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O MINISTÉRIO PÚBLICO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 1 HUGO NIGRO MAZZILLI ADVOGADO, CONSULTOR JURÍDICO, PROCURADOR DE JUSTIÇA APOSENTADO EM S. PAULO Sumário: 1. Introdução. 2. A Lei Orgânica local do Ministério Público. 3. As competências do Ministério Público. 4. A remissão. 5. Promoção e acompanhamento dos procedimentos infracionais. 6. Ações de alimentos e outros procedimentos. 7. Hipoteca legal e pres- tação de contas. 8. Inquérito civil e ação civil pública: a) generalidades; b) a defesa de interesses difusos e coletivos na área de proteção à in- fância e à juventude; c) hipóteses de ações civis públicas; d) o inquéri- to civil. 9. Procedimentos administrativos. 10. Notificações e requisi- ções. 11. Sindicâncias e requisição de inquérito policial. 12. Zelo pelos direitos e garantias das crianças e dos adolescentes. 13. Mandado de segurança, de injunção e habeas-corpus. 14. Representação para apli- cação de penalidades. 15. Realização de inspeções. 16. Requisição de força policial e da colaboração de outros serviços. 17. Legitimação concorrente. 18. Outras funções compatíveis. 19. Livre acesso a locais. 20. Acesso a informações e a documentos sigilosos. 21. Instrumentos de atuação do ombudsman. (1). Introdução É muito estreita a ligação do Ministério Público com as normas de proteção à criança e ao adolescente, pois que está ele naturalmente votado à defesa de interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis. 2 Analisando os principais direitos e interesses ligados à proteção da infância e da juven- tude, como foram referidos pelo art. 227, caput, da Constituição da República, vemos que a indisponibilidade é sua nota predominante. Diz a Constituição ser “dever da famí- 1. Publ. em http://www.mp.sp.gov.br/pls/portal/url/ITEM/1995EF1CFA2A715CE040A8C02701429 (acesso em 04-07-2007); http://www.saraivajur.com.br/menuesquerdo/doutrinaArtigosDetalhe.aspx?Doutrina=363 (acesso em 21-12-2011). Artigo disponível no site www.mazzilli.com.br. 2. Para o exame mais completo do Ministério Público enquanto instituição, v. nosso Regime jurídico do Ministério Público, 5ª ed., Saraiva, 2001.

Ministério público e ECA

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O MINISTRIO PBLICONO ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE1 HUGO NIGRO MAZZILLI ADVOGADO, CONSULTOR JURDICO, PROCURADOR DE JUSTIA APOSENTADO EM S. PAULO Sumrio:1.Introduo.2.ALeiOrgnicalocaldoMinistrio Pblico.3.AscompetnciasdoMinistrioPblico.4.Aremisso.5. Promooeacompanhamentodosprocedimentosinfracionais.6. Aesde alimentos eoutros procedimentos.7. Hipotecalegalepres-tao de contas. 8. Inqurito civil e ao civil pblica: a) generalidades; b) a defesa de interesses difusos e coletivos na rea de proteo in-fncia e juventude; c) hipteses de aes civis pblicas; d) o inquri-tocivil.9.Procedimentosadministrativos.10.Notificaeserequisi-es. 11. Sindicncias e requisio de inqurito policial. 12. Zelo pelos direitos e garantias das crianas e dos adolescentes. 13. Mandado de segurana, de injuno e habeas-corpus. 14. Representao para apli-cao de penalidades. 15. Realizao de inspees. 16. Requisio de forapolicialedacolaboraodeoutrosservios.17.Legitimao concorrente. 18. Outras funes compatveis. 19. Livre acesso a locais. 20. Acesso a informaes e a documentos sigilosos. 21. Instrumentos de atuao do ombudsman. (1). Introduo muito estreita a ligao do Ministrio Pblico com as normas de proteo criana e ao adolescente, pois que est ele naturalmente votado defesa de interesses sociais e dos interesses individuais indisponveis.2 Analisando os principais direitos e interesses ligados proteo da infncia e da juven-tude, como foram referidos pelo art. 227, caput, da Constituio da Repblica, vemos que a indisponibilidade sua nota predominante. Diz a Constituio ser dever da fam- 1. Publ.emhttp://www.mp.sp.gov.br/pls/portal/url/ITEM/1995EF1CFA2A715CE040A8C02701429 (acessoem04-07-2007);http://www.saraivajur.com.br/menuesquerdo/doutrinaArtigosDetalhe.aspx?Doutrina=363 (acesso em 21-12-2011). Artigo disponvel no site www.mazzilli.com.br.2. Para o exame mais completo do Ministrio Pblico enquanto instituio, v. nosso Regime jurdico do Ministrio Pblico, 5 ed., Saraiva, 2001. lia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta priori-dade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. Como os direitos e interesses ligados proteo da criana e do adolescente sempre tm carter social ou indisponvel, conseqentemente no se pode excluir a iniciativa ou a interveno ministerial em qualquer feito judicial em que se discutam esses interesses. Assim, tanto interesses sociais ou interesses individuais indisponveis ligados proteo da criana e do adolescente merecem tutela pelo Ministrio Pblico; o mesmo se diga dos interesses individuais homogneos, coletivos ou difusos ligados infncia e ju-ventude. As funes institucionais do Ministrio Pblico, a que se refere o art. 200 do Estatuto da Criana e do Adolescente, compreendem no s aquelas especificamente relaciona-das em seu art. 201, bem como qualquer outra funo que a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, tenha, expressa ou implicitamente, cometido ao Ministrio Pblico. Diversamente do que talvez pudesse parecer primeira vista, nem todas as funes de Ministrio Pblico previstas no ECA cabero ipso factu aos Promotores de Justia da Infncia e da Juventude. Com efeito, o ECA contm diversas normas de atuao minis-terial que seguramente acabaro sendo objeto de aplicao por outros rgos da institui-o, que atuem em outras reas. o que pode ocorrer, por exemplo, com as atribuies penais (arts. 228-244) ou mesmo quando da aplicao das normas atinentes proteo da criana ou do adolescente portador de deficincia (art. 208, II). Assim, as funes de Ministrio Pblico, previstas nessa lei, sero exercidas nos termos da respectiva Lei Orgnica (art. 200). Esta lei que discriminar a distribuio de atribuies dos mem-bros do Ministrio Pblico, no o ECA. Essa disciplina legal permite, induvidosamente, que diversas funes legais cometidas ao Ministrio Pblico pelo ECA possam ou, conforme disponha a lei local de organiza-o do Ministrio Pblico, at mesmo devam ser exercidas por outros rgos da institui-o, de acordo com o princpio da especialidade. (2). A Lei Orgnica local do Ministrio Pblico Cabe Lei Orgnica de cada Ministrio Pblico disciplinar o exerccio das funes a ele cometidas pelo ECA. Assim, as funes atribudas ao Ministrio Pblico da Unio, por fora do ECA, sero exercidas pelo Ministrio Pblico Federal ou pelo Ministrio Pblico do Distrito Fede-ral ou Territrios, em conformidade com o disposto na Lei Complementar n. 75/93, que organiza os diversos ramos do Ministrio Pblico da Unio (art. 128, I, e 5, caput, 1 parte, da CF). Quanto ao Ministrio Pblico dos Estados, alm das respectivas Leis Complementares de Organizao (art. 128, II, e 5, caput, 2 parte, da