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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
ANA CLAUDIA DE LIMA
LUCAS CANUTO DAL BEM
ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÃO
DE ALVENARIA ESTRUTURAL COM MÚLTIPLOS PAVIMENTOS.
CURITIBA
2016
ANA CLAUDIA DE LIMA
LUCAS CANUTO DAL BEM
ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÃO
DE ALVENARIA ESTRUTURAL COM MÚLTIPLOS PAVIMENTOS.
Trabalho de graduação apresentado ao curso de Engenharia Civil da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, como requisito para o grau de Engenheiro Civil.
Orientador: Profº. Msc. Weligtonn Renann Tavares
CURITIBA – PR
2016
AGRADECIMENTOS
A DEUS, pelo seu amor incalculável.
Aos meus queridos pais Pedro de Lima e Iolanda Maria Schisler de Lima, e a minha
querida irmã Damaris Roberta, que me apoiaram em tudo para realização desta etapa
de minha vida.
Ana Claudia de Lima
Agradeço a DEUS meu grande amigo que sustentou durante este feito.
Aos meus pais Vandinete Canuto e Nilvo Dal Bem que de forma incondicional me
apoiaram com amor e cuidado.
Lucas Canuto Dal Bem.
Aos colegas e professores que de forma direta ou indireta nos apoiaram.
Ao Professor Me. Weligtonn Renann Tavares que dedicou-se a nos orientar para este
feito.
Ana Claudia e Lucas Canuto.
Para ser sábio, é preciso primeiro temer a
Deus, o Senhor. Se você conhece o Deus
Santo, então você tem compreensão das
coisas.
Provérbios 9:10
RESUMO
Devido ao incentivo em programas sociais do governo federal nos últimos anos
e a criação do Minha Casa Minha Vida, foi possível observar o aumento de residências
multifamiliar, muitos deles executados com alvenaria estrutural, por se tratar de um
processo construtivo eficiente e racional atendendo a demanda prevista.
Porém toda estrutura tem um ciclo de vida útil, fatores como projeto e
planejamento bem elaborados agregado a materiais e mão de obra devidamente
qualificados, resultam na execução e produto final com qualidade. Apesar disto em
muitas obras recém entregues apresentam manifestações patológicas, como fissuras,
causadas principalmente devido sobrecarga de carregamento, dilatação térmica,
recalque de fundação e reações químicas. Patologias que podem interferir na
durabilidade, estética e nas características estruturais do empreendimento.
Causando inquietações por parte dos moradores e incertezas por parte das
construtoras. Este trabalho busca esclarecer e melhorar a qualidade de futuros
edifícios, que utilizarão o processo executivo em alvenaria estrutural de bloco
cerâmico, visando identificar possíveis causas para tais fenômenos.
Primeiramente fez-se uma análise no local com o intuito de conhecer a real
situação, visitas posteriores foram realizadas e executados os levantamentos de
manifestações patológicas. Por intermédio das informações, foi realizado um
diagnóstico e pontuados os problemas mais recorrentes. Através de comparativos
fotográfico do processo executivo e levantamento in loco da espessura do
revestimento externo, chegou-se a prováveis causas de petições de manutenção, por
parte dos moradores locais.
Constatou-se que as reivindicações poderiam ser evitadas, caso fossem
realizados os procedimentos mais adequados, durante a execução no processo em
alvenaria estrutural armada em bloco cerâmico.
Palavra Chave: processo construtivo, manifestações patológicas, alvenaria
estrutural.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Fachada Residencial Central Parque Lapa ......................................... 13
FIGURA 2 – Blocos cerâmicos estruturais .............................................................. 16
FIGURA 3 – Amarração em planta .......................................................................... 19
FIGURA 4 – Planta x Elevação ............................................................................... 20
FIGURA 5 – Detalhamento da laje da cobertura ..................................................... 21
FIGURA 6 – Detalhe de junta de dilatação. ............................................................. 22
FIGURA 7 – Fissuração típica por sobrecarga vertical ............................................ 24
FIGURA 8 – Trincas horizontais provenientes de sobrecarga ................................. 25
FIGURA 9 – Ruptura da alvenaria sob o ponto de aplicação da carga ................... 25
FIGURA 10 – Fissuras nos vértices em trecho de alvenaria com aberturas ........... 25
FIGURA 11 – Fissura horizontal na interface entre a laje e a parede ..................... 27
FIGURA 12 – Fissura vertical por movimentação térmica da laje. .......................... 27
FIGURA 13 – Trincas de cisalhamento provocadas por expansão térmica da laje . 28
FIGURA 14 – Fissuras horizontais no revestimento provocadas pela expansão ou
retração da argamassa de assentamento. .............................................................. 29
FIGURA 15 – Fissuras na argamassa de revestimento provenientes da retração ou
expansão da argamassa. ........................................................................................ 30
FIGURA 16 – Configuração de fissuras em situações de recalque ......................... 31
FIGURA 17 – Elevação esquemática dos desníveis ............................................... 35
FIGURA 18 – Fachadas com presença de tratamento ............................................ 36
FIGURA 19 – Parede manchada Apartamento 02 .................................................. 38
FIGURA 20 – Proliferação de fungos Apartamento 02 ............................................ 38
FIGURA 21 – Desnível ao lado do empreendimento ............................................... 38
FIGURA 22 – Manchas rodapé apartamentos 01, 02, 03 e 04 ................................ 39
FIGURA 23 – Manchas batentes de porta apartamentos 01, 02, 03 e 04 ............... 39
FIGURA 24 – Marcação da fiada sem presença de impermeabilização.................. 39
FIGURA 25 – Etapas subsequentes sendo executadas sem impermeabilização do
baldrame .................................................................................................................. 39
FIGURA 26 – Fissura horizontal ao lado das portas................................................ 39
FIGURA 27 – Manchas na parede dos apartamentos de final 3 e 4 de todos os
andares. ................................................................................................................... 40
FIGURA 28 – Manchas na parede dos apartamentos de final 3 e 4 de todos os
andares. ................................................................................................................... 40
FIGURA 29 – Umidade presente nos blocos ........................................................... 40
FIGURA 30 – Fissura na última fiada de blocos ...................................................... 41
FIGURA 31 – Fissura na última fiada de blocos (vista fachada) ............................. 41
FIGURA 32 – Fissura entre primeira fiada de blocos e a laje do 4° pavimento ....... 41
FIGURA 33 – Trinca na última fiada de blocos ........................................................ 41
FIGURA 34 – Fissura no teto presente nos halls .................................................... 42
FIGURA 35 – Fissura no chão presente nos halls ................................................... 42
FIGURA 36 – Fissura no chão do apartamento 23 .................................................. 42
FIGURA 37 – Fissura no teto presente nos halls .................................................... 42
FIGURA 38 – Fissura presente no patamar ............................................................ 43
FIGURA 39 – Fissura na ligação da escada com a laje .......................................... 43
FIGURA 40 – Trinca na face inferior da escada ...................................................... 43
FIGURA 41 – Trinca na ligação da escada com a laje ............................................ 43
FIGURA 42 – Trincas entre laje e alvenaria ............................................................ 43
FIGURA 43 – Trincas entre laje e alvenaria ............................................................ 43
FIGURA 44 – Inspeção do revestimento externo .................................................... 44
FIGURA 45 – Orientação de mapeamento por fachadas ........................................ 45
FIGURA 46 – Mapeamento pavimento térreo ......................................................... 47
FIGURA 47 – Mapeamento 2° pavimento ............................................................... 48
FIGURA 48 – Mapeamento 3° pavimento ............................................................... 48
FIGURA 49 – Mapeamento 4° pavimento ............................................................... 49
FIGURA 50 – Mapeamento fachada frontal ............................................................. 49
FIGURA 51 – Mapeamento fachada fundos ............................................................ 50
FIGURA 52 – Mapeamento fachada direita ............................................................. 50
FIGURA 53 – Mapeamento fachada esquerda ........................................................ 51
FIGURA 54 – Armadura negativa executada erroneamente ................................... 52
FIGURA 55 – Armadura negativa executada erroneamente ................................... 53
FIGURA 56 – Carregamento e momento máximo da escada ................................. 54
FIGURA 57 – Detalhamento inflexão da escada ..................................................... 55
FIGURA 58 – Impermeabilização externa ............................................................... 59
FIGURA 59 – Emboço fachada ............................................................................... 60
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Evolução dos custos pela fase de intervenção (Regra de Sitter) ..... 32
GRÁFICOS 2 e 3 – Situação das fachadas C e D quanto ao revestimento. ........... 45
GRÁFICOS 4 e 5 – Situação das fachadas A e B quanto ao revestimento. ............ 46
GRÁFICO 6 – Situação do revestimento externo de forma geral. ........................... 46
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Mapeamento fotográfico das manifestações patológicas ................... 38
TABELA 2 – Resumo das manifestações patológicas ............................................. 62
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10
1.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 11
1.1.1 Objetivos específicos ..................................................................................... 11
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 11
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................................................................ 13
2.1 ALVENARIA ESTRUTURAL ......................................................................... 13
2.1.1 Normas Regulamentadoras ........................................................................... 14
2.1.2 Vantagens e Desvantagens da alvenaria estrutural ...................................... 14
2.1.3 Materiais e Componentes .............................................................................. 15
2.1.3.1 Blocos Estruturais ......................................................................................... 15
2.1.3.2 Argamassa de assentamento ........................................................................ 17
2.1.3.3 Graute ........................................................................................................... 17
2.1.3.4 Armaduras ..................................................................................................... 17
2.1.4 Dimensionamento ......................................................................................... 17
2.1.4.1 Modulação ..................................................................................................... 18
2.1.4.2 Considerações de projetos ............................................................................ 20
2.1.4.3 Detalhes construtivos .................................................................................... 20
2.2 PATOLOGIA .................................................................................................. 22
2.3 PATOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES ................................................................ 23
2.3.1 Fissuras causadas por compressão de sobrecargas .................................... 24
2.3.2 Fissuras causadas por movimentação térmica ............................................. 26
2.3.2.1 Características das fissuras por movimentação térmica. .............................. 26
2.3.3 Fissuras causadas por movimentações higroscópicas.................................. 28
2.3.3.1 Fissuras em argamassas. ............................................................................. 28
2.3.4 Fissuras causadas por recalque de fundação ............................................... 30
2.4 REGRA DE SITTER (LEI DOS 5) ................................................................. 31
3 METODOLOGIA ............................................................................................ 33
3.1 DESCRIÇÃO DA OBRA ................................................................................ 34
3.2 HISTÓRICO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ................................ 35
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 37
4.1 MAPEAMENTO DA OBRA ............................................................................ 44
4.1.1 Mapeamento do revestimento externo .......................................................... 44
4.1.2 Mapeamento das fissuras ............................................................................. 47
4.1.2.1 Fissuras nas lajes e escadas ........................................................................ 47
4.1.2.2 Fissuras nas fachadas ................................................................................... 49
5 ANÁLISE DOS PROBLEMAS ...................................................................... 52
5.1 PROGNÓSTICO ........................................................................................... 52
5.1.1 Fissuras nas lajes .......................................................................................... 52
5.1.2 Fissuras nas escadas .................................................................................... 53
5.1.2.1 Execução das escadas .................................................................................. 53
5.1.2.2 Dimensionamento das escadas .................................................................... 54
5.1.3 Patologias referentes a infiltrações e manchas ............................................. 55
5.1.4 Fissuras em paredes ..................................................................................... 56
5.1.5 Fissuras na fachada ...................................................................................... 57
5.2 TRATAMENTO PROPOSTO ........................................................................ 57
5.2.1 Tratamento para fissuras desenvolvidas por dilatação térmica da laje ......... 57
5.2.2 Tratamento para combater a umidade no pavimento térreo .......................... 58
5.2.3 Tratamento para fissuras no revestimento interno ........................................ 59
5.2.4 Tratamento da fachada para evitar a manifestação da umidade externa ...... 60
5.2.5 Reforço estrutural de lajes e escadas ........................................................... 61
5.3 ANALISE E RESULTADO ............................................................................. 62
6 CONCLUSÃO ................................................................................................ 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 68
ANEXOS ....................................................................................................... 72
10
1 INTRODUÇÃO
O processo construtivo em alvenaria estrutural é datado a milhares de anos,
tendo como umas de suas primeiras e principais obras antigas a Pirâmide de Quéops
e a cidade de Arg-é Bam, construídas em torno de 2500 a.C., tornando-a uma das
mais antigas formas de construção empregadas pelo homem (PAULUZZI, 2016).
