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10 INTRODUÇÃO Na atual conjuntura socioeconômica, a busca pelo conhecimento e informação tem sido continua. Neste sentido, destacamos a importância da leitura para a formação de sujeitos críticos, reflexivos e socialmente incluídos. Mediante as necessidades educativas do modelo social vigente, compreendemos a biblioteca pública como espaço privilegiado de produção e construção do conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos, uma vez, que é através das práticas de leitura na biblioteca pública, que os eventos sociais de letramento se dão. Tendo em vista estas questões, o presente trabalho tem o objetivo de conhecer as práticas de leitura na biblioteca pública municipal e suas contribuições para a formação de sujeitos letrados, verificando o que a biblioteca oferece para os usuários e para a comunidade em geral. Esta pesquisa foi motivada pela necessidade de refletir sobre a biblioteca pública municipal Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como mediadora da construção do conhecimento. Para tanto, traçamos o perfil histórico da biblioteca pública na Brasil e no mundo, da antiguidade ao dias atuais, trazendo teóricos como Martins (1998), Milanesi (1983; 1997; 2000), Suaiden (1980; 2000). Assim como, percorremos o caminho da leitura nas suas diversas concepções, fundamentados em Freire (1990; 2002) Silva (1991; 2005), Solé (1998), Morais (1996), Koch (2007), Olson (1997), Orlandi, (1993). E finalmente, perpassamos os conceitos e práticas de

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INTRODUÇÃO

Na atual conjuntura socioeconômica, a busca pelo conhecimento e informação tem

sido continua. Neste sentido, destacamos a importância da leitura para a formação

de sujeitos críticos, reflexivos e socialmente incluídos.

Mediante as necessidades educativas do modelo social vigente, compreendemos a

biblioteca pública como espaço privilegiado de produção e construção do

conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos, uma vez, que é através das

práticas de leitura na biblioteca pública, que os eventos sociais de letramento se

dão.

Tendo em vista estas questões, o presente trabalho tem o objetivo de conhecer as

práticas de leitura na biblioteca pública municipal e suas contribuições para a

formação de sujeitos letrados, verificando o que a biblioteca oferece para os

usuários e para a comunidade em geral.

Esta pesquisa foi motivada pela necessidade de refletir sobre a biblioteca pública

municipal Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como mediadora da construção

do conhecimento. Para tanto, traçamos o perfil histórico da biblioteca pública na

Brasil e no mundo, da antiguidade ao dias atuais, trazendo teóricos como Martins

(1998), Milanesi (1983; 1997; 2000), Suaiden (1980; 2000). Assim como,

percorremos o caminho da leitura nas suas diversas concepções, fundamentados

em Freire (1990; 2002) Silva (1991; 2005), Solé (1998), Morais (1996), Koch (2007),

Olson (1997), Orlandi, (1993). E finalmente, perpassamos os conceitos e práticas de

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letramento embasados em Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), Tfouni (2006),

Soares (1995; 1998; 2003), Di Nucci (2008), Barbato (2007).

Neste sentido, considerando a relação dinâmica entre universo real e sujeito, este

trabalho compreende elementos de pesquisa qualitativa. Utilizando dos seguintes

instrumentos de coleta de dados: observação participante, entrevista semi-

estruturada, questionário fechado, análise documental, e pesquisa bibliográfica. E

para a organização dos dados levantados, ao longo da pesquisa, este trabalho esta

dividido em quatro capítulos, a saber:

No primeiro capítulo, apresentamos a movimentação para a proposta da pesquisa,

nossas interrogações e inquietações quanto à delimitação do tema, nossos objetivos

e a relevância do presente estudo.

O segundo capítulo compõe-se de um breve histórico das bibliotecas públicas, sua

origem, suas concepções, e transformações sofridas ao longo dos séculos. Alem

disso, apresenta considerações sobre as práticas de leitura necessárias para a

construção cidadã. E ainda, discute algumas concepções e práticas de letramento

no contexto social.

No terceiro capítulo, abordamos a trajetória da Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea

Terezinha Campos Dias, trazendo um resgate histórico, bem como a caracterização

dos sujeitos escolhidos para a pesquisa e os instrumentos utilizados para a coleta de

dados.

O quarto capítulo trata da análise e interpretação dos dados, mediante as

informações colhidas, acerca da Biblioteca Pública de Senhor do Bonfim. Apresenta

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o perfil do leitor-usuário, e as construções que foram possíveis de ser evidenciadas

através das nossas leituras a respeito do universo estudado e seus sujeitos.

Nas considerações finais, apresentamos reflexões tecidas acerca do papel da

biblioteca pública no contexto social, como mediadora do desenvolvimento individual

e coletivo.

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CAPÍTULO I

ALGUMAS INTERROGAÇÕES À REALIDADE: CONTORNANDO A PESQUISA

1.1 – Movimentação para a proposta de pesquisa

A sociedade contemporânea vem se tornando cada vez mais exigente no que diz

respeito à formação intelectual dos sujeitos, seja no campo social, econômico ou

cultural. A busca pelo conhecimento e informação é crescente, na mesma

proporção da intensa necessidade do uso das novas tecnologias de informação e

comunicação, que por sua vez, tem exigido incessantemente sujeitos capazes do

uso competente destas tecnologias. Nessa perspectiva, a demanda educativa é

evidente, e também, cada vez mais crescente, estando presente nas mais diversas

esferas da vida do sujeito, desde o lazer, a participação política e social, às

oportunidades de desenvolvimento econômico e cultural do individuo, e da

sociedade.

Desse modo, vemos que um dos instrumentos absolutamente precisos para uma

formação que possibilite sujeitos-cidadãos competentes, críticos frente a sua

realidade, reflexivos e autônomos, é a leitura. Prática esta que se constitui

historicamente no processo civilizatório da humanidade, é incontestavelmente, um

elemento de suma importância para a formação, progresso social e econômico de

um país, e para a realização individual dos sujeitos, pois, a leitura enquanto

atividade humana e prática social permite ao leitor, não só compreende a sua

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sociedade com maior alcance intelectual, mas pode estender sua visão do mundo

como um todo, reconhecendo no texto escrito o que está além da palavra escrita,

passando a constituir o legado da história humana e a fazer parte desta história

(KLEIMAN,1989).

A leitura em sua natureza comunicativa e reflexiva permite ao sujeito abrir-se para

novos horizontes e experimentar outras alternativas de existência, e de maneira

direta ou indireta, refletir sobre o contexto social em que está inserido. Dessa forma,

o ato de ler é essencial à vida dos indivíduos em meio à sociedade em constante

evolução, é uma necessidade que leva o sujeito à aquisição de significados na vida

cotidiana repleta de oportunidades que requerem o uso da leitura, fazendo desta

uma prática cultural transformadora, (SILVA, 1997).

No âmbito escolar a formação de leitores, é sem sombra de dúvidas, um dos

principais objetivos, pois educar leitores para o convívio social, ou ainda, promover

os estudantes a leitores participantes e atuantes, é papel da escola em sua função

social e emancipadora. Pois, a nível de intenção, a instituição escola quer educar e

promover o progresso de um tipo de leitor que não seja conveniente, ou que se

ajuste ingenuamente à realidade que esta aí, mas que, pelos processos de leitura

(praticados e aprendidos na escola), participe ativamente da transformação social,

(SILVA, 1991). Uma vez que, é imprescindível, esta formação tomada como

finalidade básica estabelecida mediante as práticas de leitura na escola, provocando

o aluno a compreensões, reflexões e ações transformadoras.

A escola enquanto elemento básico para a formação e orientação de leitores,

constitui-se no ambiente mais favorável para o despertar do gosto pela leitura e à

promoção do hábito da leitura nas crianças e jovens, uma vez que sua importância

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neste processo se deve, principalmente, ao fato de que nela os alunos adquirem a

habilitação inicial na prática de leitura. (ZILBERMAN, 1989). Porém, muito tem se

observado que o exercício da leitura, na escola, tem se restringido a mera

decodificação de símbolos em sons fonéticos, o que não desperta no aluno o gosto

e o prazer pela leitura, resumindo-a num ato puramente mecânico sem atribuição de

sentido, transformando-a num ato enfadonho, acrítico e mecânico.

O que se faz nas escolas é apropriação da decodificação mecânica de símbolos. Deste modo os alunos apreendem a ler, mas não se tornam leitores, o que contribui para afastar o aluno, sobretudo os das camadas populares, do conhecimento (SOARES,1988).

O que se vê no meio escolar, é a colocação das práticas de leitura como verdadeiras

camisas-de-força nos estudantes (SILVA, 1991), agindo de maneira oposta,

afastando seu público de qualquer chance de gosto pela leitura, ao invés do que se

espera que é o favorecimento ao desenvolvimento das habilidades e competências,

e ao desenvolvimento do potencial de leitura dos alunos, sujeitos do processo.

Mediante esse contexto, o aluno acaba por afastar-se dos livros fazendo com que

desconheça o mundo ao seu redor, alienando-se das informações e,

conseqüentemente omitindo sua participação na sociedade. Além disso, ele

distancia-se de descobrir o ato de ler como um momento de prazer, e a leitura como

fonte de lazer.

Nesta perspectiva, observando-se a necessidade da formação de leitores para a

participação social, que por sua vez está condicionada à visão de mundo do sujeito,

seus valores, seus conhecimentos, suas reflexões e visão crítica, enfim, está

condicionada ao uso e as práticas de leitura como instrumento de conhecimento,

destacamos a importância da biblioteca pública como meio de aquisição da leitura e

de acesso ao mundo letrado. A biblioteca assume lugar de prestígio no processo de

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democratização da leitura, junto à escola, visto que, as práticas de leitura no âmbito

da biblioteca se amarram ao projeto de libertação das classes oprimidas (SILVA,

1991).

Num país como o nosso historicamente marcado pela desigualdade de classes,

onde as condições de leitura são visivelmente precárias, as escolas e bibliotecas

públicas são, sem dúvida, as duas instâncias mais diretamente ligadas à formação

do leitor, e ao acesso ao mundo da escrita (ZILBERMAN, 1989). Visto isso, é

inegável que a formação e sustentação do gosto pela leitura são fruto da

aproximação básica entre leitor e a biblioteca, pois a promoção da leitura e a

educação de leitores atravessam, indiscutivelmente, o contexto da biblioteca pública,

uma vez que partes das obrigações escolares são realizadas dentro deste espaço.

E ainda, a leitura tomada como prática social e de cidadania, construídas a partir das

práticas de leitura realizadas dentro do espaço da biblioteca pública, aqui

considerada como espaço de interação entre indivíduo e sociedade, promove o leitor

à ação participativa e reflexiva para o exercício da cidadania. Assim, do ponto de

vista educacional ―a biblioteca tem um papel importante na democratização do

saber, uma vez que facilita oportunidade de formação, oferecendo a cada individuo

condições de desenvolver suas aptidões particulares‖ (ZILBERMAN, pág. 18, 1989).

Em razão do contexto acima indicado, da dinâmica que se estabelece entre aluno

letrado, escola, biblioteca e sociedade, e das mais variadas formas que se

apresentam às necessidades educativas urgentes, consideramos oportuno o

desenvolvimento de uma pesquisa sobre o tema, por considerar primordial a análise

e compreensão da importância do acesso ao mundo da leitura e escrita, numa

sociedade que vem se tornando cada vez mais exigente no que diz respeito à

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formação intelectual dos sujeitos, seja no campo social, econômico ou cultural.

Embora contraditoriamente, a grande massa da população ainda seja mantida longe

do mundo letrado e da cultura escrita, de modo geral.

Tendo em vista todas estas questões, tornam-se fundamentais algumas reflexões no

tocante à leitura, formação de sujeitos letrados e a biblioteca pública municipal como

espaço de construção do conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos.

Propusemo-nos, a conhecer quem seriam os sujeitos a fazerem uso deste espaço,

quais os anseios que os levam a freqüentar assiduamente ou não, a biblioteca

pública, o que esta biblioteca oferece para a comunidade, quais as práticas de

leitura e de letramento que acontecem ali, em que elas contribuem para a formação

destes sujeitos e para a comunidade de modo geral. Uma vez que, a biblioteca

pública tomada como produtora-condutora do conhecimento através das práticas de

leitura que acontecem no seu interior; é também, elemento básico no processo de

educação de leitores praticantes; e necessariamente, espaço legítimo de luta pela

democratização da leitura. Estaremos garantindo a sobrevivência mais digna aos

sujeitos-cidadãos, numa sociedade onde livros e bibliotecas estiveram,

historicamente, presentes no cotidiano da vida das elites, excluindo as camadas

mais pobres do acesso ao mundo letrado.

Elegemos como elementos a constituírem o problema a ser pesquisado as práticas

de leitura na Biblioteca Pública Municipal Profa. Zenáurea Terezinha Campos Dias,

no município de Senhor do Bonfim, e suas contribuições para a formação de sujeitos

letrados. Além das indagações elucidadas, ainda uma pergunta que nos motivou

para a realização desta pesquisa: Quais os objetivos do leitor ao consultar o acervo

da biblioteca pública municipal?

