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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARNAMIRIM Defesa da Saúde e da Educação Rua Suboficial Farias, 1415 – Parnamirim/RN – CEP 59146-200 Telefones: 3645-7510/ 3645-5612 EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE E DO IDOSO DA COMARCA DE PARNAMIRIM/RN O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE por seu órgão infrafirmado, no uso de suas atribuições institucionais e com base nos arts. 205, 206, incisos I, V e VII, 208, §§ 1º e 2º, todos da CF/88; e Lei nº 9.394/96, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA para cumprimento de obrigação de fazer, cumulada com pedido de antecipação de tutela, em face do MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM/RN, pessoa jurídica de direito público interno, a ser citado e intimado para o cumprimento da medida antecipatória adiante pleiteada na pessoa do Prefeito do Município, Rosano Taveira da Cunha , com endereço profissional na Av. Tenente Medeiros, 105, Centro – 59.140-020 – Parnamirim/RN, na pessoa da Secretária Municipal de Educação e Cultura, Francisca Alves da Silva Henrique, e na pessoa do Secretário Municipal de Obras, Franklin Altevy Bruno Wanderley, e posteriormente citado na pessoa do Procurador-Geral do 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARNAMIRIM

Defesa da Saúde e da EducaçãoRua Suboficial Farias, 1415 – Parnamirim/RN – CEP 59146-200

Telefones: 3645-7510/ 3645-5612

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIAE JUVENTUDE E DO IDOSO DA COMARCA DE PARNAMIRIM/RN

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE por seu

órgão infrafirmado, no uso de suas atribuições institucionais e com base nos arts. 205, 206, incisos I, V

e VII, 208, §§ 1º e 2º, todos da CF/88; e Lei nº 9.394/96, vem à presença de Vossa Excelência propor a

presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

para cumprimento de obrigação de fazer, cumulada com pedido de antecipação de

tutela, em face do MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM/RN, pessoa jurídica de direito público interno, a ser

citado e intimado para o cumprimento da medida antecipatória adiante pleiteada na pessoa do Prefeito

do Município, Rosano Taveira da Cunha , com endereço profissional na Av. Tenente Medeiros,

105, Centro – 59.140-020 – Parnamirim/RN, na pessoa da Secretária Municipal de Educação e

Cultura, Francisca Alves da Silva Henrique, e na pessoa do Secretário Municipal de Obras,

Franklin Altevy Bruno Wanderley, e posteriormente citado na pessoa do Procurador-Geral do

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Município, na sede da Procuradoria-Geral do Município, pelas razões de fato e de direito a seguir

expostas:

I - DOS FATOS

Em 29 de março de 2012, foi instaurado nesta 4ª Promotoria de Justiça o Inquérito Civil

nº 35/2012, com o escopo de investigar a qualidade da educação prestada no Centro Infantil

Romana Santiago, especialmente nos aspectos de infraestrutura, currículo, proposta pedagógica,

corpo docente, relação adequada entre o número de alunos e professor, além de recursos materiais e

pedagógicos.

De início, cumpre informar que o CMEI Romana Santiago funciona na Rua Rio das

Contas, 178, no bairro Emaús, em Parnamirim/RN, e atende, atualmente, cerca de 224 (duzentos e

vinte e quatro) alunos, distribuídos nos níveis III a VI, nos turnos matutino e vespertino, conforme

documento fornecido pela Secretaria Municipal de Educação, que contém os dados do Censo Escolar

de 2017 (fls. 302/303 do Inquérito Civil anexo).

Na primeira inspeção realizada no CMEI Romana Santiago por esta Promotoria de

Justiça, em 28 de julho de 2011 (fls. 44/47 do Inquérito Civil incluso), verificou-se que o quadro de

professores encontrava-se completo. O CMEI contava com 06 (seis) salas de aula e 12 (doze) turmas,

sendo 06 (seis) no período matutino e 06 (seis) no período vespertino, nos níveis I a IV.

Em um aspecto geral, viu-se que o Centro Infantil dispunha de uma boa estrutura física,

com salas de aula amplas e dotadas de mobília destinada às crianças, em bom estado de

conservação; havia, ainda, um banheiro adaptado para portadores de necessidades especiais,

sinalização para deficientes visuais, bem como dois banheiros para adultos e dois adaptados para

crianças.

Diante das irregularidades verificadas em diversos Centros Infantis do município, esta

Promotoria de Justiça requisitou a realização de perícia técnica pela UFRN, por profissionais da área

de Pedagogia com conhecimento em educação infantil, a fim de obter maiores informações e dados

técnicos sobre a situação dos CMEI's de Parnamirim (cf. despacho de fls. 143/144).

Consta nos autos, em mídia digital, a perícia da FUNPEC/UFRN realizada por

amostragem em alguns Centros Infantis do município no ano de 2014, nela são detalhados os

parâmetros básicos para esses estabelecimentos de educação infantil, com relação à infraestrutura,

recursos humanos, recursos materiais pedagógicos, bem como sobre a necessidade de

criação/adequação de seus Projetos Políticos Pedagógicos e Regimentos Internos.

Por essa razão, esta Promotoria de Justiça requisitou à Direção do Centro Infantil

Romana Santiago que informasse se este passava por algum dos problemas apontados na perícia

realizada nos outros Centros Infantis, ao tempo em que relatasse sobre a aplicação dos recursos do

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Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE e também esclarecesse a respeito do elevado número de

crianças em cada sala de aula, no que diz respeito à relação professor/aluno (fls. 148/151 do IC).

Em audiência realizada no dia 23 de abril de 2015 , a Diretora do CMEI

Romana Santiago, Ana Mônica Nascimento da Nóbrega, informou que era grande a

demanda por educação infantil na área do Parque das Orquídeas, onde está situado

o CMEI e que estava em trâmite a construção de um novo centro infantil na

localidade; afirmou que devido à grande demanda entre os anos de 2012 a 2014, foi

necessário desativar a sala de leitura para transformá-la em uma nova sala de

aula; que possuía 234 alunos; que as salas de aula eram adequadas; que havia um bebedouro com

duas torneiras, sendo suficiente para os alunos; que somente possuía um computador e uma

impressora, número insuficiente para as necessidades da escola, sendo necessário mais um

computador; afirmou que inexistia copiadora, sendo necessário deslocar-se até a Secretaria de

Educação para obter cópia de documentos; que o material de apoio pedagógico era suficiente (fls.

161/162).

Quanto ao parquinho, a Diretora informou que estava inadequado, sendo de madeira e

sem manutenção. Além disso, esclareceu que o CMEI não possuía brinquedos soltos, como bolas,

cones e materiais esportivos. Relatou que o centro infantil possuía uma sala multiuso, com aparelho de

TV e DVD, mas não tinha ar-condicionado; que havia na brinquedoteca número insuficiente de

brinquedos e jogos.

Relatou, ainda, que no refeitório, o mobiliário não estava adequado, faltando mesas e

cadeiras; que a cozinha era adequada; que era deficiente o número de colchonetes para a escola.

Por fim, acrescentou que embora não houvesse nenhuma sala vazia, existia espaço

para ampliação do centro infantil.

Em despacho de fl. 163, este Órgão Ministerial requisitou ao Secretário Municipal de

Educação que informasse quais providências seriam tomadas para sanar as irregularidades e

deficiências verificadas no CMEI Romana Santiago, porém, o expediente não teve resposta.

Diante das informações colhidas na investigação, constatou-se a

existência de uma grande demanda por vagas na educação infantil na localidade, a

qual não poderia ser suprida por completo pela estrutura do CMEI Romana

Santiago, razão pela qual estava sendo construído um prédio para abrigar um novo

centro infantil.

Apenas para contextualizar, segundo um levantamento feito pelas equipes da

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Estratégia de Saúde da Família de Parnamirim no ano de 2015, o bairro de Emaús – situado na

conurbação com o município de Natal e dividido pela rodovia BR 101 – já possu ía , aproximadamente,

24.500 ( vinte e quatro mil e quinhentos ) habitantes, considerando a população das áreas do

Parque Industrial e do Parque das Orquídeas, que integram a localidade . Segundo o

Censo Demográfico do IBGE de 2010, o bairro possuía 22.429 (vinte e dois mil, quatrocentos e vinte e

nove) habitantes e já contava com quase oito mil domicílios, além disso, tem crescido nos últimos anos

com a construção de condomínios residenciais direcionados às classes mais populares.

Em contrapartida, apenas dois centros infantis funcionam no bairro de Emaús, em

locais bastante distantes um do outro, uma vez que o CMEI Nossa Senhora da Guia está localizado no

lado direito da BR 101 (sentido Parnamirim-Natal), próximo ao novo viaduto, enquanto que o CMEI

Romana Santiago encontra-se no lado esquerdo da BR 101, em área próxima à Av. Rio Jordão, início

do acesso à Av. Omar O’Grady (conhecido como prolongamento da Av. Prudente de Morais). Assim, os

dois centros infantis não atendem a mesma demanda por vagas na educação infantil.

Na localidade existem duas escolas que ofertam os ensinos fundamental I e II

(1º ao 9º ano), dispondo de turmas de educação infantil (pré-escola, com crianças de 04 e 05

anos de idade) apenas como forma de auxiliar no atendimento à imensa demanda por

vagas no bairro, uma vez que não dispõe da estrutura exigida nos parâmetros da

educação infantil.

Tanto é assim que na audiência realizada com a Diretora da Escola Municipal Manoel

Machado, situada no Parque Industrial, em Emaús, esta informou que no bairro há uma carência

muito grande por educação infantil, existindo lista de crianças, na faixa etária de 04 e 05 anos,

que aguardam por vagas nos níveis da educação oferecidos pela escola diante da inexistência de

novas vagas (fl. 299).

Portanto, a situação já demonstra a falta de acesso à educação infantil,

existindo uma grande quantidade de crianças que não frequentam à escola, em

razão da omissão municipal.

No dia 13 de abril de 2016, realizou-se audiência com o Secretário

Municipal de Educação e a Coordenadora de Desenvolvimento da Educação

Infantil, na qual esta esclareceu que, no ano passado, visitou o centro infantil a ser

inaugurado no Parque Industrial, localizado ao lado da UBS do bairro, afirmando

que a obra estava em fase de acabamento, mas que não sabia as condições atuais

da construção (fls. 173/175 do IC anexo).

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Em abril do mesmo ano, requisitou-se informações sobre o andamento das obras

do novo centro infantil situado em Emaús e o endereço dessa nova unidade (fl. 177), tendo a

Secretaria Municipal de Obras Públicas (SEMOP) informado que as obras estavam

em fase de conclusão, cujo prazo previsto para término era em junho de 2016; a

obra do novo CMEI situa-se na Rua Maria Soliana de Andrade, s/n, Parque das Orquídeas, bairro

Emaús (fl. 178).

Em maio de 2016, realizou-se vistoria no local da obra do novo CMEI,

tendo sido constatada a presença de apenas dois funcionários da empresa FAN

Empreendimentos, sendo um vigia e outro responsável pela pintura e alguns

acabamentos da obra; ocasião em que foi informado que não havia data para a

entrega do prédio, mas que este encontrava-se praticamente pronto, faltando a

instalação de alguns vidros nas portas e janelas, além da conclusão do

reservatório de água; relatou-se, ainda, que a energia elétrica e o fornecimento de

água já estavam regulares, e que os banheiros, as salas de aula, as pias e o balcão

da cantina estavam todos em altura acessível às crianças.

Por fim, o relatório apontou que o prédio possuía ampla área na parte

posterior, onde havia espaços calçados e também gramados e que provavelmente o

parque infantil seria instalado nesse local (fl. 180 e fotografias às fls. 181/191).

Em maio de 2016, requisitou-se à SEMOP que fosse remetida cópia do projeto

arquitetônico, do contrato e aditivos da obra do centro infantil, bem como informasse as razões da

não ocupação do novo prédio (fl. 192).

Por meio do Ofício nº 620/2016, em 31 de maio do mesmo ano, o Secretário

Municipal de Obras informou que a obra encontrava-se em fase de acabamento,

tendo remetido cópia do contrato e seus aditivos e das plantas do projeto do centro infantil (fls. 200/224

e envelope anexo ao IC).

