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Ministério do Meio Ambiente PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO 1

Ministério do Meio Ambiente · Lista de quadros 1. Panorama histórico da bacia hidrográfica do São Francisco 2. Área, população e número de municípios da bacia por Estado

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Page 1: Ministério do Meio Ambiente · Lista de quadros 1. Panorama histórico da bacia hidrográfica do São Francisco 2. Área, população e número de municípios da bacia por Estado

Ministério do Meio Ambiente

PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO

DA BACIA HIDROGRÁFICA DO

RIO SÃO FRANCISCO

1

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Equipe Técnica

Maurício Cortines Laxe (Coordenador do Programa)

Márcia Gonçalves Rodrigues

Cláudia Magalhães

José Alencar Simões

Juliana Gomes

Gabriel Schiavon de Oliveira

Renata Nitta

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Lista de figuras

1. Rio São Francisco 2. Regiões hidrográficas do brasil3. Bacia Hidrográfica do São Francisco: regiões fisiográficas – novos limites4. Alto São Francisco5. Médio São Francisco6. Sub-médio São Francisco7. Baixo São Francisco8. Sub-bacias do rio São Francisco9. Rede hidrográfica do São Francisco10. Distribuição da ocorrência de inundação na bacia11. Partes do médio e baixo e todo o sub-médio estão no semi-árido12. Concentração de sedimentos em suspensão na bacia13 Unidades de conservação14. Distribuição espacial da ocupação demográfica15. Sub-bacia do rio verde grande16. Distribuição da coleta de esgoto na bacia, por micro-bacia17. Distribuição da cobertura de água das micro-bacias18. Distribuição da cobertura da coleta de lixo, por microbacia19. Trechos navegáveis no rio São Francisco20. Tronco de transporte intermodal nos eixos do nordeste, com destaque para a

bacia do São Francisco.21. Esquema dos principais reservatórios situados no rio São Francisco, formados

pelas usinas hidrelétricas de três marias, queimados, sobradinho, itaparica,

complexo paulo afonso e xingo22. Hidrelétricas em operação na bacia do São Francisco23. Áreas de maior prática da irrigação pública e privada na bacia hidrográfica do

São Francisco24. Articulação institucional25. Prioridades de uso conforme preceitua a lei 9.433/9726. Geração de energia elétrica e a irrigação27. Demanda de uso da água por região fisiográfica28. Navegação29. Distribuição da disponibilidade hídrica (m³/habitante/ano) na bacia30. Poços31. Implementação do programa de revitalização da bacia hidrográfica do rio São

Francisco32 Articulação institucional

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Lista de quadros

1. Panorama histórico da bacia hidrográfica do São Francisco2. Área, população e número de municípios da bacia por Estado3. População urbana, por região fisiográfica da bacia hidrográfica do São

Francisco4. Características físicas e naturais da bacia do São Francisco, por região

fisiográfica.5. Afluentes do rio São Francisco6. Vazões médias mensais dos principais afluentes do rio São Francisco.7. Vazões médias mensais nas principais estações fluviométricas no rio São

Francisco8. Características de alguns dos principais afluentes9. Províncias hidrogeológicas da bacia do São Francisco10

.

Formações vegetais na bacia do São Francisco, por estado.

11

.

Principais características hidroclimáticas da bacia do rio São Francisco

12

.

Principais espécies da ictiofauna na região do médio São Francisco

13

.

Espécies localizadas na região do Baixo São Francisco

14

.

Características socioeconômicas da bacia do rio São Francisco, por região

fisiográfica15

.

Índices de cobertura dos serviços de saneamento na bacia hidrográfica do São

Francisco16

.

Distribuição dos solos, por Estado, com relação à aptidão para culturas de

sequeiro.17

.

Aumento da Produção e Produtividade do Sistema CBL.

18

.

Terras Indígenas da Bacia Hidrográfica do São Francisco

19

.

Comunidades remanescentes de quilombos tituladas

20 Municípios da bacia do São Francisco com processo de implantação de

Agenda 21 Local. 21

.

Municípios da Região do Médio São Francisco com plano de Reforma Agrária

22

.

Ministérios, programas e ações com interface para a consolidação da

economia de PFNMs23

.24

.

4

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3. DIAGÓSTICO DA BACIA

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3. Diagnóstico da Bacia

A bacia do rio São Francisco tem uma localização estratégica, pois constitui um espaço

territorial que faz a ligação natural entre o Sudeste, região mais desenvolvida do Brasil e

o Nordeste, em estágio menos adiantado de desenvolvimento. É também de grande

importância socioeconômica por seu multiuso, dotada de imenso potencial energético,

hidroviário, agropecuário, agroindustrial, pesqueiro, turístico, social, cultural, histórico e

ecológico.

Apresenta áreas densamente povoadas e de acentuada riqueza, como também áreas de

pobreza crítica e baixa densidade demográfica, demonstrando assim vários paradoxos

socioeconômicos e uma grande vulnerabilidade ambiental.

Desde meados do século XIX, a bacia vem sofrendo forte agressão ambiental tendo os

maiores impactos ocorridos principalmente a partir da segunda metade do século

passado. Uma das sub-bacias mais atingidas é a do Rio das Velhas, fortemente

industrializada, onde se localizam o quadrilátero ferrífero e também a região

metropolitana de Belo Horizonte, que gera os mais diversos produtos, sendo a grande

Belo Horizonte a região com maior concentração populacional da bacia, ao mesmo tempo

em que tem no alto índice de poluição um dos seus subprodutos danosos.

Antes da concepção do Programa de Revitalização e da implementação do GEF São

Francisco todos os diagnósticos, estudos e projetos realizados no seu território jamais

refletiram integralmente uma abordagem que considerasse a bacia como um todo,

incluindo a sua zona costeira, ao mesmo tempo em que nunca se adotou uma

perspectiva de gerenciamento integrado da bacia.

Ressalta-se que parte das informações apresentadas neste diagnóstico sócio-ambiental

tem como base os dados contidos em diversos documentos técnicos existentes sobre o

rio São Francisco, muitos deles elaborados pelo MMA ou por suas instituições vinculadas:

Agência Nacional de Águas - ANA e IBAMA. Destacam-se ainda os produtos técnicos do

Projeto GEF São Francisco, como o DAB, o PAE e o Plano de Bacia, assim como, no

âmbito do Ministério da Integração Nacional, os dados contidos no PLANVASF e os

elaborados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba

- CODEVASF. Há ainda as informações e contribuições obtidas junto a SUDENE,

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CHESF, IBGE, EMBRAPA, INCRA, FUNASA e FUNAI.

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3.1. Caracterização geral

A bacia hidrográfica do São Francisco está entre as doze regiões hidrográficas instituídas

pela Resolução no 32, de 15 de outubro de 2003, do Conselho Nacional de Recursos

Hídricos, que definiu a Divisão Hidrográfica Nacional, com a finalidade de orientar,

fundamentar e implementar o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).

Figura 2. Regiões hidrográficas do Brasil

Complexa e extensa, é a maior entre as bacias hidrográficas essencialmente brasileiras e

a terceira do Brasil. Abrange um número significativo de unidades federadas as quais,

pela organização político-administrativa do país, compreendem a União, seus estados, o

Distrito Federal e os municípios, o que vem a conferir a necessidade de um modelo de

gestão ambiental que exige muita interação, integração e negociação para a criação de

sinergias interinstitucionais, capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável8

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desta importante região do Brasil.

Com área de drenagem de 639.219 km2, ou seja, quase 64.000.000 ha, correspondendo

à cerca de 8% do território nacional, ela se relaciona diretamente com sete unidades da

federação: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal,

e está compreendida entre as latitudes 7º 00´ e 21º 00´ S e longitudes 35º 00´ e 47º 40’

W. De toda a sua área, cerca de 83% está localizada nos estados de Minas Gerais e

Bahia, 16% nos estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe e o 1% restante no estado

de Goiás e no Distrito Federal.

Abrange ainda 505 municípios, ou aproximadamente 9% do total de municípios do país.

Desse total, 48,2% estão na Bahia, 36,8% em Minas Gerais, 10,9% em Pernambuco,

2,2% em Alagoas, 1,2% em Sergipe, 0,5% em Goiás e 0,2% no Distrito Federal. Junto ao

leito principal do rio ficam situados 101 (20%) dos municípios da bacia.

Apresentando uma população de 13.297.955 habitantes (Censo, 2000), correspondendo

a pouco mais de 8% da população brasileira, a bacia ainda tem enormes espaços que

são vazios econômicos, possuindo também importantes centros urbanos, com destaque

para a Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH, situada na alta bacia, polarizada

pela capital do estado de Minas Gerais, além de parte do Distrito Federal.

Outros municípios que se destacam são Montes Claros, Ouro Preto, Barreiras, Juazeiro,

Petrolina, Salgueiro, Serra Talhada, Floresta, Arcoverde, Arapiraca, Própria, Paulo

Afonso e Penedo. A grande importância da Região Metropolitana de Belo Horizonte para

a bacia se destaca e evidencia pelo fato de que seus 26 municípios, apesar de ocuparem

uma área de 6.255 km2, e representar menos de 1% de toda a bacia do rio São

Francisco, concentram mais de 3.900.000 habitantes, o que corresponde a 29,3% da

população de toda a bacia.

O rio São Francisco, também chamado de “Velho Chico” pelos ribeirinhos, foi descoberto

no ano de 1501. Considerado o rio da integração nacional, recebeu esse título por ser

tradicionalmente um dos principais caminhos de ligação do Sudeste com o Nordeste.

As unidades federadas, com suas áreas, população e número de municípios que

integram a bacia do rio São Francisco estão indicadas no quadro 2.

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Quadro 2 - Área, população e número de municípios da bacia por Estado .

UFÁREA POPULAÇÃO MUNICÍPIOS

km² % Habitantes % No. %

MG 235417 36,8 7595274 .57,2 240 47,7

GO 3142 0,5 107 858 0,8 3 0,6

DF 1.336 0,2 2 000 - 1 0,2

BA 307.941 48,2 2 663 527 20,1 115 22,7

PE 69518 10,8 1614 565 12,2 69 13,7

AL 14338 2,2 1 002 900 7,5 49 9,7

SE 7473 1,3 291 831 2,2 28 5,4

Total 639 219 100 13 297 955 100 505 100

Fonte: IBGE-Censo 2000

Desde a sua nascente histórica na Serra da Canastra, no município de São Roque de

Minas, à foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, entre os municípios de Brejo Grande (SE) e

Piaçabuçu (AL), o rio São Francisco totaliza 2.814 km de extensão. Mais recentemente

determinou-se que a sua nascente geográfica seria no rio Samburá, no município de

Medeiros, em Minas Gerais, estendendo assim o seu percurso total para 2.863 km.

(Fonte: CODEVASF, 2002).

Ao longo do seu curso, o São Francisco recebe água de 168 afluentes, dos quais 99 são

perenes, sendo que 90 estão na sua margem direita e 78 na esquerda. A produção de

água de sua bacia concentra-se principalmente na região dos cerrados dos estados de

Minas Gerais e da Bahia, e a grande variação do porte dos seus afluentes é

conseqüência das grandes diferenças climáticas que ocorrem entre as regiões drenadas.

Embora o maior volume de águas seja ofertado pelos cerrados, são as represas de Três

Marias (21 bilhões de m3) e Sobradinho (34 bilhões de m3) que atualmente garantem a

regularidade de vazão do São Francisco, mesmo durante a estação seca, de maio a

outubro.

A barragem de Sobradinho, citada como um novo pulmão do rio, foi planejada para

garantir o fluxo de água regular e contínuo para geração de energia elétrica em forma de

cascatas, nas demais usinas operadas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco

(CHESF), Itaparica, Moxotó, Paulo Afonso, e Xingó. Após movimentarem os gigantescos

geradores das cinco hidrelétricas, as águas do São Francisco correm para o mar.

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Normalmente, 95% do volume médio liberado pela barragem de Sobradinho, que atinge

um mínimo de 1.850 m3/s, são despejados na foz e apenas 5% são consumidos na bacia.

Nos anos chuvosos, a vazão de Sobradinho chega a ultrapassar em certos momentos 15

mil m3/s.

As várias intervenções a que têm sido submetido, o rio e seus afluentes mais importantes

nos últimos anos resultaram em complexas mudanças no seu regime de vazão, com

repercussões em sua zona costeira. Quanto às vazões, segundo os dados do Projeto

GEF São Francisco e do Plano Decenal da Bacia, as máximas mensais na estação de

Traipu, na foz do rio, têm sido da ordem de 13.743 m3/s, e ocorrem em março e as

mínimas mensais, da ordem de 644 m3/s, ocorrem em outubro, observando-se uma vazão

média anual de 2.980 m3/s, o que corresponderia a uma descarga média anual da ordem

de 94 bilhões de m3. Porém, já ocorreram médias anuais, máxima de 5.244 m 3/s e mínima

de 1.768 m3/s, respectivamente.

Além disso, o Plano da bacia apontou que o consumo atual de água da bacia do rio São

Francisco seria de 91 m³/s, devendo ser garantida para o rio a manutenção para o

próximo decênio de uma vazão firme na foz de 1.850 m³/s, e uma vazão média na foz de

2.700 m³/s, permitindo assim com que haja uma vazão disponibilizada para consumos

variados na bacia na ordem de 360 m³/s, com uma vazão mínima fixada após

Sobradinho, de 1.300 m³/s.

Acompanhando o seu percurso, apresenta quatro trechos denominados de regiões

fisiográficas da bacia hidrográfica: o Alto São Francisco, que vai de suas cabeceiras até

pouco abaixo de Pirapora, em Minas Gerais; o Médio, de Pirapora, onde começa o

trecho navegável, até Remanso, na Bahia; o Sub-médio, de Remanso até Paulo Afonso,

Bahia; e o Baixo, de Paulo Afonso até a foz, entre Sergipe e Alagoas. Estas regiões estão

detalhadas no quadro 3.

Uma nova divisão regional da bacia vem sendo estudada pela Codevasf, quanto a uma

possível revisão de seus limites regionais, em face de recomendações do Senado

Federal, em seu Relatório Final da Comissão de Acompanhamento do Projeto de

Revitalização do Rio São Francisco e dos resultados de alguns dos estudos realizados

pelo Projeto GEF São Francisco, da ANA/GEF/PNUMA/OEA, mas ainda não há qualquer

alteração oficial definitiva.

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A proposta de uma nova divisão sugere manter a existência de quatro subdivisões, Alto,

Médio, Sub-médio e Baixo, mas redefine os limites entre o Sub-médio e o Baixo São

Francisco, com uma nova linha divisória passando próxima à cidade de Belo Monte-AL.

Tem como base critérios geológicos, geomorfológicos, hidrográficos e climáticos, os quais

configurariam uma homogeneidade fisiográfica, podendo ainda vir a ser no futuro

considerada.

Quadro 3 – População urbana, por região fisiográfica da bacia hidrográfica do SãoFrancisco

Sub-baciaPopulação (hab)

Urbana Rural TotalUrbanização (%)

Alto 6.461.510 269.230 6.730.740 96Médio 2.814.511 2.302.782 5.117.293 55

Sub-médio 1.375.230 1.080.538 2.455.768 56Baixo 901.713 938.518 1.840.231 49

Total 11.552.964 4.591.068 16.144.032 77

Fonte: http://www.cbhsaofrancisco.org.br/pgBacia.htm

Alto São Francisco

O Alto São Francisco estende-se desde as cabeceiras na Serra da Canastra, município

de São Roque de Minas, até a foz do rio das Velhas, abaixo da cidade de Pirapora, com

cerca de 100.076 km2, ou 16% da área da bacia, tendo 702 km de extensão e com uma

população, segundo o censo de 2000, de cerca de 6,247 milhões de habitantes. Abrange

as sub-bacias dos rios Pará, Paraopeba e das Velhas na margem direita, e as sub-bacias

do Indaiá, Borrachudo e Abaeté na margem esquerda, que conformam seus limites,

incluindo a usina hidrelétrica de Três Marias.

Situa-se todo em Minas Gerais, apresentando topografia acidentada, com serras e

terrenos ondulados e altitudes de 1.600 a 600 m. O divisor leste é formado pela Serra do

Espinhaço, estreita e alongada na direção N-S, e com altitudes de 1.300 a 1.000 m. Do

lado oeste, destaca-se a Serra da Mata da Corda, divisor com o rio Paranaíba, com cotas

em torno de 1.200 m de altitude. Sobressaem-se, ainda, os escalonamentos de

superfícies de erosão que vai até a depressão São Franciscana em direção à calha do rio

e seus principais afluentes, cuja cota, em Pirapora, é de cerca de 450 m.

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Figura 3. Bacia Hidrográfica do São Francisco: regiões fisiográficas –novos limites, 2003.

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Com vegetação constituída de florestas, cerrados e vegetação rupestre, é uma região de

muitas chuvas (de 1.600 a 1.100 mm anuais) no verão, que caem de outubro a abril,

respondendo por quase 3/4 do escoamento total do rio. A temperatura média anual é de

22ºC, havendo áreas onde se registra mínimas inferiores a 0ºC. A evaporação é de 1.000

mm anuais e as diversas características climáticas classificam a região como tropical

úmida, sendo que em algumas partes é subtropical.

As principais cidades são as integrantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além

de Divinópolis, Ouro preto e Sete Lagoas.

Figura 4. Alto São Francisco

Médio São Francisco

O Médio São Francisco compreende o trecho desde as imediações de Pirapora (MG) até

a cidade de Remanso (BA), com 402.531 km2, ou 63% da área da bacia, tendo 1.230 km

de extensão, com uma população de cerca de 3,23 milhões de habitantes (Censo, 2000).

Inclui as sub-bacias dos rios Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente, Grande e Pilão

Arcado a oeste, e as sub-bacias do Jequitaí, Verde Grande, Paramirim, Jacaré e Verde a

leste, situando-se nos estados de Minas Gerais e Bahia.

A região admite a subdivisão em Médio Superior e Inferior, sendo que o primeiro abrange

o trecho entre Pirapora e a fronteira com a Bahia, limitada pelos rios Carinhanha a oeste

e Verde Grande a leste. O Médio Superior tem características que mais se assemelham

às do Alto que às do Médio propriamente dito.

O divisor leste é constituído pela Serra do Espinhaço e Chapada Diamantina, com

altitudes entre 2.000 e 1.000 m, recortado por profundos vales. Observam-se abruptas

diferenças de nível devido à sucessão de camadas de diferenciadas resistências à

erosão. Os vales são encaixados em fraturas com desenvolvimento de profundas

gargantas e canyons. O contexto orográfico da Chapada Diamantina tem direção SSE-

NNO e penetra no domínio da bacia, formando as Serras de Açuruá, Mangabeira e Azul,

até praticamente as margens do lago de Sobradinho.

A metade sul do lado oeste corresponde ao prolongamento da Serra Geral de Goiás.

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Na metade norte, o coroamento laterizado de topografia ondulada formador da Serra da

Tabatinga é divisor de águas entre os rios São Francisco e Parnaíba e suas cotas oscilam

entre 1.000 e 800 m. Destacam-se, no domínio da Depressão São Franciscana, as serras

do Boqueirão e Estreito, com altitude de 800 m e formas alongadas de direção SSE-NNO

e N-S, respectivamente.

A temperatura média anual é de 24 ºC e a evaporação é de 1.500 mm anuais. As chuvas

caem de novembro a abril, com precipitação média anual de 1.400 a 600 mm.

A vegetação é dos tipos cerrado e caatinga, com exceção de algumas pequenas matas

serranas. Característica digna de nota é a margem esquerda do São Francisco, bem mais

úmida, com rios permanentes e vegetação perenifólia. Na margem direita a precipitação é

menor, os rios são intermitentes e a vegetação é típica de caatinga, embasada no

Cristalino.

Suas condições climáticas vão se tornando mais características de uma região tropical

semi-árida. Sua altitude varia de 2.000 a 500 m e é onde se localizam as planícies eluvio-

coluvio-aluviais da Depressão São Franciscana.

As principais cidades são: Montes Claros, Pirapora, Janaúba, Januária, Paracatu e Unaí,

em Minas Gerais; Formosa, em Goiás; Barreiras, Guanambi, Irecê, Bom Jesus da Lapa e

Xique-Xique, na Bahia, além de Brasília – DF, capital federal.

Figura 5. Médio São Francisco

Sub-médio São Francisco

O Sub-médio São Francisco abrange áreas dos estados da Bahia e Pernambuco,

estendendo-se de Remanso (BA) até a cidade de Paulo Afonso (BA), com 110.446 km2,

ou 17% da área da bacia, tendo 440 km de extensão e com uma população de cerca de

1,94 milhões de habitantes (Censo, 2000). Inclui as sub-bacias dos rios Pontal, Garças,

Brígida Pajeú, e Moxotó a margem esquerda e Salitre, Tourão e Vargem Grande a

margem direita.

Nessa região, a altitude varia de 800 a 200 m e se caracteriza por uma topografia

ondulada, com vales bem abertos devido a menor resistência à erosão dos xistos e outras

rochas de baixo grau de metamorfismo, onde sobressaem formas abauladas esculpidas

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em rochas graníticas, gnáissicas e outros tipos de alto metamorfismo. Destacam-se ainda

nesse trecho as represas de Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso.

Na extremidade oeste da fronteira norte tem-se a Chapada Cretácea do Araripe com

altitude de 800 m, que se prolonga para leste através da Serra dos Cariris esculpida em

rochas graníticas e gnáissicas de idade pré-cambriana. Do lado sul ressalta-se as formas

tabulares do Raso da Catarina, esculpidas em sedimentos da bacia do Tucano, com

altitude de 300-200 m.

A caatinga predomina em quase toda a área e a precipitação média anual chega a 450

mm na região de Juazeiro/Petrolina e a máxima é de 800 mm, nas serras divisórias com o

Ceará. A temperatura média anual é de 27 ºC; a evaporação é da ordem de 2.000 mm

anuais e o clima é tipicamente semi-árido.

As principais cidades são: Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia; e Petrolina, Ouricuri,

Salgueiro, Serra Talhada e Arcoverde em Pernambuco.

Figura 6. Sub-médio São Francisco

Baixo São Francisco

O Baixo São Francisco estende-se de Paulo Afonso (BA) até a sua foz, entre Sergipe e

Alagoas, no Oceano Atlântico, com 25.523 km2, ou 4% da área da bacia, tendo 214 km

de extensão e com uma população de cerca de 1,37 milhões de habitantes (Censo,

2000). Compreende as sub-bacias dos rios Ipanema e Traipu na margem esquerda e

Curituba e Capivara na margem direita. Situa-se em áreas dos estados da Bahia,

Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

A altitude varia de 200 m até o nível do mar, embora, nos divisores algumas serras

atinjam 500 m. Na região entre Paulo Afonso e Canindé do São Francisco ressalta-se um

grande trecho do rio encaixado em fraturas e profundas gargantas denominadas de

Canyons do São Francisco, onde se localiza a represa de Xingó.

Figura 7. Baixo São Francisco

Destaca-se a planície costeira com altitude inferior a 100 m e os tabuleiros do Grupo

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Barreiras com altitude entre 200 e 100 m.

A temperatura média anual é de 25 ºC; a evaporação é de 1500 mm anuais; e a

precipitação média anual varia de 1.300 a 500 mm. Nessa região acontece, também, uma

nítida mudança na distribuição anual das chuvas, que nas proximidades do oceano se

distribuem por todo o ano, embora mais concentradas no outono e inverno, enquanto

que, no interior, os meses chuvosos são os de verão. As principais chuvas nesta região

ocorrem de março a setembro, ou seja, no inverno, enquanto no restante da bacia as

chuvas ocorrem no verão.

A vegetação é de caatinga no trecho mais alto, e mata atlântica, manguezais e restingas

na região costeira. O clima é considerado tropical semi-úmido.

As principais cidades são: Jeremoabo, na Bahia; Pesqueira e Bom Conselho, em

Pernambuco; Propriá, Canindé do São Francisco e Nossa Senhora da Glória, em

Sergipe; e Arapiraca, Piranhas, Delmiro Gouvêia e Penedo, em Alagoas.

As sub-bacias

Destaca-se ainda que, conforme consta no Plano da bacia e nos produtos do GEF São

Francisco, as quatro regiões fisiográficas da bacia Hidrográfica (Alto, Médio, Sub-médio e

Baixo) passaram também a ser subdivididas, para fins de planejamento, em trinta e

quatro sub-bacias, as quais servirão de parâmetro estratégico para as ações do Programa

de Revitalização. Portanto, estas subdivisões já estavam estabelecidas e configuradas,

como mostra a Figura 8.

Essas subdivisões visaram adequar-se às unidades de gerenciamento de recursos

hídricos dos estados presentes na bacia. Adicionalmente, a bacia do rio São Francisco

passou ainda a ser re-dividida em 12.821 micro-bacias, com a finalidade de caracterizar,

por trechos, os principais rios de cada região, servindo também para o Programa como

uma escala territorial de planejamento.

Figura 8. Sub-bacias do rio São Francisco.

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3.2. Características físicas e naturais

A caracterização geral da bacia hidrográfica do rio São Francisco foi revista e atualizada

por ocasião da elaboração do Diagnóstico Analítico da Bacia – DAB, oportunidade essa

em que muitos dos seus números puderam ser reavaliados e redefinidos, tornando-se

capazes de espelhar com maior fidelidade a realidade atual, sempre em estreita

articulação com instituições como a Codevasf, a Chesf, Ibama, ANA e a Embrapa.

O Quadro 4 apresenta uma síntese das principais características físicas e naturais da

bacia, por região fisiográfica.

Quadro 4 - Características físicas e naturais da bacia do São Francisco, por regiãofisiográfica.

REGIÕES /CARACTERÍSTICAS ALTO MÉDIO SUB MÉDIO

BAIXO E ZONACOSTEIRAADJACENTE

Altitude (m) 1600-600 2000-250 800-200 De 500 m até onível do mar

Principaisacidentestopográficos

Serras daCanastra,Mata da Cordae Espinhaço

Serra do Espinhaço,Chapada Diamantina,Serra Geral de Goiás,Chapada dasMangabeiras e Serrada Tabatinga

Chapada doAraripe eSerras dosCariris Velho eCágados

Serras Redondae Negra

Declividade do rioprincipal (m/km) 0,70 a 0,20 0,1 0,10 a 3,10 0,1

Climapredominante

Tropical úmidoe sub-tropical

Tropical semi-árido esub-úmido seco

Semi-árido Sub-úmido

Precipitação médiaanual (mm) 1600 a 1100 1400 a 600 800 - 450 500-1300

Trimestre maischuvoso nov-dez-jan jan-fev-mar jan-fev-mar mai-jun-jul

Trimestre menoschuvoso jun-jul-ago jun-jul-ago jul-ago-set set-out-nov

Temperatura média(oC) 23 24 27 25

Insolação médiaanual (h) 2400 2600 a 3300 2800 2800

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REGIÕES /CARACTERÍSTICAS ALTO MÉDIO SUB MÉDIO

BAIXO E ZONACOSTEIRAADJACENTE

Evapotranspiraçãomédia anual (mm) 1000 1500 2000 1500

Principaisafluentes

ME: Indaiá,Borrachudo eAbaetéMD: Pará,Paraopeba,Velhas eJequitaí

ME: Paracatu,Urucuia, Pardo,Pandeiros,Carinhanha, Correntee GrandeMD: Pacui, VerdeGrande, Caraíba,Paramirim e VerdeJacaré

ME: Pontal,Garças,Brígida, TerraNova, Pajeu eMoxotóMD: Salitre,Poço, Curaçá,Vargem eMacururé

ME: Ipanema,Traipu e Marituba

MD: Capivara,Gararu e Betume

Número deafluentes de 1a

ordem48 perenes 25 perenes e 8

intermitentes19intermitentes

7 perenes apartir de Traipu

Vazões médias dosprincipaisafluentes (m3/s) e área (km2)

Pará, 124(12.220);Paraopeba,115 (13.160);Abaeté, 68(5.790);Das Velhas,283 (29.000)Jequitaí, 46(8.700)

Paracatu, 444(45.600);Urucuia, 255(26.000);Pandeiros, 29(4.170);Verde Grande, 32(30.000);Carinhanha, 156(18.000);Corrente 238,(35.000);Verde, 272 (76.000)

- -

Vazão médiacontribuinte (m3/s) e área (km2)

Pirapora(61.880) + Riodas Velhas eJequitaí(36.520) =1.184

Juazeiro, 2.630(510.800)contribuição = 1.446

Pão deAçúcar, 2.790(608.900)contribuição =160

Foz, 2.810(639.219)contribuição = 20

Contribuição davazão (%) 42,2 51,4 5,7 0,7

Vazão médiamensal máxima(m3/s)

Pirapora,1.303 emfevereiro

Juazeiro, 4.393 emfevereiro

Pão deAçúcar, 4.660em fevereiro Foz, 4.680 em

março

Vazão médiamensal mínima(m3/s)

Pirapora, 637em agosto

Juazeiro, 1.419 emsetembro

Pão deAçúcar, 1.507em setembro

Foz 1.536, emsetembro

Trimestre de maiorvazão dez-jan-fev jan-fev-março jan-fev-março jan-fev-março

Trimestre demenor vazão jul-ago-set ago-set-out ago-set-out ago-set-out

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REGIÕES /CARACTERÍSTICAS ALTO MÉDIO SUB MÉDIO

BAIXO E ZONACOSTEIRAADJACENTE

Sedimentos(106T/ano) e área(km2)

Pirapora,8,3(61.880)

Morpará, 21,5(344.800)

Juazeiro, 12,9(510.800)

Propriá, 0,41(620.170)

Principais baciassedimentares São Francisco São Francisco e

JacaréAraripe,Tucano eJatobá

Costeira Sergipee Alagoas

Cobertura vegetalpredominante

Cerrados efragmentos deflorestas

Cerrado, Caatinga epequenas matas deserra

Caatinga

Caatinga, MataAtlântica,mangues erestingas

Fonte:

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3.2.1. Recursos Hídricos

A bacia do rio São Francisco tem como uma de suas principais marcas, devido a

sua grande diversidade, a presença de muitas formas de uso dos seus recursos

naturais, o que representa um grande desafio e exige uma análise do conjunto para

que se possa planejar adequadamente a gestão ambiental da bacia. As intensas

atividades antrópicas estão exercendo uma grande pressão sobre a base dos seus

recursos naturais, particularmente os hídricos, especialmente pela irrigação e

contínuo processo de desmatamento.

