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MARCIO FERNANDO TEIXEIRA FRANÇA CORREDORES ECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO AMBIENTE CERRADO LAVRAS – MG 2012

Monografia Ufla Pronta

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MARCIO FERNANDO TEIXEIRA FRANÇA

CORREDORES ECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO

AMBIENTE CERRADO

LAVRAS – MG 2012

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MARCIO FERNANDO TEIXEIRA FRANÇA

CORREDORES ECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO AMBIENTE CERRADO

Monografia apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Agronomia para a obtenção do título de Especialista em Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria.

Orientador Dr. Frederico Faúla de Sousa

LAVRAS – MG 2012

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MARCIO FERNANDO TEIXEIRA FRANÇA

CORREDORES ECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO AMBIENTE CERRADO

Monografia apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Agronomia para a obtenção do título de Especialista em Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria.

Orientador Dr. Frederico Faúla de Sousa

APROVADA em:_________de____________________de 2012 Prof:_________________________________________________ Prof:_________________________________________________

LAVRAS – MG 2012

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RESUMO

Com o avanço do sistema capitalista em nossa era tecnológica de altos níveis de consumismo, a relação entre ambiente, economia e sociedade encontra-se extremamente desigual. Essa relação é expressa por Morin (2001, p. 72) quando o autor estabelece uma linha tênue entre os problemas ambientais e a ameaça para todos os seres vivos. A crise ambiental não pode ser analisada de modo fragmentado, ou seja, por suas partes, mas deve ser vista de modo totalizante, a partir das relações que suas partes fazem com o todo. O estado atual de fragmentação dos biomas brasileiros, como a Mata Atlântica e o Cerrado, demonstram que é mais do que necessário a preocupação com a natureza, segundo Lopes (2004). Devido a essa relevância, é que Klink e Machado (2005) enfatizam que uma das prioridades, tanto no nível federal quanto estadual, é a criação e expansão de Unidades de Conservação, no intuito de se estabelecer corredores ecológicos na região como forma de se preservar os biomas. Assim, coloca-se como tema deste artigo a promoção do desenvolvimento de corredores ecológicos para a recuperação de áreas degradadas, criando-se para tal investigação, a seguinte pergunta: Como os corredores ecológicos podem atuar na recuperação de áreas degradadas do bioma Cerrado? Pois com o avanço da degradação do bioma torna-se necessário uma investigação sobre os métodos de revegetação e seus custos para atenuar o processo de degeneração desse bioma. Ressalta-se como método o corredor ecológico, promovendo a conectividade entre o bioma e a restauração natural do mesmo. Palavras – chave: corredor ecológico, biomas, preservação

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................5

1.2 Justificativa........................................................................7

1.2 Objetivos..........................................................................13

2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................15

2.1 Importância do Cerrado e sua preservação .....................18

2.2 Ações de preservação.......................................................21

3 CONCLUSÃO.......................................................................................28

4 REFERÊNCIAS....................................................................................30

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1 INTRODUÇÃO

Com o avanço do sistema capitalista em nossa era tecnológica de altos

níveis de consumismo, a relação entre ambiente, economia e sociedade encontra-

se extremamente desigual. Essa relação é expressa por Morin (2001, p. 72)

quando o autor estabelece uma linha tênue entre os problemas ambientais e a

ameaça para todos os seres vivos:

O efeito estufa provocado pelo aumento do CO² na

atmosfera, os desmatamentos em grande escala das

grandes florestas tropicais produtoras de nosso

oxigênio comum, a esterilização dos oceanos, mares e

rios fornecedores de alimentos, as poluições sem

conta, as catástrofes sem limites, a explosão de novos

vírus e de micróbios antigos fortalecidos e a barbárie

anônima e fria do mundo técnico-econômico, mostram

a interligação sistêmica da realidade global.

Em outras palavras, a crise ambiental não pode ser analisada de modo

fragmentado, ou seja, por suas partes, mas deve ser vista de modo totalizante, a

partir das relações que suas partes fazem com o todo. É justamente neste

contexto que se traz a tona a concepção de sustentabilidade, ou melhor, de

Desenvolvimento Sustentável, que para Guimarães (2000, p. 34) seria “uma

apreciação austera dos pressupostos teóricos dessa teoria, evidenciando um

discurso desenvolvimentista que atrela o processo educativo a um novo modelo

de acumulação de capital”.

A partir da Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (ECO-92), começa a ser empregado cada vez mais o conceito

de desenvolvimento sustentável. Esse conceito tem sua origem na obra "Nosso

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Futuro Comum", publicada em 1987, que constitui um documento de preparação

da Comissão Bruntland sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Neste documento o desenvolvimento sustentado é definido, como o

"desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer

aquilo que as futuras gerações precisam para satisfazer suas próprias

necessidades” (CMMAD, 1988). Esta conceituação se fundamenta em dois

eixos:

1) O da satisfação das necessidades básicas da

humanidade;

2) O de que os limites do desenvolvimento estão

impostos pela organização tecnológica e social e por

seus impactos sobre os recursos ambientais e pela

capacidade da biosfera de absorver os efeitos das

atividades humanas (CMMAD, 1988).

