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A OLIVEIRA/ A APANHA DA AZEITONA Embora com a cortiça a ser a principal produção local, a oliveira chegou a ser uma das grandes riquezas da região, embora se continue a afirmar não serem estas terras das mais próprias para a sua cultura. Hoje e no entanto, e quando o azeite se torna cada vez mais fundamental para uma regrada alimentação, a sua produção, é diminuta, o que está bem expresso na atividade na lagareira. MONTARGIL ACÇÃO CULTURAL Boletim em Linha Nº 48 FEVEREIRO DE 2017

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A OLIVEIRA/ A APANHA DA AZEITONA

Embora com a cortiça a ser a principal produção local, a oliveira chegou a ser uma das grandes riquezas da região, embora se continue a afirmar não serem estas terras das mais próprias para a sua cultura. Hoje e no entanto, e quando o azeite se torna cada vez mais fundamental para uma regrada alimentação, a sua produção, é diminuta, o que está bem expresso na atividade na lagareira.

MONTARGIL ACÇÃO CULTURAL

Boletim em Linha Nº 48

FEVEREIRO DE 2017

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Levando normalmente uns vinte anos a fazer, uma oliveira diz-nos um pequeno agricultor, pode ter um século ou mais de vida. Exige, no entanto, um tratamento que hoje, na era da máquina, se torna impraticável. E continua referindo que existindo nesta terra, em grande quantidade, o olival familiar, com pais e filhos a fazerem a apanha ao fim de semana, a azeitona vai ficando no chão porque o jovem desde há muito não está motivado para tarefa. Sendo que não há qualquer rentabilidade se tiverem que recorrer ao pagamento de jornas. Há uns cinquenta ou sessenta anos, as oliveiras eram plantadas em terrenos usados também noutras culturas, nomeadamente no milho, para o que obrigava desde logo um tratamento dos mesmos, sendo para o enfeito cavados, lavrados e por vezes estrumados. O que não se justifica se exclusivamente para o olival. Hoje, o cavar e o lavrar com juntas de bois são coisas que pertencem ao passado, e a máquina não entra nas terras onde normalmente (aqui) a oliveira era plantada (com árvores de viveiros ou de escada) aproveitando-se os períodos após as grandes chuvas. Ontem como hoje, a oliveira necessita de outros tratamentos, de ser esgalhada e mondada. A esgalha, a fazer-se entre fevereiro e meados de abril, de modo a que as geadas não caíam em cima do golpe ainda verde que ficaria ofendido; a monda (o limpar a árvore por dentro de todos os ramos considerados a mais) fazia-se normalmente dois anos depois, não tendo a geada qualquer influência. De referir ainda, que fazendo-se embora e normalmente de cinco em cinco anos, esta pode acontecer num período ocorrido mais dilatado, atingindo por vezes os dez anos. Quando à apanha da azeitona faz-se normalmente em novembro/dezembro, não sendo de esquecer o aforismo de que “quem apanha a azeitona antes do Natal deixa a funda no olival”. Por falar na apanha da azeitona e recuando um tanto no tempo, refira-se que para cada oliveira se tornavam necessário um homem (o avarejador ) e duas mulheres (as apanhadeiras ).

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Então, o homem com um varejão de cinco ou seis metros ia fazendo cair a azeitona para o chão. Posteriormente, e com o aparecimento do pano, passou a usar-se igualmente a escada, e então do cimo da mesma passou a ripar-se (com uma vara aí de meio metro). De referir ainda, que à falta de eucalipto, o varejão podia ser cana-da-índia de ramos de abrunheira. E já que entrámos no campo etnográfico, vejamos os trajos. Homem: safão de pele de cabra (untando), samarra de pele de ovelha (ou jaleca velha), uma saca pelos ombros, carapuço, e tamancos ou botas cardadas. Mulher: ceroula, xaile pelas costas (dobrando e atado ao pescoço), lenço e chapéu.

Acordo Ortográfico gera

“aberrações”, “caos ” e

“insólitas incoerências”

23 Jan, 2017 - 07:53

RÁDIO RENASCENÇA

Manifesto contra o acordo diz que “o processo de entrada em vigor do AO90, nos Estados lusófonos, começou por ser um golpe político”.

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O manifesto dos “Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” (AO90), divulgado esta segunda-feira, contesta o “critério da pronúncia” adotado, que “gerou aberrações” e afirma que “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”. O manifesto, que é dirigido ao chefe de Estado, ao parlamento e ao Governo, a juízes dos tribunais, “aos portugueses, funcionários públicos, escolas públicas, particulares e cooperativas, respetivos professores e alunos, universidades, editoras e autoridades administrativas independentes”, afirma que “o processo de entrada em vigor do AO90, nos Estados lusófonos, começou por ser um golpe político”. Os subscritores lembram que Angola e Moçambique, “os dois maiores países de Língua Portuguesa a seguir ao Brasil”, “nunca o ratificaram”, enquanto Portugal, Brasil e Cabo Verde “o mandaram ‘aplicar’ obrigatoriamente”. O manifesto, assinado por mais de uma centena de personalidades, como António Barreto, Carlos Fiolhais e António-Pedro Vasconcelos, é também dirigido à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa, à Academia das Ciências de Lisboa, ao Instituto de Linguística Teórica e Computacional e ao Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, à Imprensa Nacional – Casa da Moeda “e a todas as restantes entidades públicas e privadas”. Referindo-se ao “critério da pronúncia”, os signatários citam alguns exemplos, no tocante às consoantes mudas, defendendo que “o AO90 criou arbitrariamente centenas” de entradas de dicionário, “até aí inexistentes em qualquer das ortografias", como “conceção” por “concepção”, “receção” por “recepção”, “espetador” por “espectador”,

