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COORDENAÇÃO ROGÉRIO SANCHES CUNHA RICARDO DIDIER 4ª edição revista, ampliada e atualizada 2016 Coleção RE 9 I SAÇO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL Promotor de Justiça

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL...dispõe o art. 5º, CF, “todos são iguais perante a lei, sem dis-tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

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COORDENAÇÃO

ROGÉRIO SANCHES CUNHA

RICARDO DIDIER

4ª ediçãorevista, ampliada e atualizada

2016

Coleção

RE ISAÇO

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL

Promotor de Justiça

Direito Processual Civil

Maurício Ferreira Cunha

QUESTÕES

1. PRINCÍPIOS

(CEFET – Promotor de Justiça – BA/2015) Analise as seguintes proposições e responda.

I - O direito processual civil submete-se a princípios, destacando-se entre eles o livre convencimento motivado para garantia do cidadão.

II - O princípio da inércia não é incompatível com o princípio que determina o impulso oficial.

III - Não é possível recusar a prestação jurisdicional, sob qualquer fundamento, em virtude da garantia constitucional do direito subjetivo de ação.

a) Apenas uma proposição está correta.

b) Apenas duas proposições estão corretas.

c) Apenas as proposições I e II estão corretas.

d) Apenas a proposição III está correta.

e) Todas as proposições estão corretas.

Nota do autor: inicialmente, a alternativa “E” foi apontada como correta. Entretanto, em razão do desa-certo no item III, a Banca decidiu anular a questão.

Questão anulada.

Item I: correto. No processo civil vigora a regra do livre convencimento motivado ou fundamentado, o que significa dizer que não há hierarquia entre as diversas espécies de prova. O juiz pode formar sua convicção de forma livre, mas deve expor os motivos que o levaram a adotar essa ou aquela decisão (art. 131, CPC/73; art. 371, CPC/2015, não obstante a exclusão da palavra “livre-mente”). A necessidade de fundamentação decorre de disposição constitucional (art. 93, IX, CF/88) e, no Novo CPC, vem expressa nos artigos 11 e 489, dentre outros.

Item II: correto. O princípio da inércia da jurisdição, previsto no art. 2º do CPC/73, determina que “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer”. Portanto, a tutela jurisdi-

cional precisa ser provocada pela parte ou pelo inte-ressado. Contudo, uma vez iniciado o processo, esse se desenvolverá por impulso oficial, incumbindo ao juiz dar-lhe seguimento. Os princípios da inércia e do impulso oficial são, portanto, complementares e não contraditórios. O novo CPC abarca ambos os princípios num mesmo dispositivo, o art. 2º.

Item III: incorreto. O erro da alternativa está na expressão “sob qualquer fundamento”. Se, por exemplo, a parte propuser ação para concessão de benefício pre-videnciário sem o prévio esgotamento da via adminis-trativa, não será possível conceder a tutela jurisdicional (STF, RE nº. 631.240/MG, Rel. Min. Luiz Roberto Barroso, julgado em 03/09/2014).

(UFMT – Promotor de Justiça – MT/2014) Levando em conta a legislação processual civil brasileira, analise as afirmativas.

I. Genericamente, o princípio do devido processo legal caracteriza-se pelo trinômio vida-liberdade--propriedade, vale dizer, tem-se o direito de tutela àqueles bens da vida em seu sentido mais amplo e genérico.

II. O princípio da isonomia determina o tratamento igualitário das partes, significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na exata medida de suas desigualdades.

III. O princípio do juiz natural tem grande importân-cia na garantia do estado de direito, bem como na manutenção dos preceitos básicos de imparciali-dade do juiz na aplicação da atividade jurisdicional.

IV. O princípio do direito de ação determina que, além do direito ao processo justo, todos tenham o direito à tutela jurisdicional adequada. No entanto, abrange somente os direitos individuais levados ao conhecimento do judiciário, não tendo aplicação aos direitos coletivos.

Estão corretas as afirmativas

a) I, II e III, apenas.

b) I e II, apenas.

Maurício Ferreira Cunha28

c) I, III e IV, apenas.

d) II, III e IV, apenas.

e) II e IV, apenas.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “A”.

Nota do autor: os princípios ganharam um novo colorido com os estudos de Robert Alexy, Ronald Dworkin, Humberto Ávila, dentre outros, deixando de ser considerados meros meios de colmatação de lacu-nas para integrar o ordenamento jurídico como espé-cies de norma jurídica. Por outro lado, embora a Cons-tituição Federal tenha consagrado um rol de princípios processuais, todos, em maior ou menor escala, decor-rem do princípio do devido processo legal, o qual deve ser estudado por meio de suas acepções: formal e subs-tancial. Nesse sentido, Nelson Nery Junior1 ressalta que “bastaria a Constituição Federal de 1988 ter enunciado o princípio do devido processo legal, e o caput e os inci-sos do art. 5º, em sua grande maioria, seriam absoluta-mente despiciendos. De todo modo, a explicitação das garantias fundamentais derivadas do devido processo legal, como preceitos desdobrados nos incisos da CF 5º, é uma forma de enfatizar a importância dessas garan-tias, norteando a administração pública, o Legislativo e o Judiciário para que possam aplicar a cláusula sem maiores indagações”.

Item I: correto. Ensina Nelson Nery Jr. que “generi-camente, o princípio do due process of law caracteriza-se pelo trinômio vida-liberdade-propriedade, vale dizer, tem--se o direito de tutela àqueles bens da vida em seu sentido mais amplo e genérico. Tudo o que disser respeito à tutela da vida, liberdade ou propriedade está sob a proteção da due process of law.” 2

Item II: correto, tendo em vista que, diante do que dispõe o art. 5º, CF, “todos são iguais perante a lei, sem dis-tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…)”. A igualdade é princípio que impõe, a todos, tratamento igualitário perante a lei e sem qual-quer tipo de favorecimento ou privilégio (igualdade formal). Por outro lado, são vedadas quaisquer distin-ções relacionadas às etnias, sexo, cor etc. (igualdade material). Neste sentido, não obstante a proibição de qualquer relação de desigualdade perante a lei, autori-za-se a desigualdade na lei, como ocorre, dentre outras situações, com o tratamento diferenciado que se dá em relação às Fazendas Públicas e ao Ministério Público (art. 188, CPC) para fins de apresentação de contestação

1 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo na Consti-

tuição Federal: processo civil, penal e administrativo.

9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 85.

2 Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8ª Edi-ção. Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 63.

(quádruplo) e recorrer (dobro). ATENÇÃO: de acordo com o novo CPC, o Ministério Público, a Fazenda Pública e a Defensoria Pública gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações (arts. 180, 183 e 186, CPC/2015). Extingue-se, portanto, a previsão de prazo quádruplo para apresentação de contestação, que está previsto no art. 188 do CPC/73.

Item III: correto, pois o juiz natural é somente aquele integrado no Poder Judiciário, com todas as garantias constitucionais e pessoais previstas na Cons-tituição Federal (regularmente investido), verdadeira decorrência do devido processo legal. Não se pode olvi-dar, ainda, que não haverá juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, CF) e que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII, CF).

Item IV: incorreto, porque a lei não excluirá da apre-ciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, CF), o que envolve, logicamente, a proteção aos direitos individuais e aos direitos coletivos. Trata-se de princípio repetido no art. 3º, do CPC/2015.

(MPE – MS – Promotor de Justiça – MS/2013) Consi-dere as seguintes proposições:

I. O princípio processual da congruência ou adstrição está diretamente ligado ao princípio do contraditó-rio.

II. O princípio processual do duplo grau de jurisdi-ção não é previsto expressamente na Constituição Federal, sendo princípio implícito do texto consti-tucional e limitável por lei infraconstitucional.

III. A competência para as ações fundadas em direito real sobre bem imóvel é relativa e portanto, permite a aplicação do princípio da perpetuatio jurisdictio-nis.

IV. Em qualquer caso, pelo princípio da impugnação específica, o réu deve impugnar um a um os fatos narrados na petição inicial, sob pena de presumir – se a sua veracidade.

São corretas:

a) Somente as proposições I e II.

b) Somente as proposições III e IV.

c) Somente as proposições I, III e IV.

d) Somente as proposições I e IV.

e) Somente as proposições II e III.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão é multidisciplinar, abordando, os itens corretos, o princípio da congruên-cia (adstrição), e o princípio do duplo grau de jurisdição. Sobre o princípio do duplo grau de jurisdição, prevalece que se trata de uma garantia implícita na CF. Existe, todavia, controvérsia sobre qual a real fonte do princí-pio. Para uma corrente doutrinária, o princípio seria uma

Direito Processual Civil 29

decorrência da expressa previsão de alguns recursos de competência dos Tribunais, a exemplo dos recursos ordinário, especial e extraordinário; outros, contudo, defendem que o princípio decorre do devido processo legal. No âmbito internacional, a Convenção Americana de Direitos Humanos reconhece o direito ao duplo grau de jurisdição a todo acusado de um delito. Recen-temente, a questão voltou à tona com as discussões acerca do cabimento, ou não, dos embargos infringen-tes nas ações penais originárias no âmbito da Suprema Corte brasileira, prevalecendo o entendimento que pri-vilegia o princípio do duplo grau de jurisdição. Por outro lado, o princípio da congruência (adstrição) refere-se à necessária correlação entre pedido e sentença, evitan-do-se decisões citra, ultra ou extra petita:

Citra petita Ultra petita Extra petita

É a decisão que deixa de apreciar algum pedido for-mulado ou fun-damento de fato ou de direito ale-gado pela parte

É a decisão que concede mais do que o pedido, a exemplo da sentença que condena o réu ao pagamento de indenização por danos materiais em valor supe-rior ao pedido na exordial

É a decisão que concede coisa dis-tinta da pedida, a exemplo da deci-são que condena à entrega de uma coisa determi-nada, quando o autor requereu a condenação ao pagamento de certa quantia.

Obs.: tratando-se de error in procedendo, imprescindível a invalidação de toda a decisão, salvo em relação à sentença objetivamente complexa (teoria dos capítulos da sentença) quando o vício atingir apenas um ou alguns capítulos, sendo possível manter íntegros os demais

Alternativa correta: letra “A”.

Item I: correto. O princípio da congruência indica que a sentença deve resolver a lide à luz do que expres-samente pedido, nem mais nem menos (art. 460, CPC/73; art. 492, CPC/2015). Trata-se de princípio que concretiza, no plano prático, outro princípio, o do con-traditório, haja vista que não pode o juiz condenar o réu a cumprir prestação diversa daquela pleiteada pelo autor (assim, diz-se que a petição inicial é o espelho da sentença). A congruência também deve ser estudada sob o prisma subjetivo, não podendo a sentença alcan-çar situações jurídicas estranhas às partes componentes do litígio originariamente.

Item II: correto. Consiste o princípio do duplo grau de jurisdição na garantia assegurada ao jurisdicionado de impugnar as decisões judiciais pelas vias recursais adequadas, fazendo com que a questão seja reexami-nada por um outro órgão judicial. Embora prevaleça que se trata de princípio implícito na Constituição Fede-ral, há quem advogue que o princípio não está inserido no texto constitucional, nem mesmo em suas entreli-nhas. A propósito, o Min. Luis Fux, apreciando admis-sibilidade dos embargos infringentes em ação penal originária, no bojo da denominada Ação Penal 470/MG (“mensalão”), “[…] registrou que o STF já teria rejeitado o caráter constitucional dessa prerrogativa, ao afastar

sua incidência nos processos de competência originária dos tribunais superiores […]” (STF, AP 470 AgR – vigésimo quinto a vigésimo sétimo/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 11 e 12.9.2013, informativo 719).

