98
ALEXANDRE REZENDE MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA DO CICLO OTTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre Profissional em Engenharia Automotiva. Área de Concentração: Engenharia Automotiva Orientador: Prof. Dr. José Roberto Simões-Moreira São Paulo 2009

MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

  • Upload
    vutruc

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

ALEXANDRE REZENDE

MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA

MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA DO CICLO OTTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

para obtenção do Título de Mestre Profissional em

Engenharia Automotiva.

Área de Concentração:

Engenharia Automotiva

Orientador:

Prof. Dr. José Roberto Simões-Moreira

São Paulo

2009

Page 2: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

2

DEDICATÓRIA

Aos meus pais e à Daniella.

Page 3: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

3

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos aos colegas da divisão de powertrain da

empresa Continental pela ajuda prestada, pelas informações bem como pelo apoio

financeiro garantido pela diretoria.

Agradeço ao amigo e professor Simões que me orientou, incentivou e me

ajudou a superar alguns momentos difíceis durante a execução desta dissertação.

À todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização

deste trabalho.

E finalmente à minha família e amigos, que sempre me incentivaram a

superar mais este desafio e pela sua compreensão e paciência pelo tempo que tive

de me dedicar na conclusão deste trabalho.

Page 4: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

4

RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise de desempenho por meio de um modelamento

térmico, de uma nova tecnologia de sistema de partida a frio para aplicação em

motores de combustão do ciclo Otto utilizando injetores aquecidos por meio de

eletromagnetismo. Este novo método ainda em fase de desenvolvimento, tem como

finalidade permitir a partida a frio em baixas temperaturas de veículos movidos a

etanol ou bicombustíveis, e deve ser oferecido como alternativa para substituir o

sistema utilizado atualmente. Presentemente o sistema de partida a frio utiliza um

reservatório auxiliar de gasolina que, por sua vez, traz alguns inconvenientes para o

usuário do veículo, como apontado neste trabalho.

O estudo baseia-se na teoria de transmissão de calor em regime transitório de

sistema concentrado, sendo que o escopo do trabalho é a transmissão do fluxo de

calor da parede do injetor para o combustível etanol. O objetivo foi de criar um

modelo matemático que tem por finalidade simular as interações entre os diversos

parâmetros envolvidos no processo de aquecimento, tais como a potência de

aquecimento e coeficiente médio de transferência de calor.

Particularmente, obteve-se a curva de aquecimento do combustível em função do

tempo no interior do injetor, um parâmetro importante no processo.

Além disso, o texto apresenta ainda uma revisão do estado da arte e, por fim, uma

análise de sensibilidade de alguns parâmetros e seus resultados com comentários

pertinentes e sugestões de trabalhos futuros.

Palavras-chave: etanol, sistema de partida a frio, aquecimento por

eletromagnetismo, injetor aquecido, modelamento térmico.

Page 5: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

5

ABSTRACT

This work presents a performance analysis by using a thermal modeling of a new

cold-start system technology designed for Otto cycle combustion engines based on

the electromagnetic heating principle. This new method of cold-start is still in the

development phase and it enables engine cranking at low temperatures in vehicles

fuelled with ethanol or flex-fuel vehicles (FFV). This new system technology should

be available as an alternative to replace the existing system. Currently, the cold-start

system uses an auxiliary gasoline tank, which brings some inconveniences for the

user as mentioned on this work.

The study is based on the lumped heat transfer theory, since the main target is the

heat transfer flux from the internal injector wall to the ethanol fuel. The aim was to

create a mathematical model that takes into consideration all the parameters

involved on the heating process such heating power and average heat transfer

coefficient.

Particularly, an ethanol heating curve inside the injector was obtained, an important

parameter on the process.

Besides, the text presents a state of the art review, and finally, a sensitivity analysis

of some parameters with its results and comments and suggestions for further

studies.

Keywords: ethanol, cold-start system, electromagnetic heating, heated injector,

thermal modeling.

Page 6: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 Motor e sistema auxiliar de partida a frio com respectivo ponto

de injeção no corpo de borboletas........................................................16

Figura 2.2 Desenho esquemático de um sistema auxiliar de partida a frio

e seus componentes.............................................................................20

Figura 2.3 Componentes do sistema auxiliar de partida a frio...............................22

Figura 2.4 Fluxograma simplificado de ativação do sistema auxiliar de

partida a frio..........................................................................................23

Figura 2.5 Injetor de combustível Deka VII............................................................24

Figura 2.6 Componentes de um injetor..................................................................26

Figura 2.7 Gráfico tensão x vazão de um injetor em função do tempo..................27

Figura 2.8 Geometria dos jatos dos injetores.........................................................29

Figura 2.9 Partida a frio com redução de emissões de HC's quando injetor

opera aquecido.....................................................................................30

Figura 2.10 Injetor aquecido CVSmaxV e seus principais componentes.................31

Figura 2.11 Conector do injetor aquecido CVSmaxV...............................................32

Figura 2.12 Diferença entre os sinais com aquecimento ligado e desligado...........33

Figura 2.13 Princípio de funcionamento por indução...............................................34

Figura 2.14 Desenho esquemático de um arranjo típico de aquecimento

por indução...........................................................................................35

Figura 2.15 Fiat 147 – Primeiro veículo de série movido a etanol no

mercado brasileiro................................................................................37

Figura 2.16 Produção brasileira de etanol (anidro + hidratado)...............................39

Figura 2.17 Veículos Flex-Fuel de alguns fabricantes nacionais.............................41

Figura 2.18 Licenciamento de automóveis e comerciais leves

no Brasil (ciclo Otto)..............................................................................42

Figura 2.19 Sensor de oxigênio (sonda Lambda)....................................................43

Figura 2.20 Sensor de Flex-Fuel de segunda geração............................................44

Figura 2.21 Cálculo de medição e gráfico de correção da constante dielétrica ( )rε em funçao do tempo......................................................45

Page 7: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

7

Figura 2.22 Esquema eletrônico de funcionamento do FFS....................................46

Figura 2.23 Perfil do sinal de saída do FFS.............................................................46

Figura 2.24 (a) Circuito elétrico básico para medição de impedância

da mistura de combustível. (b) Modelo simples paralelo

RC do transdutor..................................................................................47

Figura 2.25 Fórmula estrutural e modelo espacial do etanol (C2H5OH)...................49

Figura 2.26 Influência da curva de evaporação de um combustível no

comportamento do motor.......................................................................51

Figura 2.27 Percentual de evaporação em função da temperatura de

diferentes misturas de etanol................................................................52

Figura 3.1 Diagrama pressão - entalpia comparativo entre injeção

convencional e injeção com efeito ponto de fulgor...............................57

Figura 3.2 Comparativo do spray durante a injeção com e sem

aquecimento..........................................................................................57

Figura 3.3 Curva de evaporação do etanol com ponto crítico................................58

Figura 3.4 Diagrama pressão x entalpia do etanol.................................................59

Figura 3.5 Relaxamento adiabático do etanol no diagrama P,h............................59

Figura 4.1 Principais dados dimensionais do corpo do injetor...............................61

Figura 4.2 Superfície interna (parede) do corpo do injetor.....................................62

Figura 4.3 Espessura do filme fluido combustível..................................................62

Figura 4.4 Esquema térmico para o sistema parede / etanol com

capacidades térmicas concentradas.....................................................70

Figura 4.5 Histórico da elevação da temperatura do etanol e da

parede do injetor em função do tempo para uma potencia

de 100 W e KmWh2/300= ..................................................................78

Figura 4.6 Planilha com histórico de elevação da temperatura em

função do tempo...................................................................................79

Figura 4.7 Gráfico comparativo de potência de aquecimento aplicada

Ao injetor...............................................................................................80

Figura 4.8 Taxa média de elevação da temperatura em função

da potência...........................................................................................81

Figura 4.9 Gráfico comparativo de resultados com a variação do

coeficiente médio de transferência de calor.........................................82

Page 8: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

8

Figura 4.10 Taxa média de elevação da temperatura em função do .h ..................83

Figura 4.11 Descolamento de 12 TTT −=∆ em função de .h ....................................84

Figura 4.12 Injetores CVSmaxV montados no motor EA111...................................85

Figura 4.13 Injetores CVSmaxV instrumentados com termopares..........................86

Figura 4.14 Posicionamento dos termopares no elemento aquecedor

do injetor...............................................................................................86

Figura 4.15 Perfil de temperatura do elemento aquecedor......................................87

Figura 4.16 Unidade controladora de aquecimento dos injetores............................87

Figura 4.17 Aquisição de dados para verificação do controle de

acionamento do aquecimento...............................................................88

Figura 4.18 Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 5 a 80 °C............89

Figura 4.19 Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 0 a 80 °C............90

Figura 4.20 Diagrama proposto de sistema com os injetores e suas

interações.............................................................................................91

Figura 5.1 Simulação de elevação da temperatura para ./400 2KmWh = .............92

Figura 5.2 Aquisição de elevação da temperatura do etanol no

Injetor de 0 a 80°C................................................................................93

Figura 5.3 Simulação de elevação da temperatura para ./170 2KmWh = ..............94

Page 9: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C...........................50

Tabela 4.1 Propriedades de transporte do etanol a 20°C.......................................64

Tabela 4.3 Valores típicos para o coeficiente de transferência de calor

por convecção......................................................................................82

Page 10: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A/D Analógico/Digital

AEAC Álcool Etílico Anidro Combustível

AEHC Álcool Etílico Hidratado Combustível

Ah Ampère-hora

ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

CA Corrente Alternada

CAN Controlled Area Network

CC Corrente Contínua

CHO Aldeídos

CO2 Dióxido de Carbono

CVSmaxV Continental Variable Spray Max Volume

ECU Electronic Control Module

EES Engineering Equation Solver

Ex Percentual de Etanol contido na mistura

FFS Flex-Fuel Sensor

FFV Flex-Fuel Vehicle

Flex Flex-Fuel

HC Hidrocarbonetos

IAA Instituto do Açúcar e do Álcool

Page 11: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

11

INCA Integrated Calibration and Application Tools

INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas

OBD On Board Diagnosis

OH Hidroxila

ON-OFF Liga/desliga

PC Personal Computer

PCM Power Control Module

RON Research Octane Number

RVP Reid Vapor Pressure

SMD Sauter Mean Diameter

UNICA União da Indústria de Cana-de-Açúcar

V Volt

W Watt

Page 12: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

12

LISTA DE SÍMBOLOS

iA Área da superfície [m2]

Bi Número de Biot [-]

pc Calor específico a pressão constante [J/kg.K]

dT Variação da temperatura [K] durante o intervalo de tempo dt [s]

Fo Número de Fourier [-]

ih Entalpia do componente [kJ/kg]

h Coeficiente de transferência de calor médio [W/m2.K]

iK Valor constante K [s/K]

sk Condutividade térmica [W/m.K]

L Comprimento característico [m]

LNu Número de Nusselt [-]

η Rendimento [-]

iP Pressão do componente [bar ou kPa]

elétricaP Potencia elétrica [W]

iρ Densidade do componente [kg/m3]

indq Aquecimento por indução [W]

modq Relação entre indq e iii Vcρ [s/K]

Ra Número de Rayleigh [-]

externaR Resistência externa [-]

ernaRint Resistência interna [-]

t Tempo [s]

Page 13: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

13

iT Temperatura do componente [K]

iV Volume do componente [m3]

x Fração de vapor (título) [-]

Page 14: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................6

LISTA DE TABELAS ..........................................................................................................9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..........................................................................9

LISTA DE SÍMBOLOS .....................................................................................................11

SUMÁRIO...........................................................................................................................14

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16

1.1 Motivação ........................................................................................................................16

1.2 Objetivos..........................................................................................................................17

1.3 Desenvolvimento do trabalho.......................................................................................18

2 REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................................19

2.1 Estado da Arte ................................................................................................................19

2.1.1 Principais componentes do sistema auxiliar de partida a frio..............................20

2.2 Injetores de combustível ...............................................................................................24

2.2.1 Definição ......................................................................................................................24

2.2.2 Componentes de um injetor de combustível padrão ............................................25

2.2.3 Princípio de funcionamento de um injetor ..............................................................26

2.2.4 Modos de operação e características......................................................................27

2.2.5 Injetor aquecido CVSmaxV...........................................................................................30

2.2.6 Características do injetor aquecido CVSmaxV .........................................................31

2.3 Princípio do aquecimento por indução .......................................................................34

2.3.1 Introdução ....................................................................................................................34

2.3.2 Funcionamento do aquecimento por indução ........................................................35

2.4 O Etanol como combustível..........................................................................................37

2.4.1 Introdução: histórico do etanol e sua utilização no Brasil ....................................37

2.4.2 O surgimento e funcionamento dos veículos bicombustíveis (flex-fuel)............41

2.4.2.1 Introdução - veículos bicombustíveis ..................................................................41

2.4.2.2 Veículos bicombustível: princípio de funcionamento e métodos de

reconhecimento do teor de etanol......................................................................................43

2.4.3 Especificação do etanol .............................................................................................49

Page 15: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

15

3 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSITÓRIO E TERMODINÂMICA DO

PROCESSO DE INJEÇÃO .................................................................................................52

3.1 Sistemas com resistência interna desprezível ..........................................................53

3.2 Efeito do ponto de fulgor ...............................................................................................56

3.2.1 Cálculo da fração da massa de vapor .....................................................................59

4 MODELAMENTO ..............................................................................................................61

4.1 Dados dimensionais do corpo do injetor ....................................................................61

4.1.1 Área da superfície de aquecimento e volume........................................................61

4.1.2 Espessura do filme fluido de combustível ..............................................................62

4.2 Aplicação da Teoria da Condução de Calor em Regime Transitório de Sistema

Concentrado – Pré-aquecimento .......................................................................................63

4.2.1 Hipóteses simplificadoras..........................................................................................63

4.2.2 Estimativa do coeficiente médio de transferência de calor por convecção.......63

4.2.3 Cálculo do número de Biot ........................................................................................66

4.3.3 Equacionamento da aplicação da teoria de sistema concentrado .................68

4.3.4 Análise de sensibilidade do modelamento .............................................................78

4.4 Ensaios no motor ...........................................................................................................85

4.4.1 Metodologia .................................................................................................................85

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES....................................................................................92

6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ................................................................95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................97

Page 16: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

16

1 INTRODUÇÃO

1.1 Motivação

Com a introdução no mercado brasileiro dos veículos equipados com motores

a álcool ou etanol, nos meados da década de 80, um problema surgiu: a partida a

frio em baixas temperaturas. Os veículos movidos a etanol, devido às propriedades

físico-químicas deste combustível, quando expostos a baixas temperaturas tendem

a apresentar dificuldades na partida a frio e necessitam de uma fonte externa de

energia para auxiliar nesta condição. Esta fonte externa normalmente é proveniente

de um tanque auxiliar que contém gasolina a qual é injetada no motor durante o

procedimento de partida a frio do motor.