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que geraram “confusões semânticas: “'conceção de crédito', ‘receção económica’ ou ‘espetador de cinema’” são exemplos. “No entanto, pela mesma lógica, o AO90 deveria começar por cortar a mais ‘muda’ de todas as consoantes: o “h” inicial. O que não fez”, realça o texto também assinado por Helena Buescu, Joaquim Pessoa e João de Freitas Branco. Segundo o documento, o AO90 “estabeleceu 17 normas que instituem duplas grafias ou facultatividades, assentando num critério que se pretende de acordo com as ‘pronúncias’”, dando como exemplos “corrupto” e “corruto”, “ruptura” e “rutura”, “peremptório” e “perentório”. No caso de “’óptico’ (relativo aos olhos), com a supressão da consoante ‘muda’ ‘p’, passou a ‘ótico’ (relativo aos ouvidos), o que cria a confusão total" entre especialistas e público, "que deixam de saber a que órgão do corpo humano”. Mais "arbitrariedades" Em Portugal, para os subscritores do manifesto, como Constança Cunha e Sá e Eugénio Lisboa, “a eliminação sem critério das consoantes ‘c’ e ‘p’, ditas ‘mudas’, afasta as ortografias do português europeu e do Brasil”, tendo ainda criado “desagregações nas famílias de algumas palavras”. Salienta o texto que estas “desagregações” provocam “insólitas incoerências”, como “Egito” e “egípcios”, produtos “lácteos” e “laticínios”, os “epiléticos” que sofrem de “epilepsia” ou o “convector” que opera de modo “convetivo”. "O facto de as facultatividades serem ilimitadas territorialmente", acrescenta o manifesto, "conduz a uma multiplicação gráfica caótica”, como acontece com "‘contacto’ e ‘contato’, ‘aritmética’ e ‘arimética’". “O curso universitário de ‘Electrónica e Electrotecnia’ pode ser grafado com 32 combinações diferentes", cita o documento, como exemplo "manifestamente absurdo”. “A confusão maior surgiu entre a população que se viu obrigada a ter de ‘aplicar’ o AO90, e passou a cortar ‘cês’ e ‘pês’ a eito, o que levou ao aparecimento de erros”, como “batérias”, “impatos”, “ténicas”, “fição”, “adatação”, “atidão”, “abruto” e “adeto”, "além de cortarem outras consoantes, como, por exemplo, o ‘b’ em ‘ojeção’, ou o ‘g’ em ‘dianóstico’”. Os subscritores, como Helena Roseta, José Pacheco Pereira e Januário Torgal Ferreira, afirmam que, no uso de maiúsculas e minúsculas, “o caos abunda” e é “caótica “a forma como se utiliza o hífen": “guarda-chuva” e “mandachuva”, “cor-de-rosa” e “cor de laranja” são alguns exemplos.

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“Entre outras arbitrariedades, a supressão do acento agudo cria situações caricatas. A expressão popular: ‘Alto e pára o baile’, na grafia do AO90 (‘Alto e para o baile') dá origem a leituras contraditórias", e a frase "Não me pélo pelo pêlo de quem pára para resistir” fica incompreensível, adianta o documento. “Para ‘compensar’ o desaparecimento da consoante ‘muda’ e evitar o ‘fechamento’ da vogal anterior, imposto pelo AO90, na escrita corrente, surgem aberrações espontâneas como a colocação de acentos fora da sílaba tónica”, como “’correção’ escrito ‘corréção’, ‘espetaculo’ corrigido para ‘espétaculo’ ou mesmo ‘letivo’ que passa a ‘létivo’”. Um “caos ortográfico” que se reflete nos vários dicionários, corretores e conversores, consideram os subscritores do manifesto.

MEMÓRIAS

Aplauso para as pessoas que renovando a frontaria da sua casa,

deixaram como “documento histórico” a argola que servia para

prender o/s burro/s

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CRÓNICAS

A canela

Canela em pó

A canela é, possivelmente, a especiaria mais conhecida desde a antiguidade

e também a mais popular nos nossos tempos. A sua versatilidade permite

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juntá-la com quase tudo! Conhecida desde sempre, é citada na Bíblia

quando Deus ensina Moisés a colocar a canela nos leitos nupciais para

perfumar. Sabe-se que também na antiguidade a canela era um dos artigos

que fariam parte de oferendas a monarcas daquele tempo. Era, portanto,

um produto de elite como foi para nós até ao século XVI. A canela terá

chegado ao Médio Oriente trazida pelos comerciantes e navegadores

fenícios. Mas também entra na mitologia. Na obra “As mil e uma noites”

Sheherazade relata uma lenda sobre a origem da canela, sendo que ela terá

crescido no solo de um lago secreto!

Quanto à origem do nome, há várias correntes. Uns afirmam que virá do

indonésio kayu manis, que significa madeira doce. Em hebreu chama-

se quinnamon e em grego, kinnamon. De facto, o nome genérico é em

latim cinnamomun e idêntica forma de se chamar também em inglês.

Paus de canela

Consta que os mouros que viviam nos espaços que são hoje Portugal e

Espanha já comercializavam a canela como um produto raro, e se

apresentavam em feiras. Gil Vicente (1465-1536) apenas a cita uma vez e

no Auto da Índia. Já Roberto de Nola no seu livro “Libre del Coch” (1525?)

inclui a citação de canela cento e vinte e cinco vezes. Sabe-se pouco deste

chefe de cozinha que trabalhou para D. Fernando I de Aragão (1423-1494)

sendo conhecidas várias edições do livro no século XVI, sendo uma em

catalão e outras em castelhano. Quando Vasco da Gama chegou a Ceilão o

cheiro da canela, estontearam e agradaram aos portugueses, segundo

Garcia da Horta. Sara Golbaz & Hellmut Wagner, no livro “Les épices et leur

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secrets” (2016) escreveram que a canela é possivelmente uma das mais

antigas especiarias do mundo. Na Ásia era já muito apreciada 3000 aC. Mas

foi Vasco da Gama que a trouxe para a Europa em 1502. Por isso não é de

estranhar que a canela seja fundamental nos pães de especiarias, na

preparação do caril indiano, no garam masala, e até no próximo ras-el-

hanout de Marrocos. Fábio Pestana Ramos (2004) refere que Vasco da

Gama já trazia canela quando chegou a Lisboa em 18 de Setembro de

1494…!

Galinha mourisca medieval

São vários os autores que, não sabendo exatamente a origem da canela,

escreveram como Heródoto (485-420 a. C.) este texto extraordinário: para

colher canela era preciso vestir um traje de corpo inteiro feito com couro

de boi, cobrindo tudo exceto os olhos. Somente assim a pessoa estaria

protegida das criaturas aladas semelhantes a morcegos que gritam

horrivelmente e são muito ferozes…. É preciso impedir que elas ataquem

os olhos dos homens enquanto eles cortam a canela…. Ignora-se por

completo em que país ela cresce. Dizem os árabes que os paus secos que

chamamos de canela são trazidos à Arábia por grandes aves, que os

carregam para seus ninhos feitos de barro localizados sobre precipícios que

nenhum homem é capaz de galgar”Também Heródoto escreveu que para a

mumificação dos defuntos, os egípcios, usavam mirra, canela e outros

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aromas. Talvez por isso, haja a expressão popular no Egito: aqui até os

mortos cheiram bem! Teofrasto (370-286 aC) escreveu o que considerou

uma fábula para explicar o aparecimento da canela. Esta crescia em vales

estreitos e profundos onde haveria imensas serpentes de mordedura fatal.