De acordo com o Programa de Ações Estratégicas - PAE, na bacia as

disponibilidades hídricas médias são da ordem de 2.850 m3/s, representando cerca

de 2/3 das disponibilidades de água doce do Nordeste Brasileiro. Portanto, para a

bacia, fica evidente a importância dos vários tipos de usos dos seus recursos

ambientais, principalmente dos seus recursos hídricos, destacando-se os referentes

a geração de energia, navegação, pesca, turismo, lazer, abastecimento doméstico, o

uso industrial e a própria irrigação.

A esses usos inclui-se a necessidade de manutenção de vazões ecológicas, visando

a sustentabilidade da região. Nesse contexto, a avaliação das disponibilidades

hídricas, tanto das águas superficiais como subterrâneas, em seus aspectos

quantitativo e qualitativo, ganha importância, servindo de base para o balanço

relacionado às demandas e dentro dos cenários traçados no horizonte do Plano de

Recursos Hídricos da bacia e do Programa de Revitalização.

Recursos Hídricos Superficiais

Quanto aos recursos hídricos superficiais, as águas do rio seguem na direção geral

sul-norte até a confluência com o Urucuia, onde inicia um grande arco com direção

norte-nordeste até a cidade de Cabrobó (PE), girando, então, para leste e logo

depois, para sudeste, até a foz. Há uma diferença de aproximadamente 1.600 m

entre as cabeceiras e a foz.

O Quadro 5 e a Figura 9 apresentam, respectivamente, os afluentes e a rede

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hidrográfica do São Francisco.

Quadro 5 - Afluentes do rio São Francisco. NOME R NOME R NOME R

MARGEM ESQUERDARibeirão da Usina P Rio Pandeiros P Riacho do Jacaré IRio Samburá P Riacho da Quinta P Riacho Terra Nova I

Rio Ajudas P Riacho da Cruz P Riacho Jequi IRio Mombaça P Riacho Mocambo P Riacho de Baixo IRio Bambuí P Rio Peruaçu P Rio Pajeú I

Ribeirão Noruega P Rio Itacarambi P Riacho dos Defuntos IRibeirão da Estiva P Rio Japoré P Riacho dos

MandantesI

Ribeirão Jorge Pequeno P Rio Calindó I Rio Moxotó I

Ribeirão Jorge Grande P Riacho da Escura I Riacho Seco IRibeirão das Antas P Rio Carinhanha P Rio Boa Vista IRibeirão dos Porcos P Riacho das Pitubas I Rio Capiá I

Ribeirão dos Veados P Riacho Mariape I Riacho do Bobó IRio Parizinho P Rio Corrente P Riacho Grande PRio Marmelada P Riacho dos Porcos I Rio Farias I

Ribeirão São Vicente P Riacho Brejo Velho I Rio Jacaré IRibeirão da Estrema P Riacho Largo I Rio Ipanema IRio Sucuri P Riacho da Areia P Rio Traipu P

Rio Indaiá P Rio Grande P Rio Boacica PRio Borrachudo P Rio Icatu I Rio Perucaba PRio Abaeté P Vereda Sação I Rio Piauí P

MARGEM DIREITARibeirão Alto da Cruz P Ribeirão Manjaí P Riacho Tourão I

Ribeirão das Capivaras P Ribeirão São Pedro P Riacho do Poção IRibeirão da Prata P Riacho da Tapera P Rio Curaçá IRibeirão Sujo P Rio Verde Grande P Riacho Monte Alegre I

Ribeirão das Araras P Rio Casa Velha ouCurralinho

I Riacho do Icó I

Ribeirão dos Patos P Riacho das Rãs I Riacho da VargemGrande

I

Rio São Miguel P Riacho de Santana I Riacho Macururé I

Rio Preto P Rio Pajeú I Riacho do Gato IRio Santana P Riacho Santa Rita I Riacho do Tonã IRibeirão Jacaré P Rio Santo Onofre I Riacho do Sal I

Ribeirão Santa Luzia P Rio Paramirim I Rio Curituba IRibeirão Santo Antonio P Rio Verde P Riacho da Onça IRio Pará P Rio Jacaré I Rio Jacaré I

Rio Paraopeba P Riacho dos Pais I Rio Marroquinho P

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Córrego do Barão P Riacho do Manguá I Córrego da Onça P

NOME R NOME R NOME RMARGEM DIREITARio do Boi P Riacho da Barra I Rio das Velhas P

Rio de Janeiro P Riacho do Mulungu I Rio Jequitaí PRibeirão Atoleiro P Riacho da Mangueira I Riacho do Barro PRibeirão da Tapera P Riacho do Tatu I Córrego das Pedras P

Córrego Jatobá P Riacho das Garapas I Córrego do Medo PRiacho do Sítio ouXingazinho

I Rio Salitre I Rio Pacuí P

Riacho da Extrema P Riacho Tabocas P Riacho da Fome P

Riacho Canabrava P Riacho do Boi Morto P Córrego Jataí PRibeirão Tiririca P Riacho do Almoço P Riacho Grande P

Fonte: MME - DNAEE.

Nota: R = Regime : P = Perene; I = Intermitente.

As maiores declividades são encontradas nas cabeceiras de suas principais

nascentes e nas proximidades da foz. Nos primeiros 120 km, há um desnível de 250

m; nos seguintes 360 km, até Três Marias, outros 180 m. Daí até Sobradinho, em

1.416 km, desce 176 m. No trecho entre Paulo Afonso (284 km da foz) e Pão de

Açúcar (171 km da foz), o rio cai mais de 300 m: é o trecho das grandes quedas. Daí

em diante, segue em direção ao Atlântico.

O São Francisco tem entre veredas, córregos, ribeirões, riachos e rios, 168

destacados afluentes, sendo 90 pela margem esquerda e 78 pela margem direita.

Quanto ao regime, 99 são perenes e 69 intermitentes. São 36 os tributários de porte

significativo, dos quais somente 19 são perenes; os mais importantes formadores,

de regime perene são os rios: Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande,

pela margem esquerda, e Pará, Paraopeba, das Velhas, Jequitaí e Verde Grande,

pela margem direita.

Registre-se que os afluentes mais importantes situam-se na margem esquerda do

Alto e do Médio São Francisco, nos estados de Minas Gerais e Bahia. Essa

característica se deve à existência de grandes áreas de formação sedimentar

naquelas regiões, permitindo maior infiltração das chuvas, ali mais abundantes e

regulares do que nas demais regiões da bacia.

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Figura 9 - Rede hidrográfica do São Francisco

As vazões médias mensais observadas nos principais afluentes do São Francisco

são apresentadas no Quadro 6. As vazões médias mensais observadas em algumas

das principais estações fluviométricas do São Francisco são apresentadas no

quadro 7. E no Quadro 8 apresenta-se além de alguns dos principais afluentes,

dados das sub-bacias e a distância da foz do afluente à nascente e à foz do São

Francisco.

Depreende-se do Quadro 7, com base nas observações da estação de Traipu, os

seguintes valores para as vazões médias do São Francisco na foz:

· média anual máxima: 5.244 m3/s;

· média anual: 2.980 m3/s, equivalente a uma descarga anual de 94 bilhões de m3;

· média anual mínima: 1.768 m3/s;

· máxima mensal: 13.743 m3/s, ocorrente em março; e

· mínima mensal: 644 m3/s, ocorrente em outubro.

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Quadro 6 - Vazões Médias Mensais dos principais afluentes do rio São Francisco.VAZÕES MÉDIAS MENSAIS DOS PRINCIPAIS AFLUENTES

Afluente EstaçãoÁrea de

DrenagemKm2)

Períodode

registro

Mesessem

dados

VazãoMédia(m3/s)

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano

Várzea Máx 1.756

973 1.118 646 394 262 215 181 157 301 664 1.411 544

Das Velhas daPalma

25.940 38-75 13 Méd 631 486 437 265 172 133 112 93 89 146 318 600 292

(direita) (MG) Mín 159 115 131 101 61 71 52 43 51 57 89 122 142Máx 181 153 169 46 23 18 16 14 14 61 201 255 57

Jequitaí Jequitaí 6.811 67-75 01 Méd 89 71 69 32 14 10 9 8 7 31 91 119 46(direita) (MG) Mín 29 13 21 12 5 4 5 5 4 11 30 42 37

Porto Máx 2.050

1.856 2.070 1.408 623 433 342 269 233 309 801 1.727 857

Paracatu Alegre 41.709 52-75 30 Méd 921 849 774 485 284 231 167 134 109 178 406 691 436(esquerda) (MG) Mín 186 167 220 147 83 81 62 55 61 68 127 160 267

Barra do Máx 927 969 849 559 278 157 122 109 99 277 554 826 325Urucuia Escuro 24.658 55-75 19 Méd 460 439 448 306 150 99 80 63 53 128 315 490 251(esquerda) (MG) Mín 137 125 129 122 64 51 43 35 37 31 96 185 169

Verde Boca da Máx 77 36 37 52 10 7 5 5 4 8 31 63 25Grande Caatinga 30.174 72-75 00 Méd 57 24 19 30 9 5 4 3 3 7 24 43 19 (direita) (MG) Mín 40 14 6 17 7 4 3 3 2 4 18 16 14

Máx 278 284 293 214 159 151 136 130 127 155 239 286 181Carinhanha Juvenília 15.832 64-78 03 Méd 178 181 181 163 134 123 118 112 109 128 172 205 150

(esquerda) (MG) Mín 122 128 112 109 109 102 100 88 97 109 126 151 125

Porto Máx 375 549 344 356 256 250 230 220 208 242 321 340 291Corrente Novo 31.120 77-84 00 Méd 312 342 295 291 233 218 206 198 193 213 245 277 251(esquerda) (BA) Mín 228 225 169 190 184 166 157 152 150 176 183 207 187

Máx 571 671 604 572 376 305 281 267 262 266 341 464 368Grande Boqueirã

o65.900 33-69 08 Méd 325 339 336 310 254 220 209 200 193 208 251 307 262

(esquerda) (BA) Mín 235 242 224 214 188 168 165 160 165 171 181 229 218

Fonte: PLANVASF

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Quadro 7 - Vazões Médias Mensais nas principais estações fluviométricas no rio São Francisco .

VAZÕES MÉDIAS MENSAIS NAS PRINCIPAIS ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS

Área de Período Meses VazãoEstação Drenagem de sem Média Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano

(Km2) Registro Dados (m3/s)Máx 3.245 3.857 2.952 1.499 818 581 455 353 369 587 1.518 2.291 1.147

Três Marias (MG) 49.750 38-62 01 Méd 1.508 1.417 1.194 776 463 350 287 231 216 296 616 1.153 707Mín 258 200 331 202 130 158 116 93 93 108 234 137 320Máx 4.006 3134 3.096 2.068 1.745 1.515 857 920 786 971 1.782 2.062 1.647

Pirapora (MG) 61.880 38-81 38 Méd 1.423 1.318 1.168 886 594 512 440 389 382 464 736 1.165 768Mín 430 545 440 321 202 154 151 142 141 142 208 467 415Máx 3.919 2.842 3.584 1.578 1.017 928 869 920 857 1.133 2.261 2.017 1.483

Barra do Jequitaí 90.990 63-78 04 Méd 1.909 1.580 1.250 945 655 630 626 611 631 844 1.241 1.414 1.015(MG) Mín 687 830 494 394 373 296 288 292 255 470 534 557 683

Máx 4.419 3.384 3.928 1.949 1.256 1.301 984 946 996 1.181 2.854 4.211 1.574Cachoeira da 107.070 59-81 16 Méd 2.225 1.849 1.647 1.130 773 705 645 603 598 792 1.310 1.419 1.132Manteiga (MG) Mín 871 919 607 462 380 306 264 223 198 282 406 576 755

Máx 6.024 6.887 4.873 4.049 1.846 1.642 1.396 1.250 1.170 1.572 4.015 4.842 2.614São Romão(MG) 153.702 53-81 38 Méd 3.022 2.618 2.307 1.642 1.022 882 812 712 680 980 1.638 2.385 1.520

Mín 1.017 1.127 896 613 459 380 295 233 186 301 501 699 944Máx 9.689 8.446 7.484 7.814 2.706 1.935 1.510 1.314 1.373 1.586 4.794 7.870 3.492

São Francisco (MG) 182.537 43-81 71 Méd 3.995 3.417 3.366 2.442 1.409 1.139 960 812 750 954 1.976 3.208 2.082Mín 1.104 1.269 1.098 882 701 557 438 359 300 331 603 972 1.344Máx 6.924 7.814 5.524 3.413 2.154 2.077 1.560 1.403 1.442 1.794 4.454 3.573 2.937

Pedras de Maria 191.063 72-81 11 Méd 3.723 3.306 2.810 2.531 1.523 1.366 1.179 1.053 1.000 1.377 2.423 2.791 1.981da Cruz (MG) Mín 1.222 1.434 1.202 1.013 1.083 903 879 733 707 1.088 1.320 1.541 1.454

Máx 8.002 8.817 7.912 7.070 3.522 2.349 1.903 1.520 1.273 2.006 3.492 5.954 3.781Januária (MG) 191.700 34-70 03 Méd 4.321 3.985 3.574 2.614 1.553 1.164 981 797 703 955 1.921 3.459 2.168

Mín 1.791 1.463 1.420 1.101 614 498 417 324 260 262 493 880 1.230Máx 8.820 10.024 6.913 7.781 3.471 2.048 1.586 1.230 1.128 1.659 4.262 6.226 3.737

Manga (MG) 200.789 32-81 84 Méd 4.087 3.678 3.283 2.554 1.428 1.073 880 722 674 902 1.837 3.259 2.050Mín 1.180 1.335 1.210 844 712 573 425 346 332 303 481 1.037 1.188Máx 8.883 10.207 7.532 8.163 4.347 2.312 1.807 559 1.544 1.754 3.786 6.827 4.079

Carinhanha (MG) 251.209 27-81 22 Méd 4.286 4.179 3.630 2.803 1.640 1.228 1.040 683 797 904 1.900 3.421 2.207Mín 1.241 1.405 1.274 910 691 598 508 413 379 385 607 1.120 1.246Máx 6.351 10.045 8.196 5.421 3.679 2.331 1.996 1.659 1.544 1.943 4.019 6.205 4.035

Bom Jesus da 273.750 77-84 00 Méd 4.888 5.814 4.549 3.742 2.149 1.794 1.521 1.342 1.285 1.552 2.293 3.611 2.878Lapa (BA) Mín 2.947 2.130 1.382 1.540 1.265 1.104 957 789 777 1.290 1.480 1.431 1.688

VAZÕES MÉDIAS MENSAIS NAS PRINCIPAIS ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS

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Área de Período Meses VazãoEstação Drenagem de sem Média Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano

(Km2) Registro Dados (m3/s)Máx 5.613 11.914 11.589 4.965 2.673 2.369 1.803 1.587 1.618 1.778 2.889 4.073 4.230

Ibotirama (BA) 322.600 77-80 03 Méd 4.557 7.568 6.004 3.347 2.157 1.898 1.598 1.388 1.319 1.619 2.116 3.200 2.951Mín 3.070 3.763 1.600 1.652 1.487 1.271 1.125 936 942 1.462 1.635 2.563 1.674Máx 9.068 11.207 12.327 7.578 3.675 2.454 1.929 1.722 1.741 1.875 3.486 5.476 4.328

Morpará (BA) 344.800 45-79 10 Méd 4.252 4.510 4.198 3.206 1.826 1.422 1.229 1.082 1.007 1.161 1.917 3.324 2.421Mín 1.710 1.609 1.536 1.131 904 783 702 617 555 532 749 1.249 1.513Máx 8.698 8.949 10.747 12.717 8.425 4.156 3.079 2.556 2.165 1.926 3.669 6.128 4.665

Barra (BA) 421.400 25-77 19 Méd 4.737 4.781 4.423 3.709 2.286 1.641 1.404 1.243 1.137 1.271 2.052 3.630 2.652Mín 1.694 1.811 1.825 1.366 1.152 975 817 740 680 696 865 1.477 1.726Máx 7.843 9.981 12.950 8.840 8.744 3.937 2.589 2.129 2.436 2.393 3.518 5.590 4.798

Juazeiro (BA) 510.800 29-79 09 Méd 4.462 4.874 4.708 3.937 2.510 1.720 1.461 1.292 1.165 1.265 1.971 3.413 2.731Mín 1.527 1.505 1.356 1.534 1.235 1.018 895 793 671 639 877 1.349 1.694Máx 4.329 6.939 12.364 9.549 2.701 2.207 1.809 1.803 2.071 2.059 3.043 2.608 4.290

Petrolândia (PE) 586.700 77-79 00 Méd 3.133 4.009 5.262 4.397 2.315 1.816 1.581 1.595 1.727 1.869 2.341 2.269 2.692Mín 1.480 1.599 1.650 1.761 1.860 1.526 1.447 1.441 1.522 1.752 1.647 1.599 1.835Máx 8.060 11.502 12.967 9.371 9.865 5.039 3.023 2.442 2.457 2.667 3.320 5.723 5.303

Pão de Açúcar(AL)

608.900 26-79 11 Méd 4.714 5.290 5.371 4.632 3.038 2.018 1.680 1.475 1.347 1.377 1.944 3.407 3.001

Mín 1.422 1.638 1.772 1.764 1.419 1.073 924 842 760 725 899 1.461 1.721Máx 7.825 12.152 13.743 9.384 10.205 5.101 2.901 2.308 1.927 1.964 3.382 5.529 5.244

Traipu (AL) 622.600 38-79 07 Méd 4.534 5.224 5.400 4.646 2.941 1.990 1.662 1.461 1.313 1.339 1.882 3.311 2.980Mín 1.487 1.705 1.705 1.750 1.501 1.108 941 804 690 644 795 1.333 1.768

Fonte: PLANVASF.

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Quadro 8 - Características de alguns dos principais afluentes

AFLUENTE VAZÃO ESPECÍFICAMÉDIA(L/S/KM2)

COEFICIENTE DEESCOAMENTO

(%)

DISTÂNCIA (KM) DA FOZ DOAFLUENTE À:

NASCENTE DOSÃO FRANCISCO

FOZ DO SÃOFRANCISCO

Margem Esquerda

Paracatu 10,45 32 774 1.926

Urucuia 10,18 30 834 1.866

Carinhanha 9,47 29 1.114 1.586

Corrente 8,07 25 1.253 1.447

Grande 3,98 11 1.522 1.178

Margem Direita

das Velhas 11,26 29 675 2.025

Jequitaí 6,75 17 699 2.001

Verde Grande 0,62 - 1.075 1.625Fonte: PLANVASF

Com relação às vazões dos afluentes (Quadro 8), registra-se que:

· há uma grande diferença, nos meses de cheias, entre a média das máximas e a

das mínimas, cuja razão atinge 11 - mês de janeiro nos rios Jequitaí e Paracatu;

· há uma relativa estabilidade nos caudais médios mensais, quando comparado o

mês de cheias com o de maior estiagem nos afluentes da margem esquerda; os

afluentes da margem direita apresentam menor estabilidade;

· o rio Grande, cuja desembocadura no São Francisco situa-se a 1.178 km da foz

deste no Atlântico, é, na prática, o último afluente permanente de vazão

significativa;

· as contribuições ao São Francisco concentram-se na metade inicial do seu curso;

· os afluentes do São Francisco, a jusante do rio Verde Grande na margem direita

e rio Grande na margem esquerda são praticamente intermitentes e situados no

Polígono das Secas. Produzem grandes torrentes e secam, condicionados pela

pluviosidade.

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As enchentes do São Francisco são formadas pela área a montante de Pirapora,

que aporta 29%; pelo rio das Velhas, com 18%; pelo Paracatu, com 19%; e pelo

Urucuia, com 11%, totalizando 77% da bacia. Os restantes 23% correspondem aos

rios Jequitaí, Corrente, Carinhanha, Grande, Verde Grande e as demais áreas de

drenagem.

Com a finalidade de controlar parcialmente essas cheias, é mantido um volume de

espera nos reservatórios de Três Marias e de Sobradinho. A construção de

barragens nos afluentes de maior porte, notadamente nos rios das Velhas, Paracatu

e Urucuia, poderá também contribuir significativamente para a regularização do

curso principal.

Segundo o Projeto Áridas, a disponibilidade hídrica total da região Nordeste é de

97,3 bilhões de m3/ano, sendo 92,9 bilhões oriundos de águas superficiais e,

desses, 87,4 bilhões devidos a rios perenes. O São Francisco, com uma

disponibilidade de 64,4 bilhões de m3/ano, responderia por 69% da disponibilidade

de águas superficiais e por 73% da disponibilidade superficial garantida do

Nordeste, face à sua perenidade.

Ainda segundo o Áridas, a capacidade total de acumulação de água superficial do

Nordeste é de 85,1 bilhões de m3. Desses, 50,9 bilhões, ou seja, 59,8%, se

localizam no São Francisco: Sobradinho (34,1 bilhões), Itaparica (11,8 bilhões),

Xingó (3,8 bilhões) e Moxotó (1,2 bilhões). Cabe informar que Três Marias acumula

outros 21 bilhões de m3.

As águas do São Francisco e seus principais afluentes apresentam em média, boa

potabilidade, demandando apenas tratamento convencional para abastecimento

humano, embora venham sofrendo descargas pontuais de detritos poluentes,

principalmente no rio das Velhas, que se apresenta como uma das exceções neste

aspecto, pois apresenta problemas em relação à qualidade de suas águas em boa

parte de seu leito principal.

Para irrigação, a água do curso principal é considerada ótima, tendo sido

classificada como C1S1, segundo o método do Departamento de Agricultura dos

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Estados Unidos. Esta classificação indica baixa condutividade elétrica (sem perigo

de provocar salinização do solo) e baixa relação de absorção de sódio (sem perigo

de provocar sodificação do solo).

Os rios do estado de Minas Gerais contribuem com cerca de 2.042 m3/s,

correspondendo a 72% dos recursos hídricos. Os rios da Bahia, com

aproximadamente 610 m3/s, equivalente a 22%. Os restantes 158 m3/s ou 6%, se

distribuem entre Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

As contribuições dos rios que nascem no Distrito Federal e em Goiás são reduzidas,

estando incorporadas às de Minas, onde esses rios encontram o São Francisco. A

vazão regularizada a partir de Sobradinho é de 2.060 m3/s. A vazão média de longo

termo1 na foz é de aproximadamente 2.810 m3/s, de acordo com a ANA e de 2.850

m3/s segundo a CHESF.

Recursos Hídricos Subterrâneos

As águas subterrâneas da bacia ocupam diferentes tipos de reservatórios, desde

zonas fraturadas do substrato geológico pré-cambriano até depósitos quaternários

recentes. Foram identificadas 9 províncias, das quais 4, com reserva aqüífera

explotável da ordem de 8,7 bilhões de m3/ano, são importantes para o

abastecimento humano e animal e para o aproveitamento hidroagrícola. Essas

reservas são apresentadas no Quadro 8 a seguir.

1 Descarga média de longo termo, ou vazão média de longo termo para um determinado local ouposto fluviométrico, é a média aritmética da série histórica de descargas médias diárias para umperíodo de observação de no mínimo 30 anos. Já a vazão ou descarga firme é uma descarga commagnitude tal que ocorre em 95% do tempo de uma série de descargas médias diárias, com umperíodo de observação de no mínimo 30 anos. (Jonair Mongin, SRH/MMA).

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Quadro 9 - Províncias Hidrogeológicas da bacia do São Francisco .Principais Províncias Hidrogeológicas

Província hidrogeológicaReserva

Explotável(milhões de

m3/ano)Localização

Coberturas Detríticas daDepressão São Franciscana 477

Serra da Tabatinga, entre a Serrado Estreito e o rio São Francisco,do rio Grande até Pilão Arcado,entre Bom Jesus da Lapa e Barra

Zonas Aqüíferas Cársticas 780 Platô de Irecê, Alto e Médio SãoFrancisco

Aluviões e Dunas Litorâneas 1.630Ao longo dos principais cursosd’água e nas proximidades da fozdo São Francisco

Chapadas Areníticas 5.868

Sertões sergipano e alagoano,entre o São Francisco e o VazaBarris, nordeste da Bahia, baciasdos rios Preto, Paracatu e Prata,Chapada do Araripe

Fonte: CODEVASF - 20 Anos de Sucesso

As características dessas principais províncias são:

Coberturas Detríticas da Depressão São Franciscana são aqüíferos livres,

contínuos, com porosidade e condutividade hidráulica dominante intersticial,

compreendendo diferentes unidades geológicas. As espessuras são estimadas

entre 100 e 200 metros, com seção saturada média da ordem de 50 m. A recarga é

garantida pela abundante pluviometria média anual que varia entre 700 e 900 mm,

estimando-se sua taxa entre 10 e 15%. Numa caracterização geral, as águas destes

aqüíferos apresentam um caráter químico muito variável. Os valores de pH variam

de 5 a 8 e a dureza é inferior a 30 mg/l de CaCO 3. Em 75% das análises disponíveis,

são inferiores a 100 mg/l.

Zonas Aqüíferas Cársticas - este tipo de condição hidrogeológica é característico do

domínio de ocorrência da seqüência de rochas carbonatadas do Grupo Bambuí,

cuja extensão aflorante é estimada em 400.000 km2, na Bahia, Minas Gerais e

Goiás.

Aluviões são aqüíferos livres, isto é, não confinados, contínuos, com porosidade e

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condutividade hidráulica dominante intersticial. As espessuras também variam muito,

podendo atingir 50 a 60 m. Porém, mais freqüentes com alguma importância como

aqüíferos, apresentam larguras entre 100 a 300 m, espessuras saturadas entre 5 e

10 m e níveis estáticos variando desde subaflorantes até 4-5 m de profundidade.

É importante enfatizar que a exploração do aqüífero aluvial depende, em grande

parte, das condições de operação dos mananciais de superfície, uma vez que o

fator principal de regularização e/ou ampliação é proporcionado pelo fluxo do rio ao

qual acha-se intimamente ligado.

Dunas Litorâneas são as dunas de areias litorâneas. Ocorrem de forma mais

expressiva nas proximidades da foz do rio, recobrindo sedimentos do Grupo

Barreiras sobre uma extensão aproximada de 1.350 km2. As espessuras são

desconhecidas, estimando-se a média da ordem de 15 m. A principal fonte de

recarga deste sistema aqüífero é, naturalmente, as abundantes pluviometrias cujas

médias anuais variam entre 1.200 e 1.400 mm. As taxas estimadas variam entre 0,3

e 0,5 x 106 m3/km2, ou seja, 30% da precipitação pluviométrica.

Chapadas Areníticas constituem aqüíferos livres, contínuos, de porosidade e

condutividade hidráulica dominante intersticial média e baixa. São sedimentos

arenosos médios e finos, com siltitos, argilas e conglomerados intercalados ou

misturados em proporções variadas pertencentes ao Grupo Barreiras, coberturas

aluvionares quartzosas, arenitos finos siltosos com intercalações de folhelhos,

argilitos, calcários e conglomerados, constituintes das formações Exu, Marizal,

Urucuia e Areado. Ocorrem formando chapadões delimitados por cuestas vivas e/ou

obliterados, relativamente proeminentes no relevo atual, a seguir relacionados:

Tabuleiros do Grupo Barreiras, Altiplanos das bacias Tucano-Jatobá, Planaltos do

São Francisco.

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3.2.2. Os Biomas

A Bacia do São Francisco contempla fragmentos dos biomas: floresta Atlântica,

cerrado, caatinga, costeiros e insulares.

O cerrado cobre, praticamente, metade da área da bacia - de Minas Gerais ao oeste

e sul da Bahia, enquanto a caatinga predomina no nordeste da Bahia, onde as

condições climáticas são mais severas. Um exemplar da floresta Atlântica,

devastada pelo uso agrícola e pastagens, ocorre no Alto São Francisco,

principalmente nas cabeceiras. Margeando os rios, onde a umidade é mais elevada,

observam-se regiões de Mata Seca.

Em termos quantitativos genéricos, pode-se estimar que a ação antrópica já atingia,

em 1985, 24,8% da área da região. Deste total, as pastagens ocupavam 16,6%,

agricultura 7%; o reflorestamento, 0,9%; e usos diversos, 0,3%.

Localizado em parte da região, o polígono das secas é um território reconhecido

pela legislação como sujeito a períodos críticos de prolongadas estiagens, com

várias zonas geográficas e diferentes índices de aridez. Situa-se majoritariamente

na região Nordeste, porém estende-se até o norte de Minas Gerais. A Bacia do São

Francisco possui 58% da área do polígono além de 270 de seus municípios ali

inscritos.

O clima apresenta uma variabilidade associada à transição do úmido para o árido,

com temperatura média anual variando de 18 a 27o C , baixo índice de

nebulosidade e grande incidência de radiação solar. A pluviosidade apresenta média

anual de 1.036 mm, sendo que os mais altos valores de precipitação, da ordem de

1.400 mm ocorrem nas nascentes do Rio e os mais baixos, cerca de 350 mm, entre

Sento Sé e Paulo Afonso, na Bahia. O trimestre mais chuvoso é de novembro a

janeiro, contribuindo com 55 a 60% da precipitação anual, enquanto o mais seco é

de junho a agosto.