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Reunindo todas as questões que norteiam esta discussão delimitamos como

objetivos compreender as práticas de leitura que ocorrem no interior da biblioteca,

seu uso e significados; verificar o que a biblioteca pública municipal oferece para os

usuários e comunidade em geral; conhecer quem é o leitor usuário deste espaço, de

onde provem esta demanda; e ainda analisar quais os usos da leitura e os

significados produzidos por esta prática.

A relevância desta pesquisa consiste em estudar a biblioteca pública municipal

Profa. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como agente mediadora na construção do

conhecimento, compreender as práticas que ocorrem no seu interior, e analisar

fatores que contribuem para a formação de sujeitos letrados que possam atender a

estas novas demandas educativas impostas na vida cotidiana e no meio social

desses sujeitos. Contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas e ações

comunitárias que viabilizem um número cada vez maior de sujeitos interessados na

leitura e no desenvolvimento intelectual e social, possível através desta prática no

contexto da biblioteca. Visto que, a biblioteca pública, é porta de entrada para o

conhecimento, proporcionando condições básicas para a aprendizagem

permanente, autonomia de decisão e desenvolvimento cultural aos indivíduos e

grupos sociais. Tem papel importante no desenvolvimento e manutenção de uma

sociedade democrática, ao disponibilizar para o individuo acesso ao conhecimento.

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CAPÍTULO II

EVENTOS E PRÁTICAS SOCIAS DE LEITURA E LETRAMENTO

NA BIBLIOTECA PÚBLICA

2.1 – A Origem das Bibliotecas no Brasil e no Mundo

2.1.1 – Bibliotecas da Antiguidade: do Sagrado ao Profano

A trajetória histórica da humanidade aponta diversas relações do homem com a

construção do conhecimento, nos seus múltiplos aspectos. A possibilidade do

registro do saber marca e define a sociedade humana, num fazer contínuo que se

transforma a cada instante, neste âmbito, muitos séculos depois da invenção da

escrita, a biblioteca surge como organismo de vital importância social na

preservação do conhecimento.

Na Idade Antiga, ou Antiguidade, período compreendido entre 4000 a.C. a 3500

a.C., fase da história em que surge a escrita, a humanidade passa a utilizar de

mecanismos e suportes materiais para o armazenamento do conhecimento

produzido. Deste período, há registros de escritos dos povos assírios, sumérios e

babilônicos datados por volta do século VII a.C. em conjuntos de placas de argila

que eram usados para registrar a escrita, o que pôde ser compreendida como

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biblioteca (MILANESI, 1983). Além da argila, foram usados o papiro, pelos egípcios,

no terceiro milênio a.C., e posteriormente o pergaminho, como suporte da escrita.

Durante a Antiguidade, as bibliotecas foram uma espécie de ―depósito de livro‖,

templos e palácios não acessíveis ao público, tinha a função mais de esconder do

que divulgar seus escritos. Da antiguidade até a Renascença, o acesso ao livro não

esteve à disposição dos profanos, as bibliotecas eram como organismos mais ou

menos sagrados, ou pelos menos, religioso, pois somente os sacerdotes, igualmente

sagrados ou religiosos, detinham o saber (MARTINS, 1998).

Entre as bibliotecas deste período, está a mais antiga, datada do século VII a.C., a

grande biblioteca de Nínive, criada pelo Rei Assurbanipal. Entretanto, a mais celebre

da Antiguidade fora a biblioteca de Alexandria, datada do século IV a.C. Apesar da

existência desta biblioteca, a precariedade física do suporte material fez com que a

maior parte do registro do pensamento humano da época se perdesse, a exemplo, a

biblioteca de Alexandria que existiu mais de setenta mil volumes que se perderam

durante três incêndios sofridos. (MILANESI, 1983; FERNÁNDEZ ABAD, 2006).

Não muito diferente da Antiguidade, as bibliotecas da Idade Medieval conservaram

seu caráter religioso, e a concepção de biblioteca como conservatório e depositário

de livro. No reduto de conventos e mosteiros, ainda durante muitos séculos, foram

os religiosos que contribuíram para a conservação das obras literárias e Escrituras

religiosas, e por vezes, também os escritos profanos. No entanto, o acesso aos

livros e à bibliotecas medievais era restrito aos pertencentes à ordem religiosa, de

modo que o controle também se estendia ao trabalho dos monges escribas que se

ocupavam da transcrição de manuscritos clássicos. Contudo, durante este período

da história, ocorreu que:

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[... o livro medieval conservou os conhecimentos, guardou-os para a Renascença, hibernou-os nos conventos, e preparou, em conseqüência, sem o saber e, em certo sentido, sem o querer, o movimento intelectual que substituiria a tábua medieval de valores. A Renascença não teria sido possível, no que concerne às obras escritas, se a Idade Média não tivesse possuído esses enormes silos que foram as suas bibliotecas monásticas, universitárias e particulares...]. (MARTINS, p.96, 1998)

A antiga biblioteca medieval de um mosteiro beneditino, onde eram guardadas as

grandes e preciosas obras da sabedoria grega e latina conservada através dos

séculos pelos monges, foi descrita pelo crítico literário italiano Umberto Eco, em obra

―O Nome da Rosa‖:

Homens devotos trabalharam durante séculos, seguindo férreas regras. A biblioteca nasceu segundo um desenho que permaneceu obscuro a todos durante séculos e que nenhum dos monges é dado conhecer. Somente o bibliotecário recebeu o segredo do bibliotecário que o precedeu, e o comunica, ainda em vida, ao ajudante-bibliotecário, de modo que a morte não o surpreenda, privando a comunidade desse saber. E os lábios de ambos estão selados pelo segredo. (ECO, 1983, p. 53)

Essas bibliotecas, segundo Eco (1983), eram ―labirintos espirituais e labirintos

terrenos‖, por isso, não podia ser penetrada por qualquer mortal, e o saber

registrado nos livros eram valiosos segredos ―Porque nem todas as verdades são

para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais

por uma alma piedosa... (ECO, 1983, p. 54)‖. Os monges, monopolizadores de fato

e de direito de toda a língua escrita, eram ao mesmo tempo, os monopolizadores de

todos os conhecimentos religiosos, literários, científicos (MILANESI, 1983;

MARTINS, 1998).

Todavia, foi a partir da Renascença, que as bibliotecas surgiram como fenômeno de

ordem social, sofrendo uma nítida e mais sólida laicização, pela perda do caráter

sagrado e secreto do livro, para se transformar num instrumento de trabalho posto

ao alcance de todas as mãos (MARTINS, 1998, p.323). Visto que, na história das

bibliotecas ocorre um grande marco, que foi o aparecimento das universidades e a

difusão do livro, no início da Renascença, que acelerou o processo de disseminação

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democrática do livro, permitindo que o conhecimento humano registrado pela escrita

chegasse a um número de pessoas cada vez mais crescente, expandindo a

circulação das idéias, pois o livro (bem material) deixa os arredores dos conventos,

fazendo das bibliotecas um serviço (bem consumível), deixando de ser considerada

um tesouro. Desse modo, de acordo com Martins (1998):

Para que a Renascença, movimento laico por excelência, pudesse ocorrer é necessário supor que os profanos tivessem acesso, um acesso cada vez maior, às bibliotecas, ou, pelo menos, que tivessem conhecimento dos manuscritos que somente nas bibliotecas existiam‖. (p.97)

Grandes bibliotecas fizeram parte da história neste período, exemplo, as do Monte

Atons, na Turquia, as italianas como a própria biblioteca do Vaticano datada do

século XV, a de Saint-Gall, na França, famosíssima pelo numero de volumes, e de

Fulda, na Prússia. Mas a que mais se destacou, sendo referência intelectual,

adjetivando trabalhos de grande valor, foi a biblioteca da ordem dos Beneditinos.

Logo, foi neste período da história, que os mosteiros salvaram, através das cópias

sucessivas, grande parte da riqueza literária da Antiguidade. Pois, ao lado da oração

com as regras dos mosteiros, estava o trabalho manual das infinitas cópias de

manuscritos antigos. (MORIGI, 2006).

Foi ainda na Renascença que as bibliotecas começaram a tomar seu sentido

moderno, passando a serem entendidas já como organismo democrático em seu

processo de evolução, de laicização, e de socialização, alargando o acesso ao livro,

e sua circulação geral na sociedade. De modo que uma nova concepção de

biblioteca começava a ser delineada:

A biblioteca não é mais, por conseqüência, um mero depósito de livros: esse o mais importante de todos os pontos característicos na evolução do seu conceito. A sua passividade substitui-se um salutar dinamismo, a iniciativa de uma obra que é, ao mesmo tempo, de socialização, especialização, democratização e laicização da cultura. Ela desempenha dessa forma por menos que pareça, o papel essencial na vida das

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comunidades modernas; é em torno dela que circulam todas as outras correntes da existência social. (MARTINS, 1998, p. 325)

Porém, o acesso às bibliotecas permaneceu restrito a um grupo de privilegiados até

o século XX, pois as grandes coleções pertenciam ao Estado e à Igreja, a idéia de

biblioteca atendia a idéia de arquivo-museu. Somente após a Revolução Industrial

com a expansão do operariado, a biblioteca passou a ser oferecida como serviço

com determinada função educativa, acreditava-se no poder moralizador e educativo

das leituras, sobre a comunidade. Posteriormente, após a segunda metade do

século XX delineou-se uma nova função à biblioteca, a de sistematizar o acesso a

informação passando a ser considerado um centro cultural sendo anexado a seu

acervo novos suportes informacionais. (MILANESI, 1983; MARTINS, 1998;

BARRETO, 2008; AQUINO, 2004).

2.1.2 – História da Biblioteca Pública do Brasil: da Realeza à Popularização

O conceito de biblioteca pública é um conceito contemporâneo. O Congresso de

Bibliotecários, promovido pela UNESCO, de 03 a 12 de outubro de 1951, assim

definiu as bibliotecas públicas:

A biblioteca pública, criação da democracia moderna está na vanguarda da luta encetada para assegurar plenamente a educação popular; seu papel consiste em conservar e organizar os conhecimentos humanos a fim de colocá-los ao serviço de toda a coletividade, sem distinção de profissão, de religião, de classe ou de raça. Seus objetivos são os seguintes:

1. Fornecer ao público informações, livros, material e facilidades diversas em vista de melhor servir seus interesses e de satisfazer às suas necessidades intelectuais; 2. Estimular a liberdade de expressão e favorecer uma crítica construtiva dos problemas sociais; 3. Dar ao homem uma formação que lhe permita exercer uma atividade criadora no quadro da coletividade e trabalhar no aperfeiçoamento da compreensão entre os indivíduos, entre os grupos e entre as nações;

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4. Completar a ação dos estabelecimentos de ensino oferecendo à população a possibilidade de continuar a se instruir. (UNESCO. Le développement des bibliothèques publiques en Amérique latine, 1951, P.3, tradução nossa)

No Brasil o documento que marca o início da história da biblioteca é datado de 05 de

fevereiro de 1811, foi quando Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco encaminhou

um projeto ao Governo da Capitania da Bahia, solicitando a aprovação do plano

para fundação da biblioteca. Este documento representa o princípio do acesso ao

livro e das preocupações com a educação no Brasil. ―O plano foi aprovado, e a

Biblioteca inaugurada no Colégio dos Jesuítas, em 04 de agosto de 1811‖

(SUAIDEN, 2000, p. 52). No entanto, a Biblioteca Real trazida de Portugal por D.

João VI foi aberta ao público em 1814, a que viria a se transformar na Biblioteca

Nacional anos mais tarde.

Na República Velha como na Primeira República, as bibliotecas eram geralmente

improvisadas, grande parte do acervo era formado a partir de doações, as

instalações e os recursos humanos adequados eram precários (MARTINS, 1998).

Durante a Primeira República, foram criadas muitas bibliotecas, mas foi somente a

partir de 1937 que começaram a ser criadas políticas de incentivo à leitura. A criação

do Instituto Nacional do Livro (INL) ―alavancou contribuições expressivas ao

desempenho das bibliotecas públicas‖ (BARRETO, 2008, p. 30).

Pela primeira vez encontra-se uma iniciativa nacional de estruturação da biblioteca

pública, no ano de 1961 pelo Decreto Lei 51 223, foi criado o Serviço Nacional de

Biblioteca, a fim de incentivar a criação de bibliotecas públicas em todo o país.

Porém não é encontrado nenhuma menção à subsídios que favoreça o incentivo da

leitura, e nenhuma política voltada para o interesse da população. (CALDAS, 2005)

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No entanto, não foram alcançados os objetivos propostos pelo Serviço Nacional de

Biblioteca, e em 1968 o Decreto Lei 62 239 incorporou o Serviço Nacional de

Biblioteca ao INL. No referido período,

Era necessário que a instituição biblioteca fosse dedicada à propagação de uma política de leitura. Mas a preocupação predominante era a preservação do material bibliográfico, e muitas se negavam a fazer o empréstimo domiciliar com receio de o livro ser furtado, e assim o profissional teria de dar conta do material permanente. (SUAIDEN, 2000, p. 54)

Em 1989, primeira vez em que o termo leitura é mencionado por uma Fundação, o

INL e a Biblioteca Nacional passam a integrar a Fundação Nacional Pró-Leitura, em

1990, o acervo e atribuições são transferidos para a Biblioteca Nacional.

