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Millenials. Modernos mas à antiga
BEATRIZ MARTINHO*
23/04/2018 20:08
Os estudos são controversos, uns apontam para
o fim das lojas físicas, outros admitem que, a
maioria dos jovens dos 18 aos 35 anos, continua
a preferir as lojas físicas para fazer compras,
apesar de dominarem como ninguém as
plataformas digitais. O i falou com quatro
jovens sobre os seus hábitos de consumo
Os Millennials são a “Geração da Internet”. Nasceram
na era dos equipamentos eletrónicos, do crescimento
rápido do online e do mundo das redes sociais. Desde
pequenos, criaram uma relação íntima com as novas
tecnologias e dominam a internet como ninguém. E
Millenials. Modernos
mas à antiga
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quando muitos estudos apontam para o fim das lojas
De acordo com o “Observador Cetelem de 2018”, afinal
esta geração gosta de ir às lojas, apesar de toda a oferta
que há online. Segundo o estudo, “57% dos Millennials
europeus e 58% dos portugueses surpreendem quando
afirmam que gostam e lhes dá prazer fazer compras,
além de continuarem a preferir as lojas físicas ao
comércio online”.
Catarina Sobrinho tem 20 anos e faz parte do grupo de
Millenialls que ainda escolhe as lojas para ir às
compras, porque “permitem um acompanhamento do
cliente e dão-nos a possibilidade de ver, tocar e
experimentar o produto”.
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Também Adriano de Almeida, de 20 anos, prefere
vendedor e o comprador”.
Mas há quem seja mais cético. Frederico Farreca, de 25
anos, concorda que “comprar em loja transmite outra
segurança, pois podemos ver, experimentar e ter um
contacto direto com o bem”. Contudo, para o técnico
financeiro e de contabilidade, a escolha entre uma loja
ou o online depende do produto que quer comprar.
“Quando preciso de roupa, até posso ver alguma coisa
que goste na internet, mas nunca compro sem
experimentar primeiro. No entanto, se estivermos a
falar de um artigo mais tecnológico, como um telemóvel
ou algo do género, não tenho qualquer problema em
comprar numa loja online”, explica ao i.
As razões que fazem das lojas atraentes aos olhos dos
jovens desta geração poderiam ser resumidas pelo
conceito de “experiência de produto”. Para 60% dos
jovens europeus inquiridos no estudo é essencial ver e
tocar no produto.
Mais de metade (54%) apreciam o facto da compra ser
imediata, permitindo levar logo o que se escolheu para
casa e 40% gostam de poder beneficiar de uma
demonstração que irá reforçar a sua escolha.
Já Carla Pinto Silva, de 34 anos, contraria o estudo. A
diretora de recursos humanos, comunicação e imagem
conta que prefere comprar produtos online e admite
que o faz cada vez mais. “Online acabo por conseguir
uma poupança maior do que nas lojas físicas”, refere.
Além da poupança, a ex-jornalista da TVI salienta a
simplicidade de fazer compras online. “Hoje é tudo tão
fácil e os sites já estão tão preparados e tão
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programados para a pessoa pôr o número que veste, o
Acompanhamento online De acordo com o
“Observador Cetelem 2018”, mais de metade (55%) dos
membros europeus da também conhecida como
Geração Y declara que fazem o acompanhamento de,
pelo menos, uma loja nas redes sociais. Os vídeos
publicados pelas lojas nas redes sociais transformam-se
numa fonte de informação para um em cada dois
Millennials.
Carla Pinto Silva usa as plataformas digitais das lojas
para “acompanhar as tendências e as promoções”. Além
das redes sociais, a ex-jornalista subscreve newsletters
de marcas que gosta.
Adriano de Almeida diz acompanhar os sites e as redes
sociais de poucas lojas e fá-lo principalmente com o
objetivo de procurar produtos para poder comprar nas
lojas. Contudo, o estudante reconhece que as lojas
online têm vantagens. “Há um catálogo mais extenso,
onde podemos escolher o que queremos e comprá-lo
sem sair de casa”, afirma.
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Para Frederico Farreca, as plataformas digitais das lojas
coisas sem sair de casa é uma vantagem.
“Normalmente, nas lojas físicas, estamos sujeitos a uma
maior confusão provocada pelo número de clientes e
pode não haver uma ou outra coisa em stock. Já nas
lojas online, existe sempre stock e podemos comprar
sentados no sofá e completamente confortáveis”, explica
o jovem.
A rapidez com que é possível fazer compras na internet
também agrada a Catarina Sobrinho, que usa o digital
para inteirar-se “dos descontos e dos catálogos” das
lojas. “O online evita que tenhamos de nos deslocar e
permite ter uma visão categorizada de todos os
produtos para venda”, constata.