CF), a Constituio previu ainda o advento de uma lei federal destinada a estabelecer as normas gerais para a organizao do Ministrio Pblico dos Estados (art. 61, 1, II, d, da CF). Segundo a prpria Consti-tuio, essa lei tambm deveria ser aplicvel ao Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios. Entretanto, por notvel falta de coerncia do sistema, o pargrafo nico do art. 2 da Lei n. 8.625/93 que a lei destinada a criar essas normas gerais excluiu expressamente de seu alcance o Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios (crtica a isso j a fizemos em nosso Regime jurdico do Ministrio Pblico, 5 ed., Cap. 6, ed. Saraiva, 2001). O campo reservado para ditas leis complementares inclui normas que estabeleam a organizao, as atribuies e o estatuto de cada Ministrio Pblico. Alm de conferir lei federal a explicitao de normas gerais de organizao do Minis-trio Pblico dos Estados e do Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios (arts. 21, XIII, 22, XVII, 48, IX, 61, 1, II, d, 68, 1), o texto constitucional ainda previu devesse a lei complementar respectiva estabelecer-lhe o respectivo estatuto, e, o que mais importante, at mesmo fixar-lhe novas atribuies. Conquanto caiba prpria Unio legislar sobre processo (CF, art. 22, I, ressalvada a exceo de seu pargrafo ni-co, bem como a matria procedimental de competncia concorrente dos Estados, cf. art. 24, X e XI), o permissivo constitucional que faculta legislao complementar local estipular normas de atribuio do Ministrio Pblico, acaba por admitir, portanto, que a legislao local disponha sobre novas reas para sua atuao e interveno processual. Cumpre deixar claro, posto bvio, que no apenas o Promotor de Justia da Infncia e da Juventude o nico rgo do Ministrio Pblico que deve zelar pelos direitos e inte-resses ligados proteo dos menores. A proteo a menores pode dar-se na rea crimi-nal, de famlia, sucessria, difusa etc. assim, vrias Promotorias de Justia podem envolver-se na defesa de crianas e adolescentes. Toda a instituio ministerial, na for-ma e nos limites da lei local de organizao do Ministrio Pblico, est investida na proteo da infncia e da juventude. (3). As competncias do Ministrio Pblico Ao referir-se s diversas funes que competem ao Ministrio Pblico, vemos que a expresso competir foi utilizada no art. 201, caput, do ECA, com sentido de competn-cia administrativa, ou seja, um conjunto de atribuies cometidas a um rgo. Sabemos que as atribuies do Ministrio Pblico, na rea de proteo infncia e juventude, no se exaurem no art. 201 do ECA: incluem tambm atribuies implcita ou explicitamente a ele conferidas nos demais dispositivos do Estatuto, como ainda vo alm, ou seja, compreendem atribuies conferidas instituio, nessa rea, pelas mais diversas leis, entre as quais no est excluda a Lei Orgnica local de cada Ministrio Pblico. (4). A remisso Como anotou Jurandir Norberto Marura,3 a remisso veio expressamente prevista nos arts. 126 a 128 e 201, I, do ECA, em atendimento recomendao da Resoluo n. 40/33, de 19 de novembro de 1985, da Organizao das Naes Unidas. No ECA, a remisso foi concebida como forma de excluso do processo, seja como perdo, seja para aplicao de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a coloca-o em regime de semiliberdade e a internao. Quando o rgo do Ministrio Pblico concede a remisso, deixar de propor judicial-mente a representao, mesmo em face de ato infracional praticado por pessoa menor de idade.Nenhuma inconstitucionalidade decorre desse dispositivo que permite ao Ministrio Pblico conceder remisso. De um lado, no se viola o princpio da obrigatoriedade, pois a prpria lei dispensou o ajuizamento da representao nesse caso (art. 126 ECA). De outro, semelhante soluo j ocorre no processo penal, quando se confere ao Ministrio Pblico a ltima palavra sobre a no-propositura da acusao penal nos crimes de ao pblica. Pode surgir quem diga que, com dispositivos da ndole do art. 126 do ECA ou do art. 28 do Cdigo de Processo Penal, estar-se-ia permitindo ao Ministrio Pblico recusar-se a fazer a imputao ou a formular a representao condicionadora da apurao de ato 3. Remisso instrumento valioso, O Estado de S. Paulo, 24.4.91, p. 14. infracional atribudo a adolescente, e com isto, estar-se-ia permitindo que se subtrasse do Poder Judicirio o conhecimento da matria. Questes como essa, cientificamente superadas, j foram enfrentadas quando do exame da constitucionalidade do art. 28 do Cdigo de Processo Penal, pela doutrina e pela ju-risprudncia, mas mantm interesse apenas para permitir que se discuta o embasamento doutrinrio das funes do Ministrio Pblico.Inexiste inconstitucionalidade nessa soluo. O Ministrio Pblico, como rgo aut-nomo do Estado, detm parcela da sua soberania. Quando, expressamente autorizado pela lei, resolve no acusar ou no efetuar uma representao, o prprio Estado sobe-rano a decidir-se por no acusar ou a decidir-se por no efetuar a representao. O Esta-do soberano o titular do poder-dever de acusar ou de acionar o Estado-juiz para obter uma prestao jurisdicional positiva ou tambm negativa sobre uma imputao ou sobre uma representao versando ato infracional cometido por adolescente. Se o Estado, pelo seu rgo competente, autorizado pela lei, resolve fundamentadamente deixar de acusar ou deixar de formular uma representao infracional deciso esta que se submete a um elaborado sistema de freios e contrapesos da no se gera leso alguma de direi-to, a merecer apreciao do Poder Judicirio. Sob esse mesmo aspecto, impende notar, ainda, que a remisso no implica necessariamente o reconhecimento ou a comprovao da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes (art. 127 do ECA). Ademais, esse sistema de controles sobre a concesso da remisso tanto interno como externo: interno, porque sua concesso pelo rgo do Ministrio Pblico ser objeto de fiscalizao dos rgos de correio e disciplina da prpria instituio ministerial; ex-terno, porque a remisso concedida pelo Ministrio Pblico dever ser encaminhada ao crivo judicial, quando poder ser homologada, ou no (art. 181 do ECA). Por ltimo, a remisso no irrevogvel, podendo ser a medida nela aplicada revista a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do prprio Ministrio Pblico (art. 128 do ECA). Por fim, o maior mrito do instituto da remisso consiste na sua utilidade prtica, uma vez que grande parte dos casos, de menor gravidade, pode e deve receber tratamento adequado, com o atendimento e a orientao, feitos de forma usual e profcua, em mi-lhares de comarcas do Pas, diariamente, pelos Promotores de Justia. (5) Promoo e acompanhamento dos procedimentos infracionais Adequadamente o Estatuto exige, para a apurao do ato infracional atribudo a adoles-cente, guisa do que agora tambm ocorre no processo penal, o princpio da iniciativa de parte, para possibilitar um juiz efetivamente imparcial, porque desvinculado do dever de acusar (art. 171 e s., e art. 201, II, do