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INTRODUÇÃO Este estudo tem como finalidade investigar e analisar a evasão escolar da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares na cidade de Itiúba, Bahia. O objetivo do nosso trabalho foi identificar as causas que levam esses alunos a se distanciarem da escola. Portanto, focamos o nosso trabalho no tema Evasão de Jovens e Adultos na escola. O tema desse trabalho monográfico surgiu de nossa inquietação a partir da experiência em sala de aula de educação de jovens e adultos em que nos deparamos com o problema da evasão, o que nos motivou a este trabalho de investigação. Segundo Arroyo (1997, p.23), [...] na maioria das causas da evasão escolar, a escola tem a responsabilidade de atribuir desestruturação familiar e o professor e aluno não tem a responsabilidade para aprender, tornando-se um jogo de empurra. Sabemos que a escola atual precisa está preparada para receber estes jovens e adultos que são frutos de uma sociedade injusta. Muitas pesquisas têm apontado que o problema da evasão escolar em nosso país está ligado a diversos fatores tais como social, cultural, político e econômico. Levando em consideração que os sujeitos dessa modalidade são especialmente alunos que trabalham e, que por diversas situações vividas em seu cotidiano, são levados a abandonar a escola. Os motivos para o abandono escolar podem ser 8

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Pedagogia Itiúba 2012

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INTRODUÇÃO

Este estudo tem como finalidade investigar e analisar a evasão escolar

da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Ginásio Municipal Antônio Simões

Valadares na cidade de Itiúba, Bahia. O objetivo do nosso trabalho foi

identificar as causas que levam esses alunos a se distanciarem da escola.

Portanto, focamos o nosso trabalho no tema Evasão de Jovens e Adultos na

escola. O tema desse trabalho monográfico surgiu de nossa inquietação a

partir da experiência em sala de aula de educação de jovens e adultos em que

nos deparamos com o problema da evasão, o que nos motivou a este trabalho

de investigação. Segundo Arroyo (1997, p.23),

[...] na maioria das causas da evasão escolar, a escola tem a responsabilidade de atribuir desestruturação familiar e o professor e aluno não tem a responsabilidade para aprender, tornando-se um jogo de empurra. Sabemos que a escola atual precisa está preparada para receber estes jovens e adultos que são frutos de uma sociedade injusta.

Muitas pesquisas têm apontado que o problema da evasão escolar em

nosso país está ligado a diversos fatores tais como social, cultural, político e

econômico. Levando em consideração que os sujeitos dessa modalidade são

especialmente alunos que trabalham e, que por diversas situações vividas em

seu cotidiano, são levados a abandonar a escola. Os motivos para o abandono

escolar podem ser ilustrados quando o jovem e adulto deixam a escola para

trabalhar, quando as condições de acesso e segurança são precárias, os

horários são incompatíveis com as responsabilidades que se viram obrigados a

assumir, ou evadem por considerarem que a formação que recebem não

contribui de forma significativa para eles.

A evasão escolar ao longo da implantação dos programas de

alfabetização e da educação continuada para jovens e adultos tem

apresentado resultados negativos, tornando-se desafiador para o professor

manter a permanência do aluno na escola. Dentro deste contexto sociocultural

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existem vários fatores preponderantes que interferem na sua permanência

escolar devido à sobrecarga de trabalho, o uso de drogas, professores sem

formação específica para atuarem na modalidade de educação para jovens e

adultos e isto tem contribuído mais para a exclusão social do que pra a

formação educacional. Neste trabalho monográfico, a pretensão é apresentar

para a discussão as causas e consequências da evasão escolar na Educação

de Jovens e Adultos do Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares e como

afirma Arroyo (2007, p.6).

Parece-me que ao longo desses últimos anos cada vez a juventude, os jovens e os adultos populares estão mais demarcados, segregados e estigmatizados [...] A juventude popular está cada vez mais vulnerável, sem horizontes, em limitadas alternativas de liberdade.

É essa juventude que tem sido sujeito central nas salas de EJA. Sendo

assim, perguntamos: o que muda na organização do trabalho pedagógico? Os

alunos estão cada vez mais excluídos da sociedade, e qual a tarefa que cabe à

escola? São questões que gostaríamos de saber. Afinal, a tarefa vai além dos

muros escolares e dependem da atitude política de valorização desse

segmento social que vive na pele as contradições do modo de produção

capitalista. Portanto, nossa tarefa é compreender, analisar e investigar como e

porque acontece tanta evasão dentro do colégio acima citado.

Diante de princípios significativos, o processo metodológico e político no

ensino para jovens e adultos tem que ser contemplado com novas práticas que

atendam as perspectivas de seus educandos estimulando-os e motivando-os

de forma consciente. A preocupação do nosso país deveria ser a erradicação

do analfabetismo e as consequências econômicas geradas por este e que os

países em desenvolvimento têm enfrentado. A falta de qualificação profissional

também tem gerado uma desestruturação e segregação social nas escolas do

país.

Percebe-se que é preciso rever alguns pontos deste sistema de ensino

para jovens e adultos, sendo necessário avaliar tanto as metodologias

aplicadas para este seguimento como também os motivos que estão

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contribuindo para o crescimento da evasão escolar na EJA. É importante

estarmos atentos para o fato de que o aluno de EJA é um aluno diferente, um

pouco inseguro e, são as diversas derrotas vividas ao longo de um processo

escolar, muitas vezes já iniciada no ensino regular, que abala sua autoestima e

muitas vezes o impede de prosseguir. Assim, qualquer decepção, por mínima

que seja, sofrida na escola faz com que este sujeito abandone o ambiente

escolar.

O presente trabalho pretende também desenvolver uma reflexão sobre

alguns aspectos relacionados a um tema que permeia um debate que se faz

cada vez mais necessário e atual, na medida em que são percebidas precária

as condições a que está submetida a classe menos favorecida de nossa

sociedade, a evasão escolar, que nos remete ao universo de jovens e adultos

analfabetos. Fala-se dos pobres excluídos, daqueles que, por qualquer motivo

ficaram fora do processo de formação através da educação formal em idade

apropriada.

Na educação brasileira o quadro é de indutora evasão, com ela vem a

exclusão desses jovens e adultos. Ao longo da história tem-se um cenário de

exploração e espoliação da maioria da classe trabalhadora em prol de uma

minoria, que aproveita desta ordem sociopolítica para usufruir as benesses de

um sistema que, mantido na apartação social, na relação entre classes sociais,

e possibilitou ao longo dos séculos, a manutenção desta ordem que privilegia a

produção da exclusão daqueles que não se encontram em salas de aulas.

Diante de todo contexto, percebe-se que a evasão no Ginásio Municipal

Antônio Simões Valadares, nas salas da EJA, nos leva a pensar sobre o

sistema de ensino e as mudanças necessárias no mesmo para que ele possa

atrair jovens e adultos a retomarem seus estudos. Contudo faz-se necessário

uma renovação no processo metodológico e político no ensino, contemplado

com novas práticas que atendam melhor as expectativas de seus alunos, para

isso é preciso preparar melhor seu profissional proporcionando-lhes

qualificação adequada. Desse modo, nota-se que os jovens e adultos da EJA,

devem ser estimulados e motivados de forma a se interessarem pelos estudos

e incuti-los uma nova perspectiva de vida e de mais oportunidades futuras. Só

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assim poderá dar início ao processo de redução do quadro de evasão, no

momento em que a escola for capaz de por em prática muitas reivindicações

dos estudantes no sistema de ensino, deixando de lado o modelo arcaico,

fechado como parte de um passado distante.

Nota-se que a evasão de jovens e adultos é um problema sério em todo

país, sendo muitas vezes passivamente assimilada e tolerada pelo sistema de

ensino e pela comunidade. As consequências dessa evasão podem ser

sentidas com mais intensidade nas cadeias públicas, penitenciárias e centro de

internação para jovens em conflitos com a lei. (MORAES, 2010, p.16). Na

verdade muitas são as causas para que os jovens e adultos evadirem da

escola. Enfim, percebe-se que muitas tentativas foram feitas no sentido de

responder as causas da evasão escolar da EJA no Ginásio Municipal Antônio

Simões Valadares.

No Capitulo I apresentamos a problemática da educação de jovens e

adultos e procuramos situar a nossa questão de pesquisa que é investigar e

analisar a evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos e as causas que

levam esses alunos a se distanciarem da escola.