As primeiras alvenarias, devido ao desconhecimento em relação a resistência
dos materiais e procedimentos de cálculo estrutural, apresentavam paredes de
grandes espessuras. Porém, por volta de 1950, começaram a surgir no cenário
mundial, normas que permitiam calcular a espessura necessária das paredes e a
resistência das alvenarias, através de experimentações laboratoriais e bases de
cálculo mais racionais. (CAVALHEIRO, 2008)
No Brasil a utilização da alvenaria estrutural inicia no período colonial com o
emprego da pedra e tijolo de barro cru, porém, somente em meados dos anos 60 os
estudos relacionados a alvenaria estrutural adotando a utilização de blocos de
concreto, passou a ser introduzida no Brasil, com o uso de tecnologias e
procedimentos baseados em normas americanas (PAULUZZI, 2016).
Devido ao surgimento de centros de pesquisas a alvenaria estrutural está se
tornando um processo construtivo eficiente e racional. No Brasil existe importantes
centros como NEPAE (Núcleo de Ensino e Pesquisa da Alvenaria Estrutural), GDA
(Grupo de Desenvolvimento e Pesquisa da Alvenaria Estrutural) e o CIENTEC
(Fundação de Ciência e Tecnologia).
Alguns países como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha já atingiram níveis
de cálculo, controle e execução similares aos aplicados nas estruturas de aço e
concreto armado (PAULUZZI, 2016).
Parte do mercado da construção civil no Brasil, está impulsionado devido ao
programa Minha Casa Minha Vida, lançado em março de 2009 pelo Governo Federal,
que tem por objetivo facilitar o acesso à casa própria para famílias de baixa renda,
através do financiamento de moradias urbanas junto à Caixa Econômica Federal
(CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2016).
O sistema construtivo em alvenaria estrutural quando bem projetado implica em
racionalização, em outras palavras, ganho em rapidez, diminuição de desperdícios e
11
custo competitivo além de ser conhecida como durável, esteticamente agradável e de
bom desempenho termo acústico (PARSEKIAN; SOARES, 2010, pg.14).
Devido a racionalização de material, rapidez na execução, economia no custo
da obra, menor diversidade de materiais e fácil coordenação e controle do processo
de execução dos empreendimentos, as construtoras de pequeno, médio e grande
porte, optaram em passar a utilizar como método construtivo de seus projetos a
alvenaria estrutural armada.
Em contrapartida à falta de mão de obra qualificada é o que acarreta passivo
de falhas construtivas durante a execução, a inserção de pessoas sem treinamento
ou experiência profissional na área, consequentemente, reduzindo o grau de
conformidade ao padrão desejado e gerando patologias futuras provenientes da má
execução. Contudo, as patologias podem ser oriundas de dimensionamentos
errôneos da estrutura e fundação, ou até mesmo, da qualidade duvidosa de materiais
utilizados na execução do empreendimento.
Tem-se como objetivo deste trabalho estudar os principais detalhes
construtivos das edificações de alvenaria estrutural. Analisando as recomendações
técnicas para a sua execução. Destacar as principais manifestações patológicas e
suas configurações típicas.
1.1 OBJETIVO GERAL
Analisar e identificar manifestações patológicas presentes em uma edificação
residencial de quatro pavimentos, construída em alvenaria estrutural.
1.1.1 Objetivos específicos
Identificar as possíveis causas das patologias presentes na edificação de
estudo.
Sugerir métodos para a conceituação de um projeto de reparo.
1.2 JUSTIFICATIVA
Vícios aparentes ou ocultos, assim também como, manifestações patológicas
são de extrema importância para qualquer construtora, visto que são gastos extras e
causas de demandas judiciais, podendo se tornar pontos negativos para o
relacionamento com os moradores e futuros clientes.
12
De acordo com a NBR 15575 (2013), patologias são provenientes de falhas
manifestadas em projeto, execução, uso ou manutenção e até mesmo decorrentes do
envelhecimento natural do produto.
Com base nisto a classificação das manifestações patológicas são de extrema
importância para o conhecimento de todos, não importando se são ou não
profissionais da área da construção civil.
13
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO
2.1 ALVENARIA ESTRUTURAL
Um dos sistemas mais difundidos no brasil e no mundo, tem como finalidade
dividir ambientes tanto internos quanto externos, além da facilidade na execução e o
baixo custo construtivo, tornando-se vasta a utilização da alvenaria (CAPORRINO,
2015).
Segundo Cavalheiro (2008), nas últimas décadas com o objetivo de diminuir o
déficit habitacional no país, a alvenaria estrutural parece ser o método construtivo mais
compatível com nossa cultura, isto no ponto de vista de absorção e adequação de
mão-de-obra, quanto na diminuição de custos e racionalização, não considerando ter
uma política habitacional duradoura e sem garantia de demanda.
Utilizada desde o início do século XVII no Brasil, a alvenaria estrutural com
blocos estruturais é compreendida como um processo de construção para edifícios
mais econômicos e racionais, porém demorou a obter seu espaço no país (RAMALHO;
CORRÊA, 2003).
O principal conceito estrutural ligado a utilização da alvenaria estrutural é a
transmissão de ações através de tensões de compressão nas paredes (RAMALHO;
CORRÊA, 2003).
Os primeiros edifícios em alvenaria estrutural construídos no Brasil, surgiram a
partir de 1960, como na figura 1, onde apresenta o conjunto habitacional Central
Parque Lapa, o qual, obtém 4 pavimentos e teve sua conclusão em 1966, construído
em alvenaria estrutural armada com a utilização de blocos de concreto de espessura
de 19 cm (RAMALHO; CORRÊA, 2003).
FIGURA 1 – Fachada Residencial Central Parque Lapa
FONTE: Residencial Central Parque Lapa – Comunidade da Construção-2016
14
Trata-se de alvenaria estrutural armada devido a sua necessidade, sendo
obrigatório o uso de armaduras que são dispostas nas cavidades dos blocos e
posteriormente preenchidas de graute (concreto fino) (RAMALHO; CORRÊA, 2003).
Com função nas paredes de resistir ações de tração e cisalhamento, absorvendo
tensões de cargas verticais e laterais, melhorando a ductilidade (DRYSDALE; HAMID;
PARSEKIAN, 2012).
Segundo Caporrino (2015), os principais requisitos a serem garantidos em uma
edificação são: segurança estrutural, estanqueidade a água, conforto térmico conforto
acústico e durabilidade.
Com relação a alvenaria convencional a mesma tem como função,
compartimentar ambientes tanto internos quanto externos e resistir o seu peso próprio
e de pequenas cargas de ocupação, sendo muito utilizada como vedação (RAMALHO;
CORRÊA, 2003).
2.1.1 Normas Regulamentadoras
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é o órgão responsável por
direcionar todos os brasileiros quanto aos processos de execução de serviços,
incluídos também na construção civil. Assegurando que produtos e serviços tenham
características desejáveis como qualidade, segurança, confiabilidade, eficiência e
intercambiabilidade, assim também como, respeito com o meio ambiente e tudo isto
com um custo econômico (ABNT, 2016).
As elaborações de projetos em alvenaria estrutural em bloco cerâmicos são
organizadas com base nas seguintes normas:
NBR15812 - Parte 1 (ABNT,2010)
NBR15812 - Parte 2 (ABNT,2010)
NBR15270 - Parte 2 (ABNT,2010)
NBR 13279 - (ABNT,2005)
NBR12655 - (ABNT, 2015)
NBR15961 - (ABNT,2011).
2.1.2 Vantagens e Desvantagens da alvenaria estrutural
Afim de esclarecer aspectos técnicos e econômicos da alvenaria estrutural,
algumas vantagens devem ser consideradas (RAMALHO; CORRÊA, 2003):
15
Economias de formas;
Redução no uso de armadura e concreto;
Redução de mão de obra especializada (armador e carpinteiro);
Facilidade no entendimento e leitura do projeto;
Rapidez na execução;
Resistencia ao fogo;
Isolamento termo acústico.
E algumas desvantagens devem ser pontuadas:
Paredes com função estrutural não devem ser retiradas devido sua função
principal no sistema construtivos;
Modificações arquitetônicas não são aceitáveis;
Vão livres são restritos;
Juntas de controle de dilatação pelo menos a cada 15m.
2.1.3 Materiais e Componentes
2.1.3.1 Blocos Estruturais
Para execução de uma alvenaria é necessário o uso de alguns materiais, assim
como os blocos, onde podem ser encontrados de cerâmica, solo-cimento, concreto,
silíco-calcário (areia e cal), pedra e vidro. No Brasil os mais utilizados são os de
concreto e cerâmicos (PARSEKIAN, G.A, HAMID, A.A; DRYSDALE, R.G,2012).
