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Lorena Ribeiro De Carvalho Sousa O dever de fundamentação NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Das decisões

MIOLO DeverdeFundamentação 180419 Nathalia · O CPC/2015 é um grande passo rumo à efetividade dos princípios constitucionais do processo. Isso porque a nova lei se inicia trazendo

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O CPC/2015 é um grande passo rumo à efetividade dos princípios constitucionais do processo. Isso porque a nova lei se inicia trazendo aqueles princípios em seus primeiros artigos – e complementado pelo art. 489 a respeito da fun-damentação das decisões. A novidade não está no fato de que a lei processual “repete” o que a Constituição já diz mas sim que coloca os princípios como o norte que deverá guiar a interpretação, compreensão, aplicação de todo o Código. Assim, mais uma vez, compreender os princípios processu-ais e seu papel na nova ordem normativa se mostra essen-cial e a obra presente é, desde já, uma referência essencial”.

A edição do artigo 489, §1°, do Código de Processo Civil de 2015 busca fortalecer e dar cumprimento à garantia consti-tucional da fundamentação das decisões, estatuída na Consti-tuição de 1988. O dispositivo em questão prevê maneiras adequadas de fundamentar de-cisões, principalmente quando se objetiva aplicar, como funda-mento, regras, princípios, súmu-las ou precedentes ajustados às particularidades do caso. A pro-posta do livro é mostrar como as inovações trazidas pelo mencionado artigo ao dispor sobre o que é necessário para que uma decisão seja conside-rada fundamentada são contra-postas pelas decisões do STJ, a fim de verificar se a novel le-gislação tem conseguido mudar práticas arraigadas de negação do mandamento constitucional de fundamentação das decisões (art. 93, IX, da CRFB/88).

Lorena Ribeiro De Carvalho

Sousa

Mestre em Direito Processual pela PUC-MG. Professora de Graduação e Pós-Graduação em Direito da PUC-MG. Advogada.

ISBN 978-65-80444-13-7

Lorena Ribeiro De Carvalho Sousa

O dever de

fundamentação

NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Das decisõestrecho do prefácio, por alexandre bahia

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O dever de

fundamentação

NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Das decisões

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Lorena Ribeiro De Carvalho Sousa

O dever de

fundamentação

NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Das decisões

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Copyright © 2019, D’Plácido Editora.Copyright © 2019, Lorena Ribeiro de Carvalho Sousa.

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa, projeto gráficoLetícia Robini

DiagramaçãoNathalia Torres

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843, Savassi

Belo Horizonte – MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida,

por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

SOUSA, Lorena Ribeiro de Carvalho.O Dever de Fundamentação das Decisões no Código de Processo Civil de

2015 -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2019.196 p.

ISBN: 978-65-80444-13-7

1. Direito. 2. Direito Processual Civil. I. Título.

CDD341.46 CDU347.9

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(...) se o destino das pessoas que litigam, afinal de contas, dependeria da intuição de quem julga; e se intuir é o mesmo que pressentir, ou que ter

conhecimento sem recorrer ao raciocínio, então o julgamento não seria fruto da razão.

YARSHELL, 2016, p. 13

Sempre que você estiver disposto a avançar, estará sujeito a errar. Movimentar-se é arriscar-se.

SAMER AGI, 2017

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AGRADECIMENTOS

Tecer agradecimentos, após a longa jornada percorrida para se construir uma pesquisa, é mais que um gesto de gratidão, torna-se uma obrigação ao pesquisador. O conhecimento não é construído de forma solitária, de sorte que as interlocuções e os saberes – teóricos e de vida (porque não) – são contributos para a produção (e reflexão) das linhas aqui desenvolvidas.

O primeiro agradecimento tenho que atribuir à minha orien-tadora, professora Flaviane de Magalhães Barros, que muito mais que uma mestra a me auxiliar na condução desta dissertação, soube suportar meus “dramas” e me ensinou a ser uma pessoa mais forte e determinada. Sim: é um exemplo de pesquisadora!

Teço agradecimentos aos membros da banca examinado-ra, professores doutores Dierle José Coelho Nunes e Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes Bahia, que contribuíram com críticas e apontamentos esta pesquisa.

Agradeço, de igual forma, aos professores do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC Minas, professores doutores Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias (que foi a alavanca propulsora para meu ingresso no programa); Rosemiro Pereira Leal; Alberico Alves da Silva Filho; Antônio Cota Marçal e, em especial, Dierle José Coelho Nunes, pela oportunidade de me conceder valiosas lições da docência durante o estágio realizado; sem sombra de dúvida, minha fonte de inspiração.

