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Centro de Treinamento Ministerial - LIDERA MISSIOLOGIA I INTRODUÇÃO A MISSÕES 1 INTRODUÇÃO A MISSÕES O poder da ajuda mútua Extraído do livro: A Doutrina Bíblica da Mordomia;Waldomiro Motta;Editora Juerp. Ocorreu um fato comovente nas regiões alpinas. A neve caía impiedosamente. As pessoas que se encontravam nas estradas, ao desabrigo, sabiam muito bem que não poderiam parar de andar. Parar seria morte certa. Dois homens caminhavam penosamente. Estavam quase mortos de cansaço, mas prosseguiam. Nisto deram com um homem caído. Um deles sugeriu: -Ajudemos a este pobre homem. -Não protestou o outro procuremos salvar-nos a nós mesmos. Mas o primeiro encaminhou-se sozinho para o homem caído. O outro, vendo que o companheiro se dirigia para ajudar o homem caído, deixou-o, e continuou sozinho. O caído foi levantado. E os dois, ele e aquele que o levantara, ajudando-se mutuamente, chegaram à única cabana que existia na região. Perto dela encontraram o egoísta que não quisera ajudar. Estava morto e coberto de neve no lugar em que caíra, só e sem forças para continuar. Enquanto procurarmos salvar a outros, testificando do Evangelho de Cristo, a nós mesmos nos estamos salvando pelo robustecimento de nossa fé. INTRODUÇÃO A Obra Missionária é um cenário de guerra. A Palavra de Deus já afirma que: “ Pois não temos de lutar contra a carne e o sangue, e sim, contra os principados, contra as potestades, contra os poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes” (Efésios 6:12). Portanto, há uma luta, uma guerra a ser travada, no cenário espiritual. Há um COMANDANTE, Jesus, que assim como o Presidente de algum país ordeiro, declara guerra ao inimigo, convoca seus ministros militares, generais e capitães, e determina-lhes os princípios gerais da guerra: • Ocupar todos os espaços, cercando o inimigo por todos os lados e em todos os lugares (Mc. 16:15; At 1:8); • Abater somente militares, procurando salvar e libertar todos os civis (Ef 6:12; 2 Pe 3:9b); • Restabelecer a ordem e a paz (Lc 10:5; Jô 14:27; Jô 10:10);

Missiologia I

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INTRODUÇÃO A MISSÕES

O poder da ajuda mútua Extraído do livro: A Doutrina Bíblica da Mordomia;Waldomiro Motta;Editora Juerp.

Ocorreu um fato comovente nas regiões alpinas. A neve caía impiedosamente. As pessoas que se encontravam nas estradas, ao desabrigo, sabiam muito bem que não poderiam parar de andar. Parar seria morte certa. Dois homens caminhavam penosamente. Estavam quase mortos de cansaço, mas prosseguiam. Nisto deram com um homem caído. Um deles sugeriu: -Ajudemos a este pobre homem. -Não – protestou o outro – procuremos salvar-nos a nós mesmos. Mas o primeiro encaminhou-se sozinho para o homem caído. O outro, vendo que o companheiro se dirigia para ajudar o homem caído, deixou-o, e continuou sozinho. O caído foi levantado. E os dois, ele e aquele que o levantara, ajudando-se mutuamente, chegaram à única cabana que existia na região. Perto dela encontraram o egoísta que não quisera ajudar. Estava morto e coberto de neve no lugar em que caíra, só e sem forças para continuar. Enquanto procurarmos salvar a outros, testificando do Evangelho de Cristo, a nós mesmos nos estamos salvando pelo robustecimento de nossa fé.

INTRODUÇÃO

A Obra Missionária é um cenário de guerra. A Palavra de Deus já afirma que: “ Pois não temos de lutar contra a carne e o sangue, e sim, contra os principados, contra as potestades, contra os poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes” (Efésios 6:12). Portanto, há uma luta, uma guerra a ser travada, no cenário espiritual. Há um COMANDANTE, Jesus, que assim como o Presidente de algum país ordeiro, declara guerra ao inimigo, convoca seus ministros militares, generais e capitães, e determina-lhes os princípios gerais da guerra: • Ocupar todos os espaços, cercando o inimigo por todos os lados e em todos os lugares (Mc. 16:15; At 1:8); • Abater somente militares, procurando salvar e libertar todos os civis (Ef 6:12; 2 Pe 3:9b); • Restabelecer a ordem e a paz (Lc 10:5; Jô 14:27; Jô 10:10);

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• Usar a armadura adequada (Ef 6:10-18). Os MINISTROS e generais, por sua vez, convocam as TROPAS, traçando as estratégias de combate, os locais, as armas, visando alcançar os alvos do comandante. As TROPAS, arregimentadas em MUNICIADORES, RETAGUARDA e FRENTE DE COMBATE: Na Obra Missionária, esses personagens são: • COMANDANTE: JESUS • MINISTROS MILITARES: PASTORES • TROPAS: TODA A IGREJA • MUNICIADORES: CONTRIBUINTES • RETAGUARDA: INTERCESSORES • FRENTE DE COMBATE: MISSIONÁRIOS NO CAMPO De modo que todos os crentes estão alistados e arregimentados para esta guerra. Nós, agentes missionários, assim, como aqueles soldados, que carregam um equipamento de rádio para receber e transmitir as informações comando-campo de batalha-comando, precisamos assumir e cumprir bem o nosso papel, afim de manter a Obra Missionária em pleno funcionamento. Temos uma grande responsabilidade, que é informar e motivar a igreja e ouvir e atender ao missionário em sua necessidade. Missões é um assunto profundo e abrangente, partindo do próprio Deus, o Criador eterno e misericordioso, buscando salvar ao mais indigno e miserável homem. Ele estabeleceu as missões para trazer a todos os homens, de todas as partes do mundo de volta à comunhão consigo (Gn 3:15; Jô 3:16; At 17:30 ; Ef 2:14-16).

1. O QUE É MISSÕES?

A palavra “MISSÃO”, vem do latim MITO, e do grego “APOSTELLO”, que significam enviar. Portanto, do grego, deriva-se “apóstolo”, enviado, ou missionário. Nos dicionários de língua portuguesa, missão é ordem, tarefa, encargo, incumbência, comissão, obrigação, dever, compromisso. È também o ato de enviar ou de ser enviado. Missionário é apresentado como propagandista ou pregador.

