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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARNAMIRIM
Defesa da Saúde e da EducaçãoRua Suboficial Farias, 1415 – Parnamirim/RN – CEP 59146-200
Telefones: 3645-7510/ 3645-5612
EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIAE JUVENTUDE E DO IDOSO DA COMARCA DE PARNAMIRIM/RN
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE por seu
órgão infrafirmado, no uso de suas atribuições institucionais e com base nos arts. 205, 206, incisos I, V
e VII, 208, §§ 1º e 2º, todos da CF/88; e Lei nº 9.394/96, vem à presença de Vossa Excelência propor a
presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
para cumprimento de obrigação de fazer, cumulada com pedido de antecipação de
tutela, em face do MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM/RN, pessoa jurídica de direito público interno, a ser
citado e intimado para o cumprimento da medida antecipatória adiante pleiteada na pessoa do Prefeito
do Município, Rosano Taveira da Cunha , com endereço profissional na Av. Tenente Medeiros,
105, Centro – 59.140-020 – Parnamirim/RN, na pessoa da Secretária Municipal de Educação e
Cultura, Francisca Alves da Silva Henrique, e na pessoa do Secretário Municipal de Obras,
Franklin Altevy Bruno Wanderley, e posteriormente citado na pessoa do Procurador-Geral do
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Município, na sede da Procuradoria-Geral do Município, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas:
I - DOS FATOS
Em 29 de março de 2012, foi instaurado nesta 4ª Promotoria de Justiça o Inquérito Civil
nº 35/2012, com o escopo de investigar a qualidade da educação prestada no Centro Infantil
Romana Santiago, especialmente nos aspectos de infraestrutura, currículo, proposta pedagógica,
corpo docente, relação adequada entre o número de alunos e professor, além de recursos materiais e
pedagógicos.
De início, cumpre informar que o CMEI Romana Santiago funciona na Rua Rio das
Contas, 178, no bairro Emaús, em Parnamirim/RN, e atende, atualmente, cerca de 224 (duzentos e
vinte e quatro) alunos, distribuídos nos níveis III a VI, nos turnos matutino e vespertino, conforme
documento fornecido pela Secretaria Municipal de Educação, que contém os dados do Censo Escolar
de 2017 (fls. 302/303 do Inquérito Civil anexo).
Na primeira inspeção realizada no CMEI Romana Santiago por esta Promotoria de
Justiça, em 28 de julho de 2011 (fls. 44/47 do Inquérito Civil incluso), verificou-se que o quadro de
professores encontrava-se completo. O CMEI contava com 06 (seis) salas de aula e 12 (doze) turmas,
sendo 06 (seis) no período matutino e 06 (seis) no período vespertino, nos níveis I a IV.
Em um aspecto geral, viu-se que o Centro Infantil dispunha de uma boa estrutura física,
com salas de aula amplas e dotadas de mobília destinada às crianças, em bom estado de
conservação; havia, ainda, um banheiro adaptado para portadores de necessidades especiais,
sinalização para deficientes visuais, bem como dois banheiros para adultos e dois adaptados para
crianças.
Diante das irregularidades verificadas em diversos Centros Infantis do município, esta
Promotoria de Justiça requisitou a realização de perícia técnica pela UFRN, por profissionais da área
de Pedagogia com conhecimento em educação infantil, a fim de obter maiores informações e dados
técnicos sobre a situação dos CMEI's de Parnamirim (cf. despacho de fls. 143/144).
Consta nos autos, em mídia digital, a perícia da FUNPEC/UFRN realizada por
amostragem em alguns Centros Infantis do município no ano de 2014, nela são detalhados os
parâmetros básicos para esses estabelecimentos de educação infantil, com relação à infraestrutura,
recursos humanos, recursos materiais pedagógicos, bem como sobre a necessidade de
criação/adequação de seus Projetos Políticos Pedagógicos e Regimentos Internos.
Por essa razão, esta Promotoria de Justiça requisitou à Direção do Centro Infantil
Romana Santiago que informasse se este passava por algum dos problemas apontados na perícia
realizada nos outros Centros Infantis, ao tempo em que relatasse sobre a aplicação dos recursos do
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Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE e também esclarecesse a respeito do elevado número de
crianças em cada sala de aula, no que diz respeito à relação professor/aluno (fls. 148/151 do IC).
Em audiência realizada no dia 23 de abril de 2015 , a Diretora do CMEI
Romana Santiago, Ana Mônica Nascimento da Nóbrega, informou que era grande a
demanda por educação infantil na área do Parque das Orquídeas, onde está situado
o CMEI e que estava em trâmite a construção de um novo centro infantil na
localidade; afirmou que devido à grande demanda entre os anos de 2012 a 2014, foi
necessário desativar a sala de leitura para transformá-la em uma nova sala de
aula; que possuía 234 alunos; que as salas de aula eram adequadas; que havia um bebedouro com
duas torneiras, sendo suficiente para os alunos; que somente possuía um computador e uma
impressora, número insuficiente para as necessidades da escola, sendo necessário mais um
computador; afirmou que inexistia copiadora, sendo necessário deslocar-se até a Secretaria de
Educação para obter cópia de documentos; que o material de apoio pedagógico era suficiente (fls.
161/162).
Quanto ao parquinho, a Diretora informou que estava inadequado, sendo de madeira e
sem manutenção. Além disso, esclareceu que o CMEI não possuía brinquedos soltos, como bolas,
cones e materiais esportivos. Relatou que o centro infantil possuía uma sala multiuso, com aparelho de
TV e DVD, mas não tinha ar-condicionado; que havia na brinquedoteca número insuficiente de
brinquedos e jogos.
Relatou, ainda, que no refeitório, o mobiliário não estava adequado, faltando mesas e
cadeiras; que a cozinha era adequada; que era deficiente o número de colchonetes para a escola.
Por fim, acrescentou que embora não houvesse nenhuma sala vazia, existia espaço
para ampliação do centro infantil.
Em despacho de fl. 163, este Órgão Ministerial requisitou ao Secretário Municipal de
Educação que informasse quais providências seriam tomadas para sanar as irregularidades e
deficiências verificadas no CMEI Romana Santiago, porém, o expediente não teve resposta.
Diante das informações colhidas na investigação, constatou-se a
existência de uma grande demanda por vagas na educação infantil na localidade, a
qual não poderia ser suprida por completo pela estrutura do CMEI Romana
Santiago, razão pela qual estava sendo construído um prédio para abrigar um novo
centro infantil.
Apenas para contextualizar, segundo um levantamento feito pelas equipes da
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Estratégia de Saúde da Família de Parnamirim no ano de 2015, o bairro de Emaús – situado na
conurbação com o município de Natal e dividido pela rodovia BR 101 – já possu ía , aproximadamente,
24.500 ( vinte e quatro mil e quinhentos ) habitantes, considerando a população das áreas do
Parque Industrial e do Parque das Orquídeas, que integram a localidade . Segundo o
Censo Demográfico do IBGE de 2010, o bairro possuía 22.429 (vinte e dois mil, quatrocentos e vinte e
nove) habitantes e já contava com quase oito mil domicílios, além disso, tem crescido nos últimos anos
com a construção de condomínios residenciais direcionados às classes mais populares.
Em contrapartida, apenas dois centros infantis funcionam no bairro de Emaús, em
locais bastante distantes um do outro, uma vez que o CMEI Nossa Senhora da Guia está localizado no
lado direito da BR 101 (sentido Parnamirim-Natal), próximo ao novo viaduto, enquanto que o CMEI
Romana Santiago encontra-se no lado esquerdo da BR 101, em área próxima à Av. Rio Jordão, início
do acesso à Av. Omar O’Grady (conhecido como prolongamento da Av. Prudente de Morais). Assim, os
dois centros infantis não atendem a mesma demanda por vagas na educação infantil.
Na localidade existem duas escolas que ofertam os ensinos fundamental I e II
(1º ao 9º ano), dispondo de turmas de educação infantil (pré-escola, com crianças de 04 e 05
anos de idade) apenas como forma de auxiliar no atendimento à imensa demanda por
vagas no bairro, uma vez que não dispõe da estrutura exigida nos parâmetros da
educação infantil.
Tanto é assim que na audiência realizada com a Diretora da Escola Municipal Manoel
Machado, situada no Parque Industrial, em Emaús, esta informou que no bairro há uma carência
muito grande por educação infantil, existindo lista de crianças, na faixa etária de 04 e 05 anos,
que aguardam por vagas nos níveis da educação oferecidos pela escola diante da inexistência de
novas vagas (fl. 299).
Portanto, a situação já demonstra a falta de acesso à educação infantil,
existindo uma grande quantidade de crianças que não frequentam à escola, em
razão da omissão municipal.
No dia 13 de abril de 2016, realizou-se audiência com o Secretário
Municipal de Educação e a Coordenadora de Desenvolvimento da Educação
Infantil, na qual esta esclareceu que, no ano passado, visitou o centro infantil a ser
inaugurado no Parque Industrial, localizado ao lado da UBS do bairro, afirmando
que a obra estava em fase de acabamento, mas que não sabia as condições atuais
da construção (fls. 173/175 do IC anexo).
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Em abril do mesmo ano, requisitou-se informações sobre o andamento das obras
do novo centro infantil situado em Emaús e o endereço dessa nova unidade (fl. 177), tendo a
Secretaria Municipal de Obras Públicas (SEMOP) informado que as obras estavam
em fase de conclusão, cujo prazo previsto para término era em junho de 2016; a
obra do novo CMEI situa-se na Rua Maria Soliana de Andrade, s/n, Parque das Orquídeas, bairro
Emaús (fl. 178).
Em maio de 2016, realizou-se vistoria no local da obra do novo CMEI,
tendo sido constatada a presença de apenas dois funcionários da empresa FAN
Empreendimentos, sendo um vigia e outro responsável pela pintura e alguns
acabamentos da obra; ocasião em que foi informado que não havia data para a
entrega do prédio, mas que este encontrava-se praticamente pronto, faltando a
instalação de alguns vidros nas portas e janelas, além da conclusão do
reservatório de água; relatou-se, ainda, que a energia elétrica e o fornecimento de
água já estavam regulares, e que os banheiros, as salas de aula, as pias e o balcão
da cantina estavam todos em altura acessível às crianças.
Por fim, o relatório apontou que o prédio possuía ampla área na parte
posterior, onde havia espaços calçados e também gramados e que provavelmente o
parque infantil seria instalado nesse local (fl. 180 e fotografias às fls. 181/191).
Em maio de 2016, requisitou-se à SEMOP que fosse remetida cópia do projeto
arquitetônico, do contrato e aditivos da obra do centro infantil, bem como informasse as razões da
não ocupação do novo prédio (fl. 192).
Por meio do Ofício nº 620/2016, em 31 de maio do mesmo ano, o Secretário
Municipal de Obras informou que a obra encontrava-se em fase de acabamento,
tendo remetido cópia do contrato e seus aditivos e das plantas do projeto do centro infantil (fls. 200/224
e envelope anexo ao IC).
Na audiência ministerial realizada em 23 de junho de 2016, com o
Secretário Municipal de Educação e a Coordenadora da Educação Infantil no Município, questionou-
se a existência de nove termos aditivos ao contrato da construção do centro
infantil, visto que a entrega da obra estava prevista para dezembro de 2012 e na
ocasião afirmou-se que o prazo passou para agosto de 2016 .
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Na oportunidade, os presentes informaram que o novo Centro Infantil
viabilizará a ampliação do número de vagas para a educação infantil, com um
acréscimo de 240 (duzentos e quarenta) vagas, contemplando crianças a partir dos
seis meses de idade ; afirmaram que o Centro Infantil Romana Santiago não seria
transferido para estas novas instalações e que a postergação do término da obra decorreu
do atraso no repasse dos recursos federais (fls. 225/226).
No documento de fls. 227/228, o Secretário Municipal de Obras confirmou que a
demora na conclusão da obra do centro infantil no bairro de Emaús se deu por atraso nos repasses de
recursos federais, em razão dos períodos chuvosos durante a execução do serviço, bem como ao fato
de que foram necessárias adequações do projeto padrão para a realidade local.
