MONOGRAFIA PRONTA

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1 Introduo ---

2 CAPTULO I 1.1 Poltica Naci 1.2 Direitos Hum 1.3 Pronasci -----

INTRODUO Este estudo constitui-se em um trabalho monogrfico, requisito para a concluso do curso de Servio Social. O tema estudado diz respeito ao fato que milhares de cidados brasileiros que vivem em morros ou favelas so obrigados a seguir um conjunto de leis locais e paralelos aos estabelecidos legalmente. Leis essas que muitas vezes acabam privando esses indivduos da vigncia de direitos seus juridicamente constitudos. Muitos so os estudos e anlises contemporneas que versam sobre a Segurana Pblica. Os enunciados transmitem a idia de que estas so polticas do Estado que busquem garantir a segurana de todos os cidados de determinado Municpio, Estado ou Pas. Realmente disso que trata o tema, a obrigao do Estado em zelar pela segurana e bem-estar de todos os seus cidados. Entretanto estas anlises no podem ser consideradas sem se levar em considerao o contexto histrico, econmico, poltico e social. Anlises sociais apontam que, por um perodo buscou-se aproximar pobreza e violncia na formulao das polticas pblicas de segurana. Atravs de uma anlise profunda das formas de tratamento e enfrentamento dados pobreza ao longo do ltimo sculo, percebe-se que, o Estado mesmo buscando garantir a segurana de todos os seus cidados, foi omisso com a camada menos privilegiada da populao. As anlises sobre esse fato apontam que, devido a forma dos governantes formularam polticas para os indivduos com menos poder econmico, como por exemplo a construo de conjuntos habitacionais distantes e sem nenhuma infra-estrutura ao redor, teve incio a existncia de um novo fenmeno social: a existncia localidades. Historicamente as polticas pblicas para a populao mais pobre da sociedade encaravam a pobreza como a causa e razo de todos os males sociais, desta forma o que se viu foi a precarizao de polticas de Segurana Publica para essa camada da populao com uma forte tendncia represso. Essa lacuna contribuiu para o nascimento e o fortalecimento desses grupos que passaram a controlar essas reas e os seus moradores, instituindo um segundo conjunto de leis a ser seguido por esses indivduos, alm do conjunto de leis legais. Nesta perspectiva criou-se um cdigo de de grupos criminosos fortemente estruturados, que controlam absolutamente todas as aes dos moradores dessas

conduta previamente estabelecido, que deve ser cumprido rigorosamente por todos os moradores. Essa realidade imprimiu a milhares de pessoas a privao de seus direitos como, por exemplo: o direito de ir e vir, submetendo-os a uma relao subservincia com os traficantes, onde os criminosos determinam regras sociais, com controle rgido sobre os moradores. As privaes so de ordens variadas, como morador de determinada localidade o indivduo est terminantemente proibido de ir a uma comunidade que no seja dominada pelo mesmo grupo. Mesmo que um evento organizado pelos traficantes incomode a algum morador, ele dever permanecer sem reclamar, pois poder sofrer algum tipo de represlia por no estar concordando com as decises tomadas pelos criminosos. Tornando-se necessria a anlise desse fenmeno como forma de conhecermos a sua estrutura e o que lava a sua manuteno. Buscar-se-, neste estudo um aprofundamento acerca dos conceitos e teorias sobre Segurana Pblica, e, as formas de enfrentamento s questes emergentes. Este estudo tem como objetivos compreender a Segurana Pblica como direito, garantido pela Constituio, de todo cidado brasileiro. Bem como analisar os desdobramentos e conseqncias dessa situao sobre a vida desses indivduos. Tomando como norteamento a definio de Cludio Beato (2000) e Alliny (2008), acerca do tema, pois segundo os autores a formulao dessas polticas sofreram alguns erros no momento de sua elaborao ao longo dos anos, culminando com a ausncia de Polticas de Segurana para a populao que vive nos morros e favelas. Buscando aprofundar o conhecimento acerca dessas regras locais, uma hiptese a ser considerada a de se perceber se essa situao surgiu em decorrncia da ausncia da presena do Estado nestas localidades, principalmente na instncia de Segurana Pblica. Para desenvolvimento do estudo sobre esse tema optou-se pela pesquisa bibliogrfica, como forma de agrupar conceitos tericos j existentes sobre o assunto, que denominado por alguns estudiosos e pela mdia de poder paralelo devido ao fato dos criminosos institurem seu cdigo de leis e de conduta social prprio, com os criminosos realmente agindo como se fossem o poder pblico como, por exemplo, realizando julgamentos, proferindo sentenas, inclusive a pena de morte, ou determinando penas que incluem castigos corporais, ou seja, utilizam-se da prtica da tortura. Os autores consultados foram Zuenir Ventura (1994) e Igncio Cano (2006),

que discorrem perfeitamente sobre esse tema e como os criminosos submetem os moradores das reas por eles controladas aos seus desmandos. O primeiro capitulo tratar sobre Poltica de Segurana no Brasil, conceituandose o que Poltica de Segurana. Sero citados tambm os Direitos Humanos e o PRONASCI (Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania). Sero citados os possveis erros que levaram a ineficincia das polticas de segurana junto camada menos favorecida da populao, e quais tendncias vem norteando a formulao das mesmas na contemporaneidade. Enfatizando que atualmente as polticas de segurana no Brasil, tm buscado zelar pelos Direitos Humanos, que so consagrados na Declarao Universal dos Direitos dos Homens. E tal mudana na concepo das Polticas de Segurana culminou com a elaborao do PRONASCI, que uma ao elaborada no mbito federal, que no pauta a Segurana Pblica somente na represso nas reas dominadas por criminosos, mas sim na interao de Programas de Segurana com Polticas Sociais. O segundo capitulo diz respeito ao surgimento das comunidades, fato esse que teve incio no governo do prefeito Pereira Passos que reformou o Centro da cidade, desalojando milhares de pessoas com a destruio dos cortios existentes na regio. No tendo para onde ir muitas pessoas passaram a viver no morro prximo do Centro, o Morro da Providncia. Falar tambm a respeito das faces criminosas e a distribuio territorial entre elas, sero citadas as faces existentes na cidade do Rio de Janeiro, que so as seguintes: CV (Comando Vermelho), ADA (Amigo dos Amigos) e TCP (Terceiro Comando Puro) e a distribuio territorial entre essas faces. Ser relatada a relao entre os moradores versus os traficantes, relao essa que na grande maioria das vezes ocorre com os moradores acatando as regras impostas pelos traficantes, porm no pela aceitao, mas sim pelo temor que os moradores possuem em relao aos criminosos. O terceiro capitulo dir respeito s regras locais e a destituio de direitos, ou seja, como essas regras vo contraposio as leis e direitos constitudos juridicamente. Enfocaram-se alguns direitos aos quais os cidados no possuem acesso e nem podem reclamar por sua implementao, como por exemplo: o direito de ir e vir, o direito a vida e o direito a livre expresso. O presente estudo visa contribuir para o estudo do tema abordado e melhoria do atendimento do Servio Social junto ao segmento sob anlise. Visto que a profisso busca a emancipao dos cidados e que, esses mesmos cidados tenham acesso a seus

direitos, torna-se imprescindvel que o profissional do Servio Social tenha conhecimento desta realidade imposta a milhares de pessoas. Para com isso poder formular estratgias e aes que possibilitem a reverso deste quadro e poder auxiliar esses indivduos na implementao efetiva desses direitos que vem sido negligenciados.

CAPTULO I

Poltica de Segurana no Brasil

Busca-se no decorrer deste captulo discorrer sobre a Poltica de Segurana Pblica no Brasil, partindo do entendimento construdo na Constituio Federal de 1988, que a nomeia como um direito juridicamente institudo. E tratando-se de um direito garantido pela Carta Magna Nacional, seu acesso devido a todo cidado brasileiro, independentemente de raa, credo ou situao econmica. Cabendo ao Estado, em todas as suas instncias, Federal, Estadual e Municipal, garanti-lo a toda populao nacional, independentemente do poderio econmico dos indivduos a serem assistidos. Portanto os moradores de morros e favelas, como todos os cidados brasileiros tambm seriam amparados por lei. 1.1 Poltica Pblica de Segurana no Brasil dever do Estado formular polticas e programas que garantam a implementao da Segurana Pblica no pas. Cabe lembrar que Segurana Pblica no inclui somente a represso a atos criminosos, to pouco as penalidades a serem aplicadas com os que esto em conflito com a lei. Segurana Pblica envolve tambm programas e polticas governamentais que impeam a existncia de meios e condies que levem ao surgimento de situaes favorveis a prticas de atos criminosos. Tais polticas e programas, no devem preocupar-se somente com a punio a ser aplicada com quem cometeu algum ato criminoso, mas tambm buscar garantir que todo cidado tenha seu acesso segurana garantido. Portanto, como foi definido pela CONSEG (Conferncia Nacional de Segurana Pblica): Segurana Pblica envolve a represso aliada a programas, projetos e polticas sociais. Como j citado Segurana Pblica no envolve somente aes de represso e punio a quem comete atos contrrios lei. O sentido de Segurana Pblica pode ser resumido como sendo um elemento fundamental para promover as mudanas necessrias concretizao da cidadania no pas. Segurana Pblica engloba a efetivao de vrios direitos garantidos por lei a todo cidado brasileiro, ai includos todos os Direitos Humanos. Sendo obrigao do Estado garantir a implementao e manuteno dos Direitos Humanos e dos demais direitos a que todo cidado tem direito. Direitos entre os quais podemos destacar: o direito vida, o direito a integridade fsica,

