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  • UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

    CURSO DE LICENCIATURA EM HISTRIA

    RELAES SOCIAIS ESCRAVAS-

    RIO DE JANEIRO- 1790-1830

    Por:

    MARIANA SANTOS DE CARVALHO

    RIO DE JANEIRO 2014

  • MARIANA SANTOS DE CARVALHO

    RELAES SOCIAIS ESCRAVAS-

    RIO DE JANEIRO- 1790-1830

    Trabalho apresentado como avaliao na

    disciplina: Seminrio de Concluso de Curso.

    Curso de Licenciatura em Histria da

    Universidade Castelo Branco. Orientador: Prof.

    Dr. Carlos Faria Jnior.

    Rio de Janeiro, 11 de julho de 2014.

  • TERMO DE APROVAO

    Nome: Mariana Santos de Carvalho

    Ttulo: Relaes Sociais Escravas- Rio de Janeiro- 1790- 1830

    Trabalho de Concluso de Curso submetido coordenao do Curso de

    Licenciatura em Histria da Universidade Castelo Branco (UCB), como requisito

    parcial para a obteno do grau de Licenciado em Histria.

    Aprovado em: ____/_____/____

    BANCA EXAMINADORA:

    ____________________________________________

    Primeiro Avaliador

    ____________________________________________

    Segundo Avaliador (a)

    ____________________________________________

    Terceiro Avaliador (a)

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus por permitir a concretizao deste sonho e orientar-me nos

    momentos de dificuldade.

    Ao meu orientador, professor e Dr. Carlos de Faria Jnior por seu apoio, pacincia, e

    compreenso, fundamental para a realizao deste trabalho de concluso.

    Aos meus pais, a quem tenho uma profunda admirao e respeito, por seu apoio,

    carinho, amor e incentivo em toda minha vida.

    Jos Augusto, por seu apoio e incentivo nos momentos de dificuldade. Sua

    amizade, carinho e companheirismo foram fundamentais para que este trabalho se

    realizasse.

    Aos meus amigos, companheiros de caminhada, que sempre me apoiaram e

    ajudaram direta ou indiretamente e que de alguma forma contriburam para a

    realizao deste trabalho.

    E a todos que estiveram ao meu lado, o meu muito obrigada.

  • Que os vossos esforos desafiem as impossibilidades,

    lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram

    conquistadas do que parecia impossvel. .

    Charles Chaplin

  • Resumo

    O presente trabalho tem como foco tratar assuntos referentes escravido no Brasil,

    mas especificamente no Rio de Janeiro entre os anos de 1790 1830.

    O vigente trabalho apresenta as diversas formas de resistncia negra no Brasil

    escravista e como ocorriam. parte fundamental deste trabalho de concluso de

    curso apresentar como ocorriam as relaes sociais entre os cativos, e quais critrios

    eram seguidos para que estas relaes ocorressem. Alm disso, foram analisadas as

    formaes da famlia escrava e qual sua importncia como forma legtima de

    resistncia negra e para a formao dos costumes herdados pela sociedade atual

    brasileira.

    Palavras chave- escravido- relaes sociais- famlia- escrava

  • Abstract

    This work focuses on treating issues relating to slavery in Brazil, but specifically in Rio

    de Janeiro between the years 1790-1830.

    The current paper presents the various forms of black resistance in Brazil and how

    slavery occurred. It is a fundamental part of this work of completion presented as

    occurring social relationships among the captives, and what criteria were followed so

    that these relationships occur. Furthermore, we analyzed the formation of slave

    families and what its importance as a legitimate form of black resistance and the

    formation of customs inherited by current Brazilian society.

    Keywords slavery- relations social-family-slave

  • Sumrio:

    Introduo...................................................................................................9

    Capitulo I- A Escravido no Brasil 1790-1830...........................................11

    Capitulo II- As relaes sociais escravas...................................................24

    Capitulo III- A formao das famlias escravas..........................................30

    Concluses.................................................................................................38

    Referncias Bibliogrficas...........................................................................40

  • 9

    Introduo

    A escravido e toda a sua conjuntura tm sido frequentemente objeto de estudo na

    historiografia brasileira.

    Entender esse complexo sistema e como perdurou durante tanto tempo no Brasil de

    extrema importncia.

    O vigente trabalho apresenta de que forma se construiu o Brasil escravista, partindo

    desde as primeiras necessidades de adquirir a mo de obra escrava, as relaes

    com o trfico transatlntico, e como este se tornaria o meio econmico mais lucrativo

    do Atlntico Sul.

    O contingente de homens escravizados que tiveram como seu destino o Brasil

    estimado em mais de trs milhes, tratando-se somente do trfico legal de cativos.

    A apropriao da mo de obra negra, alm de ser lucrativa para o imprio portugus

    era justificada em prol de uma suposta salvao dos negros, pois diante das

    diferenas tnicas e culturais, os ditos demonacos necessitavam ser salvos deles

    mesmos, e a funo do portugus colonizador, era ento, catequiz-lo, o salvando.

    Contudo, a viso deste trabalho apresentar o outro lado da escravido.

    Por vezes, quando o assunto da escravido tratado no h uma preocupao em

    expor as lutas do escravo, o colocando somente como vtima deste terrvel sistema

    econmico.

    Isto negligencia a histria do negro no Brasil e toda a sua luta.

    Os escravos lutaram e sempre resistiram aos meios de controle, seja atravs das

    fugas, ou das negociaes e barganhas com o senhor de engenho, mostrando que

    seu papel era fundamental para que o trabalho, de fato acontecesse.

    Isso se contrape a figura do escravo que vivia somente ameaado pelo aoite e a

    violncia.

  • 10

    A violncia existia de fato, mas caso fosse a nica forma dos senhores conseguirem

    o esforo do trabalho, a escravido teria perpetuado por tanto tempo? Haveria

    escravos para isto?

    O fato que a negociao era fundamental tanto para os senhores, quanto para os

    escravos.

    A questo fundamental apresentada neste trabalho de concluso mostrar como se

    estabeleciam as relaes sociais entre os escravizados no Brasil.

    Os cativos formavam grupos seguindo uma linha de afinidades tnicas comuns, estes

    grupos criavam laos de solidariedade e resistncia.

    A escolha afetiva por parceiros seguia a endogamia, ou seja, era importante pertencer

    a um grupo cultural e tnico igual ou similar.

    A formao das famlias, assunto de extrema relevncia nos estudos acerca sobre a

    escravido, seguia o mesmo modelo de afinidade.