Na audiência ministerial realizada em 23 de junho de 2016, com o

Secretário Municipal de Educação e a Coordenadora da Educação Infantil no Município, questionou-

se a existência de nove termos aditivos ao contrato da construção do centro

infantil, visto que a entrega da obra estava prevista para dezembro de 2012 e na

ocasião afirmou-se que o prazo passou para agosto de 2016 .

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Na oportunidade, os presentes informaram que o novo Centro Infantil

viabilizará a ampliação do número de vagas para a educação infantil, com um

acréscimo de 240 (duzentos e quarenta) vagas, contemplando crianças a partir dos

seis meses de idade ; afirmaram que o Centro Infantil Romana Santiago não seria

transferido para estas novas instalações e que a postergação do término da obra decorreu

do atraso no repasse dos recursos federais (fls. 225/226).

No documento de fls. 227/228, o Secretário Municipal de Obras confirmou que a

demora na conclusão da obra do centro infantil no bairro de Emaús se deu por atraso nos repasses de

recursos federais, em razão dos períodos chuvosos durante a execução do serviço, bem como ao fato

de que foram necessárias adequações do projeto padrão para a realidade local.

Afirmou, ainda, que os recursos federais repassados em outubro de 2013 e janeiro de

2016 resultaram em 90% (noventa por cento) do orçamento e diziam respeito às obras do centro

infantil de Emaús e também de Bela Parnamirim, uma vez que havia uma conta única para ambas as

obras, o que, segundo a SEMOP, dificultava o andamento dos serviços.

Ao final, o Secretário de Obras informou que o prazo para conclusão da

obra do centro infantil em Emaús ficou para agosto de 2016 (fls. 227/228).

No dia 16 de agosto de 2016, a Coordenadoria de Desenvolvimento da

Educação Infantil remeteu documento no qual consta providências tomadas ou a

serem realizadas em relação ao CMEI Romana Santiago, dentre elas: a

climatização da brinquedoteca e da sala multiuso, a entrega de outro computador,

mobília do refeitório completa, quadro de professores completo e encaminhamento

apresentado à SEMOP para ampliação do espaço do centro infantil (fls. 242/243 do IC

anexo).

Realizada nova audiência com os Secretários Municipais de Educação e de

Obras, na data de 09 de novembro de 2016, este último informou que o centro infantil

localizado no Parque das Orquídeas já estava pronto, somente aguardando

providências para a ocupação e a inclusão de vagas para matrícula no ano de

2017, no entanto, o Secretário de Educação alegou que não sabia se dispunha de

mobiliário para o centro infantil (fl. 248).

Apenas em março de 2017, a Secretaria de Educação informou que

estava levantando o quantitativo de todo o material adquirido na gestão anterior

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para propiciar a ocupação dos novos Centros Infantis, como também

providenciando a aquisição de mobiliário para o seu funcionamento. Em anexo,

remeteu planilha do material já disponível para os dois novos centros infantis e fotos do estado em que

se encontrava armazenado esse material (fls. 272/274).

No dia 05 de julho do ano em curso, realizou-se audiência com a

Secretária Municipal de Educação, ocasião em que se questionou os motivos para

não ocupação do novo prédio do centro infantil localizado no Parque das

Orquídeas, em Emaús, tendo a Secretária esclarecido que este ainda não foi ocupado

em razão de problemas com a caixa d’água, infiltrações e problemas relacionados

às janelas de vidro, inexistindo previsão para ocupação.

Na oportunidade, afirmou que o mobiliário para o s novo s CMEI’ s já se

encontrava no depósito da SEMEC, que havia porteiro 24 horas nas obras e que

ainda restava repassar uma parcela dos recursos FNDE para a construtora que

realizou a construção do centro infantil em Emaús (fl. 286).

Às fls. 293/296, constam cópias de ofícios remetidos a esta Promotoria

de Justiça ao final de 2016, nos quais o então Secretário de Obras e também o

Secretário de Educação afirmaram que o novo prédio do centro infantil em Parque

Industrial estaria apto a ser ocupado até o final de outubro de 2016, que as novas

construções necessitavam de manutenção em virtude do longo período em que

ficaram sem uso, a qual seria realizada no prazo de 30 (trinta) dias e que já seriam

ofertadas matrículas para o novo centro infantil de Parque das Orquídeas para o

ano letivo de 2017, não obstante, informou que tão logo a entrega dos prédios fosse efetivada,

tomaria as providências para estruturação de equipamentos e mobiliário e formatação do quadro

funcional.

Já em junho de 2017, a SEMEC informou que aguardava liberação da Secretaria de

Obras, que ficou responsável por realizar os reparos no novo prédio do centro infantil de Emaús , para

alocar a mobília que se encontrava no galpão da Secretaria de Educação e que não foi entregue

devido a possíveis furtos (fl. 297).

Na data de 18 de agosto de 2017, esta Promotoria de Justiça recebeu

denúncia, por meio do termo de informações à fl. 298, na qual narrou-se que o prédio

construído na Rua Professora Maria Soliana de Andrade, vizinho ao posto de saúde

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do Parque das Orquídeas, par abrigar uma creche, estava abandonado desde a

administração anterior e que vândalos estavam depredando o local; que o prédio é de

grande porte e segundo a placa afixada em sua fachada, deveria ter sido entregue em 2013; que a

construção, feita pela empresa FAN Empreendimentos Ltda., cujo proprietário é Jorian Alves de

Morais, tem sofrido deterioração com a ação do tempo, com telhas, janelas e vidros

quebrados e que já presenciou a entrada de adolescentes no local.

Ademais, o denunciante informou que, ao procurar a Secretaria Municipal de Educação

para obter informações sobre os motivos para o não funcionamento do prédio, obteve a justificativa de

que a conclusão da obra dependia do Ministério da Educação.

Por todo esse contexto, esta Promotoria de Justiça requisitou ao CAOP –

Cidadania, em 23 de junho de 2017, a realização de perícia n o novo prédio que

abrigará um centro infantil localizado em Emaús, para avaliar a sua estrutura

física, a fim de identificar vícios que pudessem prejudicar o bom desempenho da

edificação ou de seus elementos, e/ou causar perigo para a comunidade escolar, de

modo a constatar se o prédio já poderia ser imediatamente ocupado.

O Relatório de Vistoria Técnica (fls. 304/325 do IC) foi elaborado em 17 de outubro de

2017 por uma profissional da área de arquitetura e urbanismo do quadro do Ministério Público

Estadual, e aponta as principais inadequações encontradas no novo prédio em que deve instalar-se

um centro infantil em Emaús, que fazem com que ele não possa ser imediatamente ocupado, conforme

concluiu.

De acordo com o relatório, o prédio construído para abrigar um centro

infantil situa-se na Rua Professora Maria Soliana de Andrade, s/n, Emaús,

Parnamirim/RN, cuja construção teve início no ano de 2012 e conclusão prevista para

2013, mas que até o momento não foi finalizada, possui 01 (um) pavimento (térreo),

estrutura de concreto armado e alvenaria de vedação, cobertura de telha cerâmica, possuindo 08 (oito)

salas de aula com repouso, área de banho e troca de fraldas em algumas delas, solários, sala de

informática, sala de leitura/multiuso, banheiros infantis, banheiros acessíveis, secretaria, sala de

direção, sala de professores, almoxarifado, recepção/espera, banheiros da administração, cozinha,

despensas, lavanderia, rouparia, banheiros com vestiários de funcionários, área de serviço, lactário,

pátio coberto/refeitório, parque infantil, anfiteatro e estacionamento (fls. 305 do IC anexo).

Conforme o relatório do CAOP Cidadania, a edificação visitada é uma escola infantil do

Programa Proinfância do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), com projeto

padrão financiado pelo Governo Federal, sendo a construção visitada um projeto do “tipo B”.

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Nesse aspecto, segundo o documento extraído do Sistema Integrado de

Monitoramento, Execução e Controle (SIMEC) do Ministério da Educação/FNDE, que monitora o

processo das obras da educação básica (fls. 326/237), o projeto escolhido para o novo CMEI do

Parque Industrial foi o de tipo B, com ordem de serviço datada de 10 de setembro de 2012 e previsão

para a conclusão da obra, após a realização de 10 (dez) termos aditivos, em 31 de julho de 2017.

O convênio para a realização da obra tem validade até 31 de janeiro de 2018, e o

percentual de execução da mesma, em novembro de 2016, era de 96,52% (noventa e seis vírgula

cinquenta e dois por cento). O documento ainda aponta que o valor pactuado pelo FNDE é de R$

1.197.760,54 (um milhão, cento e noventa e sete mil, setecentos e sessenta reais e sessenta e quatro

centavos), mas que o total da planilha contratada soma a quantia de R$ 1.225.674,28 (um milhão,

duzentos e vinte e cinco mil, seiscentos e sessenta e quatro reais e vinte e oito centavos). A empresa

contratada foi a J.A.M. Empreendimentos Ltda., e a data de término do contrato estava prevista para o

dia 14 de outubro de 2016 (fl. 326v).

O relatório de vistoria técnica do CAOP afirmou que na adaptação do projeto padrão

para o terreno de Emaús não foram construídos os solários das salas da creche III e da pré-escola, em

virtude da largura do terreno, que é um pouco menor do que o terreno indicado pelo MEC para a

implantação desse projeto (40m x 70m), em razão disso, as portas dessas salas ficaram voltadas para

um corredor estreito (fl. 308).

A perita técnica asseverou que a obra encontra-se quase pronta, com

toda a alvenaria levantada, cobertura, forro, revestimentos, bancadas de granito e

a maior parte das esquadrias. No entanto, existem elementos que ainda precisam

ser concluídos e, pelo fato de estar sem uso e sem manutenção há tanto tempo,

muitos materiais da edificação começaram a se deteriorar. O prédio também é alvo

de vandalismos com frequência, contribuindo para sua deterioração.

No que concerne aos aspectos a concluir na obra do centro infantil, o relatório de

vistoria apontou que as divisórias do repouso das salas das creches I e II não foram instaladas (Fotos

5 e 6; Foto 9); as paredes do repouso das salas da creche III também não foram finalizadas (Fotos 7 e

8), conforme se vê à fl. 309.

Quanto às esquadrias, as portas duplas da recepção não foram instaladas (Fotos 10 e

11), assim como as portas dos repousos das salas. Também não há portas nos boxes dos banheiros

(Fotos 12 e 13) (fls. 310/311).

Constatou-se a ausência de torneiras nos banheiros da administração, de um chuveiro

no banheiro infantil da creche II, do lavatório, banco e barras de apoio no banheiro acessível, ausência

de ralo no piso do pátio (fotos às fls. 311/312). Ressaltou-se que o outro banheiro acessível estava

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fechado, assim como os dois banheiros infantis, não sendo possível realizar vistoria nesses ambientes.

Em relação às instalações elétricas, falta a caixa de distribuição na recepção – setor

administrativo (Foto 19), há caixa de tomada sem tampa e com fiação exposta na área de serviço (Foto

20) e fiação exposta na instalação das lâmpadas do pátio coberto (Foto 21), consoante fls. 312/313 do

IC anexo.

A perita técnica ainda afirmou que, como a obra não foi concluída, a escola infantil

ainda não dispõe de mobiliário (mesas, cadeiras, berços, mesas de refeitórios, entre outros) e nem de

equipamentos (ventiladores, bebedouros, fogão, refrigeradores, entre outros).

Quanto às patologias de sua estrutura física, o prédio apresenta vícios

por falta de uso ou manutenção de suas instalações, de modo que foram

verificadas infiltrações nas lajes do beiral da cobertura de praticamente toda a

escola infantil (Fotos 19 a 23), inclusive já apresentando mofo, além de

descascamento de pintura na laje da cozinha (Foto 34), conforme fls. 314/316.

Não obstante, a mureta de cobogó que divide os solários entrou em colapso (fotos à fl.

317), há infiltrações, descascamento e desagregamento de pintura em diversas paredes externas e

também em uma parede da sala da creche II (fls. 317/319). Na cobertura, existem diversas telhas

quebradas ou em falta no pátio central (fl. 320). Há infiltrações nas paredes externas do castelo d’água

(fotos à fl. 320).

A obra também apresenta diversas esquadrias danificadas, há janelas com vidros

quebrados em diversos ambientes escolares, como em salas de aula, banheiro infantil, cozinha (fotos

50 a 54) e ausência de vidro no visor da porta de uma sala de aula (foto 58) (fls. 321/322).