Igualmente a Comissão Brundtland (apud DIAS, 2008, p. 31) relata

que o Desenvolvimento Sustentável é:

Um processo de transformação no qual a exploração

dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação

do desenvolvimento tecnológico e a mudança

institucional se harmonizam e reforçam o potencial

presente e futuro, a fim de atender ás necessidades e

aspirações humanas.

A partir dessa conceituação começa-se então a elaborar o conceito de

sustentabilidade, como a habilidade de um sistema econômico para nutrir a

produção por meio do tempo, sob as presenças de repetidas restrições ecológicas

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e pressões sócio-econômicas, o que denota em arquitetar a conservação como

base da produção.

Em países como o Brasil, exportadores de bens primários e

portadores de grande biodiversidade, a exploração predatória de áreas naturais

vem culminando cada vez mais com a fragmentação de habitats e com isso o

interesse pelo tema Corredores Ecológicos.

1.1 Justificativa

Esse tema surge em meio a um cenário mundial de extrema

inquietação com a regeneração do meio ambiente e todas as suas infinitas

relações com os padrões de consumo e novas tecnologias que cerceiam os dias

atuais, por isso é necessário avaliar tais consequências ambientais nas tomadas

de decisões, tanto na esfera pública, quanto na vida privada.

Exemplo das consequências do consumo desenfreado pode ser visto

através da fragmentação dos biomas brasileiros. Como bioma, se entende a

classificação de comunidades biológicas e ecossistemas com base em

semelhanças de características vegetais (RICKLEFS, 2003).

Para Dados (1973, apud COUTINHO, 2006, p. 15):

O bioma é um agrupamento de fisionomias e

composições florísticas de um grande grupo

vegetacional. Estende-se por uma área bastante grande

e sua existência é controlada pelo macroclima. Na

comunidade terrestre os biomas correspondem às

principais formações vegetais naturais.

Vale mencionar que o conceito de bioma para o referido autor

considera as variações na composição florística da vegetação sempre em relação

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às suas fisionomias, isto é, um mesmo tipo de bioma pode ter floras diferentes.

Grande semelhança entre duas comunidades não significa que pertençam a um

mesmo tipo de bioma.

Neste caso, o bioma teria, então, dimensões subcontinentais e o bioma-

tipo seria a soma de todos os biomas de um determinado tipo, nos diversos

continentes (o cerrado sensu lato – chamado por muitos de “a savana brasileira”

– seria um bioma, enquanto as savanas do mundo constituiriam o bioma-tipo)

(COUTINHO, 2006, p. 15).

De fato, os biomas proporcionam pontos de referência conveniente

para se comparar processos ecológicos em diversos tipos de comunidades e

ecossistemas.

No decorrer da história, a cobertura florestal do planeta tem sido

diminuída com o desmatamento desmedido, sobretudo para que se tenham mais

terras ativas para a agricultura. Com isto, segundo Rodrigues e Nascimento

(2006, p. 64) relatam que as “florestas anteriormente contínuas encontram-se

agora dispostas em fragmentos remanescentes frequentemente definidos pelos

seus limites físicos”. Em outros termos, quando os biomas entram em contato

com a agropecuária e com a urbanização sofrem transformações de fora para

dentro, ou seja, com a intervenção humana acelera-se o efeito borda e a

formação de trechos, faixas e pequenas porções de terra, esse problema é então

denominado de fragmentação de biomas. (RICKLEFS, 2003)

O estado atual de fragmentação dos biomas brasileiros, como a Mata

Atlântica e o Cerrado, demonstram que é mais do que necessário à preocupação

com a natureza. Segundo Lopes (2004) um levantamento sem precedentes, feito

por mais de 120 pesquisadores e coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente

(MMA), mapeou os efeitos da fragmentação sobre boa parte dos ecossistemas do

país, ajudando a confirmar o que a teoria e as observações anteriores já

sugeriam: com apenas 8% da Mata Atlântica e 43% do cerrado existindo hoje, a

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tendência é que boa parte desses biomas seja composta por áreas fragmentadas.

Nesse caso, proteger apenas as áreas nativas propriamente ditas pode significar

mero desaparecimento adiado. Também Felfili (1994) alerta para esses impactos

que vão sendo feitos no cerrado, podendo causar a perda de boa parte do bioma.

Em outras áreas do Brasil essa leitura é feita de forma diferente: em uma

avaliação técnica no estado de Roraima feito pelo IBAMA (1998) chegou-se a

conclusão que somente 1,5% da área degradada pelo fogo teve uma atuação

mais ampla, significando que os 79,5% que o fogo consumiu tem condição de

capacidade de recuperação.

A limitação do tema, ou seja, o estudo dos corredores ecológicos no

Cerrado se justifica, uma vez que este é o segundo maior bioma brasileiro, sendo

superado em área apenas pela Amazônia. Ocupa 24% do território nacional e é

tido como a última fronteira agrícola do planeta (BORLAUG, 2002, apud,

KLINK; MACHADO, 2005). Entretanto sua degradação ainda se dá de forma

acelerada e sem planejamento sustentável.

