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Gramado – RS
De 29 de setembro a 2 de outubro de 2014
MOBILIÁRIO SUSTENTÁVEL A PARTIR DE RESÍDUOS DA
PRODUÇÃO DE MADEIRA
Lidia Dobon Pardini
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Cláudio Roberto y Goya
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Akira Souza Iamaguti
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Tatiane Amano
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Aline Fabre
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Resumo A produção de madeira de eucalipto, bem com a produção moveleira, geram toneladas de resíduos de madeira todos os anos, como costaneiras, galhadas, e material já tratado, gerados durante o processo produtivo das peças de mobiliário. As costaneiras consistem da parte externa do tronco, tendo uma face plana e outra arredondada, e seu aproveitamento na produção moveleira vem sendo alvo de estudos nos últimos anos. Quanto à galhada de eucalipto e os resíduos tratados, seu aproveitamento ainda é raro, sendo utilizada basicamente como material combustível. Este trabalho tem como objetivos demonstrar o potencial de uso dos resíduos da produção de madeira de eucalipto e moveleira por meio da produção de objetos de design contemporâneo, aplicando os conceitos de ecodesign e sustentabilidade, e também promover a integração entre dois projetos de extensão, estimulando a cooperação e propiciando aprendizados e troca de experiências. Além disso, os projetos desenvolvidos devem ser
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utilizados futuramente como referência para atender às demandas das comunidades artesãs atendidas pela universidade. Por ser um trabalho empírico de caráter prático, a metodologia utilizada baseia-se no desenvolvimento a partir de revisão bibliográfica e reuniões com as equipes de ambos os projetos de extensão, a respeito dos desafios da parceria, limitações e possibilidades do material, além “brainstorm” para criação e projeto das peças. O mobiliário será desenvolvido em laboratório próprio localizado na UNESP de Bauru, enquanto o material utilizado é proveniente dos resíduos gerados em outros projetos existentes na própria universidade. Palavras-chave: Sustentabilidade, mobiliário, reuso, resíduos de madeira, eucalipto. Abstract The production of eucalyptus wood, as well as furniture production, generates tons of wood waste each year, as the external parts of trunks, branches, and material already treated, generated during the production process of furniture pieces. The external parts of trunks have one flat side and another rounded, and their use in furniture production has been the subject of studies recent. As for eucalyptus’ branches and treated waste, their use still rare, the main application still as fuel. This paper aims to demonstrate the potential use of waste production from eucalyptus wood and furniture through the production of objects of contemporary design, applying the concepts of ecodesign and sustainability, and also promote the integration between two extension projects, stimulating cooperation and providing learning and exchange of experiences. Furthermore, the developed projects should be used as a reference in future to meet the demands of crafts communities, which work in partnership with the university. The methodology is based on the development from literature review and meetings with teams from both extension projects, about the challenges of the partnership, limitations and possibilities of the material, besides brainstorm meetings to design the pieces. The furniture will be developed in our own laboratory located at UNESP, Bauru, while the wood waste will be provided by other existing projects at the university. Keywords: Sustainability, furniture, reuse, wood waste, eucalyptus.