Não poderia me esquecer de agradecer aos colegas que o PPGD - PUC Minas me presenteou: Alisson Martins, Alexandre

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Rocha, Alexandre Varella, Alana Mendes, Allan Milagres, Érica Alves, Felipe Vaz, Helena Freitas, João Carlos Salles, Lidiane Reis, Lucas Theodoro Dias, Luís Gustavo Mundim, Natanel Lud, Már-cio Melo e tantos outros que nestas breves linhas não cabem a expressar, pelas ricas interlocuções e pelas angústias compartilhadas.

Ademais, sem o suporte familiar, jamais conseguiria dar este passo. Por isso, meu agradecimento especial à minha amada família, sobretudo aos meus pais, Neison e Lucienne, a minha irmã, Rafaela, aos meus avós e tios que tiveram que lidar com minhas ausências e não mediram esforços para me amparar nesta árdua caminhada.

À Paulina e à Maria Cândida, pela hospitalidade em me acolher.A Gustavo Andrade, pelo apoio e companheirismo prestado.Aos colegas de escritório pela compreensão e apoio conferido.Aos que não foram citados neste singelo agradecimento,

mas lembrados na memória, também deixo registrado minha profunda gratidão.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 13

PREFÁCIO 15

1. INTRODUÇÃO 21

2. DECISÃO JUDICIAL E O RESGATE DO CASO CONCRETO 29

2.1. Enfrentando pontos críticos do Positivismo Jurídico 302.2. A insuficiência da decisão judicial

como ato silogístico 392.3. A decisão judicial como ato não-silogístico:

a relevância do caso concreto 432.3.1. O contributo de Friedrich Müller 432.3.2. O contributo de Ronald Dworkin 47

3. O DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 59

3.1. Os órgãos jurisdicionais devem julgar casos e não “teses” 60

3.2. O que torna uma decisão fundamentada no Estado Democrático de Direito? 71

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3.2.1. Noção de Estado Democrático de Direito 713.2.2. O exercício da função jurisdicional

no Estado Democrático de Direito 813.2.3. O modelo constitucional de processo e

a garantia da fundamentação das decisões 883.2.4. A conexão entre o contraditório como

garantia de influência e não surpresa e a fundamentação das decisões judiciais 97

4. O DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015: UMA ANÁLISE SOBRE O ARTIGO 489, §1º, CPC/15 107

4.1. Indicação, reprodução ou paráfrase de ato normativo sem explicar a sua relação com a causa ou com a questão decidida (artigo 489, §1º, I, do CPC/2015) 111

4.2. Emprego de conceitos jurídicos indeterminados sem explicar o motivo concreto de sua incidência ao caso (artigo 489, §1º, II, do CPC/2015) 114

4.3. Apresentação de motivos que se prestariam como justificação a qualquer outra decisão (artigo 489, §1º, III, do CPC/2015) 116

4.4. Enfrentamento de todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador (artigo 489, §1º, IV, do CPC/2015) 118

4.5. Emprego de precedente ou enunciado de súmula sem identificar sua ratio decidendi nem demonstrar que o caso em julgamento se ajusta aos mesmos fundamentos (artigo 489, §1º, V, do CPC/2015) 123

4.6. Inobservância de súmula, jurisprudência ou precedente suscitado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a

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superação do entendimento jurisprudencial (artigo 489, §1º, VI, do CPC/2015) 130

5. ANÁLISE DE DECISÕES: O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E O DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO PÓS CPC/15 135

5.1. Introdução metodológica do levantamento de dados 138

5.2. Análise dos resultados obtidos 1425.3. Aportes conclusivos 166

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 173

REFERÊNCIAS 177

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LISTA DE ABREVIATURAS E S IGLAS

AgRg Agravo RegimentalAmpl AmpliadaAREsp Agravo em Recurso EspecialArt. ArtigoAtual AtualizadaCoord. CoordenadorCPC/73 Código de Processo Civil de 1973CPC/15 Código de Processo Civil de 2015CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988DJe Diário da Justiça EletrônicoEd EdiçãoEDcl Embargos de DeclaraçãoEREsp Embargos de Divergência em Recurso EspecialNº NúmeroOrg. OrganizadorRel RelatorREsp Recurso EspecialSTJ Superior Tribunal de JustiçaTJ Tribunal de JustiçaV. Volume

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PREFÁCIO

Fiquei muito honrado com o convite para prefaciar a obra da Lorena Ribeiro de Carvalho Sousa: O DEVER DE FUN-DAMENTAÇÃO DAS DECISÕES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.