Observou-se, ainda, que no pátio central há uma luminária com instalação inadequada,

encontrando-se pendurada à estrutura por meio da fiação (foto 59, fl. 322), com claro risco de colapso.

Durante a vistoria, verificou-se que a vegetação rasteira necessita de poda em vários

locais (Fotos 61 e 62) e já está ocupando parte do anfiteatro (Foto 60); também se verificou que o solo

cedeu em alguns locais, formando buracos, e a presença de formigueiros em vários locais do terreno,

inclusive, dentro do banheiro infantil do prédio (Foto 63) (fls. 323/324).

Desse modo, após minuciosa inspeção no prédio onde funcionará um

novo centro infantil no bairro Emaús, a perita apresentou a necessidade, dentre

outras, das seguintes adequações para propiciar a conclusão da obra e a

realização de manutenção da edificação, a fim de que o prédio atenda

minimamente às normas relativas às instituições que oferecem educação infantil,

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bem como para assegurar a segurança dos seus usuários (fls. 324/325 do IC):

1. Instalação das divisórias dos repousos (creches I e II);

2. Execução da parede do repouso da creche III;

3. Instalação das portas duplas da recepção, das portas dos repousos e das portas dos boxes dos

banheiros;

4. Instalação de torneiras nos banheiros da administração;

5. Instalação dos chuveiros ausentes nos banheiros infantis;

6. Instalação de lavatório, barras de apoio e banco nos banheiros acessíveis;

7. Instalação de ralos no pátio;

8. Instalação de caixa de distribuição (recepção);

9. Instalação de tampas nas tomadas (serviço);

10. Isolamento da fiação elétrica das luminárias do pátio;

11. Recuperação das lajes do beiral da cobertura com infiltração. Impermeabilização desses elementos

para evitar o problema;

12. Pintura na laje da cozinha;

13. Reconstrução da mureta de cobogó entre os solários;

14. Recuperação do revestimento das paredes externas;

15. Pintura na parede da sala da creche III;

16. Substituição de telhas quebradas ou ausentes;

17. Recuperação das paredes externas do castelo d’água;

18. Substituição dos vidros quebrados nas janelas;

19. Substituição do vidro do visor da porta de uma sala de aula;

20. Fixação adequada de uma luminária no pátio;

21. Poda da vegetação rasteira;

22. Realização de um tratamento contra formigueiros, a fim de evitar que danifique a estrutura do

prédio.

Em relação à possibilidade de imediata ocupação do espaço pelo Centro

Infantil, a perícia técnica concluiu que o prédio não pode ser imediatamente

ocupado porque a obra está inacabada e necessita de manutenção e substituição

de elementos danificados. De todo modo, ressaltou que não foram encontradas patologias que

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causem risco estrutural na edificação.

Importa destacar que embora inexistam vícios construtivos graves que

ocasionem risco à segurança dos futuros usuários, devem ser efetuadas todas as

reformas apontadas no relatório de vistoria técnica, bem como a instalação de

toda a mobília adequada e dos equipamentos necessários ao funcionamento do

centro infantil e, ainda, obtidas as licenças imprescindíveis para a liberação da

obra, viabilizando, assim, a inauguração e ocupação do centro infantil o mais breve

possível.

Nesse quadrante, decorridos mais de cinco anos do início da construção

do novo centro infantil de Emaús e, mais de um ano desde que foi paralisada a

obra, não obstante a constatação da necessidade de reparos e de equipação da

estrutura – com mobílias e materiais – para permitir o seu regular funcionamento,

nenhuma medida foi adotada pelo Município para sanar as irregularidades

apontadas, tampouco ofertou-se uma previsão para o efetivo funcionamento do

CMEI no local.

O MEC através do FNDE já transferiu para o Município a importância de

R$ 956.303,14 (novecentos e cinquenta e seis mil, trezentos e três reais e quatorze

centavos), enquanto o Município pagou a empresa o valor de R$ 859.896,17

(oitocentos e cinquenta e nove mil, oitocentos e noventa e seis reais e dezessete

centavos), conforme se verifica das notas fiscais listadas no Sistema Integrado de

Monitoramento, Execução e Controle do MEC, às fls. 326/327.

Nesse ínterim, certo é o prejuízo à educação infantil como um todo e,

em especial, às crianças da localidade que estão fora da escola, uma vez que a

não ocupação do prédio construído para abrigar um novo centro infantil em Emaús

impede a oferta de novas vagas.

As creches e pré-escolas se constituem em estabelecimentos educacionais públicos ou

privados que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade por meio de profissionais

com a formação específica legalmente determinada, a habilitação para o magistério superior ou médio,

refutando assim funções de caráter meramente assistencialista, embora mantenha a obrigação de

assistir às necessidades básicas de todas as crianças.

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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96, art. 29) considera a

Educação Infantil a primeira etapa da Educação Básica e, portanto, direito

inalienável de cidadania e dever do Estado, tendo como finalidade o desenvolvimento integral

da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e

social, complementando a ação da família e da comunidade.

Nesse contexto, todo espaço que ministrar educação infantil deve possuir proposta

pedagógica, regimento escolar, formação de professores e outros profissionais, espaços físico e

recursos materiais para a educação infantil.

Exige-se, ainda, a necessidade de existência padrões mínimos de

infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições de educação infantil, com

ambiente interno e externo para o desenvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares

e metodologia da Educação Infantil, a fim de haver uma diversidade de situações e atividades a serem

oferecidas às crianças para evitar um ambiente de confinamento e monotonia.

Nesse sentido, a recente Lei Federal nº 13.257, de 08 de março de 2016 ,

prevê a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para as crianças que estão na

“primeira infância”, assim considerada como o período que abrange os primeiros 6 anos completos (72

meses) de vida da criança (art. 2º).

De acordo com o que foi estabelecido em lei, o Estado tem o dever de estabelecer

políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância. O pleno atendimento dos

direitos da criança na primeira infância constitui objetivo comum de todos os entes

da Federação, segundo as respectivas competências constitucionais e legais, a ser alcançado em

regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (art. 8º).

A Lei estabeleceu, em seu art. 5º, a educação infantil como área prioritária

para as políticas públicas para a primeira infância, e previu, ainda, que a

“expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a

qualidade da oferta, com instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de

infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da Educação, com profissionais qualificados

conforme dispõe a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional), e com currículo e materiais pedagógicos adequados à proposta pedagógica” (art. 16, caput).

O próprio Município, em sua Proposta de Expansão da Educação Infantil (fls. 79-127 do

IC) prevê, no tocante à infraestrutura e recursos dos espaços destinados à educação infantil que:

O prédio destinado à educação infantil deve ser de alvenaria (não

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pode ter parede de madeira ou material não resistente ao fogo) e estar em bom

estado de conservação.

As instalações elétricas, hidráulicas, os móveis e demais

equipamentos devem estar em condições adequadas de uso,

proporcionando segurança às crianças. Devem apresentar condições de

acessibilidade para pessoas portadoras de deficiências. Salas de atividades,

cozinha e dormitório não podem servir como área de circulação.

O Plano Municipal de Educação de Parnamirim, Lei Municipal nº

1.721/2015, com vigência de 2015 a 2025, por sua vez, tem como Meta 01 “universalizar, até 2016,

a educação infantil na pré-escola para as crianças de 04 e 05 anos de idade e ampliar a oferta de

Educação Infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 60% das crianças de até 03 anos de

idade, até o fim da vigência do PNE, garantindo a qualidade do atendimento na Educação

Infantil do Município de Parnamirim”.

E, dentre as estratégias apontadas como forma de alcançar a meta estabelecida pelo

Município, estão:

I. manter e ampliar, em regime de colaboração e respeitadas as normas de

acessibilidade, programa nacional de construção e reestruturação de

instituições públicas de educação infantil, bem como de aquisição

de equipamentos visando à expansão e à melhoria da rede física,

garantindo, assim, a matrícula das crianças de quatro a cinco anos

de idade na educação infantil em 100% até a vigência do PNE

(2024);

II. Adequar, ainda no primeiro ano de vigência, as unidades de educação infantil

que ainda não atendem aos parâmetros de qualidade e infraestrutura, garantindo o

programa de manutenção dessas unidades, organizando um sistema de

fiscalização efetivo e sistematizado, onde ocorra, pelo menos uma vez ao ano nas

escolas, promovendo reformas e adequações físicas periodicamente, de forma

igualitária nas unidades de educação infantil, como por exemplo, climatização das

salas e acesso à internet, em regime de colaboração com os órgãos competentes;

III. Garantir a construção, a permanência e a manutenção de espaços para

promoção de desenvolvimento social, lúdico e cultural das crianças de todas as

unidades de educação infantil, através de brinquedotecas, parques infantis

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equipados adequadamente para o uso e construção de áreas para manifestações

culturais, apropriados e de acordo com os parâmetros de qualidade e de

infraestrutura.

Com relação às instalações do novo Centro Infantil de Emaús, verifica-se

que a construção não foi totalmente concluída e ainda não está em condições de

uso, pois, o decurso do tempo sem a devida manutenção e a ação de vândalos ensejou a

necessidade de alguns reparos, como a recuperação das lajes e do revestimento das paredes

externas, pintura em algumas paredes, substituição das telhas quebradas, a reconstrução da mureta

de cobogó em uma das salas, o isolamento da fiação elétrica, a substituição dos vidros quebrados nas

janelas, a recuperação da parede externa do castelo d’água, a poda da vegetação, dentre outras

adequações, consoante se vê no relatório de perícia técnica colacionado.

Importante, ainda, que se providencie a instalação das peças sanitárias e

das portas nos boxes dos banheiros e a adaptação da área de banho infantil, com a

implantação de itens que evitem acidentes, como piso antiderrapante, guarda-

corpo e corrimão, a fim de evitar riscos aos alunos nas condições atuais em que se

encontra.

Assim, necessário que se providenciem, com urgência, os mencionados

reparos na estrutura física, cuja responsabilidade pertence à Secretaria Municipal

de Obras, e, após, sejam obtidas as licenças para funcionamento do prédio, como o

Alvará de Vistoria do Corpo de Bombeiros – AVCB (Habite-se).

Por outro lado, embora a Secretaria Municipal de Educação tenha informado que a

mobília destinada ao novo Centro Infantil de Emaús já foi adquirida e encontra-se nos galpões da

SEMEC, durante toda a investigação viu-se que esta não assegurou a existência de mobiliário e

equipamentos suficientes para a instalação e funcionamento adequado do Centro Infantil, havendo que

se completar a lista de materiais disponíveis, mencionada à fl. 273 do Inquérito Civil anexo.

Desse modo, importante que se garanta todo o mobiliário das salas de

aula, inclusive, os compatíveis com as crianças; que sejam disponibilizados os

móveis e os equipamentos dos setores de direção, coordenação, secretaria, sala

dos professores e sala multiuso/de informática, como por ex., mesas, cadeiras,

armários, computadores, impressora/multifuncional, acesso à internet e livros; como

também os equipamentos e utensílios da cozinha, como freezers e/ou geladeiras,

fogão, botijão de gás alocado em espaço próprio distinto da cozinha, local para

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armazenar os alimentos adequadamente; e no refeitório, mesas e cadeiras

compatíveis com as crianças, bebedouros adequados às crianças, inclusive nas

áreas de circulação das salas de aula.

Nesse sentido, também devem ser providenciados os equipamentos da

área de lazer/recreação, como as áreas em grama e areia, a instalação de um

parque de fibra, a concepção de um playground que integre as necessidades de

diferentes faixas etárias, dispondo de variedade de brinquedos para cada idade

atendida na escola infantil; além de livros e brinquedos pedagógicos em

quantidade suficiente ao quantitativo de alunos.

Todas essas providências já deveriam ter sido efetuadas pelo

município, uma vez que as obras do centro infantil de Emaús estão quase

concluídas há mais de um ano, período suficiente para que o poder público tomasse todas as

medidas para a aquisição dos equipamentos e mobiliário a permitir o pleno funcionamento das

atividades da instituição de ensino infantil, mesmo porque já tinham previsão de todas as despesas

relacionadas ao prédio do novo centro infantil.