A Agenda 21(1997)em seu preâmbulo preocupa-se justamente com isso quando

expõe que:

A humanidade se encontra em um momento de

definição histórica. Defrontamo-nos com a

perpetuação das disparidades existentes entre as

nações e no interior delas, o agravamento da pobreza,

da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a

deterioração contínua dos ecossistemas de que

depende nosso bem-estar. Não obstante, caso se

integre as preocupações relativas ao meio ambiente e

desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será

possível satisfazer às necessidades básicas, elevar o

nível da vida de todos, obter ecossistemas melhor

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protegidos e gerenciados e construir um futuro mais

próspero e seguro. São metas que nação alguma pode

atingir sozinha; juntos, porém, podemos - em uma

associação mundial em prol do desenvolvimento

sustentável.

Da mesma forma, seu capítulo 40 sugere a utilização de indicadores

que possam avaliar diferentes parâmetros setoriais, para se ter uma base sólida

para a tomada de decisões, o que certamente contribuirá para uma

sustentabilidade autorregulada dos sistemas integrados de meio ambiente e

desenvolvimento.

Para o documento citado, o desenvolvimento sustentável é aquele que

atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as

gerações futuras atenderem suas próprias necessidades (FIGUEIRÓ, 2001).

Nesse sentido, pode-se constatar que é urgente um novo modelo de

desenvolvimento, que consiga somar recursos externos com iniciativas internas,

fomentando a criação de políticas públicas capazes de motivar o incremento

empresarial e tecnológico aliado ao capital humano e ecológico.

Presentemente a questão ambiental vem sendo alvo de inúmeros

estudos que visam coibir ou ao menos amenizar os impactos causados no meio

ambiente por ações irresponsáveis, não apenas nas indústrias e agroindústrias,

mas em toda a sociedade.

Isto porque, como ressalta Dias (2008, p. 01), nos últimos 300 anos, o

desenvolvimento tecnológico da humanidade foi inigualável. Em nenhum outro

período histórico foram feitas tantas descobertas, em todos os campos da

ciência, gerando uma incrível capacidade de produção e de controle de

elementos naturais. No entanto, também é o período histórico em que o ser

humano gerou os meios que podem levá-lo à extinção.

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Grande parte dessa evolução se deu com a Revolução Industrial, no

século XVIII, iniciada na Inglaterra e disseminada no mundo no decorrer dos

séculos XIX, XX e XXI. Este evento histórico sem dúvidas contribuiu para que

o meio ambiente fosse alterado de modo desmedido. Entretanto, diante de sua

essência progressista, a Revolução Industrial promoveu o crescimento

econômico dos países, bem como aumentou a geração de riquezas no globo. A

união destes fatos certamente mascarou por muito tempo suas consequências

negativas (DIAS, 2008).

É o que afirma Dias (2008, p. 06):

O problema é que o crescimento econômico

desordenado foi acompanhado de um processo jamais

visto pela humanidade, em que se utilizavam grandes

quantidades de energia e de recursos naturais, que

acabaram por configurar um quadro de degradação

contínua do meio ambiente. A industrialização trouxe

vários problemas ambientais, como: alta concentração

populacional, devido à urbanização acelerada;

consumo excessivo de recursos naturais, sendo que

alguns não são renováveis (petróleo e carvão mineral,

por exemplo); contaminação do ar, do solo, das águas;

e desflorestamento, entre outros.

Mesmo diante disso, a exploração irresponsável do meio ambiente só

começou a ser contestada no final do século XX, mais precisamente na década

de 70, quando se começou a observar o esgotamento dos recursos naturais.

Mais adiante, com a globalização, a internacionalização dos padrões de

qualidade, a conscientização crescente dos consumidores e a propagação da

Educação Ambiental nas instituições de ensino, mostraram que as cobranças

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futuras dos consumidores, no que diz respeito à preservação do ambiente e à

qualidade de vida, serão cada vez mais intensificadas.

Todo esse desenvolvimento desordenado trouxe inúmeras

consequências para os biomas brasileiros. Mesmo que, segundo Pimentel (2007,

p. 82):

Este bioma hoje se encontra mais restrito à área do

Planalto Central. A riqueza do Cerrado é tão grande

que se podem perceber diversas unidades paisagísticas

e uma grande variedade de formações vegetais, uma

alta diversidade biológica e um considerável grau de

endemismo, o que o torna um dos 21 hotspot

mundiais. Ao considerarmos ainda que o Cerrado seja

um bioma de transição entre outros de relevante

importância, como a Mata Atlântica e a Floresta

Amazônica, a Caatinga e o Pantanal, torna-se

compreensível à importância de sua manutenção para

o equilíbrio dos ecossistemas terrestres brasileiros. A

sua importância extrapola a questão ambiental e

estende-se aos aspectos socioculturais e econômicos,

como já discorremos anteriormente, bastante claros no

processo de ocupação do cerrado brasileiro.

A autora aludida ainda relata que as particularidades dessa região

tornam esse bioma extremamente importante e essencial para o equilíbrio

ambiental, tanto no Brasil quanto no mundo. Devido a essa relevância, é que

alguns autores enfatizam que uma das prioridades, tanto no nível federal quanto

estadual, é a criação e expansão de Unidades de Conservação, no intuito de se

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estabelecer corredores ecológicos na região como forma de se preservar o bioma

em questão.

1.2 Objetivos

Diante disso, grandes são as preocupações com o meio ambiente e sua

relação com a preservação da vida e, sendo assim, inúmeras são as pressões para

a criação de um novo patamar na história contemporânea, que consiga impetrar a

questão ambiental nos ideários da sociedade.

