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Miséria do Homem e Misericórdia de Deus Título original: Man's Misery and God's Mercy Por J. C. Philpot (1802-1869) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Abr/2017

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Miséria do Homem e Misericórdia de Deus

Título original: Man's Misery and God's Mercy

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Abr/2017

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Philpot, J. C. – 1802 -1869 Miséria do homem e misericórdia de Deus / J. C. Philpot Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 35p.; 14,8 x 21cm Título original: Man's Misery and God's Mercy 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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"Muitas vezes os livrou; mas eles foram rebeldes nos

seus desígnios, e foram abatidos pela sua iniquidade.

Contudo, atentou para a sua aflição, quando ouviu o

seu clamor; e a favor deles lembrou-se do seu pacto,

e aplacou-se, segundo a abundância da sua

benignidade." (Salmo 106: 43-45)

Os filhos de Israel eram, como vocês bem sabem,

"pessoas típicas", representativas por seu

relacionamento com Deus, por meio de uma aliança

nacional e externa, daquela geração escolhida, aquela

nação santa, esse povo peculiar, que está mais

próximo, numa relação mais elevada e mais

permanente com ele por meio dessa aliança eterna,

em tudo bem ordenada e segura (2 Sm 23: 5). Ora,

havia várias razões, e todas elas carimbadas com a

manifesta impressão de infinita sabedoria,

misericórdia e graça por parte de Deus, no pacto

externo.

Uma das razões era que o trato de Deus com eles, e

suas relações com Deus, poderiam ser um registro

permanente, para que a Igreja em todas as eras

pudesse ler em um espelho seu próprio caráter como

tipificado pelos filhos de Israel e o caráter de Deus

como representado por suas relações com eles.

Agora, esta é a razão pela qual um salmo como este,

que nos dá um resumo ou breve história do caráter e

da conduta dos filhos de Israel, tanto no deserto

como na terra prometida, como sempre pecando e se

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rebelando contra Deus. A ternura para com eles

apesar de, e em meio a todos os seus pecados e

desvios, é tão instrutiva, edificante e encorajadora,

que vemos por um lado, em sua conduta, a

representação da nossa própria; e vemos, por outro

lado, nos tratos de Deus com eles, a representação

dos tratos misericordiosos de Deus conosco. Mas,

como espero, com a ajuda e a bênção de Deus,

mostrar esses dois pontos mais completamente ao

abrir as palavras diante de nós, e passarei agora, sem

outro prefácio, ao nosso texto, no qual pareço ver

essas quatro características proeminentes:

Primeiro, os numerosos livramentos de Deus de

Israel - "Muitas vezes o libertou".

Em segundo lugar, as ações vis de Israel, e sua triste

consequência - "Mas eles provocaram-no com o seu

conselho, e foram reduzidos à sua iniquidade".

Em terceiro lugar, a tendência com que Deus os

contemplou quando, na sua aflição, clamaram a ele:

"Contudo, viu a sua aflição quando ouviu o seu

clamor".

E por fim, a misericordiosa lembrança de Deus para

com eles da sua aliança e do arrependimento que

moveu o seu coração gracioso - "E eu me lembrei

deles por sua aliança, e me arrependi de acordo com

a multidão de suas misericórdias".

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Se você ver e sentir comigo, você vai ver e sentir

grande beleza e doçura nas palavras do nosso texto.

Convido, portanto, a quem quer que seja do Israel

espiritual, que conhece tanto o que tem sido para

com Deus como o que ele tem sido e é para contigo,

para escutar esta manhã a tua história, na qual

encontrarás abundante matéria para vergonha e

tristeza, e também uma história de bondade e

misericórdia de Deus, em que encontrarás

abundante matéria para louvor e ação de graças.

(Nota do tradutor: Conforme a Bíblia nos revela, e

pelas palavras confirmatórias do autor deste livro,

podemos ver claramente que os escarnecedores da

misericórdia de Deus, que julgam que Ele é um

grande tolo em estender todos os dias a Sua bondade,

inclusive para com eles, inveterados pecadores, que

nunca se arrependem do mal, nada entendem do

pacto pelo qual Ele se comprometeu a salvar um povo

que o ame e sirva fielmente, ainda que sejam

pecadores, pois a essência de todo o Seu propósito se

resume em que Ele os tem perfeitamente santos e

justos quando os tira deste mundo para a Sua

presença no céu. Onde estão os escarnecedores de

todas as épocas? Certamente não no céu, pois a Bíblia

não nos dá testemunho do comparecimento deles ao

paraíso para desfrutarem do gozo eterno da

divindade.

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Se há uma misericórdia em fazer o Seu sol brilhar e a

chuva cair neste mundo sobre justos e injustos,

todavia, a misericórdia que é manifestada para a

salvação eterna da alma é destinada apenas àqueles

que se arrependem e se submetem a Jesus como

Salvador e Senhor de suas vidas, através da Nova

Aliança firmada com eles e fundamentada no sangue

que Jesus derramou na cruz.)

I. Tenho primeiro que mostrar as numerosas

libertações do Israel literal como típicas e figurativas

das numerosas libertações do Israel espiritual.

"Muitas vezes ele os livrou."

A. Quando lemos a história dos filhos de Israel, como

tão plena e fielmente prestada no Antigo Testamento,

quantas repetidas vezes encontramos essas palavras

cumpridas. Mas, a partir dessas numerosas

libertações, posso agora apenas citar algumas.

1. Olhe primeiro, então, aquele grande sinal de

libertação, quando eles eram escravos no Egito, em

servidão aparentemente desesperada e indefesa.

Lembre-se de seus gemidos e lágrimas, de suas costas

machucadas e de corações ainda mais machucados,

quando os mestres de tarefa cruéis, sob o comando

do Faraó, os obrigaram a fazer tijolos sem palha e

ainda assim exigiram o mesmo número anterior de

tijolos. Veja como quão rápida e firme foi a mão do

cruel tirano egípcio nessa terra miserável; como Deus

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enviou praga após praga, e julgamento após

julgamento sobre ele; e, no entanto, aquele rei ímpio

endureceu seu coração e não os deixou ir.

