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1 Manejo da Mancha de Ramulária em Algodoeiro Comunicado Técnico 272 ISSN 0102-0099 Maio/2006 Campina Grande, PB Manejo da Mancha de Ramulária em Algodoeiro Nelson Dias Suassuna 1 Wirton Macedo Coutinho 2 Alexandre Cunha de Barcelos Ferreira 3 A área cultivada com algodão no cerrado brasileiro aumentou muito nos últimos anos, principalmente nos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia. O desenvolvimento e a incorporação de cultivares muito produtivas a sistemas de produção tecnificados, têm sido responsáveis por ganhos expressivos de produção e produtividade na cotonicultura desses estados. Atrelado ao aumento da área plantada com algodão no cerrado, novos problemas surgiram, sobretudo fitossanitários. Dentre estes, o principal é a mancha de ramulária ou mancha branca (UTIAMADA et al., 2003). Naturalmente, esta doença só ocorria no final do ciclo da cultura, e não sendo um problema fitossanitário importante; entretanto, nos últimos anos passou a surgir mais cedo e causar desfolha precoce, ocasionando perdas significativas à produção (SUASSUNA e IAMAMOTO, 2005). Os sintomas iniciais da doença são lesões de formato angular com coloração branco-azulada na face inferior das folhas mais velhas devido à colonização pelo patógeno. Sob condições climáticas favoráveis, ocorre intensa esporulação do patógeno no centro das lesões, dando-lhes aspecto esbranquiçado. Com a evolução da doença, as lesões se multiplicam e ocupam quase todo o limbo foliar, podendo tornar-se necrosadas após o período de esporulação do patógeno (EHRLICH e WOLF, 1932). Alta severidade da doença no início do ciclo reprodutivo da planta induz à desfolha precoce nas plantas e implica em perdas (SHIVANKAR e WANGIKAR, 1992). Todas as variedades de algodoeiro atualmente cultivadas no Brasil são, em algum nível, suscetíveis à mancha de ramulária. Existem relatos de existência de resistência em cultivares da espécie Gossypium hirsutum, dentre as quais se incluem BJA 592 e Reba BTK 12, que podem ser usadas como fonte de resistência. Algumas cultivares de G. barbadense, como Pima 67 e Tadla 16, também possuem resistência (RATHAIAH, 1976). O uso de cultivares com algum nível de resistência, principalmente aquelas com arquitetura de copa, que 1 Eng o Agr o , D.Sc. em Fitopatologia, Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Centenário, 58107-720, Campina Grande, PB E-mail: [email protected] 2 Eng o Agr o , M.Sc. em Fitopatologia, Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Centenário,58107-720, Campina Grande, PB E-mail: [email protected] 3 Eng o Agr o , D.Sc. em Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Centenário, 58107-720, Campina Grande, PB E-mail: [email protected] Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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1Manejo da Mancha de Ramulária em Algodoeiro

ComunicadoTécnico

272ISSN 0102-0099Maio/2006Campina Grande, PB

Manejo da Mancha de Ramulária emAlgodoeiro

Nelson Dias Suassuna1

Wirton Macedo Coutinho2

Alexandre Cunha de Barcelos Ferreira3

A área cultivada com algodão no cerrado brasileiroaumentou muito nos últimos anos, principalmentenos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia. Odesenvolvimento e a incorporação de cultivaresmuito produtivas a sistemas de produçãotecnificados, têm sido responsáveis por ganhosexpressivos de produção e produtividade nacotonicultura desses estados.

Atrelado ao aumento da área plantada com algodãono cerrado, novos problemas surgiram, sobretudofitossanitários. Dentre estes, o principal é a manchade ramulária ou mancha branca (UTIAMADA et al.,2003). Naturalmente, esta doença só ocorria nofinal do ciclo da cultura, e não sendo um problemafitossanitário importante; entretanto, nos últimosanos passou a surgir mais cedo e causar desfolhaprecoce, ocasionando perdas significativas àprodução (SUASSUNA e IAMAMOTO, 2005). Ossintomas iniciais da doença são lesões de formatoangular com coloração branco-azulada na faceinferior das folhas mais velhas devido à colonização

pelo patógeno. Sob condições climáticas favoráveis,ocorre intensa esporulação do patógeno no centrodas lesões, dando-lhes aspecto esbranquiçado. Coma evolução da doença, as lesões se multiplicam eocupam quase todo o limbo foliar, podendo tornar-senecrosadas após o período de esporulação dopatógeno (EHRLICH e WOLF, 1932). Alta severidadeda doença no início do ciclo reprodutivo da plantainduz à desfolha precoce nas plantas e implica emperdas (SHIVANKAR e WANGIKAR, 1992).