o direito de liberdade de locomoo e o direito de liberdade de associao. Novamente posso advertir que todos esses direitos devem ser garantidos e sua manuteno assegurada pelo Estado, em todas as suas instncias. Por envolver a implementao efetiva de direitos garantidos pela Constituio Federal de 1988, que a Segurana Pblica est envolta a cidadania plena. Visto que cidadania resulta dos direitos e deveres sociais, civis e polticos a que todo individuo possui direito, sendo a manuteno dos direitos sociais e civis de obrigao de Estado, e dentre esses direitos posso incluir os que j foram citados e, por isso pode-se concluir que Segurana Pblica est extremamente ligada cidadania. Entretanto durante anos a formulao de Polticas de Segurana no se pautou pelo principio de articulao entre suas aes e o sentido de cidadania. Sendo segundo Cludio Beato (2000), um dos principais motivadores que levaram a ineficincia das Polticas de Segurana, definio dada a crime que engloba uma diversidade de fenmenos sociais:Uma das dificuldades em identificar-se as variveis responsveis pelo crime est no fato de estarmos tratando de um conceito - a violncia - que envolve comportamentos diferentes, bem como uma diversidade grande de eventos. Quando falamos do crime estamos falando de fenmenos muito distintos: roubar uma revista em quadrinhos, esmurrar um colega, sonegar impostos, assassinar a esposa, roubar um banco, corromper polticos, seqestrar avies, esses e inumerveis outros atos so crimes. A heterogeneidade de eventos e fenmenos encobertos sobre o conceito de violncia acarreta dificuldades para a formulao de polticas pblicas, que so de ordem cognitiva, pois significa identificar fatores de risco a cada situao. ( BEATO, 2000:05 )

Conclui-se que o tratamento e enfrentamento dado ao crime, onde o mesmo remete a uma infinidade de acontecimentos, contribui para a ineficincia das Polticas de Segurana, visto que busca erradicar ou minimizar sua ocorrncia como um todo, como se todos os tipos de crimes possussem a mesma origem. Ao longo dos anos no houve um estudo relacionado ao surgimento de cada fato criminoso isoladamente. E tratando-se do direcionamento de Polticas de Segurana para a camada menos privilegiada da populao, principalmente para com os moradores dos morros e favelas, o sentido de Segurana Pblica obteve um acrscimo que prejudicou demasiadamente

esta parcela da populao, pois durante muitos anos associou-se pobreza criminalidade, como podemos verificar em Beato:Aps identificada a suposta causa do crime, este seria rapidamente erradicado desde que houvesse vontade poltica. Assim o messianismo que marca outros setores da vida brasileira no poderia estar ausente da formulao de polticas de segurana pblica. Da mesma forma que a inflao deve ser abatida com um tiro apenas, o analfabetismo com uns trocados a mais no bolso dos professores, a redistribuio de renda com alguns golpes de caneta, ou o problema da sade com um pouco mais de recursos, a criminalidade seria combatida mediante polticas de combate pobreza, misria e de gerao de empregos. (BEATO 2000:03)

O autor descreve bem como as Polticas e Programas direcionados aos pobres nas ltimas dcadas ligavam profundamente pobreza e criminalidade, tanto que as polticas no buscavam sanar demandas da ordem de segurana, sendo aes messinicas por parte do Estado, visto que o pensamento vigente deste perodo pregava que diminuindo a pobreza e suas vertentes, estaria solucionado o problema da violncia. E como j citado no decorrer deste trabalho, no eram formuladas polticas que garantissem o direito a Segurana destes indivduos. O que norteia esta linha de pensamento definido por Felson (apud Beato 2000:04): ... as coisas ruins provm de outras coisas ruins. O crime uma coisa m, portanto, ele deve emergir de outras maldades tais como o desemprego, pobreza, crueldade, e assim por diante. Falou-se at este ponto sobre como as polticas direcionadas aos pobres entrelaavam pobreza e violncia, entretanto, as medidas errneas do Estado para com estes indivduos no limitou-se a esta. Alm de avaliar a pobreza como a causa e razo da violncia, as Polticas de Segurana direcionadas aos pobres, por um longo perodo na histria do pas, baseavam-se na ao extremamente repressiva. Como citado por Alinny (2008:11) ... cada vez mais o regime poltico brasileiro desenvolve e aprimora um projeto militarizado de segurana pblica. Como verificado no estudo feito pela autora as Polticas de Segurana, quando formuladas, para os pobres pautam-se exclusivamente pela ao violenta e coerciva, com estas polticas do Estado sendo postas em prtica como se todos os moradores de morros e favelas fossem criminosos. Tornando-se a materializao desta vertente o veculo blindado utilizado pelo BOPE (Batalho de Operaes Especiais), sendo este grupo uma subdiviso da PMERJ (Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro). Estes carros blindados foram idealizados, e so utilizados, para adentrarem as reas dominadas por traficantes a qualquer custo, do modo que seja necessrio. Como bem assinala Alinny em seu estudo:

E com essa filosofia blica que o dispositivo mais simblico do atual modelo de segurana pblica fluminense o Blindado conhecido como Caveiro- um veculo militar de combate utilizado pelas Polcias Militar e Civil do Rio de Janeiro nas suas incurses pelas favelas e demais comunidades pobres da regio estadual. (...) Embora pese cerca de oito toneladas, o blindado pode alcanar velocidades de 120 km/h. Equipado com altos falantes e duas camadas de blindagem pesada, a mxima permitida no Brasil, estes veculos tm uma torre de tiros rotatria, capaz de girar 360graus, e fileiras com posies para tiros nas laterais, assim como uma grade de ao para proteger as janelas durante tiroteios. Para impedir que sejam furados, os pneus dos veculos so revestidos com uma substncia glutinosa especial.Com capacidade para at 12 policiais fortemente armados, o modelo destes veculos blindados permite que os agentes no seu interior efetuem disparos e ofendam os moradores das comunidades sem serem identificados.Ele tem sido o instrumento preferido dos agentes policiais em suas incurses nas favelas do Rio de Janeiro. Tais blindados, pintados totalmente de preto e com os vidros fums, normalmente estampam os smbolos oficiais macabros dos grupos policiais, e muitas vezes, so marcados pelas suas pinturas especialmente estilizadas para aterrorizar os inimigos do Estado. (ALLINY 2008:11)

Aps a anlise e reflexo geradas a partir da consulta aos autores citados, tornase ainda mais bvia a forma precria e equivoca como as Polticas de Segurana Pblica foram formuladas para as pessoas pobres da nossa sociedade. E estas polticas tendo como conseqncia final a privao ainda maior dos direitos desses sujeitos. Uma vez que o aparelho estatal, ao invs de legitimar todos os direitos que esses indivduos possuem juridicamente, durante anos identificou na pobreza a razo nica da violncia e todas as suas expresses. Os autores citados assinalam excelentemente como a Poltica de Segurana Pblica direcionada aos pobres historicamente sofreu distrbios na sua formulao. Estando ambos certos, visto que Beato compreendeu as aes do Estado que unificavam pobreza e violncia. Enquanto Alliny relata a ao repressiva por parte do Estado, para com todos os moradores dos morros e favelas. Sendo esta linha terica ainda mais explicitada aps a seguinte declarao de Jos Mariano Beltrame, Secretrio de Segurana Pblica do Rio de Janeiro: o Rio infelizmente chegou a um ponto que infelizmente exige sacrifcios. Sei que isto difcil de aceitar, mas para acabarmos com o poder de fogo dos bandidos, vidas vo ser dizimadas.(VEJA 2007) O BOPE tambm notifica clara e publicamente qual sua ideologia, em sua pgina oficial na internet: o confronto armado, a guerra e a morte, e no porto principal de entrada da sede da corporao, que estampa uma caveira empalada numa espada sobre duas pistolas douradas acompanhada dos seguintes dizeres: Seja bem vindo, visitante. Mas no faa movimentos bruscos!. (O GLOBO 2003)

Para finalizar ser transcrito um dos gritos de guerra do BOPE:O interrogatrio muito fcil de fazer / pega o favelado e d porrada at doer O interrogatrio muito fcil de acabar / pega o bandido e d porrada at matar.Esse sangue muito bom/ j provei no tem perigo / melhor do que caf o sangue do inimigo.Bandido favelado no se varre com vassoura / se varre com fuzil, granada e metralhadora. (O GLOBO 2003)

1.2 Direitos Humanos e Poltica Nacional de Direitos Humanos Tendo como objeto de estudo a Segurana Pblica, a partir deste ponto abordarei os Direitos Humanos. Uma vez que entre os muitos itens firmados neste compromisso est: ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo imprio da lei, para que o ser humano no seja compelido, como ltimo recurso, rebelio contra a tirania e a opresso (ONU 2010). Tal compromisso firmado pelos Estados-Membros determina que haja o comprometimento por parte dos pases pertencentes s Naes Unidas, para que os Direitos Humanos sejam praticados e respeitados em todo seu territrio nacional. Consequentemente estes Estados devem empenhar-se para que isto de fato ocorra em seu territrio, chegando neste ponto a Segurana Pblica. A Declarao Universal dos Direitos Humanos um documento firmado entre as Naes Unidas, assinado em 1948. Resumindo-se sua existncia para assegurar a dignidade e a liberdade da pessoa humana, como direitos inalienveis independentemente de qualquer aspecto que possa ser utilizado com forma de discriminao. Como podemos observar no fragmento abaixo:

A Assemblia Geral proclama a presente Declarao Universal dos Direitos Humanos: como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as naes, com o objetivo de que cada indivduo e cada rgo da sociedade, tendo sempre em mente esta Declarao, se esforce, atravs do ensino e da educao, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoo de medidas progressivas de carter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observncia universal e efetiva, tanto entre os povos dos prprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territrios sob sua jurisdio. Artigo I Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So dotados de razo e conscincia e devem agir em relao uns aos outros com esprito de fraternidade. Artigo II. 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja de

raa, cor, sexo, idioma, religio, opinio poltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condio. 2. No ser tambm feita nenhuma distino fundada na condio poltica, jurdica ou internacional do pas ou territrio a que pertena uma pessoa, quer se trate de um territrio independente, sob tutela, sem governo prprio, quer sujeito a qualquer outra limitao de soberania. (ONU)

Como j citado cada naca responsvel em por prtica o exerccio dos Direitos Humanos em seu territrio. No Brasil foi elaborado o Programa Nacional de Direitos Humanos, que busca assegurar: a Proteo do Direito Igualitrio Perante a Lei; Educao e Cultura, Bases Para Uma Cultura de Direitos Humanos e Aes Internacionais Para a Proteo e Promoo dos Direitos Humanos. Com todas estas aes possuindo objetivos a: curto, mdio e a longo prazo. Ser realizado um breve esclarecimento relacionado unicamente a Proteo ao Direito Igualitrio Perante a Lei. Visto que este aspecto do Programa Nacional de Direitos Humanos o de maior relevncia para o estudo. Pois est ligado aos Direitos Humanos, visando seu exerccio a toda populao brasileira e a estrangeiros residentes ou que estejam no pas. A curto prazo est estabelecida a criao de legislao que coba qualquer prtica discriminatria oriunda de: raa,etnia, sexo, idade, credo religioso, convico poltica ou orientao sexual. O acesso de todo cidado brasileiro aos documentos fundamentais de cidadania, como identidade, certido de bito, com estas duas sendo de acesso gratuito, carteira de identidade, carteira de trabalho, titulo de eleitor, certificado de alistamento militar. Envolve tambm aes voltadas a dependentes qumicos e pessoas portadoras de HIV/AIDS. E a mdio prazo instituir a carteira nacional de identidade. H aes direcionadas especificamente para: crianas e adolescentes, mulheres, populao negra, sociedades indgenas, estrangeiros, refugiados e migrantes brasileiros, idosos (terceira idade) e pessoas portadoras de deficincia. Sendo todos estes, segmentos que historicamente sofreram discriminao e/ou eram desprotegidos juridicamente. Sero relatados os artigos de maior relevncia para cada categoria, buscando no tornar o estudo cansativo, pois esta parte do estudo est ligada diretamente leitura dos artigos presentes no Programa Nacional de Direitos Humanos. Crianas e Adolescentes:

Propor alteraes na legislao penal com o objetivo de limitar a incidncia da violncia domstica contra as crianas e adolescentes. Incentivar a criao de estruturas para o desenvolvimento de programas scioeducativos para o atendimento de adolescentes infratores. Propor a alterao da legislao no tocante tipificao de crime de explorao sexual infanto-juvenil, com penalizao para o explorador e usurio. Instituir uma poltica nacional de estmulo adoo, principalmente por famlias brasileiras, de crianas e adolescentes efetivamente abandonadas, a fim de lhes possibilitar a convivncia familiar. Implantar sistema nacional e sistemas estaduais de informao e monitoramento da situao da criana e do adolescente, focalizando principalmente: (a) criao e funcionamento de Conselhos de Direitos da Criana e do Adolescente e Conselhos Tutelares; (b) localizao e identificao de crianas e adolescentes desaparecidos; (c) violao de direitos de crianas e adolescentes, que contemple o nmero de denncias, nmero de processos, local da ocorrncia, faixa etria e cor das crianas e adolescentes envolvidos, nmero de casos; (d) prostituio infanto-juvenil; (e) mortes violentas de crianas e adolescentes.

Mulheres:

Incentivar a criao de centros integrados de assistncia a mulheres sob risco de violncia domstica e sexual. Apoiar o projeto de lei que altera o Cdigo Penal nos crimes de estupro e atentado violento mulher. Revogar as normas discriminatrias ainda existentes na legislao infraconstitucional, incluindo particularmente as normas do Cdigo Civil Brasileiro que tratam do ptrio poder, chefia da sociedade conjugal, direito da anulao do casamento pelo homem quando a mulher no virgem, privilgio do homem na fixao do domiclio familiar. Reformular as normas de combate violncia e discriminao contra as mulheres, em particular, apoio ao projeto do Governo que trata o estupro como crime contra a pessoa e no mais como crime contra os costumes.

Populao Negra:

Estimular a presena dos grupos tnicos que compem a nossa populao em propagandas institucionais contratadas pelos rgos da administrao direta e indireta e por empresas estatais do Governo Federal. Estimular as Secretarias de Segurana Pblica dos Estados a realizarem cursos de reciclagem e seminrios sobre discriminao racial. Criar banco de dados sobre a situao dos direitos civis, polticos, sociais, econmicos e culturais da populao negra na sociedade brasileira que oriente polticas afirmativas visando promoo dessa comunidade. Promover o mapeamento e tombamento dos stios e documentos detentores de reminiscncias histricas, bem como a proteo das manifestaes culturais afro-brasileiras. Desenvolver aes afirmativas para o acesso dos negros aos cursos profissionalizantes, universidade e s reas de tecnologia de ponta.

Determinar ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) a adoo do critrio de se considerar os mulatos, os pardos e os pretos como integrantes do contingente da populao negra. Estimular que os livros didticos enfatizem a histria e as lutas do povo negro na construo do nosso pas, eliminando esteretipos e discriminaes. Formular polticas compensatrias que promovam social e economicamente a comunidade negra.

Sociedades Indgenas:

Formular e implementar polticas de proteo e promoo dos direitos das populaes indgenas, em substituio a polticas assimilacionistas e assistencialistas. Assegurar o direito das sociedades indgenas s terras que eles tradicionalmente ocupam. Assegurar a participao das sociedades indgenas e de suas organizaes na formulao e implementao de polticas de proteo e promoo de seus direitos. Dotar a FUNAI (Fundao Nacional de Apoio ao ndio) de recursos suficientes para a realizao de sua misso de defesa dos direitos das sociedades indgenas, particularmente no processo de demarcao das terras indgenas. Garantir s sociedades indgenas assistncia na rea da sade, com a implementao de programas de sade diferenciados, considerando as especificidades dessas sociedades. Assegurar s sociedades indgenas uma educao escolar diferenciada, respeitando o seu universo scio-cultural.

Estrangeiros. Refugiados e Migrantes Brasileiros:

Adotar medidas para impedir e punir a violncia e discriminao contra estrangeiros no Brasil e brasileiros no exterior. Propor projeto de lei estabelecendo o estatuto dos refugiados. Estabelecer poltica de proteo aos direitos humanos das comunidades estrangeiras no Brasil. Estabelecer poltica de proteo aos direitos humanos das comunidades brasileiras no exterior. Reformular a Lei dos Estrangeiros, atravs da apreciao pelo Congresso do projeto de lei 1813/91, que regula a situao jurdica do estrangeiro no Brasil.

Terceira Idade:

Apoiar as formas regionais denominadas aes governamentais integradas, para o desenvolvimento da Poltica Nacional do Idoso.

Criar e fortalecer conselhos e organizaes de representao dos idosos, incentivando sua participao nos programas e projetos governamentais de seu interesse. Incentivar o equipamento de estabelecimentos pblicos e meios de transporte de forma a facilitar a locomoo dos idosos. Generalizar a concesso de passe livre e precedncia de acesso aos idosos em todos os sistemas de transporte pblico urbano.

Pessoas Portadoras de Deficincia:

Conceber sistemas de informaes com a definio de bases de dados relativamente a pessoas portadores de deficincia, legislao, ajudas tcnicas, bibliografia e capacitao na rea de reabilitao e atendimento. Formular programa de educao para pessoas portadoras de deficincia. Implementar o programa de remoo de barreiras fsicas que impedem ou dificultam a locomoo das pessoas portadoras de deficincia, ampliando o acesso s cidades histricas, tursticas, estncias hidro-minerais e grande centros urbanos, como vistos no projeto "Cidade para Todos". Formular polticas de ateno s pessoas portadoras de deficincia, para a implementao de uma estratgia nacional de integrao das aes governamentais e no-governamentais, com vistas ao efetivo cumprimento do Decreto n 914, de 06 de setembro de 1993.

