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PLANO DE AULA APOSTILADO

Escola Superior de Teologia do Espírito Santo

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Escola Superior de Teologia do ES

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ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES

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A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer 241/99 da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC

O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais avançados sistemas de ensino da atualidade.

Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria

em questão. A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila,

segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda, bem como bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.

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__________

SSSSSSSSuuuuuuuummmmmmmmáááááááárrrrrrrriiiiiiiioooooooo

_______ _______ _______ _______

O Que é Missões............................................................................................................................. 04

Como Fazer Missões....................................................................................................................... 09

A Chamada Específica para a obra Missionária.............................................................................. 12

Deus Fala Através da Igreja............................................................................................................. 13

Sete Meios pelos quais Deus nos Chama........................................................................................ 14

Tipos de Voluntários Para a obra de Missões.................................................................................. 16

A Batalha Espiritual.......................................................................................................................... 22

Missões: Tarefa da Igreja Local....................................................................................................... 32

O Relacionamento Entre a Igreja Local e as

Juntas ou Agências Missionárias...................................................................................................... 35

O Pastor – A Chave Para Missões Mundiais..................................................................................... 38

O Sustento de Missões..................................................................................................................... 40

Os Cuidados na obra Missionária..................................................................................................... 44

Antropologia Missionária................................................................................................................... 45

Bibliografia......................................................................................................................................... 63

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OO QQuuee éé MMiissssõõeess??

A palavra "Missões" vem da expressão latina "missione', que se origina, por sua vez do verbo latim "mittere", que significa "ação, tarefa, ordem, mandato, compromisso, incumbência, encargo ou obrigação de enviar missionários". No Novo Testamento, a palavra usada é "apostello", verbo que no grego que significa enviar.

A tarefa de salvar o mundo não pode ser desassociada do "enviar" homens e mulheres cheios do poder de Deus para alcançá-lo, porque não há como salvar o mundo sem que haja alguém enviado para pregar e apontar-lhe o caminho.

No início deste estudo vemos em Rm.10.13-15 que há um processo para a salvação do homem. Este processo começa com "enviar".

"Enviar" pessoas capacitadas por Deus e pela Igreja, para que preguem o Evangelho; "Pregar" para que homens, mulheres e crianças de todas as tribos, línguas, povos e nações possam ouvir; "Ouvir" para que possam crer; "Crer" para que possam invocar o nome de Jesus e, ao "lnvocar" o seu nome, possam ser salvos.

Quem primeiro se preocupou em "enviar" foi o próprio Deus. (João 3.16). Através

deste versículo, conhecemos a preocupação de Deus para com a humanidade decaída e distanciada de si, razão pela qual, enviou Jesus, o seu Filho Unigênito, ao mundo para uma única missão, salvar o homem perdido. (Lucas 19.10).

O verbo "dar", neste texto, não é simplesmente alguém estender a mão e oferecer alguma coisa a outrem. É oferecer ou ofertar uma dádiva valiosa para alguém que não merece, sem impor o recebimento de algo em troca. Foi exatamente o que Deus fez: Ofereceu o seu Filho amado para resgatar o homem que havia se afastado completamente dEle. Para se entender Missões é preciso partir deste princípio, que Deus enviou o seu Filho e que o próprio Filho se deu para salvação dos homens perdidos.

Se compreendermos que Deus deu o seu Filho e que Jesus se deu a si mesmo para a salvação da humanidade, podemos, então dizer:

MISSÕES é a Obra de Deus dada à Igreja que, seguindo o exemplo de Cristo, proclamei por palavras e ações o Reino de Deus, chamando todos ao arrependimento e a ter fé em Cristo, enviando-os a serem discípulos dEle.

Podemos concluir, através da missão confiada aos doze, que o alvo principal de Missões é a proclamação do Reino de Deus a todos os homens. Inicialmente, só os judeus estavam ao alcance da bênção enviada pelo Pai, mas o plano de Deus era alcançar também os gentios e o meio para isto foi o fato de os judeus rejeitarem o Filho de Deus. (Leia Atos 13.46).

Quando Jesus disse que o "Evangelho do Reino será pregado", falava de um reino; de algo com autoridade. O reino teria algumas características que o tornaria completamente diferente dos que tinham sido implantados no mundo até então.

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Em primeiro lugar Jesus assinalou no mesmo capítulo 10 de Mateus que não há reino sem conflitos, os quais durarão até que Ele volte. Se alguém perguntar para quem é o reino, a resposta de Jesus será: "para os pobres". Porém não somente para os pobres economicamente, senão para todos que sofrem qualquer carência;

Em segundo lugar, Jesus proclamou também um grande programa. A expressão "será pregado a todas as nações", mostra o alcance geográfico de seu programa. No entanto, demonstra também o seu alcance no tempo.

Precisamos ter a visão de missões como a obra que exige prioridade - Caminhando para a Galiléia (João 4.31-34), Jesus passa por Samaria e, enquanto seus discípulos saem a procura de pão, Ele faz contato com uma mulher da aldeia samaritana. Para Jesus, descortina-se a possibilidade de salvar aquele povo. Seus discípulos chegam e insistem que coma, mas mesmo cansado e com fome, Jesus se recusa a comer e coloca o tipo de prioridade que deve caracterizar seus seguidores. Há uma obra a realizar, e ela é mais importante do que qualquer outra coisa. Precisamos recuperar este sentido de urgência na realização de Missões. O seu tempo é hoje.

Precisamos ter a visão de missões como o desafio de cada oportunidade (Jo 4.35) - Os discípulos sabiam que levaria ainda quatro meses para chegar o tempo de colher aqueles cereais. No entanto, Jesus lhes diz:

"Levantem os olhos, pois há uma colheita a ser realizada imediatamente". Que acontece aos frutos maduros que não são colhidos? Eles se perdem. É preciso aproveitar as oportunidades. Deus tem criado condições favoráveis à pregação do Evangelho em diferentes partes do mundo. Há um anseio pelas novas de salvação, e como estamos respondendo a estas oportunidades que não sabemos até quando resistirão?

Precisamos ter a visão de missões como o meio de construir para a eternidade (Jo 4.36-38). - Aqui há três situações possíveis quanto aos resultados imediatos (v.36); os discípulos ceifariam o que outros semearam e plantariam o que outros colheriam (w. 37 e 38). Mas a que tipo de resultado se refere o texto? Ajuntar fruto para a vida eterna ou para o reino de Deus. Então, “realizar Missões é conquistar vidas para o celeiro eterno de Deus”. Este é o único trabalho cujos resultados não são transitórios. Porque fazer Missões e o meio principal de se construir para a eternidade,

O PAPEL DA IGREJA EM RELAÇÃO A MISSÕES

Avaliando a primeira multiplicação dos pães, no ministério de Cristo, destacamos a insuficiência dos recursos humanos para saciar a fome da multidão. Se compararmos a fome espiritual do mundo com os recursos humanos que temos, nos perguntaremos de igual forma: "Como fazer tanto com tão pouco?" Cada igreja existente sobre a terra pode ser comparada àquele

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pequeno menino que tinha tão pouco, cinco pães e dois peixinhos (Jo 6.9), mas que nas mãos do Senhor Jesus seria multiplicado de tal forma a saciar tantos e ainda sobejar. Como Pode um país pobre contribuir para evangelizar países ricos? Jesus não tinha em mãos nada para usar até que o rapaz lhe pôs nas mãos tudo o que tinha e então o milagre aconteceu.

“Missões é um milagre de Deus” e só os que colocam nas mãos do Senhor os seus poucos recursos é que se dão conta do milagre realizado. Os povos precisam de Jesus. Nós temos Jesus. Não temos apenas migalhas, mas a graça infinita de Deus à nossa disposição (João 6.9).

“Missões é compartilhar” o pouco que você tem, cinco pães e dois peixes, com o Senhor Jesus que pode multiplicar este lanche, tornando-o num verdadeiro banquete que pode alimentar milhões, tornando-o num verdadeiro banquete que pode alimentar milhões que vivem sem Jesus.

“Missões é entrega de vidas sem reservas”, sem questionamentos e pondo toda a nossa confiança no Senhor da Obra, que nos chamou para tão honrosa tarefa.

Alguém poderia formular a seguinte pergunta: "Há diferença entre Missões e Evangelização?" Responderíamos da seguinte maneira: o plano de Deus para salvação do homem é constituído de três elementos - a mensagem, o meio (recurso) e o processo (método). A mensagem e o Evangelho, o meio é Missões (enviar) e o processo é a evangelização (proclamação).

Em outras palavras, Missões e Evangelização não são coisas distintas entre si, mas ações interligadas e integrantes do plano de Deus. A Evangelização é o ato de proclamação da mensagem, a implementação de Missões.

PARA QUE FAZER MISSÕES?

"Falar em Missões" sem querer saber "para que" fazemos Missões é o mesmo que andarmos no escuro. Paulo, o grande missionário, foi sempre consciente de que há um objetivo a ser alcançado em Missões. Das três indagações feitas por Paulo, no texto que estamos aplicando para este estudo (Rm 10.14), a segunda interrogação é: "Como crerão naquele de quem não ouviram?" Sabe qual é a resposta? Missões. Sim, Missões existe para levar Cristo a todas as pessoas, fazendo-as crer que Ele é eterno e suficiente Salvador.

Não podemos mais visualizar um mundo rodeado de barreiras sociais e políticas, porque Deus está derrubando todos os bloqueios de Satanás. O Evangelho precisa chegar às grandes cidades do mundo como: Tóquio, Bombaim, Calcutá, Cairo e outras que aparentemente estão fechadas para o evangelho, onde a população geme sobre o impacto do paganismo buscando outra forma de vida após a morte para aliviar o sofrimento da existência presente.

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Não podemos ficar indiferentes ao fato de que “apenas 8% de toda força missionária mundial” trabalham entre povos não alcançados; ou seja, entre os hindus, budistas e muçulmanos, povos que representam aproximadamente “50% da população do mundo”.

Calcula-se que, hoje, apenas metade da população do globo terrestre já ouviu falar do evangelho, e a outra metade representa cerca de 3,2 bilhões de pessoas, que estão envolvidas nas trevas espirituais.

A África é o continente que mais cresce na aceitação do Evangelho, porém as suas práticas pagãs continuam, devido a tradição cultural, arraigadas na alma do povo. O sincretismo é um grande problema em muitas áreas. Um real arrependimento de pecado e das obras das trevas está faltando e muitos cristãos africanos ainda continuam com medo das feitiçarias e dos espíritos.

Existe Missões porque há um mundo carente e necessitado do amor de Deus.Não há outra forma de livramento para o mundo: somente através da pregação do " Evangelho. As boas Novas de Deus para o homem caído em delitos e pecados estão nas verdades fundamentais do Evangelho.

Onde Fazer Missões?

Se fizermos uma retrospectiva da obra missionária realizada nas últimas décadas, observaremos que a igreja contemporânea preocupou-se em plantar o evangelho no mundo ocidental esquecendo-se definitivamente do mundo oriental. Por esta razão, os povos esquecidos se multiplicaram formando hoje mais da metade da população mundial mergulhada nas trevas espirituais. Fazer missões hoje representa um desafio transcultural a ser vencido pela igreja.

Já sabemos que o objetivo de Missões é levar todos à salvação, porém podemos ir mais além do seu objetivo. Em todos os lugares da Terra o Evangelho deve ser pregado. Isto está provado em Mateus 28.19: "Portanto ide, ensinai todas as nações". Jesus disse ide a todas as nações ou o mesmo que "Ide ao Brasil, Japão, Coréia, Indonésia, aos países africanos e de outros continentes". Salvação é uma dádiva oferecida independente de cor, raça, idioma e posição social.

O Evangelho é para todos os povos, em todos os lugares Atos 1.8 nos dá uma visão missionária global e estabelece quatro pontos estratégicos

para se fazer Missões. Através desses lugares, o referido escritor estabelece quatro pontos

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estratégicos para se fazer Missões: • Jerusalém - É o trabalho missionário em nossos lares, vizinhança, escola, faculdade,

trabalho, etc. Este campo é muito vasto. Você já evangelizou alguém de sua família? Ou seu colega de faculdade? Seus vizinhos? Pense nisto agora.

• Judéia - É o trabalho realizado nas vilas e bairros próximos; este campo parece sem nenhuma importância, porém não há dúvidas de que é um excelente local para uma boa pescaria. Existem grandes bairros e vilas próximos de nós onde há milhares de pessoas precisando ouvir a mensagem do Evangelho.

• Samaria - É o trabalho realizado em cidades mais distantes, no interior do país, o que se pode chamar de "Missões Nacionais".

• Aos Confins da Terra - É o trabalho missionário realizado em todo o mundo, isto é, "Missões Estrangeiras".

Nunca o mundo esteve tão aberto para o trabalho missionário como agora. Não sabemos até quando durará tal abertura. Está na hora de obedecermos ao IDE de Jesus.

O mesmo livro de Atos que estabelece os lugares onde deve ser proclamado o Evangelho, também nos dá um panorama geral da expansão da proclamação através do trabalho missionário.

QUANTITATIVO:

Almas "acrescidas" (Leia Atos 2.41-42,47). O Número de discípulos "continuava a se multiplicar" (Leia Atos 6.1,7; 9.31). O Crescimento quantitativo era evidente por causa do Crescimento espiritual,

comunhão, compartilhamento, adoração e testemunhos dos crentes.

Além dos pontos estratégicos para se fazer Missões, Atos 1.8 diz que o trabalho missionário deve ser feito "ao mesmo tempo" em cada um dos quatros lugares. O trabalho dos discípulos não deveria primeiro ser iniciado e completado em um lugar para depois partirem para outro. Essa "simultaneidade" está expressa nas palavras "tanto em", "como em" e "até os".

A Igreja de hoje tem avançado consideravelmente na conquista dos povos, mas temos que observar que existe metade da população do mundo que ainda não ouviu o evangelho. Essa grande massa tem as barreiras transculturais da religião milenar e os costumes quase que intransponíveis ao nosso mundo moderno. Os povos não alcançados, na sua maioria, ainda são os que vivem na miséria social, cultural e econômica. E sabemos que só o evangelho pode mudar este quadro social.

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CCoommoo FFaazzeerr MMiissssõõeess??

A evolução da sociedade é rápida e constante, ou seja, vivemos num mundo globalizado. As nações se aproximam velozmente pelos meios de transportes e a comunicação e os satélites quebraram as barreiras da distância divulgando toda e qualquer notícia falsa ou verdadeira instantaneamente.

A igreja precisa agir ensinando ao nosso povo o que é básico. A Bíblia é a nossa

regra de fé e praticar missões é o objetivo principal dela. Jesus ordenou a permanência dos seus discípulos em Jerusalém até o revestimento de poder. (Leia Lucas 24.49). Retornar ao ensino básico é sentir a necessidade de revestimento de poder para que o mundo de hoje seja alcançado não pela palavra persuasiva, mas pela demonstração do Espírito Santo que transforma a vida das nações.

Cremos que estamos vivendo os últimos dias da oportunidade de salvação aos homens e é urgente que a obra de missões seja realizada no poder de Deus que opera milagres.

Em Marcos 16.20 lemos: "E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra por meio de sinais que se seguiram".

Este versículo serve para nos lembrar que, acima de tudo, para se realizar uma autêntica Obra Missionária, é preciso ter a cooperação do Senhor Jesus, porque sem Ele nada podemos fazer. Jesus tem que estar em primeiro lugar em qualquer trabalho missionário.

É Jesus quem nos manda ir e também, quem nos oferece princípios orientadores para fazermos Missões. Os princípios estão demonstrados nas experiências dos primeiros missionários. Podemos observá-los sendo postos em prática por Filipe por ocasião de uma extraordinária experiência evangelística (Atos 8.26-40).

Você leu o texto que trata da conversão do eunuco, mordomo-mor da Candace, rainha da Etiópia, país localizado na África. Da experiência evangelística de Filipe podemos então extrair CINCO PRINCÍPIOS ORIENTADORES do trabalho missionário.

a) Ser guiado pelo Espírito Santo; b) Não se deixar levar por preconceitos ou tradições humanas; c) Conhecer a Bíblia Sagrada; d) Não deixar de anunciar a Cristo; e) Ter um alvo definido.

Observe a seguir:

CINCO PRINCÍPIOS ORIENTADORES DE MISSÕES

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Filipe era um homem GUIADO PELO ESPÍRITO DE DEUS: Não havia a menor possibilidade humana de uma comunicação entre Filipe e o eunuco; se aquele era judeu, de uma tradição que o impedia de juntar-se a um estrangeiro, este era um alto funcionário do governo etíope, não lhe sendo permitido conversar com um homem "comum". Ocorre que Filipe era um homem guiado pelo Espírito e fazia o que Ele lhe ordenava.

Filipe NÃO SE DEIXAVA LEVAR POR PRECONCEITOS OU TRADIÇÕES HUMANAS: Ele entendia que todos são pecadores e carecem da glória de Deus não importando 'quem' e 'onde' esteja (Romanos 3.23; 5.8; e 2 Pedro 3.9b).

Filipe CONHECIA A BÍBLIA: Ele interpretou corretamente a passagem lida pelo eunuco.

Quem quiser ser bem sucedido na execução de Missões precisa conhecer a Bíblia. Ela é fundamental na realização do trabalho missionário.

