12
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MULHERES, VIOLÊNCIA DE GÊNERO E AS DIFICULDADES NO ACESSO ÀS PROTEÇÕES JUDICIAIS DA LEI MARIA DA PENHA Alberto Carvalho Amaral 1 Resumo: Nesta comunicação oral, serão expostos os resultados da pesquisa de mestrado, em que busquei situar a violência sofrida pelas mulheres agredidas por seus companheiros e compreender como elas representavam socialmente os órgãos judiciais de enfrentamento à violência de gênero no Brasil: Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública. Nesta autoetnografia, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, grupo focal, com técnicas de observação das rotinas e das atividades, com o objetivo de identificar suas representações sociais (Moscovici) e os discursos do sujeito coletivo (Lefevre e Lefevre). Juízes anestésicos, promotores desconhecidos e defensores ausentes emergiram dessas análises. A sala de audiências como campo excludente das pretensões das vítimas (Bourdieu), posicionando-as em uma areia movediça judicial. O fluxo estruturante das organizações jurídicas que frustra as expectativas das vítimas (Luhmann). A ausência de assistência jurídica da Defensoria Pública do DF, nos fóruns distanciados do centro de Brasília, é relevante e gera efeitos prejudiciais para a proteção de seus direitos. As práticas diminutivas da condição feminina tendem a permanecer, emergindo a necessidade de buscar-se uma atuação institucional mais sinestésica (Sánchez Rubio), com maior compreensão dos anseios e necessidades das mulheres, aproximando suas falas, pela intervenção e auxílio de defensores públicos com uma abordagem sensível e afetiva. Palavras-chave: Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340/2006), órgãos judiciais de enfrentamento à violência doméstica, representações sociais, discurso do sujeito coletivo. Introdução A ausência de cumprimentos, aparência de estranhamento ou de total ignorância. O ingresso em um local que, ao contrário do esperado, não lhe garante privacidade, cuidado ou importância. A ida ao Judiciário, antes de oferecer soluções, parece ser mais uma continuidade nas dificuldades em obter algo que possa, efetivamente, repercutir na dinâmica de violações sofridas por seu consorte. O cenário desolador, de aparente insensibilidade, é presente em diversos juizados de violência doméstica, em aparente contraposição aos anseios da lei de regência e da necessidade de um atendimento mais próximo, acolhedor, interdisciplinar e atento às mulheres agredidas. Ao lado do distanciamento, pela própria configuração da ritualística envolvendo “operadores” do Direito, suas articulações parecem ser dissonantes, quando confrontadas com os pleitos das mulheres vitimadas por seus consortes. 1 Mestre em Direito e Políticas Públicas (UniCEUB). Especialista em Direito Processual pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2008). Especialista em Ciências Penais pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2007). Graduado em direito pelo Centro Universitário de Brasília (2005). Defensor Público do Distrito Federal, titular da 2ª Defensoria de Curadoria Especial e Atendimento Inicial de Samambaia/DF. Professor da Escola da Defensoria Pública do DF (EASJUR). Brasília/DF. Brasil.

MULHERES, VIOLÊNCIA DE GÊNERO E AS DIFICULDADES … · concretizando sua ampla defesa e contraditório naquele ato. ... realidade, fazia letra morta de aspectos relevantes da Lei

Embed Size (px)

Citation preview

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MULHERES, VIOLÊNCIA DE GÊNERO E AS DIFICULDADES NO ACESSO ÀS

PROTEÇÕES JUDICIAIS DA LEI MARIA DA PENHA

Alberto Carvalho Amaral1

Resumo: Nesta comunicação oral, serão expostos os resultados da pesquisa de mestrado, em que

busquei situar a violência sofrida pelas mulheres agredidas por seus companheiros e compreender

como elas representavam socialmente os órgãos judiciais de enfrentamento à violência de gênero no

Brasil: Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública. Nesta autoetnografia, foram realizadas

entrevistas semiestruturadas, grupo focal, com técnicas de observação das rotinas e das atividades,

com o objetivo de identificar suas representações sociais (Moscovici) e os discursos do sujeito

coletivo (Lefevre e Lefevre). Juízes anestésicos, promotores desconhecidos e defensores ausentes

emergiram dessas análises. A sala de audiências como campo excludente das pretensões das vítimas

(Bourdieu), posicionando-as em uma areia movediça judicial. O fluxo estruturante das organizações

jurídicas que frustra as expectativas das vítimas (Luhmann). A ausência de assistência jurídica da

Defensoria Pública do DF, nos fóruns distanciados do centro de Brasília, é relevante e gera efeitos

prejudiciais para a proteção de seus direitos. As práticas diminutivas da condição feminina tendem a

permanecer, emergindo a necessidade de buscar-se uma atuação institucional mais sinestésica

(Sánchez Rubio), com maior compreensão dos anseios e necessidades das mulheres, aproximando

suas falas, pela intervenção e auxílio de defensores públicos com uma abordagem sensível e afetiva.