Afirmou, ainda, que os recursos federais repassados em outubro de 2013 e janeiro de
2016 resultaram em 90% (noventa por cento) do orçamento e diziam respeito às obras do centro
infantil de Emaús e também de Bela Parnamirim, uma vez que havia uma conta única para ambas as
obras, o que, segundo a SEMOP, dificultava o andamento dos serviços.
Ao final, o Secretário de Obras informou que o prazo para conclusão da
obra do centro infantil em Emaús ficou para agosto de 2016 (fls. 227/228).
No dia 16 de agosto de 2016, a Coordenadoria de Desenvolvimento da
Educação Infantil remeteu documento no qual consta providências tomadas ou a
serem realizadas em relação ao CMEI Romana Santiago, dentre elas: a
climatização da brinquedoteca e da sala multiuso, a entrega de outro computador,
mobília do refeitório completa, quadro de professores completo e encaminhamento
apresentado à SEMOP para ampliação do espaço do centro infantil (fls. 242/243 do IC
anexo).
Realizada nova audiência com os Secretários Municipais de Educação e de
Obras, na data de 09 de novembro de 2016, este último informou que o centro infantil
localizado no Parque das Orquídeas já estava pronto, somente aguardando
providências para a ocupação e a inclusão de vagas para matrícula no ano de
2017, no entanto, o Secretário de Educação alegou que não sabia se dispunha de
mobiliário para o centro infantil (fl. 248).
Apenas em março de 2017, a Secretaria de Educação informou que
estava levantando o quantitativo de todo o material adquirido na gestão anterior
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para propiciar a ocupação dos novos Centros Infantis, como também
providenciando a aquisição de mobiliário para o seu funcionamento. Em anexo,
remeteu planilha do material já disponível para os dois novos centros infantis e fotos do estado em que
se encontrava armazenado esse material (fls. 272/274).
No dia 05 de julho do ano em curso, realizou-se audiência com a
Secretária Municipal de Educação, ocasião em que se questionou os motivos para
não ocupação do novo prédio do centro infantil localizado no Parque das
Orquídeas, em Emaús, tendo a Secretária esclarecido que este ainda não foi ocupado
em razão de problemas com a caixa d’água, infiltrações e problemas relacionados
às janelas de vidro, inexistindo previsão para ocupação.
Na oportunidade, afirmou que o mobiliário para o s novo s CMEI’ s já se
encontrava no depósito da SEMEC, que havia porteiro 24 horas nas obras e que
ainda restava repassar uma parcela dos recursos FNDE para a construtora que
realizou a construção do centro infantil em Emaús (fl. 286).
Às fls. 293/296, constam cópias de ofícios remetidos a esta Promotoria
de Justiça ao final de 2016, nos quais o então Secretário de Obras e também o
Secretário de Educação afirmaram que o novo prédio do centro infantil em Parque
Industrial estaria apto a ser ocupado até o final de outubro de 2016, que as novas
construções necessitavam de manutenção em virtude do longo período em que
ficaram sem uso, a qual seria realizada no prazo de 30 (trinta) dias e que já seriam
ofertadas matrículas para o novo centro infantil de Parque das Orquídeas para o
ano letivo de 2017, não obstante, informou que tão logo a entrega dos prédios fosse efetivada,
tomaria as providências para estruturação de equipamentos e mobiliário e formatação do quadro
funcional.
Já em junho de 2017, a SEMEC informou que aguardava liberação da Secretaria de
Obras, que ficou responsável por realizar os reparos no novo prédio do centro infantil de Emaús , para
alocar a mobília que se encontrava no galpão da Secretaria de Educação e que não foi entregue
devido a possíveis furtos (fl. 297).
Na data de 18 de agosto de 2017, esta Promotoria de Justiça recebeu
denúncia, por meio do termo de informações à fl. 298, na qual narrou-se que o prédio
construído na Rua Professora Maria Soliana de Andrade, vizinho ao posto de saúde
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do Parque das Orquídeas, par abrigar uma creche, estava abandonado desde a
administração anterior e que vândalos estavam depredando o local; que o prédio é de
grande porte e segundo a placa afixada em sua fachada, deveria ter sido entregue em 2013; que a
construção, feita pela empresa FAN Empreendimentos Ltda., cujo proprietário é Jorian Alves de
Morais, tem sofrido deterioração com a ação do tempo, com telhas, janelas e vidros
quebrados e que já presenciou a entrada de adolescentes no local.
Ademais, o denunciante informou que, ao procurar a Secretaria Municipal de Educação
para obter informações sobre os motivos para o não funcionamento do prédio, obteve a justificativa de
que a conclusão da obra dependia do Ministério da Educação.
Por todo esse contexto, esta Promotoria de Justiça requisitou ao CAOP –
Cidadania, em 23 de junho de 2017, a realização de perícia n o novo prédio que
abrigará um centro infantil localizado em Emaús, para avaliar a sua estrutura
física, a fim de identificar vícios que pudessem prejudicar o bom desempenho da
edificação ou de seus elementos, e/ou causar perigo para a comunidade escolar, de
modo a constatar se o prédio já poderia ser imediatamente ocupado.
O Relatório de Vistoria Técnica (fls. 304/325 do IC) foi elaborado em 17 de outubro de
2017 por uma profissional da área de arquitetura e urbanismo do quadro do Ministério Público
Estadual, e aponta as principais inadequações encontradas no novo prédio em que deve instalar-se
um centro infantil em Emaús, que fazem com que ele não possa ser imediatamente ocupado, conforme
concluiu.
De acordo com o relatório, o prédio construído para abrigar um centro
infantil situa-se na Rua Professora Maria Soliana de Andrade, s/n, Emaús,
Parnamirim/RN, cuja construção teve início no ano de 2012 e conclusão prevista para
2013, mas que até o momento não foi finalizada, possui 01 (um) pavimento (térreo),
estrutura de concreto armado e alvenaria de vedação, cobertura de telha cerâmica, possuindo 08 (oito)
salas de aula com repouso, área de banho e troca de fraldas em algumas delas, solários, sala de
informática, sala de leitura/multiuso, banheiros infantis, banheiros acessíveis, secretaria, sala de
direção, sala de professores, almoxarifado, recepção/espera, banheiros da administração, cozinha,
despensas, lavanderia, rouparia, banheiros com vestiários de funcionários, área de serviço, lactário,
pátio coberto/refeitório, parque infantil, anfiteatro e estacionamento (fls. 305 do IC anexo).
Conforme o relatório do CAOP Cidadania, a edificação visitada é uma escola infantil do
Programa Proinfância do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), com projeto
padrão financiado pelo Governo Federal, sendo a construção visitada um projeto do “tipo B”.
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Nesse aspecto, segundo o documento extraído do Sistema Integrado de
Monitoramento, Execução e Controle (SIMEC) do Ministério da Educação/FNDE, que monitora o
processo das obras da educação básica (fls. 326/237), o projeto escolhido para o novo CMEI do
Parque Industrial foi o de tipo B, com ordem de serviço datada de 10 de setembro de 2012 e previsão
para a conclusão da obra, após a realização de 10 (dez) termos aditivos, em 31 de julho de 2017.
O convênio para a realização da obra tem validade até 31 de janeiro de 2018, e o
percentual de execução da mesma, em novembro de 2016, era de 96,52% (noventa e seis vírgula
cinquenta e dois por cento). O documento ainda aponta que o valor pactuado pelo FNDE é de R$
1.197.760,54 (um milhão, cento e noventa e sete mil, setecentos e sessenta reais e sessenta e quatro
centavos), mas que o total da planilha contratada soma a quantia de R$ 1.225.674,28 (um milhão,
duzentos e vinte e cinco mil, seiscentos e sessenta e quatro reais e vinte e oito centavos). A empresa
contratada foi a J.A.M. Empreendimentos Ltda., e a data de término do contrato estava prevista para o
dia 14 de outubro de 2016 (fl. 326v).
O relatório de vistoria técnica do CAOP afirmou que na adaptação do projeto padrão
para o terreno de Emaús não foram construídos os solários das salas da creche III e da pré-escola, em
virtude da largura do terreno, que é um pouco menor do que o terreno indicado pelo MEC para a
implantação desse projeto (40m x 70m), em razão disso, as portas dessas salas ficaram voltadas para
um corredor estreito (fl. 308).
A perita técnica asseverou que a obra encontra-se quase pronta, com
toda a alvenaria levantada, cobertura, forro, revestimentos, bancadas de granito e
a maior parte das esquadrias. No entanto, existem elementos que ainda precisam
ser concluídos e, pelo fato de estar sem uso e sem manutenção há tanto tempo,
muitos materiais da edificação começaram a se deteriorar. O prédio também é alvo
de vandalismos com frequência, contribuindo para sua deterioração.
No que concerne aos aspectos a concluir na obra do centro infantil, o relatório de
vistoria apontou que as divisórias do repouso das salas das creches I e II não foram instaladas (Fotos
5 e 6; Foto 9); as paredes do repouso das salas da creche III também não foram finalizadas (Fotos 7 e
8), conforme se vê à fl. 309.
Quanto às esquadrias, as portas duplas da recepção não foram instaladas (Fotos 10 e
11), assim como as portas dos repousos das salas. Também não há portas nos boxes dos banheiros
(Fotos 12 e 13) (fls. 310/311).
Constatou-se a ausência de torneiras nos banheiros da administração, de um chuveiro
no banheiro infantil da creche II, do lavatório, banco e barras de apoio no banheiro acessível, ausência
de ralo no piso do pátio (fotos às fls. 311/312). Ressaltou-se que o outro banheiro acessível estava
9
fechado, assim como os dois banheiros infantis, não sendo possível realizar vistoria nesses ambientes.
Em relação às instalações elétricas, falta a caixa de distribuição na recepção – setor
administrativo (Foto 19), há caixa de tomada sem tampa e com fiação exposta na área de serviço (Foto
20) e fiação exposta na instalação das lâmpadas do pátio coberto (Foto 21), consoante fls. 312/313 do
IC anexo.
A perita técnica ainda afirmou que, como a obra não foi concluída, a escola infantil
ainda não dispõe de mobiliário (mesas, cadeiras, berços, mesas de refeitórios, entre outros) e nem de
equipamentos (ventiladores, bebedouros, fogão, refrigeradores, entre outros).
Quanto às patologias de sua estrutura física, o prédio apresenta vícios
por falta de uso ou manutenção de suas instalações, de modo que foram
verificadas infiltrações nas lajes do beiral da cobertura de praticamente toda a
escola infantil (Fotos 19 a 23), inclusive já apresentando mofo, além de
descascamento de pintura na laje da cozinha (Foto 34), conforme fls. 314/316.
Não obstante, a mureta de cobogó que divide os solários entrou em colapso (fotos à fl.
317), há infiltrações, descascamento e desagregamento de pintura em diversas paredes externas e
também em uma parede da sala da creche II (fls. 317/319). Na cobertura, existem diversas telhas
quebradas ou em falta no pátio central (fl. 320). Há infiltrações nas paredes externas do castelo d’água
(fotos à fl. 320).
A obra também apresenta diversas esquadrias danificadas, há janelas com vidros
quebrados em diversos ambientes escolares, como em salas de aula, banheiro infantil, cozinha (fotos
50 a 54) e ausência de vidro no visor da porta de uma sala de aula (foto 58) (fls. 321/322).
Observou-se, ainda, que no pátio central há uma luminária com instalação inadequada,
encontrando-se pendurada à estrutura por meio da fiação (foto 59, fl. 322), com claro risco de colapso.
Durante a vistoria, verificou-se que a vegetação rasteira necessita de poda em vários
locais (Fotos 61 e 62) e já está ocupando parte do anfiteatro (Foto 60); também se verificou que o solo
cedeu em alguns locais, formando buracos, e a presença de formigueiros em vários locais do terreno,
inclusive, dentro do banheiro infantil do prédio (Foto 63) (fls. 323/324).