A evapotranspiração média é de 896 mm/ano, apresentando valores elevados entre

1.400 mm (sul) a 840 mm (norte), em função das elevadas temperaturas, da

localização geográfica intertropical e da reduzida nebulosidade na maior parte do

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ano.

O clima da bacia é influenciado por diferentes massas de ar e condições

topográficas, apresentando baixo índice de nebulosidade e, por conseqüência, uma

grande incidência da radiação solar. Em função das elevadas temperaturas médias

anuais, da localização geográfica intertropical e da limpidez atmosférica na maior

parte do ano, a evapotranspiração potencial é muito alta, sobretudo na parte norte

da bacia.

Estes índices acompanham geograficamente a variação da temperatura, com os

maiores valores anuais no Sub-médio São Francisco, onde algumas estações

atingem 2.140 mm, descendo para 1.300 mm na zona do limite norte da bacia e um

pouco menos no extremo sul. Por sua vez, os índices relativos à evaporação mudam

inversamente e crescem de acordo com a distância das nascentes: vão de 800

milímetros anuais, na cabeceira, a 2.200 milímetros anuais em Petrolina (PE).

O elemento que mais caracteriza o clima da bacia é a pluviosidade. A conformação

das isoietas segue de perto a da topografia: de um modo geral, os seus valores

diminuem em direção ao leito do rio e, ao longo deste, de montante para jusante até

Pão de Açúcar onde começam a aumentar até a foz. Em toda a bacia há um

período seco bem marcado. Os mais altos valores de precipitação anual, da ordem

de 1.600 mm, ocorrem nas nascentes do rio e os mais baixos, cerca de 450 mm,

entre Sento Sé e Paulo Afonso.

Os índices pluviais da bacia do São Francisco variam desta maneira, entre sua

nascente e sua foz. A pluviometria média vai de 1.900 milímetros na área da Serra

da Canastra a 450 milímetros na região do semi-árido nordestino.

As principais características hidroclimáticas da bacia do rio São Francisco estão

sumarizadas no Quadro 10 para cada uma de suas regiões fisiográficas. Enquanto a

precipitação média anual na bacia é de 1.036 mm, espacialmente, a chuva anual

pode variar desde menos de 600 mm, no Semi-árido nordestino, entre Sobradinho

(BA) e Xingó (BA), até mais de 1.600 mm, nas nascentes localizadas no Alto São

Francisco, em Minas Gerais. A figura 4 mostra as isoietas baseadas nos valores

médios de precipitação anual na bacia entre 1961 e 1990.

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A montante de Xingó (no Alto, Médio e Sub-médio), o trimestre mais chuvoso é de

novembro a janeiro, contribuindo com 53% da precipitação anual, enquanto o

período mais seco é de junho a agosto (figura 5). Porém, existe uma diferença

marcante na ocorrência do período chuvoso no Baixo São Francisco, que se

estende de maio/junho a agosto/setembro.

Quadro 10 - principais características hidroclimáticas da bacia do rio SãoFrancisco

Ainda relacionada ao clima, cabe destacar uma área relevante, a qual extrapola o

âmbito da bacia, que é o Semi-árido. Este é um território vulnerável e sujeito a

períodos críticos de prolongadas estiagens, que apresenta várias zonas geográficas

e diferentes índices de aridez. As freqüentes e prolongadas estiagens da região têm

sido responsáveis por êxodo de parte de sua população.

A região semi-árida ocupa cerca de 57% da área da bacia, abrange 218 municípios

na região e, apesar de situar-se majoritariamente na região Nordeste do país,

alcança um trecho importante do norte de Minas Gerais, conforme pode ser

observado na figura ???.

A cobertura vegetal da bacia contempla fragmentos de diversos biomas salientando-

se a Floresta Atlântica em suas cabeceiras, o Cerrado (Alto e Médio São Francisco),

a Caatinga (Médio e Sub-médio São Francisco) e o bioma Costeiro representado por

restingas e manguezais (Baixo São Francisco). Ocorrem, ainda, áreas de transição

entre o Cerrado e a Caatinga, as florestas estacionais decídua e semi-decídua, e os

campos de altitude.

Os estudos realizados pelo PLANVASF sobre a vegetação da bacia englobaram

uma área total de 691,0 mil km2 (69,1 milhões de ha), correspondendo à totalidade

do território dos municípios, mesmo daqueles parcialmente inseridos na bacia, e não

incluem áreas do Distrito Federal e de Goiás. Para a área assim definida, tem-se

que as terras ocupam 68,5 milhões de ha (99,1%) e que as águas internas ocupam

0,6 milhões de ha (0,9%).

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No que se refere à vegetação natural, constatou-se um elevado grau de

dependência em relação ao clima, sendo que a topografia e a natureza do solo

também afetam a distribuição da vegetação natural, na medida em que condicionam

o volume de água retido pela terra.

Os ecótonos são as áreas de contato ou transição entre os tipos de vegetação

dominantes e perfazem 11,1% da bacia. Nas áreas antrópicas, que totalizam 24,8%,

a agricultura ocupa 7%; as pastagens, 16,6%; o reflorestamento, 0,9%; e usos

diversos, 0,3%. Os refúgios ecológicos e as áreas de conservação/preservação

perfazem 1,0%. A distribuição das terras da bacia, por Estado, com relação à

vegetação/uso atual, é apresentada no quadro 9.

Floresta Atlântica

Predominante na região úmida, apresentando-se, também, nas regiões subúmidas

secas e úmidas, ao longo dos rios e riachos, onde ocorre maior umidade do solo,

formando floresta de galerias ou mata ciliar. Ocorre, ainda, nas regiões de clima

subúmido seco e transicional para semi-árido, onde há presença de solos de alta

fertilidade. Espacialmente, cobre 8,0% da superfície da bacia, localizando-se em

Minas Gerais (Alto São Francisco) e nas faixas costeiras de Sergipe e Alagoas

(Baixo São Francisco).

Quadro 11. Formações Vegetais na bacia do São Francisco, por estado.Vegetação/Usos da Terra (mil ha)

Vegetação/Usos MG BA PE SE AL Total %1 – Floresta 2.983,0 2.425,6 31,0 32,0 33,0 5.504,6 8,0

2 – Cerrado 14.421,1 8.800,9 - - - 23.222,0 33,9

3 – Caatinga 589,0 8.355,7 4.875,6 368,7 335,5 14.524,5 21,2

4 - Áreas de contato 220,0 7.174,9 114,0 40,0 62,7 7.611,6 11,1

5 - Áreas antrópicas 7.413,0 5.929,0 2.096,7 374,0 1.209,8 17.022,5 24,8

5.1 – Agricultura 360,7 2.181,7 1.565,7 156,0 552,5 4.816,6 7,0

5.2 – Pastagens 6.347,7 3.638,3 523,0 218,0 657,3 11.384,3 16,6

5.3 -Reflorestamento 529,6 95,0 - - - 624,6 0,9

5.4 - Usos diversos 175,0 14,0 8,0 - - 197,0 0,3

6 - Áreas ecológicas 214,5 375,4 49,9 1,0 21,8 662,6 1,0

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6.1 –Refúgios - 275,6 - - - 275,6 0,4

6.2 - Preservação 214,5 99,8 49,9 1,0 21,8 387,0 0,6

Total 25.840,6 33.061,5 7.167,2 815,7 1.662,8 68.547,8 100,0Fonte: PLANVASF

Mesmo reduzida e muito fragmentada, possui uma importância social e ambiental

enorme, pois regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo,

controla o clima e protege escarpas e encostas das serras. A Floresta Atlântica

possui cerca de 20.000 espécies de plantas - das quais 8.000 são endêmicas.

Abriga a maior diversidade de árvores do mundo, superando todos os valores

conhecidos da Amazônia e demais florestas tropicais no mundo.

A Floresta Atlântica possui uma grande biodiversidade de animais, além de muitos

ameaçados de extinção, como a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o

macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira,

o caxinguelê, o tamanduá. Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga,

o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, beija-flores, tucanos, saíras e gaturamos. Os

principais répteis desse ecossistema são o teiú, jibóias, jararacas e corais

verdadeiras.

Este bioma abriga 250 espécies de mamíferos (55 deles endêmicos), 340 de

anfíbios (87 endêmicos), 197 de répteis (60 endêmicos), 1.023 de aves (188

endêmicas), além de 350 espécies de peixes (133 endêmicas). Existem mais de 20

espécies de primatas, 2/3 das quais são endêmicas. Em conjunto, os mamíferos,

aves, répteis e anfíbios que ocorrem na Floresta Atlântica somam 1.810 espécies,

sendo 389 endêmicas. Este bioma compreende, aproximadamente, 7% de todas as

espécies do planeta.

Em virtude da riqueza biológica e dos níveis de ameaça a que está submetida, a

Floresta Atlântica foi indicada por especialistas, em um estudo coordenado pela

Conservation International, como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma das

prioridades para a conservação de biodiversidade em todo o mundo, ao lado de

outras 24 regiões localizadas em diferentes partes do planeta.

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Cerrado

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira, superado apenas pela

Floresta Amazônica. É uma savana tropical na qual a vegetação herbácea coexiste

com mais de 420 espécies de árvores e arbustos esparsos.

O solo, antigo e profundo, ácido e de baixa fertilidade, tem altos níveis de ferro e

alumínio. Este bioma também se caracteriza por suas diferentes paisagens, que vão

desde o cerradão (com árvores altas, em densidade maior e composição distinta),

passando pelo cerrado mais comum no Brasil central (com árvores baixas e

esparsas), até o campo cerrado, campo sujo e campo limpo (com progressiva

redução da densidade arbórea). Espécies vegetais comuns do cerrado são

barbatimão, pau-santo, gabiroba, pequizeiro, pau-terra, indaiá e buriti.

Na bacia do São Francisco a vegetação natural do Cerrado foi substituída por

pastagens e espaços agrícolas, bem como por reflorestamentos e espaços

destinados à ocupação urbana e às atividades industriais. O grande domínio original

deste tipo de vegetação, que cobre cerca de 33,9% da bacia, está localizado em

Minas Gerais e no oeste da Bahia (Alto e Médio São Francisco).

No cerrado, em área de nascentes, as matas de galeria, protetoras dos marimbus e

das “bolhas” que formam as nascentes dos afluentes, estão sendo dizimadas, assim

como o ecossistema das veredas. Os buritizais que as caracterizam estão

drasticamente diminuindo. Assim sendo, o desmatamento continua também

aumentando, agravando inclusive o assoreamento dos leitos fluviais.

Até a década de 70, cerca de 300 mil ha foram desmatados anualmente nos

cerrados de Minas, para suprir principalmente de carvão o parque siderúrgico do

Estado. Essa devastação chegou a atingir 1 milhão de ha, até que, a região já quase

totalmente desnuda, foi socorrida parcialmente com uma lei promulgada no Estado,

impondo gradativa substituição do carvão proveniente das florestas nativas por

aquele de florestas cultivadas.

A fauna do Cerrado é muito rica, destacando-se o grupo dos Insetos. Entre os

vertebrados de maior porte, citamos a jibóia, a cascavel, várias espécies de

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jararaca, o lagarto teiú, a ema, a seriema, a curicaca, urubus, araras, tucanos,

papagaios, gaviões, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-canastra, o tatu-de-rabo-mole,

o tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim, o veado campeiro, o cateto, a anta, o

cachorro-do-mato, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a jaritataca, o gato mourisco, e

muito raramente a onça-parda e a onça-pintada.

Segundo diversos zoólogos, parece não haver uma fauna de vertebrados endêmica,

restrita ao bioma do Cerrado. De um modo geral estas espécies ocorrem também

em outros tipos de biomas.

Entre os Invertebrados, os cupins, insetos da Ordem Isoptera, são de grande

importância pela sua riqueza em gêneros e espécies, e pelo seu papel no fluxo de

energia do ecossistema, como herbívoros vorazes que são e servindo de alimento

para grande número de predadores. Os gafanhotos (Ordem Orthoptera) também

apresentam grande riqueza de espécies e significativa importância como herbívoros.

Animais característicos da região são o sapo-cururu, a asa-branca, a cotia, a gambá,

o preá, o veado-catingueiro, o tatu-peba e o sagui-do-nordeste, entre outros. São 20

as espécies ameaçadas de extinção, estando incluídas nesse conjunto duas das

espécies de aves mais ameaçadas do mundo: a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e

a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).

Em função disso, duas áreas no estado da Bahia pertencentes à bacia do São

Francisco foram consideradas de importância biológica extrema: o Raso da

Catarina, principal área de alimentação e reprodução da arara-azul-de-lear, e

Curaçá, única área de ocorrência da ararinha azul, constituindo o local apropriado

para programas de recuperação populacional da espécie e de seu hábitat

(caraibeiras na mata ciliar).

Caatinga

A Caatinga é uma das maiores e mais distintas regiões fitogeográficas brasileiras,

compreendendo uma área aproximada de 734.478 Km2, o que representa 70% da

região Nordeste e 11% do território nacional.

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Dentre os biomas brasileiros, a Caatinga é o menos conhecido botanicamente. Em

levantamento de 2002, foram listados para o bioma 18 gêneros e 183 espécies

endêmicas, pertencentes a 42 famílias, incluindo tanto plantas de áreas arenosas

como rochosas. As famílias com maior número de espécies endêmicas são

Leguminosae (80) e Cactaceae (41). Dessas, várias estão em perigo de extinção.

A maior diversidade da flora da Caatinga está associada às maiores altitudes,

principalmente em áreas rochosas. Entretanto, as lagoas ou áreas úmidas

temporárias, nas terras mais baixas, representam um conjunto de habitats frágeis e

ricos em espécies de plantas raras e endêmicas, extremamente ameaçados pelas

atividades da agropecuária local, constituindo-se em refúgios onde os animais de

criação são reunidos durante os períodos de seca.

Na bacia do São Francisco, a Caatinga é a vegetação das áreas de clima árido e

semi-árido, predominante nos estados da Bahia, Pernambuco e oeste de Alagoas e

Sergipe, cobrindo 21,2% do território da bacia. Fisiograficamente situa-se no Médio,

Submédio e Baixo São Francisco.

A Caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas:

árvores baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas

(espécies caducifólias), além de muitas cactáceas, que têm sistema de

armazenamento de água. Sua paisagem é formada por árvores de troncos

tortuosos, recobertos por cortiça e espinhos. As raízes cobrem a superfície do solo,

para capturar o máximo de água durante as chuvas leves. Algumas das espécies

mais comuns são a amburana, aroeira, umbu, baraúna (braúna), maniçoba,

macambira, mandacaru e juazeiro.

Especialistas apontaram 53 áreas prioritárias para conservação da flora da

Caatinga. Destas, 17 são de extrema importância, sendo recomendada proteção

integral. Oito áreas, ou 47%, se encontram relacionadas à bacia do São Francisco:

na Bahia - Serra do Curral Feio, Dunas do São Francisco em Barra e Pilão Arcado, e

Serra do Açuruá; em Pernambuco - Petrolina, Buíque e Reserva Biológica de Serra

Negra; e duas envolvendo mais de um estado - Chapada do Araripe (PE, CE e PI) e

Xingó (BA, PE, AL e SE).

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A fauna da Caatinga é também constituída por diversos outros tipos de aves,

algumas endêmicas do Nordeste, como o patinho, chupa-dente, o fígado, além de

outras espécies de vertebrados, como o tatu-peba, o gato-do-mato, o macaco-

prego, o bicho-preguiça, o gato-maracajá, a jararaca e a sucuri-bico-de-jaca.

Existem 148 espécies de mamíferos registradas para o bioma Caatinga, com baixa

incidência de endemismos (19 espécies).

Com relação às espécies de anfíbios e répteis, os campos de dunas de Barra e

Xique-Xique e de Santo Inácio, no Médio São Francisco, foram considerados de

extrema importância biológica, pois neles concentram-se conjuntos únicos de

espécies e até gêneros endêmicos.

A Caatinga é o bioma menos conhecido do Brasil para todos os grupos de

invertebrados. Entretanto, sua heterogeneidade espacial e a singularidade de certos

ambientes permitem supor a possibilidade de a fauna de invertebrados desse bioma

ser riquíssima, com várias espécies endêmicas. É preciso, pois, aprimorar

significativamente, e o mais rápido possível, o conhecimento sobre os invertebrados

da Caatinga (Brandão e Yamamoto, in Silva et al., 2004).

Bioma Costeiro – Manguezais

O Bioma Costeiro é extenso e muito variado. O Brasil possui uma linha contínua de

costa com mais de 8 mil quilômetros de extensão, uma das maiores do mundo. Ao

longo dessa faixa litorânea é possível identificar uma grande diversidade de

ecossistemas como dunas; praias lodosas e arenosas; inúmeros estuários e

sistemas lagunares margeados por manguezais e marismas; lagoas salinas,

restingas e cordões arenosos; ilhas costeiras e oceânicas; recifes de coral; costões

e fundos rochosos, bancos de algas calcáreas, arrecifes de arenito paralelos à linha

de praias; baías e brejos; falésias.

Na foz do rio São Francisco esse bioma é representado por praias, restingas,

lagunas e, principalmente, manguezais.

O manguezal é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais

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de todo o globo. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada,

formando a água salobra. Nos manguezais, as condições físicas e químicas são

muito variáveis, limitando os seres vivos que ali habitam e freqüentam. Os solos são

formados a partir do depósito de siltes, areia e material coloidal trazidos pelos rios.

São muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência,

são pobres em oxigênio. As plantas se reproduzem a partir de propágulos, que se

desenvolvem ligados à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e dispersam pela

água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento.

Essa vegetação típica apresenta uma série de outras adaptações às condições

existentes nos manguezais. É tão especializada que se pode verificar a ocorrência

de determinadas espécies de plantas nos manguezais de todo o mundo, como é o

caso da Rizhophora mangle, conhecida vulgarmente no Brasil como mangue

vermelho. Associadas ao mangue vermelho, destacam-se a presença da

Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana.

Devido à grande importância econômica dos manguezais, estes ambientes são

degradados diariamente pela ação e ocupação do homem.

A região já foi considerada um grande parque de essências florestais. Durante

décadas, o Nordeste foi abastecido pelo cedro, que recobria grandes áreas de mata

seca no médio São Francisco. Enormes balsas, feitas com lastros dos próprios

toros, eram lançadas n'água. Tudo isso para abastecer as madeireiras

principalmente de Petrolina e Juazeiro e daí espalhá-lo para todo o Nordeste.

Essa espécie foi quase praticamente extinta nessa região. A aroeira, também

abundante em outras épocas, foi altamente perseguida, até que, por portaria, o

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente-IBAMA e Estados proibiram a sua

comercialização, o que ainda não impediu, de todo, a sua utilização.

Os manguezais são conhecidos como berçários, porque existe uma série de animais

que se reproduzem nestes locais. Ali, os filhotes também são criados. Os camarões

se reproduzem no mar, na região da plataforma continental. Suas larvas migram

para as regiões dos manguezais, onde se alimentam e crescem antes de retornarem

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ao mar. Uma grande variedade de peixes costuma entrar no mangue para se

reproduzir e se alimentar, como os robalos e as tainhas. Muitas aves utilizam esse

ambiente para procriar. Podem ser espécies que habitam os mangues ou aves

migratórias, que usam os manguezais para se alimentar e descansar. São guarás,

colhereiros, garças, socós e martins-pescadores.

Ao contrário de outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies,

porém se destacam pela grande abundância das populações que neles vivem. Por

isso, podem ser considerados um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil.

Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, o fitoplâncton retira os sais

nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. O zooplâncton,

alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão.

Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e

matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se

alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma

complexa teia alimentar.

Destacam-se ainda as várias espécies de caranguejos, formando enormes

populações nos fundos lodosos e árvores dos manguezais. Nos troncos submersos,

vários animais filtradores, tais como as ostras, alimentam-se de partículas

suspensas na água. Uma grande variedade de peixes penetra nos manguezais na

maré alta. Muitos dos peixes que constituem o estoque pesqueiro das águas

costeiras dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase

jovem. Diversas espécies de aves comedoras de peixes e de invertebrados

marinhos nidificam nas árvores do manguezal. Alimentam-se especialmente na

maré baixa, quando os fundos lodosos estão expostos.

Pântanos e lagoas

As regiões dos pântanos e lagoas franciscanas aonde as antas predominavam

estão sendo reduzidas. Com elas as emas, os veados, os tamanduás-bandeira, os

tatus-canastras, todos já raros e não mais encontrados, quando há bem pouco

tempo era comum serem vistos andando livres na natureza virgem. A natureza foi

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obrigada a ceder espaço, aos trancos de grandes tratores, para que aí se

instalassem novas grandes áreas de lavoura, sem qualquer preocupação

preservadora (José Theodomiro de Araújo; A Questão Ambiental do São Francisco;

Bibliografia: “O Velho Chico, uma Paixão: Uma Coletânea de trabalhos sobre o rio

São Francisco”)

Fauna aquática

Espécies zooplânctonicas

O componente animal do plâncton de água doce constitui um conjunto diverso de

organismos com representantes de quase todos os grupos taxonômicos,distribuídos

por três grupos principais dominantes: os Rotifera, os Cladocera e os Copepoda

(Wetzel,1981).Eles são o alimento das larvas de peixes.

Especificamente no reservatório de Três Marias a porcentagem dos grupos variou

entre a época de chuva e a de seca durante o ano no estudo de Cristiane Machado

López & Edson Vieira Sampaio (2003). Copepoda foi o grupo dominante com

espécies dos gêneros: Notodiaptomus,Thermocyclops,Paracyclops e Mesocyclops.

Em seguida vem a população de Rotifera,cujos gêneros principais foram:

Brachionus, Collotheca, Conochilus, Filinia, Hexarthra, Keratella, Lecane,

Macrochaetus, Polyarthra, Ptygura, Sinantherina e Trichocerca. Entre os Cladocera

os principais gêneros observados foram: Alona, Bosmina, Bosminopsis,

Ceriodaphnia, Daphnia, Diaphanosoma, Ilyocryptus e Moina. Os gêneros de

protozoários mais observados foram: Arcella e Difflugia.

Ictiofauna da bacia do São Francisco

Excluídas as espécies diádromas (aquelas que migram entre o mar e a água doce)

são registradas cerca de 158 espécies de peixes de água doce para a bacia (Britski

et al., 1988; Sato & Godinho, 1999; Alves & Pompeu, 2001), mas novas espécies

têm sido descritas com freqüência.

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Quadro 12. Principais espécies da ictiofauna na região do médio SãoFrancisco

Dourado (Salminus hilarii e Salminus brasiliensis) Peixe-cachorro (Acestrorhynchus britskii,Acestrorhynchus lacustris)

Trairão, espécie proveniente da bacia Amazônica(Hoplias cf.lacerdae)

Jeju (Hoplerythrinus unitaeniatus)

Traíra (Hoplias malabaricus), (Steindacherinaelegans)

Tamoatá (Hoplosternum littoralae)

Bagre (Rhamdia quelen), e (Cichasoma facetum) Cascudo (Pterygoplichthys etentaculatus)

Pilombeta (Anchoviella vaillanti) Mandizinho (Pimelodella cf.vittata)

Manjuba (Curimatella lepidura) Mandi-branco (Pimelodus fur)

Curimatá-pacu (Prochilodus marggravii) Mandi-amarelo (Pimelodus maculatus)

Curimatá-pioa (Prochilodus costatus) Mandi-branco( Pimelodus sp.)

Piau-verdadeiro(Leporinus obtusidens) Surubim (Pseudoplatyatoma coruscans)

Piau-gordura (Leporinus piau) Cangati (Trachelyopterus galeatus)

Piau-Três- Pintas ( Leporinus reihardti) Sarapó (Gymnotus carapo, Eigenmannia virescens)

Timburé ( Leporinus taeniatus) Mussum (Synbranchus marmoratus)

Piau-branco (Schizodon knerii) Cará (Cichlasoma sanctifranciscense)

Canivete (Characidium lagosantensis) João-Bobo (Crenicichla lepidota)

Lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus) Barrigudinho (Pamphorichthys hollandi).

Lambari( Astyanax eigenmanniorum) Piaba-rapadura (Tetragonopterus chalceus)

Lambari-do-rabo-vermelho (Astyanax fasciatus) Matrinchã (Brycon orthotaenia)

Piaba (Bryconamericus stramineus, Moenkhausiacostae, Psellogrammus kennedyi, Hemigrammusmarginatus, Phenacogaster franciscoensis,Roeboides xenodon, Orthopinus franciscensis)

Pacu (Myleus micans)

Piabinha (Hyphessobrycon microtopterus eHyphessobrycon santae, Serrapinus heterodon,Serrapinus piaba)

Piranha (Pygocentrus piraya)

Piaba-facão (Triporteus guentheri) Pirambeba (Pygocentrus piraya)

Sete espécies, todas importantes para a pesca, foram consideradas por Sato et al.

(2003) como provavelmente migradoras de longa distância: curimatá-pacu

(Prochilodus argenteus), curimatá-pioa (Prochilodus costatus), dourado (Salminus

brasiliensis), matrinchã (Brycon orthotaenia), piau-verdadeiro (Leporinus

obtusidens), pirá (Conorhynchos conirostris) e surubim (Pseudoplatystoma

corruscans).

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Pompeu e Godinho (2003), fizeram um levantamento sobre a ictiofauna de três

lagoas marginais localizadas no médio São Francisco (trecho entre Pirapora (MG) e

a represa de Sobradinho) indicando a ocorrência de 50 espécies de peixes,

conforme quadro 12.

A ictiofauna registrada para a bacia do São Francisco, na área de abrangência da

Caatinga, totalizou 116 espécies em 70 gêneros, merecendo destaque a

extraordinária diversidade de peixes anuais da família Rivulidae, sem paralelo em

outras regiões, e que atinge 24 espécies.

Em relação à fauna de peixes da Caatinga, as 4 áreas consideradas por

especialistas como de importância extrema para preservação estão localizadas na

bacia do São Francisco: Itacarambi em Minas Gerais e Guanambi, Bom Jesus da

Lapa e Ibotirama na Bahia. A importância dessas áreas se relaciona ao elevado

número de espécies, à presença de ambientes especiais como cavernas ou poças

temporárias, ou ao alto número de espécies de interesse econômico.

Várias espécies de peixes foram introduzidas na bacia e hoje apresentam

populações estabelecidas. A grande maioria dessas ocorreu ao longo da última

década no rastro do desenvolvimento aquícola. A presença de tucunaré (Cichla

spp.), corvina (Plagioscion squamosissimus), carpa (Cyprinus carpio), bagre-africano

(Clarias gariepinnus), tambaqui (Colossoma macropomum), tilápia (Oreochromis sp.

e Tilapia sp.), entre outras, é mencionada por Sato & Godinho (1999).

Segundo dados de Sato et alli.(2004), foram identificadas 126 espécies de peixes no

alto São Francisco, 61 espécies dentro do reservatório de Três Marias e 13

espécies exóticas. O tucunaré Cichla temensis (Humboldt,1840) originário da bacia

Amazônica, foi introduzido em 1979 e começou a aparecer na pesca a partir de

1985. Fazem a reprodução artificial em cativeiro do pacamã (Lophiosilurusalexandri), do dourado (Salminus spp), do surubim (Pseudoplatystoma coruscans),

do Curimbatá-pacu (Prochilodus marggravii) e Curimatá-pioa (Prochilodus costatus)

e do matrinchã (Brycon lundii).

Na região do Baixo São Francisco, em estudos realizados por Costa et al., foram

encontradas 47 espécies, sendo 33 de água doce e 14 marinhas/estuarinas,

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conforme quadro 13.

Quadro 13. Espécies localizadas na região do Baixo São Francisco

DulcícolasApaiari Astronouts ocellatus Aragu Steindacherina elegansCará Cichlasoma sp. Carí Hypostomus commersoniiCarpa Cyprinus carpio Cumbá Parauchenipterus gaeatusCurimatá Prochilodus costatus, Prochilodussp.

Curvina-branca Pachyurus franccisci

Curvina Pachyurus squamipinnis Lambiá Acestrorhyncus lacustrisMandi-amarelo Pimelodus maculatus Ninquim Lophiosilurus alexandriPacamão Psieudopimelodus zungaro Pacu Myleus micansPescada-do-piauí Plagioscionsquamosissimus

Piau-três-pintas Leporinus sp

Piau-preto Leporinus piau Piau-branco Schinzodou kneriiPirambeba Serrasalmus brandii Piranha-preta Serrasalmus rhombeusPiranha-vermelha Serrasalmus piraya Robalo Centropomus pectinatusSarapó Sternopygus macrurus Surubim Pseudoplatystoma coruscansTambaqui Colossoma macropomum Tilápia Oreochromis niloticusTraíra Hoplias malabaricus Tubarana-branca Salminus hilariiTucunaré Cichla ocellaris, Cichla sp. Xira Prochilodus argenteusMarinhas/estuarinasAgulha Hyporhamphus sp. Bagre Selenaspis herzbergiiBagre Bagre sp. Cabeça-de-coco Stellifer sp.Camurim Centropomus paralellus Camurupim Tarpon atlanticusCaranha Lutjanus sp. Carapeba Eurreges brasiliensisCarapicu Geres sp. Curimã Mugil brasiliensisPilombeto Anchoviella lepidentostole Robalo Centropomus pectinatusTainha Mugil sp. Xareú Caranx sp.

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3.2.3. Áreas Protegidas

São espaços territoriais destinados à proteção e manutenção da diversidade

biológica, e de seus recursos naturais e culturais associados, criadas ou

reconhecidas por meio de instrumentos legais.