Para a apanhar protegiam as mãos e os pés antes de descer…

Tortas de S. Martinho ou de Penafiel

Segundo José -Marie Pelt, em “Especiarias & Ervas Aromáticas” (2003), a

tradição da canela é muito antiga e considerada uma produto de prestígio.

A importância das especiarias era tão importante que na Babilónia,

Nabucodonosor, apreciava os pratos e vinhos com especiarias. Refere

ainda que quando Alexandre, o Grande, entra na Pérsia, descobre no

palácio de Dario II não menos de duzentos e setenta e sete cozinheiros e

numerosos escravos exclusivamente dedicados às especiarias. As árabes

também utilizavam as especiarias e em particular a canela, o cravo-da-índia

e a noz-moscada. O vinho acanelado era de consumo corrente e, nós, ainda

hoje colocamos paus de canela nas sangrias. Até à Idade Média a canela era

um produto caro e de muito prestígio, que decaiu com a chegada dos

portugueses a Ceilão, atual Sri Lanka, e gradualmente o seu preço vai

baixando.

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Aletria

É importante referir desde já o aparecimento de um produto semelhante à

canela, cássia, que é produzida na China e na antiga Birmânia, atual

Mianmar, e que se apresenta em fragmentos mais densos e mais

rugosos. Analisados em paralelo, a canela do Ceilão, como é mais conhecida

e que cresce de forma espontânea, tem um perfume e um sabor mais

delicado do que a popular canela da China. No mercado também se

reconhecem pelo preço, sendo a do Ceilão mais cara.

Arroz-doce

As definições de canela em enciclopédias ou dicionários é muito

simples: casca de árvore chamada caneleira, de aroma e sabor agradáveis,

usada (em pó ou fragmentada) em terapêutica, perfumaria, doçaria e como

condimento (Dicionário Porto Editora). Há, no entanto, no Dicionário dos

Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (1994) uma definição mais

alargada escrevendo que:Esta casca de laureácea… é um fortificante

tradicional da farmacopeia chinesa. Por isso é utilizada nos métodos

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taoistas que visam a purificação dos corpos… a canela é o alimento habitual

dos imortais… a caneleira é, por simples homofonia, símbolo de nobreza e

honrarias.

Bolinhos de arroz

À canela são atribuídas características que ajudam em várias terapias.

Geralmente considerada como uma substância aromática, estimulante e

antisséptica. Parece atuar com sucesso no aparelho digestivo, e particularmente

contra gases, a flatulência e contra o vómito. No século XVII e com receituário

de William Westmacott (1694), parece que aliviava a fortes dores de parto.

Também parece atuar e atenuar os sintomas de constipações, gripe, resfriados

e inflamação de garganta. A Associação de Medicamentos dos Estados Unidos,

sugere a utilização diária da canela para reduzir o açúcar no sangue e melhora

a taxa de colesterol! Boa para diabéticos.

A utilização na nossa cozinha está a cair em desuso, mas mantendo-se em alta

na doçaria. A partir do século XVI era hábito, em mesas ricas, polvilhar as carnes

com canela. Desse tempo resta-nos ainda a galinha mourisca. Lembro-me de

nos anos 80, próximo de Ponta Delgada (Açores) me servirem uma excelente

carne bovina assada que no final foi polvilhada com canela. Temos ainda o

famoso pato com canela cuja designação é Fricassé de pato com canela, receita

de casas abastadas em Trás-os-Montes. Com canela também se polvilham, no

final, as Tortas de S. Martinho ou de Penafiel.

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Marmelos assados com canela

Interminável é a utilização da canela na nossa doçaria popular ou regional

ena doçaria rica ou conventual. A canela é presença obrigatória no arroz-

doce e na aletria. Como é poderosa na confeção da Bola doce mirandesa, e

entra nos económicos, em muitos., no Bolo de canela, no Bolo

centeio, no Bolo de mel da Madeira, nas Donas Amélias…, na Palha de

Abrantes, no Pudim Abade de Priscos… como é presença obrigatória na

mesa de doces natalícios ou na calda dos Sonhos, dos Bolinhos de Arroz, das

Rabanadas… ou ainda para cozer ou assar mação ou marmelos. Não

dispenso canela em pó para consumir pasteis de nata.

Deixei para o final uma sugestão: muitas vezes com o café servem-nos um

pau de canela (para substituir a colher?). Tenho pena da utilização abusiva

pois a forma como utilizam o pau de canela praticamente não transmite

qualquer sabor ao café. Para isso, devem partir o pau no sentido

longitudinal e assim criar arestas vivas que irão, agora sim, transmitir gosto

ao café. Vejo inutilizar tantos paus de canela sem benefício que me apetece

apelar ao bom senso e não destruir tanto. E, se gosta mesmo de canela,

polvilhe com ela o seu chá ou o seu café.

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Pau de canela aberto

Café com pau de canela aberto

© Virgílio Nogueiro Gomes-----Site do autor)

*Fotos de canela em pó, paus de canela e café, cortesia do Hotel Oásis Imperial

em Fortaleza

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Da GUARITA

Observatório de ASTRONOMIA

Colaboração do PORTAL DO ASTRÓNOMO

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Porque é que as estrelas pesadas têm tanto gás à sua

volta? José Saraiva 28 Dezembro, 2016 -

Alguma vez acordaram antes da madrugada num dia frio e enevoado?

Normalmente, o nevoeiro desaparece pouco depois do nascer do Sol, já que

a luz e o calor o fazem dissipar-se. E se o nosso Sol fosse mais quente e mais

brilhante, o que acham que aconteceria? Com certeza que o nevoeiro se

desvaneceria ainda mais depressa.

As estrelas recém-nascidas apresentam-se frequentemente rodeadas por

discos de gás e poeira – como que envoltas numa espécie de “nevoeiro

cósmico”. Os astrónomos julgavam que estes discos desapareceriam mais

depressa nos casos de estrelas quentes e brilhantes, como acontece com o

nevoeiro na Terra. Surpreendentemente, parece que as coisas não se

passam assim.

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Os discos que acompanham um grupo de 24 estrelas jovens têm sido objeto

de estudo apurado. Em três deles, foram encontradas grandes quantidades

de gás. O que é realmente estranho é que estes discos com gás rodeiam as

maiores destas estrelas – cada uma delas com o dobro da massa do Sol.

Estas estrelas são também muito mais quentes e brilhantes do que o Sol. As

estrelas mais pequenas, menos brilhantes e mais frias, têm discos de

poeira, mas de

onde o gás parece

estar ausente.

