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Revista de Administração Municipal – MUNICÍPIOS IBAM Janeiro/Fevereiro/Março 2010 Ano 55 Nº 273 ARTIGOS E MAIS • CIDADES PORTUÁRIAS • DESENVOLVIMENTO COSTEIRO • POLÍTICAS PÚBLICAS • DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E INTERNET • IPTU • FINANÇAS MUNICIPAIS • NOTÍCIAS MUNICIPAIS • PERGUNTE AO IBAM • PARECERES E JURISPRUDÊNCIA • EM FOCO Município e Gestão Portuária

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ARTIGOS E MAIS

• CIDADES PORTUÁRIAS• DESENVOLVIMENTO COSTEIRO• POLÍTICAS PÚBLICAS• DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E INTERNET• IPTU

• FINANÇAS MUNICIPAIS• NOTÍCIAS MUNICIPAIS• PERGUNTE AO IBAM• PARECERES E JURISPRUDÊNCIA• EM FOCO

Municípioe GestãoPortuária

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Ano 55 - Nº 273Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 3

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

OS EDITORES

ED

ITOR

IAL

Missão da RevistaA missão da Revista é ser um meio de difusão de informação, de estudos, de resultados de pesquisas inéditas e um fórum de debate sobretemas de interesse nacional e internacional relacionados ao federalismo, à descentralização, ao desenvolvimento da capacidade institu-cional dos Governos Municipais, à construção de uma sociedade democrática e à valorização da cidadania.

Articulação da gestão municipal coma administração dos portos nas cidadesbrasileiras

Os prefeitos municipais de Santos, Estado deSão Paulo, e de Vitória, Estado do Espírito Santo,expõem seus pontos de vista sobre a articulaçãodos Governos municipais com as administraçõesportuárias. Uma questão que tem dimensõesurbanas, ambientais, sociais e econômicas, em ummomento em que o Brasil amplia suas relaçõescomerciais com outros países e os portosdesempenham papel relevante nesse processo.

João Paulo Tavares Papa, prefeito de Santos e atualpresidente da Associação Brasileira de MunicípiosPortuários – ABMP, sustenta que as “as cidades portuáriasbrasileiras vivenciam uma nova realidade no que dizrespeito ao relacionamento entre as Prefeituras e osresponsáveis pela administração dos terminais. A tãosonhada integração entre porto e cidade, aos poucos,delineia-se, dando sustentação à necessária expansão docomércio exterior brasileiro e ao desenvolvimentoeconômico, social e ambiental das comunidades locais.”

João Carlos Coser, prefeito de Vitória e ex-presidente da ABMP, relaciona a questão portuária aodesenvolvimento local e afirma: “A própria dificuldadede se conceituar o desenvolvimento local traz avantagem de se pensá-lo como um movimento de“baixo para cima”, não mais uma decisão exclusiva doEstado, ou de determinadas elites econômicas. No casodos portos, a constituição dos Conselhos de AutoridadePortuária – CAP reforça a compreensão de que osprojetos de desenvolvimento portuário devem,necessariamente, ser coadunados com um projeto dedesenvolvimento da cidade ou do território no qualimpacta economicamente, considerando-se a geraçãode emprego e renda, sob a ótica de um movimentoque tem a sociedade civil como ator principal doprocesso de construção coletiva dessedesenvolvimento”.

As reflexões de João Paulo Tavares Papa e deJoão Carlos Coser contribuem para a melhor

compreensão da necessária articulação entre asações do Executivo municipal e das administraçõesportuárias no País.

Em ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,DEMOCRACIA PARTICIPATIVA EINTERNET: UMA ANÁLISE DOS PORTAISDOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DASAGULHAS NEGRAS/RJ, Júlio Cesar Andradede Abreu, Cláudio Bezerra Leopoldino e DanielArmond-de-Melo destacam o papel das tecnologiasda informação e do conhecimento nas recentesmudanças comportamentais dos cidadãos e analisama sua adoção pelos Governos municipais na regiãode Agulhas Negras, Estado do Rio de Janeiro. Emuma linha de argumentação próxima, Farley SimonMendes Nobre sustenta a oportunidade da elaboraçãode políticas públicas municipais de base tecnológica,necessárias ao desenvolvimento regional sustentável,em MODELO DE POLÍTICAS PÚBLICASMUNICIPAIS PARA GESTÃO DE CIÊNCIA,TECNOLOGIA E INOVAÇÃO.

Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de Souza,procurador do Município de São Leopoldo/RS, abordaassuntos relacionados com o chamado IPTU ambiental,em IPTU AMBIENTAL. Seu artigo analisa a temáticae sua aplicação no ordenamento jurídico do Brasil.

Restos a pagar não processados? é a perguntaque orienta a análise de Heraldo da Costa Reis naseção FINANÇAS MUNICIPAIS. Na seção dePARECERES, publica-se análise sobre o Regimede Competência. Também se fazem presentesneste número da Revista as seções EM FOCO,PERGUNTE AO IBAM e NOTÍCIASMUNICIPAIS.

São estes artigos e estas seções que se publicamneste número 273 de MUNICÍPIOS, Revista deAdministração Municipal, do IBAM, queapresentamos para sua leitura e comentários.

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

EXPEDIENTEA Revista de Administração Municipal – MUNICÍPIOS é uma publi-cação do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, deperiodicidade trimestral, depositada na Reserva Legal da BibliotecaNacional e no Catálogo Internacional de Periódicos sob o n.° BLISSN 0034-7604. Registro Civil de Pessoas Jurídicas n.° 2.215.

