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ANDREIA GOMES FONSECA ANDREIA GOMES FONSECA preso preso preso a ressocialização do a ressocialização do preso

MIOLO RESSOCIALIZACAO 1307/21 Bar

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A N D R E I A G O M E S F O N S E C AA N D R E I A G O M E S F O N S E C A

presopresopresoa ressocialização doa ressocialização do

a ressocialização do presoA

ND

REIA G

OM

ES FON

SECA

ISBN 978-65-5589-343-4

Advogada, graduada em 1998 pelas Faculdades

Integradas de Guarulhos. Especialista em direito

penal pela Escola Paulista de Magistratura (2006). Mestre em direito penal

pela PUC SP (2020). Sócia do escritório “Lemos Silva e Fonseca Sociedade de

Advogados”. Professora de direito penal e processo

penal, atualmente na Universidade Nove de

Julho em SP. Mentora e orientadora de carreira

em direito.

Ressocialização do preso, fruto de minha dissertação de mestrado na PUC de SP, aborda questões fulcrais da execução penal no Brasil. Antes de adentrar no cerne da discussão, caminhamos pela história da pena e da punição no Brasil e no mundo, assim como adentramos às finalidades da pena, em especial a ressocializa-ção, ponto central da discussão que travamos. Ao longo dos 22 anos de exercício da advocacia, todos eles dedicados ao direito penal, pude observar o descaso para com os direitos dos encar-cerados e da ausência de medi-das públicas voltadas ao cumpri-mento das finalidades da pena, em especial a ressocialização. Nesse contexto abordamos acer-ca da importância do trabalho e do estudo para a ressocializa-ção do preso, eis que contribuem para a construção de valores melhores, capazes de oferecer aos encarcerados condições de se reinserirem no meio social. Ademais, outro ponto debatido é a superlotação carcerária, que acaba por dificultar a oferta de oportunidades de estudo e tra-balho a todos que se encontram envolvidos com o sistema carce-rário. No mais, convido o leitor a viajar no tempo e se aprofundar nas questões penitenciárias bra-sileiras, na esperança de cativar mais adeptos ao estudo da ma-téria e a construção de um futu-ro com melhores condições de reinserção social aos apenados.

Andreia Gomes

Fonseca

aborda questões atuais acerca do

sistema prisional. Trata-se de um projeto humanitário transversal, transcendental e imperativo emergente na dinâmica civilizatória deste novo milênio. Diante da realidade posta, consegue captar com fina sensibilidade o drama da ressocialização e reinserção do condenado na sociedade brasileira, na plenitude de sua materialidade, limites e contradições. Ao impor novas perspectivas e desafios de transformação ao sistema penitenciário, destaca a importância do trabalho, não apenas como direito e dever do presidiário, mas como um instrumento pedagógico inerente à dignidade humana. A partir daí, lastreando o pensamento jurídico filosófico a fim de se buscar possíveis saídas para os grandes dilemas que estão sendo postos, descreve o poder de punir em evolução histórica das penas através das diversas Escolas Penais e de seus expoentes máximos até a contemporaneidade, em um solo profícuo multidisciplinar.

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Plácido Arraes

Tales Leon de Marco

Bárbara Rodrigues

Nathália Torres

Bárbara Rodrigues

Editor Chefe

Editor

Produtora Editorial

Capa, projeto gráfico

Diagramação

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Belo HorizonteAv. Brasil, 1843,

Savassi, Belo Horizonte, MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

São PauloAv. Paulista, 2444, 8º andar, cj 82Bela Vista – São Paulo, SPCEP 01310-933

Copyright © 2021, D’Plácido Editora.Copyright © 2021, Andreia Gomes da Fonseca.

Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliotecária responsável: Fernanda Gomes de Souza CRB-6/2472

Fonseca, Andreia Gomes daF676 A ressocialização do preso / Andreia Gomes da Fonseca. - 1. ed. - Belo Horizonte, São Paulo : D’Plácido, 2021.