Desse modo, após minuciosa inspeção no prédio onde funcionará um
novo centro infantil no bairro Emaús, a perita apresentou a necessidade, dentre
outras, das seguintes adequações para propiciar a conclusão da obra e a
realização de manutenção da edificação, a fim de que o prédio atenda
minimamente às normas relativas às instituições que oferecem educação infantil,
10
bem como para assegurar a segurança dos seus usuários (fls. 324/325 do IC):
1. Instalação das divisórias dos repousos (creches I e II);
2. Execução da parede do repouso da creche III;
3. Instalação das portas duplas da recepção, das portas dos repousos e das portas dos boxes dos
banheiros;
4. Instalação de torneiras nos banheiros da administração;
5. Instalação dos chuveiros ausentes nos banheiros infantis;
6. Instalação de lavatório, barras de apoio e banco nos banheiros acessíveis;
7. Instalação de ralos no pátio;
8. Instalação de caixa de distribuição (recepção);
9. Instalação de tampas nas tomadas (serviço);
10. Isolamento da fiação elétrica das luminárias do pátio;
11. Recuperação das lajes do beiral da cobertura com infiltração. Impermeabilização desses elementos
para evitar o problema;
12. Pintura na laje da cozinha;
13. Reconstrução da mureta de cobogó entre os solários;
14. Recuperação do revestimento das paredes externas;
15. Pintura na parede da sala da creche III;
16. Substituição de telhas quebradas ou ausentes;
17. Recuperação das paredes externas do castelo d’água;
18. Substituição dos vidros quebrados nas janelas;
19. Substituição do vidro do visor da porta de uma sala de aula;
20. Fixação adequada de uma luminária no pátio;
21. Poda da vegetação rasteira;
22. Realização de um tratamento contra formigueiros, a fim de evitar que danifique a estrutura do
prédio.
Em relação à possibilidade de imediata ocupação do espaço pelo Centro
Infantil, a perícia técnica concluiu que o prédio não pode ser imediatamente
ocupado porque a obra está inacabada e necessita de manutenção e substituição
de elementos danificados. De todo modo, ressaltou que não foram encontradas patologias que
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causem risco estrutural na edificação.
Importa destacar que embora inexistam vícios construtivos graves que
ocasionem risco à segurança dos futuros usuários, devem ser efetuadas todas as
reformas apontadas no relatório de vistoria técnica, bem como a instalação de
toda a mobília adequada e dos equipamentos necessários ao funcionamento do
centro infantil e, ainda, obtidas as licenças imprescindíveis para a liberação da
obra, viabilizando, assim, a inauguração e ocupação do centro infantil o mais breve
possível.
Nesse quadrante, decorridos mais de cinco anos do início da construção
do novo centro infantil de Emaús e, mais de um ano desde que foi paralisada a
obra, não obstante a constatação da necessidade de reparos e de equipação da
estrutura – com mobílias e materiais – para permitir o seu regular funcionamento,
nenhuma medida foi adotada pelo Município para sanar as irregularidades
apontadas, tampouco ofertou-se uma previsão para o efetivo funcionamento do
CMEI no local.
O MEC através do FNDE já transferiu para o Município a importância de
R$ 956.303,14 (novecentos e cinquenta e seis mil, trezentos e três reais e quatorze
centavos), enquanto o Município pagou a empresa o valor de R$ 859.896,17
(oitocentos e cinquenta e nove mil, oitocentos e noventa e seis reais e dezessete
centavos), conforme se verifica das notas fiscais listadas no Sistema Integrado de
Monitoramento, Execução e Controle do MEC, às fls. 326/327.
Nesse ínterim, certo é o prejuízo à educação infantil como um todo e,
em especial, às crianças da localidade que estão fora da escola, uma vez que a
não ocupação do prédio construído para abrigar um novo centro infantil em Emaús
impede a oferta de novas vagas.
As creches e pré-escolas se constituem em estabelecimentos educacionais públicos ou
privados que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade por meio de profissionais
com a formação específica legalmente determinada, a habilitação para o magistério superior ou médio,
refutando assim funções de caráter meramente assistencialista, embora mantenha a obrigação de
assistir às necessidades básicas de todas as crianças.
12
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96, art. 29) considera a
Educação Infantil a primeira etapa da Educação Básica e, portanto, direito
inalienável de cidadania e dever do Estado, tendo como finalidade o desenvolvimento integral
da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e
social, complementando a ação da família e da comunidade.
Nesse contexto, todo espaço que ministrar educação infantil deve possuir proposta
pedagógica, regimento escolar, formação de professores e outros profissionais, espaços físico e
recursos materiais para a educação infantil.
Exige-se, ainda, a necessidade de existência padrões mínimos de
infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições de educação infantil, com
ambiente interno e externo para o desenvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares
e metodologia da Educação Infantil, a fim de haver uma diversidade de situações e atividades a serem
oferecidas às crianças para evitar um ambiente de confinamento e monotonia.
Nesse sentido, a recente Lei Federal nº 13.257, de 08 de março de 2016 ,
prevê a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para as crianças que estão na
“primeira infância”, assim considerada como o período que abrange os primeiros 6 anos completos (72
meses) de vida da criança (art. 2º).
De acordo com o que foi estabelecido em lei, o Estado tem o dever de estabelecer
políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância. O pleno atendimento dos
direitos da criança na primeira infância constitui objetivo comum de todos os entes
da Federação, segundo as respectivas competências constitucionais e legais, a ser alcançado em
regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (art. 8º).
A Lei estabeleceu, em seu art. 5º, a educação infantil como área prioritária
para as políticas públicas para a primeira infância, e previu, ainda, que a
“expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a
qualidade da oferta, com instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de
infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da Educação, com profissionais qualificados
conforme dispõe a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional), e com currículo e materiais pedagógicos adequados à proposta pedagógica” (art. 16, caput).
O próprio Município, em sua Proposta de Expansão da Educação Infantil (fls. 79-127 do
IC) prevê, no tocante à infraestrutura e recursos dos espaços destinados à educação infantil que:
O prédio destinado à educação infantil deve ser de alvenaria (não
13
pode ter parede de madeira ou material não resistente ao fogo) e estar em bom
estado de conservação.
As instalações elétricas, hidráulicas, os móveis e demais
equipamentos devem estar em condições adequadas de uso,
proporcionando segurança às crianças. Devem apresentar condições de
acessibilidade para pessoas portadoras de deficiências. Salas de atividades,
cozinha e dormitório não podem servir como área de circulação.
O Plano Municipal de Educação de Parnamirim, Lei Municipal nº
1.721/2015, com vigência de 2015 a 2025, por sua vez, tem como Meta 01 “universalizar, até 2016,
a educação infantil na pré-escola para as crianças de 04 e 05 anos de idade e ampliar a oferta de
Educação Infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 60% das crianças de até 03 anos de
idade, até o fim da vigência do PNE, garantindo a qualidade do atendimento na Educação
Infantil do Município de Parnamirim”.
E, dentre as estratégias apontadas como forma de alcançar a meta estabelecida pelo
Município, estão:
I. manter e ampliar, em regime de colaboração e respeitadas as normas de
acessibilidade, programa nacional de construção e reestruturação de
instituições públicas de educação infantil, bem como de aquisição
de equipamentos visando à expansão e à melhoria da rede física,
garantindo, assim, a matrícula das crianças de quatro a cinco anos
de idade na educação infantil em 100% até a vigência do PNE
(2024);
II. Adequar, ainda no primeiro ano de vigência, as unidades de educação infantil
que ainda não atendem aos parâmetros de qualidade e infraestrutura, garantindo o
programa de manutenção dessas unidades, organizando um sistema de
fiscalização efetivo e sistematizado, onde ocorra, pelo menos uma vez ao ano nas
escolas, promovendo reformas e adequações físicas periodicamente, de forma
igualitária nas unidades de educação infantil, como por exemplo, climatização das
salas e acesso à internet, em regime de colaboração com os órgãos competentes;
III. Garantir a construção, a permanência e a manutenção de espaços para
promoção de desenvolvimento social, lúdico e cultural das crianças de todas as
unidades de educação infantil, através de brinquedotecas, parques infantis
14
equipados adequadamente para o uso e construção de áreas para manifestações
culturais, apropriados e de acordo com os parâmetros de qualidade e de
infraestrutura.
Com relação às instalações do novo Centro Infantil de Emaús, verifica-se
que a construção não foi totalmente concluída e ainda não está em condições de
uso, pois, o decurso do tempo sem a devida manutenção e a ação de vândalos ensejou a
necessidade de alguns reparos, como a recuperação das lajes e do revestimento das paredes
externas, pintura em algumas paredes, substituição das telhas quebradas, a reconstrução da mureta
de cobogó em uma das salas, o isolamento da fiação elétrica, a substituição dos vidros quebrados nas
janelas, a recuperação da parede externa do castelo d’água, a poda da vegetação, dentre outras
adequações, consoante se vê no relatório de perícia técnica colacionado.
Importante, ainda, que se providencie a instalação das peças sanitárias e
das portas nos boxes dos banheiros e a adaptação da área de banho infantil, com a
implantação de itens que evitem acidentes, como piso antiderrapante, guarda-
corpo e corrimão, a fim de evitar riscos aos alunos nas condições atuais em que se
encontra.
Assim, necessário que se providenciem, com urgência, os mencionados
reparos na estrutura física, cuja responsabilidade pertence à Secretaria Municipal
de Obras, e, após, sejam obtidas as licenças para funcionamento do prédio, como o
Alvará de Vistoria do Corpo de Bombeiros – AVCB (Habite-se).
Por outro lado, embora a Secretaria Municipal de Educação tenha informado que a
mobília destinada ao novo Centro Infantil de Emaús já foi adquirida e encontra-se nos galpões da
SEMEC, durante toda a investigação viu-se que esta não assegurou a existência de mobiliário e
equipamentos suficientes para a instalação e funcionamento adequado do Centro Infantil, havendo que
se completar a lista de materiais disponíveis, mencionada à fl. 273 do Inquérito Civil anexo.
Desse modo, importante que se garanta todo o mobiliário das salas de
aula, inclusive, os compatíveis com as crianças; que sejam disponibilizados os
móveis e os equipamentos dos setores de direção, coordenação, secretaria, sala
dos professores e sala multiuso/de informática, como por ex., mesas, cadeiras,
armários, computadores, impressora/multifuncional, acesso à internet e livros; como
também os equipamentos e utensílios da cozinha, como freezers e/ou geladeiras,
fogão, botijão de gás alocado em espaço próprio distinto da cozinha, local para
15
armazenar os alimentos adequadamente; e no refeitório, mesas e cadeiras
compatíveis com as crianças, bebedouros adequados às crianças, inclusive nas
áreas de circulação das salas de aula.
Nesse sentido, também devem ser providenciados os equipamentos da
área de lazer/recreação, como as áreas em grama e areia, a instalação de um
parque de fibra, a concepção de um playground que integre as necessidades de
diferentes faixas etárias, dispondo de variedade de brinquedos para cada idade
atendida na escola infantil; além de livros e brinquedos pedagógicos em
quantidade suficiente ao quantitativo de alunos.
Todas essas providências já deveriam ter sido efetuadas pelo
município, uma vez que as obras do centro infantil de Emaús estão quase
concluídas há mais de um ano, período suficiente para que o poder público tomasse todas as
medidas para a aquisição dos equipamentos e mobiliário a permitir o pleno funcionamento das
atividades da instituição de ensino infantil, mesmo porque já tinham previsão de todas as despesas
relacionadas ao prédio do novo centro infantil.
Não obstante, inviável que, por desídia do poder público, se restrinja a
oferta de novas vagas na educação infantil, insuficientes na localidade, tendo em
vista a existência de um único CMEI nessa área, mesmo porque esta contempla as
comunidades de Parque Industrial e do Parque das Orquídeas, com grandes
contingentes populacionais, quando já existe um local amplo, adaptado às
necessidades das crianças, dotado de sala multiuso, anfiteatro, refeitório, pátio
coberto, dentre outros recursos, e construído para adequar confortavelmente os
infantes, inclusive, ampliando as vagas na educação infantil na localidade.