O Ministério do Meio Ambiente reconhece como Áreas Protegidas as Unidades de

Conservação, as Terras Indígenas, as Reservas Legais e as Áreas de Preservação

Permanente, uma vez que todas desempenham um importante papel na

conservação da biodiversidade.

Unidades de Conservação

Dentre as áreas protegidas reconhecidas pelo MMA, as unidades de conservação,

em virtude de suas características especiais, estão sendo tratadas estrategicamente

dentro do Programa de Revitalização da bacia do Rio São Francisco, tendo em vista

que as mesmas têm demonstrado ao longo dos tempos, serem uma importante

ferramenta na proteção, conservação e manejo dos recursos naturais, além de

proporcionar oportunidades de negócios sustentáveis, aliados ao crescimento

econômico, a geração de emprego e renda e a proteção de nossos recursos

naturais.

No Brasil as unidades de conservação são divididas em dois grandes grupos:

USO SUSTENTÁVEL, formada pelas Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de

Relevante Interesse Ecológico, Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas,

Reservas de Desenvolvimento Sustentáveis, Reservas de Fauna e Reservas

Particulares do Patrimônio Natural; e

PROTEÇÃO INTEGRAL, formadas pelos Parques Nacionais, Reservas Biológicas,

Estações Ecológicas, Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais.

As Unidades de Conservação de Uso Sustentável têm por objetivos compatibilizar a

conservação da natureza com a utilização sustentável dos recursos naturais; e as de

Proteção Integral têm por objetivo básico a preservação da natureza, permitindo

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apenas o uso indireto (caminhadas, banhos, lazer e educação ambiental) dos

recursos naturais.

Quatro dos sete principais biomas nacionais ocupam áreas significativas da bacia:

Floresta Atlântica, Cerrado, Caatinga e Costeiro. Por essa razão o rio São Francisco

também é considerado como o Rio dos Biomas Nacionais, com destaque para a

Caatinga, por ser um bioma essencialmente brasileiro.

Apesar dessa diversidade, de um modo geral, a bacia do rio São Francisco

apresenta um reduzido número de Unidades de Conservação, tanto de proteção

integral, quanto de uso sustentável, conforme apresentado na Figura 13.

Figura 13 - Unidades de Conservação

Preocupado com o pequeno percentual de áreas protegidas, localizadas nos Biomas

inseridas dentro da bacia do rio São Francisco, o Governo Brasileiro pretende ao

longo da execução desse Programa de Revitalização, ampliar o número de unidades

de conservação nessa área, visando proteger no mínimo 10% de cada um dos

biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Costeiro).

Atualmente o MMA e o IBAMA em articulação com OEMAS, ONGs, Comitês de

bacias, Instituições Públicas e Privadas, no âmbito do Programa de Revitalização da

bacia do Rio São Francisco, vêm identificando as áreas com potencial de serem

transformadas em Unidades de Conservação. O resultado desse trabalho definirá as

áreas dentro de cada bioma que poderão se tornar unidades de conservação.

Em relação ao bioma Caatinga a área alterada por atividades antrópicas é superior

aos 28% estimados através de mapa produzido pelo IBGE em 1993. Esse

percentual faz da Caatinga o terceiro bioma brasileiro mais alterado pelo homem.

Apesar das ameaças à sua integridade, apenas 1,6% da Caatinga está protegida

em Unidades de Conservação de proteção integral.

A fragmentação de habitats é o maior problema, levando às seguintes

recomendações para preservar o bioma:

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criação de novas Unidades de Conservação no centro de grandes áreas

nucleares de vegetação original, ainda existentes entre as áreas alteradas; e

criação de pelo menos uma grande UC, de tamanho apropriado (com área

mínima de 250.00 ha), em cada “ilha” de vegetação nativa pouco alterada.

Especialistas identificaram 27 áreas de caatinga de extrema importância biológica.

Destas, 7 se localizam na bacia do São Francisco, com destaque para a área do

médio São Francisco. Essa área abrange duas unidades de conservação: a APA

das Dunas e Veredas do Médio São Francisco e a APA da Lagoa de Itaparica.

A biota dessa região é extremamente rica em endemismos de diferentes grupos

taxonômicos: plantas, lagartos mamíferos e vários grupos de artrópodes como

aranhas, pseudoescorpiões, besouros, formigas e abelhas. Essa área é, portanto,

prioritária para a criação de uma extensa unidade de conservação de proteção

integral.

Quanto ao Bioma Costeiro, na bacia do São Francisco, no estado de Sergipe,

merece destaque o Pantanal Nordestino. Com 40 km2 (4.000 ha), o pantanal é a

maior área alagada do Nordeste. Localizado no município de Pacatuba, reúne uma

biodiversidade elevada, conjugando na mesma região manguezais, dunas, mar,

Mata Atlântica de restinga e uma fauna muito rica, formada por lontras, capivaras,

jacarés de papo amarelo e mais de 100 espécies de aves. Um verdadeiro berçário

da vida marinha, banhado pelas águas límpidas do rio Poxim ou Betume, último

afluente da margem direita do São Francisco. É também um santuário ecológico de

aves migratórias.

Além do mangue, a restinga é abundante em cajueiros, mangabeiras, mandacarus e

bromélias. O município vizinho de Pirambu abriga uma das bases do Projeto Tamar

e a Reserva Ecológica de Santa Isabel, que ocupa uma área de 2.776 hectares.

49

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3.2.4. Eventos Críticos

Na bacia do São Francisco, os principais eventos hidrológicos críticos são as

enchentes e as secas. As enchentes ocorrem no Alto São Francisco, principalmente

nas sub-bacias do Pará e das Velhas, e no Médio, nas sub-bacias do Verde Grande

e Paracatu. Atingem a Região Metropolitana de Belo Horizonte e as cidades de

Divinópolis, Itaúna, Montes Claros, Pirapora, Januária e Manga.

As secas ocorrem principalmente no Médio e Sub-médio São Francisco, provocando

perdas na produção agrícola, aumentando o êxodo rural e agravando o crescimento

urbano.

Enchentes

O período de dezembro a março é o mais crítico em relação à ocorrência de

enchentes na bacia do São Francisco. É nesta época que se intensificam os

procedimentos para controle de cheias, em particular a operação dos reservatórios e

os sistemas de alerta. Dentre as principais cheias ocorridas na bacia do rio São

Francisco, estão as de 1919, 1925, 1943, 1946, 1949, 1979, 1983, 1992 e 2004.

A Figura 10 mostra a distribuição da ocorrência de inundação na bacia, para o

biênio 1998-1999. A ocorrência de inundações ou enchentes na bacia do rio São

Francisco revela uma maior incidência no estado de Minas Gerais, seguido pelos da

Bahia e Pernambuco e os da região do baixo São Francisco.

Segundo o IBGE (2000), os principais agravantes das enchentes nos municípios são

principalmente o desmatamento, a degradação da cobertura vegetal ou, nas áreas

urbanas, a obstrução de dispositivos de micro-drenagem, o dimensionamento

inadequado de obras e projetos, o adensamento populacional e outros fatores

agravantes como a ocupação irregular das áreas de proteção ambiental.

Figura 10 - distribuição da ocorrência de inundação na bacia

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Os principais problemas de enchentes na bacia estão ligados aos seguintes

componentes:

· contínuos processos de desmatamentos, degradação da cobertura vegetal e

ocupação irregular de áreas de proteção ambiental;

· urbanização. Este é o tipo comum de enchentes que ocorre na região do Alto São

Francisco;

· ocupação do leito maior dos rios. O problema é agravado porque muitas das sub-

bacias do rio São Francisco são compostas por rios intermitentes, que têm seus

vales utilizados por pequenos agricultores. Grandes períodos sem ocorrência de

enchentes são suficientes para encorajar a ocupação das várzeas de inundação

com cultivos e habitações, o que ocasiona prejuízos e impactos aos moradores

por ocasião das chuvas.

Das barragens presentes na bacia, apenas Três Marias, Queimados e Sobradinho

têm função de controle de cheias, por possuírem volume útil capaz de amortecer

grandes afluências. O controle de cheias, em Itaparica, se dá apenas por sua

restrição de nível máximo a montante, devido a possíveis inundações na cidade de

Belém do São Francisco. No período de risco de cheias é realizado um

deplecionamento prévio do lago, de forma a evitar que o remanso criado cause

transtornos à população.

Na prática, na bacia do São Francisco, o controle das enchentes é feito através de

medidas não estruturantes, aproveitando as grandes barragens de usos múltiplos,

operadas pelo setor elétrico, para amortecimento das cheias, aliado à construção de

diques longitudinais para proteção das comunidades ribeirinhas. No Médio, parte do

Sub-médio e Baixo São Francisco, as enchentes são controladas pelos reservatórios

das usinas de Três Marias e Sobradinho.

Em geral, esses reservatórios conseguem reter volumes de água afluentes, de

acordo com a programação de seus respectivos volumes de espera.

As principais medidas estruturantes para a prevenção de inundações das áreas

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urbanas, ao longo da calha principal do rio São Francisco, foram executadas logo

após a cheia de 1979, abrangendo cidades localizadas ao longo do leito do rio, a

saber: Pirapora, São Francisco, Januária, Bom Jesus da Lapa, Xique-Xique,

Juazeiro, Petrolina, Propriá e Penedo. As obras consistiram na construção de diques

de terra e/ou muros de alvenaria de pedra ou de concreto armado para defender as

zonas urbanas contra os transbordamentos do rio São Francisco até o nível atingido

pelas águas em 1979.

Essas obras foram complementadas por um sistema de drenagem interior,

constituído de canais, galerias e lagoas de acumulação. O Operador Nacional do

Sistema (ONS) publica regularmente três relatórios importantes para a operação dos

reservatórios visando o controle de cheias, que são: o Inventário das Restrições

Operativas Hidráulicas dos Aproveitamentos Hidrelétricos; o Plano Anual de

Prevenção de Cheias, e Diretrizes para as Regras de Operação de Controle de

Cheias.

Desta forma, ficam impostas restrições de vazão máxima efluente dos reservatórios,

é realizada a alocação de volume de espera nos reservatórios para amortecimento

de cheias, e são definidas as regras de operação em situação de cheias. No

controle de cheias, têm papel fundamental os órgãos integrantes do Sistema

Nacional de Defesa Civil – SINDEC. - Fonte: ANA/SPR, 2004

Secas

O primeiro registro de seca no Nordeste remonta a 1559, segundo narra o livro

História da Companhia de Jesus no Brasil, do Padre Serafim Leite, citado por

Guerra (1951).

No século XX, segundo o Projeto ÁRIDAS (1995), os anos de seca mais expressivas

no Nordeste foram: 1915, 1919, 1930-1932, 1942, 1970, 1976, 1979-1983, 1987-

1988. A análise da ocorrência de secas feita pelo Projeto Áridas, excluindo-se os

séculos XVI e XVII, observa-se que no total de 294 anos ocorreram 71 secas, entre

totais e parciais. Isso significa que pelo menos uma área do Nordeste é atingida por

uma seca a cada 4 anos e que na parte menos vulnerável da região, acontece uma

seca a cada 5 anos.

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Quanto à secas com abrangência no semi-árido da bacia a freqüência é de uma em

cada 16 anos.

O fenômeno seca ocorre em toda a bacia em épocas e regiões diferentes, devido ao

atraso do início da estação chuvosa ou aos longos períodos de estiagens, muitas

vezes superiores a 15 dias, denominados veranicos. Esta última ocorrência é mais

comum no Alto e Médio São Francisco, no domínio do bioma cerrado.

No Semi-árido, a seca provoca sérios danos, por conta da vulnerabilidade da região.

A seca no Semi-árido é um fato normal e cíclico e para o qual se deve

principalmente buscar meios adequados para convivência com este fenômeno

natural, pela utilização racional de seus recursos naturais ou pelo desenvolvimento e

aplicação de tecnologias próprias.

Semi-Árido

O Semi-Árido corresponde a uma das seis grandes zonas climáticas do Brasil, e

caracteriza-se basicamente pelo regime de chuvas, definido pela escassez,

irregularidade e concentração das precipitações pluviométricas num curto período

de cerca de três meses, durante o qual ocorrem sob a forma de fortes aguaceiros,

de pequena duração; tem a Caatinga como vegetação predominante e apresenta

temperaturas elevadas.

Abrange as terras interiores à isoieta anual de 800 mm e situa-se, majoritariamente,

na região Nordeste, estendendo-se até o norte de Minas Gerais, ou seja, até o que

foi legalmente definido como pertencente ao Polígono das Secas.

De acordo com informações levantadas no Programa de Ação Nacional de Combate

à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN BRASIL, a partir de 1989,

por força das orientações estabelecidas na Constituição Federal de 1988, a Região

Semi-Árida do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE passou a

corresponder à área oficial de ocorrência de secas no Nordeste. Sua delimitação

esta definida pela Lei nº 7.827, de 27/09/1989, que instituiu o FNE.

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Atualmente, a superfície da Região Semi-Árida do FNE é de 895.254,40 km2, e

compreende espaços com precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a

800 mm.

Já o Polígono das Secas é um território reconhecido pela legislação como sujeito a

períodos críticos de prolongadas estiagens. Trata-se de uma divisão regional

efetuada em termos politico-administrativos e não corresponde à zona semi-árida,

pois apresenta diferentes zonas geográficas com distintos índices de aridez, indo

desde áreas com características estritamente de seca, com paisagem típica de

semi-deserto a áreas com balanço hídrico positivo.

Situa-se, majoritariamente, na região Nordeste, porém estende-se até o norte de

Minas Gerais. Cerca de 58% da bacia está incluída no Polígono das Secas: áreas

estaduais de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Bahia (exceto a parte ocidental da

Área-programa oeste Baiano) e a Área de Montes Claros e Janaúba em Minas

Gerais.

De acordo com informações do Plano Decenal da bacia, parte da bacia está inserida

no Semi-árido Brasileiro, território vulnerável e sujeito a períodos críticos de

prolongadas estiagens, que apresenta várias zonas geográficas e diferentes índices

de aridez. A região do semi-árido abrange 57% da área total da bacia,

compreendendo 218 municípios.

Portanto, na bacia do São Francisco, partes do Médio e Baixo e todo o Sub-médio

estão no semi-árido, que é uma área de limitada disponibilidade hídrica, com rios

intermitentes (Figura 11), e suscetível às secas.

Figura 11 - partes do Médio e Baixo e todo o Sub-médio estão no semi-árido

A principal característica da região semi-árida da bacia é o baixo volume precipitado

médio (<800 mm/ano). Ocorre também uma grande variabilidade espacial e

temporal das chuvas, onde no quadrimestre chuvoso, acontece a maior parte da

precipitação, ficando o restante do ano praticamente sem chuva.

Além da variabilidade dentro do ano, também há grandes diferenças de

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precipitações de um ano para outro, ocorrendo chuvas, acima da média, em uma

grande seqüência de anos, seguidos de anos com pouco volume precipitado,

ocasionando as secas prolongadas. Assim, o problema comum de secas na bacia

do São Francisco está mais relacionado com a distribuição irregular das chuvas do

que propriamente com a falta das mesmas.

Outro fator climático característico da região semi-árida é a alta taxa de evaporação,

cuja média na região fica em torno dos 2.000 mm anuais. Com isso, a perda de

água potencial para atmosfera será sempre maior que a precipitação. Esse

fenômeno é o principal responsável pelo esvaziamento dos açudes de pequeno

porte na região.

Um terceiro componente responsável pela aridez da região é a baixa capacidade de

retenção de água nos interstícios do solo. Praticamente toda a bacia no Semi-Árido

está situada sobre a base cristalina, com uma formação de solos rasa e submetida a

uma elevada taxa de evaporação, o que faz com que não exista praticamente

nenhum armazenamento de água no solo. A exceção ocorre em algumas manchas

sedimentares que dão origem a alguns aqüíferos.

A água subterrânea no Semi-Árido se dá nas fissuras, onde boa parte dos poços da

região está instalada, ou nas formações sedimentares dos leitos dos rios (aluviões).

É justamente nas regiões do Médio e Sub-médio que estão localizadas a maior

demanda de água, para a aplicação na agricultura irrigada e para a produção de

energia. Excetuando-se uma faixa de aproximadamente 3 km em torno da calha

principal do rio São Francisco, todo o restante da bacia inserido na região Semi-

Árida apresenta os mesmos problemas de água do restante do Nordeste Brasileiro.

Esse fato reflete uma característica própria do rio São Francisco que é a presença

de um expressivo volume de água, atravessando uma região semi-árida, onde a

maioria dos rios é intermitente.

O desenvolvimento socioeconômico da região semi-árida é negativamente

influenciado pelas adversidades climáticas, que têm gerado, com freqüência,

episódios de seca de média e longa duração. Aliada às adversidades climáticas,

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ressalta-se a inexistência de uma política eficiente e continuada de gestão dos

recursos naturais da região. Esses aspectos têm contribuído sensivelmente para

aumentar a vulnerabilidade do Semi-árido brasileiro, com graves conseqüências

para a população, trazendo prejuízos econômicos e sociais.

Com o objetivo de diminuir o efeito da variação da precipitação, procurou-se, ao

longo dos anos, construir reservatórios de acumulação superficial, fazendo com que

o semi-árido nordestino seja uma das regiões com a maior quantidade de

barramentos do mundo.

No entanto, a maioria dos açudes construídos é de pequeno porte, não sendo capaz

de suportar grandes períodos de estiagem. Com isso, nos períodos críticos, em que

as precipitações ocorrem abaixo da média por mais de um ano, os únicos locais em

que se tem água superficial na região são nos grandes reservatórios (ou

reservatórios plurianuais) e no próprio curso do rio São Francisco.

Um aspecto que difere as bacias do Nordeste, incluindo-se as pertencentes à bacia

do São Francisco, das outras zonas semi-áridas do mundo é o seu alto grau de

povoamento (sendo considerada a “região semi-árida mais povoada do mundo”), e a

distribuição espacial da população que se espalha por toda bacia de modo mais ou

menos homogêneo, excetuando-se os grandes aglomerados urbanos. Esta

dispersão dos habitantes dentro da bacia dificulta o atendimento de água para

satisfazer as necessidades mínimas da população.

É necessário também melhorar os sistemas de água, esgoto e coleta de lixo das

localidades no semi-árido. A situação é mais crítica na zona rural e nos pequenos

municípios, em que o abastecimento de água, nas épocas de estiagem mais severa,

só é garantido através de carros-pipa. Tendo em vista o contexto da região, é

preciso criar alternativas de melhoria das condições de vida dos cidadãos levando

em consideração as suas peculiaridades. Alternativas tradicionais de abastecimento

de água não são viáveis, para a população difusa na bacia, devido aos elevados

custos.

Portanto, deve-se recorrer a tecnologias alternativas, com participação social,

adaptadas à realidade local de modo a garantir um suprimento de água confiável à

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população rural local, como por exemplo, sistemas simplificados de abastecimento

de água, dispositivos para coleta de água da chuva, cisternas rurais, poços

tubulares e cacimbas.

3.2.5. Solos

No Alto, Médio e Sub-médio São Francisco predominam solos com aptidão para a

agricultura irrigada: latossolos e podzólicos. Esses tipos de solo requerem o uso

intensivo de adubação e, em muitos casos, a correção de sua acidez.

Entre o Sub-médio e o Baixo São Francisco, os solos potencialmente irrigáveis são

proporcionalmente pouco extensos, predominando solos de menor aptidão para a

agricultura: (1) os brunos cálcicos são rasos e suscetíveis à erosão; (2) as areias

quartzosas e os regossolos apresentam textura grosseira com taxas de infiltração

muito altas e fertilidade baixa; e (3) os planossolos e os solonetz solodizados

contêm elevados teores de sódio.

No Baixo São Francisco predominam os solos podzólicos, latossolos, hidromórficos,

litossolos, areias quartzosas e podzóis, dos quais apenas os três primeiros são

agricultáveis, porém existem adversidades relacionadas às condições topográficas e

de drenagem.

Pode-se, genericamente, dividir a ocorrência dos solos da bacia em três zonas

básicas, que estão intimamente relacionadas com o clima, rocha matriz, vegetação e

relevo.

A área de predominância absoluta de latossolos e podzólicos fica na zona

compreendida entre as cabeceiras do São Francisco até Santa Maria da Boa Vista,

pela margem esquerda, e Juazeiro, pela margem direita. Verifica-se, ainda, a

ocorrência de areias quartzosas, cambissolos e litossolos, sendo estes dois últimos

mais expressivos ao sul desta zona e nas áreas montanhosas do trecho mineiro. Os

solos que apresentam boa aptidão agrícola são os latossolos, os podzólicos e os

cambissolos, estes quando profundos.

A partir daqueles limites até Porto Real do Colégio, verifica-se uma mudança brusca

não só dos solos, como também do clima, vegetação e material geológico. Na

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margem esquerda, as manchas de solos são mais uniformes e apresentam menor

número de grandes grupos, predominando os brunos não cálcicos, regossolos,

litossolos, areias quartzosas e, somente após Paulo Afonso, grandes manchas de

planossolos.

Na margem direita, as manchas são entrecortadas entre si e menores, ocorrendo,

principalmente, planossolos, areias quartzosas, brunos cálcicos, litossolos,

podzólicos, vertissolos, cambissolos e solonetz solodizados. É nesse trecho onde os

recursos de solos são mais escassos. Os solos irrigáveis são pouco extensos,

sendo os vertissolos, podzólicos, latossolos e alguns cambissolos, os principais.

No curso inferior do rio, tem-se nova fisiografia e diferentes potenciais em recursos

de solos. Portanto, neste trecho predominam os podzólicos, latossolos, litossolos,

areias quartzosas, podzólicos e os hidromórficos. Os latossolos e os podzólicos se

situam em tabuleiros elevados, limitando a implantação da agricultura irrigada. Os

hidromórficos, situados em várzeas inundáveis, se constituem no maior potencial

agrícola do Baixo São Francisco, excetuando-se as unidades que apresentam

problemas químicos.

Margeando todo o rio e seus afluentes encontra-se a faixa de solos aluviais, cuja

utilização agrícola requer estudos detalhados, pela possibilidade de inundação. A

porção semi-árida da bacia, localizada nas regiões do Médio, Sub-médio e parte do

Baixo São Francisco apresenta risco de salinização, em graus variando de muito

alto a médio. No Alto, o risco de salinização vai de nulo a baixo, em razão dos solos

serem mais profundos, bem drenados e a precipitação pluviométrica ser mais

elevada.

Sedimentos na coluna d’água

A ocorrência de concentração de sedimentos em suspensão na bacia é mostrada na

Figura 12. De acordo com as medições feitas em 2001 pelo Projeto, a descarga de

sedimentos na foz foi de apenas 0,41 milhão de toneladas/ano, ocorrendo uma

redução de 97% quando comparada com as medições realizadas pela Codevasf no

período de 1966/1968, que foram de 12,5 milhões de t/ano. A maioria das áreas da

bacia apresenta declividade inferior a 6%, havendo uma predominância de

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declividades inferiores a 2%. Esta situação reduz os riscos de erosão e é bastante

favorável à irrigação.

Figura 12 - concentração de sedimentos em suspensão na bacia

Os afluentes que mais contribuem no fluxo de sedimentos em suspensão são: rio

das Velhas (17%), Paracatu (17%) e Urucuia (18%). O rio Paraopeba, apesar de

contribuir com 4% da vazão, é responsável por 11% do fluxo médio total de

sedimentos em suspensão do São Francisco no reservatório de Sobradinho. O rio

Grande, Corrente e Carinhanha (localizados no estado da Bahia), apesar de serem

importantes para a vazão, contribuem pouco em relação ao fluxo total de

sedimentos com 1%, 2% e 2% respectivamente (Embrapa Cerrado, 2001).

Um fenômeno vem ocorrendo na foz do rio desde que este perdeu parte dos

materiais em suspensão, pela contenção sofrida após vários barramentos

sucessivos de sua calha. Antes, no período de baixa vazão, o oceano acumulava

areia junto à foz, e o rio, num ato de autodrenagem, empurrava para o oceano os

sólidos acumulados, quando do período de cheias. Deixando essas de existirem, a

acumulação se tornou regressiva, fazendo com que o oceano rebata no continente,

já havendo destruído o povoado de Cabeço, vários manguezais e invadido o farol ali

existente, que se inclina como a torre de Pisa.

Por outro lado, devido ao desmatamento os rios da bacia estão entulhados de novas

áreas de acúmulo de sedimentos. Em todo os percursos das águas na bacia, os

bancos de areia são vistos, aumentando as áreas de risco no leito, dificultando a

navegação. São cerca de 18 milhões de toneladas de material sólido depositados

anualmente na planície do médio São Francisco (José Theodomiro de Araújo; A

Questão Ambiental do São Francisco; Bibliografia: “O Velho Chico, uma Paixão:

Uma Coletânea de trabalhos sobre o rio São Francisco.”).

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3.3. Caracterização socioeconômica

A bacia hidrográfica do rio São Francisco possui acentuados contrastes

socioeconômicos, abrangendo áreas de acentuada riqueza e alta densidade

demográfica e áreas de pobreza crítica e população bastante dispersa. A população

urbana representa 74,4%. A densidade demográfica média na bacia é de 20,0

hab/km2. Do total de 505 municípios, 451 têm sede na bacia.

O quadro 14 resume algumas características socioeconômicas da bacia.

Com base em dados do IBGE (Censo Demográfico, 2000), os seguintes aspectos

socioeconômicos podem ser evidenciados:

· população total da bacia (13.297.955 habitantes) encontra-se distribuída de forma

heterogênea nas regiões fisiográficas: Alto São Francisco (48,8%). Médio São

Francisco (25,3%), Submédio São Francisco (15,2%) e Baixo São Francisco

(10,7%);

· população predominantemente urbana: 50% da população da bacia vivem em 14

municípios com população urbana maior que 100.000 habitantes, localizados nos

seguintes Estados: Minas Gerais (Belo Horizonte, Contagem, Betim, Montes

Claros, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Sete Lagoas, Divinópolis, Ibirité e

Sabará); Bahia (Juazeiro e Barreiras), Alagoas (Arapiraca) e Pernambuco

(Petrolina);

· 90% do total dos municípios é de pequeno porte, com população urbana inferior a

30.000 habitantes;

· Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH está localizada no Alto São

Francisco, polarizada pela capital do Estado de Minas Gerais. Com 26

municípios, área de 6.255 km2 e representando menos de 1% de toda a bacia,

concentra mais de 3.900.000 habitantes, correspondendo à cerca de 29,3% da

população de toda bacia (IBGE,2000);

· população rural corresponde a 25,6% do total;

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Quadro 14. Características socioeconômicas da bacia do rio São Francisco,por região fisiográfica

CARACTERÍSTICAS ALTO MÉDIO SUB MÉDIO BAIXO E ZONACOSTEIRAADJACENTE

Saneamento básico,% de domicíliosAbastecimento

84 68 61 54

Rede de esgoto % 52 12 26 19

Tratamento deesgoto % 6 1 17 1

Vias navegáveis(Km)

-

1.243 entrePirapora ePetrolina/Juazeiro104 noParacatu155 noCorrente351 noGrande

60 entrePiranhas e BeloMonte

148 de BeloMonte à foz

Reservas minerais,% das reservasnacionais

100% dealgamatolito ecádmio60% de chumbo75% de enxofre ezinco30% de dolomito,ouro, ferro, calcário,mármore e urânio

60% de cobre30% decromita

- -

Principaisbarragenshidrelétricas(potencial deprodução deenergia, MW)

Três Marias (396)Rio das Pedras (9,3)Cajuru (7,2)Queimados (10,5)Parauna (4,1)

Sobradinho(1.050)Panderos(4,2)Correntina(9,0) Rio dasFêmeas(10,0)

Paulo Afonso I,II, III e IV (3.986)Moxotó (440)Itaparica (1.500)Xingó (3.000)

-

Área irrigada, ha. - 162 407 156 504 14 399

Área irrigada, % - 48,9 46,9 4,2

Principaisatividadeseconômicas

Indústria,mineração epecuária

Agricultura,pecuária,indústria eaqüicultura

Agricultura,pecuária,agroindústria,geração de energiae mineração

Agricultura,pecuária epesca/aqüicultura

IDH 0,549 a 0,802 0,343 a 0,724 0,438 a 0,664 0,364 a 0,534

Fonte:

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· região do semi-árido abrange 57% da área total da bacia, com cerca de 361.825

km2, compreendendo 218 municípios e mais de 4.737.294 habitantes, sendo

52,4% população urbana e 47,6% rural;

· no semi-árido, apenas 3 municípios possuem população urbana com mais de

100.000 habitantes: Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e Arapiraca (AL).

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3.3.1. Uso e ocupação do solo

A bacia do rio São Francisco é estratégica para o desenvolvimento de vasta região

do Brasil e tem merecido constante atenção governamental, sendo alvo de

crescentes demandas da sociedade local. Desde sua descoberta em 1501, o rio São

Francisco é submetido a uma ocupação desenfreada, impulsionada principalmente

pelos aspectos econômicos, começando pelo ouro, pedras preciosas e a pecuária

que prevaleceram por muitos anos.

O rio desempenhou importante papel na ocupação de nosso território e foi utilizado

como caminho preferencial para as bandeiras, razão pela qual também é conhecido

como "Rio da Unidade Nacional". Esse papel de integração, como meio de

comunicação entre o Nordeste e o Sudeste, que era feito por meio de embarcação

movida a vapor, contribuiu muito para a devastação das matas ao longo do rio.

