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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A FUNÇÃO SOCIAL DO SINDICATO NA ATUAL SOCIEDADE
TAÍS FERRAZZA
Itajaí (SC), Junho de 2010.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A FUNÇÃO SOCIAL DO SINDICATO NA ATUAL SOCIEDADE
TAÍS FERRAZZA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Direito. Orientador: Professor Pós Doutor Zenildo Bodnar
Itajaí (SC), Junho de 2010.
AGRADECIMENTO
Primeiramente a Deus, divino e misericordioso, por estar sempre iluminando meu caminho;
Aos meus pais, Ivo e Marilu Ferrazza, pelo exemplo de amor, respeito e educação;
Ao meu filho Matheus, razão da minha existência;
Ao meu esposo Gustavo, pela compreensão, companheirismo e dedicação;
Aos meus amigos, mais que especiais presentes nesta trajetória, incentivando e enriquecendo com alegria minha vida;
Aos mestres, com a arte de ensinar, apesar de todas as dificuldades que enfrentam;
Ao meu orientador, Doutor Zenildo Bodnar, com a disponibilidade que manifestou, dedicando seu tempo e conhecimento para realização deste trabalho. Deixo registrada a grande admiração que tenho pelo profissional que és.
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais Ivo e Marilu, ao meu filho Matheus, ao meu esposo Gustavo, aos meus irmãos Taciana, Ederlã e Francielle, ao meu sobrinho Luca,
pessoas que amo e que acompanharam toda a trajetória e dificuldade que enfrentei.
À sociedade como fonte de pesquisa.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí (SC), Junho de 2010.
Taís Ferrazza Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Taís Ferrazza, sob o título A Função
Social do Sindicato na Atual Sociedade, foi submetida em 11 de junho de 2010 à
banca examinadora composta pelos seguintes professores: Professor Pós Doutor
Zenildo Bodnar (Orientador e Presidente da Banca) e Msc. Rosane Maria Rosa, e
aprovada com a nota (_____________).
Itajaí (SC), Junho de 2010.
Professor Pós Doutor Zenildo Bodnar Orientador e Presidente da Banca
Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ART. Artigo CC Código Civil CEJURPS Centro de Ciências Jurídicas Políticas e Sociais CLT Consolidação das Leis Trabalhistas CPC Código de Processo Civil CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 DOU Diário Oficial da União EC Emenda Constitucional FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço MSC Mestre em Ciências MTE Ministério do Trabalho e Emprego OIT Organização Internacional do Trabalho OJ Orientação Jurisprudencial ONU Organização das Nações Unidas SC Santa Catarina SDI Seção de Dissídios Individuais STF Supremo Tribunal Federal TST Tribuna Superior do Trabalho UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
ROL DE CATEGORIAS
Direito do Trabalho
Assevera Valentim Carrion1 que é o conjunto de princípios e normas que regulam as
relações entre empregados e empregadores e de ambos com o Estado, para efeitos
de proteção e tutela do trabalho.
Direitos Fundamentais do Trabalhador
José Afonso da Silva2 assevera que “são direitos dos trabalhadores os enumerados
nos incisos do art. 7o, além de outros que visem à melhoria de sua condição social.
Temos, assim, direitos expressamente enumerados e direitos simplesmente
previstos”.
Dissídio Coletivo de Trabalho
Para Gleibe Pretti3 “Dissídio Coletivo de Trabalho é a medida judicial cabível quando
infrutífero acordo ou convenção coletiva, conforme disposto no art. 856 da CLT”.
Empregado
Gleibe Pretti4 considera que “empregado toda pessoa física que prestar serviços de
natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.
Empregador
Amauri Mascaro Nascimento5 entende que “será empregador todo ente para quem
uma pessoa física prestar serviços continuados, subordinados e assalariados”.
1 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . 34 ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 21. 2 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. 6. ed. atual. até a emenda
constitucional 577, de 18 de dezembro de 2008. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 189. 3 PRETTI, Gleibe. CLT comentada e jurisprudência trabalhista . São Paulo: ícone, 2009. p. 336. 4 PRETTI, Gleibe. CLT comentada e jurisprudência trabalhista . p. 40. 5 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. 19. ed. rev. e atual. São Paulo:Saraiva, 2004. p. 602.
8
Função Social
É a qualidade dos seres, das coisas, dos objetos, dos bens, institutos e instituições
sobre os quais a norma jurídica atribui que delas são titulares e para aqueles que
estão ao seu redor e que participam direta ou indiretamente de seus efeitos6.
Práticas Antissindicais
Para Alice Monteiro de Barros7 “atos que prejudicam indevidamente um titular de
direitos sindicais no exercício da atividade sindical ou por causa desta ou aqueles
atos mediante os quais lhe são negadas, injustificadamente, as facilidades ou
prerrogativas necessárias ao normal desempenho da ação coletiva.
Sindicato
Sergio Pinto Martins8 explica que “sindicato é a associação de pessoas físicas ou
jurídicas que têm atividades econômicas ou profissionais, visando a defesa dos
interesses coletivos e individuais de seus membros ou da categoria”.
Unicidade Sindical
Orlando Gomes e Elson Gottschalk9 ensinam que “significa o reconhecimento pelo
Estado, ou pela categoria profissional contraposta, de apenas um sindicato, como
representante de toda uma profissão”.
6 CARVALHO, Francisco José. Função social do direito . Disponível em:
<http://www.funcaosocialdodireito.com.br> Acesso em: 26 fev. 2010. 7 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: Ltr, 2009.
p. 1.291. 8 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 25. ed. atual. São Paulo, SP: Atlas, 2007. p. 696. 9 GOMES, Orlando e Elson Gottschalk. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
p. 553.
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................... XI
INTRODUÇÃO ..................................................................................12
CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................15
ASPECTOS GERAIS DO SINDICALISMO .................... ...................15
1.1 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SINDICATO... .................... 15 1.2 CONCEITO DE SINDICATO.......................................................................... 19 1.3 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO SINDICALISMO BRASILEIR O.................... 20
1.3.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA .................................................................. 20
1.3.2 PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE ........................................................................ 21
1.3.3 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO ............................................................................... 22
1.3.4 PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DE DIREITOS .............................................. 23
1.3.5 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA SINDICAL ............................................................... 23
1.3.6 PRINCÍPIO DA LIBERDADE ASSOCIATIVA E SINDICAL ......................................... 25
1.3.7 PRINCÍPIO DA INTERVENIÊNCIA SINDICAL NA NORMATIZAÇÃO COLETIVA ............ 25 1.4 CRIAÇÃO E REGISTRO DOS SINDICATOS.............. .................................. 27 1.5 NATUREZA JURÍDICA DOS SINDICATOS............... ................................... 29 1.6 UNICIDADE SINDICAL............................. ..................................................... 31 CAPÍTULO 2 ......................................... ............................................35
FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL ................ ...........35
2.1 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO .......... ........................ 35
2.1.1 ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ........................ 39
2.1.2 CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DA OIT........................................................... 43 2.2 LIBERDADE SINDICAL............................. .................................................... 48 CAPÍTULO 3 ......................................... ............................................55
A MISSÃO CONSTITUCIONAL DO SINDICATO NA ATUAL SOCIEDADE .....................................................................................55
x
3.1 DIRIGENTE SINDICAL............................. ..................................................... 55 3.2 PRÁTICAS ANTI-SINDICAIS ........................ ................................................ 58
3.2.1 AGENTES DA CONDUTA ANTISSINDICAL ........................................................... 64
3.2.2 MANIFESTAÇÕES DOS ATOS ANTISSINDICAIS ................................................... 65
3.2.3 CONDUTAS ANTI-SINDICAIS NO BRASIL ........................................................... 67 3.3 FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO....................... ............................................. 68 3.4 FUNÇÃO SOCIAL DA PESSOA JURÍDICA............... ................................... 69 3.5 FUNÇÃO SOCIAL DO SINDICATO ..................... ......................................... 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... ...............................75
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...................... .....................78
ANEXOS ...........................................................................................82
RESUMO
O presente trabalho de monografia, realizado com base no
método indutivo, tem a preocupação com a Função Social do Sindicato, e as
Práticas Antissindicais. Apresenta e analisa a liberdade sindical dos trabalhadores
como a negociação entre empregados e empregadores, previsto no artigo 8o da
CRFB/88. O estudo tem como preocupação demonstrar a realidade dos sindicatos
no Brasil, através das práticas antissindicais e entendimentos jurisprudenciais. O
presente trabalho é composto de três capítulos, que se destacam pelos seguintes
conteúdos e objetivos específicos: o primeiro capítulo tratara os aspectos gerais do
sindicalismo; o segundo capítulo abordara fundamentos da organização sindical e,
no terceiro capítulo tratara da missão constitucional do sindicato na atual sociedade.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto a “Função Social do
Sindicato na Atual Sociedade” e, como objetivos principais: institucional, produzir
uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI; geral, discorrer sobre aspectos gerais do sindicato, bem
como fundamentos da organização sindical, para entendimento das práticas
antissindicais; específicos: demonstrar à sociedade a função social dos sindicatos,
bem como, as práticas antissindicais que ocorrem.
O tema é relevante, pois, esclarece dúvidas a cerca do tema
em questão.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação10 foi utilizado o Método Indutivo11, na Fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano12, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses: a) no Brasil vigora, desde a década de 1930, inclusive após a CRFB/88, o
sistema de unicidade sindical, sindicato único por força de norma jurídica, que
consiste no reconhecimento de uma única entidade sindical; b) Liberdade sindical
versa sobre o direito dos trabalhadores constituírem livremente associações, sobre a
premissa lógica de proteção contra os atos antissindicais; c) a Constituição prevê a
obrigatoriedade da participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
trabalho (CRFB/88, art. 8°, VI). Desta forma, como conhecedor dos direitos
10 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente
estabelecido [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.
11 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.
12 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
13
trabalhistas, detém o poder e o dever de garantir as empresas um bom
funcionamento e para os trabalhadores o benefício dos direitos adquiridos.
A presente monografia foi dividida em três capítulos:
O primeiro capítulo relembrará o surgimento e evolução do
sindicato no Brasil e as mudanças mais importante no modelo trabalhista e sindical
brasileiro com a Constituição de 1988. Ademais, vale ressaltar o conceito de
sindicato. Neste capítulo serão abordados os princípios aplicáveis ao sindicalismo
brasileiro, à criação e registro dos sindicatos, o órgão responsável para o
cumprimento e os requisitos essenciais para que ocorra.
Além disso, a natureza jurídica dos sindicatos e finalizando
este capítulo, talvez o tema mais importante ali mencionado, a Unicidade Sindical
frente a criação de um único sindicato na mesma base territorial.
O segundo capítulo aborda a Organização Internacional do
Trabalho como fundamento importante para promover a justiça social, e melhores
condições para laborar. Ainda, as convenções da OIT com suas negociações
estabelecendo que Estados-membros cumpram com as melhorias das relações de
trabalho.
Por fim, a liberdade sindical, como amparo protetor dos
sindicatos de trabalhadores, bem como, garantias e estabilidade dos trabalhadores
ao direito de sindicalização, como base para entender as condutas antissindicais.
No terceiro e último capítulo, a missão constitucional na atual
sociedade, primeiramente aludindo quanto ao dirigente sindical a estabilidade
tornando garantia constitucional de ordem pública, transcritas na convenção da OIT,
analisando como ocorrem as práticas antissindicais e como funcionam as filiações.
Desta forma, através dos aspectos correlacionados com os dirigentes sindicais
abordará as práticas antissindicais, quem são os agentes da conduta antissindical,
de que maneira ocorrem, as manifestações dos atos antissindicais, quais os direitos
do homem na sociedade tratando-se de direitos sindicais.
14
Assim sendo, compreender qual a função social do direito e a
sua finalidade. Neste sentido, apontar a função social da pessoa jurídica e qual a
sua importância para a sociedade. Por fim, o que instiga a realização deste trabalho
de pesquisa é demonstrar para sociedade através desta pesquisa a existência dos
sindicatos, quais as suas atribuições, entender sobre a função social a que se
destina, e quais os direitos dos trabalhadores e empregadores diante do sindicato.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,
seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a Função
Social do Sindicato e as Práticas Antissindicais.
Nas diversas fases da Pesquisa, serão acionadas as Técnicas
do Referente13, da Categoria14, do Conceito Operacional15 e da Pesquisa
Bibliográfica16.
13 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o
alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.
14 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.
15 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.
16 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.
CAPÍTULO 1
ASPECTOS GERAIS DO SINDICALISMO
1.1 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SINDICATO
Doutrinadores ensinam que o Direito Coletivo de Trabalho
surge com o Direito de Associações dos Trabalhadores. A noção de sindicato tem
sua origem com a Revolução Industrial (século XVIII). Pedro Paulo Manus17 citando
Délio Maranhão relata que:
A introdução da máquina no processo industrial cria, através daquelas enormes concentrações de trabalhadores em redor da própria máquina, a figura do assalariado e, juridicamente, instaura-se o princípio da ampla liberdade de contratação, sem qualquer limite à vontade das partes. Afirma ainda, que, embora o indivíduo continuasse a ser solicitado ao trabalho, não mais importava sua capacidade pessoal e sua habilidade, que eram fundamentais aos artesãos. Deveria ser, apenas treinado para operar máquina, o que era possível igualmente às crianças de dez, oito e até seis anos. (...) Aquela hipotética igualdade entre empregado e empregador, tendo em conta a evidente disparidade entre ambos – o patrão detinha os meios de produção, a máquina, além do poder de dirigir a prestação de serviços – representava na realidade uma desigualdade alarmante. Era claramente a liberdade de o patrão explorar sem limites e de o empregado ser explorado sem defesa.
Os empregados apenas detinham obrigações e o patrão
comandava os trabalhadores em prol de seu faturamento, pois conforme relatos o
empregador possuía os meios para a produção e o trabalhador apenas a mão-de-
obra.
Contudo, Sergio Pinto Martins18 aponta que já existia
sindicatos, com a influência de trabalhadores estrangeiros que vieram a prestar
serviços no Brasil, eram denominadas de ligas operárias.
17 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho . 4 ed. São Paulo: Atlas, 1995. p. 182. 18 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 688.
16
Os primeiros sindicatos que foram criados no Brasil datam de 1903. Eram ligados à agricultura e à pecuária. Foram reconhecidos pelo Decreto n° 979, de 6-1-1903. O movimento sindical a lcança dimensão nacional com o 1° Congresso Operário Brasi leiro, realizado no Rio de Janeiro, em 1906, quando é fundada a Confederação Sindical Brasileira. Em 1907, surge o primeiro sindicato urbano (Decreto n° 1.637/1907).
Em 1930 durante a Revolução, foi baixado o Decreto n°
19.770, de 19-3-31, que estabelecia a distinção entre sindicato de empregados e de
empregadores, exigindo seu reconhecimento pelo Ministério do Trabalho. O
sindicato não poderia exercer qualquer atividade política.
Os sindicatos poderiam celebrar convenções ou contratos coletivos de trabalho. Foram agrupadas oficialmente profissões idênticas, similares e conexas em bases municipais. Vedou-se a filiação de sindicatos a entidades internacionais sem autorização do Ministério do Trabalho. Passaram os sindicatos a exercer funções assistenciais19.
Verifica-se que, o sindicato no Brasil, surgiu com a imposição
do Estado, sem a possibilidade de ser criado de maneira totalmente independente e
desvinculado. Havia necessidade de se encaminhar o pedido de reconhecimento do
sindicato ao Ministro do Trabalho, acompanhado de cópia autenticada dos estatutos
da associação.
De outro norte, o artigo 8° da CRFB/88 institui que é livre a
associação profissional ou sindical, o que já constava das Constituições de 1937
(art. 138), 1946 (art. 159) e EC n° 1/69 (rt. 166). Mas confronta-se com o inciso II do
presente artigo em que estabelece que seja proibida a criação de mais de um
sindicato de categoria profissional ou econômica, em qualquer grau, na mesma base
territorial.
Diante das definições, abordam-se os marcos principais da
evolução do sindicalismo no Brasil, pois afirmam alguns autores que são os
mesmos do Direito do Trabalho, ou seja, a Revolução de 1930 e a Constituição de
1988.
19 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 690.
17
Alice Monteiro de Barros20 informa que “a origem do Direito
Coletivo na época liberal faz parte do Direito do Trabalho, e não em remotos
precedentes, apesar de o regime liberal proibir o fenômeno associativo”.
Mauricio Godinho Delgado21 aborda o período inicial do
sindicalismo brasileiro, relatando o surgimento das primeiras associações. Explica
ainda, quanto à formação das entidades coletivas, e o período da criação dos
sindicatos:
As primeiras associações de trabalhadores livres mas assalariados, mesmo que não se intitulando sindicatos, surgiram nas décadas finais do século XIX, ampliando-se a experiência associativa ao longo do século XX. Tratava-se de ligas operárias, sociedade de socorro mútuo (...). Na formação e desenvolvimento dessas entidades coletivas teve importância crucial a presença da imigração européia, que trouxe idéias e concepções plasmadas nas lutas operárias do velho continente. (...) Algum tempo depois, o Decreto n. 979, de 1903, facultaria a criação de sindicatos rurais (...) ao passo que, em 1907, o Decreto Legislativo n. 11.637 estenderia a vantagem à área urbana, facultando a criação de sindicatos profissionais e sociedades cooperativas. (...) Ao lado desse sindicalismo mais proeminente, surgem também entidades sindicais em torno do parque industrial que se forma entre 1890 e 1930 no país, principalmente em São Paulo.
