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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO Processo nº 0504942-53.2017.4.02.5101 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos procuradores da República signatários, vem, por meio desta, expor e requerer o que segue a respeito dos fatos narrados abaixo. 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS FATOS Em 14/11/2017, foi deflagrada a “Operação Cadeia Velha”, pela Força Tarefa da Lava Jato da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, a partir do aprofundamento das investigações iniciadas pela Procuradoria-Geral da República com a “Operação Quinto do Ouro”, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, e pela Força Tarefa da Lava Jato na Procuradoria da República no Rio de Janeiro com a “Operação Ponto Final”, perante esta 7ª Vara Federal Criminal. Desta feita, as investigações conduzidas em segunda instância demonstraram o recebimento de vultosos valores de propina por agentes políticos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quais sejam, os Deputados Estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, custeados, em parte, pelo caixa paralelo da FETRANSPOR, administrado pelo colaborador ÁLVARO NOVIS, sob o comando dos empresários de ônibus JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO e LÉLIS MARCOS TEIXEIRA. A decisão proferida pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região, nos autos da medida cautelar nº 0100524-17.2017.4.02.0000, determinou a prisão, dentre outros, do empresário JACOB BARATA FILHO, tendo sido cumprido, ainda, mandado de busca e apreensão em sua residência. 1/20

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL...neste processo, a partir de ordem concedida em habeas corpus pelo Ministro Gilmar Mendes, razão pela qual se justifica o restabelecimento da prisão

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO

Processo nº 0504942-53.2017.4.02.5101

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos procuradores da

República signatários, vem, por meio desta, expor e requerer o que segue a respeito dos

fatos narrados abaixo.

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS FATOS

Em 14/11/2017, foi deflagrada a “Operação Cadeia Velha”, pela

Força Tarefa da Lava Jato da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, a partir

do aprofundamento das investigações iniciadas pela Procuradoria-Geral da República

com a “Operação Quinto do Ouro”, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, e pela

Força Tarefa da Lava Jato na Procuradoria da República no Rio de Janeiro com a

“Operação Ponto Final”, perante esta 7ª Vara Federal Criminal.

Desta feita, as investigações conduzidas em segunda instância

demonstraram o recebimento de vultosos valores de propina por agentes políticos da

Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quais sejam, os Deputados Estaduais Jorge

Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, custeados, em parte, pelo caixa paralelo da

FETRANSPOR, administrado pelo colaborador ÁLVARO NOVIS, sob o comando dos

empresários de ônibus JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO e LÉLIS

MARCOS TEIXEIRA.

A decisão proferida pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª

Região, nos autos da medida cautelar nº 0100524-17.2017.4.02.0000, determinou a

prisão, dentre outros, do empresário JACOB BARATA FILHO, tendo sido cumprido,

ainda, mandado de busca e apreensão em sua residência.

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Ocorre que o material apreendido, compartilhado com essa Força

Tarefa da Lava Jato na Procuradoria da República do Rio de Janeiro por força de

decisão do Desembargador Relator nos autos nº 0100524-17.2017.4.02.0000, revelou o

descumprimento das medidas cautelares diversas da prisão que haviam sido decretadas

neste processo, a partir de ordem concedida em habeas corpus pelo Ministro Gilmar

Mendes, razão pela qual se justifica o restabelecimento da prisão preventiva de JACOB

BARATA FILHO, na forma do art. 312, parágrafo único, do Código de Processo Penal.

2. DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO IMPOSTAS A JACOB

BARATA FILHO

Tendo em vista a concessão da ordem no HC nº 146.666, em

17/08/2017, o Ministro Gilmar Mendes fixou, como medidas cautelares alternativas à

prisão de JACOB BARATA FILHO, as seguintes condições:

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Como se verifica, foi expressamente consignada, dentre outras, a

medida cautelar de suspensão do exercício de cargos na administração de

sociedades e associações ligadas ao transporte coletivo de passageiros, com fulcro

no art. 319, VI, do Código de Processo Penal.

