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RAFAEL DE TOLEDO RIBAS MODELAGEM DE PROCESSOS, DEFINIÇÃO DE REQUISITOS E PLANEJAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE BPM EM EMPRESA TÊXTIL Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção. SÃO PAULO 2007

Modelagem de Processos Definicao de Requisitos e Planejamento Da Implantacao de Um Sistema de Bpm Em Empresa Textil

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  • RAFAEL DE TOLEDO RIBAS

    MODELAGEM DE PROCESSOS, DEFINIO DE REQUISITOS E

    PLANEJAMENTO DA IMPLANTAO DE UM SISTEMA DE BPM EM

    EMPRESA TXTIL

    Trabalho de Formatura apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do Diploma de Engenheiro de Produo.

    SO PAULO

    2007

  • RAFAEL DE TOLEDO RIBAS

    MODELAGEM DE PROCESSOS, DEFINIO DE REQUISITOS E

    PLANEJAMENTO DA IMPLANTAO DE UM SISTEMA DE BPM EM

    EMPRESA TXTIL

    Trabalho de Formatura apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do Diploma de Engenheiro de Produo. rea de Concentrao: Engenharia de Produo Orientador: Prof. Doutor Mauro de Mesquita Spnola

    SO PAULO

    2007

  • FICHA CATALOGRFICA

    Ribas, Rafael de Toledo

    Modelagem de processos, definio de requisitos e planeja- mento da implantao de um sistema de BPM em empresa txtil / R.T. Ribas. -- So Paulo, 2007.

    p.

    Trabalho de Formatura - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia de Produo.

    1.Tecnologia da informao 2.Integrao de tecnologias

    I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Produo II.t.

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a meus pais,

    que me deram todo o apoio de que precisei.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao professor Mauro, cuja orientao extremamente dedicada permitiu que este

    trabalho adquirisse sua riqueza final.

    Aos meus amigos, pelos momentos de descontrao, pela fora, e pelo nimo para

    continuar este projeto.

    minha famlia, pelo apoio incondicional e pela pacincia, mesmo nos dias de mau-

    humor e problemas.

    E a todos que colaboraram direta ou indiretamente na execuo deste trabalho.

  • RESUMO

    Este trabalho trata da implantao de sistemas de BPM em organizaes que

    adotam a Gesto por Processos. Relata e discute um estudo realizado em uma

    empresa de porte mdio do setor txtil, cuja alta gerncia determinou a transio de

    uma estrutura de gesto fortemente funcional para uma estrutura por processos.

    Desta transio surgiu a necessidade de um sistema de suporte para gerenciamento

    de processos o BPMS. Este trabalho compreende trs atividades necessrias

    adoo deste sistema: a seleo e modelagem dos processos gerenciados, o

    estabelecimento dos requisitos do software a ser adquirido, e a criao de um plano

    de implantao para o mesmo. O resultado um panorama detalhado dos aspectos

    a serem considerados na implantao dos BPMS. Alm da aplicabilidade prtica

    para a empresa em questo, o presente estudo elucida o potencial desta ferramenta

    de surgimento recente na transformao organizacional, propondo ainda meios

    concretos de explorar este potencial.

    Palavras-chave: BPMS, Gesto por Processos, Modelagem de Processos,

    Definio de Requisitos, Implantao, TI

  • ABSTRACT

    This paper deals with the implementation of BPM systems in organizations adopting

    Business Process Management techniques. It reports and discusses a study

    conducted in a medium-sized company of the textile industry, whose top

    management settled the shift from a strongly function-oriented management structure

    to a process-oriented one. This created demand for a system to support the

    management of business processes the BPMS. This paper includes three activities

    necessary for this systems adoption: process selection and modeling, software

    requirements definition, and creation of an implementation plan. The result is a

    detailed view of the aspects to be considered in a BPMS implementation. Besides its

    practical applicability for the company, this study unveils the whole potential of this

    recently released tool to transform organizations, proposing also concrete means to

    explore this potential.

    Keywords: BPMS, Business Process Management, Process Modeling, Requirements

    Definition, Implementation, IT

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1: Exemplo de produtos da marca A..................................................................... 21

    Figura 2: Principais mdulos de um sistema ERP .......................................................... 29

    Figura 3: Modelo de ciclo de vida de sistemas ERP ....................................................... 34

    Figura 4: Estrutura funcional comparada estrutura por processos. .......................... 42

    Figura 5: Uma estrutura de Gesto por Processos (BPM). ........................................... 44

    Figura 6: Exemplo de interface de modelagem grfica de processos de um BPMS.56

    Figura 7: Exemplo de caixa de entrada de usurio de um BPMS, com suas tarefas,

    gerenciador de documentos e ferramentas colaborativas. ....................... 57

    Figura 8: Relatrios de monitoramento do desempenho de processos. ..................... 59

    Figura 9: Estrutura do BPMS da Appian Solutions, segundo o prprio fornecedor... 60

    Figura 10: Papel da BPMN na modelagem e execuo de processos em um

    ambiente de negcios. .................................................................................... 64

    Figura 11: Diagrama de risco da fase de seleo do BPMS.......................................106

    Figura 12: Diagrama do risco de dificuldades de integrao, relativo fase de

    implantao.....................................................................................................108

    Figura 13: Diagrama do risco de enfrentamento de resistncias internas, relativo

    fase de implantao.......................................................................................109

    Figura 14: Diagrama de risco de perda do apoio da alta gerncia, relativo fase de

    utilizao..........................................................................................................111

    Figura 15: Diagrama de risco de utilizao inadequada pelo usurio final, relativo a

    fase de utilizao............................................................................................112

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Benefcios e problemas dos sistemas ERP ....................................................30

    Tabela 2: Vantagens e desvantagens de uma organizao hierrquica (vertical). ...40

    Tabela 3: Categorias de impacto do uso da TI para a Gesto por Processos. ..........47

    Tabela 4: Critrios e pesos utilizados na escolha dos processos para modelagem. 68

    Tabela 5: Matriz de deciso para escolha de processo de complexidade baixa. ......69

    Tabela 6: Matriz de deciso para escolha de dois processos de complexidade mdia.

    .............................................................................................................................70

    Tabela 7: Matriz de deciso para escolha de dois processos de complexidade alta.71

    Tabela 8: Descrio sucinta dos processos escolhidos. ................................................72

    Tabela 9: Requisitos de desempenho do sistema...........................................................93

    Tabela 10: Requisitos de funcionalidade do sistema......................................................93

    Tabela 11: Requisitos de confiabilidade do sistema .......................................................94

    Tabela 12: Requisitos de usabilidade do sistema............................................................95

    Tabela 13: Requisitos de manutenibilidade do sistema..................................................96

    Tabela 14: Requisitos de portabilidade do sistema.........................................................97

    Tabela 15: Etapas referentes ao processo de deciso.................................................104

    Tabela 16: Etapas referentes seleo da ferramenta ................................................104

    Tabela 17: Etapas referentes implantao ..................................................................106

    Tabela 18: Etapas referentes Utilizao ......................................................................109

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BI Business Intelligence

    BP Business Process

    BPEL Business Process Execution Language

    BPM Business Process Management

    BPML Business Process Modeling Language

    BPMN Business Process Modeling Notation

    BPMS Business Process Management System

    BPR Business Process Reengineering

    CAD Computer-Aided Design

    CCA Collaborative Commerce Arrangements

    CEO Chief Executive Officer

    CMMI Capability Maturity Model Integration

    COTS Comercial Of-the-shelf Product

    CRM Customer Relationship Management

    EAI Enterprise Application Integration

    ECM Enterprise Content Management

    EDMS Engineering Document Management Systems

    ERP Enterprise Resource Planning

    EVP Executive Vice President

    FQ Filosofia da Qualidade

    GED Gesto Eletrnica de Documentos

    MRP Material Requirement Planning

    NF Nota Fiscal

    O&M Organizao e Mtodos

    OP Ordem de Produo

    OMG Object Management Group

    PPCP Planejamento, Programao e Controle da Produo

  • PTE Potencializao e Trabalho em Equipe

    Q&P Qualidade e Produtividade

    RH Recursos Humanos

    SAM Supplier Agreement Managament

    SOA Service Oriented Architecture

    SOX Sarbanes-Oxley

    TI Tecnologia de Informao

    TQM Total Quality Management

    WfMC Workflow Management Coalition

    WMS Warehouse Management System

    XML Extended Markup Language

  • SUMRIO

    I INTRODUO .......................................................................................................... 15

    I.1 PROBLEMA ........................................................................................................... 15

    I.2 CONTEXTO DA EMPRESA................................................................................ 17

    I.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 21

    I.4 ESTRUTURA DO TRABALHO E METODOLOGIA ........................................ 22

    II FUNDAMENTAO TERICA ............................................................................. 25

    II.1 SISTEMAS ERP.................................................................................................... 25

    II.1.1 Introduo ...................................................................................................... 25

    II.1.2 Caractersticas dos sistemas ERP ............................................................. 26

    II.1.3 Benefcios e dificuldades associadas aos sistemas ERP ...................... 29

    II.1.4 Ciclo de vida de sistemas ERP................................................................... 33

    II.2 GESTO POR PROCESSOS E TI.................................................................... 36

    II.2.1 Introduo ...................................................................................................... 36

    II.2.2 Gesto por processos: definio ................................................................ 39

    II.2.3 Importncia da TI na Gesto por Processos ............................................ 46

    II.3 SISTEMAS DE BPM (BPMS).............................................................................. 51

    II.3.1 Introduo ...................................................................................................... 51

    II.3.2 Definio do BPMS....................................................................................... 52

    II.3.3 Caractersticas fundamentais de um sistema de BPM........................... 54

    II.3.4 Tendncias futuras ....................................................................................... 61

    II.3.5 BPMN.............................................................................................................. 63

    II.4 REQUISITOS DE SOFTWARE .......................................................................... 64

    II.4.1 Definio de Requisito ................................................................................. 64

    II.4.2 Requisitos funcionais.................................................................................... 65

    II.4.3 Requisitos no funcionais............................................................................ 66

    III PROPOSTA............................................................................................................... 67

    III.1 MODELAGEM DE PROCESSOS DE NEGCIO............................................ 67

  • III.1.1 Seleo dos processos para modelagem .................................................67

    III.1.2 Modelagem dos processos..........................................................................72

    III.2 REQUISITOS DO SOFTWARE BPMS..............................................................84

    III.2.1 Requisitos funcionais....................................................................................84

    III.2.2 Requisitos no-funcionais............................................................................92

    III.2.3 Requisitos contratuais ..................................................................................98

    III.3 PLANO DE IMPLANTAO..............................................................................102

    III.4 RESUMO DOS RESULTADOS ........................................................................113

    IV CONCLUSO..........................................................................................................115

    REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...............................................................................118

    APNDICE A DESCRIO DA NOTAO UTILIZADA PARA MODELAGEM DE

    PROCESSOS ..........................................................................................................121

  • 15

    I INTRODUO

    Este captulo consiste na introduo do estudo realizado, incluindo a definio do

    problema abordado, do contexto onde o trabalho foi desenvolvido, de sua estrutura e

    da metodologia empregada. A introduo inclui ainda a justificativa para a escolha

    do tema do estudo.