Finalmente, quando todos os outros meios falharam,

Deus enviou o anjo destruidor para ferir os

primogênitos, desde o de Faraó que estava assentado

em seu trono até o primogênito do cativo no

calabouço, de modo que houve pelo Egito um clamor

universal, pois não havia uma casa onde não

houvesse ninguém morto. Então, e não até então, ele

os enviou para fora da terra em pressa.

Mas mesmo assim, tão logo enterraram seus mortos,

todos os julgamentos de Deus foram esquecidos. Este

implacável rei ainda estava determinado a manter

Israel. Ele os perseguiu com seus carros e seus

cavalos, e os alcançou no Mar Vermelho. Com as

ondas espumantes adiante, e um inimigo feroz por

trás, como completamente pareciam cortados de

toda ajuda ou esperança. O desespero apoderou-se

deles, e até brigaram com seu libertador. "Então eles

se voltaram contra Moisés e se queixaram: 'Por que

nos trouxeste para aqui morrermos no deserto, não

havia túmulos suficientes para nós no Egito, por que

nos fizeste ir?'" (Êxodo 14:11). Mas como Moisés

acalmou seus corações conturbados. "Moisés, porém,

disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o

livramento do Senhor, que ele hoje vos fará; porque

aos egípcios que hoje vistes, nunca mais tornareis a

ver; o Senhor pelejará por vós; e vós vos calareis."

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(Êxodo 14:13, 14.) Nessa sua situação extrema

profunda, Deus falou a palavra; ordenou que Moisés

estendesse a mão; as águas poderosas se separaram

de cada lado, e através das paredes assim feitas, todos

os israelitas passaram em segurança, homens,

mulheres e crianças, sem sofrer o menor dano. Mas,

quando seus inimigos tentaram o mesmo, por ordem

de Deus, as águas voltaram e derrubaram Faraó e

todas as suas tropas armadas no fundo do mar. Que

libertação foi aquela. (Nota do tradutor: Tantos

israelitas e egípcios não eram criaturas de Deus?

Qual a razão da distinção feita entre ambos? Os

israelitas não eram tão pecadores quanto eram os

egípcios? Por aquele livramento Deus revelava que é

o salvador do povo com o qual ele está aliançado. Que

ele faz distinção entre aqueles que o servem e os que

não o servem (Malaquias 3.17,18). Há esperança para

todo aquele que é tornado filho de Deus por meio da

justificação pela graça mediante a fé em Jesus Cristo.

Mas para o ímpio que não se arrepende, não há

esperança, pois não há qualquer aliança de

misericórdia firmada entre eles e Deus. Por isso a

Nova Aliança é designada por fiéis misericórdias

prometidas a Davi – Atos 13.34).

2. Vejam outra vez como, quando vieram no deserto,

Deus repetidamente estendeu a sua mão para libertá-

los. Ele os livrou da fome, enviando maná

diariamente para alimento. Livrou-os de perecer pela

sede, ordenando a Moisés ferir a rocha, e as águas

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jorraram. Embora os castigasse severamente pelos

seus pecados, e embora os cadáveres dos rebeldes

caíssem no deserto, ele nunca deixou de suprir suas

necessidades. Nesse belo resumo de sua história, que

encontramos na oração dos levitas, eles falam de

forma verdadeira e tocante. "Todavia tu, pela

multidão das tuas misericórdias, não os abandonaste

no deserto. A coluna de nuvem não se apartou deles

de dia, para os guiar pelo caminho, nem a coluna de

fogo de noite, para lhes alumiar o caminho por onde

haviam de ir. Também lhes deste o teu bom Espírito

para os ensinar, e o teu maná não retiraste da sua

boca, e água lhes deste quando tiveram sede."

(Neemias 9:19, 20).

3. Se, do deserto, nós os seguirmos até a terra de

Canaã, ainda vemos as misericórdias de livramento

de Deus, como reconhece a mesma oração. "Os filhos,

pois, entraram e possuíram a terra; e abateste

perante eles, os moradores da terra, os cananeus, e

lhos entregaste nas mãos, como também os seus reis,

e os povos da terra, para fazerem deles conforme a

sua vontade. Tomaram cidades fortificadas e uma

terra fértil, e possuíram casas cheias de toda sorte de

coisas boas, cisternas cavadas, vinhas e olivais, e

árvores frutíferas em abundância; comeram, pois,

fartaram-se e engordaram, e viveram em delícias,

pela tua grande bondade." (Neemias 9:24, 25).

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E como retribuíram ao Senhor por todas essas

misericórdias? "Não obstante foram desobedientes,

e se rebelaram contra ti; lançaram a tua lei para trás

das costas, e mataram os teus profetas que

protestavam contra eles para que voltassem a ti;

assim cometeram grandes provocações." (Neemias

9:26). O que então se seguiu? Juízos pesados,

cativeiros repetidos, opressão dolorosa sofrida da

parte de seus inimigos. Mas o Senhor os abandonou?

Não. Quando clamaram a ele, ele ouviu seu clamor.

"No entanto, ele considerou a sua aflição, quando

ouviu o seu clamor. E lembrou-se de seu pacto, e se

arrependeu de acordo com a multidão de suas

misericórdias". (Salmo 106: 44, 45).

B. Agora, não podemos ver nestas relações de Deus

com Israel de antigamente, assim registradas na

Palavra, alguma semelhança com as relações de Deus

com seu Israel espiritual agora?

1. Não houve um tempo em que, como Israel no

Egito, eles foram mantidos em cativeiro pelo pecado,

Satanás e o mundo? Não foi então uma grande e

maravilhosa libertação, quando pelo poder de Sua

graça vivificante ele os tirou de sua dura escravidão

com uma mão forte e um braço estendido? Era Faraó

um inimigo pior para os filhos de Israel do que

Satanás era para eles? As tarefas mais difíceis do

Faraó eram tarefas mais difíceis do que o pecado?