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È curioso notar que a palavra míssil , com o mesmo radical, significa objeto arremessado ao espaço. Jesus deu uma ordem à igreja, enviando-a ao mundo para pregar o evangelho a toda a criatura, Mc 16:15, Mt 28:19,20, At 1:8. Estes três textos mostram claramente a natureza dessa ordem: • UNIVERSAL: ide por todo o mundo... • ÁRDUA: fazei discípulos..., ensinando-os... • PODEROSA: mas recebereis poder..., e estes sinais... • SIMULTÂNEA: tanto em..., como em..., e..., e até... Jesus, enviado por Deus (Jô 3:16), comissionou sua igreja a dar seqüência ao seu trabalho, começando com doze homens (Mt 10:1-4). Determinou-lhes que sua tarefa não deveria ser dada por encerrada: “ Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel até que venha o Filho do homem.” (Mt 10:23b). Precisamos ter a visão de Missões como: 1) A obra que exige prioridade (Jô 4:31-34); 2) O desafio de cada oportunidade (Jô 4:35); 3) O meio de construir para a eternidade (Jô 4:36-38).

2. PARA QUE MISSÕES? Romanos 10:14, diz: “Como, pois invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?”. Falar em Missões sem sequer saber para que fazemos Missões é o mesmo que andarmos no escuro. Paulo, o grande missionário, foi sempre consciente de que há um objetivo a ser alcançado em Missões. Das três indagações feitas por Paulo, no texto acima, a segunda interroga: como crerão naquele de quem não ouviram? Sabe qual é a resposta? Missões. Sim, Missões existe para levar a Cristo para todas as pessoas, fazendo-as crer que Ele é o eterno e suficiente Salvador. Não adianta envolver-se no trabalho missionário, se a finalidade não for a de levar Cristo aos perdidos e necessitados do seu infinito amor. Somos responsáveis pelos que vivem em nossa cidade. Ou nós lhe falamos de Cristo agora ou um dia será muito tarde para os perdidos e para nós, os salvos.

3. ONDE FAZER MISSÕES?

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Dentro da visão missionária de Jesus, a salvação destina-se a todas as gentes de todos os cantos da face da terra. Isto está provado em Mateus 28:19: “ Portanto ide, ensinai todas as nações (povos)”. Jesus disse ide a todas as nações ou o mesmo que “ ide ao Brasil, Moçambique, Japão, Coréia, Índia, China, e todos os demais países”. Salvação é uma dádiva oferecida independente de cor, raça, idioma e posição social. O mesmo princípio está também expresso em Mc 16:15, Tt 2:11, At 1:8, At 17:30. Em Atos 1:8, temos quatro pontos estratégicos para se fazer Missões: 1) Jerusalém: é o trabalho missionário em nossos lares, vizinhança, escola, faculdade, trabalho, etc. Este campo é muito vasto. Você já evangelizou alguém da sua família? Ou seu colega de faculdade? Pense nisto agora. 2) Judéia: é o trabalho realizado nas vilas e bairros próximos; este campo parece sem nenhuma importância, porém não há dúvida de que é um excelente local para uma boa pescaria. Existem grandes bairros e vilas onde há milhares de pessoas precisando ouvir a mensagem do Evangelho; 3) Samaria: é o trabalho realizado em cidades mais distantes, no interior do país, o que se pode chamar de “missões nacionais”; 4) Confins da Terra: É o trabalho missionário realizado em todo o mundo, isto é, “missões estrangeiras”. Com a abertura dos países comunistas, a queda do regime Talibam, do ditador Saddam Hussein, Tsunami, entre outros fatos históricos, é de grande importância invadir esses países com missionários implantando igrejas, escolas bíblicas e realizando outros ministérios. Nunca o mundo esteve tão aberto para o trabalho missionário como no momento atual. Não sabemos até quando durará tal abertura. Está na hora de obedecermos ao IDE de Jesus. Além dos pontos estratégicos para se fazer Missões, Atos 1:8 diz que o trabalho missionário deve ser feito “ao mesmo tempo” em cada um dos quatro lugares. O trabalho dos discípulos não deveria ser primeiro iniciado e completado em um lugar para depois partirem para outro. Essa “simultaneidade” está expressa nas palavras “tanto em”, “como em”, e “ até os”.

4. COMO FAZER MISSÕES?

É Jesus quem nos manda ir e, também, quem nos oferece princípios orientadores para fazermos Missões. Os princípios estão demonstrados nas experiências dos primeiros missionários. Podemos observá-los sendo postos

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em prática por Filipe por ocasião de uma extraordinária experiência evangelística (Atos 8:26-40). Desse texto extrairemos os princípios orientadores de Missões: 1) Filipe era um homem guiado pelo Espírito de Deus: não havia possibilidade de comunicação entre Filipe e o eunuco; sendo judeu, sua tradição o impedia de juntar-se com estrangeiro, alto funcionário da Etiópia, que não tinha permissão para conversar com um homem “comum”. Mas Filipe era um homem guiado pelo espírito e fazia o que Ele lhe ordenava. 2) Filipe não se deixava levar por preconceitos ou tradições humanas: ele entendia que todos são pecadores e carecem da glória de Deus não importando quem e onde esteja (Rm 3:23; 5:8; 2 Pe 3:9b). 3) Filipe conhecia a Bíblia: Ele interpretou corretamente a passagem lida pelo eunuco. Quem quiser ser bem sucedido na execução de Missões precisa conhecer a Bíblia. Eça é fundamental na realização do trabalho missionário. 4) Filipe não deixava de anunciar a Cristo: Diz o texto (verso 35) que Filipe “ abrindo sua boca e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus”. Isto nos leva a três importantes conclusões com base no sucesso ministerial daquele extraordinário missionário: a) Cristo deve ser o centro do nosso testemunho pessoal (2 Co 2:15); b) Cristo deve ser o centro da nossa mensagem (1 Co 1:23); c) Cristo deve ser o centro da nossa missão evangelística, pois verdadeiro evangelismo é confrontar Cristo com os homens. 5) Filipe tinha um alvo definido – conduzir almas (o eunuco) a Cristo. Para realizar Missões, além de aplicar princípios, é preciso haver a prática de três ações individuais, orar, contribuir e ir, e duas ações coletivas, enviar e promover. A oração do crente na Obra Missionária tem duas finalidades: intercessão, pelos missionários e lugares onde ele vai atuar (Is 62:6-10; At: 18:9-10), e despertamento missionário na igreja local. A oração aumenta o envolvimento do crente com a evangelização do mundo. Um líder de missões disse certa vez: “Se mais crentes se pusessem de joelhos em oração, mais crentes se poriam de pé na evangelização”. Leia o seguinte testemunho de um missionário acerca da intercessão:

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Um missionário americano, na áfrica, teve de passar a noite numa floresta. Ele levava dólares e remédios. No dia seguinte, tratou de um rapaz doente, numa aldeia próxima, e segui viagem. Ao passar por aquele lugar resolveu visitar o rapaz, que lhe contou, que naquela noite, ele e outros cinco amigos pretendiam assaltar o missionário, pois sabiam o que ele levava, mas desistiram ao ver que vinte e seis guardas o protegiam. O missionario retrucou, dizendo que estava sozinho. O rapaz disse que não, realmente ele viu, e não ele, outros cinco amigos viram. Ao contar esse testemunho em sua igreja de origem, um certo irmão levantou-se, e perguntou ao missionario, qual o dia e a hora do acontecimento. E disse que naquele dia, noite na africa, e dia nos estados unidos, ele foi tocado por deus, para orar pelo missionario, e chamou outros rapazes a orarem com ele. Pediu em seguida que os homens que oraram com ele aquele dia, se levantassem. Apareceram vinte e seis homens!! Contribuir em Missões envolve, principalmente a contribuição através de bens materiais. O missionário Paulo, na sua carta aos filipenses, capítulo 1, versículo 5, agradece a “cooperação no evangelho”. A palavra “ cooperação”, neste versículo, na língua original em que foi escrita a carta, tem o sentido de “ ser sócio no negócio”. Quem vai ou está no campo missionário precisa ter “sócio nos negócios do Evangelho”. Contribuir para a Obra Missionária também é uma maneira de ajuntar tesouros no céu e não ajuntar na terra, conforme está escrito em Mt 6:20. Leia a seguinte história de um rapaz contribuinte missionário:

CONTRIBUINDO SEM SER NOTADO Uma das mais impressionantes histórias de amor às almas perdidas que conhecemos é daquele crente londrino. Era um solteirão, ganhava bem e dava o seu dízimo. Vestia-se, porém, modestamente. Entre os membros da igreja começou a correr este comentário: “ Que faz o nosso irmão do dinheiro que sobra? Anda tão modestamente vestido! Será ele um sovina? Um avarento?” Um dia ele morreu. Quando arrombaram a porta de seu quarto humilde, deram com um quadro trsite e desolador. Um caixote, no meio do quarto, lhe servia de mesa. Por cadeira tinha outro caixote. Não havia cama no quarto. Encostada à parede estava uma esteira. No caixote que servia de mesa encontraram uma gaveta. Ao puxá-la, descobriram o segredo daquela vida simples e humilde. Vasta correspondência ali se achava. Ao lerem aquelas cartas, ficaram sabendo que aquele homem, sozinho, sustentara, durante vinte anos, um casal de missionários na China.

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Num pedaço de cartolina, entre as cartas, estava escrito: “ Que importa que minha mesa seja este caixão, minha cadeira esse caixote e minha cama aquela esteira, contanto que o evangelho seja anunciado aos pecadores?” Quantas casas de crentes aí estão, providas de todo o conforto, mas seus nomes estão em branco no reino de Deus!

Extraído do livro: A Doutrina Bíblica da Mordomia;Waldomiro Motta;Editora Juerp.

Ir fazer o trabalho missionário é dever de todos crentes. Alguns irão mais longe, porém todos podem ir nos lugares próximos. O profeta Isaías prontamente pediu que ele fosse o enviado quando o Senhor perguntou: “A quem enviarei, e quem irá por nós?”. Para proclamar o evangelho, o Senhor não envia anjos. Ele usa homens e mulheres, seus discípulos (Hb 2:16; 1 Pe 1:12). Enviar e promover são ações coletivas da igreja, de toda comunidade eclesiástica, no sentido de manter a Obra missionária sempre bem abastecida de recursos humanos, materiais e financeiros. O Pr. Oswald Smith conta que tentou por vezes ir para o campo missionário, mas depois de tentativas frustradas, ele entendeu que seu papel era o de liderar a igreja no envio e na promoção da Obra Missionária. Por causa disso, é chamado de “Senhor Missões”.

5. QUEM DEVE FAZER MISSÕES?

A Bíblia nos ensina que é da igreja, a responsabilidade primária de executar a Obra Missionária. Essa responsabilidade missionária é coletiva e individual. A coletiva é da Igreja como reunião ou assembléia dos salvos e a individual é a de cada crente como membro integrante da igreja. Ao longo do curso, nós veremos uma matéria específica que trata da Igreja Local e Missões, de modo mais detalhado. Em Atos dos Apóstolos, encontramos as primeiras igrejas cumprindo a responsabilidade de executar a Obra Missionária. Como amostra disso, temos Atos 13:1-3. A igreja de Antioquia separou e enviou Paulo e Barnabé para fazer a Obra Missionária. A Igreja é a verdadeira agência missionária, responsável pelo envio e coordenação de qualquer projeto missionário. O ir não deve ser independente do enviar. Hoje, muitos querem fazer a Obra Missionária à revelia da Igreja, mas soa a Igreja tem a autoridade divina para enviar. A Igreja não pode deixar de exercer essa autoridade. Enviar não é simplesmente dar uma ordem para que alguém vá a algum lugar. É muito mais. O enviar é uma tarefa, um trabalho, um empreendimento, com suas implicações na vida da igreja, do missionário enviado, e do povo ao qual se

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vai. Esse aspecto pode ser inferido pelas quatro ações praticadas no versículo 3. A Igreja de Antioquia: 1)jejuou; 2)orou; 3)impôs as mãos sobre eles; e 4) os despediu. Além de Paulo e Barnabé exercerem um ministério, terem a chamada divina, a igreja, antes de enviá-los, jejuou, orou, impôs as mãos e os despediram. A igreja, a partir de sua liderança, vai criar secretarias ou conselhos missionários, para coordenar todo o trabalho de envio, sustento, promoção e manutenção dos missionários no campo.