Item III: incorreto. A competência para as ações fundadas em direito real sobre bens imóveis é deter-minada pela localização do imóvel (forum rei sitae), por força do art. 95, CPC. Trata-se de competência territo-

rial absoluta. Aliás, o STJ já entendeu que “[…] o foro competente para julgar a ação principal que se refere à hipoteca é derrogável pela vontade das partes, jus-tamente por não integrar o rol taxativo expresso na segunda parte do art. 95 do CPC. Para que a ação seja necessariamente ajuizada na comarca em que situado o bem imóvel, esta deve ser fundada em direito real (naqueles expressamente delineados pelo referido artigo), não sendo suficiente, para tanto, a mera reper-cussão indireta sobre tais direitos […]” (REsp 1.048.937, 3ª T., rel. Min. Massami Uyeda, j. 22.2.2011, informativo 464).

Item IV: incorreto. A impugnação específica é ônus que recai sobre o réu, de modo que lhe incumbe rebater pontualmente todos os fatos articulados pelo autor em sua petição inicial, sob pena de confissão. No entanto, a regra não é absoluta, comportando exceções, a

exemplo da autorização de contestação por nega-

tiva geral ao réu representado por advogado dativo

(art. 302, § único, CPC).

(MPE/PR – Promotor de Justiça – PR/2011) Acerca dos princípios do processo civil, assinale a alternativa incor-reta:

a) o princípio dispositivo impede a propositura de demandas de ofício pelo juiz;

b) o autor sempre se manifestará sobre a contestação apresentada pelo réu em respeito ao princípio do contraditório;

c) as prerrogativas da Fazenda Pública em juízo são ainda constitucionais e compatíveis com o princípio da isonomia de tratamento entre as partes;

d) a Constituição Federal de 1998 não consagra o prin-cípio do duplo grau de jurisdição em sua acepção clássica;

e) há exceção ao princípio geral da inafastabilidade da jurisdição.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: questão que exigiu certa cautela, pois o examinador conjugou princípios internos do Pro-cesso Civil com princípios do Processo Civil inseridos no texto constitucional, sem contar que exigiu, ainda, fosse assinalada a alternativa incorreta. Aliás, os princípios ganharam um novo colorido com os estudos de Robert. Alexy, Ronald Dworkin, Humberto Ávila, dentre outros, deixando de ser considerados meros meios de colma-tação de lacunas para integrar o ordenamento jurí-dico como espécies de norma jurídica. Por outro lado,

Maurício Ferreira Cunha30

embora a Constituição Federal tenha consagrado um rol de princípios processuais, todos, em maior ou menor escala, decorrem do princípio do devido processo legal, o qual deve ser estudado por meio de suas acepções: formal e substancial. Nesse sentido, Nelson Nery Junior ressalta que “bastaria a Constituição Federal de 1988 ter enunciado o princípio do devido processo legal, e o caput e os incisos do art. 5º, em sua grande maioria, seriam absolutamente despiciendos. De todo modo, a explicitação das garantias fundamentais derivadas do devido processo legal, como preceitos desdobrados nos incisos da CF 5º, é uma forma de enfatizar a importância dessas garantias, norteando a administração pública, o Legislativo e o Judiciário para que possam aplicar a cláu-sula sem maiores indagações”3.

Questão anulada.

Alternativa “A”: correta. O enunciado contém a

regra acerca do princípio da inércia ou dispositivo. É importante que o candidato tenha em mente que o princípio não é absoluto, haja vista que existem proce-dimentos que admitem seu início por iniciativa do juiz, como no clássico exemplo do inventário e partilha (art. 989, CPC), que não é repetido no novo CPC.

Alternativa “B”: incorreta. Embora na praxe forense esta conduta tenha se banalizado, o autor

somente se manifestará em réplica caso o réu ale-

gue em sua defesa fato impeditivo, modificativo ou

extintivo do direito do autor, nos termos do art. 326, CPC.

Alternativa “C”: correta. Embora exista posiciona-mento em sentido contrário, ainda prevalece a ideia de que as prerrogativas da Fazenda Pública foram recep-cionadas pela Constituição e não ofendem o princípio da igualdade ou isonomia.

Alternativa “D”: correta. A Constituição Fede-

ral não consagrou expressamente o princípio do

duplo grau de jurisdição. A doutrina considera que é uma garantia implícita, decorrente do devido processo legal e da forma escalonada com que foram previstos os órgãos da Justiça. Atenção: o duplo grau de jurisdição foi assegurado no Pacto de San José da Costa Rica, mas limitado à esfera penal.

Alternativa “E”: correta. De fato, existem atos que estão excluídos do controle jurisdicional, como os atos políticos, os atos administrativos discricionários, bem como as hipóteses em que se exige o exaurimento da instância administrativa, a exemplo do art. 217, § 1º, da Constituição Federal (questões desportivas) e da Súmula 2, STJ (impetração do habeas data). No entanto, não se trata de afastamento peremptório, podendo o Judiciário interferir circunstanciadamente nestes atos, a exemplo da possibilidade de controle de legalidade do ato discricionário.

3 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo na Consti-

tuição Federal: processo civil, penal e administrativo.

9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 85.

2. JURISDIÇÃO

(MPE – MS – Promotor de Justiça – MS/2011) Assinale a alternativa correta.

a) No litisconsórcio multitudinário, a limitação do número de litigantes, que só incide no facultativo, dependerá, de pedido do réu, quando ocorrer difi-culdade da defesa;

b) No sistema brasileiro de jurisdição uma, não há con-flito de atribuições entre entidade administrativa e autoridade judiciária, quanto estiver esta no exercí-cio pleno de sua função jurisdicional;

c) O ajuizamento da incidental enseja uma nova autu-ação. Tanto é verdade que, primeiramente, o juiz resolverá a questão prejudicial por intermédio de uma sentença; e, em outra decidirá a questão prin-cipal;

d) O juízo do domicílio do menor não é competente para apreciar ação de guarda proposta por um dos pais contra o outro. A regra de competência defi-nida pela necessidade de proteger o interesse da criança não é absoluta;

e) O pedido será alternativo quando o autor cumu-lar, sucessivamente, o pedido principal com outro sucessivo.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão trata de temas varia-dos, enfrentando a alternativa correta o sistema de juris-dição una adotado pelo Direito brasileiro. A propósito, é importante distinguir:

Sistema uno ou

anglo-saxão

Sistema francês

ou dualista

Todos os litígios, de origem administrativa ou privada, são resolvidos pelo Poder Judiciário, a quem cabe o julgamento em caráter defi-nitivo.

Os litígios administrativos são resolvidos, definitiva-mente, por um Tribunal Administrativo, ao passo que as lides privadas são resolvidas, definitivamente, pelo Poder Judiciário.

Este sistema teve origem na Inglaterra, como uma forma de reação do povo contra os privilégios e desmandos da Corte Inglesa, que tinha poderes de administrar e julgar.

Fruto de uma interpreta-ção diferenciada da teoria de Montesquieu, a França adotou uma divisão total dos poderes, em que não havia monopólio da função jurisdicional pelo Poder Judiciário. Isso decorre de uma histórica desconfiança da burguesia em relação ao Poder Judiciário, exercido pela nobreza.

Limites: o Poder Judiciário só pode apreciar a legalidade e a legitimidade dos atos administrativos.

Direito Processual Civil 31

Alternativa correta: letra “B”.

Alternativa “A”: incorreta, pois o magistrado pode limitar, inclusive de ofício, o número de litisconsortes facultativos quando comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa, de acordo com a regra do art. 46, § único, CPC (regra repetida no art. 113, §§ 1º e 2º, CPC/2015). Cuida-se do denominado litisconsórcio multitudinário, que nada mais do que um litisconsórcio facultativo com excessivo número de litisconsortes, o que pode prejudicar a celeridade processual ou a defesa do réu, justificando a sua limitação pelo juiz.

Alternativa “B”: correta. O Brasil adota o sistema uno de jurisdição (inglês ou anglo-saxão), no qual ine-xiste contencioso administrativo, de modo que não há possibilidade de conflito de atribuições entre a autori-dade administrativa e a judiciária.

Alternativa “C”: incorreta, uma vez que a ação declaratória incidental não enseja nova autuação, podendo ser proposta por autor ou réu:

Autor Réu

Formulará o pedido de declaração incidental na própria petição inicial.

Formulará o seu pedido de declaração incidente na contestação, mas antes deverá controverter a ques-tão principal.

Obs.: a declaração incidental postulada pelo réu é equiva-lente a uma reconvenção, razão pela qual o CPC somente faz menção à proposta pelo autor.

Ademais, proposta a ação declaratória incidental, não haverá a suspensão do processo, tendo em vista que a ação principal e a declaratória incidental trami-tarão paralelamente e serão julgadas pela mesma

sentença.

Alternativa “D”: incorreta, porque a jurisprudência consolidou-se no sentido de que a ação de guarda pode ser proposta no juízo do domicílio de quem já exerce a guarda (STJ, AgRg no CC 94.250/MG, rel. Min. Aldir Passari-nho Junior, j. 11.6.2008, informativo 359). Trata-se de com-

petência absoluta, mas o STJ alerta que o referido cri-tério deve ser interpretado à luz do princípio do melhor interesse da criança, já tendo inclusive admitido aquele Sodalício que “[…] o art. 87 do CPC, que estabelece o princípio da perpetuatio jurisdictionis, deve ser afastado para que a solução do litígio seja mais ágil, segura e efi-caz em relação à criança, permitindo a modificação da competência no curso do processo, mas sempre consi-derando as peculiaridades do caso”. (Segunda Seção, CC 111.130/SC, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 8.9.2010)

Alternativa “E”: incorreta, haja vista que alterna-

tivo é o pedido quando, pela natureza da obrigação,

o devedor pode cumpri-la de mais de um modo, de acordo com o art. 288, CPC/73 (art. 325, CPC/2015). Não se confunde com a cumulação alternativa de pedidos:

Cumulação alternativa de

pedidosPedido alternativo

O autor formula mais de um pedido para que o juiz acolha qualquer deles, sem estabelecer ordem de pre-ferência.

O autor formula pedido no sentido de que o devedor, em razão da natureza da obrigação, cumpra a pres-tação de mais de um modo.

Ex.: rescisão contratual ou indenização.

Ex.: pagamento de quantia ou entrega de parte da produção.

(FMP – MP – AC/2008) Assinale a alternativa correta:

a) Tutela jurisdicional é sinônimo de tutela jurisdicio-nal do direito.

b) As formas de tutela jurisdicional têm por matéria--prima o direito material, mas com ele não se con-fundem, uma vez que são influenciadas ainda pelas normas principais da segurança e da efetividade.

c) A tutela inibitória é uma espécie de tutela preven-tiva do dano.

d) A tutela jurisdicional declaratória é oriunda do exer-cício de direito potestativo.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: as reformas processuais imple-mentadas a partir do ano de 1994 e intensificadas nos anos de 2005 e 2006 primaram por uma reformulação da tutela jurisdicional, deixando de ser a jurisdição con-cebida como a atividade de dizer o direito para abran-ger também a efetivação do direito, em um movimento conhecido como sincretismo processual. A questão em comento abordou exatamente esta nova sistemática, exigindo conhecimentos teóricos do candidato.

Alternativa correta: letra “B”

Alternativa “A”: incorreta. Antes da reforma do CPC/73 pela Lei 11.232/05, tutela jurisdicional e sentença eram sinônimos, segundo a anterior redação do art. 463, CPC/73. Atualmente, o mencionado dispositivo legal

consagra a ideia de que tutela jurisdicional é mais

que declarar e reconhecer direitos, sendo necessá-

rio torná-los concretos ou, quando não for possível, proporcionar condições satisfatórias para tanto.

Alternativa “B”: correta. A redação da questão traduz, de forma clara, que tutela jurisdicional e direito material se relacionam, mas não se confundem, a partir do momento em que princípios maiores se sobrepõem, a saber, a segurança e a efetividade.

Alternativa “C”: incorreta. A tutela inibitória tem assento no art. 461, CPC/73, e no art. 84, CDC, tendo como objetivo impedir a prática, a continuação ou a

repetição de um “ilícito”, e não de um “dano”. Não se fala em “dano”, mas, sim, em “ilícito” a ser evitado, ideia de situação futura.