Este método, porém, apresenta certos inconvenientes para o condutor do

veículo tais como: a constante necessidade de verificação do nível e abastecimento

do reservatório auxiliar de gasolina, o envelhecimento deste volume de gasolina

quando o sistema passa longos períodos sem ser utilizado ocasionando

entupimentos no sistema com conseqüente falha no seu funcionamento, o risco de

explosão em caso de acidentes, além da potencial dificuldade no atendimento às

legislações de emissões mais exigentes que deverão entrar em vigor nos próximos

anos, caso o sistema necessite ser acionado.

Diante deste problema, aliado à necessidade de aperfeiçoamento deste

sistema, tornou-se necessário desenvolver um sistema que fosse capaz de auxiliar

na partida a frio do veículo abastecido somente com etanol a temperatura mínima de

5°C negativos, sem injeção de gasolina adicional.

O etanol, por sua vez, possui baixa pressão de vapor e um alto ponto de

fulgor quando comparado à gasolina, o que dificulta sua vaporização em

determinadas condições de temperatura e pressão atmosféricas. Sendo assim, este

combustível necessita de uma fonte de energia externa, a fim de torná-lo apto a se

inflamar e iniciar a combustão no interior da câmara de combustão. Neste caso, a

solução proposta foi a de aquecer o combustível etanol antes de sua injeção, no

interior do injetor utilizando o princípio de indução.

Page 17: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

17

1.2 Objetivos

O trabalho tem como objetivo modelar o sistema de injetores aquecidos por

indução baseados na teoria de transmissão de calor em regime transitório de

sistema concentrado a fim de se criar um modelo matemático que leva em

consideração os parâmetros mais relevantes para o processo de aquecimento do

etanol no interior do injetor.

A fim de se comprovar a confiabilidade deste modelamento, serão realizados

ensaios em amostras de injetores aquecidos montados em um motor real em

câmara fria onde as variáveis mais relevantes do processo tais como tempo

necessário de pré-aquecimento, potência necessária, e coeficiente médio de

transferência de calor poderão ser comparados aos resultados obtidos pelo

modelamento.

Ao final do trabalho, poder-se-á verificar o grau de confiabilidade do

modelamento face aos ensaios e, sendo este representativo, poderá ser utilizado

como uma útil ferramenta para direcionar o desenvolvimento desta tecnologia com

potencial de redução de tempo e custo na construção de amostras, além de auxiliar

no desenvolvimento da arquitetura elétrica veicular uma vez que este leva em

consideração a potência necessária e sua correspondente demanda de energia do

sistema elétrico do veículo em que o sistema poderá ser empregado.

O modelamento poderá ainda ser implementado no algoritmo de software do

sistema de gerenciamento do motor a fim de se estimar a temperatura do etanol em

seu interior uma vez que o aquecimento necessite ser ativado.

Page 18: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

18

1.3 Desenvolvimento do trabalho

No capítulo 2 será realizada uma revisão da literatura e estado da arte do

sistema atual de partida a frio com seus componentes e funcionamento. Serão

abordados tópicos relativos à definição dos componentes e características, princípio

de funcionamento do aquecimento por indução – conceitos, o combustível etanol,

histórico e suas propriedades, funcionamento dos veículos de tecnologia

bicombustível, bem como explanação dos diferentes métodos de reconhecimento do

teor de etanol contido na mistura.

No capítulo 3 será apresentada a teoria de transição de calor em regime

transitório de sistema concentrado na qual o modelamento dos injetores será

baseada.

No capítulo 4 serão apresentados alguns importantes tópicos que servirão

como justificativa para o controle dos parâmetros envolvidos no processo bem como

o desenvolvimento matemático do modelamento e por fim uma análise de

sensibilidade do modelamento dos parâmetros mais importantes com comentários.

No capítulo 5 serão apresentados os resultados dos ensaios dos injetores e

comparativo entre os resultados obtidos através das medições e dos resultados

simulados a partir do modelamento e discussões pertinentes.

Finalmente no capítulo 6 serão feitas as conclusões, comentários e sugestões

para trabalhos futuros.

Page 19: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

19

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Estado da Arte

Atualmente todos os veículos movidos a etanol e de tecnologia flex-fuel

produzidos no Brasil são equipados com sistema auxiliar de partida a frio constituído

pelos seguintes componentes: reservatório de gasolina, bomba auxiliar, válvula

solenóide podendo ser de 2 ou 3 vias e tubulações por onde passa a gasolina que

deverá ser injetada no seu destino final, normalmente posicionados no corpo de

borboletas ou no coletor de admissão. Na figura 2.1 o ponto de injeção de gasolina

está localizado no corpo de borboletas.

Ponto de injeçãoPonto de injeção

Figura 2.1 – Motor e sistema auxiliar de partida a frio com respectivo ponto

de injeção no corpo de borboletas.

Este sistema auxiliar de partida a frio vem sendo largamente utilizado pelos

fabricantes de veículos nacionais desde meados da década de 80, sem apresentar

significativas melhorias do ponto de vista técnico nem tampouco de confiabilidade ao

longo dos últimos anos, apesar do constante avanço tecnológico dos sistemas de

alimentação de combustível.

Page 20: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

20

Após a introdução dos veículos de tecnologia bicombustível, a partir de 2003

seu uso foi ainda mais intensificado e as falhas causadas pelo seu mau

funcionamento tornaram-se uma grande fonte de preocupação dentre os fabricantes

de veículos que abastecem a mercado nacional.

Os maiores inconvenientes do sistema auxiliar de partida a frio são:

• Envelhecimento do combustível (gasolina) no interior do reservatório

• Entupimento do furo calibrado no ponto de injeção

• Necessidade de constante verificação de seu nível por parte dos

usuários (nem todos os modelos possuem indicador de nível)

• Risco de incêndio em caso de colisão

• Potencial risco de não atendimento às mais severas legislações de

emissões que deverão entrar em vigor, caso o sistema necessite ser

acionado

2.1.1 Principais componentes do sistema auxiliar de partida a frio

Figura 2.2 – Desenho esquemático de um sistema auxiliar de partida a frio e seus componentes.

Canister

Válvula Solenóide

Resevatório de gasolina

Bomba adicional

Page 21: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

21

Principais componentes do sistema auxiliar de partida a frio:

• Reservatório auxiliar:

O reservatório auxiliar tem a função de armazenar a gasolina e possui volume

típico de aproximadamente 1 litro de combustível. Normalmente estão

localizados no compartimento do motor, numa região protegida em caso de

acidentes. Na maioria dos casos estes reservatórios não possuem medidor de

nível de combustível.

• Bomba adicional:

A bomba geralmente é acoplada ao reservatório auxiliar e tem como função

prover combustível que deverá ser injetado no corpo de borboletas ou coletor de

admissão. Este componente é controlado pela PCM (Módulo de Gerenciamento

Eletrônico do Motor) do veículo e sua ativação depende de uma série de

condições conforme demonstrado na figura 2.4.

• Válvula solenóide:

A válvula solenóide pode ser de 2 ou 3 vias, dependendo da aplicação e do

fabricante, elas têm a função de prover combustível ou interromper sua

passagem dependendo da forma de acionamento. Na variante de 2 vias, uma via

(entrada) é conectada a alimentação (combustível proveniente do reservatório) e

a outra via (saída), é conectada a tubulação por onde o combustível será

injetado. Já na variante de 3 vias, além das conexões de entrada e saída, há

também uma terceira conexão (respiro) normalmente conectada à tubulação de

canister (reservatório de carvão ativado) ou na tubulação de aspiração de ar. O

controle de acionamento desta válvula é realizado pela PCM e sua utilização

depende de uma série de condições conforme demonstrado na figura 2.4. Estas

válvulas normalmente apresentam problemas de falta de estanqueidade que

podem ocasionar falhas no funcionamento do sistema.

Page 22: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

22

Figura 2.3 – Componentes do sistema auxiliar de partida a frio.

2.1.2 Funcionamento do sistema auxiliar de partida a frio

Nos meados da década de 80 os veículos movidos a etanol ainda não

dispunham de sistemas de gerenciamento eletrônico do motor, seu sistema de

alimentação era realizado pelo carburador e o acionamento do sistema auxiliar de

partida a frio era feito através de um botão no painel do veículo onde o condutor era

responsável pela ativação do mesmo, o que dependendo das vezes era comum o

condutor “afogar” o motor pelo excesso de combustível injetado durante o

procedimento de partida. Por outro lado, freqüentemente a partida a frio do veículo

era realizada sem sucesso devido ao fato do condutor simplesmente esquecer-se da

ativação do mesmo.

Após a introdução dos sistemas de gerenciamento eletrônico do motor, a

ativação do sistema passou a ser de responsabilidade da (PCM) do veículo, e seu

funcionamento está sujeito ao atendimento de uma série de condições como pode

ser visto no fluxograma simplificado da figura 2.4.

Page 23: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

23

TH2O motor <= 16°Ce

% etanol >= 85%

Ativar sistemapartida a frio

FIM

Sim

NãoTH2O motor <= 16°Ce

% etanol >= 85%

Ativar sistemapartida a frio

FIM

Sim

Não

Figura 2.4 – Fluxograma simplificado de ativação do sistema auxiliar de partida a frio.

Como podemos verificar no fluxograma da fig. 2.4 o sistema não leva em

consideração o nível do reservatório auxiliar, podendo este ser ativado mesmo

quando esteja vazio, acarretando em falha de funcionamento durante o

procedimento de partida nestas condições. Além disso, é muito comum o fato do

sistema não ser acionado por longos períodos de tempo ocasionando entupimento

das tubulações devido ao envelhecimento do combustível no seu interior. Para o

perfeito funcionamento do sistema, este deve estar sendo constantemente

inspecionado e abastecido, principalmente nas regiões mais frias do país onde o

sistema necessita ser ativado com maior freqüência.

Page 24: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

24

2.2 Injetores de combustível

2.2.1 Definição

Um injetor de combustível é um dispositivo eletromecânico de alta velocidade

que, baseado em um sinal de tensão recebido da PCM libera ou interrompe o fluxo

de combustível que passa pela placa de orifícios e alimenta o motor. (Adaptado de

Bosch, 2005).

Essencialmente, os componentes da formação de mistura do motor de um

veículo têm que garantir uma preparação da mistura ar-combustível apropriada para

um sistema em particular, no caso da injeção no coletor de admissão ou no

cabeçote, esta tarefa é realizada pelo injetor de combustível.

Figura 2.5 – Injetor de combustível da família Deka VII. (Continental, 2009).

Page 25: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

25

2.2.2 Componentes de um injetor de combustível padrão

De acordo com Bosch (2005), os injetores de combustível consistem

principalmente de:

- uma carcaça do injetor com bobina magnética e conexão elétrica;

- um assento de válvula com placas de furos e;

- uma válvula de agulha móvel com induzido magnético.

Uma peneira de filtro na entrada do componente protege o injetor de

impurezas, dois anéis o-ring vedam o injetor contra a galeria de combustível e o

coletor de admissão ou cabeçote, dependendo da sua aplicação. No caso de bobina

sem corrente, as molas e a força resultante da pressão do combustível pressionam a

agulha do injetor sobre o assento do mesmo e vedam o sistema de alimentação de

combustível.

Quando o injetor é alimentado, a bobina produz um campo magnético. O

induzido é atraído pelo campo magnético, a agulha do injetor se levanta do assento

e o combustível flui através do injetor.

O volume de combustível injetado por unidade de tempo é determinado

principalmente pela pressão do sistema e do diâmetro livre dos orifícios de injeção

na placa. Quando a corrente de excitação é desativada, a agulha do injetor fecha-se

novamente.

Page 26: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

26

Figura 2.6 – Componentes de um Injetor. (Bosch, 2005).

2.2.3 Princípio de funcionamento de um injetor

O módulo de gerenciamento eletrônico do motor (PCM) controla o

comprimento do pulso e o período dependendo da quantidade de combustível

demandada pelo motor, e envia um sinal de tensão para a bobina do injetor. Esta

corrente gerada passa através do injetor e gera um campo magnético que puxa a

agulha para cima, liberando assim a passagem do combustível. Assim que o módulo

de gerenciamento eletrônico do motor interrompe o envio desta tensão, o campo

magnético perde força e a agulha, empurrada pela mola fecha a passagem do fluxo

de combustível.

Page 27: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

27

Período

Comp. do pulso

Vazão doinjetor

Sinal de tensãode operaçãodo injetor controladopela ECU do motor

Abertura

Estático

Fechamento

tempoTA TF

Período

Comp. do pulso

Vazão doinjetor

Sinal de tensãode operaçãodo injetor controladopela ECU do motor

Abertura

Estático

Fechamento

tempoTA TF

Período

Comp. do pulso

Vazão doinjetor

Sinal de tensãode operaçãodo injetor controladopela ECU do motor

Abertura

Estático

Fechamento

tempoTA TF

Figura 2.7 – Tensão x vazão de um injetor em função do tempo.

(Siemens VDO Automotive, 2006).

O tempo de abertura do injetor é determinado em função da tensão aplicada e

o tempo de fechamento depende das características construtivas da (PCM) levando

em consideração a força da mola e da pressão do fluido sobre o injetor conforme

mostrado no gráfico da figura 2.7.

