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MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
PROCURADORIA-GERAL ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Av. Presidente Getúlio Vargas, 690 – Ed. Dr. Múcio Vilar Ribeiro Dantas, 8º andar
CEP 59012-360 – Petrópolis, Natal/RN
Site: www.tce.rn.gov.br / E-mail: [email protected] / Fone: (84) 3642-7293
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE:
O PROCURADOR-GERAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE
CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, fazendo uso das
prerrogativas institucionais que lhe são outorgadas pela Constituição Federal,
especificamente em seus artigos 70, caput, e parágrafo único; 71, II e IX; e 130, bem
assim, pela Lei Complementar nº 178/00, artigo 3º, I, II e IV, e ainda pelos artigos 65, III e
81, V, da Lei Complementar nº 464/2012 vem, perante Vossa Excelência, requerer que esta
Corte determine a instauração de
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL
A ser conduzida pela CONTROLADORIA GERAL DO ESTADO – CONTROL no
âmbito do PODER EXECUTIVO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,
englobando Administração Direta e Indireta a ele vinculadas, pelas razões fático-jurídicas
apresentadas a seguir.
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I – DOS FATOS
Aos 02 dias de setembro de 2015, o Ministério Público Estadual deflagrou
operação denominada “Candeeiro”, por meio da qual se pretendeu desbaratar esquema de
desvio de recursos públicos no Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente
do RN (IDEMA) entre os anos de 2013 e 2014.
No curso da investigação, foram constatadas irregularidades graves no
âmbito daquele órgão, tendo os investigados confessado em depoimento (vide DVD´s
anexo, com a íntegra do procedimento investigatório) o modus operandi para por em
prática o desvio de recursos públicos. Tal esquema se dava, segundo os depoimentos dos
ex-funcionários, na abertura de conta não informada no Sistema Integrado para
Administração Financeira do Estado (SIAFI), na qual recursos públicos eram captados e
utilizados para pagamentos irregulares.
Tais pagamentos, por sua vez, eram realizados mediante ofício à instituição
financeira (cf. ofícios e autorização para liberação de créditos ora anexadas), que efetivava
a transferência dos recursos públicos às empresas neles indicadas. As operações, no
entanto, não eram registradas no SIAFI, o que impedia o controle interno e externo de
verificar a correição da despesa pública.
Em depoimento nos autos do Procedimento de Investigação Criminal n.º
007/2015, da 46ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de
Natal/RN, a Sra. Zenilda de Carvalho Nunes, bolsista do IDEMA, apontou que (v. doc.
anexo):
“QUE quando se encaminha a prestação de contas anual ao
TCE, encaminha-se um extrato da conta, contudo, ele não é
detalhado (...) QUE não existe um detalhamento minucioso das
contas, vez que o balanço é alimentado unicamente com as
informações do SIAF; QUE acredita que, em havendo
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pagamentos não registrados no SIAF, para que as contas
batam ao final seria necessária a exclusão destes pagamentos
do balanço a ser apresentado; que o pagamento por ofício não
gera ordem bancária, sendo o procedimento correto a emissão
de ordem bancária regularizadora, via SIAF, para o registro
da despesa efetuada através do ofício”.
O Sr. Haroldo Ribeiro Dantas, gerente da agência setor público do Banco do
Brasil em Natal/RN, por sua vez, no mesmo procedimento de investigação criminal
supracitado (v. depoimento na íntegra em anexo), aduziu que:
“(...) sabe dizer que não chega a ser uma prática
excepcional [a movimentação financeira de contas
públicas através de ofícios]; QUE, em relação ao Banco
do Brasil, sabe dizer que há um produto para o Setor
Público chamado OBN, o qual possibilita a emissão de
ordens bancárias eletronicamente; QUE tal sistema exige
ainda algo chamado RE, que nada mais seria que a
autorização de liberação das ordens emitidas – sendo esta
a fase de checagem das assinaturas; QUE esse sistema é
disponibilizado aos órgãos públicos, mas não sabe dizer
se há qualquer obrigatoriedade, para os órgãos
estaduais, quanto à utilização dessa ferramenta; QUE a
gestão do órgão estadual encaminhava, via ofício, lista
das pessoas habilitadas a movimentar a conta, com a
respectiva portaria de nomeação, obviamente com base
em regulamento interno que discipline o funcionamento e
atribuição desses órgãos; QUE nesse caso da ordem de
pagamento via ofício, a transferência para outro banco é
feita, via TED, no caixa do banco (...)”.