    I.1 PROBLEMA

    O trabalho tem como foco a soluo do seguinte problema:

    Modelagem de processos, critrios de seleo e planejamento da implantao de

    uma ferramenta BPMS em empresa txtil.

    O trabalho foi desenvolvido a partir do estgio realizado no Departamento de

    Projetos da empresa. As atividades do estagirio deste departamento envolvem

    mapeamento, estruturao e anlise estratgica de processos. Outras atribuies

    so a elaborao, execuo e gesto de projetos de melhoria. O Departamento de

    Projetos atua como uma consultoria interna, com total autonomia para executar os

    projetos identificados como necessrios.

    Desta forma, a soluo proposta neste estudo foi inteiramente desenvolvida pelo

    autor deste trabalho, como estagirio do departamento, contando com informaes

    disponibilizadas por outras reas e colaboraes do Departamento de TI. O projeto

    foi liderado e executado pelo estagirio. Os resultados obtidos foram submetidos

    validao por parte do gerente de projetos e do diretor do Departamento de TI. O

    projeto de implantao da ferramenta, entretanto, originou-se de proposta do

    Departamento de TI em conjunto com a Alta Gerncia.

    A organizao onde o trabalho foi desenvolvido uma empresa de porte mdio, do

    ramo de varejo txtil, que pretende implantar um sistema de BPM (Business Process

    Management Gesto de Processos de Negcio) em mdio prazo, assim que

    estiver concluda a atual implantao do sistema ERP (Enterprise Resource

    Planning) em sua estrutura organizacional. O objetivo principal da aplicao desta

    ferramenta reestruturar as operaes da empresa para uma Gesto por

  • 16

    Processos, de modo a aumentar a produtividade e eficincia dos mesmos, alm de

    eliminar problemas associados departamentalizao excessiva inerente ao atual

    modelo de gesto.

    O BPMS uma ferramenta de TI que permite empresa modelar, simular, monitorar

    e integrar seus processos de negcio. A implantao deste sistema tem seu sucesso

    condicionado a uma srie de fatores: fatores organizacionais, de gesto, treinamento

    de usurios, escolha da ferramenta, mapeamento dos processos, implantao

    gradual ou completa, etc. Os processos de negcio de uma empresa podem

    apresentar bastante variabilidade entre si, e alguns processos podem ser mais

    propensos integrao pelo BPMS do que outros. De maneira anloga, existem

    diversos fornecedores que oferecem diferentes pacotes comerciais de sistemas de

    BPM, cada um com suas especificidades.

    Assim, este trabalho possui trs partes. O primeiro objetivo selecionar e mapear

    detalhadamente um grupo de processos de negcio da empresa, j utilizando a

    linguagem padro dos pacotes comerciais disponveis (BPMN Business Process

    Modeling Notation). Este mapeamento serve como base para a implantao por

    fases do BPMS, que consiste em contemplar um nmero reduzido de processos em

    um momento inicial e, se o resultado for satisfatrio, expandir o uso para os demais

    processos.

    O segundo objetivo determinar quais as caractersticas requeridas para o software,

    com a finalidade de orientar a empresa na fase de seleo do fornecedor da

    ferramenta. Estas caractersticas foram agrupadas em trs quesitos: requisitos

    funcionais, no-funcionais, e contratuais (condies relativas ao processo de

    aquisio).

    Por fim, a partir destas anlises elaborado um plano a ser seguido por ocasio da

    implantao, descrevendo todas as etapas a serem concludas para o sucesso da

    adoo do BPM, bem como os riscos a serem considerados.

  • 17

    Portanto, o problema em questo consiste em modelar um grupo de processos,

    estabelecer requisitos para a seleo do fornecedor, e definir um plano de

    implantao de um sistema BPMS para a empresa em questo.

    I.2 CONTEXTO DA EMPRESA

    A organizao onde este trabalho se desenvolveu uma empresa nacional de

    varejo txtil fundada no final da dcada de 80 a partir da criao de uma marca

    prpria (Marca C). Foi solicitado sigilo com relao aos nomes das marcas e da

    empresa. Atualmente a empresa conta com outras duas marcas de roupas: marca A

    e marca B. A marca C corresponde ao grosso do faturamento da organizao,

    apresentando uma linha completa de roupas tanto para o pblico feminino como

    para o masculino. O pblico alvo bastante diversificado: mercado nacional, faixa

    etria entre 15 e 40 anos, classes sociais de A a D. J a marca A atende somente

    ao pblico feminino entre 20 a 40 anos pertencente a classe A, estando voltada

    principalmente para o mercado da alta costura no exterior. Por fim, a marca B, de

    surgimento recente, posiciona-se entre as duas marcas, tendo como publico alvo as

    classes A e B, feminino e masculino, faixa etria de 20 a 40 anos.

    A empresa possui mais de 1500 funcionrios, estando pouco mais de 300 dedicados

    exclusivamente marca de luxo (Marca A). A marca C comercializada no Brasil

    atravs de aproximadamente 100 lojas (prprias e franquias), alm de estar

    presente em mais de 200 lojas multimarcas. A marca A possui pontos de venda

    espalhados pelo mundo, incluindo pases europeus, Estados Unidos e sia, e

    algumas lojas prprias no Brasil. A marca B comercializada no Brasil e no exterior

    predominantemente em lojas multimarcas.

    A fbrica da empresa localiza-se na regio metropolitana de So Paulo, e a maior

    parte da produo dedicada marca de luxo. No mesmo local encontra-se o

    escritrio da empresa, responsvel pelas trs marcas. A produo das linhas B e C

    quase totalmente terceirizada.

  • 18

    Na fbrica tambm ficam estocados os produtos acabados e a matria prima

    utilizada na confeco das peas. A fbrica funciona como centro de distribuio,

    recebendo toda a produo feita por terceiros, armazenando as peas e

    direcionando-as para as lojas em todo pas.

    A empresa sofreu uma rpida expanso nos ltimos anos, apoiada em aumento

    contnuo das vendas e nmero de lojas exclusivas (prprias ou franqueadas), e na

    criao da marca B, focando um novo nicho de mercado. Esta expanso no foi

    acompanhada de um planejamento eficaz de reestruturao administrativa, de modo

    que atualmente a empresa sofre com falta de organizao e processos pouco

    eficientes. Em especial, a falta de uma orientao por processos faz com que os

    diferentes departamentos comuniquem-se pouco entre si, limitando-se a

    desempenhar suas funes especficas sem muita ateno ao resultado global

    obtido pela integrao das funes das reas de negcio.

    Neste contexto, a TI apresenta um enorme potencial para revolucionar o

    funcionamento da empresa. O Departamento de TI, cuja direo foi trocada

    recentemente, est ciente disto, e tem lanado mo de ferramentas de ltima

    gerao para solucionar problemas como a falta de integrao entre os

    departamentos. A substituio de sistemas e bancos de dados obsoletos est entre

    as prioridades da rea.

    Desta forma, um dos problemas a serem atacados o excessivo nmero de

    sistemas legados, cuja existncia esta associada justamente excessiva

    departamentalizao previamente mencionada. Existem sistemas especficos para

    as reas Fiscal, Comercial, Financeiro. Existe uma srie de sistemas associados ao

    PCP (Programao e Controle da Produo), alguns deles restritos a uma das trs

    marcas da empresa. Os sistemas utilizam arquiteturas diferentes (Adabas, MySQL,

    Java, etc.) e so pouco ou nada integrados uns aos outros.

    O Departamento de Projetos da empresa, onde se desenvolveu este trabalho, tem

    como uma de suas funes auxiliar na anlise de viabilidade da adoo de novos

    sistemas de informao, e na implantao propriamente dita. Os estagirios da rea

    contam com bastante autonomia no desenvolvimento dos projetos, e carga de

  • 19

    responsabilidade correspondentemente alta. Os projetos de TI em andamento que

    contam com a participao do Departamento de Projetos envolvem ferramentas de

    BI (Business Inteligence), GED (Gerenciamento Eletrnico de Documentos), BPMS

    (Business Process Management System), ERP (Enterprise Resource Management),

    e WMS (Warehouse Management System).

    O projeto de implantao do ERP na empresa sem dvida o mais importante e

    ambicioso. Durante o primeiro semestre de 2007 foram contratados consultores para

    mapear e documentar os processos da empresa. A partir destes dados, trs

    fornecedores pr-selecionados apresentaram suas solues de ERP para os

    funcionrios, e foi feita uma avaliao de aderncia dos pacotes comerciais

    oferecidos s necessidades da empresa. Em Agosto foi concluda a etapa de

    seleo do fornecedor e teve incio a implantao, que deve durar aproximadamente

    um ano. Com o sistema em uso, espera-se que boa parte dos sistemas legados

    atuais possa deixar de ser utilizado. Outros benefcios esperados so maior

    qualidade de informao gerencial, reengenharia de diversos processos segundo as

    best practices do setor, reduo da mo de obra relacionada a processos de

    integrao de dados, padronizao de procedimentos, acesso informao para

    toda a empresa, entre outros. O projeto do ERP desenvolvido fundamentalmente

    pelo Departamento de TI, com apoio do Departamento de Projetos, e colaborao

    de todas as reas.