Estive na Banca de Mestrado da autora junto ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, que foi orientada pela Profa. Flaviane de Magalhães Barros Bolzan de Morais. Dividiu a mesa de avaliação comigo também o Prof. Dr. Dierle Nunes.

Falar sobre a necessidade de uma reconstrução do instituto da fundamentação das decisões judiciais não poderia ser mais urgente e necessário. E isso não apenas pela alteração formal do ordenamento provocada pelo Código de Processo Civil de 2015, mas, principalmente, pelo pano de fundo por trás da nova lei processual e o que ela implica para o aprofundamento do modelo constitucional de processo.

O novo Código de Processo Civil trouxe inúmeras novidades não somente quanto à técnica mas, principalmente, em razão de uma concepção principiológica do Processo a partir da Consti-tuição e, nesse sentido, é uma resposta aos grandes desafios que enfrentamos na atual quadra do Estado Democrático de Direito que exigem do profissional da área o conhecimento dos princípios processuais como “trunfos” (no sentido dado por Dworkin) para a defesa dos direitos fundamentais dos sujeitos processuais e dos destinatários dos provimentos.

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Após 30 anos do novo constitucionalismo, percebemos vários avanços mas também retrocessos. Um e outro mostram, de toda sorte, a formação de uma cultura política de direitos, é dizer, que se naturaliza a ideia de que todas/os são sujeitos de direitos e que estes podem ser exigidos, inclusive por via judicial. Esse é um tema que perpassa a obra, é dizer, o acesso democrático, efetivo e amplo ao Judiciário, o que inclui não somente meios mais acessíveis de entrada mas também de efetividade de permanência e de garantias processuais de que as razões serão levadas a sério na formulação da decisão final – devido processo legal, contraditório, ampla defesa desembocando, claro na revisitação da Teoria da Decisão Judicial, mais especificamente, dos exigentes requisitos quanto à fundamentação das decisões. Tais princípios constitucionais são essenciais para uma jurisdição constitucionalmente adequada tratados na presente obra. De pouco serviria o acesso amplo ao Judiciário se a resposta dada pelo Estado-juiz não levasse a sério os direitos e garantias fundamentais traduzindo isso em uma decisão adequada – isto é, bem fundamentada.

O CPC/2015 é um grande passo rumo à efetividade dos princípios constitucionais do processo. Isso porque a nova lei se inicia trazendo aqueles princípios em seus primeiros artigos – e complementado pelo art. 489 a respeito da fundamentação das decisões. A novidade não está no fato de que a lei processual “repete” o que a Constituição já diz mas sim que coloca os princípios como o norte que deverá guiar a interpre-tação, compreensão, aplicação de todo o Código. Assim, mais uma vez, compreender os princípios processuais e seu papel na nova ordem normativa se mostra essencial e a obra presente é, desde já, uma referência essencial.

Quanto aos desafios, há problemas antigos e novos. A morosi-dade do Judiciário e sua incapacidade de ofertar decisões que sejam efetivas ainda são desafios que não foram solucionados mesmo após a profusão de mudanças na lei processual desde os anos 1990. Nesse sentido uma das grandes apostas do Novo CPC é sistematizar (o que já havia) e aumentar a aposta no uso de precedentes e mecanis-mos de uniformização e estandartização de entendimentos – a referência principal quanto a isso é o art. 926.

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Ainda que seja louvável a preocupação com a isonomia nas decisões – e, de quebra, com a diminuição do número de processos e, logo, teoricamente, o aumento da velocidade nos provimentos –, é preciso lembrar que, com ou sem o uso de precedentes, os princípios processuais sempre se impõem, é dizer, por exemplo, contraditório/ampla defesa e fundamentação substancial das decisões sempre terão de estar presentes, qualquer que seja a decisão.