ECA). Caber ao rgo do Ministrio Pblico a tarefa de representar autoridade judiciria para a aplicao de medida scio-educativa (art. 180, III). No se diga que o Ministrio Pblico, no procedimento infracional, seria custos legis, e no parte. Se a lei agora exige sua iniciativa, no porque o Ministrio Pblico deve estar comprometido com a busca da verdade e com os interesses do bem comum, que no assumir a posio processual de parte, com os nus e tambm os deveres da de-correntes.Assim, excetuada a hiptese da remisso, tem o dever de propor a representao pela prtica do ato infracional, bem como o de acompanhar os respectivos procedimentos. guisa do que ocorre no processo penal, no est o rgo ministerial obrigado a pro-pugnar pela imposio de sano ao adolescente, em face de quem formulou a represen-tao pela suposta prtica de ato infracional. Se, ao fim do procedimento, entender evi-denciada a inocncia do adolescente, o membro do Ministrio Pblico, mediante livre mas motivada apreciao, no s poder como dever propugnar pelo seu reconheci-mento, devendo mesmo recorrer por ele, se isto for necessrio. (6). Aes de alimentos e outros procedimentosEm todos os procedimentos da competncia da Justia da Infncia e da Juventude, se o Ministrio Pblico no os propuser e, portanto, desde ento j obrigado a acompa-nh-los (v.g. art. 201, II, do ECA) neles dever intervir. Se o Ministrio Pblico promover qualquer desses procedimentos, agir como rgo do Estado, no zelo dos interesses globais da coletividade, aqui identificados com a defesa das crianas e dos adolescentes, merecedores de um tipo todo especial de ateno e pro-teo. Apesar de sua posio como parte (como sujeito ativo da relao processual), nem por isso deixa o Ministrio Pblico de zelar pela ordem jurdica, pela correta aplicao da lei, pela defesa dos interesses indisponveis que ali esto em disputa. esse o escopo do inc. III do art. 201 do ECA, quando garante a presena do Ministrio Pblico em todo e qualquer procedimento da competncia da Justia da Infncia e da Juventude, quer porque j o tenha proposto, quer porque, no o tendo ajuizado, nele sempre deve intervir.Pode o Ministrio Pblico e at mesmo deve, conforme o caso, requerer, aditar, propor pedido conexo, conjunto, em separado, intervir, assumir, impugnar, concordar ou recor-rer, tudo para o mais amplo exerccio de seu mnus pblico.Por ltimo, ao fim da instruo, em qualquer procedimento, nunca demais lembrar que o princpio da indisponibilidade dos interesses em jogo no lhe vai impor propugne o Ministrio Pblico, sempre e sempre, pelo acolhimento da ao, do pedido ou da repre-sentao, ainda que ele os tenha proposto: se se convencer de que no h justa causa para tanto, no deve propugnar pelo acolhimento da ao, ainda que por ele mesmo ajuizada. Vincula-se no ao pedido e sim defesa dos valores ligados infncia e ju-ventude. A propsito da disciplina das aes e procedimentos referidos no inc. III do art. 201, v. arts. 148/9, 155, 164 e 169 do ECA, e art. 1.194 do CPC. (7). Hipoteca legal e prestao de contas Nos termos do Cdigo Civil de 2002, a lei confere hipoteca, entre outras hipteses, aos filhos, sobre os imveis do pai ou da me que passar a outras npcias, antes de fazer o inventrio do casal anterior (art. 1.489, II). Tanto nesse caso, como em qualquer outro em que haja interesse de incapazes, o registro e a especializao das hipotecas legais dever ser feito a requerimento do Ministrio Pblico, se isso lhe for requerido pelos interessados (art. 1.497, 1); por sua vez, a promoo da ao de prestao de contas, em face de tutores, curadores e administradores de bens de incapazes possvel de ser ajuizada pelo Ministrio Pblico (Cdigo Civil de 2002, arts. 1.637 e 1.755; Cdigo de Processo Civil, art. 914, I). Tambm inventariantes e depositrios podem receber bens de incapazes, podendo em face deles ser proposta a ao de prestao de contas. O prprio rgo do Ministrio Pblico pode ser obrigado a prestar contas: h casos em que pode ele prprio ter recebido bens de incapaz (arts. 1189 e 914, II, do CPC). Os pais so os administradores legais dos bens dos filhos incapazes; assim, podem ad-ministrar mas no podem dispor. Podem alugar, reparar, usar; no podem vender, hipo-tecar, doar ou transigir (arts. 1.689, II, e 1.691 do Cdigo Civil de 2002). Os tutores e curadores, quando investidos na administrao de bens de seus pupilos ou curatelados, da mesma foram tambm no tm poderes de disposio (arts. 1.740, III, e 1.741, do Cdigo Civil de 2002). Para tanto, quando haja necessidade ou manifesta utilidade na disposio do patrimnio, a prvia autorizao judicial indispensvel (art. 1.750 do Cdigo Civil de 2002). (8). Inqurito civil e ao civil pblica a) generalidades O inqurito civil foi inovao da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplinou o ajuizamento da ao civil pblica pelo Ministrio Pblico. Vale anotar que, tanto o in-qurito civil, como a ao civil pblica tm viabilizado inmeras iniciativas dessa insti-tuio na rea da defesa dos chamados interesses difusos, coletivos e individuais homo-gneos, defesa esta agora consagrada na prpria Constituio de 1988 (CF, art. 129, III).4 Na sua criao, com ao civil pblica, por certo se queria referir ao de objeto no-penal, proposta pelo Ministrio Pblico. Tratava-se de enfoque nitidamente subjeti-vo, baseado na titularidade ativa de qualquer ao civil, sem objeto mais especfico, desde que proposta pelo Ministrio Pblico. Tanto a Lei n. 7.347/85, como as Leis posteriores, e a prpria Constituio, ao discipli-narem a ao civil pblica, no a restringiram iniciativa do Ministrio Pblico.Ao civil pblica passou a significar no s a ao ajuizada pelo Ministrio Pblico, como a ao proposta por outros legitimados ativos pessoas jurdicas de direito p-blico interno, associaes e outras entidades desde que visasse tutela de interesses difusos ou coletivos (agora um enfoque subjetivo-objetivo, baseado na titularidade ativa e no objeto especfico da prestao jurisdicional). O conceito de ao civil pblica alcana hoje, portanto, mais que as aes de iniciativa ministerial. Neste breve estudo, porm, daremos ateno especial a estas ltimas, por-que, ordinariamente, o Ministrio Pblico quem toma a iniciativa de sua propositura.5 Em se tratando das aes de que cuida a Lei n. 8.069/90, em regra seu ajuizamento cabe aos rgos do Ministrio Pblico investidos nas funes de Promotoria da Infncia e da Juventude (cf. arts. 146 e 148, IV, do Estatuto). 4. Para o exame do inqurito civil, v . nosso O inqurito civil investigaes do Ministrio Pblico, compromissos de ajustamento e audincias pblicas, 2 ed., Saraiva, 2000. 