Foram as chicotadas infligidas sobre as costas

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daqueles que não fizeram a quota de tijolos mais

pesadas do que as colocadas sobre eles pelo flagelo de

uma consciência culpada? E, no entanto, como o

Senhor se alegrou em estender a sua mão e tirá-los

do mundo e da escravidão do pecado, por um poder

que, se não tão abertamente e evidentemente

milagroso, era ainda tão real e tão eficaz.

2. Da mesma forma, quando vieram à experiência do

Mar Vermelho e temeram que não houvesse

livramento da maldição da lei e da condenação de

uma consciência culpada, Satanás pressionando-os,

como Faraó, por trás, e a ira de Deus contra os seus

pecados, encontrando-os como as ondas do mar em

frente, e parecia não haver esperança de fuga, como

o Senhor abriu um caminho mesmo através dessas

águas profundas, e trouxe-os com segurança através

delas, de modo que eles viram seus inimigos mortos

sobre a praia. A cruz de Cristo é para estas águas o

que a vara de Moisés foi para as do Mar Vermelho.

Elas se separam e se esticam sobre eles, e os

redimidos passam com segurança por elas; mas as

mesmas águas, quando retornam à sua força,

dominam seus inimigos.

3. Mas, não encontramos paralelo semelhante

também nas outras libertações que eu designei como

relativas ao antigo Israel? Tem o maná do céu, a

rocha ferida, a coluna de nuvem de dia e de fogo à

noite, e outras misericórdias do deserto - têm

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cumprimento estes contínuos livramentos da fome,

da sede, de se perderem num deserto estéril e sem

trilhas? Levado mesmo literal e providencialmente,

não houve nenhum alimento diário dado, nenhuma

água diária, nenhuma roupa diária, nenhuma

libertação de vez em quando das provações

prementes na providência? Como os filhos de Israel

tiveram que aprender a viver pela providência, assim

também nós temos. E onde eles aprenderam esta

lição? Não no Egito, onde estavam sentados junto às

panelas de carne, e comiam pão em abundância, mas

no deserto.

Assim é com a família de Deus. A providência diária

de Deus sobre eles, seu olho atento, seu coração

amoroso, sua mão generosa, seu terno cuidado, não

são aprendidos no mundo, mas no deserto; não no

rico Egito, mas no deserto estéril.

Mas veja espiritual e experimentalmente, e veja nos

pecados no deserto e nas misericórdias do deserto,

uma imagem reflexa do nosso comportamento para

com Deus e de seu tratamento para conosco. De

quantas provações, tentações, aflições, quantas

épocas de escravidão e cativeiro, trazidos sobre nós

mesmos por nossas próprias transgressões, e

vagando por nossas próprias idolatrias, ele nos

livrou. Fazendo uma revisão de tudo o que temos sido

para ele, e do que ele tem sido para nós, não podemos

colocar o nosso selo, "Muitas vezes ele nos libertou?"

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Agora são essas misericórdias que entregam Deus à

alma. Traçando sua mão nesta e naquela libertação;

vendo como, quando ninguém mais do que ele podia

ajudar ou livrar, o Senhor apareceu em um ou outro

exemplo evidente, aprendemos ou, pelo menos,

devemos aprender a observar sua mão e atribuir

todo o poder e a glória a ele. Assim, Israel no Mar

Vermelho viu os egípcios morrerem na margem do

mar, e sob a impressão desse sinal de libertação

temia e acreditava. "E Israel viu aquela grande obra

que o Senhor fez sobre os egípcios – e o povo temeu

ao Senhor, e creu no Senhor, e no seu servo Moisés".

(Êxodo 14:31). Como o salmista declara no Salmo

diante de nós, a fé estava em seu coração e o louvor

na sua boca. "Então creram nas suas palavras, e

cantaram o seu louvor." (Sl 106: 12).

Agora, o que esperaríamos que fosse o fruto e a

consequência dessas numerosas libertações? Que

para o futuro devamos desconfiar de nós mesmos, e

ter visto, claramente visto, sentido, profundamente e

dolorosamente sentido, as consequências miseráveis

de tomar conselho da carne, e que devemos tomar

conselho de Deus. Temos sua Palavra como nosso

guia escrito; temos seu Espírito Santo como nosso

guia interior. Não devemos então reverentemente e

submissamente tomar conselho da Palavra de Deus;

tomar conselho de seu Espírito Santo como devemos

melhor glorificá-lo, como andar mais ternamente em

seu temor, como mais agradecer-lhe por seus

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livramentos na providência e na graça? Já fizemos

isso? Teremos nos aconselhado com o Espírito de

Deus quanto a como agir? Nós fizemos o livro de

Deus nosso companheiro diário? Temos buscado

direção a partir da página sagrada, e temos louvado a

Deus como deveríamos ter feito por seus vários

livramentos? Oh, quão poucos podem dizer que eles

têm! Como, na maioria das vezes, eles devem

confessar, para chegar ao nosso segundo ponto:

II. Suas vis rebeliões e os tristes frutos e

consequências delas. "Eles o provocaram com o seu

conselho, e foram humilhados pela sua iniquidade".

A. Infelizmente! Em vez de tomar conselho com o

Espírito de Deus, quantas vezes temos tomado

conselho com o nosso próprio espírito, e, portanto, o

deixado de lado por sermos trazidos sob uma

influência errada. Quantas vezes, em vez de tomar

conselho na Palavra de Deus e procurar orientação a

partir da página sagrada, tomamos conselho com

amigos que nos enganaram com conselhos falsos, ou

tomamos conselhos com nossas próprias

concupiscências para satisfazê-las, ou tomamos

conselho com o nosso orgulho, com a nossa própria

ambição para alimentá-la, com o nosso próprio lucro

para promovê-lo, ou com o nosso próprio conforto

para apreciá-lo. Em vez de tomar conselho para

agradar a Deus, temos tomado conselho para agradar

a nós mesmos; em vez de tomar o conselho da

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Palavra de Deus, nós preferimos, em vez disso,

enfraquecer a sua ponta se ela fosse demasiado

pontiaguda, negligenciar os seus avisos, ignorar os

seus preceitos, negligenciar as suas advertências e

admoestações e não prestar atenção às suas

instruções sagradas e sábias e ouvir os argumentos

de nossa própria autoindulgência e os desejos de

nossa carne inquieta e insatisfeita.