Palavras-chave: Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340/2006), órgãos judiciais de enfrentamento à

violência doméstica, representações sociais, discurso do sujeito coletivo.

Introdução

A ausência de cumprimentos, aparência de estranhamento ou de total ignorância. O ingresso

em um local que, ao contrário do esperado, não lhe garante privacidade, cuidado ou importância. A

ida ao Judiciário, antes de oferecer soluções, parece ser mais uma continuidade nas dificuldades em

obter algo que possa, efetivamente, repercutir na dinâmica de violações sofridas por seu consorte.

O cenário desolador, de aparente insensibilidade, é presente em diversos juizados de

violência doméstica, em aparente contraposição aos anseios da lei de regência e da necessidade de

um atendimento mais próximo, acolhedor, interdisciplinar e atento às mulheres agredidas. Ao lado

do distanciamento, pela própria configuração da ritualística envolvendo “operadores” do Direito,

suas articulações parecem ser dissonantes, quando confrontadas com os pleitos das mulheres

vitimadas por seus consortes.

1 Mestre em Direito e Políticas Públicas (UniCEUB). Especialista em Direito Processual pela Universidade do Sul de

Santa Catarina (2008). Especialista em Ciências Penais pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2007). Graduado

em direito pelo Centro Universitário de Brasília (2005). Defensor Público do Distrito Federal, titular da 2ª Defensoria

de Curadoria Especial e Atendimento Inicial de Samambaia/DF. Professor da Escola da Defensoria Pública do DF

(EASJUR). Brasília/DF. Brasil.

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Nesta comunicação oral, serão expostos os resultados da pesquisa de mestrado, em que

busquei situar a violência sofrida pelas mulheres agredidas por seus companheiros e compreender

como elas representavam socialmente os órgãos encarregados pelo enfrentamento judicial à

violência de gênero no Brasil: Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública (Amaral, 2017).

A partir da identificação das representações sociais das mulheres agredidas, pretendi

compreender como interacionam esses órgãos e se a atuação é proveitosa para as vítimas, fazendo

diminuir ou cessar o círculo de violência em que estão submetidas e que é, parcialmente,

visualizado naquele processo judicial, além de situar seus dilemas e frustrações.

Definidas tais premissas, volto para a exposição sucinta dos principais temas e resultados

verificados durante a pesquisa de campo.

Dilemas, contradições. As previsões legais, as práticas institucionais e as frustrações das

mulheres em situação de violência ao encarar o sistema judicial de enfrentamento à violência de

gênero no Brasil

Desde logo, é importante que se defina esse texto e as reflexões nele suscitadas, como uma

proposta de diálogo. Isso, aliás, parece ser o caminho adequado nas pesquisas que versam sobre

violência doméstica. Trata-se de temática complexa, com lastro cultural inegável, ranços históricos

que lutam para se manter e sobreviver às tentativas de inclusão ou exclusão da pauta política.

Se há uma maior conscientização sobre a violência doméstica nos últimos anos, o que parece

ser inegável, é visível o surgimento (ou incremento) de movimentos opostos, de reafirmação sexista

e alarmistas. Sexistas, pois reiteram as diminuições femininas por premissas frágeis, fruto de pura

retórica, de postulados bíblicos desatualizados a pseudo-ciências. Alarmistas, pois conclamam para

uma tomada de atitude por parte daqueles que já detém, em regra, o monopólio da força na relação

doméstica, em uma quase “legítima defesa” da sociedade tradicional e dos arranjos de suposta

modernidade.

Não é de se estranhar, portanto, que estejamos vivenciando momentos de avanço nos

estudos feministas e, também, nos estudos sobre homens e masculinidades (Amaral, 2017), ao

mesmo tempo em que regredimos nas discussões populares e, até científicas, inclusive dentro do

próprio movimento feminista, como expressam as tendências radicais das TERF’s (trans-

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

exclusionary radical-feminism) e das SWERF’s (sexual-workers female radical-feminism)2.

Avanços e retrocessos, em processos fluídos, céleres.

Feitas essas considerações e lembrando-me, neste ponto, do constante incremento das taxas

que medem a violência praticada contra as mulheres por seu gênero e no âmbito familiar (Amaral,

2016, p. 111 e ss), volto-me à pesquisa e seus resultados. O que motivou a pesquisa é o primeiro

ponto que devo esclarecer.

Inicialmente, pretendia investigar se as mulheres, após terem contato imediato com os

órgãos judiciais de enfrentamento à violência doméstica no Brasil, conseguiriam obter “bom

proveito” dessa situação, ou seja, se aquele episódio propiciaria empoderamento, se diminuiria ou

faria cessar as agressões praticadas por seus consortes. Assim, sob a óptica de destinatárias dos

serviços prestados pela Lei Maria da Penha, as mulheres agredidas estavam satisfeitas com o que

lhes era ofertado?