180 p.

ISBN 978-65-5589-343-4

1. Direito. 2. Direito Penal. I. Título. CDD: 341.5

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O presente estudo foi realizado graças ao apoio financeiro da CAPS.

Processo n.º 88887.179319/2018-00.

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“Uma vez por todas, foi-te dado somente um breve mandamento:

Ama e faze o que quiseres. Se te calas,

cala-te movido pelo amor; se falas em tom alto, fala por amor;

se corriges, corrige por amor; se perdoas, perdoa por amor.

Tem no fundo do coração a raiz do amor:

dessa raiz não pode sair senão o bem!

Santo Agostinho

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Dedico este trabalho a todos os meus clientes, suas mazelas e indignação com relação ao sistema penitenciário, foram fonte de inspiração para minha pesquisa.

A vocês, minha gratidão!

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A g r a d e c i m e n t o s

Não poderia iniciar os agradecimentos dessa pesquisa, sem, antes, começar pelo princípio, razão Suprema de tudo que existe: Deus. Gratidão meu Pai, por todo zelo e cuida-do comigo, pelas oportunidades e aprendizados de cada dia, em especial pela fé e esperança renovada em meu ser e a inspiração para a pesquisa e finalização do presente trabalho.

Ao Professor Livre Docente e Doutor em Direito Penal Guilherme de Souza Nucci, meus agradecimentos e sincera gratidão. Jamais seria possível a realização desse sonho, sem o apoio e as valorosas orientações que me foram dadas. O se-nhor representa para mim, não apenas um grande professor e jurista, mas um grande ser humano. É, hoje e sempre, uma das minhas grandes inspirações, tanto acadêmica, quanto como jurista. Meus sinceros agradecimentos, estimado Professor.

Estendo meus agradecimentos, à Professora Livre Do-cente e Doutora Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos, pela grata oportunidade de conhecê-la. É minha inspiração, não apenas pela professora maravilhosa, mas por sua dedicação e amor em tudo que se propõe, assim como pela incessan-te busca pelo saber. Gratidão por me acolher em sua vida como a uma filha. Querida e amada professora, minha eterna gratidão! Agradeço aos Professores Doutores Cláudio José Langroiva Pereira e Roberto Ferreira Archanjo da Silva, pelos

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valorosos apontamentos e orientações que fizeram no meu trabalho, e que muito contribuíram no desenvolvimento e conclusão dessa pesquisa.

Agradeço, também, aos amigos que a vida me proporcio-nou e que foram essenciais no desenvolvimento e conclusão dessa pesquisa. São eles: Regis Munari Furtado, Marilene Araújo, João Lucas Taveira da Silva, Alessa Sanny Lima Pereira, André Lozano Andrade, Carolina da Silva Leme, Silvio Luiz Lemos Silva, Marcio Morena Pinto, Carla Cristina Almeida, Marina Alvarenga Barbosa, Eduardo Mirabile, Luciana Mira-bile, Carla de Vincenzo Zonzini, Ed de Souza Jorge Castro e Rogério Jorge Castro. Muito obrigado a cada um de vocês!

Agradeço, também, aos queridos Rui de Oliveira Do-mingos e Rafael de Araújo os quais, não só desempenham um trabalho excepcional junto a Coordenação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito da PUC-SP, mas também nunca medem esforços para ajudar quem precisa. Muito obrigado!

Agradeço, ainda, a Coordenação de Aperfeiçoamen-to de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) pela concessão da bolsa de estudos que proporcionou a minha dedicação à pesquisa.

E por fim, agradeço a minha família, que são a base de tudo que sou. A minha querida avó Constância Lopes Fonseca (in memorian), por ser minha inspiração e por ter direcionado meus passos no bem. Aos meus pais, Maria das Dores Pereira dos Santos e Valdemir Gomes da Fonseca, e aos meus irmãos, Aline Fonseca Ramos e Fernando Gomes Fonseca. Sem vocês, eu nada seria, amo vocês, hoje e sempre! E aos meus sobrinhos, Maria Fernanda Caetano Fonseca e Mateus Fonseca Ramos, amo vocês!

