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INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa pretende atender as exigências do curso de Pedagogia Docência e Gestão de processos Educativos. Tendo como atividade, um estudo sobre representações sociais dos jovens com baixa escolarização da cidade de Campo Formoso Bahia, especificamente no povoado de Lagoa do Pastorador I. O presente trabalho vem tratar de forma prática e construtiva um dos assuntos de grande relevância no cenário educacional brasileiro; As representações sociais de escola dos jovens com baixa escolaridade. Já que esse é um problema presente no nosso quotidiano. O nosso objetivo foi identificar as representações sociais que esses jovens têm de escola. Esse trabalho consiste em levarmos uma reflexão acerca dos problemas que levam os jovens a evadirem da escola, como também perceber como os mesmos representam esse espaço. A escolha pelo tema surgiu quando tivemos a oportunidade de estudar no espaço acadêmico a história da Educação Brasileira. Aprofundando os estudos sobre tal, percebemos que a mesma possui ranços, entre eles está a baixa escolaridade. Para melhor compreensão do mesmo foi indispensável um estudo, que nos ajudasse a perceber como o espaço escolar é representado pelos jovens, sujeitos escolhidos para a realização da presente pesquisa, (As representações sociais de escola dos jovens com baixa escolaridade do município de Campo Formoso). 10

Monografia Lidiana Pedagogia 2008

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Pedagogia 2008

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Page 1: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa pretende atender as exigências do curso de

Pedagogia Docência e Gestão de processos Educativos. Tendo como atividade, um

estudo sobre representações sociais dos jovens com baixa escolarização da cidade

de Campo Formoso Bahia, especificamente no povoado de Lagoa do Pastorador I.

O presente trabalho vem tratar de forma prática e construtiva um dos

assuntos de grande relevância no cenário educacional brasileiro; As representações

sociais de escola dos jovens com baixa escolaridade. Já que esse é um problema

presente no nosso quotidiano. O nosso objetivo foi identificar as representações

sociais que esses jovens têm de escola. Esse trabalho consiste em levarmos uma

reflexão acerca dos problemas que levam os jovens a evadirem da escola, como

também perceber como os mesmos representam esse espaço.

A escolha pelo tema surgiu quando tivemos a oportunidade de estudar no

espaço acadêmico a história da Educação Brasileira. Aprofundando os estudos

sobre tal, percebemos que a mesma possui ranços, entre eles está a baixa

escolaridade. Para melhor compreensão do mesmo foi indispensável um estudo,

que nos ajudasse a perceber como o espaço escolar é representado pelos jovens,

sujeitos escolhidos para a realização da presente pesquisa, (As representações

sociais de escola dos jovens com baixa escolaridade do município de Campo

Formoso).

No capítulo I, procuramos detalhar um estudo sobre o problema da baixa

escolarização no Brasil desde o período colonial até os nossos dias atuais, com

enfoque no estado da Bahia, especificamente na cidade de Campo Formoso já que

esse foi o lócus da pesquisa. No capítulo II, procuramos trazer um estudo

aprofundado das seguintes palavras chaves: representação social, jovens com baixa

escolarização e escola, no intuito de contribuirmos, para uma melhor compreensão

do tema trabalhado. No capítulo III, abordamos a importância da pesquisa

qualitativa, dos instrumentos de dados, dos sujeitos e do lócus para a obtenção dos

resultados que foram alcançados. No capítulo IV, trazemos os resultados da

entrevista realizada; o perfil sócio-econômico, como também as análises das

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representações sociais de escola dos jovens. Na conclusão, procuramos trazer os

possíveis resultados e impasses presente no trabalho, onde na oportunidade

solicitamos sugestões que possam contribuir para uma possível solução do

problema.

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Capítulo I

Os jovens com baixa escolarização e a escola

1.1 Os jovens e a baixa escolarização.

A escola é uma instituição remota, surgida desde as sociedades tribais,

mesmo que de forma rudimentar, por estar localizada muitas vezes na própria

família, variando seu número, conteúdo de ensino, duração, organização de

currículo, seleção de destinatários e de professores. Segundo Cunha (1991) ”nessa

época não se tinha um modelo de educação registrado de acordo com as Diretrizes

Nacionais, sendo que algumas eram restritas apenas no âmbito Familiar.” (p.113).

Nesse sentido, a educação tinha como papel a instrução dos indivíduos, seja

ela religiosa ou familiar. Religiosa, no sentido de evangelização dos índios tendo

como responsáveis por esse ensino os jesuítas com objetivos de catequização

tornando-os dóceis, através da inculcação dos dogmas e doutrinas do catolicismo.

Já no ensino voltado a instrução familiar acontecia no próprio lar com um ensino

voltado às necessidades quotidianas, sendo ministrado pelos próprios pais às

crianças; trabalhos domésticos e algumas técnicas de agricultura e pecuária.

Mas, foi especificamente na sociedade capitalista que surgiu uma “nova”

função para a escola: a de reclassificação de pessoas oriundas das diferentes

classes sociais. Como ela não podia beneficiar a todos, os privilegiados eram

aqueles indivíduos oriundos de classes dominante e média; atrelado a isso estava à

deficiência do número de vagas oferecido. Cunha (1991, p. 113) nos faz refletir

melhor quando afirma que:

No início das sociedades capitalistas até o seu amadurecimento no século XIX, os sistemas escolares excluíam praticamente todos os trabalhadores rurais, sendo que as escolas eram freqüentadas pelas classes dominantes e pelas camadas médias e somente as poucas escolas mantidas por entidades confessionais a título de caridade, aceitavam filhos de trabalhadores, preferencialmente os órfãos e os abandonados.

Percebe-se que no Brasil perpassou uma educação excludente, à medida

que, o seu modelo educacional ora servia como ascensão para aqueles que de certa

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Page 4: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

forma já possuíam, contribuindo assim para uma educação burguesa, para poucos,

ora servia apenas como consolo, “amparo” para aqueles que viviam a mercê de

caridade.

Com o advento da sociedade capitalista, junto a ela expandiu-se o trabalho

fabril, surgindo, assim, a grande necessidade de indivíduos capacitados para tal,

obrigando a abertura de vagas para a capacitação apenas para o trabalho, surgindo

não uma escola universal, mas dual, onde as classes sociais dispunham de uma

educação de baixa qualidade voltada apenas para o trabalho, enquanto as classes

dominantes continuaram com uma educação de boa qualidade, diferenciando-se

também pelo modelo de educação que recebiam.

Pode-se notar que a baixa escolarização e a não escolarização é um

problema que tem suas raízes nos primeiros passos da educação brasileira; esse

fator é percebido mediante necessidade de se criar escolas para pobres e escolas

para ricos com a ilusão de que estão assegurando uma educação igualitária para

todos, Tawney (1990, apud Cunha 1991) nos diz que:

As (...) instituições educacionais de uma sociedade arcaica estão entre aquelas mais nitidamente prepostas a assegurar a todos os indivíduos oportunidades iguais para serem desiguais. (p.115)

A escola ainda não conseguiu atender as expectativas da sua clientela,

muitas vezes tornando-se traumática, fazendo com que o indivíduo que nela estréia

antipatize-a, ou aquele que nela está inserido não consiga se realizar plenamente,

abandonando-a. Para fundamentar essa discussão, Cunha (1991, p. 120) traz o

seguinte comentário:

Quando as crianças oriundas das classes dominantes e das camadas médias vão À escola, tem no ensino, um prolongamento da primeira socialização, difusa doméstica. Entretanto, para os filhos dos trabalhadores a experiência escolar é algo traumatizante. A disciplina, o significado das palavras, o vocabulário, as maneiras consideradas decentes, a estrutura das frases, a maneira de se expressar o pensamento, são percebidos como uma arbitrariedade imposta, contrariando toda a sua primeira socialização.