5. Para o estudo em profundidade da ao civil pblica e da defesa processual dos interes-ses transindividuais, v. nosso A defesa dos interesses difusos em juzo, 16 ed., Saraiva, 2003. Embora os livros mais tradicionais sobre Ministrio Pblico enumerem um pequeno rol de aes civis pblicas promovidas pelo Ministrio Pblico, na verdade um levantamen-to mais completo a respeito excede a centena de hipteses, graas sua grande varieda-de (A defesa dos interesses difusos em juzo, cit., Cap. 3).As primeiras das aes civis pblicas de iniciativa ministerial j vm mencionadas na prpria Constituio (representao interventiva; ao declaratria de inconstitucionali-dade; ao civil pblica etc.). As demais, decorrem do ordenamento jurdico (Cdigo Civil, Cdigo de Processo Civil, Cdigo de Processo Penal, Lei da Ao Civil Pblica, Cdigo de Defesa do Consumidor etc.). Especificamente com relao ao Estatuto (art. 201, V), as aes civis pblicas de inicia-tiva do Ministrio Pblico so aquelas para a defesa de interesses individuais (indispo-nveis), difusos ou coletivos, relacionados com a proteo infncia e adolescncia (arts. 208 a 224). inevitvel que surja a questo da eventual vinculao do rgo do Ministrio Pblico, ao oficiar nas aes civis pblicas: est ou no o rgo do Ministrio Pblico vinculado defesa de pessoas ou interesses, quando proponha ou quando intervenha numa ao civil pblica? A propsito da questo de ser parte ou de ser fiscal da lei, adverte, com razo, Cndido Dinamarco (Fundamentos do processo civil moderno, n. 187, ed. Rev. dos Tribunais): ser parte no significa no ser fiscal da lei e vice-versa. Ser parte quer significar ser titu-lar de nus e faculdades do processo; nesse sentido, o Ministrio Pblico, ainda que no tenha proposto a ao, parte sempre . Est sempre em busca da defesa de um interesse; este interesse, sim, que nem sempre est ligado a uma pessoa ou a um grupo de pesso-as, pois pode ser um interesse impessoal (ligado ao bem geral da coletividade). Os interesses podem estar ligados mais diretamente s prprias pessoas ou, antes, ob-jetiva proteo de alguns bens da vida. claro que a atuao do Ministrio Pblico sempre finalstica, pois sempre est ligada defesa de um bem jurdico. Se esse bem for ligado a uma pessoa (como na defesa de crianas ou adolescentes, na defesa de pes-soas portadoras de deficincia, de acidentados do trabalho, de comunidades indgenas), teremos a verdadeira assistncia; se o bem no for ligado a uma pessoa (como na inter-veno nas aes diretas de inconstitucionalidade, p. ex.), a vinculao ser com a defe-sa da ordem jurdica abstratamente considerada. Quando a lei confere legitimidade de agir ao Ministrio Pblico, presume-lhe o interes-se de agir: no caso, o interesse est na prpria norma que chama o Ministrio Pblico ao processo (Francesco Carnelutti, Mettere il Pubblico Ministero ao suo posto, Rivista di Diritto Processuale, Pdua, CEDAM, 1953, p. 258; Salvatore Satta, Direito Processual Civil, v. I, n. 45). A defesa dos interesses difusos e coletivos, em geral, por parte do Ministrio Pblico, feita especialmente a partir da Lei da Ao Civil Pblica (Lei n. 7.347/85), que de aplicao subsidiria para outras normas de proteo a interesses difusos e coletivos (Leis ns. 7.853/89, 7.913/89, 8.069/90, 8.078/90). Tendo o art. 110 do Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) superado o veto originrio que tinha sido imposto ao inc. IV do art. 1 da Lei n. 7.347/85, alcana-se agora a integral defesa do meio ambien-te, do consumidor, do patrimnio cultural, bem como de qualquer outro interesse cole-tivo ou difuso. Admite-se, pois, a proteo da criana e do adolescente, seja como destinatrios de um meio ambiente sadio e equilibrado, seja ainda, agora como obreiros, enquanto destinat-rios de adequadas condies ambientais do trabalho, seja, enfim, como consumidores efetivos ou potenciais. Tomemos alguns exemplos. Se, numa comunidade, apenas um adolescente no foi aten-dido num hospital ou no obteve vaga num estabelecimento de ensino, podemos falar em seu interesse individual, posto indisponvel. J o interesse pode ser individual ho-mogneo, quando de vrios menores tratados inadequadamente com uma vacina com prazo vencido de validade, ou pode ser coletivo (em sentido estrito) quando de uma ao trabalhista coletiva contra o mesmo patro, exigindo a observncia coletiva de um direito de todos. Nestes dois ltimos casos, em sentido lato, trata-se de interesses coleti-vos. Mas o interesse s ser verdadeiramente difuso se impossvel identificar as pessoas ligadas pelo mesmo lao ftico ou jurdico, decorrente da relao de consumo (como as crianas destinatrias de propaganda enganosa ou inadequada, veiculada pela televiso, cf. arts. 220, 3, e 221, da CF). A defesa de interesses de um grupo determinado ou determinvel de pessoas pode con-vir coletividade como um todo, como quando a questo diga respeito sade ou segurana das pessoas, ou quando haja extraordinria disperso de interessados, a tornar necessria ou pelo menos conveniente sua substituio processual pelo rgo do Minis-trio Pblico, ou quando convenha coletividade o zelo pelo funcionamento correto, como um todo, de um sistema econmico, social ou jurdico (nesse sentido, a Smula n. 7, do Conselho Superior do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo). Tratando-se, porm, de interesses indisponveis de crianas ou adolescentes, de interesses coletivos ou difusos sua defesa interessar sempre coletividade como um todo. Diz o Estatuto caber a iniciativa do Ministrio Pblico para ao civil pblica, na rea da infncia e da juventude, ainda que para defesa de interesses individuais (art. 201, V, e Livro II, Ttulo VI, Captulo VII). Em nosso entendimento, temos a que considerar a defesa individual da criana e do adolescente, por meio de ao civil pblica, apenas enquanto se trate de direitos indisponveis, cuja defesa convenha coletividade como um todo, nica forma de conciliar a exigncia do Estatuto com a destinao constitucio-nal do Ministrio Pblico (art. 127 caput da CF). Assim, as providncias do Ministrio Pblico so exigveis, at mesmo com o ingresso de ao civil pblica, para assegurar vaga em escola, tanto para uma nica criana, como para dezenas, centenas ou milhares delas; tanto para se dar escolarizao ou profissionalizao a um, como a diversos ado-lescentes privados de liberdade.Aes cveis para cobranas de crditos que favoream incapazes, devem, normalmente, ser propostas pelos seus representantes legais. Havendo falha ou omisso destes, o Mi-nistrio Pblico poder e dever tomar qualquer providncia judicial que lhe parea reclamada pela segurana dos haveres do menor (art. 1.637, do Cdigo Civil de 2002), inclusive promovendo, se for o caso, a responsabilizao de quem de direito pela omis-so prejudicial ao incapaz. b) a defesa de interesses difusos e coletivos na rea de proteo infncia e juventude Como vimos, o Ministrio Pblico est naturalmente legitimado defesa dos direitos e interesses relacionados com a infncia e a juventude. A anlise do ECA, como um todo, refora o entendimento desta concluso, seja quando cuida dos seus direitos fundamen-tais (arts. 7 e s.: direito vida e sade; liberdade, ao respeito e dignidade; convi-vncia familiar e comunitria; educao, ao esporte e ao lazer; profissionalizao e proteo no trabalho), seja quando cuida