2.2.4 Modos de operação e características

Segundo o manual de motores de combustão interna (Siemens VDO

Automotive, 2002) os injetores podem ser operados nos seguintes modos:

• Fluxo estático: esta é a máxima vazão de combustível através do

injetor quando este encontra-se acionado. Ela depende da pressão do

combustível, do diâmetro dos furos na placa de orifícios na saída do

injetor, do tempo da agulha e das propriedades do combustível no qual

o injetor estará operando.

Page 28: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

28

• Fluxo dinâmico: esta é a vazão de combustível através do injetor

quando este está submetido a uma freqüência de largura de pulso on

de 2,5 ms.

• Fluxo estático ou linear: o fluxo linear é a relação da máxima e mínima

vazão com um máximo de 5% de desvio da linha de linearidade do

injetor. A linha de linearidade do injetor é a linha através da qual a

característica da quantidade injetada de combustível é linear ao tempo

de operação da bobina.

• Tamanho da gota: o tamanho da gota caracteriza a atomização do

injetor. O tamanho da gota de uma nuvem de gotas é normalmente

indicado pelo diâmetro médio Sauter (SMD) que descreve a relação do

volume médio em relação a uma superfície média medido num

determinado volume delimitado. Adicional ao tamanho médio da gota, a

distribuição do tamanho da gota no jato de injeção possui uma forte

influência nas emissões num motor de combustão interna.

• Vazamento ou estanqueidade do injetor: em razão das leis de

emissões vigentes, e estas se tornando cada vez mais severas, o fator

estanqueidade do injetor é de extrema importância nas emissões

evaporativas. Uma vez que é difícil determinar a taxa de vazamento

com combustível, esta é realizada com nitrogênio. O vazamento não

deverá exceder 1,5 cm3/min.

Ainda de acordo com o manual de tecnologia automotiva (Bosch, 2005) a

preparação do jato dos injetores, isto é, o formato do jato, o ângulo, e o tamanho das

gotículas, influenciam a formação da mistura ar-combustível. Geometrias específicas

de coletor de admissão e do cabeçote requerem diferentes formas de preparação do

jato. Para poder satisfazer esses requisitos, existem diversas variantes de formação

de jato. A seguir algumas variações mais empregadas:

Page 29: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

29

Jato cônico

Através da abertura da placa de furos de injeção saem jatos individuais de

combustível. A soma dos jatos de injeção formam um cone. Jatos cônicos também

podem ser obtidos através de um pino na ponta da agulha do injetor.

Áreas típicas de emprego de válvulas de jato cônico são motores com uma

válvula de admissão por cilindro. O jato cônico é direcionado para a abertura entre o

prato da válvula de admissão e a parede do coletor de admissão.

Jato duplo

A preparação do jato duplo é empregada para motores com duas válvulas de

admissão. As aberturas da placa de furos são dispostas de modo que dois jatos de

combustível saiam da válvula injetora. Cada um desses jatos alimenta uma válvula

de admissão.

Adição de ar

Na válvula com admissão de ar há um aproveitamento da queda de pressão

entre pressão do coletor de admissão e pressão ambiente para melhorar a formação

da mistura. O ar é conduzido para a área de saída da placa de furos de injeção

através de um adaptador de ar adicional. Em uma fenda estreita o ar atinge uma

velocidade muito alta e o combustível é finamente pulverizado na mistura com o ar.

Figura 2.8 – Geometria dos jatos de injetores. (Bosch, 2005).

Page 30: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

30

2.2.5 Injetor aquecido CVSmaxV

O injetor aquecido CVSmaxV é baseado na família de injetores Continental

Deka VII, e possui seu princípio de funcionamento análogo ao mesmo, mas no

entanto, possui aquecimento por princípio de indução (eletromagnetismo) no corpo

do injetor que tem por finalidade aquecer o combustível que está em contato com as

paredes internas do mesmo. O calor por sua vez, é transferido da parede interior do

injetor para o combustível por meio de convecção quando o aquecimento por meio

de indução é acionado. O objetivo deste processo é de elevar a temperatura do

combustível a uma temperatura de 120°C para produção de vapor de combustível

no momento da injeção nos dutos de admissão assegurando assim a partida a frio a

temperaturas abaixo de +15°C, minimizando ainda a emissão de HC's

(hidrocarbonetos) durante a fase fria de operação do motor e propiciando uma

melhoria no comportamento de dirigibilidade do veículo quando operado nestas

condições.

Zimmermann et al. (1999), realizaram um estudo com injetores aquecidos

onde constataram uma redução significativa nas emissões de hidrocarbonetos

durante partida a frio, uma vez que o aquecimento do combustível gera um efeito

denominado de ponto de fulgor, e este otimiza a queima do combustível contribuindo

para significativa redução de emissões de HC's. Durante a realização destes ensaios

os autores verificaram que durante os primeiros 20 segundos após a partida do

motor houve uma redução de aproximadamente 21% na emissão destes gases.

Figura 2.9 – Partida a frio com redução de emissões de HC's quando o injetor opera aquecido. (Zimmermann et al., 1999).

Page 31: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

31

Antes de se iniciar o procedimento de partida, inicia-se o aquecimento do

injetor e esta operação, denominada de pré-aquecimento leva algum tempo

dependendo da temperatura ambiente que se parta e da temperatura objetivo que se

deseja alcançar. O tempo de pré-aquecimento deve ser o menor possível, pois este

pode causar certo incômodo para o condutor.

2.2.6 Características do injetor aquecido CVSmaxV

Figura 2.10 – Injetor aquecido CVSmaxV e seus principais Componentes. (Siemens VDO Automotive AG, 2007).

Conforme pode ser observado na figura 2.10, a passagem do combustível se

dá entre o corpo do injetor e a agulha e seu aquecimento está condicionado ao

contato entre o combustível e a parede do injetor que é aquecida pelo princípio de

indução, maior detalhamento deste processo será dado na seção 2.3.

A bobina, operada por corrente contínua, gera um campo magnético e puxa a

agulha no sentido ascendente liberando a passagem do fluxo de combustível

através da placa de orifícios e uma vez que a (PCM) interrompe o envio desta

Page 32: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

32

tensão, o campo magnético perde força e a agulha, empurrada pela mola fecha a

passagem do fluxo de combustível.

O aquecimento é controlado por um gerador de sinal com controle eletrônico

de temperatura responsável pela ativação do aquecimento no interior dos injetores e

controle de sua temperatura. Uma vez ajustada uma determinada temperatura

desejada, esta central de controle manterá os injetores na temperatura operando

como um sistema de malha fechada, ou closed-loop.

Uma característica do CVSmaxV se dá no fato de um único conector padrão

existente contendo duas vias ser capaz de gerenciar tanto o pulso normal do injetor

quanto seu aquecimento. Isto se faz possível, pois no sinal enviado pela (PCM),

estão contidas as informações para o aquecimento e controle do acionamento do

injetor, via um sinal multiplexado onde o acionamento do injetor é feito por um sinal

de corrente contínua (CC) e o aquecimento é feito por um sinal de corrente alternada

(AC) em alta freqüência, assim, seu acionamento pode ser controlado

completamente independente do acionamento do injetor.

Figura 2.11 – Conector do injetor aquecido CVSmaxV. (Siemens VDO Automotive AG, 2007).

Page 33: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

33

Figura 2.12 – Diferença entre os sinais com aquecimento ligado e desligado (Siemens VDO Automotive AG, 2007).

Page 34: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

34

2.3 Princípio do aquecimento por indução

2.3.1 Introdução

Os princípios básicos de aquecimento por indução vêm sendo utilizados pela

indústria com sucesso desde a década de vinte. Durante a segunda guerra mundial,

a tecnologia foi rapidamente aprimorada com o objetivo de se reduzir os tempos nos

processos de endurecimento de componentes de motores, de uma maneira rápida e

confiável.

A particularidade deste método, quando comparado a outros métodos de

aquecimento é que o mesmo não possui contato físico com a peça que se pretende

aquecer, pois a bobina induz uma corrente elétrica na superfície da peça metálica,

fazendo com que a peça se aqueça devido a circulação de correntes. O processo

também é considerado repetitivo e controlável. (texto adaptado de Induction Heating,

2008).

Neste caso o aquecimento por indução será utilizado para aquecer a parede

metálica do interior do injetor e, conseqüentemente por meio de convecção aquecer

o combustível etanol em contato com as paredes do injetor.

Figura 2.13 – Princípio de aquecimento por indução. (Induction Heating, 2008).

Campo magnético

Corrente induzida na peça Corrente na bobina

Page 35: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

35

2.3.2 Funcionamento do aquecimento por indução

Quando uma corrente elétrica alternada é aplicada ao primário de um

transformador, um campo magnético é gerado. De acordo com a lei de Faraday, se

o secundário do transformador estiver localizado no interior do campo magnético,

uma corrente elétrica será induzida.

Em um arranjo típico de aquecimento por indução, uma fonte de estado sólido

de alta freqüência envia uma corrente alternada através da bobina, e a peça a ser

aquecida é posicionada no interior da bobina. A bobina é o primário do

transformador e a peça a ser aquecida torna-se o secundário do transformador,

porém em curto-circuito.

Quando uma peça metálica é posicionada no interior da bobina de indução e

submetida a um campo magnético variável, as correntes parasitas ou também

chamadas de correntes de Foucault são induzidas no interior da peça. Conforme

mostrado na figura 2.13 estas correntes fluem contra a resistividade elétrica do

metal, gerando aquecimento preciso e localizado sem nenhum contato direto entre a

peça e a bobina.

A eficiência de um sistema de aquecimento por indução para uma aplicação

específica depende de diversos fatores como: as características da peça, do

desenho da bobina de indução, da capacidade da fonte geradora de energia, e do

grau de mudança de temperatura requerida para aplicação.

Figura 2.14 – Desenho esquemático de um arranjo típico de aquecimento por indução. (adaptado de Induction Heating, 2008).

Fonte energia Geração

calor CA

Bobina

Peça

Fixação

Sistema de feed-back

Page 36: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

36

Bastos (2004) menciona no Capítulo de Magnetodinâmica de seu livro que

existem perdas que, em geral, convertem-se em aquecimento. O estudo de perdas

em dispositivos elétricos, embora em alguns casos seja bastante simples, em geral é

complexo e deve ser analisado com cautela. Na realidade, a simplicidade de

avaliação depende muito do grau de precisão desejado. As maiores perdas de

origem elétrica são divididas em dois grupos: perdas no cobre e perdas no ferro. A

perda no cobre é assim chamada, pois em geral, as bobinas de excitação de

dispositivos são feitas com fio de cobre. As perdas no ferro podem ser por correntes

de Foucault1 (efeito Joule), por histerese e também por perdas anômalas ou

excedentes.

Importante é salientar que uma vez que certa potência de indução é

introduzida no modelamento, esta deve ser considerada como potencia útil, ou seja,

o modelamento leva em consideração seu rendimento elétricoη , pois toda potência

disponível será transformada em calor, o que não é verdade, pois boa parte dessa

potência é perdida por dissipação ou outros meios.

Portanto quando o parâmetro potência for introduzido no modelamento, o seu

rendimento deve ser considerado, e esta passa a chamar-se de potência de entrada.

1 (SOFISICA, 2009). Quando um fluxo magnético varia através de uma superfície sólida, e não apenas delimitada por um condutor, há criação de uma corrente induzida sobre ele como se toda superfície fosse composta por uma combinação de espiras muito finas justapostas. O nome dado a estas correntes é em homenagem ao físico e astrônomo francês Jean Bernard Léon Foucault, que foi quem primeiro mostrou a existência delas.

Page 37: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

37

2.4 O Etanol como combustível

2.4.1 Introdução: histórico do etanol e sua utilização no Brasil

O álcool hidratado ou etanol (C2H5OH) é utilizado como combustível desde o

surgimento dos automóveis. No Brasil seu uso teve inicio no final da década de 70,

sendo que o primeiro veículo de série movido a etanol foi o Fiat 147 lançado em

1978 equipado com motor de 1.300 cilindradas.

O etanol é um recurso renovável e pode ser produzido a partir de biomassa

(resíduos agrícolas e florestais). No Brasil ele é produzido a partir da cana-de-

açúcar. Nos Estados Unidos, por exemplo, ele é produzido a partir do milho.

Figura 2.15 – Fiat 147 – primeiro veículo de série movido a etanol do mercado brasileiro. (Wikipédia, 2009).

Na década de 70, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi criado no

Brasil com o objetivo de diminuir a dependência do país do petróleo externo, uma

vez que seus preços subiam em ritmo acelerado e sua forte dependência causava

um grande impacto na economia do país. O objetivo do governo foi de criar uma

fonte de energia renovável, limpa e de baixo custo que poderia ser utilizada como

alternativa na matriz energética de combustível brasileira.

Fischetti e Silva (2008) destacam que o início do desenvolvimento do motor a

etanol foram de responsabilidade do Cel. Sérgio Antonio dos Reis Vale, do físico e

secretário do Ministério da Indústria e do Comércio José Walter Bautista Vidal e pelo

Page 38: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

38

engenheiro professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Urbano Ernesto

Stumpf, este último conhecido como o pai do motor a etanol. A decisão de produzir

etanol a partir da cana-de-açúcar, por via fermentativa, foi por causa da baixa nos

preços do açúcar na época. Foram testadas outras alternativas de fonte de matéria-

prima, como por exemplo a mandioca.

Desde então, o álcool etílico hidratado combustível (AEHC) proveniente da

cana-de-açúcar vem sendo largamente utilizado como combustível pela frota

nacional.

No final da década de 80, quase 95% da frota brasileira era movida a etanol

quando neste período começou a faltar combustível nos postos de abastecimento.

Isto aconteceu devido ao fato dos produtores de cana-de-açúcar dar preferência ao

comércio de açúcar para o mercado europeu em razão da atratividade do preço.

Naquela época, o preço do álcool tornou-se inviável economicamente e os

consumidores passaram a optar por veículos a gasolina, uma vez que seu preço em

função do maior rendimento (autonomia) justificava a escolha.