No Capítulo II apresentamos nossa discussão teórica sobre a temática

da educação de jovens e adultos, tendo o aporte teórico de vários autores que

proporcionaram o suporte necessário às análises dos dados e a compreensão

do nosso objeto de pesquisa. Fizeram parte deste contexto: Arroyo (2007),

Moraes (2010), Morin (2003), entre outros.

No Capítulo III descrevemos o caminho que foi trilhado na pesquisa, a

descrição metodológica do locus, os sujeitos da pesquisa e os instrumentos

que utilizamos na coleta de dados que nos permitiu captar a compreensão dos

sujeitos da pesquisa.

No Capítulo IV, apresentamos a análise e interpretação reflexiva dos

dados coletados, dos sujeitos da pesquisa sendo embasados pelos autores

selecionados no estudo que nos deram sustentação teórica nas discussões

realizadas.

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Concluímos nosso trabalho monográfico apresentando nossas

considerações finais, demonstrando ao mesmo tempo nosso posicionamento

em relação aos dados coletados na pesquisa.

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CAPÍTULO I

1. A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BARSIL:

situando o problema de pesquisa

A Educação de jovens e adultos tem sofrido grandes modificações nas

ultimas décadas, mas o Brasil ainda enfrenta o problema do analfabetismo,

principalmente entre jovens e adultos, que não tiveram oportunidade de se

apropriarem do saber da leitura e da escrita na idade em que a maioria das

crianças e jovens aprende a ler e escrever. Nesse sentido, esses jovens e

adultos que não adquiriram o saber necessário para atender as exigências de

uma sociedade letrada acabam sendo excluídos e vivendo numa situação de

não cidadania. O ato de ler o mundo, os seres humanos o fazem antes de ler

as palavras, porém, em uma sociedade letrada ler e escrever lhes possibilita

uma compreensão muito abrangente desse mundo, daí a importância desse

conhecimento e do acesso a ele para todos como forma de garantir uma

participação plena na sociedade.

Nos últimos anos muitos jovens e adultos têm se preocupado com sua

escolarização, e por esta razão muitos deles têm procurando a escola no

desejo de retomar seu processo educativo. Grande parte dessas pessoas não

teve oportunidade de frequentar a escola quando crianças, e devido às suas

condições financeiras, e da necessidade de garantir sua sobrevivência, esses

jovens e adultos precisaram trabalhar junto com seus pais ou familiares para

garantir o sustento da família. E, quando surge a oportunidade, ou quando a

exigência desse saber se faz presente em suas vidas eles retornam para a

escola em busca do saber escolarizado, exigido pela sociedade e pelo mundo

do trabalho, principalmente par jovens e adultos trabalhadores urbanos.

Porém, os problemas educacionais que enfrentam estes jovens e

adultos são inúmeros, principalmente com relação a permanência na escola até

concluir o processo de escolarização obrigatório. Na educação de jovens e

adultos, um dos problemas mais frequentes ou mais importantes deles é a

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evasão escolar, ou seja, muitos jovens e adultos buscam a escola, se

matriculam, mas acabam desistindo dos seus estudos.

Este é um fato recorrente no ensino de jovens e adultos, é um problema

que atinge todo o país e nesse sentido é importante, para reverter tal situação,

entender por que ela ocorre. Costuma-se associar a evasão escolar a baixa

renda do cidadão, mas este não é o único fato, já que a evasão é encontrada

em outras camadas sociais. Inclusive nas regiões que possuem uma boa

estrutura educacional. A escola deveria ser um lugar onde a aprendizagem

fosse uma rica experiência de vida, principalmente para os jovens e adultos,

que tem menos acesso a recursos educativos. Sobretudo para o adolescente, o

jovem e o adulto, a escola deve ser um espaço privilegiado, onde possam

refletir sobre as experiências, compreendê-las e transformá-las.

Os adultos, ao se integrarem em programas de educação básica, já tem

uma ideia do que seja a escola, muitas vezes construída com base na escola

que eles frequentaram brevemente quando crianças. E, muitas vezes, apesar

de referirem-se à precariedade dessas escolas, lembram-se delas com carinho

e sentem com pesar o fato de terem deixado de frequentá-la. Assim o papel do

educador de jovens e adultos junto a estes educandos deve ser o de ampliar

seus interesses, compreendendo suas dificuldades e planejando atividades

significativas que promovam uma verdadeira aprendizagem, que deve ir muito

além das exposições que o professor costuma fazer em salas de aula regular,

e das atividades mecânicas de memorização que ele supõe serem suficientes

para estes alunos da EJA.

A escola para jovens e adultos trabalhadores deve tornar-se um espaço

de ressocialização, através dos conhecimentos que ela trabalha, colocando o

sujeito individual ou social em polêmica com suas experiências anteriores. E o

professor é o motivador e mediador que os ajudará no processo de busca e

questionamento desses conhecimentos, ajudando-os a questioná-los, a buscar

desvendar seus mistérios, suas implicações a que nos leva a vivência em

grupo, e em sociedade onde a leitura e a escrita tem um papel importante na

comunicação entre as pessoas e o que elas fazem.

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Os alfabetizandos, jovens e adultos, que frequentam as salas de EJA,

por mais que não tenham frequentado a escola regular, vivem numa sociedade

letrada em que estão diariamente em contato com diferentes tipos de escrita

tais como documentos, propagandas, rótulos, panfletos, outdoors, e a própria

televisão, etc. E ao iniciar seu processo de alfabetização já trazem consigo

diferentes hipóteses sobre o mundo letrado, a função da leitura e da escrita,

assim como toda uma experiência com a oralidade. Porém, muitas vezes estes

jovens e adultos são tratados como se não soubessem nada, não tivessem

nenhum conhecimento tanto sobre a leitura e escrita como o conhecimento de

mundo que deve ser o ponto de partida para seu processo de escolarização.

Desta forma, a sociedade exclui os analfabetos, quando na verdade deveria

mobilizar-se na tentativa de ajudá-los, estimulando-os, e muitas vezes não

recebem estímulos nem de seus próprios familiares, o que torna este processo

um pouco mais difícil.

O trabalho com Educação de Jovens e Adultos exige que o professor se

torne um grande aliado deles para que possam sentir-se seguros e bem vindos

naquele espaço, afinal o que mais precisam é de apoio, o que não acontece na

maioria dos casos. Sabemos que o ensino noturno apresenta uma série de

características singulares, pois recebe um alunado que já se encontra inserido

na produção capitalista e que chega à escola já esgotado pela lida do trabalho

que o deixa cansado e isso tem contribuído para o crescimento da evasão

nesse seguimento da educação e para a produção de um contingente de mão

de obra pouco qualificada que vai ocupar os postos de trabalhos que não

exigem muita formação ou o trabalho na informalidade.

Em nosso país há milhões de brasileiros analfabetos ou que tem

escolarização incompleta, e as causas geralmente são as mesmas. Um

histórico que mostra que pais analfabetos, necessidade de trabalho,

inexistência de escola em algumas localidades ou muito distantes, falta de

dinheiro, transporte, sem mencionar que os programas destinados à educação

ou alfabetização de adultos não têm contribuído muito para mudanças mais

amplas. O que vemos então é o grande número de evadidos de jovens e

adultos em nosso país, estado e município. E por trabalharmos em uma escola

que oferece esta modalidade de ensino nos sentimos incomodadas com o

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grande número de evasão nas turmas da EJA, e com base no que apontamos

acima e da observação dessa realidade do Ginásio Municipal Antônio Simões

Valadares nos perguntamos, por que então eles sempre retornam para a

escola e de novo evadem?.

Nesta pesquisa buscamos conhecer, inicialmente, o perfil dos alunos da

EJA que se encontram no processo educativo da alfabetização. Assim, o nosso

propósito foi investigar a evasão escolar da Educação de Jovens e Adultos

(EJA) no Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares na cidade de Itiúba,

Bahia. O nosso objetivo foi identificar as causas que levam esses alunos a se

distanciarem da escola. Além disso, compreender o que os leva a retornarem

seguidamente à escola e o que esta representa para eles. Desta forma nos

propusemos os seguintes objetivos:

Objetivo Geral:

Identificar as causas que levam ao esvaziamento dos alunos da EJA do

Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares.

Objetivos Específicos:

Conhecer os aspectos sociais e econômicos dos alunos da EJA.

Identificar qual o sentido que a escola tem para alunos da EJA.

Compreender o porquê da evasão dos alunos da EJA no Ginásio

Municipal Antônio Simões Valadares.