Nota-se, portanto, conforme as palavras de Silva et. al. (2005) que hoje

existe uma propensão para se estabelecer o desenvolvimento sustentável e

justamente por isso é preciso valorizar os biomas brasileiros, pois esse

mecanismo é motivador do estabelecimento do mesmo.

Para tanto, é necessária uma mudança de mentalidade em toda a

sociedade, onde tal mudança deve ser focada na incorporação de fatores

ambientais em seu cotidiano, levando a todos os que participam direta ou

indiretamente dos processos produtivos a tomarem como sua causa a questão

ambiental.

Assim, coloca-se como tema desta pesquisa a promoção do

desenvolvimento de corredores ecológicos para a recuperação de áreas

degradadas do Cerrado, buscando-se responder para tal investigação, a seguinte

pergunta: Como os corredores ecológicos podem atuar na preservação do bioma

Cerrado?

Essa pergunta tem como objetivos responder aos propósitos de

investigação:

1- Identificar quais os meios de recuperação das áreas degradadas;

2- Comparar alguns mecanismos utilizados para essa recuperação;

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3- Levantar dados referentes às pesquisas desenvolvidas e ações já

implantadas que resultaram em benefícios com a utilização dos

corredores ecológicos;

4- Investigar autores que tratam da adequada instalação dos corredores

ecológicos;

5- Enfatizar autores que citam a adoção de outros meios de recuperação de

áreas degradadas em associação com os corredores ecológicos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A definição de Corredores Ecológicos que trata esse trabalho incide na

compreensão de que são áreas que contêm ecossistemas florestais

biologicamente prioritários e viáveis para a conservação da biodiversidade. Essa

diversidade é composta por conjuntos de unidades de conservação, sendo elas:

terras indígenas e áreas de interstícios. Tendo como função prioritária propiciar

uma proteção efetiva da natureza. Na sua ação veremos a redução ou prevenção

à fragmentação das florestas existentes por meio da interligação entre diferentes

modalidades de áreas protegidas e outros espaços com diferentes usos do solo.

Contudo, os corredores ecológicos excedem a ideia de caminho para

circulação de animais, sendo utilizados como estratégias de conservação em que

os ecossistemas naturais ou seminaturais se interligam a unidades de

conservação ou áreas com reduzido grau de degradação. Essa iniciativa destaca-

se, tem o intuito de facilitar o fluxo de genes e o deslocamento da biota,

promovendo a dispersão de espécies bem como a recolonização de áreas

degradadas (MMA, 2008).

Corredores Ecológicos também são entendidos como unidades de

planejamento nas quais se considera o manejo dinâmico da paisagem a partir da

ampliação da fronteira de análise, o que permite que as necessidades da

biodiversidade sejam examinadas em maior escala e que sejam desenvolvidas

estratégias conjuntas para as áreas protegidas e para os espaços não protegidos.

A conectividade tem como meta proporcionar vias de intercâmbio e incremento

das possibilidades de movimento dos indivíduos pertencentes a populações que

se encontrem, em maior ou menor grau, isoladas. Visa, em síntese, a

manutenção da cobertura florestal natural.

Entre os principais benefícios da formação de corredores ecológicos,

podem ser enfatizados os seguintes:

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1- contribuir para a efetiva conservação da diversidade biológica, adotando

técnicas da biologia da conservação e estratégias de planejamento e

gestão socioambiental de forma compartilhada e participativa;

2- redução da fragmentação e manutenção da cobertura vegetal para a

conectividade da paisagem, facilitando o fluxo genético entre as

populações;

3- introdução de estratégias mais adequadas de uso da terra;

4- conservação ambiental por meio de planejamento e ação participativa e

descentralizada;

5- promoção de mudança de comportamento dos atores sociais

implicados;

6- criação de oportunidades de negócios e de incentivo a atividades que

promovem a conservação dos atributos naturais, agregando o viés

ambiental a projetos de desenvolvimento.

Nos corredores, as unidades de conservação federais, estaduais e

municipais são gerenciadas de forma integrada com terras indígenas e áreas de

interstício (áreas particulares sejam de grandes empresas ou de pequenos

proprietários, comunidades, cidades, assentamentos). Desta forma, pretende-se

manter ou restaurar a conectividade da paisagem e facilitar o fluxo genético

entre populações, aumentando as chances de sobrevivência, em longo prazo, das

comunidades biológicas. Trata-se de uma proposta de gestão do território em

escala regional destinada a contribuir para o desenvolvimento sustentável.

O Governo Federal Brasileiro, no final do século XX, incorporou o

conceito na sua legislação ambiental, mais especificamente no SNUC (Sistema

Nacional de Unidades de Conservação). A definição do SNUC, Lei nº 9.985 de

18 de julho de 2000, Capítulo 1, Artigo 2º, XIX é a seguinte:

Corredores ecológicos são porções de ecossistemas

naturais ou seminaturais, ligando unidades de

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conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de

genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão

de espécies e a recolonização de áreas degradadas,

bem como a manutenção de populações que

demandam para sua sobrevivência áreas com extensão

maior do que aquela das unidades individuais.

