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Multidisciplinaridade Com o desenvolvimento do PLANEJAMENTO URBANO e REGIONAL, a cidade passou a ser encarada como o ponto crítico das relações políticas e socioeconômicas, que é etapa de um processo histórico, dinâmico e irreversível. Ao mesmo tempo, principalmente a partir da década de 1940, instalou-se uma metodologia baseada na MULTIDISCIPLINARIDADE de saberes, que passaria a fundamentar quaisquer intervenções sobre a cidade desde então.

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Multidisciplinaridade

Com o desenvolvimento do PLANEJAMENTO URBANO e REGIONAL, a cidade passou a ser

encarada como o ponto crítico das relações políticas e socioeconômicas, que é etapa de um

processo histórico, dinâmico e irreversível.

Ao mesmo tempo, principalmente a partir da década de 1940, instalou-se uma metodologia baseada na MULTIDISCIPLINARIDADE de

saberes, que passaria a fundamentar quaisquer intervenções sobre a cidade desde então.

A CIDADE tornou-se objeto multidisciplinar, sendo

compreendida como a estrutura física-espacial de forças sociais, políticas e econômicas que criam suas condições e características

de desenvolvimento.

Geógrafos, sociólogos e economistas passaram a

desenvolver teorias para o estudo e a análise do fenômeno urbano, que se difundiram nos

anos 50 e 60.

Para a GEOGRAFIA moderna, a cidade consiste no cenário físico das ações humanas, interessando-se mais pelas formas urbanas dos objetos do que propriamente por

sua formação e evolução, o que é analisado sob 02 enfoques:

INTRA-URBANO: trata a cidade de forma isolada em relação à região

(enfoque tradicional)

EXTRA-URBANO ou REGIONAL: trata a cidade como conjunto de

assentamentos urbanos e áreas rurais (conceito de redes urbanas)

Modelo de crescimentourbano orgânico

Nos anos 60, na Inglaterra e nos EUA, os estudos humanistas da Antropogeografia ressurgiram e os geógrafos contemporâneos – como David Harvey

(1935-) e Doreen E. Massey (1938-) – voltaram a explicar o crescimento e a transformação urbana em termos de circulação do Capital além de destacarem

aspectos sociais e culturais.

Técnicas de AnáliseQuantitativa das cidades:

-Teoria Fatorial-Teoria da Regressão-Teoria do Agrupamento-Teoria dos Grafos

A SOCIOLOGIA moderna aplica suas teorias de estruturação social sobre o espaço urbano, tentando explicar a cidade a partir das relações sociais e de suas implicações na história, por meio de 03 enfoques:

SOCIAL: insere a cidade no conjunto dos processos sociais (Sociologia Urbana)

ECOLÓGICO: explica as organizações sociais urbanas a partir de princípios ecológicos (Ecologia Humana)

FÍSICO ou EMPÍRICO: analisa a questão urbana a partir de indicadores mensuráveis e sob uma ótica essencialmente prática

Predominante a partir da década de 1950, o

ENFOQUE FÍSICO procura desenvolver modelos

empíricos e analógicos que estudassem os padrões dos deslocamentos de pessoas e

de bens, chegando até a criar modelos econométricos

para a localização das atividades produtivas e residenciais na cidade.

Modelo de crescimentourbano polinuclear

Modelo de desenvolvimentode vias de deslocamento urbano

Depois dos anos 70, novas concepções sobre planejamento urbano forneceram as fundações

filosóficas do “aprendizado social” ou enfoque neo-humanista que salienta a importância do conhecimento de sistemas no auxílio na análise do ambiente urbano.

Para a ECONOMIA moderna, a cidade é vista como um conceito matemático e abstrato, que passou a ser analisado através do estudo da distribuição espacial das atividades produtivas, basicamente em 02 níveis:

MACROECONÔMICO: segue as teorias regionais baseadas nas relações internacionais, como a Teoria do Ciclo do Produto

MICROECONÔMICO: procura seguir as chamadas Teorias de Localização, formuladas especialmente pelos alemães

Teoria do Lugar CentralWalter Christaller

(1893-1969)

Os economistas urbanos sugerem que se deixe de se preocupar com descrições da diferenciação pormenorizada da superfície terrestre; e se

comece a desenvolver hipóteses gerais sobre

distribuições espaciais que possam, em seguida, ser

rigorosamente testadas em confronto com a realidade.

Teoria dos sistemasurbanos de transporte

Teoria dos padrões dedeslocamentos urbanos

Essas idéias foram brilhantemente sintetizadas

pelo economista norte-americano WALTER ISARD (1919-) , em Location andspace economy (1956), a partir de quando cidade e regiões passaram a ser

estudadas como SISTEMAS COMPLEXOS,

empregando-se métodos computacionais.