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CAPÍTULO II

2. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS NECESSIDADES

FORMATIVAS DE ADULTOS E JOVENS TRABALHADORES

2.1. Um pouco de História da Educação de Jovens e Adultos

A história da EJA insere-se num cenário econômico social e político e

está geralmente atrelada a relação entre educação e trabalho, haja vista que os

seus sujeitos são trabalhadores, jovens em busca do primeiro emprego ou são

pessoas trabalhadoras aposentadas. É importante indagarmos alguns aspectos

socioeconômicos que influenciam a educação brasileira, possibilitando a

análise da EJA em relação às necessidades sociais e políticas que marcam a

conjuntura política e econômica brasileira.

A educação é um dos direitos sociais garantidos no texto constitucional

de 1988. Ele tem estado presente nas lutas de diversos movimentos sociais,

que demandam acesso e permanência na escola. Na história da educação, a

educação que hoje é denominada de jovens e adultos em outra perspectiva já

foi chamada de educação de adultos e de educação popular. A educação

popular é um paradigma educacional, se assim se pode dizer, que articula o

acesso ao conhecimento a processos emancipatórios. Ela foi desenvolvida no

contexto de movimentos populares e de trabalhadores. E nesse contexto,

Paulo Freire é um dos educadores que adensou o debate da educação popular

no Brasil, particularmente nos anos de 1960. A educação de adultos tem

trajetória secular na educação brasileira, tem como bandeira central a

superação da alfabetização e escolarização de jovens e adultos.

O saber ler e escrever, especialmente entre os adultos, foi motivo de

maior atenção na história da educação brasileira com a lei Saraiva ou “nova lei

eleitoral”, sancionada pelo imperador, em 9 de janeiro de 1882. A Lei Saraiva,

foi responsável pela modificação da lei vigente, abolindo as eleições indiretas e

adotando o critério da instrução, desta forma impedia o voto do analfabeto,

embora excluísse a maioria da população do acesso eleitoral, pois os votantes

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eram selecionados pelos seus rendimentos anuais líquidos, essa lei favoreceu

as camadas médias. Já a Constituição de 1891 eliminou a seleção por renda,

porém a manteve pelo aspecto da instrução escolar (PAIVA, 1987, p.82/83).

Havia expectativa entre aqueles que idealizavam a valorização da

educação de que a restrição ao voto do analfabeto fosse ampliar a expansão

do sistema escolar, algo que não aconteceu, pois no final do século XIX e início

do século XX, a maior parte da população do país era considerada analfabeta,

um número em torno de 80%.

Ainda segundo Paiva (1987, p.85), “O censo de 1890 informava a

existência de 85,21% de iletrados na população total.” O índice de

analfabetismo era motivo de vergonha nacional, e a educação passou a ser

necessária para a elevação cultural da nação. O adulto iletrado marcava uma

sociedade, então bastante desenvolvida. Era tratado como um ser “ignorante” e

como sujeito que precisava ser ajustado socialmente e a educação era um dos

caminhos para superar o atraso, que se dizia, no campo da política em que se

encontrava a sociedade brasileira. A educação básica de adultos começou a

delimitar seu lugar na história da educação no Brasil a partir da década de 30,

quando finalmente começa a consolidar um sistema público de educação

elementar no país.

Neste período, a sociedade brasileira passava por grandes

transformações, associadas ao processo de industrialização e concentração

populacional em centros urbanos. A ampliação da educação elementar foi

impulsionada pelo governo federal, que começava a organizar as diretrizes

educacionais para todo o país, determinando as responsabilidades dos estados

e municípios.

Com o fim da ditadura militar da era Vargas, em 1945, o país vivia a

efervescência política da redemocratização. A segunda Guerra Mundial recém-

terminada e a ONU (Organização das Nações Unidas) alertava para a urgência

de integrar os povos visando à paz e a democracia. Tudo isso, contribuiu para

que a educação dos adultos ganhasse destaque dentro da preocupação geral

com a educação elementar comum. Nesse período a educação dos adultos

define sua identidade tomando a forma de uma campanha nacional de massa,

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a campanha de educação de 1947. Essa campanha de educação de adultos

lançada em 1947 alimentou a reflexão e o debate em torno do analfabetismo

no Brasil.

Durante as décadas de 1950 e 1960, surgiram muitos movimentos de

educação popular e programas de alfabetização de adultos, tais como o

ocorrido em Recife, o Movimento de Cultura Popular (MCP), o qual consistia na

criação de escolas para o povo, como aproveitamento de salas de associações

de bairros, entidades esportivas e igrejas. Posteriormente, com a eleição de

Miguel Arraes, como não havia condições de construir escolas, procedeu-se a

ocupação de outros espaços e a fabricação de carteiras nas oficinas da

prefeitura, bem como a arrecadação de verbas juntos aos comerciantes aos

industriais e a população em geral.

O objetivo do MCP, conforme Beisiegel (1997, p.226), era “elevar o nível

cultural das massas, conscientizando-as paralelamente”. Além do trabalho de

alfabetização, novas frentes de ação foram elaboradas entre as quais se

destacam o teatro, os núcleos de cultura popular, os meios informais de

educação, o canto, a música, a dança popular e o artesanato. Como escreve

Brandão (2008, p.29):

Dentro de uma ampla prática de cultura popular possível fertilizar processos interativos, através dos quais atos e gestos de teor pedagógico poderia transformar consciência de pessoas e de grupos humanos. Esses grupos humanos de uma múltipla e diferenciada classe social podem se tornar capazes de reelaborar ideologicamente sua própria cultura. Por isso, as expressões educação como pratica da “liberdade” e a “ação cultural por liberdade” precisam ser enfatizados, e educação libertadora era um entre outros termos que mais tarde foi substituído por educação popular. Era esse trabalho dos centros popular de cultura popular (MCP).

Antes desses movimentos, existiu também a campanha “De pé no chão

também se aprende a ler”, desenvolvida em Natal e oriunda, de discussões

semelhantes ás que geraram o MCP, principalmente a ênfase nas carências

educacionais.

A década de 1950 e os anos iniciais da década de 1960 foi um período

de efervescência para a Educação de Jovens e Adultos. Durante este período

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surgiram muitas iniciativas governamentais e da sociedade civil em prol da

alfabetização de adultos e com propostas para a educação continuada destes

alfabetizados. A concepção pedagógica que direcionou os vários movimentos

de alfabetização nesse período tinha como base o trabalho desenvolvido por

Paulo Freire, no que ficou conhecido como o Método Paulo Freire. Porém todos

os programas implementados neste período foram encerrados com o Golpe

Militar de 1964.

O fechamento político ocorrido com a ditadura militar iniciada em março

de 1964 fechou os programas de alfabetização inspirados nos movimentos de

cultura popular e no trabalho de Paulo Freire, além de perseguir o educador

tendo este de fugir do país, permanecendo fora do Brasil até a abertura política

na década de 1980.

Durante a ditadura militar, por força da pressão popular por educação e

também por compromissos com organismos internacionais os militares

lançaram o seu programa de alfabetização, o MOBRAL - Movimento Brasileiro

de Alfabetização, em 1967. Este programa segundo Haddad e Pierro (2000)

Passou a se configurar como um programa que, por um lado, atendesse aos objetivos de dar uma resposta aos marginalizados do sistema escolar e, por outro, atendesse aos objetivos políticos dos governos militares. (p. 114)

O Mobral foi o grande programa de educação de adultos do período

militar que além de oferecer programas de alfabetização junto a estados e

municípios, também ampliou os seus ramos de atuação para ofertar o ensino

supletivo. Embora dizendo-se inspirado na proposta freireana, estava longe de

atender às questões básicas do Método de Paulo Freire que tinha como meta a

problematização e conscientização política por meio da alfabetização. O

material empregado para a alfabetização no Mobral não tinha nada de

problematizador, embora trabalhasse com palavras-chave, era o mesmo

material para todo e qualquer grupo de alfabetizados, desconsiderando o que

no método Paulo Freire seria a leitura de mundo dos alfabetizandos, retirando

daí as palavras-chave para o processo de alfabetização.

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O Mobral permaneceu como o único programa de educação de adultos

por mais de uma década e como afirma Haddad e Pierro (2000)

O MOBRAL, ao final da década de 1970, passaria por modificações nos seus objetivos, ampliando para outros campos de trabalho – desde a educação comunitária a educação de crianças –, em um processo de permanente metamorfose que visava a sua sobrevivência diante dos cada vez mais claros fracassos nos objetivos iniciais de superar o analfabetismo no Brasil.(p. 116).