    A famlia escrava era um smbolo da luta e das conquistas escravas, era um dos meios

    de resistncia para sobreviver a escravido.

    O assunto discutvel entre os autores Manolo Florentino e Robert Slenes que

    denotam funes diferentes para a estas famlias.

    O primeiro sugere que esta foi responsvel pela manuteno da escravido e pelo

    maior controle senhorial e o segundo a v como uma forma legtima de resistncia

    negra.

    O que de fato certo, que estas famlias foram responsveis por deixar as

    referncias culturais e as heranas africanas que temos hoje na sociedade brasileira,

    seja no mbito religioso, gastronmico ou cultural.

  • 11

    Capitulo I

    Escravido no Brasil: 1790-1830

    A escravido no Brasil se apresentou sob aspecto de uma experincia de longa

    durao que marcou diversos processos e aspectos da cultura e da sociedade

    brasileira e que se tornou historicamente parte essencial para a compreenso de

    nossa sociedade, uma vez que a histria seja ela cultural ou social, que temos e

    vivemos hoje, em parte uma resultante dos processos histricos ocorridos na poca

    supracitada.

    necessrio primeiramente compreender como se dera o processo da vinda dos

    africanos para o Brasil, atravs do trfico de escravos.

    Havia por parte do imprio portugus, objetivos mercantilistas relacionados

    expanso econmica, de forma que era necessrio negociar mo de obra para suprir

    as necessidades, pois partindo do pressuposto da instalao de uma agricultura

    baseada na plantao de cana de acar, a mesma precisaria de um contingente

    maior de pessoas. Neste sentido a mo de obra escrava seria uma soluo eficaz.

    Segundo estudos de Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho, a preferncia

    por escravos de origem africana fez com que os portugueses voltassem o trfico para

    o continente africano. Devido ao grande aumento pela procura de escravos no Brasil,

    o trfico passou a ser extremamente lucrativo, tornando-se uma fonte de riqueza entre

    as duas margens do Atlntico. Modifica-se, desta forma as relaes iniciais advindas

    da expanso ultramarina: o trfico de escravos africanos iria transforma-se no meio

    econmico mais lucrativo do Atlntico Sul.

    1- - ALENCASTRO, Luis Felipe, O trato dos Viventes - Formao do Brasil no Atlntico Sul - Sculos XVI e XVII, So Paulo, Cia das Letras

    2- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais;Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. P 41

  • 12

    Atravs das relaes no Atlntico Sul, foi adquirido mo de obra escrava (que a

    expropriao da fora de trabalho). Esta visava garantir mecanismos de controle para

    melhor compor a unidade do imprio, utilizando para isto a funo missionria nas

    colnias, o que norteia e justifica parte do processo. De modo que para justificar o

    trfico de mo de obra escrava inseria-se o sentido de uma suposta salvao

    queles que segundo os ideais do imprio portugus necessitavam ser salvos de seus

    modos de vida. Como trata a teoria fundamentadora de Padre Antnio Vieira:

    S os negros cristos conheceriam o resgate eterno do Paraso. Os outros, vivendo no

    paganismo na frica, estavam condenados ao Inferno (ALENCASTRO, 2000, P18)

    Neste sentido, relevante compreender que no sculo XVIII, o conceito de civilizao

    era complementado pela justificativa religiosa, relacionando o trfico atlntico ideia

    de introduo de uma cruzada contra as supostas barbrie e selvageria africana.

    Neste mbito, a expropriao dos negros de seu lugar de origem seria justificvel em

    prol de uma suposta salvao dos mesmos.

    Esta abordagem consistiria em libertar os africanos do paganismo para se tornarem

    cristos. Isto era embasado na crena de que era misso deles como, colonizadores,

    civilizados e, sobretudo cristos, salvar os negros africanos, retirando-os de seu

    continente e assim tornando-os civilizados e cristos na Amrica. Porm esta

    cristianizao estaria inserida no projeto de colonizao, uma vez que, realizando a

    converso ao cristianismo a dominao e a explorao seria mais eficaz, obtendo

    maior xito. Neste sentido a presena e atividade dos jesutas fora essencial para que

    este projeto se concretizasse.

    3- ALENCASTRO, Luiz Felipe de, O Trato dos Viventes. Formao do Brasil no Atlntico Sul, So Paulo, Companhia das Letras, 2000. P. 18

  • 13

    Na justificativa teolgica do Sistema Colonial, mais uma vez o Brasil

    colnia- purgatrio. Nela, portugueses cristos se viram s voltas

    com a escravizao do seu semelhante, e nesta contradio mxima,

    teve grande peso o papel da Igreja como formuladora e veculo de uma

    teologia justificativa. (SOUZA,1986. P 79)

    Pode-se, desta maneira, compreender que este Brasil colonial era visto como um

    purgatrio, 4 e o negro africano o ser demonizado que necessitava conhecer os

    preceitos e a civilizao crist, para assim ser salvo.

    Neste sentindo cabe citar que segundo os preceitos europeus, as religies africanas

    no eram aceitveis, sendo costumeiramente relacionada obscuridade e a atos

    ditos diablicos

    Partindo de um pressuposto de que havia a predominncia do cristianismo, as

    religies, ritos e costumes advindos do continente africano eram sempre relacionados

    aos atos demonizados, uma vez que eram totalmente distintos do que era at ento,

    conhecido por eles.

    Pode-se afirmar assim, que incitando a demonizao do negro, ficara mais fcil

    justificar a escravido, j que mais uma vez, o sentido missionrio, vem tona.

    Com relao mais precisamente a origem destes negros trazidos atravs do trfico

    para o Brasil, tem-se os seguintes dados: Alguns estudos tratam de um contingente

    de cerca de trs milhes e meio de africanos introduzidos no Brasil at a abolio do

    trfico.

    4 - SOUZA, Laura de Mello e, O diabo e a Terra de santa cruz: feitiaria e religiosidade popular no Brasil colonial. So Paulo: Companhia das Letras.1986. P 89

  • 14

    Segundo Curtin 5, o Brasil, importou entre 1761 e 1820, cerca de 1198000 escravos,

    destes cerca de 75% eram procedentes de Angola.

    O que demonstra o nmero expressivo de pessoas que adentraram no pas a fim de

    desenvolver e afirmar a escravido africana como mo de obra bsica da colnia.

    No incio do sculo XIX, o Brasil tinha uma populao de 3.818.000

    pessoas, das quais 1.930.000 eram escravas. Em algumas partes do

    Brasil, o nmero de escravos chegou a superar o nmero de pessoas

    livres. (ALBURQUERQUE, 2006. p-66)

    Os estudos de Iracy Del Nero da Costa, para a populao de Vila Rica, constam que

    em 1804, dos escravos africanos, 15,24% eram sudaneses, e 84,67% eram bantos.