1. Introdução O Laboratório de Design Solidário da Unesp,Labsol, promove projetos e ações em par-ceria com grupos produtores de artesanato, melhorando processos, agregando valor e valorizando a figura do artesão e o patrimônio cultural local, além de desenvolver pro-jetos a partir de resíduos urbanos e da produção industrial, partindo de um tripé cons-tituído pelos conceitos de Sustentabilidade, Economia Solidária e Ecodesign. O Muda Design, é também um projeto de Extensão Universitária do Departamento de Design da FAAC, atualmente além de vinculado ao Depto de Design da FAAC UNESP, possui parceria com o Horto Florestal – Estação Experimental de Bauru, e tem como
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objetivo transformá-lo em um campo de conscientização ambiental, através da inter-venção do design sustentável com a implantação de mobiliários urbanos, melhoria na sinalização do horto e de informativos sobre o meio ambiente. Tanto o Laboratório de Design Solidário – Labsol, quanto o Muda Design, possuem a sustentabilidade como conceito em comum, viabilizando a realização de projetos con-juntos. O contato entre ambos os projetos identificou uma grande quantidade de resíduos na produção de madeira de eucalipto, como as costaneiras e galhadas, além de um alto índice de resíduos de madeira já tratada gerado ao confeccionarem-se peças de mobi-liário. O projeto pretende desenvolver peças de mobiliário para uso público ou residencial a partir de resíduos da produção de madeira de eucalipto, evitando dessa forma o des-perdício e promover a aplicação do conceito de sustentabilidade através da utilização de resíduos. Espera-se um aprofundamento teórico e uma reflexão sobre a relação entre o Design Contemporâneo, a Produção Artesanal e o conceito de Sustentabilidade. Os materiais a serem utilizados, serão provenientes dos resíduos produzidos pelo pro-jeto Muda Design, que possui parceria com o Horto Florestal – Estação Experimental de Bauru. Além disso, espera-se estimular a cooperação e integração entre os projetos de extensão, propiciando aprendizados e troca de experiências. A análise dos resulta-dos dar-se-á de forma coletiva pelos parceiros no projeto, o Labsol e o Muda Design.
2. Objetivos Os principais objetivos iniciais do projeto eram demonstrar o potencial de uso dos re-síduos da produção de madeira de eucalipto e da produção moveleira por meio da produção de objetos de design contemporâneo; aumentar a integração entre os proje-tos de extensão Labsol e Muda, promovendo assim a aplicação prática da sustentabili-dade e gerar um conhecimento teórico-prático que pudesse ser utilizado como refe-rência para atender às demandas de comunidades associadas ao Labsol.
3. Revisão Bibliográfica A pesquisa inicial desse projeto focou na utilização de galhadas e costaneiras de euca-lipto na produção moveleira. A pesquisa foi divida em três etapas:
I- Embasamento conceitual; II- Busca por estudos científicos sobre o material utilizado na construção do mobi-
liário, visto que galhadas e costaneiras de eucalipto possuem constituições químicas e físicas diferentes do cerne da árvore;
III- Pesquisa sobre os projetos de mobiliários já desenvolvidos na área. O conceito principal da pesquisa foi o de sustentabilidade. Trata-se de um conjunto de condições a serem seguidas pelas atividades humanas para que estas não interfiram nos ciclos naturais do planeta e para que não empobreçam o seu capital natural, per-mitindo assim que as gerações futuras também se utilizem dele. [Manzini e Vezzoli, 2002]. O pensar de forma sustentável é tentar observar a maior quantidade possível de fato-res envolvidos no desenvolvimento de um projeto, não apenas no que tange à relação entre material e ambiente, mas também considerando impactos de todo o ciclo da produção/comercialização/descarte na comunidade envolvida.
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A Economia Solidária, apesar de não estar diretamente ligada a presente pesquisa, foi um dos conceitos revisados por se relacionar com sustentabilidade. Entende-se por Economia Solidária como sendo uma forma de produção, consumo e distribuição de renda centrada na valorização do trabalho e da propriedade coletiva, utiliza-se do mo-delo cooperativista e é voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços de modo autogerido. O objetivo principal da Economia Solidária é construir ambientes socialmente justos e sustentáveis. [Singer, 2002]. Por fim, o conceito de Ecodesign, ou Desenho Ecológico, é a atividade que liga as pos-sibilidades técnicas às necessidades ecológicas, concebendo propostas inovadoras so-cial e culturalmente aceitáveis. [Manzini