A decisão liminar foi confirmada pela 2ª Turma do Supremo Tribunal

Federal, em 10/10/2017, com a concessão da ordem e manutenção de todas as medidas

cautelares diversas da prisão fixadas pelo Relator1:

Decisão: A Turma, por maioria, conheceu do presente habeas corpus

e concedeu a ordem, para, confirmando a liminar deferida,

substituir a prisão preventiva em desfavor do paciente Jacob

Barata Filho, decretada pelo Juízo da 7ª Vara Federal Criminal

da Seção Judiciária do Rio de Janeiro (Ação Penal 0504942-

53.2017.4.02.5101 e Autos 0504957-22.2017.4.02.5101), pelas

seguintes medidas cautelares diversas da prisão, na forma do

art. 319 do CPP: a) proibição de manter contato com os demais

investigados, por qualquer meio (II); b) proibição de deixar o país,

devendo entregar seu(s) passaporte(s) em até 48 (quarenta e oito)

horas (IV e art. 320); c) recolhimento domiciliar no período noturno e

nos fins de semana e feriados (V); d) suspensão do exercício de

cargos na administração de sociedades e associações ligadas

ao transporte coletivo de passageiros, e proibição de ingressar

em quaisquer de seus estabelecimentos (VI), nos termos do voto do

Relator, vencido o Ministro Edson Fachin, que não conhecia da

impetração. Falaram: pelo paciente, a Dra. Daniela Rodrigues

Teixeira, e pelo Ministério Público Federal, o Dr. Edson Oliveira de

Almeida. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello.

Presidência do Ministro Edson Fachin. 2ª Turma, 10.10.2017. (grifou-

se)

1 Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=5239481

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3. DAS PROVAS COLHIDAS NA RESIDÊNCIA DE JACOB BARATA FILHO

Não obstante a medida cautelar de suspensão do exercício de

cargos de administração fixada pelo Supremo Tribunal Federal, em vigor desde o dia

17/08/2017, o cumprimento da ordem de busca e apreensão na residência de JACOB

BARATA FILHO, em 14/11/2017, revelou documentos que demonstram o franco

descumprimento da decisão judicial por parte do empresário.

Com efeito, foram apreendidos diversos documentos que

comprovam a atual atividade de JACOB BARATA FILHO na administração de empresas

de transporte coletivo de seu grupo familiar, incluindo, ainda, algumas empresas

envolvidas diretamente nos fatos ilícitos objeto das ações penais nº 0505914-

23.2017.4.02.5101 e 0505915-08.2017.4.02.5101, relacionados a crimes de corrupção,

contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro e organização criminosa, no

âmbito da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio de Janeiro –

FETRANSPOR.

Vejamos, nesse sentido, o seguinte documento, datado de

31/10/2017, que trata da situação da frota da VIAÇÃO PENDOTIBA S/A, uma das

empresas que contribuíam para a “caixinha” da propina da FETRANSPOR, que custeou

pagamentos ao ex-governador SÉRGIO CABRAL e ao ex-presidente do DETRO

ROGÉRIO ONOFRE:

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Vale rememorar a tabela com os dados consolidados2 a respeito dos

valores arrecadados nas empresas de ônibus e registrados na contabilidade paralela

entregue por ÁLVARO NOVIS, que chegou a receber, apenas no período de janeiro de

2013 a fevereiro de 2016, aportes de R$ 250.580.638,13 (duzentos e cinquenta milhões,

quinhentos e oitenta mil, seiscentos e trinta e oito Reais e treze centavos), dos quais a

empresa VIAÇÃO PENDOTIBA S/A, de JACOB BARATA FILHO, contribuiu com mais

de R$ 11 milhões:

2 Conforme apontado no Relatório de Pesquisa nº 5940/2017, da Assessoria de Pesquisa e Análise– ASSPA do MPF, em anexo.

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De fato, o documento apreendido na residência de JACOB BARATA

FILHO não deixa dúvidas de que o réu continua participando da gestão da empresa de

transportes VIAÇÃO PENDOTIBA S/A, em franco descumprimento da ordem judicial

proferida pelo Supremo Tribunal Federal no HC nº 146.666.

