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Parecer: AGRAVO EM EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME. Laudo Desfavorável. Comportamento Satisfatório. Inconstitucionalidade da Lei n.º 10.792/2003, quanto à modificação dos requisitos para a progressão de regime. Ausente o requisito subjetivo. Suscitação do incidente, LENIO LUIZ STRECK - PROCURADOR DE JUSTIÇA. Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/hmpage/homepage2.nsf/pages/ExecPenLLS> Tribunal de Justiça 5ª Câmara Criminal Agravo em Execução n.º Origem: Uruguaiana Agravante: Agravado: Ministério Público Relator: Des. Luís Gonzaga da Silva Moura PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO AGRAVO EM EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME. Laudo Desfavorável. Comportamento Satisfatório. Inconstitucionalidade da Lei n.º 10.792/2003, quanto à modificação dos requisitos para a progressão de regime. Ausente o requisito subjetivo. Suscitação do incidente.

MP-RS, Streck_Unknown_TJ-RS Agravo Em Execução ____ Manifestação MP Incidente de Inconstitucionalidade (Necessidade de Laudo Para Progre

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Lenio Luiz Streck

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  • Parecer: AGRAVO EM EXECUO. PROGRESSO DE REGIME. Laudo

    Desfavorvel. Comportamento Satisfatrio. Inconstitucionalidade da Lei n.

    10.792/2003, quanto modificao dos requisitos para a progresso de regime.

    Ausente o requisito subjetivo. Suscitao do incidente, LENIO LUIZ STRECK -

    PROCURADOR DE JUSTIA. Disponvel em:

    Tribunal de Justia

    5 Cmara Criminal

    Agravo em Execuo n.

    Origem: Uruguaiana

    Agravante:

    Agravado: Ministrio Pblico

    Relator: Des. Lus Gonzaga da Silva Moura

    PARECER DO MINISTRIO PBLICO

    AGRAVO EM EXECUO.

    PROGRESSO DE REGIME. Laudo

    Desfavorvel. Comportamento

    Satisfatrio. Inconstitucionalidade da Lei

    n. 10.792/2003, quanto modificao

    dos requisitos para a progresso de

    regime. Ausente o requisito subjetivo.

    Suscitao do incidente.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    O apenado (..................) interps agravo em execuo da deciso do

    juzo da Vara das Execues Criminais da Comarca de Uruguaiana, que

    indeferiu pedido de progresso de regime, aduzindo em razes que, mesmo

    tendo o apenado implementado os requisitos objetivo e possuir

    comportamento carcerrio satisfatrio consoante as novas exigncias da

    Lei n. 10.792/03 foi-lhe negada a progresso. Suscitou tambm a nulidade

    do laudo.

    Em contra-razes o Ministrio Pblico manifestou-se pelo

    improvimento do recurso.

    A deciso foi mantida.

    Vieram os autos para parecer.

    o relatrio.

    PARECER

    O agravo no rene condies de ser provido.

    1. Da suscitao do incidente de inconstitucionalidade referente a

    alterao do art. 112, caput, e pargrafo nico, da L.E.P, promovida pela

    Lei n. 10.792/03

    De pronto, necessrio deixar claro que qualquer ato judicial ato

    de jurisdio constitucional. O juiz sempre faz jurisdio constitucional.

    dever do magistrado examinar, antes de qualquer coisa, a compatibilidade do

    texto normativo infraconstitucional com a Constituio.

    Aqui reside, pois, a importncia do que se est a tratar no presente

    caso. Vejamos:

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    1.1) Da necessidade (constitucional) da suscitao do incidente

    de inconstitucionalidade

    Conforme especifico em meu Jurisdio Constitucional e

    Hermenutica Uma Nova Crtica do Direito1, h uma diferena substancial

    entre o controle difuso exercido pelo juiz singular e o controle difuso exercido

    pelos tribunais. Ao contrrio dos tribunais, o juiz no declara a

    inconstitucionalidade do texto normativo; deixa de aplic-lo. Como bem

    assinala Paulo de Tarso Brando, o juiz nunca declara

    inconstitucionalidade, recaindo o contedo de sua deciso sempre sobre a

    relao jurdica.

    J nos Tribunais de Segunda Instncia, o controle difuso

    estabelece-se com a suscitao do incidente de inconstitucionalidade,

    ocasio em que o processo fica suspenso, e a questo constitucional

    remetida ao rgo Especial do Tribunal, acompanhado do respectivo

    acrdo. O quorum exigido para a declarao da inconstitucionalidade o

    de maioria absoluta, conforme dispe o art. 97 da CF.

    Contudo, para confirmar a regra, h uma exceo! Como sabido,

    recentemente foi alterado o art. 481, do CPC, desobrigando os rgos

    fracionrios dos tribunais a submeter ao plenrio, ou ao rgo especial, a

    argio de inconstitucionalidade, quando j houver pronunciamento destes

    ou do plenrio do Supremo Tribunal Federal.

