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Mudanças Econômicas, Mulher e Casamento em Vitória. 1970-2000*
Maria Beatriz Nader Universidade Federal do Espírito Santo
Palavras-chave: Mulher, urbanização, casamento e divórcio.
A participação da mulher no mercado de trabalho, nas últimas décadas do
século XX, afetou sensivelmente as relações no interior das famílias, provocando
mudanças radicais em suas estruturas. Se antes o espaço doméstico era tido como
naturalmente feminino, e a mulher era sustentada pelo homem, agora são as mulheres
que detêm grande parte do controle sobre os recursos familiares e desempenham um
papel fundamental na vida econômica da família. Elas não só trabalham fora do
domicílio como promovem o controle da manutenção da casa, principalmente depois
que o trabalho doméstico passou a ser denunciado como uma alienação feminina e uma
sujeição ao homem. O tratamento dado ao trabalho fora de casa passou a ser para a
mulher o sinal concreto de sua emancipação. Desse modo, a mulher tomou parte de uma
luta que a conferia igualdade, dignidade e liberdade, procurando reduzir ao mínimo o
seu papel doméstico - privado, e se tornou, portanto, uma engrenagem no processo
produtivo, exatamente como o homem. A mulher ganhou o controle da situação
doméstica passando aos poucos a ser dona de sua própria casa, de seus objetos e de sua
própria vida.
Durante gerações, o poder do imaginário social consistia em que as mulheres
ficassem em casa cuidando dos filhos e acreditassem que o trabalho realizado por ela
fora da unidade doméstica era desprezível e pobre. Mas, apesar desse imaginário,
grande contigente feminino, geralmente provindo das camadas mais empobrecidas,
participou da força de trabalho desde o período do Brasil Colônia.
Sob um sistema escravocrata, que durou até fins do século XIX, o Brasil
manteve a maioria de suas mulheres dentro da classe trabalhadora rural ou nos serviços
domésticos. Trabalhadoras escravas, cuidando da lavoura ou das atividades cotidianas * Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.
das propriedades agrárias e urbanas, ou senhoras, administrando a escravaria ou os
negócios da família, as mulheres brasileiras, livres, pobres ou não, propiciaram o
equilíbrio com os homens nas força de trabalho do país.
Muitas de mulheres foram empregadas quando se instalaram as primeiras
fábricas têxteis no Brasil, na segunda metade do século XIX. Em 1882, só no Rio de
Janeiro existiam quarenta fábricas de fiação de algodão e, em somente uma delas, foram
registradas sessenta mulheres como operárias. Outras fábricas também empregavam
mulheres. Provavelmente duas mil mulheres eram empregadas em estabelecimentos
fabris nessa época. 1
Mesmo nesse período, com os avanços tecnológicos aliados ao início da
industrialização e o crescimento das cidades, o panorama de trabalho feminino não
sofreu grandes modificações, pois as mulheres continuaram não tendo acesso às
profissões que eram consideradas masculinas por excelência. Eram poucas as
oportunidades de trabalho assalariado para elas.
Samara2 acredita que particularmente no comércio as mulheres tinham presença
absoluta, na circulação de gêneros de primeira necessidade e na organização do
mercado ambulante de alimentos e de produtos de consumo, em São Paulo e Minas
Gerais, em fins do século XVIII e início do XIX. Especificamente em São João Del-Rei,
ainda na primeira metade do século XIX, a maioria das mulheres, livres e escravas,
desenvolviam atividades relacionadas à fiação, à tecelagem, à agricultura e ao serviço
doméstico. Somente uma pequena parcela dedicava-se à pecuária e à mineração. Mas
era na área urbana que as mulheres integravam-se às atividades do comércio e de
artesanato. Para a autora da obra “As Idéias e os Números de Gênero”, os quadros de
profissões, que demonstram a complexidade das atividades de base econômica e a
presença feminina especialmente no mercado informal de trabalho, possuem uma
grande variedade de ocupações em espaços regionais diversos. Para se ter uma idéia
dessa diversidade, Samara explica que nas Listas de Habitantes de Minas Gerais, para
os anos 1831 e 1838, foram arroladas 250 tipos de ocupações femininas e, em Fortaleza,
1 - LEITE, Míriam Moreira. (org) A Condição Feminina no Rio de Janeiro. Século XIX. São Paulo:HUCITEC;EDUSP, 1993. 2 - SAMARA, Eni de Mesquita. Mão-de-Obra Feminina, Oportunidades e Mercado de Trabalho, no Brasil do Século XIX. In. __. (org) As Idéias e os Números do Gênero. Argentina, Brasil e Chile no Século XIX. São Paulo:HUCITEC, 1997. p. 23- 61
2
em 1887, foram arroladas 218. A variedade de ocupações femininas, em São Paulo,
também não se afastava desses números, mantendo “níveis semelhantes”.
No Recenseamento da População do Império do Brazil (o primeiro censo geral
do Brasil, em 1872), aparecem atividades desenvolvidas pelas mulheres que fogem aos
serviços domésticos tradicionais. São atividades de criadoras, jornaleiras, operárias de
tecidos, comerciantes, parteiras, artistas, manufatureiras e fabricantes, operárias em
couro e peles, operárias em calçados, professoras, capitalistas e proprietárias, guarda-
livros e caixeiras, operárias em vestuários, operárias em tinturaria, operárias em
chapéus, entre outras. Algumas dessas mulheres eram livres brasileiras e estrangeiras e
escravas, significando uma pequena variação de condição e etnia, somando pouca
flutuação entre a mão-de-obra das mulheres livres não-proprietárias e as mulheres
escravas, que integravam o cotidiano das atividades urbanas brasileiras.
O emprego de professora e empregada em estabelecimentos comerciais,
escritórios e na burocracia, eram trabalhos que também davam continuidade às
ocupações tradicionalmente femininas, além de serem marginais ao processo de
produção e mal pagas. A segregação no mercado de trabalho, nesse período, reflete que
gênero era um fator determinante para a ocupação de determinados setores, afirma
Samara.3 O acesso à educação que continuava para poucas mulheres e que mantinha
estreito o leque de opções profissionais confirma a segregação profissional.
O magistério é um clássico exemplo dessa segregação sexual. Por ser
considerada uma profissão onde a mulher reproduz sua vida da unidade doméstica,
passou a ser considerado como “profissão naturalmente feminina”, aceita pelos padrões
culturais que determinavam o lugar da mulher dentro dos espaços domésticos. Mesmo
assim, milhares de mulheres provindo de camadas sociais empobrecidas buscaram o
acesso à educação profissionalizante que as levavam ao professorado.
Nas elites, prevalecia o poder do imaginário social brasileiro que consistia em
determinar que o lugar da mulher era o espaço geográfico da casa. Mas, em São Paulo, a
Repartição Pública de Estatística, apurou que nos anos 1869 e 1890, a participação da
mulher em “profissões diversas”, em relação aos homens empregados, cresceu de 3,5%
3 - SAMARA, Eni de Mesquita. 1997. Op. Cit.