Na alvenaria os blocos representam até 90% do volume, além de serem
determinantes para características quanto a resistência a compressão, ao fogo e a
penetração de chuvas, estabilidade, precisão dimensional, isolamento térmico e
acústico (PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
Blocos cerâmicos são os elementos básicos da alvenaria, produzidos a partir
da queima da cerâmica vermelha. A sua conformação é obtida através da extrusão,
durante este processo toda a umidade é expulsa e a matéria orgânica é queimada,
ocorrendo a vitrificação com a fusão do grão de sílica. Tal processo de vitrificação nas
faces do bloco compromete a aderência com a argamassa de assentamento ou
revestimento (PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
16
Os blocos cerâmicos possuem o melhor desempenho térmico quando
comparados com blocos de concreto, por serem leves facilitam a execução no canteiro
de obra, além de movimentar menos que os blocos de concreto quando solicitados a
movimentações térmicas ou higroscópicas, consequentemente, as juntas de
assentamento podem ser maiores. Sua capacidade de absorção de água é inferior,
sendo o mais indicado para vedação (TAUIL; LIMA; CARVALHO,2011).
Em contrapartida, por serem menos aderentes a argamassa exige mais
revestimento. Suas dimensões são menos regulares geometricamente e possuem
menor resistência mecânica do que o de concreto, além disto, quebra muito por ser
mais leve, apesar de atender a norma de desempenho o quesito isolamento acústico
é menor em relação ao de concreto (TAUIL; LIMA; CARVALHO,2011).
Como o bloco de concreto é 20% mais pesado em relação ao cerâmico seu
desempenho acústico é melhor, suas características geométricas são mais regulares,
tem maior resistência mecânica, além de ser mais econômico, pois o revestimento
como argamassa e gesso pode ser aplicado diretamente sobre a superfície, sendo
possível conseguir planicidade e menor espessura no revestimento (TAUIL; LIMA;
CARVALHO,2011).
Porém, devido a movimentação ser maior, exige-se muitos cuidados com as
juntas de dilatação, além disto, a movimentação no canteiro de obras torna o processo
mais demorado. Outra desvantagem é o fato de possuir maior capacidade de
absorção o que dificulta a aplicação de revestimentos em dias chuvosos (TAUIL;
LIMA; CARVALHO,2011).
Segundo a NBR 15270-2 (ABNT,2010) os blocos cerâmicos classificam-se
conforme a figura 2.
FIGURA 2 – Blocos cerâmicos estruturais
a) b) c) d)
FONTE: NBR 1570-2 (ABNT 2010).
17
a) Bloco cerâmico estrutural de paredes vazadas.
b) Bloco cerâmico estrutural com paredes maciças (com paredes internas maciças).
c) Bloco cerâmico estrutural com paredes maciças (com paredes internas vazadas)
d) Bloco cerâmico estrutural perfurado.
2.1.3.2 Argamassa de assentamento
Segundo (RAMALHO; CORRÊA, 2003) a argamassa tem função de ligação
entre blocos, uniformizando os apoios entre eles e assim solidarizando as unidades,
transmitir e uniformizar as tensões entre as unidades de alvenaria, além de absorver
pequenas deformações e prevenir a entrada de água e de vento nas edificações.
Usualmente argamassa para assentamento é composta de cimento, cal e areia.
Porém existem argamassas somente de cal ou unicamente de cimento ambos com
acréscimo de areia, cada uma com suas vantagens e desvantagens (PARSEKIAN,
G.A; SOARES. M.M 2010).
2.1.3.3 Graute
Segundo (RAMALHO; CORRÊA, et al,2003), graute para alvenaria é um
concreto com agregados finos de alta plasticidade e fluidez, estas características são
necessárias para o preenchimento dos vazios dos blocos ou canaletas e peças
similares, sua função juntamente com a armadura é de aumentar a resistência em
pontos localizados como vergas e contra -vergas, obter resistências a compressão de
uma parede através de pontos específicos como encontros e ligações entre uma
parede e outra.
2.1.3.4 Armaduras
Segundo (PARSEKIAN, G.A, HAMID, A.A; DRYSDALE, R.G,2012), armaduras
na alvenaria estrutural juntamente com o graute tem a função de resistir a esforços de
tração, aumentando a resistência a cargas concentradas, conectam paredes e outros
elementos além de controlar a fissuração devido a deformação por retração térmica.
2.1.4 Dimensionamento
A elaboração do projeto em alvenaria estrutural é baseada no projeto
arquitetônico e deve ser constantemente compatibilizada com os projetos
18
complementares, devido a isto algumas informações são importantes como: tipo e a
família de blocos que será utilizada, distribuição das aberturas, pois influenciam nas
cargas entre as paredes, pontos hidráulicos, elétricos e até paredes não estruturais
(PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
A principal função deste tipo de estrutura é canalizar as ações verticais e
horizontais para onde o terreno se apoia, além de que os materiais empregados
devem garantir a estabilidade e rigidez por parte do conjunto de modulação elaborado
(RAMALHO; CORRÊA, 2003).
Com relação a fundação de uma estrutura em alvenaria é definida com base
no estudo do solo SPT (Standard penetration test) ou similar, o que pode acarretar a
fundação ser direta sendo utilizadas sapatas corridas ou indireta com uso de estacas
(PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
2.1.4.1 Modulação
A fim de que resulte uma alvenaria econômica e racional a modulação dos
blocos deve ser fundamental, os blocos não devem ser cortados pois perdem sua
função, ajustes até podem ser realizados, porém em condições particulares, devido
as paredes trabalharem de forma isoladas é inevitável a utilização da amarração de
todas as dimensões moduladas (RAMALHO; CORRÊA, 2003).
Sendo assim, a utilização dos blocos com dimensões e resistências adequadas
para modulação, possibilita a definição da amarração entre as paredes o que é
benéfica para a racionalização do sistema. Os blocos vazados na vertical facilitam o
processo, pois, permitem peças de maiores dimensões gerando economia na
utilização de argamassa de assentamento, facilitando a instalação hidráulica e elétrica
e consequentemente, aumentando a produtividade na execução da própria alvenaria
(PAULUZZI, 2016).
As dimensões nominais de blocos mais comuns encontradas com resistência
estrutural de 6 MPa, são: 14x29 cm, 19x39 cm e 14x39 cm, entretanto, recomenda-se
a utilização de blocos onde o comprimento modular equivale ao dobro da largura,
permitindo uma amarração perfeita entre o conjunto. Consequentemente, a aplicação
de blocos com dimensões correspondentes a 14x39 cm possuem desvantagens, pois,
necessitam de blocos especiais para sua amarração. Muitas vezes, devido à
19
dimensão da parede, faz-se necessário o uso de blocos com 4 cm para ajuste da
modulação (PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
Segundo a NBR 15812-2 (ABNT 2010), o desaprumo e o desalinhamento máximo
das paredes e pilares do pavimento não podem superar 13 mm, além de atender os
limites de 5 mm a cada 3 m e 10 mm a cada 6m tanto na vertical quanto na horizontal.
Vergas e contravergas podem ser executadas com bloco canaleta preenchidos de
armaduras e graute ou até peças pré-moldadas ou pré-fabricadas, em ambos os casos
deve ser feito um traspasse mínimo de 30 cm para cada lado. Além disto, no final da
elevação da parede é realizada a cinta de respaldo continua, sendo possível ser
executado com blocos especiais ou com formas.
Com relação a amarração direta no plano da parede, quando as juntas se defasam
no mínimo a 1/3 do comprimento do bloco ou até a junta não amarrada no plano da
parede, não são consideradas um procedimento estrutural, com a amarração direta
de paredes ocorre o intertravamento entre os blocos conforme as figuras 3 e 4.
(PAULUZZI, 2016).
FIGURA 3 – Amarração em planta
FONTE: (PAULUZZI, 2016).
20
FIGURA 4 – Planta x Elevação
FONTE: (PAULUZZI, 2016)
2.1.4.2 Considerações de projetos
Quando ocorre a união e interação entre a arquitetura, estrutura e instalações na
elaboração de um projeto em alvenaria estrutural, o resultado do processo é o projeto
racionalizado e eficiente, não deixando detalhamento e soluções executivas serem
tomadas durante a execução da obra. Algumas informações para o início do projeto
são importantes como:
Tipo de fundação;
Tipo do bloco (família);
Modulação;
Posicionamento de paredes não estruturais;
Instalações;
Tipos de laje, piso, contrapiso, rebaixos;
Portas e Janelas;
Tipo de escada;
Reservatório de água.
2.1.4.3 Detalhes construtivos
A influência na precisão geométrica do conjunto de paredes durante a
marcação da alvenaria é alta, com base nas extremidades como cantos, encontro de
paredes e nas aberturas de portas e janelas se inicia o processo de assentamento e
21
marcação da primeira fiada, considerando a espessura mínima de argamassa para
esta etapa de 5 mm a 20mm. Ao final deve ser feito a verificação do alinhamento,
nivelamento e a correta posição da armadura, de mesmo modo deve ser feito na
segunda fiada com permissão por norma de 10mm nas juntas de argamassa
horizontal conforme anexo 1 (PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
Execução de instalações hidráulicas e elétricas em alvenaria estrutural devem
ser elaboradas sempre na vertical utilizando os vazados dos blocos, ou a utilização
de blocos hidráulicos ou paredes não estruturais conforme o anexo 1, para a fixação
das caixas de tomadas é permitido o recorte no bloco (PARSEKIAN, G.A; SOARES.
M.M 2010).
A laje da cobertura não deve possuir restrição por vínculos, podendo utilizar
neoprene, manta asfáltica ou isopor para evitar sua ligação com a alvenaria, pois
devido a movimentação térmica a mesma pode provocar fissuração nas paredes.
Outros cuidados devem ser levados em consideração, como as juntas de dilatação
das lajes (figura 5), previsão de beiral e ventilação do telhado (PARSEKIAN, G.A;
SOARES. M.M 2010).
FIGURA 5 – Detalhamento da laje da cobertura
FONTE: (PARSEKIAN; SOARES, 2010)
22
Com o objetivo de executar os reforços estruturais na alvenaria, são realizados
pontos de graute com lançamento nos furos verticais previamente definidos em
projeto, nos mesmos devem-se deixar janela de inspeção na primeira fiada para
anterior limpeza e verificação se houve total concretagem, além de pontos localizados
nas vergas, contravergas, coxins e cinta de respaldo (PARSEKIAN, G.A; SOARES.
M.M 2010).
Juntas verticais e horizontais durante a execução podem ser realizadas com
espessuras de 10 mm com variação permitida ± 3 mm, sendo definida pelo projetista
a forma de execução dos cordões de argamassa, visto que se for apenas por filetes
nas paredes longitudinais a resistência da parede diminui cerca de 20% conforme
anexo 1 (PARSEKIAN, G.A; SOARES. M.M 2010).
Com relação as juntas de dilatação devem ser previstas onde se conhece a
máxima variação de temperatura ou a máxima expansão devido a umidade, com a
intenção de separação entre os blocos conforme a figura 6 (SELECTA BLOCOS,
2016).