No ano de 1992, instituído pelo Decreto Presidencial nº. 520, foi criado o Sistema

Nacional de Bibliotecas Públicas – SNBP, como objetivo principal de fortalecer as

Bibliotecas Públicas do país. Seguindo os seguintes objetivos:

I – incentivar a implantação de serviços bibliotecários em todo o território nacional;

II – promover a melhoria do funcionamento da atual rede de bibliotecas, para que atuem como centros de ação cultural e educacional permanentes;

III – desenvolver atividades de treinamento e qualificação de recursos humanos, para o funcionamento adequado das bibliotecas brasileiras;

IV – manter atualizado o cadastramento de todas as bibliotecas brasileiras;

V – incentivar a criação de bibliotecas em municípios desprovidos de bibliotecas públicas;

VI – proporcionar, obedecida a legislação vigente, a criação e atualização de acervos, mediante repasse de recursos financeiros aos sistemas estaduais e municipais;

VII – favorecer a ação dos coordenadores dos sistemas estaduais e municipais, para que atuem como agentes culturais, em favor do livro e de uma política de leitura no País;

VIII – assessorar tecnicamente as bibliotecas e coordenadorias dos sistemas estaduais e municipais, bem assim fornecer material informativo e orientador de suas atividades;

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IX – firmar convênios com entidades culturais, visando à promoção de livros e de bibliotecas. (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em: http://www.bn.br/snbp)

Foi a partir desse momento que se fortaleceram as iniciativas voltadas ao incentivo e

a disseminação da leitura, provocadas pelo interesse político e mais os contingentes

sociais (BARRETO, 2008).

2.1.3 – Biblioteca Pública no Brasil, hoje

A capacidade de gerar conhecimento é uma característica marcante da sociedade

contemporânea. No entanto, são claras as diferenças sociais e econômicas entre os

que têm acesso e os que não têm acesso a situações e espaços onde as

informações se fazem presentes. Nesse contexto, a biblioteca pública vem atuar

como instrumento democrático, proporcionando igualdade de acesso e

disponibilidade de todo tipo de conhecimento para todos. (PERROTTI; 1990)

É evidente a relevância da existência da biblioteca na sociedade brasileira, dentro

dos preceitos da modernidade, em seu papel social e informativo de caráter

educacional e cultural, possibilitando a democratização do conhecimento e da

informação, e contribuir para a formação do leitor. A Biblioteca Nacional guardiã

máxima do registro do saber em nosso país (Fundação Biblioteca Nacional, 2000),

traz em seu manual Biblioteca Pública, princípios e diretrizes, o conceito de

biblioteca pública e suas características:

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O conceito de biblioteca pública baseia-se na igualdade de acesso para todos sem restrição de idade, raça, sexo, status social, etc. na disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento. [...] é um elo de ligação entre a necessidade de informação de um membro da comunidade e o recurso informacional que nela se encontra organizado e à sua disposição [...]. Assim, as bibliotecas públicas caracterizam-se por: 1) destinar-se a toda coletividade,ao contrário de outras que têm funções mais específicas; 2) possuir todo tipo de material (sem restrições de assuntos ou de materiais); 3) ser subvencionada pelo poder público (federal, estadual ou municipal). Ela difere da biblioteca comunitária/popular, que surge da comunidade e é por ela gerida, sendo o atendimento feito, geralmente, por voluntários. (Fundação Biblioteca Nacional, 2000, p.17-18).

Suaiden (2000), traz discussões sobre os diversos segmentos da sociedade e as

diferentes expectativas em relação ao papel da biblioteca púbica. Os educadores

acreditam ser a biblioteca um alicerce do ensino-aprendizagem. Os intelectuais

enxergam um espaço rico em literatura de ficção. O trabalhador comum a vê como

um local para solucionar problemas cotidianos. O autor discute ainda, sobre a

utilização do termo ―biblioteca pública‖ e critica o parcial atendimento que realiza.

A própria denominação "biblioteca pública" pressupõe uma entidade prestando serviços ao público em geral, independentemente das condições sociais, educacionais e culturais. Nesse aspecto, reside a grande falha da biblioteca pública, pois, até hoje, o único segmento da sociedade que é atendido parcialmente, em pequena proporção, é o dos estudantes de primeiro e segundo graus. (SUAIDEN, 2000, p.57)

E segue com a afirmativa, ―Na batalha que trava para responder às inquietações da

sociedade sobre o seu papel, a biblioteca pública perde cada vez mais prestígio e

poder, deixando de ser o grande centro disseminador da informação, por tentar ―ser

tudo para todos‖ (SUAIDEN, 2000, p.57).

Em novembro de 1994, a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários

e de Bibliotecas (IFLA), junto com a UNESCO aprovam o MANIFESTO DA UNESCO

SOBRE BIBLIOTECAS PÚBLICAS acerca do papel e importância da biblioteca

pública, donde citamos um ponto básico:

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28

A biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros. Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que, por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes, como por exemplo, minorias lingüísticas, pessoas com deficiências, hospitalizadas ou reclusas. (Manifesto da IFLA/UNESCO Sobre Bibliotecas Públicas, 1994. disponível em: http://archive.ifla.org/VII/s8/unesco/port.htm

Este Manifesto expressa ainda o caráter gratuito da biblioteca pública e quanto ao

seu financiamento e legislação, ―os serviços da biblioteca pública devem, por

princípio, ser gratuitos. A biblioteca pública é da responsabilidade das autoridades

locais e estatais. Deve ser objeto de uma legislação específica e financiada pelos

governos nacionais e locais‖. E assegura a formulação de políticas de

funcionamento e gestão dizendo ―Deve ser formulada uma política clara, definindo

objetivos, prioridades e serviços, relacionados com as necessidades da comunidade

local‖.

No entanto, o advento das novas tecnologias, e todas as questões e discussões

advindas desse contexto, têm mudado consideravelmente, alterando e ampliando, a

função da biblioteca pública. ―No início do século XXI, o cenário das bibliotecas é

alterado principalmente em relação às formas de acesso às informações; as

bibliotecas buscam encontrar novos caminhos na sociedade da informação‖.

(MARCELINO, 2009, p.87) na tentativa de garantir nesse espaço as oportunidades

para desenvolver o hábito e a difusão da leitura e informação.

Gradualmente as bibliotecas, que passam por transformações de estruturas físicas,

e de processos, vem se apropriando das inovações tecnológicas. ―A biblioteca deixa

de ser um tranqüilo depósito de livros para tornar-se o ponto focal de pesquisa

variada, acessada a qualquer hora por usuários virtuais de vários lugares do

Page 20: Monografia Francieli Pedagogia 2010

29

mundo‖. (LEVACOV, 1997, p.126). Logo, o que pode se dizer, é que de fato cresce a

consciência de que a biblioteca não é mais única fonte de informação.

Através das tecnologias de informação, pode-se melhorar em muito o

processamento de informação, a relação biblioteca e desenvolvimento intelectual e

social de seus usuários. Pois, a biblioteca pública em seu caráter social, é um

espaço democrático por excelência que pode minimizar as diferenças entre os que

têm acesso e usam as informações e os que estão excluídos desse processo,

garantindo a democratização da informação. Bem como diz Cunha (2003):

A sociedade da informação, nos diferentes espaços geográficos em que vem sendo concebida, atribui à biblioteca pública a missão especial de assegurar a democratização do acesso em rede, a oferta de produtos e serviços de qualidade que contribuam para diminuir as desigualdades sociais e estimular os usuários a utilizar a Internet como instrumento de ampliação de conhecimento e convivência‖. (p.72)

Nesse sentindo, o novo cenário que desponta no âmbito da biblioteca pública,

favorece o desenvolvimento humano, permitindo a disseminação das informações,

através da adoção de novas medidas tecnológicas. No cenário tecnológico da

sociedade da informação, as bibliotecas passam por um avanço progressivo e

caminham para uma biblioteca que pode tornar-se totalmente digital. Seja como for,

a democratização e a socialização da biblioteca pública são em nossos dias, uma

realidade indiscutível (MARTINS, 1998, p. 331).

Page 21: Monografia Francieli Pedagogia 2010

30

2.2 – Práticas de Leitura: Condição para Construção Cidadã

A sociedade moderna traz no seu bojo diversos meios e fontes que permitem o

acesso as informações e conhecimentos. Em meio a essa diversidade de

informações e tecnologias que avançam e se superam diariamente, estão presentes

as habilidades desenvolvidas pelo homem desde os primórdios, a leitura e a escrita.

Que correspondem às habilidades essenciais necessárias para que os sujeitos desta

realidade possam vivenciar um cotidiano repleto de mudanças, refletindo sobre

estas transformações que ocorrem no meio social, econômico e cultural num ritmo

muito acelerado.

Neste panorama, dentro de uma sociedade desenvolvida, a leitura se coloca como

via de acesso eficaz ao conhecimento – ainda que pelo intenso progresso da mídia e

dos diversos meios eletrônicos de comunicação – o acesso ao conhecimento,

depende primordialmente dos livros e das habilidades e competências

imprescindíveis do leitor. Por que ler pouco ou não ler numa sociedade letrada, torna

o ser humano inferiorizado, provocando desvantagens profundas entre os que

adquirem, e os que não adquirem essa aprendizagem. (ZILBERMAN, 1989; SOLÉ

1998)

Não nos restam dúvidas de que a leitura é uma questão pública e social. Pública, no

que diz respeito às informações que circulam no meio social, veiculadas através da

leitura e da escrita. ―A leitura é uma questão pública. É um meio de aquisição de

informação (e a escrita um meio de transmissão de informação), portanto, um

componente de um ato social‖ (MORAIS, 1996, p. 12). E social, quando o

Page 22: Monografia Francieli Pedagogia 2010

31

desenvolvimento intelectual e econômico de uma sociedade depende

primordialmente das oportunidades de acessos a estas práticas de leitura e escrita.

Leitura é indiscutivelmente um problema da sociedade. O desenvolvimento econômico é condicionado pela possibilidade que terão os homens e mulheres ativos (e não apenas certas camadas sociais), de tratar a informação escrita de uma maneira eficaz. (MORAIS, 1996, p. 12).

Neste sentido, as necessidades de conhecimento e informação extrapolam as

situações cotidianas de ler o anúncio do jornal ou ler a bula do remédio. Tornou-se

uma exigência de grau elevado quando nos defrontamos com a vida profissional,

uma vez que as ofertas de bons empregos estão condicionadas ao nível de

formação intelectual do sujeito.

Assim, a formação intelectual disponibilizada pela prática de leitura oferece, além da

aquisição de habilidades necessárias para a vivência diária em sociedade, acessos

ao conhecimento organizado e acumulado por esta sociedade, através da escrita, ou

seja, acesso a informação e desenvolvimento tecnológico, acesso ao mercado de

trabalho, e as mais diversas possibilidades de ascensão profissional e pessoal. Na

perspectiva de Osakabe (1993),

Aprender a ler não corresponde simplesmente à aquisição de um novo código ou de um simples desenvolvimento de um tipo de percepção através do acréscimo de uma habilidade. Aprender a ler, é também, ter acesso a um mundo distinto daquele em que a oralidade se instala e organiza: o mundo da escrita. (p. 149)

Dentro da perspectiva de Koch (2007), a leitura é uma atividade interativa altamente

complexa de produção de sentido, que requer a mobilização de um vasto conjunto

de saberes no interior do evento comunicativo. É uma atividade que leva em conta

as experiências, as informações e os conhecimentos do leitor, o que propicia a

construção de sentido, pois permite que o leitor critique, avalie e chegue a um dos

vários significados do texto. Pois, ―considerar o leitor e seus conhecimentos e que

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32

estes conhecimentos são diferentes de um leitor para o outro implica aceitar uma

pluralidade de leituras e de sentidos em relação a um mesmo texto‖ (p.21).

Visto isso, ao mesmo tempo em que leitura propõe sentido, provoca criticidade, pois,

o leitor crítico atenta não só o que o texto diz, ou quer dizer, mas também para a

intenção do autor, distinguindo o que o autor tenta fazer crer daquilo que ele, o leitor,

esta querendo acreditar (OLSON, 1997).

É nesse movimento que se dá a relação autor e leitor, no que se revela a partir da

interpretação do leitor, daquilo que não esta propriamente nas palavras do texto, que

não o compreende na sua literalidade. ―Quando se lê, considera-se não apenas o

que está dito, mas também o que está implícito: aquilo que não está dito e que

também está significado‖ (ORLANDI, 1993).