3
para 20% do “(...) total de mão-de-obra adulta empregada em estabelecimentos
industriais da Capital”.4
A partir de 1920, a participação feminina no mercado de trabalho reduziu-se
para 15,3%, mas sua presença no setor secundário e terciário, aumentou para 27,9% e
22,2%, respectivamente. Esse fenômeno é considerado por Singer e Madeira como
sendo uma “evolução natural” da participação da mulher na força de trabalho.5 Os
autores argumentam que, enquanto casa e trabalho não se separaram, ou seja enquanto
na agricultura o número de pessoas empregadas era maior do que o número de pessoas
nas indústrias manufatureiras, o número de mulheres era significativo na força de
trabalho. E, com a evolução da indústria e a urbanização, que promoveram o êxodo
rural e o crescimento urbano, as taxas femininas nas atividades produtivas tenderam a
cair, face a maior presença feminina no setor de serviços. Somente após a década de
1940 é que a participação feminina no mercado produtivo reiniciou o processo de
crescimento, mas não nos níveis do início do século.
Singer e Madeira afirmam ainda que a participação da mulher será maior no
setor terciário, e isso, porque os fatores culturais impulsionam certos tipos de ocupação
ou trabalho. E, enfatizam, que a questão cultural influencia na classificação das
ocupações masculinas e femininas, promovendo recrutamentos não baseados na
capacidade do sujeito, mas no sexo. Além de perpetuar crenças machistas sobre as
habilidades e deficiências femininas.
Essa interpretação remete à discussão de a posição feminina no mercado de
trabalho ter a ver com o papel social da mulher dentro da família. Enquanto a formação
profissional feminina foi determinada por conceitos tradicionais, as mulheres não
tinham opção e eram levadas a desenvolver seus estudos em cursos que não lhe
preparavam para o mercado de trabalho. Suas escolhas se voltavam para cursos que não
lhes davam meios efetivos de se colocarem no mercado de trabalho, mas davam um
falso posicionamento no meio social.6 Os cursos oferecidos pelas Faculdades de
Filosofia eram vistos como uma forma de brilho para as mulheres conseguirem um
casamento vantajoso. 4 - MOURA, Esmeralda B.Bolsonaro de. Trabalho feminino e Condição Social do Menor em São Paulo (1890-1920). Estudos CEDHAL. São Paulo, No. 03, 1988 5 - SINGER, Paul I. e MADEIRA, Felícia R.. Estrutura do Emprego e Trabalho feminino no Brasil: 1920-1970. Caderno CEBRAP, São Paulo, no. 13, 1973. 6 - ROMANELLI, Otaíza. História da Educação no Brasil (1930-1973) 4ª ed. Petrópolis:Vozes, 1983.
4
Esses entendimentos são criticados por Cardoso7 que acredita não haver neles
um estudo mais profundo da questão econômica que envolve a mulher no mercado de
trabalho. Para a autora, somente a formação profissional feminina será a solução para
acabar de vez com a discriminação da mulher no mercado de trabalho. Baseada em
dados do PEA de 1950 e 1960, a autora diz que a taxa de crescimento da população
brasileira foi de 3,5% ao ano, mas que a distribuição por sexo dessa população no
mercado de trabalho não mudou até os anos 70. Em 1950, as mulheres economicamente
ativas perfaziam uma taxa de 14,6%, passando para 18,6% em 1970. Esse aumento
ficava muito longe de se assemelhar “à média dos países desenvolvidos”, mas era
bastante significativo quando considerado o grande salto nos números da população
feminina economicamente ativa, que atingiu a taxa de crescimento de 127%, enquanto a
população total cresceu 79%.
Nesse quadro, sobressai-se a dinâmica do sistema econômico que influencia as
taxas de participação feminina no mercado de trabalho nas diversas regiões do Brasil e
levam as “donas-de-casa” a necessitarem do “trabalho produtivo fora do lar”.
Principalmente na região Sudeste, quando o dinamismo das indústrias urbanas, na
década de 1970, registraram a maior participação das mulheres nas forças produtivas
que surgiram com os grandes projetos econômicos desenvolvidos no período.
O chamado “milagre econômico brasileiro” possibilitou a expansão de
empregos, incorporando no mercado de trabalho urbano secundário e terciário milhares
de pessoas vindas do campo, atraídas pelo crescimento das cidades, esperançosas de
uma vida melhor. Consequentemente a crescente urbanização aliada ao recente modelo
de desenvolvimento sócio-econômico do país, caracterizado pelo esforço de
modernização da estrutura produtiva, provocou efeitos na vida das pessoas que
buscavam as cidades. A tendência da nova lógica econômica contribuiu para que
aumentasse a pobreza urbana no Brasil, levando quantidades crescentes de mulheres a
serem incorporadas no mercado de trabalho, uma vez que os homens encontraram
dificuldades crescentes para atualizarem seu papel culturalmente definido como
provedor da família.
7 - CARDOSO, Irede. Mulher e Trabalho. As discriminações e as Barreiras no Mercado de Trabalho. São Paulo:Cortez, 1980.
5
Diante da necessidade expressa da contribuição da mulher na sustentação
financeira do lar, a inversão das idéias de comportamento social se pronunciou de modo
rápido e generalizado. A mulher que passou a colaborar no sustento da família, mesmo
ganhando menos do que o marido, eliminou de sua vida o processo de aceitação e
conformismo diante das diferenças sexuais. O poder, a resistência ou mesmo a
indiferença masculina diante de novas solicitações femininas, tenderam a levar a uma
situação de conflito dentro do lar. As relações de poder que existiam entre marido e
esposa passaram a ser questionadas no interior das unidades domésticas. Muitas
mulheres passaram a repensar suas vidas e isso contribuiu para que maior número de
mulheres casadas há pouco tempo, apelassem para o fim do consórcio conjugal.
A regulamentação do divórcio no Brasil, em 1977 (Lei 6.515/77), também
serviu de amparo para que o número de separações e divórcios, consensuais ou não, se
ampliasse. Somente no período compreendido entre os anos de 1982 a 1992, os
processos de divórcio em todo país cresceram à ordem de 72,27%. Esse percentual
aumentou com tanta rapidez que no Estado do Espírito Santo, nos anos 1983 a 1984, os
divórcios homologados chegaram a atingir a casa de 71% e, nos anos de 1984 e 1985,
esse crescimento foi de 84,49%.8
Exatamente uma década após à regulamentação da lei do divórcio no Brasil, a
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE divulgou que, no Estado
do Espírito Santo, no primeiro trimestre do ano de 1987, o número de divórcios
homologados em Vitória, sua capital, cresceu 442,85% em relação ao mesmo período
do ano de 1986, que por sua vez foi de 90% superior a todo o ano de 1985. 9
Com base nessas informações realizamos uma pesquisa que objetivava levantar
dados estatísticos sobre os casamentos, as separações e os divórcios realizados em
Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo, uma vez que nos chamava atenção o alto
índice de processos de rompimento conjugal ocorridos no período de 1970 a 2000. E,
dentre os diversos interesses que nos moveram, encontravam-se os de obter maior
conhecimento sobre as mulheres envolvidas naqueles processos, fundamentalmente no
que diz respeito à sua profissão.