    Em relao legitimidade para argio, a questo da

    inconstitucionalidade pode ser suscitada pelas partes, pelo Ministrio Pblico

    1 STRECK, Lenio Luiz. Jurisdio Constitucional e Hermenutica Uma Nova Crtica do Direito. 2.

    ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, em especial cap. 10.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    ou, de ofcio, pelo juiz ou rgo fracionrio, at porque no existe matria de

    ordem pblica mais relevante que a (in)constitucionalidade de uma lei. A

    controvrsia da inconstitucionalidade tem cabimento e pertinncia, no

    controle difuso, se tiver conexo com o objeto da demanda, nos casos em

    que tal exame imprescindvel ao julgamento do pleito. Ou seja, deve ser,

    de fato, uma questo prejudicial, verdadeira condio de possibilidade para

    o deslinde da controvrsia.2

    A questo constitucional no pode ser, jamais, tangenciada. Com

    efeito, mesmo que o rgo fracionrio apenas afaste a aplicao da norma

    infraconstitucional, por ser esta inconstitucional, no estar liberado de

    suscitar o respectivo incidente. Vale referir, pela relevncia, a seguinte

    deciso do Supremo Tribunal Federal:

    Controle difuso de constitucionalidade de norma jurdica. Art. 97 da Constituio

    Federal. A declarao de inconstitucionalidade e norma jurdica incidenter tantum,

    e, portanto, por meio de controle de constitucionalidade, o pressuposto para o

    Juiz, ou o Tribunal, no caso concreto, afastar a aplicao da norma tida como

    inconstitucional. Por isso, no se pode pretender, como o faz o acrdo

    recorrido, que no h declarao de inconstitucionalidade de uma norma jurdica

    incidenter tantum quando o acrdo no a declara inconstitucional, mas afasta a

    sua aplicao, porque tida como inconstitucional. Ora, em se tratando de

    inconstitucionalidade de norma jurdica a ser declarada em controle difuso

    por Tribunal, s pode declar-la, em face do disposto no art. 97 da

    Constituio, o Plenrio dele ou seu rgo Especial, onde este houver, pelo

    voto da maioria absoluta dos membros de um ou de outro. No caso, no se

    observou esse dispositivo constitucional. Recurso Extraordinrio conhecido e

    provido (RE 179170-CE, DJ 30/10/98).

    2 STRECK, Lenio Luiz. Jurisdio..., op.cit.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    De repetir que o incidente de inconstitucionalidade somente ser

    dispensado na hiptese de j existir pronunciamento do Supremo Tribunal

    Federal ou do rgo Especial do respectivo Tribunal. Agregue-se, para

    tanto, deciso do Superior Tribunal de Justia:

    Processo Civil. Controle de Constitucionalidade. Princpio da reserva de plenrio.

    O juiz singular pode deixar de aplicar lei inconstitucional; os rgos fracionrios

    dos tribunais no porque, mesmo no mbito do controle difuso de

    constitucionalidade, os tribunais s podem deixar de aplicar a lei pelo seu plenrio

    ou, se for o caso, pelo respectivo rgo especial (art. 97 da CF), observado o

    procedimento previsto no art. 480 e seguinte do Cdigo de Processo Civil, salvo se

    j houver pronunciamento destes ou do plenrio do Supremo Tribunal Federal

    sobre a questo (art. 481, pargrafo nico, do CPC). Recurso Especial conhecido e

    provido (RESP n 89297-MG, Rel. Min. Ari Pargendler, Terceira Turma, STJ, DJ

    07/02/00).

    Enfim, o que deve ficar claro que o controle difuso de

    constitucionalidade, realizado no mbito dos tribunais, no pode prescindir

    da suscitao do incidente, salvo as excees j destacadas

    exaustivamente. O art. 97 da Constituio, que estabelece a reserva de

    plenrio, funciona como uma holding, do qual emana o fundamento que

    legitima as duas variantes do nosso sistema de controle de

    constitucionalidade. Embora os efeitos sejam diferentes (no controle

    concentrado, erga omnes; no controle difuso, inter partes), h sempre uma

    declarao de inconstitucionalidade, ou seja, uma deciso que retira a

    validade da norma jurdica. Observe-se, nesse sentido, o bem lanado

    acrdo:

    Constitucional. Incidente de inconstitucionalidade. Confronto de lei estadual

    perante a Carta Federal. Possibilidade do controle difuso e de seu julgamento pelo

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    Tribunal Estadual. Taxa. Fiscalizao de servios pblicos delegados.