No entanto, esta situação inverteu-se nos últimos anos devido à introdução

dos veículos de tecnologia bicombustível no mercado brasileiro. A utilização de

etanol no mercado brasileiro tem sido alvo de discussões. A título de exemplo

transcrevo as seguintes opiniões:

“O etanol representa um futuro energético mais seguro para o mundo e o

Brasil aplica a tecnologia com sucesso, contribuindo para a redução das emissões

de gases causadores do efeito estufa. A qualidade do produto brasileiro vem sendo

atestada por estudos independentes de várias entidades do mundo e figura como a

melhor opção comercial aos combustíveis não-renováveis”. (Automotive Business,

2009).

Jenk, (2009) destaca que o programa do etanol é o mais bem-sucedido

modelo de substituição de combustíveis fósseis do mundo, que pode ser replicado e

beneficiar mais de uma centena de países em desenvolvimento, localizados em

regiões tropicais e que cultivam como o Brasil, a cana-de-açúcar.

Presentemente o Proálcool não existe mais, tendo-se encerrado oficialmente

no início dos anos 90 quando o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) foi extinto e, no

lugar, foram criados a Secretaria de Desenvolvimento Regional da Presidência da

República e o Departamento de Assuntos Sucroalcooleiros. O BNDES (Banco

Page 39: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

39

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) assumiu o papel de financiador

de usinas.

Pouco antes, em 1998, durante o plano econômico chamado Plano Verão, o

governo havia acabado com paridade de preço de 64% entre o etanol e a gasolina,

primeiro passo da desregulamentação do etanol no Brasil. Desde então a produção

de etanol no Brasil vem crescendo ano após ano e sua utilização também. Após a

introdução dos veículos equipados com tecnologia bicombustível, o consumidor não

se viu mais obrigado à utilização de apenas um combustível, vivenciando uma era

mais democrática, pois ele decide no momento do abastecimento dependendo da

região, qual combustível é mais vantajoso do ponto de visto econômico.

A gasolina utilizada no Brasil também possui etanol na sua composição,

desde a década de 30 a gasolina brasileira já é misturada com etanol. A Agência

Nacional do Petróleo (ANP), especifica que o etanol no Brasil é usado também como

aditivo à gasolina (AEAC) álcool etílico anidro combustível na porcentagem de 20%

a 25%. O álcool anidro (sem água), de especificação mínima 99,3° INPM (fixado

pela portaria ANP n.° 36/05) é utilizado para mistura com a gasolina A, especificada

pela Portaria ANP n.° 309/01, para a produção de gasolina tipo C. O teor de etanol é

fixado por decreto presidencial ou por determinação da ANP.

O álcool etílico hidratado combustível (AEHC) quando isento de

hidrocarbonetos, apresenta teor alcoólico na faixa de 92,6° a 93,8° INPM (fixado

pela Portaria ANP n.° 36/05).

0

5

10

15

20

25

30

90/91

92/93

94/95

96/97

98/99

00/01

02/03

04/05

06/07

08/09

*

Bilh

ões

de

litro

s

Figura 2.16 – Produção brasileira de etanol (anidro + hidratado). (UNICA, 2009). * Posição 05/09.

Page 40: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

40

Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em 2008 o

setor de cana-de-açúcar registrou faturamento de R$ 45 bilhões com a produção de

560 milhões de toneladas de cana em 450 usinas em todo o País.

A utilização de etanol como combustível possui uma serie de vantagens

quando comparado com outros combustíveis de origem fóssil, pois não só pelo fato

de ser um recurso renovável, mas também mais favorável ao meio ambiente, uma

vez que o ciclo completo do etanol, desde a colheita até o uso final, se comparado

com a gasolina, representa uma significativa redução de até 90% na emissão de

dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, um dos principais causadores do efeito

estufa. Segundo dados divulgados no Ethanol Summit (2009), desde os anos 70, o

Brasil deixou de emitir 600 milhões de toneladas de gás carbônico em função do uso

do etanol.

Page 41: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

41

2.4.2 O surgimento e funcionamento dos veículos bicombustíveis (flex-fuel)

2.4.2.1 Introdução - veículos bicombustíveis

Em meados da década de 90 iniciaram-se os primeiros estudos de viabilidade

dos veículos bicombustíveis, ou comumente denominados de flex-fuel. Mas foi

somente no ano de 2003 que o primeiro modelo em série de veículo bicombustível

foi lançado no mercado nacional tornando-se rapidamente um sucesso em vendas.

Figura 2.17 – Veículos flex-fuel de alguns fabricantes nacionais. (Webmotors, 2009).

Os veículos bicombustíveis disponíveis no mercado brasileiro são equipados

com um motor que pode funcionar com gasolina, etanol ou mistura de ambos em

qualquer proporção sendo a (PCM) dotada de um algoritmo de software especial

capaz de realizar os ajustes necessários nos parâmetros mais relevantes do sistema

a fim de proporcionar um funcionamento adequado para cada situação.

Page 42: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

42

No Brasil, as faixas de utilização em função dos combustíveis disponíveis no

mercado variam de gasolina com teor mínimo de etanol de 22% (E22) até etanol

100% (E100). Já nos EUA e Europa esta faixa de utilização vai de gasolina pura

(E0 => 0% etanol) até (E85 => 85% de etanol) em volume na mistura.

Desde seu lançamento em 2003, o consumidor brasileiro adotou o veiculo flex

como alternativa democrática para utilização de combustíveis e sua demanda cresce

em ritmo acelerado.

Jank, (Jornal do Comércio - RS, 2009) estima que os carros modelo

bicombustíveis no Brasil deverão representar 50% da frota nacional em 2012. “E

essa fatia deve subir para 65% em 2015”, acrescenta ele. A participação atual gira

em torno de 28%, com cerca de 7 milhões de unidades de veículos flex.

Dados da Anfavea mostram que 1.230.994 unidades de veículos

bicombustíveis foram comercializados no 1º. semestre de 2009 - o que representa

92% de todos os automóveis e comerciais leves emplacados com motor do ciclo

Otto. Ou ainda, representam 88,3% de todos os veículos emplacados no país. A

média foi de 87,2% ao longo de 2008.

Neste contexto, o Brasil passa a desempenhar um papel importante no

desenvolvimento e utilização em massa da tecnologia bicombustível e deve ser

capaz de exportar esta tecnologia para outros países do mundo, uma vez que esta

desponta como uma das várias alternativas de se reduzir a utilização dos

combustíveis fosseis contribuindo para a melhoria do meio ambiente.

Figura 2.18 – Licenciamento de automóveis e comerciais leves no Brasil (Ciclo Otto). (Anfavea, 2009).

Page 43: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

43

2.4.2.2 Veículos bicombustível: princípio de funcionamento e métodos de reconhecimento do teor de etanol

Os veículos de tecnologia bicombustível são capazes de operar com etanol,

gasolina ou qualquer mistura destes combustíveis, sendo o sistema de

gerenciamento eletrônico do motor (PCM) o componente responsável pelo ajuste

dos parâmetros de ignição e injeção do motor em função do teor de etanol (Ex)

contido na mistura. Para que o funcionamento do motor aconteça de modo

satisfatório, após um reabastecimento o sistema de gerenciamento eletrônico do

motor (PCM) do veículo deve ser capaz de reconhecer o novo combustível que foi

abastecido e, ajustar os parâmetros mais relevantes, como ignição e mistura dentre

outros, a fim de propiciar um funcionamento adequado ao motor. O reconhecimento

do teor de etanol na mistura pode ser realizado basicamente de duas formas:

• via sensor de oxigênio (sonda Lambda) => método utilizado atualmente

no Brasil

• via sensor de etanol (Flex-Fuel Sensor) => método utilizado na

América do Norte / Europa

Figura 2.19 – Sensor de oxigênio (sonda Lambda). (Bosch, 2009).

A tecnologia bicombustível baseada no reconhecimento do teor de etanol por

meio de sensor de oxigênio foi totalmente desenvolvida no Brasil, seu princípio de

reconhecimento do teor de etanol é realizado por meio de uma sonda Lambda

Page 44: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

44

instalada no sistema de escapamento do veiculo que é responsável por medir a

quantidade de oxigênio no gás de escape do motor, e enviar estas informações para

o sistema de gerenciamento eletrônico do motor (PCM) que ajustará o mapeamento

de ignição e injeção de combustível de acordo com o percentual de etanol da

mistura. Este método de reconhecimento é denominado de Software Flex-Fuel®, ou

sensor virtual.

Este método, porém, apresenta como grande vantagem seu reduzido custo,

mas, no entanto, apresenta também algumas desvantagens como menor precisão

em relação ao sensor físico de etanol na determinação do teor de etanol, informação

esta de extrema relevância para a determinação da relação estequiométrica ar-

combustível e ajuste correto dos parâmetros do sistema. Uma vez que este método

é reativo, ou seja, primeiro realiza-se a queima do combustível e posteriormente a

medição da quantidade de oxigênio que passa pela sonda Lambda, este pode

causar certo atraso na determinação da relação estequiométrica uma vez que o

funcionamento da sonda está sujeita a uma serie de condições que devem ser

atendidas como: temperatura mínima de ativação do controle de Lambda (closed-

loop), janela de temperatura de evaporação dos gases provenientes do cárter de

óleo e válvula de purga do reservatório de carvão ativado (canister), situações nas

quais o sistema não está autorizado a realizar o aprendizado da relação

estequiométrica ar-combustível.

Figura 2.20 – Sensor de Flex-Fuel de segunda geração. (Continental, 2008).

Page 45: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

45

O outro método citado de reconhecimento do percentual de etanol se dá por

meio de um sensor físico de etanol localizado na tubulação de alimentação de

combustível para o motor. Este sensor realiza continuamente a leitura do percentual

de etanol e informa a (PCM). Utilizando o princípio da permissividade relativa que da

gasolina corresponde a ( 2≈rε ) que é diferente do etanol ( 25≈rε ) em função da

quantidade de oxigênio. A gasolina e o etanol também possuem condutividades

distintas. Para garantir uma alta precisão nos resultados são necessárias correções

na temperatura e na condutividade. O combustível flui pela linha de alimentação e

passa pelo sensor que por sua vez está equipado com uma célula de medição onde

o combustível preenche os espaços entre os eletrodos. A permissividade relativa do

combustível, bem como sua capacitância entre os dois eletrodos depende da

relação etanol / gasolina.

Figura 2.21 – Célula de medição e gráfico de correção da constante dielétrica ( rε ) em função da temperatura. (Continental , 2008).

Conforme mostrado no gráfico da figura 2.21, a constante dielétrica ( rε )

indica o percentual de etanol contido no combustível. A eletrônica contida na célula

de medição mede a impedância (Z) através das células dos eletrodos.

Para obtenção da constante dielétrica rε , Z deve ser compensado pela:

• condutividade do combustível

• temperatura do combustível

Page 46: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

46

Figura 2.22 – Esquema eletrônico de funcionamento do FFS. (Continental , 2008).

O sensor disponibiliza um sinal pulsado de saída que varia na faixa de

freqüência de 50 – 150 Hz que corresponde ao percentual de etanol (0 – 100%)

respectivamente, numa faixa de temperatura ambiente que pode variar de – 40 a

125°C. Onde: A corresponde ao tempo on do ciclo (temperatura);

B corresponde ao período do ciclo (teor de etanol);

C é o tempo off do ciclo.

A leitura e atualização do teor de etanol é realizada a cada 225 milisegundos.

Figura 2.23 – Perfil do sinal de saída do FFS. (Continental , 2008).

Page 47: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

47

O sensor possui uma resolução de 0,1% etanol (0,1 Hz) e uma acuracidade

de +/- 5% de erro absoluto para uma faixa de temperatura de combustível de -40 a

95°C. O software apresenta ainda uma diagnose caso a freqüência máxima alcance

um valor muito alto (170 - 190 Hz) indicando erro por se tratar possivelmente de

combustível adulterado.

Rocha e Simões-Moreira (2004) realizaram um trabalho que define um

método para determinação do etanol em misturas de gasolina. O princípio de

reconhecimento do percentual de etanol na mistura se dá através da impedância

elétrica em função da temperatura. Segundo os autores, esta técnica apresenta

como vantagens o rápido tempo de resposta, a repetibilidade dos resultados, ser um

ensaio não-destrutivo e altamente adaptável a uma grande variedade de diferentes

aplicações.

Figura 2.24 – (a) Circuito elétrico básico para medição da impedância da mistura de combustível. (b) Modelo simples paralelo RC do transdutor (Rocha e Simões-Moreira, 2004). O método de reconhecimento do teor de etanol por meio de sensor de etanol

é largamente empregado no mercado norte-americano, onde as leis de emissões

vigentes (OBD II) On Board Diagnose exigem para veículos de tecnologia flex-fuel

(FFV) uma plausibilidade entre o sensor de oxigênio e o sensor de etanol. Além

disso, a utilização deste componente aumenta significativamente a robustez do

sistema como um todo, pois propicia maior precisão no reconhecimento do teor de

etanol que pode ser de extrema importância em algumas situações como troca de

combustível e partida a frio.

Page 48: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

48

No Brasil, porém, a utilização deste sensor ainda esbarra em seu custo, visto

que os veículos bicombustíveis projetados e produzidos aqui não permitem o delta

adicional de custo que o sensor agregaria, mas por outro lado, as legislações de

emissões futuras se tornando cada vez mais restritas e com a introdução do (OBD),

esta seja uma questão de tempo para que o sensor seja introduzido nas gerações

futuras de veículos bicombustíveis.

Page 49: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

49

2.4.3 Especificação do etanol

Álcoois são compostos de hidrocarbonetos-oxigênio cuja característica

particular é um grupo de OH (hidroxila) na molécula, ao invés de um átomo de

hidrogênio. Eles são a princípio adequados aos motores de combustão por centelha

ou ignição. Porém, são encontradas significativas diferenças em algumas de suas

características em relação a gasolina por exemplo, como: o poder anti-detonante, o

poder calorífico, e a pressão de vapor.

Figura 2.25 – Fórmula estrutural e modelo espacial do etanol C2H5OH (Wikipedia, 2008).

Uma vantagem particular é o alto poder anti-detonação do etanol, que pode

ser traduzida em maior rendimento do motor uma vez que este possua uma taxa de

compressão adequada. O etanol queima mais rápido que do que a gasolina,

significando que o mapeamento de ignição deve ser otimizado para sua utilização.

