Upload
jaqueline-cristiane-duarte
View
37
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS
JAQUELINE CRISTIANE DUARTERGM. 012.3091
PRIVATIZAÇÃO DE PRISÕES
Dourados2012
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS
JAQUELINE CRISTIANE DUARTERGM: 012.3091
PRIVATIZAÇÃO DE PRISÕES
Estudo sobre a viabilidade da privatização/terceirização do sistema carcerário dentro do contexto sócio econômico brasileiro atual
Monografia apresentada ao curso de Ciências Jurídicas para a obtenção do grau de bacharel em direito da UNIGRAN, sob a orientação do Prof. Dr. Tarjanio Tezelli.
Dourados2012
2
AGRADECIMENTOS:
Primeiramente a Deus e a todos aqueles que contribuíram com seus ensinamentos,
amizade e paciência para que chegasse à conclusão de mais esta etapa da vida acadêmica. Em
especial a minha família pelos momentos que fui ausente para então realizar este árduo
trabalho.
A todos os professores que contribuíram com seus ensinamentos no decorrer do curso,
em especial ao ilustre professor e orientador Tarjanio Tezelli, pelas orientações e cessão de
material bibliográfico, bem como seus profícuos ensinamentos.
3
A verdadeira medida de um
homem não é como ele se comporta em
momentos de conforto e conveniência,
mas como ele se mantém em tempos de
controvérsia e desafio. (Martin Luther
King Jr.)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................07
CAPÍTULO-I- EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRISÃO..................................................09
CAPITULO II - O ENCARCERAMENTO........................................................................12
2.1 – A Situação carcerária no Brasil......................................................................................12
2.2 - Direitos Humanos no Brasil a Exclusão dos Detentos...............................................18
2.3 Regimes Prisionais..............................................................................................................19
CAPITULO III - O SISTEMA PENITENCIARIO COMPARADO................................23
3.1 Inglaterra.............................................................................................................................24
3.2 Estados Unidos....................................................................................................................24
3.3 França.............................................................................................................................25
CAPITULO IV- PRIVATIZAÇÕES / TERCEIRIZAÇÃO DOS PRESIDIOS......27
4.1 A Privatização................................................................................................................31
4.2 Propostas de Privatização de Prisões para o Brasil........................................................36
4.3 Argumentos Contrários à privatização...........................................................................38
4.4 Argumentos Favoráveis à privatização..........................................................................39
5.0 Parecer acadêmica..........................................................................................................41
CAPITULO V – CONCLUSÃO.......................................................................................42
6.0 gráficos eimagens...........................................................................................................43
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................50
6
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de pesquisa pretende demonstrar uma abordagem sobre a
privatização de prisões, na esteira do tema que assola o país, que passou por inúmeras
mudanças sócio estruturais contemplando a iniciativa privada quanto a gestão prisional, tendo
por meio a redução dos problemas causados pelo aumento populacional carcerário,
procurando dessa forma ressaltar as deficiências aplicada pelo governo quanto a prevenção do
crime e suas repercussões na sociedade. Tendo como base a analise da situação prisional no
Brasil, pois diariamente se tem a mídia anunciando providencias governamentais, quer através
do Poder Executivo, quer através do Poder Legislativo, no sentido de delegar à iniciativa
privada a gestão da coisa pública. Verifica-se se possível uma terceirização em algumas áreas
dos serviços públicos seria alternativa ideal, ou seja, uma cooperação entre o particular e o
Estatal, para que este desempenhe melhor suas atribuições básicas, haja vista a inviabilidade
da transferência total da execução penal para mãos particulares.
Esta terceirização, teria por escopo desafogar a máquina pública de manter órgãos e
pessoal técnico administrativo, e ainda, arcaria com aposentadorias e pensões, através de
institutos, até então, em sua grande maioria, mal geridos e falidos. No tocante às prisões, há
uma exigência da sociedade para resolver o problema da superlotação carcerária. Tendo em
vista que cabe ao Estado a função de tutelar, preservando a vida do preso, sendo prevista na
Carta Magna de 1988 e a lei 7.210/1984, que traz a execução penal. Alguns autores como
Fernando Capez e Luiz Flávio Gomes defendem a privatização dos presídios e as inovações
tecnológicas no Processo Penal e critica as reformas feitas na legislação penal.
Em entrevista feita no I Fórum de Direito Público que debateu sobre Lei das
execuções penais, privatização dos presídios, alternativas à pena de prisão, juizados especiais
criminais, suspensão condicional do processo, teoria da imputação objetiva entre outros
temas, em março de 2002; onde Fernando Capez afirma que:
“A Privatização dos presídios não é questão de escolha, mas
uma necessidade indiscutível”.
A privatização poderia gerir os recursos internos dos presídios, sendo esses, hotelaria,
alimentação, vestuário, entre outros, e ao Estado caberia apenas zelar a vida do preso, ou seja,
quanto a segurança. Desse modo a privatização teria por base a melhoria da administração dos
7
presídios, que resolveria em tese o problema da superlotação e daria melhores condições de
vida dentro dos presídios, mas que para isso ocorra, uma série de ações deve ser realizado
para que os objetivos da privatização sejam concretizados.
Esse trabalho acadêmico tem como objetivo trazer a historia e a situação dos presídios
brasileiros, buscando apresentar conceitos e teses a respeito do sistema de privatização
voltado para então uma sugestão de privatização do sistema carcerário brasileiro.
8
CAPITULO I
1.0 Evolução Histórica da Prisão:
Desde o inicio dos tempos, até hoje não se mostra possível uma justificativa plausível
para a pena de prisão. A principio esta se destinava a animais, não se fazendo distinção entre
irracionais e racionais, pois homens e animais eram amarrados, calcinados e manietados. Com
o crescimento do número de “presos”, surgiu o pretexto ideal para murá-los, colocando-os no
interior de cavernas, fossas, torres, subterrâneos, entre outros lugares lúgubres, segregando-os
do convívio social. Prendia-se ora para evitar fugas, ora para a realização de trabalhos
forçados.
Em meados 1830, foi construída a Casa de Correção do Rio de Janeiro, sendo a
primeira prisão brasileira surgida, esta deveria representar um grande avanço quanto às
relações e as praticas punitivas coloniais predominantes, trazendo assim a modernidade e
civilidade, mas que com o passar do tempo se tornou uma preocupação devido à superlotação,
e a falta de estrutura para tal. Com a Carta Magna de 1824, abrangendo assim o tema e
criando a separação dos réus.
“A Constituição de 1824 estabelecia que as prisões devessem ser
seguras, limpas, arejadas, havendo a separação dos réus conforme a
natureza de seus crimes, mas as casas de recolhimento de presos do
início do século XIX mostravam condições deprimentes para o
cumprimento da pena por parte do detento”. PEDROSO, Regina
Célia. Utopias penitenciárias. Projetos jurídicos e realidade
carcerária no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, 2004, pág. 01.
//jus.com.br/revista/texto/5300/utopias-penitenciarias.
.
“A situação prisional no Brasil foi se regularizando com o
Código Criminal de 1830, assim com penas de trabalhos e dos
sistemas de prisões simples, e com o surgimento do Ato
9
Adicional de 12 de agosto de 1834 dando às Assembléias
Legislativas provinciais o direito de legislar sobre a criação e
funções dos presídios”. (LIMA FILHO, Osmar Aarão Gonçalves
de. Op. cit, 2006).
Embora surgissem teorias aprovadas pelos legisladores à situação e as realidades
das prisões ainda eram subumana, tal como a “Cadeia da Relação” no Rio de Janeiro, que
possuía mais presos do que sua capacidade e esses acabavam contraindo doenças e
subnutrição. (FAZENDA, José Vieira. Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro: Revista
do Instituto Histórico).
Especialmente a partir do século XIX a prisão converteu-se na resposta pena
lógica principal, e segundo alguns autores, acreditava-se que à época, este era o meio
adequado para conseguir a reforma do delinquente.
Foi onde o legislador estabelece sanções e parâmetros para a fixação das penas, de
tal forma que o juiz gozava de relativa liberdade, tendo as regras legais estabelecidas. Mas
como marco alguns princípios que não deveria de ser esquecidos e que se perduram até hoje,
tal como, principio da igualdade perante a lei, caráter retributivo da pena e caráter preventivo
da pena.
Já no século XX, sendo caracterizado como período científico, cria-se as Penas
Alternativas, no Brasil, no governo de Getulio Vargas ocorre a promulgação do Código Penal
em 1940.
[...] “que estabeleceu no rol das penalidades por práticas
criminosas, a reclusão – cujo máximo atinge 30 (trinta) anos -,
a detenção – com quantificação mais severa em 3 (três) anos -,
enquanto a prisão simples ficou relegada a Lei das
Contravenções Penais. A pena de multa também se integra o
elenco das penas principais, cirando-se ainda as penas
acessórias, consistentes na perda da função pública, interdições
de direitos e publicações da sentença e a interdição de direitos.
MARTINS, Jorge Henrique Schafer. Penas Alternativas. 2 ed.
Curitiba: Juruá, 2001, p. 21.