    Constitucionalidade. No controle difuso, qualquer juiz poder pronunciar a

    inconstitucionalidade de lei estadual, perante a Constituio da Repblica, e,

    tratando-se de rgo fracionrio do Tribunal, caber tal pronncia ao rgo

    Especial, nos termos do art. 97 da CF/88, consoante o incidente regulado nos

    artigos 480 e 481 do CPC. No importa, para tal arte, que, na via direta e

    concentrada, o tribunal local seja competente somente para pronunciar a

    inconstitucionalidade perante a Constituio do Estado (art. 125, 2, da CF), pois

    o art. 97 da CF no de competncia, mas forma de julgamento da questo

    constitucional, em virtude do quorum exigido em casos que tais. Incidente

    conhecido (AC. 70000802074, Rel. Des. Araken de Assis, TJRS).3

    1.2) Do objeto da suscitao: a alterao do art. 112, caput, e

    pargrafo nico, da L.E.P, promovida pela Lei n. 10.792/03

    Assim, feitas as devidas consideraes preliminares a respeito da

    necessidade (constitucional) da suscitao do incidente de

    inconstitucionalidade (art. 97, CF; 209 e segs. RITJRG) no caso sub judice

    e sem esquecer que princpios valem, regras vigem (Bonavides), e que a

    violao de um princpio afronta a prpria Constituio (Celso Antonio

    Bandeira de Melo) , passemos s razes da presente argio. Vejamos.

    Os dispositivos penais (assim como os de carter misto), mais do que

    no ofender a Constituio, devem vir ao encontro dos objetivos

    programticos traados pela Carta. Como disserto em recente artigo4

    publicado na Revista do Instituto de Hermenutica Jurdica n. 2,

    3 In: Jurisdio..., op.cit. 4Cfe. STRECK, Lenio Luiz. Da proibio de excesso (bermassverbot) proibio de proteo

    deficiente (Untermassverbot): de como no h blindagem contra normas penais inconstitucionais. In

    Revista do Instituto de Hermenutica Jurdica, vol. 1, n. 2, p. 279.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    preciso ampliar a viso do direito penal da Constituio na perspectiva de uma

    poltica integral de proteo dos direitos, o que significa entender o garantismo

    no somente no sentido negativo como limite do sistema punitivo (proteo

    contra o Estado), mas, sim, tambm como garantismo positivo, o que, no dizer

    de Baratta, aponta para a resposta s necessidades de assegurar a todos os

    direitos, inclusive os de prestao por parte do Estado (direitos econmicos, sociais

    e culturais), e no apenas aqueles que podem ser denominados de direitos de

    prestao de proteo, em particular contra agresses provenientes de

    comportamentos delitivos de determinadas pessoas.

    Nesse passo, citando Donini5, defendo que

    um enfoque constitucionalista do Direito Penal no supe, unicamente, que o Direito

    Penal no possa estar em contradio com a Constituio. Mais que um limite,

    deveremos entender a Constituio como fundamento da pena e do Direito Penal,

    verificando hipteses em que a criminalizao de determinadas condutas se

    demonstra constitucionalmente requerida e, por conseguinte, at que ponto a

    despenalizao seria constitucionalmente legtima, ponto se afigura como

    extremamente relevante na discusso que ora proponho.6

    H casos que a Constituio impe ao legislador um dever de produzir

    uma legislao protetora. Diante disso,

    levando em conta a no liberdade de conformao legislativa e a necessidade de

    no incorrer em proibio de proteo deficiente, penso que no desarrazoado

    apontar para a inconstitucionalidade da recente alterao feita na Lei de Execuo

    Penal, especialmente no que diz respeito ao art. 112, que, a partir de agora,

    dispensa os laudos tcnicos para a aferio das condies para que o apenado

    progrida de regime carcerrio ou obtenha livramento condicional. Alm da

    eliminao dos requisitos subjetivos, o dispositivo passa a exigir apenas que o

    5DONINI, Massimo, Un Derecho Penal Fundado en la Carta Constitucional: Razones y Lmites. La

    Experiencia Italiana. Revista Penal, n. 8, 2001, pp. 24-25. 6STRECK, Lenio Luiz. Da proibio de excesso (bermassverbot) proibio de proteo deficiente

    (Untermassverbot): de como no h blindagem contra normas penais inconstitucionais. ob. cit. p. 280.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    apenado, alm de cumprir o tempo mnimo necessrio, tenha bom comportamento

    (sic), o qual atestado (sic) pelo diretor da priso. Na esteira do que foi sustentado

    nestas reflexes, tenho que o legislador no poderia ter dispensado a exigncia dos

    laudos tcnicos e tampouco poderia ter transferido a responsabilidade de atestar o

    bom comportamento ao diretor do presdio, sem comprovao com dados empricos

    no controvertidos, que apontassem para a desnecessidade do cumprimento dos

    requisitos previstos originalmente na LEP.7

    absolutamente irrazovel colocar em liberdade um apenado que no

    demonstre condies subjetivas necessrias para conviver com os demais,

    ainda mais no caso dos autos, onde o laudo, ainda que eivado de nulidade,

    aponta alto potencial agressivo com baixa tolerncia frustrao e baixo

    controle de pulses.

    Ou seja, se de um lado o Estado-legislador deve proteger o cidado

    contra os excessos/arbtrios do direito penal e do processo penal (garantismo

    no sentido negativo, que pode ser representado pela aplicao do princpio

    da proporcionalidade enquanto proibio de excesso - bermassverbot),

    esse mesmo Estado no deve pecar por eventual proteo deficiente

    (garantismo no sentido positivo, representado pelo princpio da

    proporcionalidade como proibio de proteo deficiente - Untermassverbot),

    nos exatos termos em que fez o Tribunal Constitucional da Alemanha no

    acrdo BverfGE 88, 203.