A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA

A Igreja é o agente de Deus no mundo para cumprir a Sua vontade. Essa vontade

se resume em sua missão. Quando se fala de Igreja, trata-se de todos os salvos

que pertencem ao Corpo vivo de Cristo, os que pelo poder do Espírito Santo

foram regenerados e incorporados nesse único Corpo de Cristo na terra (1 Co

12.12,13). Falar da natureza missionária da Igreja significa falar da

responsabilidade que Deus passou para Seus escolhidos. Ficará evidente a

natureza missionária desse povo sempre que ela fica orientada pela Palavra

inspirada por Deus. Não é por raciocínio humano que se descobre essa natureza

missionária. H. Kraemer escreveu em, The Christian Message in a

NonChristian World, 1938, “A igreja...unicamente de todas as instituições no

mundo é fundada numa comissão divina”.

I. A Natureza Missionária da Igreja tem sua Fonte, Modelo e continuação na Missão de Jesus Cristo.

Jesus Cristo Veio para Revelar Deus aos Cegos e Ignorantes

João fala claramente que a encarnação da Palavra eterna ocorreu para tornar

Deus conhecido (Jo 1.18). A revelação do invisível Senhor soberano, Criador de

todas as coisas, foi patente na pessoa e obra de Jesus de Nazaré. O Deus

Unigênito trouxe a glória real do Deus único e a fez brilhar em Sua vida e

palavras. João, um dos Seus seguidores, comentou: “Aquele que é a Palavra

tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito

vindo do Pai, cheio de graça e verdade”(Jo 1.14).

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Para Filipe que queria ver o Pai, Jesus respondeu, “Quem me vê, vê o Pai...você

não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu lhe digo

não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai que vive em mim, está realizando a

sua obra” (Jo 14. 9,10NVI).

Na Sua oração sacerdotal, Jesus declarou, “Eu te glorifiquei na terra,

completando a obra que me deste para fazer...revelei teu nome àqueles que do

mundo me deste. Eles eram teus: tu os deste a mim, e eles têm obedecido à tua

palavra”(Jo 17.4, 6).

Ver a Jesus, portanto, e aceitar Sua missão como a revelação genuína e única do

Pai, significa receber vida eterna. Jesus recebeu autoridade sobre toda a

humanidade para conceder vida eterna aos que o Pai lhe deu. Essa vida é

explicada em termos de “conhecer o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a

quem ele enviou” (Jo 17.3). Por isso, João escreveu seu evangelho, para que os

leitores creiam que Jesus é o Cristo, o filho de Deus e, crendo, tenham vida em

seu nome”(Jo 20.31). Em o evangelho de João, crer, ver e conhecer são termos

sinônimos no que diz respeito à vida espiritual. A cegueira imposta pelo “deus”

deste mundo e ignorância espiritual são vencidos pelo relacionamento com

Jesus Cristo marcado pela fé e amor.

Jesus Cristo Veio para Salvar os Perdidos

Os outros evangelistas descrevem a missão de Jesus Cristo em termos de

salvação. O nome de Jesus, que o anjo mandou José dar ao filho de Maria logo

depois de nascer, significa, Jahweh salva, “...por que ele salvará seu povo dos

seus pecados”. Salvação quer dizer “livramento”, “libertação” ou “cura”, como

podemos notar em Mc 5.28. Aí a mulher com a hemorragia pensava, “Se eu tão-

somente tocar em seu manto, ficarei curada”. A palavra de Jesus para ela foi,

“filha, tua fé te salvou” (ou “curou” v. 34). Lucas encerra sua narrativa sobre

Zaqueu, chefe dos publicanos com a declaração abrangente: “Pois o Filho do

homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (19.10; Mc 10.45).

Claramente, Jesus teve a missão de salvar pecadores.

Jesus leu Isaías 61 na sinagoga de Nazaré, o que Lhe deu uma abertura para

declarar Sua missão em termos de pregar boas novas aos pobres, proclamar

liberdade aos presos, recuperar a vista aos cegos e libertar os oprimidos.

Anunciava a chegada do ano da graça do Senhor (Lc 4. 18,19). A missão de

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Cristo, confirmada neste texto, mostra que salvação se direciona em favor dos

necessitados e oprimidos.

Examine os ensinamentos, inclusive as parábolas. Jesus deixou bem claro que

esta salvação não idealizava uma rebelião contra o Império Romano, visando

liberdade política, mas uma mudança mais duradoura, mais profunda e

espiritual. Seria nada menos do que perdão dos pecados e afastamento da ira

divina. Houve uma ocasião em que Jesus curou um paralítico que quatro amigos

trouxeram e baixaram, com sua maca, numa abertura no telhado. A este Jesus

declarou, “Filho, os seus pecados estão perdoados” (Mc 2. 5). O Reino de Deus

que Jesus encarnava em Sua própria pessoa incluía a cura para o corpo e perdão

para a alma. Onde quer que Jesus andava, Ele demonstrava que o Reino que se

manifestava em Sua pessoa transformava corpos, mas principalmente, almas.

Refutou a acusação de blasfêmia por parte dos doutores da lei afirmando que o

Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados. Qual seria a

base pela qual o justo representante de Deus poderia declarar o perdão dos

pecados? Evidentemente, foi no fato que Jesus cumpria a missão do Servo

Sofredor. Que outra maneira haveria para entender Marcos 10.45, : "...nem

mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida

em resgate por muitos”. O Servo, segundo a profecia de Isaías, revela que, “...

embora o Senhor tenha feito a vida dele uma oferta pela culpa, ele verá sua prole

e prolongará seus dias” (Is 53. 16). Isaías profetizou tanto a morte expiatória de

Jesus, o Servo, bem como Sua ressurreição. A transformação do corpo de Jesus

na ressurreição e a aceitação do sacrifício pelos pecados dos que nEle confiam,

revela novamente que a missão de Jesus foi de salvar.