10
O Código Penal de 1940 trouxe em seu texto o chamado Sursis, que é a
possibilidade da suspensão condicional da pena, na qual representou grande avanço na
historia do direito penal brasileiro, dando a possibilidade de o condenado não se sujeitar a
execução da pena privativa de liberdade de pequena duração desafogando assim o sistema
carcerário.
Embora ainda hoje a literatura jurídica criminal tenha se ocupado do que ocorre
no ambiente carcerário, relatando as graves deficiências existentes nas prisões em todo
mundo. Em geral, são ressaltadas nessas obras a superlotação carcerária, falta de higiene,
sevícias e maus tratos, deficiência nas condições de trabalho, atendimento médico,
odontológico e psiquiátrico, bem como o elevado consumo de entorpecentes.
Deve se ressaltar que, embora exista, desde os primórdios, uma luta incessante por
uma substituição completa da pena de prisão, isto ainda não se mostra possível, apresentando
se esta segundo vários estudiosos do direito como um “mal necessário”, sendo uma realidade
insubstituível a pequeno e médio prazo. Assim, a execução da pena de prisão continua sendo
um enorme problema jurídico. Problema este que se tem tentado resolver através dos tempos,
pela aplicação de inúmeras fórmulas, dentre as quais a mais atual é a drástica redução da
aplicação da pena de prisão, deixando o encarceramento apenas para os casos mais graves,
mais danosos a vida social, para os quais não há resposta possível.
O legislador brasileiro com a Lei n° 9.099/95, “Lei dos juizados especiais”,
demonstrou cabalmente esta intenção, louvável dentro de um todo, porém, a evolução
histórica da pena caminha lentamente, a pequeno e médio prazo, impossível se apresenta
suprimi-la.
Ora, se mostra impossível à supressão da pena corpórea e o encarceramento dos
indivíduos, o problema persiste e necessita ser resolvido, se não integralmente, ao menos com
alternativas que amenizem verdadeiro “inferno” vivido diuturnamente pelos indivíduos que se
encontram aprisionado.
11
2.0 O Encarceramento
Nos primeiros tempos, os governantes tinham em suas mãos a discricionariedade para
fazer as leis, julgar e punir. Aqueles indivíduos que delinquissem, eram atribuídos castigos
que, quase sempre resultava em morte.
A necessidade de executar tarefas inferiores fez com que surgisse o trabalho escravo.
Este trabalho foi atribuído quase sempre aqueles indivíduos considerados criminosos, ou
aqueles aprisionados em batalhas e que ficavam subjugados à vontade do vencedor.
Com o advento dos tempos modernos, alguns fatores levaram os países mais
desenvolvidos da Europa, e os Estados Unidos, na América, a se preocuparem em estabelecer
diretrizes e normas quanto ao tratamento a Ser dispensado ao preso, criando um “sistema
penitenciário”.
No Brasil A lei 7.210/84, trouxe que todos condenados que fosse sujeitos a pena
privativa de liberdade, deveria dentro da prisão, ser tratado com mínimo de dignidade
possível, tal como, saúde, educação, profissionalização, reaproximação familiar,
ressocialização do apenado. Almejando ideais para uma pena de ressocialização do apenado,
vindo a propiciar mudança em seu comportamento moral e segurança pública, tornando se
praticamente irrealizável.
A Lei 10.792/03, que introduziu alterações na 7.210/84, apresenta um endurecimento
de regime, trazendo à letra da lei indiscutível retrocesso no aspecto criminológico, trazendo
alguns avanços no sentido de adequação constitucional que podem resultar em sua maior
racionalidade como também na sua maior eficácia. E em 2011 a lei 12.403 trouxe as medidas
cautelares a qual foi benéfica ao apenado, bem como a lei 12.433 de 2011, que traz alteração
no Código Processo Penal.
2.1- A situação carcerária no Brasil
No período colonial os grandes latifundiários, senhores de engenho e nobres, eram os
juízes e algozes que puniam de acordo com padrões próprios.
O criminoso do período colonial era o negro escravo, passando mais tarde a ser o
branco europeu que para aqui veio em busca de melhores condições de trabalho, atraído pelo
advento do surto cafeeiro. Tanto o negro como o branco europeu eram trabalhadores braçais,
mas somente o negro era punido com açoites, grilhões, o tronco, encarceramento em cômodos
12
úmidos, sem luz, fétidos, e que quase sempre ficavam nos porões. Décadas se passaram e
pouca coisa mudou no Brasil a respeito da prisão, pois a população carcerária brasileira atual
não difere do negro, escravo criminoso do século passado, pois ainda é constituída, na sua
maioria, por representantes desta raça ou de sua miscigenação.
Embora a Carta Magna de 1988, contenha garantias explicitas de proteção ao
encarcerado, tal como, dignidade humana, entre outros, muitos são os relatos de descaso a
essa população que se amontoam em presídios, sem os mínimos direitos garantidos.
Segundo o Ministério da Justiça, no final do ano de 2009 havia um déficit de 139.266
vagas no sistema penitenciário brasileiro. Tal problemática, todavia, não é exclusividade dos
brasileiros e nem de países de terceiro mundo, haja vista que o colapso do sistema prisional
assola até mesmo as grandes potencias mundial (D’URSO, 1999).
O sistema penitenciário brasileiro vem a tempos tentando adequar o numero de presos
para o numero de vagas, havendo superlotação nos presídios em todos os estados brasileiros
demonstrando a falência do sistema ainda hoje décadas depois, mostrando a inviabilidade do
modelo punitivo em todo o Brasil. O DEPEN divulgou no último dia 05 de novembro de
2010, no portal do Ministério da Justiça dados consolidados dos investimentos na ordem de
1,2 bilhões de reais realizados entre 2003 e 2009 na área penitenciária, sendo somente no ano
de 2008, R$ 350 milhões, porém ainda está longe de resolver o problema, em entrevista o
diretor do DEPEN em 2005, Maurício Kuehne:
“A solução mais simplista seria a construção maciça de
presídios. Para um déficit de 100 mil vagas, precisaríamos
construir 200 estabelecimentos com capacidade para 500
presos, mas não há dinheiro para fazê-lo, já que o custo de cada
um desses projetos é da ordem de R$ 15 milhões”. (MAURÍCIO
KUEHNE, 2005).
A situação se agrava mais quando se trata de presídios federais de segurança máxima,
já que segundo levantamento feito pelo órgão, o governo tem gastado R$ 4,8 mil por
indivíduo no sistema de segurança máxima, enquanto a média no país é de R$ 1200,
demonstrando assim sua decepção pela operacionalidade do sistema tal como afirma
Airton Aloísio Michels.
13
“É uma vergonha. Não há recuperação do indivíduo. No
sistema de segurança máxima, recebemos presos de todos os
estados do país, menos de São Paulo, que até hoje ainda não
pediu qualquer transferência de detentos que estão em Regime
Disciplinar Diferenciado (RDD)”. (AIRTON ALOÍSIO
MICHELS, 2009).
Acontece que pra muitos a criminalidade já passou a ser uma opção de vida,
determinado os reflexos sociais que os cerca, pois teria que haver uma ressocialização dos
infratores, principalmente para aqueles de atitudes com alto grau de periculosidade, tais
como, assassinos, estupradores, traficantes e assaltantes (BUSS 2008).
“ Aqueles que caem nas malhas da lei são atingidos pelas penas
previstas, são pessoas vulneráveis a todo esse processo de
criminalização vigente por força do sistema penal. São
“pessoas deterioradas”, a vulnerabilidade de personalidade dos
condenados é consequência de um estado de deteriorização
econômica, social e cultural, o que os coloca em situação de
bons candidatos para a criminalização”. (ZAFFARONI, 1998
apud BUSS 2008, p. 23).
De acordo com o (Depen), Departamento Penitenciário Nacional, o número de presos
triplicou de 1995 ate meados 2011, estando em 2011 com 494.598 presos, enquanto em 1995
era pouco mais de 148 mil presos. Tem aumentado mais do que o IDH (Índice
desenvolvimento Humano) brasileiro, a população carcerária do Brasil tem dobrado em media
a cada 8 anos, enquanto a população brasileira se duplica em 50 anos. O Departamento
Penitenciário Nacional órgão da Justiça tem apontado que em 20 anos a população carcerária
brasileira cresceu 450%, tendo o Brasil a maior população carcerária do mundo.