Portanto, da forma como se encontra, atualmente , as instalações do
novo centro infantil de Emaús não atende aos parâmetros nacionais exigidos para
a educação infantil, conforme disposto na Lei nº 9.394/1996 (LDB), no Plano Nacional de
Educação, nas Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil (Resolução CNE/CEB Nº 5,
de 17 de dezembro de 2009); nos Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil
(Brasília: MEC, SEB, 2006a, volumes 1 e 2); e nos Parâmetros básicos de infraestrutura para
instituições de educação infantil (Brasília: MEC, SEB, 2006b), e artigo 16º da Lei Federal nº
13.257/2016, exigindo providências para a sua adequação e ocupação o mais rápido
16
possível.
II – DO DIREITO QUE SE BUSCA TUTELAR
a) Do Direito Constitucional de acesso à educação infantil de qualidade com
prioridade absoluta.
A Constituição Federal consagra a educação como direito social fundamental, dispondo
ainda em seu artigo 205 que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Segundo o art. 206, inciso VII, o ensino será ministrado com base, dentre outros, no
princípio da garantia de padrão de qualidade.
Assim, é dever do Poder Público assegurar a crianças e adolescentes, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, À EDUCAÇÃO, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária, nos termos da regra gizada no caput do artigo 227 da Constituição Federal e no artigo 4º
da Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A garantia de prioridade absoluta, referida no texto constitucional e prevista no art. 4°
do ECA, compreende-se nas diretrizes a serem observadas pela Administração, sintetizadas neste
último dispositivo, englobando:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
Como se observa, a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional não tratam a
educação como um fim em si mesmo, ou mero aparato de enriquecimento cultural, mas um verdadeiro
caminho ou instrumento para construção de uma sociedade que se pretende justa, livre e solidária, a
ser garantido à criança e ao adolescente com prioridade absoluta, não podendo ser
deixado para depois.
17
Diante da grande importância social e educacional, cabe ao Poder Público a obrigação
constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, o efetivo acesso e
atendimento das crianças de 0 a 05 anos em creches e pré-escolas.
O Supremo Tribunal Federal, em recente decisão, proferida no RE 956475/RJ e
publicada em 17 de maio de 2016 (Informativo STF 827), se manifestou sobre a importância da
educação infantil enquanto prerrogativa constitucionalmente assegurada às crianças até 05 anos de
idade, e que não pode ser afastada por questões administrativas do Poder Público, cabendo ao Poder
Judiciário assegurar o cumprimento do mandamento constitucional. Vejamos:
“EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE. ATENDIMENTO EM
CRECHE MUNICIPAL. EDUCAÇÃO INFANTIL. DIREITO ASSEGURADO PELO
PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA
PELA EC Nº 53/2006). COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO
CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO. DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE
IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, §
2º). O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO E NÃO EFETIVADAS PELO PODER
PÚBLICO. A FÓRMULA DA RESERVA DO POSSÍVEL NA PERSPECTIVA DA
TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS: IMPOSSIBILIDADE DE SUA
INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR O INJUSTO INADIMPLEMENTO DE DEVERES
ESTATAIS DE PRESTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO PODER
PÚBLICO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.
– A educação infantil representa prerrogativa constitucional
indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para
efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do
processo de educação básica, o atendimento em creche e,
também, o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV).
– Essa prerrogativa jurídica, em consequência, impõe, ao Estado,
por efeito da alta significação social de que se reveste a educação
infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas
que possibilitem, de maneira concreta, em favor das “crianças até
5 (cinco) anos de idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e
atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de
configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar,
injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder
18
Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da
Constituição Federal.
– A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança,
não se expõe, em seu processo de concretização, as avaliações meramente
discricionárias da Administração Pública, nem se subordina a razões de puro
pragmatismo governamental.
– Os Municípios – que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na
educação infantil (CF, art. 211, § 2º) – não poderão demitir-se do mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da
Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da
discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções,
tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem
ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples
conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole
social.
– Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e
Executivo, a prerrogativa de formular e de executar políticas públicas, revela-se
possível, no entanto, ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais,
determinar, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela
própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos estatais
competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles
incidem em caráter impositivo, vierem a comprometer, com a sua omissão, a
eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura
constitucional.”
O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa na responsabilização da autoridade competente, nos termos
do §2º do art. 208 da Constituição da República, pela omissão governamental, que frustra o integral
adimplemento de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição da República.
No que refere-se à Educação Infantil, a Constituição Federal, em seu artigo 208, incisos
I e IV, dispõe:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantiade:
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos osque a ela não tiveram acesso na idade própria;
19
(…)
IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5(cinco) anos de idade.
A Carta Magna, ao disciplinar a organização da educação nacional, no parágrafo 2º de
seu artigo 211, prescreve a obrigação dos Municípios atuarem prioritariamente no ensino fundamental
e na educação infantil.
A Lei n. 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), por sua vez,
determina, no inciso V de seu artigo 11, que os Municípios incumbir-se-ão de oferecer,
prioritariamente, o ensino fundamental e a educação infantil, permitida a atuação
em outros níveis de ensino, somente quando estiverem atendidas plenamente as
necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais
mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e ao desenvolvimento
do ensino.
O art. 214 da Constituição Federal determina que a lei estabelecerá o plano nacional de
educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime
de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a
manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de
ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a melhoria da
qualidade do ensino;
Nesse sentido, a Lei nº 13.005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação,
estabelece em seu art. 2º, inciso IV e VIII que são diretrizes do PNE a melhoria da qualidade da
educação e o estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão,
com padrão de qualidade e equidade.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem atuar em regime de
colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias objeto do PNE,
cabendo aos gestores federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal a adoção das medidas
governamentais necessárias ao alcance das metas (art. 7º da Lei nº 13.005/2014).
A primeira meta do PNE prevê a preservação das especificidades da educação
infantil na organização das redes escolares, garantindo o atendimento da criança de 0
(zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos que atendam a parâmetros nacionais
de qualidade , e a articulação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso do(a) aluno(a) de 6
(seis) anos de idade no ensino fundamental.
20
Como se sabe, a educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio, tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a
formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
trabalho e em estudos posteriores (arts. 21 e 22 da Lei nº 9.394/96 – LDB).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação considera a Educação Infantil como a
primeira etapa da Educação Básica e, portanto, direito inalienável de cidadania e
dever do Estado , tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de
zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico s , afetivo, intelectual,
linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Por fim, importante mencionar a recente Lei Federal nº 13.257, de 08 de
março de 2016, a qual prevê a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para as
crianças que estão na “primeira infância”, assim considerada como o período que abrange os primeiros
6 anos completos (72 meses) de vida da criança (art. 2º).
De acordo com o que foi estabelecido em lei, o Estado tem o dever de estabelecer
políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância. O pleno atendimento dos
direitos da criança na primeira infância constitui objetivo comum de todos os entes
da Federação, segundo as respectivas competências constitucionais e legais, a ser alcançado em
regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (art. 8º).
Conforme determina o artigo 5º da referida Lei, a educação infantil é
uma área prioritária de investimento do Poder Público, in verbis:
Art. 5º Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para
a primeira infância a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação
infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistência social à família da
criança, a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como a
proteção contra toda forma de violência e de pressão consumista, a prevenção de
acidentes e a adoção de medidas que evitem a exposição precoce à comunicação
mercadológica.
Além disso, a Lei Federal nº 13.257/2016, em seu artigo 16, deixou
claro a obrigação do Poder Público assegurar a educação infantil de qualidade,
mediante a oferta, inclusive, de instalações físicas dentro dos parâmetros de
21
infraestrutura estabelecidos pelo Ministério de Educação.
No atual ordenamento jurídico, portanto, as creches e pré-escolas ocupam um lugar
bastante claro e possuem caráter institucional e educacional diverso daquele dos contextos
domésticos.
A legislação reconhece aquilo que a ciência aponta como sendo o
período mais importante do aprendizado do ser humano. Os primeiros anos de vida
são fundamentais para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social da
criança. Em razão deste fato, a educação infantil reveste-se de importância ímpar na formação da
criança, com reflexos em toda sua vida posterior.
Conforme ensinam os professores e pesquisadores Amauri Betini Bartoszeck1 e Flavio
Kulevicz Bartoszeck2, em seus estudos sobre as implicações educacionais da neurociência do seis
primeiros anos de vida, essa é a fase em que as crianças mais desenvolvem suas
habilidades, nas mais diversas áreas, possuindo uma capacidade de aprendizagem
que deve ser bem explorada, sob o risco de não terem as mesmas habilidades após
a primeira década de vida. Segundo eles:
A fusão dos achados da neurociência contemporânea com o estudo dodesenvolvimento biológico humano, aumentou substancialmente nossoentendimento de como são fundamentais os 6 primeiros anos da vida da criança.[...] Nos últimos 10 anos houve uma “explosão” de conhecimentos a respeito daneurociência do cérebro e o relacionamento entre os primeiros anos deaprendizagem, comportamento e saúde da criança que se transforma em adulto.No
rol de descobertas inclui-se pesquisa básica, técnicas de neuroimageamento(análise do cérebro em atividade), e acima de tudo a integração destesconhecimentos pela
Transdisciplinaridade. […] Há uma intensa interação entre a estimulação precoce,via órgãos dos sentidos e a carga genética. Como consequência, produz-se umefeito decisivo no desenvolvimento cerebral da criança, com impacto de longaduração na fase adulta. […] Há uma intensa produção de sinapses e vias neuraisna vida uterina e 1º ano de vida da criança, com progressivo decréscimo até os 10anos, embora para certas funções se estenda ao longo da vida (Conel, 1939).Ainda que haja múltiplas formações de circuitos, se observa um importante“podamento” de neurônios, sinapses e mesmo vias neurais, que não sãoestimulados. […] Os bebês nascem com a capacidade sensorial básica que sedesenvolve durante a infância. Já
nos primeiros dias aprendem a reconhecer o rosto de suas mães. Prestam atençãomais tempo para a voz da mãe do que a de estranhos, e há indicações de quereconhecem a voz da mãe já ao nascer, por se habituarem a este som ainda nafase uterina. A compreensão das emoções, desejos e o que os outros acreditam,
1Fellow in Basic Medical Education, Departamento de Fisiologia, Laboratório de Neurociência & Educação, UFPR; e-mail: [email protected], Cx. Postal 2276, 80011-970 Curitiba, PR.2 Do Instituto de Neurociência e Educação, e-mail: [email protected]
22
desempenha importante papel na interação social. Muito precocemente os recém-nascidos distinguem as expressões faciais básicas de alegria, tristeza e raiva. Emtorno dos 18 meses de vida os bebês sabem os princípios elementares de que asoutras pessoas podem ter diferentes “pontos de vista”, desejos e emoções do queeles mesmos. Ainda nesta faixa de idade as crianças se divertem com atividadesdo “fazer de conta”. Isto demanda saber o que é real e o que não é, um dosprimeiros passos para a criatividade. Ao redor dos 3 anos de idade começam afalar o que pensam (acham), por exemplo eu acho que o doce está no armário!Somente aos 4-5 anos de idade as crianças começam a perceber que, o que elas“acham” é diferente do que as outras pessoas pensam, como se propõem na teoriada mente. […]
Nesta especial fase de desenvolvimento, a prioridade absoluta no investimento em
Educação Infantil para as crianças justifica-se na medida em que, superado o momento adequado, os
investimentos posteriores não produzirão os mesmos resultados que poderiam ser obtidos naqueles
períodos cruciais à estimulação.
O educador CELSO ANTUNES3, ao discorrer sobre a importância da educação infantil,
assim destaca:
Se a ciência mostra que o período que vai da gestação até o sextoano de vida é o mais importante na organização das bases para ascompetências e habilidades que serão desenvolvidas ao longo daexistência humana, prova-se que a Educação Infantil efetivamenteé tudo, mas é essencial que possamos refletir sobre como fazê-la bem edescobrir que esse bem-fazer vai muito além de um “desejo” sincero e um “amor”pela criança. (Destaque nosso).