    Com relao aos j escravizados no Brasil, 59,22 de seu total j tinha nascido na

    colnia, destes 12,33 % eram pardos. 5

    No que tange as origens dos escravos africanos, Karasch 6 divide a origem dos

    africanos em diversas reas de concentrao, classificando-as em de ocidental,

    centro ocidental e oriental. Alm destas, a autora cita aquelas consideradas de

    origem africana desconhecida, das quais se destacam as congas, angolas, cabindas,

    benguelas, cassanges e moambiques.

    Temos, portanto, a partir da historiografia sobre a escravido e o quantitativo de

    escravos no Brasil, o quanto a expropriao de mo de obra no continente africano foi

    intensa, abrangendo diferentes reas territoriais, de modo que a historiografia sobre a

    escravido no Brasil, bem como sobre o trfico de escravos sugere o quanto a

    expropriao de mo de obra colaborou para a miscigenao de diferentes povos no

    continente.

    5- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986.P 49

    6- KARASCH, Mary. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). Traduo Pedro Maia Soares. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.

  • 15

    Aps a longa travessia ocenica, os africanos desembarcavam nos portos do Brasil:

    Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Belm e So Lus eram os grandes portos

    importadores e redistribuidores de escravos para diversas regies da colnia.7

    H de se levar em considerao, que estes dados tratam-se do trfico legal, pois de

    fato o quantitativo de africanos que embarcaram de forma clandestina, atravs do

    trfico ilegal de escravos, expressivamente maior.

    Com relao aos destinos de desembarque, pode-se estabelecer que o porto do Rio

    de Janeiro era importante para todo comrcio colonial, e consequentemente a cidade

    atlntica mais importante para o recebimento de negros africanos entre o final do

    sculo XVIII e a primeira metade do sculo XIX, o que de fato favoreceu a expanso

    do escravismo na regio.

    Segundo Curtin, entre 1723 e 1771, do maior porto negreiro africano do sul do equador

    (Luanda) foram exportados 203.904 escravos, dos quais metade teve por destino o

    Rio de Janeiro.8

    Segundo dados do IBGE:

    Chefes polticos e mercadores da frica Centro-Ocidental (hoje regio

    ocupada por Angola) forneceram a maior parte dos escravos utilizados

    em toda a Amrica portuguesa. No sculo XVIII, o comrcio do Rio de

    Janeiro, Recife e So Paulo era suprido por escravos que vinham da

    costa leste africana (oceano ndico), particularmente Moambique. No

    comrcio baiano, a partir de meados do sculo XVII, e at o fim do

    trfico, os escravos eram oriundos da regio do Golfo de

    Benin (sudoeste da atual Nigria) . (IBGE, 2000)

    7- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais;Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. P 42

    8- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986.

  • 16

    Boris Fausto, aponta em Histria do Brasil: "estima-se que entre 1550 e 1855

    entraram pelos portos brasileiros 4 milhes de escravos, na sua grande maioria jovens

    do sexo masculino 9. Com relao a tipologia dos africanos o autor cita que:

    "Costuma-se dividir os povos africanos em dois grandes ramos

    tnicos: os sudaneses, predominantes na frica ocidental, Sudo

    egpcio e na costa do golfo da Guin, e os bantos, da frica Equatorial

    e tropical, de parte do golfo da Guin, do Congo, Angola e

    Moambique. Essa grande diviso no nos deve levar a esquecer que

    os negros escravizados no Brasil provinham de muitas tribos ou

    reinos, com suas culturas prprias. Por exemplo: os iorubas, jejes,

    tapas, hauas, entre os sudaneses; e os angolas, bengalas, monjolos

    e moambiques entre os bantos (FAUSTO,1986, p 29)

    Com relao estrutura econmica do Rio de Janeiro na poca, Joo Fragoso e

    Manolo Florentino informam que a economia colonial tardia da cidade poderia ser

    compreendida por dois movimentos que estariam ligados: o primeiro seria a mudana

    nas formas de acumulao (que estavam intimamente ligadas ao setor agrrio-

    exportador) e o segundo seria a transformao do Rio de Janeiro na principal praa

    mercantil do Atlntico Sul (que possibilitou grande ascenso comercial devido ao

    trfico).

    Algo extremamente relevante no que tange o tema de escravido analisar os

    processos internos e desmitificar algumas caractersticas que norteiam por vezes o

    entendimento geral de como se promoveu a escravido no Brasil, estudando mais

    especificamente o Rio de Janeiro. Deste modo cabe pensar algumas particularidades,

    no que tange mais precisamente as relaes entre o senhor e o escravo.

    9- FAUSTO, Boris, Histria do Brasil, So Paulo, Edusp, 1996, P 29

  • 17

    Segundo Joo Jos Reis, Os escravos no foram vtimas nem heris o tempo todo,

    se situando na sua maioria e a maior parte do tempo numa zona de indefinio entre

    um e outro plo (REIS, 1989, p 7)

    Partindo deste princpio, pode-se analisar uma das grandes questes acerca dos

    estudos sobre o tema escravido. Que a vertente que parte de um pressuposto

    aonde o escravo visto somente como vtima do perodo, negligenciando sua histria

    e lutas. Esta vertente visa compreender todo o processo, buscando analisar somente

    as relaes entre senhor e escravo, no mbito do consenso ou da violncia. Bem

    como as diversas formas de vida, o que negligencia as diversas formas histricas que

    relatam os meios de sobrevivncia e resistncia negra, no que tange o perodo da

    escravido.

    Segundo Reis, havia um espao social que tecia tanto de barganhas quanto de

    conflitos, (REIS, 1989, P 7) o que incita que havia por diversos momentos entre os

    escravos e seus senhores uma relao de negociao.

    Com relao a esta negociao, importante ressaltar o fato que at mesmo as fugas

    dos escravos eram uma resultante dos meios de negociao, de maneira que quando

    a negociao falhava, ou por vezes no era possvel, abriam-se os caminhos para

    uma ruptura entre senhor e escravo.

    Estas negociaes eram comuns no Brasil colonial, escravos e senhores

    estabeleciam o tempo todo um sistema de barganha, afim de uma resoluo em

    comum, porm, quando por vezes o senhor de engenho no cedia s negociaes,

    escravo como forma de resistncia, fugia.