Filipe NÃO DEIXAVA DE ANUNCIAR A CRISTO: Diz o texto (vers. 35) que Filipe

"abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus". Isto nos leva a três importantes conclusões com base no sucesso ministerial daquele extraordinário missionário:

• Cristo deve ser o centro do nosso testemunho pessoal (II Co 2.15). • Cristo deve ser o centro da nossa mensagem (IICo 1.23) Cristo deve ser o centro

da nossa missão evangelística, pois o verdadeiro evangelismo é confrontar Cristo com os homens. Para realizar Missões, além de aplicar estes princípios, é preciso haver a prática de três ações, que são: orar, contribuir e ir.

ORAR A oração do crente na Obra Missionária tem duas finalidades: a primeira pode ser

entendida comparando-se a oração com a missão dos "intercessores" nos dias do profeta Isaias (Leia Is 62. 6-10). O versículo 10 oferece-nos a idéia de um caminho sendo aberto.

É assim que funciona a oração em Missões. Ela vai na frente do missionário abrindo um caminho por entre a escuridão espiritual.

Há lugares em que o domínio da feitiçaria e dos demônios são tão intensos que o trabalho de evangelização se constitui por muito tempo apenas de oração, para que o domínio de Cristo seja implantado.

É o caso de países da África e tribos indígenas onde o animismo é a religião, e de países da Ásia (Índia e China) onde predominam religiões milenares como o budismo, confucionismo e xintoísmo.

CONTRIBUIR

Contribuir para missões envolve, principalmente; a contribuição através de bens

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materiais. O missionário Paulo, na sua carta aos Filipenses 1.5 agradece "pela cooperação no evangelho". A palavra "cooperação", neste versículo, na língua original em que foi escrita a carta, tem o sentido de "ser sócios no Evangelho". Contribuir para a Obra Missionária também é uma maneira de ajuntar tesouros no céu e não ajuntar na terra, conforme está escrito em Mateus 6.20.

IR

Além de orar e contribuir, o crente deve estar pronto a ir fazer trabalho missionário, se ainda não o está realizando. O profeta Isaias prontamente pediu que ele fosse o enviado, quando o Senhor perguntou: "A quem enviarei, e quem irá por nós?". Para proclamar o Evangelho, o Senhor não envia anjos. Ele usa homens e mulheres, seus discípulos (Leia Hebreus 2.16 e II Pedro 1.12). Esteja pronto a repetir a resposta de Isaias? "...Então disse eu: Envia-me a mim (lsaías 6.8b).

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AA CChhaammaaddaa EEssppeeccííffiiccaa ppaarraa aa OObbrraa MMiissssiioonnáárriiaa

ANTES DA CHAMADA

• Deus chama seus servos de diferentes maneiras, para Ministérios específicos. Para chamar, Ele fala direta ou indiretamente. Pode falar audivelmente ou por sinais. O chamado pode ocorrer por um forte sentimento interior de que é a vontade de Deus para determinada tarefa, ou pode ser através de mensagem transmitida por outrem ou por sonho ou por visão. Às vezes, um servo recebe convicção do chamado de Deus tomando conhecimento da necessidade urgente de que determinada obra seja feita.

Há muitas outras maneiras de Deus chamar alguém para sua obra. Deus é infinitamente sábio e criativo. Porém, há dois passos na vida cristã que devem ser analisados antes de alguém ser chamado para uma tarefa específica. Observe-os:

1° Passo: Comunhão com Deus. O primeiro passo é estar em comunhão com Deus. Não se pode falar com alguém que esteja dando atenção a outra pessoa ou outra coisa. Não haveria comunicação. Assim também é com Deus. Ele tem de esperar até que nos voltemos para Ele e lhe demos atenção, para que possa repartir conosco os seus planos.

2° Passo: Envolvimento. Depois de uma pessoa acercar-se de Deus, de Ter comunhão com Ele, essa pessoa passa a ser participante do Reino de Deus no sentido ativo. Dizemos sentido ativo porque o crente pode tornar-se apenas um espectador do que acontece na obra do Senhor. Acredito que esse não é o seu caso. Sim, o crente fiel precisa envolver-se inteiramente na obra do Senhor. E, nesse sentido, todos os crentes são chamados, são vocacionados, são comissionados para a obra.

Pode ser que um crente não tenha a chamada específica para ser um pastor, um

missionário ou uma enfermeira no meio dos índios, etc. Contudo ele é servo na situação em que vive. É um soldado produzindo em sua própria comunidade para o Reino.

Entretanto, Deus, exercendo sua soberania, chama alguns dos seus servos para trabalhos específicos. Exemplos: -Abraão foi chamado para ser o iniciador de uma grande nação( Gn 12.2); - José teve a incumbência de ser o provedor de seu povo em meio à fome, (Gn 45.5); - Moisés foi chamado para libertar o povo de Israel do Egito( Ex 3.10); - Jonas foi enviado à Nínive para anunciar o juízo de Deus; - Paulo foi enviado aos gentios (Atos 22.21); - Lutero foi levantado para reformar a Igreja e traduzir a Bíblia; - Livingstone foi levantado para missões na África;

-Gunnar Vingren e Daniel Berg receberam a visão para evangelizar o Brasil e iniciar o Movimento Pentecostal no Brasil.

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DDeeuuss ffaallaa AAttrraavvééss ddaa IIggrreejjaa

No texto de Atos 13.13, mostra que Deus fala através da Igreja. Paulo e Barnabé haviam recebido a chamada pessoal de Deus. Agora, os profetas foram usados para confirmar o chamado desses homens e separá-los para a obra específica que Deus tinha com eles. Aqui Deus falou com Paulo e Barnabé através, do ministério (isto é, do grupo de servos) que operava na Igreja de Antioquia. Este é um dos textos chaves e padrão para a Igreja.

Este é um fato que precisa ser levado a sério tanto pelo candidato à missões como

pela missão ou igreja que o envia. A vida de um missionário deve estar intimamente ligada com a igreja local.

Assim, para que haja mais segurança no envio do missionário é prudente que a

decisão final seja feita como resultado do discernimento de um grupo de pessoas que estão procurando servir ao Senhor com jejum e oração.

Além disso, o missionário terá certeza de que um grupo de pessoas estará orando

por ele. Ele se sentirá ligado a um corpo e muito mais segurança.

- Deus fala pessoalmente - Fala audivelmente - Fala por sinais - Fala através de um sentimento interior - Fala através de mensagens transmitidas por pregadores - Fala através de sonhos - Fala através de visões - Fala através do conhecimento da necessidade urgente de determinado grupo. - Fala através de ministérios na igreja local: Estes ministérios são pessoas que servem ao Senhor em oração e jejum e são usados por Ele para falar aos seus servos. A eficácia destes ministérios está no fato de operarem como um grupo e não como indivíduos.

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SSeettee mmeeiiooss ppeellooss qquuaaiiss DDeeuuss nnooss CChhaammaa

Temos visto como Deus é muito criativo na maneira de chamar alguém para ministérios específicos, porque Ele não está limitado a métodos humanos. Vejamos abaixo mais alguns exemplos:

1°- Forte convicção da direção do Espírito Santo: A convicção do caminho certo posto em nossos corações pelo Espírito santo é uma

das maneiras, pelas quais Deus nos guia dentro de sua vontade. (Atos 20.22-24).

2°- Palavra de Deus: O missionário Robert Moffat escreveu Deus me chamou ainda jovem. Às vezes eu

duvidava que poderia ser realmente um missionário. Havia algo errado dentro do meu ser que falava. Então, abri a Bíblia e pedi ao Senhor: "Mostra-me se é a tua chamada que sinto em meu ser". Ao abrir a Bíblia, entendeu que o Senhor falava ao seu coração em Isaias 6.8. Na manhã seguinte, na Escola Dominical, o pastor leu o mesmo trecho (Is 6.8) e depois de orar disse: Deus está falando com alguém hoje, aqui. Robert Morffat entendeu, então, que naquela hora Deus estava confirmando sua chamada.

3°- Portas abertas e fechadas: "Se uma porta fechar, vira-te que hás de deparar com uma outra abrindo naquele instante".

Dizia Studd. Quantas portas se fecham ao longo do nosso caminho. Deus faz dessa maneira para abrir os nossos olhos para contemplarmos as portas que devemos entrar, para se cumprir sua vontade!

4°- Paz e descanso profundo: O missionário David Livingstone na África expressou: "Quando decidi obedecer a

chamada do Mestre para o continente africano, senti uma paz profunda no meu ser. Muitos dos meus familiares não entenderam e até zombavam de mim, mas a paz que excede todo o entendimento guardou o meu ser”.

É a mesma paz que Paulo sentia em seu coração que lhe pediram que não subisse a Jerusalém. (Veja Atos 21.13,14). Sua santa vontade no Salmo 37.5 diz: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele tudo fará”.

Paz e descanso profundo nos dá certeza da vontade de Deus."

5°- Oração respondida: Hudson Taylor, o fundador da grande Missão para o Interior da China, depois de

sua conversão, começou a sentir um profundo interesse elos chineses; olhava nos mapas, lia livros e os meios transportes das províncias. Com o passar dos tempos, uma grande tristeza e pesar entrou em seu coração. Sua saúde piorava e os médicos recomendavam repouso a ele. Porém, um dia, caiu em um sono profundo e, de madrugada, acordou com uma luz brilhando em se quarto e uma voz que dizia: "Hudson, estás disposto a ir á China por mim?” Quando tentou responder, tudo desapareceu. Ajoelhou-se e disse: "Senhor, eu irei, mas estou doente. Se me curares, então saberei que é da tua vontade." No mesmo instante, sentiu uma forte tremedeira da cabeça aos pés. Era o Senhor que o curava, confirmando

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assim, sua chamada para a China. Sua oração foi respondida. Deus responde as orações.

6°- Circunstâncias: Billy Bray levava uma vida indiferente a Deus, mas aos 17 anos converteu-se ao

Senhor e o servia com mais ardor do que quando servia ao diabo. Devido a pressão econômica perdeu o emprego na cidade grande onde morava, longe dos pais. Ficou somente a pergunta; "O que fazer?" Sem recursos e sem lugar para morar, finalmente voltou à casa dos pais, à vila onde nascera. Ali começou a pregar o evangelho. Primeiro ganhou seus pais para Cristo e mais pessoas. Continuou pregando nas demais vilas até conseguir uma tenda de circo onde"' realizava cruzadas evangelísticas. Foram as circunstâncias que ocorreram em sua vida que o levou a seguir esse caminho.

7°- Conselhos cuidadosos de pessoas experientes: James Gilmour, missionário na Mongólia expressou o seguinte: "Depois que Deus

me salvou, senti forte desejo de trabalhar na Mongólia. Quando falava sobre este assunto todas as pessoas achavam impossível. Em certo culto, ao terminar de pregar, uma senhora idosa veio ao meu encontro e disse-me: "Jovem, ouvi tuas palavras, e te digo: Não temas. Siga a Deus, pois ele nunca dá impressões falsas, quando sinceramente o buscamos. Não dê ouvidos às vozes do desânimo. Olhe n’Ele”..

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ESUTES – Escola Superior de Teologia do Espírito Santo 16

TTiippooss ddee vvoolluunnttáárriiooss ppaarraa aa oobbrraa ddee MMiissssõõeess

Há dois tipos de voluntários: Os ativos e os passivos.

O VOLUNTÁRIO PASSIVO diz: "Senhor aqui estou." No ano seguinte, ele repete as mesmas palavras. Cinco, dez anos mais tarde ele continua repetindo a mesma coisa, à semelhança de um disco arranhado.

O voluntário passivo espera ouvir alguma voz sobrenatural ou até que o próprio Deus desça e o transporte para algum país estrangeiro.

Mas Deus não usa voluntário passivos. Chegará o dia em que a saúde poderá diminuir, a força da juventude se esvair, até mesmo as forças para caminhar poderá fracassar, então passa a lamentar-se, dizendo: "Ah, se eu ainda fosse jovem!" Permita-nos parafrasear, com minhas próprias palavras, o texto de Eclesiastes 12.1, escrito por Salomão: "Lembra-te de cumprir o chamado de Deus para tua vida enquanto tens saúde, força e disposição, antes que cheguem os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento”.

Em Jeremias 8.20 há um texto que explica claramente esse momento de descontentamento: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos". Isso quer dizer que a oportunidade passou.

Por sua vez o VOLUNTÁRIO ATIVO diz: "Senhor, eis-me aqui, envia-me a mim. Esse voluntário ultrapassa todos os impedimentos pela oração. Rompe todos os obstáculos. Supera todos conselhos contrários e opiniões desestimuladoras. Procura a qualquer custo se preparar, nem que isto lhe custe sacrifícios altos. Finalmente, fica pronto para o grande trabalho de sua vida.

Foi Edward Kingall, um humilde professor de Escola Dominical que decidiu levar todos os seus alunos a um encontro vivo com Deus. Um desses alunos era D.L.Moody. Kinball disse para Moody: "Deus precisa de um homem para usar nesta geração". Sem hesitar, Moody respondeu: "Eu serei este homem".

E foi mesmo. Dwight Limon Moody foi o maior evangelista da sua época. Conduziu milhares de almas ao Senhor ao redor do mundo. O Senhor Jesus continua chamando; "A quem enviarei e quem há de ir por nós?". O Senhor precisa de voluntários ativos.

Thomas Waring, afirmou já no final de sua vida: "Ah! Se eu tivesse mil vidas, daria

todas pela África". Se você sentiu-se tocado pelo Espírito Santo, e pode perceber a urgência divina, um

impulso compelidor que se toma impossível de resistir, saiba que satanás, o maior opositor dessa obra, fará tudo quanto tiver ao seu alcance a fim de desencorajar-lhe.

Se Deus te chamou e você tem se apresentado como voluntário (a) ativo, então você

não deve firmar um compromisso com uma pessoa que não esteia viajando na mesma direção. Agindo dessa forma, não haverá lugar para equívocos.

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ESUTES – Escola Superior de Teologia do Espírito Santo 17

É VOCÊ QUEM DECIDE

* Poderá fazer o que milhões de pessoas crentes têm feito: acomodar-se na monotonia da vida moderna, casar, gerar filhos, trabalhar, conseguir a aposentadoria, morrer e ser esquecido. * Ou pode tornar-se um pioneiro, empregando a sua vida na grande tarefa a favor de Deus, sendo o primeiro a entregar o evangelho a alguma tribo ainda não alcançada, e assim ser relembrado para sempre. Qual a sua decisão? QUEM DEVE FAZER MISSÕES? Na primeira parte desta lição, aprendemos que Missões é a Obra de Deus dada à Igreja que, seguindo o exemplo de Cristo, proclama por palavras e ações o Reino de Deus, chamando todos ao arrependimento e a ter fé em Cristo, enviando-os a serem discípulos dEle.

A Bíblia nos ensina que é da Igreja a responsabilidade missionária primária de executar â Obra Missionária.

Essa responsabilidade é COLETIVA e INDIVIDUAL:

A coletiva é a Igreja como reunião ou assembléia dos salvos;

A individual é a de cada crente como um membro integrante da Igreja.

Em Atos dos Apóstolos encontramos as primeiras igrejas cumprindo a responsabilidade de executar a Obra Missionária. Uma amostra disso está no capítulo 13.1-3.

O texto que você leu nos conta que a igreja em Antioquia separou e enviou a Saulo e Barnabé para fazer a Obra Missionária. A Igreja é a verdadeira agência missionária, responsável pelo envio e coordenação de qualquer projeto missionário. O ir não dever ser independente do enviar.

Hoje, muitos querem fazer a obra missionária à revelia da Igreja, mas só ela tem a autoridade. Você já deve Ter compreendido que o enviar não é simplesmente dar uma ordem para que alguém vá a algum lugar: é muito mais. O enviar é uma tarefa, um trabalho, um empreendimento. Esse aspecto pode ser inferido pelas quatro ações praticadas no versículo 3. A Igreja de Antioquia: Jejuou, orou, impôs-lhes as mãos e os despediu.

Nós queremos dizer com isto que quem envia os missionários é a igreja e não a agência missionária. Quem avalia o trabalho e a vida do obreiro é a igreja local. Ela deve Ter posições claras sobre as nações não alcançadas, definição dos povos transculturais e acima de tudo priorizar as metas desta obra.

Ao longo da História da Igreja, Deus tem chamado homens e mulheres para realizarem tarefas específicas. A todo instante, milhares de crentes estão sendo chamados por Deus para as mais diversas tarefas.

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ESUTES – Escola Superior de Teologia do Espírito Santo 18

OO DDeessaaffiioo ddee MMiissssõõeess

"...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra" (Atos 1.8).

Esse versículo tem sido a base de um sermão que em diversas igrejas e conferências missionárias Deus tem usado para desafiar vidas e comunidades para a tarefa da evangelização mundial. Nesse versículo encontramos condensado o plano de Deus para a igreja.

1) "... recebereis poder..." Missões começam no poder do Espírito Santo. Ele é o chefe de missões, porque é

quem dirige, motiva, impulsiona e leva a igreja a cumprir sua tarefa missionária. Algumas igrejas dizem que têm o poder do Espírito Santo, mas não têm visão missionária, o que é impossível, porque se de fato tivessem poder, consequentemente teriam visão missionária. Outras querem fazer a obra de missões sem o poder do Espírito Santo, e o resultado é um fracasso total.