Essa pergunta me é muito cara, pois se volta para o público do meu serviço e sobre a própria

efetividade do que desempenho diariamente. Por ser defensor público do Distrito Federal, tive a

oportunidade de participar de diversas audiências de violência doméstica – inúmeras, já que,

diariamente, eram cerca de 20 a 30 mulheres –, sempre auxiliando juridicamente o agressor,

concretizando sua ampla defesa e contraditório naquele ato. Salvo raros juízos e casos, as mulheres

não estavam acompanhadas por advogados. Seu agressor estava. Isso me parecia contraditório e, em

realidade, fazia letra morta de aspectos relevantes da Lei Maria da Penha, que previa expressamente

auxílio amplo para a mulher, não só perante o Judiciário, mas em diversos locais e espaços (Amaral,

2017, p. 143/144). Indagar sobre o atendimento prestado à mulher era, em último caso, questionar

minha própria atuação, dos promotores de Justiça e dos Juízes envolvidos.

Nesta pesquisa do tipo autoetnografia3, foram ouvidas, durante entrevistas semiestruturadas,

10 (dez) mulheres agredidas, antes e depois de suas audiências, sendo que eu participei de suas

audiências, como totalmente observador. Também realizei grupos focais4 com outras mulheres

2 Os movimentos TERF e SWERFs, representam expressões de feminismos radicais, com discursos, respectivamente, transfóbico (The TERFS, 2016) e de exclusão e preconceito com mulheres que trabalham utilizando sua sexualidade, como prostitutas e atrizes de filmes pornográficos (Clark, 2017). 3 A autoetnografia se caracteriza, primordialmente, por acentuar a relevante e imprescindível contribuição de características pessoais específicas do pesquisador, que orientam a sua visão de mundo e, invariavelmente, irão refletir nos resultados da pesquisa. Possui, assim, alto grau de reflexividade, numa pesquisa “social numa prática menos alienadora, em que o pesquisador não precisa suprimir sua subjetividade” (Motta, Barros, 2015, p. 1339), pelo contrário, deixa-a evidenciada, mostrando suas vulnerabilidades e rejeitando conclusões de caráter definitivo. 4 Também conhecido por grupo de discussão, o grupo focal é uma técnica de coleta de dados que busca, a partir da interação entre seus participantes sobre uma ou algumas tematicas problematizadas (Backes et al, 2011, p. 438),

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

agredidas, com o objetivo de buscar nelas, de perceber nelas, suas impressões sobre esse sistema

judicial e eventuais dificuldades vivenciadas e óbices que teriam para obter o que desejavam, além

da proteção de seus direitos.

As mulheres foram ouvidas em uma sala própria, gentilmente concedida pela diretora de

secretaria do Juizado, após eu ter explicado a natureza da pesquisa, assegurando privacidade – a

qual se manteve durante o desenvolvimento do trabalho, já que seus nomes foram alterados –, além

de não ter sido declinado o local em que realizei a pesquisa, mantendo-se sigilo dos profissionais

envolvidos nas audiências. Era um juizado de violência doméstica com trato específico nessa

matéria, com uma considerável demanda processual e que atendia a uma grande população, a qual,

da mesma forma, utiliza sobremaneira o serviço prestado pela Defensoria Pública do Distrito

Federal, em razão de seu moderado ou baixo poder aquisitivo.

Com a utilização da teoria das representações sociais, de Serge Moscovici (2013), busquei

em suas falas, após degravação, tratamento, revisão e seleção, aferir saberes populares e do senso

comum, elaborados e partilhados coletivamente. As representações sociais permitem ir além da

ciência formal, o que Moscovici chamaria universo reificado, já que elas podem indicar fatos,

dados, imagens e pensamentos que definem e interpretam o real, com uma dinâmica própria desse

universo consensual5.

Também com o objetivo de confirmar e ampliar os resultados, valei-me da análise do

discurso do sujeito coletivo (Lefevre; Lefevre, 2006), a qual, a partir de depoimentos, transforma

vivências em “ícones coletivos de pensamento de um grupo de pessoas que dividem uma estrutura

simbólica semelhante” (Moura; Lefevre; Moura, 2012, p. 1027), sob a “forma de discursos únicos

redigidos na primeira pessoa do singular, conteúdos de depoimentos com sentidos semelhantes”

(Lefevre; Lefevre, Marques, 2009, p. 1194)6.