Na visão de Arnaldo Sussekind22 não foi promovida a
Revolução 1930 por associações de trabalhadores, mas sim por políticos e militares
que contou com apoio popular, tanto no mundo intelectual, como do proletário.
GETÚLIO VARGAS, como chefe da revolução e do Governo Provisório, cujo termo foi a Constituição de 16 de julho de 1934, expediu diversos decretos legislativos sobre direitos sociais - trabalhistas. Para tanto contou, nessa fase, com a decisiva colaboração do seu primeiro Ministro do Trabalho, LINDOLFO COLLOR, resgatando, com essa legislação, uma dívida histórica.
Desta forma, com a Revolução de 1930, os trabalhadores
uniram-se formando associações através das ligas operárias, para lutarem por uma
estrutura melhor de trabalho. Alguns autores apontam a greve pelas oito horas de
trabalho, abrangendo São Paulo, Santos, Ribeirão Preto e Campinas, em 1907
20 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho .p. 1219. 21 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . 6. ed. São Paulo: Ltr, 2007. p. 1358. 22 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. 2. ed. ampl. e atual. Rio de Janeiro:
Renovar, 2001. p. 344.
18
como alguns dos pontos mais significativos da atuação coletiva obreira na fase
inicial do sindicalismo brasileiro.
Ao lado disso, a Constituição de 1988 foi considerada a
mudança mais importante no modelo trabalhista e sindical brasileiro, fixou
reconhecimento e incentivos jurídicos efetivos ao processo negocial coletivo
autônomo. Mas, a CRFB/88, preserva institutos e mecanismos autoritário-
corporativos oriundos das bases do velho modelo justrabalhista, como a antiga
estrutura sindical corporativista. Neste ponto, Mauricio Delgado23 explica:
Não se pode negar, é verdade, os claros pontos de avanço democrático na Constituição brasileira: a nova Carta confirma em seu texto o primeiro momento na história brasileira após 1930 em que se afasta, estruturalmente, a possibilidade jurídica de intervenção do Estado – através do Ministério do Trabalho – sobre as entidades sindicais. Rompe-se, assim, na Constituição com um dos pilares do velho modelo: o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura sindical.
Ainda, o mesmo autor24 aponta mecanismos elencados na
nova CRFB/88:
a) contribuição sindical obrigatória, de origem legal (artigo 8°, IV, in fine, CF/88); b) representação corporativa no seio do Poder Judiciário (arts. 111 a 117, CF/88); c) poder normativo do Judiciário Trabalhista (art. 114, §2°, CF/88); d) preceitos que obrigam a unicidade e o sistema de enquadramento sindical (art. 8°, CF/88). Esses mecanismos autoritários preservados pela Carta de 1988 atuam frontalmente sobre a estrutura e dinâmica sindicais, inviabilizando a construção de um padrão democrático de gestão social e trabalhista no Brasil.
Todavia, de um lado tem permitido o enfraquecimento dos
sindicatos através de sua pulverização organizativa, com a subdivisão das
categorias profissionais. De outro lado, tem propiciado negociações coletivas às
vezes danosas aos trabalhadores, em vista da falta de efetiva representatividade
dessas entidades enfraquecidas.
Sendo assim, verificar-se-á o conceito de sindicato, qual o
verdadeiro significado deste instituto.
23 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p. 1364. 24 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1365.
19
1.2 CONCEITO DE SINDICATO
Valentin Carrion25 oferta exemplo de definição do Sindicato de
empregados: “é o agrupamento estável de membros de uma profissão, destinado a
assegurar a defesa e representação da respectiva profissão para melhorar as
condições de trabalho”.
Ainda o mesmo autor26 trata do Sindicato patronal que
congrega os empregadores com a finalidade de defender seus interesses
econômicos.
Neste Contexto, preceitua Gleibe Pretti27:
Sindicato é a associação de pessoas físicas ou jurídicas que têm atividades econômicas ou profissionais, visando à defesa dos interesses coletivos e individuais de seus membros ou da categoria. É uma associação espontânea entre as pessoas. (...) O sindicato é uma pessoa jurídica de direito privado, pois não pode haver interferência ou intervenção no mesmo, como preceitua o art. 8°, II, da Constituição Federal.
Alice Monteiro de Barros28 conceitua sindicato como
“associação profissional devidamente reconhecida pelo Estado como representante
legal da categoria”.
Ainda, Mauricio Delgado29 define sindicato como sendo:
(...) entidades associativas permanentes, que representam trabalhadores vinculados por laços profissionais e laborativos comuns, visando tratar de problemas coletivos das respectivas bases representadas, defendendo seus interesses trabalhistas e conexos, com o objetivo de lhes alcançar melhores condições de labor e vida.
Nesta linha, o sindicato atua em prol dos trabalhadores e
empregadores, sem a influência do Estado. Demonstra-se com o surgimento do
sindicato, que neste, havia grande intervenção do Estado conforme definem alguns
doutrinadores.
25 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . p. 423. 26 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . p. 423. 27 PRETTI, Gleibe. CLT comentada e jurisprudência trabalhista . p. 338. 28 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1237. 29 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1325.
20
Diante do exposto, tratar-se-á ao longo deste capítulo
princípios, funções, criação e registro, natureza jurídica, mas principalmente a
Unicidade Sindical, visto que não pode existir mais de um sindicato da mesma
categoria, que será definida pelos trabalhadores, não podendo ser inferior à área de
um município.
1.3 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO SINDICALISMO BRASILEIR O
Sergio Martins30 explica que princípios são “as proposições
básicas que fundamentam as ciências. Para o Direito, o princípio é seu fundamento,
a base que irá informar e inspirar as normas jurídicas”.
Ainda, o mesmo autor31 citando José Cretella Jr. afirma que
“princípios de uma ciência são as proposições básicas fundamentais, típicas, que
condicionam todas as estruturações subseqüentes. Princípios, nesse sentido, são os
alicerces da ciência”.
Neste norte, fica imprescindível o entendimento dos princípios
do Direito do Trabalho, mesmo sendo poucos autores a abordarem este assunto.
Dentre os quais, Mauricio Delgado32 entende:
(...) o desconhecimento sobre os princípios especiais do Direito Coletivo do Trabalho irá certamente comprometer o correto e democrático enfrentamento dos novos problemas propostos pela democratização do sistema trabalhista no Brasil. A não compreensão da essencialidade da noção de ser coletivo, da relevância de ser ele representativo e consistente para de fato assegurar condições de equivalência entre os sujeitos do ramo juscoletivo trabalhista(...).
Portanto, os princípios influenciam nas relações e efeitos entre
as normas produzidas pelo Direito Coletivo, através das negociações coletivas.
1.3.1 Princípio da Dignidade Humana
Aduz Jose Afonso da Silva33 quanto aos princípios
constitucionais que “(...) A Emenda Constitucional de 3.9.1926 introduziu no texto do
30 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 60. 31 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 60. 32 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1303.
21
art. 6o, II, da CF de 1891 a indicação dos princípios constitucionais, cujo desrespeito
pelos Estados fundamentava a intervenção federal”.
A CRFB/88 erigiu no artigo 1o, III o fundamento constitucional,
a dignidade da pessoa humana. A filosofia Kantiana mostra a pessoa humana como
seres racionais, porque sua natureza já os designa como pessoas.
Neste sentido, Jose Afonso da Silva explica:
(...) quer dizer que só o ser humano, o ser racional, é pessoa. Todo ser humano, sem distinção, é pessoa, ou seja, um ser espiritual, que é, ao mesmo tempo, fonte e imputação de todos os valores, consciência e vivência de si próprio. Todo ser humano se reproduz no outro como seu correspondente e reflexo de sua espiritualidade, razão por que desconsiderar uma pessoa significa, em última análise, desconsiderar a si próprio. Por isso é que a pessoa é um cento de imputação jurídica, porque o Direito existe em função dela para propiciar seu desenvolvimento.
Trata-se, portanto, da existência digna conforme os ditames da
justiça social, como fim de ordem econômica. Lembrar-se que existe um profundo
desrespeito a dignidade da pessoa humana, um sistemas de desigualdades, uma
ordem econômica em que inumeráveis homens e mulheres são torturados pela
fome, inúmeras crianças vivem na inanição, a ponto de milhares delas morrerem em
tenra idade.
1.3.2 Princípio da Razoabilidade
Sergio Pinto Martins34 explica que “O princípio da razoabilidade
esclarece que o ser humano deve proceder conforme a razão, de acordo como
procederia qualquer homem médio ou comum”.
De acordo com Arnaldo Sussekind35 o princípio da
razoabilidade é princípio geral do direito, e consiste em agir conforme a razão:
É um princípio geral do Direito com aplicação específica à negociação coletiva. Também denominado de princípio da
33 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. p. 28. 34 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 62. 35 SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho. 22°. ed. atual. São Paulo: Ltr, 2005. p.1197.
22
racionalidade, consiste em agir conforme a razão, com moderação, de modo justo, ponderado e sensato.
Maximilianus Claudio Fuhrer e Maximiliano Roberto Fuhrer36
em seu resumo de Direto do Trabalho explica que no princípio da razoabilidade “o
aplicador da lei deverá se basear pelo bom senso, ponderando todos os fatos para
ser razoável na aplicação do texto legal”.
Desta maneira, o princípio da razoabilidade diz respeito a um
padrão que o homem teria em qualquer situação. A razoabilidade exige a
harmonização da norma geral com o caso individual, e destes, com suas condições
externas de aplicação.
1.3.3 Princípio da Proteção
O princípio da proteção trata da superioridade econômica do
empregador em relação ao empregado. Sergio Martins37 entende que este princípio
pode ser desmembrado em três: o in dúbio pro operário ; o da aplicação da norma
mais favorável ao trabalhador e o da aplicação da condição mais benéfica ao
trabalhador.
O in dúbio pro operário não se aplica integralmente ao processo do trabalho, pois havendo dúvida, à primeira vista, não se poderia decidir a favor do trabalhador, mas verificar quem tem o ônus da prova no caso concreto, de acordo com as especificações dos arts. 333, do CPC, e 818, da CLT.
(...) A aplicação da norma mais favorável pode ser dividida de três maneiras: (a) a elaboração da norma mais favorável, em que as novas leis devem dispor de maneira mais benéfica ao trabalhador(...);(b) a hierarquia das normas jurídicas: havendo várias normas a serem aplicadas numa escala hierárquica, deve-se observar a que for mais favorável ao trabalhador(...); (c) a interpretação da norma mais favorável: da mesma forma, havendo várias normas a observar, deve-se aplicar a regra mais benéfica ao trabalhador(...).
A condição mais benéfica ao trabalhador deve ser entendida como o fato de que vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao trabalhador, não podem ser modificadas para pior.
36 MALHEIROS, Nayron Divino Toledo. Princípios e fontes do Direito do Trabalho . Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1184> Acesso em: 22 fev. 2010. 37 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 63.
23
Enfim, o princípio da proteção existe para que o trabalhador
tenha uma posição mais favorável diante do empregador.
1.3.4 Princípio da Irrenunciabilidade de direitos
Em regra os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo
trabalhador. O art. 9°da CLT 38 menciona no sentido de que “serão nulos de pleno
direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a
aplicação dos preceitos trabalhistas”.
Ante ao exposto, Sergio Martins39 explica que “Poderá,
entretanto, o trabalhador renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante do juiz
do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo
forçado a fazê-lo”.
O entendimento é de que, com o princípio da irrenunciabilidade
de direitos, o trabalhador poderá renunciar seus direitos desde que, na presença do
juízo. Caso contrário os direitos do trabalhador serão irrenunciáveis.
1.3.5 Princípio da Autonomia Sindical
Na visão de Mauricio Godinho40, tal princípio cumpre o papel
de assegurar condições à própria existência do ser coletivo obreiro, é o princípio da
autonomia sindical:
sustenta a garantia de autogestão às organizações associativas e sindicais dos trabalhadores, sem interferências empresariais ou do Estado. Trata ele, portanto, da livre estruturação interna do sindicato, sua livre atuação externa, sua sustentação econômico-financeira e sua desvinculação de controles administrativos estatais ou em face do empregador.
O mesmo autor41 informa que “quando se fala no princípio
genérico da liberdade de associação nele se englobam, naturalmente, as matérias
relativas à estruturação interna das entidades associativas (...)”.
38 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . p. 70. 39 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 64. 40 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1311. 41 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1311.
24
A autonomia sindical é a possibilidade de atuação do grupo
organizado em sindicato e não de seus componentes individualmente considerados.
O sindicato pode ser organizado por grupo de empresas, por empresas, por
categoria; de âmbito municipal, distrital, intermunicipal, estadual ou nacional.
Tal princípio teve ênfase com a Constituição de 1988, quando
teria crescimento no ordenamento jurídico. O art. 8° da CRFB/88 alargou as
prerrogativas de atuação dessas entidades, em questões judiciais, administrativas,
na negociação coletiva e pela amplitude assegurada ao direito de greve.
Entretanto, Mauricio Delgado42 afirma que o princípio da
autonomia sindical não chegou ser efetivamente incorporado no ordenamento
jurídico brasileiro, e que a CRFB/88 detinha relevantes traços corporativistas:
(...) a mesma Constituição manteve traços relevantes do velho sistema corporativista. (...) Embora um dos mais perversos desses traços tenha sido extirpado onze anos após a vigência da Carta Magna (a Emenda Constitucional n.24, de dezembro de 1999, suprimiu a representação classista no corpo do judiciário trabalhista), as demais contradições permanecem, colocando em questão, mais uma vez, a plenitude do princípio da autonomia dos sindicatos na ordem jurídica e política do Brasil.
Desta maneira, o princípio da autonomia sindical não foi muito
bem aceito, pelo fato de que a autonomia sindical iria de encontro com controle
político-administrativo dos sindicatos, o que trata de um dos problemas centrais da
história do sindicalismo, razão pela qual o princípio maior da liberdade sindical se
desdobrou em duas diretrizes que seriam: o da própria liberdade e o da autonomia
das entidades sindicais operárias.
Entretanto, assegura Sergio Pinto Martins43 que o enfoque da
autonomia sindical compreende vários aspectos, dentre os quais:
O primeiro seria o da liberdade de organização interna, de os interessados redigirem os estatutos do sindicato. Assim, os estatutos não podem ser aprovados por autoridade administrativa, pois tal fato iria violar a autonomia sindical. (...) A OIT entende que não fica ferida a liberdade sindical quanto haja exigência de registro dos atos constitutivos do sindicato, desde que tal fato não implique autorização para o funcionamento do sindicato; (...) Os sindicatos
42 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1313. 43 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 687.
25
têm direito, também, de eleger livremente seus representantes, sem interferência de qualquer pessoa. Os órgãos do sindicato deverão ser determinados de acordo com seus estatutos, o que não impede, segundo entendemos, qual a lei estabeleça apenas quais são os órgãos do sindicato, como o faz a legislação brasileira. (...) Não há violação da liberdade sindical ao se exigir conhecimento público ou outras regras que não sejam para determinar a autorização prévia para sua constituição. Se as autoridades responsáveis pelo registro fizerem exigências que tornem impossível aquele objetivo, estará violada a liberdade sindical.
Sendo assim, com a autonomia sindical, o sindicato deve
manter-se por conta própria, prestando bons serviços aos associados. O Estado
deve apoiar o sindicato, reconhecendo a liberdade de criação dessa entidade, que
tem importante função quanto às questões trabalhistas.
1.3.6 Princípio da Liberdade Associativa e Sindical
O princípio da Liberdade Associativa e Sindical presa a ampla
prerrogativa obreira de associação e sindicalização. Mauricio Godinho Delgado44
compreende que este princípio pode ser desdobrado em dois: liberdade de
associação e liberdade sindical.
O princípio da liberdade de associação assegura conseqüência jurídico-institucional a qualquer iniciativa de agregação estável e pacífica entre pessoas, independentemente de seu segmento social ou dos temas causadores da aproximação. (...) O princípio associativo envolve as noções conexas de reunião e associação. Por reunião entende-se a agregação episódica de pessoas em face de problemas e objetivos comuns; por associação, a agregação permanente (ou, pelo menos, de largo prazo) de pessoas em face de problemas e objetivos comuns.
Tal princípio envolve a liberdade de criação e de auto-extinção
dos sindicatos. Abrange ainda, o art. 8°, V da CRFB /88 que trata da prerrogativa de
livre vinculação a um sindicato assim como a livre desfiliação de seus quadros.