A ocupação populacional na bacia se deu de duas formas: (1) no nordeste da bacia,

da foz em direção ao interior, em função da navegabilidade do rio e de condições

propícias ao desenvolvimento da pecuária e dos primeiros povoados; (2) no sul da

bacia, a ocupação se deu principalmente pelos bandeirantes em busca das riquezas

minerais, e onde estas foram encontradas, os vilarejos foram criados. Um

importante indicador associado ao tema é a distribuição espacial da ocupação

demográfica, a qual pode ser vista na Figura 14.

Figura 14. Distribuição espacial da ocupação demográfica

Várias das sub-bacias foram intensamente exploradas pela mineração, como ouro e

diamantes, passando por período de expansão, apogeu e declínio. Outras

explorações minerais têm ocupado papel importante e de suporte econômico para o

País, como o Quadrilátero Ferrífero, situado no alto São Francisco. É a única região

do País que produz zinco, além da quase totalidade de cromo, diamante, prata e

agalmatolito.

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Historicamente a ocupação das áreas extensivas se deu pela pecuária bovina,

caprina e ovina, estando, hoje, os biomas caatinga e cerrado alterados por causa

dessas atividades.

A ocupação agrícola se deu intensamente a partir da década de 70, com a quebra

do mito de que o cerrado não tinha potencial para agricultura. Estima-se que hoje

estejam ocupados 8 milhões com lavouras temporárias e permanentes. Outros

cerca de 10 milhões de hectares estão ocupados por pastagem.

Merece destaque a demanda da indústria siderúrgica de ferro-gusa sobre o carvão

vegetal, o que tem expandido muito a área de plantações de eucalipto e a

exploração impactante do cerrado e da caatinga para sua produção, além da

demanda sobre matéria prima para papel e celulose que na bacia é ainda incipiente.

Os levantamentos realizados apontaram a existência de valores acima de 5,6

milhões de hectares de florestas plantadas, até o ano de 1994.

A ocupação urbana na maioria dos municipios da bacia, ocorreu de forma

desordenada, sem considerar os aspectos ecológicos e de planejamento urbano e

ambiental. Poucos minicípios possuem Plano Diretor ou legislação própria de Uso e

Ocupação do Solo, assim como instrumetos de gestão e ordenamento territorial

como zoneamento ecologico-econômico ou zoneamento agroecológico.

Na bacia, a população urbana já representa 74,4%, e a densidade demográfica

média é cerca de 20,0 hab/km2. Ademais, cabe destacar a expressiva diversidade

dos varios aspectos socioculturais das regiões pelas quais o rio São Francisco

atravessa.

Quanto à infra-estrutura, todas a sedes municipais são servidas por telefonia e

energia elétrica.

No que se refere ao transporte por ferrovias, apenas parte do norte de Minas Gerais

é atendida, que liga o Sudeste à Salvador, passando por Montes Claros e Janaúba,

sendo que Belo Horizonte é ligada ao Triângulo Mineiro e Brasília, cruzando a parte

sul da bacia. Quanto às rodovias, a bacia é servida por algumas estradas federais

asfaltadas que cortam o Médio São Francisco, outras que ligam a região Sudeste na

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parte do Alto e Médio São Francisco. Algumas estradas estaduais, principalmente

no médio São Francisco, são parte da política de integração econômica dessa

região ao processo de desenvolvimento do Estado. O Baixo São Francisco tem suas

cidades ligadas por rodovias estaduais às estradas troncos que ligam o Brasil de

norte a sul. Muitas dessas estradas se encontram em estados precários devido à

deficiência de manutenção.

O desmatamento e as queimadas, com vistas à expansão das atividades

agrossilvopastoris, podem ser consideradas práticas históricas na ocupação regional

da bacia, tornando-se acentuadas a partir do final da década de 1960, quando a

ocupação dos cerrados no Noroeste e Norte de Minas e no Oeste Baiano tornou-se

mais intensa.

As atividades mineradoras e de garimpo, no Alto São Francisco, provocam grandes

impactos pelo desmatamento e geração de sedimentos, comprometendo os

recursos hídricos tanto de forma qualitativa como quantitativa. Mais recentemente, a

expansão das atividades do setor siderúrgico, vem intensificando de forma

insustentável as áreas de desmatamentos e o número de carvoarias, a maioria

atuando de maneira irregular, principalmente nas regiões do alto e do médio São

Francisco.

O extrativismo vegetal é praticado também de forma difusa para atendimento às

necessidades domésticas (lenha, madeira, fibras) e para o atendimento das

necessidades energéticas de atividades industriais, com especial destaque para o

carvão vegetal. Produz efeitos sobre a geração de sedimentos e o conseqüente

assoreamento dos cursos d’água, na redução da qualidade da água e na alteração

de importantes áreas de recarga de aqüíferos.

Os prejuízos à conservação da biodiversidade são também sérios, levando o IBAMA

e as Unidades da Federação a definirem áreas estratégicas para instalação de

unidades de conservação. A remoção da cobertura vegetal e o uso do solo para

agricultura, sem práticas de conservação de água e do solo têm contribuído para o

aumento dos processos erosivos, carreando sedimentos para a calha dos rios da

bacia, alterando significativamente sua capacidade de retenção, com efeitos

inevitáveis nas planícies de inundação.

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A intensa ocupação das chapadas tem provocado a compactação subsuperficial de

extensas áreas, seja pela utilização intensiva de moto-mecanização, seja pelo

pastoreio Tem-se levantado questões quanto à redução da capacidade de recarga

dos aqüíferos, o que precisa ser melhor estudado.

Já a ocupação das margens dos rios, assim como das demais áreas de proteção

ambiental, como as nascentes, encostas e as áreas de recarga de aqüíferos, para

diversos fins, são consideradas como algumas das principais causas propulsoras da

degradação da bacia, principalmente no que se refere à erosão e ao aumento de

sedimentos no leito dos rios. Em função dos tipos de sedimentos gerados pelos

processos erosivos, os efeitos têm sido diferenciados:

· os sedimentos arenosos têm formado grandes bancos de areia ao longo das

calhas dos rios que, em alguns casos, transformando-se em ilhas permanentes

em todo o Médio e Submédio São Francisco. Ao longo do Médio São Francisco,

são responsáveis pela formação de vazante, que corresponde entre 1 a 3 km da

margem do rio, de faixa de solos arenosos, que dificultam seu aproveitamento

sem grandes investimentos;

· os sedimentos siltosos têm sido os que efetivamente provocam o maior volume

de assoreamento, visto que são facilmente carreados pelo escoamento

superficial, porém não ficam em suspensão. Esse material é totalmente

depositado nos leitos dos rios, reduzindo a capacidade de escoamento e

provocando inundações freqüentes nas planícies aluviais, característica marcante

do Médio São Francisco;

· os sedimentos argilosos são facilmente carreados e geralmente ficam em

suspensão, promovendo a turbidez na água. Esse tipo de sedimento é depositado

quando encontra ambiente propício, como nos remansos dos reservatórios.

Por outro lado, os reservatórios da bacia provocam impactos no fluxo

hidrossedimentométrico, sendo constatada a concentração de sedimentos em

suspensão, a montante do reservatório de Três Marias, de 253 mg/L, enquanto que

em Pirapora, abaixo do reservatório de Três Marias, é de 103 mg/L, Bom Jesus da

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Lapa - 250 mg/L, e em Juazeiro, após Sobradinho, 47 mg/L. Até o reservatório de

Sobradinho, o rio São Francisco apresenta altas concentrações de sedimentos.

Entretanto, a jusante, o rio apresenta redução considerável de carga sólida, e,

conseqüentemente, da concentração de sedimentos, o que por outro lado acarreta o

fenômeno da intrusão marinha, com o aumento da degradação nas áreas costeiras

junto à foz do rio São Francisco.

Ao longo do processo de degradação da bacia ocorreram significativas mudanças

sociais, tecnológicas e dos padrões de uso da terra. Entre estas podem ser

salientados os intensos processos migratórios, a urbanização acelerada, a

ampliação dos investimentos públicos em infra-estrutura física e social e a

intensificação dos padrões de consumo dos recursos naturais, principalmente da

vegetação e da água.

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3.3.2. Saneamento ambiental

Um preliminar Diagnóstico do Saneamento Ambiental na bacia Hidrográfica do rio

São Francisco foi realizado para a elaboração do Plano da bacia, com dados

secundários relativos à população residente em domicílios particulares permanentes

urbanos e ao acesso desses domicílios aos seguintes serviços de saneamento: (a)

abastecimento de água; (b) coleta e tratamento de esgoto sanitário e (c) coleta e

disposição final de resíduos sólidos. Essas informações foram produzidas

basicamente a partir dos dados do Censo Demográfico de 2000 do IBGE.

Foram considerados somente os municípios cujas sedes municipais encontram-se

dentro da área da bacia, ou possuem alguma forma de dependência de seus

recursos hídricos. A partir desse critério, foram analisados os 451 municípios com

sede na bacia, além de mais cinco municípios, cujas sedes estão fora e que seus

sistemas de saneamento dependem da bacia, que totalizavam, em 2000, uma

população urbana de 9.513.567 habitantes.

A população rural nesta região apresenta-se geograficamente dispersa, requerendo

uma abordagem diferenciada, notadamente na região semi-árida.

De forma geral, a situação dos serviços de saneamento ambiental na bacia pode ser

sinteticamente descrita a partir dos seguintes indicadores:

94,8% da população urbana é atendida por abastecimento de água;

62,0% da população urbana é atendida por rede coletora e 3,9% por fossa

séptica;

33 municípios possuem algum tipo de tratamento de esgotos, correspondendo

somente ao tratamento de menos de 5% dos esgotos coletados;

88,6% da população urbana é atendida por serviços de coleta de resíduos

sólidos;

93% dos municípios possuem disposição final de resíduos sólidos inadequada.

No Quadro 15 mostra-se a cobertura dos serviços de saneamento, por região

fisiográfica, comparada com a situação brasileira.

Quadro 15 - Índices de cobertura dos serviços de saneamento, por região

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fisiográfica da Bacia.

Para a bacia do São Francisco como um todo se constatou a evidente limitação

atual de capacidade dos órgãos ambientais e de saneamento de atuarem efetiva e

eficazmente no controle adequado dos impactos ambientais identificados e

avaliados, principalmente no tocante às modificações degradatórias do ecossistema

advindas da poluição, da erosão e dos avanços de ervas daninhas aquáticas, com

destaque para o “cabelo”, no Baixo São Francisco, impondo mais limitações no

campo dos recursos, desde os humanos aos financeiros e social, sendo este o mais

grave.

Esgotamento sanitário

A bacia possui um índice de cobertura médio por rede coletora de 62,0%. Esse dado

não reflete a real situação das redes de esgotos, pois além de não retratar as

condições operacionais, considera os domicílios conectados à rede geral de esgotos

e a galerias de águas pluviais. Apesar da média de cobertura na bacia de cerca de

62,0%, ser superior à média nacional que está em 53,8%, existem cerca de 213

municípios na bacia com cobertura abaixo de 10%. Estes municípios localizam-se

na região do Médio e do Baixo São Francisco.

Segundo o PNSB/2000, somente 33 municípios da bacia tratam seus esgotos,

representando 7% do total de municípios investigados na bacia. Como o dado do

PNSB/2000 (volume de esgoto tratado/dia) não permite estimar, de forma

consistente, o índice de cobertura por tratamento de esgotos no município,

considerou-se a ausência de tratamento dos esgotos coletados na bacia no ano

2000 para efeito de cálculo da carga orgânica lançada nos corpos receptores.

Estima-se que a população não atendida por rede ou fossa séptica na bacia no ano

de 2000 seja cerca de 3,2 milhões de habitantes. Quando se retira a região

metropolitana de Belo Horizonte a média de cobertura cai para 49,5%, portanto,

representando 92 % da média nacional.

Ressalta-se, entretanto, que essa consideração não reflete exatamente a situação

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atual, pois a Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA/MG vem

realizando investimentos significativos na bacia, principalmente na Região

Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte e Contagem, as duas cidades mais

populosas da bacia estão tratando seus esgotos domésticos e não domésticos,

através das ETEs Arrudas e Onça.

Os municípios da bacia no estado de Minas Gerais possuem índice de cobertura

médio de 73,6%, sendo esse o único Estado em que se verifica cobertura por rede

coletora superior à média da bacia em função, principalmente, da Região

Metropolitana de Belo Horizonte. Desta forma, cerca de 85% da população atendida

por rede coletora de esgotos na bacia está situada em Minas Gerais.

Mesmo assim, pode-se observar, que as maiores concentrações de carga orgânica

encontram-se na região do Alto São Francisco, particularmente na Região

Metropolitana de Belo Horizonte (sub-bacias do rio das Velhas e rio Paraopeba), e

na sub-bacia do rio Verde Grande, em cuja cabeceira está localizada a cidade de

Montes Claros, como mostrado na Figura 14.

Figura 15 - sub-bacia do rio Verde Grande

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Por outro lado, todos os estados da região Nordeste apresentam índices inferiores à

média da bacia, por micro-bacia. O destaque esta na região do Sub-Médio São

Francisco em que se encontra Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), em função do porte

populacional dessas duas cidades.

Na Figura 16 mostramos a distribuição da coleta de esgoto na bacia, por micro-

bacia.

Figura 16 - Distribuição da coleta de esgoto na bacia, por micro-bacia

Abastecimento de água

A cobertura média atual de rede de água na bacia é de 94,8%. Valor superior à

média do Brasil, que é de 89,1%. Esta situação aparentemente confortável tem a

influência determinante dos altos índices de cobertura dos municípios de médio e

grande porte, como por exemplo, Belo Horizonte (2,2 milhões de habitantes) e

Contagem (cerca de 500 mil habitantes) com coberturas de 99,3% e 99,1%,

respectivamente, que elevam a média da bacia.

Em contraposição, coexistem na bacia 17 municípios com baixíssima cobertura de

rede de água (<60%), notadamente nos estados de Pernambuco e de Alagoas. O

déficit total de atendimento com rede de água, considerando-se como alvo a

universalização dos serviços, corresponde a 494.016 habitantes. Analisando-se os

dados elaborados por estrato populacional, observa-se que a faixa entre 5.000 e

30.000 habitantes é a que apresenta o maior déficit de cobertura (2,26% da

população urbana da bacia).

Na Figura 17 mostramos a distribuição da cobertura de água das micro-bacias nas

quais estão contidas as sedes municipais. Dois pontos importantes devem ser

salientados:

· a cobertura com rede de água não significa que a produção de água atende,

quantitativa e qualitativamente a demanda de água, da mesma forma que a baixa

cobertura não significa falta de água; e

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· os índices de perdas de água das prestadoras de serviços nos Estados ainda são

altos e bem variados entre si, como exemplo dos índices, podemos relacionar os

dados das principais empresas estaduais: - AL/CASAL - 55,5%; BA/EMBASA -

41,7%; GO/SANEAGO - 35,2%; MG/COPASA – 34,3%; PE/COMPESA - 60,0% e

SE/DESO - 54,2% (Dados: SNIS/2000).

Figura 17 - Distribuição da cobertura de água das micro-bacias

Resíduos Sólidos

A bacia possui ainda um índice de cobertura médio por serviços de coleta de lixo de

88,6%. O valor é inferior à média brasileira (91,1%), sendo que apenas o estado de

Minas Gerais apresenta também um índice superior ao brasileiro. O déficit na bacia

é de 11,4%, que equivale a 1.085.775 pessoas não atendidas com serviços de

coleta. Foi verificado que os piores índices médios correspondem aos estados da

Bahia (76,9%) e de Pernambuco (78,3%). Por outro lado, os melhores resultados

estão localizados no Alto São Francisco, onde está situada a Região Metropolitana

de Belo Horizonte.

Apesar da cobertura média dos serviços de coleta de lixo ser de 88,6%, existem na

bacia, municípios com baixos índices de cobertura. Verifica-se que abaixo de 50%

de cobertura, existem 46 municípios. O maior percentual de pessoas não atendidas

é encontrado na faixa dos municípios entre 5.000 a 30.000 habitantes, o que

corresponde a 4,7% da população urbana da bacia. Já os municípios com mais de

250.000 habitantes têm o menor déficit dos serviços de coleta, com apenas 0,8% da

população urbana não atendida na bacia situando-se nessa faixa.

Portanto, o problema da disposição final de resíduos sólidos na bacia é crítico.

Quando se analisam os resultados do PNSB (2000), verifica-se que dos 456

municípios considerados neste diagnóstico, 93% têm disposição inadequada de

resíduos; 5% têm alguma destinação adequada e somente 2% destinam seus

resíduos para unidades totalmente adequadas.

Quando os resultados são analisados em termos de população, o panorama é

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menos alarmante. Aproximadamente 49,6% da população da bacia têm disposição

inadequada, 29,3% destinam seus resíduos para unidades totalmente adequadas e

9,7% têm alguma destinação adequada. Esta situação mais favorável se explica

porque as unidades de tratamento e os aterros sanitários encontram-se

principalmente nas grandes cidades. A figura 18 mostra a distribuição da cobertura

da coleta de lixo, por microbacia, onde estão os municípios avaliados com influência

na bacia.

Figura 18 - Distribuição da cobertura da coleta de lixo, por microbacia

Saneamento Ambiental no Semi-árido

Cerca de 57% da área da bacia do rio São Francisco está situada na região semi-

árida. Portanto faz-se necessária uma análise diferenciada dos municípios que se

encontram nessa região. Dos municípios que possuem sede na bacia, 218 estão no

semi-árido, e destes somente 3 municípios com população superior a 100.000

habitantes: Petrolina (PE), Arapiraca (AL) e Juazeiro (BA).

Observa-se que dos 4,7 milhões de habitantes do semi-árido, 47,6% residem em

áreas rurais, para os quais não se dispõe de dados secundários que permitam uma

análise confiável da situação de saneamento. No entanto, apesar de não se possuir

um diagnóstico específico para a área rural, o Plano da bacia aborda, no módulo IV,

as soluções para o atendimento desses 2,25 milhões de habitantes.

O índice médio de cobertura de rede de água nos municípios do semi-árido (88,7%)

é inferior ao da bacia (94,8%). Nos municípios dos estados de Alagoas (79,8%) e

Pernambuco (86,2%), as coberturas de rede de água são inferiores à média na

região semi-árida (88,7%).

Quanto aos serviços de coleta de lixo, a cobertura média no semi-árido é de 79,1%,

sendo, portanto, inferior à média da bacia. Quanto à destinação/tratamento do lixo,

verificou-se que 97% dos municípios têm disposição inadequada de seus resíduos e

apenas 1 município (Arapiraca) tem disposição totalmente adequada.

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3.3.3. Controle da poluição e diluição de efluentes

Além do gravíssimo quadro de carência de saneamento básico, apresentado

anteriormente, observa-se o lançamento indiscriminado de efluentes domésticos e

industriais, principalmente os processos de poluição oriundos das atividades de

mineração e siderurgia, além ainda da disposição inadequada de resíduos sólidos,

comprometendo a qualidade de rios como Paraopeba, Pará, Verde Grande,

Paracatu, Jequitaí, Abaeté, Urucuia, das Velhas.

Uma das maiores áreas críticas é a Região Metropolitana de Belo Horizonte –

RMBH, que, além da grande contaminação das águas pelo lançamento de esgotos

domésticos e de efluentes industriais, apresenta elevada carga inorgânica poluidora

proveniente da extração e beneficiamento de minerais, embora esteja em operação

a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da sub-bacia do Arrudas em nível

secundário, e esteja sendo prevista a ETE da sub-bacia do Onça. A carga orgânica

doméstica remanescente na Região Hidrográfica do São Francisco é de 499

toneladas DBO5/dia, correspondente a 7,8% do País. Essa carga orgânica é mais

concentrada no Alto São Francisco. Outras regiões problemáticas estão situadas

nos municípios de Sete Lagoas, Divinópolis e Itaúna, com seus pólos siderúrgicos.

Em síntese, referente ao tema saneamento ambiental apresenta-se o seguinte

balanço:

· do total de municípios avaliados, verifica-se que cerca de 90% possuíam

população urbana menor que 30.000 habitantes em 2000. Foi observado um

significativo aumento dos índices de atendimento por saneamento na medida em

que o porte populacional do município aumentava. Os grandes conglomerados

urbanos têm conseguido melhores resultados no setor de saneamento;

· os altos índices de atendimento na bacia estão concentrados no Alto São

Francisco, fato este explicado pela presença da Região Metropolitana de Belo

Horizonte. Os menores índices estão concentrados em localidades menores que

30.000 habitantes;

· em termos de coleta de esgotos, que repercute diretamente na saúde da

população, verifica-se o maior déficit entre os serviços de saneamento na bacia.

Em termos de tratamento dos esgotos e disposição final dos resíduos sólidos

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urbanos, que têm conseqüência imediata sobre o meio ambiente, o déficit é

grande;

· pela grande deficiência nos serviços de saneamento na região do semi-árido,

tanto a população urbana quanto a rural requerem atenção especial. No que se

refere ao tratamento de esgotos sanitários, a presença de rios intermitentes

dificulta a diluição dos efluentes, e no que se refere ao abastecimento de água, a

ausência de fontes hídricas, com garantia de qualidade e quantidade, dificulta o

atendimento à população.

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3.3.4. Infraestrutura de transporte

O sistema de transporte conta com a participação das modalidades rodoviária,

ferroviária, hidroviária, aeroviária e intermodal.

Rodoviária

É a modalidade predominante na bacia e contava, em 1985, com uma rede de

20.812 km, sendo 10.498 km de rodovias pavimentadas e 10.314 km em

revestimento primário e leito natural. As principais rodovias pavimentadas que

cruzam a bacia e fazem conexão com as demais regiões do País são:

· BR-020/242: a BR-20 tem início em Brasília, atravessa o Oeste Baiano em

direção ao Piauí; em Barreiras, conecta-se com a BR-242 que completa a ligação

com Salvador;

· BR-040: tem seu marco zero em Brasília e passa por Paracatu, João Pinheiro,

Três Marias e Belo Horizonte;

· BR–354: faz a ligação entre o Sul de Minas Gerais e o Triângulo Mineiro,

cruzando o alto curso do rio;

· BR-316/232/122/407: faz a ligação das localidades da margem esquerda do São

Francisco, entre Petrolina e Penedo, com Recife e todas as demais capitais dos

Estados do Nordeste;

· BR-365: ligando Montes Claros à Uberlândia - Triângulo Mineiro, passando por

Pirapora e Patos de Minas;

· BR-251: ligando Montes Claros à BR-116 (Rio-Bahia), permitindo fluxo tanto para

o Nordeste quanto para o Sul; e

· BR-101: apesar de desenvolver-se quase que totalmente fora da bacia, é a

principal conexão com o litoral.

Além destes eixos troncais, existe um conjunto de rodovias coletoras e vicinais,

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muito heterogeneamente distribuído no espaço regional. As áreas de maior

densidade rodoviária se localizam na vizinhança da Região Metropolitana de Belo

Horizonte, no extremo sul da bacia, e na sua parte nordeste, pertencente aos

Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe. As áreas mais carentes correspondem

ao território da Bahia e àquelas localizadas no noroeste de Minas Gerais.

Ferroviária

A bacia possui cerca de 1.900 km de ferrovias, quase todos em bitola métrica.

Diversos trechos dessa rede foram construídos a partir das últimas décadas do

século passado e a maioria deles entrou em operação após 1910. Belo Horizonte é

um importante terminal ferroviário, conectando-se com São Paulo, Rio de Janeiro,

Brasília, Salvador e Vitória.

A ferrovia Belo Horizonte-Salvador, incluído o ramal Corinto-Pirapora, percorre

quase 1.000 km dentro da bacia, ligando a capital mineira com Sete Lagoas, Montes

Claros, Janaúba e Monte Azul. Outro ramal liga Belo Horizonte-Divinópolis-Garças

de Minas-Triângulo Mineiro-Brasília.

Seguem em importância a ferrovia Salvador-Senhor do Bonfim-Petrolina e a ferrovia

Salvador-Recife, que corta a bacia próximo à foz do São Francisco, ligando ambas

capitais com Aracaju, Propriá, Arapiraca, Palmeira dos Índios e Maceió. De Recife

sai uma outra linha em direção oeste que percorre 400 km dentro da bacia, até as

cidades de Arcoverde, Serra Talhada e Salgueiro, no próprio estado de

Pernambuco.

A implantação da Transnordestina (Petrolina-Salgueiro-Missão Velha) e a ligação

Brasília-Unaí-Pirapora permanecem constantes nos planos federais de

desenvolvimento ferroviário.

Hidroviária

Existem 2.189 km de vias navegáveis, a saber:

· São Francisco: trecho de 1.371 km entre Pirapora e Juazeiro/Petrolina,

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alcançando a barragem de Sobradinho, a qual é servida por uma eclusa,

vencendo um desnível de 32,5 m, e trecho de 208 km entre Piranhas e a foz;

· Paracatu: trecho de 104 km entre Porto Cavalo e a foz;

· Corrente: trecho de 155 km entre Santa Maria da Vitória e a foz; e

· Grande: trecho de 351 km entre Barreiras e a foz.

A Companhia de Navegação do São Francisco - FRANAVE - foi criada para operar o

transporte fluvial em escala comercial. A frota da FRANAVE compreendia 89

embarcações, incluindo empurradores e chatas, tendo transportado, em 1987, 120

mil toneladas de carga. Com o desenvolvimento da indústria automobilística e da

malha rodoviária, o transporte fluvial foi, paulatinamente, sendo menos demandado.

Com a extinção da PORTOBRÁS, surgiu a FRANAVE. Mais recentemente, devido

aos poucos recursos para manutenção e modernização da frota e para

investimentos na via navegável, além da inexistência de política de captação de

cargas, os equipamentos passaram por um crescente sucateamento com expressiva

redução de cargas. Assim, num curto espaço de tempo, o volume caiu de 120 mil

toneladas em 1987 para 26 mil toneladas em 1994. Até 1985, a gipsita era o produto

com volume mais expressivo.

Todavia, a soja produzida no oeste da Bahia tende a predominar em termos de

toneladas transportadas pela hidrovia. Com efeito, em 1988, os principais produtos

movimentados foram: soja (61.900 t), gipsita (53.400 t), carvão vegetal (3.400 t) e

arroz (12.500 t). Atualmente, o Governo Federal criou em 2004, um Grupo de

Trabalho Interministerial com a finalidade de redimensionar e impulsionar a

navegação do rio São Francisco, cujas atividades apontam a previsão de ser

efetivado inclusive o derrocamento do trecho do rio próximo a Juazeiro e Petrolina.

São ainda precárias as condições atuais de navegabilidade do rio São Francisco. O

rio, que sempre foi navegado sem maiores restrições justamente entre Pirapora e

Petrolina/Juazeiro (1.371 km), no médio curso, e entre Piranhas e a foz (208 km), no

baixo curso, sendo que hoje só apresenta navegação comercial no trecho

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compreendido entre os portos de Muquém do São Francisco (Ibotirama) e

Petrolina/Juazeiro. Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por

deficiência de calado.

Isso ocorre tanto na entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento

multiplica os bancos de areia e altera as rotas demarcadas pelo balizamento e

sinalização, e no trecho imediatamente a jusante da eclusa de Sobradinho, onde a

instabilidade de operação da usina hidroelétrica altera freqüentemente as

profundidades disponíveis. A Figura 19 mostra os trechos navegáveis no rio São

Francisco.

A navegação também é praticada em alguns afluentes, com destaque para os rios

Grande e Corrente. Os baixos cursos dos rios Paracatu (numa extensão de 104 km

até Porto Cavalo), Carinhanha (em 80 km, até a corredeira do Maruá) e Velhas (em

cerca de 90 km, até Várzea da Palma) também podem ser navegados em grande

parte do ano, nos períodos de águas médias e altas (entre novembro e maio). No

Rio das Velhas a ponte da rodovia BR-385, que liga Pirapora a Montes Claros e

atravessa este rio na localidade de Guaicuí, logo a montante da foz, impede, em

águas altas, o prosseguimento da navegação.

As instalações portuárias são poucas, mas relativamente bem aparelhadas. Os

principais portos são os de Pirapora e Ibotirama, operados pela AHSFRA, o de

Petrolina, operado pelo Governo do Estado de Pernambuco, e o de Juazeiro,

administrado pelo Governo do Estado da Bahia.

O porto de Muquém do São Francisco, situado próximo e a montante do de

Ibotirama, é de propriedade particular e se destina ao embarque de cereais

(predominância de soja) com destino às indústrias de Petrolina.

Outros pequenos embarcadouros, com instalações simples, existem disseminados

ao longo do rio principal ou de afluentes. São inexpressivos em termos de

movimentação de cargas, mas de importância capital para a maioria dos municípios

lindeiros ao rio São Francisco e que se comunicam entre si através do rio.

A perda das condições de navegabilidade no trecho médio se deve ao intenso

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assoreamento do rio São Francisco, que é decorrente do mau uso das terras da

bacia e vem gerando e promovendo o transporte de volumes cada vez maiores de

sedimentos para o rio, que acabam por entulhar a calha, provocando a instabilidade

das margens e a formação de novos bancos de areia.

Figura 19. Trechos navegáveis no rio São Francisco.

A transformação da via navegável em uma verdadeira hidrovia - a hidrovia do São

Francisco - conectando o Nordeste ao Sudeste (Pirapora-Petrolina/Juazeiro), é

presença constante nos planos federais de desenvolvimento hidroviário. Os

investimentos, da ordem de R$ 10 milhões, podem gerar substancial economia no

transporte de grãos do oeste baiano e do noroeste mineiro para abastecimento da

Região Nordeste e mesmo para exportação pelos portos de Suape e Aratu.

O Programa de Revitalização do São Francisco, cujas ações já se iniciaram,

contempla, no curto prazo, uma ampliação da relação interinstitucional, visando a

melhoria da navegação no rio, providência que permitirá a otimização do transporte

do Oeste da Bahia para o porto de Juazeiro (BA) e daí, por ferrovia, para os

principais portos nordestinos.