Infelizmente o nosso país ainda detém uma educação excludente e burguesa.

Sendo percebida pelas crianças no seu primeiro ano de ingresso na escola. Na

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medida em que essas escolas preparam-se para atender uma clientela com

facilidade de aprendizagem as ditas “normais”. Dessa forma, acabam interditando a

permanência de crianças oriundas das classes populares, muitas vezes filhos de

pais não escolarizados ou com baixa escolarização que chegam a esse espaço e

são surpreendidos com um ensino “equivocado” e sem sentido fazendo com que os

mesmos abandonem. Na maioria das vezes carregando sentimento de

incapacidade.

Assim, podemos observar que o problema da baixa escolarização em nosso

país é fruto de inúmeros fatores. Cabendo ressaltar também, o baixo padrão social,

onde os alunos são obrigados a abandonar os bancos escolares e se dedicarem ao

trabalho muito cedo, assim como o fato de termos escolas burguesas “únicas”,

esperado para crianças burguesas. Uma vez que, quando as crianças de pais

trabalhadores nela chegam, ocorre a não identificação por parte dos educandos

levando-os a evasão. A escola acaba perdendo de vista o seu objetivo, não

oferecendo subsídios para que sua clientela permaneça, no se interior,

abandonando-a antes de completar o nível máximo de escolarização: o nível

superior. Cunha, (1991, p.122) comenta:

A escola organizada para uma elite recebia crianças educadas, perfeitamente equipadas para imediatamente aprenderem a ler, escrever e contar, ou melhor, para vencerem o programa preconizado. Os alunos provindos das classes sociais menos afortunados não recebem, em casa ou na classe social a que pertencem o preparo requerido pelos programas escolares preconizados para as escolas da elite que perduram no sistema escolar nacional. Daí as reprovações em massa à escola primária do “salve-se quem puder”, a escola organizada para atender aos portadores de um cabedal de experiências que lhes permitem usufruir dos benefícios escolares que oferece.

A situação da baixa escolarização no Brasil é motivo de estudos e pesquisas,

uma vez que essa situação é grave, pois, levando em consideração as diferenças

regionais, ou de gênero, raça ou faixa etária ainda há um grande número da

população que convive com os problemas do analfabetismo.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), o

Brasil tem hoje 1.013 municípios com taxa do analfabetismo de jovens e adultos,

acima de 35%, sendo que a região Nordeste concentra 90% desses municípios. No

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estado da Bahia a taxa é de 16,1% de analfabetos com faixa etária entre 25 a 49

anos, enquanto que em relação ao abandono escolar é de 16,15 no Ensino

Fundamental e 20,9% no Ensino Médio.

Diante do abandono e do analfabetismo desarcebado pelo qual o estado da

Bahia, especificamente o município de Campo Formoso, vem enfrentando, pois, de

acordo com as estatísticas do IBGE, o número de analfabetos no citado município é

de 17,6% entre os adolescentes entre 10 a 15 anos e de 32,2% entre os jovens de

15 anos ou mais.

Frente às exigências feitas pela sociedade capitalista em relação ao nível de

escolarização, para o desempenho de cargos no mercado de trabalho,

acompanhado a exigência de uma plena escolarização do mundo globalizado, onde,

neste cenário, as informações surgem a cada instante, e precisamos acompanhá-las

e compreendê-las, torna-se indispensável à escolarização, pois é a partir disto que

os indivíduos podem ter consciência crítica, podendo assim tornar-se autônomos

nas tomadas de decisões, tanto individuais como coletivas.

Podemos perceber que mesmo diante de tantas exigências e procura de

indivíduos escolarizados na sociedade em que vivemos, nota-se que ainda é muito

grande o número de jovens fora da escola. Motivo esse que não é justificável por

uma possível ausência de vagas oferecidas, pois, na realidade, as escolas a cada

ano estão preocupadas com a pequena quantidade de alunos que freqüentam esse

espaço, assim como, com a quantidade de alunos que evadem, antes de terminar o

ano letivo.

Assim, percebe-se que ainda é gritante o número de jovens analfabetos no

município de Campo Formoso, como também o número de jovens que abandonam a

escola antes de terminarem seus estudos, que corresponde a 23,3%. Frente a essa

situação constrangedora pela qual o município de Campo Formoso vem enfrentando

é imprescindível questionar: “Quais as representações sociais que os jovens com

baixa escolaridade do município de Campo formoso têm sobre a escola”?

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Diante do tema proposto para realização do trabalho monográfico, torna-se

necessário a inserção do estudo de representações sociais. À medida que; “essas

trazem nos seus conteúdos e nos seus processos, uma marca social específica”.

Anadón e Machado (2003, p. 23).

Por entender que as representações sociais nascem das interações de

indivíduos de uma determinada sociedade, entendida aqui, como um processo

socialmente construído, é indispensável o seu estudo, uma vez que, o problema

apresentado, requer uma visão social que nossos jovens têm atualmente de escola.

Acredito que entender como os nossos jovens vêem a escola em nossos dias

atuais irá contribuir significativamente para que os educadores possam refletir

melhor sobre as diferenças que existem no espaço escolar, como também a

compreender o real sentido que nossos jovens dão à escola. Convidando a

instituição a refletir sobre o modelo que se faz presente no seu interior, e com o

abandono precoce por parte dos mesmos nesse espaço. Cientificamente

pretendemos contribuir para possíveis ações para que as políticas públicas possam

interferir para a permanência dos jovens na escola, uma vez que um estudo dessa

natureza identificará alguns significados que estes sujeitos dão à escola. Pretendo

com o presente estudo, compreender o processo da baixa escolarização dos jovens

do município de Campo Formoso.

Assim, o objetivo geral da minha pesquisa será:

- Identificar as representações sociais que os jovens do município de Campo

Formoso com baixa escolarização têm da escola.

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Page 8: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Capítulo II

Um breve passeio pela história para aprofundar os conceitos chaves

Diante do tema, “As representações sociais de escola dos jovens com baixa

escolaridade do município de Campo Formoso”, é de fundamental importância uma

discussão histórica das seguintes palavras chaves: representações sociais, jovens

com baixa escolarização e escola. Uma vez que, esse estudo ajudará a

compreender a situação atual da baixa escolarização, já que esse é um problema

social que tem suas origens desde o surgimento da história da Educação brasileira.

2.1. Representações Sociais

O processo histórico é contínuo e não linear, porém não podemos conceber

os acontecimentos como algo isolado. Pois, os mesmos possuem relações com os

fenômenos históricos pelos quais passamos, cabendo ressaltar, que os

acontecimentos presentes possuem relações com os fatos passados e que as

rupturas históricas não acontecem da noite para o dia, mas sim num lento e gradual

processo. Por isso, apresentamos a evolução das representações sociais, através

de um processo histórico gradual, procurando demarcar os pontos de maior e menor

convergência existentes.

É percebido que sob uma ótica reducionista, existia uma dicotomia entre a

Sociologia e a Psicologia, uma vez que, cabia a Sociologia, o estudo da sociedade,

e a Psicologia o estudo do indivíduo, a qual se pode nomear como Psicologia

Individual. (ALEXANDRE, 2004)

Foi Durkheim (1947) quem utilizou pela primeira vez, o termo “representações

coletivas”, empregando na elaboração de uma teoria da Religião, da magia, e do

pensamento mítico. À medida que o mesmo argumentava que esses fenômenos

denominados coletivos não podiam ser explicados em termos individuais, uma vez

que esses fenômenos são produtos de uma comunidade, um povo, sob um processo

social. Anadón e Machado (2003, p.10) afirmam que Durkheim apresenta o termo

“Representações coletivas” como:

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Page 9: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Diversos tipos de produções mentais sociais como a Ciência, a Religião, a ideologia, os mitos e outras produções, estas que de um lado se distanciam do que se entende por senso-comum.