FIGURA 6 – Detalhe de junta de dilatação.
FONTE: (PARSEKIAN; SOARES, 2010)
2.2 PATOLOGIA
Patologia (derivado do grego pathos, sofrimento, doença, e logia, ciência, estudo)
é o estudo das alterações estruturais, bioquímicas e funcionais, sinônimo utilizado
tanto na medicina quanto em outras áreas do conhecimento, como matemática e
engenharia, onde é conhecida como patologia das edificações, ciência a qual estuda
as origens, causas, mecanismos de ocorrência, manifestações e consequências das
23
situações em que as obras de engenharia ou suas partes deixam de apresentar o
desempenho mínimo pré-estabelecido. (CAPORRINO, 2015).
2.3 PATOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES
Patologia das edificações é a ciência que estuda as origens, as formas, aspectos,
soluções e como evitar que os componentes de uma edificação deixem de atender
aos requisitos mínimos para os quais foram projetados. Anomalias são consequências
de um projeto mal dimensionado, detalhamentos inadequados, especificação de
material ou provenientes de uma execução de má qualidade (CAPORRINO, 2015).
Dentre os inúmeros problemas patológicos que afetam edifícios, as trincas são
consideradas de suma importância, devido a três aspectos fundamentais: o aviso de
um eventual estado perigoso para a estrutura, o comprometimento da obra em serviço
(durabilidade, segurança estrutural, estanqueidade a água, conforto térmico e conforto
acústico) e o abalo psicológico que a fissuração do edifício exerce sobre seus
ocupantes (THOMAZ, 1989).
A segurança estrutural é avaliada para o estado limite ultimo de serviço, o qual
determina a resistência última e para o estado limite de utilização, responsável por
estabelecer as condições de uso, limitando a formação de fissuras, deformações e
falhas que possam comprometer a utilização da edificação e sua durabilidade,
conforme indica a NBR 15812-1 (2010).
Segundo (BAUER, 2007), diversos fatores podem contribuir para o aparecimento
de anomalias nas alvenarias estruturais, como:
Qualidade dos blocos: resistência à compressão abaixo do especificado,
dimensões incorretas, porosidade e acabamento superficial;
Argamassa de assentamento: resistência à compressão abaixo do
especificado, retenção de água e retração;
Recalques diferenciados em fundações;
Movimentações higroscópicas;
Movimentações térmicas;
Eflorescências decorrentes de depósitos salinos na superfície de alvenarias;
Infiltrações de água pelas fissuras;
Infiltração de água pelos componentes da alvenaria.
24
A presença de água nas edificações pode causar avarias ás mesmas,
comprometendo a estabilidade e as condições de habitabilidade do edifício, gerando
deformações dimensionais dos materiais, variação de umidade, originando fissuras,
favorecendo o aparecimento de manchas e eflorescências, consequentemente
reduzindo a resistência dos componentes da estrutura (CAPORRINO, 2015).
2.3.1 Fissuras causadas por compressão de sobrecargas
A alvenaria estrutural tem como função principal resistir a solicitação de cargas
verticais originadas do seu peso próprio e demais carregamentos de outros elementos
estruturais nelas apoiados, como as lajes. O aparecimento de fissuras ocasionadas
por sobrecargas, pode se manifestar em trechos contínuos de alvenaria solicitadas
por esforços uniformemente distribuídos, através da aplicação de cargas pontuais ou
até mesmo em aberturas de portas e janelas devido ao acumulo de tensões
(THOMAZ,1989).
Segundo Instituto Eduardo Torroja (1971) as fissuras por sobrecarga
uniformemente distribuída podem obter duas características especificas, sendo elas:
a) Fissuras verticais, resultantes da deformidade transversal da argamassa
perante a ação das tensões de compressão, ou da flexão local dos
componentes de alvenaria (Figura 7).
b) Fissuras horizontais, oriundas do rompimento por compressão dos
componentes de alvenaria ou da própria argamassa de assentamento, ou
ainda de solicitações de flexocompressão da parede (Figura 8).
FIGURA 7 – Fissuração típica por sobrecarga vertical
FONTE: (THOMAZ, 1989).
25
FIGURA 8 – Trincas horizontais provenientes de sobrecarga
FONTE: (THOMAZ, 1989).
A existência de sobrecargas concentradas também é responsável pelo
surgimento de fissuras/trincas ou até mesmo esmagamento dos blocos na região de
aplicação da carga. As fissuras originadas a partir do ponto de aplicação da força têm
como característica uma angulação inclinada (Figura 9), a qual também ocorre em
trechos com presença de aberturas, onde há considerável concentração de tensões
em torno dos vãos, que em caso da inexistência ou subdimensionamento de vergas e
contravergas, as fissuras se desenvolverão a partir dos vértices das aberturas como
é representado na Figura 10 (BAUER, 2007).
FIGURA 9 – Ruptura da alvenaria sob o ponto de aplicação da carga
FONTE: (THOMAZ, 1989)
FIGURA 10 – Fissuras nos vértices em trecho de alvenaria com aberturas
FONTE: (BAUER, 2007)
26
2.3.2 Fissuras causadas por movimentação térmica
A exposição dos materiais a certas temperaturas pode gerar transformações na
sua microestrutura, consequentemente, modificando suas propriedades. Esta
modificação muitas vezes é observada através do ganho de volume do material, em
decorrência da dilatação térmica. A magnitude destas movimentações é relacionada
diretamente as propriedades físicas dos materiais, sendo elas, massa especifica,
coeficiente de dilatação térmica entre outros (BERTOLINI, 2010).
2.3.2.1 Características das fissuras por movimentação térmica.
O surgimento de fissuras, provenientes da dilatação ou contração térmica, dispõe
de diversas configurações típicas em função das distintas formas de ocorrências,
podendo ser elas, horizontais, verticais ou inclinadas.
A formação de fissuras horizontais se dá, geralmente, em lajes planas de
coberturas, onde a exposição solar é mais intensa quando comparada as paredes
externas das edificações. Esta variação é ainda majorada devido a diferença nos
coeficientes de dilatação térmica dos materiais, onde o concreto tem a capacidade de
expansão, em média, duas vezes maior que o das alvenarias (VERÇOZA, 1991).
Este tipo de fissura, na alvenaria estrutural, pode ser notada no encontro da
alvenaria com a laje, onde ambas são submetidas a tensões. A formação destas
tensões oriundas da variação de temperatura, possuem basicamente dois efeitos:
curvatura da superfície da laje e variação dimensional do plano da laje, os quais, são
responsáveis por transmitir tensões de tração e cisalhamento para a alvenaria,
causando a ruptura do elemento (BASSO; RAMALHO; CORRÊA, 1997), conforme
figura 11.
27
FIGURA 11 – Fissura horizontal na interface entre a laje e a parede
FONTE: (DUARTE, 1998)
O desenvolvimento de fissuras verticais por dilatação térmica, geralmente,
ocorre em paredes paralelas ao sentido principal de dilatação e contração térmica da
laje de cobertura, gerando forças de tração na parede e ocasionando a fissuração da
mesma, conforme figura 12 (DUARTE, 1998).
FIGURA 12 – Fissura vertical por movimentação térmica da laje.
FONTE: (DUARTE, 1998)
A formação de fissuras inclinadas por movimentação térmica é gerada em
decorrência das dimensões da laje, da presença de aberturas nas paredes e do grau
de engastamento, poder-se-ão formar trincas nos cantos extremos da alvenaria,
obtendo como característica principal inclinação aproximada de 45° em direção a laje
(THOMAZ, 1989), conforme figura 13.
28
FIGURA 13 – Trincas de cisalhamento provocadas por expansão térmica da laje
FONTE: (VERÇOZA, 1991)
2.3.3 Fissuras causadas por movimentações higroscópicas
Mesmo com a inexistência de reações químicas proveniente da umidade dos
materiais, a degradação do mesmo pode ser gerada através da infiltração de água
nos blocos, ocasionando a expansão dos materiais devido a formação de cristais
dentro dos poros, resultando em tensões internas elevadas, podendo contribuir com
a formação de fissuras (BERTOLINI, 2010).
A formação de fissuras através da expansão e retração geradas pelas
movimentações higroscópicas em alvenarias de bloco cerâmico, se assemelham as
aberturas provenientes das variações de temperatura, pois, dispõem dos mesmos
mecanismos de formação (DUARTE, 1998), como visto anteriormente.
2.3.3.1 Fissuras em argamassas.
A fissuração em argamassas, independente da utilização, sendo ela, para
assentamento ou emboço, pode vir a ocorrer devido a movimentações higroscópicas,
as quais Bauer (2007), afirma, existirem duas formas principais, sendo elas a retração
e a expansão.
A retração da argamassa é possível transcorrer de três formas (THOMAZ,
1989):
a) Retração química, relativo ao comportamento químico entre a água e o
cimento, onde a argamassa chega a perder cerca de 25% de seu volume
inicial.
29
b) Retração por carbonatação, referente a cal hidratada, que quando
adicionada a argamassa ocorre reações quimicas e consequentemente
diminui sua massa.
c) Retração hidráulica, a utilização de quantidades excedentes de água na
composição da argamassa, leva este excesso livre em seu interior, ser
expelido por capilaridade, consequentemente reduzindo seu volume.
A expansão das argamassas, segundo Cincotto (1995), também é decorrente de
três causas, sendo elas:
a) Hidratação retardada do óxido de magnésio, é decorrente da adição da
cal mal hidratada na argamassa, que quando em contato com a umidade
tende a aumentar seu volume podendo chegar a um aumento de até
100% do seu volume inicial.
b) Ataque por sulfatos, resultante da reação entre elementos químicos
presente nos cimentos e sulfatos solúveis, gerando compostos os quais
são responsáveis por uma reação de grande expansão nas argamassas.
c) Presença de argilo-minerais expansivos no agregado, a má qualidade
da areia, muitas vezes, pode contar com a presença de argilas
expansivas, como as da família montmorilonita, capazes de aumentar
seu volume dezenas de vezes com a presença de água.
Apesar das características patológicas de expansão ou retração das argamassas
serem totalmente opostas, o aspecto das trincas geradas por elas, são muito
semelhantes, como pode-se notar nas figuras 14 e 15, onde são apresentadas
algumas formas da fissuração que podem advir da manifestação patológica.
FIGURA 14 – Fissuras horizontais no revestimento provocadas pela expansão ou
retração da argamassa de assentamento.
FONTE: (THOMAZ, 1989)
30
FIGURA 15 – Fissuras na argamassa de revestimento provenientes da retração ou
expansão da argamassa.