dos seus direitos individuais (art. 106 e s.). c) hipteses de aes civis pblicas A atuao do Ministrio Pblico, na rea de proteo da criana e da juventude, pode dar-se pela propositura de inmeras aes civis pblicas. Inicialmente, no se pode afastar a possibilidade de ajuizamento de representaes in-terventivas ou de aes diretas de inconstitucionalidade de norma federal, estadual ou municipal (at mesmo por omisso) ou de ajuizamento de mandado de injuno, quando a falta de norma regulamentar torne invivel o exerccio de direitos e liberdades consti-tucionais. Tambm deve ser lembrado o importante papel fiscal exercido pelo Ministrio Pblico quanto aos gastos pblicos, s campanhas, aos subsdios e investimentos estatais ligados rea da infncia e da juventude. Igualmente, devem ser consideradas as aes civis pblicas destinadas a proteger a cri-ana e o adolescente enquanto destinatrios de propaganda ou na qualidade de consumi-dores (v. arts. 77-82 do Estatuto, combinados com os dispositivos da Lei da Ao Civil Pblica e do Cdigo de Defesa do Consumidor). Pelo Estatuto, regem-se pelas disposies da Lei n. 8.069/90 as aes de responsabili-dade por ofensa aos direitos assegurados criana e ao adolescente, referentes ao no-oferecimento ou oferta irregular: do ensino obrigatrio; de atendimento educacional especializado aos portadores de deficincia; de atendimento em creche e pr-escola; de ensino noturno; de programas suplementares de oferta de material didtico-escolar, transporte e assistncia sade; de servio de assistncia social; de acesso s aes e servios de sade; de escolarizao e profissionalizao dos adolescentes privados de liberdade (cf. art. 208). Como exemplos concretos, podem ser mencionadas as seguintes aes civis pblicas: a) contra a Fazenda Pblica e os empregadores em geral, para assegurar condies de alei-tamento materno (art. 9); b) contra a Fazenda Pblica para assegurar condies de sa-de e de educao (arts. 11 e 2, e 54, 1 ); c) contra hospitais, para que cumpram disposies do Estatuto (art. 10); d) contra empresas de comunicao (arts. 76 e 147, 3; arts. 220, 3, e 221 da CF); e) contra editoras (arts. 78-79 e 257); f) contra entida-des de atendimento (arts. 97, pargrafo nico; 148, V; 191); g) contra os prprios pais ou responsveis (arts. 129, 155, 156); h) de execuo das multas (art. 214, 1). Reiterem-se, enfim, duas questes fundamentais, assim interpretadas num contexto que concorre para melhor proteo da criana e do adolescente. De um lado, a enumerao de aes civis pblicas de iniciativa ministerial meramente exemplificativa, haja vista a norma residual ou de extenso contida no s no art. 201, VI, do ECA, como no art. 129, III, da CF, e no art. 1, IV, da Lei n. 7.347/85, com a redao que lhe deu a Lei n. 8.078/90. De outro, nessa rea, no nem poderia ser exclusiva a legitimidade ativa do Ministrio Pblico (arts. 201, 1, e 210 do Estatuto; art. 129, 1, da CF): em matria cvel, sua iniciativa no exclui a de terceiros, na forma da lei. d) o inqurito civil Criao da Lei n. 7.347/85, o inqurito civil, depois de acolhido pela prpria Constitui-o da Repblica (art. 129, III), foi tambm previsto no ECA (art. 201, V, e 223). No o inqurito civil como procedimento contraditrio; ressalte-se nele, antes, sua informalidade, pois destina-se to-somente a carrear elementos de convico para que o rgo do Ministrio Pblico, sob sua prpria presidncia, colha elementos de convico que lhe permitam identificar ou no a hiptese propiciadora do ajuizamento da ao civil pblica. Embora extremamente til, no o inqurito civil pressuposto necessrio propositura da ao. Em havendo elementos necessrios, a ao principal ou a cautelar podem ser propostas mesmo sem ele. No se aplicar sigilo sobre o inqurito civil, a no ser que necessrio para as investiga-es, ou se nele estiverem contidas informaes sobre as quais, por fora de lei, j re-caia o carter de sigilo, o que obrigar a que o Ministrio Pblico preserve a informa-o, nos termos do art. 201, 4. Ao contrrio do que ocorre atualmente com o inqurito policial, no inqurito civil, o Ministrio Pblico no requer ao Judicirio seu arquivamento, e sim o promove direta-mente, embora sob o controle do Conselho Superior da instituio (art. 223, 4). No o rgo do Ministrio Pblico obrigado a instaurar um inqurito civil ou a propor uma ao civil pblica, a no ser que identifique a hiptese propiciadora de sua inter-veno. Se tem liberdade para apreciar se ocorre ou no a hiptese propiciadora de sua interveno, agir lhe passa a ser um dever, quando identifique a existncia da hiptese em que a lei lhe imponha a atuao. (9). Procedimentos administrativos No em decorrncia apenas do Estatuto (art. 201, VI), mas da prpria Constituio da Repblica, tem o Ministrio Pblico o importante instrumento da instaurao de proce-dimentos administrativos. Entre estes, sem dvida, assume especial relevo o prprio inqurito civil, de que vimos cuidando; mas, na forma da lei local de organizao de cada Ministrio Pblico, outros procedimentos tambm podem ser instaurados, como a sindicncia (art. 201, VII) ou mesmo procedimentos informais, preliminares, para ense-jar ou no a prpria instaurao de um regular inqurito civil. (10). Notificaes e requisies As notificaes e requisies no so tecnicamente funes, mas antes instrumentos para consecuo das finalidades ministeriais, vindo previstas em diversos dispositivos legais (CF, 129, VI e VIII; CPP, arts. 5, 47; LC 40/81, art. 15, I e IV; art. 6, da LACP Lei n. 7.347/85; ECA art. 201, VI, b, c e 4). Em inmeras dessas hipteses, destinatrio da requisio pode ser at mesmo o particular (art. 201, VI, c, do ECA). Em havendo sigilo legal sobre a matria, incumbe ao rgo do Ministrio Pblico resguar-dar o sigilo, o que no lhe obsta o acesso informao sigilosa (art. 201, 4 do ECA). Em matria de interesses coletivos ou difusos, o no-atendimento requisio pode configurar o crime art. 10 da Lei n. 7.347/85, ou, conforme o caso, o delito do art. 236 do ECA. No se tipificando essas infraes, e se a recusa de atendimento requisio tiver partido de funcionrio pblico, poderemos ter configurado um crime de prevarica-o. J o delito de desobedincia residual, e ser praticado por particular. As notificaes ou requisies podem ter como objeto qualquer apurao relacionada com uma das reas de atuao funcional do Ministrio Pblico (na esfera criminal ou cvel); para fins do delito do art. 236 do ECA, o objeto da ao ministerial ter de ser, exclusivamente, alguma atuao no zelo de interesses individuais, coletivos ou difusos relacionados com a proteo da infncia ou da juventude. As notificaes e requisies no se limitam matria cvel, podendo visar apurao de fatos delituosos (CF, art. 129, VI e VIII). Sendo o Ministrio Pblico o titular da ao penal pblica, bem sendo encarregado de promover a representao em face de infrao praticada por adolescente seria contra-senso negar-lhe a investigao direta dessas infraes, quando isto se faa necessrio, at mesmo nos casos em que a