Aps a anlise dos artigos citados observa-se que as intenes dos itens constantes no Programa visam que todo cidado brasileiro ou estrangeiros que vivam ou estejam no pas, bem como brasileiros residentes fora do pas tenham seus Direitos Humanos garantidos e efetivados, independentemente de qualquer tipo de caracterstica que possuam que possa tornar-se objeto de discriminao. Tal atitude do Estado brasileiro torna-se pioneira, visto que no possui como pblico alvo determinada camada da populao, mas sim todas aquelas que ao longo da histria do pas eram juridicamente desprotegidas. Quando o costumeiro no pas formular um programa ou poltica especfica para categorias especficas. Por determinar que diversas categorias da populao sejam atendidas em suas necessidades ligadas aos Direitos Humanos, conclui-se que h o esforo do Governo Federal para garantir o acesso a este direito a todos da populao. 1.3 Pronasci Historicamente as Polticas de Segurana Pblica direcionadas para os pobres sofreram erros na sua elaborao, erros estes j citados no presente estudo. Porm,

atualmente as medidas que tem norteado a formulao das polticas de segurana so orientadas pela Sociologia Crtica e nos Direitos Humanos, com a anlise da existncia de crimes cometidos pelo Estado contra a populao:Mais recentemente, a orientao oficial do governo federal tem se calcado na sociologia crtica, cuja concepo de crime passa a basear-se nos direitos humanos. Isto abriu a possibilidade de incluir, dentre as modalidades de crime, os crimes cometidos pelo estado. Da a importncia de se controlar as organizaes componentes do aparato repressivo, que parece ter sido a tnica da atual poltica de segurana a nvel federal. (BEATO 2000:18)

Esta mudana foi elemento de importncia primordial na formulao do PRONASCI, que foi institudo pela lei n 11.530 de 24 de outubro de 2007. O Pronasci pode ser resumido pelo seu 2 artigo: O Pronasci destina-se a articular aes de segurana pblica para a preveno, controle e represso da criminalidade, estabelecendo polticas sociais e aes de proteo s vtimas. (Redao dada pela lei n 11.707, de 2008). Como forma melhor entendimento sobre do que o programa podese citar a definio dada pela Conseg:O Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania uma iniciativa pioneira que rene aes de preveno, controle e represso da violncia com atuao focada nas razes scio-culturais do crime. Articula programas de segurana pblica com polticas sociais j desenvolvidas pelo governo federal, sem abrir mo das estratgias de controle e represso qualificada criminalidade. As aes desenvolvidas pelo Pronasci seguiro ainda as diretrizes estabelecidas pelo Sistema nico de Segurana Pblica, cujo eixo central a articulao entre Unio, estados e municpios para o combate ao crime.( CONSEG 2009)

Dentre as aes proposta pelo Pronasci sero relatadas as de maior relevncia para o estudo: Bolsa Formao Os profissionais de segurana pblica recebero novos estmulos para estudar e atuar junto s comunidades. Policiais civis e militares, bombeiros, peritos e agentes penitencirios de baixa renda tero acesso a uma bolsa de at R$ 400. Para ter direito ao benefcio, o policial ter que participar e ser aprovado em cursos de capacitao promovidos, credenciados ou reconhecidos pela SENASP (Secretaria Nacional de Segurana Pblica) do Ministrio da Justia. Formao Policial - A qualificao das polcias inclui prticas de segurana-cidad,

como a utilizao de tecnologias no letais; tcnicas de investigao; sistema de comando de incidentes; percia balstica; DNA forense; medicina legal; direitos humanos, entre outros. Os cursos sero oferecidos pela RENAESP (Rede Nacional de Altos Estudos em Segurana Pblica), que envolve hoje 66 universidades brasileiras, entre pblicas e particulares, e ainda tele-centros para educao a distncia. Mulheres da Paz - O projeto capacitar mulheres lderes das comunidades em temas como tica, direitos humanos e cidadania, para agirem como multiplicadoras do Programa, tendo como incumbncia aproximar-se dos jovens com os quais o Pronasci trabalhar. Protejo - Jovens bolsistas em territrio de conflito social agiro como multiplicadores da filosofia passada a eles pelas Mulheres da Paz e pelas equipes multidisciplinares, a fim de atingir outros rapazes, moas e suas famlias, contribuindo para o resgate da cidadania nas comunidades. Sistema Prisional - A criao de mais de 40 mil vagas no sistema penitencirio do pas atender a pblicos especficos. Os jovens entre 18 e 24 anos tero unidades prisionais diferenciadas. O objetivo do governo federal separ-los por faixa etria e natureza do delito e impedir aqueles que cometeram pequenas infraes de se contaminarem pela influncia dos lderes do crime organizado. Alm disso, as mulheres apenadas tambm tero assistncia, como berrio e enfermaria. A reestruturao do sistema prisional envolve aes que visam qualificao de agentes penitencirios e a formao profissional de presos. Plano Nacional de Habitao para Profissionais de Segurana Pblica Os profissionais de Segurana Pblica podero contar com o Plano Nacional de Habitao para Profissionais de Segurana Pblica, com o apoio da Caixa Econmica Federal. Sero disponibilizadas unidades populares para servidores de baixa renda, que recebam at quatro salrios mnimos e a cartas de crdito para a compra da casa prpria, no valor de at R$ 50 mil, para aqueles que recebam at R$ 4,9 mil. ( CRESS 2008) A ao de maior expresso e repercusso do Pronasci no Rio de Janeiro foi a criao da Unidade de Polcia Pacificadora. Que consiste no controle de reas que estavam sob o domnio de traficantes pelo poder pblico, atravs da ocupao permanente da PM (Polcia Militar). As UPPs com vem sendo denominadas estas unidades, pela mdia e pela populao foram institudas pelo decreto n41.650 de 21 de

janeiro de 2009 do Excelentssimo Governador Srgio Cabral ( Dirio Oficial do Estado). O objetivo primordial das UPP`s :utilizando a filosofia do policiamento comunitrio, executar um policiamento diferenciado, focado nos Direitos Humanos e nas diretrizes do Pronasci nas reas sob sua responsabilidade, em uma parceria com a populao (CONSEG 2009).

A primeira UPP foi implantada no Morro Dona Marta, seguida Pela Favela do Batan, esta a nica que no era controlada por traficantes, mas sim por milicianos, sendo este um grupo paramilitar formado por policiais civis e militares, bombeiros, carcereiros, agentes penitencirios, da ativa ou da reserva, na sua maioria e na minoria por alguns civis. Tambm h UPP na Cidade de Deus, no Morro Cantagalo, no Morro Pavo-Pavozinho, na Ladeira dos Tabajaras, no Morro dos Cabritos,Morro da Providncia, e mais recentemente no Morro do Borel, Morro da Formiga, Casa Branca, Chcara do Cu e Morro do Cruz (R7 2010) Com a implantao da UPP nestas localidades no busca-se somente o domnio da rea pela PM, mas sim o acesso a Segurana Pblica, como tambm o acesso a outros direitos como afirma Jos Mariano Beltrame :Cidadania a palavra-chave. Pensar segurana com cidadania garantir, com a presena policial, o ingresso de servios pblicos primordiais como limpeza urbana; saneamento bsico; iluminao pblica; sade; educao; lazer. O modelo de policiamento das Unidades de Polcia Pacificadora nos ensinou que podemos fazer diferente. Na rea pacificada, o servio pblico pode chegar. (Conseg, 2009).

Este modelo de ocupao pelo Estado o certo a ser seguido de acordo com Beato (2009:19): O que tem sido eficaz so programas e estratgias de segurana baseados numa articulao multi-institucional. Esta articulao deve ser feita pelos rgos de segurana pblica, em conjunto com os rgos responsveis pela sade, educao, saneamento bsico, planejamento urbano e assistncia social. Como forma de proporcionar que os moradores destas reas tenham acesso garantido a sua cidadania. Pois como relata o autor: Da que no haja combate efetivo ao crime que no leve em conta a recuperao das reas degradadas pela violncia nos grandes centros urbanos. (BEATO 2009: 19). Ou seja, a represso e aes meramente coercivas no culminam com o desaparecimento da violncia. Fazendo-se necessrio a ocupao destas reas pelo Estado em todas as suas instncias, para com isso sanar as demandas existentes nestas localidades. Estas aes so de extrema importncia para a populao, pois se

opem as polticas repressivas e as aes de cunho assistencialistas que visam diminuir os efeitos mais imediatos da carncia vivenciada pelos moradores de morros e favelas, carncia esta que engloba diversas reas. Tais aes assistencialistas tambm tendem a moldar o carter dos moradores destas reas, visando que os mesmos no envolvam-se com o crime, e no solucionam as demandas existentes nestas reas como assinala Beato:

.alm de incutir em jovens candidatos potenciais ao crime novos valores atravs da educao, prtica de esportes, ensino profissionalizante, aprendizado de artes e na convivncia pacfica e harmoniosa com seus semelhantes. (BEATO 2009:17)

Aps a anlise das correntes norteadoras das polticas voltadas para a populao pobre, conclui-se que aes que envolvam segurana, sade, assistncia social e todas as reas em que haja ausncia de polticas, so as realmente eficientes, visto que como j fora assinalado pelo autor e por Jos Mariano Beltrame, aes meramente coercivas por parte do Estado devem deixar de existir para cederem espao para aes multiinstitucionais.

CAPTULO II - Comunidades e a distribuio territorial entre as faces Sero relatadas as aes do governo, principalmente na esfera municipal, que favoreceram o surgimento das comunidades ao longo das ltimas dcadas. E como tais aes e polticas governamentais proporcionaram alm do surgimento das comunidades o seu domnio por grupos criminosos fortemente armados. Uma vez que no existe uma unidade entre os criminosos, havendo uma diversidade de faces criminosas, sero relatadas quais so estas faces e a distribuio territorial entre elas. E a partir desta diviso territorial, discorrer-se- como a relao entre os traficantes e os moradores, sendo relatadas quais as prticas utilizadas pelos criminosos para que os moradores acatem suas determinaes. 2.1 Surgimento das comunidades Como forma de compreender quais as condies e situaes levaram a existncia do domnio dos morros e favelas por grupos criminosos bem armados e organizados, hoje intitulados pela mdia como poder paralelo, faz-se necessrio estudar como a situao das classes menos favorecidas foi tratada pelo poder pblico ao longo da histria. Para fins deste estudo sero tomadas como referncia as aes adotadas pelos governantes no fim do sculo XIX e durante o sculo XX e os estudos existentes sobre esse perodo. Durante o mandato do prefeito Pereira Passos, que de acordo com Carvalho (apud Valladares1991: 88) queria fazer da cidade pobre e catica, rplica tropical da Paris reformada por Haussman, foi realizada a Reforma Urbana, pautando suas aes pelo discurso mdico-sanitarista sobre a pobreza. Que pregava na existncia dos cortios a causa por todas as epidemias que ocorreram na cidade neste perodo e no na ausncia de saneamento bsico para a populao. Para por em prtica seu ideal de reformar a cidade e acreditando que os cortios eram a causa de todas as mazelas, Pereira Passos proibiu a construo de novos, fechou os existentes e demoliu alguns, como o famoso Cabea de Porco. Contudo essas aes comprometeram a moradia de aproximadamente 130 mil pessoas, como assinala Silva (apud Valladares1991:86), que viviam neste tipo de moradia. Muitos passaram a viver nos morros prximos ao centro da cidade, como por exemplo: o Morro da Providncia.