Jesus conhece nossa fraqueza e incapacidade para cumprir sua ordem; por isso, todas as vezes que ordenou que fôssemos por todo o mundo pregando o evangelho a toda criatura, prometeu também nos capacitar com o poder do Espírito Santo. Examine o quadro da página seguinte.

É impossível fazer a obra de missões sem o poder do Espírito Santo. E impossível haver poder do Espírito Santo sem que haja visão mundial.

Se olharmos para a história da igreja, veremos que sempre que houve um derramamento do Espírito o resultado foi um grande movimento de missões mundiais.

O resultado do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi a salvação de quase três mil almas (At 2.41); mais adiante, cerca de cinco mil (At 4.4); depois disso houve um grande movimento missionário (At 7.6).

Na história dos avivamentos, podemos perceber grandes movimentos missionários. Se quisermos ver nossas igrejas crescendo, o reino de Deus implantado e o evangelho sendo pregado a todas as nações, precisamos do poder do Espírito Santo. Todas as vezes que Jesus deu a Grande Comissão a seus discípulos, deu também a promessa da capacitação do Espírito Santo para sua execução.

Mas o diabo não quer que o evangelho seja pregado, e sabe que se a igreja for cheia do Espírito Santo, haverá um grande trabalho de evangelização destinado a todas as nações; por isso ele começou a semear um movimento de divisão nas igrejas é uma tremenda confusão doutrinária.

Podemos andar no Espírito pela fé. A Bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6); o justo viverá pela fé (Gl 3.11); ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele (Cl 2.6); andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne (Gl 5.16). Você pode andar cheio do Espírito Santo pela fé na Palavra de Deus. Ele já nos prometeu poder e autoridade; basta-nos agora recebê-lo pela fé e andarmos cada ano, cada mês, cada hora do dia, cada minuto da hora, cada segundo da nossa vida cheios do Espírito Santo pela fé na Palavra de Deus.

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Você está cheio do Espírito Santo? Talvez você seja um cristão derrotado, sem poder e sem frutos por estar vivendo a vida cristã pelos seus próprios esforços ou, quem sabe, procurando emoções! Nós lhes recomendamos que peça a Deus que o encha do Espírito Santo agora mesmo, onde você está, e que o receba pela fé.

2)"... e sereis minhas testemunhas..." O resultado de uma vida cheia do Espírito Santo é o testemunho. O crente que se

apropria do poder do Espírito Santo, pela fé, sente-se motivado a falar de Jesus Cristo aos outros e o faz de forma natural. Além do poder para testemunhar, o crente produzirá o fruto do Espírito, que se refletirá em suas atitudes, e sua vida servirá de estímulo para que os outros sigam Jesus.

Jesus Cristo nos chama para ser suas testemunhas. Testemunha é uma pessoa que viu algum acontecimento e é solicitada a relatá-lo. Jesus quer que sejamos testemunhas do que ele fez e está fazendo por nós e em nós.

Se Cristo fez e está fazendo algo em nossa vida, temos do que testemunhar, porém se Cristo não fez nem está fazendo nada em nós, não temos nada para testemunhar. Deus nos ordena em sua Palavra que sejamos testemunhas das bênçãos que ele nos dá, e essas bênçãos têm uma razão de ser: para que o mundo creia. Veja o que lhe diz Salmos 67.1-3:

Você tem sido uma testemunha? Quantos ao seu redor estão morrendo sem Cristo, sem esperança, sem salvação, indo para o inferno! Você tem pregado o evangelho e está fazendo discípulos?

Você se lembra da pessoa que lhe falou de Cristo? Lembra-se do dia da sua salvação? Você já pensou que aquela pessoa foi fiel a Deus e a você? Você já agradeceu a Deus por aquela vida? Será que algum dia alguém vai agradecer a Deus porque você lhe testemunhou? Enquanto estamos vivos devemos ser testemunhas de Cristo.

3) Locais para o testemunho Em Atos 1.8 Jesus apresenta-nos quatro locais onde devemos ser testemunhas:

Jerusalém, Judéia, Samaria e os confins da terra.

a) Jerusalém — cidade onde os discípulos estavam quando receberam a ordem. Ela foi palco dos acontecimentos básicos do cristianismo. Nela Jesus morreu, ressuscitou e deu a Grande Comissão aos discípulos. A nossa Jerusalém deve ser a cidade onde vivemos, nos reunimos como igreja e recebemos as bênçãos de Deus. Portanto devemos ser testemunhas em nossa cidade, no trabalho, na escola, na vizinhança, na rua, falando de Cristo, distribuindo folhetos, convidando pessoas para ir à igreja, realizando programas de rádio e TV, colocando mensagens nos jornais, cartazes nas lojas, nos veículos de transporte coletivo, etc. Enfim, devemos fazer tudo para que Cristo seja conhecido em nossa Jerusalém.

b) Judéia — estado cuja capital era Jerusalém. Quando Cristo diz que devemos ser testemunhas em toda a Judéia, ele quer que evangelizemos nosso estado. A nossa Judéia é o estado onde estamos vivendo.

c) Samaria — região mais afastada, com conotações transculturais. A nossa Samaria é o Brasil. Portanto, devemos ser testemunhas no Brasil do que Cristo fez e está fazendo em nossa vida aqui.

d) Confins da terra — Jesus quer que sejamos suas testemunhas em todas as nações da terra. A visão de Deus é implantar seu reino em todas as tribos, povos, línguas e nações

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(Ap 5.9). Devemos, portanto, ter a mesma visão, pois somos os instrumentos de Deus para essa tarefa.

Se somos servos de Deus e temos a Bíblia como única regra de fé e prática, teremos visão missionária mundial, que é o que Deus espera dos seus servos.

Qual tem sido a sua visão? O que você e sua igreja estão fazendo para levar a glória de Deus a todas as nações?

4) Quando testemunhar? Hoje e agora! Alguns têm uma visão errada da obra e da tarefa da igreja. Pensam que devem atingir

somente o seu bairro com a mensagem de Cristo. Oh! Como precisamos de visão! Como precisamos de uma operação sobrenatural de Deus abrindo os nossos olhos para a tarefa que está diante de nós! A visão de Deus é que a igreja seja testemunha de Cristo em Jerusalém, na Judéia, em Samaria e nos confins da terra ao mesmo tempo. Alguns planejam evangelizar primeiro a cidade ou o país, para depois pensar em missões mundiais. Isso é pecado! É desobediência à ordem de Cristo, falta de responsabilidade, e prestaremos contas diante de Deus por esse nosso pecado (Hb 2.2).

Observe os destaques no texto: "... recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra". Note que devemos evangelizar os quatro locais ao mesmo tempo. No original grego, a palavra correspondente a tanto em é te, que quer dizer "ambas"; daí a idéia de simultaneidade. Devemos ser testemunhas na nossa cidade, no nosso estado, no nosso país e no mundo todo ao mesmo tempo!

Os números abaixo mostra-nos a realidade do mundo hoje.

Situação do Mundo Em 1998

Cristianismo

Igreja Católica........................................ 970.000.000 Igreja Ortodoxa e outras........................ 180.000.000 Protestantes e Evangélicos..................... 800.000.000 Outros Grupos....................................... 100.000.000 TOTAL................................................... 2.050.000.000

Outras Religiões

Islamismo.............................................. 1.150.000.000 Hinduísmo............................................. 770.000.000 Religiões Orientais................................ 680.000.000 Judaísmo................................................ 20.000.000 Animismo.............................................. 160.000.000 Outras................................................... 70.000.000 TOTAL.................................................. 2.850.000.000

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Ateus e Secularistas

Sem Religião ........................................ 1 .200.000.000 TOTAL GERAL...................................... 6.100.000.000

Fonte de Informação: U.S. Center for World Missions

A JANELA 10/40

• A Janela 10/40 é a faixa entre os graus 10 e 40 ao norte da linha do equador; é onde se concentra o maior número de povos não alcançados do mundo.

• Há 62 países nesta faixa, dos quais 55 são os menos evangelizados do mundo. • Nesta região vivem 706 milhões de muçulmanos, 717 milhões de hindus e 153

milhões de budistas. • 82% dos povos mais pobres do mundo estão nesta área. • Na maioria dos países da Janela 10/40 não há acesso ao evangelho. Espero que essas informações tenham sido um instrumento de Deus para mover seu

coração. O que você está fazendo para mudar esse quadro?

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ESUTES – Escola Superior de Teologia do Espírito Santo 22

AA BBaattaallhhaa EEssppiirriittuuaall Devemos entender que estamos numa batalha espiritual. Fazer a obra de evangelista,

querer ver o mundo todo salvo, servir a Cristo, é atacar diretamente o inimigo, Satanás. Porém Satanás não quer perder terreno e, então, procura enganar os cristãos,

mantendo escondido o conceito da batalha espiritual que mais lhe incomoda, que é a conquista dos povos ainda não alcançados.

Os autores que escrevem sobre batalha espiritual sempre se preocupam com as dificuldades espirituais individuais dos crentes. Poucos têm percebido que a batalha espiritual mais eficaz é aquela que tira vidas das mãos de Satanás e ganha terreno para o reino de Deus.

Ouvimos muito falar de vitória na vida pessoal, de libertação das obras malignas, de cânticos de guerra, de armas de vitória, mas sempre em relação ao crente como indivíduo. O povo precisa abrir os olhos e ver que Satanás o está enganando, não permitindo que veja o aspecto mais amplo e mais eficaz da batalha, que é avançar no terreno do inimigo e saquear-lhe os bens.

De acordo com a Bíblia, quem não tem Cristo pertence a Satanás (Mt 13.38) e, logicamente, quando você começa a evangelizar uma pessoa, o inimigo não vai gostar e fará tudo para não perder a vida que está em seu domínio. Você já tentou tirar um osso da boca de um cão faminto? Que tal tirar a carne de um leão esfomeado? Saiba, então, que quando você decidiu servir a Cristo, fez uma declaração de guerra contra Satanás.

A Bíblia apresenta alguns aspectos dessa batalha. Em Colossenses 1.13, ela diz: "Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor". Veja a obra maravilhosa que Cristo fez por nós: outrora estávamos no império das trevas, cegos espiritualmente, longe de Deus, sem esperança, escravizados, cheios de medo, sem saber nada sobre o futuro, sob o domínio de Satanás. Mas Deus, por sua grande misericórdia, libertou-nos do império das trevas e transportou-nos para o reino de Cristo. Que grandiosa salvação! Aleluia! Mas como isso se deu? Foi quando alguém orou por nós e mostrou-nos a verdade do evangelho. Portanto, quando saímos para pregar ou desejamos fazer a obra missionária, devemos entender que estamos resgatando vidas do reino de Satanás, levando-as para o reino de Cristo.

A Bíblia diz que o mundo jaz no maligno. Portanto, o trabalho de evangelização é uma batalha que arranca vidas das garras de Satanás, transportando-as para as mãos de Cristo.

I - A Nossa Posição Para enfrentar essa batalha precisamos, antes de qualquer coisa, saber qual é a nossa

posição espiritual, para termos ousadia, coragem e enfrentar o inimigo. Muitos de nós nos sentimos impotentes e incapazes para a luta; por isso, precisamos entender o que a Bíblia fala sobre a nossa posição. Em Efésios 1.19-22, encontramos as seguintes afirmações:

"... e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente

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século, mas também no vindouro. E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja..."

Dessa forma, o crente tem poder para dominar Satanás, expulsar demônios e exercer autoridade sobre toda obra maligna. Por outro lado, Jesus Cristo afirmou:

"Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome expelirão demônios..." (Mc 16.17).

O Espirito Santo dá poder a todo crente para realizar as mesmas obras que Cristo realizou, incluindo a expulsão de demônios. E preciso ter fé e pôr em prática a Palavra de Deus. Se você é crente então pode expulsar demônios. Se você é crente e se Cristo controla sua vida, saiba que está nesta posição espiritual, acima de todo poder de Satanás, e pode exercer autoridade e expulsá-lo em nome de Jesus.

II - A Nossa Armadura

"Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda a oração e súplica, orando em todo tempo no Espirito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que em Cristo eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo" (Ef 6.10-20).

Neste trecho da Palavra, o apóstolo Paulo apresenta-nos a armadura de Deus. No verso 12, a Bíblia afirma que a nossa luta não é física, mas espiritual. Há muita gente tentando expulsar demônios pela força física, pelo muito gritar ou pela repetição de frases. Saiba que a luta está no âmbito espiritual; logo, temos de nos revestir da armadura de Deus, mas antes temos de estar fortalecidos no poder do Senhor, com uma vida de santidade, oração e cheia do Espírito Santo; então vestiremos a armadura e estaremos prontos para a batalha.

III - A Nossa Estratégia Para tornarmos efetiva a nossa vitória nesta batalha, precisamos de uma estratégia

bem planejada e estudada. Essa estratégia já está descrita na Palavra de Deus e constitui-se dos seguintes passos:

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1) Derrubar as portas do inferno

"Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).

Nesse versículo, Jesus está apresentando o instrumento de Deus para a execução dos seus planos de restauração da humanidade. Jesus está dizendo: "Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela", ou seja, o trabalho de Deus na restauração da humanidade começa com um ataque frontal ao inferno. A igreja é o instrumento de Deus para atacar o inferno, e o primeiro passo nessa estratégia é derrubar as portas do inferno.

Assim, o papel da igreja é derrubar as portas do inferno e entrar lá para tirar as vidas do domínio de Satanás e levá-las para as mãos de Cristo. As portas do inferno não resistem ao poder de Cristo manifesto na sua igreja. Aleluia!

2) Amarrar o inimigo

"Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; só então lhe saqueará a casa" (Mc 3.27).

O segundo passo na estratégia da batalha espiritual é amarrar o inimigo. No contexto desse versículo, Jesus Cristo está falando sobre Satanás e apresenta-nos a estratégia de amarrá-lo. Pela autoridade da nossa posição em Cristo, pela Palavra de Deus, pelo nome de Jesus Cristo, podemos amarrar Satanás e os espíritos malignos para, finalmente, tirarmos as vidas de suas mãos. Se estamos acima de todo domínio e poder, temos, então, autoridade espiritual sobre este poder. Por isso, o crente em Cristo simplesmente pode amarrar Satanás para executar a obra de Deus. Isso não quer dizer que podemos impedir a atuação de Satanás no mundo, pois tal se dará só no final dos tempos, mas o que podemos e devemos fazer é impedir a atuação de Satanás e dos espíritos malignos especificamente sobre a pessoa ou sobre a área que estivermos evangelizando, fazendo a obra de Deus.

3) Roubar-lhe os bens

"Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa" (Mc 3.27).

No versículo acima, Jesus diz que devemos amarrar o valente e saquear-lhe os bens. Quais são os bens de Satanás? São as vidas que ele tem em seu domínio. Portanto essas vidas precisam ser resgatadas. Precisamos tirá-las das mãos de Satanás e levá-las para Cristo. Isso é feito no campo espiritual.

4) Garantir os bens saqueados Após roubarmos as vidas das mãos de Satanás, estas precisam ser protegidas e

garantidas para não caírem mais no domínio do inimigo. Poderemos fazer isso de três maneiras:

a) Discipulando — Precisamos levar o novo convertido a compreender a Palavra de Deus e a colocá-la em prática; estará assim firmando sua vida espiritual sobre a rocha que

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é Cristo, e nada poderá derrubá-lo dessa posição. Daí a necessidade de alguém mais experimentado na Palavra tomar o novo convertido e, pessoalmente, ajudá-lo no crescimento espiritual.

b) Resistindo a Satanás — "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4.7). O versículo diz que devemos primeiro estar em submissão a Deus. A nossa luta não é realizada pelas nossas próprias forças ou capacidades, mas é uma luta espiritual, em que a vitória vem do poder de Deus em nossa vida. Dessa forma, precisamos estar em inteira submissão ao Espírito de Deus, para então resistir ao diabo. Quando resistimos a Satanás e aos seus ataques, ele foge. Note que coisa interessante: quem foge é o diabo, não o crente. Temos visto crentes fugindo de medo do diabo e de pessoas possuídas por demônios, porque não conhecem sua posição em Cristo.

c) Não dando lugar ao diabo — "... nem deis lugar ao diabo" (Ef. 4.27). A vitória já está garantida, temos autoridade sobre Satanás, mas precisamos tomar cuidado para não lhe dar lugar. O diabo é astuto e não vai aparecer diante de nós como um bicho feio. Ao contrário, a Bíblia diz que ele se transforma em anjo de luz para nos enganar. E o faz com muita sutileza, às vezes trazendo um mau pensamento, desviando-nos dos propósitos de Deus; outras vezes, provocando divisões, contendas etc.; assim, devemos tomar cuidado e não dar lugar ao pecado, às contendas e divisões na igreja, para que ele não obtenha vantagem nessa batalha.

Resumindo, esta deve ser então nossa estratégia: derrubar as portas do inferno e entrar lá, amarrar Satanás, tirar as vidas de seu domínio e transportá-las para o reino de Cristo e treinar essas vidas para que também se tornem soldados na batalha contra o inimigo.