polcia tenha dificuldades, falta de adequao ou at mesmo desinteresse na apurao dos fatos. Agindo dentro de suas atribuies, ter o rgo do Ministrio Pblico o instrumento da requisio, podendo dirigir-se a particulares, instituies privadas ou a autoridades fede-rais, estaduais ou municipais. Poder requisitar informaes e documentos, ou, quando seja uma autoridade o destinatrio da requisio, at mesmo a realizao de percias e exames, junto administrao direta ou indireta. As autoridades civis ou militares devem prestar condies materiais para assegurar a eficcia de suas requisies (art. 201, VI, a, do ECA), sob pena de responsabilizao administrativa ou penal. certo, porm, que no exerccio de todas essas atividades, no raro pode tornar-se o Ministrio Pblico autoridade coatora, respondendo pela legalidade da requisio ou pela manuteno do sigilo legal que incida sobre a informao ou sobre o documento obtido. Outrossim, dever responder pela legalidade da conduo coercitiva, que even-tualmente determine (art. 201, VI, a, do ECA), o que poder ensejar a impetrao de habeas-corpus contra sua determinao, ao esta de competncia originria do Tribu-nal de Justia (v.g., art. 74, IV, da Constituio Paulista, norma esta de competncia consentnea com o art. 125, 1, da CF). (11). Sindicncias e requisio de inqurito policial O rgo do Ministrio Pblico pode instaurar sindicncias para apurar diretamente ilci-tos ou infraes s normas de proteo infncia e juventude; poder, ainda, requisitar diligncias investigatrias da autoridade policial, bem como a instaurao de inqurito policial, para apurar a materialidade ou a autoria de infrao penal relacionada com os interesses e direitos de que cuida o ECA (cf. art. 201, VII). Ao requisitar o inqurito policial, o Ministrio Pblico emite determinao de cumpri-mento obrigatrio, por parte da autoridade policial. A no-instaurao do inqurito pela autoridade policial s ser possvel, sem a prtica de crime de prevaricao, caso a auto-ridade judicial competente casse essa ordem, por meio da concesso de habeas-corpus. Por isso, deve o prprio rgo do Ministrio Pblico responder pela legalidade da requi-sio que formulou (cabe-lhe assumir a condio de autoridade coatora, em eventual habeas-corpus visando ao trancamento do inqurito requisitado). (12). Zelo pelos direitos e garantias das crianas e dos adolescentes Diz o inc. VIII do art. 201 do Estatuto que dever do Ministrio Pblico zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados s crianas e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabveis. Trata-se de desdobramento do art. 129, II, da Constituio da Repblica. Com efeito, o papel do Ministrio Pblico, nesses casos, de verdadeiro ombudsman. No exerccio dessa funo, pode e deve o rgo ministerial receber peties, reclamaes ou repre-sentaes das pessoas e entidades interessadas; investigar as denncias recebidas at mesmo pela imprensa; visitar estabelecimentos de toda a natureza, onde estejam ou pos-sam estar crianas e adolescentes; atentar para as propagandas de produtos nocivos sua sade ou sua segurana; exigir das autoridades pblicas no s uma adequada po-ltica educacional e de sade, como investimentos adequados, fiscalizando sua aplica-o; fiscalizar os gastos pblicos com campanhas, construo de escolas e estabeleci-mentos prprios; denunciar na imprensa as irregularidades noticiadas; promover em juzo a responsabilidade dos particulares, das autoridades ou das pessoas jurdicas que, por ao ou omisso, causem dano a qualquer interesse defendido no Estatuto ou em qualquer norma de proteo infncia e juventude. Dispe o 5 do art. 201 que, para o exerccio de tais atribuies, poder o Ministrio Pblico efetuar recomendaes visando melhoria dos servios pblicos e de relevn-cia pblica afetos criana e ao adolescente, fixando prazo razovel para sua perfeita adequao. Contudo, mais do que efetuar meras e incuas recomendaes, dever pro-mover em juzo as aes civis pblicas, para assegurar o cumprimento dos dispositivos legais acaso violados, exigindo o cumprimento de obrigaes de fazer ou no fazer, ou cobrando as responsabilidades civis que eventualmente decorram dos atos lesivos de-nunciados, ou, enfim, promovendo as aes penais pblicas pela prtica de crimes con-tra as crianas e adolescentes. O atendimento ao pblico, pelo rgo do Ministrio Pblico, que por si s j de im-portncia fundamental para o correto exerccio das funes cometidas instituio, nes-sa tarefa de ombudsman ainda mais importante, especialmente quando se trate do acesso da prpria criana ou do prprio adolescente ao Ministrio Pblico (art. 141 do ECA). especialmente por meio dessa funo que os membros do Ministrio Pblico podem tornar-se realmente teis comunidade, permitindo assegurar-se a validade da presena social da instituio. Pelo atendimento ao pblico, o Promotor de Justia toma conheci-mento de muitos crimes que no so levados Polcia, ou que, se levados, no so ade-quadamente apurados; por ele, tomam-se muitas iniciativas necessrias, na rea cvel ou penal, ou at mesmo relevantes providncias administrativas e extrajudiciais; por ele, toma-se, enfim, o prprio pulso da comunidade. Temos aqui mais que um ombudsman, pois no se limita o Promotor a apenas ouvir os interessados; tem ele em mos instrumentos poderosos como a requisio do inqurito policial; a promoo da ao penal pblica; a instaurao do inqurito civil; a promoo da ao civil pblica; a expedio de requisies e notificaes; a conduo coercitiva. (13). Mandado de segurana, de injuno e habeas-corpus Sob a disciplina do Estatuto (art. 201, IX) e das normas em geral que regem a concesso do mandado de segurana (CF, art. 5, LXIX, e legislao ordinria respectiva), a impe-trao desta medida por parte do Ministrio Pblico justifica-se basicamente por um dos seguintes fundamentos: a) defesa de um direito individual indisponvel de criana ou adolescente; b) defesa de direitos individuais homogneos ligados a crianas ou a ado-lescentes; c) defesa de direitos ou interesses coletivos assegurados criana ou ao ado-lescente; d) defesa de uma prerrogativa do prprio Ministrio Pblico. Os casos mais comuns de impetrao de mandado de segurana por membros do Minis-trio Pblico tm sido para buscar efeito suspensivo em recursos ou para atacar atos de autoridade que cerceiam direitos e prerrogativas da funo.Mesmo quando impetre mandado de segurana para defesa de interesses sociais indis-ponveis, afetos criana ou ao adolescente, no estar o Ministrio Pblico ajuizando mandado de segurana coletivo. Este s ajuizado por partido poltico com representa-o no Congresso Nacional, ou por organizao sindical, entidade de classe ou associa-o legalmente constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados (art. 5, inc. LXX, da CF). A doutrina e a jurisprudncia, cristalizadas desde antes da Constituio de 1988, no vm admitindo a impetrao da ordem contra ato normativo em tese (Sm. 266 do STF); tem-se admitido, porm, a impetrao de mandado de segurana para atacar