O conceito de corredor ecológico esbarra tenuemente no conceito de

hotspots. O conceito dos Hotspots, criado em 1988 pelo Dr.Norman Myers

define os hotspots de biodiversidade como áreas que apresentam uma

diversidade biológica única, com grande riqueza de espécies endêmicas, e que

sofrem graves ameaças de destruição. Em todo o mundo, foram reconhecidos 34

hotspots, regiões que representam 2,3% da superfície terrestre e abrigam 50% de

todas as espécies de plantas e 42% das espécies de vertebrados terrestres do

mundo.

Em conformidade com Klink e Machado (2005), nos últimos 35 anos

mais da metade dos 2 milhões de km2 dos 34 hotspots originais foram cultivados

com pastagens plantadas e culturas anuais.

O Cerrado que também é um hotspost, tem a mais rica flora dentre as

savanas do mundo (>7.000 espécies), com alto nível de endemismo. A riqueza

de espécies de aves, peixes, répteis, anfíbios e insetos é igualmente grandes,

embora a riqueza de mamíferos seja relativamente pequena (KLINK;

MACHADO, 2005).

As taxas de desmatamento no Cerrado têm sido historicamente

superiores às da floresta Amazônica e o esforço de conservação do bioma é

muito inferior ao da Amazônia: apenas 2,2% da área do Cerrado se encontram

legalmente protegidas por unidades de conservação. Diversas espécies animais e

vegetais estão ameaçadas de extinção e estima-se que 20% das espécies

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ameaçadas ou endêmicas não ocorram nas áreas legalmente protegidas (KLINK;

MACHADO, 2005).

No que tange às principais ameaças à biodiversidade do Cerrado,

pode-se citar: a erosão dos solos, a degradação dos diversos tipos de vegetação

presentes no bioma e a invasão biológica causada por gramíneas de origem

africana.

2.1 Importância do cerrado e sua preservação

De fato, são as características particulares desse bioma (citadas no

início deste item) que o tornam importante e especial para o equilíbrio

ambiental, não apenas em escala regional, mas nacional e continental.

Segundo Pimentel (2007, p. 69):

É fácil perceber a importância do cerrado como bioma

de transição entre unidades de paisagem absolutamente

distintas como o Pantanal e a Caatinga, ou mesmo

entre aquelas que apresentam algumas características

de similaridade como as Florestas Tropicais Brasileiras

– Amazônica e de domínio da Mata Atlântica.

Além disso, o cerrado também é de extrema importância para

manutenção do equilíbrio hídrico, já que as especificidades do solo aliadas à

topografia e outros aspectos abióticos fazem com que as grandes bacias

hidrográficas brasileiras tenham seu berço exatamente no Planalto Central

(PIMENTEL, 2007).

Mesmo diante da importância deste bioma, nossa Lei Maior de 1988

não atribuiu ao Cerrado cátedra de patrimônio nacional, o que em muito

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prejudicou essa região em virtude da expansão agrícola. Contudo, atualmente

existem novas propostas para a preservação do bioma Cerrado, como o novo

Código Florestal Brasileiro a ser aprovado em Junho de 2012, citando alguns

temas entre outros, tais como: Reserva legal: Para propriedades que detinham até

quatro módulos fiscais até a data estipulada em 22 de julho de 2008, com

vegetação nativa remanescente em nível percentual inferior ao previsto pela

nova Lei, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação

nativa existente naquela data. Ficam proibidas novas conversões para uso

alternativo do solo. Já em áreas em que houve desmatamentos irregulares de

Reserva Legal ou área correspondente a ela a partir de 22 de julho de 2008, foi

incluída a determinação de prazo de cinco anos para a recomposição. Os

proprietários de imóveis rurais na Amazônia Legal que possuam índice de

Reserva Legal maior que 50% de cobertura florestal e não realizaram a

supressão da vegetação nos percentuais previstos pela legislação em vigor à

época, poderão utilizar a área excedente de Reserva Legal também para

instrumentos previstos no Código, como constituição de servidão ambiental. Os

que desmataram respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela

legislação em vigor à época em que ocorreu a ação ficam dispensados de

promover a recomposição, compensação, ou regeneração para os percentuais

exigidos na nova Lei:

1- Áreas de Preservação Permanente: Para as áreas consolidadas em APPs

ao longo de cursos d’água com até 10 metros de largura, será obrigatória

a recomposição das faixas marginais em 15 metros, contados da borda

da calha do leito regular. Já as propriedades da agricultura familiar e os

que, em 22 de julho de 2008, detinham até quatro módulos fiscais e

desenvolviam atividades agrossilvipastoris nas áreas consolidadas em

APPs ao longo de cursos d’água naturais com largura superior a 10

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metros poderão continuar a desenvolver as atividades. Entretanto, terão

de recompor as faixas marginais correspondentes à metade da largura do

curso d’água. E deve ser observado o mínimo de 30 metros e máximo de

100 metros.