Tal era o Israel do passado. "Eles não esperaram por

seu conselho;" Ou nas palavras do texto, "Eles o

provocaram com o seu conselho". Assim, eles

cometeram dois males. Eles negligenciaram o

conselho de Deus e seguiram os seus. Eles rejeitaram

o bem e escolheram o mal. Seus preceitos bondosos e

ternos, adequados e salutares foram desprezados;

mas todos os impulsos e inclinações, luxúrias, e

dispositivos de sua própria mente eles avidamente

seguiram.

Agora, este deve ser sempre o caso quando nós

negligenciamos a Palavra de Deus. Na religião não há

posição neutra; nenhuma posição neutra entre o bem

e o mal, entre a obediência e a desobediência;

nenhum equilíbrio sutil de motivos e ações;

nenhuma direção cuidadosa e cautelosa entre os

marcos do certo e errado, como se pudéssemos

apenas pastar à borda da cerca sem tocá-la; não

considerar o cumprimento da vontade de Deus, e

como se deve agradá-lo e satisfazê-lo, e cumprir a

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vontade da carne para agradá-la e satisfazê-la. Saul

tentou dessa maneira; assim fez Aitofel; assim fez

Demas. Manter o evangelho em uma mão e o mundo

na outra; agradar a Deus e não desagradar ao

homem; ser religioso o suficiente para conseguir um

nome para viver e ser carnal o suficiente para

garantir uma boa participação nos lucros e prazeres,

estima e favores do mundo - este é o grande feito do

dia; e embora os homens infelizmente não precisem

de instrução nem para elaborar ou executar um plano

tão falacioso e tão apropriado, Satanás prepara

milhares de ministros para ensiná-los mais

eficazmente a fazer malabarismos com suas próprias

consciências e suavizar o caminho até as câmaras da

morte.

É agora como era no passado. O povo gosta de ser

enganado, e os profetas adoram enganá-los. "Que

dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não

profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas

aprazíveis, e profetizai-nos ilusões." (Isaías 30:10).

"Coisa espantosa e horrenda tem-se feito na terra: os

profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes

dominam por intermédio deles; e o meu povo assim

o deseja. Mas que fareis no fim disso?" (Jeremias

5:30, 31).

Mas nós, que professamos ser um povo separado de

todas essas doutrinas e de todos esses caminhos? Por

acaso, não provocamos muito a Deus? E isso não é

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desagradável para Deus? Retribuir a sua libertação

com vil ingratidão? Isto não é o que ele espera de

nossas mãos; isto não é o que é digno de seu grande

nome, e das obrigações que ele colocou sobre nós. E,

no entanto, acredito que não há um entre nós que, se

a questão fosse pressionada em sua consciência,

seria obrigado a pendurar a cabeça e corar de

vergonha com uma confissão diante de Deus de que

a acusação é verdadeira. Porque o Senhor considera

o coração; seu olho escrutinador olha para dentro de

nosso íntimo, e lá ele lê todo o nosso conselho. As

tramas, os planos, os artifícios, as especulações que

ocorrem nas câmaras da imaginação, estão todos nus

e abertos aos olhos daquele com quem temos de

lidar. Ele vê como repetidamente consultamos nosso

próprio interesse, conforto e benefício, em vez da

glória e honra de Deus; temos buscado agradar a nós

mesmos em vez de agradá-lo e obter algo para nossa

gratificação, em vez de tentar conhecer sua vontade e

fazê-la.

Se às vezes tivemos pensamentos, desejos e

sentimentos certos, como eles se desvaneceram antes

que produzissem frutos sólidos; com que

murmurações e inquietação vimos nossos ídolos

levados; e como, de má vontade e contra a vontade

divina, caminhamos por um caminho de abnegação,

e paramos, olhamos para trás, ou nos sentamos em

cada pequena colina de dificuldade ou num trecho de

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estrada áspero. Não é tudo isso altamente

provocador para o Senhor?

Se um pai acumulou todos os benefícios possíveis

para seu filho, deu-lhe o melhor de educação,

liberalmente supriu todas as suas necessidades,

nunca lhe negou qualquer coisa que era para seu bem

real, cuidou dele na doença, ajudou-o em dificuldade,

pagou todas as suas dívidas, e tem sido para ele o

mais bondoso e melhor dos pais, não esperaria

razoavelmente algum retorno de gratidão e afeto?

Mas se, ao invés de retribuir seu pai por afeição e

obediência, este filho, tão cuidadosamente educado e

ternamente indulgente, viesse a revelar um caráter

vil, e o que é pior, se ele praticasse todas as manobras

para enganar seu pai, e ainda que ele pudesse dar a

todas as suas transgressões uma aparência do que é

moral e bom, e ainda secretamente estivesse se se

entregando a toda a forma de vício, não devemos

corar de vergonha por tal filho e tal curso de conduta?

Ou se tivéssemos um amigo a quem tivéssemos

carregado de benefícios, a quem tivéssemos feito

todo o bem que pudéssemos, e procurado em todos

os sentidos servir, e então descobríssemos que ele

estava tomando conselho como poderia nos ferir, e

estava secretamente planejando alguma forma como

ele poderia nos ferir mais profundamente, como

deveríamos levantar as mãos e dizer: "Ó ingratidão

do homem".