efei-tos concretos da lei. Com a atual ordem constitucional, que definiu os direitos e deveres individuais e coletivos, e especialmente vista do ECA, que instituiu o mandado de segurana para a defesa dos interesses sociais e individuais indisponveis afetos cri-ana e ao adolescente, parece-nos admissvel a impetrao de mandado de segurana para defesa de interesses sociais afetos criana contra atos normativos que configurem leso concreta a interesses individuais ou coletivos de crianas e adolescentes. Como exemplo, teramos as portarias expedidas por autoridades administrativas ou judiciais (art. 149 do ECA), que disciplinem matrias relativas proteo da infncia e da juven-tude, ocasio em que podem violar direitos coletivos lquidos e certos, no amparados por habeas-corpus nem habeas-data. possvel admitir sua impugnao por meio do mandado de segurana, desde que o ato ilegal provenha de autoridade pblica ou de agente de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico. Quanto ao mandado de injuno (art. 201, IX, do ECA, e art. 5, LXXI, da CF), sua utilidade ficou inteiramente desmerecida, vista da excessivamente tmido posiciona-mento do Supremo Tribunal Federal, que se contentou em afirmar que, ao dar pela pro-cedncia da injuno, apenas cientificaria o Poder Legislativo de sua omisso, para que adote as providncias necessrias (STF-MI 107-3, questo de ordem DF, Tribunal Pleno, rel. Min. Moreira Alves, DJU 21-09-90, pub. Revista Jurdica, 160/98). Ora, a causa de pedir da injuno era justamente a omisso j pr-existente...No habeas-corpus (art. 201, IX, do ECA, e art. 5, LXVI, da CF), pode o Ministrio Pblico assumir a posio de impetrante; no por meio de seu representante, agindo como qualquer do povo, mas sim enquanto rgo diretamente legitimado a tanto. Ainda quando a questo era controvertida, j de muito impetrvamos o remdio herico, como Promotor de Justia em So Paulo, mesmo junto aos tribunais ( de nossa autoria a im-petrao que motivou a acirrada polmica no julgamento contido em RT 544/352 e o comentrio de doutrina em RT 552/284, ou a que motivou o acrdo publicado em RT 508/319). Entretanto, a impetrao de habeas-corpus junto aos tribunais, por Promoto-res de Justia, no significa que possam estes sempre os acompanhar, tomar cincia do acrdo ou exercer diretamente funo afeta aos Procuradores de Justia. Para tanto, mister consultar a respectiva lei orgnica, para aferir a discriminao de atribuies dos rgos locais. No habeas-corpus, pode, ainda o rgo do Ministrio Pblico ser autoridade coatora. Dever ter no s a oportunidade, como o dever de responder pela legalidade da requi-sio do inqurito policial ou da requisio da conduo coercitiva que tenha determi-nado. Por ltimo, se no for impetrante nem impetrado, ser o rgo do Ministrio Pblico interveniente nos demais pedidos de habeas-corpus. Embora o inc. IX do art. 201 do ECA mencione que o Ministrio Pblico poder ajuizar os j discutidos remdios constitucionais em qualquer juzo, instncia ou tribunal, necessrio anotar que cada rgo do Ministrio Pblico atuar necessariamente limitado por suas atribuies, na forma da respectiva lei de organizao da instituio. (14). Representao para aplicao de penalidades Alm da representao ministerial destinada a apurar ato infracional atribudo a adoles-cente, para a aplicao de medida scio-educativa arts. 180, III, e 148, I, do ECA), ainda cuida o Estatuto das representaes de iniciativa do Ministrio Pblico (art. 201, X), que visem aplicao de penalidade por infraes cometidas contra as normas de proteo infncia e da juventude (arts. 245 e s.). Trata-se de procedimentos contraditrios, que admitem a execuo forada, e que de-vem correr perante a prpria Justia da Infncia e da Juventude (art. 148, V e VI, do ECA).A responsabilizao administrativa, em decorrncia de infrao a normas de proteo infncia e juventude, no exclui o dever do Ministrio Pblico de promover a respon-sabilidade civil e penal do infrator, quando cabvel; essas aes sero ajuizadas pelos rgos ministeriais com atribuies adequadas para isto, na forma da lei local do Minis-trio Pblico, perante juzes cveis ou criminais competentes para seu processo e julga-mento. (15). Realizao de inspees tpica atividade do art. 129, II, da CF, a de inspecionar entidades pblicas e particula-res de atendimento a crianas e adolescentes, bem como inspecionar os programas de que trata o Estatuto, com a possibilidade de adotar de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessrias remoo de irregularidades porventura verificadas (cf. arts. 90-7, e 191 e ss., e art. 201, XI do ECA). Mais do que o poderia fazer o ombudsman dos pases escandinavos, em nosso pas o rgo do Ministrio Pblico, alm de ter funes extrajudiciais, aqui entre ns deve promover em juzo as medidas para combate s irregularidades ou ilegalidades que en-contrar. Ter o rgo do Ministrio Pblico, investido nas funes da Promotoria da Infncia e da Juventude, o poder de ingressar livremente, ou com emprego de fora inclusive poli-cial, em qualquer local onde esteja ou possa estar criana ou adolescente (v. 3 do art. 201 do ECA). Dificuldades maiores de interpretao devem surgir quanto possibilidade de serem tomadas de pronto as medidas administrativas necessrias. Alm de expedir recomen-daes visando melhoria dos servios, bem como alm de fixar prazo razovel para a correo das irregularidades, no nos parece muito claro como possa ele ir alm, no plano meramente administrativo. Contudo, dependendo do porte das irregularidades ou ilegalidades, o rgo do Ministrio Pblico poder tomar providncias de carter penal ou cvel adequadas, no raro necessitando da propositura de medidas judiciais, inclusive cautelares, para a remoo das irregularidades. (16). Requisio de fora policial e da colaborao de outros servios Para o desempenho de suas atribuies, pode o Ministrio Pblico requisitar fora poli-cial, seja para fazer efetuar uma conduo coercitiva (art. 201, VI, a, do ECA), seja para ver garantido seu efetivo acesso a lugar onde se encontre criana ou adolescente (art. 201, 3, do ECA), seja, ainda, para promover diretamente inspees ou diligncias para fins investigatrios ou para meras visitas de rotina (arts. 95, 124, I, 134, 201, VI, b, XI e XII do ECA). Poder constituir crime, na forma tentada ou consumada, a ao de quem procure impe-dir ou embargar a ao do representante do Ministrio Pblico no exerccio das funes previstas no Estatuto (art. 236 do ECA). Cabe, ainda, ao rgo do Ministrio Pblico requisitar a colaborao dos servios mdi-cos, hospitalares, educacionais e de assistncia social, pblicos ou privados, para o de-sempenho de suas atribuies. Tratando-se de servios pblicos ou de relevncia pbli-ca, que devem respeito s prescries legais, poder o Ministrio Pblico determinar diretamente providncias para que as autoridades responsveis cumpram ou faam cumprir, exemplificativamente, as prescries dos arts. 10, 53-4, 63, 228-9, do ECA. luz desses dispositivos, pode, assim, o