Não bastasse, foram apreendidos diversos documentos como:

relatórios gerenciais, balancetes financeiros, relação de pessoal e situação de frota,

relativos aos meses de setembro e outubro de 2017, ou seja, posteriores à medida

de suspensão das atividades de administração das empresas de transportes

coletivos.

Alguns relatórios gerenciais contam, inclusive, com a indicação

nominal de JACOB BARATA FILHO, na capa:

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O conteúdo dos documentos deixa evidente que se trata de matéria

relativa à administração atual das empresas de transportes coletivos do grupo

econômico de JACOB BARATA FILHO, como exemplificam as seguintes imagens:

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No documento a seguir, referente a projeto de expansão do sistema

de monitoramento nas frotas das VIAÇÕES UTIL, SAMPAIO, REAL EXPRESSO,

RÁPIDO FEDERAL e EXPRESSO GUANABARA, datado de 01/09/2017, constam

anotações manuscritas de JACOB BARATA FILHO, com claras observações acerca do

projeto e orientações sobre a sua implantação. Veja-se:

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Outro documento, com data de 20/10/2017, trata de estudo acerca

da participação em licitação de transporte, com análise comparativa entre diferentes

formatos empresariais e previsão editalícia:

Também foram apreendidas anotações manuscritas de JACOB

BARATA FILHO, que tratam de mudanças na gestão da FETRANSPOR, com a

sugestão de nova estrutura do conselho de administração “4 – Futuro conselho c/

conselheiro externo e sem vice (nº de conselheiros por modal na proporção do

passageiro transportado) (talvez um conselho de estado)” e implantação de compliance:

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Foi localizado, ainda, e-mail impresso com assunto “Garagem

Guanabara – Bota fora resíduos de demolição FINAL”, no qual consta bilhete solicitando

ordem de JACOB BARATA FILHO (JF) : “JF, essa é a medição final do bota fora de

entulho. Posso efetuar o pgto.? Ana BJ”. O documento indica que o pagamento por

reforma realizada em uma garagem da viação GUANABARA está sujeito a aprovação de

JACOB BARATA FILHO, nítido ato de gestão da empresa. Confira-se:

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De fato, a expressiva quantidade de documentos apreendidos3 e o

seu conteúdo não deixam dúvidas de que JACOB BARATA FILHO continua participando

ativamente da administração das empresas de transporte de seu grupo familiar,

gerenciando seus negócios e influenciando na tomada de decisões dessas empresas.

Para além de meros informativos sobre a situação financeira de suas

inúmeras empresas, os documentos demonstram a ingerência de JACOB BARATA

FILHO em questões da administração cotidiana das pessoas jurídicas, como controle

sobre os números de suas frotas, quantidade de empregados, projetos para expansão

de monitoração das frotas, ordens de pagamentos de despesas e participação em novas

licitações, além da reestruturação administrativa da FETRANSPOR, com mudanças na

composição de seu conselho e implantação de programa de compliance.

Vale lembrar que a análise dessas provas não pode ser dissociada

do contexto de fundo das investigações criminais que revelam o papel de gestão e

liderança exercido por JACOB BARATA FILHO nas empresas de seu grupo familiar.

Esse cenário, aliado às robustas provas colhidas em 14/11/2017 e

compartilhadas nestes autos, permite concluir que o empresário não se desligou de suas

funções na administração das empresas de transportes coletivos e continua exercendo

tais atividades, em absoluto descumprimento da medida cautelar imposta pelo Supremo

Tribunal Federal em substituição à prisão preventiva decretada nestes autos.