Mas, por que essa pesquisa em Vitória? 8 - CENSO DEMOGRÁFICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 1990. Resultados do Universo Relativo às Características da População e dos Domicílios. Rio de Janeiro:FIBGE, 1991. 9 - Idem.
6
Capital do Estado do Espírito Santo, Vitória sofreu uma brusca mudança
econômica e social no começo da década de 1970, ocasionada pela falência do modelo
econômico primário-exportador, pelas possibilidades de empregos promovidas com a
implantação dos “Grandes Projetos Industriais” e, consequentemente, pelo processo de
urbanização que crescia sob uma ocupação populacional desordenada.
A dinâmica que se processou com a migração de milhares de pessoas vindas do
interior do Estado e de outras regiões do país, rurais e urbanas, mostra que o cotidiano
vitoriense passou por transformações profundas, alterando a vida pacata da cidade e das
pessoas que nela se aglomeravam. A coexistência de migrantes de diferentes
localizações brasileiras, juntamente com os capixabas de Vitória, caracterizaram uma
sociedade capixaba multifacetada, integrando valores e hábitos típicos do mundo rural
com a inquietação ocasionada pela complexidade do processo de industrialização e
urbanização que ocorria em Vitória.
Ligada às estruturas sociais agro-exportadoras desde os primórdios de sua
colonização, Vitória, nos últimos trinta anos do século XX, passou por um processo de
modernização cujos reflexos alteraram a vida de todos seus habitantes. Principalmente
das mulheres que, em meio a essas transformações, tiveram, a maioria, seus
comportamentos modificados radicalmente.
Fortemente influenciadas pela Igreja, pela família e pela educação, instituições
de grandes influências no cotidiano capixaba, muitas das mulheres residentes no interior
do Espírito Santo acreditavam que nasceram para o casamento e que esse deveria ser
“seu único sonho” 10. Essas instituições se organizaram em torno da manutenção desse
imaginário e se utilizaram da cultura e da disciplina para convencerem as mulheres que
o espaço doméstico era naturalmente feminino e que toda mulher deveria acreditar que
só seria feliz se fosse uma “mulher de respeito”, “bem casada” e sustentada pelo
homem, mesmo quando trabalhava na lavoura e ajudava no sustento da família.
Economicamente o casamento era uma forma de proteção para as mulheres.
A insignificante economia capixaba que se desenvolveu sob o égide cultural
das pequenas propriedades e pela política portuguesa que, durante todo o século XVIII,
manteve o Espírito Santo como um “cinturão verde” de proteção às Minas Gerais
10 - PERPÉTUO, Maurílio Cabral. O Assunto é Mulher. Revista Capixaba. Ano I, no. 07. Setembro de 1976. P. 26-29.
7
isolando a população do Estado e, principalmente, da cidade de Vitória, do resto do
mundo. Toda a sociedade capixaba ficou sob a “proteção dos santos” da Igreja Católica
e dos militares que tomavam conta da cidade.
No século XIX, a imigração européia, principalmente a italiana, reforçava com
sua cultura sexista o imaginário de que o lugar da mulher era no espaço doméstico e que
seu sustento deveria ser provido pelo marido. A sociedade imigrante que se instalara nas
pequenas propriedades de café no interior do Espírito Santo continuava cultuando a
instituição do casamento como o principal objetivo “natural” feminino, intensificando
na educação da mulher capixaba o desejo de casar-se.
Trabalhar fora de casa, ler e escrever não faziam parte do universo feminino
rural até meados do século XX. Num Estado onde a economia se fazia basicamente, até
a década de 1960, pelo desenvolvimento agrário, antes pelo cultivo do açúcar, depois
intensamente pelo do café, a vida de grande parte das mulheres se resumia no trato com
a terra, juntamente com a família. Até a década de 1940, 80% da população capixaba
vivia na zona rural. 11
Só mesmo depois dos anos 70, numa reviravolta sem precedentes no Espírito
Santo, é que a população urbana supera a rural e passa a vivenciar as transformações de
atitudes que D’Ávila Neto afirma que acontece nas cidades: heterogeneidade de valores,
normas, crenças e símbolos. De acordo com a autora, é na cidade que os conceitos e
estilo de vida se modificam.
Nessa perspectiva entendemos como o fenômeno da urbanização se faz
acompanhar de uma rápida substituição dos papéis sexuais, levando a cabo vários
estereótipos que durante séculos cercaram a vida da mulher. Aquelas mulheres que
antes detinham o domínio do espaço doméstico e atuavam junto ao marido no campo
passaram a competir com os homens na ocupação do mercado de trabalho e as
mudanças no perfil desse mercado favoreceram à demanda feminina à medida em que
abriram espaços para o seu engajamento.12
Diante dessas constatações procuramos estudar, em primeiro lugar, as
mudanças econômicas do mercado de trabalho capixaba e verificar, com base nos dados 11 - OLIVEIRA, José Teixeira. História do Estado do Espírito Santo. 2ª ed. Vitória:FCES, 1975. 12 - WAJNMAN, Simone e PERPÉTUO, Ignez Helena. A redução do emprego formal e a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. In. Revista Nova Economia. Belo Horizonte, v.7, n. 1, 05/1997. p. 121-132
8
adquiridos nos Censos e Anuários Estatísticos da Fundação Instituto Brasileiros de
Geografia e Estatística e nos Cartórios de Registro Civil da Cidade de Vitória, a
influência daquelas mudanças na relação da mulher com casamento.
A erradicação do café e a implantação de indústrias: a mudança do cenário
Localizada entre o mar e montanha a Ilha de Vitória foi palco de duas ocupações
desordenadas na segunda metade do século XX. A primeira, em fins da década de 1960,
cuja justificativa se relaciona ao êxodo rural decorrente da política federal de
erradicação do café e, a segunda, quando ocorreu a implantação de Grandes Projetos
Industriais, após 1970.
Durante grande parte de sua história, o Espírito Santo teve uma situação peculiar
em relação ao Brasil. Vítima de sua localização espacial estratégica, durante todo o
século XVIII, “a Capitania”13, não pode acompanhar o crescimento regional, nem
expandir-se economicamente como as capitanias vizinhas. De pequena expressividade
física, mas de adequada localização litorânea, sua capital, Vitória, foi naquela época, o
centro de proteção à região mineradora, sofrendo embates de corsários e aventureiros
que queriam de toda sorte alcançar a riqueza metalífera tão almejada no período.
Após um século de reclusão a província era uma das menos desenvolvidas do
país e não tinha infra-estrutura populacional, nem mesmo capital acumulado.
Subordinada que ficou aos mandantes militares que tomaram a cidade com o objetivo de
proteger as Gerais, e religiosos, que, “em nome dos santos”, controlaram os costumes
sociais da cidade por longa data, a população de Vitória desenvolveu valores culturais
singulares que encaixam a cidade na imagem de uma “cidade estagnada” 14 e de “vida
modorrenta” 15, durante o período em que foi uma vila colonial.