Dessa forma o sistema prisional no Brasil é composto por mais de mil
estabelecimentos penais, sendo divididos por categorias tal como:
a) Estabelecimentos Penais: Abrange todos aqueles utilizados
pela justiça tendo finalidade de alojar pessoas presas, quer
14
provisório ou condenado, ou ainda aqueles que estejam
submetidos à medida de segurança;
b) Estabelecimentos para Idosos: Estabelecimentos penais
próprios, ou seções ou módulos autônomos, incorporados ou
anexos a estabelecimentos para adultos, destinados a abrigar
pessoas presas que tenham no mínimo 60 anos de idade ao
ingressarem ou os que completem essa idade durante o tempo
de privação de liberdade;
c) Cadeias Públicas: Estabelecimentos penais destinados ao
recolhimento de pessoas presas em caráter provisório, sempre
de segurança máxima;
d) Penitenciárias: Estabelecimentos penais destinados ao
recolhimento de pessoas presas com condenação à pena
privativa de liberdade em regime fechado;
d.1) Penitenciárias de Segurança Máxima Especial:
estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas
com condenação em regime fechado, dotados exclusivamente de
celas individuais;
d.2) Penitenciárias de Segurança Média ou Máxima:
estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas
com condenação em regime fechado, dotados de celas
individuais e coletivas;
e) Colônias agrícolas, industriais ou similares:
Estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas
que cumprem pena em regime semi-aberto;
f) Casas do albergado: Estabelecimentos penais destinados a
abrigar pessoas presas que cumprem pena privativa de
15
liberdade em regime aberto, ou pena de limitação de fins de
semana;
g) Centros de observação criminológica: Estabelecimentos
penais de regime fechado e de segurança máxima onde devem
ser realizados os exames gerais e criminológicos, cujos
resultados serão encaminhados às comissões técnicas de
classificação, as quais indicarão o tipo de estabelecimento e o
tratamento adequado para cada pessoa presa;
h) Hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico:
Estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas
submetidas à medida de
segurança.”
(www.observatoriodeseguranca.org/dados/penitenciario/unidade
s).
Diniz aponta que:
“situação dos presos é desanimadora em decorrência da
superlotação dos estabelecimentos de cárcere e a escassez de
recursos financeiros para construção e manutenção dos presídios.
Mas qual a solução satisfatória e imediata?” DINIZ, Eduardo
Albuquerque Rodrigues”. Realidade do sistema penitenciário
brasileiro. Jus Navigandi, 1996.
Conforme já mencionado, a Lei de execuções penal nº 7210 de 1984, foi alterada em
seu artigo 126 a 129, pela Lei 12.433 de 2011, dando a possibilidade de o condenado remir
parte de sua pena, por trabalho, obtendo esse beneficio da remissão da pena também agora
para o estudo, trazendo oportunidades para aqueles que não puderam estar na escola, sendo
uma forma de ressocialização do apenado.
“Uma das soluções pode ser facilmente encontrada na legislação
criminal pátria. Trata-se da adoção de Penas Alternativas ao
16
invés de Penas Privativas de Liberdade. Todavia, é bom que se
esclareça que isto não significa deixar sem punição os criminosos,
mas sim aplicar-lhes penas condizentes com a gravidade de seus
crimes. Também, não se pretende deixar os criminosos fora das
prisões pelo simples fato de não existirem dependências nos
presídios. O que se quer, na realidade, é que sejam aplicadas as
determinações legais já existentes na legislação.”. Realidade do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, 1996.
Embora tenha sido modificada a lei de execuções penais, dando incentivo para os
detentos estudarem e trabalharem, ainda não se tem estrutura para oferecer tal beneficio, bem
como ainda não possuem alguns dos procedimentos surgidos com a nova lei de medida
cautelar para atender a necessidade dos presos, tal como o monitoramento eletrônico que é de
grande valia, pois poderia eximir muitos detentos da penitenciaria, mas devido ao
investimento ser de grande monta ainda não esta sendo realizado por falta de recursos.
Um grande problema do Brasil e também de outros países é o trafico de drogas,
um crime cada vez mais frequente, devido à falta de segurança, fiscalização, educação
adequada, tornando uma opção de vida aos jovens, por falta de investimento na educação
saúde e principalmente, profissão a pessoas carentes, sendo visível que o problema já se inicia
na criança, perdurando sua juventude e maturidade.
Atentando as drogas tem-se o usuário, que para obter a droga acaba cometendo
furtos e roubos, de forma que apenas o cárcere não resolve o problema, mas sim clinicas para
que esse usuário se recupere e volte a ter uma vida social adequada, assim sendo tem-se
inúmeras formas de solucionar a superlotação carcerária, mas para isso deve-se ter a
infraestrutura adequada para ressocializar também aquelas pessoas dependentes ou
conviventes com o crime.
Ainda há muitas ações a serem implantadas dentro do sistema carcerário brasileiro e
também fora, para termos o mínimo necessário de vida digna dentro e fora das prisões, pois
embora se avance as leis ainda nos deparamos com muita injustiça e desrespeito ao ser
humano, porém, talvez haja soluções plausíveis, mas ainda se tem a falta de vontade política
para só assim determinar o fim de tão lamentável problema.
17
Problema esse como já dito que surge ao nascer de uma criança, pois a base é a família
se esta não tem estrutura, muito provável que a criança e futuro jovem será prejudicado, então
o ideal seria priorizar a educação, saúde, cursos profissionalizantes e principalmente em
segurança publica, educando esses novos jovens, tirando-os do mundo do crime, das drogas,
desta maneira não teria superlotação nas penitenciarias e daria para implementar o sistema de
privatização como forma de reeducar os detentos, tendo assim sua ressocialização.
2.2 Direitos Humanos no Brasil a Exclusão dos Detentos
As garantias legais e os direitos humanos são previstas diante de diversos estatutos
legais em nível nacional e mundial, tal como, convenções como a Declaração de Direitos e
Deveres do Homem, Resolução da ONU, prevendo as regras mínimas ao tratamento do presos
a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nacional tem se a Constituição Federal em seu
art. 5º, trazendo o direito e garantias fundamentais ao cidadão, e do preso; bem como a Lei de
execução penal em seu artigo 41, dispondo em seus incisos os direitos infraconstitucionais
que garantem ao sentenciado ao decorrer da execução penal.
E diante do legislativo, o executivo penal é avançado e democrático, baseando se o
principio da humanidade, não permitindo qualquer modalidade de pena desnecessária,
degradante sendo de natureza desumana, cruel que ofenda o principio da legalidade entre
outros.
O artigo 5º da Constituição Federal em seu inciso III traz que “ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”, embora todo aparato legal,
oque tem ocorrido na prática é o contrario, ocorre a violação desses direitos que lhe são
protegidos a inobservância dessas garantias legais, pois a partir do momento que o preso é
passado a tutela do Estado, acaba perdendo além do direito da liberdade, seu direito
fundamental, sofrendo castigos, maus tratos, perdendo sua dignidade acarretando a
degradação de sua personalidade e tornando-se inviável o seu retorno a sociedade.
O número de presos só tem aumentado e os direitos humanos pouco se aplicam dentro
do sistema carcerário, os detentos são exclusos muitas vezes desses direitos garantidos por
leis, sendo a violência aplicada, assombrando os detentos no Brasil, ficando esses a mercê da
má aplicação dos Direitos Humanos, dentro de um sistema de corrupção e até a administração
do próprio sistema.
18
"Tratemos bem o delinquente porque é um irmão em desgraça:
de uma forma ou de outra, nós o engerdramos ou produzimos,
por nossa má planificação social, por nossas insuficientes
medidas de prevenção, por nossas precárias tabelas de
predição. Cada ser humano que se envia à prisão constitui um
monumento de nosso fracasso, da mesma maneira que cada
golpe que aplicamos a nossos filhos revela a impotência de
nosso raciocínio e a ineficácia de nosso sistema educativo"
(Antonio Sanchez Galindo. Narraciones Amuralladas. México
Impressos Chávez. 2001.p.59)
Desta forma são inúmeras as causas de desigualdade nas prisões, devido ao
descaso e a falta de recursos para oferecer o mínimo de dignidade aos detentos, como saúde,
higiene, espaço, enfim, a superlotação e a falta de recursos fazem com que esses seres
humanos, se sintam esquecidos pela sociedade, sendo essas penitenciarias fábricas de
desumanidade, e desrespeito ao preso.
2.3 Regimes Prisionais
As penas antigamente eram mais variadas, mas predominava a pena de morte, tal
como a pena do Talião “olho por olho, dente por dente”, que aparece nos textos do Código de
Hamurabi, Lei das XII tabuas, neste contexto histórico era prevalecida as mais cruéis penas
como: morte, mutilação, açoite, o suplício físico e o desterro. Desta forma no Direito romano,
a situação não foi muito diferente. A Idade Média prosseguiu também nessa linha, com os
tribunais da Inquisição, se relegavam assim a execução da pena de morte ao poder laico.
Tendo a vingança divina exercida com redobrada crueldade, pois que o castigo deveria estar à
altura da grandeza do Deus ofendido com seu propósito, que tinha por finalidade purificar a
alma do ofensor, preparando-o assim para o bem aventurança eterna.
Assim a prisão teve sua origem através da igreja, onde recolhia os pecadores a fim de
sofrer expiação, até meados século XIII, cumpria-se em mosteiros ou conventos. A privação
da liberdade, como pena, iniciou-se na Holanda, a partir do século XVI, em 1595 foi
construído Rasphuis de Amsterdã, que era estabelecimento carcerário destinado a execuções
das condenações.
No Brasil, existem vários dispositivos de proteção ao encarcerado. A Constituição
19
Federal de 1988 assegura a todos, o direito a integridade física e a dignidade da pessoa
humana. Estabelecendo também como segurança no julgamento, devendo ser obedecida
no decorrer do processo como o direito à defesa e o contraditório, devido processo
legal, juiz natural, individualização da pena etc.