2- Topos de morros: Também considerados APPs. Conforme o novo texto

será permitido o manejo florestal sustentável e atividades

agrossilvipastoris, além da manutenção da estrutura utilizada para o

trabalho em áreas de inclinação entre 25 e 45 graus. Fica proibida a

conversão de novas áreas, com exceção de uso de utilidade pública e

interesse social. Contém ainda autorização para manutenção de

atividades florestais, culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo

longo e infraestrutura dessas ações em áreas consolidadas em APPs nas

quais estão incluídas encostas com declive superior a 45 graus,

equivalente a 100% na linha de maior declive. A medida também é

válida para restingas, manguezais, topos de morros, montes, montanhas

e serras com altura mínima de cem metros e inclinação média maior que

25 graus, em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente

a dois terços da altura mínima da elevação em relação à base. Além

destas, também para altitudes superiores a 1,8 mil metros;

3- Preservação e recuperação de áreas degradadas: Apoio ao

reflorestamento, à conservação e à recuperação florestal de áreas

degradadas ou convertidas, e ao uso sustentável de áreas nativas na

forma de manejo florestal;

4- Cadastro Ambiental Rural: Foi estabelecido o prazo de um ano,

prorrogável uma única vez, por igual período para que seja realizada a

inscrição da propriedade rural. Também foi acrescentada a norma de

que, caso a Reserva Legal tenha sido averbada na matrícula do imóvel,

identificando o perímetro e a localização da reserva, o proprietário não

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será obrigado a fornecer ao órgão ambiental as informações relativas à

inscrição no CAR. Após cinco anos da entrada em vigor da Lei,

conforme item acrescentado no texto, às instituições financeiras oficiais

só concederão crédito agrícola, em qualquer de suas modalidades, para

proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR e que

comprovem sua regularidade aos termos da Lei;

5- Da água para APPs: Estipula que 30% dos recursos arrecadados com a

cobrança pelo uso da água devem ser destinados para medidas

relacionadas às APPs. Além disso, as empresas concessionárias de

serviços de abastecimento de água e de geração de energia hidrelétrica,

públicas e privadas, deverão investir na recuperação e na manutenção de

vegetação nativa nessas áreas, na bacia hidrográfica em que ocorrer a

exploração. Os recursos para os investimentos serão retirados da

Compensação Financeira dos Recursos Hídricos (CFRH).

E uma série de decretos a nível municipal, estadual e federal, tem

gerado elementos para a implementação de ações que visem à conservação e

recuperação da área do Cerrado.

Isso ocorre em virtude do reconhecimento cada vez maior da

necessidade de preservação deste bioma, especialmente a partir da década de 90,

quando o setor público, organizações não governamentais e iniciativa privada

prescreveram propostas de ações emergenciais para o Cerrado, como o

Programa Cerrado Sustentável (PIMENTEL, 2007).

2.2 Ações de preservação

Klink e Machado (2005) destacam que uma das prioridades apontadas

pelo programa Cerrado Sustentável, tanto no nível federal quanto pelo Governo

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do Estado de Goiás, foi à criação e expansão de Unidades de Conservação como

as RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), Reservas Legal e

APPs (Áreas de Preservação Permanente) já com a intenção de se estabelecer

corredores ecológicos como medida de promoção da preservação deste bioma.

Os autores destacam ainda que outras iniciativas foram adotadas como a

inclusão desta questão na formulação da Agenda 21 do Estado de Goiás.

Atualmente, o estabelecimento de corredores ecológicos vem sendo

adotado pelo IBAMA como uma estratégia importante de proteção ambiental e

já são vinte os corredores implementados no país e alguns em fase de discussão

com outros países fronteiriços (PIMENTEL, 2007).

Para elaborar este Trabalho de Conclusão de Curso definido como

artigo foi necessário primeiramente envolvimento com o tema proposto, leitura

crítica dos corredores ecológicos, sendo isto feito através de uma substancial

revisão bibliográfica, demonstrando sua importância na conservação do bioma

Cerrado.

O espaço onde vivemos, indubitavelmente é a mola propulsora para o

desenvolvimento global. Atualmente definir como critérios de desenvolvimento

apenas aspectos econômicos não é mais suficiente, devendo ser considerados os

fatores sociais e ambientais de cada região. E é justamente por isso, que surge a

necessidade de aprofundamento acerca do conceito de desenvolvimento, para se

compreender melhor os problemas existentes em cada região.

No caso do Cerrado brasileiro, Klink e Machado (2005, p. 148)

ressaltam sua degradação acelerada, mostrando que:

Um estudo recente, que utilizou imagens do satélite

MODIS do ano de 2002, concluiu que 55% do Cerrado

já foram desmatados ou transformados pela ação

humana, o que equivale a uma área de 880.000km², ou

seja, quase três vezes a área desmatada na Amazônia

Page 24: Monografia Ufla Pronta

23

brasileira. As taxas anuais de desmatamento também

são mais elevadas no Cerrado: entre os anos de 1970 e

1975, o desmatamento médio no Cerrado foi de

40.000km² por ano – 1,8 vezes a taxa de

desmatamento da Amazônia durante o período 1978–

1988. As taxas atuais de desmatamento variam entre

22.000 e 30.000km² por ano, superiores àquelas da

Amazônia.

Diante desse quadro, é necessário propor ações de conservação para

este bioma, ou seja, é preciso incentivar iniciativas de conservação para essa

região. Para tanto, o aumento e efetivação de uma rede existente de unidades de

conservação, é importantíssima, especialmente no intuito de se estabelecer

corredores ecológicos na região, os quais permitem amortizar as ameaças, tais

como: agricultura intensiva altamente mecanizada, grandes pastagens,

desmatamento, urbanização etc.

