Mulheres Portuguesas Empreendedoras em Andorra Maria Ortelinda Barros Gonçalves Associação Universitária de Espinho - AUE CEPESE/Universidade do Porto

Mulheres Portuguesas Empreendedoras em Andorra

Maria Ortelinda Barros GonçalvesAssociação Universitária de Espinho - AUE

CEPESE/Universidade do Porto

Outubro 2013

O presente estudo refere-se especificamente ao Empreendedorismo Feminino Português em Andorra e insere-se no Projeto de Investigação intitulado “Empreendedorismo Emigrante português em Andorra, Londres, Nice e Mónaco” em que a instituição proponente é o Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade – CEPESE e que está a ser financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (F.C.T.).


Caracterizar a sociedade onde as mulheres estão a trabalhar;

Aferir estratégias da sua inclusão social;

Contribuir para um melhor conhecimento do empreendedorismo feminino fora do país de origem.


O trabalho de campo realizado em Março de 2013 foi concretizado em cinco das sete paróquias de Andorra (La Massana, Andorra la Vella, Escaldes Engordany, Encamp e Canilo).

Foram aplicados 51 inquéritos por questionário e 7 por entrevista semiestruturada.

Foi ainda possível fazer observação não participante.

Além das características sociodemográficas, procedeu-se a uma caracterização profissional antes e depois de emigrar, à caracterização da empresa em Andorra e ao percurso migratório.


O Principado de Andorra é um pequeno Estado localizado na cordilheira pirenaica entre o nordeste da Espanha e o sudoeste da França. Éo único estado no Mundo em que a forma de governo é uma DiarquiaÁrea de 468Km2 e População Absoluta de 78.360.

Corresponde a um território poliglota e pluricultural no qual convergem múltiplas nacionalidades (cerca de uma centena), impulsadas nas últimas décadas por um crescimento no sector da construção e do turismo.

Em 2012 Andorra registava 76.246 habitantes de várias nacionalidades, sendo que os portugueses merecem um lugar de destaque com uma representatividade de cerca de 14% da população residente em Andorra.


Dos 51 empreendedores portugueses inquiridos em Andorra foi possível encontrar um grupo significativo de mulheres empreendedoras, num total de 26, o que representa uma percentagem de 51%.


Frequências Percentagem Percentagens acumuladas

1º Ciclo Ensino Básico 3 11,5 11,5



Ensino Secundário 3 11,5 88,5

Bacharelato 1 3,8 92,3Licenciatura 2 7,7 100Total 26 100


No entanto, a formação complementar parece ter uma importância bastante mais significativa pois foi obtida por quase metade do grupo em estudo (11 casos ou seja 42,3%).


Condição perante o trabalho em PortugalCondição perante o trabalho em Portugal


Frequências

Percentagem

Percentagens acumuladas

Trabalhadora por contra própria c/empregados 1 3,8 3,8

Trabalhadora por contra própria s/empregados 1 3,8 7,7

Trabalhador por conta de outrem 13 50 57,7

Trabalhadora em empreendimento familiar não remunerado

2 7,7 65,4



Menos de 1 ano 1 3,8 3,8Entre 1 e 3 anos 3 11,5 15,4Entre 4 e 6 anos 4 15,4 30,8Mais de 6 anos 18 69,2 100

Total 26 100

Tempo demorado para a tomada de Tempo demorado para a tomada de decisão da criação de uma empresadecisão da criação de uma empresa



Trabalhadora por contra própria s/empregados 1 3,8 3,8

Trabalhador a por conta de outrem 24 92,3 92,3

Estudante 1 3,8 3,8

Total 26 100 100

Situação perante o trabalho quando aSituação perante o trabalho quando a inquirida decidiu criar a sua empresainquirida decidiu criar a sua empresa


Frequências PercentagemPercentage

ns acumulada

sComércio por grosso e a retalho; reparação de veículos 5 19,2 19,2

Alojamento, restauração e similares 15 57,7 76,9Atividades administrativas e dos serviços de apoio 1 3,8 80,8

Outras atividades de serviços 5 19,2 100Total 26 100

Área de atividade da empresa principalÁrea de atividade da empresa principal


Número de empregados da empresa da inquiridaNúmero de empregados da empresa da inquiridaFrequências Percentagem

