar se no seria prefervel subsidiar quem no tem poder de compra para
adquirir o produto.
3.2. PREOS MNIMOS
A fixao de um preo mnimo como, por exemplo, o salrio mnimo nacional, permite garantir
um rendimento mnimo aos trabalhadores. Esta medida de poltica econmica s surte efeito se
o preo for estabelecido acima do preo de equilbrio.
Figura 21 - Preos mnimos
S
Pe
Preo
Quantidade
D
E
Qe
Preo
Mnimo
A quantidade transacionada no mercado ser sempre inferior de equilbrio, gerando excessos
de oferta que, no caso do mercado de trabalho, significa desemprego.