As lojas físicas vão acabar? Na luta entre o
comércio eletrónico e as lojas, o estudo destaca que a
convivência é uma realidade. Para os Millennials, não
existe uma transferência completa para o digital e a
rutura com os estabelecimentos parece estar longe de
acontecer. Ao contrário do que se poderia pensar, os
chamados “nativos digitais” não querem que os
estabelecimentos comerciais desapareçam.
“É notório que estamos a caminhar para o fim das lojas
físicas”, reconhece Fredrico Farreca. Contudo, o
profissional da área da contabilidade não concorda que
isso deva acontecer, até porque o fecho de lojas implica
que “haja cada vez menos postos de trabalho para
pessoas sem uma formação universitária ou menos
especializada”.
Catarina Sobrinho pensa que o fim das lojas físicas pode
vir a acontecer no futuro, mas a ideia não lhe agrada.
“Considero importante o papel dos vendedores das
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lojas. Além disso, é bom que as pessoas tenham a
Já Adriano de Almeida acha que, apesar de as compras
online estarem a crescer, isso não significa que as lojas
físicas vão acabar. Além disso, não concorda que isso
deva acontecer, “porque deve haver mais gente que,
como eu, prefere ver os produtos ao vivo”, esclarece.
Por outro lado, Carla Pinto Silva afirma que o fecho das
lojas não iria trazer grandes diferenças à sua vida, uma
vez que “a tendência é cada vez mais o digital”. “Para
mim, não havia grande problema se a maior parte das
lojas físicas acabasse, porque eu sou mais de comprar
online”, indica.
Mas há uma coisa com que todos concordam: as lojas
vão ter de mudar para se adaptarem aos avanços
tecnológicos.
Para Carla Pinto Silva, as lojas “vão ter de inovar e
produzir uma mudança drástica e o mais rápido
possível, porque senão vão ser engolidas por esse
mundo do digital”.
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Frederico Farreca afirma mesmo que essa mudança
feitos de forma digital. Ou seja, trabalhos que antes
eram feitos por colaboradores passaram a ser feitos
pelos clientes e a verdade é que nós, enquanto clientes,
não nos importamos, porque as compras até se tornam
mais simples”, refere.
Também Catarina Sobrinho não tem dúvidas de que “a
tendência é que as lojas se tornem cada vez mais
tecnológicas e cada vez menos necessitadas de
trabalhadores”.
Para combater a predominância do digital, a estudante
de 20 anos sugere que as lojas se tornem “mais
atrativas”. “Podia haver produtos exclusivos nas lojas
físicas que não estivessem disponíveis nos sites ou
promoções especiais para os clientes que de deslocam às
lojas”, propõe.
Adriano de Almeida defende que as lojas físicas devem
”proporcionar uma experiência mais singular do que
estamos habituados, de modo a superar uma simples
ida às compras e oferecer algo mais”.
Ponderados e responsáveis De acordo com o estudo
do Cetelem, os Millennials europeus veem-se como
responsáveis e pragmáticos e isso percebe-se quando
fazem compras. Dos inquiridos, 73% declaram que
põem dinheiro de lado para consumir.
Além de serem ponderados na hora de consumir, os
jovens privilegiam a qualidade em relação à quantidade.
Os resultados mostram que 72% dos membros da
Geração Millennials preferem comprar menos, mas
melhor.
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Catarina Sobrinho revela que é uma pessoa ponderada
Também Frederico Farreca refere que pensa bem antes
de comprar algum produto. “Tento sempre ter a certeza
de que é uma coisa que gosto e que não vou deixar de
usar muito rapidamente ou que me vou fartar”, conta. O
jovem evidencia que compra, na maioria das vezes,
produtos de que precisa realmente. Quanto à qualidade,
o técnico financeiro e de contabilidade diz procurar um
equilíbrio. “Tento ir comprando produtos de melhor
qualidade que, como é normal, terão uma duração
maior. No entanto, a qualidade paga-se e, por isso, tento
gerir da melhor maneira, pois nem sempre dá para
adquirir produtos melhores e tenho de me contentar
com outros de menor qualidade”, explica.
Carla Pinto Silva descreve-se como uma pessoa que
“não compra só por comprar”. Revela ser muito
ponderada nas compras e, regra geral, adquire um
produto apenas quando é realmente útil. “Compro
quando preciso e tento comprar uma coisa de que
goste”, afirma.
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A ex-jornalista prefere comprar produtos de melhor
também consigo encontrar coisas mais baratas de que
gosto e preciso em lojas que não são de alta grife”.