Não obstante, inviável que, por desídia do poder público, se restrinja a

oferta de novas vagas na educação infantil, insuficientes na localidade, tendo em

vista a existência de um único CMEI nessa área, mesmo porque esta contempla as

comunidades de Parque Industrial e do Parque das Orquídeas, com grandes

contingentes populacionais, quando já existe um local amplo, adaptado às

necessidades das crianças, dotado de sala multiuso, anfiteatro, refeitório, pátio

coberto, dentre outros recursos, e construído para adequar confortavelmente os

infantes, inclusive, ampliando as vagas na educação infantil na localidade.

Portanto, da forma como se encontra, atualmente , as instalações do

novo centro infantil de Emaús não atende aos parâmetros nacionais exigidos para

a educação infantil, conforme disposto na Lei nº 9.394/1996 (LDB), no Plano Nacional de

Educação, nas Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil (Resolução CNE/CEB Nº 5,

de 17 de dezembro de 2009); nos Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil

(Brasília: MEC, SEB, 2006a, volumes 1 e 2); e nos Parâmetros básicos de infraestrutura para

instituições de educação infantil (Brasília: MEC, SEB, 2006b), e artigo 16º da Lei Federal nº

13.257/2016, exigindo providências para a sua adequação e ocupação o mais rápido

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possível.

II – DO DIREITO QUE SE BUSCA TUTELAR

a) Do Direito Constitucional de acesso à educação infantil de qualidade com

prioridade absoluta.

A Constituição Federal consagra a educação como direito social fundamental, dispondo

ainda em seu artigo 205 que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Segundo o art. 206, inciso VII, o ensino será ministrado com base, dentre outros, no

princípio da garantia de padrão de qualidade.

Assim, é dever do Poder Público assegurar a crianças e adolescentes, com absoluta

prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, À EDUCAÇÃO, ao

esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e

comunitária, nos termos da regra gizada no caput do artigo 227 da Constituição Federal e no artigo 4º

da Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A garantia de prioridade absoluta, referida no texto constitucional e prevista no art. 4°

do ECA, compreende-se nas diretrizes a serem observadas pela Administração, sintetizadas neste

último dispositivo, englobando:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a

proteção à infância e à juventude.

Como se observa, a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional não tratam a

educação como um fim em si mesmo, ou mero aparato de enriquecimento cultural, mas um verdadeiro

caminho ou instrumento para construção de uma sociedade que se pretende justa, livre e solidária, a

ser garantido à criança e ao adolescente com prioridade absoluta, não podendo ser

deixado para depois.

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Diante da grande importância social e educacional, cabe ao Poder Público a obrigação

constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, o efetivo acesso e

atendimento das crianças de 0 a 05 anos em creches e pré-escolas.

O Supremo Tribunal Federal, em recente decisão, proferida no RE 956475/RJ e

publicada em 17 de maio de 2016 (Informativo STF 827), se manifestou sobre a importância da

educação infantil enquanto prerrogativa constitucionalmente assegurada às crianças até 05 anos de

idade, e que não pode ser afastada por questões administrativas do Poder Público, cabendo ao Poder

Judiciário assegurar o cumprimento do mandamento constitucional. Vejamos:

“EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE. ATENDIMENTO EM

CRECHE MUNICIPAL. EDUCAÇÃO INFANTIL. DIREITO ASSEGURADO PELO

PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA

PELA EC Nº 53/2006). COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO

CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO. DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE

IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, §

2º). O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS

PÚBLICAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO E NÃO EFETIVADAS PELO PODER

PÚBLICO. A FÓRMULA DA RESERVA DO POSSÍVEL NA PERSPECTIVA DA

TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS: IMPOSSIBILIDADE DE SUA

INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR O INJUSTO INADIMPLEMENTO DE DEVERES

ESTATAIS DE PRESTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO PODER

PÚBLICO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.

– A educação infantil representa prerrogativa constitucional

indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para

efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do

processo de educação básica, o atendimento em creche e,

também, o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV).

– Essa prerrogativa jurídica, em consequência, impõe, ao Estado,

por efeito da alta significação social de que se reveste a educação

infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas

que possibilitem, de maneira concreta, em favor das “crianças até

5 (cinco) anos de idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e

atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de

configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar,

injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder

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Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da

Constituição Federal.

– A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança,

não se expõe, em seu processo de concretização, as avaliações meramente

discricionárias da Administração Pública, nem se subordina a razões de puro

pragmatismo governamental.

– Os Municípios – que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na

educação infantil (CF, art. 211, § 2º) – não poderão demitir-se do mandato

constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da

Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da

discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções,

tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem

ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples

conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole

social.

– Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e

Executivo, a prerrogativa de formular e de executar políticas públicas, revela-se

possível, no entanto, ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais,

determinar, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela

própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos estatais

competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles

incidem em caráter impositivo, vierem a comprometer, com a sua omissão, a

eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura

constitucional.”

O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua

oferta irregular, importa na responsabilização da autoridade competente, nos termos

do §2º do art. 208 da Constituição da República, pela omissão governamental, que frustra o integral

adimplemento de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição da República.

No que refere-se à Educação Infantil, a Constituição Federal, em seu artigo 208, incisos

I e IV, dispõe:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantiade:

I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos osque a ela não tiveram acesso na idade própria;

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(…)

IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5(cinco) anos de idade.

A Carta Magna, ao disciplinar a organização da educação nacional, no parágrafo 2º de

seu artigo 211, prescreve a obrigação dos Municípios atuarem prioritariamente no ensino fundamental

e na educação infantil.

A Lei n. 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), por sua vez,

determina, no inciso V de seu artigo 11, que os Municípios incumbir-se-ão de oferecer,

prioritariamente, o ensino fundamental e a educação infantil, permitida a atuação

em outros níveis de ensino, somente quando estiverem atendidas plenamente as

necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais

mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e ao desenvolvimento

do ensino.

O art. 214 da Constituição Federal determina que a lei estabelecerá o plano nacional de

educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime

de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a

manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de

ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a melhoria da

qualidade do ensino;

Nesse sentido, a Lei nº 13.005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação,

estabelece em seu art. 2º, inciso IV e VIII que são diretrizes do PNE a melhoria da qualidade da

educação e o estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como

proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão,

com padrão de qualidade e equidade.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem atuar em regime de

colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias objeto do PNE,

cabendo aos gestores federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal a adoção das medidas

governamentais necessárias ao alcance das metas (art. 7º da Lei nº 13.005/2014).

A primeira meta do PNE prevê a preservação das especificidades da educação

infantil na organização das redes escolares, garantindo o atendimento da criança de 0

(zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos que atendam a parâmetros nacionais

de qualidade , e a articulação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso do(a) aluno(a) de 6

(seis) anos de idade no ensino fundamental.

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Como se sabe, a educação básica, formada pela educação infantil, ensino

fundamental e ensino médio, tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a

formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no

trabalho e em estudos posteriores (arts. 21 e 22 da Lei nº 9.394/96 – LDB).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação considera a Educação Infantil como a

primeira etapa da Educação Básica e, portanto, direito inalienável de cidadania e

dever do Estado , tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de

zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico s , afetivo, intelectual,

linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Por fim, importante mencionar a recente Lei Federal nº 13.257, de 08 de

março de 2016, a qual prevê a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para as

crianças que estão na “primeira infância”, assim considerada como o período que abrange os primeiros

6 anos completos (72 meses) de vida da criança (art. 2º).

De acordo com o que foi estabelecido em lei, o Estado tem o dever de estabelecer

políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância. O pleno atendimento dos

direitos da criança na primeira infância constitui objetivo comum de todos os entes

da Federação, segundo as respectivas competências constitucionais e legais, a ser alcançado em

regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (art. 8º).

Conforme determina o artigo 5º da referida Lei, a educação infantil é

uma área prioritária de investimento do Poder Público, in verbis:

Art. 5º Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para

a primeira infância a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação

infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistência social à família da

criança, a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como a

proteção contra toda forma de violência e de pressão consumista, a prevenção de

acidentes e a adoção de medidas que evitem a exposição precoce à comunicação

mercadológica.

Além disso, a Lei Federal nº 13.257/2016, em seu artigo 16, deixou

claro a obrigação do Poder Público assegurar a educação infantil de qualidade,

mediante a oferta, inclusive, de instalações físicas dentro dos parâmetros de

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infraestrutura estabelecidos pelo Ministério de Educação.

No atual ordenamento jurídico, portanto, as creches e pré-escolas ocupam um lugar

bastante claro e possuem caráter institucional e educacional diverso daquele dos contextos

domésticos.

A legislação reconhece aquilo que a ciência aponta como sendo o

período mais importante do aprendizado do ser humano. Os primeiros anos de vida

são fundamentais para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social da

criança. Em razão deste fato, a educação infantil reveste-se de importância ímpar na formação da

criança, com reflexos em toda sua vida posterior.

Conforme ensinam os professores e pesquisadores Amauri Betini Bartoszeck1 e Flavio

Kulevicz Bartoszeck2, em seus estudos sobre as implicações educacionais da neurociência do seis

primeiros anos de vida, essa é a fase em que as crianças mais desenvolvem suas

habilidades, nas mais diversas áreas, possuindo uma capacidade de aprendizagem

que deve ser bem explorada, sob o risco de não terem as mesmas habilidades após

a primeira década de vida. Segundo eles:

A fusão dos achados da neurociência contemporânea com o estudo dodesenvolvimento biológico humano, aumentou substancialmente nossoentendimento de como são fundamentais os 6 primeiros anos da vida da criança.[...] Nos últimos 10 anos houve uma “explosão” de conhecimentos a respeito daneurociência do cérebro e o relacionamento entre os primeiros anos deaprendizagem, comportamento e saúde da criança que se transforma em adulto.No

rol de descobertas inclui-se pesquisa básica, técnicas de neuroimageamento(análise do cérebro em atividade), e acima de tudo a integração destesconhecimentos pela

Transdisciplinaridade. […] Há uma intensa interação entre a estimulação precoce,via órgãos dos sentidos e a carga genética. Como consequência, produz-se umefeito decisivo no desenvolvimento cerebral da criança, com impacto de longaduração na fase adulta. […] Há uma intensa produção de sinapses e vias neuraisna vida uterina e 1º ano de vida da criança, com progressivo decréscimo até os 10anos, embora para certas funções se estenda ao longo da vida (Conel, 1939).Ainda que haja múltiplas formações de circuitos, se observa um importante“podamento” de neurônios, sinapses e mesmo vias neurais, que não sãoestimulados. […] Os bebês nascem com a capacidade sensorial básica que sedesenvolve durante a infância. Já

nos primeiros dias aprendem a reconhecer o rosto de suas mães. Prestam atençãomais tempo para a voz da mãe do que a de estranhos, e há indicações de quereconhecem a voz da mãe já ao nascer, por se habituarem a este som ainda nafase uterina. A compreensão das emoções, desejos e o que os outros acreditam,

1Fellow in Basic Medical Education, Departamento de Fisiologia, Laboratório de Neurociência & Educação, UFPR; e-mail: [email protected], Cx. Postal 2276, 80011-970 Curitiba, PR.2 Do Instituto de Neurociência e Educação, e-mail: [email protected]

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desempenha importante papel na interação social. Muito precocemente os recém-nascidos distinguem as expressões faciais básicas de alegria, tristeza e raiva. Emtorno dos 18 meses de vida os bebês sabem os princípios elementares de que asoutras pessoas podem ter diferentes “pontos de vista”, desejos e emoções do queeles mesmos. Ainda nesta faixa de idade as crianças se divertem com atividadesdo “fazer de conta”. Isto demanda saber o que é real e o que não é, um dosprimeiros passos para a criatividade. Ao redor dos 3 anos de idade começam afalar o que pensam (acham), por exemplo eu acho que o doce está no armário!Somente aos 4-5 anos de idade as crianças começam a perceber que, o que elas“acham” é diferente do que as outras pessoas pensam, como se propõem na teoriada mente. […]

Nesta especial fase de desenvolvimento, a prioridade absoluta no investimento em

Educação Infantil para as crianças justifica-se na medida em que, superado o momento adequado, os

investimentos posteriores não produzirão os mesmos resultados que poderiam ser obtidos naqueles

períodos cruciais à estimulação.

O educador CELSO ANTUNES3, ao discorrer sobre a importância da educação infantil,

assim destaca:

Se a ciência mostra que o período que vai da gestação até o sextoano de vida é o mais importante na organização das bases para ascompetências e habilidades que serão desenvolvidas ao longo daexistência humana, prova-se que a Educação Infantil efetivamenteé tudo, mas é essencial que possamos refletir sobre como fazê-la bem edescobrir que esse bem-fazer vai muito além de um “desejo” sincero e um “amor”pela criança. (Destaque nosso).