No mesmo sentido, a pesquisadora ISABEL DE OLIVEIRA E SILVA4 ao fazer um relato
histórico sobre a transição das creches e pré-escolas da assistência social para a pasta da educação,
aponta para a importância dos primeiros anos de vida da criança e do papel da educação infantil neste
contexto, assim:
O compartilhamento da educação e do cuidado com a criança pequena entrefamília e instituições públicas como algo legítimo significou uma construção daqual participaram diversos agentes em espaços e relações distintos, que, apesarda pluralidade de sentidos que cada um dos grupos envolvidos lhe atribuem,culminou com o reconhecimento do direito à Educação Infantil edo dever do Estado para com a criança pequena. (…)
Além disso, tratava-se de um momento em que se difundiam entre especialistas epesquisadores da educação brasileira os estudos que indicavam osprimeiros anos de vida como cruciais para o desenvolvimentointelectual, o qual dependia, em grande medida, das condições doambiente para que ocorresse de modo satisfatório.
A escola de educação infantil é exatamente um dos ambientes
3 ANTUNES, Celso. Educação Infantil: prioridade imprescindível. 7ª ed. Petrópolis,RJ:Vozes, 2010. Págs. 9/10.4 SILVA, Isabel de Oliveira e. Educação infantil no coração da cidade. São Paulo:Cortez, 2008. Págs. 68 e 70.
23
favoráveis ao desenvolvimento intelectual da criança, em especial, e muitas vezes
único, quanto às crianças cujos pais estão inseridos nas camadas mais carentes
da sociedade.
Apesar dos avanços dos estudos científicos reconhecendo a importância da educação
infantil, apenas com o advento da Emenda Constitucional nº 59, de 11.11.2009, que tornou a educação
básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos.
A Constituição de 1988 destacava como obrigatório apenas o ensino fundamental.
Nesta esteira, a Lei nº 9.424/96 criou o FUNDEF, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério, que vigorou durante 10 (dez) anos.
Em 2007, através da Lei nº 11.494, foi instituído o FUNDEB, Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Desta forma, a
Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, passa também a ser financiada pelo FUNDEB,
o que foi um enorme ganho para as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos e 11 (onze) meses, em
especial pelo fato de que, tradicionalmente no Brasil, não havia muitos investimentos na Educação
Infantil, apesar da sua expressa previsão como direito da criança, em vários artigos da Constituição
Federal.
Diante de todo exposto, não resta nenhuma dúvida quanto ao fundamento
constitucional e legal do direito das crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos e 11
(onze) meses ao acesso às creches e pré-escolas de qualidade, dentro dos
parâmetros nacionais para a educação infantil.
Contudo, a inspeção realizada no prédio onde funcionará mais um
Centro Infantil em Emaús evidencia a falta de manutenção e ocupação do prédio, o
que ocasionou a deterioração da sua estrutura física, encontrando-se em total
abandono pelo poder público municipal.
O Governo Federal criou o Programa Nacional de Reestruturação e
Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil
(Proinfância), por considerar que a construção de creches e pré-escolas, bem como
a aquisição de equipamentos para a rede física escolar desse nível educacional,
são indispensáveis à melhoria da qualidade da educação.
O programa foi instituído pela Resolução nº 6, de 24 de abril de 2007, e é parte das
ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da Educação. Seu principal
24
objetivo é prestar assistência financeira ao Distrito Federal e aos municípios visando
garantir o acesso de crianças a creches e escolas de educação infantil da rede
pública.
A referida Resolução estabelece em seu artigo 3º que a assistência financeira será
processada mediante solicitação do Distrito Federal e municípios de acordo com a esfera
administrativa que a escola pleiteada pertence ou pertencerá, por meio de projetos de infra-estrutura
das redes públicas escolares e de equipamento e mobiliário, elaborados sob a forma de plano de
trabalho.
Além disso, o atendimento com assistência financeira, no caso de construção ou
reforma, condiciona-se à apresentação de documentos que comprovem a propriedade do terreno,
conforme determina o parágrafo único do artigo 3º da Resolução.
Das informações existentes às fls. 326/327, extraídas do Sistema
Integrado de Monitoramento e Controle do MEC/FNDE, viu-se que o valor pactuado pelo
FNDE é de R$ 1.197.760,54 (um milhão, cento e noventa e sete mil, setecentos e sessenta reais e
sessenta e quatro centavos) e o valor total do contrato é de R$ R$ 1.225.674,28 (um milhão, duzentos
e vinte e cinco mil, seiscentos e sessenta e quatro reais e vinte e oito centavos), com ordem de
serviço datada de 10 de setembro de 2012 e previsão para a conclusão da obra em 31 de
julho de 2017, cabendo destacar que foi necessária a edição de dez aditivos ao contrato
inicial, que postergaram a conclusão das obras até 2017, ou seja, por cinco anos e,
ainda assim, o prédio do centro infantil ainda não está em condições de
funcionamento, pois, inacabado.
Ademais, o convênio nº 407/2011 que garantiu a obra vencerá em 31 de
janeiro de 2018.
b) Dos parâmetros nacionais para a oferta da educação infantil:
As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos educacionais
que educam e cuidam de crianças de 0 a cinco anos de idade por meio de profissionais com formação
específica legalmente determinada, refutando, assim, funções de caráter meramente assistencialista.
O atendimento ao direito da criança na sua integralidade requer o cumprimento pelo
Estado no oferecimento de uma experiência educativa com qualidade a todas as crianças da educação
infantil.
25
As instituições de educação infantil devem tanto oferecer espaço limpo, seguro e
voltado a garantir a saúde infantil quanto se organizar como ambientes acolhedores, desafiadores e
inclusivos, pleno de interações, explorações e descobertas partilhadas com outras crianças e com os
professores.
Nesse contexto, todo espaço que ministrar educação infantil deve possuir
proposta pedagógica, regimento escolar, formação de professores e outros profissionais, espaços
físico e recursos materiais necessários e suficientes para atender a demanda
específica da educação infantil.
No que concerne às normas que estabelecem padrões mínimos
exigidos para escolas de educação infantil no que diz respeito às instalações
físicas dos prédios, temos a Resolução nº 05, de 17 de dezembro de 2009, do
Conselho Nacional de Educação, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a educação infantil e os Parâmetros Nacionais de Infraestrutura para as
instituições de educação infantil instituídos pelo MEC, no ano de 2006, em
consonância com o seu papel de indutor de políticas educacionais e de proponente
de diretrizes para a educação.
Ademais, a Lei nº 1.3257/2016 determinou em seu artigo 16, que: A
expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a qualidade da oferta, com
instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo
Ministério da Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei n o 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) , e com currículo e materiais
pedagógicos adequados à proposta pedagógica.
Assim, as reformas, ampliações e construções de instituições de educação infantil
devem obedecer aos padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da Educação, que
atualmente estão disciplinadas no seguinte documento: Parâmetros Nacionais de
Infraestrutura para as instituições de educação infantil instituídos pelo MEC, no
ano de 2006.
Os “Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil: Encarte
1” (BRASIL, 2006c, p.26-28), trazem ainda recomendações gerais para as escolas de Educação
Infantil, quais sejam:
• que o terreno propicie, preferencialmente, o desenvolvimento da edificação em um único
26
pavimento;
• que a área mínima para todas as salas para crianças de 0 a 6 anos contemple
1,50 m² por criança atendida considerando a importância da organização dos ambientes
educativos e a qualidade do trabalho;
• que a acessibilidade seja garantida por meio de rampas de acesso ou plataforma de
percurso vertical com as adaptações necessárias para garantir total segurança, conforme NBR
9050. Que sejam assegurados banheiros com sanitários, chuveiros e cadeiras para banho,
brinquedos e equipamentos adaptados para a utilização de crianças com necessidades
especiais;
• que o berçário e as salas de atividades sejam voltados para o nascente, que em todos os
espaços utilizados pelas crianças os acessórios e os equipamentos como
maçanetas, quadros, pias, torneiras, saboneteiras, porta-toalhas e cabides
sejam colocados ao alcance destas para sua maior autonomia. Os interruptores
devem possuir protetores contra descarga elétrica;
• que todas as paredes sejam pintadas com tinta lavável;
• que os ambientes tenham ralos com tampa rotativa para maior proteção contra insetos;
• que a elaboração dos projetos arquitetônicos das instituições de Educação
Infantil seja concebida com a assessoria e o acompanhamento das
Secretarias Municipais de Educação, respaldadas nos Conselhos Estaduais
ou Municipais de Educação;
• que haja a presença de extintores de incêndio e demais equipamentos implantados de
acordo com as normas do Corpo de Bombeiros;
• que haja disponibilidade de água potável para consumo e higienização. A caixa
d’água deve ser mantida fechada e ser limpa regularmente.
• que a infraestrutura esteja de acordo com as determinações legais nacionais e locais
pertinentes.
Em relação às salas de aula, os “Parâmetros básicos de infraestrutura para
instituições de educação infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c, p. 16-17) estabelecem que:
27
O espaço físico para a criança de 1 a 6 anos deve ser visto como um suporte que
possibilita e contribui para a vivência e a expressão das culturas infantis
– jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade
do olhar infantil. Assim, deve-se organizar um ambiente adequado à proposta
pedagógica da instituição, que possibilite à criança a realização de
explorações e brincadeiras, garantindo-lhe identidade, segurança,
confiança, interações socioeducativas e privacidade, promovendo
oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento. Sugestões para
aspectos construtivos:
- piso liso, de fácil conservação, manutenção e limpeza, confortável termicamente,
de acordo com as condições climáticas regionais; […]
- janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso, permitindo a
ventilação e a iluminação natural e garantindo visibilidade para o ambiente externo,
com peitoril de acordo com a altura das crianças, garantindo a segurança; […]
- bancadas, prateleiras e/ou armários, tanto para guarda das fraldas, das
roupas de cama e de banho quanto para guarda de brinquedos e materiais
utilizados pelas crianças. As bancadas, as prateleiras e os armários
destinados à guarda de brinquedos devem ser acessíveis às crianças,
mantendo-se uma altura em torno de 65 cm. Acima desta altura devem
ficar os materiais de uso exclusivo dos adultos; [...].
No que pertine à área externa, consta nos “Parâmetros básicos de infraestrutura
para instituições de educação infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c, p.26-28):
Deve corresponder a, no mínimo, 20% do total da área construída e ser
adequada para atividades de lazer, atividades físicas, eventos e festas da escola e
da comunidade. Contemplar, sempre que possível, duchas com torneiras
acessíveis às crianças, quadros azulejados com torneira para
atividades com tinta lavável, brinquedos de parque, pisos variados,
como, por exemplo, grama, terra e cimento. Havendo possibilidade, deve
contemplar anfiteatro, casa em miniatura, bancos, brinquedos
como escorregador, trepa-trepa, balanços, túneis, etc. Deve ser
ensolarada e sombreada, prevendo a implantação de área verde, que pode
contar com local para pomar, horta e jardim.
28
Em relação às áreas de recreação e vivência, tem-se que a valorização dos
espaços de recreação e vivência vai incrementar a interação das crianças, a partir do
desenvolvimento de jogos, brincadeiras e atividades coletivas, além de propiciar uma
leitura do mundo com base no conhecimento do meio ambiente imediato. O próprio reconhecimento da
criança de seu corpo (suas proporções, possibilidades e movimento) poderá ser refinado pela relação
com o mundo exterior.
A interação com o ambiente natural estimula a curiosidade e a criatividade.
Sempre que for possível, deve-se prover um cuidado especial com o tratamento paisagístico, que inclui
não só o aproveitamento da vegetação, mas também os diferentes tipos de recobrimento do
solo, como areia, grama, terra e caminhos pavimentados.
Quanto à sala multiuso, os “Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de
educação infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c, p.17-18) estabelecem que: Embora as salas de
atividades sejam concebidas como espaços multiuso, prevendo-se a organização de cantos de leitura,
brincadeiras, jogos, dentre outros, ressaltamos a importância da organização de um espaço
destinado a atividades diferenciadas, planejadas de acordo com a proposta pedagógica da
instituição, como alternativa para biblioteca, sala de televisão, vídeo ou DVD e som. É
recomendável que tenha capacidade mínima para atendimento à maior turma da instituição.