A partir da análise detida de todos os seus relatos, emergiu uma cruel tríade judicial, que dá

nome ao título da dissertação7 e é essencial para compreender algumas das limitações vivenciadas

construir conhecimentos em espaços intersubjetivos (Kind, 2004, p. 134). O grupo focal desta pesquisa teve características singulares, inclusive sobre sua formatação e sua quase frustração (Amaral, 2017, p. 246/250). 5 O universo reificado seria o universo das ciências, do pensamento científico, submetido a diversas regras de validade, aplicabilidade, metodologia (Moscovici, 2013, p. 52). O consensual, por sua vez, é formado a partir da interação social, dinâmica entre as pessoas, a partir de suas realidades e dos significados que atribuem às coisas que vivenciam (Moscovici, 2013, p. 50/51). As representações sociais são fruto do universo consensual. 6 Mais detalhes sobre as representações socias verificadas e os enunciados da análise do discurso do sujeito coletivo, ver Amaral, 2017. 7 A dissertação de mestrado foi intitulada “Anestésicos, desconhecidos, ausentes: representações sociais das mulheres em situação de violência doméstica no Distrito Federal”, tendo sido orientado pelo Prof. Dr. Bruno Amaral Machado

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

pela mulher no sistema judicial de enfrentamento à violência doméstica: anestésicos, desconhecidos

e ausentes.

Verifiquei, assim, juízes anestésticos, formalistas, legalistas, reduzidos às operações

jurídicas tradicionais, com demasiado enfoque procedimental. Esses juízes partilham uma fé, quase

inquebrantável, nos sistemas jurídicos e a lógica jurídica impede a aproximação da vítima, do que

ela busca realmente ali no Judiciário, extra-autos e sem necessária vinculação a resultados

processuais como condenações ou absolvições.

Apesar de não ser mero observador, tampouco atuando com passividade, a estrutura

sistêmica obsta que o Juiz tenha sinestesia com os reais interesses, preocupações e necessidades da

vítima. Sinestesia, expressão feliz de David Sanches Rubio (2014, p. 128), exige uma atuação mais

próxima e atenta para a proteção dos direitos humanos, com sensibilidade (Belmonte, 2016, p. 29) e

preocupação real. Eram, assim, anestésicos, distanciados, preocupados com o número de processos

e com a necessidade de esses procedimentos alcançarem, em algum momento, um término.

O juiz anestésico é aquele que aposta que o sistema jurídico-positivo consegue

responder adequadamente aos anseios da vítima. Ele faz parte do sistema e, intuitivamente,

possui fé nos instrumentos jurídicos existentes. E não compreende como isso o afasta da

real proteção daqueles direitos humanos. Ele está ali para oferecer respostas jurídicas para

todos os questionamentos, evitando que haja rompimentos da lógica jurídica que

desempenha cotidianamente, mas essa lógica não é permissiva (AMARAL, 2017, p. 263).

A sinestesia, em parte, é devida pela crença no simbolismo da normatização, essa fé cívica

nos efeitos da norma, apostando que, por efeitos inerentes à própria condição normativa, em parte

por sua promulgação, divulgação e suposta eficácia, ela irradiaria imediatamente sobre todos.

Acreditar na eficácia simbólica da norma, como se ela, per se, alterasse a realidade, costumes e

ilegalidades, ao mesmo tempo em que acalma uma parcela daqueles envolvidos com essa temática,

tem o condão de reforçar o efeito anestésico no magistrado, pois impede a visão da realidade

mundana e uma análise crítica da realidade dessa fé (Segato, 2016, p. 170).

De outro lado, com relação ao órgão encarregado de iniciar a ação penal, foi visto um

desconhecimento de sua figura, função e papel desempenhados. As vítimas não reconheciam os

Promotores de Justiça. Aquelas mulheres, principalmente as que estavam tendo o primeiro contato,

em audiência, com o Poder Judiciário e com os demais órgãos presentes, não conseguiam

discriminar quem ou o quê era o Promotor de Justiça (ou Promotora, como ocorreu em algumas

(UniCEUB). Foi defendida em 2016, em banca na qual participaram os professores Dr. Antonio Henrique Graciano Suxberger (UniCEUB), Dra. Soraia da Rosa Mendes (IDP) e Dra. Rita Laura Segato (UnB).

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

audiências). Ele ou ela era confundido com o secretário de audiências, encarregado de redigir a ata,

realizar o pregão ou colher as assinaturas dos presentes, ou com uma defensora pública.

Ao contrário da figura do Juiz, central e com a toga, que o distinguia e resultava em uma

identificação imediata das vítimas, o Promotor de Justiça não trazia, para aquelas mulheres, um

critério diferenciador, não naquele momento. Interessante também foi notar que, mesmo aquelas

que já tinham passado por outras audiências, ou seja, detinham um conhecimento anterior, também

apresentaram dificuldade em identificar qual a função do promotor. De nada valia, assim, que ele se

apresentasse para as vítimas, muito menos que fizesse ilações ou ameaças de prisão para o agressor.

Pesquisa do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP, 2017) já indicava esse

desconhecimento da população com a figura do Promotor de Justiça e do próprio Ministério

Público, talvez devido ao distanciamento em sua atuação habitual, já que sua função primordial,

muitas vezes, estava limitada a atuação em gabinetes, com cotas e pareceres, muito diretamente aos

Juízes e Tribunais (Amaral, 2017, p. 282).