A idéia de representações sociais, até então entendida por Durkheim, é de

algo alheio à discussão e aos aspectos cognitivos, como também da sua produção

originada pela produção dos grupos sociais. Apoiado no ponto de vista de Durkheim,

Moscovici, desenvolve o estudo de representações sociais, “mostrando que é

possível a construção de um conhecimento válido pelo senso-comum e que se pode

aprender o conhecimento numa dimensão psicossociológica”. Moscovici (1961, apud

ANADÓN e MACHADO, 2003, p.10).

Porém, diante desses estudos é percebida, a diferença entre o individual e o

social, entendido como (cultura ou sociedade). Nesse sentido, é percebido que

estudiosos, começam a perceber que os fenômenos de uma dada sociedade podem

ser explicados por fatores individuais e coletivos, levando a crê que o indivíduo não

é um ser estático e nem isolado do meio social, uma vez que, seus valores e idéias

são construídos socialmente.

Assim, o estudo de representações sociais, ganha dimensão, á medida que o

mesmo acontece a partir do compartilhamento de idéias, valores e culturas

vivenciadas por determinados grupos sociais que servirão de base, e “trilha”, para a

vida quotidiana de uma dada sociedade. Jodelet (1989 apud ANADÓN e

MACHADO, 2003 p. 13) afirmando a partir dos seus estudos sobre representações

sociais que:

Este pensamento não se constrói no vazio, ele se enraíza nas formas e nas normas da cultura e se constrói ao longo das trocas quotidianas. Por isso se afirma que Representação Social é socialmente construída.

Logo, vale ressaltar a dinâmica significativa que a idéia de representação

social proposta por Moscovici e Jodelet traz ao estudo da Psicologia. Uma vez que,

o desenvolvimento do indivíduo focalizava-se no esquema Estímulo-Resposta.

Então, é notável que o estudo de Representação Social, vem valorizar o

social e o cultural, reforçando a importância do meio, como processo indispensável à

formação do indivíduo, à medida que, o sujeito é produto do meio e vice-versa.

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Page 10: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Cabe ressaltar que as representações sociais são compartilhadas em uma

dada sociedade, onde os indivíduos constroem seus valores, conhecimentos, a partir

de interações sociais baseadas tanto no conhecimento científico, como no senso

comum, produzindo assim suas “verdades”, uma vez que isso se dá através das

experiências vividas, confrontadas e experenciadas. Almeida (2003, p. 49) afirma

que: “A função de representações sociais é orientar a conduta e a comunicação

entre indivíduos e familiarizá-los com o novo”.

É notável a relação das representações sociais tanto no campo sociológico,

quanto psicológico, podendo ser refletido no desenvolvimento das tecnologias

presentes em nosso meio. Anadón e Machado (2003, p. 16) afirmam que é

fundamental ressaltarmos as transformações que são visíveis na sociedade, uma

vez que:

Essas relações produtivas e ricas de um lado a Representação Social que pertence ao domínio da Psicologia social e do outro a Sociologia do conhecimento, marcada pelo interacionismo simbólico, pela etinometodologia, pela fenomenologia e pelo construtivismo social, o que nos leva a ver a realidade social como uma construção apoiada na interação e na comunicação entre as pessoas.

As representações sociais tornam-se produto e processo de uma determinada

sociedade. Enquanto produtos deste conceito estão os valores, culturas, opiniões e

conhecimentos. Sendo que o processo está na transformação do real, já que a

transformação parte do conjunto organizado do produto, uma vez que esses fatores

acontecem socialmente, partindo de opiniões diversas, chegando ao consenso

coletivo. (ALEXANDRE, 2004)

2 . 2 Jovens com baixa escolarização

A história da educação brasileira perpassou por vários fatores, fatores esses,

que possibilita-nos compreender as causas e conseqüências do grande número de

jovens analfabetos e com baixa escolarização presente na nossa sociedade.

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Page 11: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Consideramos ao longo do nosso trabalho os jovens com faixa etária entre 20

e 40 anos, pois acreditamos que a definição de juventude é o resultado das

experiências sociais de um determinado tempo histórico. As idades não possuem

um caráter universal. Infância, juventude e vida adulta, são resultados da história e

varia segundo as formações humanas. (CARRANO, 2003)

A Organização das Nações Unidas (ONU) define jovem o indivíduo que se

encontra em faixa etária entre 15 a 24 anos. Portanto, concebemos o termo

juventude, a uma etapa da vida muito mais ampla considerada aqui não apenas a

uma condição biológica que pode ser simplificada e reduzida a períodos, já que

entendemos o termo juventude a contrastes, buscas e desejos de mudanças

marcadas por sucesso e vontades de transformação.

Sabemos que desde o período colonial as escolas já possuíam caráter

discriminatório, centralizador, interceptor, autoritário, e elitista. Características essas

que se propagam até os nossos dias atuais. É percebido também, que desde esse

período a educação já era privilégio dos filhos dos colonos, porém, com a transição

histórica do período colonial para o período industrial a educação continua sendo

vista não como uma necessidade social do indivíduo, mas sim como ascensão

social, vista pela burguesia como a salvação da economia brasileira. (FREIRE,

1989)

Diante disso, vale ressaltar que esse modelo de educação, forjou o

analfabetismo, uma vez que, a necessidade pela educação escolarizada não estava

centrada na necessidade das classes populares, mais sim da burguesia que, a

depender do modelo social que o Brasil enfrentava, aumentava a preocupação na

construção de escolas e ampliação do ensino para o “atendimento” as camadas

populares. Vale ressaltar que esse tipo de educação respondia apenas a objetivos

políticos e econômicos. Enquanto isso, a burguesia fazia discursos “camuflados” e

contraditórios, anunciando a propagação de que o Brasil detinha uma educação

universal. Freire, (1989, p. 221) afirma que:

Alfabetizar as camadas subalternas, sobretudo o operariado segundo suas doutrinas, podendo, assim, ter mão-de-obra

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Page 12: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

qualificada e a possibilidade de desestabilizar através de eleições diretas e secretas o poder absoluto da oligarquia cafeeira.

Conhecendo um pouco a história da educação brasileira, torna-se nítido o

descaso em relação a um ensino de qualidade destinado às camadas populares. O

que se percebe em relação ao ensino brasileiro, é a elitização e dualidade do

mesmo, contribuindo para o fracasso e abandono dos jovens nesse espaço. Dual no

sentido de termos escolas destinadas às camadas populares e escolas destinadas a

burguesia; elitizado, à medida que, as escolas dispunham de um currículo único,

onde não se levava em conta a realidade cultural e social das camadas populares.

Freire (1989, p.223) nos afirma que:

A despreocupação pela educação, nos seus aspectos quantitativos, é a conseqüência deste construir histórico que traz em seu bojo, além do desprezo pelas camadas populares, a interdição de muitos ao conhecimento e, portanto, os perpetua na “incompetência”, na “ignorância”, nas “trevas”, no “século”, na “praga negra”, no “cancro”, no “obscurantismo”, e na “vergonha” da “chaga” do analfabeto.

Diante da despreocupação educacional enfrentada, é fundamental

ressaltarmos a forma autoritária e rígida que nosso sistema educacional viveu dando

sustentação a uma sociedade fechada e reprodutora. Fechada, no sentido da

conservação do status e privilégios, desenvolvendo um modelo educacional

reprodutor, onde os indivíduos recebem o seu modelo de ensino a depender da sua

classe social. Sendo que, pobres freqüentam escolas para pobres e os ricos escolas

para ricos, contribuindo de certa forma para a extensão do analfabetismo, à medida

que essas escolas destinadas às classes populares, ofereciam um currículo

elitizado, o ensino tornava-se insignificante para tal realidade, contribuindo para o

abandono escolar. Ribeiro (1998, p. 59) nos diz que:

A exclusão escolar não se faz paulatinamente de um nível de ensino para outro e sim marcadamente, no inicio da escolarização, pois a grande maioria não tem condições e, em boa parte, nem interesse, diante do regime de vida que está submetido em ingressar e permanecer na escola.