A leitura corresponde também, a um modo particular e individual de integração entre

os homens, a história e as gerações. Proporciona a experiência fundamental da

realidade, que permite a compreensão dos registros culturais que representam o

passado, e a compreensão do real, que significa utilizar do seu próprio

conhecimento proporcionado pelas diversas experiências pessoais. De acordo com

Kleiman (1989),

A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor justamente utiliza diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão. (p.13)

Evidentemente através das experiências da leitura o sujeito encontra novas formas

de compreender o mundo, de interagir com as pessoas e o meio social. Neste

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33

sentido, a leitura permite a construção e atribuição de significado ao mundo a partir

de pontos de vista elaborados e verificações permitidas por esta prática. Que para

Zilberman (1993), ―Compreendida de modo mais amplo, a ação de ler caracteriza

toda a relação racional entre o indivíduo e o mundo que o cerca‖ (p.17).

Silva (2004) propõe que o texto, é como tudo aquilo que provoca e possibilita

significados. Portanto, as habilidades de leitura e compreensão, desenvolvidas por

meio dos textos, dos símbolos, das imagens, proporcionam encontros com o

conhecimento, com as experiências e possibilidades de conhecer e compreender a

realidade que compõe o nosso cotidiano, que consistem a existência humana se

concretiza no ato de ler, pois ―é na e com a comunidade que se aprende a ler e a

atribuir significado aos textos nela contido‖, (SILVA, 2004, p.17).

Para perspectiva freiriana, inicialmente, experimentamos e aprendemos a ler o

mundo, na tentativa de compreender as múltiplas situações que permeiam o nosso

dia-a-dia. A leitura do mundo no seu sentido mais amplo condiciona o homem ao

convívio com os demais sujeitos, habilita-o para a compreensão do real e das

palavras. Assim, desenvolver a capacidade de ler e escrever a palavra, de modo que

alguém possa ler em outro momento, é como diz Freire (1990), ―precedidos do

aprender como ‗escrever‘ o mundo, isto é, ter experiência de mudar o mundo e de

estar em contato com o mundo‖ (p.31).

O ato de ler coloca-nos a refletir sobre a leitura em sua essência, mais que

decodificar símbolos. É, portanto, através da própria leitura em um processo

contínuo de reflexão que nos reconhecemos como seres humanos sociais dotados

de capacidades e entendimento.

Page 25: Monografia Francieli Pedagogia 2010

34

Ler não é decifrar palavras, mas consiste num exercício de compreensão que, talvez pela sua complexidade, se torna um fator atrativo envolto num mundo cheio de mistérios, até porque o ato de ler é, antes de tudo, compreender o mundo‖. (Santos-Théo, 2003, p.01)

Visto isso, compreendemos que o ato de ler transcende a decodificação daquilo que

está escrito, significa pensar e desenvolver posição crítica sobre valores e idéias, é

um processo contínuo de trocas entre o indivíduo e o mundo. Freire (2002), nos

ensina sobre o ator de ler:

[...] uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. (p.11)

Desse modo, podemos compreender a leitura como uma atividade essencialmente

humana. A leitura se constitui num processo de construção do leitor, que

proporciona compreensão e reflexões sobre os diversos textos e mundos que nos

cercam. Estas construções resultam da atividade comunicativa e da interação social

humana, pois a leitura de um texto, ou da palavra, exige uma análise, um

conhecimento, uma leitura dentro do conhecimento real/social que o sujeito se

insere. ―O ato de ler e escrever é um ato criativo que implica uma compreensão

crítica da realidade‖. (FREIRE, 1990, p. 105)

Sob este mesmo ponto de vista, Silva (2005), enfoca a leitura como uma forma de

encontro e comunicação entre os sujeitos. Pois, a relação dos homens entre si,

portanto, as experiências vividas a partir da participação da realidade sócio-cultural,

são garantidas através da mediação dos signos impressos. Visto que, a diversidade

de informações adquiridas através da leitura de diversos gêneros instiga o sujeito à

construção de diálogo e comunicação mais autênticos. Neste sentido, ―ler é

realmente participar mais crítica e ativamente da comunicação humana‖ (p. 41).

Page 26: Monografia Francieli Pedagogia 2010

35

Desse modo, como instrumento social as práticas das leituras críticas e reflexivas,

desembocam na ação libertadora da leitura, mostrando-se agente de

democratização, cidadania e transformação social. Como afirma Silva (1991),

O cidadão, além de possuir consciência de responsabilidade e direitos (equilibrados entre si), constitui-se pelas práticas de posicionamentos, críticas, participação e autonomia. A linguagem indubitavelmente permeia todas essas práticas à medida que elas são, no fundo, práticas comunicativas, exigindo a interação entre os homens. E é exatamente aqui que eu vejo a relação básica e fundamental entre a leitura, tomada como prática social, e a cidadania. Para me situar nos diferentes contextos sociais, tenho, necessariamente, de ver, ler ou ouvir [...]. A penetração e a participação nos mundos da escrita das imagens e/ou dos gestos pela leitura, percebendo e compreendendo a riqueza, a variedade e as alternativas contidas nesses universos, são condições básicas para a realização da cidadania. (p. 24)

Dentre as reflexões aqui apresentadas compreendemos que o ato de ler envolve um

sujeito ativo, que decodifica, analisa, processa informações levando em conta seu

meio social, suas necessidades intelectuais e seus objetivos de leitura. Pois, os

objetivos da leitura determinam à forma em que um leitor se situa frente ela e

controla a consecução do seu objetivo, isto é, a compreensão do texto, (SOLÉ,

1998).

2.3 – Letramento: Concepções e Práticas

O termo letramento, segundo Soares (1998), foi introduzido no Brasil a partir da

segunda metade da década de 80, por teóricos que buscavam definir a utilização do

termo, e distinguir a palavra letramento de alfabetização. E desde então o termo vem

sendo empregado no campo da Educação e das Ciências Lingüísticas. Porém as

discussões sobre a utilização ainda não se encerraram.

Page 27: Monografia Francieli Pedagogia 2010

36

A palavra letramento trata-se da versão em português da palavra “literacy”, de

origem inglesa, que vem do latim ―littera” (letra), mais o sufixo “cy”, que designa

condição, qualidade (MICHAELIS, 1998). Embora várias posições teóricas tenham

sido tomadas quanto ao termo, discutiremos aqui o uso de letramento nas

perspectivas de Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), Tfouni (2006) e Magda

Soares (1995; 1998; 2003).

Na concepção de Kleiman (1995), o letramento é compreendido como ―uma prática

discursiva de um determinado grupo social, que está relacionada ao papel da escrita

para tornar significativa a interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as

atividades específicas de ler e de escrever‖ (p.18).

Nesta concepção de letramento, considera-se o fato de estarmos constantemente

em contato com a leitura e a escrita, praticarmos essas habilidades no meio social,

ou seja, nos tornamos letrados ao posso que habilitamo-nos a utilizar o sistema

simbólico no meio letrado, nas palavras da autora, ―letramento como as práticas e

eventos relacionados com uso, função e impacto social da escrita‖ (KLEIMAN, 1998,

p. 181).

Outra teoria sobre letramento é discutida por Tfouni (2006), que conceitua o termo

em confronto com a alfabetização. De modo a entender o letramento como um

processo mais amplo que se diferencia do termo alfabetização, no entanto é

intimamente ligado ao código escrito, focalizando os aspectos sócio-históricos da

aquisição de um sistema escrito, enquanto que a alfabetização se ocupa da

aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos.

Page 28: Monografia Francieli Pedagogia 2010

37

Ainda sob o ponto de visa da referida autora, o letramento são conseqüências

sociais e históricas da introdução da escrita em uma sociedade.

Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas ―letradas‖ em sociedades ágrafas. (TFOUNI, 2006, p. 9-10)

Para Zilberman (2007), o universo onde a criança está inserida dever ser repleto de

oportunidades que viabilizam o letramento, ela precisa estar exposta a iniciativas do

meio, das histórias infantis, sejam elas contadas oralmente, lidas por outra pessoa,

ou visualizada através de imagens, ou ainda através dos diversos meios

tecnológicos. Portanto, o letramento está sempre presente sob diversas perspectivas

seja na escola, antes da escola, dentro ou fora deste espaço.

O letramento é um processo que se inicia antes mesmo de a criança aprender a ler, supondo a convivência com universo de sinais escritos e sendo precedido pelo domínio da oralidade. Outros fatores associam-se ao processo de letramento, já que a convivência com a escrita começa no âmbito da família e intensifica-se na escola, quando o mundo do livro é introduzido à infância. (p. 246)

Desse modo, Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), e Tfouni (2006) comungam

da concepção de letramento como práticas de leitura e escrita que extrapolam o

conceito de alfabetização.

No entanto, Soares (1995; 1998; 2003), ainda que no mesmo foco de práticas

sociais de leitura e escrita, compreende o letramento para além da alfabetização,

como ela mesmo se refere, e das concepções apresentados até aqui.

[...] é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Implícita nesse conceito está a idéia de que a escrita traz

conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la (SOARES, 1998, p.17).

Page 29: Monografia Francieli Pedagogia 2010

38

A concepção argumentada pela autora é de que os indivíduos dominam o uso da

leitura e escrita desenvolvendo habilidades para a participação ativa em meio que se

fazem necessárias estas práticas. Letramento é, pois, ―o resultado da ação de

ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquiri um

grupo social, ou indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita‖

(SOARES, 1998, p.18).

Diante das discussões sobre o conceito e empregabilidade do termo letramento

pelas teóricas até aqui apresentadas, pareceu-nos que estas autoras convergem na

mesma direção no que se refere aos aspectos práticos e sociais do letramento. No

entanto, outros teóricos tem recentemente contribuído nas discussões deste termo.

Nas palavras de Di Nucci (2008), a leitura e a escrita trazem para o sujeito

conseqüências socioculturais, um novo modo de viver em sociedade e de se inserir

na cultura, e também conseqüências lingüísticas, uma vez que o sujeito sofre

influência da língua escrita sobre o modo oral de se expressar.

―O letramento permite ao indivíduo participar efetivamente de uma cultura letrada que exige diferentes usos da escrita no cotidiano. Assim, podemos considerar que o letramento pressupõe e possibilita novas formas de inserção cultural‖ (p. 55).

O processo de letramento envolve práticas de pensar o mundo e agir sobre o mundo

por meio de símbolos, palavras, contextos, e diversos instrumentos. Uma vez que, a

convivência com o universo letrado coloca a disposição do indivíduo situações de

aprendizagem que o levam ao desenvolvimento, exercício e amadurecimento de

competências que o direcionam ao letramento, em distintos momentos e em

diversos espaços da vida do sujeito.

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39

Segundo a teórica Di Nucci (2008), o letramento permite ao indivíduo participar

efetivamente de uma cultura letrada que exige diferentes usos da escrita no

cotidiano. Assim, podemos considerar que o letramento pressupõe e possibilita

novas formas de inserção cultural.

Visto isso, o desenvolvimento da participação cidadã crítica consciente está

intimamente ligada ao processo de construção do conhecimento individual e

coletivo, viabilizado pelo letramento, que consiste no uso das habilidades de ler e

escrever, no cotidiano em função das necessidades sociais. (KLEIMAN, 1995;

SOARES, 1998; DI NUCCI, 2008)

As situações de convívio com a leitura e a escrita no cotidiano, condicionam o sujeito

ao letramento. Logo, estar envolvido em eventos de práticas de leitura e escrita no

ambiente familiar faz parte do processo social e individual de letramento.

Pois, ler o jornal, escrever um bilhete, entre outras situações fazem parte do

cotidiano dos indivíduos, podendo ser caracterizado como eventos de letramento,

pois ―[...] o letramento envolve a aprendizagem social e histórica da leitura e da

escrita em contexto informais e os usos contextualizados no cotidiano do individuo.‖

(DI NUCCI, 2008, p.54)

O indivíduo letrado vive momentos de socialização e interação com meio, que torna

viável o processo de significação produzido pelo sujeito. Existem caminhos

diferentes para o aprendizado da leitura e da escrita e diferentes processos de

letramento, definidos relativamente à história das práticas culturais de cada grupo e

às demandas dos diferentes contextos situacionais. (BARBATO, 2007). Portanto, as

situações de letramento são vivenciadas a partir de momentos de desenvolvimento

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40

cultural e de identificação pessoal, e estão profundamente relacionadas com o

contexto histórico da vida do sujeito.

Page 32: Monografia Francieli Pedagogia 2010

41

CAPÍTULO III

DIRETRIZES E PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

A complexidade da organização da vida social do homem moderno esta

intrinsecamente ligada à pesquisa e ao conhecimento científico produzido ao longo

dos séculos. Compreendemos a pesquisa científica como suporte metodológico que

garante o processo de ampliação do conhecimento acumulado.

Estamos chamando de pesquisa o procedimento formal, com método de

pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho

para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais, (LAKATOS, 2005).

As ciências sociais no campo da educação, por sua vez, vêm através do tempo

desenvolvendo instrumentos teórico-metodológicos, legitimando sua grande

diversidade de modelos próprios de fazer pesquisa e analogicamente constituindo-

se em rigor e confiabilidade, adequando métodos e técnicas de acordo com a

natureza dos fenômenos por ela estudados. No campo da ciência o primeiro

princípio é a pesquisa, que se estabelece numa atitude processual de investigação

diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade impõem, e que

por objetivo fundamental compreender conhecimento humano em evolução.