    H inclusive casos de escravos que fugiam como forma de pressionar o senhor a

    negociao. Reis cita que: Conhecedores das malhas finas do sistema, escapavam

    muitas vezes j com inteno de voltar depois de pregar um susto no senhor e,

    assim, marcar o espao de negociao no conflito. (REIS, 1989, P 9)

  • 18

    A anlise destas negociaes aponta a compreenso e a necessidade da existncia

    das mesmas, e um sistema econmico totalmente dependente de mo de obra

    escrava, o qual no se desenvolveria nem progrediria sem um sistema de negociao,

    uma vez que tal sistema dependia de atitudes cooperativas para seu desenvolvimento.

    Reis comenta, por exemplo, que no ano de 1789, os escravos do engenho Santana,

    em Ilhus, se rebelaram e redigiram um documento contendo vrias reivindicaes.

    Em uma delas, exigiam a reduo do tempo de trabalho na lavoura de cana e o direito

    ao lazer. 10

    Contudo, no s de negociaes o regime escravista se estabeleceu. Outras

    caractersticas tambm o norteiam.

    No que se refere ao ritmo de trabalho, Henry Koster observou algumas variantes como

    o fato: o escravo rural, sobretudo os que trabalhavam nas plantaes de cana, tinha

    um ritmo de trabalho que ia do nascer ao pr do sol, com uma pausa de meia hora s

    8 da manh para o almoo e outra pausa do meio-dia s 2 para o jantar. 11

    Ainda segundo Koster havia variaes no ritmo de trabalho dependo da regio em que

    o escravo se encontrava, de modo que em regies onde a religio catlica prevalecia,

    os negros africanos ficavam isentos de participar de festejos e comemoraes

    santas. 12

    10- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989, P 20

    11- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986. P 532

    12-- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986. P 532

  • 19

    O escravo brasileiro estava submetido a um trabalho menos duro do

    que aquele que vivia em regies onde no prevalecia a religio

    catlica: os numerosos dias santos, alm de domingos, durante os

    quais a igreja exigia descanso, aumentavam a disponibilidade do

    escravo que podia simplesmente repousar ou trabalhar para si

    prprio. (Koster, p.518)

    Com relao mdia de vida e produo do escravo africano Schwartz mostrou que

    no Brasil do ltimo quarto do sculo XIX a expectativa de vida dos escravos, ao

    nascer, variava em torno de 19 anos. 13

    Contudo necessrio considerar os fatores que levavam a uma expectativa de vida

    to baixa. Jacob Gorender afirma que:

    necessrio levar em conta as condies cotidianas da vida para

    entender o tratamento dispensado aos cativos, tais como: quantidade

    e qualidade da alimentao, vesturio, habitao, durao da jornada

    laboral e outras condies de trabalho, nesse caso, os tipos e a

    frequncia dos castigos impostos aos escravos (GORENDER, 1978)

    Ainda com relao ao ritmo de trabalho, sabe-se que nos engenhos e fazendas de

    caf os cativos o aumentavam na presena de senhores e feitores, mas com o

    afastamento dos mesmos, procuravam fazer pequenas pausas para descansar.

    13- SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (1550-1835). So Paulo: Companhia das Letras, 1988.

  • 20

    Outra caracterstica apresentada pelos cativos era a ao de entoar cnticos

    improvisados, chamados de jongos, que serviam para ritmar o trabalho e, quando

    preciso, alertar os companheiros da aproximao dos senhores e feitores. Isso

    demonstra linguagens utilizadas pelos cativos maioria delas desconhecidas dos

    senhores no sentido de manter sua resistncia. 14

    Um ponto relevante que no desenrolar da histria da escravido no Brasil, vrias

    propostas sobre a administrao ou manuteno do trabalho escravo foram

    desenvolvidas, temos como exemplo Lus dos Santos Vilhena.

    Este defendia que os senhores deveriam manter os escravos fartos, vestidos e

    contentes, pois assim, se reduziriam as chances de rebelies. O que de fato era uma

    ttica que atrairia resultados. 15

    Os escravos fartos, vestidos e contentes, no sucederia o morrerem-

    lhes muito de misria, e trabalho, o que por desfalecidos sucumbem;

    ento se poderia com justia puxar alguma vez mais por eles; ento

    seriam castigados com razo se furtassem, e ento deixariam de ser

    enterrados quase todas as semanas sacos de dinheiro por que se

    compram. ( VILHENA, P 136)

    Estas propostas administravas visaram, sobretudo, preservar a vida de trabalho do

    escravo, prolongando o perodo de servio til do mesmo e assim poupando o senhor

    de engenho de repor o servio com um novo escravo.

    14- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais;Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. P 78

    15- MARQUESE, Rafael de Bivar, Administrao e escravido: Idias sobre gesto da agricultura escravista brasileira. So Paulo: Hucitec: FAPESP, 1999, P 136

  • 21

    Entre as formas de administrao dos escravos no Brasil colonial, a instruo religio

    tinha papel fundamental no controle dos cativos.

    Manoel Ribeiro Rocha descreve argumentos que comprovam esta importncia 16:

    A propagao da f crist, a no privao dos bens espirituais para

    os escravos, e a incitao a obedincia trazida pela catequese, pois a

    f, que se recebe no batismo, faz o servo mais pronto e fiel ao servio

    de seu senhor. (ROCHA, 1982 p 86-7)

    Afirmando assim a importncia desta administrao.

    Com relao aos meios de resistncia escrava, pode se afirmar que todo o perodo

    de escravido na Amrica foi marcado por fugas e meios de resistncia, assumindo

    diferentes faces.

    A manuteno de costumes, rituais, e simbologias africanas, era um meio de

    resistncia negra contra a imposio de culturas e crenas que eram distintas das

    suas.

    A tipologia dos meios de resistncia escrava podem basicamente se definir pelos

    seguinte componentes: a desobedincia sistemtica, a lentido na execuo das

    ordens dadas, a sabotagem da produo e as fugas individuais ou coletivas. 17

    Reis e Silva consideram a fuga como o elemento bsico do conceito de resistncia

    escrava, ou seja, o elemento principal era a fuga.

    16- ROCHA, Manoel Ribeiro, Etope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido, instrudo e libertado (1758), Petrpolis, Vozes, 1992, p 86-7

    17- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989.

  • 22

    Os cativos fugiam por vrios motivos: castigos, trabalhos excessivos, pouco tempo

    para atividades livres, a desagregao de suas famlias, impossibilidade de ter a

    prpria terra, e pelo maior e mais importante dos motivos, a busca por sua liberdade.

    Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho18, descrevem que:

    Por vezes os cativos se ausentavam apenas por tempo suficiente

    para pressionar o senhor a negociar melhores condies de trabalho,

    moradia e alimentao, ou para convenc-lo a dispensar um malvado

    feitor, a manter na mesma fazenda uma famlia escrava, a cumprir

    acordos j firmados ou at para conseguir ser vendido a outro senhor.

    18

    Confirmando as ideais acima, havia de um aspecto de negociata que esteve presente

    no regime escravocrata no Brasil, precisamente na relao senhor e escravo.

    O tipo de fuga consequente dos tipos de negociao referidas anteriormente pode ser

    chamado de fuga reivindicatria, de modo que ao alcanar os objetivos estabelecidos,

    o escravo volta para a casa de seu senhor.19

    Com relao aos destinos das fugas, eram dos mais variados. A formao dos

    quilombos est diretamente relacionada s fugas.

    Vale destacar que como forma tpica de resistncia escrava coletiva, as formaes

    quilombolas se manifestaram e diferentemente do que se acreditam estas formaes,

    reuniam no s escravos em fuga, mas tambm negros libertos, indgenas e brancos

    com problemas com a justia.

    18- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006.

    19- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989, p 9

  • 23

    Para alm de um lugar que representava liberdade, os quilombos possibilitavam a

    continuidade de tradies e culturas africanas.

    Diante destas informaes, cabe pensar os escravos como agentes histricos

    fundamentais na compreenso da escravido no Brasil.

    Sendo relevante assim, compreender as singularidades e as questes que fazem

    parte da histria escrava brasileira, partindo-se assim de um pressuposto que

    qualquer anlise que venha a tratar da histria de formao do pas ter como ponto

    relevante a presena da escravido

    Noutros termos, necessrio ter o olhar do negro africano que fora escravizado por

    sculos, como agente na construo de sua histria e da histria de formao do pas,

    no sendo somente coadjuvantes na formao da histria brasileira, pelo contrrio,

    entend-lo como elemento fundamental da formao da histria da mesma. Pois:

    Seja como for, j no possvel pensar os escravos como meros

    instrumentos sobre os quais operam as assim chamadas foras

    transformadoras da histria. No podemos, tampouco, pens-los

    como um bloco homogneo apenas por serem escravos. As

    rivalidades africanas, as diferenas de origem, lngua e religio- tudo

    o que os dividia no podia ser apagado pelo simples fato de viverem

    um calvrio comum.20

    20- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989, p 20

  • 24

    Captulo II

    As Relaes sociais escravas.

    Para alm do processo da escravido, a historiografia preocupa-se em estudar as

    outras vertentes sobre o tema.

    Neste mbito fundamental compreender como se estabeleciam as relaes sociais

    e familiares dos negros africanos escravizados no Brasil colonial, mas

    especificamente analisar com mais profundidade como se estabeleciam estas

    relaes sociais nos ambientes das senzalas localizadas nas fazendas do Rio de

    Janeiro.

    H de ser levar em considerao que os escravos vinham de diversas reas do

    continente africano, possuindo as mais diversas lnguas, costumes e modos de vida.

    Isto um fator mpar na construo destas relaes sociais, uma vez que estas foram

    reinventadas e reconstrudas aqui no Brasil.

    Outro ponto essencial foi desagregao e desintegrao familiar resultante das

    relaes do trfico e as condies de vida ao quais os negros foram submetidos no

    perodo da escravido no Brasil.

    Segundo Walmiria de Alburquerque:

    A condio escrava dificultou a formao e consolidao de famlias

    e comunidades, j que amigos e parentes podiam ser separados pela

    venda para proprietrios diferentes. Para sobreviver sob o cativeiro,

    os escravos e escravas buscaram acionar relaes sociais aprendidas

    na frica e as aqui inventadas. Os vnculos formados a partir do

    trabalho, da famlia, dos grupos de convvio e da religio foram

    fundamentais para a sobrevivncia e para a recriao de valores e

    referncias culturais 21

    21- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006.p 95

  • 25

    Deste modo as medidas de sobrevivncia e perpetuao de suas crenas e costumes

    passavam a ser de certa maneira reinventadas a fim de trazer para este africano

    escravizado no Brasil uma referncia dos valores e costumes que este perdera.

    Neste sentido, h de compreender primeiramente como se estabeleciam estas

    relaes iniciais entre os cativos, de modo que ao chegarem ao seu destino, ou seja,

    nos engenhos, os mesmos recebiam as instrues necessrias para compreender as

    ordens dadas, ora pelos senhores, ora pelos feitores, estes eram responsveis em

    ensinar-lhes como as tarefas deveriam ser realizadas, incitar disciplina e formas de

    deferncia.

    Nos engenhos, as condies de sociabilidade j possuam como fator de desarmonia

    a questo das diferentes etnias e religies agrupadas em um mesmo local, o que

    gerava um empecilho para a formao harmoniosa das diferentes relaes sociais

    entre os cativos.

    Nos grandes engenhos, fazendas de caf, nas minas e cidades, a

    escravaria geralmente era formada por africanos de etnias diversas,

    alm de escravos crioulos. O africano recm-chegado, aqui chamado

    de boal, defrontava-se com um ambiente em que coexistiam diversos

    povos, alguns que se desconheciam outros divididos por rivalidades

    religiosas e tnicas. Muitas vezes as rivalidades na frica se

    reproduziram no Brasil, outras vezes elas diminuram sob o peso da

    escravido. 22

    Desta forma foi estabelecida em um primeiro momento uma agregao dos africanos

    ligando-se a uma identidade tica, de maneira que, grupos formados por lnguas

    comuns ou semelhantes passaram a formar uma nova identidade, estas recebendo

    novos significados e sendo reconstrudas no Brasil.

    22- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador,

    Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. p- 96

  • 26

    Para os autores Manolo Florentino e Jos Roberto Ges, a entrada de diferentes

    etnias no Brasil, devido ao trfico transatlntico, provocou mais conflitos do que

    unio entre os escravos.

    As rivalidades j existentes na frica teriam a princpio impedido criao de laos

    de solidariedade que seriam fundamentais para a organizao mais efetiva de

    resistncia contra os senhores.

    provvel at que o cativeiro muito contribusse para exasperar as

    diferenas que os constituam, em mais de um sentido. Por que no?

    A escravido, afinal, no devia ser um meio muito propcio ao acalanto

    de sentimentos mais tolerantes. A verdade que um plantel no era,

    em princpio, a traduo de um ns. Reunio forada e penosa de

    singularidades e de dessemelhanas como melhor se poderia

    caracteriz-lo (FLORENTINO & GES 1997, p. 35.)