Sugestões para os aspectos construtivos:
- piso liso mas não escorregadio, de fácil conservação, manutenção e limpeza, confortável
termicamente, de acordo com as condições climáticas regionais;
- paredes revestidas com material de fácil limpeza e manutenção;
- janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso, permitindo a ventilação e a iluminação
natural e garantindo visibilidade para o ambiente externo, com peitoril de acordo com a altura das
crianças, garantindo a segurança;
- bancadas baixas com prateleiras e quadro azulejado, onde os trabalhos das crianças possam ser
afixados;
- previsão de espaço para colocação de livros, brinquedos, fantasias infantis, além de, quando
possível, computador, televisão, vídeo ou DVD, aparelho de som ou outros equipamentos
necessários à implementação da proposta pedagógica.
Ainda no que diz respeito à necessidade de uma organização dos espaços que
contemple a brincadeira e as interações como eixos norteadores das práticas pedagógicas na
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Educação Infantil, vale salientar o Art. 9º das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil” (BRASIL, 2010):
• Construção de uma sala multiuso na qual devem ser colocados, além das televisões e DVDs,
data show, computadores para uso das crianças, máquina fotográfica e gravadores;
• Aquisição de ar-condicionado para a sala multiuso.
Exige-se, portanto, a existência de padrões mínimos de infraestrutura para o
funcionamento adequado das instituições de educação infantil, com ambiente interno e
externo para o desenvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares e metodologia da
Educação Infantil, a fim de haver uma diversidade de situações e atividades a serem oferecidas às
crianças para evitar um ambiente de confinamento e monotonia.
De acordo com os “Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação
infantil: Encarte 1” (BRASIL, 2006c) o espaço físico para a criança de 1 a 6 anos deve ser visto como
um suporte que possibilita e contribui para a vivência e a expressão das culturas infantis –
jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade do olhar infantil.
Com base nas informações coletadas na perícia técnica, viu-se que foi construída uma
sala multiuso na nova sede do CMEI Judith Aguiar, mas ainda não há equipamentos ou mobiliário
instalados, assim como em todo o prédio.
Assim, deve-se organizar um ambiente adequado à proposta pedagógica da instituição,
que possibilite à criança a realização de explorações e brincadeiras, garantindo-lhe
identidade, segurança, confiança, interações socioeducativas e privacidade,
promovendo oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.
c) Da necessidade de ampliação das vagas ofertadas na educação infantil.
Consoante já se ressaltou anteriormente, é grande a demanda por educação
infantil na área do Parque das Orquídeas, em Emaús, onde está situado o CMEI
Romana Santiago e onde se localiza a obra do novo centro infantil; em razão da
grande procura, a partir de 2012, foi necessário desativar a sala de leitura do
centro infantil Romana Santiago para transformá-la em uma nova sala de aula,
segundo afirmou a Diretora deste (fls. 161/162).
Nesse ínterim, existem duas escolas que ofertam os ensinos fundamental I e II (1º ao 9º
ano), dispondo de turmas de educação infantil (pré-escola, com crianças de 04 e 05 anos de
30
idade) apenas como forma de auxiliar no atendimento à imensa demanda por vagas
no bairro, uma vez que aquelas não dispõem da estrutura exigida para atender aos
parâmetros da educação infantil.
Tanto é assim que a Diretora da Escola Municipal Manoel Machado, situada no Parque
Industrial, em Emaús, ressaltou que no bairro há uma carência muito grande por educação
infantil, existindo lista de crianças na faixa etária de 04 e 05 anos, que aguardam
por vagas nos níveis da educação ofertados por aquela escola diante da ausência
de novas vagas (fl. 299).
Toda essa situação já demonstra a falta de acesso à educação infantil,
existindo uma grande quantidade de crianças que não frequentam à escola, em
razão da omissão municipal.
Como é sabido, no Município de Parnamirim inexiste vagas, em educação infantil,
para crianças de 0 a 01 ano e 11 meses e, é insuficiente o número de vagas para crianças de 02
a 05 anos de idade, tal omissão do Poder Público Municipal resulta em grave e constante
violação do direito difuso das crianças de zero a cinco anos de terem acesso à educação infantil.
De fato, existe uma grande demanda reprimida na educação infantil e uma constante
redução de vagas em detrimento do grande crescimento populacional que existe no Município,
inclusive diante dos diversos programas habitacionais implantados, como o Minha Casa, Minha Vida.
Não obstante, merecem destaque as informações obtidas através do Sistema
DATASUS do Ministério da Saúde5, referente aos dados dos Nascidos Vivos Residentes no Município
de Parnamirim, o número de nascimentos no ano de 2011 foi de 3.418 (três mil quatrocentos e dezoito)
crianças, no ano de 2012 foi de 3.706 (três mil setecentos e seis), no ano de 2013 foi de 3.912 (três mil
novecentos e doze) e no ano de 2014 foi de 4.025 ( quatro mil e vinte e cinco).
Esses dados apontam um incremento anual de aproximadamente 200 crianças por ano,
situação que não é acompanhada pela Secretária Municipal de Educação, visto que não há a criação
de novas vagas no Município.
Em relação a população de 04 a 05 anos, importante citar a Constituição Federal em
seu artigo 208, o qual determina o seguinte: Art. 208. O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) .
5 http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvrn.def
31
Portanto, o atendimento de 04 a 05 anos da educação infantil tornou-se obrigatório, não
se podendo conceber mais crianças nesta faixa etária sem comparecer à escola.
Neste sentido, o Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 13.005/2014 e o Plano
Municipal de Educação – PME, Lei Municipal nº 1.721/2015 estabeleceram como primeira meta a
universalização, até 2016, da educação infantil na pré-escola para as crianças de 4
(quatro) a 5 (cinco) anos de idade . Além disso, o Plano Municipal de Educação foi mais
avançado do que o Plano Nacional, ao definir como meta a ampliação da oferta de educação
infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 60% (sessenta por cento) das
crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência do PNE.
Por seu turno, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu art. 11, V, bem como o
ECA, em seu art. 54, IV, atribui ao Ente Público o dever de assegurar o atendimento de crianças de
zero a seis anos de idade em creches e pré-escolas.
A Jurisprudência é unânime no sentido de reconhecer que a educação infantil, através
do atendimento em creches e o acesso à pré-escola, representa prerrogativa constitucional
indisponível das crianças, sendo imprescindível ao seu desenvolvimento integral, e como primeira
etapa do processo de educação básica.
A educação é um direito social público subjetivo, devendo ser materializado através de
políticas sociais básicas, porquanto indiscutivelmente relacionado a fundamentos constitucionais da
nossa República, relacionando-se aos objetivos primordiais e permanentes de nosso Estado, em
especial, quando buscamos a necessária erradicação da exclusão social.
A garantia de vagas na educação infantil apresenta ainda uma segunda vertente, além
do direito fundamental das crianças, qual seja, a de assegurar aos genitores, sobretudo às mães, a
possibilidade de retornarem ao mercado de trabalho.
A insuficiência de vagas em creches e pré-escolas, além de frustrar o
direito básico da criança de ter acesso à educação, frustra o direito dos pais de
trabalharem, diante da impossibilidade de deixarem seus filhos sozinhos.
O Supremo Tribunal Federal, inclusive, já reconheceu esse direito para
crianças a partir de 03 meses de vida. Nesse sentido:
REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO CONSTITUCIONAL.DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO. ARTIGO 208 DA CRFB.MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
Na hipótese dos autos, o juízo a quo determinou que o Município
32
de Armação de Búzios garanta o acesso a educação dos menoresem idade pré-escolar, reconhecendo o direito de matrícula emcreche da rede municipal ou, em caso de falta de vagas, emcreche da rede particular às custas da municipalidade para ascrianças: Luiz Felipe de Souza Rocha, nascido em 03/07/2008 (Cert. Nasc. de fl.41 - doc. eletrônico 00041); Maria Letícia Saraiva, nascida em 03/05/2008 (Cert.Nasc. de fl. 32 - doc. eletrônico 00031 e 00037); Emanuel Ângelo de Oliveira,nascido em 22/05/09 (Cert. Nasc. de fl. 26 - doc. eletrônico 00025); Erick AlmeidaMoraes, nascido em 27/07/10 (cert. Nasc. de fl. 22 – doc. eletrônico 00021) eThaís de Fátima Silvério Rodrigues e Maria Gabrielly.
A educação é um bem fundamental à vida digna, existindo como atributo intrínsecoda própria democracia, desta fazendo parte indissociável. O exercício da práticaeducacional serve de instrumento poderoso de desenvolvimento da pessoahumana na busca de um melhor exercício da cidadania.
Nesse passo, a efetivação do direito à educação, como instrumento detransformação social, compreende a própria dignidade da pessoa humana, comodireito anterior à própria formação do Estado. Nesse passo, temos que o direito àeducação, por ser direito social e fundamental, pode ser chamado à efetividadepor qualquer indivíduo que se sinta excluído do efetivo acesso previstoem nossa Constituição. Nesse passo, tanto o legisladorconstitucional, quanto o infraconstitucional, procurou resguardar odireito das crianças de zero a seis anos de idade de verem-sematriculadas em creche, justamente, sabedores de que, inclusive,a maior parte da população brasileira é carente do ponto de vistasócio financeiro, necessitando os pais deixarem seus filhos comoutras pessoas para poderem trabalhar e, para com o produto dotrabalho, sustentá-los.
O Supremo Tribunal Federal, inclusive, já entendeu que a criançade três meses de idade possui pleno direito a ser matriculado nacreche municipal, não podendo afastar a obrigação questões relativas aoorçamento, sendo certo que o Município possui dever jurídico constitucional deimplementar as políticas públicas de forma satisfatória (ARE 639337 AgR,Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011).
Ora, nem todos os pais, ao saírem para trabalhar, têm com quemdeixar seus filhos e, portanto, nada mais justo do que deixá-los emcreche apropriada mantida pelo Poder Público. Não prospera aindao argumento da falta de recursos públicos, ainda mais, tendo-seem vista o disposto no artigo 4º, do Estatuto da Criança e doAdolescente, que determina a garantia de prioridade aos menores.Em especial, os incisos “c” e “d” do referido diploma legalasseguram que tal prioridade compreende a preferência naformulação e na execução das políticas sociais públicas e, ainda,destinação privilegiada de recursos públicos nas áreasrelacionadas com a proteção à infância e à juventude.
O provimento jurisdicional, portanto, é medida imprescindível, issoporque a pretensão autoral é relevante (educação de crianças,prioridade absoluta), e a sua desacolhida pelo judiciáriofatalmente acarretará danos irreparáveis, uma vez que a criança
33
ficará na rua à mercê da própria sorte. Manutenção da sentençaem reexame necessário.
(TJ-RJ - REEX: 00008932920128190078 RJ 0000893-29.2012.8.19.0078, Relator:DES. RENATA MACHADO COTTA, Data de Julgamento: 22/07/2014,TERCEIRA CAMARA CIVEL).
Assim, o Poder Público deverá assegurar o atendimento em creches e pré-escolas, no
mínimo, para crianças a partir de 04 meses de vida, considerando que, durante os primeiros 120 dias
de nascido, a mãe poderá ainda cuidar de seu filho, por estar em gozo de licença maternidade.
Diante disso, a Constituição impõe ao Poder Público a obrigação de criar condições
objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças de zero a cinco anos de idade,
o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se
inaceitável omissão governamental, apta a frustrar o integral adimplemento de prestação estatal que
lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal.
Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal “os Municípios - que atuarão,
prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão
demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art.
208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da
discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do
atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a
comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia
desse direito básico de índole social. (STF. RE 410715 AgR. Segunda Turma. Relator Ministro
Celso de Mello. Julgamento 22.11.2005. Publicação DJ 3.2.2006).
Assim, comprovada a inércia do ente Municipal, cumpre ao Poder Judiciário exigir-lhe o
cumprimento integral de suas obrigações constitucionais, sobretudo, por se tratar de direito
fundamental, indisponível e absoluto, que deve ser resguardado acima de qualquer outro.
Por fim, cumpre ressaltar que o Município de Parnamirim tem sido inerte, e
sua omissão autoriza a atuação do Poder Judiciário no sentido de determinar as
medidas que se mostrem necessárias para assegurar o direito à educação das
crianças residentes no bairro de Emaús.