Neste sentindo, o respectivo trabalho compreende elementos de pesquisa

qualitativa, por compreendermos que este tipo de abordagem considera a existência

de uma relação dinâmica entre universo real e sujeito, ouvindo e explorando as

Page 33: Monografia Francieli Pedagogia 2010

42

idéias, compreensões e preocupações sobre determinado fato, ou fenômeno. Seu

foco principal é o processo. A investigação num enfoque qualitativo abrange um

conjunto de procedimentos para coleta de dados que permitem sistematizar os

diferentes componentes que expressam os fenômenos do mundo social, implica

alcançar dados descritivos, apanhados no contato direto do pesquisador com a

situação estudada, salientando mais o processo do que o produto e se preocupa em

representar a perspectiva dos participantes. (LUDKE e ANDRÉ, 1986).

A pesquisa numa abordagem qualitativa permite a análise dos resultados num

panorama contextualizado do sujeito pesquisado, no intuito de observar, registrar,

compreender e co-relacionar os fatores e fenômenos sem manipulá-los. Pois, nesta

perspectiva busca-se conhecer e compreender as diversas situações e relações que

ocorrem na vida social, política, econômica, (CERVO, 2007).

3.1 – Caracterizando o Lócus e Sujeitos de Estudo

A pesquisa foi realizada na biblioteca pública municipal Professora Zenáurea

Terezinha Campos Dias, localizada na cidade de Senhor do Bonfim, município da

Região Centro-Norte do Estado da Bahia.

A referida biblioteca pública é mantida pela Prefeitura Municipal de Senhor do

Bonfim, e administrada pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes.

Esta inclusa na Lei municipal nº. 1137/2009 de 02 de outubro de 2009, que trata do

Sistema Municipal de Cultura - SMC, com a finalidade de captar e canalizar recursos

Page 34: Monografia Francieli Pedagogia 2010

43

para a área cultural, contando com um representante no Conselho Municipal de

Cultura regulamentado pela mesma Lei.

Para o desenvolvimento desta pesquisa tomamos como sujeitos de estudo os

usuários da biblioteca pública municipal. Foi analisado um grupo de amostragem

composto por vinte e sete usuários, escolhidos aleatoriamente, que participaram do

estudo respondendo a um questionário. Em seguida foi escolhido, também pelo

critério de aleatoriedade, um a cada três destes sujeitos que participaram da

segunda etapa do estudo, respondendo a uma entrevista.

3.2 – Os Instrumentos de Pesquisa

O momento de coleta de dados se configura numa etapa de verificação, que

necessita ser sistematizada através de instrumentos e técnicas. Os procedimentos

metodológicos aqui selecionados estiveram diretamente relacionados ao objeto de

estudo, afim de melhor atender as necessidades do pesquisador de forma ordenada

e completa.

Em função dos objetivos propostos esta pesquisa empregou a entrevista semi-

estruturada e pesquisa bibliográfica como principais técnicas de coleta de dados,

além de outros métodos complementares, como a observação participante, o

questionário fechado, e a análise documental a fim de alcançarmos o proposto e

melhor compreender os fenômenos estudados.

Page 35: Monografia Francieli Pedagogia 2010

44

Justifica-se a escolha da técnica de entrevista por ser um dos principais

procedimentos de coleta de dados utilizada pelos pesquisadores em ciências

sociais, no intuito de obterem dados que não estão expressos em fontes

documentais, mas podem ser obtidos através da fala dos sujeitos. ―É uma conversa

orientada para um objetivo definido: recolher, por meio do interrogatório do

informante, dados para a pesquisa‖, (CERVO, pág. 51, 2007). Optamos pela

entrevista do tipo semi-estruturada, que se caracteriza numa série de perguntas

abertas feitas verbalmente em ordem pré-estabelecidas, mas que permite ao

investigador explorar mais adequadamente as questões, como numa conversa

informal na intenção de melhor atender as necessidades da pesquisa. Este

instrumento foi delineado cuidadosamente observando os objetivos propostos, pois

sua flexibilidade requer do pesquisador grande controle e direcionamento das

questões, no entanto permite obter informações mais ricas e fecundas mantendo a

qualidade da pesquisa (CERVO, 2007). A entrevista foi registrada com o auxilio de

um gravador digital para garantia da fidelidade e veracidade das informações

colhidas, com prévia autorização dos entrevistados, que posteriormente foram

transcritas para a categorização e análise dos dados.

Outra relevante categoria de procedimentos de coleta que utilizamos foi a pesquisa

bibliográfica, que se constitui num suporte de extrema importância na coleta,

manipulação e análise das informações, propiciando maior rigor na abordagem do

estudo, pois estivemos em contato direto com as possibilidades já estudadas sobre

a temática.

A escolha pela observação participante se deu por permitir a participação real do

pesquisador na comunidade ou grupo estudado (LAKATOS, 2005). O pesquisador

Page 36: Monografia Francieli Pedagogia 2010

45

integra-se a situação e participa da vida do grupo em estudo, no intuito de

compreendê-lo no sentido de dentro, de fazer parte daquele meio, é uma

participação direta e pessoal.

A pesquisa fez uso do procedimento denominado questionário, que é um

instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas,

que devem ser respondidas por escrito na ausência do entrevistador. Sua natureza

impessoal garante a uniformidade na avaliação e possibilita a coleta de informações

e respostas mais concretas. Justificamos sua utilização por viabilizar o levantamento

de dados referentes aos aspectos sócio-culturais dos sujeitos e por atender a

finalidade do estudo. O questionário foi do tipo fechado, pois permite respostas mais

rápidas e precisas, facilidade na aplicação, manipulação e analise das informações

obtidas.

Os procedimentos metodológicos adotados para a instrumentalização desta

pesquisa foram aqui empregados, de modo, a se tornarem suportes de comunicação

favoráveis entre o investigador e sujeito investigado. Pois, entendemos que a

operacionalização da pesquisa e o alcance dos objetivos estão intimamente ligados

a escolha das técnicas e procedimento de coleta, logo os instrumentos devem ser

adequados aos objetivos da pesquisa a fim de alcançar seus propósitos,

(TRIVINOS, 1987).

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46

CAPÍTULO IV

A ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Este capítulo apresenta a análise e interpretação dos dados obtidos durante a

pesquisa. Destacamos que, as interpretações foram norteadas pelos nossos

objetivos, tendo como ponto de referência o quadro teórico.

No intuito de proteger a identidade dos entrevistados, utilizaremos um código para

identificar os discursos aqui transcritos. Será utilizada a letra ―L‖ (que é uma

abreviação da palavra ―Leitor‖), seguida de um numeral (01, 02, 03, etc.).

Para apresentação dos resultados organizamos os dados em categorias

estabelecidas levando-se em consideração as informações colhidas. Uma vez que,

as categorias são modos de organizar os conteúdos dos discursos que nos

permitem encontrar os ―sentidos‖ que nos auxiliam na interpretação, como explica o

autor:

A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferentes e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia) com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúne um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 1977, p.117).

Neste sentido, apresentaremos os nossos resultados nas seguintes categorias: A

primeira categoria, Biblioteca pública de Senhor do Bonfim, Subdividida em

Page 38: Monografia Francieli Pedagogia 2010

47

subcategorias: a) Breve Histórico de Senhor do Bonfim; b) Trajetória Histórica da

Biblioteca Municipal de Senhor do Bonfim.

A segunda categoria, Traçando o Perfil do Leitor-Usuário, traz o perfil dos usuário

da biblioteca pública de Senhor do Bonfim.

A terceira categoria Os Significados que a Leitura Produz, analisa a compreensão

que os sujeitos têm sobre leitura. Deste modo, as informações estão organizadas

em subcategorias: a) Ler é conhecimento; b) Ler é interagir, é construção de sentido

e visão de mundo; c) Leitura para a alfabetização e o letramento; d) Aspectos sociais

da leitura.

A quarta categoria, As Possibilidades de Leitura e de Letramento na Biblioteca

Pública, analisa as possibilidades de leitura e letramento que ocorrem no âmbito da

biblioteca pública. Apresentadas nas subcategorias: a) Objetivos dos usuários:

obrigações escolares, leitura e estudos; b) A importância da biblioteca para a

comunidade.

E por fim, A Biblioteca Pública como Espaço Mediador, analisa a biblioteca como

mediadora de leitura e eventos de letramento na sociedade. Apresentadas nas

subcategorias: a) Inclusão Social; b) Oportunidade...; c) Projetos de Incentivo a

Leitura?

4.1 – Biblioteca Pública em Senhor do Bonfim

Page 39: Monografia Francieli Pedagogia 2010

48

4.1.1 – Breve História de Senhor do Bonfim

Na região baiana denominada Piemonte Norte do Itapicuru, está localizada a cidade

de Senhor do Bonfim, com uma população de 76.113 habitantes em 2009, de acordo

com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Senhor do Bonfim distancia-se 374 quilômetros da Capital Salvador. Tem um relevo

constituído pelo Pediplano Sertanejo, seu clima é caracterizado pelos tipos semi-

árido, seco e subúmido, e sua vegetação possui características da caatinga arbórea,

florestas estacionais e grande variedade de vegetais, além das árvores frutíferas. O

município é banhado pela bacia do Itapicuru, e seus principais rios são o Itapicuru

Mirin, o rio da Prata, o Jaguarari, o Tamanduá e o Coité (MACHADO, 2007).

A história da cidade de Senhor do Bonfim teve início no Brasil Colônia, mais

precisamente no ano de 1697. Quando o local abrigava apenas rancharia de

tropeiros e mercantes, pois era ponto obrigatório destes que vinham do Piauí,

Longal, Maranhão e do rio São Francisco, ―em direção das terras onde se cavava o

ouro, aí descansavam e armavam os seus ranchos à beira da lagoa‖ (SILVA, 1970,

p. 13).

Na metade do século XVIII, os tropeiros e mercantes que por ali ficaram,

constituindo família e moradia, já se tornavam um pequeno povoado que em ―1750 a

rancharia se transformara em um arraial que tinha o nome de Arraial do Senhor do

Bonfim da Tapera‖ (MACHADO, 2007, p. 44).

Page 40: Monografia Francieli Pedagogia 2010

49

Após receber oficialmente o nome de Arraial do Senhor do Bonfim da Tapera, a

localidade já contava com cerca de 600 habitantes, fato que contribuiu para a

elevação do arraial a vila. Pois em 8 de junho de 1796, foi encaminhado pelos

moradores ao Governo o pedido de criação da vila, mas só em 1º de outubro de

1799, através do Auto de criação especial é que a localidade foi elevada a vila

recebendo o nome de Vila Nova da Rainha (MACHADO, 2007). Nome que

homenageou Dona Maria I, rainha de Portugal, em nome da qual seu filho, o futuro

D. João VI, que dirigia o trono no impedimento da soberana homologou a nobre

causa (SILVA, 1970).

Em 28 de maio 1885, pela Lei provincial nº 2.499, a Vila Nova da Rainha foi elevada

à categoria de cidade, chamando-se dai para frente Cidade de Senhor do Bonfim.

Instalada em 7 de janeiro de 1887, pelo juiz de direito interino Dr. Aurélio Pires de

Carvalho e Albuquerque (MACHADO, 2007).

4.1.2 – Trajetória da Biblioteca Municipal de Senhor do Bonfim

A década de 30 é marcada pela entrada do Brasil no mundo capitalista de produção

e acumulação de capital, o que exigiu mão-de-obra especializada e investimentos na

área da educação. Dentre as ações do governo federal se destaca a criação do

Instituto Nacional do Livro, em 1937 que contribuiu expressivamente para o

desenvolvimento das bibliotecas públicas (SUAIDEN, 2000).

Page 41: Monografia Francieli Pedagogia 2010

50

No mesmo período, em Senhor do Bonfim, ano de 1934, foi fundada no governo de

Mariano Ventura, a biblioteca ―Borges de Barros‖, que 70 anos depois, pela Lei nº

924/04, de 20 de julho de 2004, passou a se chamar ―Biblioteca Pública Profª

Zenáurea Terezinha Campos Dias‖.

Pouco se sabe sobre a trajetória histórica da Biblioteca Pública Profª Zenáurea

Terezinha Campos Dias, já que os documentos pertencentes a esta se perdedam no

tempo em meio a reformas e mudanças. Porém, Adolfo Silva (1970), faz mensão as

biliotecas que Senhor do Bonfim já possuiu ao longo de sua história, entre elas está

a ―Borges de Barros‖, hoje Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos

Dias.

―A primeira biblioteca foi instalada, em 1912, pela Soc. União e Recreio, na sua sede na rua Cons. Franco, transferida para a rua 02 de Julho, com 1.928 volumes. A segunda ―Borges de Barros‖ foi fundada em 1934, com 3.916 volumes, pertencente à Prefeitura Municipal, em cujo prédio funciona.