1.3.7 Princípio da Interveniência Sindical na Norm atização Coletiva
No que tange ao princípio da interveniência sindical na
normatização coletiva, sua face trata das próprias relações entre os sujeitos
coletivos e aos processos ostentados dessas relações. 44 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1305.
26
Mauricio Delgado45 afirma que se tratando de tal princípio, este,
“(...) propõe que a validade do processo negocial coletivo submeta-se à necessária
intervenção do ser coletivo institucionalizado obreiro – no caso brasileiro, o
sindicato”.
Ainda no entendimento de Mauricio Delgado46:
(...) o princípio visa a assegurar a existência de efetiva equivalência entre os sujeitos contrapostos, evitando a negociação informal do empregador com grupos coletivos obreiros estruturados apenas de modo episódico, eventual, sem a força de uma institucionalização democrática como a propiciada pelo sindicato (com garantias especiais de emprego, transparência negocial, etc.).
Diante deste princípio, não constitui negociação coletiva
trabalhista entre empregador e seus empregados, ainda que se trate de uma forma
democrática, qualquer acordo feito informalmente entre empregador e empregado
teria caráter meramente de cláusula contratual, sem o poder de instituir norma
jurídica coletiva negociada.
Em face disto, como mera cláusula contratual, este acordo
submete-se a todas as restrições postas pelo ramo trabalhista. Mauricio Godinho47
informa que:
A presente diretriz atua, pois, como verdadeiro princípio de resistência trabalhista. E corretamente, pois não pode a ordem jurídica conferir a particulares o poderoso veículo de criação de normas jurídicas (e não simples cláusulas contratuais) sem uma consistente garantia de que os interesses sociais mais amplos não estejam sendo adequadamente resguardados. E a presença e a atuação dos sindicatos têm sido consideradas na história do Direito do Trabalho uma das mais significativas garantias alcançadas pelos trabalhadores em suas relações com o poder empresarial.
Neste norte, importante compreender que com este princípio, a
participação do sindicato para acordos entre empregador e seus trabalhadores é
imprescindível, para que ocorra uma melhor negociação entre as partes.
45 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1314. 46 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1315. 47 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1315.
27
1.4 CRIAÇÃO E REGISTRO DOS SINDICATOS
No tocante à criação, registro e início de funcionamento da
entidade sindical houve alteração com CRFB/88, pois, revogou a necessidade de
prévia existência de uma associação e também atribuiu a empregados e
empregadores a possibilidade de, a seu critério, criar entidades sindicais.
Conforme Henrique Macedo48 aponta, em sua obra “(...) No
regime jurídico anterior à CRFB/88, a criação de um sindicato deveria ser antecedida
pela existência de uma associação que representasse os interesses da categoria
(CLT, art. 515)”.
Ainda, o mesmo autor49 relata que:
A Constituição Federal de 1988 não só revogou necessidade de prévia existência de uma associação, mas também atribuiu a empregados e empregadores a possibilidade de, a seu critério, criar entidades sindicais. Manteve ainda, o princípio da unicidade sindical, o que gerou a necessidade de determinar qual seria o órgão responsável pelo registro das entidades sindicais, conforme previsto no art. 8°, I, da Lei Magna, o qual garantiria a ob servância desse princípio.
Segundo Arnaldo Sussekind50 para formar um sindicato novo,
na ata de fundação e nos estatutos, grupos de trabalhadores ou de empregadores
deverá estabelecer:
a) a dimensão quitativa da representação (definição da categoria), tendo em vista os conceitos constantes do art. 511 da CLT ou, se for o caso, da Lei n° 1.166, de 1971;
b) a dimensão quantitativa da representação (base territorial), que não poderá ser inferior ao Município (art. 8°, II, da CF).
Para respeitar o princípio da unicidade de representação sindical por categoria, no qual se esteia o sistema constitucional, é imprescindível que as categorias estejam devidamente conceituadas e dimensionadas, a fim de que a representação de um sindicato não invada a de outro.
48 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 41. 49 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho. p. 41. 50 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. p. 361.
28
Portanto, se existir um sindicato da mesma categoria na
mesma base territorial pretendida, o novo não poderá obter o registro do qual resulta
a individualidade sindical, mas será possível a dissociação ou o desmembramento
da categoria. Essa atividade vem regulada na Portaria n° 343/MTE (Apêndice 4,
p.175) (DOU 5 maio 2000).
Tendo em vista o que dispõe a Portaria n° 343/2000, o pedido
de registro de entidades sindicais deve ser endereçado ao Ministério do Trabalho e
Emprego, a quem foi delegada tal competência. Após o pedido, deve ser instruído
com os documentos elencados no art. 2° e 3° da refe rida Portaria.
Explica Henrique Macedo51 que os documentos devem ser:
(...) edital de convocação dos membros da categoria para a assembléia geral de fundação da entidade (o que também deverá ser objeto de atenção no momento de redução ou ampliação de categoria ou de base territorial), ata referente a essa assembléia realizada, cópia do estatuto social aprovado pela assembléia geral e comprovação do recolhimento das custas devidas para fins de publicações no Diário Oficial.No caso de federação ou de confederação, além dos documentos previstos no mesmo art. 2°, os elencados no art. 3° também devem ser juntados, a s aber: o pedido de registro, cópia autenticada das atas de assembléia de cada sindicato constituinte da federação ou do Conselho de Representantes de cada federação constituinte da confederação, todos com autorização expressa para a fundação da nova entidade.
Contudo, afirma Sergio Martins52 que “(...) Apenas o registro do
sindicato no cartório não lhe dará personalidade jurídica de entidade sindical, ante a
necessidade do registro no Ministério do Trabalho”. Isto ocorre, devido à verificação
da base territorial do sindicato que o cartório não tem condições de realizar.
Nesse quadro, Maurício Godinho53 aponta a decisão do STF
com relação ao registro de novas entidades sindicais, observe:
Supremo Tribunal Federal pacificou a matéria, definindo que os estatutos sindicais, independentemente da inscrição no Cartório de Pessoas Jurídicas, teriam de ser levados a depósito no órgão correspondente do Ministério do Trabalho, para fins essencialmente cadastrais e de verificação da unicidade sindical (STF – Pleno – MI 144-8-SP. DJU I, 28.5.1993, p.10381; posteriormente, Súmula 677,
51 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho . p. 42. 52 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 703. 53 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1340.
29
STF- Relator: Sepúlveda Pertence, Votação: por maioria o Min. Marco Aurélio, Resultado: não conhecido).
Portanto, o registro do sindicato perante o Ministério Público do
Trabalho e emprego tem finalidade exclusivamente cadastral e de verificação da
unicidade sindical, conforme dispõe a súmula n° 677 , do STF “Até que a lei venha a
dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das
entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade”54.
Paralelamente a isto, Arnaldo Sussekind55 citando EDUARDO
GABRIEL SAAD, menciona quanto à impugnação de uma entidade sindical nova
com relação a uma já existente “(...) se não houver impugnação, defere-se o
registro, ainda que o sindicato mais antigo, na desejada representação em dada
base territorial, se omita no protesto contra a invasão da área de atuação que
legitimamente lhe pertencia”. Ocorrendo a impugnação, asseguram os doutrinadores
que o litígio deverá ser submetido ao Poder Judiciário.
Porém, para a dissolução do sindicato, não existe regra
específica, devendo-se observar o que determina seu estatuto.
1.5 NATUREZA JURÍDICA DOS SINDICATOS
A natureza jurídica dos sindicatos consiste em associação
coletiva de natureza privada, voltada ao interesse dos trabalhadores e
empregadores.
Neste norte, Mauricio Delgado56 compreende que o sindicato
distancia-se das demais associações por ser necessariamente entidade coletiva, e
não um simples grupo de pessoas agrupadas permanentemente:
(...) a natureza jurídica dos sindicatos é de associação privada de caráter coletivo, com funções de defesa e incremento dos interesses profissionais e econômicos de seus representados, empregados e outros trabalhadores subordinados ou autônomos, além de empregadores.
54 VADE MECUM. Obra coletiva de autoria da editora saraiva com a c olaboração de Antonio
Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz do Santos Windt e Livia Céspedes . 5. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva. 2008. p.1687.
55 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho . p. 378. 56 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1350.
30
Neste contexto, a dicotomia entre direito público e direito
privado não apresenta limites definidos. No Brasil, o sindicato é pessoa jurídica de
direito privado, pois estabelece a exigência formal, apenas para que o sindicato
adquira personalidade jurídica, sindical e representativa da categoria.
Alice Monteiro de Barros57 aludindo Orlando Gomes aponta
três teorias utilizadas para distinguir a natureza da entidade sindical, de direito
público e de direito privado:
(...) A primeira delas é a teoria do fim, segundo a qual é o interesse público que define a natureza jurídica do ente; embora agindo no próprio interesse, o sindicato é destinado satisfazer interesses públicos próprios do Estado. (...) A segunda teoria é a da funcionalidade, segundo a qual a pessoa jurídica será de interesse público se toda a sua atividade estiver submetida ao controle do Estado. (...) Por fim, temos a teoria integral ou eclética, que engloba as duas anteriores e considera a entidade como de direito público se o Estado intervém na constituição ou na gestão da pessoa jurídica, ou em ambas, ora com meios jurídicos, ou, ainda, se o Estado impõe vigilância e tutela, ou normas particulares da administração, ou cria órgãos de controle.
Para alguns sistemas, o sindicato seria pessoa jurídica de
direito público. Sergio Pinto Martins58 esteado em Russomano “afirma que o
sindicato é pessoa jurídica de direito privado que exerce atribuições de interesse
público”. Ou seja, o que ocorre com empresas concessionárias de poder público que
são empresas privadas e, prestam serviços públicos.
De acordo com o mesmo autor59 o entendimento conforme o
artigo 8° da CRFB/88, a natureza jurídica do sindic ato é de direito privado, por não
existir interferência da entidade sindical:
(...) o sindicato é pessoa jurídica de direito privado, pois não pode haver interferência ou intervenção no sindicato (art. 8°, II, da Constituição). Não se pode dizer que o sindicato tem natureza pública, pois o próprio caput do art. 8° da Constit uição dispõe que é livre a associação profissional ou sindical. (...) O reconhecimento do sindicato por parte do Estado não o transforma em entidade de direito público, nem a negociação coletiva. A associação é uma forma de exercício de direitos privados.
57 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1238-1239. 58 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 697. 59 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 697.
31
Na visão de Amauri Mascaro Nascimento60 a natureza jurídica
do sindicato depende do sistema jurídico em que se encontra, existindo três
posicionamentos fundamentais:
A primeira define o sindicato como ente de direito privado, disciplinado, como as demais associações, pelas regras pertinentes a esse setor de direito. (...) A segunda inclui os sindicatos entre as pessoas jurídicas de direito público, órgão pertencentes ao estado, como no Leste Europeu e no corporativismo italiano e de outros países. O sindicato é mero apêndice do Estado. (...) A terceira vê no sindicato um pessoa jurídica de direito social.
Portanto, analisando o entendimento segundo doutrina
predominante é que o sindicato brasileiro é de direito privado e detém a função de
defesa dos interesses coletivos e individuais dos seus representados, tendo assim,
atribuições de interesse público.
1.6 UNICIDADE SINDICAL
A unicidade sindical impõe observar que não é permitida a
criação de mais de uma organização sindical na mesma base territorial, e não
poderá ser inferior à área de um município.
Henrique Hinz61 menciona quanto ao princípio da unicidade
sindical, “O princípio da unicidade sindical, segundo o qual por determinação legal
só pode haver uma entidade sindical representativa de categoria profissional ou
econômica em determinada base territorial”.
Ainda, Sergio Martins62 explica que de acordo com nosso
sistema sindical não existe possibilidade da criação de mais de uma entidade
sindical:
(...) consagrado no inciso II do art. 8° da Constit uição, não há possibilidade da criação de mais de uma organização sindical – em qualquer grau, o que inclui as federações e confederações representativas de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que não poderá ser inferior à área de um município.
60 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p.1041-1042. 61 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho . p. 18. 62 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 699.
32
Neste enfoque, Gleibe Pretti63 ressalta o artigo 8°, II da
Constituição de 1988, pois determinou que, para a unicidade sindical “não é
permitida a criação de mais de uma organização sindical na mesma base territorial,
que não poderá ser inferior à área de um município”.
Explica ainda, que “os sindicatos podem ser municipais,
intermunicipais, estaduais, interestaduais e nacionais. Preceitua os artigos 511 a 610
da CLT que só poderá haver um sindicato por categoria na mesma base territorial”64.
Segundo Amador Paes de Almeida65 foi mantido pelo
constituinte o sistema de unicidade sindical ao invés de múltiplos sindicatos para
uma mesma categoria profissional:
(...) A preocupação do constituinte foi, sem dúvida, a de evitar a pulverização dos sindicatos profissionais, considerando os aspectos socioeconômico-culturais do País, da sua imensidão territorial e as desigualdades regionais. A unicidade é princípio comum aos sindicatos. Os sindicatos, contudo, não podem ter base territorial inferior a um município, facultada a criação de sindicatos que extravasem esse limite, admitido, porém, o desmembramento.
Contudo, na visão de Henrique Macedo66 poderá ocorrer o
desmembramento, caso uma categoria genérica desvincule-se da categoria já
existente, formando um sindicato próprio e específico:
Um sindicato pode representar uma ou mais categorias similares, em um ou em vários municípios. Poderá mesmo ocorrer que a categoria representada pelo sindicato seja genérica, surgindo dela outras mais específicas. É o que se dá, por exemplo, com um sindicato do comércio varejista. É varejista por não ser atacadista, mas são inúmeros os tipos de comércio de produtos (...). Ocorrendo essa representação mais ampla, poderão os membros de uma das categorias específicas pretender desligar-se dessa entidade genérica originária (...). Nessa hipótese, ter-se-á o interesse de fazer o desmembramento dessa categoria, criando um sindicato próprio e específico. O desmembramento não é cabível apenas em relação à categoria, mas também, e mesmo cumulativamente, relativamente à base territorial.
63 PRETTI, Gleibe. CLT comentada e jurisprudência trabalhista . p. 339. 64 PRETTI, Gleibe. CLT comentada e jurisprudência trabalhista . p. 339. 65 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina, jurisprudência. 4. ed. rev., atual e ampl. São Paulo, SP: Saraiva, 2007. p. 25. 66 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho . p. 18.
33
Arnaldo Sussekind67 relata quanto a OIT, que aceita a unidade
fática de representação, exigindo que o sistema jurídico possibilite a pluralidade de
associações. Estabelece ainda que “A unidade sindical na representação de uma
categoria profissional (...), constitui meta defendida por expressivos movimentos
sindicais, visando ao fortalecimento das respectivas associações”.
Mauricio Godinho Delgado68 aponta a diferenciação entre a
unicidade e unidade sindicais:
A primeira expressão (unicidade) traduz o sistema pelo qual a lei impõe a presença na sociedade do sindicato único. A segunda expressão (unidade) traduz a estruturação ou operação unitária dos sindicatos, em sua prática, fruto de sua maturidade, e não de imposição legal.
O mesmo autor69 conceitua unicidade sindical, como se
tratando da existência de um único sindicato dentro da mesma base territorial:
A unicidade corresponde à previsão normativa obrigatória de existência de um único sindicato representativo dos correspondentes obreiros, seja por empresa, seja por profissão, seja por categoria profissional. Trata-se da definição legal imperativa do tipo de sindicato passível de organização na sociedade, vedando-se a existência de entidades sindicais concorrentes ou de outros tipos sindicais. É, em síntese, o sistema de sindicato único, com monopólio de representação sindical dos sujeitos trabalhistas.
Alice Monteiro de Barros70 elucidando Octavio Bueno Magano
relata que a regra da unicidade “foi adotada com base no argumento de que seria
necessário evitar a atomização71 das entidades sindicais”. Afirma que existe matéria
controvertida no que diz respeito à unicidade, unidade e à pluralidade sindical:
A unicidade sindical (ou monismo sindical) consiste no reconhecimento pelo Estado de uma única entidade sindical, de qualquer grau, para determinada categoria econômica ou profissional, na mesma base territorial, enquanto a unidade sindical traduz a união espontânea entorno de um único sindicato, à semelhança do que ocorre na unicidade, porém não em decorrência
67 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho . p. 353. 68 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1332. 69 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1331. 70 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1233 71 Atomização: conservar o monopólio do poder.
34
de imposição legal, mas como uma opção, como manifestação espontânea dos seus integrantes (...).
Por fim, a pluralidade sindical consiste na possibilidade de se
criar mais de uma entidade sindical, de qualquer grau, dentro da mesma base
territorial, para uma mesma categoria.
Alguns doutrinadores acreditam que lutas realizadas por
sindicatos múltiplos enfraquecem, reduzindo a capacidade de reivindicar, o que
torna mais vulnerável a ação dos Estados totalitários.
Ainda, Alice Barros72 explica que “Os críticos da unicidade
sindical afirmam que ela representa uma violação aos princípios democráticos e,
mais especificamente, à liberdade sindical (...)”.