Por derradeiro, defensores ausentes. Faticamente, a Defensoria Pública do Distrito Federal

não tem defensores atuando em prol das vítimas de violência doméstica, exceto no Núcleo de

Defesa da Mulher (NUDEM), localizado em área central de Brasília e no qual duas defensoras

desempenham essa atribuição8. Apesar de, internamente, existir normativa prevendo a atuação de

defensores públicos em prol da vítima de violência doméstica em todos os fóruns que contam com

juizados de violência doméstica, não há defensores lotados nessas defensorias (DPDF, 2017).

Por uma escolha político-orçamentária, nos demais fóruns do Distrito Federal, onde é vísivel

e sensível a situação precária das agredidas, violentadas por seus parceiros e sofrendo as

dificuldades inerentes à pobreza, o seu auxílio jurídico é esporádico (CONDEGE, 2017, p. 8),

realizado de forma primária por eventuais núcleos de faculdade ou por alguns advogados pro-bono

(Amaral, 2017, p. 293, nota 136). Para o agressor, porém, sempre há um defensor público, em todos

os fóruns do DF. É, claramente, uma escolha entre as possíveis e, como tal, com seus próprios e

problemáticos resultados.

A ausência de efetivo auxílio jurídico às vítimas comprometeu a defesa dos

interesses das mulheres, diminuindo suas possibilidades de fala e de participação nas

audiências à mera formalidade de presença formal, além de evitar que elas pudessem

realizar solicitações de produção de provas ou esclarecimentos aos operadores.

8 Durante o período de realização da pesquisa, o quadro técnico do NUDEM era composto por 1 (uma) defensora pública, cumulando atribuições administrativas por ser a coordenadora do Núcleo, 1 (uma) assessora jurídica, 2 (duas) psicólogas, 1 (uma) estagiária, de nível superior, e 4 (quatro) colaboradores. Posteriormente, houve a lotação de mais 1 (uma) defensora pública (Amaral, 2017, p. 298).

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Continuavam alijadas do processo e, apesar das previsões da Lei Maria da Penha,

eram tratadas da mesma forma que as demais vítimas no CPP, excluídas do processo.

Tradicionalmente desconsideradas, as vítimas eram sistematicamente neutralizadas, pela

“escasa información que se ofrece a la víctima que non se constituye en parte de un

proceso, y en las escasas posibilidades de participación” (Larrauri, 2003, p. 284).

A desconsideração da vontade e bem estar das mulheres transparece em alguns fatos

rotineiros, mas extremamente simbólicos, como o não oferecimento de água ou café pelos

garçons que servem os operadores jurídicos. Apesar de presentes filtros na sala de

audiência, não tinham copos para que os presentes se servissem. E ninguém ali se atentava

para a possibilidade de os participantes daquela audiência, agressores e agredidas, sentirem

sede e terem vontade de beber água (AMARAL, 2017, p. 306).

Esse quadro já é bastante complicado para as mulheres agredidas. Mas ele não está só.

Dificuldades outras, atuação sistêmica e dilema da areia movediça judicial

Há dificuldade das vítimas em serem devidamente auxiliadas, o que incrementa a sensação

de isolamento e acarreta dificuldades inúmeras, inclusive para entender a dinâmica do processo

criminal, no qual estão participando, e de eventuais medidas que podem tomar em face do agressor,

medidas essas importantes para a superação dos traumas da violência e da fragilidade familiar

causada. A ausência de orientação jurídica adequada vem no bojo de outras limitações de suas

expectativas e de seus direitos.

A sala de audiências é um local fragilizador dos direitos da mulher agredida (Amaral, 2017,

p. 310). Até o momento em que é chamada para sua audiência, a vítima aguarda em um grande

corredor, sem que haja espaços reservados para elas e junto com pessoas estranhas, aguardando

audiências outras que não de violência doméstica, e com a possibilidade de o agressor também estar

ali, a poucos metros dela, o que a deixa em uma situação complicada. Ultrapassado o pregão,

continuam as dificuldades para a mulher, pois a sala de audiência se mostra como espaço de

interações entre os operadores juíridcos e, por sua conformação, ritos e lugares predeterminados, é o

campus em que o habitus desses operadores é concretizado, utilizando-me do marco teórico de

Bourdieu (1989, p. 61). Linguagem técnica, suposta neutralidade, lutas de concorrências entre os

operadores jurídicas e uma certa cumplicidade entre eles caracterizam este espaço e ensejam

dificuldades de interlocução entre operadores e profanos, que não detém esse capital simbólico e, na

maior parte do tempo, apenas presenciam o desenrolar da audiência.