Ademais, o Ministério da Educação tem incentivado a ampliação de
vagas na educação infantil, visto que vem disponibilizando recursos através do
Programa Proinfância, no qual o governo federal remete recursos para a construção e a
ampliação dos Centros Infantis e o Município fica responsável em disponibilizar o terreno, justamente a
situação do novo Centro Infantil localizado em Parque Industrial, consoante se demonstrou.
34
Por todo o exposto, resta amplamente demonstrada a necessidade de que
sejam tomadas todas as providências necessárias para a adequação do prédio,
equipação e efetivo funcionamento do novo centro infantil do bairro Emaús, para
possibilitar a ampliação de vagas e relativizar a demanda reprimida atualmente
existente no bairro.
d) A omissão do Gestor Municipal
De acordo com o princípio da Indisponibilidade os bens e interesses públicos não
pertencem à Administração e seus agentes, a quem cabe apenas geri-los, conservá-los e por eles
velar em prol da coletividade, verdadeira titular dos direitos e interesses públicos.
Neste sentido, o artigo 4º da Lei nº 8.429/92 estabelece que os agentes públicos de
qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância de tais princípios no trato
dos assuntos que lhes são afetos.
Ao não providenciar a conservação, guarda e utilização do Centro Infantil, mesmo tendo
recebido recursos federais para assim proceder, o Prefeito agiu de forma negligente gerando a
deterioração do patrimônio público, que, neste caso concreto é o próprio Centro Infantil, bem do uso
especial destinado à execução de serviço público de educação.
Assim, ao agir negligentemente na conservação do patrimônio público, os responsáveis
podem incidir na prática de ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 10, X, da Lei nº
8.429/1992, segundo o qual “constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e
notadamente, agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público”.
Faz-se imprescindível destacar que a negligência já demonstrada, resultou em frontal
ofensa ao princípio da eficiência no serviço público, um dos principais vetores da Administração
Pública, por ser princípio previsto expressamente no artigo 37, caput, da Constituição Federal.
Nas lições dos mestres Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves “o Poder Público
deve buscar o bem comum, utilizando-se de meios idôneos e adequados à consecução de tais
objetivos, assegurando um certo padrão de qualidade em seus atos” (in Improbidade Administrativa,
Editora Lumen Juris, 5ª edição, p. 66).
35
Portanto, o poder-dever de agir do administrador público é hoje pacificamente
reconhecido pela doutrina e jurisprudência, o que significa que as competências administrativas, por
serem conferidas visando ao atingimento de fins públicos, implicam ao mesmo tempo um poder para
desempenhar as correspondentes funções públicas e um dever de exercício dessas funções.
Assim, que, enquanto no direito privado o poder de agir é mera faculdade, no direito
administrativo é uma imposição, um dever de exercício das competências, de o agente público não
pode dispor, e a omissão do agente, diante de situações que exigem sua atuação, caracteriza abuso
de poder, que poderá ensejar, inclusive, responsabilização pessoal pelos danos que decorram dessa
omissão ilegal.
Outra não pode ser a conclusão no presente caso, visto que ao Prefeito não é dado o
direito de desconhecer e permanecer alheio a problema de tamanha extensão, como se fosse
possível a delegação total de sua resolução para o Secretário da pasta.
Ademais, este Órgão Ministerial já ingressou com Ação Civil Pública nº 0809802-
86.2015.8.20.5124, em 24 de setembro de 2015, na Vara da Fazenda Pública a fim de que o Prefeito
seja condenado em obrigação de fazer, consistente em dar cumprimento imediato ao disposto no art.
69, § 5º, da LDB, para que a Secretaria Municipal de Educação gerencie as contas específicas da
educação, e se torne assim, a efetiva ordenadora de despesa.
Tal situação restou comprovada pelo órgão ministerial ao tomar conhecimento de que a
Secretaria Municipal de Educação de Parnamirim somente vinha recebendo, a título de recursos, o
valor fixo de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) mensais, e que todos os recursos próprios e provenientes
de transferências, que deveriam ser destinados à educação, ficavam sob a responsabilidade da
Secretaria de Planejamento e Finanças, cabendo àquela Secretaria solicitar todo os recursos
necessários à Secretaria de Administração, e, somente em caso de ser deferido, o requerimento seria
encaminhando para a Secretaria de Planejamento e Finanças, para liberação dos valores.
Assim, registre-se que a Secretaria Municipal de Educação não dispõe de autonomia
para gerir os recursos destinados à educação, o que se encontra em desacordo com a
legislação, sobretudo o artigo 69, §5º, da Lei 9394/96 (LDB), que ao disciplinar a forma de
repasse dos recursos vinculados à Educação dispõe que “o repasse dos valores referidos neste artigo
do caixa da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios ocorrerá imediatamente ao
órgão responsável pela educação”.
Ademais, a Secretaria Municipal de Educação ainda não conta em sua
estrutura com órgãos destinados à realização de licitações, por exemplo. A garantia de
autonomia na gestão dos recursos exige a estrutura organizacional adequada, que permita o controle e
movimentação dos valores, realização de processo licitatório, etc.
36
Portanto, com estas considerações, mais cristalina fica a
responsabilidade do gestor, no caso o Prefeito do Município, em adotar as medidas
eficazes para assegurar a conservação e utilização do Centro Infantil, que vem se
deteriorando a cada dia pela sua não utilização, são recursos federais repassados
através de convênio que estão sendo perdidos, sujeitando o espaço a ação de
vândalos e não dando o destino ao bem como foi previsto. Vislumbre-se que o
convênio é de 2011 e a finalização da obra foi prorrogada diversas vezes, findando
nesta gestão, com o prazo de 31/07/2017.
O princípio da eficiência consagra a tese de que a atividade estatal
será norteada por parâmetros de economia e de celeridade na gestão de recursos
públicos, utilizará adequadamente os meios materiais ao seu dispor e que não será
direcionada unicamente à busca de um bom resultado, mas sim, que deve visar, de
forma incessante, ao melhor resultado para os administrados. Com isto, o próprio
vetor da legalidade passará a ser valorado sob uma ótica material, deixando de ser
analisado sob um prisma meramente formal.
Ademais, não se deve perder de vista que eficiência, moralidade e legalidade
não são premissas conceituais antinômicas. Pelo contrário, integram-se e complementam-se, o que
exige do agente a busca incessante do melhor resultado, sem descurar dos mandamentos legais e dos
padrões éticos subjacentes ao bom administrador. Além disso, a eficiência se correlaciona com outros
princípios, como o da proporcionalidade, apresentando-se como importante diretriz para aferir a sua
observância pelo administrador.
O objetivo do princípio da eficiência é assegurar que os serviços
públicos sejam prestados com adequação às necessidades da sociedade que os
custeia, o que não se verifica no presente caso, estando o bem sem utilização
quando já teve 96,52% da obra executada, bem como recebeu o Município a
importância de R$ 956.303,14 (novecentos e cinquenta e seis mil, trezentos e três
reais e quatorze centavos) proveniente de transferências federais e já pagou a
empresa, responsável pela obra, o valor de R$ 859.896,17 (oitocentos e cinquenta
e nove mil, oitocentos e noventa e seis reais e dezessete centavos).
A Eficiência tem como corolário a boa qualidade. A partir da positivação desse princípio
como norte da atividade administrativa, a sociedade passa a dispor de base jurídica expressa para
exigir a efetividade do exercício de direitos sociais, bem como para reivindicar a qualidade das obras e
atividades públicas.
37
Percebe-se que, sendo princípio expresso, a eficiência indiscutivelmente integra o
controle de legalidade ou legitimidade, e não de mérito administrativo. Deveras, a atuação eficiente
não é questão de conveniência e oportunidade administrativa, mas sim uma obrigação do
administrador.
Em decorrências dessas premissas, não restam dúvidas de que o abuso do poder tanto
pode revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e
causar lesão a direito dos administrados. A inércia da autoridade administrativa deixando de executar
determinada prestação de serviço a que por lei está obrigada, viola o ordenamento jurídico. É forma
omissiva de abuso de poder.
Ou seja, a atitude ineficiente e irresponsável do gestor, não bastasse
ofender o direito à educação de expressiva parte do alunado e da comunidade
local, ainda vem acarretando prejuízo ao erário, consistente na constante
dilapidação do Centro Infantil pela falta de uso.
O gestor faltou, ainda, com o dever de lealdade, abrangido pelo princípio da
moralidade, às crianças que aguardam por uma vaga na educação infantil, ao não observar o que era
melhor para os administrados e ao deixar de tomar as medidas administrativas corretas para o bom
funcionamento da máquina pública.
Ao se referir a tal dever, o doutrinador Emerson Garcia obtempera:
“O dever de lealdade em muito se aproxima da concepção de boa-fé, indicando a
obrigação de o agente: a) trilhar os caminhos traçados pela norma para a
consecução do interesse público e b) permanecer ao lado da administração em
todas as intempéries.”6 Mais adiante, citando Pedro T. Nevado-Batalha Moreno,
complementa que “o dever de lealdade abrange: o dever de neutralidade e
independência política no desenvolvimento do trabalho; o respeito à dignidade da
administração; o respeito ao princípio da igualdade e da não discriminação; e o
respeito aos particulares no exercício de seus direitos e liberdades públicas”7.
Ora, em vez de adotar todas as providências para garantir a conservação do patrimônio
do Centro Infantil e sua utilização com a abertura de vagas no segundo semestre de 2017, o gestor se
omitiu gravemente e, como se desconhecesse a situação, demonstrou total apatia na resolução do
problema existente.
Como averbado alhures, a falta de utilização do novo Centro Infantil localizado em
Parque Industrial, acarreta sensação de descrédito em relação ao Poder Público e de indignação.
Ressalte-se que a omissão do gestor fere a justa expectativa da população, em sua camada mais
necessitada, de ter uma transformação por meio da educação.
6 ALVES, Rogério Pacheco e GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa, 2ª, Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2004, p. 291.
7 Loc.cit.
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III – DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA INCIDENTAL
Concretizada como forma de suprir as mazelas que o tempo do processo causa à parte
que tem razão, almejando dividir razoavelmente o tempo de duração do processo, a tutela de
provisória de urgência antecipada busca adiantar os efeitos práticos do futuro provimento final da
procedência da demanda.
Neste sentido, inclusive, é o ensinamento de Luiz Guilherme Marinoni8, in verbis:
[...] é correto dizer que a tutela antecipatória visa apenas a distribuir o ônus do
tempo do processo. É preciso que os operadores do direito
compreendam a importância do novo instituto e o usem de forma
adequada. Não há motivos para timidez no seu uso, pois o remédio
surgiu para eliminar um mal que já está instalado, uma vez que o
tempo do processo sempre prejudicou o autor que tem razão […]
A tutela provisória é proferida mediante juízo de cognição sumária, ou seja, com base
num juízo de probabilidade, onde ainda não há a certeza do direito, mas existe a aparência deste
direito.
Nesse sentido, estabelece o Código de Processo Civil, em seu art. 294 que a tutela
provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.
A tutela provisória de urgência, por sua vez, é dividida em cautelar – garantidora do
resultado útil e eficaz do processo – e a tutela antecipada – satisfativa do direito da parte no plano
fático.
A tutela provisória de urgência, seja cautelar ou antecipada, pode ser concedida em
caráter antecedente – antes do início do processo - ou incidental – dentro do processo principal.
Como se vê, a tutela provisória de urgência antecipada é uma providência que tem
natureza mandamental, com o escopo de entregar ao autor da demanda, de forma total ou parcial, a
própria pretensão deduzida em juízo ou os seus efeitos. É espécie de tutela satisfativa no plano fático,
conferindo ao requerente o bem da vida buscado na ação de conhecimento.
Embora a expressão “poderá” possa suscitar dúvidas quanto à possível
discricionariedade do magistrado na concessão dessa tutela antecipatória, constitui-se, em verdade,
uma obrigação, sendo dever do juiz concedê-la, desde que presentes os requisitos autorizadores.
Em relação à prova inequívoca, ressalte-se que a norma prevê apenas uma cognição
8 MARINONI, Luiz Guilherme. Manual do Processo de Conhecimento, 2.º, Ed. Revista dos Tribunais, p. 229
39
sumária, de modo que o juízo de probabilidade deve ser exigido em grau compatível com os direitos
que estão jogo.