È percebido que as medidas para o combate ao analfabetismo e a baixa

escolarização brasileira no nosso país, ainda é um problema que não se encontrou a

solução, pois, conforme acentuamos, o Brasil tem hoje segundo dados do IBGE

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Page 13: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) 1.013 municípios com taxa de

analfabetismo de jovens e adultos, acima de 35%, uma vez que a região Nordeste

concentra 90% desses municípios.

Diante do grande número de jovens analfabetos que fazem parte da

sociedade brasileira podemos perceber que grande parte deles vive na região

Nordeste, considerada como uma das regiões brasileiras que sofre com problemas

socioeconômicos. Diante disso resta perguntarmos: Que modelo de educação faz

parte do nosso cenário educacional? E Por que será que as maiorias dos excluídos

do processo educativo, são oriundas de classes populares? “Vale ressaltar que não

será qualquer escola que atenderá aos interesses das classes populares”.

(ARROYO, 2001, p.15)

Infelizmente o problema da baixa escolarização hoje é tratado como um

problema individual daquele que evade da escola antes de completar a sua

escolarização básica, (2º grau completo). Arroyo (2001, p. 25) nos diz que:

No momento em que se passa a priorizar o fracasso escolar, e, sobretudo o fracasso dos alunos provenientes das classes subalternas, o Estado e sua escola são inocentados. Passa-se a culpar o próprio povo de sua ignorância. O povo vítima, vira réu: evadido, defasado, fracassado. As denúncias deixam de lado a falta de condições materiais de trabalho para instruir o povo e passam a centrar a atenção na evasão e fracasso do aluno, nos condicionantes extra-escolares do fracasso como se tudo estivesse garantido na escola como lugar de trabalho e transmissão do saber.

Entretanto é necessário compreender que a baixa escolarização não é problema

exclusivo do aluno, mais sim de toda uma política educacional que não está

preocupada em resolver os problemas das classes populares, contribuindo para uma

educação de qualidade e significativa para o pleno desenvolvimento dessa clientela.

2.3 Escola

Considerando a história da educação brasileira, desde o período colonial, onde a

escola destaca-se como principal articuladora entre os interesses metropolitanos e

atividades coloniais da época; além da inculcação religiosa que a mesma

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Page 14: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

estabelecia, pode-se perceber que nesse período era quase que inexistente uma

política educacional estatal, uma vez que o sistema educacional era oferecido por

jesuítas, que ministravam escolas “religiosas” com objetivo de formar indivíduos

dóceis (índios e escravos); enquanto os colonos detinham de um modelo

educacional que pudesse capacitá-los pra o desempenho de funções na vida

colonial. (FREITAG, 1980)

É percebido que os jesuítas cumpriam com um modelo de educação que

favorecia a coroa portuguesa da época, com modelo de escolas reprodutoras da

sociedade escravocrata. Freitag (1980, p.47) nos diz que:

As escolas jesuítas, especialmente os colégios e seminários em funcionamento em toda colônia, preenchiam perfeitamente essas funções, ajudando e assegurando dessa maneira a própria reprodução da sociedade escravocrata.

Contudo, após a superação do Brasil colônia, nota-se a forte presença do

Estado no sistema educacional, com a expansão do ensino, como também com a

criação de escolas que pudessem beneficiar a população. Aliado a tal situação, está

à preocupação com o econômico, pois, nessa época já surgiam às primeiras

indústrias, e assim sendo, o mercado interno precisava de indivíduos capacitados

para o desempenho de atividades que só era possível se o Estado ou donos de

empresas disponibilizassem escolas voltadas para tal.

Diante de tais demandas surgem as primeiras escolas primárias, como

também “implanta-se a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário, sendo que

o ensino religioso passa a ser facultativo”. (FREITAG 1980, p. 51) Foram

introduzidas também escolas técnicas a classe trabalhadora. Nota-se que a escola

surge para atender as necessidades da sociedade burguesa, à medida que, as

classes populares são obrigadas a obedecer ao padrão educacional até então

impostos por uma minoria esmagadora de seus direitos.

Com o advento da sociedade capitalista, a necessidade de indivíduos

informados e especializados surge, e diante de tal necessidade, a Educação formal

se torna cada vez mais indispensável e obrigatória, pois, mesmo que de forma

“silenciosa” a escola é um grande instrumento burguês, à medida que a mesma

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Page 15: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

instrumentaliza os indivíduos para o desempenho de atividades consideradas

“importantes” pela sociedade. Romeu (1998, p.31) comenta que:

Torna indispensável à contribuição de uma atividade educacional mais sistematizada que se desenvolvam através da seleção de conteúdos culturais que deverão ser transmitidos as gerações mais novas e que se responsabilize pelo desenvolvimento de comportamentos e habilidades valorizadas pela sociedade.

Sabemos que a escola é um instrumento do Estado, sendo que ele direciona

que objetivos a mesma deve alcançar. De forma minuciosa determina a escolaridade

necessária para sobreviver na sociedade, a depender do tempo e espaço vivido.

Assim sendo a escola torna-se uma instituição propagadora dos ideais estatais.

Ribeiro, (1998, p. 45) comenta:

As características dos tempos modernos, a influência do estado sobre a escola contribui para agravar sua complexidade e responsabilidade, fazendo dela um instrumento de perpetuação de idéias e valores dos grupos de poder que representam para toda população.

Ainda falando da participação dos interesses capitalistas na escola, Almeida

(2003, p.39) contribui, afirmando que: ”Os interesses econômicos definem e

controlam o que é bom, o que serve e o que não serve para ser trabalhado no

espaço escolar”. Diante disso, percebe-se que a escola deixa de ser um espaço

onde se trabalha a diversidade, tornando-se uma instituição reprodutora da classe

burguesa.

Nota-se que a escola surge junto as classes sociais, como forma de instrução

dos indivíduos seja ela religiosa, política ou militar. Crescendo junto ao capitalismo

pela necessidade de instruir e preparar o indivíduo, para viver “bem” de acordo com

a sociedade capitalista. Vale ressaltar que a escola mesmo que ocultamente é uma

instituição burguesa, que de certa forma contribui para a ascensão dos indivíduos

que fazem parte da alta sociedade. Freitag (1980, p.34) nos diz que:

A escola vem a ser, portanto, um mecanismo de reforço dessa própria relação capitalista. É, pois, a escola que transmite as formas de justificação da divisão do trabalho vigente, levando os indivíduos a aceitarem, com docilidade, sua condição de explorados, ou a

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Page 16: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

adquirirem o instrumental necessário para a exploração da classe dominada.

A escola é uma instituição de grande poder social, portanto é necessário que

a mesma desenvolva o seu papel de forma democrática e autônoma. Democrática

no sentido de perceber as diversidades que nela existe contribuindo com uma

educação flexível, voltada ao interesse social dos indivíduos que dela fazem parte;

Autônoma no sentido de criar intercâmbios com a sociedade, buscando um ensino

significativo, desenvolvendo técnicas para o seu crescimento. Gadotti (2001, p.48)

diz que:

Pensar em uma escola autônoma e lutar por ela é dar um sentido novo a função social da escola e do educador que não se considera um mero cão de guarda de um sistema iníquo e imutável, mas se sente responsável também por um futuro possível.

Contudo, a escola é elementar para o desenvolvimento social dos indivíduos.