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Ou se, de vez em quando, caminhássemos para a casa

de Deus em companhia de alguém de quem

esperávamos o bem, se lhe tivéssemos confiado

algum segredo íntimo, e descobríssemos, tarde

demais, que ele era um traidor de Deus, da verdade e

da amizade, ficaríamos maravilhados com a

iniquidade do homem e ficaríamos surpresos de que

houvesse alguém tão vil. E, no entanto, tudo isso é

apenas uma transcrição fraca, senão uma fraca cópia

do que somos internamente, pois direi que temos

praticado tudo isso externamente, diante dos olhos

de um Deus santo. É assim que "o provocamos com o

nosso conselho".

O Senhor não nos permitiu, pode ser, que

colocássemos em execução ativa as várias armadilhas

e arranjos de nosso coração ímpio; não nos permitiu

andar como nós teríamos andado impiamente; não

nos permitiu erigir nossos castelos arejados, ou

construir e plantar nossos paraísos visionários. Mas,

o conselho estava em nosso coração para fazê-lo, e

isso o provocou, embora ele não tivesse permitido

que o enredo amadurecesse em execução. Você

nunca planejou qualquer desejo secreto e planejou

formas para realizá-lo? Você nunca se deleitou com a

imaginação em cenas de iniquidade, e realizou todo

um drama de pecado, desde a concepção de uma

luxúria até sua completa execução? Você nunca

alimentou seus desejos em vez de morrer de fome, e

deu lugar a uma tentação em vez de resistir a ela?

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Você não especulou repetidamente, inventou e

planejou algo que sua consciência sabia que era mau

e odioso para Deus?

E agora, com tudo aquilo que a tua consciência tem

registrado e tudo o que a tua consciência esqueceu,

podes olhar para Deus e dizer: “Nunca te provoquei

pelo meu conselho, nunca tive um pensamento no

meu coração, uma ação em minhas mãos contrária à

tua santa vontade. Sempre achei o que era mais para

tua honra e glória, e nunca me entreguei a nenhum

plano para promover meu próprio interesse,

satisfazer minha própria mente ou agradar a minha

própria carne." Ó seu hipócrita! Ó, pobre criatura

enganada, assim também zomba de Deus e do

homem. Que véu deve estar sobre o teu coração, para

ocultar da tua visão tanto o pecado como o ego; pois

se tivesses uma visão correta do que era pecado aos

olhos do Deus santo, terias dito: "É por causa da

misericórdia do Senhor que eu não fui consumido

quando conspirando e tomando conselho com o meu

coração ímpio, e pecando em especulação e

imaginação se não em ação positiva."

B. Mas agora vejamos qual foi o EFEITO deste Deus

provocado por seu conselho. Eles "foram humilhados

pela sua iniquidade".

Deus toma grande notícia do que se passa nos

corações dos homens, e como ele é provocado pelo

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conselho deles, então no devido tempo ele os traz

para baixo; e isso é "pela sua iniquidade", porque ele

é um Deus de conhecimento, e por ele não só as

ações, mas os pensamentos são pesados. "Mesmo o

pensamento da loucura é pecado". Deus tem várias

maneiras de reduzir a aparência. "O dia do Senhor

será sobre toda torre alta, e os altos cedros do Líbano,

que são altos e elevados, e sobre todos os carvalhos

de Basã". Porque "Os olhos altivos do homem serão

abatidos, e a altivez dos varões será humilhada, e só

o Senhor será exaltado naquele dia." (Isaías 2:11).

Mas, o Senhor tem várias maneiras de executar essa

determinação de seu coração.

1. Às vezes ele traz o seu povo em circunstâncias

baixas. Você tem planejado como entrar no mundo;

talvez tenha conseguido em alguma medida, e seu

coração é levantado. Agora vem um golpe de Deus na

providência, e você é trazido para baixo. Seu trabalho

falha ou seu salário diminui; sua empresa parece

gradualmente diminuir; os clientes não vêm como

antes em sua loja; você perde os bons e os maus; um

negócio concorrente é criado perto de você, e você

tem a mortificação de ver o seu comércio deixando-o

para o seu rival. Ou você faz dívidas impagáveis; as

contas vêm, e as dificuldades surgem de lugares que

você mal poderia esperar. Ou sua fazenda se torna

inútil; você tem grandes perdas entre suas ovelhas ou

gado; ou ferrugem em suas colheitas; ou algo em uma

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forma de adversidade marcada que parece

claramente mostrar a mão de Deus contra você.

Esses traços pesados fazem você examinar por que é

assim tratado, e logo começa a ver que é trazido para

baixo por causa da sua iniquidade; que o orgulho, ou

a cobiça, ou a mentalidade mundana dominaram

você, que você tem tomado conselho com o pecado e

o ego em vez de com o Senhor, e que essa conduta

errada trouxe este golpe sobre você.

2. Alguns Deus traz para baixo no corpo, coloca sobre

eles uma queixa que pode tornar a vida miserável

sem muito encurtá-la, como uma afeição nervosa, ou

um estado de espírito deprimido e melancólico,

brotando de e conectado com alguma aflição

corporal, de modo que a vida ainda o possa suportar,

contudo dia após dia traz consigo melancolia e

miséria.

3. Às vezes, o Senhor envia uma tribulação à família.

Quantas vezes os pais piedosos, às vezes até

ministros da verdade, têm filhos desobedientes e

ímpios, cuja conduta, não só contrasta, mas

realmente excede a vida ímpia e as ações daqueles

que nunca conheceram as restrições de um lar

religioso, nunca ouviram as orações de um pai

piedoso, ou as advertências de uma mãe graciosa.

Poder-se-ia pensar que isso era suficiente para trazer

os pais em humildade diante de Deus e do homem, e

perguntar-se: "Não há uma causa? Ser assim afligido

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em minha família - não fui culpado de alguma

negligência e, em certa medida trouxe esse problema

para mim por minha severidade indevida ou minha

indulgência indevida?”