O Código Penal trás vários dispositivos para resguardar os direitos dos reclusos, tal
como, direito ao trabalho artigo 34 do CP, seguido pela Lei de Execuções Penais nº 7.210/84.
Admitindo ao condenado em regime fechado, o direito ao trabalho externo, desde que seja em
instituição pública (obra pública).
As espécies de penas segundo a Constituição Federal em seu art. 5°, XLVI
“A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
outras as seguintes:
a) Privação ou restrição da liberdade;
b) Perda de bens;
c)Multa;
d)Prestação social alternativa;
e) Suspensão ou interdição de direitos”.
As penas são de acordo com o Código penal em seu art. 32, são as privativas de
liberdade, restritivas de direito, de multa. As penas privativas de liberdade se dão através de
Reclusão em regime fechado (cuja pena superior a 8 anos de reclusão), semi aberto (pena
maior 4 anos não excedendo a 8 anos), ou aberto (penal igual ou inferior a 4 anos) e
Detenção em regime semi aberto ou aberto, sendo descrito no art. 33 do Código Penal.
A Lei n. 7209/84, manteve a classificação dos regimes
de cumprimento de pena instituído pela lei 6.416/77, mas
tirou a periculosidade como fator dominante para a adoção
deste ou daquele regime, como fazia o diploma legal. Os
regimes são hoje determinados pela espécie e quantidade da
pena, reincidência aliadas o mérito do condenado, num
20
autentico sistema progressivo. Bitencourt, Cezar Roberto,
Tratado de Direito Penal, volume 1 -9 ed. São Paulo: Saraiva,
2004 pg. 474 e 475.
A lei nº 2.433 de 2011alterou os artigos 126, 127,128 e 129 da lei 7.210 de 1984,
dando oportunidade ao condenado que estiver cumprindo a pena de reclusão em regime
fechado, aberto ou semi-aberto, estando em gozo da liberdade condicional, trabalhar ou
estudar para obter o beneficio da remissão da pena, antes só poderia remir sua pena se
estivesse trabalhando e agora pode remir se estiver estudando, de forma a motivar esse
detento a voltar a sociedade.
Com advento da lei 12.403/2011 criou-se novas medidas Cautelares; sendo elas o
monitoramento eletrônico, recolhimento domiciliar no período noturno, a suspensão do
exercício de função pública ou atividade econômica, o a proibição de frequentar lugares e
viajar ou manter contato com pessoas determinadas pelo juiz, o cadastro Nacional de
Mandados de Prisão, Prisão preventiva quando houver dúvidas sobre a identidade civil do
acusado, Concessão de fiança de acordo com a capacidade econômica do acusado.
“No curso da investigação criminal não havia outra
alternativa para o investigado: ou estava preso ou estava
solto. Hoje, com a sistemática preconizada pela lei
12.403/2011, preveem medidas cautelares que intermedeiam
os extremos: livre x preso. Assim entre a liberdade do
investigado e seu encarceramento cautelar, criou-se um rol
de medidas que podem ser utilizadas para limitar a liberdade
pessoal do investigado.” Franco, Paulo Alves, Prisão,
Liberdade e Medidas Cautelares, 2° Ed. Campo Grande:
Contemplar, 2011 pg 11.
Os Regimes prisionais existentes em vigor são:
a) Regime Fechado – destinado ao réu que foi condenado à pena superior a 08 (oito)
anos de prisão e que deverá ser cumprida inicialmente em presídio de segurança máxima ou
média.
21
b) Regime Semi Aberto – destinado ao réu não reincidente e cuja pena oscile entre 04
(quatro) a 08 (oito) anos, sendo que devera ser cumprida em colônias penais agrícolas,
industriais ou similares.
c) Regime aberto – destinado ao réu primário cuja pena seja igual ou inferior a 04
(quatro) anos, e será cumprida em casa de albergado ou em estabelecimento adequado.
A Lei de Execuções Penais n° 7210/84, reconhece os direitos dos presos, tendo como
objetivo a ressocialização, garantindo a eles assistência medica, jurídica, educacional, social e
material tais descritas no art. 31, e com lei 12.433 de 2011, dispondo sobre a remição de pena
aos que também estudam o legislador proporcionou uma nova oportunidade a esses detentos,
mas que ainda encontra-se apenas na teoria, pois, embora haja todo esse aparato legal, a
situação encontrada ainda é desastrosa.
Contudo, conclui-se que embora a LEP seja considerada uma da mais completa e
avançada do mundo, ainda pouco se vê na pratica.
22
3.0 O Sistema Penitenciário Comparado
Os problemas que enfrentamos quanto à administração do sistema penitenciário, não é
apenas uma problemática dos países subdesenvolvidos, pois a superlotação, a falta de verbas
bem como as más condições em que se encontram os presídios pelo mundo, também foram os
motivos a qual levaram as autoridades de países ricos a procurarem alternativas para que
fossem sanados os gastos despendidos pelo Estado para a manutenção dos sistemas
carcerários. Dessa forma o primeiro a adotar a privatização, foi os Estados Unidos estendendo
a idéia pelos outros países europeus, tendo em vista que parte-se de um pensamento neoliberal
tendo como base a produção capitalista.
Os sistemas em si diferem de um país para o outro, sendo que as principais diferenças
existentes dizem respeito ao cumprimento da pena. No geral, as instituições penais do velho
Mundo incluem prisões abertas e fechadas, algumas para jovens e outras caracterizadas como
colônias agrícolas, à semelhança de “fazendas”. Quanto à prisão, de modo geral, cada preso é
colocado em cela individual (90% dos alojamentos), sendo o restante colocado em recinto
para duas, e excepcionalmente para três ou mais pessoas.
Geralmente, o tratamento dispensado pelas autoridades aos presos é de dignidade e
respeito, não permitindo discriminação, ficando o encarceramento ciente de todo seu processo
de recuperação, sendo direitos do mesmo a pratica de atividade física, bem como enviar ao
Poder Judiciário, consultas, requerimentos e apelos de próprio punho, ou por intermédio de
seu advogado. Essas autoridades veem o trabalho do preso como um mecanismo essencial no
processo de reeducação, e não como um meio de punição ou mero paliativo.
Em Países Europeus, o trabalho é considerado como sendo um dos fatores mais
positivos à obtenção do sucesso no controle do preso, bem como relação à sua recuperação.
“Na Europa, 80% das despesas que os governos assimilam para manutenção das pessoas
nas instituições prisionais, são recuperados através do trabalho por eles efetuados durante o
período de reclusão”. Apesar de toda assistência que esses países oferecem ao preso, suas
autoridades tem encontrado dificuldades quando do retorno daquele à vida em comunidade,
motivadas pela discriminação.
Em se tratando ao sistema carcerário, existe no mundo cerca de 200 presídios
privados, a maior parte nos Estados Unidos, a privatização de presídios americanos ocorreu
23
em meados ano 1980, e hoje esse sistema atende 7% dos condenados. Na Inglaterra são
10%, na Austrália esse numero sobe para 17%. E atualmente a África do Sul, Canadá,
Bélgica e Chile estão aderindo à privatização.
O governo australiano traz que o custo do preso em regime privatizado, cai de
US$55mil para US$ 34 mil. A Correction Corporation of America, a maior empresa do
ramo, teve grande salto no seu investimento de US$ 200 milhões para US$ 1 bilhão em
cinco anos, mas nem todos se dão bem, pois na Nova Zelândia, o Estado teve que retornar o
controle do único presídio que estava privatizado.
3.1 Inglaterra
Na Inglaterra na década de 80, o sistema carcerário atingiu um alto custo de
manutenção e um quadro de superlotação, levando o país a adotar o modelo de sistema
privatizado, sanando o problema da vagas nos presídios, atualmente, dos 138 presídios, 9 são
privados. As empresas trabalham com incentivo do governo Inglês, as empresas se
responsabilizam por todos os setores, exceto ao transporte dos presos para as audiências e
julgamentos. Não há cercas elétricas nem guaritas os guardas andam e trabalham desarmados,
o monitoramento é feito através de câmeras e sistema de alarme que impede que o preso faça
túneis. As celas abrigam dois detentos, sendo que os réus primários jamais ficam com os réus
reincidentes, desta forma, não há relatos de fugas.
3.2 Estados Unidos
A Administração Pública dos EUA trabalha em cooperação entre terceiros e setor
público, diversos setores, como educação e saúde, e também organizações não
governamentais. Em meados 1980 surgiu a idéia de privatizar as prisões, no governo de
Ronald Reagan, este pretendia livrar os gastos e despesas das construções de penitenciarias
imprimindo assim ao setor carcerário privatizado, onde garantissem a eficácia e eficiência que
o poder publico era incapaz de dar, em troca, proporcionava os bons lucros para as empresas
que aderissem ao negocio. Sendo hoje cerca de 150 prisões privatizadas em 28 estados.
Tendo assim a súmula 1981 da Suprema Corte dos Estados Unidos que determina:
"não há obstáculo constitucional para impedir a implantação de
prisões privadas, cabendo a cada Estado avaliar as vantagens
24
advindas dessas experiências, em termos de qualidade e
segurança, nos domínios da execução penal".