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S u m á r i o

Apresentação 15

Prefácio 21

Introdução 23

1. Pena – da punição à ressocialização 271.1. Evolução histórica das penas e as escolas penais 27

1.2. Teoria das penas 48

1.2.1. Teoria absoluta ou retributiva 49

1.2.2. Teoria relativa ou preventiva 55

1.2.2.1. Prevenção geral 56

1.2.2.2. Prevenção especial 62

1.2.3. Teoria mista, unificadora ou eclética 64

1.3. Da necessidade de ressocialização 66

1.4. Finalidade da pena 71

2. Princípios orientadores da pena 752.1. Dignidade da pessoa humana 75

2.2. Legalidade estrita e reserva legal 81

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2.3. Individualização da pena e culpabilidade 84

2.4. Proibição de penas cruéis 88

3. O trabalho do preso como forma de reeducação e ressocialização 913.1. O trabalho na Lei de Execução Penal 93

3.1.1. Direitos 101

3.1.2. Deveres 110

3.2. Trabalho e o regime disciplinar diferenciado 112

3.3. Remição 116

3.4. Influência do trabalho para fins de concessão ou indeferimento de benefícios 121

4. Abordagem da ressocialização e reeducação do preso pelo trabalho 127

5. Políticas públicas e o trabalho do preso 1335.1. Insuficiência de medidas e superlotação carcerária 139

5.2. Responsabilidade do Estado 145

5.3. Parcerias Público Privadas e Convênios 151

5.4. Responsabilidade do Judiciário em proporcionar alternativas de trabalho para o preso 155

5.4.1. Alternativas utilizadas para superar a ausência de oportunidades de trabalho nos presídios 159

Conclusão articulada 165

Referências bibliográficas 169

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A p re s e n t a ç ã o

Conheci a Andreia Fonseca já na primeira aula do nosso mestrado, o qual cursamos juntos na PUC-SP. Desde o pri-meiro semestre ficou clara a nossa afinidade. Além do amor pelo estudo do sistema penal, ambos atuamos na advocacia, temos grande prazer em entrar numa sala de aula (sejamos alunos ou professores), nos indignamos com as injustiças do cotidiano criminal e adoramos um bom samba.

Quando fui convidado para escrever essa apresentação me senti extremamente honrado, pois nas conversas que tive com a Andreia surgiram muitas das minhas inquietações e, também, das ideias que tive ao escrever a minha dissertação. Assim, esse convite é acompanhado de uma responsabilidade especial, uma vez que a autora desse livro foi alguém que me ajudou muito na minha trajetória acadêmica. Diante disso, prefiro não me alongar em elogios desnecessários, pois o leitor logo verá que qualquer coisa que fale não fará justiça à qualidade desta obra.

O livro da Andreia traz as questões relativas aos fins da pena, especialmente a ressocialização, demonstrando como o trabalho é importante para se chegar a esse objetivo. O trabalho, antes de ser um dever, é direito do preso. A An-dreia demonstra que, apesar das críticas que existem acerca da função do trabalho no cárcere, a atividade laboral é um instrumento que reduz os problemas crônicos do cárcere

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além de contribuir à ressocialização, em especial se estiver aliado ao estudo.

O superencarceramento é um dos problemas que aflige o sistema penal brasileiro. Há uma fé inabalável por parte de políticos, comunicadores e atores do sistema criminal (advogados, delegados, juízes, promotores e até mesmo alguns acadêmicos) em que a pena poderá reduzir a cri-minalidade. A esperança que se deposita no sistema penal e na pena não encontra amparo racional, as pesquisas que tratam sobre a eficácia da pena apontam no sentido de que o sistema penal não reduz a criminalidade, mas muitas vezes é capaz de aumentá-la.