No mesmo sentido, a pesquisadora ISABEL DE OLIVEIRA E SILVA4 ao fazer um relato

histórico sobre a transição das creches e pré-escolas da assistência social para a pasta da educação,

aponta para a importância dos primeiros anos de vida da criança e do papel da educação infantil neste

contexto, assim:

O compartilhamento da educação e do cuidado com a criança pequena entrefamília e instituições públicas como algo legítimo significou uma construção daqual participaram diversos agentes em espaços e relações distintos, que, apesarda pluralidade de sentidos que cada um dos grupos envolvidos lhe atribuem,culminou com o reconhecimento do direito à Educação Infantil edo dever do Estado para com a criança pequena. (…)

Além disso, tratava-se de um momento em que se difundiam entre especialistas epesquisadores da educação brasileira os estudos que indicavam osprimeiros anos de vida como cruciais para o desenvolvimentointelectual, o qual dependia, em grande medida, das condições doambiente para que ocorresse de modo satisfatório.

A escola de educação infantil é exatamente um dos ambientes

3 ANTUNES, Celso. Educação Infantil: prioridade imprescindível. 7ª ed. Petrópolis,RJ:Vozes, 2010. Págs. 9/10.4 SILVA, Isabel de Oliveira e. Educação infantil no coração da cidade. São Paulo:Cortez, 2008. Págs. 68 e 70.

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favoráveis ao desenvolvimento intelectual da criança, em especial, e muitas vezes

único, quanto às crianças cujos pais estão inseridos nas camadas mais carentes

da sociedade.

Apesar dos avanços dos estudos científicos reconhecendo a importância da educação

infantil, apenas com o advento da Emenda Constitucional nº 59, de 11.11.2009, que tornou a educação

básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos.

A Constituição de 1988 destacava como obrigatório apenas o ensino fundamental.

Nesta esteira, a Lei nº 9.424/96 criou o FUNDEF, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério, que vigorou durante 10 (dez) anos.

Em 2007, através da Lei nº 11.494, foi instituído o FUNDEB, Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Desta forma, a

Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, passa também a ser financiada pelo FUNDEB,

o que foi um enorme ganho para as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos e 11 (onze) meses, em

especial pelo fato de que, tradicionalmente no Brasil, não havia muitos investimentos na Educação

Infantil, apesar da sua expressa previsão como direito da criança, em vários artigos da Constituição

Federal.

Diante de todo exposto, não resta nenhuma dúvida quanto ao fundamento

constitucional e legal do direito das crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos e 11

(onze) meses ao acesso às creches e pré-escolas de qualidade, dentro dos

parâmetros nacionais para a educação infantil.

Contudo, a inspeção realizada no prédio onde funcionará mais um

Centro Infantil em Emaús evidencia a falta de manutenção e ocupação do prédio, o

que ocasionou a deterioração da sua estrutura física, encontrando-se em total

abandono pelo poder público municipal.

O Governo Federal criou o Programa Nacional de Reestruturação e

Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil

(Proinfância), por considerar que a construção de creches e pré-escolas, bem como

a aquisição de equipamentos para a rede física escolar desse nível educacional,

são indispensáveis à melhoria da qualidade da educação.

O programa foi instituído pela Resolução nº 6, de 24 de abril de 2007, e é parte das

ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da Educação. Seu principal

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objetivo é prestar assistência financeira ao Distrito Federal e aos municípios visando

garantir o acesso de crianças a creches e escolas de educação infantil da rede

pública.

A referida Resolução estabelece em seu artigo 3º que a assistência financeira será

processada mediante solicitação do Distrito Federal e municípios de acordo com a esfera

administrativa que a escola pleiteada pertence ou pertencerá, por meio de projetos de infra-estrutura

das redes públicas escolares e de equipamento e mobiliário, elaborados sob a forma de plano de

trabalho.

Além disso, o atendimento com assistência financeira, no caso de construção ou

reforma, condiciona-se à apresentação de documentos que comprovem a propriedade do terreno,

conforme determina o parágrafo único do artigo 3º da Resolução.

Das informações existentes às fls. 326/327, extraídas do Sistema

Integrado de Monitoramento e Controle do MEC/FNDE, viu-se que o valor pactuado pelo

FNDE é de R$ 1.197.760,54 (um milhão, cento e noventa e sete mil, setecentos e sessenta reais e

sessenta e quatro centavos) e o valor total do contrato é de R$ R$ 1.225.674,28 (um milhão, duzentos

e vinte e cinco mil, seiscentos e sessenta e quatro reais e vinte e oito centavos), com ordem de

serviço datada de 10 de setembro de 2012 e previsão para a conclusão da obra em 31 de

julho de 2017, cabendo destacar que foi necessária a edição de dez aditivos ao contrato

inicial, que postergaram a conclusão das obras até 2017, ou seja, por cinco anos e,

ainda assim, o prédio do centro infantil ainda não está em condições de

funcionamento, pois, inacabado.

Ademais, o convênio nº 407/2011 que garantiu a obra vencerá em 31 de

janeiro de 2018.

b) Dos parâmetros nacionais para a oferta da educação infantil:

As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos educacionais

que educam e cuidam de crianças de 0 a cinco anos de idade por meio de profissionais com formação

específica legalmente determinada, refutando, assim, funções de caráter meramente assistencialista.

O atendimento ao direito da criança na sua integralidade requer o cumprimento pelo

Estado no oferecimento de uma experiência educativa com qualidade a todas as crianças da educação

infantil.

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As instituições de educação infantil devem tanto oferecer espaço limpo, seguro e

voltado a garantir a saúde infantil quanto se organizar como ambientes acolhedores, desafiadores e

inclusivos, pleno de interações, explorações e descobertas partilhadas com outras crianças e com os

professores.

Nesse contexto, todo espaço que ministrar educação infantil deve possuir

proposta pedagógica, regimento escolar, formação de professores e outros profissionais, espaços

físico e recursos materiais necessários e suficientes para atender a demanda

específica da educação infantil.

No que concerne às normas que estabelecem padrões mínimos

exigidos para escolas de educação infantil no que diz respeito às instalações

físicas dos prédios, temos a Resolução nº 05, de 17 de dezembro de 2009, do

Conselho Nacional de Educação, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para

a educação infantil e os Parâmetros Nacionais de Infraestrutura para as

instituições de educação infantil instituídos pelo MEC, no ano de 2006, em

consonância com o seu papel de indutor de políticas educacionais e de proponente

de diretrizes para a educação.

Ademais, a Lei nº 1.3257/2016 determinou em seu artigo 16, que: A

expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a qualidade da oferta, com

instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo

Ministério da Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei n o 9.394, de 20 de

dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) , e com currículo e materiais

pedagógicos adequados à proposta pedagógica.

Assim, as reformas, ampliações e construções de instituições de educação infantil

devem obedecer aos padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da Educação, que

atualmente estão disciplinadas no seguinte documento: Parâmetros Nacionais de

Infraestrutura para as instituições de educação infantil instituídos pelo MEC, no

ano de 2006.

Os “Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil: Encarte

1” (BRASIL, 2006c, p.26-28), trazem ainda recomendações gerais para as escolas de Educação

Infantil, quais sejam:

• que o terreno propicie, preferencialmente, o desenvolvimento da edificação em um único

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pavimento;

• que a área mínima para todas as salas para crianças de 0 a 6 anos contemple

1,50 m² por criança atendida considerando a importância da organização dos ambientes

educativos e a qualidade do trabalho;

• que a acessibilidade seja garantida por meio de rampas de acesso ou plataforma de

percurso vertical com as adaptações necessárias para garantir total segurança, conforme NBR

9050. Que sejam assegurados banheiros com sanitários, chuveiros e cadeiras para banho,

brinquedos e equipamentos adaptados para a utilização de crianças com necessidades

especiais;

• que o berçário e as salas de atividades sejam voltados para o nascente, que em todos os

espaços utilizados pelas crianças os acessórios e os equipamentos como

maçanetas, quadros, pias, torneiras, saboneteiras, porta-toalhas e cabides

sejam colocados ao alcance destas para sua maior autonomia. Os interruptores

devem possuir protetores contra descarga elétrica;

• que todas as paredes sejam pintadas com tinta lavável;

• que os ambientes tenham ralos com tampa rotativa para maior proteção contra insetos;

• que a elaboração dos projetos arquitetônicos das instituições de Educação

Infantil seja concebida com a assessoria e o acompanhamento das

Secretarias Municipais de Educação, respaldadas nos Conselhos Estaduais

ou Municipais de Educação;

• que haja a presença de extintores de incêndio e demais equipamentos implantados de

acordo com as normas do Corpo de Bombeiros;

• que haja disponibilidade de água potável para consumo e higienização. A caixa

d’água deve ser mantida fechada e ser limpa regularmente.

• que a infraestrutura esteja de acordo com as determinações legais nacionais e locais

pertinentes.

Em relação às salas de aula, os “Parâmetros básicos de infraestrutura para

instituições de educação infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c, p. 16-17) estabelecem que:

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O espaço físico para a criança de 1 a 6 anos deve ser visto como um suporte que

possibilita e contribui para a vivência e a expressão das culturas infantis

– jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade

do olhar infantil. Assim, deve-se organizar um ambiente adequado à proposta

pedagógica da instituição, que possibilite à criança a realização de

explorações e brincadeiras, garantindo-lhe identidade, segurança,

confiança, interações socioeducativas e privacidade, promovendo

oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento. Sugestões para

aspectos construtivos:

- piso liso, de fácil conservação, manutenção e limpeza, confortável termicamente,

de acordo com as condições climáticas regionais; […]

- janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso, permitindo a

ventilação e a iluminação natural e garantindo visibilidade para o ambiente externo,

com peitoril de acordo com a altura das crianças, garantindo a segurança; […]

- bancadas, prateleiras e/ou armários, tanto para guarda das fraldas, das

roupas de cama e de banho quanto para guarda de brinquedos e materiais

utilizados pelas crianças. As bancadas, as prateleiras e os armários

destinados à guarda de brinquedos devem ser acessíveis às crianças,

mantendo-se uma altura em torno de 65 cm. Acima desta altura devem

ficar os materiais de uso exclusivo dos adultos; [...].

No que pertine à área externa, consta nos “Parâmetros básicos de infraestrutura

para instituições de educação infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c, p.26-28):

Deve corresponder a, no mínimo, 20% do total da área construída e ser

adequada para atividades de lazer, atividades físicas, eventos e festas da escola e

da comunidade. Contemplar, sempre que possível, duchas com torneiras

acessíveis às crianças, quadros azulejados com torneira para

atividades com tinta lavável, brinquedos de parque, pisos variados,

como, por exemplo, grama, terra e cimento. Havendo possibilidade, deve

contemplar anfiteatro, casa em miniatura, bancos, brinquedos

como escorregador, trepa-trepa, balanços, túneis, etc. Deve ser

ensolarada e sombreada, prevendo a implantação de área verde, que pode

contar com local para pomar, horta e jardim.

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Em relação às áreas de recreação e vivência, tem-se que a valorização dos

espaços de recreação e vivência vai incrementar a interação das crianças, a partir do

desenvolvimento de jogos, brincadeiras e atividades coletivas, além de propiciar uma

leitura do mundo com base no conhecimento do meio ambiente imediato. O próprio reconhecimento da

criança de seu corpo (suas proporções, possibilidades e movimento) poderá ser refinado pela relação

com o mundo exterior.

A interação com o ambiente natural estimula a curiosidade e a criatividade.

Sempre que for possível, deve-se prover um cuidado especial com o tratamento paisagístico, que inclui

não só o aproveitamento da vegetação, mas também os diferentes tipos de recobrimento do

solo, como areia, grama, terra e caminhos pavimentados.

Quanto à sala multiuso, os “Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de

educação infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c, p.17-18) estabelecem que: Embora as salas de

atividades sejam concebidas como espaços multiuso, prevendo-se a organização de cantos de leitura,

brincadeiras, jogos, dentre outros, ressaltamos a importância da organização de um espaço

destinado a atividades diferenciadas, planejadas de acordo com a proposta pedagógica da

instituição, como alternativa para biblioteca, sala de televisão, vídeo ou DVD e som. É

recomendável que tenha capacidade mínima para atendimento à maior turma da instituição.