Isto é

precisamente o

contrário do que

seria de esperar.

A origem de todo este gás não é clara. Pode ser que estas estrelas pesadas

não tenham conseguido afastar o gás tão bem como se pensava. Ou que

sejam cometas os responsáveis pela existência deste componente.

Sabemos que por vezes os cometas contêm o tipo de gás que se encontra

nestes discos.

A verdade é que este novo mistério pode acabar por apontar a solução para

outra questão ainda por resolver na ciência do universo – o nascimento de

planetas gigantes gasosos. Se os discos em volta destas estrelas maciças são

capazes de conter tão grandes quantidades de gás durante tantos milhões

de anos, há mais tempo para que os planetas deste género (como Júpiter

ou Úrano) se possam formar.

Facto curioso: Para lá dos quatro gigantes gasosos do nosso Sistema Solar

(Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno), já foram encontrados mais de 1000

outros em órbita de estrelas distantes.

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ESPAÇO Religiões

Entrevista concedida ao Jornal Correio do Ribatejo, de Santarém, acerca do "Manifesto contra a vinda do Papa a Fátima" em 2017.

Aurélio Lopes - O bispo da Diocese de Leiria/Fátima afirmou que a petição contra a visita do papa à comemoração do centenário das aparições não lhe tira o sono. Não conheço a dificuldade do Bispo de Leiria para cair, quotidianamente, nos braços de Morfeu. Mas acredito que, de qualquer maneira, não perca o sono por isso. Aliás, assumida como algo “contra”, esta é uma ação que provavelmente só favorecerá a Igreja. E a fará desempenhar, mesmo que passivamente, o papel de vítima.

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Suponho que não é isso que se pretende, mas… tenderá sempre a criar uma certa ideia de intolerância. - Mas, qual a sua opinião sobre o referido manifesto?

Simplesmente, a seguinte: qualquer pessoa tem o direito de ser crente: cristão, hindu, muçulmano, confucionista ou afim. Qualquer crente tem o direito de acreditar num qualquer dogma, episódio taumatúrgico, hagiológico ou pressuposto metafisico; doutrinário ou não. E, naturalmente, de assentar, aí, o seu foco devocional. Qualquer conjunto de crentes tem o direito de se organizar. De realizar os seus cerimoniais. De convidar, quem quiser, a partilhar os mesmos. Mais, ainda, se for o seu líder institucional e espiritual. - Mas, sendo este um Papa que se tem apresentado como progressista não era de esperar que tivesse outra postura?

Ser um papa que vem caracterizando o seu pontificado por ideias bem menos conservadoras (incidindo, afinal, em situações sociais que o liberalismo atual tornou particularmente desfasadas do conservadorismo doutrinário cristão), não implica que o mesmo possua qualquer posição diferente da “entourage” católica no que respeita a Fátima. Primeiro, porque Fátima é hoje a grande vanguarda das ações pastorais (e não só) da Igreja, corporizando, no culto da Senhora de Fátima, uma singular experiência cultual universal. Segundo porque, tanto os fenómenos de Fátima como qualquer outro dogma católico, assentam em pressupostos de consagração que se baseiam, quase estritamente, na fé; sendo, naturalmente, exteriores a qualquer eventual necessidade de autenticação científica. Insuscetíveis, assim, da sua validação. Logo, da sua invalidação. Deste modo, as interpretações científicas, nesta área do pensamento, não são partilhadas, (nem poderão ser), pelos cristãos; seja o mais humilde dos crentes, seja o próprio sumo pontífice. Pouco sensíveis afinal (de diferentes modos mas idênticas naturezas) a outras formas de entender a realidade. - Poder-se-á dizer que se exige uma discussão pública dos milagres de Fátima?

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Estudar Fátima pode ter como resultado diversas conclusões naturalmente diferentes daquelas que a Igreja partilha. Foi aliás o que (dir-se-ia, inevitavelmente) aconteceu com o estudo que realizei “Videntes e confidentes; Um estudo sobre as aparições de Fátima”. Discutir os testemunhos, razões, ambientes, condições políticas, implicações sociais e psíquicas, enquadramentos culturais (e por aí adiante) podem e devem fazer-se. E, aliás, têm-se feito pouco. Não existem, afinal, assuntos tabus. Agora discutir os “milagres”… Poder-se-á até dizer, em rigor, que os milagres não se discutem! Face às condições atrás citadas (ou outras) interpretam-se cientificamente ou assumem-se intuitivamente como algo que está para lá (ou, se quisermos, para cá) das análises metodológicas e científicas. Apenas isso! Podemos até ensaiar argumentos de uma e outra razão e sustentação. É sempre contudo, em grande parte, uma conversa de surdos. São outras formas de perceção. Mais intuitivas, mais emocionais; às vezes psicossomáticas. Não são confrontáveis com as validações dos padrões culturais que a ciência estuda. E vice-versa. - Seja como for, acha que a vinda deste Papa, hoje, a Fátima, se justifica?

É algo que devemos perguntar aos católicos. Por mim, não vejo porque não. É o centenário daquilo que, para a Igreja é, hoje, o “grande altar do mundo”. Por menos, já outros nos visitaram. Agora, o que eu acho, sim, é que não nos compete intrometer na vida de uma organização religiosa (privada, esclareça-se) que, como é natural, assenta (como todas as outras) os seus pressupostos doutrinários em acontecimentos (episódicos ou não) interpretados taumaturgicamente e, naturalmente, suportados pela fé. Na verdade, as aparições de Fátima não são, em rigor, “imperativos de fé”; leia-se dogmas essenciais de fé. Mas para muito boa gente, neste mundo, funcionam como tal.

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E todos os crentes católicos (como todos os outros; cristãos ou não) devem-nos merecer o maior respeito. É que a nossa sociedade não funciona (em nenhuma dimensão, esclareça-se) apenas na vertente científica. Muito longe disso. É um facto que, nela, a ciência vem adquirindo prestígio acumulado. Mas isso não impede que a maioria esmagadora da população mundial se continue a assumir como crente. Desta e doutras religiões. - Pode dizer-se que Fátima é resultado de um logro orquestrado pela Igreja?