Já Adriano de Almeida diz debater-se muitas vezes com
o dilema qualidade/preço e refere que foi uma
aprendizagem. “Com o tempo fui percebendo que vale a
pena comprar mais caro para durar mais tempo”.
O estudante descreve-se também como uma pessoa
ponderada nas compras e diz que adquire produtos
mais por necessidade, tentando “dar uso às coisas
durante bastante tempo”. Há, no entanto, artigos que
gosta efetivamente de comprar, como “instrumentos
musicais, livros e CDs”.
"Otimistas racionais" Depois dos choques registados
nos últimos anos, os resultados do Observador Cetelem
2018 demonstram que há um reencontro do otimismo e
da confiança dos jovens na sua situação financeira
pessoal e na situação financeira do país.
De acordo com o estudo, depois de vários anos com
avaliações negativas, a classificação média atribuída
pelos europeus à situação do seu país é agora positiva
(5,3 numa escala de 1 a 10). Em 2007, esta classificação
foi de 4,9 e, em 2013, foi de 3,7.
Para Carla Pinto Silva, depois da crise que o país sofreu,
há uma ligeira melhoria em termos económicos. “Há
uma recuperação em termos de défice, em termos de
PIB e em termos de taxa de desemprego”, afirma.
Adriano de Almeida está de acordo e refere que
atualmente “Portugal encontra-se numa fase de
crescimento financeiro face ao período de crise, o que se
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traduz num crescente poder de compra da classe
Também Frederico Farreca reconhece que o país se
encontra num bom caminho. Apesar de achar que a
situação ainda não é a ideal, o técnico financeiro e de
contabilidade afirma que ”já se vão notando algumas
diferenças”.
“Acho que o país continua com pouco dinheiro, mas
está melhor do que há uns anos. Está, aos poucos, a
recuperar da crise que houve”, defende Catarina
Sobrinho.
Ano após ano, os europeus mostram-se também cada
vez mais otimistas em relação à sua situação pessoal.
Segundo o documento, este ano, a classificação média
atribuída pelos jovens europeus à sua situação
financeira pessoal foi de 5,8 (numa escala de 1 a 10), um
ponto mais alta do que há cinco anos.
Adriano de Almeida não identifica uma melhoria na sua
situação pessoal. “Considero que a minha situação
financeira se manteve estável nos últimos anos. Da
mesma forma, creio que o meu poder de compra se
manteve estável”.
Já Carla Pinto Silva fala de um crescimento. “A minha
situação pessoal melhorou, em termos financeiros, nos
últimos anos. Penso que houve uma melhoria também
agregada à recuperação económica do país”, explica.
Sobre o poder de compra, refere que “aumentou
francamente”.
Frederico Farreca acabou a licenciatura recentemente e,
por isso, afirma que a sua situação financeira melhorou.
“Comecei a trabalhar e a ter a minha independência
financeira”. Consequentemente, o poder de compra
aumentou. “Pude comprar o meu carro, continuar a
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investir nos estudos e comprar outro tipo de coisas que
Catarina Sobrinho ainda é estudante e, portanto,
“dependente dos pais”. “A minha situação financeira
melhora se a deles melhorar. Nos últimos tempos, acho
que melhorou ligeiramente”, conta.
Esta boa saúde económica pessoal traduz-se em
intenções de consumo. Quase metade (47%) dos
Millennials europeus referidos no estudo do Cetelem
pretendem aumentar o seu consumo nos próximos 12
meses. Em termos de poupança, 45% pretendem
economizar mais. A ideia de que os jovens são
irresponsáveis e não pensem em poupar para o futuro é
contrariada no estudo.
Frederico Farreca tem como objetivo investir em si
mesmo. “Pretendo continuar a estudar e tentar fazer o
máximo de viagens que conseguir”, indica. Por outro
lado, o jovem diz procurar sempre “ter uma almofada
financeira confortável”, que lhe permita “fazer face a
alguma situação urgente que possa surgir”.
Também Carla Pinto Silva diz que poupar é uma regra.
“Sou muito poupada. Tenho uma regra de cumprir
normalmente as minhas poupanças, pensando também
obviamente naquilo que preciso de gastar, que é mais
ou menos o mesmo todos os meses. Tento sempre
poupar uma parte, para manter a minha viabilidade
financeira no futuro”, explica.
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Para Adriano de Almeida, poupar é uma preocupação.
“Pretendo manter alguns gastos menos essenciais, mas
apenas enquanto isso não comprometer as minhas
poupanças”, esclarece.
Conclusão do estudo: os jovens estão mais otimistas,
acreditam que a sua situação económica vai melhorar e,
boa parte deles, ainda não perdeu hábitos antigos como
fazer compras em lojas de rua, deixando a internet para
outras atividades...
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