Pelo formalismo mágico dos rituais, outra expressão de Bourdieu (1989, p. 225), as nuanças

desse local indicam que ele é diverso do exterior, com estruturas que seguem uma lógica própria. A

vítima encontra-se, em realidade, no dilema da areia movediça judicial (Amaral, 2017, p. 294), pois

está numa situação extrema, em um local inóspito e desconhecido, perigoso, e se sente alijada,

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

sendo que suas manifestações, por não seguirem aquela lógica, por diversas vezes são tolhidas e

cerceadas. A mulher tende a permanecer parada ou não se movimentar mais, com receio de afundar

ainda mais nesse local, o que dificultaria, sobremaneira, sua sobrevivência.

Verifica-se, assim, que há um fluxo estrutrurante, que é essencializador para as organizações

jurídicas em seu atuar, mas que, concomitantemente, enseja a frustração das expectativas cognitivas

das vítimas (Amaral, 2017, p. 326; Luhmann, 2005).

A observação das representações sociais e da atuação do Judiciário indicam a existência de

uma cultura organizacional (Pires; Macedo, 2006, p. 88), que é compartilhada de forma dinâmica, e

que atua de acordo com um fluxo estrutural, voltado para o fim do subsistema judicial,

comunicando-se por decisões, que permitem outras decisões (Machado, 2015, p. 13). A partir dos

ritos e das dinâmicas interacionais entre os atores, busca-se uma resposta decisória, sim ou não,

direito ou não direito.

Enquanto os órgãos judiciais se orientam na busca de uma decisão (Machado, 2014),

qualquer seja ela, as vítimas agem de acordo com sua subjetividade, pensamentos, que não são

alcançados pela cultura organizacional (Amaral, 2017). Este não é o desiderato do subsistema

judicial, ainda que a norma tente, por via transversa, uma maior atenção à vítima de violência. Não

há alcance, já que o sistema apenas consegue ver aquilo que vê, desconsiderando o restante.

O que as mulheres queriam, pelo menos na ótica daquelas que participaram das entrevistas e

do grupo focal, era proteção, término da agressões, defesa de direito, algo diverso do que o

subsistema judicial perseguia – rotinas, procedimentos voltados para uma decisão de

inclusão/exclusão, direito/não-direito –, e, por isso, não eram decodificados, não seguiam uma

lógica autorreferente. Por não ser direito, não eram processados pelo subsistema. Por isso, a

insatisfação após as audiências, mesmo quando o “resultado” da audiência era similar ao que

pretendiam antes de sua realização – como, por exemplo, arquivamento ou continuidade do

processo.

Ademais, constatei verdadeiras táticas de pressão para a extinção processual, em razão da

alta demanda processual e da obrigatória submissão dos juízes aos ditames de eficiência judiciária,

consubstanciada na prolação de sentença (Amaral, 2017, p. 330). Isso, aliado ao número de

servidores e infraestrutura deficiente, ensejava estratégias para propriciar a ocorrência de

decadência, pelo não ingresso tempestivamente da queixa-crime, nos crimes de ação pública de

iniciativa privada – muitas vezes por desconhecimento pela vítima, ausente orientação jurídica

adequada – ou era facilitado pela adoção de suspensões informais, ao arrepio de qualquer previsão

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

legal, em audiências designadas ilegalmente, já que não seguiam as previsões do art. 16 da Lei

Maria da Penha.

Além da nova vitimização, já que os caminhos são repetitivos e cansativos para a vítima

(família, delegacia, judiciário), era incentivado o desestímulo ao ajuizamento das queixas crimes,

além de, eventualmente, facilitar a prescrição de crimes menos graves e a adoção de medidas que

privilegiavam casos mais graves e midiáticos, desvalorizando, por sua vez, os mais comuns, como

vias de fato, lesões simples, ameaças, injúrias, que é a criminalidade rotineira e cerne da grande

maioria de violações contra a mulher.

Conclusões

As dificuldades para obtenção de auxílio jurídico à vítima, que se encontra alijada de um

espaço de atendimento adequado e sensível, quando se submete ao sistema judicial de violência

doméstica, acabam por reforçar o sentimento de inferioridade e de certa submissão a essa terrível

prática no interior dos lares.

As problemáticas decorrentes da própria estruturação dos órgãos talvez não possam, em um

curto ou médio lapso temporal, serem realmente modificadas. Decorrem da própria conformação

sistemática e de diversas opções, tomadas em longo período de tempo, que os posicionaram e são,

tambem, óbices para uma melhor atuação na violência doméstica.

Porém, creio que é possível vislumbrar, dentro dessa lógica sistêmica excludente, algo que

pode ser melhorado e ser ressignificado, com uma virada de posicionamento.

A minha aposta é que as dificuldades vivenciadas pelas mulheres agredidas possam, de

alguma forma, ser suplantadas ou diminuídas sensivelmente pela atuação da Defensoria Pública em

seu prol, não como mera presença física, mas como uma intermediária de seus anseios, que

conseguiria propiciar o acesso aos serviços públicos essenciais, ainda que sob ameaça de ingresso

de medidas jurídicas, ou poderia conscientizá-las sobre seus direitos, traduzindo seus anseios para o

processo e tornando mais racional e efetivo o sistema de proteção às vítimas de violência doméstica.