A missão de Cristo também deu muita importância ao ensino dos Seus

discípulos. A escola de Jesus tratou o caráter do discípulo no Sermão do Monte, a

natureza e centralidade do Reino e da graça de Deus nas parábolas, a

necessidade de arrependimento, negar-se a si mesmo, carregar a cruz e seguir a

Jesus para alcançar a vida. O Mestre não Se omitiu de ensinar pela prática,

enviando os discípulos na missão de anunciar a proximidade do Reino, expulsar

demônios,curar os enfermos e viver pela fé. Outros temas ocasionais surgem tais

como o divórcio, a humildade (quando lavou os pés dos discípulos), a vinda e

missão do outro Paracletos que os guiaria à toda a verdade. A centralidade do

ensinamento na missão de Jesus pode ser vista na exigência que acrescentou à

grande comissão – ensinar futuros discípulos a obedecer tudo que Jesus

ensinara aos seus discípulos.

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A Fundação da Igreja

Mateus relata que Jesus entendeu que sua missão incluiria a construção do

templo, não feito com mãos, nem com pedra e madeira, mas na ressurreição do

Seu corpo no terceiro dia (Jo 2.19). Pessoas que confessam sua lealdade para

com Sua pessoa seriam incorporados em Sua pessoa. Declarou para Pedro que

Ele (e certamente os apóstolos e profetas) edificaria Sua Igreja sobre “esta

pedra” (Mt 16. 18) e que “as portas de Hades (a morte) não poderão vencê-la”,

isto é, que Jesus venceria a morte! Não seria justamente essa “igreja” que Isaías

previu ao falar da ressurreição do Servo e sobre a prole que ele verá ( 53.10)?

A pedra deveria ser a confissão de Pedro que declararia quem é Jesus, o Messias

prometido nas Escrituras, o filho encarnado de Deus por meio de quem a

salvação viria, e conseqüentemente, participação no Seu povo. As chaves do

Reino que Jesus deu para Pedro, passaram para ele a autoridade de ligar e

desligar o que já estava ligado ou desligado no céu, isto é, para anunciar as boas

novas do Reino em lugar de Jesus, tal como alguém recebe as chaves para ocupar

a casa do dono. Jesus tinha prometido quando chamou Seus primeiros discípulos

que Ele os faria pescadores de homens (Mt 4.18,19). Estes homens seriam a

matéria prima na construção da igreja que Jesus prometeu erguer.

A Igreja pertence a Cristo, uma verdade confirmada pela frase “minha igreja”,

que, sendo descrito por Jesus no número singular, prova claramente que ela é

uma e não muitas. Denominações evangélicas não são várias “igrejas” mas

divisões e manifestações da igreja única.

Ele usaria homens falhos e fracos como Pedro para serem os construtores. Paulo

também escreveu que Deus tinha lhe dado a graça de ser um “sábio construtor” (

gr. arquitecton). Lançou o fundamento que não era outro senão Cristo, por isso,

todos devem ter maior cuidado como constroem. Em Efésios 2.20 Paulo

acrescenta que a Igreja, formada dos santos, membros da família de Deus, “são

edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo

como pedra angular”. Não deve haver dúvida alguma que a Igreja tem Jesus

Cristo como o alicerce e os apóstolos formam a primeira fileira de pedras que

deram para a Igreja a base que a segura nos ensinamentos e escritos deles. Sem

os escritos dos apóstolos e profetas não teríamos o Novo Testamento. E sem as

Escrituras inspiradas, que chance haveria de manter a certeza sobre o caminho

da salvação e a missão de Jesus na terra hoje? Que missão teria a Igreja sem as

Escrituras da Nova Aliança?

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Acerca do templo de Herodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo, Jesus

disse, “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias”. Mas o templo de

que Ele falava não foi composto de pedras físicas, mas pedras vivas, já que esta

Casa do Pai seria levantada sem mãos. Pedro entendeu que, chegando a Jesus, a

“pedra viva”, as “pedras vivas”, isto é crentes, seriam edificados numa casa

espiritual (1 Pe 2.4,5). A missão de Jesus foi de fornecer, através de Sua morte

expiatória e ressurreição, as condições pelas quais a “casa” de Deus seria

erguida. A antiga promessa que Deus habitaria no meio do Seu povo se

cumpriria na medida que os membros cumprem seu papel.

Pedro cita outros títulos, vindos do Antigo Testamento, para descrever a igreja e

sua missão: “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus

para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua

maravilhosa luz”(1 Pe 2.9). A formação desta nova geração e povo santo, distinta

de Israel segundo a carne, tem a missão de proclamar as virtudes ou grandezas

daquEle que nos tirou das trevas e nos iluminou com a luz celestial. Assim a

igreja se construirá, tornando-se uma casa de Deus, bela e completa.

Jesus não somente descreve a Sua igreja como o templo que precisava ser

construído por Ele, mas também refere a um rebanho que ainda faltava ovelhas

suas. Em Suas próprias palavras, Ele disse, “...dou a minha vida pelas ovelhas.

Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as

conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só

pastor”(Jo 10. 15,16NVI). O Senhor Se referia aos gentios quando falou das

ovelhas ainda não arrebanhadas no aprisco. As nações, uma vez alcançadas pela

graça salvadora, estariam sendo incluídas dentro do único povo de Deus. Com a

vinda do Espírito Santo com poder, os discípulos testemunharão não somente

em Jerusalém, Judéia e Samaria, mas também até os confins da terra. Estarão

cumprindo a promessa feita por Deus a Abraão quando declarou que por meio

dele, isto é, pela descendência dele, todas as “famílias da terra” seriam

abençoadas (Gn 12.3). Paulo escreveu que a chegada da plenitude dos gentios é

crucial para o programa escatológico que inclui a salvação de todo Israel (Rm

11.25,26).