membro do Ministrio Pblico determinar a in-ternao e o tratamento hospitalar de uma criana, ou determinar sua matrcula em esta-belecimento de ensino. Agem os membros do Ministrio Pblico na qualidade de rgos do Estado, investidos no mnus especfico, e desde que o faam dentro das respectivas esferas de atribuies, os custos de ditas requisies so encargo do Estado. Evidentemente, respondem os rgos do Ministrio Pblico, quando procedam de forma irregular (com dolo ou fraude, ou, ainda, se no tiverem atribuies legais para a atua-o empreendida). (17). Legitimao concorrente da essncia da legitimao do Ministrio Pblico, no campo da ao civil pblica, que sua iniciativa no seja exclusiva, mas concorrente. Assim, enquanto detm o monoplio da ao penal pblica ( exceo da ao penal privada subsidiria, em caso de inrcia), sua legitimao para as aes civis pblicas no exclui a de terceiros, como, alis, o assegura a Constituio da Repblica (art. 129, 1).O dispositivo do 1 do art. 201 do ECA, que amplia o leque de legitimados ativos para as aes civis pblicas, explica-se porque, enquanto na ao penal o titular do ius puni-endi apenas o Estado soberano, na ao civil pblica defendem-se interesses individu-ais indisponveis, ou at mesmo interesses transindividuais (interesses individuais ho-mogneos, coletivos ou difusos), de que so titulares pessoas ou grupos sociais. As aes civis pblicas podem, pois, ser propostas pelo Ministrio Pblico, pelas pessoas jurdicas de direito pblico interno e pelas associaes civis dotadas de representativi-dade adequada (art. 210 do ECA). Assim, mesmo que o Ministrio Pblico, por deciso ratificada pelo seu Conselho Superior, resolva no propor uma ao civil pblica (art. 223, e seus pargrafos, do ECA), qualquer outro co-legitimado ativo poder ajuizar essa mesma ao que o Ministrio Pblico resolveu no propor (art. 210 do Estatuto). E, a par do rol do art. 210 do Estatuto, agora sob o aspecto individual, nenhum dos direta-mente lesados estar impedido de discutir, em sede prpria, os danos de que acaso se julgue sofredor. As aes cveis individuais ou coletivas, fundadas no ECA, podem ser propostas pelos respectivos legitimados ativos, que agiro, conforme o caso, sob as regras da legitima-o ordinria ou extraordinria.Embora esteja o Ministrio Pblico aparelhado para propor tais aes o que no raro faz com que outros co-legitimados a ele se dirijam no est ele obrigado a propor sempre e sempre a ao civil pblica. S o far quando identifique, sob seu livre e moti-vado entendimento, a ocorrncia de hiptese apta a ensejar a sua atuao. (18). Outras funes compatveis Tendo o Ministrio Pblico inmeras atribuies residuais, seja na rea de ombudsman (art. 129, II, da CF), seja na rea da promoo da ao civil pblica (art. 129, III, da CF, e Lei n. 7.347/85), resta claro que as atribuies constantes do art. 201 do Estatuto no constituem numerus clausus (art. 201, 2, do ECA). O nico limite para o exerccio das atribuies ministeriais, naturalmente, consiste em que devem elas ser compatveis com sua destinao institucional assim prevista no art. 127 caput da Constituio da Repblica.Desta forma, nem mesmo uma lei ordinria poder cometer ao Ministrio Pblico uma atribuio incompatvel a destinao que a ele votou a Lei Maior (como a representao da Fazenda, a consultoria de entidades pblicas, ou a defesa de interesses meramente privados ou disponveis, cf. art. 129, IX, da CF). (19). Livre acesso a locais natural que, para o correto exerccio de tantas atribuies de fiscalizao, que incluem visitas a hospitais, creches, estabelecimentos de ensino ou de assistncia social, estabe-lecimentos de internao, locais de recreao etc., poder e dever o rgo do Minist-rio Pblico ter livre acesso a todo local onde se encontre ou possa encontrar-se criana ou adolescente (art. 201, 3, do ECA). Para tanto, para assegurar a eficcia de sua atu-ao, poder fazer-se acompanhar de agentes policiais, at mesmo para que possa tomar de pronto as medidas reclamadas para a remoo de irregularidades porventura verifica-das. Sem dvida, devem ser observados os limites constitucionais para o ingresso em deter-minados locais, como em casa ou estabelecimentos a esta equiparados (art. 5, XI, da CF). (20). Acesso a informaes e a documentos sigilosos O 4 do art. 201 do Estatuto deixa claro que o Ministrio Pblico ter acesso a quais-quer tipos de documentos ou informaes, ainda que sobre eles paire sigilo legal; ape-nas, nesse caso, ser o rgo do Ministrio Pblico responsvel pelo eventual uso inde-vido do documento ou da informao obtida. O sigilo pode ser considerado sob dois ngulos: como obrigao ou como direito de mant-lo. Ora h um interesse pblico em mant-lo (questes de segurana da socieda-de ou do Estado), ora um interesse privado em sua conservao (o direito privacidade do indivduo). Contudo, casos h em que o prprio interesse pblico impe sua revela-o, e s vezes existe o prprio interesse do seu beneficirio em que seja ele revelado. Assim, excetuado os casos em que a prpria Constituio imponha que a quebra do sigi-lo dependa de deciso judicial (como ocorre no sigilo das comunicaes telefnicas, art. 5, XII), no mais, cabe legislao infraconstitucional disciplinar o alcance do sigilo. Assim, tanto sobre as informaes objetivamente consideradas sigilosas, como sobre aquelas cobertas por sigilo subjetivamente considerado, ter acesso o rgo do Minist-rio, quando do exerccio de suas funes na defesa de interesses ligados infncia e adolescncia. Assim, o sigilo mdico, o sigilo bancrio, do sigilo do cadastro eleitoral no lhe podem ser opostos como bice obteno de informaes por ele requisita-das, dentro da sua esfera de atribuies. Mas, nesse caso, se fizer uso indevido da requisio ou da informao sigilosa obtida, responder o rgo do Ministrio Pblico, seja disciplinar, seja civil, seja penalmente. (21). Instrumentos de atuao do ombudsman Na sua atuao no zelo pelo efetivo respeito dos poderes pblicos e dos servios de re-levncia pblica aos direitos e garantias legais assegurados s crianas e adolescentes (art. 129, II, da CF; art. 201, VIII, do ECA), poder o rgo do Ministrio Pblico (art. 201, 5, do ECA): a) reduzir a termo as declaraes de quem o procure com denncias que meream apurao; b) instaurar o procedimento adequado para apurao das de-nncias, seja o inqurito civil, seja uma sindicncia, seja um procedimento inominado; c) presidir o procedimento que instaurar, nele efetuando requisies, diligncias, per-cias, exames, visitas ou vistorias; d) entender-se diretamente com a pessoa ou autorida-de reclamada, dentro, naturalmente, da sua esfera de atribuies, assim definida na for-ma da Lei Orgnica de cada Ministrio Pblico (art. 200 do ECA); e) efetuar recomen-daes, visando melhoria dos servios examinados, fixando prazo razovel para sua adequao (findos os quais poder ajuizar eventual ao civil pblica tendo como objeto o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer, cf. art. 213 do ECA). **