    No caso da deciso em questo (BverfGE 88, 203), o legislador havia

    descriminalizado o aborto e o Tribunal Constitucional

    (Bundesverfassungsgericht) eclarou inconstitucional a lei, pela exata razo

    de que o legislador ordinrio no tem liberdade nem para criminalizar, nem

    para descriminalizar. Dizendo de outro modo, para retirar a proteo

    7Idem, p. 281.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    penal ou do processo penal - o Estado-legislador deve provar que o

    direito penal (ou a norma de processo penal que impe exigncias para

    alcanar a liberdade) tornou-se desnecessrio.

    preciso que tenhamos claro, assim - e isto no deveria constituir

    maior novidade no plano do direito penal-processual constitucionalizado -

    que

    "a noo de proporcionalidade no se esgota na categoria da proibio de

    excesso, j que vinculada igualmente a um dever de proteo por parte do

    Estado, inclusive quanto a agresses contra direitos fundamentais

    provenientes de terceiros, de tal sorte que se est diante de dimenses que

    reclamam maior densificao, notadamente no que diz com os

    desdobramentos da assim chamada proibio de insuficincia no campo

    jurdico-penal e, por conseguinte, na esfera da poltica criminal, onde

    encontramos um elenco significativo de exemplos a serem explorados."8

    Como se sabe, a Constituio determina - explcita ou implicitamente -

    que a proteo dos direitos fundamentais deve ser feita de duas formas: a

    uma, protege o cidado9 frente ao Estado; a duas, atravs do Estado e

    8 Cfe. SARLET, Ingo. Constituio e Proporcionalidade: o direito penal e os direitos fundamentais

    entre proibio de excesso e de insuficincia. In: Revista de Estudos Criminais n. 12, ano 3. Sapucaia

    do Sul, Editora Nota Dez, 2003, pp. 86 e segs.

    9Diga-se de passagem que a prpria Constituio no estabelece direitos fundamentais absolutos. A

    progresso de regime deve estar sujeita a condies mnimas, razoveis, de modo que o exerccio deste

    direito no colida com o interesse pblico. Nesse passo, a Declarao Universal dos Direitos Humanos

    estatui: Artigo 29: 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno

    desenvolvimento de sua personalidade possvel. 2. No exerccio de seus direitos e liberdades,

    toda pessoa estar sujeita apenas s limitaes determinadas por lei, exclusivamente com o fim

    de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de

    satisfazer s justas exigncias ... da ordem pblica e do bem-estar de uma sociedade

    democrtica.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    inclusive atravs do direito punitivo uma vez que o cidado tambm tem o

    direito de ver seus direitos fundamentais protegidos, em face da violncia de

    outros indivduos.

    Assim, v.g., uma conduta s pode ser descriminalizada se for

    comprovado, por dados empricos (pesquisas cientficas), que o direito penal

    tornou-se despiciendo. Do mesmo modo, uma norma processual10 que

    impe requisitos para a obteno da progresso de regime igualmente

    no pode ser derrogada, sem que o Estado prove que tais requisitos

    no mais so necessrios. Simples, pois!

    Dizendo de outro modo: a exigncia dos laudos era o meio que o

    Estado tinha para controlar a sada ou a progresso de regime dos

    apenados. Um dos objetivos era evitar o retorno comunidade de pessoas

    10 No sentido da extenso da regra da proporcionalidade no seu sentido de proibio de proteo

    deficiente ao processo penal, conforme muito bem salientado por Ingo Sarlet, no artigo j mencionado.

    Com efeito, diz o autor que na seara do direito penal (e isto vale tanto para o direito penal material,

    quanto para o processo penal) resulta inquvoca vinculao entre os deveres de proteo (isto , a

    funo dos direitos fundamentais como imperativos de tutela) e a teoria da proteo dos bens jurdicos

    fundamentais, como elemento legitimador da interveno do Estado nesta seara, assim como no mais

    se questiona seriamente, apenas para referir outro aspecto, a necessria e correlata aplicao do

    princpio da proporcionalidade e da interpretao conforme a Constituio. Com efeito, para a

    efetivao de seu dever de proteo, o Estado - por meio de um dos seus rgos ou agentes - pode

    acabar por afetar de modo desproporcional um direito fundamental (inclusive o direito de quem esteja

    sendo acusado da violao de direitos fundamentais de terceiros). Estas hipteses correspondem s

    aplicaes correntes do princpio da proporcionalidade como critrio de controle de

    constitucionalidade das medidas restritivas de direitos fundamentais. Por outro lado, o Estado -

    tambm na esfera penal - poder frustrar o seu dever de proteo atuando de modo insuficiente (isto ,

    ficando aqum dos nveis mnimos de proteo constitucionalmente exigidos) ou mesmo deixando de

    atuar, hiptese por sua vez, vinculada (pelo menos em boa parte) problemtica das omisses

    inconstitucionais. Cfe. SARLET, op.cit. (grifei).