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Como se vê, há grave fragilidade no sistema de controle desse tipo de gasto
público, qual seja, o pagamento mediante ofício, o que naquele caso específico acarretou
provável desvio de recursos públicos na ordem de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de
reais), e que enseja, necessariamente, a atuação desta Corte de Contas com vistas verificar
e prevenir a reincidência do mesmo tipo de prática.
A medida agora adotada pelo Ministério Público de Contas se dá, nesse
contexto, em virtude da necessidade de verificação da repetição desses procedimentos
irregulares em outros órgãos públicos estaduais, o que tem o condão de acarretar grave
dano ao erário, em volume muito superior aos quase R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de
reais) apontados pelo Ministério Público Estadual em sua meritória atuação já mencionada.
Destarte, tem-se nítido preenchimento de matriz de risco com grande
potencial danoso, pois é preciso averiguar se o procedimento ilícito que foi detectado no
IDEMA estaria a ocorrer também em outros órgãos do Estado do Rio Grande do Norte, o
que há de ensejar a diligente atuação desta Corte de Contas.
Feito tal retrospecto procedimental, o parquet de Contas passa a explanar as
razões fático-jurídicas pelas quais entende fundamental a determinação de instauração de
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL no presente caso.
II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA:
II.1 – PRELIMINARMENTE: DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
DE CONTAS PARA REQUERER A INSTAURAÇÃO DE TOMADA DE CONTAS
ESPECIAL.
Prefacialmente, cumpre destacar ser outorgada ao Ministério Público de
Contas a prerrogativa de requerer a instauração da Tomada de Contas Especial, consoante
prescreve o art. 3º, IV da Lei Complementar Estadual nº 178/2000:
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Art. 3.º. Compete ao Ministério Público junto ao Tribunal de
Contas, no exercício de sua função institucional:
(...)
IV - provocar, motivadamente, a realização de inspeções,
instauração de processos de tomada de contas e tomada de
contas especial e de penalização por multa;
Sendo certa e indiscutível a atribuição do MPC para ultimar tal
requerimento, deve-se passar à exposição jurídica acerca da viabilidade de seu
processamento no caso trazido ao conhecimento de Vossas Excelências.
II.3 – DO CABIMENTO DA TOMADA DE CONTAS ESPECIAL.
No âmbito do microssistema processual do TCE/RN, a Tomada de Contas
Especial tem espaço na hipótese prevista no art. 65, III e parágrafo único, da Lei Orgânica
desta Corte (LCE nº 464/2012):
“Art. 65. Para os efeitos deste Capítulo, consideram-se:
(...)
III - tomada de contas especial, a que, em caráter de urgência,
é determinada pelo Tribunal ao órgão central de controle
interno, à vista de alcance ou desvio de dinheiro, bens ou
valores públicos, ou de qualquer ato ilegal, ilegítimo ou
antieconômico, lesivo ao erário, a fim de que, no prazo fixado
pela decisão, adote providências para apurar os fatos,
identificar os responsáveis e quantificar o dano.
Parágrafo único. No caso do inciso III, o resultado da tomada
de contas especial é encaminhado ao Tribunal, no prazo de
quarenta e oito horas, a contar de sua conclusão.”
Antes, porém, de ingressar precisamente no exame do enquadramento da
hipótese em tela na disciplina prevista no dispositivo transcrito, convém tecer breves
comentários acerca dos fatos que ensejaram a presente representação.
Em virtude da deflagração da operação ministerial anteriormente citada,
descortinou-se esquema grave de desvio de recursos públicos de grande monta, em
aparentemente fácil burla aos procedimentos de controle interno e externo da
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administração pública, permitindo a ocorrência de dano ao erário em grande monta. Essa
violação dos controles, repise-se, de aparência fácil, pode estar se repetindo nos diversos
órgãos da administração estadual, ensejando a atuação desta Corte de Contas com o fito de
identificar os pontos frágeis, aprimorando os mecanismos de fiscalização e da própria
gestão dos recursos públicos.