FONTE: (THOMAZ, 1989)
2.3.4 Fissuras causadas por recalque de fundação
A formação de fissuras em paredes, devido a recalques, é proveniente de
movimentações diferenciadas da fundação que excedem a capacidade resistiva das
alvenarias, tendo como origem da causa falhas de projeto, rebaixamento do lençol
freático, camadas de solo com resistências diferentes ao longo da edificação,
influência de edificações vizinhas, consolidação diferenciada de aterros, entre outros
motivos (CAPORRINO, 2015).
Para prevenção da fissuração por recalques diferenciados, na concepção do
projeto de fundações, além de conhecer as cargas que irão atuar na estrutura, deve-
se ter, no mínimo, conhecimento sobre as propriedades do solo e se haverá influência
do nível do lençol freático, dados que podem vir a ser coletados com um simples
ensaio de sondagem SPT de reconhecimento. A partir dos resultados obtidos será
possível realizar a escolha mais sensata do perfil de fundação a ser executada
(THOMAZ, 1989).
As fissuras geradas por recalque de fundações geralmente são localizadas
adjunto ao pavimento térreo, entretanto, dependendo a magnitude do recalque e do
tipo de obra, estas fissuras podem se apresentar no empreendimento inteiro com o
mesmo grau de intensidade que no primeiro pavimento (DUARTE, 1998).
Segundo Thomaz (1989) e Grimm (1988) no caso de recalques em estruturas
de alvenaria estrutural, a fissuração gerada, tem como característica principal o
sentido vertical e diagonal, onde a espessura da abertura gera alternância ao decorrer
do seu comprimento, característica a qual pode ser observada na figura 16.
31
FIGURA 16 – Configuração de fissuras em situações de recalque
FONTE: (GRIMM, 1988)
De acordo com Duarte (1998) as classificações das fissuras por recalque de
fundação podem ser geradas através da ruptura das fundações, recalque de fundação
segundo um eixo principal e fora de um eixo principal.
2.4 REGRA DE SITTER (LEI DOS 5)
Segundo Helene (1997) o nível de durabilidade e proteção cresce
exponencialmente numa estrutura e ressalta que quanto mais tarde chega a
intervenção o custo só aumenta, tal evolução é claramente evidenciado através da
regra de Sitter também conhecida como lei dos 5.
A manutenção de uma obra é um processo oneroso e muita das vezes
trabalhoso, o gráfico de evolução de custo pela fase de intervenção (GRÁFICO 1),
32
retrata alguns pontos para obras de estrutura de concreto de acordo com a regra de
Sitter o que afeta diretamente a vida útil da estrutura.
Fase de Projeto: Toda medida realizada durante a concepção do projeto com
finalidade de aumentar a proteção e durabilidade da estrutura, tem seu custo
associado ao número 1(um).
Fase de execução: Trata-se de medidas extras, implicando um custo de cinco
vezes superior à fase de projeto, definições tomadas durante a execução.
Fase de manutenção preventiva: trata-se de operações de manutenções
isoladas, com objetivo de assegurar a vida útil da estrutura, como por exemplo:
pinturas frequentes. Elevando o custo a vinte e cinco vezes mais que as medidas
tomadas em fase de projeto.
Fase de manutenção corretiva: tal fase que eleva o custo cento e vinte e cinco
vezes as medidas que poderiam ser tomadas em fase de projeto, devido a diagnostico,
reparo e quando preciso reforço estrutural (HELENE, 1997 apud SITTER, 1984).
GRÁFICO 1 – Evolução dos custos pela fase de intervenção (Regra de Sitter)
FONTE: (clubedoconcreto.com.br)
33
3 METODOLOGIA
A metodologia utilizada para estudo de caso em questão será dividida em
quatro etapas: referencial teórico, coleta de dados por meio de inspeção e
mapeamento das patologias, analise dos dados levantados e sugestão de
tratamentos.
A primeira parte é referente a elaboração do referencial teórico sobre o assunto
aqui estudado, com base em artigos científicos, livros e normas regulamentadoras, na
área de patologias das edificações e alvenaria estrutural, com intuito de obter
embasamento teórico para o desenvolvimento do trabalho.
A segunda parte é constituída por meio da coleta de dados referente a obra
estudada, mediante a entrevista junto ao responsável técnico pela construtora
executora, realização de mapeamentos, catalogação das manifestações patológicas,
análise de projetos e inspeção visual através de registros fotográficos gerados durante
a execução da obra.
O mapeamento realizado consiste na inspeção da espessura do emboço das
fachadas, atividade que será desenvolvida por meio de decida de rapel com
cadeirinha, onde serão coletados quatro pontos de amostragem, sendo uma
amostragem por pavimento e com espaçamento horizontal entre elas de dois metros.
O intuito deste levantamento é avaliar a espessura mínima do emboço externo e suas
condições, o qual segundo a NBR – 13749 (1996) recomenda que deve possuir
dimensão mínima de 20mm.
Já a catalogação das manifestações patológicas, tem como objetivo, identificar
a localização das patologias no edifício e consequentemente apontar possíveis
causas provenientes de erros de projetos, através da análise dos projetos de fundação
e estrutural.
Em relação ao viés estrutural será analisado somente a composição das
armaduras de lajes e escadas apresentadas nos projetos estruturais, onde há fissuras
com características que podem ser resultantes pela falta de armadura.
A inspeção visual por meio de registros fotográficos gerados durante a
execução da obra, tem como propósito, identificar erros executivos que podem ter
acarretado as patologias atuais, provenientes da mão de obra ou de materiais de má
qualidade utilizados no empreendimento em questão.
34
A última etapa é constituída pela apresentação de uma análise holística das
manifestações patológicas encontradas no empreendimento aqui estudado, com
apresentação da situação atual e identificação de possíveis causas, hipóteses e
prognóstico, sugerindo métodos para a conceituação de um projeto de reparo futuro.
3.1 DESCRIÇÃO DA OBRA
A obra em estudo trata-se de um edifício residencial situado em São José do
Pinhais – PR, cujo nome do empreendimento será mantido em sigilo a pedido da
construtora responsável, diante disto para fins desse trabalho será utilizado um nome
fictício correspondente a residencial Milenium.
O residencial Milenium tem uma área de 933,73 m² composto de dezesseis
apartamentos tipo, sendo quatro por andar. A estrutura do empreendimento é
composta por alvenaria estrutural armada em bloco cerâmico contendo lajes e
escadas maciças concretadas in-loco. Seu revestimento interno foi realizado com a
utilização de gesso corrido e o externo com reboco e aplicação de textura para
acabamento final.
A cobertura do empreendimento é constituída por telhas de fibrocimento 8 mm
e composta por duas águas, dispensando a impermeabilização da laje.
Há uma diferença de nível entre o estacionamento e o piso do térreo da ordem
de 2m. Entre o piso do empreendimento aos fundos e a direita existe um desnível de
2,5m, onde se localiza um talude conforme figura 17.
35
FIGURA 17 – Elevação esquemática dos desníveis
FONTE: O AUTOR
3.2 HISTÓRICO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
A entrega do residencial teve início em outubro de 2014, sendo a última entrega
realizada em abril de 2015. Por meio do histórico da edificação foi possível verificar
que as solicitações de manutenções corretivas iniciaram em março de 2015, antes
mesmo da entrega final do empreendimento.
A primeira solicitação ocorreu quando um dos moradores do pavimento térreo
requisitou que a construtora averiguasse o que estava ocorrendo, pois, após a
instalação dos guarda roupas notou a presença de mofo constante nos moveis recém
colocados, proveniente da umidade presente no revestimento interno.
No mesmo período de tempo, houveram também reclamações da manifestação
de patologias no ultimo pavimento, porém, as reivindicações eram referentes a
presença de fissuras nas paredes e manchas no revestimento. A manifestação destas
fissuras se dava próxima a laje e aberturas de portas e janelas.
Na área comum, os pedidos de manutenções deram-se início no mês de maio
de 2015, com a presença de manifestações patológicas já mencionadas
36
anteriormente, além, de fissuras presentes nas escadas tanto no encontro de laje e
escada quanto no meio da mesma sempre no sentido transversal.
As reivindicações de reparo no 1º e 2º pavimentos iniciaram no mesmo período
que as da área comum, alegando a presença de fissuras nas lajes, paredes e
manchas no revestimento. Contemplando as mesmas características apresentadas
no ultimo pavimento. Posteriormente nos meses de junho e julho de 2015, os demais
moradores do mesmo pavimento térreo também passaram a solicitar manutenções
corretivas, alegando manchas amarelas no revestimento dos quartos, nos rodapés
das portas e paredes, além de fissuras ao lado das aberturas.
Com relação a fachada do empreendimento nota-se várias intervenções para o
tratamento de fissuras, com a utilização de selante acrílico, conforme a figura 18, além
de microfissuras as quais não foram tratadas.
FIGURA 18 – Fachadas com presença de tratamento
FONTE: O AUTOR
37
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A identificação de manifestações patológicas é base para o objeto em estudo,
diante disto adotou–se a metodologia de inspeção visual in loco com finalidade de
detectar as causas particulares do processo. Para classificar os fenômenos mais
recorrentes no edifício, segue a tabela 1.
38
TABELA 1 – Mapeamento fotográfico das manifestações patológicas
Análise Imagens
Manchas amarelas nas paredes dos quartos as quais
fazem divisa com o terreno a direita conforme foto
(21). Proliferação de fungos gerados devido falha na
impermeabilização. Tais manifestações patológicas
presentes nos apartamentos 01 e 02 do pavimento
térreo localizados conforme a figura (21).
FIGURA 19 – Parede manchada Apartamento 02
FIGURA 20 – Proliferação de fungos Apartamento 02
FIGURA 21 – Desnível ao lado do empreendimento
(19) (20)
(21)
39
Manchas nos rodapés e nos batentes das portas
devido à falta de impermeabilização do baldrame,
conforme as fotos (24) e (25).
FIGURA 22 – Manchas rodapé apartamentos 01, 02,
03 e 04
FIGURA 23 – Manchas batentes de porta
apartamentos 01, 02, 03 e 04
FIGURA 24 – Marcação da fiada sem presença de
impermeabilização
FIGURA 25 – Etapas subsequentes sendo executadas
sem impermeabilização do baldrame
(22) (23)
(24) (25)
Fissuras na horizontal posicionadas no meio do vão
das portas possivelmente devido à sobre carga da
parede e excesso de aberturas.
FIGURA 26 – Fissura horizontal ao lado das portas
(26)
40
Manchas amarelas nas paredes dos quartos
mapeando os blocos devido a falha no revestimento
externo o que ocasiona a umidade dos blocos,
conforme a foto (28).
FIGURA 27 – Manchas na parede dos apartamentos
de final 3 e 4 de todos os andares.
FIGURA 28 – Manchas na parede dos apartamentos
de final 3 e 4 de todos os andares.