Sugestões para os aspectos construtivos:

- piso liso mas não escorregadio, de fácil conservação, manutenção e limpeza, confortável

termicamente, de acordo com as condições climáticas regionais;

- paredes revestidas com material de fácil limpeza e manutenção;

- janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso, permitindo a ventilação e a iluminação

natural e garantindo visibilidade para o ambiente externo, com peitoril de acordo com a altura das

crianças, garantindo a segurança;

- bancadas baixas com prateleiras e quadro azulejado, onde os trabalhos das crianças possam ser

afixados;

- previsão de espaço para colocação de livros, brinquedos, fantasias infantis, além de, quando

possível, computador, televisão, vídeo ou DVD, aparelho de som ou outros equipamentos

necessários à implementação da proposta pedagógica.

Ainda no que diz respeito à necessidade de uma organização dos espaços que

contemple a brincadeira e as interações como eixos norteadores das práticas pedagógicas na

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Educação Infantil, vale salientar o Art. 9º das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil” (BRASIL, 2010):

• Construção de uma sala multiuso na qual devem ser colocados, além das televisões e DVDs,

data show, computadores para uso das crianças, máquina fotográfica e gravadores;

• Aquisição de ar-condicionado para a sala multiuso.

Exige-se, portanto, a existência de padrões mínimos de infraestrutura para o

funcionamento adequado das instituições de educação infantil, com ambiente interno e

externo para o desenvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares e metodologia da

Educação Infantil, a fim de haver uma diversidade de situações e atividades a serem oferecidas às

crianças para evitar um ambiente de confinamento e monotonia.

De acordo com os “Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação

infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c) o espaço físico para a criança de 1 a 6 anos deve ser visto como

um suporte que possibilita e contribui para a vivência e a expressão das culturas infantis –

jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade do olhar infantil.

Com base nas informações coletadas na perícia técnica, viu-se que foi construída uma

sala multiuso na nova sede do CMEI Judith Aguiar, mas ainda não há equipamentos ou mobiliário

instalados, assim como em todo o prédio.

Assim, deve-se organizar um ambiente adequado à proposta pedagógica da instituição,

que possibilite à criança a realização de explorações e brincadeiras, garantindo-lhe

identidade, segurança, confiança, interações socioeducativas e privacidade,

promovendo oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.

c) Da necessidade de ampliação das vagas ofertadas na educação infantil.

Consoante já se ressaltou anteriormente, é grande a demanda por educação

infantil na área do Parque das Orquídeas, em Emaús, onde está situado o CMEI

Romana Santiago e onde se localiza a obra do novo centro infantil; em razão da

grande procura, a partir de 2012, foi necessário desativar a sala de leitura do

centro infantil Romana Santiago para transformá-la em uma nova sala de aula,

segundo afirmou a Diretora deste (fls. 161/162).

Nesse ínterim, existem duas escolas que ofertam os ensinos fundamental I e II (1º ao 9º

ano), dispondo de turmas de educação infantil (pré-escola, com crianças de 04 e 05 anos de

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idade) apenas como forma de auxiliar no atendimento à imensa demanda por vagas

no bairro, uma vez que aquelas não dispõem da estrutura exigida para atender aos

parâmetros da educação infantil.

Tanto é assim que a Diretora da Escola Municipal Manoel Machado, situada no Parque

Industrial, em Emaús, ressaltou que no bairro há uma carência muito grande por educação

infantil, existindo lista de crianças na faixa etária de 04 e 05 anos, que aguardam

por vagas nos níveis da educação ofertados por aquela escola diante da ausência

de novas vagas (fl. 299).

Toda essa situação já demonstra a falta de acesso à educação infantil,

existindo uma grande quantidade de crianças que não frequentam à escola, em

razão da omissão municipal.

Como é sabido, no Município de Parnamirim inexiste vagas, em educação infantil,

para crianças de 0 a 01 ano e 11 meses e, é insuficiente o número de vagas para crianças de 02

a 05 anos de idade, tal omissão do Poder Público Municipal resulta em grave e constante

violação do direito difuso das crianças de zero a cinco anos de terem acesso à educação infantil.

De fato, existe uma grande demanda reprimida na educação infantil e uma constante

redução de vagas em detrimento do grande crescimento populacional que existe no Município,

inclusive diante dos diversos programas habitacionais implantados, como o Minha Casa, Minha Vida.

Não obstante, merecem destaque as informações obtidas através do Sistema

DATASUS do Ministério da Saúde5, referente aos dados dos Nascidos Vivos Residentes no Município

de Parnamirim, o número de nascimentos no ano de 2011 foi de 3.418 (três mil quatrocentos e dezoito)

crianças, no ano de 2012 foi de 3.706 (três mil setecentos e seis), no ano de 2013 foi de 3.912 (três mil

novecentos e doze) e no ano de 2014 foi de 4.025 ( quatro mil e vinte e cinco).

Esses dados apontam um incremento anual de aproximadamente 200 crianças por ano,

situação que não é acompanhada pela Secretária Municipal de Educação, visto que não há a criação

de novas vagas no Município.

Em relação a população de 04 a 05 anos, importante citar a Constituição Federal em

seu artigo 208, o qual determina o seguinte: Art. 208. O dever do Estado com a educação será

efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) 4 (quatro) aos 17

(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não

tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) .

5 http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvrn.def

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Portanto, o atendimento de 04 a 05 anos da educação infantil tornou-se obrigatório, não

se podendo conceber mais crianças nesta faixa etária sem comparecer à escola.

Neste sentido, o Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 13.005/2014 e o Plano

Municipal de Educação – PME, Lei Municipal nº 1.721/2015 estabeleceram como primeira meta a

universalização, até 2016, da educação infantil na pré-escola para as crianças de 4

(quatro) a 5 (cinco) anos de idade . Além disso, o Plano Municipal de Educação foi mais

avançado do que o Plano Nacional, ao definir como meta a ampliação da oferta de educação

infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 60% (sessenta por cento) das

crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência do PNE.

Por seu turno, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu art. 11, V, bem como o

ECA, em seu art. 54, IV, atribui ao Ente Público o dever de assegurar o atendimento de crianças de

zero a seis anos de idade em creches e pré-escolas.

A Jurisprudência é unânime no sentido de reconhecer que a educação infantil, através

do atendimento em creches e o acesso à pré-escola, representa prerrogativa constitucional

indisponível das crianças, sendo imprescindível ao seu desenvolvimento integral, e como primeira

etapa do processo de educação básica.

A educação é um direito social público subjetivo, devendo ser materializado através de

políticas sociais básicas, porquanto indiscutivelmente relacionado a fundamentos constitucionais da

nossa República, relacionando-se aos objetivos primordiais e permanentes de nosso Estado, em

especial, quando buscamos a necessária erradicação da exclusão social.

A garantia de vagas na educação infantil apresenta ainda uma segunda vertente, além

do direito fundamental das crianças, qual seja, a de assegurar aos genitores, sobretudo às mães, a

possibilidade de retornarem ao mercado de trabalho.

A insuficiência de vagas em creches e pré-escolas, além de frustrar o

direito básico da criança de ter acesso à educação, frustra o direito dos pais de

trabalharem, diante da impossibilidade de deixarem seus filhos sozinhos.

O Supremo Tribunal Federal, inclusive, já reconheceu esse direito para

crianças a partir de 03 meses de vida. Nesse sentido:

REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO CONSTITUCIONAL.DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO. ARTIGO 208 DA CRFB.MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.

Na hipótese dos autos, o juízo a quo determinou que o Município

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de Armação de Búzios garanta o acesso a educação dos menoresem idade pré-escolar, reconhecendo o direito de matrícula emcreche da rede municipal ou, em caso de falta de vagas, emcreche da rede particular às custas da municipalidade para ascrianças: Luiz Felipe de Souza Rocha, nascido em 03/07/2008 (Cert. Nasc. de fl.41 - doc. eletrônico 00041); Maria Letícia Saraiva, nascida em 03/05/2008 (Cert.Nasc. de fl. 32 - doc. eletrônico 00031 e 00037); Emanuel Ângelo de Oliveira,nascido em 22/05/09 (Cert. Nasc. de fl. 26 - doc. eletrônico 00025); Erick AlmeidaMoraes, nascido em 27/07/10 (cert. Nasc. de fl. 22 – doc. eletrônico 00021) eThaís de Fátima Silvério Rodrigues e Maria Gabrielly.

A educação é um bem fundamental à vida digna, existindo como atributo intrínsecoda própria democracia, desta fazendo parte indissociável. O exercício da práticaeducacional serve de instrumento poderoso de desenvolvimento da pessoahumana na busca de um melhor exercício da cidadania.

Nesse passo, a efetivação do direito à educação, como instrumento detransformação social, compreende a própria dignidade da pessoa humana, comodireito anterior à própria formação do Estado. Nesse passo, temos que o direito àeducação, por ser direito social e fundamental, pode ser chamado à efetividadepor qualquer indivíduo que se sinta excluído do efetivo acesso previstoem nossa Constituição. Nesse passo, tanto o legisladorconstitucional, quanto o infraconstitucional, procurou resguardar odireito das crianças de zero a seis anos de idade de verem-sematriculadas em creche, justamente, sabedores de que, inclusive,a maior parte da população brasileira é carente do ponto de vistasócio financeiro, necessitando os pais deixarem seus filhos comoutras pessoas para poderem trabalhar e, para com o produto dotrabalho, sustentá-los.

O Supremo Tribunal Federal, inclusive, já entendeu que a criançade três meses de idade possui pleno direito a ser matriculado nacreche municipal, não podendo afastar a obrigação questões relativas aoorçamento, sendo certo que o Município possui dever jurídico constitucional deimplementar as políticas públicas de forma satisfatória (ARE 639337 AgR,Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011).

Ora, nem todos os pais, ao saírem para trabalhar, têm com quemdeixar seus filhos e, portanto, nada mais justo do que deixá-los emcreche apropriada mantida pelo Poder Público. Não prospera aindao argumento da falta de recursos públicos, ainda mais, tendo-seem vista o disposto no artigo 4º, do Estatuto da Criança e doAdolescente, que determina a garantia de prioridade aos menores.Em especial, os incisos “c” e “d” do referido diploma legalasseguram que tal prioridade compreende a preferência naformulação e na execução das políticas sociais públicas e, ainda,destinação privilegiada de recursos públicos nas áreasrelacionadas com a proteção à infância e à juventude.

O provimento jurisdicional, portanto, é medida imprescindível, issoporque a pretensão autoral é relevante (educação de crianças,prioridade absoluta), e a sua desacolhida pelo judiciáriofatalmente acarretará danos irreparáveis, uma vez que a criança

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ficará na rua à mercê da própria sorte. Manutenção da sentençaem reexame necessário.

(TJ-RJ - REEX: 00008932920128190078 RJ 0000893-29.2012.8.19.0078, Relator:DES. RENATA MACHADO COTTA, Data de Julgamento: 22/07/2014,TERCEIRA CAMARA CIVEL).

Assim, o Poder Público deverá assegurar o atendimento em creches e pré-escolas, no

mínimo, para crianças a partir de 04 meses de vida, considerando que, durante os primeiros 120 dias

de nascido, a mãe poderá ainda cuidar de seu filho, por estar em gozo de licença maternidade.

Diante disso, a Constituição impõe ao Poder Público a obrigação de criar condições

objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças de zero a cinco anos de idade,

o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se

inaceitável omissão governamental, apta a frustrar o integral adimplemento de prestação estatal que

lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal.

Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal “os Municípios - que atuarão,

prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão

demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art.

208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da

discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do

atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a

comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia

desse direito básico de índole social. (STF. RE 410715 AgR. Segunda Turma. Relator Ministro

Celso de Mello. Julgamento 22.11.2005. Publicação DJ 3.2.2006).

Assim, comprovada a inércia do ente Municipal, cumpre ao Poder Judiciário exigir-lhe o

cumprimento integral de suas obrigações constitucionais, sobretudo, por se tratar de direito

fundamental, indisponível e absoluto, que deve ser resguardado acima de qualquer outro.