Feitas estas considerações, oportuno também é o registro de que, como se
sabe, o Estado do Rio Grande do Norte, de maneira generalizada, encontra-se em situação
crítica, na medida em que vem atravessando grave crise financeira e econômica, o que,
inclusive, impulsionou esta Procuradoria-Geral a instaurar uma série de procedimentos
junto a este Tribunal de Contas, justamente com o objetivo de promover o
restabelecimento do equilíbrio nas finanças públicas e, por conseguinte, do desempenho da
administração para que a prestação dos serviços públicos sejam eficazes e devidamente
prestados à população.
Por estas razões é que este Órgão Ministerial entende oportuna e
imprescindível a atuação no presente contexto.
Ora, consoante já exposto, as informações obtidas pelo Ministério Público
Estadual e compartilhadas com este Ministério Público de Contas, no tocante aos gastos
públicos e pagamentos mediante ofício, corroboram a fragilidade dos sistemas de controle,
não só no caso já citado, mas recentemente também no caso da contratação das Estruturas
Temporárias para o Estádio Arena das Dunas, quando da realização da Copa do Mundo de
2014 (processo nº 007320/2014-TC), o que ensejou o Acórdão nº 602/2014-TC, de 30 de
outubro de 2014, nos seguintes termos:
EMENTA: ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO.
REPRESENTAÇÃO MINISTERIAL. EXECUÇÃO DOS
CONTRATOS DECORRENTES DOS PROCEDIMENTOS
DE RDC Nº 001, 002 E 003/2014, DO DER/RN.
ESTRUTURAS TEMPORÁRIAS PARA A COPA DO
MUNDO FIFA 2014 EM NATAL. INSPEÇÃO
EXTRAORDINÁRIA IN LOCO. MEDIDA CAUTELAR DE
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BUSCA E APREENSÃO DECIDIDA
MONOCRATICAMENTE. SUBMISSÃO AO PLENÁRIO,
PARA FINS DE REFERENDUM. RESULTADO DA
INSPEÇÃO. PLEITO CAUTELAR DE SUSPENSÃO DE
PARTE DOS PAGAMENTOS. PREÇOS EM DESACORDO
COM OS DE REFERÊNCIA. EXECUÇÃO PARCIAL DOS
ITENS CONTRATADOS. PAGAMENTO REALIZADO
MEDIANTE OFÍCIO, SEM REGISTRO NO SIAF. RAZÕES DE DEFESAS PRELIMINARES
INSUBSISTENTES. PRESENÇA DE ELEMENTOS QUE
SINALIZAM SOBREPREÇO/SUPERFATURAMENTO.
PAGAMENTOS EM PROCESSAMENTO. RISCO DE DANO
AO ERÁRIO ESTADUAL. FUMUS BONI IN IURE E
PERICULUM IN MORA CONFIGURADOS. ORDEM DE
SUSPENSÃO CAUTELAR DE PARCELA DOS
PAGAMENTOS AO INVÉS DE PRESTAÇÃO DE
GARANTIA, DADO ATENDER MELHOR AO INTERESSE
PÚBLICO. DETERMINAÇÃO AO DER-RN QUE SE
ABSTENHA DE EFETUAR PAGAMENTOS POR
OFÍCIO, SOB PENA DE MULTA. EXPEDIENTES
NECESSÁRIOS.
Em vista disso, conclui-se que o Estado do Rio Grande do Norte, como um
todo, encontra-se sujeito à ocorrência das práticas ilegais vislumbradas no IDEMA,
mostrando-se, portanto, essencial, a realização de fiscalização no âmbito do controle
interno, fundando-se o pleito ora formulado no risco de o mesmo modus operandi
detectado naquele caso ter ou estar se repetindo em outros órgãos estaduais.
Destarte, resta demonstrado o enquadramento da situação exposta na
previsão contida no art. 65, inciso III, da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado,
haja vista a facilidade na operacionalização de esquema de desvio de dinheiro público no
âmbito da administração indireta do RN, o qual pode estar a espraiar-se no âmbito de toda
a administração pública estadual, sendo patente a possibilidade de ocorrência de
ilegalidades aptas a ocasionarem grave dano ao patrimônio público.
Assim, se aquilo que se viu ocorrer no IDEMA não está ocorrendo nos
demais órgãos do Estado do Rio Grande do Norte, tem-se energia potencial elevada, pronta
para virar energia cinética. Ou seja, todos os elementos estão postos para que as mesmas
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irregularidades ocorram em outros órgãos – isto se o modus operandi registrado alhures já
não está ocorrendo, repita-se.