Essa aposta, contudo, necessita de espaço institucional e de uma guinada no direcionamento

das medidas políticas de atuação, ao menos no âmbito local da pesquisa de campo. Ao constatar

que, mesmo diante de uma normatividade específica, que se diz inovadora e se volta para uma

atuação não convencional, ainda há traços sexistas e conservadores, é imperioso mudar a estratégia.

E pode ser uma boa opção tentar essa modificação por intermédio do órgão caçula do sistema de

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

justiça no Brasil, que ainda está se definindo e posicionando-se no cenário brasileiro9, como

instituição que possibilita orientação jurídica a carentes e grupos sociais vulneráveis, em uma

atuação não necessariamente judicial na defesa dos direitos humanos essenciais, permitindo,

inclusive, uma abordagem multidisciplinar e compartilhada, com profissionais e conhecimentos de

outras áreas. A dinâmica da violência, antes de ser uma temática jurídica, é uma realidade social e

demanda abordagens não tradicionais para a sua compreensão e atuação.

Os defensores e defensoras públicas tem um papel importante na definição do local de fala

do órgão e, nessa temática, têm muito ainda a oferecer para esse grande contigente de mulheres

agredidas por seus consortes e de famílias desestruturadas por essa atitude desarrazoada. A

ausência, verificada na pesquisa de campo, pode ser bem superada por uma atuação distinta, que

não seja anestésica, nem ensimesmada, mas sensível, próxima e afetiva10.

Referências

AMARAL, Alberto Carvalho. A violência doméstica a partir do olhar das vítimas: reflexões sobre

a Lei Maria da Penha em juízo. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017.

AMARAL, Alberto Carvalho. Discursos sobre o enfrentamento à violência doméstica e familiar

contra a mulher no Brasil e a (não) aplicação da suspensão condicional do processo. Argumenta

Journal Law, Jacarezinho – PR, Brasil, n. 23. p. 95-128. Disponível em:<

http://seer.uenp.edu.br/index.php/argumenta/article/view/657>. Acesso em 28 nov. 2016.

BACKES, Dirce Stein; COLOMÉ, Juliana Silveira; ERDMANN, Rolf Herdmann; LUNARDI,

Valéria Lerch. Grupo focal como técnica de coleta e análise de dados em pesquisas qualitativas. O

mundo da saúde, São Paulo, n. 35, p. 438-442, 2011.

BELMONTE, Luciana Lombas. Os Direitos Humanos do século XXI e a Declaração Universal dos

Direitos Humanos: reflexões sobre as limitações da perspectiva normativa. In. Direitos Humanos:

diversas abordagens. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2016, p. 17-32.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

1989.

CLARK, Lucian. Trans Exclusionary ‘Radical’ Feminists Aren’t That Radical. Disponível

em:<http:genderterror.com/2014/05/03/terfs-radical/>. Acesso em 20 maio 2017.

9 A institucionalização da defensoria pública no Brasil, diversa do desenho existente nos sistemas judicare e do advogado pago pelos cofres públicos (Cappelletti; Garth, 1988, p. 13), constituindo-se em inovação salutar no sistema judiciário (Suxberger; Amaral, 2016, p. 115), amplia o papel do órgão, para além do auxílio jurídico de carentes e grupos vulneráveis, para uma efetiva atuação em prol da defesa e implementação dos direitos humano. 10 A assistência jurídica sensibilizada, que, no meu entender, deve ser incentivada e efetivamente prestada pela defensoria pública quando envolta com grupos vulneráveis que guardam situações peculiares de vitimização por violências estruturais históricas, não se limita à atuação processual/judicial, perseguindo o empoderamento da mulher, conscientizando-a em direitos (Amaral, 2017, p. 328) e evitando atitudes recriminatórias, em um nível interpessoal (Mills, 1996, p. 1228).

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

CONSELHO NACIONAL DE DEFENSORES PÚBLICOS GERAIS (CONDEGE). Comissão

Especial para Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher. Relatório de avaliação das Defensorias

Públicas do Brasil sobre o cenário de enfrentamento à violência contra a mulher no país.

Disponível em:<

http://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20361.pdf>. Acesso

em 26 fev. 2017.

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO (CNMP). Relatório analítico dos

resultados de coletas: pesquisa e diagnóstico de imagem CNMP e MP âmbito nacional 2014.

Disponível em:<http://www.mpgo.mp.br/portal/arquivos/2015/01/27/

16_22_46_690_resultados_cnmp_relatorio_analitico.pdf>. Acesso em 25 fev. 2017.