Assim sendo, é indispensável que se pense em uma escola que realmente possa

contribuir para o crescimento de indivíduos pertencentes a diversas realidades, uma

vez que: “a escola é um projeto de classe e não de uma burguesia esclarecida, de

um dirigente benevolente ou de um educador comprometido” (ARROYO 2001, p.19).

Portanto, o papel da escola não é de exploração, reprodução e tão pouco de

exclusão como equivocadamente ainda percebe-se no cenário da educação

brasileira. É preciso conceber a escola como papel fundamental na inserção e

transformação do homem no meio social.

25

Page 17: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Capítulo III

Caminhos metodológicos para a busca de resultados

A sociedade atual elege como necessidade indispensável aos indivíduos o

estudo formal (escola), no entanto, ainda é gritante o número de jovens fora dela.

Perante tal situação, o presente trabalho irá ajudar a entender como os jovens com

baixa escolarização representam esse espaço em nossos dias atuais.

3.1 .1 Conhecimento científico

“A preocupação com o conhecimento não é nova. Praticamente todos os povos

da antiguidade desenvolveram diversas formas de saber” (CARVALHO 1989, p. 15).

A partir da afirmação, é fundamental ressaltarmos que o conhecimento científico

nasce no senso comum. Entendido aqui como “o conjunto de informações não-

sistematizado que aprendemos por processos formais, informais e às vezes,

inconscientes, e que inclui um conjunto de valorações” (CARVALHO 1989, p.16).

Podemos dessa forma, conceber o senso comum como à base onde se constrói o

conhecimento científico.

3.1.2 Ciências sociais e pesquisa qualitativa

“O principal interesse da ciência social é o comportamento significativo dos

indivíduos engajados na ação social, ou seja, o comportamento ao qual os

indivíduos agregam significado considerando o comportamento de outros indivíduos”

Weber (1864-1920 apud GOLDENBERG, 2000, p. 19). Nessa perspectiva, a

pesquisa eleita no campo das ciências sociais é de cunho qualitativo, por lidar com

emoções, valores e subjetividade. A descoberta é o grande desafio na pesquisa

qualitativa, assim, a compreensão da realidade, segundo Castro (2006) “vem do

interior, e não da observação dos aspectos externos. A simplicidade falsifica e a

complexidade enriquece” (p.22).

Buscando identificar as representações sociais que os jovens com baixa

escolarização do município de Campo Formoso têm de escola e procurando

entender essa realidade dentro de uma perspectiva científica, adotaremos a

26

Page 18: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

pesquisa qualitativa, uma vez que “os dados da pesquisa qualitativa objetivam uma

compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da

maior relevância do aspecto subjetivo da ação social” (CARVALHO 2000, p. 49).

3.1.3 Coleta de dados

Considerando como pesquisa o conjunto de atividades que têm como

finalidade a descoberta de novos conhecimentos para a interpretação dos fatos

sociais estudados, Demo (1999) nos afirma que o ato de pesquisar; "é o diálogo

inteligente com a realidade, tomando-o como processo e atitude, e como integrante

do cotidiano”. (p.36-37).

Como instrumento para coleta de dados, foi realizado a pesquisa de campo

entendida aqui como “aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou

conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta”

(MARCONE 2007, p.117). Nessa perspectiva, a técnica utilizada para a

documentação direta, foi o questionário fechado, pois, o mesmo desempenha papel

decisivo na obtenção de informações sócio-econômica dos sujeitos entrevistados; e

a entrevista semi-estruturada tendo como objetivo colher informações relevantes

para o tema estudado. A mesma conta com um roteiro pré-estabelecido, com

objetivos de averiguar os fatos sócio-culturais e opiniões sobre a temática proposta,

contribuindo para a comparação das respostas dadas.

Entendendo a técnica apresentada como o encontro entre duas pessoas, com

o propósito de colher informações, seja ela verbalmente ou através dos sentimentos

do entrevistado, acredita-se que a mesma será de grande relevância para o

desenvolvimento da pesquisa, à medida que “a entrevista estruturada tem como

objetivo principal a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado

assunto ou problema” (ANDRADE e LAKATOS 1996, p. 84).

3.2.4 Lócus

O lócus pesquisado é o município de Campo formoso, situado ao norte da

Bahia, localizado a 400 km da capital (Salvador), cujo acesso é feito pela BR-324.

27

Page 19: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Apesar da sua proximidade com a caatinga, a cidade possui um clima ameno, sua

área geográfica é de 6.806 km², com 61.905 habitantes, sendo que 20.972 desses

residem na zona urbana.

O local onde foi realizado a presente pesquisa é um povoado, situado a 15 km

da sede de Campo Formoso denominado Lagoa do Pastorador I, com cerca de 100

(cem) habitantes, que sobrevivem da agricultura familiar e do comércio de frutas,

realizados nas cidades de Campo Formoso e Senhor do Bonfim.

A escolha pelo lócus se deu a partir do grande número de jovens com baixa

escolarização residente nesse povoado, uma vez que os mesmos dispõem de

escolas, porém pouco freqüentadas.

3.1.4 Sujeitos

Os sujeitos ouvidos para a elaboração da presente pesquisa são jovens com

faixa etária entre 20 a 40 anos, no total de 12 (doze), por acreditar que essa

quantidade será relevante para identificarmos as representações sociais que os

mesmos têm de escola. Acredita-se que o aumento de sujeitos acarretará na

repetição de respostas não contribuindo para o andamento da pesquisa. Cabe

ressaltar que, "O número e a representatividade dos entrevistados devem ser tais

que possam apoiar e validar os resultados da pesquisa de campo” (RUIZ 1991, p.

51).

A escolha por jovens nessa faixa etária está relacionada ao grande índice da

baixa escolarização e evasão dos mesmos no espaço escolar. (IBGE) Instituto

brasileiro de geografia e Estatísticas)

28

Page 20: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Capítulo IV

A escola atual representada pelos jovens com baixa escolarização

4.1.1 Desenvolvimento da pesquisa

A escola é tudo, pois, ali é a esperança de depois arranjarmos um emprego. (J. 09)

“As falas e ações dos entrevistados dizem muito quando procuramos

compreender o que elas querem expressar” (ALMEIDA 2003, p. 73). Elas trazem

representações significativas da escola atual, ilustrada por jovens que conviveram

nesse espaço somando experiências, valores e representações construídas

socialmente.

É preocupante o número de jovens com baixa escolarização. Pois, segundo

dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Campo Formoso

possui cerca de 32,2% de jovens fora da escola. Visto como um problema a ser

solucionado, emerge a necessidade de se conhecer as representações sociais que

esses jovens elaboram sobre a escola atual, a fim de que essas identificações

possam contribuir para possíveis metodologias que envolvam os jovens no espaço

escolar.

Este trabalho foi desenvolvido tendo como base a pesquisa qualitativa, onde

se pode adentrar na subjetividade dos indivíduos envolvidos, através do contato

direto, o que possibilitou-nos identificar e conhecer um pouco sobre as

representações que os mesmos têm de escola.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram escolhidos no intuito de

possibilitar uma maior aproximação com as representações sociais que os jovens

têm sobre a escola atual. Optamos pela entrevista semi-estruturada, e o questionário

fechado, onde pudéssemos conhecer o perfil sócio-econômico dos sujeitos

pesquisados. A opção pela seleção se deu, por percebermos que o maior número de

jovens com baixa escolarização se dá a partir dos 20 anos de idade.

Todo caminho percorrido foi construído por encontros produtivos, que nos

possibilitou olharmos como os jovens vêem a escola atual a partir das suas

representações.