Neste contexto, ressalte-se a importância de ser averiguada na Tomada de
Contas Especial que ora se requer (i) as despesas públicas procedidas mediante ofícios
direcionados diretamente aos bancos, em detrimento das normas de Direito Financeiro
quanto ao controle da despesa pública e (ii) a existência ou não de “contas-fantasmas” na
Administração Pública Estadual, eventualmente desconhecidas pelo Sistema Integrado
para Administração Financeira do Estado (SIAFI).
De igual sorte, é imperioso apurar concretamente quais procedimentos são
adotados pelos órgãos da administração pública estadual tanto (i) para abertura de contas
movimento em instituições financeiras, quanto (ii) para a efetivação de pagamentos
mediante ofício, sendo que, neste último caso, é necessário apurar ainda (iii) quais os
procedimentos adotados também pelo banco detentor da conta quanto aos requisitos e
informações solicitadas e checadas no momento da efetivação do pagamento.
Desta feita, uma vez mais se manifesta o parquet de Contas, pugnando pela
realização de Tomada de Contas Especial, a fim de que seja averiguada a regularidade das
contas mantidas pela administração pública estadual em instituição financeira.
Diante de tais considerações e levando em conta as graves apurações feitas
pelo Ministério Público Estadual no âmbito do IDEMA, em virtude da falta de controle
interno exercido pelo órgão nos procedimentos em questão e, em consequência, nos
recursos envolvidos, aliada à necessidade de conhecimento, por esta Corte de Contas, dos
procedimentos em prática nos casos em tela, para fins de fiscalização da sua regularidade,
mostra-se imperiosa a instauração do procedimento ora requerido.
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II.4 – DA MEDIDA CAUTELAR.
De plano, observa-se, nitidamente, que concorrem nos presentes autos os
requisitos legais permissíveis à concessão medida cautelar, tornando apta a cessação dos
efeitos lesivos ao interesse e patrimônio públicos subsistentes conquanto permaneçam
sendo procedidos pagamentos mediante ofício
De fato, o fumus boni iuris resta caracterizado pelas inúmeras
irregularidades já detectadas no âmbito do IDEMA, mesmo no bojo de um juízo de
delibação, demonstrando cabalmente que a continuidade da mera possibilidade é
absolutamente contrária ao interesse público e violador dos princípios da economicidade,
eficiência e moralidade.
Consoante já dito linhas atrás, esta Corte de Contas já se deparou com
irregularidades operadas em pagamentos efetivados por ofícios diretos ao banco no caso da
contratação das Estruturas Temporárias para o Estádio Arena das Dunas, quando da
realização da Copa do Mundo de 2014 (processo nº 007320/2014-TC), o que ensejou o
Acórdão nº 602/2014-TC, de 30 de outubro de 2014, que determinou a suspensão, naquele
caso, dos pagamentos mediante ofício. Vejamos:
EMENTA: ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO.
REPRESENTAÇÃO MINISTERIAL. EXECUÇÃO DOS
CONTRATOS DECORRENTES DOS PROCEDIMENTOS
DE RDC Nº 001, 002 E 003/2014, DO DER/RN.
ESTRUTURAS TEMPORÁRIAS PARA A COPA DO
MUNDO FIFA 2014 EM NATAL. INSPEÇÃO
EXTRAORDINÁRIA IN LOCO. MEDIDA CAUTELAR DE
BUSCA E APREENSÃO DECIDIDA
MONOCRATICAMENTE. SUBMISSÃO AO PLENÁRIO,
PARA FINS DE REFERENDUM. RESULTADO DA
INSPEÇÃO. PLEITO CAUTELAR DE SUSPENSÃO DE
PARTE DOS PAGAMENTOS. PREÇOS EM DESACORDO
COM OS DE REFERÊNCIA. EXECUÇÃO PARCIAL DOS
ITENS CONTRATADOS. PAGAMENTO REALIZADO
MEDIANTE OFÍCIO, SEM REGISTRO NO SIAF. RAZÕES DE DEFESAS PRELIMINARES
INSUBSISTENTES. PRESENÇA DE ELEMENTOS QUE
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SINALIZAM SOBREPREÇO/SUPERFATURAMENTO.