A reputação de ser uma das localidades mais atrasadas do Brasil e por se
encontrar no meio regional mais rico do país, deu aos governos do Espírito Santo, nos
13 - Tomamos emprestado o termo usado pela historiografia ao se referir à Capitania do Espírito Santo - “A Capitania”. 14 - VASCONCELLOS, João G. M. (org.) Vitória. Trajetórias de uma Cidade. Vitória:PMV, 1993. 15 - FREIRE, Mário Aristides. A Capitania do Espírito Santo (1535-1822) Vitória, 1945.
9
séculos XIX e XX, uma responsabilidade de superação muito rápida das perdas
econômicas e da falta de contato com o mundo exterior.
A primeira fase desse processo fundamentou-se essencialmente na produção do
café. Introduzido no Espírito Santo em aproximadamente 1811, o café deu início a um
processo de expansão econômica capaz de promover a ocupação das terras antes
ocupadas somente por índios e permitiu a integração do Espírito Santo com o mercado
mundial.
Integrante do rico sudeste cafeeiro, apesar de ser um dos estados menos
desenvolvidos do país, o Espírito Santo conseguiu desbaratar-se de sua letargia graças à
produção do café. Apesar de sua lavoura ter sido considerada pelo historiador Caio
Prado Júnior16 como “medíocre”, ao compará-la com a produção do Vale do Paraíba e
do Oeste Paulista, seu processo produtivo manteve-se por mais de um século.
Indubitavelmente, os investimentos financeiros que proporcionaram melhorias
ao Estado só se deram com o desenvolvimento da cafeicultura, que determinou uma
decisiva mudança no panorama econômico, político e sócio-cultural do Espírito Santo.
Do ponto de vista de econômico essas melhorias foram a construção da estrada de ferro
no sul do Estado, a abertura e reforma de estradas que ligavam as áreas produtoras à
estrada de ferro, a desobstrução de rios para o transporte fluvial, a introdução de barcos
a vapor, a reformas no porto da Capital e, principalmente, seu enquadramento ao
processo de exportação.
A outra fase de superação enquadrava-se no II Plano Nacional de
Desenvolvimento - IIPND - lançado pelo Governo Federal em 1974. Seu objetivo era
enfrentar a crise econômica vivida pelo Brasil com a substituição acelerada das
importações no setor de bens de capital e insumos básicos como a química pesada, a
siderurgia, metais não ferrosos e minerais não metálicos, além de desenvolver grandes
projetos de exportação de matéria-prima como celulose, ferro, alumínio e aço. Para isso
precisava contar com um centro localizado estrategicamente entre as jazidas de minério
de ferro e o mar, que tivesse condições de se formar uma infra-estrutura portuária e
ferroviária e estivesse apto a receber grandes investimentos capazes de atender ao
mercado externo.
16 - PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 21ª ed. São Paulo:Brasiliense, 1978.
10
O Espírito Santo que, desde a década de 1940 contava com uma moderna infra-
estrutura econômica desenvolvida pelas atividades exportadoras de minério de ferro
criada pela Companhia Vale do Rio Doce, mais uma vez serviu às estratégias
econômicas do governo.
Voltados para o mercado externo, as indústrias que foram implantadas ao redor
da cidade de Vitória17, se agrupavam no complexo secundário - os setores siderúrgico,
naval e pára-químico – e, no terciário - o turismo e o portuário.
Conjugando esforços na implementação desses grandes projetos industriais, os
governos federal e estadual, viabilizaram uma mudança tão radical na economia do
Espírito Santo que o mesmo deixou sua dependência da monocultura cafeeira para ligar-
se ao grande capital internacional.
Uma nova fase econômica ocorreu e juntamente com ela toda a estrutura de
produção do Estado. Ligado que era à monocultura das pequenas propriedades, tocadas
pela mão-de-obra familiar, o Espírito Santo se viu aos poucos se afastando das
atividades tradicionais e intensificando sua ligação com o processo de industrialização
e, consequentemente a Cidade de Vitória foi o palco principal dessas mudanças.
“Vitória: cidade presépio do Brasil” ?
Em 1957, a superprodução do café no mercado internacional promoveu uma
nova instabilidade do setor, ocasionando uma grande crise econômica em todo o Brasil.
A produção do café, que representava 60% das exportações totais do país no período de
57 a 60, sofreu com o desequilíbrio entre a oferta e a procura, e o governo federal
quanto mais negociava para manter elevado os preços do produto mais estimulava sua
17 - As indústrias que foram criadas e ampliadas com a implantação dos “Grandes Projetos Industriais”, em Vitória, a partir dos anos de 1970, foram: Complexo Siderúrgico com Usina Siderúrgica de Tubarão, Companhia Ferro e Aço de Vitória, Usina de Pelotização da Companhia Vale do Rio Doce, com Unidades de Produção da Itabrasco, da Hispanobrás e da Nibrasco, Usina de Pelotização Samarco; Complexo Naval com associação dos Grupos Docenave, Fronape e Lloyd Brasileiro, Complexo-Pára-Químico com a Aracruz-Celulose, Flonibra – Empreendimentos Florestais; Complexo Portuário comportando o Superporto de Tubarão para a Companhia Siderúrgica de Tubarão, obras portuárias do canal da baia de Vitória, envolvendo a construção do Cais de Capuaba/Atalaia, do Cais de Jaburuna, do Cais de Aribiri e ampliação e melhorias dos Cais Comercial de Vitória e do cais de Jabour. Sobre o assunto ver SIQUEIRA, Maria da Penha Smarzaro. Industrialização e Empobrecimento Urbano. O Caso da Grande Vitória. 1950-1980.
11
produção.18 A solução encontrada pelo governo para o problema veio por meio da
erradicação dos cafezais antiprodutivos em todo o país, tornando-se essa política numa
verdadeira transformação da estrutura econômica do Espírito Santo.
Sem um estudo prévio das condições em que se achavam organizadas econômica
e socialmente as comunidades produtoras de café, o governo providenciou de erradicar
53,8% dos cafezais do Estado.
Esse procedimento contribuiu para a instalação de uma grave crise social nas
regiões produtoras de café, principalmente no Espírito Santo, onde ainda na década de
1960, a agricultura cafeeira era uma atividade econômica com características coloniais.
Mesmo com os programas de estímulo para a diversificação da produção agrícola,
milhares de famílias ficaram desempregadas e buscaram a cidade de Vitória, que não
tinha uma política habitacional definida, nem uma política de assentamento urbano para
receber as populações que saiam da zona rural por conta das crises do setor cafeeiro.
Mesmo assim, o governo estadual permitiu que fossem ocupados os espaços devolutos
da periferia da cidade, nos manguesais e nos morros que se situam nos centro da Ilha.
Considerada pelos seus habitantes como uma cidade pacata e conhecida
nacionalmente como “Vitória, a Cidade Presépio do Brasil”, sua urbanização, até os
anos 50, voltava-se para o desenvolvimento comercial do porto e, apesar de manter
características dos tempos coloniais, era uma cidade confortável para as famílias
possuidoras de fortunas adquiridas com a exportação do café. Elas se aglomeravam no
centro da cidade, nos casarios amplos e modernos, construídos em ruas limpas e bem
calçadas por onde trafegavam bondes e automóveis.