Nos Estados Unidos dos 2 milhões de pessoas que cumprem penas, mais de 400 mil
trabalham neles.
O Departamento de justiça americano relata que a economia que o governo obtém com
um presídio privado é apenas 1% quanto a um presídio mantido pelo estado, há oposição que
afirmam que estes possuem leis mais duras e encarceramentos longos. Mas o foco e principal
objetivo desse sistema é que quando a gestão é privada, ocorre a implementação de novas
unidades com menor custo e construção mais rápida, se trata de uma solução para países que
possuem déficit de vagas, tal como o Brasil.
3.3 FRANÇA
A privatização do sistema prisional francês, foi inspirado no americano, mas com
algumas diferenciações. Dominique Perben, ministro da Justiça francês, em 2004 lançou
varias licitações para empresas privadas, para que fossem construídos 30 estabelecimentos
prisionais até 2007, sendo criadas 13.200 vagas. O projeto orçado foi de 1,4 bilhões de euros,
fazendo parte desse sistema grupos privados como Eiffage (ex-Fougerolles) e Bouygues.
Desta forma havendo um sistema de cogestão, os grupos privatizados juntamente com
o Estado realizam parceria entre a administração e o gerenciamento dos estabelecimentos
prisionais; o Estado arcando com a execução penal e segurança interna e externa da prisão,
enquanto a empresa privada fica encarregada de promover o trabalho, transporte, educação,
alimentação, lazer, dando assistência social, espiritual, jurídica e a saúde física e mental do
preso, recebendo assim do Estado uma quantia determinada por preso/dia para tal execução
desses serviços.
Assim concluindo, percebe-se que a população carcerária cresce diariamente,
possuindo assim um mercado atraente para os grupos privados, desta forma tal como ilustrou
Fernando Capez em seu discurso no I Fórum de Direito Público que debateu sobre Lei das
execuções penais, privatização dos presídios, declarou que:
"É melhor que esse lixo que existe hoje. Nós temos depósitos
humanos, escolas de crime, fábrica de rebeliões. O estado não 25
tem recursos para gerir, para construir os presídios. A
privatização deve ser enfrentada não do ponto de vista
ideológico ou jurídico, se sou a favor ou contra. Tem que ser
enfrentada como uma necessidade absolutamente insuperável.
Ou privatizamos os presídios; aumentamos o número de
presídios; melhoramos as condições de vida e da readaptação
social do preso sem necessidade do investimento do Estado, ou
vamos continuar assistindo essas cenas que envergonham nossa
nação perante o mundo. Portanto, a privatização não é a
questão de escolha, mas uma necessidade indiscutível é um
fato". http://www.datavenia.net/entrevistas/000012032002.htm.
4- Privatizações / terceirização dos Presídios Brasileiros
A terceirização, segundo a maioria dos doutrinadores surgiu na época da II Guerra
Mundial, por volta de 1940, quando as indústrias americanas, para ganhar maior agilidade e
capacidade produtiva no processo de construção de material bélico passou a transferir para
26
terceiros, as atividades relacionadas com sua atividade principal. Nesta fase, as principais
áreas terceirizadas foram de serviços de limpeza, vigilância e alimentação.
Posteriormente a esse tímido inicio da nova técnica administrativa, a terceirização vem
evoluindo cada vez mais com o passar dos anos, causando uma verdadeira revolução na
estrutura e economia das empresas que aplicam adequadamente.
Sendo assim quanto a uma conceituação de terceirização, qualquer definição que se
tente elaborar será incompleta, não podendo se prever as futuras transformações da sociedade.
Porém, de forma simplista, pode se considerar a terceirização uma transferência de certas
atividades de uma empresa para fornecedores ou prestadores de serviços especializados,
detentores de tecnologia própria e moderna que tenham esta atividade terceirizada como
atividade fim.
Desta forma, a empresa contratante poderia concentrar todos os esforços gerenciais em
seu negócio principal, em sua atividade fim, preservando e evoluindo em qualidade e
produtividade, reduzindo custos e ganhando em competitividade.
Após analise referente a sociologia e política criminal visando a implementação de
uma nova modalidade de sistema prisional, a terceirização das cadeias e penitenciarias
brasileiras surge como uma alternativa favorável à reeducação e recuperação do egresso. Vale
ressaltar que a execução da pena compreende dois fatores distintos sendo eles: a função
jurisdicional, sendo exclusiva do Estado e função material, ou seja, a administração dos
serviços gerais, que abrangem todas as demais atividades do sistema, tal como, alimentação,
limpeza, vestuários entre outros.
Como as atividades não jurisdicionais podem ser delegadas pelo Estado, é evidente
que sobrara a este o mesmo Estado maiores oportunidades de melhor desempenhar suas
atribuições, observando como mais rigor o efetivo cumprimento dos dispositivos legais
existentes, adequando-os aos casos concretos.
A política criminal atua de duas maneiras, sendo elas, prevenção especial e prevenção
geral. A prevenção especial consiste em afastar o criminoso do convívio social, fazendo-o
passar por uma reeducação ou readaptação, tendo a imposição da pena ou aplicação de
medida de segurança para tratamento em determinados casos. Procurando gerar tranquilidade
27
na sociedade, principalmente aqueles que foram vitimas não perdendo assim o Estado sua
credibilidade social.
Com relação à prevenção geral, esta serve para coagir psicologicamente os cidadãos
intimidando-os, fazendo com que deixem de praticar ações semelhantes, uma vez que poderá
sofrer consequências pelo não cumprimento das regras básicas de convivência em
comunidade.
Deste modo a história da privatização/terceirização no Brasil é recente, pois o
Conselho Nacional de política Criminal e Penitenciaria (CNPCP), apontou o modelo de
prisões privadas em 1992, sendo que hoje existem 16 instituições prisionais tendo atividades
terceirizadas por empresas privadas, sendo INAP (instituto nacional de administração
Penitenciaria), CONAP (companhia nacional de administração presidiária), Yumatã, Reviver
Humanistas e Montesinos, estando nos estados do Ceará, Paraná, Bahia, Sergipe, Amazonas,
sendo presídios Industriais. E também se tem presídios APAC em muitos Estados do Brasil e
Centro de Ressocialização sendo o CR no estado de São Paulo.
Em avaliação feita pelo Padre Gunther Zgubic Coordenador Nacional da pastoral
carcerária, observou-se que os presídios terceirizados por empresas, nem sempre funciona e
que em alguns casos serve apenas como mero desvio dessas empresas para burlarem o sistema
e ter mão de obra mais barata, tal como aponta que o estado financia toda construção e
infraestrutura destes presídios, com tecnologia adequada, sendo esses menores quanto aos
antigos presídios.
No Estado do Paraná os presídios estatizados estão em abandono, surgindo margem
para suspeita de interesses lucrativos entre politicas sociais e penitenciarias do estado, tendo a
dificuldade de fiscalização nas unidades terceirizadas.
Uma exceção nesse contexto esta a PIG, penitenciaria industrializada terceirizada de
Guarapava, construída dentro de um complexo industrial, oferecendo trabalho para os
detentos, possui vaga para apenas 245 presos sendo escolhidos apenas aqueles detentos com
delitos mais leves, possuem 120 celas, sendo cada uma com capacidade para dois detentos, a
penitenciaria possui quadras para atividades físicas, sendo de basquete e futebol, sala para
atividade religiosa, possuindo ainda duas fabricas sendo de moveis de estofados, e outra de
prendedores e palitos, trabalham nela cento e sete agentes, duas psicólogas, dois médicos, dois
dentistas, dois advogados, três professores, um enfermeiro, cinco funcionários de limpeza, dez
28
funcionários administrativos, dois gerentes, um motorista, diretor, chefe de segurança e vice
diretor. Mostrando que é possível a terceirização dar certo, pois trata-los como ser humanos
ajuda em sua ressocialização.
Também exemplo de parcerias público-privado, a Penitenciaria Industrial do Cariri
bem como Penitenciaria Industrial de Jonville entre outras. O sistema carcerário na
penitenciaria Industrial em Jonville Santa Catarina, os detentos obtém êxito, refletindo na
sociedade, atingindo oque se espera, que é a ressocialização, são estimulados a estudar e
trabalhar para diminuir suas penas, sendo que a cada três dias trabalhados diminuem um dia
da condenação, e uma parte do salário pago aos detentos volta para a penitenciaria investida
em benfeitorias, tal como alimentação melhores condições de vida.
Tendo na penitenciaria atendimento médico, dentista, psicólogos e assistentes sociais,
possuindo em sua estrutura 153 funcionários da empresa Montesino, contribuindo assim com
a ressocialização desses detentos.
Tanto houve a ressocialização desses detentos que surpreendeu as estatísticas e como
aponta o noticiário em 2009:
“Os internos da Penitenciária Industrial de Joinville estão
deixando de ser apenas uma estatística no sistema prisional de
Santa Catarina. Atrás das grossas paredes de concreto, há mais
do que guardas, grades e regras. Há também salas de aula,
professores e livros. O resultado do empenho na formação
intelectual dos presos acaba de aparecer: em 2008, 20 detentos
prestaram vestibular na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Um deles passou”. Leonel Camasão, 17 de
janeiro de 2009, jornal A Noticia.