Queremos apresentar nas páginas seguintes, de uma forma ilustrada, a realidade da

batalha espiritual hoje. Os Que estão na frente da Batalha

Nesta linha encontramos os missionários enviados para os campos, que estão

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trabalhando na formação de igrejas e nos ministérios de apoio. Note que, no desenho, eles estão em sua maioria embolados num campo de batalha. Isso se deve à seguinte estatística:

Cristãos nominais - 1.300.000.000 - 96.800 missionários Outras religiões e ateus - 4.000.000.000 — 24.200 missionários Total 121.000

O número de missionários trabalhando com os povos mais necessitados e não alcançados é quatro vezes menor que o total daqueles que trabalham com cristãos nominais. É tempo de olhar para os povos não-alcançados pelo evangelho e colocar as mãos no arado, desafiando as igrejas a enviar missionários para plantar igrejas onde não há testemunho do evangelho.

"...esforçando-me deste modo por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio..." (Rm 15.20).

Linha dos que estão no Apoio

Esta é a linha dos que estão comprometidos com os missionários, orando e contribuindo regularmente para o seu sustento.

Veja que o número é pequeno, pois infelizmente poucos têm visão missionária e assumem o compromisso de obediência total a Cristo.

Estes estão segurando as cordas da oração, sabendo que a obra missionária não é responsabilidade somente do missionário que vai ao campo, mas estão associados a ele, orando para que seja usado por Deus no seu trabalho. E não participam apenas orando,

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mas também financeiramente para o sustento da família do missionário. Devemos orar para que haja um grande despertamento espiritual em nossas igrejas, a

fim de que Deus levante soldados que estejam na linha de apoio para o sustento espiritual e financeiro dos missionários.

Linha dos que atacam só aos Domingos

Aqui encontramos os pastores e suas igrejas. Os pastores pregando sermões

evangelísticos aos domingos, e os crentes convidando pessoas para ouvi-lo. Durante a semana, levam uma vida de comodismo, não se preocupando com a

salvação das vidas; mas no domingo resolvem atacar o inimigo. Louvamos a Deus porque em sua misericórdia vidas estão recebendo a mensagem de Cristo e sendo salvas. Mas se pensarmos bem e tivermos consciência de que estamos numa batalha espiritual, como será possível atacar somente aos domingos? Onde está o nosso testemunho pessoal durante a semana? Por que não fazemos discípulos de Cristo em nosso trabalho, em nossa escola, na vizinhança, etc.?

É tempo de a igreja de Cristo despertar, abrir os olhos e lançar mão das armas espirituais, entrando na batalha contra as trevas.

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Linha dos que atacam uns aos outros

A situação apresentada acima é a dura realidade da igreja de Cristo hoje. Muitos crentes estão brigando entre si. O denominacionalismo tem semeado discórdia, desunião e confusão entre o povo de Deus. Podemos notar como uns têm atacando os outros e, muitas vezes, para vergonha nossa, usando meios públicos de comunicação, desonrando o nome do Senhor Jesus Cristo.

Se os líderes das denominações tivessem consciência clara da batalha espiritual que estamos enfrentando, talvez parassem de atacar uns aos outros e se unissem espiritualmente, para juntos derrotarem o inimigo.

imaginemos a alegria de Satanás quando vê os crentes brigando entre si. Não somos contra denominações, mas contra o denominacionalismo que divide, discrimina e desune o povo de Deus. Precisamos ter consciência de que nosso inimigo não é o irmão de outra denominação e sim o diabo.

Aqui não entra só o denominacionalismo, mas também as correntes teológicas. Nesta época, tem-se dado muita ênfase a algumas idéias teológicas e práticas que têm surgido, e isso tem causado divisões. Sabemos que cada um tem suas convicções e bases bíblicas. Podemos ter diferentes correntes teológicas, mas nunca nos dividir por causa delas. Devemos nos unir no que concordamos, compreendendo-nos no que discordamos.

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Linha dos que estão construindo Templos

Aqui se alinham os que perderam o objetivo e o propósito da igreja aqui na terra. São os que dão prioridade à construção de templos. Parece que nesta época há uma epidemia de construção de templos.

Há igrejas que há anos estão construindo templos, totalmente endividadas, e nunca conseguem chegar ao fim da construção. Outras fazem campanhas espetaculares e levantam fundos para edificar templos faraônicos, luxuosos, enquanto as almas estão famintas, sem Cristo e sem esperança.

Certo pregador disse a uma igreja que estava construindo seu templo: "Se após a inauguração, vocês não continuarem investindo a mesma quantia mensalmente, para a obra missionária, terão erigido um altar de testemunho contra vocês mesmos".

É tempo de a igreja de Cristo voltar às origens e redescobrir seu papel aqui na terra, colocando as prioridades na ordem correta.

"... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33).

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Linha dos soldados Feridos

Nesta linha encontramos os crentes que só causam e trazem problemas à igreja. Satanás está oprimindo muitos crentes, provocando problemas de toda sorte, para que pastores e crentes maduros se preocupem e gastem um tempo precioso cuidando deles, quando poderiam estar trabalhando para missões.

É preciso ter muito discernimento para exercer o ministério de aconselhamento e cura da

igreja, ter discernimento quanto às nossas prioridades e ao uso correto do nosso tempo; precisamos treinar pessoas que tenham dons espirituais de exortação, pastoreio, misericórdia, socorro, etc., para que possam trabalhar com os necessitados.

Devemos tomar cuidado para não nos envolver em um ministério para o qual Deus não nos designou e assim prejudicar a igreja no cumprimento dos seus propósitos.

Há alguns crentes que querem somente ser afofados e paparicados, mas não querem se

comprometer com o senhorio de Cristo. Estes só dão trabalho e, muitas vezes, são colocados em nosso caminho por Satanás, para que nos preocupemos com eles.

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Linha dos que não sabem que estão na Guerra

Composta de crentes indiferentes quanto ao progresso do evangelho. Estão preocupados com as coisas da vida. Só pensam em ganhar dinheiro e acumular tesouros aqui na terra;

preferem os passeios à Escola Dominical; preferem a cama ao estudo da Palavra; preferem a televisão à reunião de oração; vivem despreocupados em relação ao fato de as pessoas estarem salvas ou não.

O pior é que aplaudem os que estão na linha de frente da batalha. Às vezes, vejo as reações

de algumas igrejas quando ouvem o testemunho de um missionário. Elas aplaudem, exaltam a coragem e o desprendimento daquela vida, ficam admiradas com o altruísmo do missionário e se deleitam com as histórias fascinantes e diferentes do campo. No final, dão uma pequena oferta, apenas para desencargo de consciência, e voltam às suas atividades, não percebendo que também fazem parte dessa batalha espiritual.

Infelizmente, para vergonha nossa, esta é a realidade da maioria das igrejas; o maior número de soldados encontra-se nesta linha e são aqueles que não estão preocupados nem engajados na batalha. Desobedecem voluntariamente ao comando do General, mas estão aplaudindo os obedientes.

Deus tenha misericórdia de nós e faça descer sobre nós o poder do alto, para que cada

crente, e consequentemente cada igreja, assuma a responsabilidade de entrar nessa batalha, usando todos os meios possíveis para que Cristo seja pregado a todas as nações.

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ESUTES – Escola Superior de Teologia do Espírito Santo 32

MMiissssõõeess:: TTaarreeffaa ddaa IIggrreejjaa LLooccaall

Deus, em sua infinita sabedoria e soberania, decidiu usar homens para a execução dos seus planos. Se folhearmos a Bíblia, vamos encontrar Deus usando vidas para cumprir seus eternos propósitos, tanto no Antigo Testamento, com o povo de Israel, como no Novo Testamento, com a igreja.

I - No Antigo Testamento O plano de Deus é encher a terra com Sua glória. O homem é o agente e instrumento de

Deus para cumprir seus propósitos. No Antigo Testamento encontramos Deus usando situações e levando o homem a cumprir seu plano. Nos Primórdios da Criação

a) Antes da queda do homem Ao criar o universo, decidiu Deus formar o homem "à sua imagem e semelhança" (Gn 1.26-

27); em seguida, abençoou o homem e a mulher, dando-lhes a seguinte ordem: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra..." (Gn l .28). Note que Deus colocou Sua imagem e semelhança no homem e ordenou-lhe que enchesse a terra. Fica claro, portanto, que Deus queria ver, por intermédio do homem, sua glória espalhada por toda terra.

b) Na queda do homem, Deus prometeu a restauração em Cristo “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a

cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).

Com a queda houve a entrada do pecado no mundo, e a imagem e semelhança de Deus ficaram distorcidas no homem.

Deus prometeu que o descendente da mulher feriria a cabeça da serpente, referindo-se à vinda do Messias, que destruiu as obras de Satanás, o agente da queda. Por causa da entrada do pecado, toda humanidade sofreu a consequência, que é a separação de Deus. Mas, no mesmo instante, Deus prometeu a solução em Cristo.

Na obra de Deus em Cristo temos o processo de restauração da imagem e da semelhança de Deus no homem.

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c) No pacto com Noé e seus filhos “Abençoou Deus a Noé e a seus Filhos e disse-lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a

terra”).Sim, estabeleço o meu pacto convosco; não será mais destruída toda a carne pelas águas do dilúvio; e não haverá mais dilúvio, para destruir a terra” (Gn 9.11).

O gênero humano havia se corrompido, mas Deus tinha uma família que andava em perfeição.

Deus planejou o dilúvio, mas decidiu preservar a família de Noé e continuar a execução do seu plano de encher a terra com a sua glória.

Após o dilúvio Deus mandou que Noé e seus filhos frutificassem, multiplicassem e enchessem a terra, e a seguir estabeleceu o pacto de nunca mais destruir a terra com água.

Aprendemos que a graça e a misericórdia sempre sobrepujam a condenação diante de Deus. Isto é obra missionária. Deus operando para manter seu relacionamento de amor com o homem.

d) No Episódio da Torre de Babel

“Disseram mais: Eia, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gn 4).

Deus havia dado ao homem a ordem de frutificar, de multiplicar-se e de encher a terra, tanto na criação como após o dilúvio. Mas é impressionante ver como a desobediência já era inata ao ser humano.

O povo decidiu desobedecer e criar uma cidade com uma torre, para que não fossem “espalhados sobre a face de toda a terra”. Deus havia dado a ordem de se espalharem e de encherem a terra, mas eles agora estavam, como muitos hoje, desobedecendo voluntariamente à ordem de Deus.

Deus, que planejou ver sua glória espalhada por toda a terra, colocou uma confusão de línguas e forçosamente espalhou o povo.

Na Nação de Israel Deus usa vidas para o cumprimento dos seus propósitos. Em sua soberania e

sabedoria ele decidiu organizar um povo, por meio do qual executaria seu plano de espalhar sua glória a todas as nações.

a) Na chamada de Abrão, Deus prometeu abençoar todas as famílias da terra, por intermédio do povo de Israel.

b) O povo de Israel tinha o ofício sacerdotal.

c) O povo de Israel era o veículo pelo qual Deus manifestava Sua salvação.

d) O povo de Israel era o instrumento para espalhar a glória de Deus.

II - No novo Testamento Infelizmente o povo de Israel falhou no seu propósito missionário; eles não

perceberam que Deus os organizou para abençoar todas as nações; e até hoje os israelitas pensam que as bênçãos de Deus lhes são exclusivas.

Deus decidiu organizar um novo povo, que é a igreja no Novo Testamento, à qual

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designou a mesma tarefa missionária, Na Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo deixa claro que está organizando um novo

povo:

"Porque ele é nossa paz, o qual de ambos fez um; e tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse em si mesmo um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade" (Ef. 2.14.16).

Essa fusão de judeus e gentios é a igreja, que tem a responsabilidade missionária de tornar conhecida a sabedoria de Deus, conforme o versículo 10 do capítulo 3: "... para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tome conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais".

A Igreja de Cristo a) O instrumento de Deus para atingir seus propósitos na terra é a igreja Quando Jesus estava executando seu ministério, tinha como objetivo deixar uma

organização que desse continuidade à obra de Deus na terra, e essa organização é a igreja.

b) A igreja recebeu a ordem de evangelizar o mundo Antes de subir aos céus, o Senhor deixou a ordem mais importante aos seus

discípulos: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15); "Ide... fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19). Está bem claro que o propósito de Deus para a sua igreja é a evangelização do mundo.

Daí a importância de a igreja ter uma declaração de propósitos que possa servir de base para toda avaliação, implementação e planejamento de programas e atividades.

Deus coloca em sua Palavra não somente a ordem, mas um modelo que facilita nosso trabalho. A igreja de Antioquia serve como exemplo, pois foi a base missionária do avanço da igreja primitiva no alcance de outros povos.

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O Relacionamento entre a Igreja local e as Juntas ou Agências Missionárias

Já vimos na Bíblia que a responsabilidade do envio de missionários é da igreja local. Porém, como fica a situação das juntas denominacionais e das agências missionárias? Elas têm o seu lugar, que é muito importante. Para executar sua responsabilidade, as igrejas necessitam de auxílio e de apoio dessas organizações. Por isso vamos estudar o papel da igreja e o da organização missionária na execução do trabalho.

O papel da igreja A igreja reconhece a chamada e seleciona os candidatos Ninguém melhor do que a igreja local para reconhecer e identificar uma pessoa

chamada para a obra de missões. A igreja vê o fruto e identifica o dom porque está convivendo e trabalhando com a pessoa. Por isso, é muito importante e de muita respon-sabilidade a recomendação que uma igreja faz para uma pessoa ir ao campo missionário. Se o candidato não produz fruto no país, não o produzira também no campo missionário, e quem atesta a produção de frutos é a igreja local.

A igreja treina o candidato

Toda igreja deve ter seu próprio treinamento para os candidatos a missões. Ninguém melhor do que o pastor, desde que seja um pastor que produza frutos, para treinar e orientar o candidato à obra de missões e para praticar o trabalho com ele. Veja na Bíblia o que Paulo fez com Timóteo (At 16.1-3). Além desse treinamento prático, Paulo continuou trabalhando com Timóteo até morrer (veja as duas cartas a Timóteo). Portanto, o melhor treinamento surge na igreja local, que deve estar atenta à sua enorme responsabilidade perante seus membros, pois se ela é o modelo do que o futuro missionário irá reproduzir no campo, precisa cuidar para que seja biblicamente estruturada, responsável, espiritualmente amadurecida e produtiva. Muitas vezes ensinamos mais pelo que fazemos do que pelo que falamos.

A igreja envia o missionário Já vimos a base bíblica da responsabilidade da igreja no envio do missionário. Ela

poderá fazê-lo diretamente ou usar uma junta denominacional ou agência missionária, mas não pode esquecer que a responsabilidade é sua, e esta aumenta quando o missionário sai para o campo.

A igreja cuida do missionário Qualquer problema do missionário no campo deve ser encarado como problema da

igreja local. É importante que ela saiba das despesas financeiras do missionário, que são muitas, conheça as dificuldades lingüísticas, com enfermidades, com adaptação cultural, etc. A igreja tem a responsabilidade de cuidar do missionário. Mais adiante, vamos estudar sobre a parte prática desse cuidado.

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O Papel das Agências ou Juntas Missionárias Agora que já estudamos a responsabilidade da igreja, quero falar sobre a importância

das juntas denominacionais e agências missionárias. Essas organizações vieram a existir por causando fracasso das igrejas em cumprir a

tarefa. Hoje elas são de grande importância e atuam como instrumentos de Deus para ajudar a igreja local a fazer missões.

Prover treinamento específico para o missionário A igreja provê o treinamento geral, teológico, prático, etc., mas o missionário precisa

receber treinamento específico de acordo com o campo onde vai atuar. É importante que ele esteja preparado para enfrentar as dificuldades da adaptação cultural. Além disso, tanto a esposa do missionário quanto toda sua família também precisam de treinamento específico. A esposa tem de receber o mesmo reparo do marido, e as crianças um cuidado especial. É importante também o treinamento lingüístico, de sobrevivência nas selvas, etc., caso haja necessidade. A igreja terá muita dificuldade para oferecer esse tipo de trei-namento. Por isso é necessário que as organizações missionárias especializadas a ajudem nessa área.

Orientar quanto às melhores oportunidades Pelo fato de estar em contato com outras agências e fazer estudos específicos, essas

organizações sabem onde estão as melhores oportunidades. Estão mais bem informadas sobre os campos mais necessitados, conhecem os países que estão abertos para missões e suas necessidades específicas — o que facilita ao candidato avaliar se o seu dom vai suprir as carências do campo escolhido. Note que o apóstolo Paulo disse aos romanos que gostaria de ir a Roma com a finalidade de repartir algum dom espiritual (Rm 1.11). É importante, pois, que o missionário conheça o seu dom, e saiba se ele é necessário no campo missionário escolhido. Por exemplo, há lugares que não precisam mais de missionários para plantar novas igrejas, porque as igrejas já plantadas podem fazer esse tipo de trabalho. Talvez precisem de missionários para p treinamento das igrejas já estabelecidas. Por isso é necessário que alguém esteja fazendo esses estudos, e o trabalho das juntas e das agências dirige-se para isso.