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    que pudessem vir a colocar em risco as demais pessoas da sociedade.

    Afinal, a segurana tambm um direito fundamental do cidado (art. 5

    caput da CF).

    Logo, se no h qualquer demonstrao ftica de que a exigncia dos

    laudos no mais satisfazia o alcance dos objetivos do Estado para proteger

    a sociedade11, ento o legislador no poderia ter abolido a exigncia de

    tais laudos (previstos na antiga redao do art. 112, pargrafo nico). A lei

    no pode ser produto de cabalas ou interesses ad hoc...!

    De modo que ao modificar a antiga redao do art. 112 (caput e

    pargrafo nico) da LEP, o legislador feriu o princpio da proporcionalidade

    enquanto princpio de proibio de proteo deficiente, razo pela qual a

    alterao aposta ao art. 112 inconstitucional, devendo assim ser

    declarada.

    Despiciendo lembrar que numerosos autores ligados ao direito penal e

    ao direito constitucional comungam da tese de que no Estado Democrtico

    de Direito no h liberdade absoluta de conformao legislativa (J.J. Gomes

    Canotilho, J. Miranda, Eros Grau, Barroso, Zeno Veloso, Bonavides,

    Bercovici, Sarlet, Comparato, Marinucci, Dolcini, Baratta, por exemplo). E a

    primeira deciso nesse sentido foi a do Tribunal Constitucional da Alemanha,

    11 Cumpre, alis, destacar que a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa

    a direito, consoante o art. 5, XXXV, da Constituio da Repblica. Nesse diapaso, significando a

    alterao legislativa ameaa de leso sociedade, ilegtima, j que subtrai do juiz o poder de -

    conforme a melhor prova -, decidir se um apenado est minimamente apto a voltar ao seio da

    comunidade. Porm a questo vai muito mais alm: a Lei n. 10.792/03 estabelece retrocesso! E

    retrocesso para o prprio apenado, na medida em que o laudo tambm uma garantia, porquanto

    elaborado por uma comisso de tcnicos e sujeito ao crivo do juiz, que pode at ordenar a realizao de

    um novo, caso vislumbre alguma mcula. Se se deixa o apenado ao arbtrio da Administrao est-

    se tambm violando direito seu, pois este no mais tem o Estado-juiz como garantia.

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

    12

    seguida dos Tribunais Constitucionais da Espanha e Portugal, sem

    considerar outras decises que apontam nessa direo.

    No bastasse isso, a alterao legislativa acabou por transformar o

    juiz das execues em mero homologador de laudos - visto que lhe basta

    verificar o requisito objetivo (tempo) e a existncia de atestados de boa

    conduta carcerria (sic) -, violando o princpio da reserva de jurisdio12.

    Dito de outro modo, a nova legislao, ao vincular o juiz aos atestados

    do diretor do estabelecimento penitencirio, acaba por

    administrativizar a execuo, colidindo assim com o prprio sistema

    da LEP que judicializado!

    E no se diga, finalmente, que a declarao da inconstitucionalidade

    do artigo 112 acarretaria a violao do princpio da reserva legal, uma vez

    que, com o advento do Estado Democrtico de Direito, j no se pode falar

    de uma simples concepo de uma reserva legal, mas, sim, da concepo

    de uma reserva da lei proporcional.13 Lei que viola a devida

    proporcionalidade (nos seus dois sentidos - excesso e deficincia) nula,

    rrita, nenhuma. Melhor dizendo, inconstitucional!

    Por todos os vcios indicados (violao do princpio da proibio de

    proteo deficiente, uma vez que colocado em risco o direito fundamental14

    de terceiros - cidado e sociedade - segurana (pblica) - art. 5. caput, da

    12 Em se tratando de execuo penal a jurisdio penal dos Juzes ou Tribunais da Justia ordinria,

    em todo o Territrio Nacional, ser exercida, no processo de execuo, na conformidade desta Lei

    [LEP] e do Cdigo de Processo Penal (Art. 2 da LEP) 13 Cfe. SARLET, Ingo. Ob. cit. 14 Em percuciente anlise sobre a temtica da dupla via assumida pelo princpio da proporcionalidade,

    Ingo Sarlet chama a ateno para a existncia de "um dever geral de proteo decorrente

    expressamente do art. 5 caput, da CF, que menciona expressamente o direito segurana, assim

    como a proteo do consumidor na forma da lei (...) (Grifei). In SARLET, Ingo. op.cit..

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

    13

    CF, alm da violao dos princpio da reserva de jurisdio e da proibio de

    retrocesso social, mais o da razoabilidade), impe-se a suscitao do

    incidente de inconstitucionalidade do art. 112, caput, da Lei de Execuo

    Penal, conforme a nova redao dada pela Lei n. 10.792/03, remetendo-se,

    per saltum, a matria discusso do rgo Especial do Tribunal de

    Justia, na forma prevista no CPC e no RITJRGS.

    Um problema final se impe para espancar eventuais dvidas acerca

    das conseqncias da declarao da inconstitucionalidade ora suscitada.