Sobre novos desafios é preciso que seja criada uma nova cultura quanto à fundamentação das decisões: ainda que desde a Constituição fosse claro que o papel do juiz ao dar as razões que levaram à formação do entendimento é algo essencial à validade/legitimidade do arrazoado isso, infelizmente, ainda não havia sido capaz de influenciar o dia a dia da maioria dos tribunais. Isso se torna ainda mais problemático, como dissemos, quando se soma à cultura antiga a nova práxis de “copiar e colar” “precedentes”/ementas/Súmulas/ sem se fazer a necessária mediação com o caso. Daí que a explicação sobre o que é fun-damentar uma decisão judicial dada pelos parágrafos 1o e 2o do art. 489 veio em boa hora e coloca, então, um grande desafio aos operadores do direito.

Os princípios processual-constitucionais mostram que a tarefa de conduzir uma causa e julgá-la é trabalho árduo que não pode ser aliviado pelo uso incorreto de precedentes. Contraditório e Fundamentação Substancial das Decisões sempre irão impor que o uso de leis, súmulas, precedentes, etc., na solução de um caso, seja feito com o confronto analítico daqueles com as especificidades do caso concreto.

A proposta, então, do livro, é mostrar as inovações trazidas pelo parágrafo 1o do art. 489 do CPC/2015 ao dispor sobre o que é necessário para que uma sentença seja considerada fundamentada – e, logo, válida – e então contrapor tais exigências com decisões do STJ para se verificar se a nova lei tem conseguido mudar práticas arraigadas de negação do mandamento constitucional de fundamentação das decisões – art. 93, IX da CR/88.

Após a Introdução (Capítulo 1), no Capítulo 2 a autora mostra a insuficiência da doutrina positivista do Direito de dar

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conta das exigências que um modelo constitucional de processo implicam para a fundamentação das decisões. Mostra que mesmo neo-positivistas mais sofisticados como Kelsen e Hart acabam sendo vítimas de armadilhas de suas próprias propostas de “pu-reza” no Direito, é dizer, tanto um como outro, no afã de retirar da ciência do Direito qualquer questão fora da norma jurídica, acabam dando ao juiz o poder de decidir livremente quando não houvesse “regra” que regulasse os “casos difíceis” – tal falha é chamada de giro decisionista e mostra que o Positivismo e, logo, a compreensão do Direito como sistema de regras, não é suficiente para dar conta da fundamentação das decisões judiciais a partir da 2a metade do século passado – a despeito de, ainda hoje, não ser raro que juízes e tribunais ainda decidam com fundamentos em “clareza da norma” ou “consciência”.

Uma e outra ideias ainda partem da falida noção de que de-cidir seja tarefa fácil que caiba em um esquema de silogismo – o uso de uma tal ferramenta apenas pode ser feito se, de um lado, se acredita que a norma “é um dado” e/ou que “a lei fala por si mesma” (perspectivas há muito superadas pelo próprio Kelsen) ou se, de outro lado, se o Judiciário decide casos à revelia de suas especificidades mas, tão-somente, a partir da “tese” (do tema) que deles se extrai 1 - questão que é retomada no Capítulo 3.

Para se contrapor a isso a autora se funda nas contribuições de Friedrich Müller e Ronald Dworkin, isto é, dois autores que mostrarão que uma decisão apenas pode estar correta se levar a sério a complexidade do Direito como sistema de regras e princípios e somar a isso as particularidades do caso concreto.

No Capítulo 3, autora resgata a discussão sobre o Processo Constitucionalizado, superando-se a ideia daquele como “relação jurídica”, ou seja, de uma concepção centrada no magistrado (“jurisdição autocrática”, como denominado pelo autor da obra) e no qual as partes comparecem apenas para fornecer os dados com que ele pode dar uma decisão – que, além de resolver a lide, também pode gerar “paz social” e outras finalidades extra-autos –,

1 Como já temos criticado há alguns anos: BAHIA, Alexandre. Recursos Extra-ordinários no STF e no STJ. 2 a ed. Juruá: Curitiba, 2016, p. 222 e segs. e 354.

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para o processo visto a partir da Constituição no qual juiz e partes não se encontram em situação de hierarquia mas de comunhão de trabalho para a resolução do caso (e dele apenas) e no qual as partes comparecem em contraditório, de tal sorte que a decisão seja o produto daquilo que foi discursivamente debatido e não da “consciência” do magistrado.

Nesse Capítulo também são retomados os fundamentos do que significa o Estado Democrático de Direito para a função jurisdicional face à necessidade de se levar a sério o Direito e sua aplicação na resolução de casos. Na era do processo constitucio-nalizado em que vivemos os princípios deixaram de ser apenas fatores de colmatação de lacunas para serem concebidos como normas jurídicas, logo, de cumprimento obrigatório. Isso deu à Constituição – e com ela aos princípios – um novo papel: de mera “declaração de boas intenções destinada ao legislador”, se transformou em norma cogente sobre todos os atos, públicos e privados, e, logo, sobre o processo.