Diante de tal noticia, se percebe que mesmo preso alguns ainda tem a esperança de
uma vida digna, oque lhe falta são oportunidades, pois estamos tratando com pessoas e não
com animais.
“Dos 356 internos, 130 cursam as séries do ensino fundamental
e médio. Outros 32 fazem cursos profissionalizantes dentro da
própria penitenciária. Em 2008, 23 detentos tentaram passar no
Centro de Educação Profissional Dario Geraldo Salles
29
(Cedup)”. Leonel Camasão, 17 de janeiro de 2009, jornal A
Noticia.
O sistema prisional brasileiro sofre hoje com o descaso das autoridades competentes e
também da sociedade, que preferem virar as costas ao problema carcerário.
“o sistema penitenciário brasileiro faliu e que não recupera
ninguém. Faltam ali mais de 130 000 vagas – só para aqueles
que já estão presos, sem contar os outros 200 000 que deveriam
ser presos em face dos mandados de prisão expedidos.
Facilmente compreende-se que o Estado não poderá, sozinho,
resolver esse problema, que na verdade é de toda a sociedade.
Daí surge a tese da privatização dos presídios, tão-somente
para chamar a participação da sociedade, da iniciativa privada,
que viria a colaborar com o Estado nessa importante e
arriscada função de gerir nossas prisões. A vantagem da
privatização, na modalidade da terceirização, é que ela faz
cumprir a lei, dando efetivas condições de o preso se recuperar,
ao contrário do sistema estatal, que só piora o homem preso”.
D’Urso, Luiz Flavio Borges, artigo revista Superinteressante,
abril 2012, pg. 01. //super.abril.com.br/ciencia/privatizacao-
presidios-442830.shtml.
A superlotação e a precariedade das prisões nos fazem pensar em alguns métodos que
poderiam ajudar a melhorar a qualidade de vida nas prisões, pois, a realidade a qual essas
pessoas se encontram fere a dignidade da pessoa como ser humano, e tal como outros direitos
fundamentais existentes; assim sendo, a privatização seria uma possibilidade de viabilizar
melhores condições a essas pessoas a qual são privadas da liberdade.
Desta forma, a sociedade espera que o delinquente se recupere e não volte a delinquir,
o que para isso deve ter uma vida intra cárcere digna, para diminuir as dificuldades e
sofrimento existentes, para deduzir assim melhores chances desta recuperação. E desta forma
surge à alternativa da privatização e terceirização dos presídios, como meio de sanar muitos
problemas.
30
4.1 A Privatização
Privatizar é transferir do setor publico ao particular o ônus do gerenciamento
da coisa publica, passando o controle a alguém cujo capital não venha do tesouro. Os
programas de privatização implementados em todo o mundo tiveram duas motivações
principais sendo eles, de aumentar a eficiência da economia e colaborar com o ajuste
das contas publicas, a motivação fiscal tem prevalecido, sendo usualmente adotada por
governos com dificuldades financeiras.
Para Derani:
[...] dá-se o nome de privatização à transferência de um serviço
realizado pelo poder público para o poder privado e também à
transferência de propriedade de bens de produção públicos para o
agente econômico privado. Pela primeira modalidade, a titularidade
do serviço continua sendo do poder público, mas seu exercício é
transferido para o agente privado (...). Outro modo de transferência
de poder público ao poder privado, além do poder de exercer
determinada atividade, é a transferência da propriedade pública de
bens de produção para o setor privado. O Estado vende seus ativos,
retirando-se da atividade produtiva que desempenhava – atividade
que poderia ser de mercado ou fora de mercado. Na venda de seus
bens de produção, o Estado poderá vender empresas que realizam
atividade de interesse coletivo, e que agem diretamente no mercado,
como também poderá alienar bens de produção daqueles serviços que
são sua atribuição normativa e se desenvolvem fora das relações de
mercado (neste caso específico, a venda do bem será vinculada à
obediência das condições para a concessão do serviço). A
propriedade é alienada ao concessionário: o patrimônio segue aquele
que é considerado no processo licitatório apto a exercer o serviço
público’. DERANI, Cristiane. Privatização e Serviços Públicos
pg.110
Para Otero:
[...] numa acepção genérica, poderá dizer-se que o termo ‘privatizar’
31
tem sempre o significado de tornar privado algo que antes o não era:
privatizar envolve, por conseguinte, remeter para o Direito Privado,
transferir para entidades privadas ou confiar ao sector privado zonas
de matérias ou de bens até então excluídos ou mais limitadamente
sujeitos a uma influência dominante privada. Ainda em sentido muito
amplo, a privatização da Administração Pública traduz o conteúdo de
uma política ou orientação decisória que, visando reduzir a
organização e a atuação do poder administrativo ou a esfera de
influência direta do Direito Administrativo, reforça o papel das
entidades integrantes do sector privado ou do seu direito na
respectiva atuação sobre certas áreas, matérias ou bens até então
objeto de intervenção pública direta ou imediata. OTERO, Paulo.
Coordenadas Jurídicas da Privatização da Administração
Pública, pg. 36
Di Pietro conceitua a privatização como:
“Conjunto de decisões que compreendem, em sentido estrito, quatro
tipos de atividades. Primeiro, a desregulação ou liberação de
determinados setores econômicos. Segundo, a transferência de
propriedade de ativos, seja através de ações, bens, etc. Terceiro,
promoção da prestação e gestão privada de serviços públicos. E,
quarto, a introdução de mecanismos e procedimentos de gestão
privada no marco de empresas e demais entidades publicas”. DI
PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração
Pública: concessão, permissão, franquia, terceirização e outras
formas. 4ª edição, São Paulo: Atlas, 2003, p. 18.
A Lei 9.491/97 traz em seu artigo 4° e incisos as modalidades operacionais das
desestatizações. parágrafo 3°: “Nas desestatizações executadas mediante as modalidades
operacionais previstas nos incisos I, IV, V e VI deste artigo, a licitação poderá ser realizada na
modalidade de leilão”.
Meirelles aponta que:
32
“O leilão, portanto, assumiu outra dimensão como
procedimento licitatório. Nestes casos, deverá ser exigido
qualificação de todos os interessados e os demais elementos
considerados indispensáveis para o êxito da operação, inclusive
a prestação de garantia. Os leilões ocorridos dentro do
Programa Nacional de Desestatização têm sido realizados nas
Bolsa de Valores, com habilitação prévia dos interessados e
garantia da proposta, variando os requisitos técnicos,
financeiros e operacionais exigidos, conforme o objeto
licitado”. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo.
25. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 314-315.
Assim com a Lei 9.491/97, percebe-se o surgimento para o procedimento
conhecido como leilão, sendo aplicado ao programa de desestatização.
Em seu art. 2º, § 1º, atribui "desestatização" como sendo:
“a) alienação, pela União, de direitos que lhes assegurem, diretamente
ou através de outras controladas, preponderância nas deliberações
sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da
sociedade;
b) a transferência, para a iniciativa privada, da execução de serviços
públicos explorados pela União, diretamente ou através de entidades
controladas, bem como daqueles de sua responsabilidade.
c) a transferência ou outorga de direitos sobre bens móveis e imóveis
da União, nos termos desta Lei."
Da mesma forma o art. 2° traz ser objeto de desestatização:
I - empresas, inclusive instituições financeiras, controladas direta ou
indiretamente pela União, instituídas por lei ou ato do Poder
Executivo;
II - empresas criadas pelo setor privado e que, por qualquer motivo,
passaram ao controle direto ou indireto da União;
33
III - serviços públicos objeto de concessão, permissão ou autorização;
IV - instituições financeiras públicas estaduais que tenham tido as
ações de seu capital social desapropriadas, na forma do Decreto-Lei nº
2.321, de 25 de fevereiro de 1987;
V - bens móveis e imóveis da União."
Assim sendo as privatizações se iniciaram na década de 90, com o governo
Fernando Henrique.
“[...] apesar de ter na sua base um certo retorno a concepções
econômicas neoliberais e politicamente reducionistas do papel do
Estado, pouco tem de ver com os modelos históricos de privatização:
a privatização da Administração Pública nos finais do século XX, sem
embargo de não ser um fenômeno inédito, a verdade é que se trata de
uma realidade dotada de especificidades que lhes conferem
originalidade histórica”. OTERO, Paulo. Coordenadas Jurídicas da
Privatização da Administração Pública,. Op. cit. 2006, p. 36
O intuito do Governo Fernando Henrique era em atender as necessidades do
crescimento sustentado reduzindo os custos, e aumentando assim a competitividade das
exportações, tendo como foco as desestatizações para os serviços públicos, com objeto de
concessão, autorização ou permissão, com o propósito de alavancar investimentos em
infraestrutura.