FIGURA 29 – Umidade presente nos blocos
(27) (28)
(29)
41
Fissuras entre lajes e alvenaria, possível visualizar
internamente aos apartamentos como na área comum
e consequentemente na área externa.
FIGURA 30 – Fissura na última fiada de blocos
FIGURA 31 – Fissura na última fiada de blocos (vista
fachada)
FIGURA 32 – Fissura entre primeira fiada de blocos e
a laje do 4° pavimento
FIGURA 33 – Trinca na última fiada de blocos
(30) (31)
(32)
(33)
42
Fissuras nas lajes ocasionadas devido a provável
deficiência estrutural.
FIGURA 34 – Fissura no teto presente nos halls
FIGURA 35 – Fissura no chão presente nos halls
FIGURA 36 – Fissura no chão do apartamento 23
FIGURA 37 – Fissura no teto presente nos halls
(34) (35)
(36) (37)
43
Fissuras nas escadas: encontro entre a laje e a
escada, no meio do vão da escada e no patamar entre
as escadas.
FIGURA 38 – Fissura presente no patamar
FIGURA 39 – Fissura na ligação da escada com a laje
FIGURA 40 – Trinca na face inferior da escada
FIGURA 41 – Trinca na ligação da escada com a laje
(38) (39)
(40) (41)
Fissuras entre a laje da cobertura e a alvenaria,
provável dilatação térmica da laje.
FIGURA 42 – Trincas entre laje e alvenaria
FIGURA 43 – Trincas entre laje e alvenaria
(42) (43)
44
4.1 MAPEAMENTO DA OBRA
4.1.1 Mapeamento do revestimento externo
Visto a necessidade de esclarecimento do motivo por tantos problemas
patológicos descritos, foram realizados alguns mapeamentos com o objetivo de
explanar possíveis causas. Tal processo foi realizado tanto na área comum quanto na
parte externa do edifício. Para a análise interna dos apartamentos foram utilizadas
imagens coletadas antes da realização das manutenções executadas pela
construtora.
Muitas solicitações de manutenções foram realizadas devido a recorrentes
presenças de manchas amarelas e mofo, diante disto foi realizado a inspeção do
revestimento externo do prédio, com auxílio de um profissional com curso de NR 35 –
Trabalho em Altura e com experiência no uso de cadeirinha suspensa.
A figura 44 demonstra o processo realizado para o mapeamento do reboco
externo, o qual, apresenta seus resultados nos anexos 02 a 09. Para realização da
inspeção no revestimento foi considerado um espaçamento de 1,5 a 2,0 metros, tanto
na vertical quanto na horizontal, onde eram executados pontos de inspeção. Nestes
pontos era realizada a escavação do reboco até chegar ao bloco e efetuada a aferição
da espessura do revestimento com trena.
FIGURA 44 – Inspeção do revestimento externo
FONTE: O AUTOR
45
Após análise das fachadas foi possível estabelecer a real situação quanto a
espessura do revestimento externo, de forma didática e para um maior esclarecimento
a figura 45 representa a planta baixa do edifício estudado.
FIGURA 45 – Orientação de mapeamento por fachadas
FONTE: O AUTOR
Com base nas inspeções realizadas foi possível elaborar alguns gráficos,
sabendo que a NBR 13749 (2013) recomenda que o reboco externo tenha espessura
de 20mm, para o desenvolvimento do estudo foi considerado:
Pontos críticos: 0 mm a 12,5 mm (representados pelo número 1)
Pontos em alerta: 15 mm a 17,5 mm (representado pelo número 2)
Pontos aceitáveis: 20 mm a 25 mm (representado pelo número 3)
GRÁFICOS 2 e 3 – Situação das fachadas C e D quanto ao revestimento.
FONTE: O AUTOR
18%
57%
25%
Fachada Frontal (rosa) C
1
2
3
15%
63%
22%
Fachada Fundos (verde) D
1
2
3
46
Conforme os gráficos 2 e 3 podemos observar que em média cerca de 23,5%
das fachadas C e D possuem pontos com espessuras aceitáveis.
GRÁFICOS 4 e 5 – Situação das fachadas A e B quanto ao revestimento.
FONTE: O AUTOR
De acordo com os gráficos 4 e 5 a fachada A apresenta apenas 8% de pontos
aceitáveis, enquanto 46% da fachada B são admissíveis.
GRÁFICO 6 – Situação do revestimento externo de forma geral.
FONTE: O AUTOR
Através do gráfico 6, concluímos que de forma geral todas as fachadas
apresentam defasagem na espessura do revestimento sendo apenas 23% aceitáveis
conforme a NRB 13749 (2013).
31%
61%
8%
Fachada Direita (vermelho) A
1
2
3
15%
39%
46%
Fachada Esquerda(azul)B
1
2
3
20%
57%
23%
Geral
1
2
3
47
4.1.2 Mapeamento das fissuras
4.1.2.1 Fissuras nas lajes e escadas
Outras solicitações recorrentes por parte dos moradores é a presença de
fissuras e trincas tanto em paredes quanto laje, na área comum elas estão presentes
nas lajes, escadas e na fachada. Diante disto foi realizado o processo de mapeamento
através de fotos e diretamente in loco.
Além de fotos realizadas no local, foi transcrita em planta baixa as fissuras para
melhor entendimento, pois algumas não são possíveis visualizar através de uma foto.
A representação das fissuras de teto é associada ao número 1 e a cor vermelha,
as que estão localizadas nas paredes pelo número 2 e a cor rosa, já as localizadas no
chão estão relacionadas ao número 3 e a cor azul.
A presença de fissuras nas lajes do térreo pode ser notada tanto dentro dos
apartamentos como nas áreas comuns do edifico, outro ponto de manifestação das
fissuras se dá ao lado dos vãos de porta, conforme figura 46.
FIGURA 46 – Mapeamento pavimento térreo
FONTE: O AUTOR
No segundo pavimento é possível encontrar fissuras no meio do vão das
escadas e patamar, além das demais já descritas no pavimento térreo, conforme figura
47.
48
FIGURA 47 – Mapeamento 2° pavimento
FONTE: O AUTOR
No terceiro pavimento é possível notar as fissuras anteriormente descritas onde
em um dos apartamentos se apresentam na laje tanto a 45º quanto a 0º, conforme
figura 48.
FIGURA 48 – Mapeamento 3° pavimento
FONTE: O AUTOR
Já no ultimo pavimento as fissuras estão presentes sempre abaixo da cinta de
respaldo em quase todos os apartamentos (figura 49).
49
FIGURA 49 – Mapeamento 4° pavimento
FONTE: O AUTOR
4.1.2.2 Fissuras nas fachadas
A fachada frontal (C) e fundos (D) apresentam fissuras na horizontal, onde
grande parte delas estão no encontro entre laje e alvenaria, as demais próximas dos
vãos de janelas ou aleatórias, conforme figuras 50 e 51.
FIGURA 50 – Mapeamento fachada frontal
FONTE: O AUTOR
50
FIGURA 51 – Mapeamento fachada fundos
FONTE: O AUTOR
De mesmo modo as fissuras nas fachadas a direita (A) e a esquerda (B), além
das fissuras nos encontros de laje e alvenaria apresentam também fissuras próximas
aos bordos dos vãos de janelas e no meio das paredes na horizontal, conforme
figuras 52 e 53.
FIGURA 52 – Mapeamento fachada direita
FONTE: O AUTOR
51
FIGURA 53 – Mapeamento fachada esquerda
FONTE: O AUTOR
52
5 ANÁLISE DOS PROBLEMAS
5.1 PROGNÓSTICO
Por meio da análise dos problemas apresentados, desenvolveu-se o
prognóstico do estado patológico do empreendimento, buscando compreender o que
está ocorrendo com cada patologia e propor um tratamento.
5.1.1 Fissuras nas lajes
Por meio de inspeção das catalogações patológicas, observa-se a existência
de um padrão patológico nas lajes, onde simultaneamente todas elas apresentam
trincas diagonais nos bordos, percorrendo a extensão de uma parede a outra.
Por meio da análise destes padrões, chegou-se à conclusão de que se trata de
uma falha estrutural, porém, não se observou nenhum erro em relação ao projeto.
Mediante a verificação de fotos efetuadas durante a execução do empreendimento,
foi possível notar que a armadura negativa instalada sobre os apoios e responsável
por absorver esforços de momento fletor negativo, estava armada de forma errônea,
verificando-se que as armaduras que deveriam ser posicionadas na parte superior da
seção das lajes haviam sido posicionadas pelos executores da obra na parte inferior,
juntamente das armaduras positivas, conforme apresenta as figuras 54 e 55.
FIGURA 54 – Armadura negativa executada erroneamente
FONTE: O AUTOR
53
FIGURA 55 – Armadura negativa executada erroneamente
FONTE: O AUTOR
5.1.2 Fissuras nas escadas
Mediante a verificação de mapeamentos de fissuras realizados, constataram-
se padrões de trincas transversais em todas as escadas, presentes na face inferior do
vão e na ligação entre escada e laje. Padrões os quais indicam falhas estruturais,
fazendo-se necessária a análise do projeto estrutural e registros fotográficos da
execução do empreendimento.
Através das investigações realizadas, foi possível verificar a não conformidade
no dimensionamento da escada, assim como, na execução da mesma, levando a
conclusão que ambos os fatores são responsáveis pela formação de trincas no
elemento estrutural.
5.1.2.1 Execução das escadas
Durante a realização do empreendimento, segundo o empreiteiro, houve a
omissão do chumbamento de esperas das escadas, fazendo-se o uso da malha de
aço responsável pela absorção dos momentos positivos.
Esta substituição de armadura resultou em uma redução brusca da área de aço
necessária, onde a recomendada por projeto era equivalente a 13 barras de 10mm,
resultando em uma área de aço de 10,21 cm², sendo substituída em obra por 15 barras
de 4,2mm com área de aço igual a 2,08 cm². Consequentemente a capacidade de
54
resistência foi reduzida, ocorrendo então o surgimento de trincas na ligação entre
escada e laje através da solicitação destes esforços.
5.1.2.2 Dimensionamento das escadas
A presença de fissuras na face inferior das escadas, mostrando possíveis
falhas de dimensionamento, fez com que fosse necessário o redimensionamento das
armaduras, tomando como referência somente as dimensões das escadas.
Para dimensionar as cargas atuantes no elemento, tomou-se como base a
utilização da NBR – 6120 (1980) a qual nos fornece valores a serem adotados para
as cargas permanentes e acidentais. Valores os quais somados resultaram em 8,16
kN/m aplicados no patamar e 11,06 kN/m presentes no vão da escada. Estas cargas
foram lançadas num software de análise de comportamento estrutural, chamado Ftool,
o qual nos forneceu um momento máximo característico equivalente a 19,0 kN.m,
como apresenta-se na figura 56.