O ponto de partida para o alcance deste paradigma é o avanço

sustentável de cada região brasileira. É importante que as ações escolhidas

tenham como fundamento propostas sólidas e eficientes, que sejam vistas como

estratégias de apoio incondicional aos gestores públicos, no sentido de

sustentabilizar o desenvolvimento de seus municípios, bem como de

proporcionar a consciência ambiental de seu povo.

Neste contexto, somente a união entre os órgãos ambientais,

municipais, estaduais, federais, ONG’S e empresas privadas resultará em um

acumulo de informações que visará sistematizar e integrar dados ambientais e

sócio-econômicos do cerrado, possibilitando análises que dão suporte à gestão

ambiental e à tomada de decisões.

Page 25: Monografia Ufla Pronta

24

Esta união de instituições publica e privadas contemplará fornecer

informações atualizadas sobre os ecossistemas, biomas e a biodiversidade dos

estados; referenciar geograficamente atividades e empreendimentos econômicos

passíveis de impacto ambiental; georreferenciar autos de infração e restrições

legais de uso e ocupação do solo, considerando áreas de preservação

permanente, reservas legais, unidades de conservação; integrar informações

geográficas das instituições estaduais e federais que têm atuação ambiental –

CRA (Centro de Recursos Ambientais), Ministério Público, IBAMA, Semarhs

(Secretarias de Meio Ambiente e Recursos Hídricos), Superintendência de

Desenvolvimento Florestal, Biodiversidade e Unidades de Conservação (SFC),

Superintendência de Recursos Hídricos (SRH); referenciar geograficamente os

resultados e ações do Projeto Corredores Ecológicos em toda a região do

cerrado, além de outros projetos socioambientais a serem envolvidos e

coordenados e programar indicadores socioambientais georreferenciados.

Todos esses dados sistematizados poderemos ver resultados que poderão

ser evidenciados em suas três principais linhas de atuação:

1- Licenciamento ambiental: a produção de mapas de restrições ambientais

dos ecossistemas permite avaliar a compatibilidade entre os

empreendimentos, objeto de licença ambiental, e a vocação natural das

unidades territoriais – por exemplo, bacias hidrográficas, áreas de

proteção ambiental, áreas focais do Projeto Corredores Ecológicos, áreas

prioritárias para a conservação identificadas no âmbito do Projeto de

Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica

Brasileira (Probio), do Ministério do Meio Ambiente - onde estes

pretendem ser implantados. A análise desses dados tem potencial para

nortear a tomada de decisão, direcionando também a proposição de

condicionantes à realidade ambiental do empreendimento;

Page 26: Monografia Ufla Pronta

25

2- Fiscalização ambiental: a identificação e o mapeamento de áreas sujeitas

a uma maior pressão antrópica, a compatibilidade do uso e ocupação

atual do solo com a legislação ambiental e os impactos ambientais

registrados fornecem informações relevantes para o planejamento de

operações integradas de fiscalização, reduzindo seus custos e

otimizando seus resultados;

3- Monitoramento ambiental: a análise integrada dos ecossistemas e do uso

e ocupação do solo pode indicar os ativos ambientais que devem ser

monitorados, os parâmetros que devem ser avaliados, os indicadores

socioambientais que devem ser implementados e as estratégias mais

adequadas à execução do monitoramento ambiental.

A legislação brasileira, já em sua carta magna, afirma a necessidade do

agente impactante em recuperar as áreas degradadas. No entanto, é possível

notar diversas discussões a respeito das técnicas de recuperação de áreas

degradadas ultimamente empregadas pelos diferentes agentes degradores do

ambiente. Os métodos empregados e, sobretudo, a eficiência dos mesmos muitas

vezes vêm sendo discutidos. A comparação com a preservação de fragmentos

florestais, atendendo à legislação pertinente às áreas de preservação permanente

tem sido constantemente feita por diversos pesquisadores, no entanto, algumas

considerações a respeito devem ser feitas.

O relatado ao longo do tempo de autores como Barbosa (2006) sobre

o quanto os remanescentes florestais são mais eficientes em preservar a

biodiversidade que áreas recuperadas ou restauradas, nos mostra que apesar de

os métodos levarem a área muito próxima da sua aparência inicial, a diversidade

de organismos vivos ainda não chega a ser a desejada. Nesse sentido,

obviamente, quando possível é melhor que áreas intactas sejam destinadas à

preservação. Essas áreas por diversas vezes apresentam-se fragmentadas, sem

contato umas com as outras, formando verdadeiras “ilhas preservadas”. Os

Page 27: Monografia Ufla Pronta

26

resultados do uso de tal método no que tange respeito à preservação da

biodiversidade têm sido incrementados ainda pelo uso de corredores ecológicos

ligando diferentes ilhas, o que aumenta as interações entre as espécies e,

consequentemente, aumentando a preservação da biodiversidade. Entretanto,

nem sempre o uso dessa técnica é possível. A explicação para isso é simples. Por

diversas vezes não existem mais fragmentos florestais nas áreas exploradas

devido à intensa degradação ambiental ao longo do tempo. Então o que fazer?´

Nesses casos e em outros, como por exemplo em áreas intensamente

degradadas (talvez áreas de mineração sejam o melhor exemplo), a recuperação

faz-se necessária. Técnicas de restauração podem ser aplicadas, mesmo que

tenha um elevado custo de implantação. Entende-se por restauração dar um novo

uso à área, podendo ser revegetada, sendo destinada a áreas de preservação.