Todas as variedades de algodoeiro atualmentecultivadas no Brasil são, em algum nível, suscetíveisà mancha de ramulária. Existem relatos deexistência de resistência em cultivares da espécieGossypium hirsutum, dentre as quais se incluem BJA592 e Reba BTK 12, que podem ser usadas comofonte de resistência. Algumas cultivares de G.barbadense, como Pima 67 e Tadla 16, tambémpossuem resistência (RATHAIAH, 1976). O uso decultivares com algum nível de resistência,principalmente aquelas com arquitetura de copa, que

1Engo Agro, D.Sc. em Fitopatologia, Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Centenário, 58107-720, Campina Grande, PBE-mail: [email protected]

2Engo Agro, M.Sc. em Fitopatologia, Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Centenário,58107-720, Campina Grande, PBE-mail: [email protected]

3Engo Agro, D.Sc. em Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz 1143, Centenário, 58107-720, Campina Grande, PBE-mail: [email protected]

Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

2 Manejo da Mancha de Ramulária em Algodoeiro

permita ou facilite aeração, aliado a umespaçamento maior e a menor densidade de plantas,

pode reduzir a severidade da doença (HILLOCKS,1992). A recém-lançada cultivar BRS Buriti possuinível aceitável de resistência à mancha de ramuláriao que, na prática, significa uma redução no uso defungicidas quando comparada com uma cultivaraltamente suscetível.

Como as cultivares atualmente em uso no Brasil nãopossuem resistência completa à doença, o controlequímico se constitui em uma tática comumenteempregada para contenção da evolução dos danosocasionados pelo patógeno, devendo ser iniciadoassim que as primeiras lesões são identificadas nas

folhas mais velhas. O monitoramento constante dalavoura é crucial visto que as primeiras lesõessurgem com aspecto azulado antes mesmo deocorrer esporulação; sendo assim, a adoção docontrole químico nesta fase da doença éfundamental no sentido de impedir ou retardar o

início da epidemia e o aumento do inóculo no campode cultivo.

Os primeiros sintomas da doença surgem,concomitantemente, com o início da fasereprodutiva da planta, em geral entre o

aparecimento do primeiro botão floral até a aberturada primeira flor. Devido a esta doença, os danos seestendem até o final do ciclo da cultura, sendo maisexpressivos entre o início do florescimento e aabertura dos primeiros capulhos. Após o início deabertura de cápsulas, o controle químico não traz

benefícios, exceto quando há muita perda de maçãsno terço inferior da planta em decorrência depodridões.

No controle químico da doença é importante seconhecer o modo de ação e o tipo de translocação

do fungicida na planta para a decisão sobre quando equal produto se deve aplicar. Além desseconhecimento, o uso de maneira alternada defungicidas com diferentes princípios ativos, éfundamental, pois representa uma estratégia eficazpara se evitar o aumento da freqüência de isolados

resistentes dentro da população de R. areola, agentecausal da doença.

No início dos primeiros sintomas da mancha deramulária, o inóculo inicial de R. areola é baixo eoriundo de correntes aéreas, folhas de algodoeiro dasafra anterior ou das primeiras lesões instaladas nasfolhas mais velhas. Nesta fase, fungicidas do grupodas estrobilurinas podem ser usados isoladamenteou em mistura pré-fabricada com outros fungicidas,uma vez que são muito efetivos em prevenirgerminação de esporos e, também, apresentamefeito erradicante. O atraso no início da primeiraaplicação diminui a eficiência do controle e pode,inclusive, inviabilizar economicamente a aplicaçãodo produto (SIQUERI e COSTA, 2003). Antes dotérmino do período residual do fungicida deve-semonitorar novamente as plantas pois, constatando-se novas lesões com esporulação (lesõesesbranquiçadas) passando para o terço médio daplanta, deve-se iniciar a segunda aplicação, depreferência com um fungicida pertencente a umgrupo químico diferente do que foi empregado naprimeira aplicação como, por exemplo, triazolisolado ou em mistura pré-fabricada. Essa estratégiaimpede o acréscimo de inóculo na área e protege asplantas durante um período crítico em necessidadede fotoassimilados. Os fungicidas recomendados nomanejo da mancha de ramulária do algodoeiro sãorelatados na Tabela 1.

Dependendo da variedade em uso, não é necessáriauma terceira aplicação de fungicidas,principalmente para variedades com algum nível deresistência, de ciclo curto e cultivada em regiões debaixa altitude (Figura 1). Para variedades de ciclomédio, cultivadas em regiões mais altas, pode serconveniente a realização de uma terceira aplicação(Figura 2) a qual é dependente do progresso dadoença após os 80-90 dias de emergência; nestecaso, fungicidas do grupo das estrobilurinas,aplicados isoladamente ou em mistura pré-fabricada(Tabela 1) podem ser empregados; apenas em casosextremos uma quarta aplicação de fungicidas énecessária, a exemplo do uso de uma cultivar muitosuscetível de ciclo médio a tardio, em regiões comaltitude elevada e com perdas de maçãs no terçoinferior, situação em que se recomenda a aplicaçãode um fungicida pertencente a um grupo diferentedo que foi aplicado.