Foram fundadas as bibliotecas ―União e Mocidade‖, em 1940, com 645 volumes, pertencentes à Igreja Presbiteriana; ―Manoel Quirino‖, em 1942, com 439 volumes, na rua Rui Barbosa, pertencente à Associação Beneficente e Cultural dos Artífices; ―Rui Barbosa‖, em 1948, com 1.344 volumes, na rua 2 de Julho, pertencente à agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; ―Pedro Calmon‖, em 1957, com 280 volumes, pertencente às Escolas Reunidas; ―Pio XII‖, em 1959, com 1.200, volumes, pertencente ao bispado, funcionado no Seminário N.S.de Lourdes. (p. 55)

Contudo, encontramos no arquivo da Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha

Campos Dias uma circular expedida pelo Instituto Nacional do Livro, no ano de 1988

(anexo 01), que confirma o cadastro desta biblioteca, no referido orgão Federal, hoje

Fundação Nacional do Livro.

Outros documentos também confirmam o registro desta biblioteca em outras

instituições como no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (circular

datada de 06 de janeiro de 1999, remetida a então ―Borges de Barros‖ — ver anexo

Page 42: Monografia Francieli Pedagogia 2010

51

02) e no Conselho Regional de Bibliteconomia - 5ª Região (ofício expedido em 19 de

março de 1996 — ver anexo 03)

No entanto, o mais importante documento encontrado nos arquivos da biblioteca

municipal, que comprova sua existência mediante os orgãos de administração

pública municipal, estadual e federal, foi um formulário do Serviço de Estatística da

Educação e Cultura – SEEC, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

(anexo 04). No documento datado de 27 de junho de 1984 constam as informações

de que a ―Biblioteca Borges de Barros‖ foi fundada em 1934 e que ficava localizada

na Praça Juracy Magalhães, reafirmando o que Silva (1970) já havia constatado. É

esclarecido ainda que a entidade mantenedora é a Prefeitura Municipal de Senhor

do Bonfim. O acervo bibliográfico, na época, era formado por 1.654 exemplares.

No verso do documento citado no parágrafo anterior, encontramos a seguinte

informação ―confirma-se o registro e esclarecemos que os funcionários existentes

não são bibliotecários formados e nem treinados. E sim, funcionários da prefeitura.‖

(IBGE, 1983). Logo, diante deste documento e de relatos de antigos funcionários

ouvidos ao longo desta pesquisa descobrimos que na história da Biblioteca Pública

Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias nunca houve um profissional formado na

área. Ainda, no mesmo documento encontramos a informação de que em 1983,

houve uma reforma na biblioteca, mas nada se sabe sobre esta reforma.

Diante dos relatos de antigos usuários e funcionários observamos que o acervo da

biblioteca pública é mantido por doações de alguns órgãos, de usuários, e de

pessoas da comunidade local. Hoje a Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha

Campos Dias é a única biblioteca pública municipal em funcionamente na cidade de

Page 43: Monografia Francieli Pedagogia 2010

52

Senhor do Bonfim, e fica situada no local conhecido como Pirâmide, à Praça

Alexandre Góis.

4.2 – Traçando o Perfil do Leitor-Usuário

O primeiro momento da coleta de dados foi realizado por meio de um questionário

estruturado formado por 8 questões, que teve como objetivo conhecer quem é o

leitor-usuário da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, e de

onde provem esta demanda. Dos 252 usuários-leitores que freqüentaram a

biblioteca pública no período de realização do trabalho de investigação,

compreendido entre os dias 01 a 30 de novembro de 2009, variando entre os

períodos matutino e vespertino, 27 responderam ao questionário. Número que

representa um índice de 11% do total dos freqüentadores. Para análise dos

questionários consideramos as características e hábitos dos usuários-leitores.

Em um país como o nosso onde ainda não se cultiva o hábito de leitura, mas que,

também, não deixa de ter práticas leitoras, a biblioteca como uma instituição

destinada ao ato de ler exerce um importante papel de mediação entre a leitura e a

formação do leitor, num contexto social em constantes mudanças e de inúmeras

exigências. Pois, todos independente de idade ou classe social têm livres acesso a

este espaço.

Em nossa pesquisa detectamos que, 33% dos respondentes relataram freqüentar a

biblioteca uma vez por semana, 30% freqüentam mais de uma vez por semana, 11%

Page 44: Monografia Francieli Pedagogia 2010

53

freqüentam uma vez por mês, 26% raramente freqüentam. Com base nesses dados,

observa-se que mais da metade dos respondentes informaram ter usado

assiduamente os serviços e produtos oferecidos pela biblioteca. Os perfis desses

respondentes serão discutidos adiante.

No tocante as características do grupo respondente, constatamos que quanto à

idade, 33% encontram-se na faixa etária entre 11 e 15 anos, 30% entre 16 e 19

anos, 30% entre 20 e 25 anos, e 7% entre 24 e 30 anos. Estas informações indicam

que o público atendido na biblioteca pública de Senhor do Bonfim é primordialmente

de jovens, o que sinaliza serem alunos de ensino fundamental e médio, dados que

confirmaremos e discutiremos nas análises a seguir. Em relação ao gênero, 48%

são do sexo feminino, e 52% do sexo masculino.

Figura 1

Faixa etária

33%

30%

30%

7% Entre 11 e 15 anos

Entre 16 e 19 anos

Entre 20 e 25 anos

Entre 24 e 30 anos

Quando perguntamos sobre a ocupação dos respondentes, 93% responderam não

trabalhar. A maioria dos usuários-leitores que responderam ao questionário, 74%

cursam ou tem o nível médio de ensino, 15% cursam ou tem o nível superior

Fonte: dados da pesquisa

Page 45: Monografia Francieli Pedagogia 2010

54

incompleto, e 11% cursam ou tem o ensino fundamental, informação que reforça a

hipótese de que o público potencial da biblioteca pública em estudo é de estudantes.

Com os dados analisados e apresentados na figura 1 e figura 2 pudemos verificar

que a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, sofre o que

Suaiden (2000) chamou de fenômeno da escolarização das bibliotecas públicas.

Pois em um levantamento histórico feito pelo autor sobre o contexto social da

biblioteca pública entre as décadas de 30 e 50, demonstrou que a falta de biblioteca

escolar fez com que os alunos se utilizassem da biblioteca pública existentes, ―que

passou a dar prioridade para o atendimento estudantil em detrimento a outros

segmentos‖ (p.55). Fato que após 50 anos ainda é notado, pois entre os serviços

prestados ao público em geral, aqui reside a grande falha da biblioteca, até hoje, o

único segmento da sociedade que é atendido parcialmente, em pequena proporção,

é o dos estudantes do ensino fundamental e médio (SUAIDEN, 2000).

Figura 2

15

74

11

Nível de Escolaridade

Ensino Sup.Incompleto

Ensino Médio

EnsinoFundamental

Das instituições públicas preocupadas com o processo de construção e

democratização do conhecimento, as bibliotecas públicas são consideradas um

Fonte: dados da pesquisa

Page 46: Monografia Francieli Pedagogia 2010

55

espaço privilegiado e consagrado à prática de leitura, uma vez que, facilita

oportunidades de formação e condições de desenvolvimento individuais e coletivas,

pois as situações que ali se desenvolvem possibilitam a interação do leitor com o

que é lido, contribuindo para as construções e significações realizadas por meio da

prática da leitura (ZILBERMAN, 1989; SILVA, 1997).

Analisando o segundo aspecto verificado durante a pesquisa, os hábitos dos

usuários-leitores da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias,

consideramos que a biblioteca tem favorecido ao desenvolvimento cognitivo e

cultural dos sujeitos, através das situações de práticas leitoras que surgem no

interior deste espaço, subsidio imprescindível para o desenvolvimento sócio-cultural

dos indivíduos participantes da relação leitura e biblioteca. Pois, no que diz respeito

à utilização de outra biblioteca, nota-se, que 56% não freqüentam outra biblioteca. E

do total de respondentes que freqüentam outras bibliotecas (44%), 75% declararam

utilizar de bibliotecas escolares, e 25% de bibliotecas universitárias.

Figura 3

Freqüência de outras bibliotecas

56%33%

11%Não freqüentam outras

bibliotecas

Freqüentam bibliotecas

escolares

Freqüentam bibliotecas

universitárias

Fonte: dados da pesquisa

Page 47: Monografia Francieli Pedagogia 2010

56

Ao examinarmos as informações da figura 4, podemos destacar que o tipo de livro

que os usuários-leitores mais fazem uso é o de literatura (34%). Em segundo lugar,

aparece o livro didático (31%). Em terceiro, a poesia (19%). E finalmente o livro de

ficção científica (16%) como o menos citado. Esclarecemos que alguns usuários-

leitores optaram por mais de um tipo de livro.

Observando que o maior índice de preferência de livros recai sobre o livro de

literatura, indica que os usuários-leitores utilizam deste tipo leitura como fonte de

prazer. Uma vez que, a literatura é uma forma de apropriação lúdica do real, pois

dos textos escritos, o literário, introduz na dimensão da leitura o lado do prazer

desinteressado que outros textos não o fazem, liberando o leitor do peso da

realidade. (ZIBERMAN, 1989). Outra possível e importante indicação dos dados é de

que os livros de literatura, e os livros didáticos, tem sido preferência por exigências

dos vestibulares e de professores de língua portuguesa, o que reforça a hipótese de

que o público freqüentador da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos

Dias é de estudantes.

Figura 4

3431

1916

Preferência Literária

Literatura

Didático

Poesia

FicçãoCientífica

Fonte: dados da pesquisa

Page 48: Monografia Francieli Pedagogia 2010

57

Ao perguntamos quantos livros os usuários-leitores haviam lido, no ano de 2009

(ano da pesquisa), excetuando os livros escolares, obtivermos o seguinte

percentual: 82% responderam ter lido mais de três livros, 7% dois livros, 7% um livro,

e 4% responderam nenhum. Estes dados são de grande relevância, visto que,

pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Leitura, em 2007 revela que a média brasileira

de livros lidos é de 3,7 livros por habitantes/ano.

A comparação da média nacional com os 82% dos respondentes que afirmaram ter

lido mais de três livros no ano de 2009, sinaliza que o espaço da Biblioteca Pública

Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias tem sido utilizado para a formação do

hábito de leitura entre os freqüentadores daquele espaço, o que contribui para a

inclusão e participação desses sujeitos na sociedade. Visto que, para Silva (1986;

2004), sem dúvida o gosto pela leitura resulta de práticas de leitura, uma vez que o

texto é um modo de se inteirar das realidades e interagir com a coletividade, que

serve como instrumento de inserção das pessoas no mundo e para seus

relacionamentos como os grupos sociais com os quais estão envolvidas e que

constituem nosso cotidiano.

Figura 5

Quantidade de livros lidos no ano de 2009

7%

7%

4%

82%

Um livro

Dois

Mais de três livros

Nenhum livro

Fonte: dados da pesquisa

Page 49: Monografia Francieli Pedagogia 2010

58

A leitura exerce papel fundamental no modelo de sociedade vigente onde são cada

vez mais fortes as necessidades de obter conhecimento e informação. O processo

de construção do sujeito enquanto cidadão, de desenvolver-se social e

intelectualmente, está diretamente relacionado com seus hábitos e práticas de

leitura, no entanto os dados da nossa pesquisa revelam que 63% dos respondentes

não realizam compra de livros, e o restante (37%) declara comprar livros, como

mostra a figura 6.

Figura 6

37

63

Compra de Livros

Compram livros

Não compramlivros

De acordo com a análise destes dados pudemos verificar que mais da metade dos

respondentes tem acesso restrito ao livro, portanto, de todo o conhecimento e

informação registrados pela escrita e significado pela leitura. O que para Silva

(1986), está diretamente relacionada com o poder aquisitivo das classes

trabalhadoras, uma vez que a falta de acesso ou acesso restrito torna empobrecida

as condições sócio-culturais do povo. Pois, a prática de leitura tem relação direta

com as condições econômicas das famílias e dos indivíduos.

Fonte: dados da pesquisa

Page 50: Monografia Francieli Pedagogia 2010

59

4.3 – Os Significados que a Leitura Produz

Nos parágrafos seguintes pretendemos analisar, através das falas dos sujeitos

entrevistados que freqüentam a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha

Campos Dias, os usos e significados que as práticas leitoras produzem no âmbito da

biblioteca, e suas contribuições para a formação do sujeito letrado.

Alguns exemplos das falas mostram como os sujeitos concebem a noção de leitura

em suas vidas e para as suas vidas. A recorrência aos termos utilizados para o

conceito do que poderia definir o ler possibilitou propormos as categorias que a

seguir apresentaremos.

4.3.1 – Ler é adquirir conhecimento

O ato de ler é conceituado por Silva (1986), como fundamentalmente um ato de

conhecimento. Possibilitando-nos a adquirir informações, elaborarmos sentidos e

desenvolvermos reflexões críticas sobre os mais variados assuntos que se

apresentam a nossa volta.