Entretanto, Valentin Carrion73 esclarece que “(...) Tão
importante ou mais que a questão da unidade ou pluralidade de sindicatos é a do
intervencionismo do Estado e sua ingerência na vida da instituição”.
Neste contexto, quanto à unicidade sindical, podem os
interessados constituir sindicatos livremente, sendo representativos da categoria
profissional, ou da categoria econômica, exigindo-se unicamente, o seu registro no
órgão competente.
Destaca-se ainda, a Organização Internacional do Trabalho
como fundamento importante para promover a justiça social, sendo que os
representantes dos empregadores e trabalhadores têm os mesmos direitos que o
governo. Desta maneira, aludindo os princípios do Direito do Trabalho e bases
sindicais, transcritos em epígrafe.
.
72 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1234. 73 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . p. 423.
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL
2.1 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
A proteção dos trabalhadores surgiu com a revolução industrial,
no início do século XIX. Segundo alguns entendimentos, os governos não levam em
conta, ou em consideração, as condições de trabalho e higiene dos trabalhadores.
Com isso uma melhoria nas condições de trabalho, provocaria um encarecimento
nos custos de produção e consequentemente, uma diminuição da capacidade de
concorrência dos produtos nacionais.
(...) somente um esforço internacional poderia ser aceitável. Quase meio século mais tarde, em 1890, o Conselho Federal da Suíça propõe a organização de uma conferência internacional. Esta será realizada em Berlim com a presença de representantes governamentais de 12 Estados europeus e de técnicos, industriais e operários. Nasce, neste momento, o princípio mais original e surpreendente dos organismos internacionais, qual seja o tripartismo que vingará na futura OIT74.
Desta forma, os movimentos sindicais surgem para melhorar as
condições dos trabalhadores que laboravam em condições precárias. Em 1900, em
Paris, foi criada a Associação internacional para a proteção legal dos trabalhadores.
Ricardo Seitenfus75 menciona que “outras conferências
sindicais surgiram no início do século. Todavia, o início da Primeira Guerra Mundial,
em 1914, interrompe o processo”.
Salienta-se que o Tratado de Versalhes colocou fim na
Primeira Guerra Mundial, o qual foi anexado um Pacto da Liga das Nações quanto
ao projeto de criação permanente voltada às questões laborais.
74 SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das organizações internacionais. 3. ed. rev. amp.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p.185. 75 SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das organizações internacionais. p.185.
36
A OIT foi criada pela Conferência de Paz após a Primeira Guerra Mundial. A sua Constituição converteu-se na Parte XIII do Tratado de Versalhes. Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão a da Segunda Guerra Mundial, a OIT adotou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos76.
Neste contexto, Arnaldo Sussekind77 explica que “por proposta
de Lloyd George, da Inglaterra, foi aprovada, na Conferência da Paz, a criação de
uma comissão destinada ao estudo preliminar da regulamentação internacional do
trabalho”.
Desta maneira, resultando aprovada a proposta de criação de
um organismo social permanente especial, vinculado à Sociedade das Nações, foi
estabelecida as seguintes características fundamentais:
a) a Organização Internacional do Trabalho (OIT) seria constituída de três órgãos: o Conselho de administração (direção colegiada), a Conferência (parlamento) e a Repartição (secretaria);
b) o Conselho e a Conferência seriam integrados de representantes governamentais, patronais e de trabalhadores, na proporção de dois para os primeiros e um para cada um dos demais, estabelecendo-se, assim, igual número de representantes oficiais e das classes produtoras;
c) a Conferência aprovaria projetos de Convenções e de Recomendações, sujeitos à ratificação ou apreciação posterior de cada país;
d) um sistema especial de controle e de sanções, de que careciam os demais tratados internacionais, imporia a fiel aplicação dos instrumentos ratificados ou adotados pelos Estados-Membros78.
76Organização Internacional do Trabalho Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/inst/hist/index.php> Acesso em: 09 abr. 2010. 77 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1541. 78 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1541.
37
Assim sendo, a comissão elaborou um projeto de princípios
gerais sobre a proteção ao trabalho, e a Declaração de Filadélfia coloca de forma
clara os propósitos e princípios que deverão guiar a nova fase da organização.
Sendo que, as mais importantes destacam-se:
a) o trabalho não deve ser tratado como uma mercadoria.
b) a liberdade de expressão e de associação constitui condição indispensável para o progresso.
c) A pobreza, onde quer que esteja, representa uma ameaça para a prosperidade de todos.
A luta contra as necessidades deve ser feita com o máximo de
energia no centro de cada Nação através de um contínuo e concertado esforço
internacional onde os representantes dos trabalhadores e os empregadores,
cooperando em pé de igualdade com os Governos, participem de discussões livres
de decisões de caráter democrático com o objetivo de promover o bem comum.
Todos os seres humanos, de qualquer raça, religião ou sexo
têm direito de conseguir o seu progresso material e seu desenvolvimento espiritual
em liberdade, dignidade, em segurança econômica e comum igualdade de
chances79.
Diante deste quadro, os pressupostos básicos de atuação
trabalhista está em buscar emprego, aumento do nível de vida, formação profissional
dos trabalhadores, uma remuneração digna com o estabelecimento de um piso
salarial mínimo, a possibilidade de negociar coletivamente os contratos de trabalho,
a extensão da seguridade social e previdenciária, participação de empregados e
empregadores na elaboração e implementação de medidas socioeconômicas, bem
como, a proteção da infância, maternidade e um adequado sistema de saúde.
Nesse limiar, a principal vocação da OIT é promover a justiça
social, e fazer respeitar os direitos humanos no mundo do trabalho.
79 SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das organizações internacionais. p.186.
38
De acordo com Rubia Zanotelli de Alvarenga80 “a criação da
OIT baseou-se em argumentos humanitários e políticos, que fundamentaram a
formação da justiça social no âmbito internacional do trabalho”.
Ainda, a mesma autora81 ressalta que:
(...) a OIT funda-se no princípio da paz universal e permanente como instrumento de concretização e universalização dos ideais da justiça social e proteção do trabalhador no mundo internacional do trabalho. Como a Organização das Nações Unidas apenas surgiu no ano de 1945, à luz dos efeitos da segunda guerra mundial (1945), para que não houvesse dois organismos internacionais com as mesmas funções e atribuições, declarou-se a OIT integrante da ONU. Por isso, a OIT é considerada como um organismo internacional associado às Nações Unidas, ou melhor, a uma das agências especializadas da Organização das Nações Unidas.
Vislumbra Amauri Mascaro Nascimento82 que “além dos
princípios internacionais, têm importância os preceitos programáticos estabelecidos
para que o legislador de cada país, segundo os seus critérios, venha ou não a
adotá-los”.
Verificar-se-á necessário observar ainda, que o Direito
Internacional do Trabalho é um capítulo do Direito Internacional Público, portanto os
princípios que regem o Direito Internacional do Trabalho estão inseridos no artigo 2°
da Carta das Nações Unidas, in verbis:
(...) Artigo 2
A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta.
80 Revista Ltr: Legislação do trabalho. 8. ed. V. 71. n. 5. maio 2007. São Paulo; Ltr, 2007. p. 604. 81 Revista Ltr: Legislação do trabalho. p. 604. 82 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 93.
39
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais.
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.
6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais.
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo VII83.
Deste modo, o foco do direito Internacional do Trabalho reside
no conhecimento e aperfeiçoamento da condição humana no setor laborativo.
Portanto, a OIT visa à proteção do bem estar social, no qual
adota a política social de cooperação e desenvolvimento social entre todos os
sistemas jurídicos nacionais, para a melhoria das condições de trabalho.
2.1.1 Estrutura da Organização Internacional do Tra balho
A OIT é composta de três órgãos: a Conferência ou
Assembléia Geral, o Conselho de Administração e a Repartição Internacional do
Trabalho. Para alguns doutrinadores cabe ainda comissões especiais que funcionam
junto ao Conselho ou ao Bureau:
A OIT é a única agência do sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite onde participam em situação de igualdade
83 CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/doc1.php> Acesso
em: 09 abr. 2010.
40
representantes de governos, de empregadores e de trabalhadores nas atividades dos diversos órgãos da Organização84.
Arnaldo Sussekind85 alude que a Conferência Internacional do
Trabalho “é a assembléia geral de todos os Estados-Membros da Organização; é o
órgão supremo da OIT, que elabora a regulamentação internacional do trabalho e
dos problemas que lhe são conexos, por meio de convenções, recomendações (...)”.
Para Amauri Mascaro Nascimento86 a Conferência da
Organização internacional do Trabalho “é órgão deliberativo e se reúne sempre que
necessário em local designado pelo Conselho de Administração. (...) reúne-se
periodicamente, votando decisões que podem obrigar os Estados-membros”.
Destarte, Ricardo Seitenfus87 relata que “a Conferência plena
reúne-se anualmente, e cada país-membro é representado por quatro delegados;
dois representam o Estado, um representa os trabalhadores e um representa os
empregadores”.
A Conferência Internacional do Trabalho funciona como uma
assembléia geral da OIT. Cada Estado Membro tem direito a enviar quatro
delegados à Conferência (anualmente em Genebra, em junho), acompanhados por
conselheiros técnicos: dois representantes do governo, um dos trabalhadores e um
dos empregadores, todos com direito a voto independente. O Ministro de Estado
responsável pelos assuntos trabalhistas em cada país pode assistir à Conferência e
intervir nos debates. Cada um dos delegados tem total independência de voto,
podendo votar em sentido contrário ao governo de seus países, assim como dos
outros delegados.
Portanto, a Conferência tratar-se-á de uma reunião entre os
Estados-Membros com representantes dos Estados, Empregadores e Empregados
para decidir sobre assuntos de interesses trabalhistas.
84 Organização Internacional do Trabalho Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/inst/struct/index.php> Acesso em: 09 abr. 2010. 85 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1550. 86 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. 19. ed. rev. e atual. p. 96. 87 SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das organizações internacionais. p.188.
41
Com relação ao Conselho de Administração, Amauri Mascaro
Nascimento88 entende que “é o órgão diretivo da OIT, verdadeiro ministério
integrado pelos delegados representantes dos governos, das entidades de
empregados e de empregadores de cada país-membro”.
Sustenta Arnaldo Sussekind89 que:
(...) o Conselho de Administração “é órgão que administra, sob forma colegiada, a Organização Internacional do Trabalho, promovendo o cumprimento das deliberações da Conferência, supervisionando as atividades de Bureau Internacional do Trabalho e designando o Diretor-Geral dessa repartição, escolhendo a ordem do dia das sessões da Conferência, elaborando o projeto de orçamento da Organização, criando comissões especiais para o estudo de determinados problemas incluídos na jurisdição da Organização etc.
Explica Ricardo Seitenfus90 que o Conselho de Administração
da OIT “(...) reúne cinquenta e seis membros, sendo vinte e oito representantes dos
Estados, quatorze dos empregadores e quatorze dos empregados. Entre delegados
estatais, dez são designados pelos países industrializados (...)”.
O Conselho de Administração da OIT é formado por 28
representantes dos governos, 14 dos trabalhadores e 14 dos empregadores. Dez
dos postos governamentais são ocupados permanentemente pelos países de maior
importância industrial (Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos da América, França,
Índia, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia). Os representantes dos demais países
são eleitos a cada três anos pelos delegados governamentais na Conferência, de
acordo com a distribuição geográfica. Os empregadores e os trabalhadores elegem
seus próprios representantes em colégios eleitorais separados.
Assim sendo, o Conselho de Administração da OIT é
responsável pela elaboração e controle de execução das políticas e programas da
OIT, pela eleição do Diretor Geral e pela elaboração de uma proposta de programa e
orçamento bienal.
88 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 97. 89 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1552. 90 SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das organizações internacionais. p.189.
42
Por conseguinte, existe ainda a Repartição Internacional do
Trabalho que na visão de Arnaldo Sussekind91 “(...) constitui a secretaria técnico-
administrativa da OIT. Funcionando em Genebra, de conformidade com as
instruções recebidas do Conselho de Administração”.
Neste quadro, Amauri Mascaro Nascimento92 transcreve que a
Repartição Internacional do Trabalho “(...) organiza um boletim, levado pelo Diretor-
Geral à Conferência Geral”.
Trata-se da central de distribuição de todas as informações
concernentes à regulamentação internacional das condições de vida e de trabalho
dos trabalhadores e o estudo das questões a serem submetidas à discussão da
Conferência, para adoção de convenções internacionais.
Neste contexto, as Comissões consultivas, de indústria e
análogas, versa sobre finalidades e características mais distintas. “(...) Destinam-se
elas a investigar o cumprimento das normas internacionais de proteção ao trabalho,
ao estudo de condições de trabalho e questões sociais em determinadas atividades
(...)”93. As Comissões aprovam resoluções destituídas de qualquer obrigação para os
Estados-Membros, não aprovam Convenções.
(...) comitês e comissões de composição tripartite:
•Comitê sobre a Liberdade de Associação (CFA) •Comitê de Programa, Finanças e Administração (PFA) •Comitê sobre Assuntos Legais e Normas Internacionais de Trabalho (LILS) •Grupo de Trabalho em Políticas para a Revisão das Normas (WP/PRS) • Sub-comitê sobre Empresas Multinacionais (MNE)
•Comitê sobre Políticas Sociais e de Emprego (ESP) •Comitê para Reuniões Setoriais e Técnicas e Assuntos Relacionados (STM) •Comitê de Cooperação Técnica (TC)
91 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1554. 92 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 96. 93 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1555.
43
•Grupo de Trabalho sobre a Dimensão Social da Globalização (WP/SDG)94.
A estrutura da OIT consta com uma rede de 5 escritórios
regionais e 26 escritórios de área - entre eles o do Brasil - além de 12 equipes
técnicas multidisciplinares de apoio a esses escritórios e 11 correspondentes
nacionais que sustentam, de forma parcialmente descentralizada, a execução e
administração dos programas, projetos e atividades de cooperação técnica e de
reuniões regionais, sub-regionais e nacionais.
Cumpre lembrar que a OIT, desde suas origens até sua atual estrutura e suas funções no âmbito da ONU, tem deliberado por meio de Convenções, que têm natureza jurídica de tratados internacionais e, por isso, para gerarem efeitos no ordenamento jurídico brasileiro, devem passar pelo mesmo processo de internalização pelo qual passam os demais tratados internacionais. As Convenções da OIT transformar-se-ão em Decretos. Os Decretos contém, portanto, o texto aprovado pelo Congresso Nacional da Convenção da OIT95.
Desta forma, dos órgãos supracitados o principal seria o
Conselho de Administração que, tem como função essencial, orientar e fiscalizar a
atividade de Repartição e observar o processo de ratificação das convenções pelos
Estados.
2.1.2 Convenções Internacionais da OIT
Amauri Mascaro Nascimento96 conceitua Convenções
Internacionais como:
(...) normas jurídicas emanadas da Conferência Internacional da OIT, destinadas a constituir regras gerais e obrigatórias para os Estados deliberantes, que os incluem no seu ordenamento interno, observadas as respectivas prescrições constitucionais.
A Declaração da OIT sobre os princípios e direitos
fundamentais no trabalho, aprovada pela conferência internacional do trabalho em
1998, confirma a necessidade de a OIT promover políticas sociais sólidas.
94 Organização Internacional do Trabalho Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/inst/struct/index.php> Acesso em: 10 abr. 2010. 95 ARIOSI, Mariângela F. Os efeitos das convenções e recomendações da OIT no Brasil . Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5946>. Acesso em: 22 abr. 2010. 96 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 98.
44
As Convenções Internacionais são dividas em três tipos:
Fundamentais que integram a Declaração de Princípios Fundamentais e Direitos no
Trabalho da OIT (1998) e que devem ser ratificadas e aplicadas por todos os
Estados-Membros da OIT, e, Prioritárias e demais Convenções97.