PAGAMENTOS EM PROCESSAMENTO. RISCO DE DANO
AO ERÁRIO ESTADUAL. FUMUS BONI IN IURE E
PERICULUM IN MORA CONFIGURADOS. ORDEM DE
SUSPENSÃO CAUTELAR DE PARCELA DOS
PAGAMENTOS AO INVÉS DE PRESTAÇÃO DE
GARANTIA, DADO ATENDER MELHOR AO INTERESSE
PÚBLICO. DETERMINAÇÃO AO DER-RN QUE SE
ABSTENHA DE EFETUAR PAGAMENTOS POR
OFÍCIO, SOB PENA DE MULTA. EXPEDIENTES
NECESSÁRIOS.
À evidência, já ressalta a fumaça do bom direito o fato da ocorrência de
irregularidades no âmbito daquele órgão, que ensejaram desvios na ordem de R$
20.000.000,00 (vinte milhões de reais), o que se alia ao precedente ora citado.
Além disso, os próprios depoimentos prestados pelos agentes envolvidos
naquela fraude denotaram, como dito, uma facilidade no manejo de procedimentos
desvirtuados e fora dos controles internos e externos, fato que, de per si, permite a adoção
de medidas rígidas para retomar o bom controle dos gastos públicos.
Ou seja, há sim indícios de fraude, os quais deverão ser apurados no
momento oportuno, mas que desde já colocam em xeque a validade do procedimento de
pagamento mediante ofício diretamente ao banco, ensejando a concessão da medida
liminar.
Registre-se, por oportuno, que a concessão de medida cautelar pelo
Tribunal de Contas não constitui simples recomendação, mas, ao contrário, detém
força cogente determinatória à autoridade pública a que for dirigida seu cumprimento,
como objetivamente assinalado pelo Supremo Tribunal Federal, verbis:
“Reconheço que a deliberação do E. Tribunal de Contas da
União, no caso, analisada em seu conteúdo material, não
veicula mera recomendação (como sugere a ora impetrante),
mas consubstancia, no ponto versado na presente impetração
mandamental, clara determinação (v. itens ns. 9.4 e 9.5 do
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Acórdão 2338/2006 - fls. 58/59) dirigida à própria Companhia
das Docas do Estado da Bahia - CODEBA.
(...)
Ocorre, no entanto, tal como por mim precedentemente
assinalado, que a deliberação do E. Tribunal de Contas da
União, ora questionada nesta sede mandamental, traduz, na
espécie em exame, determinação, que, por efeito de sua
natureza mesma, revela-se impregnada de caráter impositivo
(MS 26547/DF, STF, Min. Relator Celso de Mello, DJU
29.5.2007).”
Diante de tudo quanto se extrai nestes autos, observa-se claramente que
existem fundados indícios de que a prática pode ser facilmente replicada em outros órgãos
da administração direta e indireta vinculados ao Poder Executivo Estadual, o que só traria
prejuízos ao Poder Público, restando configurado o fumus boni iuris a ensejar o
deferimento da medida cautelar.
No que tange ao periculum in mora, este se encontra igualmente presente
nos autos, inclusive em virtude do modus operandi já confessado pelos agentes envolvidos,
aduzindo que os sistemas de controle aparentemente são de fácil burla.
Para caracterizar bem a imperiosidade da concessão do provimento cautelar
ora requerido, vale enfatizar o escólio de Hely Lopes Meirelles1 que, embora inscrito em
obra sobre mandado de segurança, tem plena adequação à postulação cautelar aqui
articulada, in verbis:
“A liminar não é uma liberalidade da Justiça; é medida
acauteladora do direito do Impetrante, que não pode ser
negada quando ocorre seus pressupostos.” (...) “Se é certo que
a liminar não deve ser prodigalizada pelo judiciário, para não
entravar a atividade normal da administração, também não
deve ser negada quando se verifiquem seus pressupostos legais
para não se tornar inútil o pronunciamento final a favor do
impetrante. Casos há – e são frequentes – em que o tardio
reconhecimento do direito do postulante enseja tal
aniquilamento. Em tais hipóteses, a medida liminar impõe-se
como providência de política judiciária, deixada à prudente
discrição do juiz.”