Contudo cabe salientar que o governo simplesmente proibiu a existncia dos cortios, no adotando nenhuma poltica que preocupasse-se com a situao dos desabrigados, nem em relao aos que passaram a povoar o morro prximo ao centro da cidade. Outro ponto de destaque o fato que desde este perodo a pobreza j era culpada pela existncia da violncia, como verifica-se em Valladares:Este mesmo cortio, que deveria ser eliminado para possibilitar o saneamento da cidade, tambm inspiraria o discurso poltico relativo necessidade de manuteno da ordem social, discurso este que ganha corpo no fim do Imprio e incio da Repblica. O que os mdicos haviam diagnosticado como foco das epidemias era tambm e sobretudo aos olhos da elite poltica nacional, o bero do vcio e do crime pois a que residia e se concentrava o que se chamava de classes perigosas.(VALLADARES 1991:86)

E tais ideais polticos de puro e simples afastamento e/ou excluso da classe pobre, no limitou-se a Reforma Urbana de Pereira Passos, como destaca Ventura:Na verdade, durante este sculo, desde a reforma de Pereira Passos e passando pelos planos Agache e Doxiadis, a opo foi sempre pela separao, seno pela simples segregao. A cidade civilizou-se e modernizou-se expulsando para os morros e periferia seus cidados de segunda classe. (VENTURA 1994 :12)

A afirmativa do autor unisse ao que j foi relatado por Valladares, ou seja, a nica preocupao dos governantes era com a modernizao da cidade, optando-se pela simples remoo das moradias dos pobres, sem o estudo prvio de onde e em quais condies esses indivduos passariam a viver. J nas dcadas de 1950 e 1960 considerveis contingentes populacionais oriundos do norte e nordeste brasileiro migravam para os grandes centros urbanos, incluindo o Rio de Janeiro, na busca de melhores condies de vida, levando ao superpovoamento da cidade. Como observamos em Valladares (1991:94) o cortio deu vez favela: ... a favela, que sorrateiramente vai se impondo no cenrio das cidades em expanso, desde as capitais regionais at os centros de mdio e pequeno porte.. E, portanto tornaram-se o local de moradia dos indivduos oriundos das regies Norte e Nordeste, pois os mesmos no possuam condies econmicas de morar outro local. Mesmo com o crescimento cada vez maior do nmero de favelas, continuou prevalecendo inexistncia de polticas e programas pblicos eficazes, que englobassem: sade, moradia, educao, segurana pblica, saneamento bsico,

transporte coletivo e servios para essa parcela da populao. O que ocorreu foi a existncia de comparaes entre a favela com os cortios, a favela ganhou atributos muito semelhantes queles associados dcadas antes, ao cortio, rea insalubre, constituda de habitaes precrias, verdadeiro cncer necessitando ser extirpado do tecido urbano (Valladares 1991 :98). Neste perodo o governo adotou a poltica de construo dos conjuntos habitacionais, como por exemplo: a Cidade de Deus na zona oeste da cidade e a Cruzada So Sebastio, na zona sul. Entretanto, independentemente da localizao destes conjuntos, como assinala Costa (2007: 05); ... nota-se que a nica poltica adotada foi a construo das moradias, sem a existncia de nenhuma infra-estrutura ao redor. Durante a dcada de 1970 com o aumento crescente do nmero de favelas, e com o determinante de que os conjuntos habitacionais existentes no eram suficientes para receber todos os indivduos que necessitavam de moradia, tem-se incio um novo fenmeno que segundo Valladares (1991: 102): os cientistas sociais brasileiros denominaram periferizao, que consiste na poltica de povoamento ordenado ou no da rea metropolitana prxima aos grandes centros. A periferizao consiste da combinao de inmeros fatores, dentre os quais podemos destacar: a expulso das reas centrais atravs de programas de remoo e renovao urbana e a expulso indireta viabilizada por alteraes na legislao urbana. Estes fatores reunidos eliminaram do espao urbano do Rio de Janeiro 80 favelas, como discorre Valladares:No Rio de Janeiro, por exemplo, a partir de 1970 assiste-se ao declnio de favela em prol da periferia. Tal tendncia resultou na poltica incisiva de remoo que eliminou do espao nada menos que 80 favelas (Valladares 1987) bem como da crescente dificuldade de criao de novas favelas dentro do ncleo metropolitano......O destino mais freqente do pobre tornou-se a periferia.(VALLADARES 1991: 103)

Cabe comparar estes acontecimentos, com a Reforma Urbana realizada por Pereira Passos, pois os dois processos tm muito em comum. Ambos buscavam melhorar a imagem da cidade, sem dar o mnimo de suporte aos que ficaram sem moradia, uma vez que a preocupao era em promover o esvaziamento da cidade e no o bem-estar destes indivduos. Tanto que os moradores da periferia uniram-se como forma de clamar por direitos seus, como assinala Valladares:

A extensa literatura existente no Brasil sobre os movimentos sociais urbanos(vejam-se resenhas bibliogrficas de Machado da Silva & Ziccardi, 1980; Cardoso, 1986; Jacobi, 1987; Kowarich, 1987)acabou por eleger os moradores da periferia como os novos excludos pelo capitalismo brasileiro contemporneo. Acabou tambm atribuindo-lhes papel poltico na luta travada pela redemocratizao do pas iniciada na dcada de setenta. O titulo do livro de Gohe (1985) A Fora da Periferia - expressa bem o consenso da academia quanto ao peso atribudo aos inmeros movimentos reinvindicatrios por saneamento bsico e sade, creches, legalizao de terrenos, transporte coletivo, etc. (VALLADARES 1991: 104)

Com e existncia deste novo fenmeno, a periferizao, e o fato da cidade continuar recebendo migrantes, a periferia, no caso do Rio de Janeiro a Baixada Fluminense, tornou-se o novo endereo da camada menos favorecida da populao. Contudo a ocupao da periferia pelos pobres procedeu-se da mesma forma que o surgimento das favelas, de forma desordenada e sem nenhuma poltica de infra-estrutura para a populao que iria morar. Dentre as polticas ausentes j citadas, como saneamento e educao, faz-se necessrio incluir a segurana pbica. Uma vez que aps a anlise dos autores citados, percebe-se que em momento algum houve a elaborao de uma poltica que visa-se garantir a segurana deste indivduos. Com a vida desses indivduos pautando-se pela ausncia, seja pela ausncia de: servios pblicos, equipamentos urbanos, de leis e de limites , e, no limite de noes bsicas de moral e tica. Com esta ausncia de polticas e programas sendo revertida pela ao policial repressiva, que ao longo dos anos tornou-se a nica forma de interveno do Estado nos morros e favelas, fato este j relatado no presente estudo. Aps a anlise de todas as formas de enfrentamento da existncia da pobreza por parte dos governantes, ao longo das ltimas dcadas, percebesse que todas as aes direcionadas a populao pobre no buscavam atender todos os direitos institudos juridicamente para estes cidados. O que ocorreu foi o que popularmente chama-se empurrar com a barriga, com o Estado no desenvolvendo polticas pblicas para estes indivduos ou desenvolvendo medidas meramente paliativas, que no contemplavam todas as necessidades dos indivduos. Percebe-se que ao longo dos anos a pobreza foi tratada e enfrentada como algo a ser evitado, e no na sua real magnitude, ligada diretamente ao capitalismo, que leva ao controle dos meios de produo nas mos de poucos, com a explorao dos demais por estes poucos, com a segregao dos que no servem a este modelo. Fato esse que, como j citado, ocorreu por duas vezes na histria de nossa cidade, num primeiro momento com a Reforma Urbana com a demolio dos cortios, no direcionando nenhuma

poltica pblica para quem neles residia, e num segundo com o fenmeno da periferizao, com os indivduos sedo praticamente empurrados para a Baixada Fluminense. 2.2 Faces Criminosas e a Distribuio Territorial Antes de citar quais as faces criminosas e o quantitativo de morros e favelas sob o domnio de cada uma, ser feita uma breve conceituao do que so estas faces criminosas. O conceito utilizado no estudo define faces criminosas como Grupos Criminosos Armados com Domnio Territorial:Grupos Criminosos Armados com Domnio Territorial so redes criminosas territorializadas que atuam em atividades econmicas ilcitas e irregulares, como o trfico de drogas, servios de segurana e transporte coletivo irregular, dentre outras, a partir de uma base territorial especfica, fazendo uso da fora fsica e da coao especialmente pelo uso de armas de fogo como principais meios de manuteno e reproduo de suas prticas. (SILVA, FERNANDES & BRAGA (2009:16).