e Vezzoli, 2002]. Após a definição dos conceitos básicos, foi feita a revisão bibliográfica a respeito dos materiais utilizados na pesquisa, com enfoque foi nas costaneiras e galhadas de euca-lipto. Dentre os estudos revisados, destacou-se a dissertação de Maria Rachel Menezes Lei-te, “Caracterização das Costaneiras da Madeira de Eucalipto para Uso na Indústria Mo-veleira”. As costaneiras consistem da parte externa do tronco, tendo uma face plana e outra arredondada, e devido a sua forma e composição química são comumente desperdi-çadas. [Leite, 2005]. A autora fez uma vasta pesquisa para caracterizar esse material, comparando os resul-tados dos testes de rigidez, densidade, resistência ao cisalhamento e dureza com os resultados de madeiras nobres, como cedro e mogno. Os resultados são excelentes e demonstram que as características físicas das costaneiras de eucalipto permitem que elas sejam utilizadas na produção moveleira. Além de seus aspectos físicos favoráveis, as costaneiras possuem valor estético, pois são constituídas de alburno e cerne, dois componentes do tronco que possuem tonalidades diferentes que criam um visual úni-co. [Leite, 2005]. O outro texto de destaque, “Design, Arte e Sustentabilidade – Móveis a partir da reci-clagem da madeira”, de Sandro Fábio César, Rita Dione Araújo Cunha, João Paulo Leite Guedes, trata sobre um projeto de reutilização de madeira na Universidade Federal da Bahia. Dadas as semelhanças entre as pesquisas, o artigo trouxe referências metodo-lógicas interessantes para o processo de confecção da peça desenvolvida. Não foi encontrado nenhum estudo científico sobre as galhadas de eucalipto, a maior parte dos escritos que as mencionava tratavam apenas do preço ou em quais tipos de fornalha seriam um combustível mais eficiente. Entretanto, fora do âmbito acadêmico esse material é valorizado e bastante utilizado na produção de mobiliário. Na terceira etapa, foi revisada a produção moveleira que utilizava resíduos da produ-ção de madeira ou de madeira reutilizada. Abaixo seguem alguns exemplos de traba-lhos encontrados.
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Haluz Collection – Studio Vacek Fragments of Nature – Lex Pott
Solid Wood - Dennis Milanov Millenial Console Collection – Maximo Riera
River Collection – Greg Klassen Banco Caboclo – Hugo França
Wood Casting – Hilla Shamia
As peças acima têm em comum o uso contrastante de formas e materiais. Na maioria dos e-xemplos, aproveitam-se as formas e texturas da madeira bruta, contrastando-a com materiais inovadores ou com características completamente diferentes. Gerando assim um contraste visual impressionante e inovador. Algumas peças, por outro lado, são totalmente construídas com madeira, no entanto, não podem ser consideradas peças rústicas pois as formas são con-
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temporâneas. Nestes casos, o visual inovador é alcançado devido ao contraste entre matéria-prima, rústica, e forma contemporânea.
4. Materiais e Métodos A proposta do projeto era de parceria entre os projetos de extensão Labsol e Muda, contudo no decorrer do semestre, ambos os projetos acabaram desenvolvendo atividades que impossibilitaram as reuniões e desenvolvimento em conjunto da pesquisa. Além disso, fui contemplada com uma bolsa do Programa Ciências Sem Fronteiras e devido à minha viagem próxima, precisei desenvolver o projeto mais rapidamente. As alterações foram a redução do número de protótipos. Inicialmente, o objetivo era desenvolver algumas peças de mobiliário. A nova proposta foi desenvolver um protótipo, assim o projeto não perderia seu caráter prático e poderia ser desenvolvido em menos tempo. Outra alteração ocorreu no material utilizado, a proposta era coletar resíduos da produção de madeira. Devido ao desencontro de agendas dos projetos de extensão, não foi possível o contato com esse material. Portanto o protótipo foi construindo utilizando madeira de árvores mortas e/ou derrubadas. Muitas árvores são derrubadas em decorrência da construção civil, abertura ou reforma de estradas, entre outros fatores e sua madeira é descartada, configurando também um desperdício de material. Ainda fazendo uso dos conceitos de sustentabilidade anteriormente citados, optou-se por desenvolver o projeto com madeira 100% reutilizada e sua produção deveria ser completamente artesanal. Permitindo que o Projeto Labsol possa utilizar o mesmo conceito no trabalho com comunidades artesãs em parcerias futuras. O enfoque do projeto foi nas galhadas de eucalipto, por se tratar de um material pouco pesquisado academicamente e por seu apelo estético. Abaixo, registro da coleta das galhadas.