1 MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 27.ed. São Paulo: Malheiros, 2004.p.78-80.
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Ainda no âmbito da imperiosidade da suspensão dos procedimentos de
pagamentos mediante ofício no âmbito do Poder Executivo Estadual, deve-se dar
segurança jurídica para a sociedade, de onde emana todo o poder, para que os danos já
vistos no IDEMA, com escárnio pelos envolvidos, não será concretizado em novas
oportunidades. Portanto, resta preenchido o segundo requisito da medida cautelar.
III – DOS PEDIDOS:
Ante todo o exposto, e tendo em consideração todos os aspectos fáticos e os
fundamentos jurídicos explanados no corpo desta manifestação, REQUER este Órgão do
Ministério Público de Contas que atua perante o Pleno deste Egrégio Tribunal:
1) O devido recebimento e processamento desta representação pelo
Excelentíssimo Presidente do Tribunal de Contas do Estado, tendo
em vista que as investigações necessárias se espraiam por todos os entes
da Administração Direta e Indireta vinculados ao Poder Executivo do
Estado do Rio Grande do Norte;
2) A distribuição do processo decorrente desta representação, mediante
sorteio eletrônico, a um conselheiro relator responsável pela condução
do feito, requerendo-se o seu recebimento e processamento em caráter
SELETIVO E PRIORITÁRIO;
3) CAUTELARMENTE, ante a presença do periculum in mora e do
fumus boni iuris, nos termos do art. 120 da Lei Complementar nº
464/2012, que esta Corte de Contas determine ao Poder Executivo
Estadual a proibição de todo e qualquer pagamento por ofício, devendo
ser adotado nestes casos o procedimento de Ordem Bancária online;
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4) A intimação do Chefe do Poder Executivo Estadual para se manifestar,
no prazo de 72 (setenta e duas) horas, na forma do art. 120, § 1º, da LC
nº 464/2012, sobre o pleito cautelar do item 3 supra;
5) A realização de TOMADA DE CONTAS ESPECIAL a ser conduzida
pela Controladoria Geral do Estado – CONTROL, no âmbito do Poder
Executivo do Estado do Estado do Rio Grande do Norte, englobando
Administração Direta e Indireta vinculada a este Poder, na forma
prevista no art. 65, inciso III, da LCE nº 464/2012, com as seguintes
determinações a serem cumpridas pela CONTROL:
3.1) Averiguar a regularidade dos procedimentos de
pagamentos mediante ofícios direcionados pelos órgãos da
administração pública estadual diretamente aos bancos,
inclusive quanto aos procedimentos adotados pelo banco no
tocante aos requisitos e informações solicitadas e checadas no
momento da efetivação do pagamento;
3.2) Averiguar a existência de “contas-fantasmas” na
administração pública estadual, desconhecidas e/ou não
informadas no Sistema Integrado para Administração
Financeira do Estado (SIAFI);
3.3) Averiguar a regularidade dos procedimentos adotados
pelos órgãos da administração pública estadual para abertura
de contas movimento em instituições financeiras;
3.4) Elaborar lista contendo todos os órgãos da
Administração Direta do Estado e pessoas jurídicas da
Administração Indireta do Estado, em ambas hipóteses
MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
PROCURADORIA-GERAL ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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vinculados ao Poder Executivo do Estado do Rio Grande do
Norte, que utilizaram ou utilizam ofícios como mecanismo de
pagamento de despesas públicas diretamente direcionados
aos bancos, nos anos de 2014 e 2015;
3.5) Elaborar lista com a totalidade das contas bancárias
abertas a partir do CNPJ – e suas derivações na
Administração Direta e Indireta do Poder Executivo Estadual
– do Estado do Rio Grande do Norte nos anos de 2014 e
2015, com a identificação dos responsáveis por sua abertura,
bem como a quais órgãos da Administração Direta e pessoas
jurídicas da Administração Indireta estas contas bancárias
estão vinculadas;
6) Seja assinado prazo de SESSENTA DIAS para a conclusão da Toma
de Contas Especial e que seu resultado seja encaminhado ao Tribunal
de Contas do Estado no prazo de 48 (quarenta e oito) horas após
sua finalização, na forma prevista pelo art. 65, III, parágrafo único, da
LCE nº 464/2012;
7) A imputação de multa diária para o caso de descumprimento do prazo
assinalado para a conclusão da Tomada de Contas Especial;
É neste sentido a postulação do Ministério Público de Contas.
Natal/RN, 14 de outubro de 2015.
Luciano Silva Costa Ramos
Procurador-Geral do Ministério Público de Contas