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GOVERNANÇA MIGRATÓRIA LOCAL MIGRACIDADES

MIGRACIDADES - UFRGS · 2020. 3. 9. · acessados pelos imigrantes, entre eles, saúde, assis-tência social e educação. Em geral, uma política estabelece as bases para a atua-ção

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GOVERNANÇA MIGRATÓRIA LOCALMIGRACIDADES

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EDITORIALOrganização Internacional para as Migrações

SAUS Quadra 05, nº 17, Bloco N, Ed. OAB, 3º andar, Brasília-DF 70070-913

[email protected]

Chefe da Missão da OIM no Brasil

EXPEDIENTE TÉCNICOPesquisa Inicial

Camila Baraldi (Consultora OIM)Isadora Ste ens (OIM)João Guilherme Granja (Enap)Laura Boeira (Consultora OIM)Marcelo Torelly (OIM - Coordenador)

Elaboração do conteúdo

Camila Baraldi (Consultora OIM)

Revisão de texto

Dominique Ferreira Feliciano de Lima (Consultora OIM)

Revisão de conteúdo

Marcelo TorellyIsadora Ste ens

Diagramação e Arte

Simone Silva – Figuramundo

Governo do Distrito FederalGoverno do Estado de RoraimaGoverno do Estado de Santa CatarinaGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno Federal (Ministério da Cidadania)Prefeitura de Belém do ParáPrefeitura de Boa VistaPrefeitura de CuiabáPrefeitura de Foz do IguaçuPrefeitura de IgarassuPrefeitura de São Paulo

parte da OIM, qualquer opinião sobre a condição jurídica dos países, territórios, cidades ou áreas, ou mesmo de suas

Por seu caráter de organização intergovernamental, a OIM atua com seus parceiros da comunidade internacional para:

bem-estar dos migrantes.

Este material faz parte do projeto Aprimorando a Governança Migratória no Brasil, da OIM em parceria coma Escola

Cada umas das 10 dimensões apresentadas neste material compõe um módulo do curso Governança Migratória Local, disponível no site da Escola Virtual de Governo da Enap: www.escolavirtual.gov.br

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INSTITUIÇÃO DE ÓRGÃO RESPONSÁVEL

ESTRUTURA INSTITUCIONAL DE GOVERNANÇA

Quais elementos o poder público local deve avaliar ao formular, implementar e acompanhar políticas voltadas ao tema da migração?

No estado do Rio de Janeiro, existe há mais de 10 anos a Coordenação de Migração e Refúgio, órgão de articulação em rede vinculado à

Subsecretaria de Promoção, Defesa e Garantia dos Direitos Humanos (SEDSDH). Apesar de não ter orçamento próprio, o órgão inclui suas

ações no planejamento plurianual da Secretaria. A Coordenação trabalha também em articulação com o Comitê Estadual Intersetorial

de Políticas de Atenção aos Refugiados do Rio de Janeiro.

Por ser uma política relativamente nova para algumas gestões locais, o tema da atenção aos imigrantes ne-cessita de ações de planejamento para implementa-ção de uma política integral e intersetorial.

Uma base para o processo de integração pode ser a existência de um órgão ou um ponto focal especiali-zado no tema que atue junto às outras áreas. Além de

auxiliar na formulação da política, o setor é útil para melhorar a coordenação de cada etapa da atuação do poder público.

A política local para migrantes se caracteriza como transversal. Ou seja, trata-se da inserção de um novo olhar, que considera as necessidades específicas dos imigrantes, dentro das políticas que já existem.

Para promover a formulação de políticas locais de atenção ao imigrante, o gestor público local pode:(1) Determinar que um órgão da sua estrutura institu-cional se constitua em ponto focal para o tema. Pode também (2) criar um órgão específico responsável por

essa política. Ou ainda (3) criar um Grupo de Trabalho (GT) composto por representantes das diversas áreas envolvidas nessa política. Nesse caso, é recomendável atribuir caráter executivo ao GT para que ações con-cretas possam ser encaminhadas.

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Na cidade de São Paulo, desde 2013, existe a Coordenação de Políticas para Imigrantes e Promoção do Trabalho Decente, órgão

que faz parte da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Seu objetivo é articular as políticas públicas migratórias no

município entre os vários níveis de hierarquia, os diversos setores e as diferentes secretarias municipais.

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COORDENAÇÃO INTRAGOVERNAMENTAL

ACESSO AOS SERVIÇOS

Uma forma eficaz de assegurar que o trabalho não sofrerá sobreposição de ações e/ou divergência na abordagem é a coordenação entre as diversas áreas internas do governo. Gestores públicos devem considerar a importância de estruturar sua forma de atuação.

A tarefa de garantir a uniformidade e a concisão do tra-balho pode ficar sob a responsabilidade de órgão dedi-cado ao tema da atenção aos migrantes. Comitês e Con-selhos que venham a compor a estrutura institucional da gestão do tema também podem responder por essa coordenação entre os setores do governo local.