FIGURA 56 – Carregamento e momento máximo da escada
FONTE: O AUTOR
A partir do momento fletor encontrado, segundo a NBR 6118 (2014) indica que
este valor seja majorado em 40% devido ao fator de segurança, resultando então em
um momento máximo de cálculo de 26,6 kN.m, solicitados em um elemento de 1,20
metros de largura por 10 centímetros de espessura.
Está solicitação de esforços resultou na necessidade de uma armadura
longitudinal com área de aço equivalente a 9,63 cm², sendo assim, adotando oito
barras de 12,5 mm com espaçamento de dezessete centímetros, onde, em projeto
estava indicando uma armadura de sete barras de 10 mm com espaçamento de vinte
centímetros, armadura equivalente a uma área de aço próxima de 5,5 cm². Diferença
está de 4,13 cm² de aço que pode ser responsável pela fissuração da escada.
55
Outro fator responsável pela fissuração do vão da escada é a presença de
empuxo ao vazio, onde, no trecho de inflexão da escada para o patamar, a armadura
tracionada foi retificada e consequentemente não havendo cobrimento de concreto
suficiente torna-se um ponto passível a fissurar. O recomendável nestes casos é
substituir cada barra da armadura principal por outras duas prolongadas além do seu
cruzamento e devidamente ancoradas, conforme figura 57.
FIGURA 57 – Detalhamento inflexão da escada
FONTE: PUC GOIÁS
5.1.3 Patologias referentes a infiltrações e manchas
Com relação a infiltração e manchas geradas nas paredes internas dos
apartamentos, foram notados três problemas principais responsáveis pela penetração
de água para dentro do empreendimento.
A primeira adversidade é o fato da existência de desníveis encostados em
paralelo ao empreendimento, onde o solo armazena humidade e transmite para as
paredes do pavimento térreo através de capilaridade, pois, não há impermeabilização
entre a alvenaria e o solo, fazendo com que a humidade penetre através da alvenaria
e se manifeste no revestimento interno de gesso.
56
Outro fator contribuinte com a formação de manchas é o fato da inexistência de
impermeabilização do baldrame, fazendo com que a umidade percole por meio de
capilaridade através da viga baldrame e se manifeste nos rodapés, portas e paredes.
O terceiro problema é o fato de existir microfissuras em todo o revestimento da
fachada, configuração patológica a qual foi observada durante o mapeamento da
espessura do revestimento externo, onde o responsável pelo mapeamento alertou
sobre a presença de diversas fissuras de característica mapeada quase
imperceptíveis.
Estes padrões de fissuras normalmente são ocasionados devido a retração
química em argamassas, onde a presença em excesso de cimento faz com que a
argamassa chegue a perder até 25% do seu volume, como já visto anteriormente,
fazendo com que surjam fissuras mapeadas. Em diálogo com os funcionários
responsáveis pela execução do empreendimento ambos afirmam que eles mesmos
produziam a argamassa e que não havia controle algum na dosagem, sendo utilizada
uma dosagem empírica de 45 pás de areia, dois sacos de cal e um saco de cimento,
resultando em um traço em torno de 1: 0,7: 5 (cimento; cal; areia), traço o qual
apresenta alto teor de cimento.
A presença destas microfissuras no revestimento externo associadas à sua
espessura fina, são responsáveis por percolar umidade a alvenaria, fazendo com que
ela infiltre através das juntas de assentamento e se manifestem no revestimento
interior.
5.1.4 Fissuras em paredes
A existência de diversas aberturas (vãos de portas e janelas) nas paredes
resulta no acumulo de tensões em torno dos vãos, contribuindo com o aparecimento
de fissuras devido o esmagamento da argamassa de assentamento, conforme a figura
26, presente na tabela 1.
A argamassa de assentamento, assim como a de revestimento, não possuía
nenhum controle de dosagem durante sua fabricação, possivelmente resultando em
argamassas de resistência inferior as especificadas em projeto.
Outro fator responsável por formar fissuras no revestimento interno é a
presença de umidade nos blocos gerada através da infiltração de água pela fachada,
fazendo com que os blocos sofram deformações higroscópicas e consequentemente
57
vindo a fissurar o revestimento interno que é formado de gesso e possui baixa
resistência a tração, além de não apresentar bom comportamento na presença de
umidade.
5.1.5 Fissuras na fachada
Por meio da análise realizada a partir da catalogação das patologias presentes
nas fachadas, observou-se que a principal configuração das fissuras é de caráter
horizontal, apresentando-se próximas das lajes, levando a suposição de dois
possíveis fatores precursores das patologias presentes.
A primeira das hipóteses é atribuída ao fato de que devido laje e alvenaria da
cobertura possuírem restrição estrutural por vínculos, se tratarem de materiais
compostos por coeficientes de dilatação distintos e estarem situados em planos
diferentes, ambos estão sofrendo variações dimensionais devido a dilatação térmica,
pois não possuem proteção adequada, gerando tensões de tração e cisalhamento nos
blocos e levando a formação de fissuras na ligação dos mesmos.
Já o segundo fator, parte-se do pressuposto de que devido a fabricação da
argamassa de assentamento ser realizada manualmente pelos executores, como já
mencionado no item 5.1.4, a mesma não possui garantia de qualidade,
consequentemente não sendo possível assegurar resistências determinadas em
projeto. Razão a qual pode levar a formulação de argamassas de baixa resistência
tornando-se passiveis da formação de patologias por sobrecargas onde ocorre o
esmagamento da mesma.
5.2 TRATAMENTO PROPOSTO
O tratamento, é a fase em que se elaboram sugestões para solução, medidas
preventivas e procedimentos que poderão ser seguidos pelos responsáveis técnicos
do empreendimento buscando solucionar estes problemas e evitar que os mesmos se
repitam.
5.2.1 Tratamento para fissuras desenvolvidas por dilatação térmica da laje
Devido a cobertura do empreendimento ser composta por telhas de
fibrocimento a absorção de calor por este material é muito elevada, com isso transfere
para a laje que tende a se movimentar. Com o intuito de minimizar as trincas da
58
cobertura formadas pela movimentação térmica da laje, aconselha-se a utilização de
mantas térmicas, estas compostas por duas camadas de alumínio e polietileno
juntamente de um reforço mecânico, tendo como função principal refletir a irradiação
térmica e consequentemente reduzir a temperatura sob o telhado, evitando com que
a laje sofra movimentações.
Outra solução a ser adotada com o objetivo de reduzir a temperatura sobre a
laje, é a substituição das telhas de fibrocimento pelas chamadas telhas sanduiche,
compostas de duas chapas metálicas contendo em seu interior geralmente EPS ou
PUR, obtendo espessura padrão de 30 mm, podendo variar conforme a necessidade.
5.2.2 Tratamento para combater a umidade no pavimento térreo
Devido a presença de umidade nos rodapés do pavimento térreo, recomenda-
se a remoção de uma faixa de 60cm de altura de todo o revestimento interno,
buscando deixar o bloco aparente para aplicação de uma argamassa polimérica de
base acrílica impermeável, com o objetivo de impedir que a umidade ascendente do
baldrame se manifeste no reboco. Após executada a aplicação de 4 demãos cruzadas
da argamassa polimérica e sua devida secagem, deve-se realizar o emboço desta
faixa fazendo-se o uso de um aditivo hidrofugante na composição da argamassa,
sendo assim, inibindo as ações patológicas provenientes da ascensão de umidade.
Com relação a umidade e a proliferação de fungos presente nas paredes dos
apartamentos 01 e 02, correspondente a existência de um desnível de solo em contato
com a parede. Pode-se executar a impermeabilização da mesma de duas formas,
sendo elas, através da remoção de todo revestimento interno e aplicação da
argamassa polimérica como visto anteriormente, ou através da solução mais sensata
adotada pela construtora, onde foi removido parte do desnível de solo em contato com
a alvenaria e executada a impermeabilização externa com a utilização de manta
asfáltica.
O procedimento é composto pela regularização do reboco, seguido da
aplicação de primer, material responsável pela aderência entre reboco e manta, onde
após a secagem do primer deve ser executada a aplicação da manta asfáltica com o
auxílio de um maçarico para a queima da mesma, procedimento o qual deve se atentar
a respeito da sobreposição de dez centímetros entre uma manta e outra, com o intuito
de garantir a estanqueidade do material. Após a aplicação da manta deve-se executar
59
o emboço a fim de proteger possíveis danos a mesma e evitando que a umidade
chegue a infiltrar na alvenaria (figura 58).
FIGURA 58 – Impermeabilização externa
FONTE: O AUTOR
5.2.3 Tratamento para fissuras no revestimento interno
Através das movimentações térmicas, higroscópicas e de acomodações
geradas no edifício, a formação de fissuras torna-se inevitável devido à baixa
capacidade do revestimento interno absorver estas solicitações. Com o propósito de
reparar estas fissuras que podem vir a gerar abalo psicológico nos ocupantes,
recomenda-se a utilização de selantes acrílicos e tela de fibra de vidro.
A solidarização dos dois materiais faz com que trabalhem juntos evitando a
formação de fissuras no local tratado, funcionando da seguinte forma, a aplicação do
selante acrílico faz com que os esforços de compressão sejam minimizados no ponto
devido suas características elásticas, já a tela de fibra de vidro funciona como uma
“armadura” absorvendo os esforços de tração e impedindo que movimentações como
a de retração venham a fissurar o revestimento.
60
5.2.4 Tratamento da fachada para evitar a manifestação da umidade externa
Com as recorrentes solicitações de manutenção por parte dos ocupantes do
empreendimento, alegando problemas com umidade proveniente da infiltração de
águas pluviais pelas fissuras da fachada, aconselha-se a impermeabilização da
mesma através da execução de uma pintura com a utilização de impermeabilizante a
base de nanotecnologia e borracha liquida.
Este produto é aplicado através de jateamento, necessitando de mão de obra
qualificada, entretanto, devido suas características proporcionam uma vida útil maior
que outros revestimentos como pastilhas e argamassas. Suas propriedades elásticas
permitem que todo o revestimento argamassado trabalhe sem afetar a
impermeabilização, consequentemente, inibindo as manifestações patológicas
provenientes da umidade.
Porem a solução adotada pela construtora foi a realização de uma nova
camada de emboço nos panos de fachada onde apresentavam menor espessura
fazendo-se o uso de argamassa com aditivo hidrofugante, buscando minimizar a
infiltração de água, conforme figura 59.