Percentagens

acumuladasNão tem empregados 13 50 50

9 ou menos 13 50 100

Total 26 100

Tipo jurídico da empresaTipo jurídico da empresa

Frequências Percentagem


Empresário individual 20 76,9 76,9

Sociedade anónima 1 3,8 80,8

Sociedade limitada 5 19,2 100Total 26 100


Razões de escolha de atividade das Razões de escolha de atividade das empresas principaisempresas principais

Média Desvio padrãoTinha experiência na atividade 1,77 1,142Gosto pela atividade 2,5 1,421Boas perspetivas de mercado 3,42 1,137

Surgiu a oportunidade 3,85 1,713Conhecia pessoas que já trabalhavam na área 4,62 1,203

Mais facilidade de, financeiramente, implementar a atividade

4,85 1,317

Tipos de associaçõesTipos de associações


Frequências

Percentagem


Não 18 69,2 69,2Sim 8 30,8 100Total 26 100

Participação associativa das inquiridasParticipação associativa das inquiridas

Respostas Percentagem de casosNúmero Percentagem

Associação cultural 3 37,50% 37,50%Associação de solidariedade social 2 25,00% 25,00%

Associação empresarial/sindicato

3 37,50% 37,50%

Total 8 100,00% 100,00%



25% ou menos 6 23,1 23,1Entre 26 e 50% 9 34,6 57,7

Entre 51 e 75% 7 26,9 84,6Entre 76 e 100% 4 15,4 100

Total 26 100


Frequências PercentagemPercentagen

s acumuladas

25% ou menos 16 61,5 61,5Entre 26 e 50% 7 26,9 88,5

Entre 51 e 75% 1 3,8 92,3

Entre 76 e 100% 2 7,7 100

Total 26 100

Número de empregados portugueses ou de origem Número de empregados portugueses ou de origem portuguesaportuguesa


Frequências PercentagemPercentage

ns acumulada

s1 1 25 252 2 50 753 1 25 100

Total 4 100

Número de sócios portugueses ou de origem Número de sócios portugueses ou de origem portuguesaportuguesa

Frequências PercentagemPercentagen

s acumuladas

0 2 15,4 15,41 7 53,8 69,22 3 23,1 92,33 1 7,7 100

Total 13 100



25% ou menos 9 34,6 34,6Entre 26 e 50% 6 23,1 57,7Entre 51 e 75% 4 15,4 73,1Entre 76 e 100% 7 26,9 100Total 26 100

Percentagem de clientes portuguesesPercentagem de clientes portugueses

Percentagem de fornecedores portuguesesPercentagem de fornecedores portugueses


25% ou menos 20 76,9 76,9Entre 26 e 50% 4 15,4 92,3Entre 76 e 100% 2 7,7 100

Total 26 100

Percentagem de tempo de utilização da língua portuguesa Percentagem de tempo de utilização da língua portuguesa no contexto laboral (quartis)no contexto laboral (quartis)

A Inclusão Socio-Laboral das Mulheres Portuguesas Empreendedoras em Andorra


Não 3 11,5 11,5Sim 23 88,5 100Total 26 100


25% ou menos 6 26,1 26,1Entre 26 e 50% 7 30,4 56,5Entre 51 e 75% 4 17,4 73,9Entre 76 e 100% 6 26,1 100Total 23 100