A educação de jovens e adultos no período posterior a abertura política

em 1985 foi “[...] marcada pela contradição”, pois, se por um lado se afirmava

esse direito “no plano jurídico do direito formal da população jovem e adulta à

educação básica”, por outro lado havia a negação desse direito “pelas políticas

públicas concretas” (HADDAD e PIERRO, 2000, p.119). O que aconteceu

nesse período foi o fim do Mobral, substituído em 1985 pela Fundação

Nacional para Educação de Jovens e Adultos – Educar.

O período seguinte à redemocratização marcou os movimentos políticos

e sociais de retomada da democracia e também dos movimentos em prol da

educação e da construção da nova Carta Constitucional que garantisse os

direitos e anseios da sociedade. E foi justamente a Constituição de 1988 que

garantiu a educação para jovens e adultos que não haviam conseguido sua

escolarização no tempo normal. Sobre esta questão Haddad e Pierro (2000)

afirmam que

Nenhum feito no terreno institucional foi mais importante para a educação de jovens e adultos nesse período que a conquista do direito universal ao ensino fundamental público e gratuito, independentemente de idade, consagrado no Artigo 208 da Constituição de 1988. Além dessa garantia constitucional, as disposições transitórias da Carta Magna estabeleceram um prazo de dez anos durante os quais os governos e a sociedade civil deveriam concentrar esforços para a erradicação do analfabetismo e a universalização do ensino fundamental, objetivos aos quais deveriam ser dedicados 50% dos recursos vinculados à educação dos três níveis de governo (p. 120).

Embora a Constituição de 1988 tenha trazido esse avanço nos direitos

de jovens e adultos não escolarizados à alfabetização e à educação básica,

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percebe-se que os avanços são muito poucos em relação à oferta de educação

de jovens e adultos, à melhoria da qualidade da educação oferecida, e

principalmente, aos resultados dessa educação. Os programas de

alfabetização promovidos pelos governos até o momento não garantem uma

qualidade na alfabetização, nem garantem também a permanência de jovens e

adultos na escola, promovendo assim a escolarização, de fato, desse

segmento da população. A evasão apresentada nas escolas que oferecem

Educação de Jovens e Adultos é bastante significativa e preocupante, pois nos

leva a questionar os tempos e espaços destinados à EJA, além da formação

dos professores que trabalham com esse segmento.

2.2. Os Sujeitos da EJA: Jovens e Adultos Trabalhadores

Ao tratarmos sobre a educação de jovens e adultos é preciso nos

perguntar: quem são os sujeitos dessa educação? Quais suas características?

O que eles/elas desejam? São questões complexas que não são facilmente

respondidas, mas podemos responder a primeira dizendo que os sujeitos da

EJA são jovens e adultos trabalhadores que não conseguiram realizar a sua

escolarização no período que a maioria das crianças e jovens realiza – a

infância e a adolescência. Por diversas razões – sobrevivência e por isso

necessitaram trabalhar, migrações em busca de melhores condições de vida,

desajustes familiares, falta de escola perto de onde moravam – apenas para

citar alguns exemplos. E, se podemos falar de uma característica geral desses

sujeitos é que eles/elas pertencem às camadas mais pobres da população

brasileira.

Os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas condições

de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego, etc.) que muitas

vezes estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os baixos

salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de

alfabetização desses alunos e também a possibilidade de continuarem na

escola e concluírem sua escolarização.

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Deste modo é preciso entender que o público alvo da EJA é

heterogêneo, marcado por trajetórias e necessidades diferentes, e por isso

mesmo não é possível se pensar numa educação para esse segmento nos

moldes da educação oferecida às crianças e jovens do ensino regular.

Tradicionalmente, a escola tem sido marcada em sua organização por critérios

seletivos que tem como base a concepção da homogeneidade do ensino. Esta

concepção reflete um modelo caracterizado pela uniformidade em todos os

aspectos da abordagem educacional: no currículo, no material didático, no

planejamento, numa aula, no conteúdo curricular, na atividade para todos em

sala de aula. O estudante que não se enquadra nesta abordagem permanece á

margem da escolarização, fracassa na escola ou é levado a evadir. O não

reconhecimento da heterogeneidade dos alunos da EJA contribui para

aprofundar as desigualdades educacionais ao invés de combatê-las.

Para que a educação de jovens e adultos sirva aos seus propósitos se

faz necessário um currículo, tempos e espaços que respondam às

necessidades de sua clientela, além de profissionais que tenham uma

formação para trabalhar com jovens e adultos. O professor deve ser o

mediador do conhecimento desses alunos, e, portanto tem que ter o

conhecimento necessário do universo, dos anseios e das necessidades

daqueles que buscam a educação de jovens e adultos.

Paulo Freire diz em seu livro “A pedagogia do Oprimido” que não há

nada melhor para o desenvolvimento dos alunos, que o respeito aos

conhecimentos que o aluno traz consigo para a escola, sendo o dever do

professor, e mesmo da instituição instigar para que esses conhecimentos

sejam ampliados e melhor, entendidos em um contexto mais amplo. É nessa

perspectiva que deve ser a educação de jovens e adultos, partindo do

conhecimento que trazem os alunos, mas também ampliando esse

conhecimento, levando os alunos e alunas da EJA a terem acesso aos

conhecimentos historicamente produzidos, porém, diferente das crianças e

adolescentes do ensino regular, esses conhecimentos precisam ser

selecionados para responder aos anseios, expectativas e desejos dos adultos e

jovens que buscam a EJA.

23

Page 17: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

CAPÍTULO III

3. ABORDAGEM METODOLÓGICA

A pesquisa nas ciências sociais se faz a partir da abordagem qualitativa,

pois nos permite ter um contato direto entre o pesquisador e objeto pesquisado,

além de nos permitir investigar situações que as demais abordagens não

permitem em virtude da sua complexidade como também possibilita o

aprofundamento da pesquisa. Minayo (1994, p.21) afirma que a

Pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com universo de significados motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à, operacionalização de invariáveis.

Desse modo, por trabalhar com o universo de significados “a pesquisa

qualitativa responde a questão muito particulares. Ela se preocupa, nas

ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificados”

(DESLANDES, 1994, p.21) sendo priorizado o espaço natural dos sujeitos.

Diante disso, optou-se pela pesquisa qualitativa uma vez que esta nos propicia,

enquanto pesquisador, vivenciar experiências ao tempo que procura garantir a

representação de dados baseados em critérios de qualidade, tomando como

base a entrevista semi-estruturada que nos possibilita compreender o que os

sujeitos dizem e pensam sobre o tema pesquisado.

3.1. Locus da pesquisa

O locus de pesquisa permite ao pesquisador observar, questionar,

investigar e analisar o objeto estudado. Assim, o nosso locus de pesquisa foi o

24

Page 18: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

Ginásio Antônio Simões Valadares, localizado na cidade de Itiúba, Bahia, à

Rua Vereador Ademir Simões Freitas, nº 172, no Bairro do Alto. O referido

Ginásio foi fundado em 06/05/1969. No início era apenas a diretoria, uma sala

de professores, 4 salas de aula, dois sanitários, sendo um masculino e um

feminino, um auditório, que mais tarde o auditório foi dividido para ser classes

de 7ª e 8ª séries.

O Ginásio funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno,

atendendo uma clientela do nível fundamental I do 1º ao 5º ano, II do 6º ao 9º

ano e EJA I e II, é considerado de grande porte, conta com 14 salas de aula,

uma sala para professores, uma secretaria, uma diretoria e coordenação, dois

banheiros para funcionários, uma sala de vídeo, quatro banheiros, dois

masculinos e dois femininos, uma quadra de esportes, um pátio arborizado,

uma cantina com depósito para merenda, cisterna com água de chuva, uma

sala de informática, espaço com horta e uma biblioteca.

A escola funciona nos três turnos, como já foi dito anteriormente. Ainda

há extensões dessa escola nos povoados de Picos, Cacimbas, Taquari, Sítio

dos Moços, Alto do São Gonçalo e Ponta Baixa. O vínculo entre escola e

comunidade ainda é restrito, dar-se apenas em reuniões de pais e mestres, ao

final de cada unidade e em eventos realizados na escola. A escola possui

professores que fazem parte do quadro docente, são profissionais, efetivos e

concursados, 20% possuem nível superior completo nas diversas áreas e 59%

cursando o 3º grau e 12% em magistério. Os demais funcionários, porteiros,

secretários, tarefeiros e merendeiras são efetivos e concursados, estes que

contribuem e colaboram no ensino – aprendizagem.