Por fim, cumpre ressaltar que o Município de Parnamirim tem sido inerte, e

sua omissão autoriza a atuação do Poder Judiciário no sentido de determinar as

medidas que se mostrem necessárias para assegurar o direito à educação das

crianças residentes no bairro de Emaús.

Ademais, o Ministério da Educação tem incentivado a ampliação de

vagas na educação infantil, visto que vem disponibilizando recursos através do

Programa Proinfância, no qual o governo federal remete recursos para a construção e a

ampliação dos Centros Infantis e o Município fica responsável em disponibilizar o terreno, justamente a

situação do novo Centro Infantil localizado em Parque Industrial, consoante se demonstrou.

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Por todo o exposto, resta amplamente demonstrada a necessidade de que

sejam tomadas todas as providências necessárias para a adequação do prédio,

equipação e efetivo funcionamento do novo centro infantil do bairro Emaús, para

possibilitar a ampliação de vagas e relativizar a demanda reprimida atualmente

existente no bairro.

d) A omissão do Gestor Municipal

De acordo com o princípio da Indisponibilidade os bens e interesses públicos não

pertencem à Administração e seus agentes, a quem cabe apenas geri-los, conservá-los e por eles

velar em prol da coletividade, verdadeira titular dos direitos e interesses públicos.

Neste sentido, o artigo 4º da Lei nº 8.429/92 estabelece que os agentes públicos de

qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância de tais princípios no trato

dos assuntos que lhes são afetos.

Ao não providenciar a conservação, guarda e utilização do Centro Infantil, mesmo tendo

recebido recursos federais para assim proceder, o Prefeito agiu de forma negligente gerando a

deterioração do patrimônio público, que, neste caso concreto é o próprio Centro Infantil, bem do uso

especial destinado à execução de serviço público de educação.

Assim, ao agir negligentemente na conservação do patrimônio público, os responsáveis

podem incidir na prática de ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 10, X, da Lei nº

8.429/1992, segundo o qual “constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,

malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e

notadamente, agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz

respeito à conservação do patrimônio público”.

Faz-se imprescindível destacar que a negligência já demonstrada, resultou em frontal

ofensa ao princípio da eficiência no serviço público, um dos principais vetores da Administração

Pública, por ser princípio previsto expressamente no artigo 37, caput, da Constituição Federal.

Nas lições dos mestres Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves “o Poder Público

deve buscar o bem comum, utilizando-se de meios idôneos e adequados à consecução de tais

objetivos, assegurando um certo padrão de qualidade em seus atos” (in Improbidade Administrativa,

Editora Lumen Juris, 5ª edição, p. 66).

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Portanto, o poder-dever de agir do administrador público é hoje pacificamente

reconhecido pela doutrina e jurisprudência, o que significa que as competências administrativas, por

serem conferidas visando ao atingimento de fins públicos, implicam ao mesmo tempo um poder para

desempenhar as correspondentes funções públicas e um dever de exercício dessas funções.

Assim, que, enquanto no direito privado o poder de agir é mera faculdade, no direito

administrativo é uma imposição, um dever de exercício das competências, de o agente público não

pode dispor, e a omissão do agente, diante de situações que exigem sua atuação, caracteriza abuso

de poder, que poderá ensejar, inclusive, responsabilização pessoal pelos danos que decorram dessa

omissão ilegal.

Outra não pode ser a conclusão no presente caso, visto que ao Prefeito não é dado o

direito de desconhecer e permanecer alheio a problema de tamanha extensão, como se fosse

possível a delegação total de sua resolução para o Secretário da pasta.

Ademais, este Órgão Ministerial já ingressou com Ação Civil Pública nº 0809802-

86.2015.8.20.5124, em 24 de setembro de 2015, na Vara da Fazenda Pública a fim de que o Prefeito

seja condenado em obrigação de fazer, consistente em dar cumprimento imediato ao disposto no art.

69, § 5º, da LDB, para que a Secretaria Municipal de Educação gerencie as contas específicas da

educação, e se torne assim, a efetiva ordenadora de despesa.

Tal situação restou comprovada pelo órgão ministerial ao tomar conhecimento de que a

Secretaria Municipal de Educação de Parnamirim somente vinha recebendo, a título de recursos, o

valor fixo de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) mensais, e que todos os recursos próprios e provenientes

de transferências, que deveriam ser destinados à educação, ficavam sob a responsabilidade da

Secretaria de Planejamento e Finanças, cabendo àquela Secretaria solicitar todo os recursos

necessários à Secretaria de Administração, e, somente em caso de ser deferido, o requerimento seria

encaminhando para a Secretaria de Planejamento e Finanças, para liberação dos valores.

Assim, registre-se que a Secretaria Municipal de Educação não dispõe de autonomia

para gerir os recursos destinados à educação, o que se encontra em desacordo com a

legislação, sobretudo o artigo 69, §5º, da Lei 9394/96 (LDB), que ao disciplinar a forma de

repasse dos recursos vinculados à Educação dispõe que “o repasse dos valores referidos neste artigo

do caixa da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios ocorrerá imediatamente ao

órgão responsável pela educação”.

Ademais, a Secretaria Municipal de Educação ainda não conta em sua

estrutura com órgãos destinados à realização de licitações, por exemplo. A garantia de

autonomia na gestão dos recursos exige a estrutura organizacional adequada, que permita o controle e

movimentação dos valores, realização de processo licitatório, etc.

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Portanto, com estas considerações, mais cristalina fica a

responsabilidade do gestor, no caso o Prefeito do Município, em adotar as medidas

eficazes para assegurar a conservação e utilização do Centro Infantil, que vem se

deteriorando a cada dia pela sua não utilização, são recursos federais repassados

através de convênio que estão sendo perdidos, sujeitando o espaço a ação de

vândalos e não dando o destino ao bem como foi previsto. Vislumbre-se que o

convênio é de 2011 e a finalização da obra foi prorrogada diversas vezes, findando

nesta gestão, com o prazo de 31/07/2017.

O princípio da eficiência consagra a tese de que a atividade estatal

será norteada por parâmetros de economia e de celeridade na gestão de recursos

públicos, utilizará adequadamente os meios materiais ao seu dispor e que não será

direcionada unicamente à busca de um bom resultado, mas sim, que deve visar, de

forma incessante, ao melhor resultado para os administrados. Com isto, o próprio

vetor da legalidade passará a ser valorado sob uma ótica material, deixando de ser

analisado sob um prisma meramente formal.

Ademais, não se deve perder de vista que eficiência, moralidade e legalidade

não são premissas conceituais antinômicas. Pelo contrário, integram-se e complementam-se, o que

exige do agente a busca incessante do melhor resultado, sem descurar dos mandamentos legais e dos

padrões éticos subjacentes ao bom administrador. Além disso, a eficiência se correlaciona com outros

princípios, como o da proporcionalidade, apresentando-se como importante diretriz para aferir a sua

observância pelo administrador.

O objetivo do princípio da eficiência é assegurar que os serviços

públicos sejam prestados com adequação às necessidades da sociedade que os

custeia, o que não se verifica no presente caso, estando o bem sem utilização

quando já teve 96,52% da obra executada, bem como recebeu o Município a

importância de R$ 956.303,14 (novecentos e cinquenta e seis mil, trezentos e três

reais e quatorze centavos) proveniente de transferências federais e já pagou a

empresa, responsável pela obra, o valor de R$ 859.896,17 (oitocentos e cinquenta

e nove mil, oitocentos e noventa e seis reais e dezessete centavos).

A Eficiência tem como corolário a boa qualidade. A partir da positivação desse princípio

como norte da atividade administrativa, a sociedade passa a dispor de base jurídica expressa para

exigir a efetividade do exercício de direitos sociais, bem como para reivindicar a qualidade das obras e

atividades públicas.

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Percebe-se que, sendo princípio expresso, a eficiência indiscutivelmente integra o

controle de legalidade ou legitimidade, e não de mérito administrativo. Deveras, a atuação eficiente

não é questão de conveniência e oportunidade administrativa, mas sim uma obrigação do

administrador.

Em decorrências dessas premissas, não restam dúvidas de que o abuso do poder tanto

pode revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e

causar lesão a direito dos administrados. A inércia da autoridade administrativa deixando de executar

determinada prestação de serviço a que por lei está obrigada, viola o ordenamento jurídico. É forma

omissiva de abuso de poder.

Ou seja, a atitude ineficiente e irresponsável do gestor, não bastasse

ofender o direito à educação de expressiva parte do alunado e da comunidade

local, ainda vem acarretando prejuízo ao erário, consistente na constante

dilapidação do Centro Infantil pela falta de uso.

O gestor faltou, ainda, com o dever de lealdade, abrangido pelo princípio da

moralidade, às crianças que aguardam por uma vaga na educação infantil, ao não observar o que era

melhor para os administrados e ao deixar de tomar as medidas administrativas corretas para o bom

funcionamento da máquina pública.

Ao se referir a tal dever, o doutrinador Emerson Garcia obtempera:

“O dever de lealdade em muito se aproxima da concepção de boa-fé, indicando a

obrigação de o agente: a) trilhar os caminhos traçados pela norma para a

consecução do interesse público e b) permanecer ao lado da administração em

todas as intempéries.”6 Mais adiante, citando Pedro T. Nevado-Batalha Moreno,

complementa que “o dever de lealdade abrange: o dever de neutralidade e

independência política no desenvolvimento do trabalho; o respeito à dignidade da

administração; o respeito ao princípio da igualdade e da não discriminação; e o

respeito aos particulares no exercício de seus direitos e liberdades públicas”7.

Ora, em vez de adotar todas as providências para garantir a conservação do patrimônio

do Centro Infantil e sua utilização com a abertura de vagas no segundo semestre de 2017, o gestor se

omitiu gravemente e, como se desconhecesse a situação, demonstrou total apatia na resolução do

problema existente.

Como averbado alhures, a falta de utilização do novo Centro Infantil localizado em

Parque Industrial, acarreta sensação de descrédito em relação ao Poder Público e de indignação.

Ressalte-se que a omissão do gestor fere a justa expectativa da população, em sua camada mais

necessitada, de ter uma transformação por meio da educação.

6 ALVES, Rogério Pacheco e GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa, 2ª, Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2004, p. 291.

7 Loc.cit.

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III – DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA INCIDENTAL

Concretizada como forma de suprir as mazelas que o tempo do processo causa à parte

que tem razão, almejando dividir razoavelmente o tempo de duração do processo, a tutela de

provisória de urgência antecipada busca adiantar os efeitos práticos do futuro provimento final da

procedência da demanda.

Neste sentido, inclusive, é o ensinamento de Luiz Guilherme Marinoni8, in verbis:

[...] é correto dizer que a tutela antecipatória visa apenas a distribuir o ônus do

tempo do processo. É preciso que os operadores do direito

compreendam a importância do novo instituto e o usem de forma

adequada. Não há motivos para timidez no seu uso, pois o remédio

surgiu para eliminar um mal que já está instalado, uma vez que o

tempo do processo sempre prejudicou o autor que tem razão […]

A tutela provisória é proferida mediante juízo de cognição sumária, ou seja, com base

num juízo de probabilidade, onde ainda não há a certeza do direito, mas existe a aparência deste

direito.

Nesse sentido, estabelece o Código de Processo Civil, em seu art. 294 que a tutela

provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.

A tutela provisória de urgência, por sua vez, é dividida em cautelar – garantidora do

resultado útil e eficaz do processo – e a tutela antecipada – satisfativa do direito da parte no plano

fático.

A tutela provisória de urgência, seja cautelar ou antecipada, pode ser concedida em

caráter antecedente – antes do início do processo - ou incidental – dentro do processo principal.

Como se vê, a tutela provisória de urgência antecipada é uma providência que tem

natureza mandamental, com o escopo de entregar ao autor da demanda, de forma total ou parcial, a

própria pretensão deduzida em juízo ou os seus efeitos. É espécie de tutela satisfativa no plano fático,

conferindo ao requerente o bem da vida buscado na ação de conhecimento.

Embora a expressão “poderá” possa suscitar dúvidas quanto à possível

discricionariedade do magistrado na concessão dessa tutela antecipatória, constitui-se, em verdade,

uma obrigação, sendo dever do juiz concedê-la, desde que presentes os requisitos autorizadores.