FIGURA 59 – Emboço fachada
FONTE: O AUTOR
61
5.2.5 Reforço estrutural de lajes e escadas
Devido a dimensionamentos errôneos e execuções incorretas por parte dos
contribuintes na elaboração de escadas e lajes, o fissuramento das mesmas torna-se
inevitável, consequentemente, havendo necessidade de reforço estrutural. Porém a
técnica de reforço a ser aplicada em ambos os elementos, deve ser previamente
analisada pelo calculista responsável pelo projeto, onde deverão ser considerados
todos os itens não atendidos durante a execução do empreendimento.
62
5.3 ANALISE E RESULTADO
TABELA 2 – Resumo das manifestações patológicas
Manifestação
Patológica
Características Causas Solução proposta
Fissuras em
laje
Fissuras sempre
próximo dos apoios
(paredes) a 45º,
conforme figuras 46,
47 e 48.
Execução errônea das armaduras negativas,
onde foi efetuada a amarração da mesma
juntamente com a malha pop (armadura
positiva), perdendo sua função estrutural a qual
é absorver os momentos fletores negativos.
Solicitar projeto de reforço estrutural
juntamente do calculista, explanando os erros
cometidos durante a execução do
empreendimento.
Fissuras em
escada
Fissuras no meio do
vão.
Fissuras no encontro
com o patamar.
Fissuras no encontro
laje e escada.
Fissuras no meio do vão: falha no
dimensionamento, onde não houve a
consideração do coeficiente de segurança para
o ELU (Estado Limite Ultimo) indicado pela
NBR 6118:2014.
Fissuras no encontro com o patamar: falta
de detalhamento em projeto, que acabou
acarretando na retificação da barra tracionada
e causando empuxo ao vazio.
Solicitar projeto de reforço estrutural
economicamente viável juntamente do
calculista. Caso não seja possível a elaboração
de um projeto econômico aconselha-se a
demolição e reconstrução do elemento.
63
Fissuras no encontro laje e escada: omissão
por parte dos executores de esperas de aço
determinadas em projeto para ligação dos
elementos estruturais, onde houve a
substituição da área de aço necessária pela
armadura positiva da laje. Consequentemente,
havendo uma redução brusca na área de aço
essencial.
Fissuras em
parede
Fissuras na
horizontal: próximo
da laje, ao lado das
portas e na fachada.
Dilatação térmica da laje: devido a laje possuir
restrição por vínculos e não obter proteção
adequada, são geradas tensões de tração e
cisalhamento nos blocos, levando a formação
de fissuras na ligação dos mesmos.
Esmagamento da argamassa: falta de
qualidade na elaboração do traço com
resistência estipulada em projeto, associado as
tensões acumuladas, ocasiona o esmagamento
da argamassa de assentamento.
Movimentações higroscópicas: Infiltração de
água pluvial pela fachada, causa absorção de
umidade nos blocos, gerando movimentações
Dilatação térmica da laje: substituição das
telhas de fibrocimento por telhas sanduiche ou
a implementação de manta térmica sobre o
telhado, ambos com proposito de reduzir o calor
absorvido pela cobertura.
Esmagamento da argamassa e
Movimentações higroscópicas: Para as
fissuras internas propomos a aplicação de
selante acrílico e tela de fibra de vidro, a
solidarização dos dois materiais faz com que
trabalhem juntos evitando a formação de
fissuras no local tratado.
64
higroscópicas as quais respondem no
revestimento causando as fissuras.
Infiltração e
Manchas
Manchas amarelas
nas paredes de
fechamento do
edifício (todos os
apartamentos), no
rodapé de todos os
apartamentos do
pavimento térreo e
proliferação de
fungos
principalmente nos
apartamentos 01 e
02.
Manchas nas paredes de fechamento:
Infiltração de água pela fachada, vindo a se
manifestar no revestimento interno, devido a
presença de microfissuras geradas através da
retração química da argamassa externa,
associada a espessura fina do emboço.
Manchas nos rodapés: Omissão de
impermeabilização das vigas baldrame,
ocasionando a percolação por capilaridade da
umidade presente no solo.
Proliferação de fungos: Presença de desnível
de solo ao lado dos apartamentos 01 e 02,
associado a falta de impermeabilização no
revestimento externo do trecho em contato com
o solo, acarreta a infiltração da umidade do solo
por capilaridade na alvenaria.
Manchas nas paredes de fechamento:
Aplicação de pintura com a utilização de
impermeabilizante e borracha liquida em sua
composição.
Manchas nos rodapés: Remoção de uma
faixa de 60 cm a partir do chão de todo o
perímetro interno do empreendimento seguido
da aplicação de argamassa polimérica.
Proliferação de fungos: Para os apartamentos
01 e 02 recomendamos a aplicação de manta
asfáltica no revestimento externo em contato
com o desnível de solo.
65
6 CONCLUSÃO
Buscando contribuir com a melhoria das obras executadas pela construtora,
deixando-as mais funcionais e duráveis, foram abordadas neste estudo de caso,
manifestações patológicas detectadas numa edificação residencial, a qual encontra-
se em uso pois não oferece riscos aos seus ocupantes. Neste trabalho, foram
investigadas as patologias, suas manifestações e suas possíveis causas, elaborando-
se: diagnóstico, prognóstico e medidas preventivas. Sendo proposto processos para
a sua recuperação e procedimentos para evitar a reincidência.
Um dos grandes problemas atestados no canteiro de obras que resultou em
muitas patologias, foi definitivamente a falta de conhecimento técnico dos executores.
A mão de obra não qualificada propiciou falhas quanto ao controle adequado do traço
da argamassa exigido para a execução da alvenaria, resultando em juntas de
diferentes resistências, muitas vezes abaixo da especificada em projeto, ocasionando
fissuras nas paredes devido o esmagamento da argamassa. Sendo proposto a
construtora apenas o tratamento destas fissuras com a utilização de selante acrílico,
pois em relação ao viés estrutural a argamassa de assentamento corresponde a uma
pequena parcela da resistência, sendo o bloco cerâmico o maior responsável por
transmitir os esforços, consequentemente, não necessitando de reforço.
Outra patologia ocasionada devido a negligencia dos executores foi a formação
de fissuras nas escadas e lajes, onde os colaboradores posicionaram de forma
errônea as armaduras negativas e omitiram o chumbamento de esperas para receber
a escada, utilizando-se a própria malha de aço. Estas decisões tomadas em obra
acabaram gerando fissuras nas lajes devido a demanda de esforços os quais não
possuíam armaduras para absorver as solicitações e a formação de fissuras na
ligação entre laje e escada, acarretada devido à redução na área das armaduras de
espera responsáveis por absorver as cargas. A recomendação feita a construtora foi
para que entrassem em contato com o calculista e explanassem todas as falhas
geradas durante a execução, solicitando um projeto de reforço estrutural.
Em relação a umidade presente no empreendimento houveram três fatores
principais, sendo eles, falha quanto ao controle adequado do traço da argamassa
utilizada para o emboço da fachada, omissão da impermeabilização das vigas
baldrame e por fim, falha no projeto executivo o qual não indicava impermeabilização
66
da parede em contato com o desnível de terra ao lado do empreendimento. A
concepção de traço da argamassa de forma empírica resultou em argamassas com
alto teor de cimento gerando retração química e formando microfissuras mapeadas
na fachada, por onde a umidade externa infiltrava até se manifestar no revestimento
interno. A não contemplação da impermeabilização do baldrame resultou na ascensão
da umidade por meio de capilaridade através do concreto, vindo a se manifestar nos
rodapés de portas e paredes. Já a falha no projeto executivo fez com que não fosse
executada a impermeabilização da alvenaria em contato com o desnível de terra ao
lado da obra, gerando a infiltração na parede, proveniente da umidade presente no
solo. As soluções propostas a construtora para sanar estes problemas relacionados a
umidade, foram todas relacionadas a impermeabilização, onde se propôs, a
impermeabilização da fachada fazendo-se o uso de pintura com a utilização de
impermeabilizante a base de nanotecnologia e borracha liquida, impermeabilização
dos rodapés das paredes com a utilização de argamassa polimérica e por fim, a
impermeabilização externa da parede em contato com o solo, através da utilização de
manta asfáltica.
Outro fator patológico proveniente da falta de conhecimento técnico dos
executores, foi a formação de fissuras por dilatação térmica da laje. Fato que ocorreu
devido os contribuintes não deixarem livre a laje da cobertura, através da utilização
de neoprene na ligação entre laje e alvenaria. Esta omissão da aplicação do neoprene
acabou formando restrições por vínculos entre os elementos que quando solicitados
por variações dimensionais da laje, causam rotação nas canaletas de respaldo
gerando fissuras nas juntas de assentamento. A solução proposta a construtora foi a
utilização de mantas térmicas ou substituição das telhas de fibrocimento por telhas
sanduiche, ambos os métodos com o intuito de reduzir a temperatura entre a cobertura
e a laje, consequentemente inibindo as movimentações térmicas.
Entre tantos erros provenientes da mão de obra não qualificada, houveram
também alguns erros na concepção dos projetos, onde surgiram patologias como
fissuração do vão da escada e na ligação com o patamar. Erros estes decorrentes do
mal dimensionamento e mal detalhamento do elemento, no qual se subdimensionou
a armadura necessária para o vão da escada e não foi elaborado um detalhamento
sucinto de traspasse de armaduras na ligação com o patamar a fim de se evitar
fissuras decorrentes do empuxo ao vazio. A recomendação dada a construtora, assim
67
como no caso de fissuração das lajes, foi a de entrar em contato com o calculista
mostrando-lhe os erros resultantes do projeto e solicitando um projeto de reforço
estrutural.
Com isso pode-se chegar a conclusão que apesar da comprovada eficiência da
alvenaria estrutural quanto as suas finalidades como alta resistência, redução de
custos e tempo de execução, ela ainda se torna uma alternativa que deixa dúvidas
quanto a eficiência quando nos deparamos com essas patologias que poderiam ser
evitadas, pois há muitos estudos das causas e efeitos que elas podem surtir nas
edificações, mas mesmo assim os construtores ainda negligenciam e tratam como se
fora uma alvenaria convencional.
Atesta-se que é viável a utilização da alvenaria estrutural como método
construtivo desde que sejam seguidas todas as exigências das normas técnicas e se
tomem as providências citadas neste trabalho garantindo assim a boa qualidade da
execução.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 (2014) – Projeto
de estruturas de concreto – Procedimento.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120 (2000) – Cargas
para o cálculo de estruturas de edificações.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655 (2015) –
Concreto de cimento Portland – Preparo controle e recebimento –
Procedimentos.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279 (2005) –
Argamassa para assentamento de paredes e tetos – Determinação da
resistência à tração na flexão e à compressão.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749 (2013) –
Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-2 (2005) –
Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural, Parte 2.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 (2013) –
Edificações habitacionais – Desempenho: Requisitos gerais, Parte 1.
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Alvenaria estrutural - Blocos Cerâmicos, Parte 1.
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ANEXOS