    O projeto de implantao do BPMS, foco deste trabalho, tambm consta entre as

    prioridades da rea de TI. Todas as etapas pr-implantao, exceto pela definio

    do escopo e seleo final do fornecedor, contam com participao direta do autor

    deste trabalho, em conjunto com outros membros dos Departamentos de Projetos e

    TI. A princpio, cogitou-se a implantao em carter provisrio de um sistema de

    Workflow, mais limitado do que o BPMS, devido urgncia de uma soluo de

    integrao de alguns processos crticos para a empresa. Tal proposta foi

    inviabilizada principalmente pela dificuldade de integrao dos vrios sistemas

    legados ao mecanismo do Workflow. Alm disso, concluiu-se que os benefcios da

    ferramenta BPMS, bem mais completa e com potencial muito maior para modificar a

    maneira como a empresa gerencia suas atividades, compensa o investimento inicial

    mais elevado. A implantao do sistema, porm, ser realizada aps a concluso do

  • 20

    projeto do ERP, visto que, de acordo com o Diretor da rea de TI, sem o ERP a

    organizao no estaria apta a promover a mudana para a Gesto por Processos e

    adoo do BPMS. Portanto, o sucesso do processo atual de adoo do ERP

    crtico para a implantao bem sucedida do BPMS.

    A adoo do BPMS faz parte da estratgia de aumento da produtividade e eficincia

    da organizao atravs da Gesto por Processos (BPM). O conceito de BPM ser

    descrito em detalhes mais frente, mas pode-se dizer que ele difere de abordagens

    tradicionais associados Gesto por Processos, como a Reengenharia, na medida

    em que no prope a mudana radical e sbita de modelo de gesto, e sim a

    adoo gradual atravs de controle e melhoramento contnuo dos processos.

    O objetivo deste trabalho, conforme previamente mencionado, modelar um grupo

    inicial de processos de negcio, estabelecer os requisitos para a seleo do

    software, e definir um plano de implantao passo a passo para a ferramenta. Este

    plano ser utilizado no segundo semestre de 2008, desde que a implantao do

    ERP ocorra dentro do tempo planejado. Alguns contatos iniciais j foram feitos com

    fornecedores de sistemas BPM (IBM, Bizage), porm apenas em carter de

    sondagem.

    Por fim, deve-se ressaltar que os projetos acima mencionados contam com total

    apoio da alta gerncia. Sem este apoio explcito no seria possvel empregar

    ferramentas modernas de TI na empresa, dada a grande resistncia inicial dos

    funcionrios a todo tipo de mudana. Espera-se, porm, que os funcionrios

    entendam a relevncia dos projetos, participem, e terminem por encarar a mudana

    como benfica. Espera-se tambm que os gerentes e demais cargos de gesto

    aproveitem plenamente o potencial das ferramentas que tero em mos. Os

    sistemas por si s so apenas parte da soluo, dependendo da utilizao correta e

    eficiente por parte do cliente final para produzir os resultados desejados.

  • 21

    Figura 1: Exemplo de produtos da marca A.

    I.3 JUSTIFICATIVA

    O tema em questo foi selecionado em conjunto com a empresa e o Departamento

    de Projetos, onde o estgio foi desenvolvido, e submetido avaliao do orientador,

    prof. Mauro Spnola, que colaborou para aperfeio-lo.

    O Departamento de TI da empresa sofreu uma reformulao completa nos ltimos

    meses e o novo diretor trouxe uma srie de projetos para modernizar e melhorar o

    desempenho dos sistemas de informao utilizados na empresa. Dois destes

    projetos, conforme previamente citado, so a implantao do ERP e do BPMS.

    Neste contexto, a funo do Departamento de Projetos dar amplo suporte ao

    planejamento e realizao destes empreendimentos. A implantao do BPMS

    despertou especial interesse por ser uma ferramenta com enorme potencial para

    melhorar o desempenho de uma empresa em franca expanso num setor bastante

    competitivo da indstria nacional.

    Naturalmente a ferramenta de ERP tambm extremamente importante para o

    processo de reestruturao em curso, mas a aquisio do software j havia

    comeado antes do incio do estgio e a implantao s deve ser concluda em

    2008.

  • 22

    No caso do sistema de BPM, existe a oportunidade de participao ativa desde o

    incio do projeto. Inicialmente, este trabalho teria como foco a implantao

    propriamente dita, sendo baseado numa anlise de desempenho de processos

    antes e depois da utilizao do BPM. Entretanto, a adoo do sistema de BPM pela

    empresa foi adiada para o segundo semestre de 2008, ou seja, aps a concluso da

    implantao do ERP. Como resultado, o tema do trabalho foi modificado para o

    planejamento da implantao do BPMS.

    Do ponto de vista acadmico, o tema envolve uma ferramenta de TI moderna e cujo

    uso tem se difundido de maneira acelerada no mercado nacional e internacional.

    Este trabalho procura estabelecer relaes entre a estrutura de gesto e a estrutura

    de TI da organizao, visto que o BPMS uma ferramenta de suporte a aplicao

    de um conceito de gesto chamado BPM (Gesto de Processos de Negcio). Pode-

    se dizer ainda que o tema permite o exerccio da capacidade de planejamento e

    estabelecimento de critrios para tomada de deciso, fundamental para qualquer

    engenheiro para uma abordagem bem sucedida de seus projetos.

    O tema requer capacidade de pesquisa e aplicao prtica de conceitos tericos,

    sendo especialmente desafiador devido atualidade dos conceitos envolvidos e ao

    pouco tempo de divulgao de material a respeito dos mesmos. Os artigos

    assumem, assim, papel crucial no levantamento da fundamentao terica.

    Concluindo, o tema bastante relevante tanto do ponto de vista acadmico como

    profissional, e permite o desenvolvimento de um trabalho ao mesmo tempo rico em

    informao e de bastante aplicabilidade prtica.

    I.4 ESTRUTURA DO TRABALHO E METODOLOGIA

    O primeiro passo no desenvolvimento deste trabalho a definio precisa do

    problema a ser atacado. Embora aparentemente simples, esta etapa crucial para o

    bom andamento do projeto: se o tema no estiver claro, o trabalho fica vago e

  • 23

    confuso, e o objetivo final no atingido. No caso deste trabalho, a definio do

    problema evoluiu de uma concepo inicial pouco definida, associada principalmente

    questo dos impactos do uso do BPMS, para um foco mais definido de planejar,

    modelar e identificar requisitos da ferramenta. A deciso a respeito do tema contou

    com a colaborao da rea de TI da empresa e do orientador deste trabalho.

    A definio do problema d base para a definio dos objetivos que se pretende

    alcanar por meio deste projeto. Com o tema definido, elaborada a estrutura do

    trabalho, prevendo os captulos nos quais este se dividir, bem como os respectivos

    contedos. Esta estrutura serve como base para a construo de um cronograma de

    trabalho utilizado para avaliar o progresso do mesmo em relao aos prazos

    propostos.

    A etapa seguinte o detalhamento e a anlise do contexto no qual este trabalho

    est inserido. Consiste basicamente no levantamento de informaes junto

    empresa envolvida, incluindo suas expectativas e objetivos relativos aplicao do

    BPMS, e relativos a este trabalho.

    O terceiro passo a fundamentao terica do trabalho. Ela consiste numa reviso

    bibliogrfica dos principais conceitos envolvidos no projeto, que serve como base

    terica para a elaborao das demais etapas. O material para pesquisa utilizado

    consiste de livros, artigos pub licados em peridicos acadmicos e na internet, e

    trabalhos acadmicos (mestrado, doutorado, graduao). Os quatro principais

    tpicos de pesquisa so: sistemas ERP, Gesto por Processos e TI, BPMS, e

    Requisitos de software. A bibliografia utilizada est listada no final do trabalho, no

    captulo Referencias Bibliogrficas, para eventual consulta pelo leitor deste trabalho.

    A partir do referencial terico foi executado o passo seguinte: o desenvolvimento da

    soluo proposta. Esta est fragmentada em trs itens principais: modelagem dos

    processos, definio dos requisitos do software, e plano de implantao.

  • 24

    A definio das caractersticas dos processos foi feita da seguinte forma:

    inicialmente, foi estabelecido o nmero de processos participantes da primeira fase

    de implantao; em seguida, foram selecionados os processos, com graus de

    complexidade variveis; por fim, os processos foram modelados com apoio do

    software MS Visio, j na linguagem padro de BPM (BPMN).

    A definio dos requisitos da ferramenta foi feita da seguinte forma: inicialmente,

    foram listadas no capitulo Referencial Terico as principais caractersticas e

    funcionalidades das solues de BPM existentes no mercado. Um possvel

    fornecedor realizou uma apresentao do sistema, exemplificando as ferramentas

    do mesmo e sua utilidade para a organizao. Com base nestas informaes foram

    definidos, junto rea de TI, os requisitos funcionais e no funcionais do software,

    bem como os requisitos contratuais de aquisio.

    Tendo em mos os processos mapeados e os requisitos para escolha da

    ferramenta, foi desenvolvido o plano de implantao do BPMS. Foram levantadas

    todas as etapas envolvidas na implantao deste tipo de sistema, a partir da

    fundamentao terica e da experincia dos profissionais da rea de TI que j

    participaram de tal processo. Foram propostos procedimentos a serem seguidos

    nestas etapas, considerando o contexto da organizao, os resultados deste

    trabalho, e os riscos detectados. Por fim, foram estimados tempos de durao para

    as etapas e uma seqncia lgica de execuo. O resultado um plano abrangente

    de implantao, pronto para uso pela empresa.

    Por fim, foi elaborada uma concluso destacando as contribuies do trabalho para

    a empresa, para o aluno, e para o estudo do tema. A concluso inclui ainda

    sugestes para possveis novos trabalhos com temas relacionados ao abordado

    neste estudo.