Suponho que não! Pelo menos não foi essa a conclusão a que cheguei quando a estudei. Acho que se tratou, sim, do natural aproveitamento de um dos inúmeros fenómenos de visionação/alucinação que surgem preferencialmente em épocas de grande dramatismo social e político como aconteceu, precisamente, no início de novecentos, com a participação de Portugal na Grande Guerra e com o conflito entre a Igreja e o Governo Republicano. Agora, mais importante que isso, é perceber-se que (desde que canonizados) não existem dogmas ou episódios transcendentais falsos em qualquer religião. Por definição, são todos verdadeiros. Porque são sagrados e, em última instância, fruto da ação e vontade de Deus. Isto na perspetiva do crente; como não podia deixar de ser. Dito de outra maneira: mesmo que consideremos, um dado caso, como um embuste ou orquestração (e independentemente das intenções manifestas e das consciências em presença) a partir do momento em que o mesmo é aceite como sagrado/divino torna-se, literalmente, verdadeiro. E pode passar a constituir-se como foco operativo devocional e divinatório. Como uma erupção do sagrado na teia social do profano. Uma hierofania; se não, uma epifania divina.

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Mais ainda: sem citar exemplos para não ofender ninguém, é quase inevitável que os grandes dogmas religiosos (desta, como de qualquer outra religião), assentem em fundamentos bem mais frágeis, ainda, que os de Fátima! Apenas são mais antigos, estão já prestigiados pela tradição, integrados doutrinariamente e adequados por uma hagiologia milenar. Tornaram-se verdades absolutas que enformam os nossos referenciais místicos e míticos e que hoje não podemos e, em grande parte não queremos, questionar. Afinal, a possibilidade de os analisar de uma forma minimamente sistemática é agora, por razões óbvias, praticamente nula. Pois, deles não temos acesso aos documentos originais (nem nada que se pareça) ao contrário do que, apesar de tudo, acontece com Fátima. - Mas os subscritores do manifesto falam em enganar o povo? Não gostaria de factualizar a questão mas, o argumento de “engano do povo” pode, como dissemos, ser afeto a todos os dogmas religiosos (considerados, esses sim, como imperativos de fé) desta ou de outra qualquer religião. A nossa opinião sobre isso é naturalmente respeitável mas, é apenas isso; uma opinião. E se o nosso critério forem os imperativos da ciência, estes devem ser considerados como “um” critério; não “o” critério. Se “o” fosse, então todos os fundamentos de qualquer religião considerada seriam, inevitável e obrigatoriamente, postos em causa. Mesmo que não cristãos! E, se cristãos, mesmo que exteriores a Fátima. A este nível percepcional (volto repetir) as razões da ciência não são aplicáveis. A não ser, por exemplo, as razões das ciências sociais como a antropologia do sagrado ou a sociologia das religiões. Mas, a estas, não compete fazer juízos de valor sobre as sustentações doutrinárias mas, sim, conhecer os tempos e os modos das construções e evoluções dos sistemas religiosos.

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- Acha que persiste um conflito entre a ciência e as religiões?

Já houve bem mais. Persistirá sempre, claro. Mas hoje (no nosso país, esclareça-se) vivemos numa sociedade, cujo senso-comum é claramente de tolerância; pelo menos como pressuposto. Como cientista social defendo, naturalmente, um incremento crescente da ciência. Mas, igualmente, o direito de cada um acreditar naquilo que considera mais adequado. Sem pressões, nem paternalismos. E, convenhamos, prefiro uma sociedade multivalente a uma estritamente homogénea. Afinal, as religiões cumprem papéis sociais e psicossociais bastante importantes para muitos. E até porque, podendo hoje a ciência, sustentar técnica e digitalmente, grande parte das atividades humanas, nem sempre (como os últimos tempos têm mostrado), é suficientemente dotada de um necessário e suficiente humanismo. Diria mesmo mais; tenho muitas dúvidas que um hipotético (e, naturalmente, improvável) desaparecimento das religiões, gerasse uma sociedade melhor. Tenderia, de alguma forma, a constituir-se uma ditadura do pensamento científico. E ditaduras, sejam elas quais forem, é algo que dispensamos.

- Se tivesse que deixar uma ideia final sobre este assunto, o que diria?

Tentaria resumir o aspeto essencial do mesmo, de forma o mais simples possível. Considerando que, se a defesa de um pressuposto dogmático (naturalmente não compatível com a dúvida metódica e a racionalidade analítica associada) constituir um logro, então toda a Igreja e todas as organizações religiosas (assentes que são nos mais diversos dogmas, feitos doutrina ou não) terão de ser sujeitas à mesma depreciação.

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Contudo, como já foi dito, a perspetiva analítica e metodológica constitui, apenas, uma forma de ver o Mundo. Eventualmente mais avançada. Se quisermos, esclarecida. Mas, com certeza, não absoluta. E não, necessariamente, mais legítima e respeitável que a perspectiva de um qualquer crente. Afinal, nas sociedades humanas, nem todo o saber assenta nas razões da razão. Alguns suportam-se em razões de inspiração, pressentimento e intuição. Vistas, facilmente, como místicas e iluminadas. (AURÉLIO LOPES— ESFINGE DE BRONZE)

COSTUMES E TRADIÇÕES

O Entrudo A origem do Carnaval remonta a tempos ancestrais, tendo chegado aos

tempos modernos ocupando todo um período de tempo

imediatamente anterior à Quaresma. Vai do dia de Reis até quarta-feira

de Cinzas, sendo os de maior relevo os três dias que vão de domingo-

gordo até terça-feira de Carnaval. Não tem data fixa, dependendo do

tempo da Páscoa.

Ins

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Com o cristianismo, também o Carnaval se difundiu pela Europa. Em

Portugal, os respetivos festejos chegaram a atingir significativa

desordem, o que levou a diversas medidas restritivas.

Em Montargil, o Entrudo (esta a sua designação portuguesa) possuiu um

certo cunho local, nomeadamente no tempo do Pinta Santos (um

verdadeiro artista), pedreiro de profissão1 e do senhor Albertino,

(carpinteiro e natural de Galveias), ambos aqui radicados. Era o tempo

das contradanças e do teatro de rua.

Quanto às primeiras, não conseguimos saber a origem das danças e das

músicas, talvez da autoria dos organizadores. Já o teatro de rua, era um

teatro cantado, género de opereta; com os artistas transportando os

cenários e todo o material, e deslocando-se, inclusivamente, pelos

diversos lugares da freguesia.

Também aqui não nos souberam dizer a origem dos textos, e registe-se

que se trata de uma pesquisa de 1978, com alguns participantes ainda

vivos, sabendo-se no entanto que os textos se intitulavam,

respetivamente, o rei da bambochadas e os sapateiros.

Do primeiro dos textos, subsiste apenas a seguinte quadra

Sou o rei das bambochadas

já não tenho prata nem ouro.

Em festas e fantochadas

gastei todo o meu tesouro.

Todos os anos se apresentavam títulos renovados. Só participavam

homens, já que às mulheres isso estava vedado.