Em relação à prova inequívoca, ressalte-se que a norma prevê apenas uma cognição

8 MARINONI, Luiz Guilherme. Manual do Processo de Conhecimento, 2.º, Ed. Revista dos Tribunais, p. 229

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sumária, de modo que o juízo de probabilidade deve ser exigido em grau compatível com os direitos

que estão jogo.

De outro lado, o art. 297 do Código de Processo Civil estabelece que:

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para

efetivação da tutela provisória.

Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes

ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.

Segundo a previsão do art. 297, o juiz poderá determinar as medidas que considerar

adequadas para a efetivação da tutela provisória, isso porque, tratando-se de tutela provisória de

urgência, é inegável a necessidade de imediata satisfação.

Em relação aos requisitos para a concessão da tutela provisória de urgência, o art. 300

do Código de Processo Civil determina que:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o riscoao resultado útil do processo.

[…]

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou apósjustificação prévia.

De acordo com o referido artigo, exige-se a existência de elementos que evidenciem a

probabilidade do direito, além da comprovação de que não sendo protegido imediatamente, de nada

adiantará uma proteção futura, diante do perecimento do direito.

Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento físico, cognitivo,

afetivo e social da criança. Em razão deste fato, a educação infantil reveste-se de importância ímpar

na formação da criança, com reflexos em toda sua vida posterior.

Nesse diapasão, o que está em jogo são os direitos fundamentais à

educação, ao crescimento e desenvolvimento sadio, acesso à escola de qualidade

e nos anos iniciais, uma vez que um centro infantil praticamente pronto e sem

funcionamento obsta a matrícula e a inserção na rede básica de ensino de mais de

uma centena de crianças, que não estão matriculadas em nenhuma escola ou,

ainda, encontram-se nas escolas municipais de ensino fundamental que possuem

turmas de educação infantil de forma precária, sem a observância dos Parâmetros

mínimos de qualidade para oferecer essa etapa da educação.

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A narrativa dos fatos e o Relatório Técnico Pericial demonstram a presença indubitável

dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, necessários para a concessão da tutela de

urgência.

Quanto ao perigo da demora, é certa a sua existência na medida em que o tempo não

estaciona para as crianças que hoje não estão matriculadas na educação infantil em

face da ausência de vagas, que poderiam ser abertas caso o prédio do novo CMEI

de Emaús estivesse apto a ser ocupado e a promover o acesso a uma educação

infantil de qualidade, fator este que influenciará todo desenvolvimento escolar

futuro desses infantes.

Ressalte-se que o prédio que abrigará um centro infantil no bairro Emaús necessita

apenas de reparos em sua estrutura física, uma vez que as instalações são novas. Não obstante, todo

o mobiliário, equipamentos e material precisa ser disponibilizado em quantidade suficiente para

atender a demanda do centro infantil, permitindo o seu pelo funcionamento.

Saliente-se que quanto mais prolonga-se no tempo o início dos

reparos, pior vai ficando a estrutura do prédio, que sofre com a deterioração pela

não ocupação, as intempéries e com o natural decurso do tempo, além da ação

humana, revelando, assim, outras necessidades de adequação física.

De outro modo, e este ainda mais grave, o tempo também não estaciona para as

crianças que hoje necessitam de uma vaga nas creches e pré-escolas públicas. Os anos da

primeira infância passarão, inexoravelmente, sem que elas tenham a possibilidade

de frequentar uma escola de educação infantil de qualidade, tempo precioso,

conforme atesta a ciência, para desenvolvimento de habilidades que contribuirão,

de maneira decisiva, para o sucesso nos anos seguintes da educação básica e

superior.

Caso o pedido somente venha a ser deferido em decisão judicial de mérito, a conclusão

dos reparos, colocação do mobiliário e equipamentos e efetivo funcionamento do Centro Infantil serão

indefinidamente postergadas. Os prejuízos para as crianças são incalculáveis, posto que não é

possível mensurar as perdas educacionais sofridas por elas ao longo de suas vidas, inclusive para as

que estão tolhidas no seu direito de estudar, em razão da insuficiência de vagas no Centro Infantil

Romana Santiago, único na localidade.

Essa situação exige a adoção de medidas imediatas pelo Poder Judiciário, que se torna

responsável pela solução da demanda a partir do momento da propositura da ação.

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In casu, a fumaça do bom direito restou evidenciada através de toda a argumentação

exarada nesta peça, de que as crianças, na faixa etária de 0 (zero) a 05 (cinco) anos e 11 (onze)

meses, têm direito a uma educação infantil de qualidade, direito este que lhes é constitucionalmente

garantido e que pode não vir a ser efetivado em face da inércia do Município de Parnamirim.

Reforçando a verossimilhanças das alegações, destaquem-se os próprios direitos

fundamentais assegurados por nossa Carta Política de 1988, garantindo a todos, especialmente, às

crianças, o direito à educação, saúde e integridade física e psicológica.

O direito à plena educação de qualidade representa fator de limitação da

discricionariedade político-administrativa dos entes públicos, sendo imperativa, desta feita, a

reconstrução pleiteada a fim de efetivar mandato constitucional, juridicamente vinculante.

Aliás, a omissão do Administrador em cumprir este dever constitucional não está no

âmbito do mérito administrativo. É ato arbitrário que inviabiliza as garantias estabelecidas em favor da

pessoa e dos cidadão s .

Em face disso, e presentes os requisitos exigidos em Lei, requer esse Órgão

Ministerial a concessão de medida antecipatória de urgência, no sentido de fixar a

obrigação do Município de Parnamirim em adotar as seguintes providências com relação

ao prédio do novo centro infantil situado na Rua Professora Maria Soliana de

Andrade, em Emaús, construído com recursos Proinfância :

1. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências administrativas e

orçamentárias necessárias para viabiliz ar os consertos, manutenção ,

revisões e adequações na estrutura física do novo prédio, a fim de concluir a

obra e sanar as patologias constata das no relatório de vistoria técnica

realizado pelo Ministério Público, bem como providencie todas as licenças e

autorizações pertinentes para o funcionamento d o local , para que o Centro

Infantil esteja totalmente apto a iniciar as suas atividades no ano letivo de

2018, observados os Parâmetros Nacionais para a Educação Infantil;

2. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências para garantir e viabilizar a

remessa de mobiliário, utensílios, materiais e brinquedos pedagógicos,

instalação de todos os equipamentos (lousa, armários, estantes,

ventiladores, ar-condicionado, freezer, fogão industrial, lâmpadas, peças

sanitárias, dentre outros), do parque infantil de fibra e dos demais itens

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necessários ao regular funcionamento de todos os ambientes do novo centro

infantil, devendo, também, dotar a unidade de ensino de todos os recursos humanos

necessários ao pleno funcionamento das suas atividades, viabilizando, assim, o início das

atividades na instituição no ano letivo de 2018;

3. Amplie o número de vagas na educação infantil no ano de 2018, com a

abertura de matrículas para o novo centro infantil de Emaús (planta Parque

Industrial), nos limites da sua capacidade, a fim de amenizar com a demanda

reprimida atualmente existente na localidade;

4. No prazo de 60 (sessenta dias), inaugure e ponha em funcionamento o novo

centro infantil de Emaús, situado à Rua Professora Maria Soliana de Andrade,

Emaús, Parnamirim/RN (planta Parque Industrial).

Por tratar-se de medida judicial em favor de crianças, requer, ainda, a fixação de multa

pessoal e diária no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), a ser suportada pelo Chefe do Executivo

Municipal e respectivos Secretários, por dia de descumprimento da decisão judicial.

IV – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, fiel aos lineamentos acima traçados, requer este Órgão Ministerial,

através de sua representante signatária, se digne Vossa Excelência:

a) conceder a tutela provisória de urgência antecipada nos termos requeridos pelo Parquet;

b) seja determinada intimação pessoal, do Ilm.º Sr. Prefeito de Parnamirim e dos Secretários

Municipais de Educação e Obras de Parnamirim para cumprirem a medida antecipatória, caso

concedida;

c) objetivando conferir eficácia real à decisão antecipatória de tutela concedida, postula-se a fixação de

multa PESSOAL diária, no valor de R$ 1.000,00 ( mil reais), para o caso de não cumprimento da

medida dentro do prazo estipulado, cujo ônus deverá recair sobre a pessoa do Prefeito, do Secretário

Municipal de Educação, e do Secretário de Obras, de forma a não onerar o erário;

d) seja determinada a citação do Município de Parnamirim para comparecer em

audiência de conciliação a ser designada por este Juízo, nos termos do art. 319, inciso VII

do Código de Processo Civil, bem como, contestar a ação, nos termos do art. 335, CPC;

e) a procedência do pedido, com a confirmação da tutela provisória de urgência antecipada concedida ,

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a fim de que haja a CONDENAÇÃO do Município de Parnamirim, em obrigação de fazer, consistente

em adotar as seguintes providências seguintes com relação ao prédio do novo centro infantil

situado na Rua Professora Maria Soliana de Andrade, em Emaús, construído com

recursos Proinfância :

1. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências administrativas e

orçamentárias necessárias para viabiliz ar os consertos, manutenção ,

revisões e adequações na estrutura física do novo prédio, a fim de concluir a

obra e sanar as patologias constata das no relatório de vistoria técnica

realizado pelo Ministério Público, bem como providencie todas as licenças e

autorizações pertinentes para o funcionamento d o local , para que o Centro

Infantil esteja totalmente apto a iniciar as suas atividades no ano letivo de

2018, observados os Parâmetros Nacionais para a Educação Infantil;

2. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências para garantir e viabilizar a

remessa de mobiliário, utensílios, materiais e brinquedos pedagógicos,

instalação de todos os equipamentos (lousa, armários, estantes,

ventiladores, ar-condicionado, freezer, fogão industrial, lâmpadas, peças

sanitárias, dentre outros), do parque infantil de fibra e dos demais itens

necessários ao regular funcionamento de todos os ambientes do novo centro

infantil, devendo, também, dotar a unidade de ensino de todos os recursos humanos

necessários ao pleno funcionamento das suas atividades, viabilizando, assim, o início das

atividades na instituição no ano letivo de 2018;

3. Amplie o número de vagas na educação infantil no ano de 2018, com a

abertura de matrículas para o novo centro infantil de Emaús (planta Parque

Industrial), nos limites da sua capacidade, a fim de amenizar com a demanda

reprimida atualmente existente na localidade;

4. No prazo de 60 (sessenta dias), inaugure e ponha em funcionamento o

novo centro infantil de Emaús, situado à Rua Professora Maria Soliana de

Andrade, Emaús, Parnamirim/RN (planta Parque Industrial).

REQUER AINDA, que as intimações dos atos processuais sejam pessoais, na forma do

artigo 236, §2º, do Código de Processo Civil, na Promotoria de Defesa dos Diretos da Saúde

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e Educação de Parnamirim (4ª PJP).

Sem custas e emolumentos, em razão do disposto no artigo 18 da Lei n.º 7.347/85. Dá-

se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para fins meramente fiscais.

Embora já tenha apresentado o Ministério Público Estadual prova pré-constituída do

alegado, protesta, outrossim, pela produção de prova documental, testemunhal, e, até mesmo,

inspeção judicial, que se fizerem necessárias ao pleno conhecimento dos fatos, inclusive no transcurso

do contraditório que se vier a formar com a apresentação da contestação.

Nestes termos,Pede e espera deferimento.

Parnamirim, 16 de novembro de 2017.

Luciana Maria Maciel Cavalcanti Ferreira de Melo4ª Promotora de Justiça

EM ANEXO: Inquérito Civil nº 35/2012 – 4ª PmJ, com 325 páginas numeradas e

rubricadas.

ROL DE TESTEMUNHAS:

1. Francisca Alves da Silva Henrique. Secretária Municipal de Educação. Podendo ser encontrada na

sede da respectiva Secretaria, situada à Rua Cícero Fernandes Pimenta, 1379A, Santos Reis,

Parnamirim/RN;

2. Coordenadora de Desenvolvimento da Educação Infantil. Podendo ser encontrada na sede da

Secretaria Municipal de Educação, situada no endereço acima.

3. Franklin Altevy Bruno Wanderley. Secretário Municipal de Obras Públicas. Podendo ser encontrado

na sede da respectiva Secretaria, situada à Rua Tenente Pedro Rufino dos Santos, 742, Monte Castelo,

Parnamirim/RN.

Luciana Maria Maciel Cavalcanti Ferreira de Melo4ª Promotora de Justiça

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