Alternativa “D”: incorreta. A tese defendida pelo doutrinador italiano Giuseppe Chiovenda consistia na

Maurício Ferreira Cunha32

ação como um direito potestativo e “concreto”, dirigido contra o adversário e não contra o Estado, mas que per-

deu terreno com a ideia prevalente de que a ação

é direito “abstrato” dirigido contra o Estado, que

detém o poder de dizer o direito (jurisdição).

3. AÇÃO

(MPE – AL – Promotor de Justiça – AL/2012) No que concerne à natureza jurídica da ação, as afirma tivas de que “não há ação sem direito”, “não há direito sem ação” e de que “a ação segue a natureza do direito” são consequ-ências do conceito formulado pela teoria

a) do direito subjetivo instrumental.

b) do direito autônomo e concreto.

c) do direito autônomo e abstrato.

d) clássica ou imanentista.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: durante o desenvolvimento e aperfeiçoamento do direito de ação surgiram algumas teorias que tentaram explicar os principais aspectos da ação:

Teoria imanentista,

civilista, clássica ou

privatista

Teoria idealizada por Savigny, segundo a qual não há ação sem direito. Assim, confunde-se o direito de ação com o direito material dedu-zido em juízo.

Teoria concretista

ou do direito

concreto à tutela

jurisdicional

A ação é direito autônomo, público e concreto. Logo, somente há ação quando a sentença julgar proce-dente o pedido do autor.

Teoria abstrativista

O direito de ação é autônomo, público e abstrato, haja vista que independe da existência do direito material e do êxito da ação.

Teoria eclética

Desenvolvida por Enrico Tullio Lie-bman, o direito de ação constitui o direito a um julgamento de mérito da causa. O julgamento, contudo, fica condicionado ao preenchi-mento das condições da ação.

Alternativa correta: letra “D”.

Alternativa “A”: incorreta. Segundo a teoria do direito subjetivo instrumental, a ação é o direito

público, subjetivo, instrumental e de natureza cons-

titucional.

Alternativa “B”: incorreta. Pela teoria do direito autônomo e concreto, desenvolvida por Wach, a ação é considerada direito autônomo, público e concreto. Assim, só existiria ação quando a sentença fosse

favorável ao autor.

Alternativa “C”: incorreta. A teoria abstrata do

direito de ação prega que a ação é o direito de pro-

vocar o Poder Judiciário, independentemente do

resultado do processo, não havendo compatibilidade com o teor das frases do enunciado que dizem respeito á teoria clássica ou imanentista.

Alternativa “D”: correta. Segundo a teoria ima-nentista ou civilista, cujo principal expoente foi Savigny, ação é imanente ao direito material tutelado, vale dizer, não existe ação sem a existência do correlato direto.

(CESPE – PROMOTOR TO/2012) Acerca da ação decla-ratória, assinale a opção correta.

a) A ação declaratória é apropriada para se obter declaração de falsidade ideológica.

b) O direito subjetivo declarado pela sentença mera-mente declaratória constitui título executivo judi-cial.

c) Cabe o ajuizamento de ação declaratória para o reconhecimento de relações futuras meramente prováveis.

d) A ação declaratória pode ser extinta pela prescri-ção.

e) Admite-se o ajuizamento da ação declaratória mesmo quando já é possível ao autor ajuizar ação condenatória ou constitutiva.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão versa sobre a ação declaratória, que instrumento adequado para se obter provimento jurisdicional que assegure a certeza sobre a existência de determinada relação jurídica. A propósito, antes da Lei 11.232/05, havia certa divergência doutri-nária sobre a possibilidade de, executando sentença declaratória, obter o cumprimento da obrigação ina-dimplida declarada no título. Com o advento da sobre-dita legislação, o art. 475-N, inciso I, CPC/73, passou a considerar título executivo judicial “a sentença profe-rida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia”. Assim, prevalece o pensamento de ser possível a execução da sentença declaratória a fim de se obter o cumprimento da obrigação declarada na sentença.

Alternativa correta: letra “E”.

Alternativa “A”: incorreta. Consoante a juris-prudência do STJ, “não se admite ação declaratória de falsidade ideológica. O art. 4º, II do CPC refere-se à falsidade material” (REsp 735.560/SP, 1ª T., rel. Min. Garcia Vieira, j. 16.6.1999). Mais ainda, é sabido que, quando arguido o incidente de falsidade documental, o objetivo será o de rescindir o negócio indicado em documento falso, tendo, portanto, natureza jurídica constitutiva e negativa.

Alternativa “B”: incorreta. Em verdade, o título executivo judicial formado no julgamento da ação declaratória recai sobre a certeza da declaração (e não sobre o direito subjetivo sustentado). Não se pode olvi-

Direito Processual Civil 33

dar, porém, de que há entendimento reconhecendo que, em se tratando de demanda declaratória que reco-nheça o direito a um determinado crédito, nada impede que se atribua eficácia executiva para a respectiva sen-tença.

Alternativa “C”: incorreta. Isso porque a ação declaratória não se presta para o reconhecimento de relações futuras meramente prováveis, faltando, para tanto, a condição da ação interesse de agir.

Alternativa “D”: incorreta. Com efeito, a ação declaratória é instrumento adequado para tutelar direi-tos potestativos, os quais não estão sujeitos à prescri-ção. No entanto, podem ser afetados pela decadência.

Alternativa “E”: correta. De fato, é possível o ajuizamento de ação declaratória mesmo quando viá-vel ação condenatória ou constitutiva (art. 4º, § único, CPC/73; art. 19, CPC/2015).

(FCC – Promotor de Justiça – CE/2011) No tocante à ação, para nossa lei processual civil,

a) o reconhecimento da ausência de pressupostos processuais leva ao impedimento da instauração da relação processual ou à nulidade do processo.

b) a ausência do direito material subjetivo conduz à carência de ação.

c) a ausência das condições da ação não pode ser afe-rida de ofício pelo juiz.

d) não se admite a ação meramente declaratória, se já ocorreu a violação do direito.

e) o interesse do autor está ligado sempre, e apenas, à constituição de seu direito, com pedido eventual de preceito mandamental.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: interessante abordagem feita pelo examinador, uma vez que buscou extrair conhe-cimentos acerca dos institutos fundamentais do pro-cesso, quais sejam, os pressupostos processuais e as condições da ação. Vale lembrar que as condições da ação (legitimidade, interesse e possibilidade jurídica do pedido) e os pressupostos processuais constituem matérias de ordem pública, cognoscíveis de ofício pelo magistrado, e que não se sujeitam aos efeitos da preclu-são. Destaque-se que no CPC/2015 a possibilidade jurí-dica do pedido passa a ser tratada como questão rela-tiva ao mérito e não mais como “condição da ação”. Em verdade, no CPC/2015 essa classificação (“condições da ação”) desaparece. O legislador apenas prevê que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimi-dade” (art. 17, CPC/2015).

Alternativa correta: letra “A”.

Alternativa “A”: correta. Dependendo do momento processual em que verificada a ausência dos pressupostos processuais, a consequência será a extin-ção prematura do processo sem resolução de mérito

ou o reconhecimento da nulidade processual. Assim, o reconhecimento da ausência dos pressupostos

pode acarretar a nulidade do feito, quando reconhe-

cida após o regular trâmite processual (na sentença,

v.g.). Não implica, contudo, a nulidade quando

detectada no nascedouro da relação jurídica pro-

cessual, quando o magistrado extinguirá o processo

sem resolução de mérito.

Alternativa “B”: incorreta. A ausência do direito

material conduz à improcedência (e não a carência

de ação). As condições da ação são analisadas in sta-tus assertionis, ou seja, à luz das alegações contidas na petição inicial antes que as provas sejam produzidas. Aliás, a teoria da asserção distingue improcedência de impossibilidade jurídica do pedido pelo simples fato de que as condições da ação são apreciadas diante das alegações contidas na inicial e defesa sem possibilidade de incursão em análises probatórias. Assim, sendo veri-ficável de plano a impossibilidade do pedido com base apenas nas afirmações contidas na exordial, será hipó-tese de carência de ação por impossibilidade jurídica do pedido; havendo necessidade de dilação probatória para verificar a impossibilidade, será caso de improce-dência do pedido.

Alternativa “C”: incorreta. As condições da ação

podem ser conhecidas de ofício em qualquer tempo

e grau de jurisdição, pois se trata de matéria de ordem pública (arts. 267, § 3º, e 301, § 4º, CPC/73).

Alternativa “D”: incorreta. O art. 4º, § único, CPC/73, contém disposição em sentido diverso. Vale dizer, “é admissível a ação declaratória, ainda que

tenha ocorrido a violação do direito.” A propósito, confira-se também a Súmula 181, STJ, in verbis: “É admis-sível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula contratual”.

Alternativa “E”: incorreta. O pedido do autor pode abranger tutela mandamental ou executiva. Em ver-dade, o interesse do autor será limitado à constituição de uma situação jurídica quando estiver pleiteando a efetivação de um direito potestativo, a exemplo do divórcio e da rescisão de certo contrato.

(MPE/GO – Promotor de Justiça – GO/2009) Das teo-rias sobre a natureza jurídica da ação é correto afirmar:

a) A teoria civilista de Savigny considera que o direito de ação tem autonomia em relação ao direito mate-rial.

b) A teoria do direito concreto (Büllow e Wach) não reconhece a autonomia do direito processual em relação ao direito material, de maneira que para a mesma tais direitos se identificam no exercita-mento da pretensão.

c) Para Enrico Tulio Liebman (teoria eclética), o direito de ação tem dois aspectos, o direito de demanda ou de acesso ou petição (incondicionado) e o direito de ação propriamente dito, que exige o preenchi-mento de condições a viabilizar o julgamento efe-tivo da pretensão deduzida.

Maurício Ferreira Cunha34

d) A teoria do direito abstrato (Degenkolb e Plósz) pre-coniza que somente terá havido o exercício da ação se a tutela jurisdicional invocada for concedida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: questão interessante, porque exigia do candidato noções conceituais acerca das diversas teorias que tentam explicar a natureza jurídica do direito de ação. Frise-se, por oportuno, que, segundo a doutrina majoritária, o nosso ordenamento jurídico de 1973 adotou a teoria eclética do direito de ação, desen-volvida por Liebman, segundo a qual o direito de ação é o direito a um julgamento de mérito. Isso, contudo, não é suficiente para a resolução da questão, sendo impres-cindível o conhecimento das demais teorias.

Alternativa correta: letra “C”.

Alternativa “A”: incorreta. A assertiva narra a con-cepção de ação para a teoria do direito concreto e a atri-bui à teoria de Savigny. Em verdade, para a teoria civi-

lista, cujo principal expoente foi Savigny, a ação é o

próprio direito material colocado em movimento.

Alternativa “B”: incorreta. A teoria do direito con-creto reconhece a autonomia do direito de ação em relação ao direito subjetivo material.

Alternativa “C”: correta. Liebman desenvolveu a teoria eclética ou mista do direito de ação, segundo a qual a ação constitui o direito a um julgamento de mérito. Assim, as condições da ação são pressupostos para um julgamento de mérito, realizando o magistrado dois juízos: a) validade e b) mérito.

Alternativa “D”: incorreta. A assertiva traz enun-ciado que se amolda à teoria concretista. A teoria abs-

trata do direito de ação prega que a ação é o direito

de provocar o Poder Judiciário, independentemente

do resultado do processo.