Aeroviária

Com respeito à infra-estrutura aeroviária merecem destaque os aeroportos da

Pampulha e Confins (Belo Horizonte), Divinópolis e Montes Claros (MG); Guanambi,

Bom Jesus da Lapa, Barreiras, Juazeiro e Paulo Afonso (BA); e Petrolina (PE),

recentemente reformado, pois todos atuam comercialmente. Alguns aeroportos,

como o de Januária (MG), já operaram também com linhas regionais.

Existem outras 83 pistas de pouso distribuídas em diferentes municípios da bacia,

utilizadas por pequenas aeronaves. Desse total, 16 possuem pista asfaltada. Cabe

informar que alguns perímetros irrigados da Codevasf dispõem de pista: Mirorós

(pista em terra), Jaíba, Gorutuba/Lagoa Grande e Formoso A (pista asfaltada), e

Senador Nilo Coelho (aeroporto comercial em operação).

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Intermodal

O transporte intermodal não é aproveitado em todo o seu potencial. Hoje, se

destacam neste aspecto a movimentação da soja e da gipsita (rodo-hidroviário), e

do álcool e derivados de petróleo (rodo-ferroviário). Executados os planos federais

de transportes, com adensamento e recuperação da malha rodoviária, construção

de novos ramais ferroviários e implantação da hidrovia, a bacia será transformada

em um excepcional mercado de transporte intermodal.

A figura 20 apresenta o tronco de transporte intermodal nos eixos do Nordeste, com

destaque para a bacia do São Francisco.

Figura 20. Tronco de transporte intermodal nos eixos do Nordeste, comdestaque para a bacia do São Francisco .

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3.3.5. Comunicações

A bacia também usufruiu o formidável avanço das comunicações verificado em

nosso País nas últimas décadas. Obviamente, como ocorre nas metrópoles

brasileiras, as maiores cidades são franciscanas também dispõem dos mais

modernos meios de comunicação. Da mesma forma, as cidades de menor porte,

vilas e povoados da bacia são servidas por inúmeras facilidades de comunicações.

Praticamente todas possuem agência da ECT e, no mínimo, posto telefônico.

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3.3.6. Recursos Minerais

A maior parte do vale do São Francisco ocupa uma depressão geologicamente

antiga, onde o embasamento cristalino é constituído por uma grande variedade de

rochas, que contêm depósitos minerais bastante valiosos e de grande suporte

econômico para o País, como a área denominada de Quadrilátero Ferrífero, situada

na parte sul, em Minas Gerais.

Em termos de indústria extrativista, é a única região do País que produz zinco, além

da quase totalidade de cromo, diamante, prata e agalmatolito. Responde, também,

por mais de 60% da produção nacional de chumbo, cobre, ouro, gipsita e pirofilita.

Entretanto, essas atividades carecem de políticas adequadas para serem

devidamente exploradas.

Do ponto de vista dos recursos minerais, a região é um riquíssimo depósito. As

reservas minerais da bacia são de: 100% das reservas nacionais medidas de

agalmatolito e cádmio; cerca de 95% das reservas nacionais medidas de ardósia e

serpentinito industrial; cerca de 75% das reservas nacionais medidas de enxofre e

zinco; cerca de 65% das reservas nacionais medidas de chumbo; cerca de 60% das

reservas nacionais medidas de cristal e diamante; cerca de 50% das reservas

nacionais medidas de gemas; entre 40 e 20% das reservas nacionais medidas de

dolomito, quartzo, ouro, granito, cromita, ferro, ardósia, gnaisse, calcário, mármore,

gipsita, ocre e urânio, assim como; 10 a 20% das reservas nacionais de cobre,

manganês, fertilizantes fosfatados e argila e 5 a 10% das reservas nacionais de

titânio, amianto, cianita, magnésio, dolomita e sílex.

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3.3.7. Geração de energia

O potencial hidrelétrico da bacia do rio São Francisco é de 25.795 MW, dos quais

10.395 MW estão distribuídos em usinas em operação na bacia: Três Marias,

Queimados, Sobradinho, Itaparica, Complexo Paulo Afonso e Xingó. Os principais

reservatórios situados no rio São Francisco, formados por estas usinas hidrelétricas,

são mostrados de forma esquemática na Figura 21. Destes, Três Marias e

Sobradinho têm papel fundamental na regularização das vazões do rio São

Francisco.

Figura 21. Esquema dos principais reservatórios, formados pelas usinashidrelétricas de Três Marias, Queimados, Sobradinho, Itaparica, ComplexoPaulo Afonso e Xingo.

As hidrelétricas em operação na bacia do São Francisco (Figura 22) são

fundamentais para o atendimento do subsistema Nordeste, representando a base

de suprimento de energia da região, cujo potencial já está exaurido. Apesar da

maioria desses aproveitamentos destinar-se ao suprimento de energia dos estados

da região, algumas usinas são supridoras das regiões Sudeste/Centro-Oeste, sendo

a principal usina, neste contexto, a de Três Marias.

O Sistema Interligado Nacional – SIN é um sistema hidrotérmico de produção e

transmissão de energia elétrica com forte predominância de usinas hidrelétricas,

sendo responsável por 96,6% da capacidade de produção de eletricidade no Brasil.

O SIN está dividido nos seguintes subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste,

Nordeste e Norte. O subsistema Nordeste é atendido basicamente:

· pelas usinas hidrelétricas situadas no rio São Francisco e em outras bacias da

região Nordeste;

· por usinas térmicas distribuídas em toda região Nordeste; e

· por energia importada de outros subsistemas através de linhas de transmissão.

Comparando-se os valores de energia firme resultante dos empreendimentos em

operação no sistema (6.304 MWmed) e os valores obtidos com a soma de todos os

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empreendimentos planejados (10.085 MWmed), observa-se um acréscimo de

energia de apenas 3.781 Mwmed. Isto se dá em função de que aproveitamentos em

estudo que possuem grande potência instalada, como é o caso das expansões

previstas nas usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó, que totalizam 8.640 MW,

são destinados a operação somente em horários de pico de demanda de energia do

Sistema Interligado Nacional, mais especificamente o subsistema Nordeste, não

representando acréscimo de energia firme ao sistema.

Figura 22 - hidrelétricas em operação na bacia do São Francisco

Os principais estudos para aproveitamento do potencial hidrelétrico ainda não

explorado na bacia são: no Alto, a usina de Pompeu, para atendimento do

subsistema Sudeste/Centro-Oeste; no Submédio São Francisco, os

aproveitamentos do Riacho Seco de 240 MW e Pedra Branca de 320 MW; e no

Baixo São Francisco, a usina de Pão de Açúcar, projetada a 40 km abaixo da

hidrelétrica de Xingó e distante aproximadamente 170 km da foz do rio São

Francisco. Pão de Açúcar é tida como o último empreendimento hidrelétrico na

cascata hidro-energética do rio e possibilitará um acréscimo de potência de 330

MW.

O Plano Decenal de Expansão (2003-2012) do CCPE contempla quatro usinas

localizadas no rio São Francisco: (1) Gatos e Sacos, no rio Formoso, para

atendimento ao subsistema Nordeste e (2) Quartel, no rio Paraúna, e Retiro, no rio

Paraopeba, para atendimento ao subsistema Sudeste/Centro-Oeste.

As estimativas da demanda futura de energia elétrica para a região Nordeste

indicam que são necessários cerca de 4.000 MWmed para o período de 2003 a

2012. Mesmo considerando os projetos para construção de possíveis novas três

usinas (Riacho Seco, Pedra Branca e Pão de Açúcar), o acréscimo em termos de

energia firme é de cerca de 800 MW, insuficiente para atender às necessidades da

região.

Como o potencial não explorado na bacia não traz acréscimos significativos em

termos de energia, os planos de expansão e operação do setor elétrico incluem a

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diversificação da matriz energética para atendimento do subsistema, através da

utilização de fontes térmicas (gás natural e combustíveis alternativos) e do aumento

da capacidade de importação de energia de outros subsistemas do Sistema

Interligado Nacional, com a construção de linhas de transmissão. Ressalte-se que

com o crescimento dos usos múltiplos na bacia, a tendência atual é que haja uma

diminuição da disponibilidade de energia nas usinas localizadas na bacia do rio São

Francisco, como já vem sendo considerado no planejamento da operação e da

expansão do setor elétrico.

Com relação aos impactos da operação dos reservatórios sobre os outros usos da

água, a Curva de Aversão a Risco (CAR) do setor elétrico considera a vazão mínima

efluente em Sobradinho de 1.100 m3/s. Portanto, o planejamento do setor deve

providenciar as ações para que não haja conflitos com outros setores usuários dos

recursos hídricos da bacia, como navegação e derivações para sistemas de

abastecimento de água, entre outros.

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3.3.8. Agropecuária

A exploração das terras em sequeiro é determinante para o crescimento das

atividades agropecuárias na bacia, sobretudo considerando-se a relativa limitação

dos recursos hídricos. Os levantamentos indicam a existência de 35,5 milhões de ha

aptos à agricultura de sequeiro e 30,3 milhões de ha irrigáveis.

Considerando uma distância máxima de 60 km da fonte de água e uma elevação de

até 120 m, o potencial irrigável cai para 8,1 milhões de ha; para distâncias e

elevações menores, o potencial se reduz a 3,0 milhões de ha e, aliando-se os

fatores restritivos (distância e elevação de água) aos usos múltiplos dos recursos

hídricos do São Francisco as possibilidades não ultrapassam 1,5 milhões de ha

irrigáveis.

Esse montante representa 4,2% das terras aptas à produção agrícola de sequeiro e

4,9% das terras aptas à irrigação. Verifica-se, assim, que as possibilidades de

expansão das áreas aptas à agricultura de sequeiro, não computando aquelas aptas

à pecuária e silvicultura, superaram bastante as possibilidades de expansão das

áreas irrigáveis. Nesse sentido, a análise do potencial agro-silvo-pastoril em

sequeiro da bacia recomenda o manejo integrado das terras e do sistema

hidrográfico.

Por outro lado, os grandes problemas financeiros que os investimentos em irrigação

implicam e as dificuldades de recursos humanos para esta atividade, levam - sem

menosprezar a evidente necessidade de irrigação, principalmente no centro e no

norte da bacia - a reconhecer a prioridade no aproveitamento das potencialidades

de crescimento em sequeiro, sobretudo nas áreas Alto São Francisco, Chapadões

do Paracatu e Montes Claros-Januária, em Minas Gerais, e Guanambi-Paramirim,

Oeste Baiano e Sobradinho, na Bahia.

Os estudos realizados pelo PLANVASF englobam uma área total de 691,0 mil km2

(69,1 milhões de ha). Tal área refere-se à totalidade do território dos municípios,

mesmo daqueles parcialmente inseridos na bacia e não inclui áreas do Distrito

Federal e de Goiás. Para aquela área assim definida, têm-se os seguintes usos:

área de proteção ambiental de Piaçabuçu; reserva ecológica do Raso da Catarina;

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região metropolitana de Belo Horizonte; águas internas e terras.

As áreas de preservação atingem 0,1 milhões de ha (0,1% da área estudada); a

área metropolitana de Belo Horizonte ocupa 0,4 milhões de ha (0,6%); as águas

internas ocupam 0,6 milhões de ha (0,9%) e as terras propriamente ditas ocupam

68,0 milhões de ha (98,4%).

Esses estudos, no que se refere à aptidão das terras para agricultura de sequeiro,

concluem que 52% (35,5 milhões de ha) têm aptidão - ocorrem 0,1 milhões de ha do

grupo 1 (aptidão boa), 25,5 milhões de ha do grupo 2 (aptidão regular) e 9,9 milhões

de ha do grupo 3, (de aptidão restrita para as lavouras); cerca de 0,7% (0,4 milhões

de ha do grupo 4) indicam utilização como pastagens plantadas, e os restantes

47,3% (32,1 milhões de ha) são inaptos, podendo ser utilizados como pastagem

natural, florestamento ou manutenção de vegetação natural - terras do grupo 5, com

um total de 20,8 milhões de ha podem ser utilizadas das seguintes formas: 13,3

milhões de ha com pastagem natural; 4,7 milhões de ha com silvicultura ou

pastagem natural e 2,8 milhões de ha somente com silvicultura, e terras do grupo 6,

com total de 11,3 milhões de ha, devem ser destinadas para a preservação da flora

e fauna.

A distribuição dos solos, por Estado, com relação à aptidão para culturas de

sequeiro é apresentada no Quadro 16, a seguir.

A bacia do São Francisco, com seus 64 milhões de ha, possui cerca de 35,5 milhões

de ha agricultáveis e 456 mil ha indicados para pastagens. Da área agricultável, 19

milhões são mais favoráveis, sendo que apenas 8 milhões de ha têm fácil acesso à

água.

Em 1985, estavam sendo utilizadas 4,5 milhões de ha com lavouras temporárias e

permanentes (31,4% do Nordeste e 8,6% do Brasil); o rebanho bovino, ali existente,

era de 11,2 milhões de cabeças (50,3% do Nordeste e 8,8% do Brasil). Ao nível

tecnológico vigente, o rebanho da bacia pode crescer em mais 4,6 milhões de

cabeças.

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Quadro 16. Distribuição dos solos, por Estado, com relação à aptidão paraculturas de sequeiro.

Aptidão dos Solos para a Agricultura de Sequeiro (mil ha)

Estado Aptos Pastagem Inaptos Total

Minas Gerais 12.540 259 12.675 25.474

Bahia 20.459 164 12.338 32.961

Pernambuco 1.831 - 5.336 7.167

Sergipe 223 17 574 814

Alagoas 423 16 1.217 1.656

Total 35.476 456 32.140 68.072

Fonte: PLANVASF. - OBS: excluiu Goiás e Distrito Federal.

Em função do uso potencial das terras e da lotação unitária foi quantificada a

lotação potencial das pastagens da bacia. A estimativa é de uma lotação total de

aproximadamente 20,8 milhões de bovinos. A área com maior potencial é o Oeste

Baiano, com 31,5% do potencial total regional. Em segundo lugar está Montes

Claros-Januária, em Minas Gerais, com 17,3%.

Já no Semi-Árido, a pecuária poderá ser incrementada mediante a execução de um

programa de pastagens nativas combinado com cultivos adaptados e adequado

manejo dos rebanhos.

A EMBRAPA realizou um trabalho demonstrando a viabilidade da criação de gado

através da utilização de um sistema denominado CBL, que consiste em utilizar uma

área de Caatinga (C), associada a uma área de capim Buffel (B) e de Leucena (L).

Os resultados experimentais, conforme mostrado no quadro 16, a seguir, apontaram

alto incremento de produção e produtividade.

A pecuária, tradicionalmente conhecida como atividade produtora de carne e leite,

desempenha importante papel no apoio à agricultura irrigada, pela produção de

esterco. Esse adubo orgânico constitui um dos elementos nutritivos mais

importantes em relação ao processo de produção conduzida nas áreas irrigada.

Como a agricultura irrigada vem sendo conduzida em reduzida articulação com

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explorações pastoris, a demanda de esterco, especialmente na bacia, é suprida de

outras áreas, a custos elevados.

Quadro 17. Aumento da Produção e Produtividade do Sistema CBL.

SISTEMA CBL - INCREMENTO DE PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE

Indicadores SistemaTradicional Sistema CBL Incremento (%)

Capacidade de suporte(UA/ha/ano) 0,10 0,47 370

Peso vivo (kg/ha/ano) 6,65 80,21 1.106

Peso vivo (kg/cabeça/ano) 55,00 130,00 136Fonte: EMBRAPA - OBS: U.A. - Unidade Animal

Quanto aos problemas, deve-se enfatizar que as queimadas anuais ainda

constituem uma prática agrícola devastadora e generalizada na bacia,

especialmente nas áreas dotadas de recursos de solo mais escassos, como aquelas

que durante muito tempo foram ocupadas com o cultivo de variedades arbóreas de

algodão. Essa prática foi intensificada para a expansão da pecuária, sendo utilizada

como instrumento para a formação rápida de pastagens.

Ainda associada às atividades agrícolas destaca-se a super-explotação das águas

subterrâneas. Dados do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral-DNPM

revelaram, na década de 90, um rebaixamento do nível dos aqüíferos, a uma taxa

anual de decréscimo da ordem de 3,6%, relativo a poços perfurados na região.

As atividades agropecuárias na bacia tendem a apresentar maior dinamismo,

mormente por conta da expansão da agricultura irrigada e pela crescente integração

entre as atividades agrícolas e agroindustriais. Essa integração, aliás, faz parte da

estratégia de desenvolvimento posta em prática na bacia. A maioria dos próprios

produtores estão convencidos de que não podem comercializar toda sua produção

utilizando esquemas exclusivos de venda direta dos produtos.

Quando a escala de produção aumenta, a agroindústria constitui um instrumento de

decisiva importância no tocante à garantia de uma adequada comercialização dos

produtos colhidos. É isso o que está ocorrendo em pólos como Petrolina/Juazeiro e

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Norte de Minas, onde estão localizados cerca de 125.000 ha irrigados, ou seja,

quase a metade da área atualmente irrigada na bacia.

A respeito das transformações na região Nordeste, em especial na bacia do rio São

Francisco, a Comissão Especial Mista do Congresso Nacional que estudou o

Desequilíbrio Econômico Inter-regional Brasileiro concluiu que as transformações

pontuais e localizadas decorreram do incremento de algumas culturas não

tradicionais do Nordeste, que, pelo valor de mercado relativamente alto, passaram a

ter participação crescente no valor da produção agrícola do Nordeste.

O aumento da produção de frutas (mamão, manga, melancia e uva) deveu-se à

expansão da agricultura irrigada na área do Submédio São Francisco; o aumento da

produção de cacau e abacaxi respondeu à expansão do cultivo em manchas

climáticas favoráveis do sertão e do agreste. O aumento da participação relativa

destas culturas deveu-se, igualmente, às condições ecológicas favoráveis de

determinadas áreas e zonas fisiográficas do Submédio São Francisco.

Esses produtos que, conjuntamente, representavam, nos anos 70, cerca de 3,1% do

valor da produção agrícola do Nordeste, elevaram consideravelmente sua

participação na economia regional.

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3.3.9. Irrigação

Na bacia do São Francisco, a agricultura irrigada é importante indutora do processo

de desenvolvimento regional. A irrigação na bacia do São Francisco, especialmente

no semi-árido, é uma atividade social e econômica dinâmica, geradora de emprego

e renda na região e de divisas para o País – suas frutas são exportadas para os

EUA e Europa. A área irrigada da bacia atualmente está aproximadamente em

342.712 hectares irrigados, representando cerca de 11% da área irrigada no Brasil.

Nessa área irrigada, cerca de 30% são referentes a projetos públicos, podendo ser

expandida para até 800 mil hectares, nos próximos anos, o que será possível pela

participação crescente da iniciativa privada. A distribuição da área irrigada entre as

regiões fisiográficas é a seguinte: 13% no Alto São Francisco, 50% no Médio, 27%

no Submédio, e 10% no Baixo.

Nos perímetros irrigados têm-se adotado, em sua maioria, culturas com maior valor

econômico e maior resposta ao insumo água, representadas pelos grãos, frutas,

olerícolas, e, mais recentemente, a cultura do café. Em relação aos métodos de

irrigação, os sistemas que utilizam pivô central estão distribuídos por toda a bacia,

com uma maior concentração no norte (Jaíba, Janaúba, Januária e Manga) e no

noroeste (Unaí, Bonfinópolis de Minas e Paracatu) de Minas de Gerais, e no oeste

da Bahia (Barreiras, São Desidério e Luís Eduardo Magalhães).

Os sistemas de irrigação por aspersão convencional concentram-se nas cidades de

Jaíba, Itacarambi e Manga, em Minas Gerais, e na sub-bacia do rio Corrente, nas

cidades de Bom Jesus da Lapa e São Félix do Coribe, no Estado da Bahia.

A irrigação por micro-aspersão está dispersa ao longo de toda a bacia,

principalmente nas áreas de fruticultura irrigada. No Baixo São Francisco, embora se

verifique a tendência de aumento da fruticultura irrigada, o sistema de irrigação por

superfície é ainda muito utilizado.

Considera-se que existam cerca de 30 milhões de hectares agricultáveis e o

potencial de áreas irrigadas na bacia é de 8,1 milhões de hectares (81.000 km²)

(PLANVASF, 1989), sendo que o fator limitante para se estabelecer o limite a ser

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atingido é o balanço dos usos dos recursos hídricos. De acordo com a CODEVASF,

o limite de aproveitamento de terras para irrigação seria de 800.000 hectares (8.000

km²), sem a instalação de conflito dos usos múltiplos.

As áreas de maior prática da irrigação pública e privada na bacia são: norte de

Minas – com destaque para os perímetros Gorutuba, Pirapora, Jaíba e Janaúba;

região de Belo Horizonte; noroeste de Minas; Distrito Federal; Formoso/Correntina,

Barreiras, Guanambi e Irecê, na Bahia; e Baixo São Francisco, nos estados de

Alagoas e Sergipe (Figura 22). Juntamente com estas regiões, merece especial

destaque a região de Juazeiro-BA/Petrolina-PE, com sua produção de frutas para

exportação. O incremento da participação do Brasil no mercado internacional de

frutas deve-se à expansão da fruticultura na bacia, principalmente no Semi-árido.

Figura 22 - áreas de maior prática da irrigação pública e privada na baciahidrográfica do São Francisco

Destaca-se, ainda, que apesar da irrigação se constituir em prática que tem

agregado grandes benefícios à agricultura da bacia do rio São Francisco, se

realizada de forma inadequada, produz impactos indesejáveis, especialmente na

área semi-árida. Um deles se refere à salinização dos solos, que afeta a germinação

e a densidade das culturas bem como o seu desenvolvimento vegetativo, tendo

como conseqüência a redução da produtividade das lavouras.

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3.3.10. Turismo

Comparado a outros produtos de exportação brasileira, o crescimento da receita

gerada com o turismo é importante. Apenas entre 97 e 98, esse aumento foi de

41%, superando o crescimento da receita de exportação do minério de ferro e do

açúcar. Em volume de divisas, só perde para a soja. O ecoturismo, na indústria de

turismo e viagens, é o segmento que apresenta o maior crescimento, resultando

num incremento contínuo de ofertas e demandas por destinos ecoturísticos.

A bacia do rio São Francisco é uma região rica em recursos naturais, abrigando uma

diversidade de culturas, de locais históricos, de sítios arqueológicos e de

importantes centros urbanos. Estas características associadas ao longo curso do rio

e às belezas naturais da região oferecem um grande potencial para o

desenvolvimento do setor turístico.

O Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), que tem como

objetivo geral a promoção do desenvolvimento turístico sustentável nos municípios,

juntamente com a orientação da Organização Mundial de Turismo, foi responsável

nos últimos quatro anos, por uma revolução silenciosa que mudou a consciência da

comunidade local ao mostrar a importância política do turismo para o

desenvolvimento sustentado dos municípios.

No Nordeste, sete novos aeroportos foram construídos, 22 mil metros quadrados de

patrimônio histórico foram restaurados, 17 projetos de saneamento básico foram

executados e 280 quilômetros de estradas foram construídos. A partir dos

investimentos públicos, ocorreu a motivação para investimentos da iniciativa privada

em novos empreendimentos turísticos. Alguns municípios já possuem iniciativas

próprias para incentivo dessa atividade em sua região.

A implantação de uma Política Nacional de Ecoturismo poderá ser um forte aliado

no desenvolvimento da economia local, com objetivos básicos de compatibilizar as

atividades de ecoturismo com a conservação de áreas naturais; fortalecer a

cooperação interinstitucional; possibilitar a participação efetiva de todos os

segmentos atuantes no setor; promover e estimular a capacitação de recursos

humanos para o ecoturismo; promover, incentivar e estimular a criação e melhoria

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da infra-estrutura para a atividade de ecoturismo.

Outras iniciativas setoriais também contribuem para o processo, como o Programa

Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora pela Embratur e Ibama.

As atividades de turismo e lazer ainda são incipientes na bacia hidrográfica do São

Francisco e zona costeira, a despeito de alguns programas e das possibilidades

oferecidas pelos reservatórios, do turismo ecológico, dos Parques Nacionais e da

pesca no curso principal e afluentes. Verifica-se, nesse caso, que o setor carece de

definição de política e estratégia de uso racional dos lagos dos reservatórios como

possibilidade de oferta de lazer e fonte de recursos.

Motivados pela revitalização, o barco-gaiola Benjamim Guimarães foi restaurado

pela Prefeitura Municipal de Pirapora, e o Governo de Minas Gerais.

A CODEVASF apresentou recentemente uma proposta de turismo hidroviário das

nascentes à foz, nos vários estirões navegáveis, desde Iguatama-MG até

Piaçabuçu-AL e Pontal do Cabeço-SE.

Merece destaque ainda a implantação do Pólo de Ecoturismo do Canyon do Rio São

Francisco, que cobre num primeiro momento, um universo de 48 municípios dos

Estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, com população total da ordem

de 1.200.000 pessoas. A proposta do Pólo evoluiu, mantendo-se o título original que

apresenta o ecoturismo como carro-chefe da estratégia, para transformá-lo em uma

área de geração de produtos sustentáveis de toda ordem, a serem consumidos na

região e fora dela.

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3.3.11. Povos indígenas

O Brasil completou 500 anos em 2.000 e ainda ignora a imensa diversidade de

povos indígenas que vivem no país. Estima-se que, na época da chegada dos

europeus, fossem mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas.

Hoje, são cerca de 220 povos que falam mais de 180 línguas diferentes e totalizam

aproximadamente 370 mil indivíduos, correspondendo à cerca de 0,2% da

população brasileira.

A maior parte dessa população distribui-se por milhares de aldeias, situadas no

interior de 614 Terras Indígenas, de norte a sul do território nacional. Na bacia do

São Francisco vivem cerca de 5% destes indígenas, totalizando cerca de 18.000

indivíduos, habitando 22 Terras Indígenas e representando 16 etnias (Quadro 18).

No Estado de Pernambuco estão 53% dos índios da bacia (9561 indivíduos). A

Bahia vem em segundo lugar, com 22% (3998 indivíduos), Alagoas tem 3759

indivíduos totalizando 21%, e Minas Gerais abriga os 4% restantes, com uma

população de cerca de 600 indivíduos apenas.

Dos povos indígenas da bacia merecem destaque os Fulni-ô por serem o único

grupo do Nordeste que conseguiu manter viva e ativa sua própria língua - o Ia-tê. Na

parte central das terra indígena (TI) se encontra assentada a cidade de Águas Belas

rodeada totalmente pelo território Fulniô. São 2.800 índios que vivem nessa TI em

Pernambuco.

Comunidades Quilombolas

Segundo a Associação Brasileira de Antropologia (ABA). o termo remanescente de

quilombo pode ser definido como “grupos que desenvolveram práticas de resistência

na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num

determinado lugar” ou seja, está além do senso comum de movimentos

insurrecionais ou rebelados contra o sistema de trabalho escravista.

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Quadro 18. Terras Indígenas da Bacia Hidrográfica do São Francisco ESTADO Município Terra Indígena Grupo Indígena PopulaçãoAlagoas Água Branca Geripancó Xucuru-Kariri 1.000

São Sebastião Karapotó Karapotó 1.050

Porto Real do Colégio Kariri-Xocó Kariri-Xocó 1.500

Feira Grande Tingui-Botó Tingui-Botó 209

Bahia Muquém de S. Francisco Barra Atikum e Kiriri 32

Glória Brejo do Burgo(abrangemunicípios dePaulo Afonso eRodelas)

Pankarare 793

Kantaruré Kantaruré 260

Quixabá Xukuru-Kariri 126

Paulo Afonso Tumbalala Tucumanduba indefinida

Pankararé(abrangemunicípio deRodelas)

Pankararé 1400

Rodelas Tuxá Tuxá 750

Bom Jesus da Lapa Vargem Alegre Pankararu 87

Ibotirama Ibotirama Tuxá 550

Minas Gerais Rio Pardo de Minas Luisa do Vale Tembé 3

Itacarambi Xacriabá Xacriabá 600

Pernambuco Belém de São Francisco

Carnaubeira da Penha

Mirandiba

Salgueiro

Atikum Atikum 2799

Inajá Fazenda Funil Tuxá indefinida

Kambiwá Kambiwá 1255

Águas Belas Foklassa Fulni-ô 43

Itaíba Fulni-ô (abrange omunicípio deÁguas Belas)

Floresta

Ibimirim

Kambiwá Kambiwá 1255

Buíque Kapinawá Kambiwá 500Cabrobó Truká Truká 909Pesqueira Xukuru

Sergipe Porto da Folha Caiçara/Ilha dePedro

TOTAL 23 municípios 22 terras 16 etnias 17921 habFonte:

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A legislação brasileira já adota conceito acima de comunidade quilombola e para o

reconhecimento destas é necessário somente a auto-identificação, uma vez que a

classificação de comunidade como quilombola não se baseia em provas de um

passado de rebelião e isolamento, mas depende antes de tudo de como aquele

grupo se compreende, se define.

Atualmente no Brasil existem 61 terras tituladas, contemplando 119 comunidades

com um total de 7635 famílias numa extensão de 904,489 hectares titulados

(Comissão Pro-índio, 2004). Os quilombolas do século 21 se esforçam para

preservar - ou mesmo recriar - a cultura de seus antepassados e desenvolver a

economia de suas comunidades, em especial a agricultura, para ganharem a

dignidade de uma vida acima da pura subsistência.

Na bacia do São Francisco estão formalmente localizadas 5 comunidades

remanescentes de quilombos tituladas, correspondendo a 17% do total de

comunidades tituladas do Brasil (Quadro 19).