4. Ou você pode ter sofrido de falecimentos

familiares dolorosos - pode ter perdido uma esposa

querida ou marido amado, um excelente filho ou uma

filha afetuosa, e suas plantas agradáveis foram

assoladas.

5. Outros, mais uma vez, o Senhor traz para baixo,

especialmente no que diz respeito às suas almas. Ele

permite que eles sejam muito provados com dúvidas

e medos, permite que Satanás caia sobre eles com

suas sugestões, permite que sejam tentados dia a dia

e noite a noite; e por essas tentações severas e

cortantes eles são derrubados tão baixos como às

vezes ou mesmo muitas vezes para questionar se eles

têm uma centelha de graça em seus corações, ou um

grão de temor piedoso em suas almas. Nessas e

semelhantes maneiras o povo de Deus muitas vezes é

trazido para baixo.

Mas, agora, observe o efeito desses tratos de Deus

com eles. Seus olhos se abrem para ver a mão de Deus

nestas dispensações de sua providência ou sua graça.

Eles são feitos para sentir que são trazidos para baixo

por suas iniquidades; que havia algum pecado

secreto indulgente, seguiram alguns conselhos

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ímpios, algum pagamento vil pela bondade e

misericórdia de Deus; e eles podem ver, se trazidos

para baixo, o que eles trouxeram sobre si mesmos.

"Você não comprou isso para si mesmo?" Eles podem

ver que tinham entrado em um espírito mundano;

tinham sido retirados do caminho estreito e

apertado; se tornaram lânguidos e descuidados nos

caminhos do Senhor; tinham perdido muito do seu

antigo amor, zelo e ternura de consciência, e tinham

caído em um estado morto e estéril. Agora eles

claramente veem por que eles são abatidos e acham a

palavra verdadeira: "Aquele que semeia na carne, da

carne colherá corrupção."

Mas, serão deixados lá? Não! Eles têm um Deus

misericordioso para lidar com eles. Eles não têm um

duro mestre sobre eles como Faraó; eles não têm um

inimigo cruel como Satanás, mas têm um Deus

misericordioso, cujas compaixões não falham.

Portanto, lemos, o que nos leva ao nosso próximo

ponto:

III. A terna consideração com que Deus os

contemplou quando, na sua aflição, clamaram a ele -

"No entanto" - O que? Um "No entanto!" - "Ele

considerou a sua aflição quando ouviu o seu clamor".

Aqui está a marca da vida de Deus na alma; pois

quando o povo do Senhor é levado para baixo pela

sua iniquidade, geralmente há um suspiro e um

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clamor pelo que Deus colocou em seu coração; e

como este suspiro e clamor é sincero, e eles não são

como aqueles de quem lemos, "Eles não clamaram a

mim com seu coração quando eles uivaram em suas

camas"; como é o fruto especial da graça de Deus, e é

a respiração intercedente do Espírito Santo neles, ele

inclina o Seu ouvido gracioso e considera a voz da sua

súplica. E embora não possam orar com fluência,

pois suas orações fluentes nos tempos passados

agora se transformam em suspiros e gemidos;

embora eles não possam se aproximar do Senhor

com qualquer medida de confiança e doce segurança,

como tendo tão vilmente pecado contra ele, ainda há

isto forjado por seu Espírito e graça dentro deles, que

clamam das profundezas de um coração quebrado e

espírito contrito.

Não, às vezes eles são obrigados a voltar para sua

primeira oração, e clamam: "Deus seja

misericordioso comigo, um pecador". Eles são feitos

para confessar seus pecados, e para chorar por eles;

eles são feitos para lamentar que sempre tenham

tomado conselho com a carne, e se rebelado contra o

Senhor tão ingratamente por suas libertações

anteriores. Nenhum ponto é demasiado baixo para

eles, nenhuma postura demasiado humilde,

nenhuma confissão demasiado abjeta e não

reservada. Eles se confessam ser o principal dos

pecadores, o mais vil e pior de todos os

transgressores, os mais vil de todos os rebeldes, o

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mais atrevido de todos os rebeldes e o mais sujo e

culpado de todos os provocadores da paciência e

misericórdia de Deus.

Agora, quando eles assim clamam, suas orações

entram nos ouvidos do Senhor Todo-Poderoso. Ele

considera sua aflição. Uma das coisas mais dolorosas

que muitas vezes você sente é que o Senhor não

considera suas aflições. Vocês que estão aflitos -

aflitos em circunstâncias, aflitos em corpo, aflitos em

família, aflitos em mente - quantas vezes vocês

sentem ou temem que Deus não considera sua

aflição. Você diz: "Se Deus olhasse para minha

aflição, ele não a tiraria ou me apoiaria mais sob ela?

Se ele considerasse minha aflição, por que não

estende a mão e a alivia, se não totalmente a leva

embora? Que acrescenta tristeza à minha tristeza e,

em vez disso, torna a carga mais pesada do que mais

leve. Por que ele assim adiciona cruz a cruz e golpe a

golpe? Ou se ele achar adequado ainda assim me

afligir, por que não tenho mais fé, mais paciência,

mais submissão, mais poder para suportar o que o

Senhor deposita sobre mim, e por que eu não colho

mais proveito disso? Onde está a minha humildade?

Onde minha submissão à vontade de Deus? Onde a

minha gratidão, mesmo para o menor dos seus atos?

Qual é o meu senso de sua grande bondade para

comigo, apesar de estar no meio de meus muitos

problemas? Tudo parece engolido em minha aflição.

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Estou tão perturbado que não posso falar, minhas

aflições são tão pesadas que parecem esmagar-me."