(MPE/PR – Promotor de Justiça – PR/2009) Indique a alternativa correta:

a) a teoria clássica, civilista ou imanentista, além de afastar-se da concepção da actio romana, serve para explicar adequadamente a ação declaratória negativa;

b) a teoria da ação como direito potestativo apre-senta a ação como vinculada ao direito material, de natureza estritamente pública, constituindo-se em poder jurídico direcionado em oposição ao Estado, objetivando a atuação da vontade da lei;

c) a teoria da ação como direito autônomo e abstrato anuncia a ação como direito a um pronunciamento do Estado a respeito do pleiteado pelo autor, apre-sentando-se autônomo, porque irrelevante ao seu exercício que o provimento jurisdicional tenha sido favorável ou desfavorável ao pretendido pela parte ativa e, abstrato, eis que independente, desvenci-lhado do direito material;

d) a teoria da ação como direito autônomo e concreto prega que o direito de agir volta-se exclusivamente contra o Estado, apenas autorizando-se a prestação tutela concretamente solicitada, na situação do pedido mostrar-se certo e determinado;

e) a teoria eclética ressalta a ação como direito sub-jetivo de impulsionar o processo, permitindo que o mérito da causa seja julgado, mas desde que res-tem preenchidas as condições da ação, cuja ausên-cia acarreta a inexistência da própria ação, circuns-tâncias essas que a diferenciaram do direito de agir garantido constitucionalmente, o qual apenas lhe serve de fundamento.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão trata de diversos aspectos do direito de ação, abordando a alternativa correta as teorias do direito de ação. Vale destacar que o CPC adotou a teoria eclética do direito de ação, cujo idealizador foi Liebman, segundo a qual o direito de ação existe de forma autônoma e independente em relação ao direito material, subordinando-se, porém, à existência de pressupostos denominados condições da ação, sem a existência dos quais não há ação, verdadei-ramente.

Alternativa correta: letra “E”.

Alternativa “A”: incorreta, porque a teoria imanen-tista ou civilista, desenvolvida por Savigny, defende que a existência da ação é imanente ao direito material tute-lado, sendo insuficiente para explicar a ação decla-

ratória negativa em que o autor pretende a declara-

ção de um direito ou de uma situação jurídica.

Alternativa “B”: incorreta, haja vista que o con-ceito dado pelo enunciado aproxima-se da teoria

civilista ou imanentista da ação (e não do direito

potestativo). Em verdade, a ação como direito potes-tativo, cujo principal expoente foi Chiovenda, concebe a ação como direito potestativo, independente, distinto do direito material.

Alternativa “C”: incorreta, uma vez que, na teoria da ação como direito autônomo e abstrato, a ação existe independentemente do pronunciamento judicial sobre o direito pleiteado.

Alternativa “D”: incorreta, porquanto a ação, na concepção da teoria em análise, corresponde ao

direito à obtenção de uma sentença favorável.

Alternativa “E”: correta. De fato, nossa legislação processual civil adotou a teoria eclética, segundo a qual o direito de ação é o direito ao julgamento de mérito da causa, o qual, contudo, fica condicionado ao preenchi-mento de certas condições, de modo que a sua ausên-cia acarreta a extinção do processo sem julgamento de mérito por carência de ação. A adoção da teoria eclética deve ser vista com reservas, tendo em vista que é o exer-cício do direito de ação que se condiciona e não a ação como direito constitucionalmente garantido.

Direito Processual Civil 35

(Cespe – Promotor de Justiça – RN/2009) No que con-cerne às funções essenciais à justiça bem como à ação e ao processo, assinale a opção correta.

a) Qualquer advogado pode ter carga dos autos, sendo dispensável a procuração nos autos.

b) A concretude do direito de ação se explica por ser ele distinto do direito material disputado entre os litigantes.

c) Os pressupostos processuais são requisitos exigi-dos para se conferir eficácia jurídica à relação pro-cessual.

d) A existência da pretensão resistida constitui pressu-posto para o exercício do direito de ação.

e) A defesa de mérito será indireta quando for dirigida contra o próprio pedido do autor e objetivar des-truir-lhes os fundamentos de fato ou de direito.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão é multidisciplinar, abordando tema ligado à defesa do réu e que tem implicações práticas. Com efeito, arguindo o réu exce-ções substanciais indiretas, que são defesas em que o réu agrega ao processo fato novo extintivo, impeditivo ou modificativo do direito do autor, o magistrado deve assegurar a manifestação do autor em réplica sobre os fatos novos, nos moldes do art. 327, CPC/73. Outrossim, a questão tem interesse prático em relação ao ônus da prova, tendo em vista que incumbirá ao réu provar os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Assim, arguindo o réu exceção substancial indireta, deverá demonstrar satisfatoriamente o fato novo. Caso não se desincumba de seu ônus, o juiz rejei-tará a exceção.

Questão anulada.

Alternativa “A”: incorreta. Por força do art. 40, inciso III, CPC/73, é assegurado ao advogado o direito de retirar os autos do cartório, pelo prazo legal, na hipó-tese em que lhe competir manifestar neles por deter-minação do juiz, não estando o exercício da referida

faculdade condicionada à existência de procuração. Igualmente, o Estatuto da OAB (Lei 8.906/94), em seu art. 7º, inciso XVI, assegura como direito do advogado “retirar os autos de processos findos, mesmo sem pro-

curação, pelo prazo de dez dias”.

Alternativa “B”: incorreta. Isso porque a ação con-cebida como direito concreto, concepção superada, defende exatamente o inverso da assertiva, ou seja, só

há o direito de ação quando existir o direito material

a tutelar.

Alternativa “C”: correta. Com efeito, “pressupos-tos processuais são todos os elementos de existência, os requisitos de validade e as condições de eficácia do

procedimento, aspecto formal do processo, que é ato--complexo de formação sucessiva”4.

Alternativa “D”: incorreta, haja vista que a pre-tensão resistida compõe o conceito de lide, não sendo

condição da ação.

Alternativa “E”: correta. De fato, as exceções indi-retas são defesas do réu que agregam ao processo fato novo, os quais impedem, modificam ou extinguem o direito do autor.

(Cespe – Promotor de Justiça – RN/2009) Com relação a provas, capacidade, procedimentos especiais, litis-consórcio e juizado especial civil, julgue os itens subse-quentes.

I. Apesar de o Código Civil brasileiro arrolar vários meios de provas, vigora, na lei processual, a regra da atipicidade dos meios de provas.

II. A proibição do insolvente civil de figurar como parte no processo regulado pela Lei nº 9.099/1995, que dispõe acerca dos juizados especiais cíveis e criminais, configura hipótese de exclusão da capa-cidade de gozo ou de direito.

III. Impõe-se a nomeação de curador especial tanto aos réus incertos quanto aos réus desconhecidos citados na ação de usucapião.

IV. A petição da exceção de incompetência pode ser protocolizada pelo excepto no juízo deprecado.

V. O litisconsórcio unitário nem sempre é necessário.

A quantidade de itens certos é igual a

a) 1.

b) 2.

c) 3.

d) 4.

e) 5.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: questão interessante e que envolve a abordagem de temas complexos como o litisconsórcio, a exceção de incompetência e o procedi-mento dos Juizados Especiais.

Alternativa correta: letra “C”.

Item I: correto, consoante reza o art. 332, CPC/73, o qual prescreve que “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”. Logo, a legis-lação contempla a produção de provas típicas e atípicas:

4 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol.

1: Introdução ao Direito Processual Civil e Processo de

Conhecimento. 14ª ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 244.

Maurício Ferreira Cunha36

Provas típicas Provas atípicas

Aquelas previstas expres-samente pela legislação, a exemplo do depoimento pes-soal, da prova testemunhal e prova pericial.

Aquelas não menciona-das expressamente pela legislação, a exemplo da reconstituição

Item II: incorreto, haja vista que a insolvência não é causa de exclusão da capacidade de gozo ou de exer-cício.

Item III: incorreto, porque, na ação de usucapião, os réus incertos e desconhecidos são citados para eventu-almente integrarem a lide. No entanto, não a integram enquanto não manifestarem o interesse no feito, razão pela qual descabe a nomeação de curador especial.

Item IV: correto, pois em perfeita sintonia com o disposto no art. 305, § único, CPC/73, que, visando facilitar o exercício do direito de defesa, faculta ao réu a protocolização da peça defensiva no juízo de seu domicílio, com requerimento de sua imediata remessa ao juízo que determinou a citação. A doutrina interpreta extensivamente o dispositivo ora comentado, autori-zando o réu a apresentar qualquer espécie de defesa no juízo de seu domicílio. Não há dispositivo correspon-dente no novo CPC. A incompetência relativa passa a ser matéria preliminar de contestação (art. 337, II), enquanto que as exceções de impedimento ou suspeição poderão ser alegadas no prazo de 15 (quinze dias), a contar do conhecimento do fato, em petição específica (art. 146).

Item V: correto, tendo em vista que o litisconsórcio será necessário unitário pela natureza da relação jurídica deduzida em juízo ou por expressa disposição de lei.

(UFMT – Promotor de Justiça – MT/2014) A respeito de legitimação e substituição processual, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Mesmo com a ocorrência de substituição proces-sual, em caso de improcedência dos pedidos do autor substituído, este arcará com o ônus da sucum-bência.

( ) A lei pode outorgar legitimidade (condição da ação) para quem não integra qualquer dos polos subjeti-vos do objeto litigioso.

( ) A substituição processual constitui espécie de legi-timação extraordinária.

( ) A substituição processual não altera a extensão da coisa julgada, pois não vincula o substituto.

( ) A personalidade processual é atributo de todos, de pessoas naturais e jurídicas, bem como de entes despersonalizados.

Assinale a sequência correta.

a) F, V, F, V, V

b) F, V, V, F, V

c) F, F, V, V, F

d) V, F, F, V, F

e) V, F, V, F, V

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “B”.

Item falso: a coisa julgada que tenha surgido em processo conduzido por legitimado extraordinário estenderá os seus efeitos ao substituído, salvo se houver disposição legal contrária. Destaca-se que o substituto não estará isento das consequências da sucumbência, das custas e dos honorários advocatícios.

Item verdadeiro: induvidosamente, uma das condições da ação é a legitimidade para agir, caracte-rizada por ser uma situação jurídica regulada pela lei. Neste aspecto, cumpre destacar que é possível que a lei outorgue legitimação a quem não integra os polos da demanda, o que se dá, por exemplo, nos casos de legitimação extraordinária, a exemplo da atuação do representante do MP.

Item verdadeiro: considerando-se o teor do art. 6º, CPC/73, “ninguém poderá pleitear, em nome pró-prio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei”, de modo que a substituição processual será extraordinária quando não houver identidade entre a legitimação para a causa e a titularidade do direito afirmado em juízo.

Item falso: não há dúvidas de que a coisa julgada que tenha surgido em processo conduzido por legiti-mado extraordinário se estenderá ao substituído, reper-cutindo, ainda, no seu patrimônio. O substituto ficará submetido ao que foi decidido, não restando isento das verbas de sucumbência, custas e dos honorários.

Item verdadeiro: embora, de um modo geral, a capacidade de ser parte esteja relacionada à perso-

nalidade jurídica, a lei processual reconhece, a entes desprovidos de personalidade jurídica, a possibilidade de ocupação da posição de parte no processo. Assim, confere-se personalidade processual a algumas pes-soas que não possuem, em regra, aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações, sendo exemplos, dentre outros, o espólio, a massa falida, os órgãos públicos de defesa do consumidor, o Ministério Público, os Tribunais de Contas.

(MPE/GO – Promotor de Justiça – GO/2009) Sobre a substituição processual é incorreto afirmar:

a) Existe quando alguém defende ou pleiteia direito alheio em nome próprio, cujo fenômeno é conhe-cido também por legitimação extraordinária.

b) É admitida nas hipóteses expressamente previs-tas em lei, podendo excepcionalmente ser levada a efeito por convenção ou ajuste entre as partes (substituição convencional).

c) Proposta a ação pelo substituto processual, o titular do interesse em litígio poderá manter-se afastado

Direito Processual Civil 37

da relação processual ou habilitar-se como assis-tente litisconsorcial.

d) A coisa julgada tem eficácia sobre o titular do direito (substituído processual), de sorte que não poderá insurgir-se contra o que ficou decidido na ação em que se operou a substituição.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão aborda a substituição processual ou legitimação extraordinária, a qual, ape-nas e tão-somente, decorre de lei. A propósito, não se pode confundir sucessão, substituição e representação processual:

Sucessão

processual

Substituição

processual

Representação

processual

V e r i f i c a - s e quando, no curso da lide, há um sujeito sucede o outro, assumindo a sua posição pro-cessual.

Autoriza-se um sujeito a defender interesse alheio em nome próprio.

O representante processual atua em juízo em nome alheio e defendendo inte-resse alheio.

Troca de sujeitos processuais

Não há alteração da relação pro-cessual.