Depois de 1970, Vitória tornou-se uma cidade integrada aos interesses
metropolitanos de região que a cercava. Vários municípios que antes ficavam
“próximos” da cidade foram unidos à Capital, formando a Grande Vitória. A antiga
“cidade pacata” tornou-se um centro de absorção de populações que buscavam novas
oportunidades de emprego nas indústrias incipientes. (Tabela 1)
18 - Idem.
12
Tabela 1 - Distribuição dos imigrantes nas unidades de Vitória – 1970 e 1980 1970 1980
Unidade
Urbana
População
Total
Imigrantes % População
Total
Imigrantes %
Vitória 133.019 66.062 44,6 207.747 121.553 58.5
Total 385.998 59.385 45,5 706.263 458.309 64.9
Fonte: Siqueira, Maria da Penha Smarzaro. 200219
Um grande número dessas pessoas foi absorvida pelas vagas de emprego que se
abriam, mas os Grandes Projetos não davam conta de absorver o contingente de pessoas
que chegava à Cidade diariamente. Milhares de pessoas, sem a qualificação exigida
pelas atividades industriais, ligaram-se às atividades informais, tornando-se biscateiros e
vendedores ambulantes ao redor dos centros urbanos, formando um verdadeiro bolsão
de miséria em todas as cidades que compõem a Grande Vitória.
Vitória tornara-se um centro urbano altamente congestionado e com uma grande
expansão de favelas. Na segunda metade da década de 1970, na área oposta ao Oceano
Atlântico, nas margens do canal que circunda a Ilha, novas favelas foram implantadas.
A população imigrante invadiu os manguezais e os morros, onde a Prefeitura Municipal
despejava o lixo da cidade e, numa extensão de aproximadamente cinco quilômetros
instalou o Bairro de São Pedro. Conhecido nacionalmente como “Lugar de toda
pobreza”, São Pedro caracterizava muito bem os rumos de pobreza tomados pela
cidade: milhares de pessoas sobreviveram ali da cata de lixo.
Por outro lado, a cidade cresceu. Novos bairros foram incorporados à paisagem,
a prefeitura da cidade abriu novas ruas, alargou outras, construiu praças arborizadas
com quadras de tênis e parques infantis. Algumas praias da cidade, voltadas para o
Atlântico, foram aterradas, dando origem aos bairros onde se instalaram pessoas ricas,
outras foram urbanizadas atraindo o turismo. O comércio que antes funcionava no
centro da cidade foi transferido para a região norte de Vitória, promovendo o
esvaziamento do centro e a ampliação da cidade. Um novo sistema de transporte
coletivo foi organizado, ligando as cidades ao redor da capital.
Nos anos subseqüentes ao início do processo imigratório, algumas obras foram
escritas a respeito das transformações ocorridas na cidade. Um exemplo é a obra 19 - Idem. Idem.
13
“Município de Vitória, situação sócio-econômica”, elaborada pela Comissão de
Planejamento Agrícola do Espírito Santo, no ano de 1978, sobre o crescimento
econômico e social de Vitória.20 Nela encontramos dados que mostram que a Cidade
localizava-se em uma área de 81 quilômetros quadrados (hoje, devido aterramentos,
Vitória tem 91 Km2) e tinha um complexo portuário que era a “maior expressão do
desenvolvimento e da economia da região [sudeste]”. Sua população, no ano de 1977,
era de 156.310 habitantes, sendo que 153.233 residiam na zona urbana e 3.077 na zona
rural. No setor de comunicação, em fins da década de 1970, Vitória contava com 20
associações culturais, 19 bibliotecas públicas, 09 salas de cinema, 01 teatro, 03
emissoras de radiodifusão e 01 de televisão, 05 jornais, 14.077 telefones ligados aos
sistema DDD e DDI, 02 agências de correio, 01 serviço de auto-falante, 03 revistas e 02
informativos de distribuição gratuita. No setor de saúde, a cidade tinha 2.016 leitos, 02
postos de saúde, 344 médicos, 238 dentistas e 76 farmacêuticos. Foram construídas
escolas de ensino fundamental, médio e superior, centros esportivos, particulares,
estaduais e municipais. Em 1978, o ensino de fundamental contava com 102 unidades
escolares, com 1.753 professores que atendiam a 40.327 alunos. No ensino médio a
cidade contava com 46 cursos que tinham 782 professores atendendo 14.451 alunos. A
rede bancária, em 1978, era representada por trinta e nove agências de bancos estadual,
federal e privadas. A iniciativa privada abriu boates, bares e shoppings.
Toda essa dinâmica proporcionou um novo cenário à cidade. Pessoas de várias
classes sociais, etnias, graus de escolaridade, estado civil, idade e crença passaram a
compor um novo mosaico para sociedade capixaba. O cotidiano pacato da cidade foi
cedendo lugar a um aglomerado urbano cada vez mais plural e com conflitos cada vez
mais explícitos. A coexistência de migrantes do interior e de diferentes cidades
brasileiras, que trouxeram consigo hábitos e valores típicos do mundo rural,
caracterizou Vitória como uma cidade de sociedade multifacetada. Vitória integra até
hoje hábitos típicos do mundo rural com a inquietação ocasionada pela complexidade do
processo de industrialização e urbanização que ocorreu nos últimos trinta anos do século
XX.
A antiga cidade deu espaço a novas formas de convivência, alterando
sensivelmente o comportamento de seus habitantes, principalmente das mulheres. 20- Dados fornecidos pela Comissão estadual de Planejamento Agrícola- CEPA/ES – Município de Vitória – Situação Sócio-Econômica, 1978.
14
A mulher capixaba e o casamento
Em meados do século XIX, para que ocorresse um crescimento da economia
baseada na produção agrícola, o governo incentivou à política de imigração e
colonização. O café, no Espírito Santo, se “firmou como cultura de pequenos
proprietários”21, diferentemente de outras áreas produtoras que se utilizavam de formas
capitalistas como meio de produção. No assentamento dos povos imigrantes como
pequenos proprietários desenvolveu-se o sistema de relações de produção familiar, cuja
mão-de-obra envolvia todos os membros da família, sem distinção de sexo.
A mão-de-obra familiar em pequenas propriedades era a tônica do sistema
econômico capixaba e, a estrutura desses grupos familiares era a mesma da família
patriarcal que, durante os três séculos de colonização portuguesa na América, envolveu
homens e mulheres em uma sociedade rigidamente hierárquica.
Baseada na economia agrária voltada para a exportação, a organização social
patriarcal brasileira promovia poder aos proprietários rurais, que tinham autoridade
absoluta sobre suas famílias. Mesmo sendo impossível identificar essa família como um
modelo ideal, seus preceitos influenciaram as relações sociais e sexuais de outros
modelos de unidades domésticas. Nas famílias dos pequenos proprietários a mulher
exercia atividades iguais aos dos homens. Assim como todos os membros da família ela
participava da derrubada de florestas, das plantações e das colheitas.
No Espírito Santo, onde as pequenas propriedades prevaleceram, a participação
feminina nas plantações e nas colheitas era fundamental para a manutenção das
fazendas. Mas, apesar de as mulheres dessas pequenas propriedades terem funções bem
definidas e atuarem lado a lado com os homens nos campos, a cultura de tradição
religiosa efervescente manipulava sua formação voltada para a constituição de uma
família, cujo principal papel a ser desempenhado por ela era o de esposa e mãe, muito
embora suas atividades no campo continuassem a ser exercidas junto com os homens da
família.