Mas, apesar de todos esses murmúrios e perguntas

inquietas, o Senhor considera sua aflição. Ele não

trouxe esse golpe sobre você sem pretendê-lo para o

seu bem. Por que ele lhe trouxe para baixo em

circunstâncias, por que ele lhe afligiu em corpo,

provou você em mente, e lhe trouxe baixo de espírito,

senão porque ele queria trazer-lhe boas coisas? E não

tem o que é bom já saído disso? Não quebrou em

pedaços o conselho que você tomou com o ego, e fez

você temer a fim de que não deveria ser mais

enredado outra vez em pecados assediantes? Não lhe

fez temer, para que não seja novamente preso nas

armadilhas de Satanás; fez com que você visse mais

a santidade de Deus, a sua pureza e majestade e o

terrível mal do pecado; fez a sua consciência mais

terna, fez com que o temor de Deus crescesse mais e

prosperasse humilhou-o, e colocou-o baixo no pó

diante dele? Não há nada de bom aqui?

Um cristão, como ele cresce em graça, como trigo

maduro, vai se curvar para o chão. Ele não levantará

sua cerviz quando o ouvido está disparando

primeiro; mas com o ouvido amadurecido, mais e

mais curvará abaixo sua cabeça. Ele não pode ficar

muito baixo; e quanto mais graça ele tiver, mais baixo

ele ficará, pois quanto mais rico o ouvido e mais

maduro o trigo, mais ele abaixará a cabeça.

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Professantes estéreis se erguem para cima. Nenhum

talo cresce tão alto como talos estéreis; nenhum

ouvido olha tão orgulhosamente como aqueles que

têm toda a palha neles e nenhum grão. Portanto, se

você sente ou teme que Deus não considera a sua

aflição, contudo, se sua aflição o humilhou, e o

derrubou, fez com que aprendesse mais a

misericórdia, mostrou-lhe mais do mal do pecado,

tornou sua consciência mais tenra, trouxe-o mais

para fora do mundo, e mais em união com a querida

família de Deus, isso te fez bem. Havia um propósito

nisso, e esse propósito foi até agora realizado.

"No entanto, ele considerou a sua aflição, quando ele

ouviu o seu clamor." É, eu ia dizer, insultando a

Majestade do céu, que Deus não considera a sua

aflição. É negar seu olho que tudo vê, ou sua mão

todo-poderosa, ou seu coração terno, misericordioso.

Ele considera sua aflição quando ele ouve seu clamor.

Mas, como ele mostra isso? Ele não tem meios de

mostrar sua poderosa mão e esticar o braço? Ele está

sempre calado? Não!

IV. Observe, então, em quarto lugar, a lembrança de

Deus de sua aliança e arrependimento para com seus

filhos. "E ele se lembrou deles por causa de seu pacto,

e se arrependeu de acordo com a multidão de suas

misericórdias."

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Deus fez um pacto com Israel. Jurou a Abraão que

nele e em sua descendência seriam abençoadas todas

as nações da terra. E Deus, tendo-se comprometido

por juramento e aliança, cabia à sua veracidade e

fidelidade nunca afastar-se de uma só coisa.

A. Mas há algo extraordinariamente marcante nas

palavras: "Lembrou-se deles por sua aliança". É

quase como se Deus tivesse parcialmente esquecido,

ou melhor, como se estivesse quase tentado a quebrá-

la. Pensei, por vezes, que, se Deus não se ligasse por

aliança, os pecados e as iniquidades do seu povo de

tão grandes que são, ele teria sido provocado além de

toda a resistência, para expulsá-los para sempre e

enviá-los à perdição. Portanto, se eu posso usar a

expressão, ele amarrou suas próprias mãos pelo

vínculo de sua própria veracidade. Ele se ligou por

um pacto para que não fosse provocado além da

resistência; de modo que, quando seu braço estava

prestes a ser solto para varrer da terra, sua aliança o

reteve.

Vemos isso representado no Salmo diante de nós.

"Por isso disse que os destruiria, se Moisés, seu

escolhido, não tivesse estado diante dele na brecha,

para desviar a sua ira, para que não os destruísse".

Mas, como Moisés se colocou diante dele na brecha?

Ao lembrá-lo de sua aliança, bem como dizer-lhe o

que os egípcios diriam se ele destruísse seu povo no

deserto. "Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel,

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teus servos, aos quais por ti mesmo juraste, e lhes

disseste: Multiplicarei os vossos descendentes como

as estrelas do céu, e lhes darei toda esta terra de que

tenho falado, e eles a possuirão por herança para

sempre." (Êxodo 32:13). E qual foi o efeito desse

apelo? "E o Senhor se arrependeu do mal que pensou

fazer ao seu povo". (Êxodo 32:14). Foi assim que

Moisés, como o mediador típico, se interpôs entre

Deus e Israel e reteve a mão estendida. Deus

lembrou-se de sua aliança.

Mas, agora vejamos este ponto no sentido do Novo

Testamento como tendo relação com a aliança da

graça. Deus fez uma aliança com seu querido Filho

em favor do seu povo escolhido. Nesta aliança

comprometeu-se a perdoar todos os seus pecados;

para vesti-los com uma túnica de justiça em que eles

seriam aceitos e justificados; para abençoá-los com

todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em

Cristo Jesus; para levá-los através de todas as

tempestades da vida, e colocá-los diante de seu rosto

em glória. O Filho se comprometeu a salvar todos os

que lhe foram dados, a lavá-los na fonte de seu

preciosíssimo sangue, a viver, morrer e ressuscitar

para eles, e executar com toda a fidelidade a

confiança que lhe foi confiada, como seu Fiador e

Mediador, pôde levantar-se no último dia, e dizer:

"Daqueles que tu me deste, eu não perdi nenhum."

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Agora, se Deus tivesse sido provocado pelos pecados

de qualquer um de seu povo para soltar sua mão e

arrastá-lo à destruição, ele teria quebrado sua

aliança. Ele convidou a aceitar e abençoar cada

membro do corpo místico de Cristo, porque, se

alguém fosse perdido, toda a aliança teria sido

quebrada. É com esta aliança celestial como é com as

alianças terrenas. Tomemos, por exemplo, uma

locação ou um contrato. Se você quebrar qualquer

uma de suas condições, o todo é anulado. Portanto,

se alguém da família querida de Deus perecesse no

caminho, a aliança da graça teria sido quebrada.