  • 25

    II FUNDAMENTAO TERICA

    Este captulo tem como objetivo fazer uma reviso da literatura a respeito de quatro

    tpicos relevantes para o desenvo lvimento deste trabalho: Sistemas ERP, Gesto

    por Processos e TI, Requisitos de Software, e BPMS. A compreenso do

    funcionamento dos sistemas ERP importante, pois h uma implantao de ERP

    em curso na empresa estudada, com impacto direto sobre o projeto do BPMS e

    sobre todo o contexto no qual este trabalho est inserido. Diversos aspectos do

    planejamento da implantao do BPMS devem levar em conta o resultado (ou

    progresso) da adoo do ERP, em especial no que diz respeito a processos que

    envolvem sistemas legados variados. Os outros tpicos abordados, Gesto por

    Processos e TI, Requisitos de Software e BPMS, conectam-se diretamente ao tema

    deste trabalho, provendo os conceitos necessrios para a elaborao e

    compreenso do mesmo. As fontes utilizadas foram livros, artigos publicados em

    revistas acadmicas, e trabalhos de graduao e ps-graduao.

    II.1 SISTEMAS ERP

    II.1.1 Introduo

    Os sistemas ERP (Enteprise Resource Planing) apresentaram um crescimento

    expressivo no mercado de solues corporativas de informtica nos anos 90, devido

    s presses competitivas sofridas pelas empresas nesta dcada e necessidade de

    coordenar melhor suas atividades dentro da cadeia de valor, visando eliminar

    desperdcios de recursos.

    Segundo Davenport (1998), toda empresa coleta, gera e armazena uma enorme

    quantidade de dados. Na maioria das empresas, entretanto, a informao no

    guardada em um nico repositrio, mas sim fica espalhada em dzias ou mesmo

    centenas de sistemas computacionais separados, cada um alocado a uma diferente

    funo, unidade de negcio, regio, fbrica ou escritrio. Manter estes diferentes

    sistemas gera custos imensos para armazenar e racionalizar informao

    redundante, para reformatar e transferir informao de um sistema para outro, para

    atualizar e resolver problemas em linguagens de software ultrapassadas, para

    programar links de comunicao entre os sistemas de modo a automatizar a

  • 26

    transferncia de dados. Os custos indiretos so ainda mais impactantes: se a

    gerncia no possui compreenso profunda do que acontece em todos os

    departamentos relacionados a sua operao, sua deciso ser baseada em instinto,

    e no ser racional. Em outras palavras, se os sistemas de uma empresa so

    fragmentados, seu negcio fragmentado.

    Neste contexto surgiram os sistemas de ERP, explorando a necessidade de rpido

    desenvolvimento de sistemas integrados. Contriburam tambm para a expanso do

    ERP fatores como a evoluo da tecnologia, o amadurecimento das opes

    disponveis no mercado, e casos bem sucedidos de empresas que adotaram o

    sistema no incio da dcada de 90.

    II.1.2 Caractersticas dos sistemas ERP

    Os sistemas ERP consistem em sistemas de informao integrados adquiridos na

    forma de pacotes comerciais de software, cuja finalidade dar suporte maioria das

    operaes de uma empresa industrial (suprimentos, manufatura, manuteno,

    administrao financeira, contabilidade, recursos humanos, etc.). Conforme Beheshti

    (2006), o ERP tem suas razes na indstria de manufatura e o sucessor dos

    sistemas MRP e MRP II (Material Requirements Planning). O MRP era usado para

    organizar o fluxo de informaes ao redor de processos de manufatura; o MRP II j

    inclua a parte de recursos, provendo uma viso das implicaes da programao da

    produo e do plano de aquisio de materiais; e finalmente o ERP um conjunto

    mais completo de aplicaes capazes de conectar todos os processos internos de

    uma empresa e at processos interorganizacionais como gesto de relao com

    consumidores ou fornecedores. Davenport (1998) define o ERP em seu ncleo

    como um nico banco de dados abrangente, que coleta e alimenta aplicaes

    modulares com dados, dando apoio praticamente todas as atividades de negcio

    da empresa entre funes, entre unidades de negcio, ao redor do mundo.

    Quando informao nova adicionada em um lugar, toda informao relacionada

    automaticamente atualizada.

  • 27

    Corra (1997) afirma que o desenvolvimento desde o MRP at o ERP se deu

    fundamentalmente pela adio de mdulos: o MRP passou a ser chamado MRP II

    quando deixou de atender apenas as necessidades de informao referentes ao

    clculo de necessidade de materiais para atender s necessidades de informao

    para tomada de deciso gerencial sobre outros recursos de manufatura. De maneira

    anloga, conforme os fornecedores adicionaram mdulos integrados ao MRP II que

    suportavam mais e mais funes, transcendendo muito o escopo da manufatura, tais

    fornecedores consideraram que suas solues integradas eram suficientemente

    capazes de suportar as necessidades de informao para todo o empreendimento. A

    estas solues foi dado o nome de ERP (Enterprise Resource Planning).

    Teoricamente, empresas poderiam desenvolver internamente sistemas com as

    mesmas caractersticas, mas na prtica o termo ERP est associado a pacotes

    comerciais. Alguns exemplos de pacotes existentes no mercado: R/3 da alem SAP,

    IBaan Enterprise da holandesa Baan, Oracle E-Business Suite da americana Oracle,

    Magnus da brasileira Datasul, e o AP7 Master da brasileira Microsiga.

    Embora os sistemas ERP tenham-se originado para atender basicamente a

    empresas industriais, a abrangncia de tais sistemas tem se ampliado, englobando

    empresas das reas comercial, distribuio, utilidades, financeira, entre outras.

    As seguintes caractersticas permitem distinguir os ERPs de sistemas desenvolvidos

    internamente por empresas:

    Possuem grande abrangncia funcional;

    Requerem procedimentos de ajuste para que possam ser utilizados por

    determinada empresa;

    So sistemas de informao integrados e utilizam um banco de dados

    corporativo;

    Incorporam best practices (modelos de processos de negcio);

    So pacotes comerciais de software;

  • 28

    Os sistemas ERP no so desenvolvidos para um cliente especfico, mas sim

    procuram atender a requisitos genricos, de forma a explorar o ganho de escala em

    seu desenvolvimento. Para tanto, os sistemas precisam incorporar modelos de

    processos de negcio, os quais so obtidos por meio da experincia acumulada

    pelas empresas fornecedoras em repetidos processos de implementao, ou por

    intermdio de empresas de consultoria e pesquisa em processos de benchmarking.

    Esses modelos de processo de negcio so as chamadas best practices, embora

    neste caso quem define o que melhor quer dizer o fornecedor.

    Quanto questo da integrao, deve-se fazer uma distino entre empresa

    integrada e sistema de informaes integrado. Segundo Beheshti (2006), o ERP

    uma soluo de gesto, e no um simples projeto de TI, e possui impacto muito

    maior na organizao do que mudanas tradicionais no sistema. Ou seja, no se

    trata da mera integrao de sistemas informatizados existentes ou que sero

    implementados no futuro. Esta apenas uma ferramenta para o desenvolvimento de

    uma empresa verdadeiramente integrada.

    Deve-se tambm considerar que a implementao do ERP possui certo grau de

    incerteza: complicado estimar a economia proporcionada pelo uso do sistema, e

    difcil prever com preciso o desenvolvimento do mesmo devido s constantes

    mudanas que ocorrem durante o processo. Alm disso, os benefcios intangveis do

    ERP so difceis de mensurar em termos monetrios.

    Os sistemas ERP so divididos em mdulos, que so conjuntos de funes

    destinados a determinados departamentos da empresa. Na Figura 1 esto alguns

    dos mdulos mais freqentemente utilizados em empresas industriais:

  • 29

    PlanejamentoProduo

    TesourariaContas a pagar

    Contabilidade FaturamentoRH

    ProduoSuprimentos Vendas

    Contas a receber

    Fornecedores Clientes

    Figura 2: Principais mdulos de um sistema ERP

    (adaptado de Souza e Zwicker (2003))

    As interligaes internas entre os mdulos se do de maneira on-line, de acordo

    com as especificaes do sistema de ERP. J as interligaes com entidades

    externas, no caso, clientes e fornecedores, podem ou no ser realizadas de maneira

    eletrnica (em geral ainda no o so), dependendo do interesse e esforo da

    empresa e de seus parceiros. Essa interligao externa, englobando os diversos

    participantes de uma cadeia de suprimentos, uma das questes mais desafiadoras

    e importantes para empresas e seus departamentos de TI. Payne (2002) afirma que

    os sistemas ERP parecem estar entrando em uma nova fase, do chamado ERP II,

    que pode ser utilizado na integrao com E-business, cadeia de suprimentos, CRM

    (Customer Relationship Management) e CCAs (Collaborative Commerce

    Arrangements). Somada a implantao mais simples e novas funcionalidades, esta

    capacidade de integrao externa pode dar um novo impulso ao crescimento do uso

    de sistemas ERP entre empresas.

    II.1.3 Benefcios e dificuldades associadas aos sistemas ERP

    Entre os principais benefcios destacados pelas empresas fornecedoras de solues

    de ERP esto a integrao, o incremento da possibilidade de controle sobre os

  • 30

    processos da empresa, a atualizao tecnolgica, a reduo de custos de

    informtica e o acesso a informaes de qualidade em tempo real para a tomada de

    decises sobre toda a cadeia produtiva. Entretanto, a adoo do sistema ERP

    tambm pode ocasionar no surgimento de problemas. O Quadro 1 relaciona as

    dificuldades e benefcios a aspectos destes sistemas:

    Tabela 1: Benefcios e problemas dos sistemas ERP

    (adaptado de Souza e Zwicker (2003))

    Caractersticas Benefcios Problemas

    Pacotes comerciais

    - Reduo de custos de

    informtica;

    - Foco na atividade

    principal da empresa;

    - Atualizao tecnolgica

    permanente, por conta dos

    fornecedores;

    - Dependncia do

    fornecedor;

    - Empresa no detm o

    conhecimento sobre o

    pacote;

    Usam modelos de

    processos

    - Difunde conhecimento

    sobre best practices;

    - Facilita a reengenharia

    de processos;

    - Impe padres;

    - Necessidade de

    adequao do pacote

    empresa;

    - Necessidade de alterar

    processos empresariais;

    - Alimenta a resistncia

    mudana;

  • 31

    Caractersticas Benefcios Problemas

    Sistemas integrados

    - Reduo do retrabalho e

    inconsistncias;

    - Reduo da mo de obra

    relacionada a processos

    de integrao de dados;

    - Maior controle sobre a

    operao da empresa;