Obviamente cada técnica a ser utilizada e também cada uso futuro a ser dado

depende das características da área como a resiliência e resistência. Segundo

Pacheco (2008) a resiliência pode ser entendida como uma mola, definindo a

capacidade da área impactada em retornar, pelo menos, próximo ao que era

antes. Já a resistência representa a capacidade da área resistir ao impacto. Enfim,

a recuperação dessas áreas dependerá da disponibilidade de técnicas e da

capacidade do ambiente, além dos interesses dos atores envolvidos. Por diversas

vezes as técnicas de recuperação apresentam aspectos complicados como a

necessidade de uma verdadeira "construção de um novo solo" ou uso de espécies

exóticas, entre outras. Esses aspectos têm sido frequentemente questionados.

Imaginemos uma situação onde é necessária a contenção de taludes. Outras

vezes o uso de espécies fitorremediadoras é requerido. Faz-se necessário então o

uso de espécies e crescimento rápido e, além disso, que muitas das vezes possam

crescer em condições de fertilidade adversas. Esse fato as torna muito

competitivas e despertam a preocupação com sua disseminação. Como elas se

comportariam se suas sementes se alastrassem por áreas preservadas? Será que

Page 28: Monografia Ufla Pronta

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elas cresceriam em detrimento às espécies nativas? São todos esses aspectos e

muitos outros que ainda necessitam ser melhor entendidos e, consequentemente,

dão margem às discussões e questionamentos, podendo um bom técnico lançar

mão de seu conhecimento para prevenir e escolher os métodos assertivos. Entra

nesse cenário o corredor ecológico, pois ainda que a criação de um corredor

possa ser considerada um projeto ambicioso, os resultados iniciais do Projeto

Corredores Ecológicos dão indícios de viabilidade e de eficiência ao conceito. A

proposta trata os problemas de conservação de forma mais ampla e sob uma

perspectiva multiinstitucional e interdisciplinar, que leva em conta também os

instrumentos de políticas públicas e econômicas na manutenção de paisagens.

Os corredores têm um grande potencial para servir de estímulo à atuação em

rede e à gestão ambiental integrada.

Page 29: Monografia Ufla Pronta

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3 CONCLUSÃO

A bibliografia, na qual se revisou a respeito do tema, teve como

objetivo adentrar em suas definições e características, identificando teorias

elaboradas do assunto em questão. Para isso foram utilizados como fontes:

livros, periódicos, internet, relatórios, publicações de dados e comentários do

próprio autor.

A área de estudo se limita ao bioma Cerrado, no qual, através de

uma revisão bibliográfica, constatou-se a viabilidade da implantação de

corredores ecológicos como elemento capaz de dar sustentabilidade e

preservação da região (Cerrado) em estudo.

Algumas disciplinas eletivas do programa de pós-graduação também

tiveram importância para a elaboração deste trabalho.

Os conceitos definidos nesse trabalho, os autores utilizados e

selecionados para discorrer sobre o tema dão suporte teórico e alavancam a

discussão proposta.

Buscou-se também uma revisão de literatura que contivesse estudos

recentes para que fosse criado uma implementação nas ideias iniciais, pretendeu-

se fazer uma revisão bibliográfica com materiais novos, mas que, além disso,

pudesse contar com mais algum estudo por parte desse autor, em que houvesse

um acréscimo na direção da amplitude do conhecimento deste assunto.

As estratégias utilizadas para a formação de corredores ecológicos

estão focadas na criação de áreas protegidas públicas em áreas-chave na região

do corredor, no correto manejo das áreas protegidas já existentes bem como em

áreas localizadas entre as que já estão protegidas. Deve-se prever a restauração

de ambientes degradados em áreas de interesse para a promoção da

conectividade, de preferência em consonância com os desejos das comunidades

locais. A participação da sociedade deve contemplar a variedade de atores e

Page 30: Monografia Ufla Pronta

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grupos de interesse setorialmente organizados. Nesse sentido, devem também,

serem apoiados os proprietários privados que tenham interesse em destinar suas

terras, total ou parcialmente, para o estabelecimento de reservas privadas,

colaborando para a formação de corredores.

A adoção de ações que fortaleçam a conservação em terras privadas e o

reconhecimento das RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) são

medidas eficazes para a consolidação dos corredores ecológicos, pois garantem a

inserção de fragmentos isolados num planejamento territorial de conservação e

desenvolvimento sustentável.

De acordo com Márcia Regina Lederman (Bióloga, técnica da GTZ -

Agência de Cooperação Técnica Alemã): “Políticas públicas de conservação

devem agregar à sua estratégia as terras privadas, transformando-as em um dos

pilares das ações de implementação de corredores ecológicos”.

As RPPNs têm importância não só pelo papel complementar que

exercem no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),

mas também pela proteção da diversidade biológica, pela conexão entre

remanescentes e por seu valor paisagístico. De caráter perpétuo, a criação das

RPPNs é motivada pela vontade de cada proprietário, sendo ele mesmo o gestor

do espaço destinado à conservação, o que reduz a responsabilidade do Estado e

contribui para o fortalecimento das relações público privado na implementação

do sistema.

Page 31: Monografia Ufla Pronta

30

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