Pedro entendeu a nova realidade da missão da igreja quando cita Amós no

Concílio de Jerusalém, “Depois disso voltarei e reconstruirei a tenda caída de

Davi. Reedificarei as suas ruínas, e a restaurarei, para que o restante dos

homens busque o Senhor, e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o

meu nome, diz o Senhor que faz estas conhecidas desde os tempos antigos”(Atos

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15.16-18 ; Amós 9.11,12). Evidentemente, Tiago falava da Igreja de Jesus Cristo,

não mais restrito aos descendentes físicos de Abraão e Davi, mas aos

descendentes gentios da fé. A Igreja universal composto dos que foram

comprados pelo precioso sangue de Cristo, formarão o povo real de Deus.

Que a Igreja de Jesus incluiria gentios ficou claro quando Jesus disse, “Muitos

virão do oriente e do ocidente, e se sentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó

no Reino dos céus. Mas os súditos do Reino serão lançados para fora, nas trevas,

onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8. 10). O pensamento corrente dos

judeus da época foi que qualquer judeu circuncidado seria salvo pelo fato que

era filho de Abraão e portador do sinal irreversível da Aliança. O Senhor

contradisse essa opinião afirmando que os gentios que crerão nele entrarão

antes dos próprios filhos de Abraão.

As parábolas de Jesus devem ser entendidas nesta visão da Igreja que tem um

começo tão insignificante que pode-se comparar com um grão de mostarda que

“embora seja a menor dentre todas as sementes, quando cresce, torna-se a maior

das hortaliças e se transforma numa árvore”(Mt 13.32). Jesus previu que sua

Igreja se tornaria grande. Jesus tinha em mente a mesma realidade quando falou

do “fermento que uma mulher tomou e misturou com uma grande quantidade de

farinha e toda a massa ficou fermentada” (Mt 13.32). Novamente, o Senhor

previu que o cristianismo espalhado pela divulgação da mensagem acerca de Sua

pessoa e obra alcançaria grandes proporções. Chegaria até os confins da terra. A

natureza da igreja fica patente em seu desenvolvimento natural.

Não é somente o crescimento da Igreja que Jesus predisse, mas também a reação

negativa dos que rejeitam a mensagem salvadora de Jesus. Como a missão de

Jesus não podia voltar para trás diante da oposição satânica, chegando ao ponto

de levá-lO até a cruz, não se pode esperar que o mundo aceitaria a pregação do

Evangelho com braços abertos. “Se o mundo os odeia”, disse Jesus, “tenham em

mente que antes me odiou...Se me perseguiram, também perseguirão vocês” (Jo

15.18,20). A missão de Jesus se realizará num mundo de tal modo enganado que

acharão que cultuam a Deus matando quem confessar que é seguidor de Jesus

(Jo 16.2), tal como crucificaram o próprio Senhor da glória.

A missão de Jesus o levaria até a cruz onde ofereceria Sua vida em resgate de

muitos. Foi na cruz que Cristo cumpriu a razão da encarnação. Foi o cerne e auge

da Sua missão. O autor de Hebreus colocou esta verdade assim, “Por meio de um

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único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados”

(10.14). Paulo afirma que “Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e

sacrifício de aroma agradável a Deus” (Ef 5.2). “Deus o ofereceu como sacrifício

para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando sua justiça” ( Rm

3. 25). A vindicação dessa morte sacrificial ocorreu na ressurreição de Jesus na

primeira Páscoa, uma vez que “Ele foi entregue à morte por nossos pecados e

ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4.25). Com Sua ressurreição e

exaltação à destra do Pai, a missão de Cristo passou aos discípulos.

Nos encontros com os discípulos após a ressurreição, Jesus declarou que o Pai

tinha Lhe dado toda autoridade no céu e na terra (Mt 28.16). Utilizando esta

autoridade suprema, Jesus mandou os discípulos fazer discípulos de todas as

nações, batizando-os no nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Teriam

também a responsabilidade de ensinar esses novos convertidos das nações a

guardar todas as coisas que Jesus tinha ordenado ao seus discípulos. Não

poderia ter sido mais claro; a missão do Senhor continuaria na tarefa

missionária que deveria alcançar todas as etnias do mundo.

Deve ter ficado claro que a missão da Igreja é intimamente ligada à missão de

Jesus. Tanto no seu objetivo como em seu desenvolvimento, este

relacionamento continua sendo fundamental.

Duas vezes Jesus declarou “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao

mundo” (Jo 17.18. Note as palavras dirigidas aos discípulos, “Assim como o Pai

me enviou, eu os envio” 20.21). O paralelo entre a missão de Jesus e a dos

apóstolos não foi absoluta. A singularidade de Jesus se mantém sempre. Os

discípulos não são enviados para ser sacrifícios vicários, ainda que a hostilidade

do mundo que Jesus enfrentou levariam quase todos eles ao martírio. Por isso,

Paulo, o último dos apóstolos, escreveu para a igreja de Colossos, “Me alegro em

meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições

de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja”(1.24). Seguramente, Paulo

falava do preço pago para adentrar em áreas controladas por Satanás que lutava

ferozmente para não permitir que os seus súditos sejam capturados e levados

para Reino de Jesus Cristo.

A Grande Comissão – Mateus 28.18-20

Como Jesus fez discípulos sob a autoridade absoluta do Pai, foi o Pai que os deu

para Jesus. “Eu revelei teu nome àqueles que do mundo me deste. Eles eram

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teus, tu os deste a mim, e eles têm obedecido a tua palavra” (Jo 17. 6). Jesus

manda os Seus seguidores fazer discípulos das nações sob a autoridade dEle.

Orando, Jesus disse, “Lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que

conceda vida eterna a todos os que lhe deste”(Jo 17.2). Por meio do batismo, os

novos discípulos morreriam simbolicamente para o mundo, para ingressar no

povo escatológico de Deus, se identificando com Jesus Cristo em Sua morte e

ressurreição. Assim se tornariam cidadãos do céu e forasteiros na terra. Como

Jesus não tinha onde repousar a cabeça, os discípulos devem entender que aqui

eles não têm lugar permanente. Sofreriam como os hebreus, que, “depois de

iluminados...suportaram muita luta e muito sofrimento...expostos a insultos e

tribulações. ...Aceitaram alegremente o confisco dos seus próprios bens, pois

sabiam que possuíam bens superiores permanentes” (Hb 10.32-34).