Walter Isard(1919-)

A MULTIDISCIPLINARIDADE conduziu a várias teorias, que buscavam modelos empíricos e analógicos das distribuições e fluxos urbanos, resultados de métodos quantitativos de análise da cidade que tiveram grande repercussão nas décadas de 1950 e 1960, como:

Teorias Marginalistas (Séc. XIX), como as de Léon Walras (1834-1910) e Vilfredo F. D. Pareto (1848-1923)

Teoria do Lugar Central (Déc. 30/40), de Walter Christaller (1893-1969) e August Lösch (1906-45)

Teoria do Tráfego Urbano (1954), de Robert Mitchell (1906-) e Chester Rapkin (1918-)

Teoria dos Pólos de Desenvolvimento (1955), de François Perroux (1903-87) & Jean Paelinck (1930-)

Teoria do Campo de Tensões (1960), William Alonso (1933-99)

Teoria de Garin-Lowry (1966) e outras

A TEORIA DO LUGAR CENTRAL (1933), por

exemplo, conceitua espaço como uma “rede de

sistemas” que estrutura o espaço geográfico humano

de maneira funcional e pouco concreta.

Já a TEORIA DO TRÁFEGO URBANO (1954), por sua vez, propõe um modelo de

tráfego em função direta e mensurável conforme os usos de solo que o

provocam.

Teorias neomarxistas

Nas décadas de 1960 e 1970, os planejadores

urbanos foram progressivamente passando

do ponto de vista meramente físico para o social e o econômico; e,

paralelamente, ocorreu um notável ressurgimento de

estudos marxistas, especialmente na França.

O sociólogo HENRI LEFÉBVRE (1901-91) foi

um dos primeiros pensadores franceses a rediscutir as

questões da Escola de Chicagosob a ótica do materialismo

histórico, além de ser um dos maiores difusores do marxismo na França,

subordinando a cidade à lógica de reprodução do

Capital.

Henri Lefébvre(1901-91)

Seguindo as idéias de Marx, Lefébvre compreendia a

cidade como aglomeração da população, dos

instrumentos de produção, dos prazeres e das

necessidades, considerando-a um problema novo, sobre

o qual era necessário empreender pesquisas (A cidade do capital, 1972).

Lefébvre antecipou como as forças produtivas atingiriam uma tal potência para a produção do espaço em escala

mundial, que criariam uma contradição principal – o espaço produzido globalmente e suas fragmentações,

pulverizações e despedaçamentos –, resultante do capitalismo.

Visão noturna do mapa mundi

EUA

Já MANUEL CASTELLS(1942-) é um sociólogo

catalão que se tornou uma das maiores autoridades na

análise das novas tecnologias e seu impacto

sobre as sociedades urbanas, particularmente

por fazê-lo sob o foco marxista (A questão

urbana, 1974).

Manuel Castells(1942-)

Para Castells, a questão urbana possui 03 instâncias:

a IDEOLÓGICA, da qual viria a “cultura urbana”, marcada pela heterogeneidade e pelo associativismo;

a POLÍTICO-JURÍDICA, que se caracterizaria por ser uma “superestrutura” que busca legitimar o sistema capitalista;

a ECONÔMICA, ligada diretamente com o urbano, já que a este conotaria os processos de reprodução da força de trabalho.

Castells concluiu que 03 processos independentes começaram a se formar no final dos anos 60 e que convergiriam para a “gênese de um novo mundo”:

a REVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO, que atuaria remodelando as bases materiais da sociedade e induzindo a emergência do informacionalismo

a CRISE DOS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, tanto do capitalismo quanto do estatismo, levando a uma nova forma do capitalismo informacional (globalização econômica, flexibilidade organizacional e maior poder do gerenciamento do trabalho)

o FLORESCIMENTO DE MOVIMENTOS SOCIOCULTURAIS(feminismo, ambientalismo e defesa dos direitos humanos e das liberdades sexuais), que se iniciaram em 1968 e reagiram de múltiplas formas contra o uso arbitrário da autoridade em favor da liberdade.

Conclusão

O nascimento e a afirmação do PLANEJAMENTO URBANO e

REGIONAL, na primeira metade do século XX, fizeram com que o fenômeno urbano passasse a ser

objeto de estudo de múltiplas disciplinas, ao mesmo tempo em que levaram os arquitetos a se

afastarem progressivamente das questões físico-espaciais e de

desenho da cidade.

Mulheres na cidade (1925)Ernest L. Kirchmer (1880-1938)

Na década de 1960, surgiram críticas sobre o PLANEJAMENTO DE

SISTEMAS, principalmente por não levarem em consideração a

realidade política.

A reação imediata da esquerda foi a de convocar os próprios planejadores para virarem a

mesa e praticarem o planejamento “de baixo para

cima”, transformando-se, para tanto, em “planejadores-

orientadores”.

Teoria dosGrafos

Paralelamente, aparecia o interesse em se trabalhar com

as questões de projeto urbano em micro-escala,

fazendo surgir a disciplina de URBAN DESIGN ou

DESENHO URBANO, que se enquadra dentro do

urbanismo pós-moderno, mais voltado a características

particulares (diversidade) do que universais.

Bibliografia

CASTELLS, M. A questão urbana. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2000. 590p.

GEDDES, P. Cidades em evolução. São Paulo: Papirus, 1994. 276p.

HALL, P. Cidades do amanhã. 2a. ed. São Paulo: Perspectiva, Série Urbanismo, Col. Estudos, n. 123, 2002. 578p.

LEFÉBVRE, H. A cidade do capital. 3a. Ed. São Paulo: DP&A, 2003. 184p.

MUMFORD, L. A cidade na história. 5a. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 742p.

SIMMEL, G. El individuo y la sociedad: ensaios de critica de la cultura. Madrid: Peninsula, 2001.