Se por um lado a pena não é capaz de intimidar, as condições carcerárias a que estão sujeitos os apenados no Brasil garantem que a ressocialização ou reinserção seja apenas uma utopia. A pessoa, ao ser presa, perde não apenas a sua liberdade, mas também sua dignidade, pois, além do estigma que lhe será imposto, ainda terá que (sobre)viver em um ambiente insalubre, sofrer assédio e violência dos funcionários do sistema carcerário, defender-se de outros presos e ver sua família passar por todo tipo de humilhação para que possam manter contato.

O sistema penal, como um todo, é um universo em que direitos e garantias são desrespeitados, princípios penais e processuais penais são relativizados e violências institucionais são legitimadas por aqueles que deveriam frear os abusos estatais e funcionais. Sem o desejo de fazer qualquer gene-ralização, uma vez que sabemos que há diversos profissionais exemplares dentro da polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário, mas é inegável que na polícia brasileira a utilização da violência de forma excessiva, o abuso de poder e a corrupção são fatos que estão enraizados da instituição. Já o Ministério Público afasta-se de sua função quando tolera abusos e ilegalidades – muitas vezes crimes – que são prati-cadas por maus policiais. Enquanto isso, o Poder Judiciário,

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alarmado por ver os altos índices de violência, afasta-se da imparcialidade que deveria pautar sua atuação para se co-locar como ator ativo da luta contra o crime, afastando-se da função de julgador para assumir a posição de agente de segurança pública, algo incompatível com a função jurisdi-cional. A redemocratização não foi capaz de afastar vícios autoritários das instituições públicas, fazendo com que de um lado haja práticas ilegais institucionalizadas e de outro carência de fiscalização e controle.

A lei não é respeitada desde o início da persecução penal, quando casas são invadidas sem mandado judicial, prisões preventivas são decretadas sem que haja motivos reais para tanto e pessoas são condenadas com base em provas extrema-mente frágeis. Se tudo isso ocorre durante as investigações e instrução processual, quando há advogados acompanhando todo o desenrolar do processo, as ilegalidades aumentam ainda mais quando se fala em execução penal, momento em que poucas vezes o condenado conta com um defensor presente para fazer sua voz ser ouvida e não possui meios de se ver representado, uma vez que sequer tem direito ao voto.

As ilegalidades se multiplicam quando falamos do cárcere. Se o Código de Processo Penal e o Código Penal são por vezes ignorados na instrução processual e no in-quérito policial, a Lei de Execução Penal é praticamente um conto de fadas quando se fala em direitos do preso. Dignidade, assistência à saúde e psicológica, alimentação adequada, assistência (e proximidade) familiar, educação e trabalho são negados sistematicamente por todos os atores envolvidos na execução penal.

É sobre a questão do trabalho que vamos debruçar as atenções nesse livro. Devemos lembrar que o trabalho é um dever do preso, mas também é um direito. Ocorre que são poucas as unidades prisionais que garante trabalho aos ape-nados. O trabalho pode ser visto tanto como uma forma de ressocialização como de redução da pena, uma vez que pela

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remissão o apenado poderá ter uma quantidade significativa da pena reduzida.

Como a Andreia Fonseca bem pontua, para que haja a ressocialização do preso é necessária a atuação estatal, sendo que o trabalho e a educação são formas de propiciar a resso-cialização, mas para que haja trabalho e educação no cárcere são necessários investimentos e, deve ser falado, investimento no cárcere não dá voto. Salta aos olhos que apenas 30% dos presos têm assegurado seu direito ao trabalho, o que indica uma grave omissão no que concerne à ressocialização do condenado.

Há ainda o problema de que o cidadão que é preso não é visto como um verdadeiro cidadão, cria-se uma nova figura no imaginário popular por meio da atuação dos meios de comunicação e dos atores políticos que tratam o apenado como um monstro ou um inimigo, como se qualquer direito ou benefício que ele receba seja desper-dício de verbas públicas ou benesse concedida àquele que não deveria ter direito a nada, nem dignidade. Há entraves quando se fala em investimento no sistema prisional, o que acaba sendo paradoxal, pois de uma lado fala-se que não há ressocialização, enquanto de outro se colocam entraves para implementar direitos e investir em meios que sejam eficazes para ressocializar o cidadão.