1 E que se julgava ser dos lados do Ribatejo.

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Pelo Carnaval também era apresentado o batuque e a dança do mastro.

Esta, seria posteriormente apresentada, décadas depois, pelo Café

Arado e uma ou duas vezes pela Ti Maria, de Vale de Vilão.

Nos campos, trabalhava-se até domingo gordo, na véspera do qual o

pessoal regressava a casa.

Era talvez a época mais festejada desses tempos. Todos os dias se

bailava e cada casa estava sempre com a mesa posta para receber os

amigos. No domingo gordo, os pastores e os ajudas que todo o ano

viviam na charneca, vinham à Vila e, para no regresso fazerem a festa,

compravam bichas, bombas e serpentinas.

Mais tarde, aí pelos anos cinquenta/sessenta, deitavam-se as

caqueiradas, um costume algo perverso, que sujava as casas de cacos e

outras porcarias. Mas com a queima dos amigos e depois das amigas,

(que pouco se fazia), a festa começava sempre a partir da

quarta/quinta-feira e intensificava-se com a queima dos compadres e

das comadres, que eram verdadeiras batalhas.

Para queimar os compadres as raparigas faziam-no de uma janela ou de

um terraço alto, para que os rapazes não chegassem ao boneco.

Rapazes que no entanto algumas vezes descobriam onde elas o tinham

guardado, roubavam-no e davam voltas à rua exibindo o mesmo. Por

sua vez e para queimarem as comadres, os rapazes davam volta às ruas

com a boneca a arder. Era então a vez das raparigas atirarem água das

janelas e, por vezes, urina: que era Carnaval e supostamente não

pareceria mal.

Também pelos anos cinquenta, o grande acontecimento era, na quarta-

feira de cinzas, o enterro do entrudo. Muita gente acompanhava o

boneco estendido numa padiola, e seguindo pela Banda de Música. À

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frente o padre e, junto ao corpo, seguia a carpideira. Era então,

enquanto se caminhava, que se ia lendo o testamento, o qual constava

sempre de acintosa crítica social dirigida a figuras da terra.

Dizem-me que não eram ofensivas, mas a verdade é que este ciclo do

enterro, terminou mal, já que alguém que vinha num carro, mesmo

frente ao Posto da GNR pediu ao motorista que se atirasse para cima do

pessoal. E eu, que era muito novo e ia na Banda, na última fila, fui um

dos que ficou sentado na frente do carro.

Penso eu, não ter sido com intuitos homicidas mas, tão somente, para

amedrontar. Mas que foi altamente condenável e diz bem da liberdade

existente na altura, isso diz.

Semelhantes eram (só agora o sabemos) até há setenta anos,

igualmente o Entrudo nos montes da nossa freguesia. O que confirma a

profunda ruralidade de Montargil.

Os montes de que me falaram, então muito habitados, eram o

Embarbês e a Aldeia das Sebes, sendo que para o primeiro convergiam

gentes de Vale de Ruana, Morenos e Sagolga. Os divertimentos eram as

contradanças e a queima dos compadres e das comadres. Nas

contradanças em que participavam dos netos aos avós, usavam arcos,

vestiam de igual e tinham coreografia. Era, diziam-me, uma espécie das

marchas populares de hoje. Na queima das comadres fazia-se uma

procissão conduzindo o boneco numa padiola a servir de andor. Na

queima dos compadres invertiam-se os papéis e era uma procissão de

mulheres.

Claro que no final, o compadre ou a comadre eram sempre queimados.

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O oceano e o clima

19-04-2015 Catarina Leote

Alterações climáticas? Aquecimento global? Efeito de estufa? Cheias?

Tornados? Todos estes termos povoam cada vez mais os nossos telejornais,

mas o que significam realmente? E haverá alguma relação entre eles e o

oceano?

Ao contrário da Lua, a Terra possui uma atmosfera bem definida que lhe

permite reter calor através do famoso efeito de estufa (Figura 1). Enquanto

que na Lua as temperaturas diárias variam entre os -233 e os 123°C, na

Terra as temperaturas variam em média entre os -50 e os 50°C. Ao incidir

na Terra, a radiação solar aquece a sua superfície. Contudo, parte desta

radiação é reemitida para o espaço. Sem atmosfera, a retenção de calor

seria limitada e, na ausência de incidência solar, o planeta arrefeceria

muito. São gases atmosféricos como o dióxido de carbono (CO2), o óxido

nitroso (N2O), o metano (CH4) e o ozono (O3), bem como o vapor de água,

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que absorvem uma grande parte da radiação e a emitem de volta para a

superfície da Terra, retendo assim o calor no planeta de forma semelhante

ao vidro numa estufa. Apesar do clima da Terra depender de fatores como

a atividade vulcânica, os ciclos solares ou tectónica de placas, dados

científicos dos últimos anos parecem apontar cada vez mais para o impacto

do Homem no aumento das temperaturas médias (o aquecimento global),

devido ao uso intensivo de combustíveis fósseis (petróleo, carvão) como

fonte de energia, cuja queima resulta na libertação de grandes quantidades

de gases causadores de efeito de estufa. O aumento da temperatura

significa que existe mais energia disponível na atmosfera para desencadear

fenómenos extremos como tempestades e tornados, cuja intensidade e

frequência têm vindo a aumentar.

Figura 1. Esquema ilustrativo do efeito de estufa. Crédito: Shutterstock

O oceano cobre cerca de 70% da superfície do planeta e desempenha um

papel fundamental no clima do planeta. Como a água tem capacidade de

absorver e reter muito mais energia do que a terra, os oceanos absorvem

muito mais energia solar do que os continentes. Como a massa de água

oceânica está em constante movimento, essa energia vai ser transportada

ao longo do planeta. Assim, a energia absorvida entre o equador e os

trópicos, onde a incidência solar é maior, vai ser transportada para as

regiões polares, “aquecendo-as”. Este transporte de energia a larga escala

é feito através de correntes oceânicas geradas pela ação do vento, da maré

e por diferenças de densidade como é o caso da circulação termohalina que,

tal como o nome indica, resulta de diferenças de temperatura (termo) e

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salinidade (halina) (Figura 2). Usando como exemplo o oceano Atlântico, na

região equatorial, devido à maior intensidade solar, a água do mar é

relativamente quente à superfície e salina, devido à evaporação mais

intensa. Ao circular para norte, devido ao movimento de rotação da Terra,

a massa de água vai transportar calor para o norte da Europa que apresenta

temperaturas relativamente amenas quando comparada com a costa dos

EUA e Canadá localizada a latitudes semelhantes. Ao avançar para norte, a

massa de água salina vai arrefecendo, aumentando assim a sua densidade

e acabando por “mergulhar”. Torna-se então numa corrente profunda que

vai cruzar o oceano, aflorando à superfície nas regiões do Índico e Pacífico,

onde integra novamente a corrente de superfície.