97 As Convenções fundamentais são: Nº 29 - Trabalho Forçado (1930): dispõe sobre a eliminação do trabalho forçado ou obrigatório em todas as suas formas. Admitem-se algumas exceções, tais como o serviço militar, o trabalho penitenciário adequadamente supervisionado e o trabalho obrigatório em situações de emergência, como guerras, incêndios, terremotos, etc. Nº 87 - Liberdade Sindical e Proteção do Direito de Sindicalização (1948): estabelece o direito de todos os trabalhadores e empregadores de constituir organizações que considerem convenientes e de a elas se afiliarem, sem prévia autorização, e dispõe sobre uma série de garantias para o livre funcionamento dessas organizações, sem ingerência das autoridades públicas. Nº 98 - Direito de Sindicalização e de Negociação C oletiva (1949): estipula proteção contra todo ato de discriminação que reduza a liberdade sindical, proteção das organizações de trabalhadores e de empregadores contra atos de ingerência de umas nas outras, e medidas de promoção da negociação coletiva. Nº 100 - Igualdade de Remuneração (1951): preconiza a igualdade de remuneração e de benefícios entre homens e mulheres por trabalho de igual valor. Nº 105 - Abolição do Trabalho Forçado (1957): proíbe o uso de toda forma de trabalho forçado ou obrigatório como meio de coerção ou de educação política; como castigo por expressão de opiniões políticas ou ideológicas; a mobilização de mão-de-obra; como medida disciplinar no trabalho, punição por participação em greves, ou como medida de discriminação. Nº 111 - Discriminação (emprego e ocupação) (1958): preconiza a formulação de uma política nacional que elimine toda discriminação em matéria de emprego, formação profissional e condições de trabalho por motivos de raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, e promoção da igualdade de oportunidades e de tratamento. Nº 138 - Idade Mínima (1973): objetiva a abolição do trabalho infantil, ao estipular que a idade mínima de admissão ao emprego não deverá ser inferior à idade de conclusão do ensino obrigatório. Nº 182 - Piores Formas de Trabalho Infantil (1999): defende a adoção de medidas imediatas e eficazes que garantam a proibição e a eliminação das piores formas de trabalho infantil. As Convenções prioritárias são de 4 tipos: Nº 144 - Consulta Tripartite (1976) : dispõe sobre a consulta efetiva entre representantes do governo, dos empregadores e dos trabalhadores sobre as normas internacionais do trabalho. Nº 81 - Inspeção do trabalho (1947): dispõe sobre a manutenção de um sistema de inspeção do trabalho nas indústrias, no comércio e na agricultura. Tais sistemas devem operar dentro dos parâmetros estabelecidos nestes instrumentos. Nº 129 - Inspeção do trabalho na Agricultura (1969) : dispõe sobre a manutenção de um sistema de inspeção do trabalho nas indústrias, no comércio e na agricultura. Tais sistemas devem operar dentro dos parâmetros estabelecidos nestes instrumentos. Nº 122 - Política de emprego (1964): dispõe sobre o estabelecimento de uma política ativa para promover o emprego estimulando o crescimento econômico e o aumento dos níveis de vida. As demais Convenções são classificadas em doze categorias diferentes, a saber: 1. Direitos humanos básicos 2. Emprego 3. Políticas sociais 4. Administração do trabalho 5. Relações industriais 6. Condições de trabalho 7. Segurança social 8. Emprego de mulheres 9. Emprego de crianças e jovens 10. Trabalhadores migrantes 11. Trabalhadores indígenas 12. Outras categorias especiais.
45
Ainda, Arnaldo Sussekind98 afirma que são adotados três tipos
de instrumento para regulamentação internacional do trabalho e das questões que
lhe são conexas: “convenção, recomendação e resolução. As proposições relativas
aos temas constantes da ordem do dia da Conferência devem ser adotadas sob a
forma de convenção ou recomendação (...)”.
O mesmo autor99 assegura que a aprovação do instrumento da
Convenção e Recomendação depende de “(...) dois terços de votos dos delegados
presentes e está condicionada à dupla discussão, em duas sessões (em regra,
anuais) da Conferência”.
Neste norte, assevera Amauri Mascaro Nascimento100 que:
(...) Se rejeitada, a proposição poderá ser renovada em sessão posterior. Se aprovada, o comitê de redação redige um texto definitivo que é distribuído aos delegados. O quorum de votação é de dois terços de votos dos delegados presentes. São membros da OIT os Estados, muito embora as representações dos Estados sejam compostas não só de membros do governo, mas também de empregados e empregadores indicados pelos organismos sindicais.
Com relação às Resoluções vislumbra Arnaldo Sussekind101
que “(...) são adotadas por maioria simples, em discussão única, concernindo, quase
sempre, a questões que não se incluem na ordem do dia da correspondente sessão
da Conferência”.
Cabe verificar, que “(...) A OIT não é um parlamento
internacional ou uma organização supranacional com total força de determinação
sobre os Estados-membros. Aproxima-se mais de uma conferência diplomática
(...)”102.
Dever-se-á analisar que as convenções não se distinguem das
recomendações, mas que somente as convenções são objeto de ratificação pelos
Estados-Membros, pois “(...) As convenções constituem tratados multilaterais,
98 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1558. 99 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1558. 100 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito
do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 98. 101 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1558. 102 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito
do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 98-99.
46
abertos à ratificação dos Estados-Membros, que, uma vez ratificados, devem
integrar a respectiva legislação nacional” 103.
A grande maioria dos juristas entende que a aludida convenção
se inclui na categoria dos tratados - leis ou tratados normativos devido:
(...) têm sido comparados a leis, porque formulam regras e princípios, de ordem geral, destinados a reger certas relações internacionais; estabelecem normas gerais de ação; confirmam ou modificam costumes adotados entre as nações. Em geral, resultam de congressos ou conferências e contribuem para a formação do direito internacional104.
As convenções adotadas pela Conferência Internacional do
Trabalho são tratados - leis, multilaterais e abertos, que visam regular determinadas
relações sociais.
Conforme depreende o texto transcrito sobre as convenções da
OIT, importante ressaltar as Convenções de n° 87 e 98 da OIT, devido estar
diretamente relacionada à pesquisa realizada, abordando os atos sindicais.
De acordo com Arnaldo Sussekind105 o mais importante
instrumento internacional sobre a liberdade sindical são as Convenções no 87 e 98
da OIT:
Convenção no 87, adotada na Conferência da OIT realizada em 1948 na cidade de São Francisco. Ela tem por fim assegurar a liberdade sindical em relação aos poderes públicos e é completada pela Convenção no 98 (Genebra, 1949), que objetiva proteger os direitos sindicais dos trabalhadores frente aos empregadores e respectivas organizações, assegurar a independência das associações sindicais de trabalhadores em face às de empregadores, e vice-versa, e, ainda, fomentar a negociação coletiva.
Neste diapasão, a liberdade sindical tratar-se-á no sentido de
que nada no pacto autoriza os Estados que ratificaram a convenção a tomar
medidas legislativas ou aplicar o Direito de maneira que prejudique as garantias
previstas em suas disposições.
103 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1559. 104 SUSSEKIND, Arnaldo, et al. Instituições de direito do trabalho . p. 1561. 105 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. p. 348.
47
A liberdade sindical é um direito de conteúdo complexo e seu exercício implica uma série de garantias. Jamais pode ser satisfeita sem o efetivo gozo de liberdades civis e políticas. Uma ação sindical não pode ser considerada em si mesma como legítima desvinculada da capacidade dos membros da coletividade de interferir e participar na definição dessa ação106.
A liberdade sindical está prevista nos instrumentos de caráter
universal adotados pelas Nações Unidas sobre os direitos humanos, e, figura ainda,
no instrumento adotado por seu organismo especializado em matéria laboral, sendo
este a OIT.
Ao lado disso, a liberdade sindical estabelece para OIT
exigências relevantes, como parte integrante do catálogo de princípios e direitos que
ela tem por missão promover, para a melhoria das relações de trabalho nos
Estados-membros.
A liberdade sindical desempenha um papel de postulado que proporciona as condições para a existência e funcionamento da Organização, na forma como concebida e como se apresenta a comunidade internacional. Sua composição tripartite, pelos governos, representantes dos trabalhadores e dos empresários dos Estados-membros, lhe confere um caráter democrático e assegura a legitimidade de sua atividade, para que possa cumprir os fins previstos em sua Constituição107.
Neste quadro, destaca Gleibe Pretti108 com relação à
Convenção n° 98 da OIT, de 1949 o qual traça regras gerais a respeito da liberdade
sindical:
Os trabalhadores devem gozar de proteção adequada contra quaisquer atos atentatórios à liberdade sindical, no condizente à relação de emprego.
Para a obtenção do emprego, o empregador não poderá exigir do empregado que este venha a não se filiar a um sindicato ou a deixar de fazer parte dele. O trabalhador não poderá ser dispensado ou prejudicado em função de sua filiação ao sindicato ou de sua participação em atividades sindicais, fora do horário de trabalho ou com o consentimento do empregador, durante as mesmas horas.
106 PEREIRA, Ricardo José Macedo de Britto. Constituição e liberdade sindical. São Paulo: Ltr,
2007. p. 70 107 PEREIRA, Ricardo José Macedo de Britto. Constituição e liberdade sindical. p. 76. 108 PRETTI, Gleibe. CLT comentada e jurisprudência trabalhista . p. 335.
48
A presença no centro da Organização de representantes dos
atores sociais dos Estados-membros reforça o compromisso da entidade com a
liberdade sindical, sendo que, sua garantia permite que a OIT capte a realidade
concreta vivida em cada território correspondente.
Neste limiar, Ricardo Pereira109 entende:
É indispensável a interação entre parlamento, administração e trabalhadores, orientada pelo princípio da boa-fé, de maneira que não só os acordos possam ajustar-se às diretrizes gerais da política econômica, mas também haja alguma flexibilidade orçamentária, com o fim de preservar o cumprimento dos acordos.
Portanto, as possíveis restrições, às negociações coletivas no
setor público e privado, impostas como elementos de políticas econômicas, às quais
se exige prévia consulta às organizações de trabalhadores e empregadores,
constituem medidas de exceção, em termos de conteúdo e duração.
Em linhas gerais, a liberdade sindical determinou que a OIT,
para a garantia do direito em toda sua extensão, se dedicasse à tutela dos direitos
humanos implicados em seu exercício.
Desta forma, em conformidade com a convenção da OIT de n°
87 existem quatro garantias básicas importantes que caracterizam a liberdade
sindical: o direito de fundar sindicatos, o direito de administrar sindicatos, o direito de
atuação dos sindicatos e o direito de administrar sindicatos. Ainda a Convenção n°
98 do mesmo órgão, completa declarando que os trabalhadores deverão gozar de
adequada proteção contra todo ato de discriminação tendente a diminuir a liberdade
sindical em seu emprego.
2.2 LIBERDADE SINDICAL
A liberdade para Immanuel kant110 é a liberdade de agir
segundo as leis. "Assim, uma vontade livre e uma vontade subordinada as leis
morais são uma e a mesma coisa.”
109 PEREIRA, Ricardo José Macedo de Britto. Constituição e liberdade sindical. p. 92.
49
Os povos podem, enquanto Estados, considerar-se como homens singulares que no seu estado de natureza (isto é, na independência de leis externas) se prejudicam uns aos outros já pela sua simples coexistência e cada um, em vista da sua segurança, pode e deve exigir do outro que entre com ele numa constituição semelhante à constituição civil, na qual se possa garantir a cada um o seu direito111.
Ainda, para John Locke112 “O homem é um ser racional e a
liberdade não se pode separar da felicidade (...). Desta forma, não existe felicidade
sem garantias políticas, nem política que não deter como objetivo espalhar uma
felicidade racional”.
Assim sendo, a finalidade da política é a mesma da filosofia, ou
seja, a busca de uma felicidade que reside em paz, harmonia, e segurança das
pessoas. Aos governantes consiste assegurar o bem-estar social da população.
Neste contexto, posiciona-se Sergio Pinto Martins113 que:
Liberdade Sindical é o direito de os trabalhadores e empregadores se organizarem e constituírem livremente as agremiações que desejarem, no número por eles idealizado, sem que sofram qualquer interferência ou intervenção do Estado, nem um em relação aos outros, visando à promoção de seus interesses ou dos grupos que irão representar. Essa liberdade sindical também compreende o direito de ingressar e retirar-se dos sindicatos.
Neste quadro, o Egrégio Tribunal Superior do Trabalho114
assevera:
Ementa: CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL - EMPREGADOS NÃO-SINDICALIZADOS - INVIABILIDADE. Se é certo que a Constituição Federal reconhece plena eficácia às convenções e acordos coletivos de trabalho (art. 7º, XXVI) e a livre associação sindical (art. 8º, caput), igualmente não deixa dúvidas sobre a faculdade de o empregado filiar-se ou manter-se filiado a sindicato (art. 8º, V). Diante desse contexto normativo, excluída a contribuição sindical em
110 KANT, Immanuel. A idéia de liberdade . Disponível em: <http://gold.br.inter.net/luisinfo/cidadania/liberdade.htm> Acesso em: 28 fev. 2010. 111 KANT, Immanuel. A paz perpétua e outros opúsculos . Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1995. p.40. 112 LOCKE, John. A idéia de liberdade . Disponível em: <http://gold.br.inter.net/luisinfo/cidadania/liberdade.htm> Acesso em: 28 fev. 2010. 113 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho . p. 682. 114 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Jurisprudência do TST . Disponível em:< http://aplicacao2.tst.jus.br/consultaunificada2/> Acesso em: 20 mai. 2010.
50
sentido estrito, ou seja, o antigo imposto sindical, que tem natureza parafiscal, que obriga sindicalizados e não-sindicalizados, todas as demais contribuições somente são exigíveis dos filiados aos sindicatos, sob pena de ofensa aos preceitos constitucionais supramencionados. Essa é a posição do Tribunal Superior do Trabalho, conforme consta de seu precedente normativo nº 119 da SDC: -A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados.- Recurso provido em parte.
Processo: RODC - 8591000-63.2003.5.04.0900 Data de Julgamento: 14/12/2006, Relator Ministro: Milton de Moura França, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data de Publicação: DJ 16/02/2007.
Ademais, versa o Egrégio Tribunal Regional de Minas
Gerais115:
EMENTA: TAXA DE FORTALECIMENTO SINDICAL TRABALHADORES NÃO ASSOCIADOS. LIBERDADE SINDICAL. CLÁUSULA NORMATIVA NULA. Na jurisprudência iterativa, atual e notória do Tribunal Superior do Trabalho, a imposição de Taxa de Fortalecimento em favor do ente sindical a empregados a ele não associados ofende o princípio da liberdade de associação consagrado nos termos do artigo 8º, inciso V, da Constituição da República. Admitir a imposição de desconto visando ao custeio de ente sindical a que o trabalhador não aderiu, voluntariamente, constitui desvio do princípio democrático que deve reger a vida associativa em todas as suas funções. A Constituição da República, em seu artigo 5º, inciso XX, juntamente com o artigo 8º, inciso V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. Deste modo, considera-se nula, portanto, a cláusula constante de instrumento coletivo que estabelece contribuição em favor de ente sindical, a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, a serem descontadas também dos integrantes da categoria não sindicalizados. REJEITO a preliminar de inépcia da inicial preliminar de carência da ação e, no mérito, REJEITO a prejudicial da prescrição e julgo PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados na reclamação trabalhista movida por SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EMPRESAS DE ASSESSORAMENTO, PESQUISAS, PERÍCIAS E INFORMAÇÕES
115 MINAS GERAIS, Tribunal Regional de Minas Gerais. Jurisprudencia do TRT. Disponível em:
<http://as1.trt3.jus.br/jurisprudencia/ementa.do?evento=Detalhe&idAcordao=741973&codProcesso=735897&datPublicacao=14/12/2009&index=7> Acesso em: 20 mai. 2010.
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NO ESTADO DE MINAS GERAIS - SINTAPPI em face de AGAA LTDA. Data de Publicação 14/12/2009 Órgão Julgador Oitava Turma Relator Márcio Ribeiro do Valle
Vislumbra Ricardo Pereira que “(...) A liberdade sindical
constitui típico direito cuja força normativa se impôs com caráter prévio a sua
inclusão expressa nos textos jurídicos”.
Amauri Mascaro Nascimento116 afirma que a liberdade sindical
“expressa os níveis através dos quais se concretiza a liberdade coletiva, que é a dos
grupos formalizados ou informalizados (...)”.
Explica ainda o mesmo autor117 que a liberdade sindical tem
várias acepções:
É o método de conhecimento do direito sindical quando é ponto de partida para a classificação dos sistemas, comparadas as características de cada ordenamento interno nacional com as garantias que o princípio da liberdade sindical oferece (...). Refere-se, também, à liberdade interna de auto-organização sindical que leva à autonomia da sua administração mediante definição dos órgãos internos do sindicato (...), significa mais que liberdade de organizar sindicatos para a defesa dos interesses coletivos mas, também, um princípio de autonomia coletiva que deve presidir os sistemas jurídicos pluralistas.
Neste norte, menciona Jose Afonso da Silva118 que a liberdade
sindical discorre da conquista dos trabalhadores:
A liberdade sindical emanou de árdua conquista dos trabalhadores e evoluiu como um direito autônomo, mesmo que juridicamente possa ser posto ao lado da liberdade geral de associação e reunião. A chamada luta da conquista da liberdade sindical conduziu a esta separação conceitual dos dois direitos, em face do conflito histórico entre os ordenamentos sindical e estatal. A Constituição vigente elimina todos os entraves anteriores que restringiam a liberdade sindical, que, agora, é contemplada e assegurada amplamente em todos os seus aspectos.
116 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 1013. 117 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 1012-1013. 118 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. 6. ed. atual. até a emenda constitucional 577, de 18 de dezembro de 2008. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 196.