O superencarceramento aparece para dificultar ainda mais a ressocialização por meio do trabalho e do estudo. Garantir o direito ao trabalho e ao estudo com os presídios superlotados como os brasileiros é impossível. Se um dos objetivos da pena é a ressocialização devemos repensar nossa política criminal, especialmente no que se refere ao cárcere como a solução de todos os problemas sociais.

É preciso que os órgãos que atuam no sistema prisional assumam suas responsabilidades institucionais no sentido de garantir que os direitos dos presos sejam respeitados. Há que se cobrar uma postura mais humana e responsável de todos, das Secretarias de Administração Penitenciária, do Conselho

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Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Ministério Público, Judiciário, além do Poder Executivo. É essencial que os órgãos responsáveis atuem para que não apenas 30%, mas para que 100% dos apenados tenham possibilidade de trabalhar e estudar.

A fim de não antecipar as discussões trazidas pela Andreia nesse excelente trabalho, paro por aqui, ainda que correndo o risco de ter sido superficial. Desejo que a leitura dessa obra seja tão prazerosa ao leitor como foi para mim.

São Paulo, 06 de junho de 2021

André Lozano Andrade

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Pre fác io

Enorme honra prefaciar o livro: A RESSOCIALIZA-ÇÃO DO PRESO, tema este fundamental para o pensamento jurídico - político de nosso tempo. Trata-se de um projeto humanitário transversal, transcendental e imperativo emergente na dinâmica civilizatória deste novo milênio.

Andreia Gomes da Fonseca, Mestre em Direito Penal, pela PUC-SP, diante da realidade posta, consegue captar com fina sensibilidade o drama da ressocialização e reinserção do condenado na sociedade brasileira, na plenitude de sua materialidade, limites e contradições.

Ao impor novas perspectivas e desafios de transformação ao sistema penitenciário, destaca a importância do trabalho, não apenas como direito e dever do presidiário, mas como um instrumento pedagógico inerente à dignidade humana. A partir daí, lastreando o pensamento jurídico filosófico a fim de se buscar possíveis saídas para os grandes dilemas que estão sendo postos, descreve o poder de punir em evolução histórica das penas através das diversas Escolas Penais e de seus expoentes máximos até a contemporaneidade, em um solo profícuo multidisciplinar.

As suas reflexões prospectivas em relação à questão, for-necem subsídios de políticas públicas a serem implementadas em prol do exercício da cidadania, da segurança jurídica, corresponsabilidade institucional, social e humanitária.

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Este livro vem efetivamente ao encontro dessas as-pirações, numa sociedade em que os valores éticos foram mitigados, ou na qual o individualismo exacerbado passou a dar a dinâmica das relações sociais, necessário se faz refletir as insuficiências de respostas jurídicas satisfatórias. Razão pela qual, o contributo da autora se torna imprescindível a todos que se sentirem instigados a pensar e a se envolver na construção de uma cultura de paz e de não violência.

São Paulo, 20 de maio de 2021.

Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos

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I n t ro d u ç ã o

Aprofundar-se na execução da pena, na forma como é efetivamente aplicada e se atinge amplamente os fins aos quais se destina, é algo que desperta interesse. Em especial, por se tratar de um assunto que parece esquecido, não debatido com a profundidade que merece ser. Sem contar o flagrante desinteresse da sociedade em compreender e buscar alterna-tivas à grave crise pela qual passa o sistema carcerário atual.

O Brasil vem apresentando nos últimos anos altos índices de encarceramento, o que, sem dúvida alguma, prejudica a plena eficiência e eficácia da execução da pena. Isto porque, com estabelecimentos prisionais superlotados, acima da capa-cidade dos locais de encarceramento, não é possível oferecer condições mínimas de cumprimento de pena.