A idéia que os sujeitos expressaram sobre a leitura direciona-se à compreensão de

que a leitura é uma via de acesso ao conhecimento, aproximando-se do que o autor

acima citado expõe. Sejam conhecimentos de ordem informacionais, ou sobre

conhecimentos educacionais, sociais, políticos, ou do cotidiano.

Page 51: Monografia Francieli Pedagogia 2010

60

“Leitura é conhecimento. É via de acesso ao conhecimento”. (L. 06)

“É fonte de informação, conhecimento”. (L. 08)

Na resposta seguinte é expressa, mesmo que inconscientemente, a idéia de leitura

que afasta o sujeito do senso comum, uma vez que, os processos de leitura da

palavra proporcionam o acesso, a compreensão e a reflexão sobre os diversos

textos e situações, ao mesmo tempo em que propiciam o questionamento e a

transformação dos mundos que nos circundam. (SILVA, 2004)

“[...] sem a leitura a pessoa não vai a lugar nenhum, não aprende nada”. (L. 04)

A idéia expressa a importância da leitura para a vida do sujeito na sociedade letrada,

onde o poder da palavra impressa é fator determinante nas relações existentes no

mundo dos dominantes exploradores e dos explorados oprimidos.

4.3.2 – Ler é interagir, é construção de sentido

Na perspectiva interacional da leitura onde leitor e autor interagem mutuamente

através do texto, as interpretações e reações do leitor são respostas previstas pelo

autor, ou seja, provocações intencionais. Esta também, é uma das concepções de

leitura apresentadas em uma das falas dos entrevistados.

“Leitura é uma forma de você interagir com o tema [...]”. (L 03)

“É abrir a mente, deixa a gente informado, trabalha a mente”. (L. 07)

Page 52: Monografia Francieli Pedagogia 2010

61

O ato de ler então não se constitui numa relação de leitor-receptor e de autor-

receptador. A atividade de leitura é uma interação a distância entre leitor e autor via

texto. O leitor constrói um sentido global para o texto, formula e reformula hipóteses,

aceita ou não aceita as conclusões do autor. (KLEIMAN, 1989)

A idéia de leitura interacional requer a participação efetiva e permanente do leitor na

construção de sentido. Pois, a interação e construção de sentido estão

condicionadas ao conhecimento do leitor, seus valores, suas vivências, e seu lugar

social. (SILVA, 2004; KOCH, 2007).

Essa construção de sentido significa, também, aprender a ler o mundo. Podemos

reconhecer que através do ato de ler estamos condicionados a conhecer valores,

princípios, idéias que estão presos a nossa realidade de acordo com o contexto de

cada sujeito. Isso significa que as reflexões que somos capazes de realizar, os

pensamentos que organizamos acerca das situações cotidianas, as opiniões que

emitimos de forma crítica e autônoma, são capacidades desenvolvidas a partir da

leitura, não necessariamente da leitura da palavra, mas da leitura do mundo.

Durante a análise das informações obtidas encontramos o conceito de leitura de

mundo explicitada nas respostas dos usuários-leitores.

“Ela me ajuda no estudo, é ver o mundo”. (L 09)

“É uma forma de se expressar melhor. De entender as coisas o mundo. Com a leitura a gente consegue desenvolver certas capacidades que até então não eram percebidas por nós e pelos outro”. (L 02)

Em seu artigo A importância do ato de ler, Freire (2002, p.12), declara: ―A leitura do

mundo precede a leitura da palavra; a leitura desta implica a continuidade da leitura

daquele‖. Não nos resta dúvida quanto à pertinência de tal declaração. Pois, ler a

Page 53: Monografia Francieli Pedagogia 2010

62

palavra implica compreender uma diversidade de realidades que permeiam os

envolvidos no processo da leitura e interpretação.

Nesse sentido, as diversas experiências e possibilidades de conhecer e de aprender

essas múltiplas realidades através da leitura, vão muito além da leitura dos signos.

4.3.3 – Leitura para a alfabetização e o letramento

Compreendemos que ser letrado, é ser um sujeito capaz de utilizar as habilidades

de ler e escrever em eventos de práticas sociais. Pois, segundo Kleiman (1995, p.

19): ―Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que

usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos

específicos, para objetivos específicos‖.

O termo letramento está implícito na fala do usuário-leitor L 02, ―[...] Com a leitura a

gente consegue desenvolver certas capacidades que até então não eram percebidas

por nós e pelos outro”. (L 02). Pois, os usos da escrita e a utilização das habilidades

de leitura estão ligados às práticas sociais, individuais e coletivas da leitura, e a

capacidade do indivíduo de participar ativamente em situações de práticas de leitura

e escrita na sociedade letrada. Ou seja: coerentemente com o conceito apresentado

em Soares (1998), letramento é o estado ou condição de indivíduos ou de grupos

sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de

leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento.

Page 54: Monografia Francieli Pedagogia 2010

63

O conceito de leitura para a alfabetização também foi encontrado. Ao falarmos em

alfabetização, é comum nos remetermos ao pensamento de alfabetização associada

apenas ao processo de aquisição do código escrito, e suas relações entre grafema

fonema. No entanto, ser alfabetizado, ou aprender a ler e a escrever implica não

apenas o conhecimento das letras e do modo de decodificá-las (ou de associá-las),

mas, está diretamente relacionada com compreensão e o desenvolvimento da

consciência crítica através da organização do pensamento.

Analisando as falas dos sujeitos entrevistados, observamos que concepção de

alfabetização através da prática da leitura. No entanto, o conceito explícito é o de

alfabetização caracterizado pela aquisição do código escrito, mas podemos perceber

que a alfabetização crítica está enraizada mesmo que por detrás das entrelinhas.

Pois, ―Desde o começo, na prática democrática e crítica, a leitura do mundo e a

leitura da palavra estão dinamicamente juntas‖. (FREIRE, 2002, p. 26)

“[...] É uma forma de aprimorar, melhorar a caligrafia, e pelos conhecimentos de forma geral”. (L 03)

“[...] É interessante, descobre coisas novas e a pessoa escreve certo”. (L 04)

“[...]. Valoriza, diversifica meu vocabulário, minhas idéias, me influencia a escrever melhor”. (L 05)

Leitura crítica é aquela que instiga o sujeito-leitor às releituras necessárias que o

leva a compreensão crítica de acordo com o seu meio social, o que Freire (2002),

chamou de romper com a consciência ingênua, chegando ao estágio de consciência

crítica, onde os sujeitos pelas práticas de leitura crítica são levados a análises

profundas, reconhecendo-se como sujeito consciente que participa do meio social.

Page 55: Monografia Francieli Pedagogia 2010

64

4.3.4 – Aspectos sociais da leitura

Indiscutivelmente as práticas de leituras são instrumentos fundamentais para o

sucesso dos indivíduos em uma sociedade letrada. Pois a formação intelectual e

social possibilita a participação e a interação destes indivíduos na sociedade,

dependendo quase que exclusivamente dos usos e práticas de leitura dentro do

contexto.

Neste sentido, para tornar-se um cidadão crítico e atuante no meio social é

primordial a presença do ato de ler na vida dos sujeitos. O que ficou evidenciado nas

noções dos aspectos sociais da leitura presentes nas falas dos entrevistados.

“[...] ela ajuda a formar um bom cidadão, e prepara você para a vida [...]”. (L 03)

“É importante para a sua formação, pois viabiliza o acesso ao conhecimento”. (L 08)

As análises, as compreensões feitas pelos sujeitos, à luz das experiências como

leitor, possibilita aos sujeitos dessa dinâmica o que um dos entrevistados chamou,

“engrandecer‖. A leitura constitui um elemento que produz ascensão intelectual,

social, econômica por meio de suas práticas, pois, o ato de ler e escrever no meio

letrado é ―essencial para a produção, transformação e recepção de conhecimento,

bem como para a sua incessante exploração do mundo‖. (SILVA ,1991, p. 45),

“Me ajuda a ter consciência da vida”. (L 04)

“Para me ajudar a crescer”. (L 09)

“Ela ajuda na vida, no trabalho, ela pode te engrandecer”. (L 07)

Page 56: Monografia Francieli Pedagogia 2010

65

Entre outras conseqüências de saber ler, escreve e fazer uso dessas habilidades no

meio social, ou seja, ser letrado, e utilizar-se da leitura como meio de acesso ao

mundo, está a capacidade de desenvolver a consciência crítica e reflexiva acerca da

realidade social, que para Silva, (1991), significa situar-se, nos diferentes contextos

sociais, tendo, necessariamente, de ver, ler ou ouvir, percebendo e compreendendo

a riqueza, e as alternativas contidas nesses universos, são condições básicas para a

realização da cidadania.

4.4 – As Possibilidades de Leitura e Letramento na Biblioteca Pública

O cotidiano de eventos e práticas letradas no espaço da Biblioteca Púbica Profª.

Zenáurea Terezinha Campos Dias, ocorre no entorno das estantes recheados de

livros, onde a partir dos objetivos de leitura dos usuários-leitores se dá o processo

de construção e reconstrução do conhecimento.

4.4.1 – Objetivos dos usuários: obrigações escolares, leituras, e estudos

A biblioteca apresenta inúmeras oportunidades que propiciam ao usuário o despertar

para o conhecimento, que com total liberdade tem a sua frente um universo de

materiais ricos para a leitura que o encaminha para a condição de sujeito letrado.

Page 57: Monografia Francieli Pedagogia 2010

66

Ao investigarmos quais são os objetivos dos usuários que freqüentam a Biblioteca

Pública Prof.ª Zenáurea Campo Dias, depuramos respostas muito semelhante, nos

quais, cinco dos nove entrevistados responderam utilizar da biblioteca apenas para

realizarem trabalhos escolares.

―Ela oferece a oportunidade de ampliar os conhecimentos, e prepara as pessoas para a vida e fazer os trabalhos da escola.‖ (L 03)

―Para fazer trabalho.‖ (L 04)

―Venho para fazer os trabalhos da escola.‖ (L 06)

―Fazer os trabalhos que a escola pede.‖ (L 08)

―Só trabalho da escola.‖ (L 09)

Diante das falas dos entrevistados percebemos uma grande utilização da biblioteca

somente como espaço para procedimento voltado às necessidades escolares. Esta

prática se configura pela exigência, dos professores, do cumprimento de tarefas que

requerem o uso da leitura, quase sempre vinculada à necessidade da denominada

―pesquisa bibliográfica‖.

Prática que reduz o papel amplo da biblioteca de mediadora do conhecimento, que

tem como função básica diminuir a distância entre os bens culturais e a comunidade,

negando seu caráter público, pois, somente à medida que a biblioteca pública se

vincular adequadamente com a comunidade, ela passará a ser o caminho que

possibilitará a participação efetiva na sociedade da informação, (SUAIDEN, 1980).

As demais respostas obtidas nos direcionam a reflexões quanto à utilização do

espaço da biblioteca para a realização de leituras e de estudos de modo geral.

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67

Ao refletirmos sobre a biblioteca pública partimos do pressuposto que as práticas de

leitura e escrita no espaço da biblioteca se amarram as condições de libertação das

classes trabalhadoras (SILVA, 1986). Pois, o espaço da biblioteca púbica é de

extraordinária importância em um país como o nosso, onde as oportunidades de

acesso à informação, entre a elite e a classe dos trabalhadores, são tão distintas.

Privando grande parte da população ao acesso e oportunidades de entender e de ter

noção dos seus direitos e deveres em uma sociedade globalizada.

―Somente leitura.‖ (L 01)

―Venho para ler e estudar.‖ (L 02)

―E para estudar de forma geral.‖ (L 03)

―Só leio.‖ (L 05)

―Só para estudar.‖ (L 07)

A biblioteca destaca-se entre as instituições promotoras da leitura, constitui-se como

um das poucas oportunidades de acesso ao mundo letrado para as massas

populares. Uma vez que, a leitura de textos consiste num instrumento para a

inserção das pessoas no mundo e para o relacionamento com os grupos sociais

com os quais estão envolvidos e que constituem o seu cotidiano (SILVA, 2004).

Portanto, ―se através dessas instituições nossas crianças forem introduzidas

corretamente no circuito do livro, conseguiremos nos livrar do impertinente fantasma

que nos ronda sem tréguas – a ―crise da leitura‖.‖ (PERROTTI, 1990, p. 66)

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68

4.4.2 – A importância da biblioteca para a comunidade

Analisando as respostas dos usuários-leitores, constatamos que a existência da

Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea Terezinha Campos Dias, é fundamental.

Observamos que para os seus usuários, a biblioteca pública de Senhor do Bonfim,

não se restringe a um mero depósito de livros.

É fundamental. Sem ela eu só poderia ler se comprasse livro. (L 01)

Oferece o conhecimento dos livros. (L 04)

―É bom para quem não tem o livro em casa e precisa estudar, e tem a biblioteca disponível o tempo todo‖. (L 06)

Via de acesso ao conhecimento, para as pessoas de poder aquisitivo menores. (L 08)

É o único lugar que a gente encontra a leitura de graça. (L 09)

O acesso aos livros, ou ―leitura de graça‖, foi aspecto importante presente nas falas,

o que pressupõe que a biblioteca tem promovido o contato com o mundo da leitura.