A comissão de Jesus acrescentou a responsabilidade básica de repassar aos

novos seguidores de Jesus os ensinamentos do Mestre. Obediência à lei de Cristo

supera a responsabilidade de guardar a lei de Moisés. A promessa do

acompanhamento de Jesus enquanto a igreja espera a Segunda Vinda, se

cumpriu na vinda do Espírito Santo com poder. Foi o mesmo Espírito que os

guiaria à toda a verdade; que não falaria de Si mesmo mas apenas o que ouvir, e

Lhes anunciaria o que está por vir. Glorificaria a Jesus porque receberia dEle o

que é dEle e O tornará conhecido a eles (Jo 16. 13,14). Dessa forma a comissão

de Jesus se tornaria praticável.

O Dia de Pentecoste foi uma demonstração da natureza missionária da Igreja.

Após a vinda do Espírito com poder, representantes de “todas as nações do

mundo” (At 2.5) ouviram os “galileus” cristãos falando em suas línguas

maternas. Seguramente, o que ouviram foram as maravilhas de Deus,

especialmente a sobre a ressurreição e exaltação de Jesus Cristo.

A mensagem de Pedro foi uma poderosa declaração do Evangelho. O conteúdo

do kerugma pré-paulino se resumia em três pontos chaves, de acordo com os

estudiosos.

1) Uma proclamação da morte, ressurreição e exaltação de Jesus, vistas como o cumprimento da profecia, envolvendo a responsabilidade humana;

2) Em conseqüência disso, a consideração de Jesus como Senhor e também como o Cristo;

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3) Uma convocação ao arrependimento e ao recebimento de perdão dos pecados. (J.R.W. Stott, O Perfil do Pregador, S. Paulo: Ed. Vida Nova, 2005, p. 36).

Os corações dos ouvintes foram cortados com a culpa do crime da crucificação

de Jesus Cristo e na mesma hora 3000 pessoas receberam a oferta de perdão por

intermédio dessa morte expiatória.

Os que aceitaram a mensagem foram batizados. “Eles se dedicavam ao ensino

dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações” (At 2.42) cumprindo

a palavra de Jesus que Ele edificaria Sua igreja. A dedicação ao ensino dos

apóstolos iniciou o processo do discipulado que Jesus tinha ordenado. A

koinonia, a celebração da Ceia do Senhor e as orações criaram um compromisso

com o Senhor e com Seus irmãos e a formação do Seu Corpo. Por meio das

reuniões dos irmãos com a instrução dos apóstolos, houve integração dos novos

convertidos. Daí saíram de Jerusalém os irmãos que fundaram a igreja de Roma.

Tão eficaz foi a “missão entre os judeus em Roma” que uma igreja forte foi

plantada. Como sementes que se espalham, a Igreja tende a se enraizar onde

seguidores de Jesus Cristo se encontram.

A natureza missionária da Igreja se manifestou em Jerusalém com os fiéis

anunciando “corajosamente a palavra de Deus” (4.31). O resultado foi o

crescimento diário da igreja (At 2.47, 5.14). Não há notícia de campanhas

especiais de evangelização. Como aconteceu mais tarde por meio dos que foram

dispersos da cidade após o martírio de Estevão, eles “pregavam a palavra por

onde quer que fossem” (At 8.4). Assim a igreja se estendeu para Samaria com a

pregação de Filipe. A semente se espalhou mais longe por meio do Eunuco de

Etiópia que foi batizado por Filipe após o anúncio do Evangelho. Saulo de Tarso

sentiu-se obrigado a tentar conter a expansão da igreja na Síria, viajando até

Damasco com a intenção expressa de prender os crentes dessa cidade. Seu

objetivo foi frustrado pela revelação do Cristo ressurreto que o convenceu que

estava vivo. A conversão de Saulo foi marco na história da igreja.

Cornélio, centurião do exército romano, também se converteu em Cesárea com a

pregação de Pedro, abrindo as portas da Igreja para o mundo gentílico. Na

altura que Cornélio se torna membro da igreja, em Roma, o Evangelho fora

semeado e desenvolvia até o ponto de Cláudio ordenar a saída de todos os

judeus da capital em 44 d.C. (At 18.2). Suetônio informa que esse decreto do

imperador foi provocado por distúrbios constantes impulsionados por Chrestos,

sem dúvida uma referência a “Cristo”. Os distúrbios que surgiram nas sinagogas

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de Roma em torno das reivindicações acerca da singularidade de Jesus ser o

Messias apenas 18 anos após a crucificação de Jesus, comprova o caráter

missionário da igreja.

O Espírito Santo continuou administrando o avanço do Evangelho até os que

foram dispersos por causa da perseguição desencadeada com a morte de

Estevão anunciaram o Evangelho aos judeus de Fenícia, Chipre e Antioquia da

Síria. Outros, cipriotas e cireneus, pregaram também aos gregos. Muitos creram

e se converteram ao Senhor (At 11. 20,21). Pode ser que a notícia da conversão

de Cornélio, deu a estes corajosos evangelistas certa segurança ao quebrar a

convicção judaica que estender o convite da salvação além das fronteiras do

Povo Eleito seria errado.

Lucas interpretou este crescimento da Igreja entre os gentios como sinal da

“mão do Senhor estar com eles” (At 11.21). Não foi crescimento natural, um

movimento humano de abandono da velha religião que não satisfazia, para um

pensamento novo, empolgante. Foi assim que o Budismo se espalhou antes de

Cristo e o Islamismo cresceu séculos depois pelo poder da espada. Não, foi o

poder de Deus que agia nos “leigos” sem treinamento ou estratégia planejada.

Tão eficaz foi a evangelização no norte da Síria que Barnabé veio de Jerusalém

para ajudar no pastoreio dos novos crentes em Antioquia, na maioria gentios.

Barnabé lembrou-se de Saulo em Tarso para onde foi para buscá-lo. Assim a

igreja de Antioquia se tornou um trampolim para uma nova etapa no avanço da

missão da Igreja.