    - Eliminao de interfaces

    entre sistemas isolados;

    - Melhoria na qualidade de

    informao;

    - Contribuio para a

    gesto integrada;

    - Otimizao global dos

    processos da empresa;

    - Mudana cultural da

    viso departamental para

    a de processos;

    - Maior complexidade de

    gesto da implantao;

    - Maior dificuldade na

    atualizao do sistema,

    pois exige acordo entre

    vrios departamentos;

    - Um mdulo no

    disponvel pode

    interromper o

    funcionamento dos

    demais;

    - Alimenta a resistncia a

    mudana;

    Usam bancos de dados

    corporativos

    - Padronizao de

    informaes e conceitos;

    - Eliminao de

    discrepncias entre

    informaes de diferentes

    departamentos;

    - Melhoria na qualidade da

    informao;

    - Acesso a informaes

    para toda a empresa;

    - Mudana cultural da

    viso de dono da

    informao para a de

    responsvel pela

    informao;

    - Mudana cultural para

    uma viso de

    disseminao de

    informaes de

    departamentos por toda a

    empresa;

    - Alimenta a resistncia a

    mudana;

  • 32

    Caractersticas Benefcios Problemas

    Possuem grande

    abrangncia funcional

    - Eliminao da

    manuteno de mltiplos

    sistemas;

    - Padronizao de

    procedimentos;

    - Reduo de custos de

    treinamento;

    - Interao com um nico

    fornecedor;

    - Dependncia de um

    nico fornecedor;

    - Se um sistema falhar,

    toda a empresa pode

    parar;

    Corra (1997) destaca que a principal motivao de grande nmero de empresas

    que decidem adotar o ERP sua capacidade de integrar vrias reas e setores

    funcionais da empresa, todas compartilhando a mesma base de dados nica e no

    redundante. Por outro lado, a deciso radical de substituio ampla dos sistemas

    pelo ERP deve levar em conta alguns aspectos:

    Muitas vezes, determinados sistemas so superiores ao mdulo

    correspondente do ERP, pois passaram por anos de evolues e

    aperfeioamentos;

    s vezes, as interfaces entre sistemas no so to problemticas de

    gerenciar quanto imaginamos;

    Quanto maior o grau de substituio dos sistemas atuais pelos novos, maior

    ser o tempo de implantao do ERP. A empresa deve considerar a

    possibilidade de conviver com interfaces, caso opte por uma implantao

    mais gradual.

    Davenport (1998) relaciona alguns dos perigos associados adoo de sistemas

    ERP: a adequao do processo de negcio ao sistema, e no o contrrio, pode

    resultar em perda de vantagem competitiva (por exemplo, perda de flexibilidade); o

    custo de implantao pode ser muito alto; o fato de todos os concorrentes de

    determinado setor utilizarem a mesma soluo de ERP pode minar seu diferencial

    competitivo.

  • 33

    Nah, Lau e Kuang (2001) apontam alguns fatores crticos de sucesso para a adoo

    do ERP por uma empresa:

    Equipe de trabalho de ERP eficiente e bem composta;

    Apoio da alta gerncia;

    Viso e plano de negcios claro;

    Comunicao efetiva;

    Boa gesto de projeto;

    Existncia de um lder (champion) do projeto;

    Sistemas legados e de negcio apropriados;

    Mudana no programa e cultura de gesto;

    Uso do BPR (Business Process Reengineering) e customizao mnima;

    Desenvolvimento, teste e soluo de problemas no software;

    Monitoramento e avaliao da performance;

    II.1.4 Ciclo de vida de sistemas ERP

    As diversas etapas pelas quais passa um projeto de desenvolvimento e utilizao de

    sistemas de informao consistem em seu ciclo de vida. Os ERPs apresentam

    particularidades em seu ciclo de vida devido a sua abrangncia funcional e ao

    aspecto da integrao entre seus diversos mdulos. Conforme Souza e Zwicker

    (2003), um modelo de ciclo de vida para ERP deve contemplar as etapas de deciso

    e seleo, implementao e utilizao, como representado na Figura 2.

  • 34

    DECISO ESELEO IMPLEMENTAO UTILIZAO

    Pacoteselecionado

    Plano deimplementao

    Fase 1

    Fase 2

    Fase n

    Fase 1

    Fase 2

    Fase n

    Mdulos parametrizados,customizados.

    Dados migradosUsurios treinados

    Novas necessidades, conhecimento acumulado e parmetros jestabelecidos

    Figura 3: Modelo de ciclo de vida de sistemas ERP

    (adaptado de Souza e Zwicker (2003))

    Na etapa de deciso a empresa decide implementar um sistema ERP e escolhe o

    fornecedor. Fundamental nesta etapa tomar uma deciso baseada na

    compatibilidade entre a organizao e as caractersticas dos sistemas ERP

    disponveis no mercado.

    A escolha do fornecedor, segundo Beheshti (2006), pode ser feita de trs maneiras:

    limitar a escolha a um ou dois fornecedores, com seus produtos e servios

    (demanda pouco tempo, mas pode no detectar a melhor opo); estudo detalhado

    de todos os fornecedores disponveis (demanda tempo e custa caro, mas tem mais

    chances de resultar na melhor escolha); estudo superficial geral e limitao a dois

    candidatos (meio termo entre as duas maneiras anteriores). Grandes fornecedores,

    como SAP e Oracle, oferecem maior quantidade de mdulos, excelente suporte

    contnuo e upgrades, mas so mais caros e mais padronizados, necessitando

    maiores alteraes nos processos de negcio. Sistemas de fornecedores menores

    oferecem mdulos direcionados a setores especficos do mercado, necessitando

    desta forma menos mudanas operacionais e reduzindo o custo de implantao

    total. Deve-se considerar ainda a terceirizao de mdulos como uma opo: uma

    forma de transformar custos fixos em variveis, e repassar custos de manuteno e

    upgrade para o fornecedor. A desvantagem da terceirizao a necessidade de boa

  • 35

    dose de confiana no prestador de servio (dados confidenciais), e uso de medidas

    de segurana avanadas (pois os dados so enviados atravs da internet).

    Souza e Zwicker (2003) definem critrios que podem ser utilizados na escolha do

    pacote comercial: adequao da funcionalidade do pacote aos requisitos da

    empresa (aderncia), arquitetura tcnica do produto, custo de implantao,

    qualidade do suporte ps-venda, sade financeira e viso de futuro do fornecedor.

    Na etapa de implantao os mdulos do sistema so colocados em funcionamento

    na empresa. Esta etapa envolve a adaptao dos processos de negcio ao sistema,

    a parametrizao e eventual customizao do sistema, a carga ou converso dos

    dados iniciais, a configurao do hardware ou software de suporte, o treinamento de

    usurios e gestores e a disponibilizao de suporte e auxlio. Podemos considerar a

    etapa de implantao essencialmente como uma etapa de eliminao de

    discrepncias at que a operao possa ser iniciada com chances de sucesso.

    Essas discrepncias so resolvidas basicamente de quatro maneiras: ou adapta-se

    o pacote, ou adaptam-se os processos da organizao, ou adapta-se tanto o pacote

    como os processos, ou convive-se com a discrepncia.

    No que diz respeito adaptao do sistema ERP aos processos da empresa, esta

    pode ser feita atravs de parametrizao ou customizao (desenvolvimento de

    programas extras para complemento de funes existentes). O processo especfico

    de adaptao de um sistema ERP legislao e s prticas de negcio de

    determinado pas conhecido como localizao.

    A etapa de implantao est entre as mais crticas, pois envolve mudanas

    organizacionais que implicam alteraes nas tarefas e responsabilidades de

    indivduos e departamentos, alm de transformaes nas relaes entre os diversos

    departamentos. Tais mudanas devem conduzir otimizao localizada de

    atividades departamentais e otimizao global dos processos da empresa, e

    necessitam de intensa participao e comprometimento da alta direo da empresa.

    Alguns dos riscos presentes na etapa de implantao, segundo Huang (2004), so:

  • 36

    comunicao ineficaz com o usurio, conflito entre os departamentos dos usurios,

    fracasso em conseguir o apoio do usurio, e falta de treinamento do usurio final.

    Ainda na etapa implantao, deve-se decidir como ser iniciada a operao do ERP

    na empresa: modelo big bang, ou seja, entrada em funcionamento de todos os

    mdulos em todas as divises simultaneamente; modelo small bang, ou seja,

    entrada em funcionamento de todos os mdulos sucessivamente em cada uma das

    fbricas ou divises; ou implantao em fases, com os mdulos sendo implantados

    em etapas, em todas ou em cada uma das divises.

    Por fim, temos a etapa de utilizao, na qual o sistema passa a fazer parte do dia-a-

    dia das operaes. O conhecimento de todas as possibilidades de uso dos sistemas

    ERP se estabelece apenas aps certo tempo de uso continuado da tecnologia, o

    que resulta na realimentao da etapa de implantao com novas possibilidades e

    necessidades, a serem resolvidas por novos mdulos, pela parametrizao ou pela

    customizao. Neste caso, e no caso da implantao por fases, deve-se levar em

    conta a limitao que os mdulos j implantados exercem sobre os mdulos a serem

    implantados, uma vez que a sua configurao j est definida e uma vez que o

    mdulo que j se encontra em operao tem sua modificao dificultada.

    II.2 GESTO POR PROCESSOS E TI

    II.2.1 Introduo

    A dcada de 90 presenciou o surgimento de dois conceitos que tiveram grande

    impacto sobre as empresas e negcios do mundo inteiro: a Gesto por Processos e

    a Nova Economia.

    A Nova Economia representa a globalizao da economia, a competio entre

    empresas em mbito global. As empresas atualmente esto integradas a um nico

    mercado mundial, e fatos que ocorrem em um ponto do planeta podem ter

    repercusso no resto do mundo. Nestas organizaes transnacionais, a TI tem papel

    fundamental: ela possibilita a existncia de novas estruturas organizacionais, de

  • 37

    novas estratgias de negcio, e de novas formas de relacionamento com o cliente e

    entre empresas. Alm disso, o avano da TI o fator que viabiliza a integrao em

    escala planetria, e, em ltima instncia, a existncia da Nova Economia.