Pois no atual contexto social, onde o acesso aos livros pelas camadas populares

ainda é restrito, devido aos preços elevados e as condições salariais desfavoráveis,

o contexto da biblioteca pública se apresenta com uma das poucas oportunidades

de contato com o livro, o que evidencia através das falas, que a biblioteca pública é

um importante meio de acesso as experiências com o mundo letrado.

Visto isso, a biblioteca em sua função sócio-educativa quando integrada ao cotidiano

do sujeito, é instrumento colaborativo para a construção do sujeito leitor. Uma vez

Page 60: Monografia Francieli Pedagogia 2010

69

que, ―como centro cultural e não como um depósito silencioso de livros, é vista como

fator fundamental para o aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta

de ler o texto em relação com o contexto‖ (FREIRE, 2002, p. 33).

4.4.3 – O acervo e o acesso à informação

O espaço da biblioteca representa para os seus usuários um rico universo cultural,

recheada de livros, revistas e jornais. Visto que, nas falas é citado como espaço

privilegiado de acesso ao mundo letrado.

―Oferece uma boa variedade de livros.‖ (L 02)

―Oferece o conhecimento dos livros.‖ (L 04)

―É interessante ler, e é cheio de livros.‖ (L 05)

―Pelo acervo.‖ (L 09)

Na falas dos usuários é explícita a importância do acesso ao acervo da biblioteca.

Milanesi (1983, p.49), destaca sobre este ponto, ―a biblioteca contém muitos livros,

formando um conjunto complexo de conflitos e reforços. Cabe ao leitor aprender a

entrar e a sair – principalmente a sair – desse jogo‖.

Page 61: Monografia Francieli Pedagogia 2010

70

4.5 – A Biblioteca Pública como Espaço Mediador

Dentre as instituições mediadoras das práticas de leitura, e de acesso ao mundo

letrado, com trabalho direcionado, práticas dinâmicas de incentivo a leitura, com

pessoas capacitadas para atender sua comunidade eficazmente, e neste caso,

acervo atualizado, está a Biblioteca Pública.

Analisaremos a partir deste ponto, através das falas dos sujeitos entrevistados que

freqüentam a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, o que a

biblioteca pública municipal oferece para os usuários e para a comunidade em geral.

4.5.1 – Inclusão social

Percebendo que a disparidade econômica entre as classes ainda é gritante, e isso

diz respeito, também, e principalmente, ao acesso ao livro, e aos espaços de leitura,

a biblioteca pública configura-se importante local de exercício pleno da democracia e

cidadania.

Durante as análises das informações, pudemos perceber nas falas dos usuários da

Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea Terezinha Campos Dias a relevância desta

instituição como promotora de inclusão social e educativa na comunidade local.

―Oferece trabalho social e educativo‖. (L 08)

―[...] oferece inclusão das pessoas na sociedade‖. (L 09)

Page 62: Monografia Francieli Pedagogia 2010

71

Dentro da sociedade letrada, as informações e os conhecimentos, em grande parte,

circulam por meio da escrita. Neste sentido a instituição biblioteca deve cumprir a

importante função de mediadora entre a população, especialmente as classes

trabalhadoras, e os meios de informação e formação pessoal. Pois, ―a biblioteca,

como núcleo de informação, é serviço que dispõe as informações para o publico‖.

(MILANESI, 1983, p. 49)

Então, a biblioteca não pode ser um local distante da população, ―ela deve ser um

local de encontro e discussão, um espaço onde é possível aproximar-se do

conhecimento registrado e onde se discute criticamente esse conhecimento‖.

(MILANESI, 1983, p. 53). Pois, ao colocar o conhecimento ao alcance de todos

contribui para a formação e crescimento intelectual e cultural dos sujeitos estará

garantindo a inclusão social.

4.5.2 – Oportunidades...

As falas dos entrevistados revelam a consciência que estes têm das significativas

oportunidades que a biblioteca oferece à comunidade. Visto que, é pelas

oportunidades de acesso à informação, ao conhecimento, à cultura, e pelo estímulo

à leitura, que a biblioteca contribui para o desenvolvimento cultural, intelectual, e

sócio-econômico da comunidade, delineando-se como importante aliada no

processo de letramento dos seus sujeitos.

―Porque é a única que eu conheço.‖ (L 01) B

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72

―É a única oportunidade que a gente tem na cidade.‖ (L 02)

É no espaço democrático da biblioteca, onde as oportunidades para o

desenvolvimento da leitura como prática social são reais, que usuários são levados

a leitores críticos. Uma vez que, por meio do livre acesso a todos os tipos de

informação e conhecimento, tornam-se capazes de usar a informação como

instrumento para o seu crescimento pessoal. ―A biblioteca é um antídoto ao

dogmatismo na medida em que ela oferece informações sem censura‖ (MILANESI,

1983, p. 49).

4.5.3 – Projeto de incentivo à leitura?

O roteiro das entrevistas era composto pela seguinte questão: Você já participou de

algum projeto de incentivo a leitura aqui na biblioteca? E lamentavelmente a

resposta foi unânime, nenhum dos entrevistados mencionou a participação de

projetos incentivadores às práticas leitoras no âmbito da Biblioteca Pública Prof.ª

Zenáurea Terezinha Campo Dias.

O trabalho desenvolvido na Biblioteca, infelizmente, está muito distante do que seria

necessário para o desenvolvimento da leitura crítica, que viabilizasse a formação de

leitores. Durante todo o trabalho de pesquisa, nenhum usuário fez referência a

trabalhos desenvolvidos que incentivasse a leitura, ou mesmo que tivéssemos

percebido algum movimento que pudesse insinuar a realização de algum projeto

naquele período da realização da pesquisa, ou seja, as visitas feitas pelos usuários

são frutos exclusivamente das necessidades individuais.

Page 64: Monografia Francieli Pedagogia 2010

73

Pudemos perceber diante do ―não‖ dos entrevistados, que o trabalho desenvolvido

pelos funcionários se resume ao auxílio nas pesquisas dos alunos e ao empréstimo

de livros do acervo. O que para Milanesi (1997), define como mediocridade das

bibliotecas públicas, pois poucos são os incentivos a leitura como acesso ao

conhecimento, o contrário do que deveria acontecer.

Conclui-se, portanto que a contribuição da biblioteca, se restringe ao auxílio das

pesquisas escolares, já que os seus usuários são na maioria estudantes, deixando

uma imensa lacuna a ser preenchida no que se refere ao seu papel como instituição

pública promotora de incentivo a leitura, para todos os segmentos da comunidade

em geral.

Page 65: Monografia Francieli Pedagogia 2010

74

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As exigências do mundo contemporâneo têm-se recaído sobre a formação

intelectual dos sujeitos, pois a busca pelo conhecimento e informação é crescente,

na mesma medida que as necessidades de formarmos sujeitos letrados. Isso posto,

a biblioteca pública configura-se como instância essencial na organização e

dinamização das condições necessárias para realização da leitura que, antes de

tudo, é um processo de construção do leitor que necessita de condições adequadas

para a realização da troca leitor e autor.

Visto isso, este trabalho de pesquisa pretendeu compreender as práticas de leitura

que ocorrem no interior da biblioteca pública e suas contribuições para a formação

de sujeitos letrados. Dentre as nossas colocações é importante dizer que, a

Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea Terezinha Campos Dias tem, sim, contribuído

para a formação de sujeitos letrados, no entanto, não podemos negar a real

necessidade de melhoria quanto ao seu espaço físico, acervo e quadro de pessoal.

Nesse aspecto, evidenciou-se que no universo da biblioteca existe uma lacuna

imensa que precisa ser preenchida urgentemente, a total ausência de bibliotecários.

Visto que, esta falha ocasiona uma gama de outros problemas na instituição. Dentre

eles, podemos destacar a inexistência de projetos educativos de incentivo a leitura,

de ações comunitárias organizadas pela biblioteca que possam envolver outras

instituições, principalmente as de cunho educativo, como as escolas municipais e

estaduais, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, no intuito de mobilizar a

comunidade local para a promoção e significação do hábito da leitura em toda a

Page 66: Monografia Francieli Pedagogia 2010

75

comunidade, dentro e fora da biblioteca. Pois, é competência da biblioteca, como

instituição pública cultural e educativa, propiciar condições para o desenvolvimento

de projetos voltados para o letramento.

Os dados apontaram para a necessidade de atualização e expansão do acervo,

inserindo outras fontes de pesquisa e informação como jornais e revistas de grande

circulação, documentários no formato de mídias áudios-visuais, a fim de que a

instituição possa atender as necessidades de informação e formação educativas de

toda a comunidade. E principalmente, que se abra aos novos meios tecnológicos de

informação, adotando em seu espaço computadores ligados à internet,

possibilitando consulta a sites de pesquisa, bibliotecas virtuais que muito têm

contribuído para a formação dos sujeitos na sociedade atual. Além disso, a

instituição requer maiores acomodações para o seu público e acervo, pois

observamos um pequeno espaço físico que não foi construído para atender as

necessidades de uma biblioteca, e sim, sofreu adaptação para que se transformasse

em uma.

Outro importante indicativo encontrado, é que embora a biblioteca tenha cumprido

parcialmente o seu propósito educativo, quando atende quase que somente ao

público jovem escolar, que a vêem apenas como espaço para realização das

atividades escolares, a Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea Terezinha Campos Dias

configura-se com um relevante espaço democrático a servido do conhecimento a

disposição da toda a sociedade de modo geral.

Compreendemos o papel da biblioteca pública na sociedade contemporânea, como

instituição voltada para as necessidades da comunidade em geral, e que tenha

como preocupação maior atender suas necessidades educativas, viabilizando

Page 67: Monografia Francieli Pedagogia 2010

76

práticas letradas no seu contexto, assim como promover o hábito e incentivo da

leitura. Pois, cabe à biblioteca pública e seus mediadores promoverem ações que

levem seus sujeitos a vivenciarem estas práticas, conduzindo-os ao

desenvolvimento intelectual, cultural e social. Assim, a biblioteca pública como

espaço privilegiado destes eventos, não pode furtar-se de sua importante função de

formar e desenvolver o letramento de seus usuários.

Desse modo, é urgente a viabilização de meios de revitalização deste espaço, para

que a instituição Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea Terezinha Campos Dias possa

de fato constituir-se como espaço de democratização e inclusão social.

Democratização, no sentindo de atender a comunidade de modo geral, e inclusão

social no sentido de possibilitar o desenvolvimento individual e coletivo dos sujeitos

inseridos nesta realidade, considerando que quando a instituição vincula-se

adequadamente a comunidade ela possibilita a participação efetiva dos sujeitos na

sociedade.

Page 68: Monografia Francieli Pedagogia 2010

77

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APÊNDICE

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83

APÊNDICES

QUESTIONÁRIO

Prezado colaborador, este questionário faz parte do trabalho de pesquisa

monográfico com a temática ―Práticas de leitura na biblioteca pública municipal e

suas contribuições para a formação de sujeitos letrados‖, da Universidade do Estado

da Bahia. Garantimos que sua identidade será mantida em sigilo.

Conto com a sua valorosa participação. Obrigada!

1) Sexo:

( ) Masculino ( ) Feminino

2) Idade:

( ) Até 10 anos ( ) Entre 11 e 15 ano ( ) Entre 16 a 19 anos

( ) Entre 20 e 25 anos ( ) Entre 24 e 30 anos ( ) Mais de 30 anos

3) Escolaridade:

( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Superior Incompleto

( ) Superior Completo ( ) Pós-graduado

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84

Formação: ______________________________________________

3) Você trabalha?

( ) Sim ( ) Não

4) Com que freqüência você vem à biblioteca?

( ) Um vez por semana ( ) Mais de uma vez por semana

( ) Uma vez por mês ( ) Duas vezes por mês

( ) Raramente

5) Excetuando-se os livros escolares, quantos livros você leu no presente

ano?

( ) Um ( ) Dois ( ) Mais de três ( ) Nenhum

6) Você compra livros? Que tipo de livro?

( ) Sim ( ) Não

________________________________________________________________

7) Quais os tipos de livros que você mais lê?

( ) Literatura ( )Livro didático ( )Poesia ( ) Ficção científica

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85

Outros: _____________________________________________________________

8) Você freqüenta outra biblioteca? Qual

( )Sim ( ) Não

___________________________________________________________________

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86

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1) Você gosta de ler? Por quê?

2) Por que você vem a esta biblioteca?

3) Você faz os trabalhos da escola aqui?

4) Costuma levar livros para casa? Sabe quantos já levou?

5) Quais os tipos de livros que você mais gosta de ler?

6) Você já participou de algum projeto de incentivo a leitura aqui na biblioteca?

7) O que é leitura para você?

8) Qual a importância da leitura para a sua formação intelectual e social?

9) Qual a importância desta biblioteca para você?

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87

10) Em sua opinião, o que esta biblioteca oferece para a comunidade?

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88

ANEXO

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89

ANEXOS

FIGURA 01

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FIGURA 02

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FIGURA 04

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