3. Executar o serviço burocrático Há inúmeras dificuldades para o envio de um missionário. Precisa haver contatos com

outras agências missionárias, com autoridades governamentais, emissão de vistos de entrada e de permanência, câmbio e envio de dinheiro, orientação quanto aos relacionamentos no campo com igrejas, governo e outras agências, e avaliação in loco do andamento do trabalho. Todas essas tarefas são difíceis para a igreja. Daí a importância das juntas e organizações missionárias.

Se as organizações missionárias estão ocupando o lugar da igreja, isso ocorre porque igrejas e pastores estão falhando.

O fato de essas organizações existirem não tira a responsabilidade da igreja. O problema é que algumas igrejas transferiram sua responsabilidade para as juntas ou agências missionárias. Simplesmente dão uma oferta anual e dizem que já cumpriram sua tarefa. Além disso, muitos terminaram o seminário e, em vez de se apresentar à igreja para o envio ao campo, apresentam-se à junta ou agência.

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Creio que é tempo de acabar com esse problema de uma vez por todas. Cada junta ou agência deve enviar apenas candidatos recomendados pela igreja local, que estejam produzindo frutos e comprometidos com a igreja e com eles.

O gráfico seguinte poderá ajudá-lo a entender os relacionamentos.

Perceba que há um relacionamento de interdependência entre os três. Quando não há esse relacionamento correto, ocorrem dificuldades, das quais o Diabo gosta muito. Apresento a seguir quatro dessas dificuldades:

a) A igreja não conhece o missionário. Quando um missionário é enviado por uma junta ou agência, e a igreja não o conhece nem tem nenhum relacionamento pessoal com ele, fica desmotivada na obra missionária.

b) A igreja não ora. Por não conhecer o missionário e por não saber o que ele está fazendo nem onde está, a igreja não ora e, não fazendo isso, prejudica-se a si mesma e ao missionário no campo.

c) A igreja não contribui. Se a igreja não conhece o missionário, não sabe o que ele está fazendo, nem recebe relatório, fica desestimulada a contribuir financeiramente. Mais adiante vou falar a respeito de finanças em missões e contar alguns milagres que Deus tem feito em questões financeiras pelo fato de a igreja conhecer pessoalmente o missionário.

d) A igreja fica desanimada com missões. É lógico! Se não há um relacionamento pessoal com o missionário, a igreja fica fria quanto à obra missionária. Quando o missionário sai da igreja local comprometido com ela e dela recebendo o mesmo com-promisso, a coisa é diferente.

Precisamos aprender o conceito de personalização. Personalização é cada membro da igreja local envolvido pessoalmente na evangelização do mundo usando suas habilidades e seus dons.

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OO PPaassttoorr –– AA CChhaavvee ppaarraa mmiissssõõeess MMuunnddiiaaiiss

Há um ditado que diz: "Tal pai, tal filho". Podemos transferi-lo para a situação eclesiástica e dizer: "Tal pastor, tal igreja". Normalmente uma igreja é o que o seu pastor é. Se o pastor leva Deus a sério, a igreja vai levar Deus a sério. Se o pastor é consagrado, a igreja será consagrada. Se o pastor leva uma vida de santidade, a igreja também levará uma vida de santidade. Se o pastor tiver visão missionária, a igreja também terá visão missionária.

Se nossas igrejas não tem tido visão, nem programa e ministério de missões mundiais é porque está havendo alguma falha. Uma delas está no preparo do pastor. Nossos seminários estão entregando às igrejas, pastores sem visão missionária. Na maioria dos seminários, missões são apenas uma matéria entre outras, dada em apenas um semestre, somente com o objetivo de cumprir o currículo. Precisa haver uma mudança radical no ensino teológico. Se missões são a razão de ser das igrejas, deveria então haver um departamento ou cadeira de missões em cada casa de ensino teológico, como matéria prioritária, básica e obrigatória em todos os cursos. Os pastores deveriam sair dos seminários conscientes do seu papel e da razão de a igreja existir. Oremos para que Deus faça uma mudança radical em nossas vidas, seminários e igrejas.

As Responsabilidades do Pastor

1) Conduzir a igreja à maturidade que produz fruto

... “Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim” (Cl 1.27b-29).

O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, deixou registradas essas palavras, para que tenhamos um modelo a seguir. O texto diz que o ministério de pregação de Paulo consistia em anunciar, advertir e ensinar a todo homem em toda a sabedoria. Que tremendo ver a extensão e a totalidade da visão ministerial de Paulo! Note bem os "todos" que aparecem no texto.

Jesus Cristo não nos vai perguntar: "Como está a sua denominação? Como está a construção do seu templo? Quanto vocês têm depositado na poupança?" Não! Nunca! Ele vai pedir contas do rebanho que confiou a nós.

2) Levar a igreja a experimentar a vontade de Deus

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1-2).

Vontade de Deus não se conhece; vontade de Deus se experimenta. Note que Paulo está rogando à igreja que tome atitudes sérias no sentido de consagração e de separação do mundo, mas tudo com um objetivo claro na mente: para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Aqui fica bem claro que o propósito da

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consagração dos crentes é fazer que cada um experimente, ou seja, comprove a vontade de Deus, como ensina o texto no seu original.

Portanto, a tarefa de todo pastor é ajudar os membros de sua igreja a experimentar a vontade de Deus para suas vidas, lançando-lhes os desafios emergentes da sua Palavra.

3) Levar a igreja ao serviço de edificação do corpo

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para edificação do corpo de Cristo (Ef4.11.12).

a) Apóstolo (no original, enviado) - É aquele que tem a visão de fazer coisas novas. Está sempre preocupado em abrir novas igrejas e fazer novos projetos. É aquele irmão que sempre vem com novas idéias e planos para a expansão do reino de Deus.

b) Profeta (no original, o que fala da parte de Deus) - É aquele que quer ver a igreja obedecendo à Palavra de Deus. Sempre está exortando o povo. Este dom é diferente do descrito em l Coríntios 12, pois aquele se refere a trazer uma mensagem direta de Deus para a igreja.

c) Evangelista - É aquele que desafia, motiva e ensina a igreja a ganhar vidas para Cristo. Ele pessoalmente ganha vidas, mas também cuida que a igreja esteja fazendo o mesmo. Seu interesse sempre é a salvação de almas.

d) Pastor - É aquele que cuida do rebanho. Gosta de aconselhar, fazer visitas e estar em comunhão com as pessoas. Sempre tem uma palavra de conforto para os necessitados. Preocupa-se com o bem-estar das pessoas como indivíduos.

e) Mestre - É aquele que ensina a Palavra de Deus. Gosta de detalhes, e sempre está ensinando os princípios bíblicos e expondo a Palavra. Seu maior interesse é saber o que a Bíblia diz e ensinar ao povo.

Esses dons são distribuídos à liderança da igreja com o propósito de capacitar os crentes para o desempenho do seu serviço.

Paulo está ensinando que o objetivo é aperfeiçoar (que poderia ser traduzido como equipar), ou seja, dar condições aos crentes de exercerem o seu ministério. Quem tem um serviço a realizar são os crentes, e tal serviço deve ter como objetivo final o cumprimento dos propósitos da igreja, que é a evangelização do mundo.

Por isso todo pastor deve equipar os membros de sua igreja, para que eles tenham um ministério e cumpram a vontade de Deus. Ah! Como precisamos de pastores segundo o coração de Deus, homens que sirvam de modelo ao rebanho e o ajude a cumprir os propósitos de Deus!

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OO SSuusstteennttoo ddee MMiissssõõeess

Como todo empreendimento, a obra de missões precisa de sustento.z Porém, quando falamos nesse assunto, a primeira idéia que vem à nossa mente refere-se ao dinheiro, mas não é apenas o dinheiro que sustenta missões. Neste capítulo, vamos separar as duas facetas mais importantes do sustento de missões. A primeira é a oração; a segunda, as finanças.

Oração Como as demais atividades da igreja, o trabalho de missões é movido a oração. A

oração é uma arma poderosa para vencer barreiras e alcançar metas. Por meio da oração, podemos ver as janelas dos céus abertas e as bênçãos de Deus caindo sobre o seu povo. A oração move o coração de Deus. Não há problema ou dificuldade que resista a uma oração persistente. Deus responde à oração, e o trabalho de missões pode ser sustentado só com muita oração.

Temos de enfrentar a realidade de que estamos numa guerra espiritual. Fazer missões é lutar diretamente contra as hostes satânicas. Jesus disse que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja (Mt 16.18); disse ainda que devemos amarrar o valente e saquear-lhe os bens (Mc 3.27). A Bíblia também nos diz que Deus “nos tira do reino das trevas e nos transporta para o reino do filho do seu amor” (Cl 1.13-14). Portanto, o bom crente é um ladrão! Ele amarra o Diabo, invade sua propriedade e rouba-lhe os bens — as almas em seu poder nas trevas — e as encaminha para o reino de Jesus Cristo. Por intermédio da igreja, o bom crente derruba as portas do inferno, entra, amarra o valente e saqueia-lhe os bens; isso é feito pela oração. O Diabo treme de medo quando vê um crente orando.

Os crentes, então, precisam reconhecer sua posição em Cristo, que é de superioridade e vitória sobre todo poder do mal. Em Efésios 1.20-21 lemos: "...o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro".

Note que Cristo está assentado nas regiões celestes, acima de todo espírito maligno, acima do diabo e de sua hostes. Agora observe no mesmo contexto a nossa posição, em 2.6: "... e juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus". Veja bem isso: quando aceitamos Cristo, somos colocados nas regiões celestes em Cristo portanto estamos na mesma posição de Jesus, ou seja, acima de todo principado e potestade. Em outras palavras, o Diabo está debaixo de nossos pés. Aleluia! A vitória já está garantida nessa luta, pela nossa posição em Cristo. Mas o Diabo é persistente, e temos de usar a arma da oração para golpeá-lo. Em Efésios 6.10-20, o apóstolo Paulo fala sobre a armadura de Deus na luta contra o Diabo, e nos versículos 18 e 19 explica que essa armadura é movimentada com a oração. Missões são um trabalho de batalha espiritual, que ataca e destrói as fortalezas do inimigo, e isso é feito por meio da oração.

Algumas sugestões bíblicas de oração missionária.

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1) Oração que roga por obreiros

Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para-a sua seara (Mt 9.38).

2) Oração pelas igrejas

E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as cousas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus (Fp 1.9-11).

3) Oração pelos missionários

Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho (Ef 6.18-19).

4) Oração para que Deus abra as portas

Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado (Cl 4.3).

5) Oração pelas finanças

Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. E sabeis também vós, ó filipenses, que no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo, no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades (Fp 4.14-16).

6) Orar pedindo grandes coisas

Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém (Ef 3.20-21).

Finanças Um dos assuntos que mais provocam medo e tensão nos pastores e líderes são as

finanças. Porém, se aprendermos a aplicar os princípios bíblicos, tudo funcionará bem nessa área. Para conseguir bom êxito no sustento da obra missionária é preciso, além de oração, dinheiro para cobrir as despesas. Por esse motivo, quero iniciar esta parte com uma exposição bíblica de Filipenses 4.10-20, que apresenta alguns princípios bíblicos sobre finança Primeiro para o missionário e depois para a igreja.

Em Filipenses 4.10-20 encontramos quatro princípios de finanças para o missionário:

a) O missionário deve estar associado à igreja local

Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. Também. vós sabeis, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma

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igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós somente (v. 14-15).

Missões não são um trabalho realizado somente pelo missionário, mas é um trabalho feito em conjunto. O apóstolo Paulo usa o verbo "associar" para descrever seu relacionamento com a igreja. Esta é, no original, uma palavra comercial usada em referência aos negócios, quando duas partes se associam num empreendimento. Chegamos, assim, à conclusão de que o trabalho de missões é feito em conjunto, tendo de um lado a igreja e, de outro, o missionário. Assim como duas pessoas que se unem para fazer um negócio se tornam sócias, a obra missionária tem como um de seus sócios a família do missionário e como outro, a igreja local; e ambos vão juntos para o campo missionário.

Quando o missionário vai para o campo por conta própria, sem estar associado à igreja local, cria problemas tanto para si como para a igreja.

b) O missionário deve viver contente em qualquer situação

Não digo isto por causa da necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade (v. 11-12).

Deus, em sua soberania, sabe quais são as experiências necessárias ao nosso crescimento espiritual; por isso permite-nos passar por situações difíceis e por outras fáceis, segundo as nossas necessidades.

Essa é a razão de o apóstolo Paulo afirmar que sabe viver contente em toda e qualquer situação. Ele havia aprendido a olhar para Deus trabalhando em sua vida, não para as circunstâncias, e o aprendizado aconteceu pela prática. Note que, no versículo 12, ele afirma ter experiência de fartura e de fome, de abundância e de escassez.

c) O missionário deve confiar no Senhor

“Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (v. 13).

Paulo afirma que tudo pode em Cristo, porque, em meio às experiências, conheceu o poder de Deus suprindo suas necessidades. Posso imaginar Paulo enfrentando dificuldades como escassez e fome, perigos, nudez, como ele mesmo afirma, e, no meio de tudo isso, recorrendo ao Senhor Jesus como único socorro e tábua de salvação, experimentando quebrantamento e milagres ao mesmo tempo. Posso imaginar, ainda, Paulo em meio à fartura e abundância, recorrendo ao Senhor, para que ficasse livre de se apoiar em seus bens materiais e em recursos humanos. Se Deus nos chamou para a obra de missões, ele vai nos sustentar, dando-nos tudo que necessitamos, incluindo os períodos de escassez.

d) O missionário deve estar interessado não no dinheiro, mas no fruto que aumente o crédito da igreja

Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta (v. 17).

Há muitos missionários interessados apenas no dinheiro que irão receber. Posso dizer isso por experiência própria. Quantas vezes eu me surpreendo com o meu

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coração voltado mais para o dinheiro e para a oferta que vou receber do que para a bênção que aquilo representa para a vida da pessoa e da igreja que estão ofertando. Observe no texto bíblico que o interesse de Paulo não estava no dinheiro, mas sim na bênção que os irmãos iriam receber se ofertassem.

Princípios financeiros para igreja

a) A igreja deve estar associada ao missionário

Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. Também vós sabeis, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós somente (v. 14-15).

Aqui entra um conceito muito importante para a igreja que envia. Muitas igrejas entregam o missionário a uma junta ou agência e simplesmente se esquecem de que têm uma responsabilidade; transferem-na para essas organizações. Isso é mau porque desliga o missionário da igreja e esfria o ânimo de todos. Por isso, ao enviar o missionário, mesmo que seja por meio de uma junta ou agência, a igreja deve se comprometer com ele e associar-se a ele.

b) A igreja deve suprir as necessidades do missionário

“Porque estando eu ainda em Tessalônica, não uma só vez, mas duas, mandastes suprir-me as necessidades” (v. 16).

Paulo está agradecendo à igreja em Filipos porque ela cuidara dele na obra de missões. O processo desde a seleção até o envio do missionário é bastante árduo e exige um cuidado especial da igreja. A responsabilidade aumenta quando ele é enviado para o campo. A igreja tem a responsabilidade de cuidar de todos os detalhes necessários para que o missionário encontre facilidades para exercer seu ministério, sem se preocupar com os problemas materiais.

O cuidado missionário é uma diaconia da igreja e dá liberdade para que o missionário se entregue às orações e ao ministério da Palavra (At 6.3-4).

Se uma igreja decide cuidar do missionário, então deve assumir responsabilidade integral por ele. Veja que a igreja enviou a Paulo, duas vezes, o suficiente para suprir-lhe as necessidades. Para que o missionário possa estar bem no campo, despreocupado com relação às coisas materiais, a fim de se dedicar ao ministério, a igreja, sendo a outra parte da sociedade, deve cumprir o seu papel e suprir as necessidades do missionário.

c) A igreja deve entender o princípio financeiro de Deus

“Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus” (v. 19).

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OOss CCuuiiddaaddooss nnaa oobbrraa MMiissssiioonnáárriiaa

1) Não ter pressa - Deus tem o tempo certo Não tenha pressa. Simplesmente coloque sua vida e a igreja nas mãos de Deus; no

tempo certo, ele levantará pessoas, dirigirá seu treinamento e as enviará ao campo missionário.

2) Não mandar novatos para o seminário ou para o campo Em I Timóteo 3, o apóstolo Paulo apresenta as qualidades que se aplicam

também ao missionário e no versículo 6 fala o seguinte: "... não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo".

3) Enviar somente pessoas bem preparadas.

Já vimos no estudo sobre a igreja em Antioquia, em Atos 13, que o Espírito Santo separou as pessoas mais capazes e preparadas para o campo missionário.

Quando enviamos pessoas mal preparadas, em lugar de adiantarmos a obra, estamos atrasando-a, porque a pessoa mal preparada não produz, perde seu tempo e gasta o dinheiro destinado a missões. Envie somente pessoas que tenham as seguintes qualidades:

a) Cheias do Espírito Santo; b) reconhecidas pela igreja como dotadas para missões; c) possuidoras de experiência bem sucedida no trabalho nacional; d) bem preparadas espiritual, intelectual, psicológica e transculturalmente.

4) Enviar somente pessoas com ministério aprovado Não podemos mandar para o campo missionário alguém que não tenha o

reconhecimento e o testemunho da igreja quanto ao seu ministério. O pastor e a igreja sabem quem é chamado para missões, pois quem não produz fruto aqui, não vai produzir no campo também.