    Estas relaes ganhavam mais significado e fora, dentro das senzalas (palavra

    de origem quimbunda que significa residncia de serviais em propriedade

    agrcola, ou morada separada da casa principal) 23

    Estas funcionavam como uma espcie de habitao ou alojamento para os cativos,

    construdas dentro da unidade de produo (seja de engenho, minas de ouro ou

    fazendas de caf), era o lugar onde era possvel estreitar laos comunitrios,

    buscar alternativas para os modos de vida aos quais estavam submetidos, alm

    de constituir um ambiente para a preservao da cultura africana.

    23- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. p 78

  • 27

    importante assinalar que os laos comunitrios foram formados

    nas senzalas em meio a uma diversidade de grupos tnicos. Foram

    formados tambm pela necessidade de encontrar sadas e alternativas

    vida escrava. No seio dessas comunidades, os escravos puderam

    preservar grande parte da cultura africana e transmiti-la aos filhos e

    netos.24

    Estas diversidades tnicas e rivalidades religiosas faziam parte dos primeiros conflitos

    aos quais os cativos se deparavam ao se estabelecerem na colnia. Por vezes estas

    rivalidades, que advinham da frica, se reproduziram novamente no Brasil, outras

    vezes diminuam devido escravido.

    Normalmente os grupos formavam-se em torno de lnguas comuns ou semelhantes,

    sendo formadas as identidades dos grupos em grande parte no Brasil.

    Dentre estes se podem citar os grupos: angolas, congos, monjolos, cabindas, quiloas

    minas, jejes, nags, etc. Cada um destes grupos constitua uma nao

    O fato que as divises e diferenas estavam intimamente relacionadas vida do

    escravo, pois atravs dela se estabeleciam as relaes de aceitao pelo grupo, alm

    das escolhas de parceiros nas relaes afetivas entre os mesmos. 25

    24-Idem. P 97

    25-idem P 96

  • 28

    Com relao s condies fsicas da senzala constam-se que geralmente eram feitas

    de barro, palha, madeira ou telha. Sendo estas pouco ventiladas e abafadas (devido

    pouca quantidade de janelas) abrigando um grande contingente de escravos.

    Haviam dois tipos de estrutura para as senzalas, a primeira seguia um modelo de

    espcie de barraco em uma construo retangular e alongada, repartida em

    cubculos. Estas eram construdas pelos senhores e ficam organizadas ao lado ou

    atrs das casas-grandes. Neste modelo os alojamentos de homens, mulheres e casais

    com filhos geralmente eram separados.

    Slenes cita que havia uma distino entre os locais de dormir de escravos que eram

    solteiros dos que eram casados, havendo indcios que os cativos casados morassem

    em construes separadas.

    J o segundo modelo era construdo pelos prprios escravos, sendo formado por

    barracos separados, geralmente construdos com paredes de barro e cobertas de

    sap ou telhas de cermica. Nesse modelo de senzala os cativos tinham a

    oportunidade de inserir seus elementos culturais aprendidos na frica.

    Na rea interior das senzalas havia poucos objetos pessoais, um ba para guardar

    roupas, camas rudimentares ou esteiras para dormir, panelas e pratos de barro e

    fogo a lenha.26

    Os escravos deviam valorizar bastante a construo do prprio

    barraco, porque l era possvel dispor de maior privacidade e liberdade

    para sua vida domstica. Ali era possvel cozinhar a prpria comida e

    alimentar-se longe da vista do senhor 27

    26- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. p 78-79

    27- idem p 79

  • 29

    A senzala, alm de ser o local de alojamento dos cativos, era o ambiente onde os

    mesmos se reuniam nos momentos de descanso estreitando os laos comunitrios.

    Era na senzala que as relaes sociais entre os cativos ganhavam mais fora e

    significado.

    Este ambiente possibilitava aos escravos viverem e repassarem seus costumes e

    crenas.

    Alm disso, a senzala era o local onde se organizavam as famlias escravas, objeto

    de estudo de estrema importncia para a historiografia que trata do tema.

    Esta alm de ser uma organizao social responsvel pela perpetuao dos costumes

    e as heranas que temos, foi tambm um dos meios de resistncia legtimo contra o

    sistema escravista.

  • 30

    Captulo III

    A formao das famlias escravas

    Cabe analisar um ponto essencial no que tange a relao entre os escravos no

    perodo da escravido, a constituio e formao das famlias escravas.

    A constituio destas famlias possibilitava entre outras coisas a continuidade das

    heranas africanas, a recuperao de valores e formas de convivncia, alm das

    crenas que eram vivenciadas na frica.

    Compreendendo que no havia condies adequadas para a formao destas

    famlias, as mesmas foram criadas seguindo as particularidades do perodo.

    Segundo Manolo Florentino at pouco tempo no era possvel ter como objeto legtimo

    de estudo a famlia escrava, uma vez que a mesma estava entrelaada a

    promiscuidade e desagregamento social.

    No Brasil, at bem pouco tempo era impossvel tomar a vida familiar

    escrava como um legtimo objeto de reflexo, pois afirmava-se que

    promiscuidade e desregramento social seriam traos marcantes das

    escravarias. Ademais, famlia e trfico atlntico se excluiriam, pois o

    fluxo externo de almas, com o seu marcante desequilbrio sexual,

    impossibilitaria aos escravos a criao de estratgias parentais

    eficazes.28

    28- FLORENTINO, M. e GES, J.R. A Paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico, Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997. P 103

  • 31

    Porm, mesmo com as adversidades para a consolidao destas famlias, os cativos

    buscavam manter relaes conjugais estveis e construir laos familiares extensos.

    Os estudos mais recentes sobre famlia escrava no Brasil tm

    demonstrado que, nas grandes plantaes de caf e cana, parte

    considervel dos cativos conseguiu criar e manter relaes familiares

    ao longo do tempo. 29

    No entanto, para alm de sua formao, cabe analisar se a formao da famlia

    escrava fora um entrave para o fim da escravido.

    Para Robert Slenes, a formao da famlia escrava tinha uma caracterstica oposta,

    uma vez que se fortaleciam os laos comunitrios essenciais para as organizaes

    de rebelies e resistncia aos senhores, desta maneira uma ameaa ao sistema

    escravista, de modo que a formao dos laos familiares ampliava as possibilidades

    de sobrevivncia dos cativos, alm de permitir a elaborao de projetos de liberdade.