Debate-se na atualidade a situação do sistema peniten-ciário brasileiro. Locais com pouca ou nenhuma salubridade, sem condições mínimas de higiene, de acesso à saúde, edu-cação e trabalho digno.

A relevância do presente estudo se assenta inicialmente nas teorias fundamentadoras da pena, em especial no tocante à resso-cialização e reinserção do condenado na sociedade, que nos parece ser a real razão de ser da pena. Ao transgredir uma norma penal o indivíduo afasta-se do meio social, fica à margem, e quando recluso no cárcere, espera-se que obtenha meios de rever seus

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procedimentos, e, com as oportunidades que lhe sejam oferecidas de disciplina, trabalho e estudo, passe a olhar a vida com outros olhos, se recuperando e buscando se reinserir no meio social.

Nesse sentido, pretende-se, com o estudo aqui iniciado, demonstrar que o sistema penitenciário, ao contrário do esperado, não atende plenamente às finalidades da pena, em especial, com relação ao exercício de atividade laborativa durante o cumprimento da pena, como meio de colaborar com a reinserção social e recuperação do indivíduo.

Os índices de reincidência demonstram existir uma falha no processo de ressocialização do reeducando, o qual quando colocado em liberdade, por razões que serão esclarecidas ao longo do trabalho, tornam a delinquir e regressam ao sistema penitenciário em curto espaço de tempo.

A Lei de Execução Penal norteia e prescreve a forma como a pena deve ser executada, respeitando seus fins: retri-buição e prevenção. Particularmente em relação à prevenção individual positiva, a finalidade é a reeducação e reinserção do reeducando, proporcionando ao preso oportunidade de se reintegrar à sociedade.

O trabalho e o estudo surgem como meio para atin-gimento do objetivo da pena, qual seja, a reinserção social do apenado. Assim, abordaremos no capítulo três o trabalho como forma de reeducação, ressocialização e reinserção social do encarcerado. Durante a execução da pena o trabalho é ao mesmo tempo direito e dever do condenado, lhe proporcio-nando dignidade e acesso aos benefícios ligados à progressão, indulto, comutação e remição de pena.

Não se pode falar na função ressocializadora da pena, sem antes revisitar como tal discurso foi desenvolvido ao longo da História. Enfrentaremos, assim, na primeira parte do trabalho, o desenvolvimento da punição desde seu nas-cimento à ressocialização.

Cada uma das fases da punição, das escolas penais e te-orias sobre os fins da pena, refletiu sobre o crime e a pena a

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partir de um ponto de vista específico, o qual representava a realidade daquela época. Apenas na segunda metade do século XIX, os estudos sobre os fins da pena, passaram a incluir o elemento humano na estrutura da punição, compreendendo a necessidade de ressocializar e reinserir o infrator no meio social, ao invés de tão somente punir e retribuir o mal do crime, com o mal da pena.

A segunda parte do trabalho dedica-se ao estudo dos princípios constitucionais orientadores da pena, direcionan-do o estudo àqueles possuidores de estreita ligação com a execução da pena. Assim, analisaremos os seguintes princí-pios: (i) dignidade humana; (ii) legalidade estrita e a reserva legal, (iii) individualização da pena e culpabilidade; e (iv) a proibição de penas cruéis e degradantes. Os princípios serão correlacionados com o trabalho prisional e sua importância para fins de ressocialização.

Na terceira parte do trabalho, conforme adiantado, abor-daremos a importância do exercício da atividade laborativa durante o cumprimento para atingir a finalidade precípua da pena: a ressocialização. Para tanto, estudaremos como o trabalho é abordado na Lei de Execução Penal, sua aplicação como direito e dever do preso, e sua valoração para fins de concessão ou indeferimento de benefícios.