De outro lado, o art. 297 do Código de Processo Civil estabelece que:
Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para
efetivação da tutela provisória.
Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes
ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.
Segundo a previsão do art. 297, o juiz poderá determinar as medidas que considerar
adequadas para a efetivação da tutela provisória, isso porque, tratando-se de tutela provisória de
urgência, é inegável a necessidade de imediata satisfação.
Em relação aos requisitos para a concessão da tutela provisória de urgência, o art. 300
do Código de Processo Civil determina que:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o riscoao resultado útil do processo.
[…]
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou apósjustificação prévia.
De acordo com o referido artigo, exige-se a existência de elementos que evidenciem a
probabilidade do direito, além da comprovação de que não sendo protegido imediatamente, de nada
adiantará uma proteção futura, diante do perecimento do direito.
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento físico, cognitivo,
afetivo e social da criança. Em razão deste fato, a educação infantil reveste-se de importância ímpar
na formação da criança, com reflexos em toda sua vida posterior.
Nesse diapasão, o que está em jogo são os direitos fundamentais à
educação, ao crescimento e desenvolvimento sadio, acesso à escola de qualidade
e nos anos iniciais, uma vez que um centro infantil praticamente pronto e sem
funcionamento obsta a matrícula e a inserção na rede básica de ensino de mais de
uma centena de crianças, que não estão matriculadas em nenhuma escola ou,
ainda, encontram-se nas escolas municipais de ensino fundamental que possuem
turmas de educação infantil de forma precária, sem a observância dos Parâmetros
mínimos de qualidade para oferecer essa etapa da educação.
40
A narrativa dos fatos e o Relatório Técnico Pericial demonstram a presença indubitável
dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, necessários para a concessão da tutela de
urgência.
Quanto ao perigo da demora, é certa a sua existência na medida em que o tempo não
estaciona para as crianças que hoje não estão matriculadas na educação infantil em
face da ausência de vagas, que poderiam ser abertas caso o prédio do novo CMEI
de Emaús estivesse apto a ser ocupado e a promover o acesso a uma educação
infantil de qualidade, fator este que influenciará todo desenvolvimento escolar
futuro desses infantes.
Ressalte-se que o prédio que abrigará um centro infantil no bairro Emaús necessita
apenas de reparos em sua estrutura física, uma vez que as instalações são novas. Não obstante, todo
o mobiliário, equipamentos e material precisa ser disponibilizado em quantidade suficiente para
atender a demanda do centro infantil, permitindo o seu pelo funcionamento.
Saliente-se que quanto mais prolonga-se no tempo o início dos
reparos, pior vai ficando a estrutura do prédio, que sofre com a deterioração pela
não ocupação, as intempéries e com o natural decurso do tempo, além da ação
humana, revelando, assim, outras necessidades de adequação física.
De outro modo, e este ainda mais grave, o tempo também não estaciona para as
crianças que hoje necessitam de uma vaga nas creches e pré-escolas públicas. Os anos da
primeira infância passarão, inexoravelmente, sem que elas tenham a possibilidade
de frequentar uma escola de educação infantil de qualidade, tempo precioso,
conforme atesta a ciência, para desenvolvimento de habilidades que contribuirão,
de maneira decisiva, para o sucesso nos anos seguintes da educação básica e
superior.
Caso o pedido somente venha a ser deferido em decisão judicial de mérito, a conclusão
dos reparos, colocação do mobiliário e equipamentos e efetivo funcionamento do Centro Infantil serão
indefinidamente postergadas. Os prejuízos para as crianças são incalculáveis, posto que não é
possível mensurar as perdas educacionais sofridas por elas ao longo de suas vidas, inclusive para as
que estão tolhidas no seu direito de estudar, em razão da insuficiência de vagas no Centro Infantil
Romana Santiago, único na localidade.
Essa situação exige a adoção de medidas imediatas pelo Poder Judiciário, que se torna
responsável pela solução da demanda a partir do momento da propositura da ação.
41
In casu, a fumaça do bom direito restou evidenciada através de toda a argumentação
exarada nesta peça, de que as crianças, na faixa etária de 0 (zero) a 05 (cinco) anos e 11 (onze)
meses, têm direito a uma educação infantil de qualidade, direito este que lhes é constitucionalmente
garantido e que pode não vir a ser efetivado em face da inércia do Município de Parnamirim.
Reforçando a verossimilhanças das alegações, destaquem-se os próprios direitos
fundamentais assegurados por nossa Carta Política de 1988, garantindo a todos, especialmente, às
crianças, o direito à educação, saúde e integridade física e psicológica.
O direito à plena educação de qualidade representa fator de limitação da
discricionariedade político-administrativa dos entes públicos, sendo imperativa, desta feita, a
reconstrução pleiteada a fim de efetivar mandato constitucional, juridicamente vinculante.
Aliás, a omissão do Administrador em cumprir este dever constitucional não está no
âmbito do mérito administrativo. É ato arbitrário que inviabiliza as garantias estabelecidas em favor da
pessoa e dos cidadão s .
Em face disso, e presentes os requisitos exigidos em Lei, requer esse Órgão
Ministerial a concessão de medida antecipatória de urgência, no sentido de fixar a
obrigação do Município de Parnamirim em adotar as seguintes providências com relação
ao prédio do novo centro infantil situado na Rua Professora Maria Soliana de
Andrade, em Emaús, construído com recursos Proinfância :
1. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências administrativas e
orçamentárias necessárias para viabiliz ar os consertos, manutenção ,
revisões e adequações na estrutura física do novo prédio, a fim de concluir a
obra e sanar as patologias constata das no relatório de vistoria técnica
realizado pelo Ministério Público, bem como providencie todas as licenças e
autorizações pertinentes para o funcionamento d o local , para que o Centro
Infantil esteja totalmente apto a iniciar as suas atividades no ano letivo de
2018, observados os Parâmetros Nacionais para a Educação Infantil;
2. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências para garantir e viabilizar a
remessa de mobiliário, utensílios, materiais e brinquedos pedagógicos,
instalação de todos os equipamentos (lousa, armários, estantes,
ventiladores, ar-condicionado, freezer, fogão industrial, lâmpadas, peças
sanitárias, dentre outros), do parque infantil de fibra e dos demais itens
42
necessários ao regular funcionamento de todos os ambientes do novo centro
infantil, devendo, também, dotar a unidade de ensino de todos os recursos humanos
necessários ao pleno funcionamento das suas atividades, viabilizando, assim, o início das
atividades na instituição no ano letivo de 2018;
3. Amplie o número de vagas na educação infantil no ano de 2018, com a
abertura de matrículas para o novo centro infantil de Emaús (planta Parque
Industrial), nos limites da sua capacidade, a fim de amenizar com a demanda
reprimida atualmente existente na localidade;
4. No prazo de 60 (sessenta dias), inaugure e ponha em funcionamento o novo
centro infantil de Emaús, situado à Rua Professora Maria Soliana de Andrade,
Emaús, Parnamirim/RN (planta Parque Industrial).
Por tratar-se de medida judicial em favor de crianças, requer, ainda, a fixação de multa
pessoal e diária no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), a ser suportada pelo Chefe do Executivo
Municipal e respectivos Secretários, por dia de descumprimento da decisão judicial.
IV – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, fiel aos lineamentos acima traçados, requer este Órgão Ministerial,
através de sua representante signatária, se digne Vossa Excelência:
a) conceder a tutela provisória de urgência antecipada nos termos requeridos pelo Parquet;
b) seja determinada intimação pessoal, do Ilm.º Sr. Prefeito de Parnamirim e dos Secretários
Municipais de Educação e Obras de Parnamirim para cumprirem a medida antecipatória, caso
concedida;
c) objetivando conferir eficácia real à decisão antecipatória de tutela concedida, postula-se a fixação de
multa PESSOAL diária, no valor de R$ 1.000,00 ( mil reais), para o caso de não cumprimento da
medida dentro do prazo estipulado, cujo ônus deverá recair sobre a pessoa do Prefeito, do Secretário
Municipal de Educação, e do Secretário de Obras, de forma a não onerar o erário;
d) seja determinada a citação do Município de Parnamirim para comparecer em
audiência de conciliação a ser designada por este Juízo, nos termos do art. 319, inciso VII
do Código de Processo Civil, bem como, contestar a ação, nos termos do art. 335, CPC;
e) a procedência do pedido, com a confirmação da tutela provisória de urgência antecipada concedida ,
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a fim de que haja a CONDENAÇÃO do Município de Parnamirim, em obrigação de fazer, consistente
em adotar as seguintes providências seguintes com relação ao prédio do novo centro infantil
situado na Rua Professora Maria Soliana de Andrade, em Emaús, construído com
recursos Proinfância :
1. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências administrativas e
orçamentárias necessárias para viabiliz ar os consertos, manutenção ,
revisões e adequações na estrutura física do novo prédio, a fim de concluir a
obra e sanar as patologias constata das no relatório de vistoria técnica
realizado pelo Ministério Público, bem como providencie todas as licenças e
autorizações pertinentes para o funcionamento d o local , para que o Centro
Infantil esteja totalmente apto a iniciar as suas atividades no ano letivo de
2018, observados os Parâmetros Nacionais para a Educação Infantil;
2. Adote, no prazo de 30 (trinta) dias, todas as providências para garantir e viabilizar a
remessa de mobiliário, utensílios, materiais e brinquedos pedagógicos,
instalação de todos os equipamentos (lousa, armários, estantes,
ventiladores, ar-condicionado, freezer, fogão industrial, lâmpadas, peças
sanitárias, dentre outros), do parque infantil de fibra e dos demais itens
necessários ao regular funcionamento de todos os ambientes do novo centro
infantil, devendo, também, dotar a unidade de ensino de todos os recursos humanos
necessários ao pleno funcionamento das suas atividades, viabilizando, assim, o início das
atividades na instituição no ano letivo de 2018;
3. Amplie o número de vagas na educação infantil no ano de 2018, com a
abertura de matrículas para o novo centro infantil de Emaús (planta Parque
Industrial), nos limites da sua capacidade, a fim de amenizar com a demanda
reprimida atualmente existente na localidade;
4. No prazo de 60 (sessenta dias), inaugure e ponha em funcionamento o
novo centro infantil de Emaús, situado à Rua Professora Maria Soliana de
Andrade, Emaús, Parnamirim/RN (planta Parque Industrial).
REQUER AINDA, que as intimações dos atos processuais sejam pessoais, na forma do
artigo 236, §2º, do Código de Processo Civil, na Promotoria de Defesa dos Diretos da Saúde
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e Educação de Parnamirim (4ª PJP).
Sem custas e emolumentos, em razão do disposto no artigo 18 da Lei n.º 7.347/85. Dá-
se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para fins meramente fiscais.
Embora já tenha apresentado o Ministério Público Estadual prova pré-constituída do
alegado, protesta, outrossim, pela produção de prova documental, testemunhal, e, até mesmo,
inspeção judicial, que se fizerem necessárias ao pleno conhecimento dos fatos, inclusive no transcurso
do contraditório que se vier a formar com a apresentação da contestação.
Nestes termos,Pede e espera deferimento.
Parnamirim, 16 de novembro de 2017.
Luciana Maria Maciel Cavalcanti Ferreira de Melo4ª Promotora de Justiça
EM ANEXO: Inquérito Civil nº 35/2012 – 4ª PmJ, com 325 páginas numeradas e
rubricadas.
ROL DE TESTEMUNHAS:
1. Francisca Alves da Silva Henrique. Secretária Municipal de Educação. Podendo ser encontrada na
sede da respectiva Secretaria, situada à Rua Cícero Fernandes Pimenta, 1379A, Santos Reis,
Parnamirim/RN;
2. Coordenadora de Desenvolvimento da Educação Infantil. Podendo ser encontrada na sede da
Secretaria Municipal de Educação, situada no endereço acima.
3. Franklin Altevy Bruno Wanderley. Secretário Municipal de Obras Públicas. Podendo ser encontrado
na sede da respectiva Secretaria, situada à Rua Tenente Pedro Rufino dos Santos, 742, Monte Castelo,
Parnamirim/RN.
Luciana Maria Maciel Cavalcanti Ferreira de Melo4ª Promotora de Justiça
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