21 - SALETTO, Nara. Trabalhadores nacionais e Imigrantes no Mercado de Trabalho do Espírito Santo. 1888-1930. Tese de doutoramento apresentada na Universidade federal Fluminense. Rio de Janeiro, 1994.
15
A dominação masculina que aparece nessa sociedade se traduziu pela essência
que prisma pelo poder do homem sobre todos os membros da família, principalmente
sobre a mulher e seus filhos, tal qual as famílias que se constituíram aos moldes da
família patriarcal que estabelecia papéis sociais bem diferenciados entre os homens e as
mulheres. Para os homens, o destino público induziu na escolha de um trabalho, da
forma de participação política, dos meios de diversão. Para as mulheres, o destino
privado determinou o papel de esposa e mãe.
Essa divisão manifesta de sexismo atribuiu a cada pessoa papéis e modelos de
comportamento pré-determinado, de acordo com seu sexo: os homens “nunca”
fraquejam, têm “naturalmente” capacidade de gerir seu próprio sustento e se afirmam
em sua “superioridade” e, as mulheres, “naturalmente” dependentes, devem ser
“submissas” e “dóceis”.
A família, a educação e a igreja, instituições muito fortes no Espírito Santo,
foram as instituições que se organizaram em torno da manutenção desse imaginário.
Principalmente, quando se referiam à mulher. Se utilizaram da cultura e da disciplina
para convencerem-na que a nasceu para o casamento e que esse deve ser seu único
sonho.
Interiorizado esse sentimento e inculcado em milhares de gerações o casamento
transformou-se em um “sonho feminino” e, por muito tempo, acreditou-se realmente
que o único “sonho das mulheres” era o casamento.
Os pensamentos e os discursos dos anos 1960, segundo Bassanezi 22 difundiam
as características apropriadas a cada sexo, classificando a mulher como um elemento
frágil e delicado em oposição ao vigor e à intelectualidade masculina, prolongando
ideais do pensamento católico e o positivista que se desenvolviam desde o final do
século anterior. “Naturalmente afetivas” e “necessitadas de proteção”, as mulheres
foram declaradas submissas e portadoras de papéis distintos dos homens, que por
natureza foram classificados como provedores material e moral da família, diz
Vaitsman23. Uma moral que preparava a menina para o desempenho das funções
domésticas e pressionava o comportamento feminino no sentido de a mulher conservar
22 - BASSANEZI, Carla. Virando as páginas, revendo as mulheres. Revistas femininas e relações homem-mulher. 1945-1964. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1996. 23 - VAITSMAN, Jeni. Flexíveis e Plurais. Identidade, Casamento e Família em Circunstâncias Pós-Modernas. Rio de Janeiro:Rocco, 1994.
16
sua honra e não se indispor com a disciplina vigente. As normas sociais e “naturais” dos
sexos revelavam valores morais que deviam se refletir nos comportamentos femininos
de forma a garantir sua honra e sua imagem de “moça de família” e “boa esposa e mãe”.
Além da preocupação paterna em não ver suas filhas em uniões ilegítimas ou mesmo
celibatas. Por isso, as meninas capixabas, nascidas não só no interior, mas também em
Vitória, desde pequenas sabiam que seu destino era o casamento.24
A união de uma mulher com um homem, deixa de ser “natural” para tornar-se,
mediante o sacramento do casamento, uma construção social ligada à noção da essência
feminina, cujo destino passa a ser praticamente incontestável. Até a década de 1970,
muitas instituições de ensino, de religião e de formação de opinião, como jornais e
revistas femininas, em todo o país, repetiam a idéia de que “Toda mulher deseja casar-
se”, afirma Bassanezi.25
Por não terem uma profissionalização e pela falta de oportunidade de trabalho
fora do espaço doméstico que rendesse seu sustento e de seus filhos, a não ser o trato
com a terra de propriedade da família, milhares de mulheres se renderam aos
preconceitos e às atribuições que lhes foram dadas pela sociedade capixaba.
A compreensão de esse ideal ser nutrido por “todas” as mulheres fez com que
também em Vitória poucas opções de atividades lhes fossem oferecidas. Mesmo para
aquelas que já trabalhavam fora do ambiente doméstico, nessa época, o casamento
representava, dentre outras coisas, segurança, principalmente econômica.
Mesmo quando surgiam possibilidades de emprego para as mulheres no país,
entre os anos 1940 e 1970, essas deixavam de seguir uma carreira profissional para
dedicarem-se ao casamento, alegando que “Muitas vezes ambos são inconciliáveis”.
Nessa época, o trabalho feminino ainda era considerado um desprestígio para o homem,
que tinha o dever de sustentar sua família. A mulher devia se dedicar inteiramente ao
lar.
E, mesmo as mulheres que saiam em busca de trabalho para contribuírem no
sustento do lar, deviam sempre mostrar-se voltada ao interesse do casamento e em
nenhuma hipótese deveria se comportar de maneira a reduzir suas oportunidades de se
24 - MARGOTTO, Lilian Rose. Igreja Católica e Educação Feminina no Anos 60. O Colégio Sacré-Couer de Marie (Vitória – 1960-1969). Vitória:EDUFES, 1997. 25 - BASSANEZI, Carla.1996. Op. Cit
17
transformar em uma esposa. Exemplo disso está numa das edições da Revista
Capixaba26, do ano de 1967, que registra impressões sobre a mulher capixaba:
“Jóias, enfeites, uma série de preocupaçõeszinhas de vaidade substituem o alimento e o
conforto que devem existir dentro de casa.
O importante na vida é o casamento. Uma só finalidade na existência: casar.
Assim considera a vida grande número de solteiras intranqüilas. Estão à procura de
alguém que com elas possam dividir o coração. Neutralizam todas as atenções que
fogem a esta perspectiva. Nem mesmo um trabalho intelectual profundo resolveria seus
problemas – e então ela o afasta, como inimigo seu. A mulher solteira capixaba não
admite, facilmente, um sentido de vida fora do casamento, mesmo que se frustre toda,
como tem acontecido:
- Sem o casamento, prefiro morrer.”
A Pesquisa
Buscando confirmar as expectativas das mulheres capixabas em relação ao
casamento, realizamos nos cartórios de registro civil de Vitória um levantamento
estatístico dos casamentos, das separações e dos divórcios, ocorridos no período a seguir
à erradicação do café, que proporcionou o êxodo rural, e à implantação dos Grandes
Projetos Industriais, que levaram milhares de pessoas à cidade de Vitória em busca de
novas oportunidades de emprego.
Para obter dados mais precisos sobre a influência desse mercado de trabalho
sobre a relação da mulher com o casamento, levantamos também dados sobre a idade e
a profissão da mulher quando se casou. Nosso objetivo era fazer um cruzamento desses
dados no sentido de obter um estudo sobre o relacionamento da idade da mulher com
sua profissão, e verificar a influência desses fatores na duração do tempo de casamento.