Existem ainda comunidades quilombolas atendidas pelo Programa Fome Zero em

12 municípios da bacia: São João da Ponte em Minas Gerais; Bom Jesus da Lapa,

Malhada, Rio de Contas, Muquém do São Francisco e Wanderley na Bahia;

Itacuruba e Salgueiro em Pernambuco; Batalha e Poço das Trincheiras em Alagoas;

e Amparo do São Francisco e Porto da Folha em Sergipe.

Comunidade dos Crioulos

A comunidade remanescente Brejo dos Crioulos fica próxima a Montes Claros, no

município de São João da Ponte, Minas Gerais, e é formada pelos grupos locais

Araruba, Arapuim, Cabaceiros, Caxambu, Conrado e Furado Seco.

Os primeiros registros da existência da comunidade datam de meados do século

XVIII. Hoje vivem no local 1.400 pessoas, reunidas em 270 famílias. Os moradores

desenvolveram um sistema peculiar de organização social, cultural e produtiva,

baseada em heranças africanas, indígenas e portuguesas. Eles vivem da atividade

agrícola de subsistência cultivando milho, soja, feijão, mandioca e algumas

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hortaliças.

Quadro 19. Comunidades remanescentes de quilombos tituladas

TerraQuilombola Comunidade Município UF Famílias Área/ha Título/ órgão

expedidor

Rio dasContas

Bananal eBarro doBrumado

Rio de Contas BA 148 1339,2822/12/99

Gov. Estado da Bahiae FCP

Mangal/ BarroVermelho Mangal Sítio do Mato BA 295 7615,16

14/07/00ITERBA e FCP

Rio das Rãs Rio das Rãs Bom Jesus daLapa BA 300 27200

14/07/00FCP

Conceição daCrioulas

Conceição daCrioulas Salgueiro PE 356 16865,07

14/07/00FCP

Mocambo Mocambo Porto da Folha SE 130 2100,5414/07/00

FCPFonte: Comissão Pró-Indío São Paulo, 2004

A Comunidade de Brejo dos Crioulos está em processo de reconhecimento pelo

Ministério Público Federal e pela Fundação Palmares de sua condição de

comunidade remanescente de quilombo.

Comunidade negra rural quilombola Rio das Rãs

A comunidade negra rural quilombola Rio das Rãs é formada por nove

comunidades: Brasileira, Enxu, Bom Retiro, Barreiro do Jacaré, Central, Aribá,

Mucambo, Vila Mariana e Rio das Rãs. Com aproximadamente 590 famílias, em

uma área de 39.000 ha, localiza-se a oeste do estado da Bahia, no município de

Bom Jesus da Lapa, a 970 km de Salvador, Região Econômica do Médio São

Francisco.

Na Comunidade, observa-se a presença de descendentes de índios, que se

associaram com os negros do mucambo Rio das Rãs, denominação regional

empregada pelos negros para definir sua Comunidade, mucambo ao invés de

quilombo.

A principal especificidade do mucambo é localizar-se à margem do rio das Rãs e do

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rio São Francisco, pois o recurso hídrico é necessário ao ciclo de crescimento dos

vegetais e animais, o que possibilita a manutenção da Comunidade.

A região em que se localiza a Comunidade Negra Rural Rio das Rãs é uma área de

fronteira agrícola da Bahia que passou a ser valorizada a partir da década de

setenta, com os financiamentos da Superintendência de Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE), ocorrendo a implantação de empresas agrícolas, fazendas de

gado, projetos de irrigação e outros.

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3.3.12. Agenda 21

Agenda 21 é um instrumento de planejamento para a construção de sociedades

sustentáveis que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência

econômica.

Como resultado de movimentos sociais e ambientalistas articulados com governos

de Estado através da ONU, propõe um novo modelo de desenvolvimento, para o

qual governo e sociedade assumem conjuntamente o compromisso de melhorar a

qualidade de vida do planeta. Assim, o termo “Agenda 21” empregado no sentido de

intenções, desejo de mudança para um novo modelo de civilização para o século

XXI, propõe planos de ação para o desenvolvimento sustentável, com

desdobramentos em diferentes níveis: global, nacional e local.

A ONU propôs o acordo da Agenda 21 global durante a Conferência Mundial sobre

Desenvolvimento e Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Desde

então, o Brasil está entre os 179 países que assinaram o acordo, com o

compromisso de construir e implementar Agenda 21 Nacional.

Em 1997, foi criada no Conselho de Recursos Naturais do Governo Federal a

Comissão de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Nacional –

CPDS, constituída de forma paritária entre governo e sociedade, para conduzir o

processo de construção da Agenda 21 Brasileira. A CPDS promoveu consultas

públicas, sistematizou os resultados, e em 2002, apresentou a Agenda 21 Brasileira,

em 5 linhas estratégicas e 21 ações prioritárias.

Em 2003, o atual governo dá início à implementação do Programa Agenda 21, que

tem sua coordenação na Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento

Sustentável do Ministério do Meio Ambiente.

A Agenda 21 Brasileira está sendo implementada por meio de três linhas de ação,

com metas para concretizar o conceito da sustentabilidade em todos os programas

e níveis de governo, tendo o componente ambiental como tema transversal. A

primeira linha de ação tem como meta implementar as ações prioritárias da Agenda

21 Brasileira; a segunda a promoção para construção e implementação de Agendas

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21 Locais; e a terceira visa a formação continuada em Agenda 21 Local.

Nesse contexto, a compreensão dos papéis do governo e da sociedade na

construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para o país tem

estimulado iniciativas para maior participação da sociedade na formulação e

acompanhamento das políticas públicas.

No nível federal a CPDS foi ampliada para aumentar a representatividade dos

diferentes segmentos sociais e efetivar a transversalidade, reunindo grupos de

trabalho em torno de temas estruturantes, como o da territorialidade. Assim é que as

ações do governo poderão incidir em áreas prioritárias, com a convergência de

programas, como é o caso do Programa de Revitalização da bacia do Rio São

Francisco - PRBHRSF.

No nível local, a cada dia têm crescido as iniciativas de construção de Agendas 21

Locais. O governo tem empregado esforços para estimular, orientar e apoiar as

iniciativas, seja através do acompanhamento realizado pelo Programa Agenda 21,

como pelo fomento que é oferecido pelo Fundo Nacional do Meio ambiente – FNMA.

No território de abrangência do PRBHRSF já existem alguns Fóruns de Agenda 21,

com local constituído, articulados com o Programa Agenda 21 para o alcance das

metas definidas no Componente Sócio-ambiental.

Dessa forma, o comitê de bacia fortalece a parceria articulada por meio de Fóruns

de Agenda 21 Locais, contribuindo para a construção das bases de sociedades

sustentáveis e implementação do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável,

ressaltando a importância do ordenamento territorial, em que a unidade de

planejamento é a bacia hidrográfica.

A proposta da transversalidade torna a parceria fundamental. Agenda 21,

Zoneamento Ecológico - Econômico, Planos Diretores Urbanos, Orçamento

Participativo, e outros, podem e devem caminhar juntos. O conjunto de ações

representa muito mais do que um plano de intervenção local, quando cria as

condições para consolidar cenários futuros construídos coletivamente. Daí a

necessidade do governo de efetivar parcerias e certificar os processos.

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A representatividade atual da CPDS lhe confere legitimidade para definir um

programa de certificação dos processos, o qual está sendo discutido para

implementação, de forma a contemplar diferentes bases geográficas e etapas em

que se encontram as Agendas 21 Locais, desde a sensibilização, criação do fórum

até a implementação do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável aprovado pela

população envolvida.

Com esforço coletivo, o Programa de Revitalização pode tornar-se uma referência

da construção do modelo de desenvolvimento sustentável que queremos. O

estímulo à gestão participativa tem sido mantido por esta rede de cooperandos, para

a execução de planos de ação em parceria, construção de bases de conhecimento

das potencialidades e vulnerabilidades locais, aproximação da sociedade local com

gestores públicos e entre entes federativos para compatibilizar ações na gestão

ambiental, tanto do governo executivo e legislativo, quanto do ministério público e

ações de controle social, enfim, todos os envolvidos em processos de Agenda 21

nos níveis global, nacional e local.

A Agenda 21 Local é um instrumento de planejamento de políticas públicas que

envolvem a sociedade civil e o governo em um processo amplo e participativo de

consulta sobre os problemas ambientais, sociais e econômicos locais e o debate

sobre soluções para esses problemas através da identificação e implementação de

ações concretas que visem o desenvolvimento sustentável local. É um dos principais

instrumentos para se conduzir processos de mobilização, troca de informações,

geração de consensos em torno dos problemas e soluções locais e estabelecimento

de prioridades para a gestão de desde um estado, município, bacia hidrográfica,

unidade de conservação, até um bairro, uma escola.

O processo deve ser articulado com outros projetos, programas e atividades do

governo e sociedade, sendo consolidado, dentre outros, a partir do envolvimento

dos agentes regionais e locais; análise, identificação e promoção de instrumentos

financeiros; difusão e intercâmbio de experiências e definição de indicadores de

desempenho.

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Quadro 20 - Municípios da bacia do São Francisco em processo deimplantação de Agenda 21 Local..

Município UFArapiraca * ALPenedo ALAmérica Dourada BABarreiras BABoquira BACaturama BAChorrochó BACuraçá * BADelmiro Gouveia BAGuanambi BAIbotirama BAJacaraci BAJacobina BAMacaúbas BAParamirim * BARiacho de Santana BASão Félix do Coribe BABelo Horizonte MGBetim * MGCapitólio MGConceição do Mato Dentro * MGCongonhas MGConselheiro Lafaiete MGContagem * MGIlicínia MGJoão Pinheiro MGNova Lima MGOuro Branco MGOuro Preto MGParacatu MGPimenta MGSete Lagoas MGAraripina * PEPetrolina * PEAraripe PEAgenda 21 do Estado de Pernambuco * PE

Fonte:· = financiados pelo FNMA

Na bacia do São Francisco atualmente estão sendo implantadas Agendas 21 Locais

em 15 municípios de Minas Gerais, 15 municípios da Bahia, 3 municípios de

Pernambuco e mais a Agenda 21 deste Estado, e 2 municípios de Alagoas,

conforme representado no Quadro 20.

Para 9 dessas agendas houve financiamento do FNMA. O Estado de Pernambuco

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é a primeira unidade da Federação a consolidar a Agenda 21 Estadual. Foi lançada

no dia 06 de agosto deste ano, contendo planos estratégicos em seis temas

centrais: cidades sustentáveis, gestão dos recursos naturais, combate à

desertificação e convivência com a seca, redução das desigualdades sociais, infra-

estrutura e economia sustentável.

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3.3.13. Reforma Agrária

Na bacia do São Francisco existe um plano de reforma agrária para a região do

Médio São Francisco - MSF, sob jurisdição da Superintendência do INCRA - SR-29.

Essa região compreende 28 municípios, sendo 22 no estado de Pernambuco e 6 no

estado da Bahia, conforme apresentado no Quadro 21.

Quadro 21. Municípios da Região do Médio São Francisco com plano deReforma Agrária.

Município UFAfrânio PEBelém de São Francisco PEBetânia PECabrobó PECarnaubeira da Penha PEDormentes PEFloresta PEIbimirim PEInajá PEItacuruba PEJatobá PELagoa Grande PEMirandiba PEOrocó PEParnamirim PEPetrolândia PEPetrolina PESalgueiro PESanta Maria da Boa Vista PESerra Talhada PETacaratu PETerra Nova PEAbaré BAChorrochó BACuraçá BAGlória BAMacururé BARodelas BA

Fonte:

Essa área faz parte da meso-região do Xingó, criada pelo Ministério da Integração

(MI) para articular ações regionais de desenvolvimento, e alguns dos municípios

estão incluídos na Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) Petrolina –

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Juazeiro, também criada pelo MI, e do Território de Desenvolvimento do São

Francisco, criado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário em conjunto com o

Governo do Estado de Pernambuco.

De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

(CODEVASF), essa região estende-se de Remanso até Paulo Afonso, incluindo as

sub-bacias dos rios Pajeú, Tourão e Vargem, além da sub-bacia do rio Moxotó,

último afluente da margem esquerda do rio São Francisco. As principais cidades

dessa região são Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia, e Petrolina, Ouricuri, Salgueiro

e Serra Talhada, em Pernambuco.

As intervenções federais com reflexo na estrutura fundiária têm sido feitas por três

grandes instituições: CHESF, CODEVASF e INCRA. Embora realizadas por

diferentes motivos, essas intervenções federais proporcionaram uma reestruturação

fundiária na região, beneficiando pequenas famílias produtoras e introduzindo novos

sistemas produtivos.

A criação do “Sistema Itaparica”, composto por 9 perímetros irrigados pela CHESF,

os perímetros irrigados da CODEVASF e sua intervenção no sistemas de produção

das ilhas e a intervenção do INCRA, resultaram na transformação de grandes e

médias propriedades em mais 10.000 novos imóveis rurais, até o ano de 2003.

Nos territórios dos municípios da região do MSF a densidade demográfica é

relativamente baixa. As secas periódicas levaram as famílias a abandonarem o

campo, se deslocando para as sedes dos municípios ou para outras regiões,

prioritariamente, aquelas que empregavam mão-de-obra sem qualificação. Muitas

foram para o pólo de Petrolina/Juazeiro, outras para o Norte, algumas para as

capitais, mas a maioria migrou para o sul do país, especialmente para São Paulo.

Atualmente muitas famílias de agricultores encontram-se morando nas periferias das

sedes dos municípios, mas trabalhando na área rural ou em atividades relacionadas

com a agricultura.

Na região da SR-29 constata-se a existência de apenas um Quilombo reconhecido

pela Fundação Palmares, situado no município de Salgueiro, denominado

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Conceição das Crioulas. Esta área já tem seu polígono definido, e possui decreto de

outorga da Presidência da República. A comunidade é composta por

aproximadamente 630 famílias, sendo 150 na sede e as demais distribuídas no

restante da área, onde se constata a presença de “posseiros”.

A ação imediata do INCRA será a formulação do Projeto de Desenvolvimento do

Quilombo, que será efetivado em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco de

Pesquisas Sociais-FUNDAJ.

Dada a existência de grupos de índios em Cabrobó, Floresta e Mirandiba, o INCRA

pretende desenvolver ações conjuntas com a FUNAI para resolver os problemas de

delimitação de área, assim como trabalhar em ações afirmativas para elevar o papel

social das tribos, começando por atividades produtivas.

Em seu Plano Regional de Reforma Agrária do Médio São Francisco o INCRA

identificou vários problemas, deficiências e carências, indicando como razão

principal para os mesmos as intervenções públicas. Isso porque as instituições

públicas que trabalham na região o fazem sem qualquer articulação. Isto vale para

os três níveis de Governo. Sem esta articulação, a sobreposição e o desperdício de

projetos e recursos é enorme, o que o Governo Federal tem definido como uma

situação a superar para poder assegurar o Desenvolvimento Sustentável.

O Plano, com base na análise dos problemas da região indicou 7 Programas

Básicos visando apoiar a solução destes problemas, a saber:

· Programa de avaliação e reestruturação das intervenções públicas;

· Programa de Assistência Técnica, Extensão Rural e Capacitação;

· Programa de Fomento à Agro-industrialização;

· Programa de Fortalecimento das Cadeias Produtivas;

· Programa de Profissionalização de Jovens e adultos;

· Programa de Manejo Florestal Sustentável, e

· Programa de melhoria da qualidade de vida.

Estes programas serão desenvolvidos e articulados através da Câmara de

Desenvolvimento Sustentável do Médio São Francisco que se constituirá por meio

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dos aportes e participação das entidades vinculadas ao desenvolvimento da região,

levando à frente os 7 programas, e os demais que vierem a ser sugeridos no

decorrer da revisão das intervenções públicas.

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3.4. Caracterização dos problemas

A bacia do Rio São Francisco apresenta, evidentemente, diversos problemas sócio-

ambientais, que envolvem várias questões sociais, ecológicas e econômicas. Muitos

desses problemas estão relacionados principalmente aos sérios conflitos entre os

usuários da água, ao uso irracional e indevido dos recursos natuais e a ausência de

integração e efetivadade na implantação de políticas públicas voltadas ao

desenvolvimento e a sustentabilidade do Velho Chico.

São problemas que apresentam repercussões socioambientais impactantes que

degradam continuamente todo o meio ambiente da região. Do ponto de vista

técnico, foram realizados e concebidos nos últimos anos diversos estudos, planos e

relatórios no âmbito da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, os quais

relacionavam os vários problemas identificados na bacia diretamente associados

com o processo de degradação que vem ocorrendo nesta região.

Dentre os problemas identificados na bacia, alguns são específicos ou

predominantes de determinadas regiões e outros ocorrem em toda a extensão da

bacia do Rio do São Francisco. De todo modo, contribuem para o agravamento das

condições sócio-ambientais da bacia, principalmente devido a uma falta de

coordenação nas ações institucionais e uma permanente desarticulação nas ações

governamentais tanto a nível federal, como estadual e municipal.

Entre estes vários documentos existentes sobre a bacia do Rio São Francisco, que

servem de base para o Programa de Revitalização, devemos destacar o Planvasf, o

DAB, o PAE e principalmente o Plano Diretor da bacia, este ultimo aprovado em

2004 pelo CBH-SF, e cujas informações se somaram aos problemas identificados

também pela população e pelas próprias instituições que já atuam na bacia.

Neste contexto, foram analisados e tomados em conta na preparação do Programa

de Revitalização, entre 2003 e 2004, os vários problemas identificados nos

principais documentos e relatórios sobre a bacia, além dos apresentados pela

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sociedade civil, oriundos dos diversos encontros, audiências e plenárias realizadas

nas quatro regiões fisiográficas da bacia.

Essas várias informações e dados foram também compilados e analisados pelo

Grupo de Trabalho do São Francisco, inclusive com as contribuições oriundas do

Comitê da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Os problemas foram

relacionados por região e posteriormente sistematizados em dez principais

problemáticas sócio-ambientais. Eles serão permanentemente considerados pelas

autoridades governamentais, no processo de implementação do Programa e na

busca de soluções para eliminação ou minimização dos seus respectivos efeitos

negativos, com vista ao desenvolvimento sustentável da bacia.

As informações relacionadas aos principais problemas da bacia foram consolidadas

de duas formas diferentes: uma primeira, mais simplificada e setorial, apresentando

os problemas específicos predominantes, divididos por região fisiográfica, conforme

destacado a seguir; e uma segunda, apresentando no âmbito geral da bacia, os

seus dez principais problemas sócio-ambientais, que poderão ser denominados

também como sendo os dez pecados da bacia.

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3.4.1. Problemas sócio-ambientais predominantes, por região fisiográfica dabacia hidrográfica

Alto São Francisco

(i) A erosão e assoreamento, oriunda de desmatamentos e mau uso do solo, com

aumento da carga de sedimentos que atingem os corpos de água acarretando

problemas de qualidade e assoreamento da calha fluvial; (ii) A concentração urbana,

industrial e de atividades mineradoras, principalmente siderúrgicas; (iii) A poluição

ambiental, pela geração de resíduos e lançamento de esgotos; (iv) A destruição das

áreas de proteção permanente e das florestas naturais, comprometendo o meio

ambiente.

Médio São Francisco

((i) A poluição difusa em razão da agricultura e de esgotos, comprometendo a

qualidade ambiental e das águas superficiais e subterrâneas; (ii) O desmatamento

das áreas de cerrado e caatinga; (iii) A destruição das lagoas marginais; (iv)) O uso

intensivo de água superficial e subterrânea na agricultura irrigada.

Sub-médio São Francisco

(i) A poluição difusa em razão da agricultura e de esgotos lançados inclusive em

corpos d’água intermitentes; (ii) Os resíduos sólidos sem controle e com

destinação final inadequada; (iii) A destruição das matas e escassez de água em

razão da intermitência dos tributários; (iv) A alteração do regime hídrico devido às

barragens.

(ii)

112

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Baixo São Francisco

(i) Os impactos dos reservatórios a montante na ictiofauna, com a perda de

biodiversidade em razão da redução de nutrientes e ausência de cheias que

permitam a ocorrência da piracema; (ii) O desmatamento e erosão das margens e

do leito do rio São Francisco; (iii) A quebra do equilíbrio sedimentológico e de cheias

na foz; (iv) A poluição ambiental urbana, pela geração de resíduos e lançamento de

esgotos;

113

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3.4.2. Principais problemas sócio-ambientais

Os principais problemas existentes em toda a bacia, resultado das compilações e

análises mediante a elaboração do Programa de Revitalização, foram identificados e

sistematizados em dez principais problemas críticos e prioritários da bacia,

detalhados a seguir.

I. Faltam de articulação interinstitucional e intergovernamental

II. Conflitos pelo uso da água

III. Poluição Ambiental

IV. Desmatamento

V. Uso e ocupação inadequada do solo

VI. Redução da Biodiversidade

VII. Erosão e Assoreamento

VIII. Escassez da Água

IX. Ausência de Gestão Ambiental e Planejamento Estratégico

X. Desigualdade e Estagnação socioeconômica

Para cada um dos problemas gerais prioritários relacionados acima, apresentam-se

a seguir comentários, abordando aspectos específicos e ponderações sobre as

possíveis inter-relações identificadas.

I. Falta de articulação interinstitucional e intergovernamental

Falta de integração entre os órgãos governamentais e ausência de coordenação dos

diversos estudos e projetos realizados. Descrédito da população nas ações

governamentais e a frágil educação ambiental e conscientização dos ribeirinhos.

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A articulação institucional reconhecida como principal elemento do Programa e

essencial para a implementação de leis, regulamentos e procedimentos, além de

projetos de desenvolvimento integrado, foi identificada como ausente na bacia. Essa

falta de articulação inclui a frágil capacidade institucional, notadamente no que se

refere a definição dos objetivos e estabelecimento das atribuições dos diferentes

organismos atuantes na bacia e identificação de habilidade das instituições em

exercer suas funções de forma coordenada, articulada e integrada (Figura 23).

Figura 23 - Articulação interinstitucional

II. Conflito pelo uso da água

Conflitos de uso da água e insuficiência para uso múltiplo - Conflitos entre usuários

de água. A bacia do Rio São Francisco, por sua área e os diferentes estágios de

desenvolvimento, é uma bacia de usos múltiplos, o que representa um grande

desafio e exige uma análise do conjunto para que se possa planejar

adequadamente sua gestão e atender a todas as demandas de usos da água.

Portanto, a possibilidade de aumento dos conflitos pelo uso da água na bacia do

São Francisco é cada vez maior, dada a crescente demanda por este recurso,

impondo, assim, a necessidade de se operar o sistema hídrico da bacia de forma a

atender eficientemente os usos múltiplos, estabelecendo as prioridades de uso

conforme preceitua a Lei 9.433/97 (Figura 24).

Figura 24 - Prioridades de uso conforme preceitua a Lei 9.433/97

Nas últimas décadas o governo tem promovido numerosas ações para fomentar o

desenvolvimento da bacia do São Francisco. A maioria delas tem sido do tipo

setorial, de modo que até o presente tem como principais usos a geração de energia

elétrica e a irrigação (Figura 25).

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Figura 25 - Geração de energia elétrica e a irrigação

As principais áreas onde ocorrem conflitos de grande relevância são as sub-bacias

dos rios: das Velhas, Paraopeba, Alto Preto, Alto Grande, Verde Grande, Salitre e o

Baixo São Francisco. De forma geral, esses conflitos envolvem a agricultura irrigada,

a geração de energia (instalação das barragens e operação de reservatórios), o uso

da água para o abastecimento humano, a diluição de efluentes urbanos, industriais

e da mineração e a manutenção dos ecossistemas.

Na região do Alto São Francisco, nas sub-bacias do rio das Velhas e Paraopeba, os

problemas identificados têm origem na mineração e na alta concentração

populacional, que exercem forte pressão sobre os recursos hídricos. Nesse caso, a

diluição de efluentes concorre com outros usos mais nobres, tais como

abastecimento de água, piscicultura e recreação de contato primário.

A utilização da energia hidrelétrica tem procurado ser otimizada em conjunto com

outros usos tais como irrigação, navegação, controle de cheias, lazer e turismo,

qualidade de água e preservação da flora e faunas aquáticas. A discutida

insuficiência deve ainda ser analisada mais profundamente através de um balanço

detalhado de disponibilidades e demandas

Ainda existe, entretanto uma falta de conhecimento sistemático das demandas

setoriais e regionais, presentes e futuras e da disponibilidade do potencial

hidrogeológico e potencial hídrico, principalmente dos cursos de água efêmeros,

para definir com exatidão a dimensão desses vários conflitos.

A geração hidrelétrica na bacia é notável, com aproveitamentos de grande, médio e

pequeno portes e potencial instalado superior a 10.500 MW. Da mesma maneira, a

irrigação exerce uma demanda importante, o abastecimento urbano é significativo,

assim como o uso industrial da água e o potencial desta para o transporte

hidroviário, havendo na bacia mais de 1900 km de vias navegáveis, com destaque

os 1243 km entre Pirapora e Sobradinho.

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No que diz respeito aos usos consultivos há um nítido predomínio da irrigação, com

68% do total da área utilizada na bacia. A Figura 26 permite uma visualização

gráfica da participação de cada setor usuário da água por região da bacia.

. Fonte: Agência Nacional de Águas – ANA. Brasília. 2002. Figura 26. Demanda de uso da água por região fisiográfica

Em resumo, a Figura 26 indica, por região, que o Alto São Francisco reflete uma

vocação urbana industrial em uma parte, e uma vocação rural, em outra. É a típica

situação de usos múltiplos da água. O Médio, o Sub-Médio e o Baixo têm uma

vocação nitidamente rural, com predomínio do uso da água para a agricultura

irrigada.

No que concerne às utilizações não consuntivas, o uso da água para a diluição de

efluentes, ainda que elevado e de padrão fora do admissível, não comparece nas

estatísticas com exatidão, pois estas somente alcançam os usuários que estiverem

outorgados em razão da existência de estações de tratamento.

A estimativa da disponibilidade de recursos hídricos superficiais na bacia é baseada

principalmente nos resultados do projeto “Revisão das séries de vazões naturais nas

principais bacias do Sistema Interligado Nacional – SIN” (ONS 2003), do DAB, do

PAE e do Plano Diretor da bacia. Tais estudos foram complementados, com a base

de dados das Regiões Hidrográficas Brasileiras (SPR/ANA 2003).

A demanda de recursos hídricos na bacia estimada atualmente é de 203 m³/s,

117

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representando 9% da demanda do Brasil. A maior relação entre demanda e

disponibilidade está no Alto São Francisco, onde o valor chega a 19,8%, seguida do

Médio São Francisco (8,5%), do Sub-médio (6,8%) e do Baixo São Francisco

(2,1%).

As maiores vazões de retirada estão nas bacias dos rio das Velhas (13 %), Curaçá

(12 %), Paraopeba (6 %), Pontal (6 %), na bacia do Alto rio Grande (6 %), do rio

Paracatu (6 %), do rio Ipanema e Baixo São Francisco (5 %) e do rio Verde Grande

(5 %). Em relação à vazão consumida, as unidades hidrográficas com maior

consumo são: Curaçá (15 %), Alto rio Grande (7 %), rio Pontal (7 %), rio Paracatu (7

%), rio das Velhas (6 %), Baixo Ipanema e Baixo São Francisco (6 %), Corrente (5

%) e Verde Grande (5 %).

Na bacia do São Francisco, a vazão de retirada (166 m3/s) é distribuída nos

diferentes usos da seguinte forma: 69 % para irrigação, 16 % para abastecimento

urbano, 4 % para uso animal, 9 % para abastecimento industrial e 2 % para

abastecimento rural. Por outro lado, a vazão consumida (105 m3/s) é assim

distribuída: 86 % para irrigação, 5 % para abastecimento urbano, 5 % para uso

animal, 3 % para abastecimento industrial e 1 % para abastecimento rural.

As taxas de retorno na bacia são, em média, de 80 % da vazão para abastecimento

urbano, 50 % da vazão para abastecimento rural, 20 % da vazão destinada à

irrigação, 20 % da vazão para uso animal e 80 % da vazão para abastecimento

industrial. Na sub-bacia do rio Verde Grande, a pressão deve-se à forte expansão da

irrigação, sem planejamento e ordenamento mais adequados do uso do solo e da

água. Atualmente, a área instalada com infra-estrutura de irrigação é maior do que a

bacia pode suportar.

A irrigação como uma das maiores usuárias de água da bacia, tem e terá um papel

preponderante no seu desenvolvimento socioeconômico em bases sustentáveis,

uma vez que não são muitas as alternativas para o semi-árido. Verifica-se,

entretanto que o uso eficiente da água na irrigação necessita ser urgentemente

melhorado, assim como implementadas iniciativas de conservação de água e solo.

A expansão da prática de irrigação tem sido um fator de pressão sobre o uso do

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solo, da água e de substituição da cobertura vegetal; além dos aspectos

relacionados ao uso de agro-químicos (inseticidas, fungicidas, herbicidas e adubos

inorgânicos), que, se utilizados de maneira inadequada, contaminam o solo e as

águas.

Já, a navegação foi fator de desenvolvimento da bacia do rio São Francisco, quando

os cerca de 1900 km de suas hidrovias estimularam o processo de ocupação e a

criação de pólos comerciais.

Nas últimas décadas o uso da hidrovia foi sendo gradualmente desativado, em

função de políticas de transporte que privilegiaram o modal rodoviário e, em

segundo plano, o ferroviário. Estes de certa forma contribuíram para negligenciar a

manutenção da hidrovia.