Um destaque especial é dado à reformulação do “contra-ditório substancial” e sua relação com o que passa a significar (e exigir) a fundamentação das decisões judiciais. O contraditório deixa de ser apenas “dizer e contradizer” para incorporar, também, as garantias de influência e não surpresa; isso leva a que, ao mesmo tempo, para que aquele princípio seja realizado, seja necessária uma nova compreensão do que significa fundamentar uma decisão.

O Capítulo 4 trata, justamente, de analisar cada um dos incisos do parágrafo 1o do art. 489 do CPC para mostrar o que é necessário para que se considere fundamentada uma decisão. Não iremos nos alongar aqui no trabalho minucioso feito pela autora. Apenas é preciso dizer que se trata de uma das melhores e mais consistentes análises que já tive a oportunidade de ler a respeito do que impõe aquela normativa.

No Capítulo 5 a autora contrapõe toda a análise normativa e doutrinária feita para aplica-la em alguns casos julgados pelo STJ para mostrar, ao fim, que aquele Tribunal ainda não foi capaz de reconhecer a necessidade de mudança de postura exigida pelo CPC/2015: não há, na produção das ementas, por exemplo, o cui-dado necessário para se refletir as questões específicas do caso que

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se está julgando, o que acaba por permitir que, ao se trabalhar com “jurisprudência”, o Tribunal decida casos que apenas parecem simi-lares porque, ao invés de se debruçar em fazer uma análise exaustiva entre o precedente e o caso que se está julgando, toma-se daquele apenas a ementa e deste apenas o tema, o que contraria não apenas o CPC mas, principalmente, o dever constitucional de fundamentação.

Nesses termos, a obra se mostra não apenas atual, mas central no debate acerca do processo brasileiro nestes tempos pós novo Código de Processo Civil e, principalmente, dos desafios do modelo constitucional de processo em um país como o Brasil, abordando de forma exaustiva e acessível as exigências quanto à fundamentação das decisões judiciais na atualidade, ferramenta essencial no dia a dia de qualquer operador do Direito.

Belo Horizonte, abril de 2019

Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes BahiaDoutor em Direito Constitucional pela UFMG

Prof. Adjunto na UFOP e IBMEC

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1

1. INTRODUÇÃO

Perquirir as bases teóricas para estabelecer uma compreensão sobre o dever da fundamentação das decisões pode parecer – a princípio – uma reprodução de conhecimentos já expostos em várias obras, que, com profundidade, abordam o tema1. Mas a pro-posta da presente pesquisa, como será desenvolvida aos longos dos capítulos, buscará evidenciar que, não obstante ser a temática um chamariz para o estudioso da ciência processual, ainda há pontos nebulosos sobre os quais ainda se faz necessária a investigação.

A preocupação com a fundamentação das decisões não é recente. Buscam os estudiosos da ciência do direito processual encontrar mecanismos para assegurar que a garantia constitu-cional, estatuída no artigo 93, IX, da Constituição brasileira de 19882, seja observada em todos os tipos de processo, quer seja legislativo, jurisdicional ou administrativo.

1 Essa advertência é feita por Flávio Luiz Yarshell no prefácio da dissertação de Rodrigo Ramina de Lucca, haja vista os estudos desenvolvidos pela literatura jurídica nacional e estrangeira que cuidaram do objeto desta presente pesquisa. Contudo, é certo que “conquanto o tema (da motiva-ção) já tenha sido objeto de clássica doutrina que a ele já se dedicou com profundidade, os desafios se renovam e parecem se tornar cada vez mais complexos, especialmente no contexto dos conflitos típicos da sociedade de produção” (YARSHELL, 2016, p. 14).

2 “Art. 93. (...) IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito

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Na atual quadra histórica, e com os avanços propiciados pelos estudos da ciência processual, tem-se que o conteúdo do ato de-cisório não pode mais se resumir no que o julgador acredita ser o direito aplicável, segundo seu livre convencimento; tampouco pode corresponder a uma aplicação mecânica sobre o que os tribunais superiores, dentro do ordenamento jurídico brasileiro, atribuem como tese jurídica, a ser aplicada irrefletidamente e sem preocu-pação com o caso concreto, em prol da busca por uma eficiência quantitativa (de números).