Já o seu reduzido poder calorífico pode ser traduzido em maior consumo de

combustível se comparado à gasolina. O seu maior calor de vaporização ocasiona

em resfriamento da câmara de combustão, melhorando o rendimento volumétrico, e

conseqüentemente propiciando maior desempenho. O maior problema do etanol se

comparado com a gasolina se dá no fato de sua pressão de vapor ser muito inferior

ao da gasolina, conforme apresentado na tabela 2.1, o que ocasiona dificuldade de

vaporização em baixas temperaturas e conseqüente problemas de partida a frio a

temperaturas abaixo de +15°C.

Page 50: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

50

Tabela 2.1 – Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C (van Basshuysen e Schäfer, 2003).

Dentre as propriedades do etanol citadas na tabela 2.1 o ponto de fulgor, o

ponto de ebulição e a pressão de vapor serão as mais relevantes para este estudo.

O ponto de ebulição ou temperatura de ebulição é a temperatura em que uma

substância passa do estado líquido ao estado gasoso.

O ponto de fulgor ou ponto de inflamação é a temperatura na qual um

combustível liberta vapor ou gás em quantidade suficiente para formar uma mistura

inflamável por uma fonte externa de calor. O ponto de fulgor não é suficiente para

que a combustão seja mantida.

A pressão de vapor é a pressão que aumenta no interior de um recipiente

selado em função da temperatura da evaporação proveniente de um determinado

combustível. Esta influencia (em conjunto com outros critérios de volatilidade)

partidas a frio e a quente, dirigibilidade a frio e perda por evaporação. Para

determinação da pressão de vapor, o método Reid é utilizado (RVP = Reid Vapor

Pressure). A temperatura de teste é de 38°C com uma relação vapor / líquido de 4:1.

Page 51: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

51

Em geral, quando a pressão de vapor é muito baixa, ou seja, um combustível

que se evapora muito lentamente, resulta em partidas e dirigibilidade a frio

insatisfatórias em contrapartida um combustível que apresente pressão de vapor

muito alta também pode apresentar problemas de partida e dirigibilidade a quente.

(van Basshuysen e Schäfer, 2003).

Figura 2.26 – Influência da curva de evaporação de um combustível no comportamento do motor. (van Basshuysen e Schäfer, 2003).

Visto que a tecnologia flex-fuel (FFV) vem sendo cada vez mais empregada

em outros países como os Estados Unidos, e em alguns países da Europa ocidental

tais como: Alemanha, França e Suécia. A diferença entre o flex utilizado nestes

países e o modelo brasileiro é em relação ao teor de etanol misturado à gasolina,

que varia de 0 a 85%. Na Suécia e norte dos EUA, por exemplo, a mistura

denominada de verão tem uma proporção de 85% de etanol e 15% de gasolina, já a

mistura de inverno possui uma proporção de 70% de etanol e 30% de gasolina.

Page 52: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

52

Este percentual mínimo de gasolina na mistura se dá justamente ao fato de

auxiliar na partida a frio dos veículos uma vez que estes não estão equipados com

nenhum tipo de sistema de partida a frio auxiliar. No Brasil esta faixa varia de E22

até E100, como já citado na seção 2.4.2.1, e não há diferenciação entre combustível

de verão e de inverno.

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 20 40 60 80 100

E 0 E 10 E 20 E 30

E 70 E 85 E 100

Evaporado [%]

Tem

pera

tura

[°C

]

Problemas partida a frio devido à baixa

evaporação

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 20 40 60 80 100

E 0 E 10 E 20 E 30

E 70 E 85 E 100

Evaporado [%]

Tem

pera

tura

[°C

]

Problemas partida a frio devido à baixa

evaporação

Tem

pera

tura

[°C

]

Problemas partida a frio devido à baixa

evaporação

Gráfico 2.27 – Percentual de evaporação em função da temperatura de diferentes misturas de etanol (Hauet et al., 2007).

Conforme mostrado no gráfico da figura 2.27 o percentual de evaporação das

diferentes misturas com maior teor de etanol é decrescente em função da diminuição

da temperatura e, devido a este fato, alguns países especificam um teor de gasolina

mínimo e por vezes, até de um combustível com maior teor de gasolina apropriado

para os períodos de inverno, a fim de garantir a partida a frio dos veículos

bicombustíveis movidos com diferentes proporções de misturas etanol / gasolina.

Page 53: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

53

3 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSITÓRIO E

TERMODINÂMICA DO PROCESSO DE INJEÇÃO

3.1 Sistemas com resistência interna desprezível

O material seguinte é uma adaptação de Kreith (2003).

Apesar de não haver na natureza material que apresente uma condutividade

térmica infinita, muitos problemas de fluxo de calor transitório podem rapidamente

solucionados com precisão aceitável pela suposição de que a resistência condutiva

interna do sistema é tão pequena que a temperatura em seu interior é

substancialmente uniforme em qualquer instante. A simplificação é justificada

quando a resistência térmica externa entre a superfície do sistema e o meio ao seu

redor é tão grande, quando comparada à resistência térmica interna do sistema, que

ela controla o processo de transferência de calor. Uma medida da importância

relativa da resistência térmica interna do sistema que ela controla o processo de

transferência de calor.

Uma medida da importância relativa de resistência térmica dentro de um

corpo sólido é o número de Biot, Bi, a razão entre a resistência interna e a externa,

que é definida pela equação:

sexterna

erna

k

Lh

R

RBi == int , (3.1)

onde h é o coeficiente de transferência de calor médio, L é a dimensão de

comprimento característico, obtida pela divisão do volume do corpo por sua área

superficial e sk é a condutividade térmica do corpo sólido. Em corpos cuja forma se

assemelha a uma placa, um cilindro ou uma esfera, o erro introduzido pela

suposição de que a temperatura em qualquer instante é uniforme será menor que

5% quando a resistência interna for menor que 10% da resistência da superfície

externa, isto é, .1,0/ <skLh

Como exemplo típico desse tipo de fluxo de calor transitório, considere o

resfriamento de uma pequena peça fundida ou tarugo de metal em um banho de

Page 54: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

54

resfriamento após sua retirada de um forno quente. Suponha que o tarugo é

removido do forno a uma temperatura uniforme T0 e é resfriado tão rapidamente que

se pode considerar a mudança da temperatura do ambiente como um degrau.

Identifique o tempo no qual o resfriamento começa como t=0 e suponha que o

coeficiente de transferência de calor h permaneça constante durante o processo, e

que a temperatura do banho ∞T a uma distância grande do tarugo não varie com o

tempo. A seguir, de acordo com a hipótese de que a temperatura dentro do corpo é

substancialmente uniforme em qualquer instante, um balanço de energia para o

tarugo em um pequeno intervalo de tempo dt é igual a:

variação na energia interna do

tarugo durante dt

= fluxo líquido de calor do

tarugo para banho durante dt

ou

dtTTAhVdTc s )( ∞−=− ρ (3.2)

onde: =c calor específico do tarugo, [J/kg.K]

=ρ densidade do tarugo, [kg/m3]

=V volume do tarugo, [m3]

=T temperatura média do tarugo, [K]

=h coeficiente de transferência de calor médio, [W/m2.K]

=sA área da superfície do tarugo, [m2]

=dT variação da temperatura (K) durante o intervalo de tempo dt [s]

O sinal de menos na equação (3.2) indica que a energia interna decresce quando

∞> TT . As variáveis T e t podem ser separadas de imediato e, para um intervalo

diferencial de tempo dt , a equação (3.2) torna-se:

Page 55: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

55

dtVc

Ah

TT

TTd

TT

dt s

ρ=

−=

− ∞

∞ )(

)( (3.3)

onde pode-se observar que dTTTd =− ∞ )( , uma vez que ∞T é constante. Tendo-se

uma temperatura T no tempo t como limites, a integração da equação (3.3) fornece:

tVc

Ah

TT

TT s

ρ−=

0

ln ou

tVchAseTT

TT )/(

0

ρ−

∞ =−

− (3.4)

onde o expoente VctAh s ρ/ deve ser adimensional. A combinação de variáveis nesse

expoente é o produto de dois grupos adimensionais encontrados anteriormente:

BiFoL

t

k

Lh

Vc

tAh

s

s ==2

α

ρ (3.5)

Onde o comprimento característico L é o volume do corpo V dividido por sua área

de superfície sA , e Fo – número de Fourier que pode ser visto como um tempo

adimensional definido por 2

L

dtFo = .

Page 56: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

56

3.2 Efeito do ponto de fulgor

O sistema proposto para solução desta problemática é um injetor aquecido

montado diretamente no rail ou galeria de combustível, que tem como função

aquecer o combustível, no caso o etanol, antes do procedimento de partida do motor

e mantê-lo aquecido por alguns instantes durante a fase fria de funcionamento do

motor. A instalação do injetor aquecido não implica em nenhuma alteração

significativa no lay-out original do motor do veículo.

Com a introdução dos injetores aquecidos, pretende-se gerar a maior

quantidade possível de vapor, ou criar o chamado efeito ponto de fulgor durante o

procedimento de partida frio para garantir partidas a temperaturas de até 5°C

negativos até 20°C sem adição de gasolina, requisitos estes solicitados pelos

fabricantes de veículos / motores nacionais.

(Hofmann e Lenz, 2000) estudaram o problema e verificaram que o efeito

ponto de fulgor traz resultados significativos para a partida a frio com etanol a baixas

temperaturas. Numa injeção convencional, quando o combustível é injetado através

dos canais de admissão este encontra-se em estado líquido e permanece neste

estado conforme pode-se observar na figura 3.1. O ponto 1 representa o início da

injeção e sua respectiva pressão no interior do injetor, neste caso de 4,2 bar e o

ponto 2 representa a pressão nos dutos de admissão. Durante este procedimento a

pressão passa de 1 para 2 mas, no entanto, o combustível ainda encontra-se

totalmente numa única fase em estado líquido. Já no procedimento 1' => 2', ou seja,

com aumento significativo da temperatura do combustível, quando o combustível é

injetado há formação parcial de vapor, pois este penetra a região bifásica conforme

pode ser verificado na figura 3.1. Quanto maior for a fração de combustível

evaporado, maior será a probabilidade de uma partida a frio de boa qualidade.

Page 57: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

57

Pre

ssão

p

Entalpia h

líquido saturado

líq. + vapor vapor saturado

Aumento da temp. do combustível

1

2

1'

2'

região de 2 fases ( L + V)

limite de condensação

Injeção com "efeito ponto de fulgor"

Injeção convencional

limite de vaporização

Pre

ssão

p

Entalpia h

líquido saturado

líq. + vapor vapor saturado

Aumento da temp. do combustível

1

2

1'

2'

região de 2 fases ( L + V)

limite de condensação

Injeção com "efeito ponto de fulgor"

Injeção convencional

limite de vaporização

Figura 3.1 – Diagrama pressão – entalpia comparativo entre injeção convencional e injeção com efeito ponto de fulgor. (Hofmann e Lenz, 2000).

Sem

aqu

ecim

ento

Co

m a

qu

ecim

ento

Sem

aqu

ecim

ento

Co

m a

qu

ecim

ento

Figura 3.2 – Comparativo do spray durante a injeção com e sem aquecimento. (Siemens VDO Automotive, 2006).

Page 58: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

58

Na figura 3.2 pode-se observar a diferença no comportamento do spray

quando aquecido e sem aquecimento onde observa-se uma melhora significativa na

atomização do etanol, comportamento também verificado por Zimmermann et al.

(1999) em seu estudo. A temperatura selecionada para o etanol foi de 120°C, a

razão será justificada mais adiante, o combustível que se encontra no estado líquido

no interior do injetor a 4,2 bar quando é injetado passa de 4,2 bar a

aproximadamente 1,0 bar e se vaporiza parcialmente, conforme observado na figura

3.5. A formação de vapor está intrinsecamente ligada à pressão e às propriedades

físico-químicas do combustível, e esta se dá quando a região limite de vaporização é

superada. Neste caso, como a pressão do sistema de alimentação está limitada a

4,2 bar, a temperatura máxima que se pode alcançar sem que haja formação de

bolhas no interior do injetor é de 120°C. Caso este limite de temperatura seja

superado, poder-se-á causar travamento do injetor pelo acúmulo de bolhas de

combustível em seu interior, este fenômeno também é conhecido como vapor-lock

ou blocagem.

Figura 3.3 – Curva de evaporação do etanol com ponto crítico. (Siemens VDO Automotive, 2006).

Page 59: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

59

3.2.1 Cálculo da fração da massa de vapor

Para obter-se a fração da massa de vapor gerada pelo relaxamento

adiabático quando o combustível etanol é injetado, utilizaremos como auxílio o

software EES (Engineering Equation Solver) para o cálculo das entalpias envolvidas

no processo e verificação da fração da massa de vapor ou título (x).

Figura 3.4 – Diagrama pressão x entalpia do etanol. (Obtido através do EES, 2009).

Na figura 3.5 temos a plotagem das entalpias relevantes no processo.

Figura 3.5 – Relaxamento adiabático do etanol no diagrama P, h. (Fono, 2007).

Page 60: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

60

Com os valores calculados a partir do software EES, temos: h[1]=Enthalpy(Ethanol;T=119;P=420) = 395,1 kJ / kg h'[1]=Enthalpy(Ethanol;T=77;P=100) = 255,3 kJ / kg h"[1]=Enthalpy(Ethanol;T=119;P=100) = 1183,0 kJ / kg Portanto:

%1,15151,03,2550,1183

3,2551,395

'''

'==

−=

−=

hh

hhx de título ou fração de massa de vapor

disponível. Para a obtenção da fração da massa de vapor calculada assume-se que a

pressão no interior dos dutos de admissão no momento da injeção é de

aproximadamente 1 bar ou 100 kPa, porém é conhecido que esta pressão tende a

cair na medida que o motor de partida movimenta o motor. Este fenômeno, no

entanto só tem a ajudar, pois com a diminuição da pressão nos dutos de admissão,

diminui também o ponto de evaporação do etanol e como conseqüência há uma

geração maior da fração da massa de vapor disponível.