Com o pensamento de Di Pietro, a privatização:
"abrange todas de medidas com o objetivo de diminuir o tamanho do
Estado e que compreendem, fundamentalmente:
a) desregulação (diminuição da intervenção do Estado no domínio
econômico);
b) desmonopolização de atividades econômicas;
c) a venda de ações de empresas estatais ao setor privado
(desnacionalização ou desestatização)
34
d) a concessão de serviços públicos (com a devolução da qualidade
de concessionário à empresa privada e não mais a empresas estatais,
como vinha ocorrendo);
e) os contracting out (como forma pela qual a Administração Pública
celebra acordos de variados tipos para buscar a colaboração do setor
privado, podendo-se mencionar, como exemplos, os convênios e os
contratos de obras e prestação de serviços); é nesta última formula
que entra o instituto da terceirização". DI PIETRO, Maria Sylvia
Zanella. Parcerias na Administração Pública: concessão, permissão,
franquia, terceirização e outras formas. 4ª edição, São Paulo: Atlas,
2003, p. 18.
São muitos mecanismos que podem ser usados para o Estado diminuir sua
responsabilidade, sendo gradativamente assim a onerosidade dos órgãos, que são
responsáveis.
“A realidade carcerária brasileira é, no mínimo, preocupante.
Superlotação, falta de estrutura básica e de tratamento digno para o
interno. Os presídios perdem sua função de ressocializar e assumem a
postura nefasta de se constituírem em "Faculdade do Crime", com a
pedagogia da revolta, da desilusão e do desespero de quem, ao se ver
fisicamente liberto, continuará manietado pelos grilhões” (...).
Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 314-
315.
Desta maneira a privatização dos presídios para que seja aplicada no Brasil ainda se
exige muito debate e discussão, pois ainda há resistência e falta de estrutura política na qual
envolvendo toda a sociedade, pois tais mudanças envolvem riscos, tendo que ser suportados
pela sociedade.
4.2 Propostas de Privatização de Prisões para o Brasil:
35
Luiz Flavio Borges D’Urso, favorável à privatização, preconiza que esse processo no
Brasil seja implantado sob a forma de gestão mista, envolvendo a administração pública e a
administração privada por grupo ou empresa particular instalada no país.
Sendo assim a proposta é que as atividades inerentes à administração pública devem
ser preservadas, ficando a seu cargo a direção geral do estabelecimento prisional, envolvendo
as seguintes tarefas:
1- Que a supervisão das atividades de reinserção moral e social do interno, sejam
observados os preceitos estabelecidos na Lei de execução Penal e as determinações
da autoridade judicial.
2- A destinação do pessoal necessário à segurança, à vigilância, ao controle e ao
registro de ocorrências.
3- Que haja assistência jurídica aos presos carentes.
4- A exigência ao cumprimento das obrigações assumidas pelo grupo ou empresa
privada, aplicando, quando for o caso, as sanções previstas no contrato do
funcionamento do programa de gestão mista.
Desta forma, ficaria a cargo da iniciativa privada a função material da execução, onde
ao grupo ou empresa privada a função material da execução, onde ao grupo ou empresa
privada incumbiria:
1- Implementar o fim pedagógico de reinserção moral e social do encarcerado,
sempre de acordo com a lei de execução Penal.
2- Constituir e manter o funcionamento do estabelecimento prisional em prazos pré
fixados;
3- Fornecer o mobiliário e equipamentos, mantendo-os em bom estado de
funcionamento, e renovando-os, quando necessários.
4- Aplicar técnicas de auxilio à segurança e à vigilância, exercidas pela
administração pública, no estabelecimento.
5- Responsabilizar-se pela hotelaria, envolvendo higiene pessoal, vestuário,
alimentação (café da manhã, almoço e jantar), lavanderia e cantina.
6- Assumir a comercialização da cantina, bem como a venda de mercadorias de uso
pessoal e consumo, vendidas aos internos, manter o serviço de transportes.
7- Propiciar escolaridade e cursos de formação profissionais aos internos.
8- Oferecer assistência social e psicológica aos internos, cuidar da saúde oferecendo
36
tratamento medico ambulatorial dentro do estabelecimento, encaminhando os
casos de doenças graves sujeitos a internação, para estabelecimentos hospitalares
públicos.
9- Oferecer condições de trabalho, cuja remuneração estará por conta do Estado que
poderá agenciá-lo, mas sempre com objetivo de formação profissional do preso.
10- Proporcionar atividades de lazer e entretenimento aos mesmos.
11- Exigir o cumprimento das obrigações assumidas pela administração pública,
conforme as regras estabelecidas no contrato de funcionamento do programa de
gestão mista.
Desta forma analisando todas essas necessidades conjunturais, o programa de gestão
mista poderia ser implantado tanto em estabelecimentos para presos provisórios como em
estabelecimentos destinados a presos condenados por sentença transitada em julgado, todavia
dando preferência aos que atendem presos civis e provisórios.
A seleção/escolha das empresas deve ser feita com muita segurança, para eliminar, ou
ao menos, minimizar riscos decorrentes da instabilidade econômica do país. A admissão das
empresas no programa de gestão mista deve ser feita através de seleção, em concorrência
pública realizada pelo Governo Federal ou pelo Governo Estadual, dependendo da vinculação
do estabelecimento ao Poder Executivo Federal ou Estadual.
Já foram diversas as propostas para a privatização no Sistema Penitenciário do Brasil,
pois se verifica que é idealizado um modelo de privatização penitenciaria para o Brasil,
segundo o qual o governo não tem compromisso de pagar, continuamente, por preso, para a
iniciativa privada. Vencendo a concorrência pública, um dos direitos de empresa, de acordo
com esses projetos, é o de auferir os lucros obtidos com o produto dos investimentos na
prisão, deduzidas as despesas de gerenciamento, prestação de serviços, manutenção,
funcionamento do estabelecimento e remuneração condigna do trabalho dos presos. Ora por
que seria transferir os encargos da administração penitenciaria ao particular, ficando,
entretanto, o Governo com o ônus de pagar ás empresas, por preso, para executar um serviço
que o Estado realiza, em nada iria aliviar o fardo que hoje o sistema penitenciário representa
para os cofres públicos.
Razões estas que de ordem prática fazem com que muitos estudiosos se posicionam
contrariamente à proposta.
37
Pois deve se considerar possíveis experiências se os serviços penitenciários
contratados de particulares terão um âmbito necessariamente reduzido, como depreender da
experiência americana. Ali apesar de estarem no ramo há mais de uma década, as entidades
privadas não lidam com mais de 500 ou, no Máximo 700 pessoas de uma vez, e as populações
por elas atendidas não ultrapassa 7% da população prisional total do país. Os outros, porém,
mal ou bem, são servidos por um política pública de tratamento penitenciário.
4.3 Argumentos Contrários à privatização
Os opositores à privatização das prisões começam por questionar se os contratos de
privatização oferecem garantia de continuidade, o que para eles não é confiável. Levantam a
questão da moralidade, uma vez que, no contexto capitalista, o objetivo maior da iniciativa
privada, no setor penitenciário será o lucro, com o risco até do trabalho escravo, sem que haja
a preocupação com a garantia da reinserção social do delinqüente.
Ainda com relação ao aspecto ético, destacam também que a privatização é temerária,
uma vez que as prisões poderiam cair nas mãos de empresas particulares contratadas por
segmentos do crime organizado. Acentuam os críticos que os grupos privados não têm
nenhum interesse em diminuir a superlotação carcerária, porque recebem por preso e o
contrato em, base per capta garante a margem de lucro oriundo da própria existência da
criminalidade.
Com o pensamento fixo no lucro, os adversários da privatização argumentam que os
grupos particulares não terão o cuidado de contratar pessoal qualificado e bem treinado, uma
vez que é mais vantajoso pagar menos, ainda que o servidor não tenha preparo cientifico para
o trabalho que vai desempenhar na prisão. Argumentam ainda com o fato de que compete ao
Estado a determinação política de exercer o dever constitucional, o monopólio estatal de
impor ao condenado o cumprimento da sanção penal estipulada pelo juiz na sentença
condenatória.
Desse modo, arremetam os críticos, passar a execução penal para o controle dos
38
mutáveis interesses privados de empresas concessionárias, fazendo a prisão um negocio,
atenta contra o dever constitucional do Estado de administrar os serviços penitenciários.
Citam o professor norte americano Nils Christie, em sua monografia intitulada “Os Limites
Da Dor” (Oxford, 1982), que salienta ser “intolerável que exista quem enriqueça sobre a base
do quantum, em função do castigo que seja capaz de infligir”.
4.4 Argumentos Favoráveis à privatização
Em contrapartida, os partidários da privatização argumentam que o Estado há muito
tempo não investe devidamente no sistema penitenciário. Assim sendo, dizer não a
privatização, precipitadamente, é concordar com o caos instalado em prisões que são
verdadeiras universidades do crime, constituindo um sistema antiético e desumano.
Sublinham os defensores da privatização que as empresas particulares dispõe de maior
agilidade, uma vez que estão liberadas da morosa e difícil burocracia, que muito prejudica a
lenta rotina das instituições estatais.