Pensar a construção da decisão, sob este viés, só permite a perpetuação de um protagonismo judicial, incompatível com o Estado Democrático de Direito. Faz-se necessário, de uma vez por todas, delimitar o conteúdo da decisão, em especial da judicial (objeto deste estudo), e garantir maior democraticidade e legiti-midade da função jurisdicional.

Com efeito, parte-se da perspectiva de que, com a promulga-ção e vigência do novo Código de Processo Civil brasileiro – Lei n° 13.105/2015, editado sob a égide do Estado Democrático de Direito, instituído pela Constituição de 1988, torna-se relevante o estudo e a reflexão dos novos institutos implementados pela nova sistemática do código no que tange ao dever de fundamentar e, sobretudo, suas implicações na prática jurídica.

Não se pode perder de vista que a novel legislação processual visa a contribuir para uma expansividade à aplicação do direito, de modo a criar uma verdadeira sintonia aos princípios e garantias processuais – destaque para o contraditório (art. 5º, LV) e a fun-damentação das decisões (art. 93, IX) – previstos na Constituição brasileira de 1988.

Nesse sentido, a presente pesquisa visa a responder a seguinte indagação: em que medida o conteúdo decisório proferido pelos órgãos jurisdicionais brasileiros, especificamente o Superior Tri-bunal de Justiça, leva em consideração o caso concreto debatido pelas partes, após a vigência da regra processual prevista nos incisos do §1º do artigo 489, da Lei 13.105/2015?

à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação” (BRASIL, 1988).

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Em uma análise de como os órgãos jurisdicionais brasileiros vêm interpretando os institutos consagrados pelo novo Código de Processo Civil, pretende-se demonstrar sinais de que um dos mais louváveis objetivos perseguidos pela nova sistemática não seja devidamente atendido, qual seja: a possibilidade das decisões serem proferidas em respeito a um locus procedimental, em que sejam assegurados os princípios e as garantias processuais constitucio-nais – em especial, o contraditório – inviabilizando a ascensão de foco de protagonismos, quer das partes, quer dos magistrados, e garantindo a elaboração participada da decisão, que enfrente todas as questões debatidas pelos sujeitos processuais, e que também se atente para análise contextualizada ao caso concreto.

Para se alcançarem os objetivos desta pesquisa e estabelecer uma hipótese ao problema levantado, fazem-se necessários aportes teóricos que permeiam conceitos da teoria do direito3 e da ciência do direito processual, alicerçada numa perspectiva constitucional democrática, a partir do modelo constitucional de processo4. Da mesma forma, proceder-se-á um estudo empírico a partir da análise de decisões dos Tribunais Superiores brasileiros, para verificar se há a observância (ou não) do caso concreto contextualizado, nos termos do art. 489, §1º, do CPC/15, na fundamentação do ato decisório.

Em um primeiro momento, o estudo perpassará, brevemente, sobre o mito positivista da completude do ordenamento jurídico, associada à técnica de julgamento do silogismo, que mascara a discricionariedade no ato de decidir. Ao limitar o trabalho her-menêutico do julgador a simples fórmulas (quase matemáticas) de acoplamento das circunstâncias fáticas ao texto normativo, autoriza-se que o aplicador deixe de expor os reais motivos que o levaram a deliberar sobre determinado argumento em detrimento

3 É de se ressaltar que a presente dissertação não tem a pretensão de fazer incursões aprofundadas sobre noções que permeiam à teoria do direito e à hermenêutica jurídica, embora tangencie alguns aspectos teóricos. A preocu-pação recai – mormente – em traçar condições para a compreensão mínima de decisão judicial e caso concreto, que se alinhe à perspectiva estudada sobre o dever de fundamentação das decisões.

4 Pontua-se que a presente pesquisa parte dos aportes teóricos ofertados por Ítalo Augusto Andolina e Giuseppe Vignera, sobretudo a partir da obra “I fondamenti costituzionali dela giustizia civile”.

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de outro. Logo, inevitavelmente, a decisão jurisdicional, no contexto positivista, conduz à discricionariedade.