    Com efeito, a argio de inconstitucionalidade da Lei n. 10.792/03

    naquilo que alterou o art. 112 da Lei de Execuo Penal ocorre aqui como

    ltima ratio, uma vez que impossvel o salvamento da norma atravs de

    uma interpretao conforme (verfassungskonforme Auslegung) ou de uma

    nulidade parcial sem reduo de texto (Teilnichtigerklrung ohne

    Normtexreduzierung). Na hiptese, uma interpretao conforme pela qual se

    estipulasse, por exemplo, que o art. 112, caput, somente constitucional se

    lido no sentido de que os laudos constituem-se em condio para o exame

    dos pedidos de progresso de regime estaria simplesmente repristinando a

    lei anterior (antiga redao do art. 112 da Lei n. 7.210/84), o que no seria

    de boa tcnica. Entretanto, como ver-se- em seguida, uma coisa a

    repristinao vedada pelo sistema jurdico -; outra a declarao da

    inconstitucionalidade de lei revogadora. Este o caso dos autos!

    Com efeito, com relao problemtica exsurgente dos efeitos da

    declarao da inconstitucionalidade de uma lei, Zeno Veloso afirma que

    se a lei inconstitucional tiver reconhecida judicialmente sua inconstitucionalidade, a

    sentena fulmina-a desde o incio, operando ex tunc. A dita lei, que j era invlida,

  • (...) Cm. Cr. Ag. Execuo n. (..................)

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    torna-se retroativamente ineficaz.15

    Nesse sentido, Gilmar Ferreira Mendes16 explica que

    consoante a orientao do Supremo Tribunal Federal, o princpio da supremacia da

    constituio no se compadece com uma orientao que pressupe a validade de

    uma lei inconstitucional ainda que por tempo limitado representaria uma ruptura

    com a princpio da supremacia da constituio. A lei inconstitucional no pode criar

    direitos, nem impor obrigaes, de modo que tanto os rgos estatais como o

    indivduo estariam legitimamente autorizados a negar obedincia s prescries

    incompatveis com a constituio.

    No caso, a declarao definitiva de inconstitucionalidade

    ... de uma regra elimina, por fora da doutrina e da jurisprudncia dominantes no

    Brasil, com eficcia ex tunc, todos os seus efeitos ... Ora, se o comando declarado

    inconstitucional havia revogado, tcita ou expressamente, outro e, aps o

    julgamento, nenhum de seus efeitos subsiste, fcil concluir que no ocorreu

    revogao vlida, razo por que o preceito inconstitucionalmente revogado

    volta a viger plenamente, desde a data de sua suposta revogao.17

    Desse modo, seja no controle concentrado ou no difuso, a declarao

    de inconstitucionalidade da norma impugnada faz com que a anterior seja

    novamente aplicvel. O sistema, principalmente a partir da Lei n. 9.868,

    parte do princpio que a lei inconstitucional natimorta, ou seja, como se o

    15 VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 2. ed. rev. atual. e ampl. Belo

    Horizonte: Del Rey, 2000, p. 185. 16 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de

    direito constitucional. Celso Bastos Editor. So Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional,

    1998, p.413. 17 LOURENO, Rodrigo Lopes. Controle de constitucionalidade luz da jurisprudncia do Supremo

    Tribunal Federal, 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 92.

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    dispositivo revogador nunca tivesse revogado a norma anterior.18 Com isto,

    desaparecem eventuais preocupaes no sentido de que a declarao da

    inconstitucionalidade do art. 112, caput, da LEP, pudesse criar um vazio

    legislativo.

    2. Das razes de ordem infraconstitucional19: da no-vinculao

    do magistrado aos atestados fornecidos pela autoridade administrativa

    Ainda que argio no seja acolhida por esta Cmara, cumpre referir

    que a alterao legislativa sob vista sob o enfoque infraconstitucional -, no

    vedou ao magistrado decidir conforme os elementos colhidos na instruo,

    especialmente nos laudos criminolgicos. Vejamos.

    O citado diploma legal passou a ter a seguinte redao:

    Art. 112 "A pena privativa de liberdade ser executada em forma progressiva com

    a transferncia para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o

    preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom

    comportamento carcerrio, comprovado pelo diretor do estabelecimento,

    respeitadas as normas que vedam a progresso."

    1 - "A deciso ser sempre motivada e precedida de manifestao do Ministrio

    Pblico e do defensor." (grifamos).

    Com a modificao - que alterou a antiga redao do art. 112, tanto no

    caput como no p. n. -, aparentemente, bastaria o simples atestado favorvel

    de conduta carcerria para a implementao do requisito subjetivo

    necessrio para a progresso. Todavia, trata-se de questo complexa, uma

    vez que dependendo do entendimento adotado pode-se relegar o juiz

    18Nesse sentido, STRECK, Lenio Luiz. Jurisdio, op.cit., especialmente cap. 11 e segs. 19 Parte dos argumentos deste item foram aduzidos inicialmente pelo Procurador de Justia Mrio

    Cavalheiro Lisba, no Agravo n. 70007873482, do qual extramos parte significativa deste ponto.