29

Page 21: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

4.1.1 Síntese do perfil dos jovens

A) Idade

Os jovens que responderam à entrevista encontram-se na faixa etária

entre 20 a 40 anos. Foram entrevistados 12 (doze), jovens, sendo que 05 (cinco),

ou 42% encontram-se na faixa etária entre 20 a 30 anos, enquanto que 07 (sete),

ou 58% entre 31 a 40 anos.

42%

58%

Jovens de 20 a 30anos

Jovens de 31 a 40anos

Gráfico 4.1.1: caracterização da idade dos jovens entrevistados

Fonte: questionário fechado sócio-econômico aplicado aos jovens da pesquisa.

B) Escolaridade

Dos doze jovens que participaram da entrevista 09 (nove), ou 75% deles,

concluíram o Ensino fundamental I (1ª a 4ª ª séries), enquanto 03 (três), ou 25%

concluíram o Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries). Diante dos fatos apresentados,

notamos que a maioria dos sujeitos abandonou a escola ainda no início de seus

estudos. Com isso, entendemos que a exclusão escolar iniciou-se para esses jovens

em seus primeiros anos da vida escolar.

30

Page 22: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

75%

25%

Jovens queconcluíram oEnsinoFundamental I

Jovens queconcluíram oEnsinoFundamental II

Gráfico 4.1.1: nível de escolarização

Fonte: questionário fechado sócio-econômico aplicado aos jovens da pesquisa.

C) Sexo

Entre os jovens entrevistados, 07 (sete), ou 58% desses são do sexo

masculino e 05 (cinco), ou 42% do sexo feminino, todos residentes na zona rural. É

notável entre os sujeitos entrevistados, uma maior predominância do sexo masculino

fora da escola, acentuando a presença machista, onde o papel do homem é manter

equilibrada a situação financeira da sua família. Muitas vezes essa necessidade

financeira deixa-os excluído do espaço escolar.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Jovens do sexomasculino

Jovens do sexo feminino

Série1

Gráfico 4.1.1: caracterização de gênero

Fonte: questionário fechado sócio-econômico aplicado aos jovens entrevistados

31

Page 23: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

D) Trabalho

Com base nas informações colhidas, 05 (cinco), ou 42% deles não trabalham,

sendo que 07 (sete), ou 58% afirmam trabalharem. Dos que trabalham 03 (três), ou

43% realizam trabalhos informais e 04 (quatro), 57% trabalhos formais. Entre os

sujeitos que trabalham formalmente, estão aqueles que concluíram o Ensino

Fundamental II. Uma vez que, os demais realizam trabalhos informais ou nenhum

outro tipo de trabalho remunerado, isso, reforça a idéia que eles têm em relação à

importância da escola para o mercado de trabalho.

E) Renda familiar

A renda desses jovens está em média de 90,00 a 415,00 reais. Sendo que 11

(onze), ou 92% recebem menos de um salário mínimo e 01 (um), ou 8% um salário

mínimo. A renda desses sujeitos é fruto de trabalhos formal e informal. É notável que

os mesmos atribuem suas baixas rendas, a não permanência no espaço escolar,

mostrando-se conformados com a situação vivida por acreditarem que apenas

aqueles que concluíram seus estudos são dignos de uma boa condição financeira.

92%

8%

Jovens com rendamensal inferior aum salário mínimo

Jovens com rendaigual a um saláriomínimo

Gráfico 4.1.1: remuneração

Fonte: questionário fechado sócio-econômico aplicado aos jovens entrevistados

F) Lazer

32

Page 24: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Quando foi perguntado o quê os sujeitos faziam no momento de lazer, as

respostas foram surpreendentes, pois, 06 (seis), ou 50% dos entrevistados

afirmaram não ter esse momento, esclarecendo que o mesmo é utilizado para

desenvolverem algumas atividades domésticas; bordar, fazer faxina e cuidar dos

animais. Enquanto 06 (seis), ou 50% afirmam usufruírem desse momento para

pescar, ler a bíblia, ir à igreja e praticar esportes. É percebido, que para aqueles que

50%50%

Jovens queusufruem o seumomento de lazer

Jovens queutilizam essemomento pararealização deatividadesdomésticas

Gráfico 4.1.1: momento de lazer

Fonte: questionário fechado sócio-econômico aplicado aos jovens entrevistados.

4.1.2 Discursos dos jovens sobre a escola

Visando identificar as representações sociais de escola dos jovens

entrevistados, utilizamos também como instrumentos de coleta de dados a entrevista

semi-estruturada, por entender esse instrumento de suma importância para a

realização do presente trabalho, pois a mesma nos possibilitou o contato direto com

os sujeitos, onde pudemos analisar não somente as respostas orais, mas também

as ações, sentimentos e atitudes que vieram à tona.

Considerando como objeto de estudo, as representações sociais dos jovens

com baixa escolarização de 20 a 40 anos, convém lembrar que a representação

social é “gerada e produzida ao longo de intercâmbios sociais, constituindo-se como

elemento pertencente à vida coletiva” (ANADÓN e MACHADO 2003, p. 14).

33

Page 25: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Apresentaremos em seguida os resultados através de categorias, no intuito

de enfatizar as representações sociais de escola identificadas.

4.1.2.1 Escola representada como passaporte para o sucesso econômico

Ao falar de escola, para os jovens é unânime a representação social de lugar

importante para a construção de um futuro seguro. Percebemos que os sujeitos não

conseguem perceber a importância desse espaço na construção de uma

consciência política, responsável pelo desenvolvimento cultural, intelectual e social

dos indivíduos que vivem cercados pelas rápidas informações que precisam ser

acompanhadas e compreendidas.

Eis a fala de alguns jovens:

É o lugar onde nos formamos para conseguirmos um bom emprego

(J1 06).

A escola é o lugar onde as pessoas adquirem conhecimentos para

praticar lá fora (J¹ 09).

A escola é representada como o espaço responsável por um futuro

economicamente bem sucedido para aqueles que nela estréia e permanece

alcançando uma escolarização plena. Pudemos notar em suas falas, a forte

presença de um discurso elitista, ficando subentendido que os sujeitos também

representam esse espaço como fator indispensável ao desenvolvimento e

fortalecimento do capitalismo.

Nesse sentido pudemos lembrar as palavras de Gentili (2001, p.248), quando

afirma que “A propriedade da educação se adquire (se compra e se vende) no

mercado dos bens educacionais, “serve”, enquanto propriedade “possuída”, para

competir no mercado dos postos de trabalho”.

1 A fim de preservar a identidade dos sujeitos da nossa pesquisa, utilizaremos a letra J seguida de numeral ordinal para a identificação das falas dos jovens.

34

Page 26: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Somando-se a isto, percebemos que os sujeitos sentiram muitas dificuldades

quando lhes foi solicitado que representassem a escola em três palavras. 75% se

mostraram resistente, afirmando apenas que não sabia. Apenas 25% conseguiram

responder.

Salvação, esperança e dedicação. (J¹09)

Educação, melhoramento de vida e Ensino Fundamental. (J¹10)

É tudo, educação, e melhoramento de vida. (J¹12)

Percebemos que esse espaço é considerado como a “salvação” da

sociedade. Como um lugar onde deveríamos estar para a garantia de uma boa

sobrevivência e um país economicamente bem. Ribeiro (1998, p. 45) contribui para

entendermos as representações dos jovens entrevistados afirmando que “as

características dos tempos modernos, a influência do estado sobre a escola, faz dela

um instrumento de perpetuação de idéias e valores dos grupos de poder que

representam toda população”.

No entanto, percebemos que a escola ainda é um instrumento ideológico dos

poderosos, e paradoxalmente, entende o seu papel como elemento de ascensão

dos indivíduos na sociedade.