Alm do uso da fora para a sua manuteno no poder as faces necessitam de um espao fsico fixo, ou seja no h um rodzio entre as faces nas localidades, todas possuem territrio fixo delimitado: Esse exemplo remete a uma relao de uso, apropriao e domnio do espao como forma de garantia da reproduo das atividades criminosas, o que implica, neste caso, o que os gegrafos chamam de territorialidade, (Silva, Fernandes & Braga 2009) Ou seja, h a necessidade por parte das quadrilhas de um espao fsico delimitado para exercerem seu domnio e atuao. Ter uma base territorial no trata-se apenas de possuir localizao fixa, mas tambm possui importncia para a manuteno e reproduo do grupo e de suas atividades. Porm cabe salientar que cada grupo possui suas diretrizes de apropriao e domnio do espao e moradores, pois como ser citado posteriormente no existe uma unidade entre as faces, no Rio de Janeiro existem trs faces com posturas e regulamentos diferentes. Mas independentemente da faco que ocupe determinado territrio, existe um ponto em comum entre as trs, sua existncia e manuteno decorrem da pouca atuao do Estado nas localidades sob o seu domnio, seja qual for a faco:No caso do Rio de Janeiro, observa-se que os grupos criminosos atuantes no ramo varejista de drogas qualificadas como ilcitas, normalmente denominado trfico de drogas no varejo ou simplesmente trfico de drogas fazem uso de recortes espaciais especficos para a sua atuao.

Esses recortes ocorrem, em particular, a partir do domnio territorial de favelas e outros espaos pobres e segregados da cidade, favorecendo-se de caractersticas especficas destas localidades, sendo a mais importante a baixa participao do Estado como regulador e garantidor de direitos. (SILVA, FERNANDES & BRAGA (2009: 17).

A partir deste ponto abordarei o processo de formao de cada faco, para por fim relatar a distribuio territorial entre as mesmas. Como j assinalado no presente estudo a existncia e manuteno destes grupos criminosos deve-se a falta de Polticas de Segurana para a populao destas localidades. Porm com o passar dos anos os criminosos deixam de ser meros traficantes atuantes em determinada localidade, e passam a ter uma estrutura organizacional, com normas e diretrizes prprias. A partir deste momento que surgem as faces, como verificamos em Cano, Marinho & SentoS (2006):Temos, por um lado, a formao de grupos criminosos que passaram a ter acesso cada vez maior a armas pesadas, utilizadas para garantir seus postos no comrcio varejista da droga. Grupos que, com o tempo, se tornaram maiores, estruturados numa organizada diviso de funes entre seus membros, com relativa capacidade de incorporao de quadros, sobretudo junto aos jovens e adolescentes das comunidades onde atuam. (CANO, MARINHO & SENTO-S, 2006 : 02 )

A primeira faco surge por volta de 1970, chamada de Falange Vermelha, que teve sua origem no Sistema Carcerrio, com os criminosos unindo-se como forma de atingirem metas em comum: Desse contato teria havido um processo de organizao dessa massa carcerria....com o intuito de resistir aos arbtrio que eram vtimas ... Nascia a Falange Vermelha. (Cano, Marinho & Santo-S 2006: 12). Contudo A Falange Vermelha passa-se a chamar-se Comando Vermelho: Da denominao do primeiro grupo, surge o Comando Vermelho (Cano, Marinho & Santo-S 2006: 12). Aps a anlise dos estudos feitos pelos autores citados, evidencia-se que a Falange Vermelha, posteriormente o Comando Vermelho foi a primeira grande organizao dos traficantes. As disputas internas e a no aceitao de determinadas regras culminou com o surgimento das demais: o Terceiro Comando e a Amigo dos Amigos. Como est relatado abaixo:A nova articulao protagonizada pelos principais chefes do trfico de drogas conhece logo uma dissidncia que, uma vez articulada autodenomina-se Terceiro Comando... Em 1996, Orlando Jogador, chefe do Complexo do Alemo e um dos mais prestigiados membros do Comando Vermelho em liberdade, assassinado por um comparsa, o U. Isolado de

seus antigos aliados, U cria o ADA, os Amigos dos Amigos. (Cano, Marinho & Santo-S 2006: 11)

Ao Terceiro Comando unissem membros do Comando Vermelho e do Amigo dos Amigos, que estavam descontentes com suas lideranas, passando a chamar-se Terceiro Comando Puro (TCP), como relata a reportagem do R7 (R7 2010): TCP: faco fundada em 2002 a partir do Terceiro Comando, e ex-integrantes do Comando Vermelho e do Amigo dos Amigos.

GRFICO 01 Distribuio das faces por nmero de comunidades FONTE: www.r7.com70 60 50 40 30 20 10 0 Am igo dos Am igos Terceiro Com ando Puro Com ando Ve rm elho

Aps a anlise do grfico acima percebe-se que a faco Comando Vermelho a que possui o maior nmero de comunidades sob o seu domnio, seguida pela Amigo dos Amigos, ficando por ltimo a Terceiro Comando Puro.

2.3 A Relao Moradores versus TraficantesAquele magricela alto, de no mximo 22 anos, batendo palmas espalmadas, era uma representao do poder local. Se algum tivesse dvida, no precisava nem olhar para o alto relevo formado pela arma, sob a camisa, mas para seus olhos. A sua autoridade era exercida pelo olhar. Ele sabe distribulo com a parcimnia de uma concesso. (VENTURA 1994: 60)

O trecho acima, mesmo sendo breve, relata com preciso como se d a relao entre moradores e traficantes. Na maioria dos casos a aceitao dos desmandos dos criminosos se d devido ao temor que os moradores possuem em relao aos traficantes. Alm do medo das represses que podem sofrer os moradores tambm possuem temor

em relao ao poderio blico dos traficantes. O autor relata de maneira objetiva como o trfico ao longo dos anos se fortaleceu e se imps nestas localidades. Seja pelo seu poderio econmico ou pelo poder de represso, os traficantes so respeitados por todos como sendo os donos do morro. Com os traficantes agindo como se fossem o Estado. Delimitando aes e comportamentos a serem seguidos. Bem como as regras a serem cumpridas, e as penalidades a serem aplicadas por quem no respeita suas determinaes. Mesmo com todo esse pavor que a comunidade possui em relao aos traficantes, espantoso o fato deles serem minoria em relao queles que aterrorizam como destaca Ventura:Era aparentemente uma festa da comunidade, mas, em meio s cinqenta pessoas que deviam estar ali, umas vinte se dedicavam ao trfico de drogas, conforme fora informado. Eles eram minoria ali e na favela (alis, em todas as favelas, onde se calcula que o nmero deles no atinja 1% da populao). Vigrio Geral tem 30 mil habitantes e nem trezentos traficantes me dissera um morador na primeira visita. (VENTURA 1994: 78)

Contudo mesmo sendo minoria os criminosos detm total controle sobre os moradores, incluindo-se ai as associaes de moradores e at mesmo os projetos da Prefeitura, estando estes submetidos autorizao dos traficantes, como pode-se perceber no trecho abaixo:O prefeito Csar Maia queria implantar uma experincia indita em vrias comunidades: cursos de dana, de DJs, de coreografia para funkeiros . Por interferncia de Manoel, Vigrio Geral e Parada de Lucas foram includos no projeto. Ari da Ilha no fora avisado antes, e, quando os trs homens da prefeitura lhe explicaram o plano, ele disse:- T bom, vou consultar o Homem e depois dou a resposta.Por inabilidade ou desinformao os funcionrios pblicos se impacientaram:- Que homem!? O prefeito j autorizou o plano. Seu Ari olhou para os trs, e dessa vez falou pausado, ele que fala aos trambolhes:- O prefeito de vocs um; o meu outro. (VENTURA 1994: 173)

Alm de exercer controle rgido sob os moradores e deter o poder de autorizar ou no determinado acontecimento no interior da localidade sob seu domnio os traficantes tambm possuem acesso e controle a tudo que acontece no interior dessas localidades, como por exemplo, vigiar quem entra e quem sai destes locais, delegando ao grupo o poder de questionar o porqu de uma pessoa estranha estar ali, ficando explicitado no trecho abaixo:

-Voc sabe tudo o que acontece aqui dentro?-Ah, sim.-Quando eu entrei a primeira vez, voc soube que eu tava entrando?-Soube. Aqui, quando entra, porque entra acompanhado. No caso, o senhor entrou com o Caio. Sozinho, o senhor no ia entrar. Se entrasse sozinho, o senhor j t sendo olhado desde l na frente. Ningum vai parar o senhor, mas todo mundo j t olhando. O senhor vai ter que contar uma histria na sada. Se entrou porque t procurando algum . Se o senhor entrar, rodar e no falar com ningum, o senhor pode at t em cima da ponte, mas a gente vai l buscar o senhor. O coroa l t andando, deu a volta por ali, voltou, retornou de novo, saiu na Vila Nova, vai passar l na frente agora, no sei o que ele t procurando. Mas antes da dar uma dura, eu mando uma pessoa: Vem c o senhor t procurando quem?. (VENTURA 1994: 204)

O controle sobre os moradores vai alm dos fatos j relatados, existe um cdigo de conduta previamente estabelecido, de conhecimento de todos os moradores, bem como as penalidades estabelecidas a quem no cumpre este regulamento, como relatado no trecho a seguir:-Vocs conhecem o nosso regulamento, no conhecem? Quem fizer coisa errada leva palmada na bunda.Ficou claro at pra mim que ele estava usando um eufemismo. Sem dvida, palmada queria dizer palmatria, um castigo muito usado em Lucas e que pode at quebrar as mos. (Ventura 1994: 221)

Novamente fica explicitado a maneira pela qual os criminosos interagem com os moradores e, como esta convivncia estabelecida, ou seja, atravs do medo que os moradores possuem em relao aos traficantes, seja devido o seu poderio blico, ou em relao as punies aplicadas a quem no cumpre as determinaes dos traficantes, que muitas vezes inclui castigos corporais, como citado no fragmento a cima .E o regulamento ao qual os cidados esto submetidos no incluem somente as penas a serem aplicadas a quem descumpre o regulamento, mas este conjunto de normas mais abrangente, incluindo na sua composio julgamentos e sentenas, como assinala Ventura:Caio: - As penas so sempre a morte?- Estuprador, ladro de bujo de gs, eu no mato no. Mas eu furo a mo, furo o p, boto pra ir pro hospital, pra no deixar acontecer. Porque se eu deixar acontecer vai acontecer sempre. (VENTURA 1994: 199)