Page 61: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

61

4 MODELAMENTO

4.1 Dados dimensionais do corpo do injetor

Figura 4.1 – Principais dados dimensionais do corpo do injetor. (Continental, 2009)

4.1.1 Área da superfície de aquecimento e volume

As dimensões do corpo interno do injetor são:

- diâmetro interno de 5,8 mm;

- diâmetro externo de 6,6 mm;

- espessura de 0,4 mm;

- comprimento do corpo do injetor de 47 mm.

Assim, calcula-se:

2856047,0.0058,0... mmLdAs === ππ ou 2410.56,8 m−

Sendo esta a área ou superfície interna da parede interna do injetor que ficará

em contato com o combustível e transmitirá o fluxo de calor para o mesmo.

Page 62: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

62

372222 10.66,3)0029,00033,0(047.0)( mrRhVcorpo

−=−=−= ππ

Este é o volume calculado do corpo interno do injetor.

Figura 4.2 – Superfície interna (parede) do corpo do injetor.

4.1.2 Espessura do filme fluido de combustível

A espessura do filme fluido de combustível representa a resistência térmica

na qual o calor gerado pelo elemento aquecedor deve ultrapassar para aquecer o

volume de combustível contido nesta área. Conforme maior for esta espessura,

maior será a resistência térmica e conseqüente dificuldade de aquecer o

combustível contido nesta área. Neste caso a espessura do filme fluido é de 2,09

mm e o volume de combustível é de 0,9 cm3.

Figura 4.3 – Espessura do filme fluido combustível. (Siemens VDO Automotive AG, 2007).

Page 63: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

63

4.2 Aplicação da Teoria da Condução de Calor em Regime Transitório de Sistema Concentrado – Pré-aquecimento

4.2.1 Hipóteses simplificadoras

Para simplificação do equacionamento do problema, utilizaremos as seguintes

hipóteses:

• a presença da haste do injetor (agulha) será desprezada para efeitos

dos cálculos de transferência de calor;

• análise concentrada aplicada tanto para a parede como para o etanol;

• convecção natural na fase de pré-aquecimento do etanol;

• propriedades de transporte constantes.

4.2.2 Estimativa do coeficiente médio de transferência de calor por convecção

Para estimativa do coeficiente médio de transferência de calor h vamos

utilizar uma aproximação por falta de uma expressão específica, uma correlação

empírica por convecção natural – placa vertical.

Ln

L CRak

LhNu == (4.1)

onde o numero de Rayleigh:

αγ

β

.

)( 3

sup LTTgPGrRa rLL

∞−== (4.2)

está baseado no comprimento característico da geometria, L e β representa

o coeficiente de expansão volumétrica.

Page 64: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

64

Uma correlação que pode ser aplicada ao longo de todo o intervalo de LRa foi

recomendada por Churchill e Chu (1975) e tem a forma:

[ ]

2

27/816/9

6/1

Pr)/492,0(1

387,0825,0

++= L

L

RaNu (4.3)

Para o cálculo de h necessitamos de algumas propriedades de transporte do

etanol, estas foram obtidas com o auxílio do EES.

Tabela 4.1 – Propriedades de transporte do etanol a 20°C (EES, 2009).

Admitindo CTTT °=∆=− ∞ 80sup calcula-se o valor de h :

Então:

Utilizando-se o EES para T = 80°C e P = 100 kPa, calculamos o :β

beta[1]=VolExpCoef(Ethanol;T=T[1];P=P[1]) = 0,003183

9

0608

33

sup10.99,1

10.47,1.10.86,8

047,0).80(003183,0.8,9

.

)(+

−−

∞==

−==

αγ

β LTTgPGrRa rLL

Page 65: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

65

Substituindo-se na equação (4.3) tem-se:

[ ]9,196

)61,16/492,0(1

10.99,1.387,0825,0

2

27/816/9

6/19

=

++=

+

LNu

Da equação (4.1), vem:

Ln

L CRak

LhNu == (4.1)

KmWL

kNuh L ./7,715

047,0

1708,0.3,107. 2=== (4.4)

Agora, num outro caso admitindo-se CTTT °=∆=− ∞ 40sup calcula-se o novo

valor de h :

De modo análogo ao exemplo anterior, calculamos o novo h : A partir do EES, obtém-se o novo valor de :β beta[1]=VolExpCoef(Ethanol;T=T[1];P=P[1]) = 0,001138

Portanto,

8

0608

33

sup10.56,3

10.47,1.10.86,8

047,0).40.(001138,0.8,9

.

)(+

−−

∞==

−==

αγ

β LTTgPGrRa rLL

Substituindo-se na equação (4.3) tem-se:

[ ]4,115

)61,16/492,0(1

10.56,3.387,0825,0

2

27/816/9

6/18

=

++=

+

LNu

Page 66: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

66

Finalmente utilizando-se a equação (4.4):

KmWL

kNuh L ./2,419

047,0

1708,0.4,115. 2===

Portanto, de forma conservadora admite-se KmWh2/300= , que está de

acordo com convecção natural em líquidos segundo a literatura.

4.2.3 Cálculo do número de Biot

Como já referenciado no Capítulo 3, o numero de Biot nos permite calcular a

razão entre a resistência interna e a resistência externa do sistema:

sexterna

erna

k

Lh

R

RBi == int (4.5)

onde h é o coeficiente de transferência de calor médio do etanol, L é a dimensão de

comprimento característico, obtida pela divisão do volume do corpo pela área

superficial do cilindro interno e sk é a condutividade térmica da parede do tubo.

No caso do corpo interno do injetor temos:

KmWh2/300=

mKWks /4,14=

sA

VL = (4.6)

Considerando os valores calculados na seção anterior, calcula-se o valor do

comprimento característico .L

Page 67: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

67

mA

VL

s

4

4

7

10.27,410.56,8

10.66,3 −

===

Substituindo-se os valores na equação (4.5), temos:

1,000891,010.91,84,14

10.27,4.3003

4

int <===== −

sexterna

erna

k

Lh

R

RBi

Visto que o número de Biot calculado é menor que 10%, podemos considerar como

um sistema de resistência interna desprezível.

Page 68: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

68

4.3.3 Equacionamento da aplicação da teoria de sistema concentrado

Na aplicação da teoria neste estudo, consideremos o aquecimento de um

certo volume de etanol contido no interior do injetor que encontra-se inicialmente a

uma temperatura uniforme T0 e é aquecido tão rapidamente que se pode considerar

a mudança da temperatura do ambiente como um degrau. O tempo no qual o

aquecimento começa com t=0 e suponhamos que o coeficiente médio de

transferência de calor h permaneça constante durante o processo, e que a

temperatura da superfície da parede do injetor ∞T . A seguir, de acordo com a

hipótese de que a temperatura dentro do injetor é substancialmente uniforme em

qualquer instante, um balanço de energia para o etanol em um pequeno intervalo de

tempo dt é igual a:

variação na energia interna da

parede do injetor durante dt

= fluxo líquido de calor da parede

do injetor para o etanol durante dt

ou

dtTTAhVdTc s )( ∞−=− ρ (4.7)

onde: =c calor específico do material da parede do injetor, [J/kg.K]

=ρ densidade do material da parede do injetor, [kg/m3]

=V volume da parede do injetor, [m3]

=T temperatura média da parede do injetor, [K]

=h coeficiente de transferência de calor médio do etanol, [W/m2.K]

=sA área da superfície de aquecimento, [m2]

=dT variação da temperatura (K) durante o intervalo de tempo dt [s]

Page 69: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

69

Aplicando-se o método de análise de concentrada, uma vez que o objeto de

estudo é um sistema composto podemos equacionar o problema da seguinte forma:

tomamos como exemplo a fig. 4.4, se a parede interna do injetor tiver uma

capacitância térmica 2)( Vcρ , o coeficiente de transferência de calor em A , (a

superfície interna do injetor), for h , e a capacitância térmica do fluido (etanol) no

interior do injetor for 1)( Vcρ , o histórico de temperatura-tempo do fluido )(1 tT será

obtido por meio da resolução simultânea das equações do balanço de energia.

Para facilitação do equacionamento consideremos o índice 1 para o etanol e o índice

2 para a parede.

Assim para o etanol:

)()( 21111

1 TTAhdt

dTVc −=− ρ (4.8a)

e para a parede:

)()( 21112

2 TTAhqdt

dTVc ind −−−=− ρ (4.8b)

onde AAA == 21 é a área da superfície interna da parede do injetor, hh =1 é o

coeficiente médio de transferência de calor, elétricaind Pq = fornecida pelo aquecimento

por indução e 2T é a temperatura da parede do interior do injetor. A hipótese de que

o etanol e a parede interna do injetor possam ser considerados isotérmicos é

inerente a essa abordagem de sistema uniforme.

Page 70: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

70

Figura 4.4 – Esquema térmico para o sistema parede / etanol com capacidades térmicas concentradas.

As duas equações diferenciais lineares simultâneas precedentes (4.8a e 4.8b)

podem ser resolvidas para a obtenção da evolução da temperatura para o etanol e

para a parede interna do injetor. Se o fluido (etanol) e a parede estiverem

inicialmente a uma temperatura 0T , as condições iniciais para o sistema são:

021 TTT == em 0=t

Além disso, assumimos também que em 0=t , tem-se:

Page 71: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

71

As equações (4.8a) e (4.8b) podem ser reescritas na seguinte forma:

02

111

1

111

=

+ T

Vc

AhT

Vc

AhD

ρρ (4.9a)

e

222

2

222

1

222 Vc

qT

Vc

AhDT

Vc

Ahind

ρρρ=

++

− (4.9b)

onde o símbolo D indica a diferenciação em relação ao tempo

=

dt

dD .

Por conveniência façamos:

111

1Vc

AhK

ρ= (4.10)

e

222

2Vc

AhK

ρ= (4.11)

então:

( ) 02111 =−+ TKTKD (4.12)

e

( ) mod2212 qTKDTK =++− (4.13)

onde: 222

modVc

qq ind

ρ= (4.14)

Page 72: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

72

Isolando-se T2 da equação (4.12), tem-se:

1

1

2 .1 TK

DT

+= (4.15)

Substituindo-se T2 na equação (4.13), temos:

( ) mod1

1

212 1 qTK

DKDTK =

+++−

Rearranjando:

mod1

1

22

1

2

12 qTK

DKK

K

DDTK =

++++− , ou

mod

1

2112

1

2

1112 q

K

DKTTK

K

DTDTTK =++++−

Posteriormente,

mod1

1

2

1

2

qTK

DKD

K

D=

++

mod1

1

2

2

1

2

1

11

qdt

dT

K

K

dt

Td

K=

++

Finalmente, multiplicando-se tudo por K1, temos:

( ) mod11

212

1

2

qKdt

dTKK

dt

Td=++ (4.16)

Page 73: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

73

Por fim, obtemos uma equação diferencial de 2ª. ordem de coeficientes

constantes (equação 4.16).

A solução desta equação esta dividida em duas partes: solução particular Tp e

solução homogênea, Th:

hp

TTT 111 += (4.17)

A equação homogênea é:

( ) 01212

1

2

=++dt

dTKK

dt

Td (4.18)

cujo polinômio característico é: ( )[ ] 021 =++ KKmm =>

=> ( ) 0212 =++ mKKm , cujas raízes são:

( )

+−=

=

212

1 0

Kkm

m

de forma que, a solução homogênea fica:

( ) tKK

heAeAT

.

2

0

1121+−+=⇒

ou simplesmente:

( ) tKK

heAAT

.

21121+−+= (4.19)

a solução particular por vez é:

431 AtAT p += (4.20)

Page 74: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

74

derivando-se:

02

1

2

3

1

=

=

dt

Td

Adt

dT

p

p

Substituindo-se na equação (4.16) ( ) mod11

212

1

2

qKdt

dTKK

dt

Td=++ , temos:

( ) mod1321 qKAKK =+

Então: mod

21

13 q

KK

KA

+=

Substituindo-se A3 na equação (4.20), temos:

4mod

21

11 Atq

KK

KT p +

+= (4.21)

Finalmente, como particularogêneaTTT 1hom11 += , portanto fica:

( ) ( )tq

KK

KeAAtT

tKK

mod

21

1211

21'+

++= +− (4.22)

Com A'1 = A1 + A4.

Uma relação entre as constantes A'1 e A2 podem ser obtidas pela aplicação das

condições iniciais:

01 TT = em 0=t

e 01 =dT

dT em 0=t

Page 75: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

75

da primeira condição inicial, tem-se:

( ) 0.' mod

21

10

2100 qKK

KeAAT

t +++=

=

021 ' TAA =+∴ (4.23)

e da segunda condição inicial, vem:

01 =dT

dT em 0=t

( )( )

0mod

21

10.

2121 21

=+

++−=+−

qKK

KeKKA

dt

dT KK

( ) 0mod

21

1212 =

+++−⇒ q

KK

KKKA

Logo,

( ) mod2

21

12 q

KK

KA

+= (4.24)

e substituindo-se em (4.23),

vem: ( ) mod2

21

101 ' q

KK

KTA

+−= (4.25)

Finalmente, substituindo esses resultados, para o etanol temos:

( )( ) ( )

( )tq

KK

Keq

KK

Kq

KK

KTtT

tKK.mod

21

1.

mod2

21

1mod2

21

101

21

++

++

+−= +− (4.26)

Page 76: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

76

rearranjando-se, fica:

( )( )

( )( )[ ]tKKeq

KK

KTtT

tKK.1. 21

.

mod2

21

101

21

+−−+

−=+−

(4.27)

A solução para T2 (t) é obtida pela substituição da relação para T1 da equação

(4.26) na equação (4.15).

Portanto:

1

1

2 .1 TK

DT

+= (4.15)

Desmembrando T2, temos:

dT

dT

KTT 1

1

12 .1

+= (4.28)

Derivando-se a equação (4.26), fica:

( )

( )( )

mod

21

1.

mod12

21

211 ... 21 qKK

KeqK

KK

KK

dt

dT tKK

++

+

+−= +−

Rearranjando-se temos:

( )[ ]tKKeq

KK

K

dt

dT .

mod

21

11 211.+−−

+= (4.29)

Page 77: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

77

Substituindo-se a equação (4.29) em (4.28) vem:

( )( )

++= +− tKK

eqKK

K

KTT

.

mod

21

1

1

12211.