A solução encontrada pela cidade de Igarassu, em Pernambuco, foi a criação de um grupo de trabalho permanente,

intersecretarial e convocado a partir do gabinete da prefeitura. O GT tem uma agenda de reuniões periódicas para garantir a

articulação e a consequente integração das ações.

O acesso aos serviços públicos ofertados no Brasil é direito dos imigrantes. As demandas que podem ga-ranti-lo se dividem em dois grupos:

• Demandas para adaptação dos serviços que já exis-tem para atender às especificidades dos imigrantes. Exemplo: serviços das áreas de saúde e educação.

• Demandas de implementação de ações/ progra-mas voltados ao atendimento da população imi-grante local. Exemplo: cursos de português para imigrantes.

Preparar os serviços para atender os imigrantes adequadamente envolve pelo menos três questões: (1) sensibilidade cultural, (2) conhecimento sobre direitos e documentação dos imigrantes e (3) capacitação linguística.

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Cada ente local pode avaliar quais as maneiras mais apropriadas de adequar seus serviços para atender o imigrante. São medidas possíveis:

• Estabelecer serviços de referência para o aten-dimento a imigrantes. Os Centros de Referência podem ter equipe com conhecimento sobre a rea-lidade imigrante e capaz de se comunicar em di-ferentes idiomas. As equipes podem contar com imigrantes e refugiados. Nesses locais, são presta-das orientações em geral. Também são realizados encaminhamentos para os demais serviços públi-cos locais. Outra atividade é a realização de capa-citações e sensibilizações para os servidores que atendem imigrantes.

• Definir serviços de referência integrados e capacitados para o atendimento a imigrantes em cada área (saúde, assistência, etc.). Essa estratégia atende melhor a re-giões menores porque, ainda que o atendimento não seja restrito às unidades de referência nos centros ur-banos maiores, a concentração pode dificultar o aces-so aos serviços por conta da distância, que envolvem custos de transporte, de tempo, entre outros.

• Definir um ponto focal que detenha informações so-bre o tema das migrações e dos direitos dos imigran-tes. Ele deve se manter atualizado, distribuir informa-ções para os demais serviços, e servir de referência para os gestores locais. Essa estratégia pode atender melhor regiões em que a presença imigrante é baixa.

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A implementação de programas e serviços para imi-grantes pode ganhar em qualidade, em coerência e em previsibilidade com a sua formalização.

Aqui estão listados alguns pontos a serem considera-dos durante o processo de formalização:

• Abordagem integral. Para que seja efetiva, a estra-tégia local de acolhimento deve ser pensada inter-setorialmente.

• Participação Social. Seja por meio de audiências públicas, de consultas públicas ou de conselhos e/ou comitês, ela é importante porque contribui para que as ações desenvolvidas pelo poder público atendam as necessidades reais da população.

FORMALIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE ACOLHIMENTO LOCAL

Uma boa prática é a descrição da estratégia local de acolhimento no formato de uma política, de um plano ou de outro documento formal. O importante é construir um instrumento que organize o trabalho desenvolvido pelo governo local.

A previsão nos instrumentos de planejamento orçamentário, como o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), de implementação de estratégias para o acolhimento dos imigrantes nos serviços públicos torna possível que a Lei Orçamentária Anual (LOA) consiga refletir as necessidades orçamentárias para a concretização dessas estratégias. Na busca por recursos, também funcionam parcerias, convênios e mecanismos fundo a fundo.

• Referências legais. Na elaboração da estratégia local de acolhimento, existem referências normativas que estabelecem um ponto de partida, como a Constitui-ção e a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017).

• Orçamento. A formalização da estratégia local de acolhimento requer recursos orçamentários para sua concretização. Na maior parte das ações, não é necessária a previsão de uma rubrica, basta a su-plementação dos recursos previstos para os serviços acessados pelos imigrantes, entre eles, saúde, assis-tência social e educação.

Em geral, uma política estabelece as bases para a atua-ção governamental em determinado tema. Ela descreve princípios, objetivos e diretrizes que irão guiar o gover-no local e seus servidores. Todas as questões relaciona-das ao tema serão pautadas pela política, garantindo, assim, coerência, previsibilidade e estabilidade à políti-ca local. Por suas características, o ideal é que a política conste em lei ou decreto municipal ou estadual.

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Você sabia que, desde 2016, a cidade de São Paulo conta com uma Política Municipal para a População Imigrante aprovada por Lei? Ela organiza o acolhimento de imigrantes em todas as áreas da gestão municipal. O resultado é o fortalecimento do trabalho

e a garantia de sua continuidade.

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Um plano, por sua vez, estabelece ações, metas e prazos, tornando concreta a política ou a estratégia do governo local. No plano, as ações são quantificadas, o que facilita o monitoramento dos resultados dentro do prazo estabelecido. Normalmente os planos constam de decretos municipais ou estaduais.

A formalização de fluxos de atendimento para a po-pulação imigrante orienta o passo-a-passo da atua-ção dos serviços públicos, trazendo clareza ao público imigrante sobre como acessar esses serviços, e clareza aos funcionários públicos sobre suas atribuições e res-ponsabilidades na atenção aos migrantes. A formali-zação dos fluxos pode ser feita por meio de Portarias.