Castelhano 5 19,2 19,2

Catalão e Castelhano 1 3,8 23,1

Português 17 65,4 88,5

Português e Castelhano 3 11,5 100

Total 26 100



Andorrana 2 8,7 8,7Portuguesa 21 91,3 100Total 23 100

eA:: Por aquilo que já me têm dito, não falam o catalão, que se queixam muito...E07: Sim, claro....mas também não nos dão muitas oportunidades (...)eA: De aprender...E07: Dão oportunidades a nível... se tu queres aprender catalão podes aprender catalão...mas no trabalho...claro dão-nos assim.... um pouco ...como não sabemos cem por cento a língua, e é uma língua um pouco difícil... mais difícil que o castelhano...claro que falamos principalmente castelhano, e então esquecemos um pouco do catalão entre aspas e põem muitos entraves por causa da língua e cada vez acho põem mais entraves por causa da língua.eA: É uma questão de afirmar a língua do país deles, aqui fala-se muito um pouco de tudo, (...) E07: De tudo menos catalão...eA: Fala-se francês, fala-se castelhano, fala-se português...E07: Por um lado é normal que eles queiram que se fala catalão, por outro lado penso que não reagem da melhor forma com as pessoas que vão pedir trabalho, acho que deveriam de dar mais oportunidades. Nem sequer dão oportunidade de aprenderem. Dizem logo que não, que não querem pessoas que não falem catalão.(Entrevista n. 7, Sexo feminino, 28 anos, licenciada, microempresa em nome individual)


eA: Alguma vez se sentiu descriminada por ser origem portuguesa aqui na sua vida quotidiana, aqui no país?E07: Sim...eA: Em que aspectos?E07: Pelo fato ser portuguesa acho que os portugueses aqui não são bem aceites.eA: Sentiu-se descriminada porquê, deixaram de falar contigo, puseram-te à parte?E07: A nível que disseram bastantes vezes que era portuguesa e não queria mais gente portuguesa a trabalhar..eA: Sim, mas quando ias pedir trabalho?E07: Não quando ia pedir trabalho, mas quando estava a trabalhar. Disseram que eu era a única portuguesa, que não queriam mais... portugueses.


E07: Porque não gostam dos portugueses, não aceitam bem os portugueses aqui... não sei a nível... não estou a falar de uma forma geral, estou a falar mas de forma particular ...mas é o que eu penso e muitas pessoas têm esse ponto de vista...é o que nos dá a sensação aqui. Os portugueses aqui são muito importantes, no desenvolvimento do país sempre foram muito importante.eA: Bastante emigração?E07: Sim, bastante portugueses aqui em Andorra. A comunidade portuguesa é bastante grande, mas penso que não são bem-vindos entre aspas, pela minha experiência pessoal.(Entrevista n. 7, Sexo feminino, 28 anos, licenciada, microempresa em nome individual)


•Os principais resultados revelam que as perspectivas de trabalho e de inserção profissional representam um ponto determinante na tomada de decisão para a emigração. As oportunidades de negócio surgiram já no território de Andorra e não como uma continuidade com o mercado português.

•O percurso empreendedor destas mulheres está mais relacionado com a prática profissional do que a conclusão de algum tipo mais específico de formação.

•Estas mulheres trabalharam em Andorra na sua esmagadora maioria como trabalhadoras por conta de outrem, assalariadas, muitas vezes no tipo mesmo de empresa que viriam a criar mais tarde. Para muitas delas a emigração serviu como vector de inserção no mercado de trabalho ou mesmo como primeira experiência laboral.•A participação portuguesa nas questões políticas de Andorra acaba por ser inexistente e as associações locais, nomeadamente as associações profissionais, não representam uma fonte importante de integração no mercado, nem no meio económico. O contexto legal e do título de nacionalidade acabam igualmente por restringir qualquer participação.•Os níveis de integração das mulheres empreendedoras oriundas da emigração portuguesa em Andorra serão relativamente baixos nomeadamente com a população autóctone. Destaca-se a comunidade de origem como um ponto essencial do desenvolvimento das suas vidas e da vida das suas empresas.


• A língua portuguesa é utilizada no contexto do exercício das suas atividades económicas pela quase totalidade das inquiridas .

• O entrave linguístico parece definir de alguma forma os limites de mercado e do tipo de negócios que as mulheres empreendedoras constroem, isto é, com um enfoco na sua origem e na comunidade a que pertencem.

• A exclusão linguística e uma ampla predominância da comunidade portuguesa quer nos círculos particulares, quer nos públicos acabam por ser fatores importantes para o desenho de um enclave cultural e até certo ponto económico e social. Serão certamente questões fulcrais no entendimento da construção dos percursos empreendedores dos emigrantes em Andorra e na forma como se constrói um mercado específico mais não propriamente fechado sobre si próprio.



Maria Ortelinda Barros GonçalvesAssociação Universitária de Espinho – AUE

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