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O mesmo autor119 relata que a liberdade sindical implica,
efetivamente em:
(a) liberdade de fundação de sindicato, que significa que o sindicato pode ser constituído livremente, sem autorização, sem formalismo, e adquirir, d plano, direito, personalidade jurídica, com o mero registro do órgão competente (...). (b) liberdade de adesão sindical, que consiste no direito de os interessados aderirem ou não ao sindicato de sua categoria profissional ou econômica, sem autorização ou constrangimento- liberdade que envolve também o direito de desligar-se dele quando o interessado desejar(...). (c) liberdade de atuação, garantia de que o sindicato persiga seus fins e realize livremente a representação dos interesses da respectiva categoria profissional ou econômica, manifestando-se aqui, mais acentuadamente, a autonomia sindical (...). (d) liberdade de filiação do sindicato a associação sindical de grau superior, também prevista no art. 8°, no inciso IV, que até autoriza a fixaçã o de contribuição para custeio de sistema confederativo da representação sindical respectiva.
Alexandre de Moraes120 define que a liberdade sindical ӎ uma
forma específica de liberdade de associação (CF, art. 5°, XVII), com regras próprias,
demonstrando, portanto, sua posição de tipo autônomo”.
Valentim Carrion121 explica que “(...) A liberdade sindical
estuda-se em relação ao Estado, em relação ao grupo e em relação ao indivíduo. É
tão importante a função reguladora das condições de trabalho do sindicato (...)”.
Amauri Mascaro Nascimento122 compreende que:
(...) liberdade sindical significa também a posição do Estado perante o sindicalismo, respeitando-o como manifestação dos grupos sociais, sem interferências maiores na sua atividade enquanto em conformidade com o interesse comum. Nesse caso, liberdade sindical é o livre exercício dos direitos sindicais.
Ricardo Pereira123 específica que:
No tocante à liberdade sindical, essa luta é bastante intensa, na medida que seu reconhecimento e a sua concretização como direito estão envolvidos por forte embate ideológico. O exercício do direito
119 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. p. 196. 120 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional . 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 181. 121 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . p. 423. 122 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito
do trabalho relações individuais e coletivas do trabalho. p. 1013. 123 PEREIRA, Ricardo José Macedo de Britto. Constituição e liberdade sindical. p. 23.
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dá evidência à tensão existente nas relações de trabalho, ao permitir que os conflitos, antes ocultos e reprimidos, se produzam e se desenvolvam naturalmente. A liberdade sindical garante a abertura de espaço ao enfrentamento entre trabalhadores e empresários.
Afirma o mesmo autor124 que “(...) enquanto as regras excluem
a deliberação de todos aqueles envolvidos com a conduta prevista na norma, os
princípios a exigem”.
Segundo Arnaldo Sussekind125 o que está transcrito nos incisos
II e IV do artigo 8o da CRFB/88 “(...) é uma afronta ao princípio universalizado de
liberdade sindical, visto que impõe a unicidade sindical compulsória por categoria e
autoriza contribuições obrigatórias em favor das associações (...)”.
Ainda o mesmo autor126 informa que a liberdade sindical deve
ser vista sob três aspectos:
a) liberdade sindical coletiva, que corresponde ao direito dos grupos de empresários e de trabalhadores, vinculados por uma atividade comum, similar ou conexa, de constituir o sindicato de sua escolha, com a estruturação eu lhes convier;
b) liberdade sindical individual, que é o direito de cada trabalhador ou empresário de filiar-se ao sindicato de sua preferência, representativo do grupo a eu pertence, e dele desligar-se;
c) autonomia sindical, eu concerne à liberdade de organização interna e de funcionamento da associação sindical e, bem assim, à faculdade de constituir federações e confederações ou de filiar-se às já existentes, visando sempre aos fins que fundamentam sua instituição.
Mauricio Godinho Delgado127 relata que o princípio da
liberdade sindical engloba “as mesmas dimensões positivas e negativas, (...)
concentradas no universo da realidade do sindicalismo (...)”.
Desta forma, Amauri Mascaro Nascimento128 descreve que os
princípios sobre organização sindical “podem ser identificados nas diretrizes
124 PEREIRA, Ricardo José Macedo de Britto. Constituição e liberdade sindical. p. 35. 125 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. p. 347. 126 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. p. 348. 127 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1306. 128 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. São Paulo: Ltr, 2006. p. 254.
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estabelecidas pela Convenção n. 87 da Organização Internacional do Trabalho
(1948)”.
Liberdade sindical e proteção do direito de sindicalização
estabelecem o direito de todos os trabalhadores e empregadores de constituir
organizações que considerem convenientes e de a elas se afiliarem, sem prévia
autorização, e dispõe sobre uma série de garantias para o livre funcionamento
dessas organizações, sem ingerência das autoridades públicas.
Portanto, trata de um amparo protetor dos sindicatos de
trabalhadores contra a interferência estatal. A principal finalidade é fixar parâmetros
para pautar as relações entre o Estado e os sindicatos.
Conforme estabelecido neste capítulo a liberdade sindical com
base na CRFB/88 fora contemplada amplamente em todos os seus aspectos. Tratar-
se-á de um símbolo de lutas e conquistas dos trabalhadores.
Assim sendo, o terceiro capítulo abordará as práticas anti-
sindicais e a função social do direito, da pessoa jurídica, mas, sobretudo, a função
social do sindicato como representante e mediador nas negociações.
CAPÍTULO 3
A MISSÃO CONSTITUCIONAL DO SINDICATO NA ATUAL SOCIEDADE
3.1 DIRIGENTE SINDICAL
Os princípios da liberdade associativa e da autonomia sindical
determinam que a ordem jurídica estipule garantias mínimas à estruturação,
desenvolvimento e atuação dos sindicatos, sob pena de estes não poderem cumprir
seu papel de real expressão da vontade coletiva dos trabalhadores.
Compreende Henrique Macedo Hinz129 que as atividades
sindicais podem ser divididas, num período de negociação, em duas fases:
(...) internas, ou seja, as realizadas na entidade sindical, em que os empregados reunidos em assembléia discutem e aprovam a pauta de reivindicações a ser encaminhada à entidade patronal, ou ao empregador ou grupo de empregadores, bem como aquelas em que o empregador ou empregadores, reunidos ou não em assembléia sindical, discutem essas propostas, ou mesmo elaboram sua contraproposta; e externas, que são aquelas em que as partes se encontram em negociação direta, defendendo cada uma seus interesses, buscando chegar a um ponto comum.
Para a estabilidade provisória de o dirigente sindical tornar-se
garantia constitucional de ordem pública, a Constituinte baseou-se no direito do
trabalhador ao seu emprego, no princípio da harmonia social que deve prevalecer
nas relações laborais e no pressuposto de que os líderes sindicais são mais
hostilizados, devido aos constantes confrontos com as representações patronais.
Elucida Mauricio Godinho Delgado130 que pelo texto
constitucional “(...) a garantia abrange apenas empregados sindicalizados com
registro a cargos eletivos, titulares ou suplentes, de direção ou representação
sindical”.
129 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho . p. 82. 130 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1344.
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Nos termos do art. 8, VIII da CF/88 e do parágrafo 543 da CLT: é vedada a dispensa do empregado sindicalizado, a partir do registro de sua candidatura a cargo de direção ou representação sindical até um ano após o final de seu mandato, caso seja, eleito, salvo se cometer falta grave, nos termos da Lei (art. 482 da CLT). Esta disposição estende-se aos trabalhadores rurais atendidas as condições estabelecidas pelo art. 1 da Lei 5.889/73131.
Neste sentido, compreende Valentim Carrion132:
A CLT protege o dirigente sindical, o mesmo fazendo a CF. A primeira se refere os ocupantes eleitos para o cargo de administração sindical ou representação profissional, inclusive a órgão de deliberação coletiva, que decorra “de eleição prevista em lei”. A CF protege o candidatou o eleito a cargo de direção ou representação sindical, inclusive suplente.
Ademais, o empregado que renunciar à sua função de dirigente
sindical estará renunciando sua estabilidade, ficando passível de dispensa arbitrária.
Com relação à estabilidade do dirigente sindical, aponta o
mesmo autor133, que a inamovibilidade ”(...) Deriva da lógica da estabilidade do
sindicalista a proibição de sua remoção para funções incompatíveis com a atuação
sindical ou para fora da base territorial do respectivo sindicato”.
Aduz Amauri Mascaro Nascimento134 quanto as garantias e a
estabilidade dos dirigentes sindicais:
A Constituição Federal de 1988, no art. 8°, VIII, c onfere ao dirigente ou representante sindical, mantendo e ampliado critério já acolhido pela CLT (art. 543, § 3°), proteção contra dispensa imotivada.
É a estabilidade do dirigente sindical no emprego nos seguintes termos: É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
131 COIMBRA, Rodrigo. Estabilidade e garantia de emprego .Teresina, ano 4, n. 39, fev. 2000.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1197>. Acesso em: 23 abr. 2010. 132 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho . p. 443. 133 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1348. 134 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. p. 266.
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Explica Arnaldo Sussekind135 quanto a garantia do empregado
eleito para o cargo de administração sindical ou representação profissional, cabe
mencionar:
a) essa estabilidade condicionada, objeto do art. 543 da CLT, está hoje assegurada pelo art. 8°, VIII, da Constituição ;
b) o precitado artigo da Consolidação, que se harmoniza com a norma constitucional, prevê outras garantias em favor dos dirigentes sindicais.
A estabilidade do dirigente sindical nasce com o registro da
candidatura do empregado ao cargo, sendo que a garantia é assegurada com o
objetivo de propiciar ao representante da categoria independência e segurança no
exercício do mandato.
Importante ressaltar o entendimento do Tribunal Superior do
Trabalho quanto a estabilidade do dirigente sindical aludida na Súmula 369:
Súmula nº. 369 - TST - Res. 129/2005 - DJ 20, 22 e 25.04.2005 - Conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 34, 35, 86, 145 e 266 da SDI-1
Dirigente Sindical - Estabilidade Provisória
I - É indispensável a comunicação, pela entidade sindical, ao empregador, na forma do § 5º do art. 543 da CLT. (ex-OJ nº 34 - Inserida em 29.04.1994)
II - O art. 522 da CLT, que limita a sete o número de dirigentes sindicais, foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. (ex-OJ nº 266 - Inserida em 27.09.2002)
III - O empregado de categoria diferenciada eleito dirigente sindical só goza de estabilidade se exercer na empresa atividade pertinente à categoria profissional do sindicato para o qual foi eleito dirigente. (ex-OJ nº 145 - Inserida em 27.11.1998)
IV - Havendo extinção da atividade empresarial no âmbito da base territorial do sindicato, não há razão para subsistir a estabilidade. (ex-OJ nº 86 - Inserida em 28.04.1997)
V - O registro da candidatura do empregado a cargo de dirigente sindical durante o período de aviso prévio, ainda que indenizado, não
135 SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho. p. 1167.
58
lhe assegura a estabilidade, visto que inaplicável a regra do § 3º do art. 543 da Consolidação das Leis do Trabalho. (ex-OJ nº 35 - Inserida em 14.03.1994)136.
Conforme Sergio Pinto Martins137 é essencial que seja
realizada a comunicação formal do registro da candidatura do dirigente sindical para
o empregador:
A comunicação do sindicato à empresa, quanto ao registro da candidatura do empregado ao cargo de dirigente sindical, é imprescindível para a validade do ato jurídico, que tem de atender a forma prescrita em lei (art. 104 do CC). Ao contrário, se descumprida a formalidade que prevê a comunicação, fica prejudicado o direito à garantia de emprego. (...) O ato jurídico só se completará quando todas as finalidades jurídicas e formalidades legais forem observadas, para os fins que menciona o § 5° do art . 543 da CLT, ou seja, com a comunicação do empregador.
Desta forma, a CRFB/88 e a CLT tem por objetivo a proteção
aos dirigentes sindicais, tornando efetivo o exercício da liberdade sindical, a par das
garantias ao dirigente, no interior da empresa e publicações relativas à matéria
sindical.
3.2 PRÁTICAS ANTI-SINDICAIS
Primeiramente antes de conceituar práticas anti-sindicais, far-
se-á necessário mencionar sobre o direito do homem, pois nascem para ser livres e
iguais perante a lei. As distinções sociais não podem ser fundadas senão sobre a
utilidade comum. Na visão de Norberto Bobbio138:
(...) sem direitos do homem reconhecidos e protegidos não há democracia; sem democracia não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos. Em outras palavras, a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns direitos fundamentais; haverá paz estável, uma paz que não tenha a guerra como alternativa, somente quando existirem cidadãos não mais apenas deste ou daquele Estado, mas do mundo.
136 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Jurisprudência do TST. Disponível em: <http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0361a0390.htm> Acesso em: 21 abr. de 2010. 137 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 718. 138 BOBBIO, Norberto; COUTINHO, Carlos Nelson. A era dos direitos . Nova edição. Rio de Janeiro: Campus, 2004. p. 21.
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Ademais, Mauro Cappelletti139 estabelece que “(...) O esforço
de criar sociedades mais justas e igualitárias centrou as atenções sobre as pessoas
comuns (...)”.
Os movimentos sociais se organizaram e os sindicatos
ocuparam um importante lugar nas lutas travadas pela redemocratização e por uma
sociedade mais justa e igualitária. Foram alcançadas importantes conquistas,
expressas principalmente na promulgação da CRFB/88, que ampliou e tornou claros
os direitos do cidadão no espaço público.
Destarte, Valentim Carrion140 relata que “(...) O conflito coletivo
se resolve pela repressão, pela solução administrativa, pela arbitragem, pela
sentença normativa ou através de negociação”.
As Centrais sindicais explicam o significado de práticas anti-
sindicais: “são chamadas de Práticas Antissindicais aquelas que, direta ou
indiretamente, cerceiam, desvirtuam ou impedem a legítima ação sindical em defesa
e promoção dos interesses dos trabalhadores"141.
O artigo 8° da CRFB/88 regulamenta a liberdade de a ssociação
profissional ou sindical, a qual compreende além do direito de constituir sindicato,
também o de nele ingressar ou dele retirar-se, e, ainda, o exercício das atividades
sindicais.
Corroborando a explanação, segue abaixo arestos do Egrégio
Tribunal Superior do Trabalho:
TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA. ENTIDADE SINDICAL. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL. CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Não há como se reconhecer cabimento de ação civil pública com o fim de que o Sindicato assegure oposição dos empregados perante a empresa, por ausência de previsão legal.
O direito à liberdade sindical, todavia, resta violado, quando o Sindicato adota conduta anti-sindical, impondo discriminação no tratamento entre empregados sindicalizados e não associados, não
139 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso a justiça. tradução e revisão: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1988. p. 91. 140 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p. 471. 141 PETTA, Augusto César. Combate às práticas antissindicais Disponível em: <http://www.diap.org.br/index.php/artigos/10537-com-as-pas-nao-ha-paz> Acesso em: 22 mar. 2010.
60
só pelo encaminhamento apenas de sindicalizados ao mercado de trabalho, como também pela diferenciação em percentuais de contribuição a serem pagos desses empregados. O conceito de conduta anti-sindical não está atrelada tão somente aos atos estatais que impedem o livre desenvolvimento das atividades do Sindicato, ou das empresas quando inibem a atuação do dirigente sindical. Também está atrelada a conduta do próprio sindicato quando institui privilégio ou limitações em face do empregado ser ou não ser sindicalizado. Recurso de revista conhecido e parcialmente provido. (TST. PROC: RR - 318340/2002-030-02-40. PUBLICAÇÃO: DEJT - 05/02/2010. A C Ó R D Ã O 6ª Turma)142.
Cabe ressaltar, que para tornar efetivo o exercício deste direito,
os ordenamentos jurídicos, proíbem os atos antissindicais. Como preleciona Alice
Monteiro de Barros143 “(...) O principal valor a ser protegido aqui é a liberdade
sindical, que está exposta a vários tipos de lesão, gerando inúmeros
comportamentos suscetíveis de serem enquadrados como antissindicais”.
Neste limiar, Orlando Gomes144 compreende que:
Desde que investido de um mandato representativo da profissão, o mandatário deve poder cumprir o seu cargo, sem o receio de represálias do empregador. Esta foi sempre uma aspiração e uma reivindicação das classes trabalhistas. Desde cedo compreenderam que o representante, sem a segurança da conservação do seu emprego, não podia, com independência, exercer sua função.
Desta forma, Alice Monteiro de Barros145 aludindo Oscar
Ermida Uriarte conceitua Conduta Antissindical:
O conceito de conduta antissindical é amplo e abrange os atos que prejudicam indevidamente um titular de direitos sindicais no exercício da atividade sindical ou por causa desta ou aqueles atos mediante os quais lhe são negadas, injustificadamente, as facilidades ou prerrogativas necessárias ao normal desempenho da ação coletiva.
Em conformidade com relato de Mauricio Delgado146 “Há, (...),
sistemáticas de desestímulo a sindicalização e desgaste à atuação dos sindicatos
142 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Jurisprudência do TST . Disponível em: < http://www.tst.gov.br/jurisprudencia/index_acordao.html> Acesso em: 21 abr. 2010. 143 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1291. 144 GOMES, Orlando e Elson Gottschalk. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Forense,
2005. p. 588. 145 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1291. 146 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1308.
61
(denominadas de práticas anti-sindicais) que entram em claro choque com o
principio da liberdade sindical”.