Por isso, antes de enviar alguém para missões, verifique se a pessoa tem o reconhecimento da igreja, se é realmente fiel, comprometida com o senhorio de Cristo e se está produzindo fruto.

5) Dar o melhor para missões Nunca se esqueça: missões são a tarefa básica e mais importante da igreja. Assim,

devemos dar para a obra missionária o que temos de melhor: a melhor hora do culto; a maior porcentagem financeira; a melhor época do ano para a conferência missionária; os melhores candidatos, etc.

Tenha consciência de que você também vai cometer erros, mas saiba usá-los positivamente para fazer as devidas correções e não repeti-los mais.

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AAnnttrrooppoollooggiiaa MMiissssiioonnáárriiaa

A noção de que existem diferenças de costumes entre os vários povos certamente é muito antiga. No entanto, o estudo sistematizado da "cultura" em si é bem mais recente. E mais contemporânea ainda é a idéia de que a missão pode se servir destes estudos.

O objetivo principal dos etnólogos (professores e eruditos da antropologia) é composto pelos povos e grupos de povos. No mundo de hoje nos referimos a um número de 2.000 povos e 12.000 a 17.000 grupos de povos. Na prática, os etnólogos não se preocupam com todos os povos, mas sim, com os povos não civilizados, pré-industrializados, povos naturais ou povos sem língua, em contraste com povos culturais.

O desenvolvimento histórico da antropologia Não é fácil determinar o início da antropologia. A antropologia, como fenômeno, existe desde que o ser humano se movimenta entre várias culturas, tendo condições de comunicar-se em línguas diferentes, possuindo a capacidade de desenvolver tradições, costumes, hábitos, religiões e conceitos sociológicos.

Na antropologia existem várias convicções, escolas, perguntas, teorias e métodos diferentes. Trata-se de uma ciência empírica cujos resultados são, continuamente, revisados, rejeitados, ampliados e modificados.

Definição de Antropologia Missionária O termo antropologia é uma composição de duas palavras gregas:

• anthropos = que significa homem; • logos = que significa palavra, doutrina, ensino, fala.

Portanto, a antropologia é a doutrina ou o ensino a respeito do homem. Na antropologia missionária referimos à antropologia cultural no horizonte da responsabilidade e realidade missionária.

A antropologia missionária instrumentaliza os conhecimentos, conceitos, teorias e hipóteses da moderna antropologia para a prática missionária. Então, ANTROPOLOGIA é o “estudo ou tratado acerca do ser humano” ou ainda, “a ciência da cultura humana”. O antropólogo Kroeber a define como a ciência dos grupos humanos, seu comportamento e suas produções.

O Antropólogo norte-americano Louis J. Luzbetak define a antropologia missionária como forma específica da antropologia cujo alvo é missionário e cujo método é antropológico. A antropologia missionária fornece os métodos científicos enquanto que a missão oferece os exemplos práticos.

A partir do momento em que deixamos a cultura na qual nascemos e fomos criados, percebemos mais cedo ou mais tarde que nem todas as pessoas sentem, observam, explicam, comparam, controlam, pensam e agem da mesma forma como nós. Outras

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pessoas se movimentam, comem, discutem e estudam de modo diferente. Elas têm outros valores e convicções religiosas.

Quem não se conscientiza de que culturas diferentes têm também costumes, tradições, convicções e hábitos diferentes, logo será confrontado com uma situação desconfortável. Quando entramos numa nova cultura podemos facilmente ofender, mesmo sem querer, os sentimentos das pessoas locais.

Portanto, a tarefa da antropologia missionária é permitir que o processo de conscientização e respeito mútuo entre povos e culturas cresça na vida dos missionários bem como entre crentes no mundo inteiro. É importante respeitar os costumes, tradições e hábitos diferentes para evitar erros irreparáveis. Para o diálogo efetivo do evangelho é necessário aceitar, em princípio, a estranheza da nova cultura e não questionar nem criticar logo coisas que ainda não compreendemos. O antropólogo R.A. Lê-Vine argumenta que, quando o indivíduo se locomove para um novo lugar onde reinam costumes estranhos ou novos, ele precisa adaptar-se ou será estigmatizado pela sociedade local.

O que e cultura? É extremamente difícil definir bem, e de modo objetivo e concreto, o termo cultura. Isto tem a sua razão no fato de que a cultura domina o nosso viver diário, a maneira como pensamos, sentimos, falamos, comemos, nos vestimos e como mantemos relações interpessoais. Muitas vezes esquecemos que somos filhos da e presos à nossa cultura. O teólogo alemão H. Baiz define a cultura, cientificamente, como herança que o ser humano recebe de seus antepassados e passa para a próxima geração. O famoso antropólogo norte americano E. B. Taylor define a cultura como herança não biológica do homem.

Ao estudarmos antropologia missionária, estamos nos munindo de meios que nos auxiliarão a compreender o homem e tudo que o envolve, a fim de podermos entender melhor a razão de suas atitudes e crenças, e, assim, anunciarmo-lhe o Evangelho com mais eficácia. O homem, não importando a cultura, deve sentir que o Evangelho vai fazer parte dela, e não lhe roubar o que tem por precioso: os valores adquiridos, passados de geração em geração.

Cultura nada mais e do que a maneira como vivemos uns com os outros A cultura é, portanto, a soma de todo conhecimento, experiência e prática que um povo adota e exercita. A cultura é um conjunto de hábitos, tradições, valores, normas sociais e convicções religiosas que um indivíduo, grupo ou povo herda de seus pais e passa para

os seus filhos como verdade ou orientação.

Partindo desta ampla definição percebemos que a cultura nunca chega ao fim em si mesma. Ela nunca é absoluta, mas antes se encontra num processo evolutivo. Ela se desenvolve. Nunca é algo estático. Ela se modifica, define-se, adapta-se muito mais do que admitimos.

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Para justificar estas teses precisamos apenas nos perguntar:

• Será que nos vestimos da mesma forma como nossos pais? • Será que os nossos automóveis novos são idênticos aos automóveis do início do Século XX? • Será que os templos das novas igrejas são idênticos aos das igrejas dos nossos avós? • Será que a juventude de hoje é educada pelos mesmos métodos e com os mesmos princípios

que dominava a educação na década de 50? • Será que o estilo da música popular nunca muda? • Quais as transformações recentes na família brasileira?

Conforme E. Méier, ex-missionário da OMF no Sudoeste da Ásia, a cultura consiste de vários aspectos:

A cultura sempre é única; A cultura sempre é aprendida; A cultura sempre é vivida por um grupo de pessoas.

CONCEITO Para a maioria das pessoas, cultura significa o "cabedal de conhecimento que alguém possui", ou seja, pouco ou nenhum estudo. Quando se diz que alguém possui "muita cultura", pensa-se logo que aquela pessoa tem um alto grau de estudo ou conhecimento. Mas, se for pessoa de pouca instrução, ou sem nenhuma, de origem humilde, linguajar rudimentar, ela é considerada "sem cultura". Puro engano. Para um antropólogo não há grupo humano ou etnia sem cultura, pois ela é essencial à vida em sociedade. Todos nascem dentro de uma sociedade e são enculturados dentro da sua cultura.

A antropologia define cultura como o "conjunto de comportamentos e idéias características de um povo. transmitidos de uma geração a outra, resultantes da socialização e aculturações acontecidas em todo período da história desse povo."

CARACTERÍSTICAS A cultura é diversificada, constituída dos hábitos, mitos, religiões, folclores, costumes, língua, estruturas sociais e realizações.

A cultura é mutável, sofre a influência de outras culturas, em decorrência de inúmeros e variados fatores, resultantes da evolução do mundo, de novos conhecimentos da humanidade, das novas informações, da massificação, da globalização e das influências transculturais, da absorção de costumes, ideologias, valores e crenças de outras culturas.

* A cultura é adquirida, Não é determinada por fatores biológicos ou genéticos, nem é restrita segundo a raça, porém é transmitida de uma geração a outra. Ou seja, cada geração recebe a cultura da geração ascendente, modifica-a e transmite-a à geração seguinte.

A cultura é dinâmica, porque cada geração recebe a cultura da geração anterior, modifica-a e transmite-a à geração posterior.

A cultura é um sistema compartilhado e é preservada concordemente por uma

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sociedade.

CULTURA E AS PRINCIPAIS NECESSIDADES DO SER HUMANO

A cultura é tão abrangente como a pluralidade da vida do homem no seu pensar, em seus sentimentos, na sua maneira de agir e viver. Todo ser humano tem necessidades biológicas, sociais, econômicas e espirituais. A cultura é uma estratégia comum para sobrevivência do homem; é a estratégia pela qual um grupo social tenta satisfazer as necessidades principais de vida.

As principais necessidades do ser humano são universais. Por esta razão as encontramos em todas as culturas, apesar de serem vistas e interpretadas de modo diferente em cada uma destas.

Toda cultura pode satisfazer suas principais necessidades apenas parcialmente. Por isto surgem problemas e desafios que provocam uma modificação cultural. Outro fator que induz a esta modificação é o contato entre culturas.

CULTURA E SOCIEDADE

Os animais (quase todos) vivem em sociedade, mas não possuem cultura. Eles são guiados pelos instintos e não precisam aprender para sobreviver. Os peixes já nascem nadando, as tartarugas, ao nascerem, dirige-se para o mar impulsionadas pelo instinto. As abelhas constroem suas colméias e produzem o mel, mas o seu modo de trabalhar não sofre alteração, não evolui tecnicamente de uma geração para a outra. Os pássaros não precisam aprender a construir seus ninhos, nem o leão aprende a rugir ou caçar para sua sobrevivência. Em tudo são regidos pelos instintos. Não possuem noção de religiosidade, não têm conceito de valores materiais ou morais, não vivem regidos por estatutos ou leis jurídicas, nem têm noção do que seja uma cosmovisão.

Com o ser humano é diferente. A religiosidade é uma característica inerente ao ser humano. Ele busca sempre a resposta para o que é real. Preocupa-se com o passado, presente e o futuro. Está constantemente em busca do saber e do aperfeiçoamento do seu conhecimento. O homem tem de aprender a falar, a andar, a trabalhar, a construir suas habitações, etc. Estas coisas não acontecem instintivamente, têm de ser aprendidas com muita paciência e persistência. A este processo de aprendizado, através da observação, imitação deliberada e assimilação inconsciente do modo de vida dos membros de uma sociedade, chamamos de enculturacão.

Exemplos disso podemos observar na aculturação do índio brasileiro:

Os missionários evangélicos têm sido acusados pelos antropólogos de estarem destruindo a cultura do índio, com a introdução de hábitos e costumes do homem branco. Assim, o missionário deve cuidar para não descaracterizar a cultura do índio ou de qualquer povo que vai evangelizar. Ele deve contextualizar a mensagem do Evangelho dentro de cada cultura, sem corrompê-lo com o sincretismo religioso dessa cultura. A cosmovisão de uma cultura pode e deve ser modificada pelos valores universais do Evangelho, sem destruir os seus valores culturais.

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O Aurélio define o termo aculturação como "o conjunto de fenômenos provenientes do contato direto e contínuo de grupos de indivíduos de culturas diferentes, e as mudanças decorrentes desse contato". A adoção dos costumes, valores e crenças do homem branco o tem tornado um indivíduo biculturado, participante das culturas indígena e civilizada.

Entenda-se por cultura civilizada aquela em que o indivíduo tem várias opções a seu dispor; ele pode escolher aonde, como e com quem vai viver; o que vai vestir ou comer; se vai morar numa casa de madeira ou de alvenaria; qual profissão vai exercer, etc.

De início, os indígenas e alguns habitantes de regiões primitivas no interior do Brasil estão classificados como pertencentes à cultura primitiva. Os indivíduos de uma cultura primitiva não têm muito que escolher: ele nasce, cresce e morre sem mudar o seu estilo de vida, igual ao de todos os demais membros da mesma sociedade: o mesmo tipo de habitação, vestuários, alimentos, diversões, de atividades primitivas - como a agricultura, caça e pesca, etc...

O SUPRACULTURAL NA CULTURA Quando o Criador ordenou a nossos pais no Éden que crescessem, se multiplicassem, povoassem a Terra e a governassem'(Gn 1.28-30) e, mais tarde, determinou a Noé e seus descendentes que "estabelecessem a lei, a ordem e a justiça na Terr”' (Gn 9.5-6), Ele estava lançando as bases da cultura; porém, esta, em si, é produção humana. Todavia, a cultura é o campo onde intervêm as forças divinas e forças satânicas continuamente. Ela é o objeto da ação do supracultural divino e do supracultural demoníaco.

Trata-se de uma guerra contínua entre as potestades das trevas e os anjos de Deus, na qual o missionário, como ministro enviado de Deus às culturas que estão dominadas por Satanás, tem de tomar parte, revestido com a armadura de Deus (Ef 6.10-17), portando as armas da luz e da justiça, as quais não são carnais, pois somos a milícia de Deus - Rm13.12:2.

A importância da intervenção do supracultural nas culturas e no governo do mundo não pode ser ignorado pelo missionário. O Senhor Jesus disse que o diabo é "o príncipe deste mundo" e João declarou que "o mundo todo jaz no maligno", Jo 12.31; 14.30; 16.11; 1 Jo 5.19. O apóstolo Paulo também reconhecia que Satanás é uma realidade espiritual, e não um mito, que influenciava (como influencia) as culturas pagãs, cegando os homens e os levando a adorá-lo, 1Co 10.20; 2Co 4.4; 6.16. Inúmeras vezes referiu-se aos poderes cósmicos demoníacos. 1 Co 15.24; Ef 1.21; 2.2; 3.10; Cl 1.16; 2.10,15, etc.

Muitos povos vivem no atraso tecnológico e não prosperam por causa da sua cosmovisão deformada pelo supracultural demoníaco. A cosmovisão monista do hinduísmo, com seus 330 milhões de deuses, e do budismo tem levado seus seguidores ao fatalismo e impedido o progresso da Índia e de outros países da Ásia.

O mesmo acontece com a maioria dos países africanos (e com alguns de outras regiões, seguidores da cosmovisão tribal, com sua hierarquia de deuses, espíritos e demônios), os quais estão presos à escravidão do animismo, do sincretismo e da feitiçaria, etc. Por sua vez, a cosmovisão materialista tem levado o homem a negar a existência de Deus.

Satanás, através de seus agentes humanos e demoníacos, tem governado inúmeros

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países e regiões deste Planeta. O comunismo e o nazismo são exemplos hodiernos da ação do supracultural demoníaco intervindo no governo humano. Cabe a nós, com virtude do Espírito Santo, a responsabilidade de combater as hostes infernais do grande usurpador e levar aos povos a cosmovisão cristã.

TRANSCULTURAÇÃO

“É o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade".

Os evangelistas interculturais têm de ser eficientes no aprendizado de ambas as coisas, pois são a base da evangelização dos grupos étnicos ainda não alcançados. É por isso que usamos a expressão "aprendizado da língua e da cultura".

Na realidade, JESUS FOI O PRIMEIRO EVANGELISTA INTERCULTURAL! Não hesitou em vir do céu deixando a glória e o esplendor que ali desfrutava. Leia atentamente Fp 2.7-8, e observe que Jesus esvaziou a si mesmo de sua glória divina e assumiu a atitude de servo em corpo humano. Aculturou-se na sociedade hebraica e comunicou sua mensagem primeiramente aos judeus. O aprendiz da língua e da cultura pode até mesmo ser um pregador talentoso e respeitado, mas quando entra em outra cultura, deve humilhar-se a si mesmo como Jesus o fez. assumindo três novas atitudes: a de APRENDIZ, a de SERVO e a de NARRADOR.

Transculturação é o "processo de transformação cultural caracterizado pela influência de elementos de outra cultura, com a perda ou alteração dos já existentes".

Esta definição do Aurélio novamente nos deixa bem claro que este papel o missionário JAMAIS deve exercer. Sua tarefa não é alterar ou mesmo mudar os valores de uma cultura, substituindo-os por outros de sua própria cultura.

Partindo destas premissas, chegamos ao termo MISSÕES TRANSCULTURAIS

O prefixo "trans" deriva-se do latim e significa "movimento para além de" ou "através de". Portanto, em linhas gerais, MISSÕES TRANSCULTURAIS é transpor uma cultura para levar a mensagem universal do Evangelho, A mensagem do Evangelho não pode se restringir a uma só cultura, mas deve ter alcance abrangente, em todos os quadrantes da terra, onde quer que haja uma etnia que ainda não a tenha ouvido.

DIFERENÇAS CULTURAIS O conhecimento das diferenças transculturais entre os povos da Terra é de capital importância para quem se dispõe a trabalhar no campo missionário. No seu estudo sobre as diversas culturas, os antropólogos observaram as profundas diferenças existentes entre elas, as quais evidenciam-se na maneira como os povos agem, falam, comem e vestem-se, bem como nos seus conceitos de valores e crenças e nas pressuposições fundamentais que fazem sobre o seu mundo.