Na quarta parte da dissertação, analisaremos como tem sido colocada em prática as políticas públicas para o ofe-recimento de oportunidades de trabalho aos presos. É de conhecimento público ser o sistema penitenciário um dos setores mais carentes de políticas públicas de nosso país, de modo que estudaremos como essa ausência de planejamento governamental influencia na ausência de oportunidades de trabalho aos presos.

No intuito de compreender a extensão do problema, utilizaremos dados obtidos nos diversos órgãos do Estado, de modo a verificar dentro do sistema prisional de São Paulo e alguns outros Estados, se existem oportunidades de traba-

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lho para os presos, se são colocadas à disposição de todos os reclusos, e se efetivamente podemos afirmar terem aqueles que trabalham mais condições de se ressocializarem ou não.

Por fim, na quinta parte da dissertação, faremos uma abordagem acerca da ressocialização e reeducação do preso pelo trabalho, verificando as posições doutrinárias acerca do papel do trabalho no cumprimento da finalidade ressocia-lizadora da pena.

Na pesquisa do tema, a metodologia adotada foi pre-dominantemente bibliográfica e de dados estatísticos, optan-do-se por analisar como o trabalho carcerário influencia na ressocialização do indivíduo. Além disso, optamos por analisar dados disponíveis em órgãos públicos acerca da população carcerária, confrontando com os números relativos aos presos que efetivamente exercem atividade laborativa, relacionando isso com a ressocialização.

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Advogada, graduada em 1998 pelas Faculdades

Integradas de Guarulhos. Especialista em direito

penal pela Escola Paulista de Magistratura (2006). Mestre em direito penal

pela PUC SP (2020). Sócia do escritório “Lemos Silva e Fonseca Sociedade de

Advogados”. Professora de direito penal e processo

penal, atualmente na Universidade Nove de

Julho em SP. Mentora e orientadora de carreira

em direito.

Ressocialização do preso, fruto de minha dissertação de mestrado na PUC de SP, aborda questões fulcrais da execução penal no Brasil. Antes de adentrar no cerne da discussão, caminhamos pela história da pena e da punição no Brasil e no mundo, assim como adentramos às finalidades da pena, em especial a ressocializa-ção, ponto central da discussão que travamos. Ao longo dos 22 anos de exercício da advocacia, todos eles dedicados ao direito penal, pude observar o descaso para com os direitos dos encar-cerados e da ausência de medi-das públicas voltadas ao cumpri-mento das finalidades da pena, em especial a ressocialização. Nesse contexto abordamos acer-ca da importância do trabalho e do estudo para a ressocializa-ção do preso, eis que contribuem para a construção de valores melhores, capazes de oferecer aos encarcerados condições de se reinserirem no meio social. Ademais, outro ponto debatido é a superlotação carcerária, que acaba por dificultar a oferta de oportunidades de estudo e tra-balho a todos que se encontram envolvidos com o sistema carce-rário. No mais, convido o leitor a viajar no tempo e se aprofundar nas questões penitenciárias bra-sileiras, na esperança de cativar mais adeptos ao estudo da ma-téria e a construção de um futu-ro com melhores condições de reinserção social aos apenados.

Andreia Gomes

Fonseca

aborda questões atuais acerca do

sistema prisional. Trata-se de um projeto humanitário transversal, transcendental e imperativo emergente na dinâmica civilizatória deste novo milênio. Diante da realidade posta, consegue captar com fina sensibilidade o drama da ressocialização e reinserção do condenado na sociedade brasileira, na plenitude de sua materialidade, limites e contradições. Ao impor novas perspectivas e desafios de transformação ao sistema penitenciário, destaca a importância do trabalho, não apenas como direito e dever do presidiário, mas como um instrumento pedagógico inerente à dignidade humana. A partir daí, lastreando o pensamento jurídico filosófico a fim de se buscar possíveis saídas para os grandes dilemas que estão sendo postos, descreve o poder de punir em evolução histórica das penas através das diversas Escolas Penais e de seus expoentes máximos até a contemporaneidade, em um solo profícuo multidisciplinar.