1

Finalmente para a parede do injetor:

( )( )tKKe

KK

qTT

.

21

mod

12211.

+−−+

+= (4.30)

Page 78: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

78

4.3.4 Análise de sensibilidade do modelamento

Uma vez que as equações do modelamento da temperatura em função do

tempo tanto para o etanol como para a parede do injetor estão disponíveis,

equações (4.27) e (4.30) respectivamente, podemos realizar uma análise de

sensibilidade do modelamento variando os parâmetros mais relevantes no processo

de aquecimento.

( )( )

( )( )[ ]tKKeq

KK

KTtT

tKK.1. 21

.

mod2

21

101

21

+−−+

−=+−

(4.27)

( )( )tKKe

KK

qTT

.

21

mod

12211.

+−−+

+= (4.30)

Na planilha mostrada da figura 4.6 podemos observar na parte superior os

parâmetros de entrada, juntamente com as propriedades físicas e de transporte

tanto para o etanol como para a parede do injetor, a temperatura inicial, o

rendimento elétrico η e a potência de entrada. Na primeira coluna encontra-se o

tempo no qual o histórico da elevação da temperatura se dará, na segunda coluna

está inserida a equação (4.27) para o etanol e na quarta coluna está inserida a

equação (4.30) para a parede do injetor. No gráfico da figura 4.5 observa-se um

exemplo do comportamento das curvas de aquecimento do etanol e do injetor em

função do tempo.

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

180,0

200,0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

tempo [s]

Tem

per

atu

ra [

°C]

T1(t) = [°C] - EtanolT2(t) = [°C] - Parede

Figura 4.5 – Histórico da elevação de temperatura do etanol e da parede do injetor em função do tempo para uma potência de 100 W e KmWh

2/300= .

Page 79: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

79

Figura 4.6 – Planilha com histórico de elevação da temperatura em função do tempo.

Page 80: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

80

Um parâmetro de extrema relevância neste processo é a potência de entrada

a ser empregada na fase de pré-aquecimento do injetor, pois os fabricantes de

veículos limitam a capacidade do conjunto alternador/bateria para diminuir o seu

custo. Normalmente, veículos top de linha, que são equipados com diversos

equipamentos de conforto como ar-condicionado, por exemplo, são dotados de um

conjunto alternador/bateria na faixa dos 60 Ah, já os veículos mais despojados de

acessórios, geralmente estão equipados com conjunto alternador/bateria na faixa

dos 40 Ah e por vezes até menos.

Visto que este sistema deve ser projetado para atender aos requerimentos

mais usuais presentes no mercado nacional, é importante conhecer qual a influência

do parâmetro potência de entrada no desempenho global do sistema. Para isso, foi

realizada uma análise de sensibilidade mantendo-se todos os demais parâmetros

inalterados e somente variando a potência de aquecimento com a finalidade de

conhecer o impacto deste parâmetro no tempo de pré-aquecimento do injetor.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

t [s] 0,8 1,8 2,8 3,8 4,8 5,8 6,8 7,8 8,8 9,8 10,8 11,8 12,8 13,8 14,8

tempo [s]

Tem

per

atu

ra [

°C]

150 W

200 W

100 W

Figura 4.7 – Gráfico comparativo de potência de aquecimento aplicada ao injetor.

No gráfico da figura 4.7 observa-se que o tempo de pré-aquecimento do

sistema para se elevar a temperatura do etanol de 5 a 80°C, ou seja, um delta de

75°C de elevação de temperatura é de 7,4 segundos com 100 W, isto corresponde

a uma taxa de elevação de temperatura de 10,4°C/s, com 150 W o tempo

necessário foi de 5,6 segundos, com uma taxa de elevação de temperatura de

Page 81: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

81

13,6°C/s e finalmente com 200 W o tempo foi de 4,8 segundos que se traduz numa

taxa de 16,3 C°/s. A taxa de elevação da temperatura é definida como a relação

entre o delta de temperatura inicial e temperatura final pelo tempo necessário para

se alcançar a temperatura final objetivo. É um parâmetro de fácil visualização e nos

fornece uma noção de como o sistema responde à variação de um determinado

parâmetro.

Um comparativo ilustrativo da taxa de elevação da temperatura em função da

potência empregada pode ser vista no gráfico da figura 4.8.

10,413,6

16,3

0,02,04,06,08,0

10,012,014,016,018,0

Tax

a m

édia

de

elev

ação

da

tem

per

atu

ra [

°C/s

]

100 W 150 W 200 W

Potência entrada [W]

Figura 4.8 – Taxa média de elevação da temperatura em função da potência.

Ou seja, mantendo-se todos os demais parâmetros inalterados e variando-se

somente a potência de aquecimento dos injetores, obtemos a partir do modelamento

uma estimação rápida do impacto deste parâmetro no processo de aquecimento. O

tempo necessário de pré-aquecimento é de extrema relevância, pois nos permite

considerar se este atende aos requisitos solicitados pelos fabricantes de motores /

veículos em função das condições de contorno pré-estabelecidas.

Análogo ao exemplo anterior, pode-se variar a superfície de troca de calor do

corpo do injetor, e consequentemente seu volume, a espessura do corpo interno do

injetor mas, todavia um parâmetro que merece atenção especial neste processo é o

coeficiente médio de transferência de calor h .

Uma vez que o cálculo deste coeficiente envolve uma série de variáveis, e

sua determinação apresenta alta complexidade, uma maneira de se determiná-lo é

Page 82: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

82

empiricamente. No exemplo anterior, todos os levantamentos e comparativos foram

efetuados com KmWh2/300= , valor este adotado na seção 4.2.2 após uma série

de considerações.

O objetivo da análise seguinte é o de variar o coeficiente médio de

transferência de calor com a finalidade de avaliar seu impacto nos resultados do

modelamento. Segundo sugerem DeWitt e Incropera (1998), os valores típicos para

o coeficiente de transferência de calor por convecção livre podem variar de 50 –

1.000 W/m2.K para líquidos.

Tabela 4.3 – Valores típicos para o coeficiente de transferência de calor por convecção. (DeWitt e Incropera, 1998).

Neste caso vamos simular os seguintes valores de h : 100, 400 e 800 W/m2.K.

020406080

100120140160180200

0,8 1,8 2,8 3,8 4,8 5,8 6,8 7,8 8,8 9,8 10,8 11,8 12,8 13,8 14,8

tempo [s]

Tem

per

atu

ra [

°C]

100 [W/m2.K]400 [W/m2.K]800 [W/m2.K]

Figura 4.9 – Gráfico comparativo de resultados com a variação do coeficiente médio de transferência de calor.

Page 83: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

83

7,0

11,313,3

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

Tax

a m

édia

de

elev

ação

da

tem

per

atu

ra [

°C/s

]

100 400 800

Coeficiente de transfência de calor [W/m2.K]

Figura 4.10 – Taxa média de elevação da temperatura em função do h .

Caso sejam mantidas as demais condições, ou seja, o mesmo delta de 75°C

de elevação de temperatura do exemplo anterior, observa-se que o tempo

necessário de pré-aquecimento é de 10,8 segundos com KmWh2/100= , isto

corresponde a uma taxa média de elevação de temperatura de 7,0°C/s, já com

KmWh2/400= o tempo necessário foi de 6,8 segundos com uma taxa média de

elevação de temperatura de 11,3°C/s e finalmente com KmWh2/800= o tempo

necessário foi de 5,8 segundos que se traduz numa taxa média de 13,3°C/s.

Um fator que se verifica na simulação do coeficiente médio de transferência

de calor, é um descolamento do delta de temperatura 21 TTT −=∆ . Portanto com o

aumento do coeficiente médio de transferência de calor h , haverá uma diminuição

da temperatura da parede ao longo do tempo e um aumento da temperatura do

etanol, já que ocorrerá uma maior taxa de transferência de calor da parede para o

etanol, o que tende a uniformizar essas duas temperaturas, como indicado no

gráfico da figura 4.11. Neste gráfico, observa-se que o delta de temperatura entre o

etanol e a parede é sensivelmente maior quando KmWh2/100= , entretanto com

KmWh2/800= o delta diminui consideravelmente, diminuindo também a temperatura

da parede 2T . A simulação foi realizada com potência constante de 100 W para

todos os coeficientes.

Page 84: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

84

0,020,040,060,080,0

100,0120,0140,0160,0180,0200,0220,0240,0260,0280,0300,0

0 2 4 6 8 10 12 14

tempo [s]

Tem

per

atu

ra [

°C]

Etanol h=100

Parede h=100

Etanol h=800

Parede h=800

Figura 4.11 – Descolamento de 12 TTT −=∆ em função da variação de h .

Page 85: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

85

4.4 Ensaios no motor

4.4.1 Metodologia

Para realização dos ensaios foi utilizado um motor Volkswagen da família

EA111 de 1.400 cilindradas, 2 válvulas por cilindro, refrigerado a água e de

tecnologia bicombustível. Este motor foi montado em um suporte mantendo todas

as características originais do veículo, e este foi posicionado numa câmara fria.

Figura 4.12 – Injetores CVSmaxV montados no motor EA111. Os injetores originais foram desmontados e os injetores aquecidos foram

devidamente montados no cabeçote mantendo sua posição original. Todo o restante

do motor permaneceu inalterado. Na figura 4.12 pode-se observar os injetores

aquecidos fornecidos já instrumentados com termopares tipo K. Os termopares

utilizados são de material níquel-alumínio, operam numa faixa de temperatura de 0 a

1250°C e com uma precisão de 2,2°C.

Page 86: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

86

Figura 4.13 – Injetores CVSmaxV instrumentados com termopares.

Figura 4.14 – Posicionamento dos termopares no elemento aquecedor do injetor. (Siemens VDO Automotive AG, 2006).

Os termopares foram inseridos nos injetores conforme mostrado na figura

4.14, dos quatro injetores fornecidos, três estão instrumentados com termopares

somente na parte superior e somente um está instrumentado na parte superior e na

parte inferior.

Page 87: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

87

Figura 4.15 – Perfil de temperatura do elemento aquecedor. (Siemens VDO Automotive AG, 2006).

Devido ao gradiente de temperatura no interior do injetor conforme mostrado

na figura 4.15, o posicionamento dos termopares deve ser considerado quando da

regulagem da temperatura final objetivo da unidade controladora de aquecimento.

Como o objetivo do ensaio é aquecer o etanol a uma temperatura final de 120°C (no

centro do corpo do injetor), e o termopar de controle está instalado na parte superior

do injetor, deve-se considerar o gradiente de temperatura e ajustar a temperatura

final objetivo para 80°C.

Figura 4.16 – Unidade controladora de aquecimento dos injetores.

Page 88: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

88

Os termopares dos injetores são conectados à unidade eletrônica de

aquecimento a fim de retro-alimentar o sistema de controle de temperatura e estes

sinais analógicos provenientes da unidade controladora são convertidos em sinais

digitais por meio de um conversor analógico / digital (ADscan) e conectados ao PC

que possui uma ferramenta específica de aquisição de dados denominada de INCA.

Esta ferramenta é capaz de realizar a aquisição dos dados bem como modificar os

parâmetros necessários da calibração da (PCM) a fim de se atingir os objetivos

desejados.

Na fase de execução de ensaios, os injetores serão controlados em relação

ao seu funcionamento "vazão" pela (PCM) do motor e seu aquecimento será

controlado pela unidade eletrônica de aquecimento. Esta unidade eletrônica opera

numa freqüência de aproximadamente 40 kHz, tensão de alimentação alternada de

12 V e corrente de pico de aproximadamente 18 A por injetor. No seu interior a

tensão alternada é amplificada para aproximadamente 109 V utilizando o modo de

controle on-off (liga-desliga) para atingir o objetivo de temperatura desejado.

Considerando que a unidade eletrônica de aquecimento trabalha num sistema de

malha fechada com relação à temperatura, ou seja, uma vez que a temperatura

objetivo é alcançada o aquecimento é interrompido conforme mostrado na linha

laranja da figura 4.17, quando o sinal está alto o aquecimento está ligado, quando o

sinal está baixo o aquecimento permanece desligado, assim que o sistema detecta

uma queda de temperatura com uma histerese de 3°C o sistema aciona o

aquecimento novamente.

Figura 4.17 – Aquisição de dados para verificação do controle de acionamento do aquecimento.

Page 89: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

89

Após passado o tempo de condicionamento mínimo do motor de doze horas

no interior da câmara fria a temperatura de 5°C se dá início ao procedimento de

ensaio. A ignição é ligada, a tensão da bateria é verificada, pois não deve estar

abaixo de 10 V, caso esteja, uma outra bateria é conectada em paralelo, o

equipamento de aquisição de dados é conectado ao PC por meio de cabo Ethernet,

o experimento (onde estão configurados os canais a serem medidos) é carregado na

(PCM), a unidade controladora dos injetores CVS é ligada e a temperatura final

objetivo é ajustada para 80°C. O botão gatilho que dispara o aquecimento é

acionado e a elevação da temperatura em função do tempo é registrada no

equipamento de medição INCA.

Figura 4.18 – Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 5 a 80°C.

Na figura 4.18 observa-se a elevação da temperatura no injetor do cilindro 1 a

uma temperatura inicial de 5°C alcançando o objetivo pré-estabelecido de 80°C,

pode-se verificar ainda o acionamento do elemento aquecedor pela linha laranja

constante mostrado no gráfico, desligando-se quando este atinge a temperatura

objetivo.

Page 90: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

90

Figura 4.19 – Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 0 a 80°C.

No gráfico da figura 4.19 verifica-se a elevação da temperatura em outra

condição, de 0 °C a 80°C, desta vez com os quatro injetores. Nesta condição o

tempo necessário para que a temperatura final seja alcançada é ligeiramente maior

em relação à condição anterior, se mantidas as mesmas condições de ensaio.

Na versão final do sistema que será proposto, a (PCM) será a responsável

pela ativação do sistema que, para ser acionado, deve obedecer a uma série de

condições que podem ser basicamente as condições descritas no fluxograma da

figura 2.4. A (PCM) comandará a unidade eletrônica de aquecimento que, por sua

vez, será responsável pela geração do sinal que aquecerá o injetor.