Nos dados dos Censos Estatísticos da FIBGE procuramos verificar até que ponto
as expectativas das mulheres em relação ao casamento se confirmam. E, de imediato
26 - PERPÉTUO, Maurílio Cabral. 1967. Op. Cit. p. 29.
18
constatamos que, em 1970, o número de mulheres casadas era 41.121, ou seja 58,65%
das mulheres recenseadas e, em 1980, esse percentual cresceu para 72,29%. Em
oposição a esses dados os números de pessoas solteiras, homens e mulheres, caiu de
41,38%, em 1970, para 39,02%, em 1980.27
Nos três Cartórios de Registro Civil de Vitória (Sarlo, Amorim e Zilma Leite)
verificamos que entre 1970 e 2000 o número de casamentos em Vitória (65.924)
aumentou em torno de 62,37% (Tabela 2), enquanto que em todo o Estado do Espírito
Santo esse percentual não passou de 9,4% entre os anos de 1974 e 1998. Em todo o
Brasil, considerando esse último período, os números decaíram de 818.990 para
698.614.
Tabela 2: Ano de casamento x Cartório
CARTÓRIOS
ANOS SARLO ZILMA LEITE AMORIM TOTAL
1970 579 202 225 1006
1975 769 388 464 1621
1980 1034 498 653 2185
1985 1471 557 697 2725
1990 1114 605 451 2170
1995 1228 868 275 2371
2000 562 987 576 2125
TOTAL 31859 18587 15478 65924
Fonte: Livros de Registro Civil dos Cartórios de Vitória. 2001
Em relação à formação da família, o princípio da igualdade é um argumento
básico que norteia a escolha do cônjuge, desde os tempos coloniais.28 Aquela sociedade
impunha, por valores morais, que o pai decidisse a vida dos filhos, principalmente da
filha mulher. Era ele quem escolhia com quem sua filha deveria casar e, ela tinha como
obrigação respeitar sua vontade que versava em normas de indissolubilidade dos bens
econômicos, etnia, moral e idade. Fatores que faziam parte das normas criadas pela
sabedoria popular para que houvesse um casamento “perfeito”.
27 - MORAES, Paulo Stuck. Vitória - Alguns dados demográficos 1940 – 1980. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Revista n.44, 1994. p.55-64 28 - SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Sistemas de Casamento no Brasil Colonial. São Paulo:EDUSP, 1984.
19
Por isso, era muito comum casamentos entre pessoas de uma mesma família e a
mulher casar-se muito nova, beirando aos 13 anos. Geralmente aos 15 a menina já era
mãe. Se chegasse aos 20 anos sem “conseguir” casar-se, a mulher era considerada
“solteirona”.
Muitas meninas logo que nasciam eram prometidas pelo pai a um “compadre”
amigo. Tão logo a menina menstruasse era considerada apta ao casamento e, em muitos
casos, era entregue ao marido ainda criança, apesar de várias vozes se fazerem contra
esses costumes. Francisco José de Almeida29, autor do Tratado da Educação Física dos
Meninos, em 1791, não admitia o casamento precoce e não acreditava que as primeiras
menstruações da menina a fizessem apta à procriação. Para ele, somente depois da
puberdade é que os órgãos estariam prontos para o sexo e isso acontecia a partir dos 18
anos.
Em Vitória, até as décadas de 1950 e 1960, as mulheres casavam-se logo depois
da puberdade. As capixabas que atingissem a idade de 20 anos sem ter “conseguido” um
marido, eram consideradas “solteironas” e "titias" e, com certeza, sentiam-se
constrangidas diante das cobranças sociais e das gozações gerais, que as consideravam
“encalhadas”.
O estigma que acompanhava a condição de inferioridade feminina sujeita à
autoridade despótica do pater famílias, desde a velha e hipócrita sociedade portuguesa,
e herdada pelos brasileiros, provocou nas mulheres muito jovens o ideário falso da
“liberdade” através do casamento. Influenciadas por essas idéias milhares de mulheres
casaram-se mesmo antes de completar 18 anos. Bassanezi30 afirma que em São Paulo, o
Departamento de Estatísticas detectou que 24% das mulheres que se casaram em 1961
ainda não tinham completado 20 anos.
Em Vitória, nas décadas seguintes, mesmo sem estar preparada para uma vida a
dois, muitas mulheres ainda casaram-se jovens, antes mesmo de completar 19 anos.
(Tabela 3).
29- Apud SILVA, Maria Beatriz N. 1984. Op. Cit. p. 54 30 - BASSANEZI, Carla.1996. Op. Cit
20
Tabela 3 – Faixa Etária x Casamento (1975-1995) ANO DO
CASAMENTO
TOTAL DE
CASAMENTOS
MENOR QUE 19 ANOS
%
1975 1.621 468 28,88
1980 2.185 540 27,72
1985 2.725 593 21,76
1990 2.170 515 23,92
1995 2.371 470 19,82
Fonte: Estatísticas de Registro Civil – FIBGE - 1974-1998
A inexperiência e, por diversas vezes, a curiosidade, fizeram muitas dessas
mulheres reféns de uma vida descontente, conflituosa e infeliz. E, a não realização
individual levou à insatisfação conjugal, provocando o rompimento do casamento em
curto espaço de tempo. Após os anos 70 os dados dos cartórios mostram que várias
mulheres não somente casaram-se após a idade de 19 anos, mas também se separaram
e/ou divorciaram antes dessa idade. (Tabela 4)
Tabela 4 – Faixa Etária e Rompimento Conjugal –1970-2000 FAIXA ETÁRIA SEPARADA DIVORCIADA SEPARADA E
DIVORCIADA TOTAL
10 a 14 21 27 18 66 15 a 19 990 910 822 2722 TOTAL 1011 937 840 2788
Fonte: Livros de Registro Civil dos Cartórios de Vitória. 2001
Dentro de um padrão social de menor poder aquisitivo, muitas vezes quando a
mulher não “conseguia” casar-se era vista como um peso para a família, pois não havia
conseguido um marido para sustentá-la e, esse estigma só era superado se a mulher
trabalhasse para o seu sustento.
O chamado “milagre econômico brasileiro” incorporou no mercado de
trabalho milhares de mulheres e a maior parte do mercado de trabalho feminino se
tornou um fator importante para modificação daquela estrutura social. Embora
crescente, na década de 1970, a população feminina economicamente ativa ainda fosse
proporcionalmente pequena. Enquanto 79% dos homens aptos ao trabalho estavam na
ativa, somente 21% das mulheres em condições de desenvolver qualquer atividade
remunerada, estavam no mercado de trabalho.
21
Mas, no período de 1980 a 1991, as repercussões decorrentes desse processo
de transformação econômica levou maiores quantidades de mulheres a serem
incorporadas no mercado de trabalho. Em 1980, no Brasil, o percentual feminino
economicamente ativo era de 27%, passando para 35,5%, em 1991.31
O crescimento desses números foi tão significante que, somente para
exemplificar, pesquisamos a quantidade de mulheres economicamente ativas na década
de 1940. Naquela época, somente 2,8 milhões de mulheres faziam parte da força de
trabalho brasileira. Em 1990, esse número aumentou para 22,8 milhões, representando
35,5% da população ativa do país.32
No início da década de 1980 a taxa de desemprego urbano foi superior a 35%
e, em 1988, somente 6,6% dos trabalhadores recebiam acima de dez salários. A situação
de pobreza afetou as unidades domésticas brasileiras, ao ponto de haver cada vez mais
necessidade de a mulher sair do âmbito doméstico para auxiliar nas despesas do lar.