A par dessa peculiaridade, sustentam que os grupos particulares, na competição de
mercado, além de oferecer trabalho remunerado aos presos, o que não ocorre comumente na
prisão estatal, tem interesse em otimizar os serviços, reduzindo as despesas para poder manter
eficiente posição, preocupação essa que não é relevante no serviço publico, que gasta
demasiadamente, esta envolto de escândalos de corrupção e vem fracassando, através dos
tempos, como detentor do monopólio no âmbito da execução penal.
Alem disso, na penitenciaria privada, o trabalho produtivo do preso, gerando recursos
em beneficio do próprio sistema, vai possibilitar que as verbas, hoje destinadas para a
construção de penitenciarias e manutenção dos presos, no falido sistema penitenciário estatal,
sejam carreadas para a área da política educacional como uma das formas de prevenção da
delinqüência.
Ainda salientam que não há por que temer, a priori, a administração de uma prisão por
empresa particular, se o Estado estará sempre vigilante para evitar desvios no cumprimento
das obrigações contratuais, e que a própria empresa terá interesse em mostrar zelo e
eficiência, concluem, não só para garantir a manutenção do contrato, como também para
merecer a credibilidade pública.
39
5.0 Parecer da acadêmica
O sistema carcerário é um problema que vem se arrastando a milhares de anos, difícil
achar qual sistemática possível para não apenas prender os criminosos, mas também
ressocialisa-los nesse tempo em que estão presos. Diante de tal analise verifica-se que a prisão
poderia ser a chance desse ser humano se ressocializar, mas para isso deve ter apoio tanto
dentro da prisão como também fora dela, pois aquele individuo que volta a delinquir é por que
só conhece aquele meio de vida, não tem profissão, estudo, os familiares e amigos já possuem
uma conduta fora do padrão, não que todos são assim, mas pode dizer que a maioria sim.
Quando fala-se em privatizar pensa-se em transferir organização que era do estado
para particular, e é exatamente isso que talvez seja necessário, mas para isso tem que haver a
fiscalização do estado e seriedade para funcionar, diante de tal problemática, o ideal é fazer
com que esses milhares de homens presos, trabalhe, estude mude sua conduta social, e para
que isso ocorra somente com essa reeducação seria possível, o certo é seguir exemplo dos
presídios terceirizados que deram e estão dando certo, tal como o PIG, entre outros que
mostra que é possível a ressocialização.
A nova lei de execução veio justamente com essa alternativa, propondo ao preso para
além de trabalhar, poder estudar, mas será que o Estado conseguiria manter escola e indústria
dentro do presidio, é obvio que não, pois atualmente nem celas tem, a superlotação cada vez
maior, então a alternativa cabível é sim terceirizar, criar industrias ensinar esses homens e
mulheres a trabalharem, dar oportunidade de estudarem para que quando saem da prisão não
40
voltem, por que a maioria que esta preso, não é réu primário, sinal que algo esta errado, não
adianta diminuir as penas como esta acontecendo, tem que criar medidas para tirar-lhes desse
mundo do crime, pois oque se tem hoje, é justamente isso a penitenciaria tem sido a maquina
da criminalidade, onde quem entrou por que furtou, volta a sociedade sendo assaltante de
banco.
6.0 Conclusão
Diante da ampla pesquisa acadêmica, se constata que a falência da pena prisional é
geral e não especifica em nosso país. Historicamente, já à tempos se procuram soluções e
alternativas viáveis para um total substituição da pena privativa de liberdade. Todos são
unanimes em afirmar, à priori, que a pequeno e médio prazo uma solução definitiva é
inviável. Soluções paliativas têm sugerido para minorar os problemas enfrentados pelo
encarceramento.
Em se tratando de regra geral, tendo esta norma complementar estadual, nada
impediria que os estabelecimentos penais fossem geridos por empresas privadas, ressalvando
claramente os atos administrativos judiciários. Em se tratando de Departamentos
penitenciários locais, caberia a legislação estadual disciplinar toda matéria referente aos
agentes penitenciários, podendo desta forma ser órgão público mas sendo regido pelos meios
legais (delegação, permissão, autorização, concessão e privatização), Embora o Brasil ainda
esteja longe de um modelo de penitenciarias privatizadas, ainda assim, poderia ser
terceirizados alguns setores das penitenciarias, para que desafogue a administração pública
carcerária e a superlotação que se tem nas penitenciarias brasileiras.
Desta forma o interesse em regra das privatizações é gerar recursos e proporcionar um
ambiente salubre para o preso, dando o mínimo necessário para sua ressocialização de forma
que esse possa voltar ao âmbito familiar e reconstruir sua vida com dignidade. Pois a
realidade é que a prisão atinge não apenas ao preso, mas toda a sua família e a sociedade ao
seu redor. Se tornando clara a necessidade de um novo modelo que responda aos anseios da
sociedade.
Desta forma não se resta duvidas que a privatização vá trazer benefícios para a
sociedade brasileira, pois o atraso a qual se encontra o sistema carcerário só acarreta o
41
adiamento do processo de desenvolvimento e recuperação da atual situação carcerária, mas
cabe observar que para isso ocorra, teria que ter uma reforma política e legislativa, visando
uma parceria entre a administração pública e a iniciativa privada.
Bibliografia:42
Legislação:
Constituição Federal de 1988
Lei 6.416/77
Lei 7.210/84
Lei 9.099/95
Lei 9.491/97
Lei 10.792/03
Lei 12.433/11
Doutrina:
MARTINS, Jorge Henrique Schafer. Penas Alternativas. 2 ed. Curitiba: Juruá, 2001,
p. 21.
Bitencourt, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, volume 1 -9 ed. São Paulo:
Saraiva, 2004 pg. 474 e 475.
DERANI, Cristiane. Privatização e Serviços Públicos, As Ações do Estado na
Produção Econômica, 1ª edição, São Paulo: Max Limonad, 2002, p. 110
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração Pública: concessão,
permissão, franquia, terceirização e outras formas. 4ª edição, São Paulo: Atlas, 2003,
p. 18.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Malheiros,
2000, p. 314-315
OTERO, Paulo. Coordenadas Jurídicas da Privatização da Administração
Pública, Op. cit. 2006, p. 36
FARIA, José Eduardo. Privatização de presídios e criminalidade: A gestão da
violência no capitalismo. São Paulo: Max Limonad, 2000.
BECCARIA, Cesare, Marchesi di, “Dos Delitos e das Penas”, Ediouro, RJ, 1996.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão, Causas e Alternativas.
1993 ed. RT.
BOLSANELLO, Elio. Panorama dos processos de reabilitação de presos. Revista
Consulex. Ano II, n. 20, p. 19-21, Ago. 1998.
43
JESUS, Damásio E. de. Sistema penal brasileiro: execução das penas no Brasil.
Revista Consulex. Ano I, n. 1, p. 24-28, Jan. 1997.
JUNIOR, João Marcelo de Araújo. Privatização das prisões. 1. ed. Rio de Janeiro.
Ruan, 1991.
DOTTI, Rene Ariel. Bases alternativas para um sistema de penas. 2. ed. São Paulo.
Revista dos Tribunais, 1998.
D'URSO, Luiz Flávio Borges. Privatização de Presídios. Revista Consulex. Ano III,
n. 31, p. 44-46, Jul. 1999.
THOMPSON, Augusto. A Questão penitenciária. 3. ed. Rio de Janeiro. Forense,
2002.
Franco, Paulo Alves. Prisão, Liberdade e Medidas Cautelares/ Paulo Alves Franco. 2°
Ed. Campo Grande: Contemplar, 2011.
Artigos disponibilizados através da Internet e revistas:
D’ Urso Luiz Flávio Borges, revista superinteressante, abril 2002, disponibilizada em http://super.abril.com.br/ciencia/privatizacao-presidios-442830.shtml
MABEL, Sandro. Desestatização dos presídios. Atualizado em 17 de outubro de
2007. Disponível em www.sandromabel.com.br
Utopias penitenciárias. Projetos jurídicos e realidade carcerária no Brasil. Jus
Navigandi, Teresina, ano 9, n. 333, 5 jun. 2004. Disponibilizado em
http://jus.com.br/revista/texto/5300/utopias-penitenciarias
DINIZ, Eduardo Albuquerque Rodrigues. Realidade do sistema penitenciário
brasileiro. Jus Navigandi, s/d. disponível em:
http://jus.com.br/revista/texto/950/sobrevivencia-do-principio-da-insignificancia
diante-das-disposicoes-da-lei-9099-95/4.
FAZENDA, José Vieira. Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro: Revista do
Instituto Histórico.
PEDROSO, Regina Célia. Utopias penitenciárias. Projetos jurídicos e realidade
carcerária no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 333, 5 jun. 2004.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Crise de pena privativa de liberdade. Artigo
publicado na Revista Unimar, ano XI n° 13- 1993
44
A Privatização das Prisões sob a Ótica do Direito Administrativo, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1995.
17 de janeiro de 2009, Leonel Camasão, jornal A Noticia, 17 de janeiro de 2009
disponivel:http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default.jsp?
local=18&newsID=a2372332.xml§ion=Geral&uf=2
Pe. Gunther ªZgubic, Coordenador Nacional de Pastoral Carcerária
http://www.carceraria.org.br/fotos/fotos/admin/aval_terceririzacao.pdf
45
46