O representante não é parte; parte é o representado.

Mutação subje-tiva

Não há alteração da relação pro-cessual.

O representante processual atua em juízo para suprir a incapaci-dade processual da parte.

Pode ser:

a) Voluntária: as próprias partes convencionam a substituição dos sujeitos integran-tes da relação processual.

Ex. 1: nomeação à autoria, quando o nomeado assume o lugar do nome-ante.

Ex. 2: alienação da coisa liti-giosa, quando a parte contrária consente com a substituição do alienante pelo adquirente.

b) Legal: decorre da lei, como quando se veri-fica o falecimento de uma das partes do processo.

Decorre exclusi-vamente da lei.

Alternativa: letra “B”.

Alternativa “A”: correta. De fato, a substituição processual configura-se na hipótese em que alguém pleiteia, em nome próprio, direito alheio. Prevalece que substituição processual é sinônimo de legitimação extraordinária, embora exista entendimento no sentido de que a substituição processual seria uma espécie do gênero legitimação extraordinária.

Alternativa “B”: incorreta, uma vez que a substitui-ção processual somente decorre de lei (art. 6º, CPC/73), sendo vedada em razão de qualquer convenção parti-cular.

Alternativa “C”: correta, vez que, sendo proposta a ação pelo substituto processual, o titular do interesse em litígio poderá manter-se afastado da relação pro-cessual ou habilitar-se como assistente litisconsorcial. Em ambas as hipóteses será alcançado pelos efeitos da coisa julgada material.

Alternativa “D”: correta. Com efeito, a coisa jul-gada tem eficácia sobre o titular do direito (substituído processual), de modo que não poderá insurgir-se con-tra o que ficou decidido na ação em que se operou a substituição, o que relativiza o art. 472, CPC/73 em prol dos princípios da celeridade, efetividade e economia processuais.

(MPE/GO – Promotor de Justiça – GO/2010) Assinale as alternativas verdadeiras (V) e as que se considerarem falsas (F):

( ) Pela teoria da substanciação, a causa de pedir deve ser extraída dos fatos, não dos fundamentos jurídi-cos, encontrando-se em harmonia com o princípio jura novit curia.

( ) A denunciação da lide suspende o processo assim que determinada a citação do denunciado.

( ) Toda sentença no processo cautelar não faz coisa julgada material.

( ) Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.

a) F, F, V, V.

b) V, V, F, F.

c) V, F, V, V.

d) F, V, F, F.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão é multidisciplinar. O item I, correto, trata da teoria da substanciação da causa de pedir, adotada pelo atual CPC. Difere-se da teoria da individualização:

Direito Processual Civil 425

Direito Processual Civil

Maurício Ferreira Cunha

DICAS

NOTA: algumas das principais alterações do novo texto (Lei Federal 13.105/2015):– as decisões, ainda que sobre matéria cognoscível

“ex officio”, devem ser precedidas de contraditório;– criação da chamada “audiência obrigatória de con-

ciliação e mediação” a ser realizada antes da apre-sentação da peça de resposta;

– estabelecimento de uma base principiológica em conformidade com o modelo constitucional do direito processual civil;

– citação do réu, sem contrafé, nas ações de família, para que compareça à audiência;

– concentração das matérias de defesa na contesta-ção, como, p.e., a incompetência relativa, a incor-reção ao valor da causa, a indevida concessão do benefício de gratuidade da justiça;

– o novo texto cria um livro para abordar a “tutela provi-sória” e, dentro desse conceito, sistematiza a tutela de urgência (cautelar e antecipada) e a tutela da evidência;

– quanto às modalidades de intervenção de terceiros: a “assistência” está, finalmente inserida como tal, man-tendo-se a distinção entre assistência simples e litiscon-sorcial, com a inovação de se diferenciar as disposições comuns (arts. 119 e 120) das disposições específicas (arts. 121 a 124); a “denunciação da lide” (arts. 125 a 129) e o chamamento ao processo (arts. 130 a 132) são man-tidos como forma de intervenção de terceiros, com pontuais inovações; o “incidente de desconsideração da personalidade jurídica” (arts. 133 a 137) e o “amicus curiae” (art. 138) são inseridos como novas modalida-des criadas pelo novo texto. A “nomeação à autoria”, por sua vez, desaparece desse título, mas o seu espírito está presente nos artigos 338 e 339, como hipóteses de correção da ilegitimidade passiva (deverão ser apre-sentadas como preliminar de contestação). Por fim, a “oposição” é tratada como ação com procedimento especial (arts. 682 a 686), sem grandes alterações em relação aos dispositivos ainda vigentes no CPC/73.

– possibilidade de que o juiz distribua, de forma dinâ-mica, o ônus da prova, assim o fazendo até a fase de saneamento do processo;

– imposição de fundamentação exaustiva das sen-tenças/acórdãos, analisando todos os itens, todos os argumentos levantados pelas partes, sob pena de nulidade;

– possibilidade de julgamento parcial do mérito;– desaparecimento da ação declaratória incidental, uma

vez que a questão prejudicial será acobertada pela coisa julgada, independentemente de pedido das partes;

– julgamento dos processos em ordem cronológica, preferencialmente;

– criação do chamado “incidente de resolução de demandas repetitivas”, possibilitando que causas com temáticas repetidas sejam julgadas pelos tri-bunais (TJ’s e TRF’s), servindo, a partir daí, como precedente para os demais;

– estímulo à observância da jurisprudência dos tribu-nais superiores;

– fim do processo cautelar autônomo e das cautela-res específicas;

– positivação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica e do “amicus curiae” como modalidades de intervenção de terceiros;

– contagem dos prazos processuais em dias úteis;

– penhora de salários acima de 50 (cinqüenta) salários mínimos;

– criação dos honorários recursais;

– alteração nos honorários contra a Fazenda Pública (diminuição e escalonamento conforme o valor da causa);

– fim do recurso de embargos infringentes, com a inser-ção de técnica de julgamento em que novos magis-trados serão chamados se houver decisão por maioria, independentemente de manifestação das partes;

– fim do recurso de agravo retido, não havendo mais que se falar em preclusão das decisões interlocu-tórias que, por sua vez, poderão ser atacadas via agravo de instrumento ou reunidas no futuro e eventual recurso de apelação;

– criação do chamado “negócio jurídico processual”, permitindo que as partes, de comum acordo, alte-rem o trâmite procedimental.

1. JURISDIÇÃO

• É a função atribuída a um terceiro imparcial, o Esta-do-juiz, para solucionar um conflito de interesses (lide), reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas, con-cretizadas por meio de decisão com aptidão para tornar-se indiscutível.

São características da jurisdição: a) heterocompo-sição: decisão proferida por um terceiro imparcial; b) técnica de tutela de direitos mediante um pro-cesso; c) exercício diante de uma situação jurídica concreta; d) aptidão para a coisa julgada.

Fredie Didier Jr1 aponta como características, ainda,

1 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol.

1: Introdução ao Direito Processual Civil e Processo de

Conhecimento.13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2011, p. 89.

Maurício Ferreira Cunha426

a impossibilidade de controle externo das decisões proferidas e a atividade criativa (criação da norma jurídica do caso concreto).

• A jurisdição é informada pelos princípios da investidura, territorialidade, indelegabilidade, inevitabilidade e ina-fastabilidade:

Investidura

A jurisdição só é exercida por quem tenha sido regular e previamente investido da função jurisdicional. Veja que, em certos casos, um órgão não pertencente ao Poder Judiciário poderá/deverá exercer a jurisdição, como é o caso, por exemplo, do Senado Federal (art. 52, I, da CF). Assim, ao analisarmos o art. 5º, XXXV, CF, devemos compreender a expressão “Poder Judiciário” como “jurisdição”

Territorialidade Indica que a autoridade do magistrado restringe-se a um determinado limite territorial (foro).

Indelegabilidade

Informa que o magistrado não pode delegar a função jurisdicional (embora existam temperamentos a este princípio como a possibilidade de expedição de cartas de ordem pelos tribunais, a permissão para que o STF delegue atribuições para a prática de atos processuais referentes à execução de seus julgados, a possibilidade de delegação da competência do Tribunal Pleno para o órgão especial do mesmo Tribunal, atos ordinatórios, art. 162, § 4º, CPC/73; art. 203, § 4º, CPC/2015 etc..)

InevitabilidadeDenota a ideia de que a jurisdição é imposta ao jurisdicionado independentemente de sua aceitação (impe-ratividade)

InafastabilidadeExpressamente consagrada no art. 5º, inciso XXXV, CF, assegura que a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito.

• Sistemas de jurisdição:

Sistema uno ou anglo-saxão Sistema francês ou dualista

Todos os litígios, de origem administrativa ou pri-vada, são resolvidos pelo Poder Judiciário, a quem cabe o julgamento em caráter definitivo.

Os litígios administrativos são resolvidos, definitivamente, por um Tribunal Administrativo, ao passo que as lides privadas são resolvidas, definitiva-mente, pelo Poder Judiciário.

Este sistema teve origem na Inglaterra, como uma forma de reação do povo contra os privilégios e desmandos da Corte Inglesa, que tinha poderes de administrar e julgar.

Fruto de uma interpretação diferenciada da teoria de Montesquieu, a França adotou uma divisão total dos poderes, em que não havia monopólio da fun-ção jurisdicional pelo Poder Judiciário. Isso decorre de uma histórica descon-fiança da burguesia em relação ao Poder Judiciário, exercido pela nobreza.

Limites: o Poder Judiciário só pode apreciar a legalidade e a legitimidade dos atos administrativos.

2. AÇÃO

• Pode ser estudada sob três enfoques distintos:1. A ação como sinônimo de direito em movimento/exercício: cuida-se de situação em que a ação se confunde com

o próprio direito material violado;2. A ação como direito autônomo em relação ao direito material: trata-se do direito de provocar a jurisdição.3. A ação como exercício de direito abstrato de agir.• A identificação da ação se opera pelo exame de seus elementos, que são as partes; a causa de pedir e o pedido, o

que é de fundamental importância para o reconhecimento da litispendência e da coisa julgada.• O CPC/73, adotando a teoria “eclética” do direito de ação, segundo a qual esta última corresponde ao direito a um

julgamento de mérito da causa, estabelece alguns condicionamentos para o seu julgamento, denominadas “condi-ções da ação” (o CPC/2015 não mais utiliza o referido termo). Portanto, o julgamento de mérito da ação depende da observância das seguintes condições: a) possibilidade jurídica do pedido (não mencionada no novo texto processual civil): inexistência de objeção expressa no ordenamento jurídico ao pedido. Além disso, a simples ausência de previsão legal não é suficiente para a impossibilidade jurídica do pedido. A propósito, tem a jurisprudência permitido, à luz do julgamento da ADPF 132/RJ e da ADI 4.277/DF, pelo STF, pedido de conversão de união estável homoafetiva em casa-mento (STJ, REsp 1.183.378/RS, 4ª T., rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25.9.2011, DJe 1.2.2012); b) legitimidade “ad causam”: trata-se da pertinência subjetiva da ação, na feliz expressão de Alfredo Buzaid; c) interesse de agir: a movimentação da máquina estatal deve decorrer da necessidade do provimento jurisdicional pleiteado e de sua utilidade.

• Em relação à legitimação “ad causam”, pode ser classificada em “ordinária” e “extraordinária” (art. 6º, CPC/73; art. 18, CPC/2015):

Ordinária Extraordinária/anômala/substituição processual

Legitimado ordinário é aquele que defende em juízo interesse próprio.

Extraordinário é o legitimado que defende em nome próprio interesse de outrem.

Há coincidência entre a parte que atua em juízo e o titular do direito material deduzido.

Não há coincidência entre a parte que atua em juízo e o titular do direito deduzido.

Regra. Depende de previsão legal.

Direito Processual Civil 427

• Não esquecer que a substituição processual difere da sucessão processual. Verifica-se a sucessão processual na hipótese de um sujeito, sucedendo outro no processo, assumir sua posição processual, enquanto a substituição processual autoriza que um sujeito atue no processo defendendo interesse de outrem.