A Primeira Equipe Missionária

A estratégia do Espírito Santo foi escolher os melhores obreiros da equipe

pastoral de Antioquia. A seleção não foi feito pelos próprios candidatos, mas

pelo Espírito Santo e endossada pela igreja. A oração e imposição das mãos deve

ter sido um meio forte de encorajar os missionários.

O primeiro campo que escolheram foi a ilha de Chipre, terra de Barnabé. Não

demoraram para evangelizar as cidades mais importantes da ilha (At 13.6). A

bênção evidente sobre o ministério foi alcançar o governador, Sérgio Paulo.

Paulo desarmou uma cilada do Diabo ao desmascarar o mágico, Elimas, que

tentou afastar o governador da fé. Ficou patente que os poderes políticos e

satânicos não tinham condições de impedir o avanço do Evangelho no meio dos

gentios.

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A estratégia normalmente empregada pelos missionários foi de evangelizar

primeiramente as sinagogas dos judeus. Era mais fácil apresentar a mensagem

para os que já tinha conhecimento das Escrituras e mantinha a esperança da

vinda do Messias. Ainda que a massa dos judeus se mostraram empedernidos,

alguns se convertiam, juntamente com os “tementes de Deus”, gentios que

freqüentavam a sinagoga, mas não se tornaram prosélitos integralmente.

Organizaram igrejas logo que foram expulsos das sinagogas para manter a

estrutura sob a liderança de presbíteros ou “anciãos” (At 14.23; 20.32). Paulo

continuou como o apóstolo encarregado de manter as igrejas locais firmes na fé.

Visitou as igrejas e mandou cartas pastorais para elas, de maneira que ainda que

eram igrejas independentes, Paulo manteve supervisão sobre elas enquanto

tinha condições para influenciá-las. Teve certo controle sobre algumas igrejas

enviando representantes como Timóteo e Tito que tinham o direito de escolher

líderes para as igrejas em alguns casos.

Muito esforço e tempo foram gastos no ensino. Um dos dons mais importantes

que Cristo deu para Sua igreja foi o dom de ensino (Ef 4.11). A gramática do

grego original, “pastores e mestres”, claramente indica que o pastor se identifica

como mestre. Veja também 1 Tm 3.2, “apto para ensinar”. Paulo aproveitou a

escola de Tirano em Éfeso para ensinar os fundamentos da fé durante várias

horas por dia segundo o codex Bezae. “Jamais”, disse Paulo, “deixei de vos

anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).

Paulo dependia naturalmente da natureza missionária da igreja quando fundava

igrejas nos centros políticos e comercias esperando que essas igrejas

evangelizassem toda a região. Isso aconteceu em Éfeso (At 19. 10) e explica

como Paulo podia dizer que se esforçava para pregar o Evangelho, “não onde

Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” e dizer,

“agora, não tenho já campo de atividade nestas regiões” por que tinha divulgado

o Evangelho desde Jerusalém e vizinhança até ao Ilírico (Iugoslávia moderna)

(Rm 15. 20-23). A evangelização ocorreu em lugares públicos (At 20.20) além

utilizar da estratégia eficaz de testemunho pessoal.

As igrejas dos primeiros dois ou três séculos não tinham liberdade e nem

recursos para construir “templos”, portanto se reuniram em casas e nos campos.

Foi providencial esta prática, uma vez que o avanço da igreja não foi impedido

por falta de fundos financeiros. Além desta realidade, nota-se que as igrejas que

se formam em casas particulares são muito mais difíceis de extinguir ou

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combater. Países que reprimem o avanço do Evangelho, como a China e Vietnam

demonstram esta verdade. A grande maioria dos cristãos se reúnem em igrejas

caseiras.

Paulo favorecia o pagamento de ordenados aos evangelistas e líderes das igrejas

se eles eram itinerantes e se esforçavam no ensino (1Tm 5.17; 1 Co 9.3-18).

Ainda que não temos notícia deles levantarem dízimos dos membros da igreja,

as cartas mencionam ofertas dadas a Paulo (Filipenses 4) e ofertas designadas

para aliviar a pobreza dos irmãos em Jerusalém (2 Co 8,9).

Conclusão

O avanço missionário, isto é, o modo em que a igreja de Jesus Cristo se espalha

pelo mundo tem sua razão de ser na própria natureza da igreja. Se Jesus

prometeu que edificaria Sua igreja, se os verdadeiros cristãos têm um impulso

do amor constrangedor de Deus no coração, se o mais valioso tesouro no mundo

é a paz com Deus, não há motivos para estranhar o crescimento da Igreja ao

redor do mundo.

Por outro lado, havendo regiões onde as igrejas diminuem e fecham suas portas,

temos razão para questionar se a natureza da Igreja seja de fato missionária. Em

qualquer parte do mundo em que o enfraquecimento da Igreja seja uma

realidade, como no Norte da África e no Médio Oriente sob o domínio dos

muçulmanos, ou no primeiro mundo hoje, nós nos confrontamos com a anomalia

de igrejas tão extintas como os dinossauros.

Jesus predisse não somente a extraordinária expansão da Igreja, mas também o

seu declínio. “Quando o Filho do Homem vier, encontrará fé na terra?” (Lc 18.8),

mostra esta verdade. Devido ao aumento da maldade “o amor de muitos

esfriará” (Mt 24.12) também indica que o futuro da Igreja não será

necessariamente tão empolgante como em outros períodos da história, mesmo

calculando que na média se convertem em torno de 70.000 pessoas cada dia.

O que podemos afirmar com certeza é que Deus conhece a todos que Lhe

pertencem. A plenitude dos gentios será arrebanhada na Igreja, bem como “todo

Israel” (Rm 11.25). “O evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como

testemunho a todas as nações, e então virá o fim”, declarou Jesus. Nenhum dos

que foram comprados de todas as tribos, línguas, raças, nações e povos faltarão

quando o arcanjo tocar a última trombeta. A figura dos 144.000 no Livro do

Apocalipse aponta para esta verdade. Cabe a todos que reconhecem o senhorio

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de Jesus Cristo apressar a volta dEle (2 Pe 3.12), cumprindo a missão que deu

aos discípulos, acompanhada por Ele até o “fim do século”.