    J a Gesto por Processos prope que a seqncia de atividades que agregam

    valor empresa passe a ser o foco de sua gesto. A diviso em departamentos

    funcionais deixa de ser o critrio principal para analisar a melhor maneira de

    desempenhar tais atividades. Isto possibilita grandes ganhos de eficincia e

    competitividade, fundamentais num mercado cada vez mais globalizado e disputado.

    A idia de buscar a melhor maneira de desempenhar as atividades no uma

    novidade, tendo suas origens na Administrao Cientfica do comeo do sculo XX,

    passando por tcnicas de O&M (Organizao e Mtodos), e pelo conceito de

    melhoria contnua das tcnicas de administrao japonesas, bastante populares

    nos anos 80. Entretanto, a origem mais imediata da gesto baseada em processos

    a chamada Reengenharia, ou BPR (Business Process Reengineering), surgida na

    dcada de 90.

    A Reengenharia afirma que as novas prticas de gesto devem responder a trs

    foras que atuam sobre a empresa: os clientes, a concorrncia e a mudana. A idia

    que a empresa abandone procedimentos consagrados e paradigmas e reestruture

    sua forma de trabalhar para criar produtos e servios que proporcionem valor aos

    clientes. Trata-se, portanto, de uma mudana radical no funcionamento dos

    processos, e no de uma melhoria contnua a partir dos processos pr-existentes.

    Hammer e Champy (1994), dois dos criadores do termo, afirmam que

    Reengenharia significa repensar e redesenhar radicalmente os processos de

    negcio para atingir melhoria dramtica em medidas de performance atuais e

    crticas, como custo, qualidade, servio e velocidade.

    A discusso acerca da otimizao dos processos organizacionais e sua readaptao

    em funo da estratgia da empresa implica freqentemente na necessidade de

  • 38

    novas aplicaes de TI. A TI viabiliza a aplicao concreta e bem sucedida da

    Gesto por Processos nas empresas, e esta por sua vez pode promover o

    alinhamento entre as estratgias de negcio e TI da empresa.

    O prprio papel da TI nas organizaes modificou-se drasticamente nas ltimas

    dcadas: do simples processamento de dados nos anos 60, para os sistemas de

    informao gerenciais dos anos 70, para os atuais sistemas de informao

    estratgicos (que procuram mudar a forma como a empresa conduz seu negcio).

    O surgimento dos sistemas ERP na dcada de 90 tornou possvel promover a

    integrao das informaes e do fluxo de todas as atividades da empresa atravs de

    um nico banco de dados. Entretanto, so comuns os casos de implantao mal-

    sucedida ou mesmo traumtica de tais sistemas de informao. As principais causas

    destes fracassos so tentativas de integrao de funes e atividades que

    historicamente sempre foram tratadas separadamente, ou tratamento distinto do

    recurso tecnolgico a ser implantado e do processo de mudana organizacional.

    Conforme Davenport (1993), os processos de negcio so importantes neste caso

    por serem responsveis pela execuo de procedimentos decorrentes da estratgia

    corporativa, ou pelo sucesso do modelo de negcios da organizao. Como

    possuem natureza basicamente multifuncional, ultrapassando os limites da estrutura

    organizacional tradicional, os processos devem ser analisados criteriosamente, para

    que as mudanas associadas ao ERP sejam bem sucedidas. Tais mudanas

    incluiriam o alinhamento dos conhecimentos gerados pelos diversos departamentos,

    relacionando tais conhecimentos as mais variadas funes e sub-processos de

    negcio.

    Empresas com estrutura funcional departamentalizada, ou seja, que no empregam

    a Gesto por Processos, costumam se deparar com problemas como: a eficincia

    dos setores individuais no corresponde eficincia do todo; e dificuldade de

    desempenhar trabalhos que requerem cooperao de diferentes departamentos.

    Implementar sistemas de informao como o ERP em empresas organizadas desta

    forma no o mais adequado. Nestes casos, recomenda-se a reviso das

  • 39

    atividades em termos de processos-chave, que seriam identificados, analisados e

    melhorados antes da aplicao do sistema. Ou seja, a adoo de sistemas de

    informao para integrao e da Gesto por Processos est profundamente inter-

    relacionada.

    II.2.2 Gesto por Processos: definio

    Analisando organizaes estruturadas de maneira tradicional, em unidades

    funcionais, observam-se freqentemente as seguintes caractersticas:

    A eficincia dos diferentes setores obtida s custas da eficincia da

    empresa como um todo;

    Fluxos de trabalho complexos, propcios a erros, lentos e compostos por

    muitas tarefas dificultam a melhora na qualidade;

    Ausncia de responsvel direto por processos, por respeito hierarquia

    funcional;

    Dificuldade em desempenhar papis que requerem cooperao e

    coordenao entre diferentes departamentos;

    Tambm possvel fazer uma comparao entre os pontos fortes e fracos inerentes

    a esta estrutura organizacional, conforme retratado na Tabela 2.

  • 40

    Tabela 2: Vantagens e desvantagens de uma organizao hierrquica (vertical).

    Fonte: Netto (2006)

    Desta forma, embora a organizao hierrquica (verticalizada) possua atrativos e

    consiga proporcionar o conhecimento por parte de cada indivduo de sua funo na

    empresa, no fluxo horizontal de atividades que ocorre a verdadeira adio de valor

    aos produtos e servios. A transformao de uma estrutura verticalizada em uma

    estrutura horizontal, por processos, demanda esforo de mudana e adaptao

    interna. A Gesto por Processos uma das ferramentas de gesto de operaes

    que se prope a promover tal mudana.

    Mas o que um processo de negcio? Zairi e Sinclair (1995) definem processo

    como a maneira como todos os recursos de uma organizao so utilizados de

    forma confivel, consistente e repetvel para atingir os objetivos da mesma. As

    quatro caractersticas chave de um processo so:

    Inputs previsveis e definveis;

    Uma seqncia lgica ou fluxo linear;

    Um conjunto de tarefas ou atividades claramente definidas;

    Um resultado ou produto desejvel e previsvel;

    Vantagens das estruturas funcionais Desvantagens das estruturas funcionais

    Possibilidade de desenvolvimento de

    carreiras especializadas em reas

    localizadas de interesse

    Descentralizao das solicitaes dos

    clientes para as diversas reas

    Capacidade de obteno de conhecimento

    em reas particulares dentro da

    organizao

    Foco da organizao na alta administrao

    e no no cliente.

    Grupos especializados de trabalho em

    nmero reduzido atendendo diversas

    reas

    Coordenao sobre macroprocessos

    fraca e existem diversos trabalhos

    improdutivos derivados das barreiras

    funcionais

  • 41

    Neste contexto, espera-se que uma estrutura organizacional horizontal melhore a

    capacidade da empresa de adaptao ao gosto do consumidor (customizao),

    aumente sua velocidade de reao s mudanas no mercado, bem como a

    eficincia e eficcia de seus processos. Outras vantagens da viso por

    macroprocessos de uma organizao:

    Mostra relacionamentos internos e externos entre cliente e fornecedor, por

    meio dos quais so gerados produtos e servios;

    Ultrapassa as fronteiras funcionais e permite ver como as atividades que

    adicionam valor ao cliente so de fato desempenhadas;

    Inclui os trs elementos necessrios para descrever um negcio: cliente,

    produto e fluxo de trabalho;

    Favorece o trabalho em equipe e permite que cada um veja como seu

    trabalho se encaixa no processo total;

    Dentre as empresas que se prope a adotar a Gesto por Processos, predomina a

    estrutura matricial, que nada mais do que um cruzamento entre as interfaces

    vertical e horizontal (funcional e por processo). Dependendo da organizao, pode

    ser dado maior ou menor enfoque ao aspecto funcional dentro da estrutura matricial:

    predominantemente funcional, matricial equilibrada, estrutura por processo puro.

  • 42

    Alta administrao

    Finanas Operaes Comercial

    Compras P & D Produo Logstica Vendas

    CLIENTE

    Compras P & D Produo Logstica Vendas

    CLIENTE

    Organizao tradicional, com foco nas funeshierrquicas e departamentos

    Viso por processos, que atravessa as funeshierrquicas de modo a criar valor para o cliente

    Figura 4: Estrutura funcional comparada estrutura por processos.

    Adaptado de Netto (2006)

    Conforme Netto (2006), a Gesto por Processos pode ser conceituada como o

    enfoque sistmico de projetar e melhorar continuamente os processos

    organizacionais, por pessoas potencializadas e trabalhando em equipe, combinando

    capacidades tecnolgicas emergentes e sob uma postura filosfica para a qualidade,

    objetivando a entrega de valor ao cliente .

    Zairi e Sinclair (1995) por sua vez definem a Gesto por Processos como uma

    abordagem estruturada para analisar e melhorar continuamente atividades como as

    de manufatura, marketing, comunicaes, e outros elementos principais da operao

    de uma empresa.

    Dentre os objetivos principais da Gesto por Processos, pode-se enumerar:

    Aumentar o valor do produto ou servio segundo a percepo do cliente;

    Simplificar processos, unificando ou eliminando tarefas que no adicionam

    valor ao cliente;

  • 43

    Aumentar a produtividade, a eficcia e a eficincia;

    Aumentar a competitividade, buscando estratgias inovadoras de negcio;

    Focar nas estratgias competitivas consideradas as mais importantes pela

    empresa: custo, qualidade, confiabilidade de entregas, velocidade de fluxo,

    flexibilidade, etc.

    Quanto aos princpios fundamentais e regras da Gesto por Processos, temos:

    Criar responsveis dos processos;

    Obter a informao uma nica vez e direto da fonte;

    Enfoque sistmico dos processos e busca contnua por otimizao atravs de

    soluo de problemas;

    Tratar recursos dispersos geograficamente como se eles estivessem

    centralizados;

    Atribuir as decises e processamento da informao do processo ao ponto

    onde o trabalho realizado

    Permitir queles que usam as sadas dos processos executarem o processo;

    Atividades principais precisam ser mapeadas e documentadas

    Foco no consumidor atravs de ligaes horizontais entre atividades chave

    Disciplina, consistncia e capacidade de repetir a performance em termos de

    qualidade, atravs de documentos e procedimentos documentados;

    Apoio em indicadores de performance de cada processo individual, e

    determinao de metas e nveis de produo para atingir os objetivos

    corporativos;

    Inspirao em best practices para assegurar alta competitividade

    A Gesto por Processos uma abordagem para mudana cultural, no sendo

    suficiente a simples existncia de bons sistemas e a estrutura certa.