Visto que o evangelista tem de aprender a passar pela rede intercultural a fim de

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evangelizar outra cultura, é importante compreender o que constitui essa rede. Antes de aprender a passar por ela, tem de saber em que as culturas se diferenciam. Podemos dividir essas diferenças em sete categorias:

Cosmovisão (conceito do universo); Sistema de valores (o que é bom ou mal dentro dos padrões de um povo); Normas de conduta (forma de comportamento aceita); Formas lingüísticas (principal barreira à evangelização intercultural); Sistema social (estrutura cultural e social de um povo. Classes, castas, religiões, seitas,

etc.); Formas de comunicação (dificuldades encontradas pela existência de vários dialetos

numa só cultura impedindo o estudo de uma só língua) e; Processos cognitivos (toda cultura forma um conjunto de conhecimentos aceitos como

verdades. Esses conhecimentos podem ser enfocados ao nível de sua cosmovisão ou poderão simplesmente ser conhecimentos restritos a pequenos grupos).

Todo evangelista intercultural deve conhecer essas sete categorias de diferenças culturais. Em cada um desses aspectos deve-o procurar aprender, continuamente, mais e mais acerca do povo que deseja evangelizar.

Para muitos africanos, a dança é o instrumento principal de transmissão de valores, idéias, emoções e história. Consideram-na como uma de suas mais importantes formas de comunicação.

Missionários enviados à África têm cometido sérios erros de julgamento quanto ao significado da dança africana. Inúmeras situações transculturais existem fora do alcance do missionário e este precisa de preparo transcultural para a divulgação do evangelho entre estes povos.

Em alguns países os homens se beijam na face, e às vezes na boca, ao se cumprimentarem, pois este comportamento faz parte da etiqueta social dessas culturas. No Brasil, isto é visto como manifestação de homossexualismo, a não ser quando se trata de pais e filhos. Ente os judeus do tempo de Cristo e os crentes da Igreja primitiva este costume nada tinha de imoral ou homossexual, Lc 22.47,48; I Co 16.20. O missionário deve estar psicologicamente preparado para qualquer diferença transcultural e não se escandalizar se for beijado por um homem, se estiver em um país que adote este costume, como na Rússia, na França ou em países árabes.

O missionário deve conhecer e respeitar os costumes do povo da cultura alvo, senão sua missão poderá falhar. Conforme abordado anteriormente, os gestos do povo podem Ter significados diferentes em cada cultura. Podem ser considerados obscenos ou ofensivos em um país e noutro não.

E. A. Nida, em seu livro "Costumes e Culturas", conta que certa vez cometeu um grave erro, em certo lugar da África, ao apontar com o dedo as coisas cujos nomes ele desejava saber. Para os nativos, tal gesto era considerado grosseiro e contrário aos seus costumes; ofensivo, portanto. O certo teria sido ele apontar as coisas usando o lábio inferior.

Em alguns países asiáticos, sentar-se de pernas cruzadas, mostrando a sola do sapato, constitui-se um gesto ofensivo. Entre os muçulmanos do Oriente Próximo, as mulheres vestem-se com trajes longos que cobrem todo o corpo, além do véu que são obrigadas a usar em público. Em algumas culturas africanas, as mulheres decentes não cobrem os

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seios, pois cobri-los, usando alguma vestimenta, é próprio das prostitutas. Sabe-se que alguns missionários americanos e latinos já incorreram em graves ofensas às mulheres dessas culturas, por desconhecerem os costumes da cultura alvo.

Estes são importantes detalhes que fazem a diferença e podem complicar o trabalho do missionário. Falta-nos espaço para outros exemplos, porém, em suma o missionário não pode se deixar levar pela atitude chamada ETNOCENTRISMO que é uma tendência a ver a nossa própria cultura como a maneira universal de comportamento. Isto acontece porque somos tão inconscientes de como nossas vidas são guiadas pela cultura e idioma, e de repente, descobrimos que é mais difícil do que pensávamos aceitar uma outra cultura. Embora reconhecendo o que possa ser considerado comportamento apropriado em outra cultura, apegamo-nos ao que consideramos "normal" e "natural". Achamos que a nossa maneira de fazer as coisas é "superior" ou "correta".

Os antropólogos definem a cultura como herança total do homem não transmitida biologicamente. É um sistema de normas de conduta aprendidas, comuns aos membros de uma sociedade em particular, ou o modo de vida de determinado grupo étnico.

Vimos que o conhecimento cultural nos é transmitido desde a infância até o momento em que morremos. A cultura não é estática, mas está em constante processo de mudanças que acontecem lentamente. Porém há ocasiões em que a cultura muda quando um missionário leva o Evangelho e o povo assimila conhecimentos novos mudando, muitas vezes, sua maneira de vida. Com o tempo, um número cada vez maior de pessoas adotam essa nova conduta cristã, tornando-a normal entre o povo.

Mas, não podemos nos esquecer que o trabalho do missionário não é "levar estereótipos de uma cultura para a outra", mas é, no dizer Larry Patê a "proclamação do Amor de Deus, que ultrapassa as fronteiras culturais, raciais e linguisticas. Ele deseja que todos pigmeus da África ou os homens de negócios da Ásia - tenham a oportunidade adequada de seguir a Cristo".

Observe que foram citados como exemplo dois grupos de pessoas culturalmente opostos:

Singh, o conhecido evangelista hindu, certa vez afirmou: "Se você está indo levar a água da vida para o hindu, leve-a para ele em copo hindu". Ou seja, no nosso mundo natural a composição da água é a mesma, H2O, mas o vasilhame utilizado pode ser diferente.

Os missionários transculturais devem estudar com muito cuidado a estrutura social dos grupos étnicos aos quais Deus os chamou. Como hóspedes entre esses povos, devem aprender a fazer a obra até onde seja possível através destas estruturas. Usando esse conhecimento (transcultural) ao planejar a estratégia de trabalho, alguns missionários tem tido bastante êxito entre esses povos.

Não é o Evangelho que se curva à cultura, mas esta se curva ao Evangelho, Isto é fazer missões transculturais. É preciso descobrir o "auproach" de cada cultura, ou seja, os seus pontos de aproximação para comunicar de maneira adequada as verdades do Evangelho, como fez Paulo entre os atenienses. Este é, na Bíblia Sagrada, um caso típico de missões transculturais.

O Espírito Santo é criativo, isto é, usa métodos diferentes para diferentes culturas. Os métodos desempenham um importante papel na realização nas metas do Espírito Santo para a evangelização de grupos étnicos não alcançados.

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COMO APRENDEMOS A CONHECER E RESPEITAR A NOVA CULTURA? Em primeiro lugar, precisamos analisar, cuidadosamente, a nova cultura.

• Precisamos compreender as tradições da nova cultura.

• É importante entendermos a maneira como as pessoas pensam na nova cultura.

• Não devemos rejeitar práticas culturais que não compreendemos.

• É bom perguntar, para os missionários experientes, como eles lidam com certas questões culturais.

• Amizade com obreiros nacionais ajuda a compreendermos melhor as convicções culturais;

• Aprender bem a nova língua é o portal para a entrada na nova cultura. Isto ajuda na comunicação eficiente do evangelho de Jesus Cristo.

• Diaconia aplicada (ajuda aos pobres, assistência espiritual e pastoral aos queridos que perderam um parente, aos sofridos e perseguidos) abre as portas do coração de todas as pessoas.

• Visitas às casas dão uma boa impressão dos costumes da nova cultura.

• Presentes mútuos ajudam a criar amizades.

• Expressar respeito pelas tradições e costumes da nova cultura.

Precisamos ter humildade para respeitar coisas que pessoalmente praticaríamos de modo diferente. A igreja nacional ou indígena tenta viver a fé cristã no seu contexto cultural. Aspectos culturais que têm sua origem no mal ou serão abandonadas pela igreja ou serão reinterpretados por que o Espírito de Deus habita nesta nova comunidade.

Por outro lado, quando a igreja não amadurece, sob a orientação da Palavra de Deus e do Santo Espírito, ela estará aberta a todos os tipos de sincretismo. As igrejas devem se empenhar em enriquecer e transformar a cultura local para a glória de Deus.

A VISÃO TEOLÓGICA TRANSCULTURAL DA BÍBLIA Quando se fala em Missões Transculturais, a Bíblia é o padrão a partir do próprio Deus.

Vejamos:

O Antigo Testamento nos traz uma revelação de um DEUS não nacionalista, mas um DEUS missionário. Em pelo menos três ocasiões específicas, no livro de Génesis, Deus tratou com toda a humanidade e não somente com uma nação:

• Em Gn. 3.15-queda do homem.

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• EmGn. 6.13 -o dilúvio • Em Gn. 12.3 - Eleição de um povo para abençoar a todos os demais, após a Torre de Babel.

Sabemos que de Abraão para Cristo houve aproximadamente 2.000 anos, e este foi o prazo que Israel teve para cumprir sua tarefa missionária. As principais causas que levaram Israel a perder a visão missionária foram:

• Eles ficaram mais preocupados em serem abençoados, pensando em si mesmos, do que em serem abençoadores; • Eles confundiram eleição com elitismo, isto é, pensaram que Deus estava somente preocupado com eles; • Etnocentrismo. Isto é, o povo de Israel pensou que a sua cultura ou o seu povo era melhor que os demais, causando-lhes uma profunda cegueira racial e espiritual.

No entanto, Deus não requereu que algumas famílias da terra foram abençoadas, mas que TODAS as famílias ou povos fossem alcançados. Embora Israel tenha falhado, Deus não desistiu de seu propósito, e continuou sua meta de alcançar o homem até o Novo Testamento.

JESUS, O MODELO PARA MISSÕES INTERCULTURAIS

A encarnação de Jesus Cristo constitui o maior exemplo de missão intercultural: "A palavra se tornou carne e habitou entre nós" (Jo 1.14). Deus deixou a glória celestial eterna e se tornou humano entre nós. O Deus eterno se tornou carne, homem desamparado e pobre. Jesus era singular em todos os aspectos. Ele era uma pessoa duas vezes 100%. Ele era totalmente Deus e totalmente humano. Este mistério das duas naturezas na pessoa de Jesus Cristo se torna um exemplo para missões interculturais.

O que é BÍBLICO reporta-se àqueles costumes que, mesmo diferindo de uma etnia para outra, como foi mencionado reiteradas vezes no decorrer da lição, expressam com a mesma grandeza e se nenhuma distorção os princípios da Palavra de Deus, que são imutáveis e têm caráter universal.

O que é EXTRABIBLICO relaciona-se com aquelas áreas nas quais a Bíblia não interfere especificamente, a favor ou contra, dependendo da consciência de cada um para julgar o que é lícito e o que não é lícito. A Palavra de Deus não determina as cores das roupas que devemos usar e nem o melhor tipo de calçados para os nossos pés. São, portanto, questões extrabíblicas. Aqui prevalecem o bom senso e a orientação do apóstolo Paulo: (veja 1 Coríntios 10.23).

O que é ANTIBIBLICO refere-se àquelas situações que colidem frontalmente com a fé cristã, exigindo do missionário um posicionamento decidido, mas ao mesmo tempo prudente, no sentido de encontrar a estratégia correta para mudar esse tipo de circunstâncias; É preciso graça de Deus, discernimento espiritual e aguardar o tempo certo, pois nem tudo se muda da noite para o dia.

Exemplo disso é a poligamia em países africanos, tradição que passa de geração para

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geração e que demanda da parte do missionário não entrar em choque para que as portas não se fechem, mas em Ter atitude decidida para influenciar a mudança de comportamento, sempre à luz dos princípios bíblicos e doutrinários.

CONTEXTUALIZAÇÃO Contextualização é a adaptação da mensagem do Evangelho comunicada pelo missionário à cultura receptora, dentro do contexto da cosmovisão dessa cultura. Veja a pregação de Paulo aos areopagitas (At 17.22-31). A Contextualização das verdades universais do Evangelho numa cultura inclui a definição, seleção, adaptação e aplicação dessas verdades universais, pois tem estreita ligação com as necessidades das pessoas na sociedade (veja Aios 2.41-47), bem como na sua relação com Deus.

A Contextualização abrange todas as áreas das estruturas sociais (particularmente o socorro aos necessitados e a justiça social), jurídicas, econômicas, políticas e ideológicas da sociedade.

COMO O SER HUMANO PENSA E SE SENTE EM CULTURAS DIFERENTES? Pessoas de outras culturas agem e vivem de modo diferente de nós. Às vezes até pensam

diferente. Isto implica uma lógica diferente ou estranha. O que parece normal e lógico numa certa cultura se torna, numa outra cultura, estranha e ilógica. De repente percebemos que existem também outras atitudes, tradições e convicções, outros valores, sentimentos e hábitos. Esta problemática, geralmente, não é uma questão de certo ou errado, melhor ou pior; simplesmente é diferente, um problema que traz vantagens e desvantagens para a pregação do evangelho.

No Japão existem muitas regras para a vida em sociedade. Quem cruza as pernas ofende a pessoa que está próxima. Decente é pedir uma segunda xícara fervente de chá. Cuidado com presentes - papel preto e branco leva o mal. Eles devem ser entregue ao final de uma visita e jamais poderão ser desembrulhados diante do doador.

Na China os presentes devem ser embrulhados em papel vermelho. Agir com nervosismo, falar alto ou outras reações emocionais constituem um escândalo, mas um sorriso chinês é bem visto em qualquer circunstância.

Cuidado com qualquer contato físico com pessoas no Japão, na Tailândia e em Sri-Lanka. Ninguém jamais poderá tocar os cabelos de uma criança tailandesa porque a cabeça constitui a parte mais santa do corpo humano. Pior ainda é apontar o dedo para alguém ou tocar os seus pés.

Os filipinos têm sérios problemas em aceitar crítica sobre seu país. Pessoas convidadas devem chegar no local com, pelo menos, 15 minutos de atraso. Se elas chegam antes são consideradas glutonas. Na China, por outro lado, a pontualidade os vestidos finos e a decência são de suma importância. Gorjetas são desprezadas.

Quando você chega a um novo país é recomendado que comece logo observar e anotar os costumes, hábitos, tradições, pensamentos predominantes e maneira de pensar, sentir e comunicar. Desta forma você terá, aos poucos, um retraio fiel das pessoas que vivem nesta cultura. Você será sensibilizado e preparado para, depois, aprender a língua e, finalmente, comunicar o evangelho de Jesus Cristo. O importante é não criticar as coisas que você ainda não compreende. Você sempre pode pesquisar, ler, observar, analisar e perguntar.

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Deve-se entender também que atrás de cada costume há uma razão e um porquê. Se não entendemos a razão, observando apenas como alguém fora da cultura, fazemos julgamentos errôneos, considerando um costume ou outro como "absurdo"- e assim por diante. Recusamo-nos a nos adaptar e, pior ainda, tentamos mudar as pessoas daquela cultura, ensinar-lhes e impor-lhes os costumes da nossa própria cultura, que consideramos a única certa. Isto é, na linguagem antropológica, etnocentrismo - quando a cultura própria é o padrão para julgar-se qualquer outra cultura.

Vejamos alguns exemplos de comportamentos inerentes à cultura:

Nas culturas orientais, é proibido entregar ou receber algo com a mão esquerda. Deve-se usar sempre a mão direita ao se relacionar com alguém ou para comer. A razão é que a mão esquerda tem função de papel higiênico nesses países; portanto é imunda, e como tal não pode ser estendida a outras pessoas.

Outro exemplo: não se pode acariciar pessoas na cabeça, nem mesmo crianças. De fato, uns quinze anos atrás, nos cartões de desembarque para estrangeiros preencherem, para entrar na Indonésia foram incluídos dois avisos: "Portar droga é passível de pena de morte", e: "Não deve-se acariciar nem mesmo crianças na cabeça". O próprio povo não sabe o porquê; só sabe que é muito má educação e insulto ser tocado na cabeça. Estudando-se sua cultura, provavelmente a razão disso foi porque aquele país já fora um país hindu, uns quinze séculos atrás. Pelo conceito hindu, a alma da pessoa encontra-se na cabeça. Portanto, tocar alguém na cabeça insultaria ou faria mal à alma. Com o passar do tempo, o povo não sabia mais a razão disso, embora o costume tenha se tornado um tabu, uma tradição.

NEM TUDO, PORÉM É EXPLÍCITO: NEM TUDO O POVO SABE EXPLICAR O significado e a razão podem estar imersos, implícitos no conhecimento do povo. O missionário deve estudar e pesquisar para descobrir as razões e significados de cada costume e comportamento. Ao entendê-los, essas coisas não parecem mais absurdas. Indo além, saberá como adaptar-se ao costume quando este é neutro, apenas uma cultura humana de socialização. Ou saberá julgar sob a luz da Palavra de deus se trata-se de costume pecaminoso, devido à pecaminosa tendência da Queda do homem, ou então de algum costume diabólico - devido à influência do inimigo, o "príncipe deste mundo". A este último que chamamos fator supracultural, isto é, que não tem origem humana.

Então, o missionário deve discipular os convertidos daquele povo para que sejam transformados, mudados nos aspectos culturais contrários aos princípios bíblicos para costumes de acordo com a cultura do Reino de Deus. No entanto, deve-se tomar muito cuidado em não misturar-se aí a cultura do próprio missionário, ao considerar os costumes de sua cultura como se fosse costumes bíblicos.