Substituição processual x sucessão processual

Substituição Sucessão

Não há troca de sujeitos; um sujeito está legitimado a defender interesse de outrem.

Há troca de sujeitos no processo; mudança subjetiva da relação processual.

Somente em decorrência de autorização legal expressa (art. 6º, CPC/73; art. 18, CPC/2015).

Pode se dar em razão de morte, incorporação de uma pessoa jurídica por outra ou fusão de pessoas jurídicas.Pode, também, decorrer de ato voluntário, nos casos de nomeação à autoria (arts. 62/63, CPC/73; art. 338, CPC/2015) ou de alienação da coisa litigiosa (art. 42, CPC/73; art. 109, CPC/2015).

Decorre exclusivamente da lei. Pode ser:a) Voluntária: as próprias partes convencionam a substituição dos sujeitos integran-tes da relação processual.Ex. 1: nomeação à autoria, quando o nomeado assume o lugar do nomeante.Ex. 2: alienação da coisa litigiosa, quando a parte contrária consente com a substitui-ção do alienante pelo adquirente.b) Legal: decorre da lei, como quando se verifica o falecimento de uma das partes do processo.

• A verificação das condições da ação, em conformidade com a “teoria da asserção”, ou in status assertionis, se dá quando o juiz realiza um juízo acerca das condições da ação com base, apenas e tão-somente, nas alegações de autor e réu, sem dilação probatória.

• Desistência da ação:

Desistência Renúncia

É ato de disposição de direito processual. É ato de disposição de direito material.

Uma vez exercido o direito, o processo se extingue sem resolução de mérito.

Uma vez exercido, o processo se extingue com resolução de mérito.

A sentença é terminativa. A sentença é definitiva.

Faz coisa julgada apenas formal. Fica acobertada pela coisa julgada formal e material.

Atenção: consoante regra do art. 267, § 4º, CPC/73 (art. 485, § 4º, CPC/2015), a desistência da ação depois de decorrido o prazo de defesa depende da anuência do réu.

3. PARTES E PROCURADORES

3.1 CAPACIDADE PROCESSUAL

• Existem 3 (três) espécies de capacidade:

Capacidade de ser parte Capacidade processual Capacidade postulatória

Capacidade para ser sujeito de direitos e obrigações (personalidade jurídica).

Aptidão para o exercício de faculdades e ônus processuais independentemente de representação.

Capacidade para peticionar em juízo, atri-buída, em regra, aos advogados e mem-bros do MP.

3.2 DESPESAS E DAS MULTAS:

• A parte gozará do benefício da assistência judiciária mediante simples declaração de que não tem condições de custear as despesas do processo sem prejuízo de seu sustento e de sua família.

Atenção: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impos-sibilidade de arcar com os encargos processuais” (Súmula 481, STJ).

3.3 SUBSTITUIÇÃO DAS PARTES E DOS PROCURADORES

• O art. 42, CPC/73 (art. 109, CPC/2015), disciplina a alienação ou cessão de direito litigioso, fato que, por si só, não altera a legitimidade das partes. O adquirente ou cessionário, todavia, poderá ingressar no feito, sucedendo o alie-

Maurício Ferreira Cunha428

nante/cedente, desde que a parte contrária concorde. No entanto, manifestando-se contrariamente, o adquirente pode intervir no processo na qualidade de assistente litisconsorcial. Em síntese, podem ser divididas 3 (três) situa-ções distintas, com consequências igualmente diferenciadas:

Concordância da parte contrária Discordância da parte contrária Assistência litisconsorcial

O adquirente/cessionário ingressa no processo, substituindo o alienante/cedente.

O adquirente/cessionário não ingressa no pro-cesso, mas o alienante/cedente passa a agir em nome próprio na defesa de interesse alheio.

Uma vez negado o ingresso no processo, poderá o adquirente/cessionário intervir no feito na qualidade de assistente litisconsorcial.

Sucessão processual. Substituição processual. Intervenção de terceiros superveniente.

• Verificando a morte de qualquer das partes, o juiz deverá suspender o processo, salvo quando iniciada a audiên-cia de instrução e julgamento. Assim, duas situações podem ser verificadas:

Morte da parte antes do início audiência Morte da parte no curso da audiência

Suspende-se o processo, a fim de que seja regularizada a repre-sentação processual.

O advogado continuará no processo até a publicação da sen-tença ou do acórdão, quando o processo será suspenso.

Obs.: nesta hipótese, o advogado atua como substituto processual.

4. LITISCONSÓRCIO

• Quanto ao momento de formação, o litisconsórcio pode ser:

Inicial Ulterior

É aquele formado no limiar do processo (art. 263, CPC/73; art. 312, CPC/2015).

É aquele formado no decorrer do processo, sendo excepcional e cabível em três hipóteses:1. Em razão de intervenção de terceiros;2. Pela sucessão processual (art. 43, CPC/73; art. 110, CPC/2015) ou3. Pela conexão (arts. 103 e 105, CPC/73; arts. 55 e 57/58, CPC/2015);

• Quanto ao regime jurídico aplicável aos litisconsortes:

Litisconsórcio unitário Litisconsórcio simples

Aquele em que a decisão de mérito deve ser proferida de modo uniforme, sendo inadmissíveis julgamentos diver-sos para cada litisconsorte.

Aquele em que a decisão judicial pode ser diferente para os litiscon-sortes. Aliás, basta que haja a possibilidade de que a decisão seja dife-rente para tornar o litisconsórcio simples.

• Quanto à obrigatoriedade:

Litisconsórcio facultativo Litisconsórcio necessário

É aquele em que a sua formação fica na depen-dência da vontade dos litigantes.

O litisconsórcio unitário revela hipóteses de legitimação ad causam conjunta ou complexa, vale dizer, é indispensável a integração no polo passivo de todos os sujeitos envolvidos na lide. O art. 47, CPC/73 (arts. 114/115, CPC/2015), trata das hipóteses em que o litisconsórcio será necessário, a saber:a) em razão da própria relação jurídica deduzida em juízo;b) por expressa disposição legal, independentemente da natureza jurídica da relação deduzida em juízo. O entendimento majoritário é no sentido de que inexiste hipótese de litisconsórcio unitário ativo.

• O litisconsórcio necessário pode ser:

Unitário Simples Facultativo

O litisconsórcio será necessário unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz houver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes.

O litisconsórcio será necessário simples quando houver disposição de lei nesse sentido.

Medida excepcional, como quando con-dôminos promovem ação reivindicatória em face de terceiro, pois cada condômino pode promover a respectiva ação.

• Litisconsórcio multitudinário:trata-se de litisconsórcio em que há a intervenção de número indeterminado de pessoas, ou seja, de multidão, o qual pode ser recusado pelo magistrado, visando garantir maior celeridade ao processo, a teor da previsão expressa do art. 46, parágrafo único, CPC/73 (art. 113, §§ 1º e 2º, CPC/2015).

• Regime de tratamento dos litisconsórcios:

No litisconsórcio unitário, os litisconsortes são tratados como se fossem um único litigante, de modo que o tra-tamento deve ser uniforme, ao passo que, no litisconsórcio simples, são tratados como partes distintas. Impor-tante, nesse contexto, distinguir conduta determinante de conduta alternativa.

Direito Processual Civil 429

Conduta alternativa Conduta determinante

A parte pratica determinado ato que melhora a sua situ-ação processual (como recorre, contesta, faz prova etc.).

O comportamento da parte que implica em uma situação desfavorável (como a confissão, a revelia, o reconhecimento jurídico do pedido etc.).

A relação entre os litisconsortes se estrutura com base em 3 (três) regras:

1. A conduta determinante de um litisconsorte não prejudica o outro.

Atenção: no litisconsórcio simples a conduta determinante de um litisconsórcio só a ele prejudica; no litisconsórcio unitário a con-duta determinante praticada por um é ineficaz para todos.

2. No litisconsórcio unitário a conduta alternativa de um beneficia o outro.

3. No litisconsórcio simples a conduta alternativa de um não beneficia o outro.

As referidas conclusões são excepcionadas nas seguintes hipóteses:

I. nos termos do art. 320, inciso I, CPC/73 (art. 345, I, CPC/2015), a contestação apresentada por um litisconsorte afasta as consequências da revelia do outro litisconsorte. Mas no litisconsorte simples a contestação somente aproveitará o outro litisconsorte se enfrentar fato comum a ambos os litisconsortes;

II.tratando-se de litisconsórcio unitário, a conduta alternativa de um litisconsorte estende os seus efeitos aos demais, podendo-se citar como exemplo a regra do art. 509, CPC/73 (art. 1.005, CPC/2015).

• Litisconsórcio por comunhão, por conexão e por afinidade:

Litisconsórcio por comunhão Litisconsórcio por conexão Litisconsórcio por afinidade

Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando entre elas houver comunhão de direitos ou obrigações relativamente à lide.

Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo pro-cesso, em conjunto, ativa ou passivamente, quando os direitos ou obrigações derivarem do mesmo fun-damento de fato ou de direito ou entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir.

Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando ocor-rer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.

Ex.: litisconsórcio entre credores solidários.

Ex.: litisconsórcio do MP com incapaz em ação de alimentos.

Ex.: litisconsórcio entre poupadores com determinado Banco.

5. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Noções gerais

DefiniçãoA intervenção de terceiros é um incidente processual por meio do qual um terceiro, expressamente autori-zado por lei, ingressa em processo pendente e assume a condição de parte.

Fundamento

A intervenção de terceiros tem sua razão de ser no fato de que pode haver um vínculo entre o terceiro, o objeto litigioso do processo e a relação jurídica material deduzida em juízo. Assim, a intervenção de tercei-ros depende da efetiva demonstração do interesse jurídico do terceiro interveniente.

Partes e terceiroParte é o sujeito que participa da relação processual, influenciando no resultado do julgamento da lide. Terceiro é conceito que se obtém por exclusão, vale dizer, terceiro é todo aquele que não é parte.

Efeitos na relação

jurídica processual

A intervenção de terceiros pode gerar um aumento do objeto litigioso (efeito objetivo), a modificação das par-tes da relação jurídica processual, como ocorre, por exemplo, na nomeação à autoria, ou aumento no número de sujeitos, o que se verifica nas demais modalidades interventivas (efeito subjetivo).

Controle do mag-

istrado

O ingresso de terceiro em processo pendente depende da demonstração do interesse jurídico (e não mer-mamente econômico; exceção: intervenções especiais dos entes públicos) do terceiro, cabendo ao magis-trado fiscalizar a presença, ou não, do referido pressuposto.

Momento

Regra geral, as intervenções de terceiros são admitidas até o saneamento do feito, que marca a estabilização da demanda. No entanto, a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e as intervenções especiais dos entes públicos (art. 5º, da Lei 9.469/97) podem se efetivar em segundo grau de jurisdição.

Vedações

Não se admite intervenção de terceiros:a) Juizados Especiais (por força do art. 10, Lei 9.099/95);b) ADI e ADC (arts. 7º e 18, Lei 9.868/99).

Modalidades de intervenção

Assistência

É a modalidade de intervenção de terceiros por meio da qual um terceiro ingressa no processo para auxiliar uma das partes do litígio (ad coadjuvandum). Pressupõe interesse jurídico e não meramente econômico ou moral.Simples: o terceiro tem interesse em que a sentença seja favorável a uma das partes, mantendo uma relação com o assistido.Litisconsorcial: o terceiro é titular do direito discutido em juízo e, portanto, mantém uma relação com o assistido e o seu adversário.

Maurício Ferreira Cunha430

Noções gerais

Oposição

Trata-se de ação com procedimento especial por meio da qual o terceiro ingressa com processo afirmando-se titular do bem ou direito discutido em juízo (arts. 682/686, CPC/2015). Atenção: a distribuição se dará por depen-dência e, independentemente de poderes especiais, os opostos (autor e réu de processo já em trâmite) serão citados, na pessoa de seus advogados, para contestarem o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias. Não se aplica, portanto, a regra do prazo em dobro do art. 229, CPC/2015.