Figura 2. Circulação Termohalina percorrendo o oceano global. Crédito: WikiMedia Commons

A circulação termohalina é essencial na regulação do clima global.

Estudos paleoceanográficos já relacionaram alguns eventos de glaciação

(período frio) e interglaciação (período quente) com alterações na

intensidade da circulação termohalina, com uma circulação menos intensa

(menor transporte de calor para os pólos) a favorecer um período de

glaciação.

Os oceanos desempenham outro papel essencial na regulação do clima

planetário ao representarem o maior reservatório de carbono do planeta.

Uma grande quantidade de CO2 atmosférico é removida pelos oceanos e

incorporada em matéria orgânica (fitoplânction) através da fotossíntese. O

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fitoplâncton representa a base da cadeia alimentar oceânica pelo que vai

ser predado por zooplânction, que por sua vez serve de alimento a

organismos de maiores dimensões. Uma boa parte destes organismos vai

acabar por sedimentar ou ser transportada (por exemplo, através da

circulação termohalina) para o fundo dos oceanos. O CO2 atmosférico é

assim removido da atmosfera por um período de tempo longo, por vezes à

escala do ciclo geológico ao ser incorporado nas rochas sedimentares que

se formam no fundo dos oceanos, diminuindo o efeito de estufa.

Figura 3. Fitoplâncton visto ao microscópio. Credits: Richard Kirby, Plymouth University

Resumindo, o oceano desempenha um papel fundamental na regulação

do clima global, podendo pequenas alterações resultar em consequências

dramáticas no clima do planeta.

Catarina Leote (doutoranda no Royal Netherlands Instituto for Sea Research e colaboradora do

CcT - texto inédito elaborado para publicação no Ciência com Todos).

Ler mais: http://cienciapatodos.webnode.pt/news/o-oceano-e-o-clima/

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PATRIMÓNIOS… Quando dizemos que o folclore não evolui mas a tradição sim, talvez seja bom referir que se trata da mesma tradição em” tempos diferentes”-- quando ainda absorve e tradicionaliza as influências vindas do exterior ( e temos o folclore) e quando essas influências passaram ser tão intensas que elas próprias passaram a aculturar as vivências locais comunitárias, a alterá-las e a fazê-las desaparecer (e temos o património regulado pela Convenção de 2003).

CAMINHANDO…

Quando à meia-noite do dia 31 de Dezembro dobrámos mais uma esquina do tempo, o Grupo de Promoção de Montargil fê-lo entrando no ano 47 de existência e simultaneamente no ano 4 as Bodas de Ouro. Parece que foi ontem que o iniciámos como um simples projeto de entretimento e aqui estamos agora, a caminho do meio século feito baluarte como alguém já lhe chamou. Para o ano 47, os objetivos citam-se em meia dúzia de linhas; prioritário a sustentabilidade do que já existe, o limar de algumas arestas e o acrescentar do que tiver que ser. Sempre pelos caminhos da

cidadania, que lado a lado coloque cultura e comportamento social. Quando às Bodas de Ouro, que só se comemoram uma vez na vida, temos

três anos para as preparar, e naturalmente Montargil terá que ser Capital da Cultura em Espaço Rural, e gostaríamos que constituíssem uma festa

para todos os que participaram nesta caminhada e de maneira muito especial as Autarquias

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Um grande objetivo: que a Direção Geral do Património Cultural “reconheça” o Folclore como Cultura Tradicional, o que só ainda não aconteceu porque nem sempre nos lugares de decisão estão por vezes os que têm qualificação/conhecimentos. E é isso que iremos demonstrar nem que necessário seja chegar à Presidência da República. Registe-se no entanto, que este obstáculo aparece à margem da maneira cooperante como temos sido atendidos na DGPC, digamos que uma questão de burocracia.

CONVERSA COM SABOR

hoje com

RENATA MONTEIRO Esteve em Montargil e ficou no coração de quantos com ela lidaram. Aliás, é justo dizer-se que a empatia verificada entre a equipa que se deslocou e o nosso grupo de trabalho, muito contribuiu para o sucesso da iniciativa, Mas hoje é com esta menina bonita e cativante, mãe babada e insaciável de saber, que vamos ter uma “conversa naturalmente saborosa! pelo que antes de mais, quem é RENATA MONTEIRO? Eu Renata Monteiro, sou brasileira nascida no sul do país. Venho de uma

região encantadora, colonizada por açorianos que vive uma mescla de

tradições o que, de certa forma, trouxe um charme todo especial a minha

terra. Dentista de formação, com três pós-graduações na mesma área.

Estudei e trabalhei como cirurgiã dentista durante 7 anos. Porém, o cansaço

e o desejo por uma vida com mais realização pessoal e profissional me

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fizeram investir numa paixão

antiga: a gastronomia. O amor pela culinária sempre esteve presente na

minha vida. Aprendi a “amar” aos outros através da confecção de uma boa

refeição. Hoje, sou mestranda em Ciências Gastronômicas pela FCT,

doutoranda em Turismo pela faculdade de Aveiro, colunista gastronómica

de 8 jornais brasileiros e 5 portugueses. Além destas atividades, tenho a

melhor das ocupações da minha vida, com certeza a mais importante delas, sou mãe!

A gastronomia foi uma opção, ou aconteceu?

A gastronomia foi mais do que uma opção. Foi um objetivo traçado para

alcançar uma vida com mais felicidade.

O que significa para a Renata a “comida tradicional portuguesa? Que condicionantes a devem caracterizar? E que lugar ocupa na sua atividade? A comida tradicional portuguesa para mim tem um significado que vai um

pouco além do sabor. Desde que aqui cheguei e comecei os meus estudos

referentes a culinária tradicional, pude notar que o principal ingrediente

presente em todos os pratos é o orgulho em ser Português. O amor pelas

tradições gastronómicas faz com que receitas clássicas não sejam alteradas,

nem sob a pressão que a cozinha moderna e as novas “ideias”, por vezes,

podem excercer. A cozinha portuguesa é caracterizada também por seus

emblemáticos pratos de bacalhau, enchidos incríveis, doces únicos e vinhos

mundialmente reconhecidos. Tudo isso, fruto de uma crença na força do

produtos local e, acima de tudo, crença na valorização da cultura enquanto

força e união de um povo. Podemos ouvir “falar mal” da política, da saúde

ou até mesmo do tempo. Mas, em hipótese alguma alguém vai maldizer o

cozido a portuguesa, ou o bacalhau ou o bom e onipresente pastel de Nata.