Todavia, a grande maioria dessas mulheres exerciam atividades de pouca
qualificação. Segundo a FIBGE, em 1990, 20% das mulheres trabalhadoras exerciam
atividades no comércio, 18% nos serviços de educação e 8% nas atividades de saúde.
As dificuldades sócio-econômicas que atingiram as famílias brasileiras,
afetaram principalmente aos homens que enfrentavam muitas dificuldades para manter
seus empregos e essas dificuldades provocaram inúmeros problemas no desempenho
cultural masculino definido como provedor da unidade doméstica.
As mulheres, se engajaram principalmente nos serviços modernos e na
indústria, principalmente no ramo de vestuário, do calçado, dos artefatos de tecidos. No
setor terciário a maioria das mulheres se integrou em atividades relacionadas ao
secretariado, ao comércio, ao funcionalismo público e aos bancos. (Tabela 5)
31 - Fundação IBGE. Estatísticas Históricas do Brasil. Séries Econômicas Demográfias e Sociais. 1980-1995. 32 - Idem.
22
Tabela 5 - Mercado de Trabalho Feminino (Brasil) POPULAÇÃO ATIVA
(1.000 pessoas)
SETOR DE ATIVIDADES 1970 1980
Industrias têxteis, vestuários, calçados Comércio Banco e outras atividades financeiras Serviços governamentais
8l6,8 449,1 77,7
160,2
1.339,2 1.455,1 322,6 372,2
Fonte: Censos demográficos do Brasil de 1970 e 1980
Os salários recebidos por milhares dessas mulheres fez com que muitas relações
no interior das unidades domésticas fossem abaladas. Tais situações aliadas à
regulamentação do divórcio no país, em 1977, desafiaram os componentes básicos do
papel exercido pelas mulheres no interior das unidades domésticas, uma vez que as
diferenças e a instabilidade afetiva e econômica não são estimulantes para que os laços
conjugais permaneçam estáveis, o que levou a que milhares de laços conjugais
conflituosos se desfizessem. ( Tabela 6) Tabela 6 - Processos de separação e divórcio concluídos (1982 e 1992)33
LOCAL 1982 1992 Brasil 123.511 170.911 Espírito Santo 1.876 4.016 Rio de Janeiro 17.078 10.637 São Paulo 53.527 67.301 Minas Gerais 11.245 17.747 Rio G. do Sul 7.787 14.980 Goiás 3.287 5.571 Pará 636 1.347 Ceará 1.727 2.252 Fonte: FIBGE - Estatísticas do Registro Civil 1982 e 1992
Os processos de divórcio no Brasil cresceram 72,27% somente neste período.
Os números de divórcios, aliás, aumentaram com tanta rapidez que só no Estado do
Espírito Santo esse crescimento foi de 45,1% entre os anos de 1983 e 1985, ou seja: no
ano de 1985, o número de divórcios homologados cresceu 84,49% em relação ao ano
anterior, que por sua vez foi de 71% superior ao ano de 1983.
Tal crescimento, que ocorreu de forma semelhante em todo o país, mostrou que
os resultados obtidos salientam o impacto da vida urbana sobre a mudança nos números
de casamentos. Os dados mostram que padrões de comportamento antes muito
33 - Para se ter uma idéia do total da demanda dos processos de separação e divórcio de todo o Brasil, utilizamos o critério de escolher toda a Região Sudeste e, aleatoriamente, um Estado de cada outra região.
23
importantes para a vida da mulher já não condizem com os objetivos sociais femininos.
E, a cidade de Vitória, inserida neste contexto, depois das mudanças econômicas da
década de 1970, apresentou-se-nos com um número considerável de mulheres jovens,
trabalhadoras, que solicitaram separações e divórcios.
Esse fenômeno pode ser visto nos dados levantados nos cartórios. No que diz
respeito ao engajamento profissional das mulheres no mercado de trabalho, procuramos
identificar, dentre os 8.680 processos de separações e divórcios registrados de 1970 a
2000, aquelas que mais se destacaram. Depois de analisar os dados constatamos que o
maior número de mulheres que se envolveram nos processos de rompimento conjugal
estão registradas nos cartórios com a profissão de doméstica (2.693) e estudante
(1.846). Mas, a maioria das mulheres consideraram suas “atividades” como profissão e
essas foram registradas como tal. Contraditoriamente, isso significa que vários registros
de domésticas não mostram a real profissão da mulher, pois muitas atividades manuais
realizadas no âmbito doméstico voltadas para o público, como a costura, a confecção de
doces, o corte de cabelos, a manicure, não foram consideradas como profissões.
A partir do ano de 1978 o número de mulheres que se registrou como
doméstica sofreu uma queda de 76,5%, pois muitas mulheres se registraram como
profissionais de curso superior: da área tecnológica, cento e vinte e duas; da área
biológica, cento e noventa e cinco; e, da área de humanas duzentos e trinta e duas.
Muitos registros de profissões não definem claramente se a mulher tem ou não curso
superior, como é o caso do registro de profissões como empresária, autônoma,
funcionária pública, dentre outras. Acreditamos, por isso, que exista um número muito
maior de mulheres separadas ou divorciadas com curso superior.
Um balanço desses dados mostra, no período estudado, que os casamentos já
não atendiam à mentalidade de que seriam “eternos”, ou seja, já na década de 1970,
antes mesmo da aprovação da lei do divórcio, em 1977, os casamentos já não resistiam
aos problemas advindos de uma série de mudanças no comportamento da sociedade, tais
como: o desemprego, a não manutenção da mentalidade de que o homem deveria ser o
provedor da família, a necessidade da saída da mulher para o mercado de trabalho até
então gerido somente pelos homens, a falta de uma educação feminina que preparasse a
mulher para enfrentar esse mercado de trabalho, dentre outros.
24
As inferências feitas a partir do mosaico heterogêneo de dados diferenciados
nos leva a crer que o processo de identidades contrastantes pode se constituir em
representações ideologicamente construídas. Um exemplo de representações
desencontradas podem ser relacionadas aos comportamentos variados das mulheres
envolvidas nos registros pesquisados: enquanto mulheres se casaram com menos de 30
anos, exercendo profissões de pouca rentabilidade e dependendo economicamente do
marido, mantiveram seus casamento por mais de 20 anos, as mulheres que se casaram
com mais de 30 anos, estabilizadas financeiramente, mantiveram seus casamento por
um período inferior a 03 anos.
Os registros sobre a concentração do número de casamentos na faixa dos cinco
anos de duração nos leva a perceber que, mesmo sem outras fontes de pesquisa, o
casamento está sofrendo mutações e fortalecendo outras formas de relacionamento, sem
passarem pela situação de registro. Basta ver o momento presente.
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