No referido ginásio há materiais como TV, DVD, Vídeo, Computador com

impressora, retro – projetor, livros didáticos, caixa de som, microfone, mapas,

jogos educativos e outros, todos disponíveis para os professores desenvolver

um excelente trabalho. No citado ginásio há um projeto político pedagógico

(PPP) que orienta aos professores desta instituição a trabalhar com as

disciplinas nas salas da EJA, além de trabalhar os valores éticos, políticos e

religiosos.

25

Page 19: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

3.2. Sujeitos da pesquisa

Durante todo o processo de pesquisa observamos que a mesma permite

a aproximação do pesquisador e o seu objeto de estudo. Na pesquisa foi

observada que a quantidade de pessoas não é tão importante quanto a

preexistência em olhar a questão com outros ângulos (GOLDENBERG, 2000,

p.83). Daí, os sujeitos escolhidos para participar da pesquisa, foram os

professores e alunos, da EJA do Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares.

Assim tivemos 03 alunos que foram entrevistados e 04 professores que

responderam a um questionário aberto.

Na discussão dos resultados, optamos por resguardar os nomes e não

identificar diretamente os sujeitos entrevistados, preservando suas identidades.

A partir de procedimentos baseados nas entrevistas, procura-se conhecer o

que pensam os entrevistados em relação a problemática da Evasão Escolar da

EJA (Educação de Jovens e Adultos) no Ginásio Municipal de Itiúba, Bahia.

Usamos para nos referir aos alunos a letra A maiúscula mais um número, o

mesmo procedimento foi feito com os professores, usando a letra P maiúscula

mais um número.

3.3. Instrumentos de coleta de dados e perspectivas de análise

Para alcançar os objetivos desta pesquisa utilizamos como instrumentos

de coleta de dados o questionário aberto e a entrevista semi-estruturada que

nos possibilitassem identificar as causas da evasão dos alunos da EJA e por

que eles sempre retornam para a escola. Segundo Goldenberg (2000)

A pesquisa cientifica requer flexibilidade, capacidade de observação e de interação com os observados. Seus instrumentos devem ser corrigidos adaptados durante todo o processo de trabalho, visando aos objetivos da pesquisa. No entanto, não se pode iniciar uma pesquisa sem se prever os passos que deverão ser dados (p. 79).

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Page 20: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

Desse modo, é preciso que o pesquisador esteja em contato com os

sujeitos utilizando-se de instrumentos que possibilitem a coleta de dados

necessária à interpretação de uma determinada realidade favorecendo, assim,

uma possível intervenção na mesma. No estudo de caso etnográfico, visto

tratar-se de fenômenos ocorridos no âmbito da escola, buscamos por meio da

pesquisa compreender a evasão escolar de Jovens e Adultos do Colégio

pesquisado, neste sentido

O pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação ou problema, focalizando-o como um todo. Esse tipo de abordagem enfatiza a complexidade natural das situações, evidenciando a Inter-relação dos seus componentes. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.19).

Utilizamos o método descritivo. O principal elemento referenciado para

realizar esta pesquisa, encontra-se no número de alunos evadidos da EJA do

Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares no turno noturno. Analisando as

respostas elaboradas na forma de questionário, sentimos a necessidade de

confrontar os dados referentes a evasão com opiniões de alunos que ainda

frequentam a escola. É importante ressaltar que os problemas

socioeconômicos, psicológicos, ambientes familiares, questões culturais, ações

metodológicas e pedagógicas, são elementos que influenciam na trajetória do

aluno no processo de ensino. Portanto pensando nestes inúmeros fatores

decidimos também trabalhar com os professores e a direção da escola.

A retomada de aspectos-base do assunto tem como principal foco

manter acesa a discussão e reiterar que educação é processo, salientando que

não existe processo sem que haja sujeitos envolvidos em atividades que exijam

planejamento, execução e avaliação de resultados. Vale lembrar que utilizamos

a pesquisa bibliográfica, assim enriquecendo o nosso trabalho. O trabalho

elaborado está organizado da seguinte forma: entrevistas com 03 alunos da

EJA e um questionário aberto aplicado com 04 professores, e este material que

analisamos no capítulo que se segue.

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Page 21: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

CAPÍTULO IV

4.1. A evasão dos alunos da EJA no Ginásio Municipal Antônio Simões

Valadares: o que dizem os sujeitos da pesquisa

Neste capítulo apresentamos a análise e reflexão dos dados coletados

no campo da pesquisa buscando compreender o porquê os alunos da

Educação de Jovens e Adultos do Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares

evadem, quais as causas que os levam a abandonarem a escola, por que

retornam sempre e o que representa a escola para eles.

Através dos resultados dos questionários e entrevistas realizados com

os alunos, observa-se que as respostas são parecidas, demonstrando a

similaridade nas histórias de vida dos sujeitos, devido os mesmos serem

oriundos das camadas mais pobres da população do município. Dos cinco

alunos participantes da pesquisa, dois responderam um questionário e três

aceitaram ser entrevistados. Analisaremos em primeiro momento os resultados

obtidos com os alunos e na sequência analisamos os resultados obtidos com o

questionário realizado com os professores. Utilizaremos a letra A maiúscula

para nos referirmos aos alunos junto com um numero: A1, A2, A3, A4, . E para

nos referirmos aos professores usaremos P mais o numero: P1, P2, P3, etc.

4.1.1. Com a palavra, os alunos do Ginásio Municipal Antônio

Simões Valadares: análise das entrevistas

Iniciamos a entrevista perguntando aos alunos por que eles estudavam

para tentar compreender qual a importância da escola e do conhecimento

escolarizado para estes alunos. Dos 03 entrevistados, os alunos A2 e A3

disseram simplesmente “porque é bom e importante”. O terceiro aluno

estendeu-se um pouco mais

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Page 22: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

A1. “Para aprender alguma coisa e por ser muito importante porque sem estudo a pessoa não é ninguém”.

Nota-se nas falas dos entrevistados que todos acham o estudo

importante e por isso estão estudando. Mas na resposta de A1, percebe-se que

este entende que a escola, ou o saber escolar tem um significado social ao

afirmar que “sem estudo a pessoa não é ninguém”, mostrando que o

conhecimento escolarizado é valorizado pela sociedade e que, quem não o

possui é excluído da mesma.

Perguntamos também se eles eram repetentes e há quanto tempo

estavam estudando em turmas de EJA. Dos três entrevistados apenas o aluno

A3 não era repetente, os outros dois falaram que desistiram, mas não dizem

quantos anos ficaram fora da escola, talvez por vergonha. E quando indagados

há quanto tempo estavam nas turmas de EJA, A1 respondeu que está há três

anos, A2, está há dois anos e A3 respondeu que está estudando em uma

turma de EJA pela primeira vez. Percebe-se que eles não se aprofundam em

suas falas, por se mostrarem inibidos diante das entrevistas.

Procuramos saber também por que é importante estudar e se os

conhecimentos adquiridos na escola são importantes para tomar alguma

decisão na vida. Ao responderem a esses questionamentos eles o fazem de

maneira genérica enfatizando que é importante para vencer na vida, para ter

uma vida melhor e para aprender mais, porém não especificam nenhum

conhecimento.

A1. “É muito importante estudar, porque sem estudo ninguém vence na vida”.

A2. “É para eu ter uma qualidade de vida melhor”.

A3. “Porque é importante estudar para aprender mais”.

Quando questionamos os alunos sobre o que eles, de fato, aprenderam

na escola mais uma vez recebemos uma resposta genérica de A1 e A2, sem

que eles pudessem especificar o que tem aprendido. A3 volta a enfatizar a

importância de estudar para ser alguém na vida.

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Page 23: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

A1. “Aprendi muitas coisas novas”.

A2. “Aprendi muitas coisas novas”.

A3. “Por eu ter parado de estudar muito tempo, estudar é a melhor coisa que está acontecendo em minha vida, sei que sem estudo ninguém é ninguém, estou estudando para vencer na vida”.

Dos três sujeitos pesquisados dois deram a mesma resposta, apenas

um, estendeu e aprofundou mais em sua fala. Percebe-se também que os

sujeitos não citaram quais as coisas novas eles aprenderam, por mais que

tentássemos que eles dessem respostas mais coerentes, eles se retraiam e

falavam poucas frases.

Ao perguntarmos aos alunos o que eles haviam conquistado, de fato, na

escola eles foram um pouco mais expansivos na resposta, exaltando pontos

positivos nessa conquista tais como respeito, valores, além de conhecimentos.

A1. “Conquistei o aprendizado, a educação, o respeito ao próximo, valores que conquistei na escola e conhecimento que ela me proporcionou”.