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    16

    das execues ao papel de mero homologador de atestados de

    diretores de estabelecimentos prisionais. Saliente-se que uma exegese

    literal do artigo em questo tambm geraria um grave risco social, porquanto

    possibilitaria uma exacerbada flexibilizao na mudana de regime. Na

    verdade no existe interpretao literal. O que existe sempre uma

    atribuio de sentido, isto , quando o intrprete invoca a interpretao literal

    estar assim agindo a partir de um critrio valorativo. No se pode esquecer

    que o texto de lei no segura nada; o que segura algo o sentido (a norma)

    que o intrprete faz desse texto. No caso sob comento, a interpretao literal

    no tem o mnimo sentido/fundamento porque ignora o restante do texto da

    lei ( aquilo que se pode denominar de interpretao sistemtica).

    Certamente, a melhor interpretao para o novel dispositivo legal a

    que ex-surge da anlise do sistema jurdico-constitucional, em que o todo

    depende da parte e a parte depende do todo ( o que chamamos de crculo

    hermenutico). Com efeito, a anlise isolada do caput do artigo conduz a

    juzos teratolgicos, j que desconsidera o sistema de livre apreciao da

    prova (frise-se que tanto os laudos da CTC, EOC e COC, como os atestados

    do diretor das penitencirias so inequivocamente meios de provar o

    implemento do requisito subjetivo). Alis, no se pode olvidar que o requisito

    subjetivo no foi reduzido a um mero bom comportamento carcerrio, at

    porque continuam em pleno vigor os arts. 5, 8 e 9 da Lei de Execuo

    Penal.20

    20Tais artigos tratam da realizao do exame criminolgico nos apenados, com vistas adequada

    classificao e individualizao da pena. Segundo a LEP, em tal exame leva-se em conta aspectos

    pessoais do apenado, ou seja, o requisito subjetivo muito mais que um simples comportamento

    satisfatrio.

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    Evidencia a permanncia do requisito subjetivo tal como antes da

    alterao legislativa - o art. 9. da LEP ao estabelecer que o exame

    criminolgico colher dados reveladores de aspectos pessoais do

    condenado. Vale lembrar tambm o art. 33, 2, do Cdigo Penal: As

    penas privativas de liberdade devero ser executadas em forma progressiva,

    segundo o mrito do condenado (...) (Grifamos).

    Ou seja, permitido ao Magistrado exigir mais que bom

    comportamento carcerrio, vez que amparado na prpria LEP.

    Mas, em que elementos estariam sustentadas outras exigncias?

    Naturalmente em parecer tcnico dos rgos especializados, quais sejam, a

    C.T.C, a E.O.C e o C.O.C.

    Consabido que em se tratando de execuo penal a jurisdio penal

    dos Juzes ou Tribunais da Justia ordinria, em todo o Territrio Nacional,

    ser exercida, no processo de execuo, na conformidade desta Lei [LEP] e

    do Cdigo de Processo Penal (Art. 2 da LEP) destacamos. Assim,

    evidente que o CPP aplica-se subsidiariamente ao processo de execuo.

    Portanto, para formar seu convencimento21 sobre o requisito

    subjetivo reclamado para a progresso de regime, poder o magistrado

    lanar mo de todos os meios de prova em direito admitidos (livre

    convencimento motivado). Faculta-lhe a Lei Processual em seu art. 156,

    21 Vigora em nosso ordenamento processual penal, salvo no caso do Tribunal do Jri, o sistema da

    persuaso racional do juiz, consagrado pelo art. 157 do CPP, nos seguintes termos O juiz formar sua

    convico pela livre apreciao da prova.

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    18

    2 parte, inclusive, determinar, de ofcio,22 diligncias para dirimir dvida

    sobre ponto relevante.

    O sistema da persuaso racional do juiz tambm veda, salvo em

    raros casos como a prova do estado civil das pessoas, a prova tarifada.

    Por isso, no est o magistrado vinculado a laudos ou a atestados23.

    Entendimento contrrio transformaria os diretores de

    estabelecimento prisional em decisores, privando o juiz de parte da

    atividade jurisdicional conferida pela Constituio Federal.

    Pois bem, se pode o juiz rejeitar um laudo elaborado por peritos

    com formao tcnica -, pode muito mais afastar um atestado de boa

    conduta carcerria emanado de autoridade administrativa, desde que

    fundamentadamente. Chamo a ateno para o fato de que, aqui, a

    violao infraconstitucional trilha caminho limtrofe, na medida em

    que tambm ocorre a violao da Constituio, nos termos antes

    suscitados.

    No se pode olvidar de outra questo: seria paradoxal instituir um

    sistema de contraditrio (veja-se o novo 1 do art. 112) se o juiz tivesse que

    restringir-se declarao lanada no atestado do diretor do estabelecimento

    prisional? Ora, se o prprio 1 estabelece que a deciso ser motivada, por

    certo que no tornou (e nem poderia) o juiz um mero homologador, como se

    estivesse tratando de direto patrimoniais que se resolvem entre as partes.