Portanto, "Ele se lembra deles por sua aliança".

Embora aborreça os seus pecados e os abata por

causa das suas iniquidades; embora gravemente

provocado pela sua desobediência, contudo, ele se

lembra deles - isto é, de sua aliança. Não são suas

boas ações que ele considera, nem suas más. Ele

parece mais alto que qualquer um. Ele olha para o seu

Filho querido, com quem fez um pacto eterno, bem

ordenado em todas as coisas e com segurança. Ele

olha para o selo pelo qual foi selado com sangue, pois

lemos do "sangue da aliança eterna", e como no

Egito, ele se lembra do sangue e passa por seus

pecados, ao passar por cima das casas com sangue.

Oh, a bem-aventurança de ter um manifesto

interesse salvador no sangue da aliança, e assim ter

um testemunho de que Deus fez uma aliança com seu

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amado Filho em nosso favor; que nossos nomes estão

escritos no livro da vida; e que Cristo é o nosso

Mediador à direita do Pai. Quais são todas as bênçãos

terrenas em comparação com isso? O que são a

saúde, a força, a riqueza e todos os bens da vida; o

que é tudo o que o coração carnal pode desejar ou a

mente cobiçosa agarrar; o que é tudo comparado com

um interesse salvador na aliança eterna, e no amor,

sangue e justiça do Senhor, do Cordeiro? O que é a

terra, com todas as suas atrações, em comparação

com um interesse salvador no sangue precioso de um

Jesus moribundo?

Você vai encontrá-lo assim quando você chegar a

deitar sobre uma cama de doença e dor; quando as

gotas frias do suor se levantarem em sua testa, e o

último inimigo estiver prestes a agarrá-lo pela

garganta. Quais serão as suas ansiosas tentativas de

ter algo mais do que você tem ou é - e posso

acrescentar - seus sucessos - o que eles farão por você

então? Apenas serão espantosos espectros do

passado para aterrorizar e alarmar sua consciência,

para ver por quais sombras você tem procurado se

agarrar à negligência da substância sólida. Mas,

naquela hora solene ter um testemunho de Deus de

perdão e paz, vai tornar suave um leito de morte;

acalmará todos os medos ansiosos; e te levará com

segurança pelo vale escuro da sombra da morte.

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B. Mas agora, para algumas palavras sobre a última

frase do texto: "Ele se arrependeu de acordo com a

multidão de suas misericórdias". Foi, como eu disse

há pouco, como se Deus estivesse prestes a acabar

com eles. Mas, veja como isso se relaciona com a

nossa experiência diária. Às vezes, quando você tem

planejado, e talvez gastado metade do dia em

conspirar como você deve realizar este ou aquele

desígnio mundano, à noite você começa a refletir

sobre o negócio do dia; e as tramas e esquemas que

passaram por sua mente ocupada caem com algum

peso e poder sobre sua consciência. E agora você se

pergunta como Deus poderia suportá-lo; como ele

poderia permitir que um desgraçado como você

vivesse e se entregasse a tais esquemas e planos para

sua própria honra, ganho ou ambição, e consultar tão

pouco a honra e a glória de Deus.

Agora, você é levado a ver que o Senhor, se ele deu

pleno alcance à sua ira, dará um fim a você; mas em

vez disso se arrepende - isto é, não fará o que faria de

outra maneira. Não que devamos atribuir o

arrependimento a Deus como devemos ao homem.

Mas, como um termo emprestado da linguagem dos

homens, ele até agora se arrepende de não pôr em

execução os pensamentos de seu coração santo e

indignado. Assim, em vez de nos arrastar para a

destruição, ele nos leva ao seu seio; em vez de juízo,

manifesta misericórdia; em vez da ira ele revela sua

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graça; e assim ele se arrepende de acordo com a

multidão de suas misericórdias.

Que expressão doce é essa e como ela parece

transmitir à nossa mente que as misericórdias de

Deus não caem gota a gota, mas são tão inumeráveis

como a areia sobre a praia, como as estrelas que

brilham no céu; gotas de chuva que enchem as

nuvens antes de descarregarem seus copiosos

chuveiros sobre a terra. É a multidão de suas

misericórdias que o tornam um Deus tão

misericordioso. Ele não dá senão uma ou duas gotas

de misericórdia - que logo serão exaladas e

desaparecidas, como a chuva que caiu esta manhã

sob o sol quente. Mas, as suas misericórdias fluem

como um rio, sim, como aquele "rio de Deus" que

lemos "está cheio de água". Há nele uma multidão de

misericórdias para uma multidão de pecados e uma

multidão de pecadores. E assim ele dá de acordo com

a multidão de suas misericórdias.

Isto é sentido e recebido no amor que quebra,

humilha, suaviza, e derrete o coração de um pecador

sensível; e ele diz: "Por que, pecar contra tais

misericórdias?" Por que, quando o Senhor se

lembrou de mim na minha baixa propriedade,

novamente visitou-me com a luz do seu rosto, e

manifestou mais uma vez uma sensação de sua

misericórdia - devo agir para provocá-lo de novo,

tomar de novo o conselho de meu próprio coração,

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voltar a andar inconsistentemente, ser enredado

novamente nas armadilhas de Satanás? Ó, que Deus

o proíba. Que o proíba o evangelho, a terna

consciência, e todo o amor moribundo de Jesus!

Assim, Deus toma ocasião, pelas próprias

necessidades de seu povo, para derretê-las em

obediência, para amaciá-las em arrependimento,

para dissolvê-las em arrependimento e assim trazer

uma colheita de louvor e gratidão para fora dos

sulcos que ele rega tão abundantemente com sua

misericórdia. Ele assim colhe para si um louvor

eterno no céu, enquanto ele assegura essa

obediência, através da qual ele é glorificado ainda

agora sobre a terra.