Eis as falas de alguns jovens:

Para preparar a gente para concursos, só assim nos tornamos

alguém na vida. (J¹ 03)

A escola serve para formar a pessoa e preparar para arranjarmos

um emprego (J¹ 09)

Serve para livrar os jovens das drogas. É uma forma de arranjarmos

um emprego melhor para a valorização da nossa renda. (J¹ 10)

Ao serem questionados sobre o papel da escola na sociedade atual,

percebemos a forte influência de uma educação mercadológica nas falas dos

sujeitos. 84% partem do pressuposto de que a mesma é responsável pelo futuro

brilhante daqueles que a freqüentam. Para aqueles que dela evadiram, muitos

passaram a aceitar passivamente suas condições de vida. Por isso cabe-nos

35

Page 27: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

recordar Freitag (1980) quando afirma que “a escola transmite as formas de

justificação e da divisão do trabalho vigente, levando os indivíduos a aceitarem com

docilidade sua condição de explorados da classe dominada”. (p. 34)

Percebemos que a escola era o sonho de cada um desses jovens, que hoje

frustrados com a situação vivida, atribuem esse “insucesso” ao abandono desse

espaço, considerado como a salvação da humanidade. A escola é representada por

59% dos entrevistados como o lugar responsável pelo sucesso dos indivíduos que

dela fazem parte. È notório que esses jovens possuem um discurso amplamente

divulgado pela mídia neoliberal acerca do papel da escola. Isso só reforça o que

Ribeiro (1998, p. 45) afirma que “a escola é um instrumento de perpetuação de

idéias e valores dos grupos de poder que representam toda população”.

4.1.2.2 Escola como um espaço mais moderno e atual

Ao serem questionados sobre a escola de hoje 70% dos jovens,

representaram esse espaço como o lugar de transmissão de conhecimentos que nos

leva a uma boa situação financeira. Ficando muito claro em suas falas, que a escola

de hoje tem mais inovações, sendo que essas inovações contribuem muito para um

ensino de qualidade.

Acho muito importante, porque hoje tem muitas coisas que no tempo

que estudava não tinha computadores professores com

comportamentos diferentes. (J¹ 01).

A escola mudou bastante, pois, tem muitas coisas que não é do

mesmo jeito de quando eu estudava. Agora está tudo organizado e

isso é muito legal. (J¹ 06)

A escola hoje visa um futuro melhor para a gente arranjar um bom

serviço. (J¹ 11)

A escola de hoje é boa parque... Os alunos perguntam na hora da

explicação e antes não falava. (J¹ 05)

Ao falarem de escola atual, os jovens apontam a escola do passado (tempo

em que eles estudavam) como espaço deficiente, em relação aos recursos didáticos,

para-didáticos, formação e metodologia dos professores. Esses sujeitos vêem a

36

Page 28: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

chegada desses recursos na escola e a profissionalização desses profissionais,

elementos decisivos para uma boa formação e inserção deles no mercado de

trabalho.

Representando a escola atual, os jovens apontam como elemento decisivo na

educação, “o comportamento dos professores”. Nomenclatura utilizada para

recordarem o autoritarismo e a metodologia vivida por eles no seu tempo de escola.

Pudemos notar em suas falas que esses fatores (autoritarismo e metodologia)

vividos tornavam-se algo inibidor e excludente. Freire (1979, p.32) nos diz que “a

educação deve ser desibinidora e não restritiva e que é necessário darmos

oportunidade para que os educandos sejam eles mesmos”.

Ao falar dos seus tempos de escola, os sujeitos situaram o autoritarismo e a

metodologia dos trabalhos da escola como constrangedoras e desagradáveis. Nas

palavras de Freire (1979 p.38) quando fala da educação bancária, afirma que “o

professor nesse modelo de educação é um ser superior e o aluno ignorante, que

deve receber passivamente os conteúdos, tornando-se um depósito do educador”.

Cabe-nos afirmar, que esse modelo de educação ao qual Freire se refere, não é

diferente da educação relembrada pelos entrevistados. Notamos claramente essa

semelhança quando um dos jovens falou da falta de diálogo nos momentos de

construção do conhecimento e do comportamento dos professores. Isto nos leva a

entender que esse modelo de educação não atendia as expectativas dos

educandos, que entende o processo educacional como uma construção entre

educando e educador.

Considerando as representações sociais de escola atual dos jovens

entrevistados, percebe-se, que mesmo de forma lenta, a cada ano acontecem

avanços nessa área. Levando-nos acreditar, que isso se dá mediante

conscientização dos envolvidos no processo educacional, na luta pela sua

autonomia. Pois, para a concretização dessa autonomia é fundamental um

desenvolvimento pleno das suas finalidades. Assim, na busca de um ensino

significativo Gadotti (2001, p. 48) nos afirma que “pensar em uma escola autônoma

e lutar por ela é dar um sentido novo a sua função social e do educador que não se

considera um mero cão de guarda de um sistema iníquo e imutável”.

37

Page 29: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

4.1.2.3 Escola: lugar privilegiado as classes sociais mais favorecidas

Quando questionamos aos jovens o motivo de terem abandonado a escola,

surgiu uma nova representação social ligada à condição financeira. Ficando claro

em suas falas, que esse espaço privilegia as classes mais favorecidas.

Abandonei porque minha mãe morreu e tive que trabalhar para

ajudar meu pai a criar meus irmãos pequenos. (J¹ 01)

Motivo de trabalho. Eu trabalhava e chegava muito tarde e não

sobrava tempo para estudar. (J¹ 10)

Porque eu tive que arranjar serviço para me manter. (J¹ 11)

Tive que escolher trabalhar ou estudar, como necessitava tive que

trabalhar. (J¹ 12)

Notamos nas falas dos entrevistados, a escola como o lugar daqueles que

possui status social. 90% afirmaram que abandonaram esse espaço pela

necessidade socioeconômica. Percebemos que os sujeitos evadidos da escola

viviam situações difíceis, tendo que fazer escolha entre o mercado de trabalho e a

escola. Por ser o trabalho uma necessidade urgente e inadiável. A escola passa a

ser dispensável na vida desses indivíduos. Nesse sentido a educação torna-se para

eles segundo plano.

Considerando as principais causas que levaram os jovens representarem a

escola como espaço privilegiado as classes sociais mais favorecidas, acreditamos

que esse é um processo característico de uma sociedade fechada, onde a elite,

mesmo que de forma indireta, prescreve e impõe os limites das classes populares,

determinando sua escolarização, tornando os sujeitos objetos do processo

educativo. Freire (1979 p. 34) traz críticas ao modelo de sociedade fechada

afirmando que “a participação das massas na história é indireta. Não deixando

marcas como sujeitos, mas como objetos”.

Levando em consideração que sociedade e educação são interligadas e que

por sua vez, um é reflexo do outro, acreditamos que esse modelo de sociedade,

38

Page 30: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

contribui para a conservação de status, levando um filho de trabalhador permanecer

filho de trabalhador, não dando chances para que o mesmo possa conhecer outras

situações. Para esse modelo de educação denominamos educação reprodutora.

Pudemos notar que a escola ainda não está preparada para atender toda sua

clientela, sendo pensada apenas para uma minoria, tornando-se um instrumento

discriminatório. Esse espaço, considerado como direito de todos, acaba se tornando

lugar privilegiado àqueles que dispõem de uma boa condição financeira, podendo

assim, disponibilizar de tempo para se realizarem plenamente nesse espaço. Nesse

sentido podemos citar Freire, quando nos diz que a escola desde o período colonial

já possuía caráter discriminatório, interceptor e elitista. (FREIRE, 1989)

4.1.2.4 Escola: lugar traumático e autoritário

Não gostava quando a professora me chamava no quadro, tinha

vergonha e medo de errar. Ela não gostava. (J¹ 03)

Não gostava do sono e da falta de coragem, pois, trabalhava

durante o dia e a noite ficava com sono. Ninguém agüentava. (J¹ 07)

Não gostava dos puxões de orelha que levava. (J¹ 12)

Gostava de ler textos, pois eu era muito boa nisso. (J¹ 09)

Gostava de interpretar e ler textos para aprender a pronunciar as

palavras corretamente (J¹ 10)

Gostava do recreio, pois me divertia muito. (j¹ 11)

Fazendo um contraponto entre o que os jovens gostavam e não gostavam na

escola, é interessante destacar que esse espaço ainda é pensado para pessoas

com facilidades de aprendizagem. É percebido nas falas de 100% dos jovens

entrevistados, uma escola traumática, pensada para uma elite e os indivíduos das

camadas populares que nela estréiam, carregam em si o medo de não conseguirem

se realizarem plenamente, até mesmo nas atividades escolares rotineiras.