4. DA NECESSIDADE DE RESTABELECIMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA:

O art. 312, parágrafo único, do Código de Processo Penal, é

cristalino ao prever o cabimento da prisão preventiva em caso de descumprimento das

medidas cautelares diversas da prisão:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da

ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução

3 Constam em anexo parte dos documentos apreendidos, relacionados às atividades de gestão deempresas de tranportes, objeto deste pedido cautelar. A íntegra do material apreendido estáacautelado na Polícia Federal e será juntado aos autos tão logo disponíveis.

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criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver

prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada

em caso de descumprimento de qualquer das obrigações

impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).

A partir da disposição legal, vale rememorar o contexto em que

decretada inicialmente a prisão preventiva de JACOB BARATA FILHO e outros

empresários de ônibus do Rio de Janeiro, por ordem desta 7ª Vara Federal Criminal: no

âmbito de investigação que descortinou esquema sistemático e duradouro de pagamento

de valores milionários de propina a diversos agentes públicos, dentre eles, mais de R$

144 milhões ao ex-Governador do Estado, SÉRGIO CABRAL, e cerca de R$ 44 milhões

ao ex-Presidente do DETRO, ROGÉRIO ONOFRE.

Recentemente veio à tona a participação do empresário em mais um

episódio de corrupção milionária, no âmbito da “Operação Cadeia Velha”, relativo ao

pagamento de propina aos Deputados Estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson

Albertassi, ao menos até maio deste ano, o que demonstra a atualidade de suas

condutas ilícitas.

Restou evidenciado que atividade criminosa foi desempenhada ao

longo de vários anos pelos denunciados, de forma organizada, estruturada e com

repartição de tarefas, no âmbito de complexa organização criminosa que se instalou no

Estado do Rio de Janeiro e que permanece em atuação, mesmo após a prisão de

diversos integrantes, a partir da deflagração da Operação Calicute, há quase um ano.

Vale ressaltar que o empresário JACOB BARATA FILHO responde

a três ações penais perante a 7ª Vara Federal, havendo robusto material probatório

acerca dos crimes de corrupção e organização criminosa imputados, dentre outros,

sendo certo que a continuidade de sua atuação à frente das empresas de transporte

representa, não só, o fundado receio de que venha a persistir nas práticas criminosas,

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como também, possa influenciar na produção de provas e na instrução dos processos

em curso.

Assim, forçoso reconhecer que a decretação de sua prisão

preventiva é medida inarredável, única capaz e suficiente de atender às garantias da

ordem pública e da higidez da instrução processual, diante dos novos fatos concretos

apresentados.

5. DO PEDIDO

À vista do exposto, requer o MPF, com fulcro no artigo 312,

parágrafo único, do Código de Processo Penal, o restabelecimento da prisão

preventiva de JACOB BARATA FILHO, tendo em vista o descumprimento das

medidas cautelares diversas anteriormente fixadas.

Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2017.

JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOSPROCURADOR REGIONAL DA REPÚBLICA

LEONARDO CARDOSO DE FREITASPROCURADOR REGIONAL DA REPÚBLICA

EDUARDO RIBEIRO GOMES EL HAGEPROCURADOR DA REPÚBLICA

RODRIGO TIMÓTEO DA COSTA E SILVAPROCURADOR DA REPÚBLICA

SERGIO LUIZ PINEL DIASPROCURADOR DA REPÚBLICA

RAFAEL A. BARRETTO DOS SANTOSPROCURADOR DA REPÚBLICA

MARISA VAROTTO FERRARIPROCURADORA DA REPÚBLICA

FABIANA KEYLLA SCHNEIDERPROCURADORA DA REPÚBLICA

FELIPE ALMEIDA BOGADO LEITEPROCURADOR DA REPÚBLICA

Documento eletrônico assinado digitalmente. Data/Hora: 16/11/2017 09:59:57Signatário(a): EDUARDO RIBEIRO GOMES EL HAGECódigo de Autenticação: 8FB41371AAD31B81B95F95586A18E275Verificação de autenticidade: http://www.prrj.mpf.mp.br/transparencia/autenticacao-de-documentos/

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