Para demonstrar que não há como a aplicação judicial ser dissociada do contexto do caso concreto, da realidade, parte-se, como suporte ao problema levantado, das concepções teóricas de Friedrich Müller, colhidas de suas obras “Métodos de trabalho do direito constitucional” e “Teoria Estruturante do Direito”, que sustenta a inviabilidade de aplicação de uma norma jurídica apartada das especificidades do caso concreto, ou seja: a norma jurídica não preexiste ao texto previsto nos códigos, regras, súmulas, mas sim é resultante de um processo de concretização, de modo que parte da realidade se comunica com o texto da norma. A norma é concreta e co-constitutiva do caso concreto.

Por outro lado, mostra-se, de igual forma, relevante para o desenvolvimento da pesquisa o estudo da Teoria do Direito como Integridade, de Ronald Dworkin, para quem todo o caso é único e deve ser reconstruído por meio do processo, de sorte que a apli-cação da norma pressupõe uma reconstrução discursiva do caso.

Já em um segundo momento, será tecida crítica à tendência do julgamento de teses pelos órgãos jurisdicionais brasileiros em detrimento das particularidades do caso. Sob um discurso pautado no neoliberalismo processual, e visando contingenciar o problema alavancado pelo abarrotamento de causas submetidas ao Judiciário, em nome de uma “Justiça de números”, apostam-se em padrões decisórios, que são aplicados mecanicamente, em desatenção ao caso concreto e aos princípios que conformam o modelo constitucional de processo. Nesse cenário, a pesquisa centrará a importância da busca de legitimidade da função jurisdicional, no Estado Democrático de Direito, após a promulgação da Consti-tuição brasileira de 1988.

Com a introdução do modelo constitucional de processo pela Constituição, o processo passa a ser visto em sua visão garantística de efetivação de direitos fundamentais e legitima a participação dos cidadãos na formação das decisões. Em um contexto democrático, não mais se admite práticas arraigadas a um processualismo de cunho socializador, que privilegia um protagonismo judicial. Ao revés, a decisão judicial deve ser fruto do diálogo e da participação

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dos sujeitos processuais. Logo, a fundamentação das decisões judi-ciais, em co-dependência ao contraditório substancial, permite a influência dos argumentos desenvolvidos pelos sujeitos processuais na formação do ato decisório permitindo maior controlabilidade e previsibilidade de seu conteúdo.

Partindo-se da premissa de que é preciso a institucionalização de um processo constitucionalizado, o Código de Processo Civil em vigor realça em seu capítulo introdutório a dimensão prin-cipiológica do sistema processual brasileiro, ao prever as normas fundamentais (art. 1º ao 12), dentre elas a cooperação processual (art. 6º); o contraditório substancial, enxergado sob três perspec-tivas: como paridade de “armas” (art. 7º), como bilateralidade de audiência (art. 9º), como garantia de influência e não surpresa (art. 10); a publicidade e a necessidade de fundamentação (art. 11 e art. 489). E dentro dessa nova sistemática inaugurada pelo Código de Processo Civil de 2015 é que se estudará o dever de fundamentação.

Desse modo, torna-se relevante uma análise das principais modificações sobre o dever de fundamentação trazidas pelos incisos do §1º do artigo 489, do Código de Processo Civil de 2015, que estabelecem hipóteses do que não se considera como uma decisão fundamentada, a saber: dever de correlacionar os atos normati-vos suscitados com a questão debatida; incidência de conceitos jurídicos indeterminados em conformidade ao caso concreto; o enfrentamento de todas as questões e argumentos jurídicos rele-vantes; identificação e distinção de precedentes e enunciados de súmulas consubstanciado ao caso concreto; o enfrentamento de argumentos para superação de precedentes, súmulas ou jurispru-dência levantada pela parte.

Após essa análise, realizar-se-á um estudo empírico de decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça5, atinentes à aplicação

5 Justifica-se a opção pela análise das decisões prolatadas pelo Superior Tribunal de Justiça, tendo em vista ser órgão jurisdicional cuja competência precípua, definida pela Constituição brasileira de 1988, é apreciar e julgar as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiças do Estado, do Distrito Federal e Territórios, referentes à legislação federal infraconstitucional, nos termos do artigo 105, inciso III e suas respectivas alíneas, da Constituição de 1988.

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do artigo 489, §1º ,do Código de Processo Civil de 2015, publica-dos durante o período de 1º de junho de 2016 a 31 de dezembro de 20166, já na vigência da nova legislação processual. Buscar-se-á verificar em que medida a alteração legislativa modificou a compre-ensão e a prática jurídica deste órgão jurisdicional quanto ao dever de fundamentação, a partir da análise de seus julgados.