Porm h casos, onde a sentena a morte, como forma de imposio e manuteno do poder dos criminosos, independentemente da localizao da rea sob o seu domnio, a narrativa abaixo deixa claro que at mesmo na zona sul carioca os criminosos agem como bem entendem:

No h muito tempo, Lavigne assistiu da janela dos fundos uma cena bem carioca: um garoto que praticava pequenos roubos na redondeza foi morto pelas costas com vrios tiros. Aps o crime, segurando o revlver, o assassino andou em direo avenida Atlntica gritando desnecessariamente, j que ningum duvidava do que ele dizia: Quem manda aqui sou eu. Quem roubar aqui morre. (VENTURA 1994: 259)

Aps a anlise dos fatos citados pelo autor, fica extremamente claro o modo pelo qual os traficantes controlam todos os moradores e acontecimentos dentro dos locais sob o seu domnio. Estando aqui includo o poder pblico, visto que o Estado tambm est suscetvel ao poder dos traficantes nestas localidades, uma vez que como mencionado at a implantao de um projeto depende da aprovao prvia dos criminosos. A denominao dada pela mdia, ou seja, poder paralelo tornar-se assertiva, pois os criminosos realmente agem como se fossem um Estado constitudo, um Estado ditador, onde suas determinaes no questionadas to pouco discutidas, somente cumpridas. Com os moradores cumprindo rigorosamente as normas de conduta e tendo o conhecimento das sanes previstas para quem no cumpre estas regras prestabelecidas. A maneira pela qual os traficantes se impem pode ser comparada com o despotismo, visto que sua manuteno est profundamente ao medo. Com os moradores acatando o que determinado e seguindo as normas estabelecidas pelos traficantes devido ao medo que possuem dos criminosos: Segundo ele, das trs formas bsicas de governo estudadas pelo filsofo francs monarquia, repblica e despotismo a que correspondem honra, a virtude e o medo -, s a ltima havia chegado s favelas (Ventura 1994: 258). O filsofo em questo Montesquieu, e realmente a comparao vlida, pois somente pelo medo que os traficantes detm o poder de controle e aceitao sobre os moradores.

CAPTULO III Regras Locais e a Destituio de Direitos Este captulo diz respeito s geraes de direitos, citando a primeira e a segunda . Aps breve anlise dessas geraes de direitos e quais so estes direitos enfocar-se- alguns dos direitos negligenciados nos morros e favelas, a partir do domnio destas localidades por criminosos. Ser relatado como as regras locais vo a contraposio a estes direitos, que so garantidos juridicamente, a todos brasileiros na Constituio de 1988. 3.1 Geraes de Direito A primeira gerao de direitos norteada pela teoria moderna sobre o Estado. Por esse motivo os mesmos fundamentos sobre a concepo moderna sobre Estado valem tambm para a primeira gerao de direitos, que assim como o Estado Moderno focada na liberdade. A burguesia teve participao relevante nesta nova concepo, devido a sua insatisfao contra a nobreza e o clero, como assinala Augusto Carig (2000):Nesse diapaso, podemos pontuar como fundamentos para os direitos de primeira gerao o liberalismo poltico, o jusnaturalismo, o individualismo, a tripartio de poderes, contrato social de Rousseau, o reconhecimento dos direitos naturais, enfim, todos os valores Iluministas que permearam a Europa na segunda metade do sculo XVIII. Nascem, ainda, os direitos de primeira gerao da revoluo encampada pelo Terceiro Estado (o povo e a burguesia) contra a explorao exarcebada da nobreza e do clero. Naquele momento, queria a burguesia desvencilhar-se do poder opressivo que limitava sua capacidade de ascenso econmica, poltica e social. Vencida a revoluo de 1789, a burguesia trouxe como corolrio de sua indignao a tutela dos seguintes bens pelo Estado: liberdade, igualdade (formal), propriedade, segurana (alis um dos poucos direitos que cabe ao Estado Liberal atuar positivamente) e o direito resistncia s diversas formas de opresso (este, mais com natureza justificadora da Revoluo do que propriamente direito). (CARIG 2003:04)

Portanto a primeira gerao de direitos, assim como o Estado Liberal est ligada ao sentido de liberdade, em todos os seus aspectos, como citado pelo autor, a partir de toda a movimentao gerada pela burguesia, devido sue anseio de poderio econmico, que at ento era impedido pela burguesia. Destaca-se o fato que mesmo no ideal de Estado Moderno, ou seja, Estado Liberal, em que o Estado pouco deve intervir nos acontecimentos, tem-se a segurana como dever deste Estado. Ou seja, j por volta do

sculo XVIII os legisladores da lei j concebiam a obrigao do Estado em garantir a segurana dos indivduos sob sua responsabilidade. Contudo este modelo em que Estado bom aquele que neutro, fracassou em funo da Revoluo Industrial, no final do sculo XIX. Uma vez aps seu acontecimento srias injustias sociais passaram a acontecer. Levando ao surgimento de inmeros movimentos que anseiam pela transformao da realidade dos pobres e trabalhadores, levando a mudana do sentido norteador de Estado: Nasce, portanto, a segunda gerao de direitos que tm como objeto os direitos sociais, econmicos e culturais, (Carig 2003: 05). Esta segunda gerao busca o inverso da primeira, onde o Estado deve ser neutro, nesta gerao o Estado deve intervir, principalmente no sentido econmico e social. Da que deriva o Welfare State, o Estado Bem Estar Social. Com o Estado atuando como devedor da manuteno desses direitos, como relata Carig no fragmento abaixo:Aqui, ao contrrio dos direitos de primeira gerao, o Estado age na qualidade de principal garantidor destes direitos, assumindo, assim, uma postura intervencionista ou positiva. Os direitos ora em anlise buscam a realizao do Estado de Bem Estar Social, ou o chamado Welfare State Esses ideais de segunda gerao , esto consubstanciados no princpio da isonomia material que, como bem salienta Celso Antnio Bandeira de Mello (1999; 11): Tem como de partida para a descoberta do seu contedo , o axioma de Aristteles, traduzido no tratamento igual dos iguais e diferente e ou desigual dos desiguais na medida de suas desigualdades, o objetivo , em ltima instncia , da igualizao de todos.(CARIG 2003: 05)

A segunda gerao de direitos como j citado tem seu surgimento a partir das revoltas populares decorrentes da total ausncia proveniente do Estado Liberal, que culminou com a existncia de enormes desigualdades sociais decorrentes da Revoluo Industrial. Neste momento o Estado passa a zelar pos seus cidados, abandonando a postura da neutralidade, elaborando medidas que igualem as pessoas, independentemente de qualquer diferena que possuam. Nota-se que tanto a primeira e a segunda gerao de direitos surgem como forma de satisfazer, ou minimizar a insatisfao de determinada camada da populao. Na primeira a insatisfao era oriunda da burguesia, que possua o anseio de liberta-se do domnio do clero e da burguesia, enquanto a segunda, proveniente da revolta popular. E tais acontecimentos levaram o Estado a transformar-se e elaborar leis que respondessem as demandas a ele impostas. Aps a segunda gerao de direitos, houve

uma terceira ligada aos direitos coletivos e difusos, entretanto esta gerao de direitos no possui relevncia para o presente estudo1. . 3.2 Os Direitos Destitudos Ser utilizada como fonte principal para esta parte do estudo a srie de reportagem do Jornal O Globo: Os brasileiros que ainda vivem na ditadura, publicada em 2007. A srie faz uma anlise entre a situao vivida pelos moradores dos morros e favelas, com o perodo da Ditadura, compreendendo que mesmo aps anos passados aps o trmino do regime ditatorial, milhares de brasileiros continuam sem o acesso devido a direitos seus garantidos juridicamente. A pesquisadora Alba Zaluar deu a seguinte declarao a cerca do tema: bvio que a lei no est s na Constituio, no est s num texto escrito. Enquanto a Constituio escrita no for implementada em todos os cantos e recantos do pas, ns no podemos dizer que temos um estado democrtico de direito neste pas. No sou constitucionalista, sou uma pesquisadora. Mas sei a enorme diferena entre mim e os sujeitos das minhas pesquisas que falam dos horrores vivenciados no dia-a-dia. (O GLOBO 18/08/2007)

A pesquisadora cita com clareza que no basta a existncia das leis de forma jurdica, com elas transcritas em um local, mas o que h de se almejar que todos os cidados tenha acesso a estas leis, fatos esse que no ocorre, nas localidades dominadas pelo trfico. Com os moradores destas localidades vivenciando diariamente a inexistncia de direitos seus juridicamente institudos. De acordo com o publicao, at aquele perodo, 1,5 milho de pessoas viviam esta situao, tendo os seguintes direitos negligenciados, diariamente: direito vida, integridade fsica, liberdade de expresso, inviolabilidade do lar, liberdade de locomoo e liberdade de associao.

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Conforme o argumento de CARIG (2003), ainda existem outra duas gerao de direito, que diz respeito aos direitos coletivos e difusos, referentes a terceira gerao , entretanto preferi abordar apenas as duas geraes que mais relacionariam-se com o objeto de estudo da monografia.

Fonte Jornal: O Globo 4/4/2007, acesso ao Morro dos Macacos: figuras retratam regras para sobreviver no morro.