Deve-se ainda conseguir distinguir os fatores supra-culturais que tenham origem em Deus, os quais são positivos para a cultura do povo. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus; portanto, há aspectos bons em cada cultura.

Nenhuma cultura é totalmente perfeita - devido à mancha da Queda e à influência de Satanás - nem é totalmente errada - visto que ainda há atributos da imagem de Deus no homem e também na cultura como um produto humano. Observando as diretrizes da Antropologia Missionária, podemos estudar todos esses aspectos.

Há ainda o fator determinante da função de cada costume numa cultura. Além do

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comportamento visível, há o significado por trás dele. Como uma somatória do comportamento e do significado está a função do costume na sociedade. Um missionário que não esteja consciente da função de um costume pode aboli-lo ao discipular os novos convertidos e provocar nesse momento um vácuo cultural.

Um caso desse tipo foi a abolição de um costume funerário em meio aos chineses, segundo o qual passam-se dezenas de dias em "velório" antes do funeral, realizando cerimônias idólatras. Como povo budista, eles não devem demonstrar muita emoção, nem mesmo tristeza no sofrimento de perda de alguém amado. O velório de longos dias dá oportunidade para extravasarem a emoção. Ao cabo de tantos dias recebendo condolências de todos os parentes e amigos, atendendo-os com comida e bebida, a família em luto fica cansada e aliviada quando tudo passa, e já teve tempo oportuno para adaptar-se à nova etapa da vida sem a presença da pessoa morta. Ao abolir o costume, diminuindo para os cristãos o tempo de luto para apenas três dias, forma-se o vácuo: não há tempo para adaptar-se nem para extravasar a tristeza.

Vale a pena reiterar, para efeito didático, que coreanos e japoneses, entre outros povos orientais, como citado anteriormente, têm também o costume de tirar os sapatos como sinal de respeito antes de entrarem em qualquer casa.

Em outros países, como o Marrocos e Madagascar, é comum os homens andarem de mãos dadas, não significando em hipótese alguma qualquer desvio de conduta moral. É apenas uma forma de companheirismo.

Missionários brasileiros que trabalharam em Madagascar tiveram que adaptar-se às circunstâncias, como mostra o testemunho de um deles:

“Quando viajávamos pela Ásia observamos que um costume entre os homens era cumprimentarem-se dando três beijos na face, meu desejo era o de afastá-los quando se aproximávamos. Se o fizesse, eu obviamente lhe comunicaria rejeição. Outras vezes, quando caminhávamos com amigos, metia as mãos nos bolsos com medo de que alguém me tomasse pela mão enquanto caminhávamos. Para os homens daqueles lugares, andar de mãos dadas é uma expressão de amizade totalmente normal - o que para mim, um latino, significa algo muito diferente. Novamente, sem dizer uma palavra, eu estava comunicando coisas que dificultavam a comunicação do Evangelho”.

Muitas vezes nosso egocentrismo cria barreiras para a comunicação transcultural.

Usando as palavras de um missionário no Suriname, isto significa que o missionário "precisa aprender os costumes do povo, comer sua comida e vestir suas roupas. Caso contrário, o obreiro é tratado com desprezo".

Outra questão séria é a das vestimentas. O quadro muda de região para região, cabendo, portanto, ao missionário uma atitude de equilíbrio, de modo que ele não transplante situações próprias do Brasil para a realidade na qual vai viver, nem trabalhar, ao retornar, costumes incompatíveis com o nosso "modus vivendi". Leia o texto de Deuteronômio 22.5.

As roupas dos tempos bíblicos eram bem diferentes das que se usam hoje, principalmente no mundo ocidental, mas sem dúvida havia um padrão para o homem e outro padrão para a mulher. O princípio bíblico da distinção entre o sexo masculino e o sexo feminino, embutido no texto acima, permanece inalterado em qualquer cultura, ainda

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que a forma da vestimenta seja diferente, pois em cada circunstância há um padrão que distingue um sexo do outro.

A área dos costumes inclui, também, hábitos alimentares, à mesa e na convivência familiar que diferem dos nossos padrões brasileiros. Aliás, esta questão sobre comida, para os povos orientais, é de profunda importância. Sendo os judeus um povo do Oriente Médio, a Bíblia menciona diversas vezes as refeições. A própria entrada no céu é simbolizada como o Grande Banquete (Lucas 14.15-24).

Certa vez, uma igreja entendeu mal a viagem que um casal de membros seus fez ao Oriente quando os viram participando de muitas refeições em suas fotografias e slides. Acharam que haviam empenhado dinheiro para o casal ficar só comendo durante a viagem. Faltou-lhes entendimento de que, ao oferecer ou convidar para refeições, os povos orientais estão dando boas-vindas e oferecendo sua amizade. Se não houvesse refeições, significaria que o casal fora rejeitado pelos povos pelos quais passaram. Ademais, no Oriente, recusar uma comida ou um convite para refeição é como recusar a amizade estendida. Isto fecharia as portas para uma exposição da Palavra do Evangelho.

Numa pesquisa entre uma turma de novos missionários transculturais indianos, deveriam listar-se as dez coisas mais ofensivas que as pessoas fora de sua cultura poderiam fazer. Em resposta, mais da metade listou em primeiro lugar que seria se elas desprezassem sua comida.

Nós, às vezes, achamos que podemos e devemos ser francos, ou até temos o direito de recusar certa comida, principalmente quando essa comida é muito diferente daquela que costumamos comer - como, por exemplo; ovos chocos, cérebros de macaco, ratos, cobras ou caramujos! Nossa tendência é de rejeitar o que desconhecemos, querendo o conforto daquilo que conhecemos e gostamos. Como ocorreu com aquele obreiro que no seu décimo dia na Europa ligou para sua mãe, dizendo que não agüentava mais comer só pão e batata: queria feijão! O PREPARO CULTURAL:COMO LIDAR COM ACULTURAÇÃO, CHOQUE CULTURAL E STRESS CULTURAL? Diplomatas, representantes e empregados de embaixadas, comerciantes internacionais, representantes das grandes empresas globais e missionários em geral conhecem a problemática da aculturação, do choque e stress cultural quando viajam pelo mundo.

Como evitar o famoso choque cultural? Como podemos nos preparar bem, antes de viajarmos para um país estranho e novo, cuja cultura e língua não conhecemos? Será que existem possibilidades de se evitar o choque cultural? Será que todos os indivíduos passam pelo choque cultural? Como lidar com o stress cultural?

ACULTURAÇÃO Quem visita o campo missionário chega como servo, aprendiz, forasteiro e não como imperador, colonizador ou representante de uma cultura superior. Mesmo depois de ter vivido por muitos anos no campo missionário, o europeu permanece europeu e o americano não deixa de ser americano. Isto nada tem a ver com a falta de aculturação ou interesse pelo país onde se vai servir.

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Missionários não conseguem esconder sua herança cultural, seu país de origem, suas raízes, seu modo de pensar e viver ou educar seus filhos. Ninguém exigiria isto.

O que se espera do novo missionário é que ele se adapte, que ele conviva, aprenda e se comunique com os cidadãos nacionais como se fosse um deles. Este processo de adaptação cultural se chama, na antropologia, assimilação ou aculturação.

Diante da realidade da aculturação existem duas possibilidades: ou o novo missionário nega que vive numa cultura diferente e esperimenta um choque cultural dramático que, na pior das hipóteses, pode custar sua própria vida, ou ele aceita o fato da estranheza, do novo, do ser diferente, acaba aprendendo e assimilando, sem rejeitar a sua identidade de origem.

CHOQUE CULTURAL O choque cultural pode ser descrito como falta de orientação e estabilidade psíquicas diante da realidade do novo e de sentir-se diferente diante da estranheza da nova cultura. Este choque leva o indivíduo a sentir-se uma pessoa rejeitada, sem orientação, influência, poder e competência para agir conforme as suas convicções ou necessidades básicas. De certa forma, todo indivíduo passa por uma ou outra forma de choque cultural num país estranho.

O que varia é a intensidade deste fenômeno. Poucos missionários negam que passaram por um choque cultural. Na média, alguns dizem que passaram por momentos curtos de crise e falta de orientação. Em alguns casos as pessoas adoeceram tão gravemente que se tornaram candidatas ao suicídio. Outras precisaram voltar para casa.

De acordo com alguns especialistas, o "choque cultural" pode ser dividido em quatro

etapas:

• A Primeira etapa é a da "lua de mel". Nesse momento tudo é bonito; qualquer detalhe é maravilhoso. • A Segunda é a etapa "crítica", quando pensamos que tudo está mal. A comida é ruim, as pessoas são desonestas e nada funciona bem. Sentimo-nos tentados a voltar para casa. • A Terceira fase é a etapa inicial de "recuperação". Começa quando aceitamos os costumes que, a princípio, considerávamos estranhos. Recobramos o senso de humor e aprendemos lentamente a rir de nossos próprios erros. • A Quarta etapa é a da "adaptação completa", quando nos sentimos "em casa" na nova cultura. A partir daí nosso ministério começa a dar fruto.

Pelo desconhecimento da língua, das instituições dos costumes, dos valores, das crenças e da cosmovisão do povo da cultura alvo, o choque cultural tem sido a causa principal do desânimo de muitos missionários no campo. Esta reação é normal, visto que todos os seus conceitos e comportamentos, além da diferença natural da língua, entram em choque com a cultura do povo local.

Síndrome do Choque Cultural

Segundo a Missionária Margaretha N. Adiwardana - em seu texto "Não Tenho Privacidade na Minha Própria Casa!" - (Preparando Missionários para o Século XXI - pág. 52), os conceitos, valores e regras da sociedade são fatores que regem a vida social e

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cultural de um grupo. Ao Ter que viver numa cultura onde esses fatores sejam tão diferentes de sua cultura de origem, a pessoa fica desorientada, sem saber como agir.

Ao longo do tempo, essa desorientação provoca certa frustração: Não há como entender o funcionamento das coisas na vida cotidiana. O receio de agir erradamente não evita as experiências de ser mal interpretado.

A pessoa, então, entra num stress que varia de grau de profundidade, aparecendo no dia-a-dia em forma de problemas emocionais e físicos, incapacidade de se portar normalmente ou até mesmo pelo surgimento de doenças.

Na perspectiva do povo, o missionário é um estranho, um estrangeiro. Somente há abertura ao Evangelho se a pessoa do missionário for bem recebida. As pessoas devem compreender suas ações, além das palavras. Elas usarão para análise o raciocínio lógico, valores de correio e errado e conceitos sociais e culturais.

Entretanto, se este missionário não entende como o povo pensa ou age, comportando-se como no próprio país, de acordo com outro padrão cultural, será mal entendido, mal interpretado e considerado não bem educado. Alguém assim jamais será bem recebido na sociedade, e as conseqüências serão de parte a parte: A mensagem não será ouvida, não havendo conversões; o missionário, por sua vez, se sentirá rejeitado e fracassado, podendo isto refletir-se num stress.

Como então entender o povo que se quer ganhar para Cristo? Como o missionário pode adaptar-se à sociedade onde ministra? A razão da adaptação não é só a de "sentir-se em casa" no Campo, mas principalmente poder servir de forma eficaz, evangelizando e discipulando.

Quando está passando por um choque cultural, uma pessoa pode apresentar os seguintes sinais:

• Não consegue mais dormir apropriadamente.

• Desenvolve complexos de inferioridade.

• Sofre de fadiga física ou emocional.

• Mostra uma extrema saudade e forte desejo de retornar para casa.

• Vive constantemente frustrado.

• Fica completamente desanimado.

• Sofre de uma repentina e estranha mudança na sua personalidade.

• Torna-se incapaz de administrar sua vida diária.

• Torna-se nervosa.

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• Torna-se hiperativa e apressada.

• Desenvolve algum hábito estranho.

É importante diferenciar entre um choque cultural dramático e um temporário. A

maioria dos novos missionários passa, de uma forma ou de outra, por um choque cultural temporário. É praticamente impossível dar um prognóstico de quando e como uma pessoa está passando por um choque cultural. Algumas pessoas negam veementemente que estejam passando por um choque embora todos os colegas percebam, há dias, que elas estão passando por momentos difíceis.

O que pode ajudar alguém a vencer o choque cultural? Uma vida disciplinada,

humildade, flexibilidade, prontidão para ouvir e aprender ou aceitar aconselhamento pastoral. Quando o missionário novato não consegue vencer o [choque cultural da forma adequada, é melhor que ele retorne ao seu país de origem.

STRESS CULTURAL O stress cultural pode ser descrito como um conjunto de elementos físicos e psíquicos adicionais que o missionário sofre por viver numa nova cultura e num novo ambiente: calor, umidade, alergia, língua, distância geográfica, estilo de vida, comida.

O stress cultural não é um fenômeno temporário. O missionário tem que aprender a se adaptar às novas situações, embora isto se torne um desafio constante. Pessoas que aprenderam a conviver com o stress cultural são pessoas bi-culturais.

CONCLUSÃO Para concluir, fiquemos com o exemplo de Jesus que não obstante inserir-se na

cultura judaica, "jamais se mostrou prisioneiro dela, quando revelava exageros". Veja o que escreveu o autor, em obra recente: "Sempre que fosse preciso tomar uma atitude que contrariasse costumes estranhos já arraigados na consciência do povo, Jesus não hesitava em fazê-lo. Foi assim em relação ao divórcio. Enquanto a lei de Moisés o previa em circunstâncias bem mais amplas (Deuteronômio 22.1-4), o que tornou comum entre os judeus, Jesus o restringiu apenas a casos de adultério (Mateus 5.31-32; Mateus 19.1-9). No contexto deste último capítulo, o Senhor indiretamente condenou as instituições sociais da poligamia e do concubinato, tão em voga no Antigo Testamento e cujos resquícios ainda perduravam.

"O exemplo da mulher adúltera que, pela lei, deveria ser apedrejada se constituí em outra lição sobre o modo como Jesus encarava os padrões éticos da cultura religiosa judaica. Ele se apegava a valores absolutos e não relativos. Sob este prisma, o Mestre não poderia, pela lógica, assentar-se junto ao poço de Jacó e dialogar com a mulher samaritana... Ele, todavia, permaneceu fiel ao princípio universal do amor, que une todas as raças e alcança o pecador de índole mais pervertida". Isto é missões transculturais.

O homem, em qualquer cultura ou parte da terra, sempre será um pecador necessitado da misericórdia divina. Não importa o conceito que tenha do mundo, não importa as suas crenças, práticas e costumes. O importante é que precisa ser avisado

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urgentemente que, mesmo na cultura dele, corre sério risco de perder a salvação caso rejeite a mensagem de Cristo.

Nós, servos do Senhor, temos a obrigação de avisá-lo de maneira inteligível, na concepção que tem do mundo e na língua que lhe é comum, sentindo que o Cristianismo irá melhorar sua cultura, e não anulá-la ou substituí-la.

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BBiibblliiooggrraaffiiaa

• ADIWARDANA, Margaretha N. – Não Tenho Privacidade em Minha Própria Casa. “Preparando Missionários para o Século XXI”. Ed. Kairós, 1997, São Paulo.

• HARLEY, David – Missões: Preparando Aquele que Vai. Ed. Mundo Cristão.

• NIDA, E.A. – Costumes e Culturas. Ed. Vida Nova, 1992, São Paulo.

• PATÊ, Larry D. – Missiologia, A Missão Transcultural da Igreja, Ed. Vida.

• REIFLER. Hans Ulrich – Antropologia Missionária ara o Século XXI. Ed. Descoberta, Londrina – 2003.

• SILVA, Miguel A. e et alli. – Preparando Missionários para o Século XXI. Kairós, Vol. I,II,III e IV. Ed. Mundo Cristão.

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Avaliação de Missiologia

1. O que significa MISSÕES? Dê a definição etimológica da palavra e dê também a sua própria definição:

2. Comprove na Bíblia que evangelização e Missões envolve Batalha Espiritual:

3. Qual a importância da Antropologia Missionária no estudo de missiologia? Dê também a definição do termo:

4. Como a cultura pode influenciar no bom resultado da evangelização de povos e nações diferentes das nossas?

5. Qual a diferença entre “doutrina” e “costume”?

6. Quais são as características da cultura?

7. O que é transculturação e como ela é caracterizada?

OBS: Não se esqueça de colocar nome em sua avaliação

a) O aluno deverá enviar a avaliação para o e-mail: [email protected]@[email protected]@esutes.com.br

b) O tempo para envio da avaliação corrigida para o aluno é de até 15 dias após o recebimento da avaliação Enquanto a prova é corrigida o aluno já pode solicitar NOVO MÓDULONOVO MÓDULONOVO MÓDULONOVO MÓDULO

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DICAS DE ESTUDO ON-LINE

1- Procure utilizar em seu computador um protetor de tela para minimizar a claridade do monitor. Temos que cuidar de nossa visão

2- Se for estudar a noite, duas dicas:

a) Não deixe para estudar muito tarde, pois o sono pode atrapalhá-lo em sua concentração;

b) Não deixe a luz do ambiente em que estiver, apagada, pois a claridade da tela do computador torna-se ainda maior, provocando dor de cabeça e irritabilidade.

3- Pense na possibilidade de imprimir sua apostila, pois pode ser que isso dê a

opção, por exemplo, de carregá-la para onde quiser e de grifar com caneta, partes que ache importante.

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