Nomeação à autoria

Novo tratamento foi dado e, agora, não mais consta do rol de intervenção de terceiros. Assim, qualquer ale-gação de ilegitimidade passiva feita pelo réu bastará para que se tenha uma possível correção do polo pas-sivo (art. 338, CPC/2015). É possível afirmar que o vício da ilegitimidade passiva passa a ser sempre sanável.

Denunciação da

lide

É a modalidade de intervenção de terceiros em que se veicula pretensão regressiva em demanda eventual e antecipada, sendo obrigatória* (art. 70, CPC/73; art. 125, CPC/2015): I. ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta;II. ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada;III. àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.*A jurisprudência do STJ e boa parcela doutrinária têm defendido que a denunciação da lide não é obri-gatória, ou seja, que a não utilização desta modalidade de intervenção nos casos previstos no CPC jamais levará à perda do direito de regresso. Para tanto, empregam dois fundamentos, quais sejam: (1) o art. 1.116 do CC de 1916 fora reproduzido no art. 456 do CC de 2002 e é, portanto, obsoleto, pois aquele fora escrito à uma realidade que previa o chamamento à autoria, forma de intervenção não mais contemplada em nosso ordenamento; (2) interpretação diversa estimularia o enriquecimento ilícito, o que contraria os ditames do novo direito privado brasileiro, que, expressamente, combate o locupletamento ilícito. O CPC/2015 revo-gou o art. 456 do CC (art. 1.072, II).

Chamamento ao

processo

É modalidade de intervenção de terceiros cabível somente no processo de conhecimento, nas seguintes hipóteses:a) do devedor, na ação em que o fiador for réu;b) dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles;c) de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou total-mente, a dívida comum (art. 77, CPC/73; art. 130, CPC/2015).

6. MINISTÉRIO PÚBLICO

• Impedimento e suspeição do membro do MP:

MP ParteMP fiscal da ordem

jurídica

Aplicam-se somente as hipóteses de suspensão do art. 135, incisos I a IV, CPC/73; arts. 144 e 145, CPC/2015 (é defeso ao juiz [e ao membro do MP] exercer as funções no processo contencioso ou voluntário):I. de que for parte;II. em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;III. que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;IV. quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;

Aplicam-se todas as hipó-teses de impedimento e de suspeição previstas nos arts. 134 e 135, CPC/73 (arts. 144 e 145, CPC/2015).

• Poderes e prerrogativas:

Intervenção MP parte Intervenção MP fiscal da ordem jurídica

Mesmos poderes e ônus atribuídos às partes a) vista dos autos depois das partes;b) intimação de todos os atos do processo;c) poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade.

Prazos em dobro Prazos em dobro

Intimação pessoal Intimação pessoal

Direito Processual Civil 431

7. COMPETÊNCIA

COMPETÊNCIA ABSOLUTA x COMPETÊNCIA RELATIVA

Criada para preservar o interesse público. Visa preservar o interesse precípuo das partes.

Pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição, por qualquer das partes, podendo também ser reconhecida de ofí-cio pelo juiz.

Somente o réu pode suscitá-la, no prazo de resposta, sob pena de preclusão e prorrogação da competência, sendo defeso ao juiz conhecê-la de ofício (Súmula 33, STJ).

ATENÇÃO: a jurisprudência consagrou o entendimento de que o Ministério Público pode alegar a incompetência relativa em benefício de réu incapaz (STJ, REsp 630.968/DF, 3ª T., rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 20.3.2007).

Não há forma específica para sua alegação. No entanto, o réu, se desejar alegá-la em contestação, deverá fazê-lo por meio de preliminar, e não por exceção instrumental.

Deve ser arguida por meio de exceção instrumental, embora a jurisprudência admita a sua alegação em preliminar de contes-tação, em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas (STJ, REsp 169.176/DF, 2ª Seção, rel. Min. Castro Meira, j. 25.6.2003).

O reconhecimento da incompetência absoluta implica na remessa dos autos ao juízo competente, reputando-se nulos somente os atos decisórios praticados.

Uma vez reconhecida a incompetência relativa, remetem-se os autos ao juízo competente sem que sejam anulados os atos decisórios praticados.

Não pode ser alterada pela vontade das partes. Pode ser alterada pela vontade das partes:Foro de eleição;Não oposição da exceção instrumental.

Não pode ser modificada por conexão ou continência. Pode ser modificada por conexão ou continência.

A competência em razão da matéria, da pessoa e funcional é considerada absoluta.Atenção: embora a competência dos Juizados Especiais Estadu-ais, Federais e da Fazenda Pública seja estabelecida em razão do valor da causa, prevalece que se trata de competência absoluta.

A competência territorial e em razão do valor da causa são con-sideradas relativas.Atenção: a competência territorial nas ações coletivas (ação civil pública) é absoluta, por expressa disposição legal (art. 2º, da Lei 7.347 de 1985).

COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

Concorrente ou cumulativa (art. 88, CPC/73; art. 21, CPC/2015) Exclusiva (art. 89, CPC/73; art. 23, CPC/2015)

a) Réu domiciliado no Brasil, independentemente de sua nacio-nalidade.

a) Ações relativas a imóveis situados no Brasil.

b) Se no Brasil houver de ser cumprida a obrigação, pouco importando onde contraída.

b) Proceder a inventário e partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

c) Se a ação originar-se de ato ou fato ocorrido no Brasil. -

Obs.: visando assegurar a supremacia da jurisdição nacional, o art. 90, CPC/73 (art. 24, CPC/2015), estabelece que a ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência no Brasil. Trata-se de regra aplicável tão somente às hipóteses de compe-tência concorrente.

• A doutrina aponta alguns critérios para a identificação da competência, a saber: a) verificar se a justiça brasileira é competente (arts. 88/89, CPC/73; arts. 21 e 23, CPC/2015); b) se for, averiguar se é o caso de caso de competência originária de tribunal ou de órgão jurisdicional atípico; c) sendo negativa a resposta, investigar se é afeto à justiça especial (Eleitoral, Trabalhista ou Militar) ou justiça comum; d) sendo da competência da justiça comum, observar se é da Justiça Federal (art. 109, CF), haja vista que a competência da Justiça Estadual é “residual”; e) sendo competente a Justiça Estadual, deve-se localizar o foro competente (competência material, funcional, valor da causa e territorial); f) identificado o foro competente, busca-se o juízo competente, de acordo com o sistema do CPC e das normas de organização judiciária.

COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Regra geral

Tratando-se de demanda de natureza pessoal ou real, mobiliária, a competência territorial é do juízo de domicílio do réu, conforme dispõe o art. 94, “caput”, CPC/73 (art. 46, CPC/2015); tendo o réu, toda-via, mais de um domicílio, poderá o autor demandar em qualquer deles; sendo incerto ou desconhe-cido o seu domicílio, poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.

Foros especiais

1) o CDC prevê que o foro competente para as ações que discutem relações de consumo é o do domi-cílio do autor/consumidor, nos moldes de seu art. 101, inciso I (não é norma de competência absoluta).2) o Estatuto do Idoso, em seu art. 80, estabelece hipótese de competência territorial absoluta do domicílio do idoso para as causas de que disciplina (direitos difusos, coletivos, individuais indis-poníveis e homogêneos).

Direito Processual Civil 459

• Ação popular x ação de improbidade:

Ação popular Ação de improbidade

Lei 4.717/65 Lei 8.429/92

Vocação reparatória Vocação punitiva

Combater atos ilegais e lesivos ao patrimônio público

Pedidos (arts. 1º e 11):Invalidação do ato ilegal (pedido constitutivo negativo);Condenação do agente à reparação do dano.

Pedido principal: imposição das sanções prevista pelo legisla-dor (não pode ser veiculado em ação popular);

Tem por objeto a tutela de diversos direitos difusos e coletivos Só são sindicáveis os atos de improbidade (inicial deve tipificar o ato de improbidade).

13.5 AÇÕES E OUTROS PROCEDIMENTOS CONSTITUCIONAIS

• Súmula vinculante:

Legitimados a provocar o procedimento da Súmula VinculanteLegitimados a provocar o controle concentra-

do de constitucionalidade

1) Presidente da República;

2) Mesa do Senado Federal;

3) Mesa da Câmara dos Deputados;

4) Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

5) Governador do Estado ou do Distrito Federal;

6) Procurador-Geral da República;

7) Conselho Federal da OAB;

8) Partido político com representação no Congresso Nacional;

9) Confederação Sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;

10) Tribunais Superiores, Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal e Territórios, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho, Tri-bunais Regionais Eleitorais e Tribunais Militares.

1) Presidente da República;

2) Mesa do Senado Federal;

3) Mesa da Câmara dos Deputados;

4) Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

5) Governador do Estado ou do Distrito Federal;

6) Procurador-Geral da República;

7) Conselho Federal da OAB;

8) Partido político com representação no Con-gresso Nacional;

9) Confederação Sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;

XXXXXX

Atenção: o Procurador-Geral do Município não é legitimado nem para o controle concentrado e tampouco para o procedimento de edição de Súmula Vinculante. Todavia, o Município pode propor a edição, revisão ou cancelamento de Súmula Vinculante inci-dentalmente no curso de processo em que seja parte.

Obs.: o candidato deve memorizar o quadro alhures, pois, frequentemente, as bancas examinadoras misturam os referidos ins-titutos.

SÚMULAS

1. AÇÃO

• Súmula 242 STJ. Cabe ação declaratória para reco-nhecimento de tempo de serviço para fins previ-denciários.

• Súmula 181 STJ. É admissível Ação Declaratória, visando a obter certeza quanto à exata interpreta-ção de cláusula contratual.

2. PARTES E PROCURADORES

2.1 CAPACIDADE PROCESSUAL

• Súmula 644 STF. Ao titular de cargo de procurador de autarquia não se exige a apresentação de instru-mento de mandato para representá-la em juízo.

• Súmula 525 STJ. A Câmara de Vereadores não pos-sui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.

• Súmula 506 STJ. A ANATEL não é parte legítima nas demandas entre a concessionária e o usuário de telefonia decorrentes de relação contratual.

• Súmula 196 STJ. Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos.

2.2 DESPESAS E DAS MULTAS

• Súmula 256 STF. É dispensável pedido expresso para condenação do réu em honorários, com fun-damento nos arts. 63 ou 64 do Código de Processo Civil (art. 20, § 3º, e seguintes do CPC de 1973).

Maurício Ferreira Cunha460

• Súmula 481 STJ.

Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encar-gos processuais.

• Súmula 453 STJ. Os honorários sucum-benciais, quando omitidos em decisão

transitada em jul-gado, não podem ser cobrados em execu-ção ou em ação pró-pria.

• Súmula 421 STJ. Os honorários advocatí-cios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua con-tra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença.

4. COMPETÊNCIA

• Súmula vinculante 27. Compete à justiça estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia, quando a Anatel não seja litisconsorte passiva necessária, assistente, nem opoente.

• Súmula vinculante 22. A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.

• Súmula 556 STF. É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista.

• Súmula 517 STF. As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal, quando a união inter-vém como assistente ou opoente.

• Súmula 508 STF. Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.

• Súmula 501 STF. Compete à justiça ordinária esta-dual o processo e o julgamento, em ambas as ins-tâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a união, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.

• Súmula 343 STF. Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.

• Súmula 540 STJ. Na ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre os foros do seu domicílio, do local do acidente ou ainda do domicílio do réu.

• Súmula 505 STJ. A competência para processar e julgar as demandas que têm por objeto obrigações decorrentes dos contratos de plano de previdência privada firmados com a Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social – REFER é da Justiça estadual.

• Súmula 489 STJ. Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual.

• Súmula 480 STJ. O juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa.

• Súmula 428 STJ. Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.

• Súmula 383 STJ. A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.

• Súmula 381 STJ. Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.

• Súmula 368 STJ. Compete à Justiça comum esta-dual processar e julgar os pedidos de retificação de dados cadastrais da Justiça Eleitoral.

• Súmula 367 STJ. A competência estabelecida pela EC nº 45/2004 não alcança os processos já senten-ciados.