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Um povo pode ter uma gastronomia forte, cheia de técnicas e bons

ingredientes, porém caso não vanglorie-se de suas tradições,

provavelmente, não terá na culinária a sua representação nacional.

4)Comida de fusão, como a define e que vantagens?

Comida de fusão vai um além da simples mistura de ingredientes ou

técnicas diferentes cozinha de fusão deve ser entendida como o “encontro

de culturas culinárias diferentes”. Os pratos nascidos desta combinação não

podem ser designados pertencentes a uma única e específica tradição.

Pensa-se que, por volta de 1970, a cozinha de fusão teve início na França a

partir da combinação de ingredientes e técnicas francesas com diferentes

especiarias vindas da Ásia, nomeadamente China e Vietnã. Alguns dos

pratos que surgiram desta união de tradições diferentes podem ser vistos,

ainda hoje, em alguns restaurantes Franceses. As vantagens desta união de

culturas culinárias pode ser significativa mediante o surgimento de novos

sabores. Precisamos entender este fato como a possibilidade de criações

criativas de novas receitas e não como a substituição de receitas clássicas

já existentes.

E dieta mediterrânica? A dieta Mediterrânea não deve ser entendida somente como um padrão alimentar, mas sim como a tradução de um estilo de vida. A combinação de ingredientes da agricultura local, receitas e formas de cozinhar próprias de cada lugar, refeições partilhadas, celebrações e tradições, que, juntamente com o exercício físico moderado diariamente, favorecido pelo clima ameno, completam um estilo de vida que a ciência moderna nos convida a adotar em benefício da nossa saúde. Esta dieta caracteriza-se pela abundância de alimentos de origem vegetal. O pão, massas, arroz, hortaliças, legumes, fruta fresca e frutos oleaginosos, utilização do azeite como principal fonte de gordura, consumo moderado de pescado, aves, lacticínios e ovos, consumo de pequenas quantidades de carnes vermelhas e ingestão moderada de vinho, geralmente durante as refeições. A sua importância na saúde do indivíduo não se limita ao facto de se tratar de uma dieta equilibrada, variada e com nutrientes adequados. Aos benefícios de seu baixo teor de ácidos gordos saturados e alto teor de monoinsaturados, tal como em glícidos complexos e fibra alimentar, junta-se a riqueza em antioxidantes, determinantes para a o bem-estar (http://apdietistas.pt/nutricao-

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saude/alimentacao-na-saude/dieta-mediterranea).

Fiquei surpreendido com a sua criatividade na área das restrições alimentares.

Tenho me dedicado nos últimos anos ao desenvolvimento criativo de novas receitas direcionadas ao público de alérgicos a ovos, glúten e leite. Posso dizer que o interesse por esta área nasceu, praticamente, junto com a minha primeira filha. A sua restrição total e absoluta a ovos e leite me fez iniciar teste e desenvolver receitas. O objetivo era substituir estes ingredientes, proporcionando a ela uma vida social normal e uma menor preocupação minha em relação a possíveis reações alérgicas. Ao entrar no mestrado em ciências Gastronómicas pude entender melhor a química por trás destas substituições e assim, aprimorei os meus estudos nesta área. O foco por enquanto ainda é o grupo de alérgicos a estas proteínas, através de substituições saudáveis, mas que acima de tudo permita as crianças e adultos alérgicos viverem “pequenos” prazeres gastronómicos com segurança, ou seja, sem riscos de anafilaxia

Acontece, até aqui em Montargil, pessoas que dormem no Hotel mas procuram restaurantes cá fora. Há algum padrão para a comida de Hotel?

O turista que opta por deslocar-se até determinada região com o intuito de divertir-se e conhecer novas culturas, procura sobre tudo “viver” as tradições deste determinado sítio em um âmbito gastronómico. Assim, acredito que o hotel deva apresentar possibilidades em seu menu que espelhem um pouco das características culinárias da região. Acrescentar ao pequeno almoço ingredientes locais e levar ao conhecimento dos hóspedes possibilidades de menus tradicionais pode ser uma forma de diminuir a saída dos hóspedes que buscam provar a comida local.

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Concorda que pelo menos as questões básicas sobre o cozinhar deveriam fazer parte do Ensino?

Acredito que noções básicas sobre alimentação e confecção de alimentos sejam importantes sim. Porém, não acredito que seja uma possibilidade viável acrescentá-las ao currículo escolar atualmente.

Como especialista, que é, em ciências da gastronomia, e como mãe “babada “que já vi também que é, que conselhos aqui quer deixar?

Após algumas aulas e cursos do mestrado em Ciências Gastronómicas comecei a entender a gastronomia como algo que vai além da “poética” intuição. A cozinha é bem mais do que palpitar sobre adição ou retirada de ingredientes, é feita basicamente de reações químicas e físicas que ao final de tudo nos proporcionam resultados deliciosos. Cresci vendo e admirando a minha vó cozinhar. Ela cozinhava de uma forma tão “encantadora” que, aos olhos de uma criança, mais pareciam poções mágicas feitas pela “fada” mais sábia que podia conhecer. Ela fazia pães lindos, nunca vi uma só receita dar errado. Porém não havia um pão igual ao outro, o maravilhoso arroz de frango de um dia não era igual a de outro dia. Entender a reação por trás das confecções nos faz entender como padronizar qualidade. Enfim, a poesia e admiração por trás das nossas amadas mães, pais, avós cozinheiros precisa continuar a existir sempre, mas não podemos negar que o conhecimento científico faz-se necessário para aqueles que querem trabalhar profissionalmente com gastronomia. Costumo dizer que sou uma mãe gastrônoma, ou seja, aplico aqui em casa conhecimentos que obtive durante o mestrado. Procuro utilizar ingredientes mais saudáveis e técnicas que possibilitem uma otimização do potencial nutricional destes ingredientes. A alimentação da minha família é bastante saudável, mas não esquecemos e não nos privamos de eventualmente viver deliciosos momentos ao redor de um bom e grande bolo de chocolate.

E aqui temos uma verdadeira “lição de gastronomia” como primeira página de um livro de saberes. Para já vamos poder contar com Renata Monteiro no espaço gastronómico O TACHO DA NATA.

Obrigado Renata, Montargil aceita-a como filha adoptiva. E o Grupo de Promoção considera-a como um dos seus membros.

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GRUPO PROMOÇÃO DE MONTARGIL

Apartado 2

7425-999 MONTARGIL

Coordenação: Lino Mendes

Colaboração: António Mendes 242904182/939284470

[email protected]