3Manejo da Mancha de Ramulária em Algodoeiro

Tabela 1. Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle da manchade ramulária do algodoeiro

Fig. 1. Número e período de aplicação de fungicidas pertencentes a diferentes grupos químicos para o controle damancha de ramulária em variedades de algodoeiro de ciclo curto e algum nível de resistência, cultivadas em regiõesde baixa altitude (Ilustração Bayer CropScience).

Fig. 2. Número e período de aplicação de fungicidas pertecentes a diferentes grupos químicos para o controle damancha de ramulária em variedades de algodoeiro de ciclo médio, cultivadas em regiões com altitudes elevadas(Ilustração Bayer CropScience).

Fonte: AGROFIT (2006).

P ro d u to c o m e r c ia l In g r e d ie n te A t iv o(G r u p o Q u ím ic o )

T i tu la r d o R e g is t r o F o r m u la ç ã o

C a b r io T o pm e t i r a m (a lq u i le n o b is(d it io c a r b a m a to )) +p ir a c lo s t r o b in a

B a s f S .A . W G - G r a n u la d o d is p e r s ív e l

C o m e t p ir a c lo s t r o b in a(e s t r o b ilu r in a )

B a s f S .A .E C - C o n c e n t r a d oE m u ls io n á v e l

E m in e n t 1 2 5 E W te t r a c o n a z o l (t r ia z o l)A r y s t a L i f e s c ie n c ed o B ra s il In d ú s t r ia eA g r o p e c u á r ia

E W - E m u ls ã o Ó le o e mÁ g u a

P r io r ia z o x is t ro b in a(e s t r o b ilu r in a )

S y n g e n ta p ro te ç ã od e C u lt iv o s L t d a .

S C - S u s p e n s ã oC o n c e n t r a d a

E s t r a t e g o 2 5 0 E Cp r o p ic o n a z o l (t r ia z o l) +t r i f lo x is t ro b in a(e s t r o b ilu r in a )

B a y e r C r o p s c ie n c eL td a . - R e g is t r a n te

E C - C o n c e n t r a d oE m u ls io n á v e l

0-45 DAE 45-110 DAE 110-160 DAE

Estrobilurina isolada ou em mistura Triazol isolado ou em mistura Estrobilurina isolada ou em mistura

0-40 DAE 40-100 DAE 100-150 DAE

Estrobilurina isolada ou em mistura Triazol isolado ou em mistura

4 Manejo da Mancha de Ramulária em Algodoeiro

Referências Bibliográficas

EHRLICH, J.; WOLF, F.A. Areolate mildew ofcotton. Phytopathology, v.22, p.229-240, 1932.

HILLOCKS, R.J. Fungal diseases of the leaf. In:HILLOCKS, R.J. Cotton diseases. Wallingford UK:CAB International, 1992. p.191-238.

RATHAIAH, Y. Reaction of cotton species andcultivars to four isolates of Ramularia areola.Phytopathology, v.66, p.1007-1009, 1976.

SHIVANKAR, S.K.; WANGIKAR, P.D. Estimation ofcrop losses due to grey mildew disease of cottoncaused by Ramularia areola. Indian Phytopathology,v.45, n.1, p.74-76, 1992.

SIQUERI, F.V.; COSTA, J.A. Influência da época deaplicação de fungicidas no controle da mancha deramularia (Ramularia areola) na região de Campo

Verde – MT. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DEALGODÃO, 4., 2003, Goiânia. Algodão, ummercado em evolução – Anais... Campina Grande:Embrapa Algodão, 2003. CD-ROM.

SUASSUNA, N.D.; IAMAMOTO, M.M. Controlequímico da mancha de ramulária do algodoeiro. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, V.,2005, Salvador. Algodão, uma fibra natural -Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2005.CD-ROM.

UTIAMADA, C.M.; LOPES, J.C.; SATO, L.N.; ROIM,F.L.B.; KAJIHARA, L.; OCCHIENA, E.M. Controlequímico da ramulária (Ramularia areola) e ferrugem(Phakopsora gossypii) na cultura do algodoeiro. IN:CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4., 2003,Goiânia Algodão, um mercado em evolução –Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2003.CD-ROM.

ComunicadoTécnico, 272

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa AlgodãoRua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário, CP 17458107-720 Campina Grande, PBFone: (83) 3315 4300 Fax: (83) 3315 4367e-mail: [email protected] EdiçãoTiragem: 500

Comitê dePublicações

Presidente: Luiz Paulo de CarvalhoSecretária Executiva: Nivia M.S. GomesMembros: Cristina Schetino Bastos

Fábio Akiyoshi SuinagaFrancisco das Chagas Vidal NetoGilvan Barbosa FerreiraJosé Américo Bordini do AmaralJosé Wellington dos SantosNair Helena Arriel de CastroNelson Dias Suassuna

Expedientes: Supervisor Editorial: Nivia M.S. Gomes

Revisão de Texto: Nisia Luciano LeãoTratamento das ilustrações: Geraldo F. de S. FilhoEditoração Eletrônica: Geraldo F. de S. Filho