• Súmula 363 STJ. Compete à Justiça estadual pro-cessar e julgar a ação de cobrança ajuizada por pro-fissional liberal contra cliente.

• Súmula 270 STJ. O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a com-petência para a Justiça Federal.

• Súmula 254 STJ. A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual.

• Súmula 235 STJ. A conexão não determina a reu-nião dos processos, se um deles já foi julgado.

• Súmula 224 STJ. Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

• Súmula 206 STJ. A existência de vara privativa, ins-tituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de processo.

• Súmula 161 STJ. É da competência da Justiça Esta-dual autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS/PASEP e FGTS, em decorrência do faleci-mento do titular da conta.

• Súmula 150 STJ. Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifi-que a presença, no processo, da União, suas autar-quias ou empresas públicas.

• Súmula 62 TFR. Compete à Justiça Federal proces-sar e julgar ação de desapropriação promovida por

Direito Processual Civil 467

• Súmula 430 STF. Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o man-dado de segurança.

• Súmula 271 STF. Concessão de mandado de segu-rança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.

• Súmula 269 STF. O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

• Súmula 268 STF. Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.

• Súmula 267 STF. Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição.

• Súmula 266 STF. Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.

• Súmula 101 STF. O mandado de segurança não substitui a ação popular.

• Súmula 376 STJ. Compete a turma recursal proces-sar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado especial.

• Súmula 333 STJ. Cabe mandado de segurança con-tra ato praticado em licitação promovida por socie-dade de economia mista ou empresa pública.

• Súmula 169 STJ. São inadmissíveis embargos infringentes no processo de mandado de segu-rança.

12.2 AÇÕES COLETIVAS

• Súmula 490 STJ. A dispensa de reexame necessá-rio, quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior a 60 salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas.

12.3 AÇÃO POPULAR

• Súmula 365 STF. Pessoa jurídica não tem legitimi-dade para propor ação popular.

12.4 AÇÕES E OUTROS PROCEDIMEN-

TOS CONSTITUCIONAIS

• Súmula vinculante 10. Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracio-nário de Tribunal que, embora não declare expres-samente a inconstitucionalidade de lei ou ato nor-mativo do poder público, afasta sua incidência, no todo em parte.

• Súmula 368, STF. Não há embargos infringentes no processo de reclamação.

INFORMATIVOS DE JURISPRU-

DÊNCIA

1 PARTES (LEGITIMIDADE), MINISTÉ-

RIO PÚBLICO E PROCURADORES

RHC 127258/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, 19.5.15. 2ª T.

A constituição de novo mandatário para atuar em processo judicial, sem ressalva ou reserva de poderes, enseja a revoga-ção tácita do mandato anteriormente concedido. (Info STF 786)

REsp 1.037.563-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia

Filho, DJe 3.2.15. 1ª T.

O fato de a PGFN ter atuado em defesa da União em causa não fiscal de atribuição da PGU não justifica, por si só, a invalida-ção de todos os atos de processo no qual não se evidenciou – e sequer se alegou – qualquer prejuízo ao ente federado, que exercitou plenamente o seu direito ao contraditório e à ampla defesa, mediante oportuna apresentação de diversas teses jurí-dicas eloquentes e bem articuladas, desde a primeira instância e em todos os momentos processuais apropriados. (Info STJ 554)

REsp 901.782, Rel. Min. Luis Salomão, 14.6.11. 4ª T.

As cooperativas são sociedades de pessoas que se caracterizam pela prestação de assistência a seus associados (art. 4º, X, da Lei 5.764/71). Desse modo, elas podem prestar assistência jurídica a eles, o que não extrapola seus objetivos. Contudo, em juízo, a cooperativa não pode litigar em nome próprio na defesa de direito de seus associados (substituição processual), pois cons-tata-se inexistir lei que preveja tal atuação, mesmo que se uti-lize da interpretação sistêmica entre o art. 83 e os demais dispo-sitivos da Lei 5.764/71. (Info STJ 477)

EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe

4.8.15. Corte Especial.

É desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja con-denação ao pagamento de indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC). (Info STJ 565)

AgRg no AREsp 630.235-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe

5.6.15. 1ª T.

Não cabe a condenação da Fazenda Pública em honorários advocatícios no caso em que o credor simplesmente anui com os cálculos apresentados em “execução invertida”, ainda que se trate de hipótese de pagamento mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV). (Info STJ 563)

REsp 1.414.394-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,

DJe 30.9.15. 3ª T.

O advogado não tem direito à percepção dos honorários fixados no despacho de recebimento da inicial de execução por quantia certa (art. 652-A do CPC), na hipótese em que a cobrança for extinta em virtude de homologação de acordo entre as partes em que se estabeleceu que cada parte arcaria com os honorários de seus respectivos patronos. (Info STJ 570)

PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 3.3.15.

2ª S.

Não se pode exigir, no âmbito do STJ, o recolhimento de custas judiciais quando se tratar de incidente processual de impugna-ção ao valor da causa, conforme a Lei 11.636/07. (Info STJ 556)

Maurício Ferreira Cunha468

EREsp 1.327.573-RJ, Rel. p/ ac. Min. Nancy Andrighi, DJe

27.2.15. Corte Especial.

O Ministério Público Estadual tem legitimidade para atuar diretamente como parte em recurso submetido a julgamento perante o STJ. (Info STJ 556)

REsp 1.151.639-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves,

10.9.14. 1ª S.

O Ministério Público não deve obrigatoriamente intervir em todas as ações de ressarcimento ao erário propostas por entes públicos. A interpretação do art. 82, III, do CPC à luz do art. 129, III e IX, da CF revela que o interesse público que justifica a inter-venção do MP não está relacionado à simples presença de ente público na demanda nem ao interesse patrimonial deste (inte-resse público secundário ou interesse da Administração). Exi-ge-se que o bem jurídico tutelado corresponda a um interesse mais amplo, com espectro coletivo (interesse público primário). (Info STJ 548)

Representação processual e cópia não autenticada – 4

Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, conheceu de agravo regimental interposto de decisão do Min. Menezes Direito que, em agravo de instrumento do qual então relator, entendera intempestivo recurso extraordinário não admitido pelo tribunal “a quo” por motivo diverso. No regimental, o Rela-tor asseverara que a petição estaria subscrita por advogada que não possuiria instrumento de mandato válido para representar a agravante, haja vista que o substabelecimento – que conferi-ria poderes à subscritora do presente agravo –, embora original, estaria assinado por advogada que, também, não possuiria pro-curação válida nos autos, uma vez que o substabelecimento, juntado na interposição deste agravo regimental, seria mera cópia reprográfica sem a necessária autenticação. Aduziu-se que a subscritora do agravo estaria devidamente credenciada pela parte agravante. Afastou-se a exigência de autenticação de peças trasladadas em cópia quando apresentadas pelo advogado. AI 741616 AgR/RJ, red. p/ ac. Min. Marco Aurélio, 19.3.2013. 1ª T. (Info 699, STF)

Análise dos efeitos de irregularidade processual à luz do

princípio do máximo aproveitamento dos atos processu-

ais.

O fato de um recurso ter sido submetido a julgamento sem anterior inclusão em pauta não implica, por si só, qualquer nulidade quando, para aquele recurso, inexistir norma que possibilite a realização de sustentação oral. Isso porque, apesar da ocorrência de irregularidade processual (inobservância do art. 552 do CPC), deve ser considerada a regra segundo a qual o ato não se repetirá, nem se lhe suprirá a falta, quando não prejudicar a parte (art. 249, § 1º, do CPC), em consonância com o princípio do máximo aproveitamento dos atos processuais. REsp 1.183.774-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18.6.2013. 3ª T. (Info 526, STJ)

AgRg no RE 591.123-RS. Rel. Min. Luiz Fux

Agravo regimental no recurso extraordinário. Provimento do recurso. Fixação de honorários de advogado, com inversão do ônus da sucumbência. 1. A Fazenda Pública, quando vencida, não impede a aplicação do disposto no art. 20, § 4º, combinado o § 3º, alíneas “a”, “b” e “c”, do CPC, fixando-se os ônus da sucum-bência com base no valor da causa. 2. ”In casu”, o Tribunal de origem condenou o contribuinte a pagar verba honorária no percentual de 10% sobre o valor da causa e, provido o recurso extraordinário, a Fazenda Pública restou vencida, sendo inverti-dos o ônus da sucumbência, o que está em consonância com a jurisprudência assente nesta Corte. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (Info 698, STF)

AgRg no AI 601.428-RJ. Rel. Min. Teori Zavascki

Agravo regimental no agravo de instrumento. Processual civil. Concessão de assistência judiciária a pessoa jurídica. Compro-vação de hipossuficiência. Análise. Reexame fático-probatório. Impossibilidade. Súmula 279/STF. Agravo regimental a que se nega provimento. (Info 695, STF)

Extensão da gratuidade de justiça aos atos praticados

por notários e registradores.

A gratuidade de justiça obsta a cobrança de emolumentos pelos atos de notários e registradores indispensáveis ao cum-primento de decisão proferida no processo judicial em que fora concedido o referido benefício. Essa orientação é a que melhor se ajusta ao conjunto de princípios e normas constitucionais voltados a garantir ao cidadão a possibilidade de requerer aos poderes públicos, além do reconhecimento, a indispensável efetividade dos seus direitos (art. 5º, XXXIV, XXXV, LXXIV, LXXVI e LXXVII, da CF). Com efeito, a abstrata declaração judicial do direito nada valerá sem a viabilização de seu cumprimento. AgRg no RMS 24.557-MT, Rel. Min. Castro Meira, j. 7.2.2013. 2ª T. (Info 517, STJ)

Legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação

de alimentos em proveito de criança ou adolescente.

Recurso repetitivo (ART. 543-C do CPC e RES. 8/2008-STJ).

O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente, independen-temente do exercício do poder familiar dos pais, ou de o infante se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Esta-tuto da Criança e do Adolescente (ECA), ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defen-soria Pública na comarca. De fato, o art. 127 da CF traz, em seu caput, a identidade do MP, seu núcleo axiológico, sua vocação primeira, que é ser “instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurí-dica, do regime democrático e dos interesses sociais e individu-ais indisponíveis”. Ademais, nos incisos I a VIII do mesmo dispo-sitivo, a CF indica, de forma meramente exemplificativa, as fun-ções institucionais mínimas do MP, trazendo, no inciso IX, cláu-sula de abertura que permite à legislação infraconstitucional o incremento de outras atribuições, desde que compatíveis com a vocação constitucional do MP. Diante disso, já se deduz um vetor interpretativo invencível: a legislação infraconstitucional que se propuser a disciplinar funções institucionais do MP poderá apenas elastecer seu campo de atuação, mas nunca subtrair atribuições já existentes no próprio texto constitucio-nal ou mesmo sufocar ou criar embaraços à realização de suas incumbências centrais, como a defesa dos “interesses sociais e individuais indisponíveis” (art. 127 da CF) ou do respeito “aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medi-das necessárias a sua garantia” (art. 129, II, da CF). No ponto, não há dúvida de que a defesa dos interesses de crianças e adoles-centes, sobretudo no que concerne à sua subsistência e integri-dade, insere-se nas atribuições centrais do MP, como órgão que recebeu a incumbência constitucional de defesa dos interesses individuais indisponíveis. Nesse particular, ao se examinar os principais direitos da infância e juventude (art. 227, caput, da CF), percebe-se haver, conforme entendimento doutrinário, duas linhas principiológicas básicas bem identificadas: de um lado, vige o princípio da absoluta prioridade desses direitos; e, de outro lado, a indisponibilidade é sua nota predominante, o que torna o MP naturalmente legitimado à sua defesa. Além disso, é da própria letra da CF que se extrai esse dever que trans-cende a pessoa do familiar envolvido, mostrando-se eloquente que não é só da família, mas da sociedade e do Estado, o dever de assegurar à criança e ao adolescente, “com absoluta priori-dade, o direito à vida, à saúde, à alimentação” (art. 227, caput), donde se extrai o interesse público e indisponível envolvido em ações direcionadas à tutela de direitos de criança e adolescente,