    Sem dvida a famlia cativa constituiu um dos pilares sobre os quais

    se formaram as comunidades de senzala. Por mais que parecesse

    reforar o domnio escravista atravs da obedincia a uma rotina

    cotidiana, a famlia oferecia ao escravo maior poder de negociao

    com os senhores e, principalmente, mais vontade de reao a atos

    arbitrrios de castigo, venda e desrespeito a direitos adquiridos. 30

    Pode-se compreender desta forma, que a famlia foi um pilar importante para os

    cativos enfrentarem as transformaes e condies de vida aos quais estavam

    submetidos.

    29-- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador,

    Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. p 97

    30- idem p- 10

  • 32

    Mas a formao destas famlias seguia mediante suas prprias singularidades,

    como por exemplo, o fato dos cativos, em sua maioria, terem como escolha afetiva

    aquele com afinidades culturais e tnicas.

    Os matrimnios ocorriam principalmente entre parceiros de uma

    mesma etnia, e em pocas de grandes desembarques a situao se

    invertia, ocorrendo unies entre etnias diferentes. Tendo como regra

    as diferenas nas faixas etrias, os homens eram sempre mais velhos

    e monopolizavam as mulheres frteis, e aos escravos jovens,

    especialmente os nascidos na frica, restavam s mulheres mais

    velhas. Destaca-se o maior ndice de masculinidade entre os

    escravos, o que poderia dificultar as unies. (FLORENTINO; GOES,

    1997, p. 59-127).

    A endogamia, estado da pessoa que s se casa com outra porque ambas pertencem

    mesma classe e/ou tribo, visando preservar suas nobrezas, raas etc, era fator

    determinante e natural na escolha dos parceiros entre os cativos.

    O casamento endogmico refletia o desejo de manter e refazer os laos culturais e

    comunitrios comuns.

    A escolha dos parceiros era presidida por um critrio seletivo no que

    concernia naturalidade. Assim, dependendo da conjuntura

    considerada, em cada grupo de dez casais, de cinco a sete eram

    formados por consortes africanos, de um a trs eram formados por

    escravos nascidos no Brasil, e de um a dois uniam cnjuges africanos

    e crioulos. A endogamia por naturalidade era a norma. 31

    Cabe nesse sentido compreender como estes casamentos eram realizados e vistos

    pelos senhores de engenho.

    31- FLORENTINO, M. e GES, J.R. A Paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico, Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997.p 109

  • 33

    Segundo o livro Uma histria do negro no Brasil grande parte dos casamentos

    ocorria margem do consentimento da igreja, uma vez que esta no garantia direitos

    aos escravos e suas famlias.

    O primeiro recenseamento oficial da populao brasileira, que data de

    1872, mostrou que somente 10 por cento dos escravos brasileiros

    eram oficialmente casados. Ocorre que a maioria das famlias

    escravas formou-se margem do consentimento da Igreja, que era a

    instituio responsvel pela oficializao dos casamentos. Alis,

    mesmo os homens e mulheres livres pobres no se casavam, se

    juntavam. Alm de caro, o casamento na Igreja no oferecia nenhuma

    garantia ao casal escravo de que a famlia no seria dividida caso os

    senhores decidissem se desfazer dos pais ou dos filhos

    separadamente. 32

    Contudo, a igreja defendia que o senhor de escravos permitisse os matrimnios entre

    os cativos, uma vez que era seu dever ensin-los a doutrina crist, e no separe os

    cativos posteriormente.

    Conforme o direito Divino e humano, os escravos e escravas podem

    casar com outras pessoas cativas, ou livres, e seus senhores lhes no

    podem impedir o Matrimnio, nem vender para outros lugares

    remotos, para onde o outro, por ser cativo, ou por ter outro justo

    impedimento, o no possa seguir. 33

    32--- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. P98

    33- ROCHA, Manoel Ribeiro. Etope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido, instrudo e libertado (1758). Campinas: IFCH/Unicamp, 1991.p 131

  • 34

    Segundo os preceitos cristos o casamento dos escravos e sua aceitao por parte

    do senhor, seriam uma maneira de evitar a propagao do pecado e da imoralidade

    entre os cativos.

    Pergunto: para que foi institudo o Santo Matrimnio? No s para a

    propagao do gnero humano, seno tambm para remdio da

    concupiscncia e para evitar pecados 34

    Em outro ponto, alguns autores divergem se a formao destas famlias e

    oficializao destes casamentos seria um entrave maior para o fim da escravido, uma

    vez que o senhor teria mais controle sobre o cativo ou seria uma forma de resistncia

    eficaz contra a escravido.

    Neste aspecto, Florentino e Goes 35 consideram que a formao da famlia escrava

    responsvel por manter a paz nas senzalas, sendo o senhor de escravos favorvel a

    estas unies, pois para estes a constituio familiar do negro, resultaria em uma paz

    entre eles e assim um maior controle sobre os cativos.

    Segundo os autores a construo das famlias escravas tornou-se um pilar da

    formao da cultura afro-brasileira, e teve como papel principal ser um instrumento de

    paz social nos engenhos, uma vez que a formao destas famlias juntamente com o

    favorecimento de um pedao de terra para seu cultivo o manteria preso posse e

    assim evitaria fugas.

    34- BENCI, Jorge. Economia crist dos senhores no governo dos escravos (1700), p102

    35-FLORENTINO, M. e GES, J.R. A Paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico, Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997.

  • 35

    Desta maneira, as relaes familiares teriam por finalidade atender principalmente,

    aos interesses da poltica de controle senhorial gerando uma estabilidade social.

    Haveria, portanto, segundo eles, um ganho poltico por parte dos

    senhores, ao misturar os escravos de maneira consciente e mant-los

    em estado de guerra, posto que, ento, dificilmente se uniriam contra

    eles. Por outro lado, porm, a permanncia do estado de guerra

    impossibilitaria o trabalho regular e sistemtico. Da que a formao

    de famlias e de parentelas, estimulada pelos senhores ou por escolha

    dos prprios escravos, no importa, teria agido no sentido de instituir

    a paz das senzalas, minimizando os conflitos. 36

    Em contrapartida, Robert Slenes 37 cita que a formao e manuteno da famlia

    escrava tinham um papel que abrangia para alm do controle por parte do senhor de

    engenho, no sendo um smbolo de enfraquecimento da resistncia negra.

    Ela representava a conquista de espaos de autonomia dentro do cativeiro e fortalecia

    os laos de solidariedade e das heranas africanas.

    Pois as criaes de laos familiares e de parentesco aliadas as heranas culturais

    passam a ser uma das formas de resistncia dos cativos contra o poder senhorial,

    tornando-se assim uma ameaa ao escravismo.