Sergio Pinto Martins147 informa que “os atos anti-sindicais eram
considerados os de ingerência do empregador na organização dos trabalhadores e a
recusa de negociar coletivamente”.
Alice Monteiro de Barros148 aponta as “práticas desleais” , que
teve origem na lei de Wagner, dos Estados Unidos da América, de 1935:
(...) são condutas patronais, entre elas atos de ingerência nas organizações dos trabalhadores, obstrução do exercício dos direitos sindicais, atos de discriminação antissindicais e recusa de negociar coletivamente, hipóteses ampliadas pela jurisprudência. Aponta-se como um dos traços distintivos entre o “foro sindical”e as “práticas desleais”a bilterrização ocorrida nestas e, em geral, ausente naquele, cuja técnica é unilateral, fruto de legislação escrita de cunho tutelar.
Desta forma, constitui-se em prática desleal a coação (física,
moral ou econômica), ou a ameaça contra trabalhadores que estejam, ou desejam
participar, de greve ou de qualquer outro movimento reivindicativo, ou, ainda, a
sugestão para que dele não participem.
Do mesmo modo, ter-se-á essa conduta anti-sindical quando o
empregador prometer vantagens para aqueles que renunciem à greve ou se afastem
do movimento coletivo ou sindical.
Sergio Martins149 assinala quanto aos atos anti-sindicais, quais
sejam:
São atos anti-sindicais a não-contratação do trabalhador por ser sindicalizado, a despedida, a suspensão, a aplicação injusta de outras sanções disciplinares, as transferências, as alterações de tarefas ou de horário, os rebaixamentos, a inclusão em listas negras ou no índex, a redução de remuneração, a aposentadoria obrigatória.
O empregado dirigente sindical não poderá ser impedido de
prestar suas funções, nem ser transferido para local ou cargo que lhe dificulte ou
torne impossível o desempenho de suas atribuições sindicais.
147 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 720. 148 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1292. 149 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 720.
62
Neste sentido, entende o Egrégio Tribunal Regional do
Trabalho da 3a Região – Minas Gerais150:
EMENTA: DISPENSA DE DIRIGENTE SINDICAL NO CURSO DA GARANTIA DE EMPREGO. CONDUTA ANTISSINDICAL. DANO MORAL. A Constituição da República de 1988 assegura, no seu artigo 8º, a liberdade de associação profissional ou sindical, a qual compreende não apenas o direito de constituir sindicato e de nele ingressar ou dele retirar-se, mas também o exercício das atividades sindicais, em sentido amplo. Para tornar efetivo o exercício desse direito subjetivo e eficaz o desenvolvimento da atividade sindical, os ordenamentos jurídicos, em geral, proíbem os atos antissindicais. O principal valor a ser protegido aqui é a liberdade sindical, que está exposta a vários tipos de lesão, gerando inúmeros comportamentos suscetíveis de serem enquadrados como antissindicais. O conceito de conduta antissindical é amplo e abrange os atos que "prejudicam indevidamente um titular de direitos sindicais no exercício da atividade sindical ou por causa desta ou aqueles atos mediante os quais lhe são negadas, injustificadamente, as facilidades ou prerrogativas necessárias ao normal desempenho da ação coletiva" (cf. Oscar Ermida Uriarte. A proteção contra os atos anti-sindicais. São Paulo: LTr, 1989, p. 35). A dispensa do reclamante, dirigente sindical, no curso da garantia de emprego, configura, sem dúvida alguma, conduta antissindical, pois prejudica o exercício da atividade sindical. Em situações como a dos autos em que a conduta antissindical se manifesta no curso da relação de emprego, a doutrina vem sustentando que, comprovada a lesão à liberdade sindical, o dano moral se presume. Isso porque trata-se de lesão a um direito fundamental. Recurso ordinário provido para deferir ao reclamante compensação pelo dano moral decorrente da conduta antissindical adotada pela empresa. ( Processo 00981-2009-013-03-00-1 RO Data de Publicação 30/03/2010 Órgão Julgador Sétima Turma Relator Alice Monteiro de Barros).
Ainda, o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região –
Rio Grande do Sul151 afirma:
EMENTA: TRANSFERÊNCIA DE DIRIGENTE SINDICAL. Ao empregador é vedado transferir empregado dirigente sindical para local que lhe dificulte o desempenho das suas atividades sindicais.Não se conforma o sindicato autor com a decisão de origem no que se refere à transferência de dirigente sindical, requerendo sejam julgados procedentes os pedidos da inicial. Aduz que a prova
150 MINAS GERAIS, Tribunal Regional do Trabalho da 3a Região. Jurisprudência do TRT . Disponível
em: <http://as1.trt3.jus.br/jurisprudencia/ementa.do?evento=Detalhe&idAcordao=760599&codProcesso=7
54446&datPublicacao=30/03/2010&index=0> Acesso em: 23 abr. 2010. 151 RIO GRANDE DO SUL, Tribunal Regional do Trabalho 4a Região. Jurisprudência do TRT .
Disponível em: < http://www.trt4.jus.br/portal/portal/trt4/consultas/jurisprudencia/acordaos> Acesso em: 23 abr. 2010.
63
dos autos demonstra que a reclamada é reincidente em perseguir e transferir o Sr. Jadir Ávila da Rosa. Argumenta que não se pode acatar que a transferência esteja dentro do jus variandi da empresa, porque ficou no âmbito da cidade de Rio Grande. Alega que o empregado foi transferido do local onde exercia suas funções há muitos anos, a Coordenadoria Operacional de Rio Grande, situada no centro da cidade, onde trabalham cerca de trinta funcionários, para a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) do Parque Marinha, situada a 10 km do centro da cidade, em local onde trabalham apenas três funcionários. Sinala que parece óbvio que o afastamento do dirigente do local onde seu trabalho tem repercussão para outro ermo e distante traduz conduta anti-sindical, não estando ao abrigo do jus variandi, mas sim do art. 543 da CLT e 8º, I, da Constituição Federal, já que cabe ao sindicato, dentro da sua autonomia constitucionalmente assegurada, definir seus dirigentes também a partir do local onde exercem suas funções. ACORDAM por maioria de votos, vencidos parcialmente, com votos díspares, dar parcial provimento ao recurso para anular a transferência do Sr. Jadir Ávila da Rosa para a ETE - Estação de Tratamento de Esgoto do Parque Marinha e determinar o seu retorno à Coordenadoria Operacional de Rio Grande, na função de origem; determinar que a CORSAN se abstenha de efetivar novas transferências do referido empregado enquanto no exercício de direção sindical, sob pena de pagamento de multa por dia de descumprimento no valor de um dia de salário do trabalhador a incidir em 30 dias do trânsito em julgado da presente decisão, bem como condenar a reclamada ao pagamento de honorários assistenciais, arbitrados em 15% sobre o valor total, bruto, da condenação. Valor da condenação que ora se arbitra em R$ 5.000,00, para os efeitos legais. Custas revertidas à demandada. (Acórdão do processo 0048200-52.2008.5.04.0121 (RO) Redator: BEATRIZ RENCK Data: 25/11/2009 Origem: 1ª Vara do Trabalho de Rio Grande).
Estas práticas agridem o princípio da liberdade sindical,
constitucionalmente assegurado, como bem alerta Amauri Mascaro Nascimento152, a
principal finalidade deste princípio “é fixar parâmetros para pautar as relações entre
o Estado e os sindicatos, numa perspectiva de liberdade de união dos trabalhadores
para organizar a profissão ou classe, (...)”.
Desta maneira, preleciona Alice Monteiro de Barros153 que os
“atos de discriminação antissindical dirigem-se a um ou a vários trabalhadores,
embora reúnam valores individuais ou coletivos, enquanto os atos de ingerência
dirigem-se mais diretamente à organização profissional”.
152 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho . p. 254. 153 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1292.
64
3.2.1 Agentes da Conduta Antissindical
Agentes da conduta antissindical, conforme ensina Alice
Monteiro de Barros154 “(...) geralmente, são os empregadores ou as suas
organizações , admitindo-se, entretanto, que o Estado , quer como empregador,
quer como legislador, também incorra na prática desses atos”.
Neste diapasão, Cláudio Armando Couce de Menezes155
expõe:
Em regra, a prática anti-sindical tem como agente ativo o empregador, seus prepostos e organizações. E como sujeito passivo o trabalhador e suas organizações. Outros agentes, contudo, podem cometer atos anti-sindicais.
Com efeito, o Estado viola a liberdade sindical quando realiza atos de ingerência nos sindicatos e organizações trabalhistas e persegue lideranças sindicais. Outra forma de conduta anti-sindical, verdadeiro ato de discriminação, assaz comum na atual fase histórica, ocorre quando governos e partidos políticos buscam favorecer diretamente os interesses dos empregadores, fazendo causa comum com estes, adotando políticas desfavoráveis à organização dos trabalhadores. (...)
Os próprios sindicatos dos trabalhadores estão, igualmente, sujeitos a efetivar atos anti-sindicais, impondo restrições e agressões aos direitos e interesses de empregadores e até de trabalhadores e outros agentes. No Brasil, por exemplo, encontramos entidades sindicais que inflacionam o número de diretores a fim de estender a estabilidade no emprego a vários trabalhadores, que dela normalmente não gozariam não fosse esse artifício.
Discorre ainda, Alice Monteiro de Barros156 como são
realizadas as condutas antissindicais:
As próprias organizações de trabalhadores podem praticar atos antissindicais contra os empregados ou seus sindicatos. E assim é que os sindicatos, em determinados momentos, têm visto nas cooperativas ou em outras instituições uma forma de desestimular a sindicalização.
154 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p. 1294. 155 MENEZES, Claudio Armando Couce de. Proteção contra condutas anti-sindicais Disponível
em:<http://www.anamatra.org.br/opiniao/artigos/ler_artigos.cfm?cod_conteudo=6017&descricao=artigos> Acesso em: 21 abr. 2010.
156 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p. 1294.
65
As entidades sindicais que congregam trabalhadores também poderão praticar atos antissindicais, prejudicando o trabalhador, outro sindicato, o empregador ou suas organizações.
Até mesmo o empregado , excepcionalmente, pode praticar, uma conduta antissindical, quando, por exemplo, o dirigente de sindicato força uma rescisão indireta para receber o FGTS e indenização por dano moral.
Assim, destas diversas maneira de praticar o ato antissindical,
ainda existe o empregador que é considerado por grande parte dos doutrinadores,
“propenso à materialização de condutas antissindicais”157.
Portanto, os agentes da conduta antissindical são todos
aqueles que ferem o princípio da liberdade sindical, e principalmente o artigo 8° da
CRFB/88.
3.2.2 Manifestações dos Atos Antissindicais
Os atos antissindicais manifestam-se por intermédio de
diversos meios e em vários momentos da relação de emprego, o qual consta no
ordenamento jurídico fundamentado no artigo 5°, XVI II da CRFB/88, como dispõe
Alice Monteiro de Barros158:
Uma das formas mais perigosas e insidiosas de discriminação é aquela exercida pelos empregadores sobre os trabalhadores, na fase pré-contratual, recusando-se a admiti-los no emprego, em decorrência de sua filiação ou atividade sindical. (...) essa situação se acentua se atentarmos para a escassez dos mecanismos de proteção, em relação às condutas da mesma natureza, praticadas após a contratação.
As condutas anti-sindicais podem se manifestar nas diversas
fases da relação de emprego, constituído o vínculo empregatício, poderá o
empregador praticar condutas anti-sindicais, as quais são passíveis de serem
comissivas ou omissivas, desde o período de experiência até o momento anterior ao
término do contrato.
157 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1294. 158 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1295.
66
Neste contexto, Mauricio Godinho Delgado159 menciona duas
expressões inglesas para este caso: yellow dog contracts(contratos de cães
amarelo), das company unions (Sindicatos de empresa) e da prática mise à I’ index
(lista negra):
No primeiro caso (...) o trabalhador firma com seu empregador compromisso de não filiação a seu sindicato como critério de admissão e manutenção do emprego. (...)
No segundo caso (...), o próprio empregador estimula e controla (...) a organização e ações de respectivo sindicato obreiro.
No terceiro caso (...), as empresas divulgariam entre si os nomes dos trabalhadores com significativa atuação sindical, de modo a praticamente excluí-los do respectivo mercado.
Neste contexto, relata Marcelo Ricardo Grünwald160 com
relação às formas mais comuns de condicionantes restritivas do emprego são:
Indagações a respeito da filiação sindical nas fichas de solicitação de emprego ou entrevistas; as "listas negras"; os contratos com cláusulas anti-sindicais (yellow dog contracts, company unions, closed shop, etc.).
A mais antiga é a closed shop, pela qual o empregador compromete-se com a entidade de classe a admitir somente os candidatos sindicalizados, sendo fechada aos não-sindicalizados. Ao contrário da modalidade mencionada, verifica-se, igualmente, a existência da open shop, que, por sua vez, a empresa contrata tão-somente os candidatos não sindicalizados, igualmente deletéria à garantia da livre sindicalização.
A preferencial shop: o empregador dá preferência de admissão aos empregados filiados; a unions shop, pela qual o empregado compromete-se se sindicalizar após a admissão (semelhantes a closed shop)
Com a yellow dog contract, o trabalhador assume um compromisso contratual com o empregador de não-filiação ao sindicato, sob pena de rescisão contratual por justa causa. Com a company unions, também chamado de "sindicatos-fantasmas", um grupo de empregados assume o compromisso de constituir um sindicato
159 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho . p. 1308. 160 GRÜNWALD, Marcelo Ricardo. Prerrogativas e poderes sindicais. relação jurídica interna. proteção do trabalhador sindicalizado na empresa e controle contra discriminação anti-sindicais. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/23593> Acesso em: 22 mar. 2010.
67
paralelo (o que nem sempre é possível no direito nacional, haja vista as limitações territoriais e unicidade categorial).
A carência dessa proteção consta da dificuldade da prova da
antissindicalidade na fase pré-contratual, que pode estar em causas aparentemente
lícitas, considerando que a contratação de um empregado manifesta um conteúdo
discricionário.
Neste norte, vislumbra Alice Monteiro de Barros161 que “para
apreciar a matéria da responsabilidade pré-contratual, sendo indiscutível a
competência da Justiça do Trabalho, quando a conduta antissindical ocorre durante
a relação de emprego”.
3.2.3 Condutas Anti-Sindicais no Brasil
Conjectura Eduardo Gabriel Saad162 quanto ao artigo 543 da
CLT que “desde o instante em que registra sua candidatura no sindicato e até um
ano após o término do mandato, o empregado só poderá ser dispensado do
emprego mediante inquérito para apuração de falta grave”.
Aborda-se neste sentido, o artigo 543 da CLT quanto a
estabilidade do Dirigente Sindical:
Art. 543. O empregado eleito para cargo de administração sindical ou representação profissional, inclusive junto a órgão de deliberação coletiva, não poderá ser impedido do exercício de suas funções, nem transferido para lugar ou mister que lhe dificulte ou to0rne impossível o desempenho das suas atribuições sindicais163.
Neste quadro, dispõe a Súmula 197 do STF:
Súmula 197. Estabilidade – Dirigente Sindical. O empregado com representação sindical só pode ser despedido mediante inquérito em que se apure falta grave164.
Conforme Alice Monteiro de Barros165 quanto aos artigos
mencionado acima que o artigo 543 da CLT “assegura-se estabilidade provisória aos
161 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1299. 162 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das leis do trabalho: comentada. 42. ed. atual. rev. e ampl. São Paulo: Ltr, 2009. p. 732. 163 ANGHER, Anne Joyce organização. Vade mecum universitário de direito rideel. 8. ed. São Paulo: Rideel, 2010. p. 660. 164 ANGHER, Anne Joyce organização. Vade mecum universitário de direito rideel. p. 1284.
68
empregados que exercem cargo de representação sindical ou administração
profissional, inclusive junto a órgão de deliberação coletiva”.
Neste norte, a mesma autora166 ressalta a garantia assegurada
aos dirigentes sindicais:
A garantia assegurada ao dirigente sindical tem em mira evitar que a representação fique comprometida pela represália patronal, ou se veja ele desguarnecido quando termina o mandato (...). A par da estabilidade provisória assegurada, o referido dispositivo legal proíbe ainda a transferência desse empregado e qualquer obstáculo que o impeça de exercer as atribuições sindicais.
Leciona Eduardo Saad167 a respeito das condutas anti-sindicais
que “empregador ou empregado, que tiverem seu ingresso no sindicato negado pela
diretoria deste, poderão recorrer à Justiça Comum para fazer valer seu direito de
filiar-se ao Sindicato”.
Neste quadro, corrobora Sergio Pinto Martins168 que “O Estado,
às vezes, pode ser um agente de práticas anti-sindicais”. Sendo assim, o ato anti-
sindical pode ser combatido com movimentos sindicais participante e reivindicativo e
o legislador coibir essas práticas desleais, assegurando mecanismos que permitam
a imediata reintegração do dirigente sindical em caso de dispensa arbitrária.