A2. “E ter mais conhecimento nos estudos, a escola é o lugar que oferece oportunidade de aprender a ler, a escrever e abre portas para o conhecimento, para o novo e para a realidade”.

A3. “É através da escola que se pode conquistar coisas boas, importantes para qualquer pessoa e é a oportunidade para trabalhar e fazer parte da sociedade”.

Percebe-se nas falas dos sujeitos pesquisados que eles acreditam ou

pelo menos repetem o discurso, de que é através do conhecimento

escolarizado que se consegue melhores condições de vida. Nesta pergunta

eles falaram mais, se mostraram mais desinibidos, mostrando o que eles

almejam da escola. Pelas falas dos alunos percebemos o que eles buscam na

escola, o que esperam dela.

As questões acima respondidas pelos alunos nos mostram que eles

sabem da importância da escola para suas vidas, do significado social que tem

30

Page 24: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

aqueles que se apropriam do saber escolarizado e que, quem não detém esse

conhecimento é estigmatizado, excluído da sociedade e do mundo do trabalho.

Mas quando refletimos sobre algumas das questões colocadas acima e

as respostas dadas pelos alunos, como por exemplo, por que é importante

estudar, o que eles aprenderam na escola e se o que aprenderam os ajudam

nas decisões do dia-a-dia percebemos a imprecisão nas respostas, e nos faz

pensar se essa percepção genérica não se deve justamente à distância entre

os conhecimentos ensinados na EJA e a vida concreta desses alunos pois

como afirma Arroyo (2007) os conhecimentos ensinados aos alunos da EJA

devem ser

Conhecimentos que esclareçam suas indagações, que os ajudam a entender-se como indivíduos e sobretudo como coletivos. Tão vulneráveis, em percursos humanos tão precarizados. A função de todo conhecimento é melhor entender-nos no mundo e na sociedade. (p.10)

O que nos parece que está longe de ter esse sentido para os alunos que

frequentam a escola pesquisada, pois não conseguem especificar esses

conteúdos aprendidos e a sua materialização em suas vidas.

Quando questionamos os alunos sobre sua frequência na escola e o que

provoca a evasão da mesma, obtivemos respostas parecidas de A1 e A2 que

são alunos repetentes em turma de EJA, e uma resposta de A3 sobre o que ele

imagina que seja a causa dessa evasão:

A1. “Apesar de ser um bom projeto da educação, desistir de estudar muito tempo, porque tinha que trabalhar, também pelo preconceito que ate hoje existe com os alunos que estuda no EJA”.

A2. “Eu deixei de estudar há 15 anos mais tem dois anos que eu estudo, deixei de estudar para trabalhar, porque morava no campo e isso foi difícil a frequentar a escola”.

A3. “Muitos desistem por motivos pessoais, como doença, viajar para trabalhar fora, um por causa da bebida e das drogas”.

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Page 25: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

Percebe-se nas falas de A1 e A2 que, enquanto alunos de EJA que

precisaram afastar-se da escola, sabem exatamente porque a maioria evade,

pois os motivos quase sempre são a necessidade de trabalhar para garantir a

sobrevivência, além da dificuldade de uma escola perto de casa. Claro que a

questão da bebida ou das drogas pode estar, em menor número, nos motivos

para a evasão mesmo numa cidade pequena como Itiúba.

Quando questionados se haviam se arrependido de ter parado de

estudar e se agora eles pensavam em continuar os estudos e por que, os

alunos confirmaram as respostas dadas anteriormente sobre o motivo do

abandono: o trabalho. E o motivo de seguir estudando enfatizam a crenças que

tem na escola, de com o estudo ter uma vida melhor.

A1. “[...] me arrependi, mais tinha que trabalhar. Quero continuar estudando para garantir meu futuro, para eu fazer concursos e me efetivar e me assegurar do emprego e alcançar meus objetivos”.

A2. “[...] eu tinha que trabalhar por isso parei de estudar. Quero continuar estudando porque quero ter alguma coisa na vida e sonho por dias melhores”.

A3. “Me arrependi, deixei para trabalhar. Estudar para eu ter mais conhecimento das coisas que acontece ao meu redor e também que acontece no mundo passei muitos anos sem estudar e isso dificultou muito na minha vida, foi ruim, porque só com estudo é que se conquista o que é bom e valoroso”.

Por último perguntamos sobre a metodologia utilizada pelos professores,

se esta contribuía ou ajudava no aprendizado deles. Dos três alunos

entrevistados apenas A3 respondeu que sim, sendo justamente aquele que

estava começando na EJA pela primeira vez. A1 e A2 que já eram repetentes

disseram que faltava uma melhor “explicação” por parte dos professores.

A1. “Acho que deveria haver mais explicação para que os alunos entendam melhor e com clareza os assuntos dados na sala de aula, acho que deveria ter mais dinâmicas para nos chamar atenção e nos despertasse a vontade de aprender mais”.

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Page 26: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

A2. “Não. É preciso ter professores preparados, sei que os professores se sentem seguros, mais tem certa dificuldade em explicar os assuntos”.

A3. “Sim”.

Nota-se nos comentários de A1 e A2 certo descontentamento a respeito

da metodologia aplicada em sala de aula. Isso nos faz pensar sobre os

professores da EJA, pois estes precisam ter uma formação específica como se

almeja para os professores da educação infantil ou outra modalidade de

ensino. Não se pode achar que para trabalhar com jovens e adultos

trabalhadores, o professor não necessita de uma formação especifica. Nesse

sentido concordamos com Ribeiro (1999) ao afirmar que

Os professores de jovens e adultos devem estar aptos a repensar a organização disciplinar e de séries, no sentido de abrir possibilidades para que os educandos realizem percursos formativos mais diversificados, mais apropriados às suas condições de vida. Os jovens e adultos merecem experimentar novos meios de aprendizagem e progressão nos estudos, que não aqueles que provavelmente os impediram de levar a termo sua escolarização anteriormente. (p. 195).

4.1.2. O que tem a dizer os professores da EJA do G. M. A. S. V: análise do

questionário aberto aplicado aos professores

Analisamos o conteúdo dos questionários aplicados com os sujeitos-

professores do G. M. A. S. V., sobre a evasão dos alunos da EJA, inicialmente

para compreender o que os professores pensavam sobre a EJA, se tinham

formação específica para essa modalidade de ensino e qual a concepção

teórico metodológica sobre a EJA.

4.1.2.1. Cursos de capacitação ou formação para a EJA e tempo de

serviço

P1. “Fiz cursos de capacitação e de formação continuada em 1998. Sou pós-graduada em psicopedagogia clinica e

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Page 27: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

institucional, atuo no magistério há 20 anos e na sala da EJA há 14 anos”.

P2. “Não apenas curso de formação continuada, sou pedagoga, atuo no magistério há 30 anos e na EJA já tem 20 anos, creio que sou capaz para lidar com os alunos da EJA”.

P3. “Não respondeu”.

P4. “Não, por não termos apoio por parte da secretaria e dos demais órgãos”.

Dos 04 professores que responderam ao questionário, um não

respondeu a questão sobre a formação e o tempo de serviço, um fez curso de

capacitação e dois não fizeram. Percebe-se que neste aspecto os professores

trabalham com jovens e adultos trabalhadores, provavelmente, com a mesma

visão que tiveram de sua formação voltada para crianças e adolescentes, o que

é muito diferente do trabalho na EJA.

Ao serem questionados sobre o que entendem por Educação de Jovens

e Adultos-EJA e quais os fundamentos teóricos do seu trabalho com a EJA.

Percebe-se que os 04 professores têm algum conhecimento sobre o que seja a

Educação de Jovens e Adultos, ainda que seja de forma genérica. Quanto aos

fundamentos de seu trabalho pedagógico, 02 dos professores citam Paulo

Freire, e 01 dos professores cita Piaget como referência para seu trabalho, o

que suscita que este professor pode estar referenciado na experiência dele

com o ensino fundamental de crianças e adolescentes, enquanto 01 professor

não respondeu a esta questão. Vejamos o que dizem os professores:

4.1.2.2. O que entende por EJA e o posicionamento teórico que

fundamenta o trabalho

P1. “A educação de jovens e adultos onde a práxis pedagógica se baseia e intensifica no educando como ativo e critico na sociedade vigente um trabalhador. (fundamenta-se em) Piaget, diante da versatilidade da metodologia, sendo que outros educadores (pensadores teóricos) também faz parte e permeiam a metodologia da minha práxis pedagógica de o educando é o centro e elo do processo de aprendizagem”.