    36- FARIA, Sheila de Castro. Identidade e comunidade escrava: um ensaio, UFF, 2005.p 135

    37- SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor: esperanas e recordaes na famlia escrava, Brasil sudeste, sculo XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p.93.

  • 36

    A constituio de ncleos familiares entre as pessoas negras

    escravizadas pode ser entendida tambm como forma de resistncia

    cativa se considerar a dificuldade enfrentada por tais sujeitos em

    manter unida sua famlia; a autonomia para escolher o cnjuge e a

    possibilidade de viverem em lugares separados dos escravos

    solteiros; alm de ver a famlia como forma de manuteno de traos

    da cultura africana. 38

    Desta forma plausvel dizer que os escravos pertencentes a uma famlia tinham

    menos inteno de ser deslocar do que outros, solteiros e sem filhos, afinal os laos

    familiares estabilizavam o cativo, dificultando assim intenes de fugas ou revoltas.

    Contudo, isto no significara uma aceitao passiva dos cativos, a formao das

    famlias era a representao fiel de resistncia negra e a perpetuao de suas crenas

    atravs de suas linhagens.

    Podemos supor que os africanos trazidos ao Sudeste do Brasil, apesar

    da separao radical de suas sociedades de origem, teriam lutado

    com uma determinao ferrenha para organizar suas vidas, na medida

    do possvel, de acordo com a gramtica (profunda) da famlia-

    linhagem. Encontrando, ou forjando, condies mnimas para manter

    grupos estveis no tempo, sua tendncia teria sido de empenhar-se

    na formao de novas famlias conjugais, famlias extensas e grupos

    de parentesco ancorados no tempo. SLENES (1989-a), pp. 4-5.

    Assim, fica evidente que a formao da famlia escrava teve um papel fundamental

    para os negros aqui escravizados, de modo que a construo de um ncleo familiar

    funcionava como uma das prticas de resistncia dos escravos, alm de garantir a

    transmisso e a continuidade de suas culturas e heranas africanas.

    38- MIRANDA, Amanda Rodrigues de. Famlia escrava no Brasil: um debate historiogrfico. Temporalidades Revista Discente do Programa de Ps-Graduao em Histria da UFMG.Vol. 4, n. 2, Ago/Dez 2012. P.174

  • 37

    Para alm desse ponto, pertencer a uma famlia ajudava, de certo modo, aliviar as

    angstias e os desafios de ser escravo no Brasil.

    Pode-se assim concluir que a famlia escrava teve papel fundamental na

    historiografia, pois atravs de estudos relacionados a ela, podemos compreender

    como se estabeleciam as relaes sociais e de barganha entre os cativos e seus

    senhores.

    Para alm disso, a famlia escrava foi responsvel pela formao e perpetuao das

    heranas africanas deixadas aqui no Brasil, e que hoje, inegavelmente fazem parte

    da cultura brasileira.

    Mais que isso, importante atenuar que o escravo brasileiro no foi um figurante sobre

    as aes sofridas, ele tinha um papel fundamental, que tangia muito alm da

    passividade e submisso que nos imposta.

    A formao da famlia escrava era, pois um dos meios de se sobreviver ao regime

    escravista, de modo que a criao de laos de parentesco tornava o cativo mais forte

    para enfrentar as situaes de conflito, alm de proporcionar certas barganhas com

    o senhor de engenho.

    Para Slenes39 tanto formando famlias quanto sofrendo a mesma disciplina nas

    fazendas, os africanos, enquanto escravos teriam forjado mais sociabilidade e

    solidariedade do que dissenso.

    Sendo desta forma, o estudo sobre a formao da famlia escrava parte essencial para

    a compreenso das relaes sociais entre os escravizados no Brasil e mais ainda sua

    contribuio para a formao cultural que temos atualmente.

    39- SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor: esperanas e recordaes na famlia escrava, Brasil sudeste, sculo XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

  • 38

    Concluses:

    O trabalho apresentado tratou de questes relativas vida escrava no Brasil, mas

    especificamente no Rio de Janeiro entre 1790 e 1830.

    Todos os processos vividos na escravido, desde o trfico at as relaes familiares

    entre os cativos, mostram que o escravo trazido para o Brasil utilizou-se de diversos

    recursos para obter mais estabilidade nas relaes com os senhores de engenho.

    Havendo constantemente situaes de barganha e negociao, mostrando que o

    escravo tinha papel fundamental nessas negociaes e, portanto na vida escrava.

    A busca do cativo por espaos de autonomia e suas diversas formas de resistncia,

    nos mostram o papel fundamental do africano aqui escravizado, sendo mais que um

    mero fantoche nas mos da vontade senhorial.

    A histria, na maioria das vezes trata do escravizado como uma vtima submissa do

    processo escravista, negando toda a luta dos mesmos.

    Era fundamental apresentar atravs de fatos como os cativos realizavam suas

    diversas formas de resistncia.

    Um dos principais objetivos desse trabalho de concluso era apresentar o escravo

    como agente de sua histria, formador de heranas perpetuadas at os dias de hoje.

    As relaes de vnculo e solidariedade formadas pelos escravos brasileiros foram

    fundamentais para a sua sobrevivncia e para a recriao de seus valores e

    referncias culturais.

    inegvel que grande parte da cultura brasileira foi formada pelas heranas deixadas

    pelos escravos, seja no mbito religioso, cultural ou gastronmico.

  • 39

    Deste modo, estabelecer conexes com o passado destes cativos resgatar a

    essncia de nossa histria.

    E para aprofundar conhecimentos neste tema, entender como se davam as primeiras

    relaes sociais e posteriormente a formao das famlias primordial.

    Estas relaes se davam pelas afinidades tnicas e culturais dos cativos trazidos para

    o Brasil.

    Estas afinidades eram responsveis pelas interaes, laos de solidariedade e a

    criao de formas de resistncias entre os escravizados, porm por vezes as

    diferenas entre as ditas naes foram responsveis por conflitos entre os mesmos.

    Porm, mesmo diante das diversas dificuldades que a vida escrava trazia, os cativos

    conseguiram estabelecer laos de parentesco, resistncia e luta pela liberdade.

    Para, alm disso, fazer parte de uma famlia trazia benefcios e aliviava em parte a

    terrvel angstia de ser escravo no Brasil.

    A formao da famlia escrava , pois, uma marca smbolo da resistncia negra,

    atravs dela os cativos transmitiram seus costumes e crenas, resistindo assim, a

    difcil vida escrava.

  • 40

    Referncias Bibliogrficas:

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