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL (DPDF). Conselho Superior. Resolução n.º

90 (2010). “Cria as Procuradorias de Defesa dos Direitos Humanos e Minorias – PRODHEM no

âmbito da estrutura organizacional dos Núcleos de Atuação do Centro de Assistência Judiciária do

Distrito Federal – CEAJUR e dá outras providências.” Disponível

em:<http://www.defensoria.df.gov.br/wp-content/antigo/00000870.pdf>. Acesso em 19 fev. 2017.

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988

KIND, Luciana. Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais. Psicologia em Revista, Belo

Horizonte, v. 10, n. 15, p. 124-136, jun. 2004.

LEFEVRE, Fernando; LEFEVRE, Ana Maria Cavalcanti. O sujeito coletivo que fala. Interface,

Botucatu, v. 10, n. 20, Dez. 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832006000200017

&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 20 fev. 2017.

LEFEVRE, Fernando; LEFEVRE, Ana Maria Cavalcanti; MARQUES, Maria Cristina da Costa.

Discurso do sujeito coletivo, complexidade e auto-organização. Ciência & Saúde Coletiva, vol. 14,

n. 4, jul. a ago. 2009, p. 1193-1204. Disponível em:

<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63011692020>. Acesso em 19 jan. 2017.

LUHMANN, Niklas. El derecho de la sociedad. Trad. Javier Torres Nafarrate. Cidade do México:

Herder, 2005.

MACHADO, Bruno Amaral. Justiça criminal: diferenciação funcional, interações organizacionais e

decisões. 1.ed. São Paulo: Marcial Pons, 2014.

MACHADO, Bruno Amaral. O inquérito policial e a divisão do trabalho jurídico-penal no Brasil:

discursos e práticas. Revista brasileira de segurança pública, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 12-33, fev.

2015. Disponível em:<

http://revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/viewFile/439/189>. Acesso em 15 maio

2017.

MILLS, Linda g On the other side of silence: affective lawyering for intimate abuse. Cornell Law

Review. Vol. 81, p. 1225-1263. Set. 1996.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Trad. Pedrinho

A. Guareschi. 10. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MOURA, Leides Barroso Azevedo; LEFEVRE, Fernando; MOURA, Valter. Narrativas de

violências praticadas por parceiros íntimos contra mulheres. Ciência & saúde coletiva, Rio de

Janeiro, v. 17, n. 4, p. 1025-1035, abr. 2012.

MOTTA, Pedro Mourão Roxo da; BARROS, Nelson Filice de. Autoetnografia. Cadernos de Saúde

Pública. Rio de Janeiro, v. 31, n. 6, p. 1339-1340, jun. 2015. Disponível

em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2

015000601339&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25 fev. 2017.

PIRES, José Calixto de Souza; MACEDO, Kátia Barbosa. Cultura organizacional em organizações

públicas no Brasil. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 81-104, fev.

2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

76122006000100005 &lng=en&nrm=iso>. Acesso 10 jan. 2017.

SANCHEZ RUBIO, David. Encantos e desencantos dos direitos humanos: de emancipações,

libertações e dominações. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

SEGATO, Rita Laura. La guerra contra las mujeres. Madrid: Traficantes de sueños, 2016.

SUXBERGER, Antonio Henrique Graciano; AMARAL, Alberto Carvalho. A defensoria pública

como garantia constitucional processual de acesso à justiça na América do Sul. Revista Brasileira

de Políticas Públicas (Online), Brasília, v. 6, nº 2, 2016, p. 116-131.

THE TERFS. Home page. Rad Fem ≠ TERF. Disponível em:<http://theterfs.com>. Acesso em

21.05.2017.

Women, gender-based violence in Brazil and difficulties to access the Maria da Penha Law's

judicial protections

Astract: In this oral communication, the results of the master's thesis research will be presented, in

which I sought to situate the gender-based violence suffered by the women and to understand how

they represented socially the judicial organs of confrontation the gender violence in Brazil:

Judiciary, Prosecution Office and Public Defender. In this autoethnography, 10 women were

interviewed, a focal group was realized and techniques for observing routines and activities were

identified to understand their social representations (Moscovici) and the collective subject's

discourses (Lefevre and Lefevre). Anesthetic judges, unknown prosecutors and absent's public

defenders emerged from these analyzes. The courtroom is a field excluding the pretensions of the

victims (Bourdieu), placing them in a judicial quicksand. The structuring flux of legal organizations

that frustrates the expectations of the victims (Luhmann). The absence of legal assistance from the

Public Defender Office in Federal District, in courthouses far from the center of Brasília, is relevant

and has harmful repercussions for the protection of their rights. The diminutive practices of the

feminine condition tend to remain. The pursuit of a synesthetic institutional action (Sánchez Rubio),

with a greater understanding of the desires and needs of women, approaching their speeches, by the

intervention of public defenders with a sensitive and affective approach.

Keywords: Maria da Penha Law's (Law nº 11340), Brazilian judicial system against gender-based

violence, social representations, collective subject's discourses.