É conhecido que o transporte hidroviário apresenta vantagens comparativas em

relação aos outros modais. Diante disto deve se analisar a problemática da

navegação integrada com os demais modais, visando aumentar a competitividade

da agricultura irrigada da bacia, especialmente nas regiões Oeste e Sudoeste.

Existem aspectos importantes a serem analisados e que incluem a ausência de

políticas públicas e calado adequado dos canais de navegação. O processo de

assoreamento que causa restrições à navegação é originado pelo inadequado

manejo do solo e deve ser considerado no planejamento da bacia (Figura 27).

Figura 27 - Navegação

São precárias as condições atuais de navegabilidade do rio São Francisco. O rio,

que sempre foi navegado sem maiores restrições entre Pirapora e Petrolina/Juazeiro

(1.312 km), no médio curso, e entre Piranhas e a foz (208 km), no baixo curso, hoje

só apresenta navegação comercial no trecho compreendido entre os portos de

Muquém do São Francisco (Ibotirama) e Petrolina/Juazeiro.

Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por deficiência de calado.

Isso ocorre tanto na entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento

multiplica os bancos de areia e altera as rotas demarcadas pelo balizamento e

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sinalização, e no trecho imediatamente a jusante da eclusa de Sobradinho, onde a

instabilidade de operação da usina hidroelétrica altera freqüentemente as

profundidades disponíveis.

Com relação à barragem de Sobradinho, os seguintes conflitos com a navegação

são evidenciados: (1)no trecho superior do lago de Sobradinho, vem ocorrendo

intenso processo de assoreamento formando o efeito delta, o que torna a rota

imprecisa, desacreditando a sinalização indicativa do canal de navegação e

promovendo freqüentes encalhes; (2) a irregularidade da liberação de descargas

pela barragem de Sobradinho vem provocando contratempos para a navegação no

trecho entre a barragem e as cidades de Petrolina e Juazeiro (às vezes, as

descargas atingem 1.100 m³/s, incompatíveis com os calados praticados pelas

embarcações); (3) os aproveitamentos para geração de energia, desencadeados

com a construção da barragem, também modificaram as condições de escoamento

no Baixo São Francisco, onde a navegação comercial praticamente desapareceu.

A operação da barragem de Três Marias é determinante para a manutenção das

condições de navegabilidade no trecho entre Pirapora e São Francisco. A oscilação

brusca das vazões provoca a instabilidade dos bancos de areia e impede que as

rotas delineadas pela sinalização apresentem a confiabilidade desejada.

Entre Pirapora e Ibotirama, a navegação sofre contínuos reveses, devido ao intenso

e continuado processo de assoreamento que o rio vem apresentando. Além disso,

há a necessidade urgente de se desenvolver e implantar modelos de planejamento

e operação do sistema de reservatórios e aumentar a capacidade de regularização

dos principais afluentes do Médio São Francisco.

Outro conflito potencial devido as alteração do regime hídrico pela operação das

barragens de regularização, já vem ocorrendo com o setor Hidroelétrico, pois os

reservatórios acarretam impactos na ictiofauna e perda de biodiversidade em razão

da redução de nutrientes e do controle de cheias que permitam a ocorrência da

piracema.

Outra questão importante esta nos conflitos advindos de varias atividades

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industriais, principalmente as relacionadas com o setor de mineração, pois o Rio

São Francisco, desde a sua descoberta em 1502, é submetido à exploração

econômica começando pela exploração do ouro, prata, pedras preciosas pelos

bandeirantes e continuando com o ferro, bauxita, calcário e muitos outros minerais

no Quadrilátero Ferrífero, atividades que existem até hoje.

É a única região do país que produz zinco, além de quase a totalidade do cromo,

diamante e agalmatolito que têm ocupado papel importante como suporte

econômico para o país. Entretanto a exploração deste recurso não renovável deixa

um passivo ambiental de valor monetário quase incalculável.

Principalmente as atividades mineradoras e de garimpo, vêm provocando grandes

impactos ambientais através do demastamento, extrativismo vegetal e conseqüente

geração de sedimentos, comprometendo os recursos hídricos com assoreamento e

elevada turbidez das águas, além de carrear os metais pesados (mercúrio) para os

rios, piorando a qualidade de suas águas e alterando importantes áreas de recarga

de aqüíferos. Particularmente no rio Abaeté ocorre ainda intensa atividade de

garimpos. (Sato,Y, 2004).

Outro conflito com as atividades industriais na bacia se dá principalmente com o

setor siderúrgico, que pelo seu processo de produção influencia na destruição das

áreas de proteção naturais e florestas naturais, o que compromete o meio ambiente

e a qualidade da água. Finalmente, a excessiva expansão urbana que vem

acontecendo na bacia, acarreta a geração de resíduos, o lançamento de esgotos e

outros tipos de poluição ao longo do Rio São Francisco e seus afluentes.

III. Poluição ambiental

Um dos principais problemas sócio-ambientais existentes na bacia Hidrográfica, é

justamente o grande índice de poluição ambiental registrada em toda a sua região,

principalmente pela ausência de saneamento ambiental na maioria dos municípios.

Portanto, o combate a poluição representa um dos maiores desafios para a

revitalização do Rio São Francisco.

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Na bacia, em diversos pontos de sua extensão, predominam essencialmente uma

poluição difusa, em razão do lançamento de esgotos sem tratamento, além dos

provenientes de atividades agrícolas e industriais, como também pela disposição

inadequada dos diversos tipos de resíduos sólidos por quase toda a bacia, que

acabam comprometendo intensamente a qualidade ambiental, tanto do solo como

das águas superficiais e subterrâneas.

Cada região fisiográfica da bacia do São Francisco problemas específicos, mas

atualmente por toda a bacia o maior problema se refere à poluição ambiental,

principalmente devido o baixo índice de saneamento ambiental registrado em todas

as regiões. Em vista disso, o Programa de Revitalização apresenta com destaque

uma linha de ação especifica para tratar questões relativas à poluição hídrica e por

resíduos sólidos. Esse enfoque permitiu agregar ainda a problemática da região do

semi-árido, que requer um tratamento especial e qualificado devido às suas

fragilidades e peculiaridades em relação aos recursos hídricos.

Uma das áreas críticas é a sub-bacia do Rio das Velhas, onde esta situada a Região

Metropolitana de Belo Horizonte, onde além da grande contaminação das águas

pelo lançamento de esgotos domésticos e de efluentes industriais, existe elevada

carga inorgânica poluidora, proveniente da extração e beneficiamento de minerais,

embora esteja em operação parcial a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da

sub-bacia do Arrudas, e esteja sendo prevista a ETE da sub-bacia do Onça.

O que ocorre é que nessas sub-bacias mais desenvolvidas, apesar de existir um

certo grau de precisão nos dados de descarga e um elevado nível de urbanização,

ainda é enorme a quantidade de efluentes lançados in natura nos corpos d’água.

Além do quadro de carência de saneamento básico, ocorre em quase toda a bacia,

a disposição inadequada de resíduos sólidos, tanto de origem urbana como também

decorrentes do rejeito de mineradoras e indústrias, que são lançados inclusive em

corpos d’água intermitentes. Infelizmente, decorre que a maioria dos rios das várias

sub-bacias, já vem apresentando a qualidade de suas águas comprometida, como

se observa em rios como Paraopeba, Pará, Verde Grande, Paracatu, Jequitaí,

Abaeté, Urucuia, das Velhas, Corrente e Grande.

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Registra-se ainda o uso indiscriminado de produtos agroquímicos na agricultura. Na

própria área de Sobradinho, por exemplo, a poluição por agrotóxicos e fertilizantes é

intensa. Desta maneira, há uma grande contaminação dos rios que amplifica

intensamente os impactos sobre a fauna aquática da bacia e sobre o

aproveitamento dos recursos hídricos para diversos fins.

IV. Desmatamento Outro grande problema que vem sendo recorrente na bacia do Rio São Francisco ao

longo desses anos é o grande índice de desmatamento das áreas de cerrado,

caatinga e mata atlântica. Inclusive, este último bioma está praticamente exaurido

na bacia. O desmatamento esta provocando uma destruição intensa das florestas

nativas e a degradação das matas ciliares, nascentes e lagoas marginais na região.

O alto índice de desmatamento decorre do avanço da agricultura e da pecuária

extensiva, associada a queimadas e desmatamentos em grandes escalas para a

extração de lenha para o consumo doméstico e industrial, principalmente para uso

da madeira como carvão pelas indústrias em geral, incluindo as de mineração e

siderurgia.

Relacionado ao desmatamento da bacia, merece destaque justamente a demanda

da indústria siderúrgica de ferro gusa sobre o carvão vegetal. Atualmente, só no

município de Sete Lagoas, Estado de Minas Gerais, existem aproximadamente 30

Indústrias de Ferro Gusa, que há mais de quarenta anos influenciam na devastação

do Cerrado, transformando-o em carvão usado como combustível nos fornos dessas

fábricas.

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Segundo o Sindicato dos Promotores e Procuradores de Justiça do Estado de Minas

Gerais, existe uma relação de troca extorsiva entre os proprietários das indústrias e

a população rural que desmata, e que a partir da lenha, faz o carvão. Este é feito de

forma precária e altamente prejudicial à saúde destas populações, inclusive muitas

vezes em condições trabalhistas desfavoráveis. Problemas semelhantes ocorrem

também na Caatinga, principalmente com o uso da lenha na produção do gesso.

Por outro lado, a monocultura do eucalipto foi incentivada na tentativa de minimizar

o efeito impactante em cascata do desmatamento no cerrado e na caatinga, tendo

se expandido muito no século passado a área de plantações de eucalipto. Em 1994,

já existiam 5,6 milhões de hectares de florestas de eucalipto plantadas, as quais por

si só não representam uma solução efetiva para o problema (Faria-

ABRACAVE,1997).

Já as queimadas, principalmente com vistas à expansão das atividades

agrossilvopastoris, infelizmente foram práticas históricas na ocupação regional da

bacia, tornando-se acentuadas a partir do final da década de 1960, quando a

ocupação dos cerrados no Noroeste e Norte de Minas e no Oeste Baiano tornou-se

mais intensa. Esta ocupação agrícola se deu intensamente com a quebra do mito de

que este bioma não tinha potencial para a agricultura. Estima-se que hoje estejam

ocupados 8 milhões de hectares com lavouras temporárias e permanentes.

Outros cerca de 10 milhões de hectares estão ocupados por pastagens. Inicialmente

a pecuária bovina no médio São Francisco começou com o gado leiteiro holandês,

que foi visto tardiamente como impróprio para a região. Além do clima não ser

favorável, esta raça pasta o capim muito rente ao solo, cortando-o quase na raiz,

expondo dessa forma o solo às intempéries, ampliando os efeitos de degradação, já

que o clima regional é bastante árido, causando áreas de solo expostas ao

intemperismo e erosão.

A remoção da cobertura vegetal e o uso do solo para agricultura, sem práticas de

conservação de água e do solo têm contribuído diretamente para o aumento dos

processos erosivos, incluindo a erosão das margens e assoreamento do leito do rio

São Francisco. Estes processos provocam o carreamento de sedimentos para a

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calha dos rios da bacia, alterando significativamente sua capacidade e o seu próprio

leito, com efeitos inevitáveis nas planícies de inundação. Por toda a bacia os

projetos agrícolas e as pastagens não respeitam as áreas das matas ciliares.

V. Uso e ocupação inadequada do solo

A intensa ocupação antrópica da bacia, principalmente nas margens dos rios, para

os mais diversos fins, e o uso inadequado do solo, tanto urbano, quanto rural,

associado às contínuas práticas não-conservacionistas, tem sido uma das principais

causas propulsoras da degradação ambiental da bacia.

No âmbito urbano, a grande maioria das cidades se expandiu sem planejamento,

desrespeitando as leis ambientais e até mesmo as normas de parcelamento urbano.

Grande parte dos municípios da bacia ainda não elaborou seus Planos Diretores ou

Leis de Uso e Ocupação do Solo. Os instrumentos de ordenamento territorial

também são pouco difundidos e a ocupação inadequada do solo favorece uma

grande concentração urbana e industrial, que transcorre na maioria das vezes de

maneira altamente impactante.

Já no âmbito rural, os problemas ambientais mais graves decorrem também do uso

e ocupação inadequada do solo, que contribuem para o aumento da erosão do solo

e o conseqüente assoreamento dos cursos d’água. Até mesmo a má conservação

das estradas rurais contribuem para estes tipos de problemas. A própria degradação

da vegetação natural é uma conseqüência de uma ocupação territorial irracional,

cuja intensidade é variável nas diversas áreas, em função da dinâmica das

respectivas atividades econômicas predominantes em cada região.

Esses aspectos sócio-ambientais extremamente problemáticos foram inclusive

registrados no Plano de Recursos Hídricos da bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco (2004), pois apresenta conseqüências graves no aumento do

desmatamento, na degradação das nascentes e na erosão das barrancas do rio,

além do acúmulo de todos os tipos de rejeitos na bacia.

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Portanto, por todo o Vale do Rio São Francisco, se observa que em decorrência do

mau uso e ocupação das terras da bacia, vem aumentando a geração e o transporte

de volumes cada vez maiores de sedimentos para o rio, que acabam por entulhar a

calha, provocando a instabilidade das margens e a formação de novos bancos de

areia, assim como contribuem para a perda da fertilidade e uma nefasta

compactação do solo. Outro exemplo da má ocupação do solo se constata o

desrespeito generalizado, à manutenção das áreas de Reserva Legal e de

Preservação Permanente, as APPs, na maioria das propriedades rurais da bacia.

VI. Redução da Biodiversidade

Um outro grande problema sócio-ambiental constatado na bacia se refere à redução

da biodiversidade na região, devido à degradação dos seus vários ecossistemas,

principalmente os aquáticos, incluindo a destruição de várias das suas lagoas

marginais e o aumento da pesca predatória com conseqüente declínio dos recursos

pesqueiros da bacia.

Esta degradação ambiental na bacia leva muitas das espécies da fauna e da flora à

sua quase extinção. As obras das hidroelétricas fizeram com que grandes trechos

do rio fossem regularizados, acarretando alterações na vazão natural do rio. As

intervenções ambientais na bacia impactaram negativamente nos períodos de

desova dos peixes. Além disso, afetaram a deposição de sedimentos e outros

elementos dos ecossistemas da bacia. As represas também iniciaram a alteração

dos padrões de erosão e a descarga de nutrientes principalmente nos trechos

inferiores da bacia e sua zona costeira.

O desmatamento também influi na redução das matas ciliares, da flora e da fauna

das bacias e sub-bacias, diminuindo a biodiversidade e principalmente, a quantidade

e qualidade dos recursos pesqueiros que são umas das principais alternativas de

geração de renda para populações ribeirinhas, através da pesca. O desmatamento

reduziu ainda consideravelmente diversas espécies de animais, como primatas,

quelônios, felinos e diversos outros tipos de mamíferos e aves, como a ararinha-

azul.

Adicionalmente, as matas ciliares, que são ambientes propícios à reprodução das

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comunidades, com destaque para as aquáticas, são degradadas ou desaparecem.

Ocorreram, por exemplo, a redução dos estoques pesqueiros, produzindo uma

deseconomia indesejável para a bacia e dificultando mais ainda a luta diária dos que

vivem da atividade da pesca.

Os prejuízos à conservação da biodiversidade são tão sérios, que estão levando o

MMA/IBAMA, através do GT-SF a definir no âmbito do Programa de Revitalização,

áreas estratégicas para a criação e instalação de novas unidades de conservação

na bacia.

A biodiversidade é uma das propriedades fundamental da natureza, responsável

pelo equilíbrio e pela estabilidade dos ecossistemas e fonte também de imenso

potencial de uso econômico. Ela é básica para as atividades agrícolas, pecuárias,

pesqueiras e florestais e também a base para a estratégica indústria da

biotecnologia. É também responsável pelos processos naturais e pelos produtos

fornecidos pelos ecossistemas e pelas espécies que sustentam outras formas de

vida e modificam a biosfera, tornando-a apropriada e segura para a vida.

A diversidade biológica possui além de seu valor intrínseco, valor ecológico,

genético, social e econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético.

Dada a sua importância fica patente a necessidade de se evitar sua perda, o que é

decorrência dos seguintes processos: a) perda e fragmentação dos habitats; b)

introdução de espécies e doenças exóticas; c) exploração excessiva de espécies de

plantas e animais; d) uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos

programas de reflorestamento; e) contaminação do solo, água e atmosfera por

poluentes; e f) mudanças climáticas.

A bacia do rio São Francisco já foi bastante piscosa, tanto na região do alto como na

do baixo curso, assegurando alimentos aos seus habitantes e atraindo muitos

pescadores. Porém à medida que as alterações induzidas pela ocupação humana

avançaram, os estoques de recursos pesqueiros e da biodiversidade foram

reduzindo, praticamente extinguindo a pesca artesanal. Atualmente, as estimativas

indicam uma captura total de peixes em torno de 2.500 t/ano, valor considerado

extremamente baixo.

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A construção da barragem de Sobradinho também provocou mudanças em

atividades econômicas no Baixo São Francisco, devido a redução da ictiofauna, pois

era em função das oscilações do nível do rio, entre o período de cheias e vazantes,

e da coincidência com a estação chuvosa, que decorria a exploração da rizicultura e

dependia a procriação natural dos peixes.

Mesmo com a adoção de medidas artificiais para tentar restabelecer as condições

anteriores à construção do reservatório, por meio de proteção das grandes várzeas

com diques e bombeamento, ora para levar água do rio para elas, ora para drená-

las, a base econômica não foi restabelecida. Posteriormente, com a construção da

barragem de Xingó, pela falta de carreamento de sedimentos, a situação da

ictiofauna se agravou, e praticamente extinguiu a pesca como uma atividade

econômica sustentável nessa região da bacia.

VII. Erosão e Assoreamento

Também foi constatado como um importante problema da bacia, o contínuo

processo de erosão que ocorre em diversas regiões e que tem como principal

conseqüência o assoreamento dos recursos hídricos no Vale do Rio São Francisco.

Há uma grande susceptibilidade dos solos a processos erosivos, principalmente nas

regiões do Alto e Médio São Francisco.

Nessas regiões, os processos de erosão são oriundos principalmente dos

desmatamentos, da má conservação das estradas rurais e do manejo inadequado

do solo pelas práticas agropecuárias e atividades urbanas, resultando pela carga de

sedimentos que são carreados e atingem os corpos de água, acarretando

problemas na qualidade dos recursos hídricos e um grande assoreamento da calha

fluvial, com conseqüências negativas, inclusive para a própria navegabilidade na

bacia.

Nos principais processos de erosão e assoreamento que ocorrem no Vale do São

Francisco, são três os tipos de sedimentos constatados na bacia. Os sedimentos

arenosos são responsáveis pelos grandes bancos de areia ao longo das calhas dos

rios que, em alguns casos, transformam-se em ilhas permanentes em todo o Médio

e Submédio do São Francisco. Ao longo do Médio São Francisco, são responsáveis

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inclusive pela formação de vazante, que corresponde às áreas entre 1 a 3 km da

margem do rio, de faixa de solos arenosos, que dificultam seu aproveitamento sem

grandes investimentos.

Mas, são os sedimentos siltosos que efetivamente provocam o maior volume de

assoreamento, visto que são facilmente carreados pelo escoamento superficial,

porém não ficam em suspensão. Esse material é totalmente depositado nos leitos

dos rios, reduzindo a capacidade de escoamento e provocando inundações

freqüentes nas planícies aluviais, característica marcante do Médio São Francisco;

Já os sedimentos argilosos, são facilmente carreados e geralmente ficam em

suspensão, promovendo a turbidez na água. Esse tipo de sedimento é depositado

quando encontra ambiente propício, como nos remansos dos reservatórios.

Em relação aos reservatórios da bacia, estes provocam impactos no fluxo

hidrossedimentométrico, sendo constatada a concentração de sedimentos em

suspensão, à montante do reservatório de Três Marias de 253 mg/L, enquanto que

em Pirapora, abaixo do reservatório de Três Marias, é de 103 mg/L. Em Bom Jesus

da Lapa, é de 250 mg/L, e em Juazeiro, após Sobradinho, 47 mg/L.

Portanto, até o reservatório de Sobradinho, o rio São Francisco apresenta altas

concentrações de sedimentos, enquanto que à jusante, o rio apresenta redução

considerável de carga sólida, e, conseqüentemente da concentração de sedimentos.

VIII. Escassez da água

No âmbito da bacia, apesar de parecer contraditório, vem sendo constatado um

fenômeno crescente da escassez da água devido a vários motivos relacionados ao

uso irracional dos recursos hídricos, que tem levado à escassez das suas águas em

várias de suas sub-bacias e os constantes desperdícios no uso das águas

disponíveis na bacia.

Outras importantes razões são: o uso intensivo de água superficial e subterrânea na

agricultura irrigada e a perfuração indiscriminada de poços resultando numa

exploração desordenada da água subterrânea, dissociada da superficial, assim

como a falta de água para abastecimento de comunidades mais pobres do semi-

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árido e a escassez de água em razão da intermitência dos tributários.

Para uma melhor compreensão sobre a escassez da água na bacia, devemos

observar que atualmente toda a disponibilidade hídrica na bacia hidrográfica do rio

São Francisco é de 7.024m³/habitante/ano. Se considerarmos o aporte de água por

área fisiográfica e sua população, a maior disponibilidade hídrica encontra-se no

Médio São Francisco, com 15.167m³/habitante/ano, apesar de estarem aí

localizadas as sub-bacias com as menores contribuições hídricas de toda a bacia.

Em seguida vem o Alto São Francisco com 6.003m³/habitante/ano, acompanhado do

Baixo com 1.172 m³/habitante/ano e do Sub-médio com 899 m³/habitante./ano. A

Figura 28 mostra a distribuição da disponibilidade hídrica (m³/habitante/ano) na

bacia.

Figura 28 - Distribuição da disponibilidade hídrica (m³/habitante/ano) na bacia.

Já a rede fluvial do São Francisco, embora não muito densa quando considerada a

área total da bacia, conta com cursos d’água de segunda ordem de grande vazão.

Pelo menos sete desses afluentes têm vazão média acima de 100 m3/s, cuja

contribuição é em média de 1.506m3/s, equivalente a aproximadamente 73% da

vazão regularizada a jusante de Sobradinho.

Deve-se ressaltar que o uso dos recursos hídricos superficiais, principalmente para

a atividade de irrigação, intensificou o número de pedidos de outorga de água em

alguns Estados inseridos na bacia. Já existem rios na bacia que atingiram o limite

máximo de vazão de captação, não permitindo mais haver liberação de outorga,

sendo este quadro a tradução mais direta do grande problema que vem a ser a

escassez da água na bacia. A partir deste quadro, vários produtores rurais têm

procurado utilizar as águas subterrâneas através da perfuração de poços profundos,

o que agrava ainda mais a situação ambiental na bacia.

Vários destes poços registram vazões significativas, estimulando assim a abertura

desordenada e sem controle de novos poços. Atualmente não existem estudos que

definam os parâmetros hidrodinâmicos da maioria dos aqüíferos, bem como as

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áreas e o volume de descarga, a sua potencialidade, e a relação entre as águas

subterrâneas e as águas superficiais. Com isto faz-se necessário o levantamento

quantitativo de utilização das águas subterrâneas, cadastrando os poços já

perfurados e controlando a perfuração de outros, complementando com o

conhecimento da disponibilidade dos recursos superficiais (Figura 29).

Figura 29. Poços

Apesar da bacia do São Francisco ser vasta e complexa, cerca de 343.784 km2 da

bacia do São Francisco, ou seja, 53,8% estão incluídas no Polígono das Secas,

compreendendo 251 municípios e mais de 5.680.000 habitantes. Uma das

particularidades do semi-árido da bacia consiste na presença de rios intermitentes,

significando que a disponibilidade natural de vazão para diluição dos esgotos é

muito baixa ou nula.

Em consulta à base de dados geográficos da bacia, pode-se verificar que 125

municípios encontram-se nas margens desses rios, não dispondo, portanto, de

cursos d’água perenes ou regularizados para o lançamento dos efluentes. A falta de

água pode ser um risco potencial elevado à saúde pública devido falta de opção de

manancial alternativo. Assim, o lançamento de efluentes nessa circunstância deve

ser visto com cautela.

Portanto, é necessário melhorar as coberturas de água e esgoto, assim como a de

coleta de lixo das localidades da bacia, com destaque para o semi-árido. A situação

é mais crítica na zona rural e nos pequenos municípios, em que o abastecimento de

água, nas épocas de estiagem mais severa, só é garantido através de carros-pipa.

Tendo em vista o contexto da região, é preciso criar alternativas de melhoria das

condições de vida dos cidadãos levando em consideração as suas peculiaridades.

Alternativas tradicionais de abastecimento de água não são viáveis, para a

população difusa na bacia, devido aos elevados custos.

Portanto, deve-se recorrer a tecnologias alternativas, com participação social,

adaptadas à realidade local, de modo a garantir suprimento de água confiável à

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população rural local, como por exemplo, sistemas simplificados de abastecimento

de água e dispositivos alternativos para coleta de água da chuva.

IX. Ausência de planejamento estratégico e gestão ambiental

Um outro grande problema sócio-ambiental da bacia se evidencia na ausência de

planejamento estratégico e de gestão ambiental na implementação das ações

governamentais e das diversas políticas publicas que são efetivadas na região. A

superação desta problemática representa uma importante iniciativa, altamente

estruturante para a revitalização do rio São Francisco e para o Programa Federal de

Revitalização de Bacias Hidrográficas com Vulnerabilidade Ambiental.

Para a solução destas deficiências será necessária a implantação de um

planejamento integrado e participativo, associado à efetivação de um gerenciamento

ambiental permanente, principalmente dos recursos hídricos da bacia

potencializados por uma maior eficiência no controle e fiscalização ambiental na

região por parte dos órgãos públicos.

A bacia do rio São Francisco é uma área muito complexa, cujo desenvolvimento

histórico infelizmente ocorreu de maneira tumultuada e segmentada, com pouco ou

nenhum planejamento estratégico ou integrado e sem a efetivação de políticas

publicas que considerassem a variável ambiental e visassem um desenvolvimento

sustentável para a bacia. Além disso, as ações governamentais sempre foram

efetuadas dentro de uma estrutura institucional relativamente frágil e desarticulada.

Isto resultou numa grande degradação ambiental da bacia. Portanto, procurar

superar essas debilidades será ponto fundamental para a implementação do

Programa de Revitalização da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Figura 30).

Figura 30. Implementação do Programa de Revitalização da baciaHidrográfica do Rio São Francisco

X. Desigualdade e estagnação socioeconômica

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Finalizando os principais problemas sócio-ambientais constatados na bacia, se

destaca a situação socioeconômica da bacia, onde predomina uma grande e

evidente desigualdade e estagnação sócio-ambiental nas suas diversas regiões,

com ocorrência de bolsões de pobreza e miséria agudas, principalmente no meio

rural do semi-árido.

O próprio Diagnóstico Analítico da bacia – DAB apontou esses paradoxos, uma vez

que na bacia se convive com áreas contraditórias de riqueza e pobreza, densidades

demográficas altas em contraste com vazios demográficos, áreas altamente

industrializadas e áreas de predominância de agricultura de subsistência, entre

outras.

Colaboram essencialmente para isso as diversas ações implementadas pelos vários

órgãos públicos voltados para o desenvolvimento da bacia, em todos os níveis de

governo, que sempre atuaram de maneira excessivamente setorizada, com pouca

preocupação de conceber um modelo de desenvolvimento integrado, planejado e

sustentável. Isto devido, em grande parte, ao estilo de desenvolvimento adotado até

então para a área da bacia, dissociado de compromissos com a inclusão social e a

preservação e sustentabilidade ambiental.

Os problemas socioeconômicos ainda continuam, ao mesmo tempo em que têm

surgido problemas ambientais significativos, os quais deverão ser enfrentados de

maneira articulada no âmbito do Programa de Revitalização, tanto pela União, como

pelos Estados e Município da bacia (Figura 31).

Figura 31. Articulação

Este problemático panorama socioeconômico da bacia pode ser claramente

observado a partir de três indicadores: o primeiro, é a taxa de mortalidade infantil

(por 1.000 nascidos vivos), que apresenta variações entre 25,66 (MG) e 64,38 (AL),

em sua maior parte, com valores superiores à média nacional, que é de 33,55

(IBGE, 2000).

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O segundo é o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que varia entre 0,633

(AL) e 0,844(DF). Em nível municipal, existem municípios com índice 0,343, e a

média brasileira é de 0,769.

O terceiro é o Produto Interno Bruto – PIB per capita que contempla variações entre

R$ 2.275 (US$ 758 em AL) e R$ 5.239 (US$ 1.746 em MG), enquanto a média

nacional é R$ 5.740 (US$ 1.913/IBGE, 1999).

Os principais problemas que ameaçam os ecossistemas da região do Vale do Rio

São Francisco, demonstram a estreita relação entre degradação ambiental e

degradação social. Um dos exemplos é o problema com a qualidade das águas dos

rios, o tratamento do lixo urbano e o déficit de saneamento básico.

Convém ressaltar que o desenvolvimento socioeconômico da bacia, principalmente

na região semi-árida é ainda negativamente influenciado pelas adversidades

climáticas, que têm gerado, com freqüência, episódios de seca de média e longa

duração além das enchentes no Alto São Francisco que acarretam mortalidade e

prejuízos econômicos. Aliada às adversidades climáticas, ressalta-se a inexistência

de uma política eficiente e continuada de gestão dos recursos ambientais da região.

Esses aspectos têm contribuído sensivelmente para aumentar a desigualdade social

e a vulnerabilidade do Semi-árido brasileiro, com graves conseqüências para a

população, trazendo prejuízos econômicos e sociais para a bacia.

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