Portanto, através do contexto transcrito em epígrafe, devem-se
mencionar as funções sociais, como sendo a essência para combater as condutas
anti-sindicais praticadas pelas Empresas e Estado.
3.3 FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO
O Direito busca atender uma função social, com valores
contemporâneos, no artigo 3°, I da CRFB/88, afirma que “Constituem objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade justa e
solidária” 169.
165 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1299. 166 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho . p. 1300. 167 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das leis do trabalho: comentada. p. 732. 168 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 722. 169 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição . p. 45.
69
função social é a qualidade dos seres, das coisas, dos objetos, dos bens, institutos e instituições sobre os quais a norma jurídica atribui uma missão de ser e representar para alguém que delas são titulares e para aqueles que estão ao seu redor e que participam direta ou indiretamente de seus efeitos.170
Vislumbra Norberto Bobbio171 quanto aos direitos do homem
hoje:
Na era contemporânea, entre os vários sinais dos tempos, não pode passar para o segundo plano a crescente atenção que em todas as partes do mundo se dá aos direitos do homem, seja devido à consciência cada vez mais sensível e profunda que se forma nos indivíduos e na comunidade em torno a tais direitos ou à contínua e dolorosa multiplicação das violações desses direitos.
A compreensão de direito e de função social do direito está na
confirmação de que os institutos (públicos e privados) criados devem atender aos
fins descritos em seu conteúdo.
Existindo função social no direito, nem o homem e nem a empresa podem opor-se ao cumprimento dos seus predicados, porquanto o direito enquanto função convoca todos para cumprir os desideratos do Estado que é promover o bem comum. Promover o bem comum é, em certa medida, entregar a quem seja titular aquilo que já o era na ordem natural das coisas e dos acontecimentos. Quando existe uma pretensão resistida porque alguém de fato e de direito lesou ou ameaçou de lesão a alguém não há motivo para a contenda, logo, o objeto do bem da vida deve ser entregue sem espera, porquanto o homem moderno não deve perder tempo com essas coisas. Deve dar a cada um o que lhe pertence. Este é o senso do reto, do correto, da retidão, do equilíbrio, da justiça.172
A função social do direito atende uma função predisposta na
estrutura da norma jurídica e por essa razão, o conteúdo da norma atende aos fins
delineados pelo legislador.
3.4 FUNÇÃO SOCIAL DA PESSOA JURÍDICA
Para entender a função social da pessoa jurídica faz-se
necessário entender as considerações sobre a função social da propriedade que 170 CARVALHO, Francisco José. Função social do direito . Disponível em: <http://www.funcaosocialdodireito.com.br> Acesso em: 26 fev. 2010. 171 BOBBIO, Norberto; COUTINHO, Carlos Nelson. A era dos direitos . Nova edição. p. 221. 172 CARVALHO, Francisco José. Função social do direito . Disponível em: <http://www.funcaosocialdodireito.com.br> Acesso em: 26 fev. 2010.
70
está inserida no artigo 5°, XXII, da CRFB/88 “(...) é garantido o direito de
propriedade”.
Ainda, o artigo 182, § 2º da CRFB/88 estabelece “A
propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor”.
Ademais, dispõe o artigo 186 da CRFB/88:
ART.186 - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, seguindo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I- aproveitamento racional e adequado; II- utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III- observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV- exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.173
Ainda, Jose Afonso da Silva174 informa que “O regime jurídico
da terra, fundamenta-se na doutrina da função social da propriedade, pela qual a
riqueza produtiva tem uma finalidade social e econômica (...)”.
A função social da pessoa jurídica é abraçada ampliando-se o
conceito constitucional da propriedade, na forma explicada por Fábio Konder
Comparato175 que afirma:
Segundo o consenso geral da melhor doutrina, incluem-se na proteção constitucional da propriedade bens patrimoniais sobre os quais o titular não exerce nenhum direito real, no preciso sentido técnico do termo, como as pensões devidas pelo Estado, ou as contas bancárias de depósito. Em conseqüência, também o poder de controle empresarial, o qual não pode ser qualificado como um ius in re, há de ser incluído na abrangência do conceito constitucional de propriedade. (...) a lei reconhece que, no exercício da atividade empresarial, há interesses internos e externos que devem ser respeitados: não só os das pessoas que contribuem diretamente para o funcionamento da empresa, como os capitalistas e trabalhadores, mas também os interesses da ‘comunidade’ em que ela atua.
173 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. p. 116-117, 736-737, 747. 174 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. p. 747. 175 PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A função social da empresa e o novo Código Civil . Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3763> Acesso em: 22 abr. 2010.
71
Neste Contexto, vislumbra Modesto Carvalhosa176:
Tem a empresa uma óbvia função social, nela sendo interessados os empregados, os fornecedores, a comunidade em que atua e o próprio Estado, que dela retira contribuições fiscais e parafiscais. Considerando-se principalmente três as modernas funções sociais da empresa. A primeira refere-se às condições de trabalho e às relações com seus empregados (...) a segunda volta-se ao interesse dos consumidores (...) a terceira volta-se ao interesse dos concorrentes (...). E ainda mais atual é a preocupação com os interesses de preservação ecológica urbano e ambiental da comunidade em que a empresa atua.
Neste tema, enfatiza Zenildo Bodnar177, que a pessoa jurídica
cumpre a função social quando:
(...) respeita os valores e exigências sociais estatuídas na Constituição da República Federativa do Brasil e demais leis vigentes relacionadas com os Direitos do Consumidor, dos empregados, Meio Ambiente e, principalmente, quando honra com seus compromissos perante a Fazenda Pública, tendo em vista a importância social da tributação.
Assim sendo, a função social da pessoa jurídica é em caráter
geral, de suma importância, tem por objetivo a preocupação com a sociedade, meio
ambiente, cumprir com as suas obrigações tributárias, pois, sem tributos, também o
Estado não realizaria a sua função social e principalmente em relação ao emprego,
desenvolvimento e permanência da empresa, todos dependentes da função social.
Neste sentido, vale ressaltar que o sindicato é pessoa jurídica de direito privado,
possuindo as mesmas funções sociais.
3.5 FUNÇÃO SOCIAL DO SINDICATO
Grande parte dos doutrinadores detém o empregado, como
sendo a parte fragilizada da relação de trabalho. Sendo assim, os homens se unem
para enfrentar essas dificuldades.
Por conta dessa eterna submissão aos mandos e desmandos do patrão é que começaram a surgir em nosso país pequenas organizações de operários que buscavam melhorias nas condições
176 PALERMO, Carlos Eduardo de Castro. A função social da empresa e o novo Código Civil . Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3763> Acesso em: 22 abr. 2010. 177BODNAR, Zenildo. A responsabilidade tributária do sócio administrador . Curitiba: Juruá, 2005, p. 172.
72
de trabalho. Esse era o embrião daquilo que é hoje conhecido como sindicato178.
Superados todos os percalços históricos e com a atual
CRFB/88, o sindicato ganhou seu espaço com a respectiva previsão legal: incomum.
A lei maior prevê requisitos genéricos para a criação de sindicatos de trabalhadores cujo propósito deve ser o de representar as diversas classes trabalhadoras. Além disso, é importante destacar que a lei maior também assegura a liberdade de associação do empregado que somente será filiado ao sindicato de sua categoria se quiser.179
Neste Norte, Sergio Pinto Martins180 entende que o sindicato
tem a “função de representação, de representar a categoria ou seus membros em
juízo ou extrajudicialmente”. O sindicato tem a função de regulamentação das
normas coletivas nas convenções e acordos coletivos de trabalho. Recebem receitas
para a manutenção de suas atividades.
A principal função (e prerrogativa) dos sindicatos é a de
representação, no sentido amplo, de suas bases trabalhistas. "O sindicato organiza-
se para falar e agir em nome de sua categoria; para defender seus interesses no
plano da relação de trabalho e, até mesmo, em plano social mais largo181”.
Henrique Macedo Hinz182 destaca que:
O art. 513, d, da CLT, ao atribuir ao sindicato o papel de colaborador com o Estado no estudo e solução de problemas relacionados com a categoria que representa, demonstra encontrar-se, ainda, o sindicalismo brasileiro fundado na concepção corporativa de Estado, em que se busca a supressão dos conflitos entre o capital e o trabalho, bem como a colaboração entre os interlocutores sociais e o Estado, com vistas no progresso da nação.
178 SANTIAGO, Leonardo. Função social do sindicato . Disponível em: <http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=5658&Itemid=27> Acesso em: 26 fev. 2010. 179 SANTIAGO, Leonardo. Função social do sindicato . Disponível em: <http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=5658&Itemid=27> Acesso em: 26 fev. 2010. 180 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 695. 181 GRÜNWALD, Marcelo Ricardo. Prerrogativas e poderes sindicais. relação jurídica interna. proteção do trabalhador sindicalizado na empresa e controle contra discriminação anti-sindicais. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/23593> Acesso em: 22 mar. 2010. 182 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho . p. 1.
73
A sindicalização é facultada aos que exercem uma atividade
profissional. Os sindicatos profissionais detêm a defesa dos interesses econômicos,
industriais e agrícolas, formados por pessoas que exerçam a mesma profissão,
ofícios similares ou profissões conexas.
Ao sindicato devem ser garantidos os meios para o desenvolvimento da sua ação destinada a atingir os fins para os quais foi constituído. De nada adiantaria a lei garantir a existência de sindicatos e negar os meios para os quais as suas funções pudessem ser cumpridas. 183
Sergio Pinto Martins184 observa que “(...) A Justiça do Trabalho
será competente para analisar questão relativa a contribuições sindicais, como na
hipótese em que o sindicato pretende cobrar de empregador a contribuição ou
discutir a base territorial”.
O mesmo autor185 informa que as funções do sindicato se
dividem em Função de representação, Função negocial e Função econômica:
Função de representação é assegurada na alínea a do art. 513 da CLT, em que se verifica a prerrogativa do sindicato de representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses da categoria ou os interesses individuais dos associados relativos à atividade ou profissão exercida. (...) Função negocial do sindicato é a que se observa na prática das convenções e acordos coletivos de trabalho O sindicato participa das negociações coletivas que irão culminar com a concretização de normas coletivas (acordos ou convenções coletivas de trabalho), a serem aplicadas à categoria. (...) O art. 564 da CLT veda, entretanto, ao sindicato, direta ou indiretamente, o exercício de atividade econômica. (...) Os arts. 578 a 610 da CLT versaram de maneira sistematizada sobre a contribuição sindical. (...) Pretendeu-se extinguir a contribuição sindical por meio das Medidas Provisórias n° 236, 258 e 275/90, que n ão foram convertidas em lei. O Congresso Nacional apresentou um Projeto de Lei de Conversão, de n° 58/90, estabelecendo a exti nção gradativa da contribuição em comentário, em cinco anos. Esse projeto de lei foi aprovado pelo Congresso Nacional, porém foi vetado pelo Presidente da República, estando ainda em vigor os arts. 578 a 610 da CLT.
183 GRÜNWALD, Marcelo Ricardo. Prerrogativas e poderes sindicais. relação jurídica interna. proteção do trabalhador sindicalizado na empresa e controle contra discriminação anti-sindicais Disponível em:<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/23593> Acesso em: 22 mar. 2010. 184 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho: doutrina e prática forense, modelos de petições, recursos, sentenças e outros. 27. ed. atual. até 31 de dezembro de 2007. São Paulo: Atlas, 2007. p. 115 185 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 723.
74
O sindicato possui como função social, defender seus
associados perante os empregadores. O sindicato deve ser criado em obediência às
normas vigentes e principalmente possuir e cumprir o objetivo de sua criação.
Desta forma, a função social do sindicato é representar o
empregado diante do empregador nas convenções e acordos coletivos de trabalho
de maneira a produzir uma melhor negociação entre as partes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa tem por objetivo a “Função Social do Sindicato na
Atual Sociedade” com a função de representar a categoria ou seus membros em
juízo ou extrajudicialmente, os objetivos foram: institucional, produzir uma
monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do
Vale do Itajaí – UNIVALI; geral, discorrer sobre aspectos gerais do sindicato, bem
como fundamentos da organização sindical, para entendimento das práticas
antissindicais; específicos: demonstrar a sociedade a real função social dos
sindicatos, e, as ocorrências das práticas antissindicais.
Para tanto o trabalho foi dividido em três capítulos, sendo que o
primeiro tratou dos aspectos gerais do sindicato, abordou o surgimento e a evolução
histórica durante a revolução de 1930, que ocorreu com a união de trabalhadores
formando associações de trabalhadores. Neste contexto, conceituando sindicatos
como sendo a associação de pessoas físicas ou jurídicas visando a defesa dos
interesses coletivos e individuais da sua categoria, e, os princípios aplicáveis aos
sindicatos, como o da razoabilidade esclarece que o ser humano deve proceder
conforme a razão, proteção que trata da superioridade econômica do empregador
em relação ao empregado, da irrenunciabilidade, os direitos dos trabalhadores são
irrenunciáveis, entre outros.
Ademais, a natureza jurídica sendo à base de estudo sobre
sindicatos, pois trata da associação privada de caráter coletivo, com funções de
defesa dos interesses profissionais e econômicos de seu representados. Registro e
criação dos sindicatos que incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro
das entidades sindicais. A Constituição de 1988 atribuiu a empregados e
empregadores a possibilidade de criar entidades sindicais. Além disso, a unicidade
sindical, pois impõe que não é permitida a criação de mais de uma organização
sindical na mesma base territorial, e não poderá ser inferior a área de um município.
O segundo capítulo, por sua vez, relatou sobre a organização
internacional do trabalho que surge com a Revolução Industrial, em consideração as
condições de trabalho e higiene dos trabalhadores, ainda, a estrutura da OIT, única
76
agência do sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite, ou seja,
participam em situação de igualdade representantes do governo, de empregadores e
trabalhadores.
Deste modo, apontaram-se as convenções da OIT, tendo como
principais a Convenção de no 87, assegura a liberdade sindical em relação aos
poderes públicos, e a de no 98, objetiva proteger os direitos sindicais dos
trabalhadores frente aos empregadores e respectivas organizações, assegura a
independência das associações sindicais de trabalhadores em face às de
empregadores, e vice-versa. Para finalizar, a liberdade sindical que compreende o
direito de ingressar e retirar-se dos sindicatos, trabalhadores e empregadores
podem se organizarem livremente, sem que sofram interferência ou intervenção do
Estado.
E o terceiro e último capítulo, verificou-se as garantias e
estabilidade do dirigente sindical que nasce com o registro da candidatura do
empregado ao cargo de direção ou representação sindical. Diante disto, as práticas
antissindicais, que ocorre quando os atos prejudicam indevidamente um titular de
direitos sindicais no exercício da atividade sindical ou por causa desta ou aqueles
atos mediante os quais lhe são negadas, prerrogativas necessárias ao normal
desempenho da ação coletiva.
Além disso, a função social do direito, que é promover o bem
comum, entregar a quem seja titular aquilo que já o era na ordem natural das coisas
e dos acontecimentos, ou seja, devem atender aos fins descritos em seu conteúdo.
Já a função social da pessoa jurídica, atende as prerrogativas de preocupação com
a sociedade, meio ambiente, questões tributárias e emprego. Desta maneira,
tornando-se base de estudo para a função social do sindicato.
Concluindo o terceiro capítulo com a função social do sindicato
elencada no artigo 8o da CRFB/88, que é a de representação, no sentido amplo,
para defender os interesses no plano da relação de trabalho, e, até mesmo, no plano
social. Tem a função de regulamentação das normas coletivas nas convenções e
acordos coletivos de trabalho.
77
Por fim, retomam-se as três hipóteses básicas da pesquisa e
que assim foram alcançadas: a) restou confirmada. Está disposto no artigo 8o da
CRFB/88 quanto à unicidade sindical, que consiste na possibilidade de criação de
apenas um sindicato para cada categoria profissional ou econômica na mesma base
territorial. b) está parcialmente confirmada. A liberdade sindical é direito dos
trabalhadores e empregadores se organizarem e constituírem agremiações. Significa
que o sindicato pode ser constituído livremente, sem autorização, sem
constrangimento e adquirir, de plano, direito, personalidade jurídica, vedadas ao
Poder Público à interferência e a intervenção na organização sindical. c) restou
confirmada. É uma prerrogativa importante dos sindicatos, pela qual, lhes cabe
representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses
gerais da respectiva categoria ou profissão liberal, ou os interesses individuais dos
associados e, especialmente, celebrar convenções coletivas de trabalho. Dispõe o
artigo 8o, VI da CRFB/88 que é obrigatória a participação dos sindicatos nas
negociações coletivas de trabalho.
Pode-se concluir que o tema tem muito a ser discutido, pois a
função social do sindicato é de representar o empregado diante do empregador, o
que deve respeitar a Constituição Federal, para que não ocorram as práticas
antissindicais. Há necessidade de mais pesquisa, análise, sugestões e debates que
visem o aperfeiçoamento da função social do sindicato e a trabalhos que diminuam
ou eliminem as práticas antissindicais que vem ocorrendo.
78
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ANEXOS