A alimentação elétrica tanto para a (PCM) como para a unidade eletrônica de

aquecimento será proveniente da bateria do veículo. Esta, aliás, é uma fonte de

preocupação no desenvolvimento desta nova tecnologia, pois a energia solicitada ao

sistema do veículo não deve ser superior àquela disponibilizada pelos fabricantes de

veículos, valor este que ainda não se encontra claramente definido, pois estes estão

ainda na fase definições dos requerimentos para utilização de sistemas de partida a

frio alternativos ao sistema atual. Uma vez que o sistema deverá ser aplicado numa

extensa gama de motores de diferentes tipos de veículos, este deverá ser capaz de

operar em arquiteturas elétricas veiculares onde o conjunto alternador/bateria serão

capacidade reduzida, como 40 Ah, por exemplo.

Page 91: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

91

A comunicação entre a (PCM) e o controle de aquecimento deverá ser

realizada por meio de linha (CAN) - Controlled Area Network de forma que os sinais

enviados / recebidos pelos módulos eletrônicos como (PCM) e unidade eletrônica de

comando do aquecimento (Heater Controller) deverão ficar também disponíveis para

outros receptores que por ventura necessitem de comunicação com este sistema,

como por exemplo, o instrumento combinado.

Figura 4.20 – Diagrama proposto de sistema com os injetores e suas interações. (Continental, 2009).

Page 92: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

92

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O modelamento proposto foi realizado não tendo como objetivo principal a

equiparação dos resultados de suas simulações, com os resultados obtidos

experimentalmente, e sim sua tendência de representar o fenômeno de aquecimento

do combustível no interior do injetor.

Com a finalidade de simplificação do equacionamento do problema, algumas

hipóteses foram adotadas que de certa forma contribuem para a divergência dos

resultados obtidos pelos ensaios em relação aos do modelamento.

Após a realização dos ensaios verificou-se que o comportamento do

modelamento apresenta-se de maneira semelhante ao que foi medido a partir dos

ensaios. Porém, divergências de resultados são esperados, pois o modelamento não

leva em consideração todas as variáveis envolvidas no processo, uma vez que se

tornaria muito complexo ou até mesmo impossível sua solução matemática.

No caso da simulação do coeficiente médio de transferência de calor, verifica-

se que o coeficiente h também varia seu valor ao longo do tempo, ou seja, o

coeficiente deveria ser calculado a cada instante, e não como foi considerado no

modelamento, o que contribuiria para o aumento da complexidade do

equacionamento.

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

180,0

200,0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

tempo [s]

Tem

per

atu

ra [

°C]

T1(t) = [°C] - EtanolT2(t) = [°C] - Parede

Figura 5.1 – Simulação de elevação da temperatura para KmWh2/400=

A título de exemplo, analisaremos uma elevação de temperatura de 0 a 80°C,

sendo uma realizada por medição real e outra simulada a partir do modelamento.

Page 93: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

93

No gráfico da figura 5.1 observa-se que o tempo necessário para se elevar a

temperatura de 0 a 80°C é de aproximadamente 7 segundos, com um coeficiente

médio de transferência de calor de 400 W/m2.K, e potência de entrada de 100 W.

Figura 5.2 – Aquisição de elevação da temperatura do etanol no injetor de 0 a 80°C.

No gráfico da figura 5.2, observa-se que o tempo necessário de aquecimento

nas mesmas condições foi de aproximadamente 9,3 segundos, ou seja, uma

diferença de cerca de 32% a mais entre o medido e o simulado a partir do

modelamento. A seguir algumas tecemos algumas considerações em torno desta

diferença.

No equacionamento do problema não foi considerada a presença da agulha

do injetor, que possui uma massa considerável do ponto de visto térmico e encontra-

se na temperatura inicial como a parede do interior do injetor e o etanol. Quando a

energia elétrica é fornecida ao sistema, o interior do injetor se aquece rapidamente,

aquecendo o etanol por convecção e a massa da agulha retira calor do sistema,

sendo um dos prováveis fatores causadores deste "atraso térmico" observado na

medição.

Outro fator de extrema relevância é o rendimento elétrico do sistema elétricoη ,

que nesta simulação foi considerado de 50%, isto significa que para cada unidade

de potência elétrica fornecida pela bateria é transformado em uma potência de

Page 94: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

94

aquecimento, porém com perdas no sistema elétrico e a determinação dessas

perdas não foi considerado, fator que também contribui para a divergência de

resultados.

Um parâmetro que merece atenção especial e também influencia de maneira

decisiva no modelamento é o coeficiente médio de transferência de calor h , pois

este deve ser estimado em função de ensaios empíricos para cada situação, e neste

caso, foi utilizado um valor adotado, que representa um valor aproximado da média

encontrada na literatura.

Por outro lado, o h poderia neste caso ser utilizado fator de "calibração" do

modelamento, pois poderíamos estimá-lo de forma a representar o fenômeno de

aquecimento de acordo com os resultados obtidos pelos ensaios e assim realizar a

simulação com os outros parâmetros envolvidos na processo, ou seja, ele tornaria-

se então um fator de ajuste do modelamento.

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

180,0

200,0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

tempo [s]

Tem

per

atu

ra [

°C]

T1(t) = [°C] - Etanol

T2(t) = [°C] - Parede

Figura 5.3 – Simulação de elevação da temperatura para KmWh2/170=

No gráfico da figura 5.3 observa-se que o tempo de aquecimento para elevar

a temperatura de 0 a 80°C foi de aproximadamente 9 segundos, mantendo-se todos

os demais parâmetros inalterados e "ajustando" somente o h , que no caso, foi de

170 W/m2.K. Assim o modelamento reproduz o mesmo valor obtido através dos

ensaios e apresenta-se como uma ferramenta para estimativa da temperatura do

combustível no interior do injetor.

Page 95: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

95

6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

O objetivo deste trabalho foi de desenvolver um modelamento matemático

que fosse capaz de estimar a elevação da temperatura no interior do injetor em

função do tempo, levando-se em consideração as variáveis envolvidas no processo

de aquecimento.

Para tal, algumas hipóteses simplificadoras foram identificadas, e um

equacionamento matemático baseado na hipótese de sistema concentrado foi

proposto e chegou-se a definição de duas equações diferenciais que representam o

fenômeno de aquecimento no injetor. A parede do injetor e o etanol foram tratados

como sistemas concentrados e o acoplamento entre eles se deu pela transferência

de calor da parede para o etanol.

Posteriormente, estas equações foram resolvidas o que permitiu obter as

curvas de aquecimento como função do tempo e dos demais parâmetros envolvidos.

Uma análise de sensibilidade em diferentes condições foi realizada para

verificar o impacto dos diversos parâmetros nos resultados da simulação. Foram

simuladas variações de potência de aquecimento obtendo-se as curvas de

aquecimento que como função do tempo como mostrado no gráfico da figura 4.7.

Analogamente, foram simulados diferentes valores de coeficiente médio de

transferência de calor, obtendo-se sua curva de aquecimento como função do

tempo, e os resultados estão indicados no gráfico da figura 4.9.

Ensaios com injetores montados num motor foram realizados no interior de

uma câmara fria a fim de se comparar os resultados obtidos pelos ensaios com os

resultados provenientes das simulações matemáticas. Foi constatado que o

modelamento apresenta algumas limitações, o que era esperado, pois o

equacionamento por motivos de complexidade não leva em consideração todas as

variáveis que fazem parte do processo.

A estimativa do coeficiente médio de transferência de calor h exige a

realização de ensaios empíricos, uma vez que sua determinação exata não pode ser

encontrada na literatura. Em virtude deste fato, foi proposto um fator de "calibração"

do modelo a partir do h , a fim de ajustar o modelamento para fins de utilização da

simulação apresentado resultados satisfatórios de representatividade.

Page 96: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

96

O modelamento proposto também poderá ser implementado no algoritmo de

software do sistema de gerenciamento eletrônico do motor, a fim de se estimar a

temperatura do combustível no injetor e consequentemente o tempo que esta

necessita para que atinja seu valor objetivo, pois o procedimento de partida do

veículo somente será autorizado pela (PCM) depois de decorrido este tempo e a

temperatura objetivo tenha sido alcançada. Uma vez que os injetores que serão

produzidos em série não serão dotados de termopares para informar ao sistema à

que temperatura ele se encontra, desta forma o modelamento é um artifício que

soluciona esta problemática.

Finalmente, o modelamento matemático proposto atingiu seu objetivo inicial

que foi a partir dos diversos parâmetros envolvidos no processo, elaborar um

modelo que possa ser simulado e sirva de norte para se desenvolver este novo

componente economizando na construção de amostras, minimizando o tempo de

ensaios e conseqüentemente no seu custo geral, fator preponderante quando no

desenvolvimento e viabilização de novos produtos na indústria automobilística da

atualidade.

Como sugestão para trabalho futuro, o modelamento poderá ser aperfeiçoado

numa plataforma de software Matlab®, para uma condição de fluxo dinâmico do

injetor com a finalidade de se estimar a temperatura do etanol no injetor na fase de

pré-aquecimento e também após a partida do motor em diferentes condições de

utilização como marcha-lenta, dirigibilidade a frio e medições de emissões veiculares

a fim de se verificar o impacto do aquecimento nas mesmas. No que diz respeito às

emissões de gases, este sistema deverá contribuir de maneira significativa para a

redução dos hidrocarbonetos (HC) e aldeídos (CHO) no caso do etanol, uma vez

que a maior parcela de emissão destes está concentrada na fase de partida a frio e

momentos após a mesma. Posteriormente ensaios deverão ser realizados a fim de

se comprovar a teoria.

Para tal, alguns parâmetros do sistema de gerenciamento do motor (PCM)

devem ser otimizados, tais como a quantidade inicial de combustível a ser injetada,

o ângulo de ignição, a fase de injeção, a posição da borboleta, a potência de

aquecimento e a temperatura objetivo dos injetores. Existem outros parâmetros a

serem considerados durante este procedimento, porém, estes acima são os que

devem ser otimizados na calibração do sistema de injeção para a obtenção dos

resultadosdesejados.

Page 97: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis ANP. Portaria ANP n°. 36/05 e Portaria ANP n°. 309/01. Disponível em: <http://www.anp.gov.br>. Acesso em: 16.Out.2008; Anfavea. Estatísticas. Disponível em: <http://www.anfavea.com.br/tabelas.html>. Acesso em 20.Jun.2009; Artigo Etanol. Em: Wikipédia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Etanol. Acesso em 23.Fev.2009; Automotive Business. Disponível em: <http://www.automotivebusiness.com.br/noticia> Acesso em: 17.Abr.2009;

Artmann, C. Cold Start and Warm Up behavior of Direct Engines running with Fuels Containing Ethanol. Siemens VDO Automotive. Germany, 2007; Bastos, J.P.A. Eletromagnetismo para Engenharia: Estática e Quase-Estática. Florianópolis. Ed. da UFSC, 2004, p.227-256; Bosch, R. Manual de Tecnologia Automotiva. São Paulo: Edgard Blücher, tradução da 25ª edição alemã, 2005, p. 614-615 Churchill, S.W., H.H.S. Correlating Equations for Laminar and Turbulent Free Convection from a Vertical Plate, Int. J. Heat Mass Transfer, 18, 1323, 1975; Dewitt P, David; Incropera Frank P. Fundamentos da transferência de calor e de massa. Copyright LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. Rio de Janeiro, 1998, p. 5, 268; Ethanol Summit. Disponível em: <http://www.ethanolsummit.com.br/>. Acesso em 17.Jun.2009; Fischetti, D, Silva, O. Etanol: A Revolução Verde e Amarela. 1 ed. São Paulo: Bizz Comunicação e Produções, 2008, p. 56, 65-66; Fono, Z. An Empirical Study of the Heat Transfer of Three Inductively Heated Injector Concepts Using Alcohol Fuel E100. Siemens VDO Automotive AG, 2007; Hauet, B. et al. The Spark Ignition Engine of the Future. E85: Impact of the flex-fuel engine tuning. Strassbourg, 2007; Hofmann, P; Lenz, P. H. Ein schnell ansprechendes Flash-Boiling-Einspritzventil zur Verminderung der Emissionen im Kaltstart und Warmlauf. Vortrag am 21. Internationales Wiener Motorensymposium, 2000;

Page 98: MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA … · Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C ... INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board

98

Induction Atmospheres. Turnkey Induction Heating Solutions. Disponível em: <http://www.inductionatmospheres.com/induction_heating.html>. Acesso em: 16.Nov.2008; Jornal do Comércio – Rio Grande do Sul, 2009, Disponível em: <http://jcrs.uol.com.br>. Acesso em: 22.Abr.2009; Kreith, F.; Bohn, M. Princípios de Transferência de Calor. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, p.99-105; Milton, E. B. Thermodynamics, Combustion and Engines. Londres: Chapman & Hall, 1995; Rocha, M.S., Simões-Moreira, J.R. A simple impedance method for determining ethanol and regular gasoline mixtures mass contents. Fuel 84, pp. 447 – 452, 2005; Sofisica. Correntes de Foucault. Disponível em: <http://www.sofisica.com.br/conteudos/Eletromagnetismo/InducaoMagnetica/correntedefoucault.php>. Acesso em: 20.Ago.2009; Trevisan, W. Manual Termo-Técnico. Instituto Brasileiro do Livro Científico LTDA. São Paulo, 1988, p. 24-28; UNICA. Dados e Cotações. Disponível em: <http://www.unica.com.br/dadosCotacao/estatistica/>. Acesso em: 12.Set.2009; van Basshuysen, R. e Schäfer, F. (eds), Internal Combustion Engine Handbook: Basics, Components, Systems and Perspectives. Editora Vieweg, Wiesbaden, Germany, 2002, p. 389, 649-660; Webmotors. Disponível em: <http://webmotors.com.br>. Acesso em: 14.Mai.2009; Zimmermann, F., Bright, J., Ren, W-M., Imoehl, B. An Internally Heated Tip Injector to Reduce HC Emissions During Cold-Start. USA. SAE Technical Paper Series, 1999-01-0792.