A imagem acima, foi feita no Morro dos Macacos, no desenho cada macaco cumpre cada uma das seguintes regras locais: cego, mudo e surdo respectivamente. Deixando claro, o tipo de conduta que os moradores devem seguir. Explicitando com enorme clareza os desmandos impostos pelos traficantes e como eles negligenciam os direitos juridicamente institudos dos moradores das comunidades sob o seu domnio. Ser dado destaque a violao ao direito vida, pois este maior desrespeito existente, uma vez que o direito vida est expressamente institudo na Constituio de 1998, no havendo nem mesmo a previso da pena de morte em nossa Constituio. Contudo antes de decretar a pena de morte, os traficantes realizam o julgamento de suas vtimas, aps este julgamento que a pena de morte instituda, um dos casos de maior repercusso foi o Caso Tim Lopes. Tim Lopes era jornalista da TV Globo, e foi submetido a este tribunal:O jornalista Tim Lopes da TV Globo, desapareceu no dia 2 de junho de 2002, quando tentava fazer uma reportagem sobre um baile funk onde, segundo denncias de moradores, havia trfico de drogas e prostituio de menores, na Vila Cruzeiro, na Penha. Flagrado com uma microcmera por integrantes da quadrilha de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, ele foi levado para o alto do morro, julgado, e condenado morte. A execuo de Tim Lopes foi confirmada, em 9 de junho, por dois bandidos da quadrilha. Presos contaram como foi o crime. Segundo eles, Tim foi rendido num bar, espancado e, para que no escapasse, baleado nos ps. Depois, foi levado, com as mos amarradas, para a vizinha Favela da Grota. No alto do morro, foi morto e teve o corpo queimado juntamente com pneus. (O GLOBO 21/08/2007)

O trecho acima relata como os criminosos instituem e realizam o tribunal do trfico. Ao ser descoberto filmando o baile funk, o jornalista cometeu uma falha grave de acordo com o cdigo de conduta dos traficantes, sendo punido primeiramente com castigos corporais. Aps teve sua sentena de morte, decretada pelo bando da Vila Cruzeiro, sendo executado de forma sumria, tendo seu corpo queimado junto aos pneus. Tal julgamento no ocorre somente se o chefe da quadrilha estiver no local, sentenas de morte tambm so decretadas de dentro dos presdios:Internado no Hospital Miguel Couto, em decorrncia do ferimento bala que sofrera, Lagarto denuncia que no fora ele que atirou em Bolado, mas seu brao direito e sucessor, Naldo. Afirmou ainda que tal atitude de Naldo fora determinada por Denis, da priso. O chefe do trfico temia a ascenso de seu subordinado e receava que ele lhe tomasse definitivamente o controle do negcio. A ordem foi cumprida por Naldo, que matou seu parceiro motivado pela ambio e desejo de no desautorizar Denis. (CANO, MARINHO & SANTO-S 2006: 12)

Os autores descrevem com clareza em seu estudo como os chefes das quadrilhas agem para continuarem sendo os lderes dos traficantes. E para o alcance deste objetivo realizam o julgamento e condenam a morte seus possveis traidores, com a mesma naturalidade que agem no interior das localidades sob seu domnio independentemente de estarem presos. Mesmo estando acautelados, cumprindo a pena a eles determinada, em um presdio. O primeiro caso citado como exemplo, o Caso Tim Lopes, gerou grande comoo e mobilizao, tanto da imprensa como da populao carioca. O estudo de Cano, Marinho e Sento-S (2006) relata que os criminosos tambm decretam a morte de seus comparsas, da mesma maneira, sem que grande parte da populao sequer tenha conhecimento. Entretanto houveram outros casos, onde os traficantes decretaram a pena de morte, que no geraram tanta mobilizao, como por exemplo, o que aconteceu com Fabiana Alves Fonseca, brutalmente assassinada por traficantes do Morro dos Macacos:Em maro deste ano, uma dona-de-casa do Morro So Joo, no Engenho Novo, subiu o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, dominado por uma faco rival, para tentar resgatar a filha que havia sido seqestrada. Era uma represlia aos adversrios. Desesperada, a me, Maria Firmina Alves, queria negociar com os traficantes a libertao da filha Fabiana Alves da Fonseca, de 19 anos, mas s consegui o corpo esquartejado de volta, resgatado por

policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais.- A me contou que subiu o morro e foi perguntando pela filha a um e outro at que disseram que o corpo da menina estava num lugar conhecido com Santurio, onde os traficantes executam suas vtimas. Quando ela chegou j encontrou o corpo de Fabiana. A cabea estava junto ao p, sem um brao, o corpo cheio de marcas de tiros. Ela saiu dali e foi pedir ajuda da polcia conta a promotora Vera Regina de Almeida, 8 Promotoria de Investigao Penal do Ministrio Pblico, que ouviu o depoimento da me. (O GLOBO 22/08/2007)

Os traficantes decretaram a pena de morte da vtima, e esta foi brutalmente assassinada, como aconteceu como Tim Lopes. A nica diferena entre os dois casos, foi que como j assinalado, a morte do jornalista causou grande movimentao da populao, enquanto a me de Fabiana precisou ir a comunidade em busca da filha sozinha. Mas todos os exemplos citados, os criminosos feriram gravemente o direito vida de suas vtimas. Aps a anlise e comparao entre os exemplos citados pode-se afirmar que o direito vida demasiadamente descumprido, por diversas vezes em morros diferentes, por causas diferentes. Com os traficantes agindo verdadeiramente como um poder paralelo, descumprindo e negligenciando naturalmente direitos juridicamente institudos, a todos brasileiros, como se esses direitos sequer existissem. Obrigando aos cidados sob o seu domnio, a cumprirem as regras por eles determinadas, com os criminosos delegando ao bando o poder de reprimir da forma que desejarem aqueles que no cumpram suas determinaes, ou at mesmo aplicam suas penas a suas vtimas como forma de afrontar seus adversrios. Tim Lopes foi morto por estar filmando o baile funk, Naldo foi morto devido o temor do chefe da quadrilha, de que ele pudesse se rebelar, enquanto Fabiana foi morta como forma de represlia do bando rival para com os traficantes de que controlavam a comunidade onde ela morava. Observa-se que como j assinalado, os traficantes determinam as leis a serem cumpridas, e as sanes sofridas por suas vtimas, como um verdadeiro poder paralelo.

CONSIDERAES FINAIS: O presente estudo possui como objeto de estudo a situao a que milhares de brasileiros esto submetidos nos morros e favelas, pois devido ao fato destas localidades serem controladas por traficantes, os cidados que l residem no possuem acesso a direitos juridicamente constitudos. A escolha pelo tema ocorreu a partir de uma situao por mim vivenciada. Quando estava no 6 perodo, alm de estudar tambm trabalhava, e estagiava aos sbados, e durante a semana chegava em casa muito tarde praticamente todos os dias da semana. As sextas-feiras havia, e ainda h um baile funk organizado pelos traficantes a poucos metros da minha casa. Contudo, mesmo estando cansada, e com a obrigao de acordar cedo no sbado para cumprir minhas obrigaes como estagiria, eu sei que no poderia reclamar. O barulho intenso durante toda a noite, por tanto eu no durmo as sextas-feiras. Mesmo diante da minha condio, nada posso expor aos criminosos, nem mesmo posso pedir que diminuam o som, pois estou cansada. Esta situao no est esclarecida, to pouco regulamentada em nenhum lugar, contudo por ser moradora de um local controlado por traficantes sei que suas determinaes no so discutidas, somente aceitas. Tal situao por mim vivenciada me inquietou bastante, pois desde criana aprendi que so os criminosos que determinam tudo o que pode ou no acontecer no interior das comunidades. Mas esta situao em particular gerou uma profunda indignao, fazendo-me questionar a mim mesma o porqu disto ocorrer. Sempre soube que as determinaes dos traficantes somente cumpridas, levando a negao de direitos institudos constitucionalmente. Nesta em situao em particular tive meu direito a liberdade de expresso profundamente ferido, pois no possuo o direito de expressar minha situao, que o baile no me deixa dormir, me levando ao total esgotamento fsico. Fazendo-me questionar qual situao proporcionou este controle dos morros e favelas por grupos criminosos. Ento decidi que este seria o tema de minha monografia. Aps a anlise realizada de todos os autores citados no estudo, conclui-se que a forma de enfrentamento dada pobreza ao longo do ltimo sculo, que ora a ligava aos males da sade, ou como bero de toda a criminalidade, mas sem nenhuma poltica que garantisse aos pobres o acesso a Segurana Pblica contriburam para este domnio das comunidades por traficantes. As aes adotadas ou buscavam pela simples segregao, ou passaram a considerar todos os moradores destas localidades como criminosos, levando o Estado a formular polticas de puro enfrentamento, como se todo

cidado pobre fosse criminoso. Aparentemente nem mesmo o aparelho estatal no compreende que a existncia destes grupos criminosos, deve-se a ausncia deste mesmo Estado em todas as suas instncias, principalmente na esfera da Segurana Pblica, nestes locais. Quando na verdade o que ocorre, a situao por mim vivenciada, que deve se repetir em outras comunidades. Muitos sendo controlados por poucos. Ausncia do Estado nestas localidades proporcionou o surgimento e manuteno desses grupos criminosos, culminando com os traficantes detendo total controle sobre estes locais bem como a todos os seus moradores, determinando o que estes indivduos podem ou no fazer, agindo verdadeiramente como um estado ou poder paralelo. Uma vez que possuem um lder que determina as regras a serem cumpridas pelos moradores, como se no houvesse um conjunto de leis legalmente constitudo, que estabelece os direitos a que todo cidado possui. Ferindo e negligenciando diariamente direitos a que estes cidados possuem.

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