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Page 28: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

P2. “Entendendo que é uma aprendizagem e qualificação permanente não suplementar, mas fundamental e que favoreça a emancipação do educando com o acolhimento dos seus conhecimentos interesses e necessidades de aprendizagem. (fundamenta-e em) Sim, PE LANDRE, Paulo Freire, não como metodologia de ensino, mas como teoria do conhecimento, muito mais um método de aprender, conhecer, que de ensinar”.

P3. “A educação de jovens e adultos vem sendo um veículo que dá o direito a cidadania substancial aqueles que não tiveram acesso á escolarização na idade apropriada dando aos mesmos a oportunidade de inclusão também”. (Não respondeu sobre em que se fundamenta).

P4. “É a educação de jovens e adultos. (fundamenta-e em) Paulo Freire – pois o mesmo começava pela base”.

Embora os professores tentem colocar explicitar sua concepção teórica,

ainda não está claro para estes, o que fundamenta seu trabalho e como essa

teoria está presente em seu trabalho. Assim questionamos, para tentar aclarar

o que eles entendem sobre EJA, qual a visão deles sobre essa modalidade de

ensino. Somente 03 professores responderam a esta questão.

4.1.2.3. Visão de EJA dos professores

P1. “É o mecanismo através do qual humanizamos, conscientizamos e letramos o cidadão da nossa sociedade, fazendo com a valorização dos seus conhecimentos, que esses alunos possam ampliar as suas possibilidades de socialização, que possam participar de uma sociedade com independência e autonomia, principalmente no ensino de historia que precisa está ligada a transformação social”.

P3. “O EJA é um programa do governo para preparar o aluno para o mercado de trabalho formando cidadãos conscientes de seus direitos e deveres”.

P4. “Em relação ao nosso município, ainda há muita coisa a se fazer por ela (EJA). Pois disponibilizamos de pouco material para que assim tenhamos aulas mais enriquecidas”.

Dos 03 professores que responderam a questão percebemos que cada

um vê a EJA de uma perspectiva diferente. Enquanto P1 afirma que a EJA é

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Page 29: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

instrumento de humanização e conscientização e que vai ampliar suas

possibilidades de socialização e independência na sociedade, P2 tem uma

visão meio contraditória da EJA vista por este professor, ao mesmo tempo,

como um programa de governo que prepara o aluno para o mercado de

trabalho e também lhe dar uma formação consciente de cidadania. P4 refere-se

às dificuldades encontradas no município com relação à EJA, referindo-se à

falta de materiais que os auxiliem na elaboração das aulas. Nota-se que as

respostas divergem em relação a visão que tem os professores que atuam na

sala de aula da EJA.

Pedimos também que os professores falassem sobre os seus alunos,

como eles os percebiam a partir da sua visão sobre a EJA, se eles conheciam

a realidade socioeconômica dos alunos.

4.1.2.4. A realidade socioeconômica de seus alunos

P1. “Classe baixa (empregada doméstica, serventes e diaristas) a maioria recebe menos de um salário mínimo, quando empregada; em pouquíssimas exceções grande parte é desempregada”.

P2. “De classe baixa, sem renda, os que trabalham recebem salários abaixo do mínimo, sem registro e muitos são trabalhadores rurais”.

P3. “Baixa renda, a maioria deles vem de famílias desestruturadas com problemas de alcoolismo, drogas, separação de pais, além da falta de emprego e com a autoestima nos pés”.

P4. “A maioria dos alunos é de classe baixa”.

Em suas respostam, os professores demonstram conhecer a realidade

socioeconômica dos alunos, porém não basta apenas constar esse fato, é

preciso que o trabalho pedagógico do professor leve em consideração essa

realidade não no sentido de pauperizar o conhecimento destinado a esses

alunos, mas tendo essa realidade como ponto de partida, possibilitar a

apropriação dos conhecimentos necessários para a vida desses alunos.

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Page 30: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

Para que pudéssemos entender a relação entre a visão que os

professores têm dos alunos, e a metodologia utilizada, procuramos saber sobre

os recursos que utiliza e se o material didático é adequado com a realidade

dos alunos. Apenas P4 não respondeu à primeira questão, sobre o que acha

dos recursos que utiliza. Percebemos que os professores têm opiniões

diferentes sobre essas questões como vemos a seguir.

4.1.2.5. O que acha dos recursos que utiliza na EJA. O material didático

que utiliza é coerente com a realidade dos alunos

P1. “Muito bom; a escola disponibiliza de excelentes recursos audiovisuais e didáticos, sendo o livro didático muito utilizado e de excelente qualidade. (se é coerente) Sim, porque atende a necessidade dos alunos no processo ensino – aprendizagem”.

P2. “Acho que são importantes porque precisamos substituir metodologia de ensino de visão, racionalista e padronizada por novos recursos de linguagens modernas. A utilização desses recursos de forma responsável pode trazer soluções pedagógicas inovadoras. (se é coerente) Sim, porque atendem as perspectivas de aprendizagem dos alunos”.

P3. “São produtos ou recursos muito avançados para a realidade dos alunos. Por isso utilizamos outros recursos. (se é coerente) Mais ou menos, pois às vezes não temos material suficiente para trabalhar com os alunos individualmente, pelo motivo já citado antes (faltou recurso para a EJA), mas o pouco que temos dá pra ser coerente com a realidade deles”.

P4. (se é coerente) “Não, porque o material didático esta fora da realidade dos alunos e também do professor por não ter sido preparado adequadamente”.

De acordo com P1 e P2 os recursos que utilizam são bons e importantes

e a escola disponibiliza para eles trabalharem. Já P3 afirma que os recursos

disponibilizados pela escola são muito avançados para os alunos e por isso

utiliza outros, embora não diga quais. Com relação à coerência do material com

a realidade dos alunos a opinião se divide, P1 e P2 afirmam que é coerente e

que atende as necessidades e expectativas dos alunos. P3 diz que é mais ou

menos coerente, pois às vezes não tem material suficiente para trabalhar; e P4

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Page 31: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

afirma categoricamente que não é coerente, pois está fora da realidade dos

alunos e também do professor, pois este não sabe como usar, visto que não

teve formação para tal.

E sobre esta afirmação de P4 trazemos para análise a última questão

respondida pelos professores através do questionário aberto. Perguntamos aos

professores quais as dificuldades que eles encontravam na realização do seu

trabalho enquanto professores da EJA. Vejamos o que eles dizem.

4.1.2.6. As dificuldades encontradas na prática profissional da EJA

P1. “Curso de formação continuada para nos direcionar na metodologia diária”.

P2. “No inicio as dificuldades encontradas com a EJA, não decorreram muitas vezes das especificidades desta modalidade, mas de lacunas da nossa formação geral, no entanto com a participação dos cursos de formação continuada, as possibilidades para o processo se tornaram visíveis”.

P3. “A evasão, a falta de compromisso deles para com a escola, para consigo mesmo, uma sala exclusiva para cada disciplina como: sala de laboratório de ciências, de geografia..”.

P4. “A deficiência de recursos didáticos, desistência do aluno, a falta de motivação e preparação”.

Percebemos que as falas dos professores se dividem em duas

vertentes. A primeira, que aparece nas falas de P1 e P2 diz respeito as

dificuldades referentes à formação para trabalhar com Educação de Jovens e

Adultos pois falam da necessidade de formação continuada e de lacunas em

sua formação inicial. A segunda vertente está nas falas de P3 e P4 quando

afirmam que as dificuldades/deficiências estão nos alunos, em sua falta de

compromisso, de motivação, nos problemas estruturais (recursos didáticos,

salas de laboratório/ ambientes de ciências, geografia, etc.).

Nota-se que a evasão dos alunos do Ginásio Municipal Antônio Simões

Valadares, estão atrelados a diversos fatores, mas percebe-se também que os

professores que atuam nas salas da EJA não estão preparados para atuarem

38

Page 32: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

nas salas de aula desses jovens e adultos. Portanto é necessário refletirmos

sobre a prática educacional e os sujeitos que estão inseridos na construção

desse processo para que possamos compreender a construção e a presença

da educação de jovens e adultos a fim de diminuir o índice da evasão nesta

escola.

39

Page 33: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho procuramos compreender as causas e consequências da

evasão escolar no ensino de jovens e adultos do G.M.A.S.V. ao tentarmos

ouvir alunos e professores desta instituição. Desde já queremos dizer que não

é fácil visto que são muitos fatores que interferem no abandono da escola pelos

alunos. Podemos aqui supor algumas conclusões que não são definitivas e,

portanto, estão abertas para novas investigações.