Crianças vindas de família pobres são, em geral, as que têm menos

êxito se avaliadas através dos procedimentos convencionais de

medida e as mais difíceis de serem ensinadas através dos métodos

tradicionais. (GENTILLLI 2001, p.11)

39

Page 31: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

È notório nas falas dos entrevistados, quando se perguntou sobre as coisas

ruins da escola, a forte presença do autoritarismo em sala de aula e o cansaço por

parte dos alunos que precisam relacionar trabalho e escola. Acompanhado ao

autoritarismo estão os castigos por parte dos professores, quando esses alunos não

conseguem realizarem as atividades propostas. Fator que contribui para a não

identificação desses, no espaço escolar, antipatizando-o e representando como

lugar traumático e autoritário. O medo, presente no momento da realização das

atividades propostas, é fruto da imagem distorcida que eles têm em relação ao

professor, considerado como dentetor do conhecimento. Gentilli (2001 p. 199) afirma

que “os pais e os estudantes não estão suficientemente organizados para ter força

na luta para controlar a autoridade pública”.

Diante das informações coletadas, podemos conceber que a escola na

maioria das vezes torna-se um pesadelo na vida dos filhos de trabalhadores que

nela chegam. Com base no que foi apresentado, cabe-nos citar Cunha (1991, p.120)

quando afirma que “para os filhos dos trabalhadores a experiência escolar é algo

traumatizante. A disciplina, o significado das palavras, o vocabulário, as maneiras

consideradas decentes é algo traumatizante”.

Quando perguntamos o que os jovens mais gostavam na escola foi

surpreendente, pois, 100% apontaram como situação marcante, atividades que se

identificavam, e se davam bem; algumas metodologias e o momento de lazer. Isso

só vem mostrar o quanto à escola ainda não está preparada para o diferente, o

novo. Vimos que o espaço escolar não acolhe. Sendo que esse por sua vez não

está adaptado para o desenvolvimento de potencialidades, levando-nos a acreditar

que as escolas são pensadas e organizadas para um só tipo de indivíduos o que

denominamos como escola única. Nenhum dos sujeitos aponta como bom e

inesquecível uma atitude da escola em compreendê-lo, apontando-lhe o caminho de

algo a ser percorrido, (as dificuldades de aprendizagem). Por isso, concebemos

ainda a escola como um espaço excludente, uma vez que poderia ser compreendida

como “projeto de classe e não de uma burguesia esclarecida, de um dirigente

benevolente ou de um educador comprometido” (ARROYO, 2001, p. 19).

40

Page 32: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro do contexto da pesquisa apresentada, com intuito de responder ao objetivo

proposto a partir da questão: “Qual a representação social que os jovens com baixa

41

Page 33: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

escolarização têm de escola?”. Foi possível, através da entrevista semi-estruturada,

estabelecer o contato com os jovens, chegando resultados apresentados.

O discurso dos jovens entrevistados ressaltou unanimidade, ao representarem

socialmente a escola como um espaço responsável pela futura ascensão do

indivíduo. Mesmo eles não freqüentando mais esse espaço, abandonando-o antes

de concluírem o Ensino Médio, vale ressaltar que os mesmos atribuem à escola,

papel decisivo na vida dos indivíduos, ficando subentendido que a mesma, segundo

as suas representações, serve não como uma realização pessoal, mais sim como

um meio de promoção financeira, sendo privilégio das classes sociais mais

favorecidas e lugar traumático, autoritário.

Tivemos como limitações no decorrer da pesquisa, a dificuldade na coleta dos

dados, já que alguns sujeitos se recusaram a responder as perguntas afirmando

serem “inferiores” e que o seu nível de escolaridade não era suficiente para dar

tantas informações. Mas este fator não nos impediu de desenvolvermos nosso

trabalho de forma responsável e obter resultados.

Gostaríamos aqui, de chamar a atenção dos profissionais da área da educação dos

jovens, a todos aqueles envolvidos nesse processo, para que possam estar atentos,

tanto no que diz respeito ao número de jovens que se encontra fora da escola, como

para o que se propaga nesse espaço, sobre o papel e a importância da mesma.

Pois, acredita-se que esse é um espaço de socialização, onde podemos refletir

sobre os fatos sociais e culturais que nos cercam. Para isso é fundamental o

desenvolvimento de metodologias significativas que possam contribuir para uma

possível resolução do problema.

Referências

ALEXANDRE, Marcos. 2003, Científico do Brasil, Rio de Janeiro, Vl. 10 P, 129-138 2004.

42

Page 34: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

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Dissertação (mestrado em Educação e pesquisa) - Departamento de Educação,

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GENTILI, Pablo. Pedagogia da Exclusão: Crítica ao Neoliberalismo em

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GOLDEMBERG, Miriam. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa

em Ciências Sociais: 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000

GOFFMAN, Eving. A Representação do Eu na Vida Cotidiana: 9ª ed. Petrópolis:

Vozes, 1985.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS. Manual de referências

bibliográficas. Disponível em: http://www.inep.gov.br/saeb/defalt.html. Acesso em 20

de Jun. 2008.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS. Manual de referências

bibliográficas. Disponível em: www.sec.ba.gov.br/estatisticas/indicadores.html.

Acesso em 20 de Jun. 2008.

LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Maria de Andrade. Técnicas de pesquisa:

Planejamento e execução de pesquisa, amostragens e técnicas de pesquisas,

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RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira: 15ª ed. Campinas

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THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisação. 5ª Ed. São Paulo: Cortez,

1992.

45

Page 37: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Anexos

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIADEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM – BAHIA

46

Page 38: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

Este questionário é um instrumento relativo à pesquisa que realizo nos

quadros de TCC, enquanto concluinte do curso de Pedagogia com habilitação

em docência e Gestão de processos Educativos.

Agradeço pela valiosa colaboração, manteremos o devido sigilo, e uma

postura ética enquanto pesquisadora.

Lidiana Almeida Bonfim

QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO SEMI-ABERTO:

1) Qual a sua idade?

( ) 20 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos

2) Seu nível de escolarização;

( ) Ensino Fundamental ( 1ª a 4ª série) ( ) Ensino Fundamental II ( 5ª a 8ª série)

3) Atualmente você trabalha?

( ) Sim ( ) Não

4) (Se trabalha) seu trabalho é:

( ) formal ( ) Informal

5) Sua renda é de:

( ) menos de um salário mínimo ( ) um salário mínimo ( ) mais de um salário

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Page 39: Monografia Lidiana Pedagogia 2008

mínimo

6) O que você costuma fazer no momento de lazer?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIADEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM – BAHIA

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ROTEIRO DA ENTREVISTA

1º Para você o que é escola?

2º Diga o que é escola em três palavras.

3º O que você acha da escola hoje? Por quê?

4º O que você achava da escola quando estudava? Por quê?

5º Em sua opinião para que serve a escola?

6º Porque você abandonou a escola?

7º O que você menos gostava na escola quando estudava? Por quê?

8º O que você mais gostava na escola quando estudava? Por quê?

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