    22 Uma interpretao conforme a Constituio (Verfassungskonforme Auslegung) retira a possibilidade

    de diligncia ex-officio do juiz, por violao ao princpio acusatrio. Entretanto, permanece vlida a

    possibilidade de determinao de diligncias a requerimento das partes. 23 Para dar harmonia ao sistema de apreciao da prova, inseriu-se no CPP o art. 182 estabelecendo

    que: O juiz no ficar adstrito ao laudo, podendo aceit-lo ou rejeit-lo, no todo ou em parte.

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    19

    Assim, por qualquer lado que se enfrente o problema (constitucional e

    infraconstitucional) o caso de denegao do benefcio, pelo menos num

    primeiro momento, at a realizao de novo exame.

    2. Da nulidade do Laudo da C.T.C.

    Antes de mais nada, verifica-se que o laudo da CTC acostado aos

    autos padece de nulidade, j que no firmado por psiquiatra. Como avaliar-

    se as condies pessoais do condenado sem tal anlise? , alis, a posio

    desta Cmara:

    EMENTA: 1- EXECUO PENAL. CTC. COMPOSIO. A COMISSO TCNICA

    DE CLASSIFICAO DEVE SER PRESIDIDA PELO DIRETOR E COMPOSTA, NO

    MNIMO, POR DOIS CHEFES DE SERVIO, UM PSIQUIATRA, UM PSICLOGO E

    UM ASSISTENTE SOCIAL, QUANDO SE TRATA DE CONDENADO A PENA

    PRIVATIVA DE LIBERDADE. A relao e exaustiva e o desfalque de qualquer de

    seus membros tornam nulas suas decises. 2- Indeferimento de progresso do

    regime carcerrio. Fundamentao "ad relationem". Nulidade. O apenado e um ser

    humano que esta sob a responsabilidade do magistrado. o interesse em questao nao

    e unilateral do estado acusador. versa sobre direitos fundamentais, entre eles, em

    ordem axiolgica expressiva, a liberdade, cuja garantia e dada pelo desempenho e

    esta s e vlida se devidamente fundamentada (artigo 93, IX, CF). A fundamentao

    "ad relationem" torna o agente ministerial autor da deciso. 3- Nulidades declaradas,

    unanime. (8 fls) (Agravo n. 70001652619, Quinta Cmara Criminal, Tribunal de

    Justia do RS, relator: Aramis Nassif, julgado em 25/10/2000)

    Nulo, portanto, o laudo, devendo determinar-se a realizao de um

    novo, agora com todos os componentes da CTC, consoante preceituado no

    art. 7 da Lei de Execuo Penal.

    Alis, se o laudo, como sustento nestes autos, imprescindvel para a

    garantia da sociedade e do prprio apenado, mister seja ele elaborado nos

    termos da LEP, para que a deciso que nele se fundamente tenha maior

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    20

    credibilidade. o mnimo a se fazer para no cair em uma contradio: de

    um lado prestigiar os laudos e de outro desdenhar os requisitos de sua

    elaborao!

    Assim, entendendo o rgo Especial pela inconstitucionalidade da Lei

    n. 10.792/03 na parte que alterou o art. 112 da LEP -, ao retornarem os

    autos, deve a Cmara declarar a nulidade do referido laudo, diante do seu

    carter imprescindvel para a verificao do requisito subjetivo necessrio

    progresso de regime. Conseqentemente, os autos retornaro origem

    para, agora, o cumprimento da redao do art. 112, da LEP.

    3. Pelo exposto, o Ministrio Pblico, em Segundo Grau:

    a) PRELIMINARMENTE, suscita o incidente de inconstitucionalidade da

    alterao promovida pelo art. 1 da Lei n. 10.792, de 1 de

    dezembro de 2003 no art. 112, caput, da Lei de Execuo Penal, nos

    termos do art. 97, da CF, e do art. 209, do RITJRS, levando-se a

    matria, per saltum, ao rgo Especial do TJRS, para que este, em

    sede de controle difuso, declare a inconstitucionalidade do referido

    dispositivo por violao dos princpios da proibio de proteo

    deficiente (Untermassverbot), do princpio da razoabilidade, do

    princpio da reserva de jurisdio, e do preceito fundamental previsto

    no art. 5 caput da CF direito (fundamental) segurana - por

    colocar em risco o direito fundamental de terceiros - cidado e

    sociedade, alm da violao da clusula (princpio) da proibio de

    retrocesso social;

    b) no mrito, eventualmente vencida a preliminar (questo prejudicial),

    pugna pela no-vinculao do magistrado aos atestados

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    comprobatrios de conduta carcerria, diante do princpio da livre

    apreciao da prova;

    c) e pela anulao do parecer das fls. 07/10, com a conseqente

    submisso do apenado a nova avaliao pela CTC, composta na

    forma do art. 7 da Lei de Execuo Penal.

    o parecer.

    Porto Alegre, 22 de maro de 2004.

    LENIO LUIZ STRECK

    /dpc PROCURADOR DE JUSTIA