Observamos durante a pesquisa realizada que a educação de jovens e

adultos muitas vezes não corresponde às expectativas da qualificação dos

professores devido às teorias estarem distantes da técnica desses profissionais

e de eles não terem uma compreensão clara do trabalho com jovens e adultos,

em decorrência de sua falta de formação para essa modalidade de ensino.

Sabemos que vivemos num mundo letrado e de grande exigência no uso

da leitura, da escrita e na interpretação dos diversos símbolos que ilustram o

mundo moderno. Diante das diversas situações analisadas, tivemos a certeza

de que as práticas pedagógicas aplicadas por alguns professores da EJA não

são convergentes com a proposta metodológica apresentada para essa

modalidade de ensino. É necessário rever alguns pontos do sistema de ensino

para os jovens e adultos, estes que necessitam de serem avaliados a partir de

uma metodologia aplicada que leve em consideração as especificidades

desses alunos e de seus percursos de aprendizagem. Pois como percebemos,

além dos problemas enfrentados pelos jovens e adultos para permanecerem na

escola (a necessidade de trabalhar aparece como a principal dificuldade em

permanecer na escola) e obterem sua escolarização, ainda enfrentam outros

obstáculos na própria escola, tais como a falta de preparação dos professores,

materiais inadequados ou a falta deles, tempos e espaços que remetem à

escola oferecida às crianças e adolescentes do ensino regular.

Pudemos perceber que o grande problema nesta comunidade escolar é

atribuído ao fator econômico, pois a mesma encontra-se inserida num

município que não dispõe de muitas alternativas de trabalho, mas notamos

40

Page 34: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

também que as aulas não são repassadas de acordo com a capacidade dos

alunos.

A questão da evasão escolar, ocorre de modo geral em todas as escolas

do país, devido ao crescimento populacional como também à problemas de

ordem familiar e social. Portanto a evasão deve ser vista como um problema de

caráter social e econômico. A evasão é um fator poderoso e assim os jovens e

adultos são desestimulados a continuar na escola, eles se sentem inseguros e

são considerados diferentes e isso abala sua autoestima, fazendo com que

evadam.

As marcas que trazem os jovens e adultos deixam sequelas nas vidas

deles e talvez uma ferida que nunca se feche ou deixe cicatrizes para o resto

de suas vidas. Diante das diversas situações analisadas, temos certeza de que

a forma metodológica aplicada não condiz com a realidade da clientela da EJA.

Desta forma podemos supor, a partir da pesquisa realizada, que a questão da

evasão do Ginásio Municipal Antônio Simões Valadares, só poderá mudar este

quadro com muita luta e vontade, criando novos mecanismos didáticos que

possa chamar a atenção dos jovens e adultos em sala de aula, buscando o

diálogo, procurando conhecer melhor os alunos e buscar soluções para a

evasão a partir da realidade concreta dos alunos e da escola.

É válido lembrar que a educação é um processo contínuo e para ser

eficaz deve vincular-se a uma ação concreta. Mudanças nas práticas

educacionais sem dúvida, urgentes, porque há muito que a escola pode e deve

promover condições de aprendizagem e desse modo contribuir para o processo

de permanência do sujeito da EJA, assim evitando que os alunos evadam da

escola e da sala de aula. Por isso, é necessário que a escola crie mecanismos

que desperte a atenção desses jovens e adultos. O laço de afetividade é um

dos fatores importantes para que esses alunos continuem estudando, fazer

com que o aluno perceba que a escola não o vê apenas com um aluno e sim

como uma pessoa que busca realizar um sonho, assim dando-o atenção

necessária a fim de que o mesmo se sinta parte integrante da escola como os

outros alunos que estão no ensino regular.

41

Page 35: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

REFERÊNCIAS

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_____________. Balanço da EJA: O que mudou nos modos de vida dos jovens – adultos populares? REVEJ@ - Revista de Educação de Jovens e Adultos, Belo Horizonte vol.1, p. 5-19, agosto. 2007.

BEISIEGEL, C. de R. A política de educação de jovens e adultos analfabetos do Brasil. In: OLIVEIRA, D. A. (ORG) Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. Petrópolis: Vozes 1997.

BRANDÃO, C. R. O que e método Paulo Freire. 13 ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.

DESLANDES, Suely Ferreira (Org.) et al. Pesquisa social: Teoria, método e Criatividade. São Paulo: Vozes, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1993.

_____________. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez, 2001.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa de qualidade em Ciências Sociais. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

HADDAD, S. DI PIERRO, M. C. Aprendizagem de jovens e adultos: avaliação da década da educação para todos. São Paulo em Perspectiva, São Paulo. 14, n1, mar. 2000. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n1/9800.pdf> . Acesso em 25 de maio de 2012.

_____________. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação Nº 14 Mai/Jun/Jul/Ago 2000. Disponível em:

42

Page 36: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

< http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/rbde14/rbde14_08_sergio_haddad_e_m aria_clara_di_pierro.pdf>. Acesso em 25 de maio de 2012.

LUDKE, Menga, e ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MORAES, R. E. Educação de jovens e adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. Diálogo na educação de jovens e adultos. Belo Horizonte, M.G: Autêntica, 2010.

MORIN. E. O método V: a humanidade, identidade humana. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2003.

MINAYO, M. C. de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

PAIVA, V. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: 4ª ed. Loyola, 1987.

RIBEIRO, Vera Masagão. A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico. Revista Educação & Sociedade, ano XX, nº 68. São Paulo: Ação Educativa, Campinas: Papirus, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a10v2068.pdf> Acesso em 25 de maio de 2012.

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Page 37: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

APÊNDICES

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Page 38: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

Diretoria

Sala dos Professores

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Page 39: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

Biblioteca

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Banheiro dos Alunos

Sala de Informática

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Cantina

Depósito da Merenda

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Salas de Aula

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM - BAHIA

Questionário de resposta dos alunos da EJA do Ginásio Municipal Antonio Simões Valadares

1. Por que vai a escola? Que importância tem a escola na sua vida ?

R. ________________________________________________

2. É repetente: Quantos anos?

R. _________________________________________________

3. A quanto tempo é aluno da EJA?

R. _________________________________________________

4. Porque é importante estudar? E os conhecimentos adquiridos na escola são importantes para tomar alguma decisão na vida?

R. _________________________________________________

5. O que tem aprendido de fato na escola?

R. _________________________________________________

50

Page 44: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

6. O que se pode conquistar de fato na escola?

R. _________________________________________________

7. Em sua opinião o que leva tanto a evasão dos alunos da EJA?

R. ________________________________________________

8. A coordenação pedagógica tem visitado com freqüência as turmas da EJA? Ou a escola tem um acompanhamento pedagógico?

R. _______________________________________________

9. O que de fato lhe faz dá continuidade aos seus estudos?

R._______________________________________________

10. Como aluno da eja tem participado frequentemente das atividades desenvolvidas na sala de aula? Por quê?

R. ______________________________________________

11. Como gostaria que fossem ministradas as aulas da eja?

R. _______________________________________________

12. Como são recepcionados pelos funcionários da escola?

R. _______________________________________________

13. A direção está sempre presente para atender os alunos da eja?

51

Page 45: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

R. ______________________________________________

14. A merenda escolar é de boa qualidade?

R. ______________________________________________

15. A metodologia aplicada pelos professores da eja é interessante e contribui no seu aprendizado ?

R. ______________________________________________

52

Page 46: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM - BAHIA

Prezado (a) Professor (a),

No trabalho que ora desenvolvemos para a elaboração de nossa monografia, precisamos obter algumas informações acerca de sua visão sobre a Eja e o material didático que são utilizados na Educação de Jovens e Adultos no Ginásio Antonio Simões Valadares . Para tal, solicito a sua colaboração respondendo às questões abaixo.

Sexo: ______________

Idade: ______________

Formação profissional: ________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Tempo de atuação no magistério: ____ anos

Tempo de atuação na EJA: ____ anos

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Page 47: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

1-Você fez alguma especialização para trabalhar com a EJA?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- O que você entende por EJA?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3- Você trabalha com a EJA fundamentada em algum posicionamento teórico específico? Qual? Porquê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4- O que você acha dos recursos que utiliza na EJA? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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Page 48: Monografia Cristiana Pedagogia Itiúba 2012

5- Qual a sua visão da EJA?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6- Além dos livros didáticos, quais outros recursos que você utiliza na EJA?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________ _

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

7- Qual é a realidade sócio-econômica de seus alunos?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8- O material didático que você utiliza é coerente com a realidade dos alunos? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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9- Quais as dificuldades encontradas na prática profissional da EJA?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

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