  • 44

    Figura 5: Uma estrutura de Gesto por Processos (BPM).

    Adaptado de Tread (2006).

    Existe um problema de nomenclatura envolvendo o conceito de Gesto por

    Processos, pois diversos nomes j foram atribudos a este modelo de gesto desde

    seu surgimento. O primeiro termo a ser amplamente difundido foi Reengenharia, no

    comeo dos anos 90, mas este termo est muito associado ao projeto da mudana

    organizacional, o que no contempla o carter de administrao de operaes,

    tambm inerente ao conceito discutido neste trabalho. Por este motivo, optou-se

    pela nomenclatura Gesto por Processos, que no deve ser encarada como

    sinnimo de Reengenharia.

    Na verdade, a Gesto por Processos um conceito mais amplo que procura

    fornecer diretrizes para o negcio da empresa tanto em suas atividades de melhoria

    contnua quanto nos projetos de mudana por ruptura. Se considerarmos um

    enfoque sistmico da melhoria da qualidade e produtividade (Q&P), podemos dizer

    que este composto por trs vetores: Tecnologia de Informao (TI), Filosofia da

    Qualidade (FQ), e Potencializao (ou empowerment) e Trabalho em Equipe (PTE).

    Aqui se entende filosofia da qualidade (FQ) por toda base conceitual associada

  • 45

    qualidade total (TQM) e melhoria contnua. Potencializao (PTE) trata dos fatores

    que garantem que as pessoas possam de fato obter o poder de que necessitam para

    inovar e tomar decises. Projetos de mudana por ruptura (tipicamente

    Reengenharia) apiam-se fortemente na interao entre as aplicaes de TI e

    pessoas com poder de deciso (PTE). J a prtica de atividades de melhoria

    contnua (Kaizen, TQM) apia-se em valores conceituais de qualidade (FQ) e

    execuo por pessoas com autonomia (PTE). A Gesto por Processos uma soma

    destes vetores de Q&P, e, em ltima instncia, uma sobreposio dos conceitos de

    Reengenharia e melhoria contnua (TQM), uma vez que ambos os conceitos podem

    ser adotados de maneira integrada.

    Davenport (1993) recomenda a adoo integrada da Reengenharia e da melhoria

    contnua, listando quatro abordagens diferentes para a integrao entre os

    conceitos:

    Seqncia de iniciativas de mudana: aperfeioamento gradual de operaes

    entre momentos distintos de reestruturao. Ou seja, alternncia entre

    Reengenharia de processos e melhoria contnua dos mesmos.

    Criao de um portflio de processos: envolve mapear todos os processos da

    organizao e definir que tipo de mudana necessria em cada caso

    (reformulao ou melhoria gradual).

    Limitar o escopo da modelagem de processos: a Reengenharia se limita a

    definir o funcionamento macro dos processos, seus inputs e outputs. O

    detalhamento fica a cargo dos funcionrios diretamente envolvidos com o

    processo.

    Obter melhoria atravs da inovao: combina melhoria em curto prazo e

    inovao em longo prazo . Consiste em adotar pequenas melhorias nos

    processos que de alguma forma conduzam a inovao ou tendncias futuras.

    preciso ressaltar que a adoo da Gesto por Processos no necessariamente

    desejvel em todas as circunstncias. O fato de a maior parte das abordagens por

    processo resultar em estruturas matriciais nas organizaes causa instabilidade e

    aumenta o nvel de conflitos internos. Esta instabilidade gera necessidade de

  • 46

    coordenao e, em ultima instncia, custos. Embora isto no signifique que uma

    empresa gerida por processos ser sempre mais custosa do que uma gerida

    funcionalmente, pode-se dizer que a abordagem por processos no compensa em

    ambientes onde a competio restrinja -se a custos. Alm disso, antes da adoo da

    Gesto por Processos, deve-se fazer uma anlise do benefcio esperado em face ao

    investimento necessrio, incluindo comparao com outros investimentos possveis

    para a empresa.

    Os gestores das empresas muitas vezes procuram reduzir a abrangncia da

    abordagem por processos, restringindo-a a alguns processos chave, aos processos

    mais operacionais, ou confinando-a a reas to amplas que nenhum participante

    tem uma viso clara e completa da cadeia de adio de valor. Esta atitude

    compromete enormemente a eficcia da adoo desta ferramenta de gesto, e

    motivada muitas vezes pela crena equivocada de que a competio na empresa se

    d apenas na dimenso de custo.

    Os riscos associados implantao propriamente dita da Gesto por Processos so

    diversos, entre eles:

    Melhoria de processos no ligados estratgia de negcio;

    Falta de envolvimento da alta administrao;

    Equipes mal direcionadas, no avaliadas pelo cumprimento de metas, ou que

    no conseguem implantar um sistema de avaliao, fundamental para a

    melhoria contnua dos processos;

    Falta de liderana ou metodologia de implantao.

    Falta de alinhamento do departamento de RH a mudana, ou falta de

    funcionrios capacitados;

    II.2.3 Importncia da TI na Gesto por Processos

    Davenport (1993) afirma que importante efetuar uma reflexo sobre processos e

    ajudar as empresas a compreender como elas podem modificar seus processos.

    Uma vez alcanados estes objetivos, possvel incluir a inovao e a melhoria de

  • 47

    processos como fatores intermedirios mais importantes nos estudos das vantagens

    dos investimentos em TI.

    Tais estudos devem considerar que os investimentos em TI no possuem um va lor

    direto, mas sim um potencial para derivar valor. Desta forma, estes investimentos

    no so um assunto de tecnologia, mas sim um assunto de negcios, podendo ser

    medidos e gerenciados por um controle de perdas e lucros.

    Assim, o valor de um investimento de TI corresponde a quanto este investimento

    contribuiu para que a organizao se tornasse mais eficiente e eficaz ou seja, seu

    impacto sobre os processos de negcio.

    Segundo Davenport (1993), as oportunidades para apoiar a abordagem por

    processos com a Tecnologia de Informao se enquadram em pelo menos nove

    categorias diferentes, que tm como objetivo comum a reduo de custos,

    eliminao de tempo gasto nos processos, e assim por diante.

    Tabela 3: Categorias de impacto do uso da TI para a Gesto por Processos.

    Fonte: Davenport (1993)

    IMPACTO MOTIVO

    Automao Eliminao de mo de obra em um processo

    Informao Coleta de dados a respeito de um processo para anlise futura

    Seqncia Mudana na seqncia na qual o processo desempenhado

    Acompanhamento Monitoramento rigoroso da situao e objetos de processo

    Analtico Melhora na anlise de informao e suporte a tomada de

    deciso

    Geografia Coordenao de processos em localidades fsicas diversas

    Integrao Coordenao entre tarefas e processos

    Intelectual Armazenamento e disseminao de bens intelectuais

    Simplificao Eliminao de intermedirios em um processo

  • 48

    Muitas vezes, entretanto, a experincia de implantao da ferramenta de TI no

    boa, com as potencialidades do sistema no sendo totalmente aproveitadas. Isto

    ocorre quando o foco da implantao na TI como ferramenta, e no como um meio

    de mudanas gerenciais nos processos ou em como a empresa esta estruturada.

    Este aspecto bastante importante no caso da Gesto por Processos, visto que a

    mudana fundamentalmente estrutural e deve ter a TI como apoio, no como

    objetivo final, sob risco de no atingir os benefcios esperados com a abordagem por

    processos.

    Por ocasio da adoo da Gesto por Processos, a Tecnologia de Informao pode

    contribuir de duas formas diferentes: no auxlio do projeto dos processos, ou no

    auxlio da construo e operao dos processos de trabalho (em geral, automao).

    Dentro das ferramentas de projeto, existem aquelas focadas em simulao, e outras

    focadas em modelagem. Na simulao de processos, a ferramenta permite que se

    modele o funcionamento de determinada operao e em seguida utiliza modelos

    matemticos para projetar o desempenho esperado desta operao. Entre outras

    coisas, a simulao til no dimensionamento do processo analisado. J a

    modelagem procura representar os processos atravs de smbolos, ou seja, fazer

    um desenho do mesmo. As ferramentas mais sofisticadas funcionam de forma que,

    medida que o projetista desenha o fluxo de atividades, so salvas informaes

    sobre as caractersticas de cada atividade em um banco de dados, utilizado

    posteriormente pelo software de apoio ao processo.

    J as ferramentas de automao de processos reduzem a necessidade de trabalho

    manual, armazenam todas as informaes pertinentes ao processo e automatizam

    tarefas repetitivas. Para tal finalidade esto disponveis diversas solues no

    mercado, algumas incorporadas em pacotes de maior abrangncia, como os ERPs,

    e outras especificas para a gesto de processos. Vale ressaltar que por conta da

    grande variabilidade dos processos encontrados nas organizaes, no existe uma

    soluo universal que atenda a qualquer tipo de processo. Isso torna fundamental o

    uso de critrios claros e uma metodologia de anlise objetiva para a seleo da

  • 49

    ferramenta de Gesto de Processos, para evitar que o sucesso da implantao seja

    posto em risco devido a uma escolha equivocada.

    Existem diferentes tipos de informao acerca de processos que precisam ser

    gerenciadas. O primeiro objeto a ser identificado so as atividades, que consistem

    nos passos a serem seguidos para realizar o processo. Outro objeto so as rotas, ou

    os caminhos que devem ser seguidos para o desempenho das atividades. Os

    operadores correspondem s pessoas que executam as tarefas. Por fim, os

    documentos englobam as informaes a respeito do contedo do trabalho em

    andamento. Cada processo particular apresenta uma relao especfica entre seus

    objetos. Desta forma, uma ferramenta de gerenciamento de processos pode possuir

    graus variados de automao, ou mesmo ser totalmente manual. Ela pode

    armazenar desde dados e documentos digitais a endereos fsicos de documentos

    reais. As rotas podem ser manuais, mas costumam ser automatizadas, podendo

    enviar notificaes automticas aos operadores ao fim de uma etapa, ou mesmo

    registrar tempos de atendimento e espera.