Para realização do estudo empírico, foram realizados levan-tamentos quantitativos e qualitativos, colhendo-se dados obtidos do repositório de jurisprudência do sítio eletrônico do Superior Tribunal de Justiça (STJ), selecionando como palavra-chave de busca: “art. 489, §1º, CPC/15”.

Delimitando o espectro dos dados levantados, foi conferi-do maior relevo às decisões prolatadas pelas Primeira, Segunda, Terceira e Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, bem como as decisões das Seções7, desprezando-se a análise dos acór-dãos proferidos pelas Quinta e Sexta Turma, cuja competência é apreciação de matéria penal, por não corresponder ao objeto de estudo da dissertação. Ao final, a partir dos critérios já assinalados, foram selecionados vinte e quatro acórdãos, que foram analisados objetivamente, especificando-se o número dos autos, a Turma, o relator, as partes, a data de julgamento, a data da publicação e o breve resumo dos votos exarados.

Nos aportes conclusivos do estudo empírico, verificar-se-á, como hipótese, que o Superior Tribunal de Justiça ainda não

6 A demarcação temporal é consubstanciada na análise de decisões judiciais por um período de seis meses, dada a escassez de recursos humanos e tecnoló-gicos para a elaboração de um monitoramento por um período mais longo. Destaca-se que foi considerado o período compreendido entre 1º de junho de 2016 a 31 de dezembro de 2016, porquanto no mês de julho de 2016 não houve julgamentos e tampouco publicações no Superior Tribunal de Justiça, em virtude de suspensão do expediente forense, nos termos da Portaria STJ/GDG n° 522, de 21 de junho de 2016, publicada em 22 de junho de 2016. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/102657/Prt%20_522_2016_GDG.pdf. Acesso em: 22 abr. 2017.

7 De acordo com o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, as Pri-meira e Segunda Turmas, que compõem a Primeira Seção, têm a competência de apreciação de matéria de direito público em geral, ao passo que as Terceira e Quarta Turma, que compõem a Segunda Seção, possuem atribuição para matéria de direito privado em geral (Art. 9º, §§1º e 2º, do RISTJ) (BRASIL, 2015b).

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vem aplicando as hipóteses do §1º, do artigo 489, do CPC/15, tampouco vem privilegiando as particularidades do caso concreto.

Ao fim, pretende-se chegar à conclusão de que, não obstante as alterações promovidas na legislação processual civil, em especial os contornos democráticos propiciados pela implementação de um modelo processual em que se respeite aos princípios e garantias processuais constitucionais, o Superior Tribunal de Justiça ainda não incorporou, em seus pronunciamentos decisórios, o dever de fundamentação das decisões.

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O CPC/2015 é um grande passo rumo à efetividade dos princípios constitucionais do processo. Isso porque a nova lei se inicia trazendo aqueles princípios em seus primeiros artigos – e complementado pelo art. 489 a respeito da fun-damentação das decisões. A novidade não está no fato de que a lei processual “repete” o que a Constituição já diz mas sim que coloca os princípios como o norte que deverá guiar a interpretação, compreensão, aplicação de todo o Código. Assim, mais uma vez, compreender os princípios processu-ais e seu papel na nova ordem normativa se mostra essen-cial e a obra presente é, desde já, uma referência essencial”.

A edição do artigo 489, §1°, do Código de Processo Civil de 2015 busca fortalecer e dar cumprimento à garantia consti-tucional da fundamentação das decisões, estatuída na Consti-tuição de 1988. O dispositivo em questão prevê maneiras adequadas de fundamentar de-cisões, principalmente quando se objetiva aplicar, como funda-mento, regras, princípios, súmu-las ou precedentes ajustados às particularidades do caso. A pro-posta do livro é mostrar como as inovações trazidas pelo mencionado artigo ao dispor sobre o que é necessário para que uma decisão seja conside-rada fundamentada são contra-postas pelas decisões do STJ, a fim de verificar se a novel le-gislação tem conseguido mudar práticas arraigadas de negação do mandamento constitucional de fundamentação das decisões (art. 93, IX, da CRFB/88).

Lorena Ribeiro De Carvalho

Sousa

Mestre em Direito Processual pela PUC-MG. Professora de Graduação e Pós-Graduação em Direito da PUC-MG. Advogada.

ISBN 978-65-80444-13-7

Lorena Ribeiro De Carvalho Sousa

O dever de

fundamentação

NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Das decisõestrecho do prefácio, por alexandre bahia