A criação de fluxos foi o caminho encontrado pela cidade de Foz do Iguaçu, Paraná. Os resultados foram equipes preparadas para o

atendimento da população migrante, estabelecimento de protocolos, ampliação da rede de informações e a desburocratização do acesso

aos serviços públicos. Além disso, o trabalho articulado entre as secretarias municipais teve como produto a minuta do decreto que

instituirá o Comitê Municipal em Atenção aos Migrantes, Refugiados e Apátridas, atualmente em fase final de elaboração.

Caso a realidade migratória local não demande a adoção de instrumentos detalhados, a definição de um ponto focal ou de um órgão de referência para

o tema garante que o gestor local tenha disponíveis as informações necessárias para agir e orientar o go-verno local com relação às migrações.

PREPARAÇÃO PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

Gestores públicos municipais precisam considerar uma característica peculiar às migrações: a sua im-previsibilidade. Quando estamos tratando de mi-grações decorrentes de crises em outros territórios, é possível que o gestor local tenha que lidar com fluxos migratórios desordenados provocados por emergências humanitárias. Esses episódios exigirão dos governos ações e medidas urgentes.

A atuação e o trabalho de coordenação realizados pela Defesa Civil em casos de desastres, emergên-cias e calamidades públicas é um exemplo de como agir em situações que exigem respostas rápidas.

Em tempos recentes, o Brasil experimentou a che-gada de fluxos migratórios intensos e repentinos, decorrentes de situações de emergência em outros territórios. A migração haitiana e a situação dos ve-nezuelanos fazem parte desse cenário.

Uma lei federal, a Lei 13.684, de 21 de junho de 2018, estabelece caminhos a serem acionados no nível federal em situações de emergência, prevendo em seu art. 4º que acordos de cooperação entre a União, estados e municípios possam ser estabeleci-dos para a articulação de ações integradas.

A Lei também prevê a criação do Comitê Federal de Assistência Emergencial para acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitá-ria. Os governos locais podem participar do Comitê quando convidados.

O texto coloca ainda que, em casos emergenciais, estados e municípios podem contratar de forma di-reta e que a União pode aumentar os repasses aos fundos estaduais e municipais de saúde, educação e assistência social.

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A intensa migração de venezuelanos para o Brasil exigiu ações do governo estadual de Roraima. O Gabinete Integrado de Gestão Migratória foi criado para propor e implementar medidas de atenção a esse fluxo migratório em conjunto com o Governo Federal. O Gabinete promoveu a instalação de abrigos, de pontos de apoio para cadastramento e encaminhamento de demandas, entre outros. O Decreto Estadual para declaração de situação de emergência social deu agilidade para o recebimento de recursos necessários à implementação das medidas propostas.

COORDENAÇÃO INTERGOVERNAMENTAL

A coordenação vertical com outros níveis de go-verno, bem como a coordenação horizontal entre governos locais fazem parte de uma boa gestão migratória. Os fluxos migratórios internacionais, por suas próprias características de mobilidade,

não ocorrem de forma isolada em um território, o que significa que regiões próximas compartilham desafios semelhantes. Além disso, a troca de expe-riências pode ser uma rica fonte de subsídios para a implementação de políticas locais.

A coordenação entre governos pode ter por objetivo a realização de ações em conjunto ou a troca de experiências no tema.

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Da mesma forma, estados e municípios também podem se preparar, planejando, definindo e formalizando caminhos a serem acionados em casos emergenciais.

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O Migracidades é uma parceria da Organização Internacional para as Migrações (OIM) – a agência da ONU para as migrações – com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para participar do curso online sobre governança migratória local acesso o site da Escola Virtual de Governo da Enap! www.escolavirtual.gov.br

As opiniões expressas nas publicações da Organização Internacional para as Migrações são dos autores e não refletem necessariamente a opinião da OIM ou de qualquer outra organização a qual os participantes possam estar profissionalmente vinculados. As denominações utilizadas no presente relatório e a maneira pela qual são apresentados os dados não implicam, por parte da OIM, qualquer opinião sobre a condição jurídica dos países, territórios, cidades ou áreas, ou mesmo de suas autoridades, nem tampouco a respeito à delimitação de suas fronteiras ou limites. OIM está comprometida pelo princípio de que a migração ordenada e em condições humanas beneficia aos migrantes e a sociedade. Por seu caráter de organização intergovernamental, a OIM atua com seus parceiros da comunidade internacional para: ajudar a enfrentar os crescentes desafios da gestão da migração; fomentar a compreensão das questões migratórias; alentar o desenvolvimento social e econômico através da migração; e garantir o respeito pela dignidade humana e bem-estar dos migrantes. Este material faz parte do projeto Aprimorando a Governança Migratória no Brasil, da OIM em parceria coma Escola Nacional de Administração Pública (Enap) com financiamento do Fundo da OIM para o Desenvolvimento (IDF).

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