Após a coleta, o material foi analisado e partindo de suas formas foram feitos alguns sketches.
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Como dito anteriormente, devido ao curto prazo para a construção do mobiliário, foi decidido que apenas uma peça seria confeccionada. A peça escolhida foi o banquinho a seguir:
Entretanto, durante o planejamento da construção, observou-se que haveria um gasto considerável de material para estabilizar o banquinho. Segundo Victor Papanek, é sempre recomendável o uso honesto de materiais, ou seja, não é recomendável utilizar um material enquanto outro pode fazer o mesmo papel de forma mais eficiente ou menos custosa. [PAPANEK, 2006]. No caso, o pensamento foi utilizado no sentido de não empregar uma quantidade de material maior do que a necessária, já que seria possível estabilizar a peça utilizando menos galhos apenas se estes tivessem espessuras maiores e fossem posicionados de outra forma. Partindo de uma silhueta similar, foram feitos os seguintes desenhos:
Apesar de o desenho da direita possuir uma silhueta mais reta do que a proposta inici-al, ele foi o escolhido por sua construção ser mais rápida.
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Conforme explicado anteriormente, optou-se por mobiliário de material completa-mente reutilizado, assim o assento do banquinho foi feito com um retalho de MDF descartado. A cor escolhida para pintar o tampo foi um rosa muito forte e chamativo, de forma a contrastar os componentes do banquinho e valorizar ainda mais as galha-das de eucalipto. Após a escolha do desenho, foram dividas as etapas de confecção do projeto:
I. Corte das peças II. Lixamento e furação III. Pintura e montagem
ETAPA I: Corte das peças
ETAPA 2: Lixamento e furação
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ETAPA 3: Pintura e montagem
5-Conclusão As potencialidades dos resíduos de madeira são excelentes, seja no âmbito químico-físico ou estético. E acima disso, utilizar tal material com matéria-prima para mobiliário representa uma redução no desperdício e contribuí para a melhora do ambiente. O maior desafio do trabalho com galhadas de eucalipto foi encaixar um projeto nas formas pré-definidas da madeira. Porém, desafiador não significa dificultar o processo, significa que é preciso deixar a mente aberta ao examinar o material. Os galhos possu-em formas interessantes e agradáveis, trazendo possibilidades inovadoras para mobili-ários tradicionais. Além da questão formal, o manejo do eucalipto foi relativamente simples, mesmo com a estrutura rudimentar utilizada. Portanto, trata-se de um campo experimental muito vasto e repleto de possibilidades.
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6-Bibliografia BAXTER, M. Projeto de Produto:Guia prático para o design de novos produtos. Blu-cher, São Paulo, 2011. BORGES, A. Design+Artesanato:O caminho brasileiro. Terceiro Nome, São Paulo, 2011. CHEUNG, V. Love Earth.Viction Workshop ltd, Hong Kong, 2011. FUAD-LUKE, A. Ecodesign:The Sourcebook, Chronicle Books, São Francisco, 2009. HEMACHANDRA, R. 500 Chairs: Celebrating tradicional and innovative designs.Lark Crafts, Nova Iorque, 2008. KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. Senac, São Paulo, 2005. LEITE, M.R.M. Caracterização da madeira de costaneiras de eucalipto para uso na produção moveleira. 2005. 82f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2005. MANZINI, E. ;VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis:os requisitos ambientais dos produtos industriais. Edusp, São Paulo, 2002 MUDA Design. Disponível em < https://www.facebook.com/mudadesign?fref=ts>. Acesso em 09/07/2013. PAPANEK, V. Design for the real world:Human Ecology and Social Change. Thames and Hudson, Londres, 2006. PROCTOR, R. Diseño Ecológico:1000 ejemplos.Gustavo Gili, Barcelona, 2009. SINGER, P. Fundamentos. In.______ . Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Edi-tora Perseu Abramo, 2002. p. 1-7.