    No que diz respeito especificamente automao, esta comporta uma imensa gama

    de possibilidades que vo alm do aspecto tecnolgico e so muito importantes para

    a Gesto por Processos. Conforme Pessa e Storch (2006), os aspectos principais

    da automao so: prover instrumentos para o controle estratgico e gerencial;

    assegurar responsabilizao; dissociar o fluxo de informao do fluxo de

    documentos; e assegurar instantaneidade do fluxo de informao.

    Prover instrumentos para o controle estratgico e gerencial: a possibilidade

    de focar a gesto nos processos implica na necessidade de enxergar

    processos de forma agregada, no como dados dispersos relativos a cada

    vez que o processo foi desempenhado, mas sim como indicadores -

    indicadores estes que devem ser gerados de maneira gil e flexvel pela

    ferramenta escolhida.

    Assegurar a responsabilizao: trata-se de assegurar que responsabilidades

    individuais, nos nveis operacional e gerencial, sejam claramente identificadas

    e estejam visveis para todos que possam intervir no processo para garantir

    sua qualidade.

  • 50

    A tecnologia escolhida para automao de processos deve permitir a

    dissociao do fluxo de informaes do fluxo de documentos de duas

    maneiras: a substituio de documentos de papel por documentos digitais e a

    supresso radical do prprio documento de forma completa.

    Fluxo instantneo de informaes nos processos: Isto j factvel graas aos

    avanos tecnolgicos dos ltimos anos, faltando apenas o redesenho de

    processos e dos ciclos de aprendizado das pessoas, equipes e organizaes

    para entenderem as informaes que recebem e para tomarem decises de

    forma gil, tanto individual quanto coletivamente.

    Finalmente, preciso verificar se as ferramentas de TI podem atender

    satisfatoriamente aos requisitos exigidos para a gesto de processos. Para tanto,

    til agrupar os processos em categorias. Koch apud Pessa e Storch (2006),

    identifica as seguintes categorias:

    Processos tipo colaborativo: so processos com pouqussima ou nenhuma

    repetitividade, como projetos, cujo valor o contedo gerado, seus

    documentos.

    Processos tipo administrativo: so processos com alta repetitividade e baixo

    valor em suas etapas.

    Processos tipo produo: so processos com alta repetitividade, mas cujas

    etapas envolvem alto valor.

    Processos tipo ad-hoc: so atividades cuja prxima etapa no bem definida

    e pode ocorrer cada vez de maneira distinta, tal qual situaes de

    emergncia.

    Uma organizao que adote a abordagem por processos precisa enquadrar seus

    processos nas categorias acima definidas e selecionar ferramentas capazes de lidar

    com estas categorias de forma eficiente.

  • 51

    II.3 SISTEMAS DE BPM (BPMS)

    II.3.1 Introduo

    Assim como o nmero de organizaes que adotam a Gesto por Processos tem

    crescido continuamente, algumas das mais influentes grandes corporaes do

    mercado tm colocado as demandas por automao de processos entre suas

    prioridades. Isto se deve a uma srie de fatores, entre os quais podemos destacar:

    Presses do mercado por iniciativas que confiram maior velocidade s

    empresas e flexibilidade a seus processos, alm de presses dos governos e

    sociedade por maior governana corporativa.

    Maior integrao de cadeias de valor entre empresas e avano da

    terceirizao, incluindo a terceirizao de processos inteiros.

    Discusso aprofundada a respeito de prticas gerenciais como programas de

    qualidade total (TQM) e Reengenharia, que desde os anos 80 oscilam em

    termos de popularidade junto aos gerentes. Essa oscilao criou um

    movimento pendular na rea de gerenciamento de processos, entre o

    radicalismo e profundidade das mudanas defendidas pela Reengenharia, e o

    carter incremental dos programas de TQM.

    Necessidade de corrigir problemas associados aos sistemas ERP, que

    proliferaram nos anos 90, ou de tornar o investimento em tais sistemas

    rentvel. Em especial, procura-se reduzir o enrijecimento dos processos de

    negcio da empresa aps a implantao, atravs da transferncia do trabalho

    de adaptao incremental dos processos do analista de sistemas para o de

    negcios (ou processos).

    A resposta a esta demanda por sistemas que dem suporte a Gesto por Processos

    so justamente os BPMS (Business Process Mangement Systems). Deve-se

    ressaltar, porm, que a existncia destes sistemas s foi possvel graas ao

    desenvolvimento e amadurecimento recente de diversas tecnologias, como por

    exemplo, a Internet, as assinaturas e autenticaes digitais, o prprio ERP, a

    convergncia entre recursos de telecomunicaes e de TI, a convergncia de

  • 52

    contedos para mdia digital, o aumento da velocidade de processamento e

    transmisso de dados em redes, o middleware, etc.

    Outras tecnologias esto ainda em suas etapas iniciais de desenvolvimento, mas j

    vm dando grande impulso ao BPMS e a Gesto por Processos. Vale ressaltar: a

    XML (Extended Markup Language), linguagem que permite a marcao de textos e

    figuras com tags para uso humano, alm da definio de campos para metadados;

    os padres de modelagem de processo, definidos pela WfMC (Workflow

    Management Coalition) e OMG (Object Management Group); e o desenvolvimento

    da BPML (Business Process Modeling Language) e BPMN (Business Process

    Modeling Notation).

    II.3.2 Definio do BPMS

    Basicamente, o BPMS representa uma convergncia das tecnologias de automao

    do Workflow, gerenciamento de imagens, GED (Gerenciamento Eletrnico de

    Documentos), EDMS (Engineering Document Management Systems) e ECM

    (Enterprise Content Management). Em outras palavras, o BPMS o ponto de

    convergncia das diversas tecnologias que concorriam para atender as

    necessidades da Gesto por Processos, procurando responder em especial s

    limitaes da gerao anterior de tecnologias de Workflow. (PESSA; STORCH,

    2006).

    Smith e Fingar (2003) definem BPMS como um ambiente de modelagem, integrao

    e execuo para o design, produo e manuteno de processos de negcio.

    Silver (2007) afirma que o BPMS uma plataforma fundamental para a realizao

    da inovao, eficincia, aderncia s regras e agilidade prometidas pela Gesto por

    Processos. Os BPMS apiam todo o ciclo de vida de implantao de processos,

    desde a modelagem at o design da implantao, execuo e monitoramento de

    atividades de negcio, recebendo feedback para remodelagens e melhora contnua

    de desempenho.

  • 53

    Existe certa confuso no mercado acerca das nomenclaturas Workflow e BPMS.

    Como a tecnologia em questo resultado de um processo evolutivo no linear,

    baseado na evoluo a partir de diversos sistemas pr-existentes, natural que os

    vendedores de software procurem refletir na denominao da categoria de seu

    produto eventuais diferenciais competitivos ou inovaes. Embora existam de fato

    grandes diferenas entre as duas ferramentas, Reijers (2006) afirma que os

    vendedores e analistas de mercado freqentemente ignoram ou minimizam as

    semelhanas entre os BPMS e os sistemas de Workflow, por razes comerciais.

    O Workflow uma ferramenta de automao de processos do final dos anos 80,

    cujo foco so os processos mais crticos das empresas, caracterizados como

    Workflows de produo. Os Workflows de produo so organizados de forma

    semelhante s linhas de montagem industriais, sendo por definio fluxos de

    trabalho com seqncias e atividades estabilizadas e padronizadas, com grandes

    volumes de documentos e processamento.

    As tecnologias de Workflow trouxeram uma srie de avanos que constituram o

    ponto de partida para o desenvolvimento dos sistemas de BPM. Exemplos destes

    avanos so os formulrios eletrnicos (eliminando documentos que apenas

    transmitiam fisicamente informaes entre as etapas do processo), as imagens

    digitalizadas (mais uma vez, eliminao do uso de papel), e as regras de negcio

    internalizadas no sistema (padronizando decises simples ou restringindo as

    alternativas de deciso dos usurios). Pode-se dizer que o Workflow tornou mais

    fcil a relao entre homem e mquina, integrando tarefas automatizveis com

    tarefas cuja participao do homem imprescindvel.

    Entretanto, as demandas da Gesto por Processo envolviam recursos que o

    Workflow no possua, visto que as bases tecnolgicas existentes ento ainda no

    estavam desenvolvidas o suficiente. Os sistemas de BPM, atravs das novas

    tecnologias dos anos 90, resolveram muitas destas limitaes, tais como a

    necessidade de integrao com bancos de dados corporativos, integrao com

    aplicativos sem interveno do usurio, integrao business to business (B2Bi),

    operao em tempo real, linguagem padronizada para a representao dos

  • 54

    processos e reduo do custo de licenas. Alm disso, os sistemas BPM

    contemplam todos os processos de uma organizao, e no apenas os Workflows

    de produo. Isto inclui os chamados Workflows ad hoc, que, em relao aos

    Workflows de produo, apresentam menor grau de previsibilidade, menor

    padronizao de tarefas e menores volumes de documentos ou seja, so fluxos de

    trabalho que requerem maior improvisao e uso da inteligncia humana.

    Por fim, deve-se ressaltar que o objetivo principal da adoo dos sistemas de BPM

    no a substituio de trabalho humano pelo trabalho de mquinas, mas sim a

    eliminao completa de atividades que sacrificam o uso da inteligncia humana e a

    eliminao do tempo gasto entre tarefas.

    II.3.3 Caractersticas fundamentais de um sistema de BPM

    Aps a definio do BPMS, podem-se apresentar suas principais funcionalidades. A

    seguir so descritas as caractersticas fundamentais de um sistema de BPM,

    segundo Marcelo e Storch (2006).

    Automao de fluxos de trabalho (Workflow). A engrenagem central de

    funcionamento dos BPMS, originalmente presente nos sistemas de Workflow.

    Permite que os usurios recebam suas tarefas em caixas de entrada, com as

    respectivas instrues normativas e com links para documentos necessrios a

    execuo da tarefa. A execuo da tarefa fica registrada em formulrios

    eletrnicos que alimentam automaticamente histricos de cada caso.

    Eliminao de arquivos paralelos, tanto em papel quanto em diretrios

    pessoais.

    Integrao de processos fim-