EDITORESNilton Almeida Rocha – Editor ExecutivoRomay Garcia e Heraldo da Costa Reis – Editores TécnicosSandra Mager – Produção GráficaPablo Fontes – Apoio Editorial

Conselho EditorialAna Maria Brasileiro (UNIFEM/ONU/Washington/Estados Unidos),Celina Vargas do Amaral Peixoto (FGV/Rio de Janeiro/RJ), EmirSimão Sader (CLACSO/Buenos Aires/ ARGENTINA), FabrícioRicardo de Limas Tomio (UFPr/Curitiba/PR), Jorge Wilheim (Con-sultor em urbanismo, São Paulo/SP), Nilton Almeida Rocha (IBAM,Rio de Janeiro/RJ), Paulo du Pin Calmon (UNB/CEAG/Brasília/DF)e Rubem César Fernandes (VIVA RIO/Rio de Janeiro/RJ).

Conselho TécnicoAlexandre Santos, Heraldo da Costa Reis, Marlene Fernandes eNilton Almeida Rocha.

Esta publicação consta do indexador internacional Lilacs – Amé-rica Latina e Caribe.Consta nas seguintes páginas:

• FEA/USP - Departamento de Administração• FGV - Biblioteca Mário Henrique Simonsen• UNB - Biblioteca Machado de Assis• Biblioteca Nacional• Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Catálogo Coletivo Nacional (CCN)• Association of Research Libraries• Latin Americanist Research Resources Project• Institut des Hautes Études de l’Amérique Latine - Centre de Recherche et de Documentation sur l’Amérique Latine• Facultad de Ciencias Juridicas y Politicas - Universidad Central de Venezuela• HACER - Hispanic American Center for Economic Research

Filiação

A Revista de Administração Municipal – MUNICÍPIOS é filiada àAssociação Brasileira de Editores Científicos – ABEC.• (O selo da ABEC pode ser obtido no site: http://www.lncc.br/abec/)

ASSINATURASTel.: (21) 2536-9711/ 2536-9712 • [email protected] da assinatura anual: R$ 45,00Tiragem: 2 mil exemplares

REDAÇÃOCoordenação EditorialEdição 1 – Comunicação & Serviços Ltda. • Telefax: (21) 2462-1933Jornalista responsável: Mauricio S. Lima (MTb 20.776)Jornalismo: Ana Cristina SoaresRevisora gramatical: Lucíola M. BrasilProgramação visual: Virgilio PinheiroFoto de Capa: Banco de imagem Edição 1

DEPARTAMENTO COMERCIALContato: (21) 2462-1933

Os artigos refletem a opinião de seus autores. É permitida a suareprodução desde que citada a fonte.

IBAM – Edifício Diogo Lordello de MelloLargo IBAM, 1 – Humaitá – Rio de Janeiro, RJ CEP 22271-070Tel.: (21) 2536-9797www.ibam.org.br

Conselho de AdministraçãoJoão Pessoa de Albuquerque – PresidenteÁlvaro Almerio de Azevedo Pessoa dos Santos, Celina Vargas doAmaral Peixoto, Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva, MayrGodoy, Edson de Oliveira Nunes, Edvaldo Pereira de Brito,Henrique Brandão Cavalcanti, Maria Terezinha Tourinho Saraiva eRaymundo Tarcísio Delgado.

Conselho FiscalAguinaldo Helcio Guimarães, Inéa Fonseca, Jorge Gustavo daCosta, Paulo Reis Vieira e Roberto Guimarães Boclin.

Superintendência GeralPaulo Timm

REPRESENTAÇÕES

São PauloAvenida Ceci, 2081 • Planalto Paulista, São Paulo • SP• CEP 04065-004 • Tel/Fax: (11) 5583-3388 • [email protected]

Santa CatarinaRua Hermann Hering, 813 • Bom Retiro • Blumenau • SC• CEP 89010-600 • Tel/Fax: (47) 3041-6262 • [email protected]

SEÇÕES / SECTIONS

ÍNDICE

PARECERES E JURISPRUDÊNCIA / REPORTS AND JURISPRUDENCE

24 – FINANÇAS MUNICIPAIS/MUNICIPAL FINANCES

47 – NOTÍCIAS MUNICIPAIS/MUNICIPAL NEWS

61 – PERGUNTE AO IBAM/ASK TO IBAM

66 – EM FOCO/ HIGHLIGHTING

ARTIGOS E REPORTAGEM / ARTICLES AND REPORTAGE

05 As cidades brasileiras e os seus portos: uma relação que estáse aprimorando – The Brazilian cities and their ports: arelationship that is getting better João Paulo Tavares Papa

14 O Município e o desenvolvimento costeiro – The town andcoastal development João Carlos Coser

27 Modelo de políticas públicas municipais para gestão deciência, tecnologia e inovação – Model of public policies formunicipal management of science, technology and innovation Farley Simon Mendes Nobre

33 Administração Pública, democracia participativa e Internet:uma análise sobre os portais dos municípios da região dasAgulhas Negras/RJ – Public Administration, participatorydemocracy and the Internet: an analysis of the websites ofmunicipalities in the region of Agulhas Negras/RJ Júlio Cesar Andrade de Abreu, Cláudio Bezerra Leopoldino e Daniel Armond-de-Melo

48 IPTU Ambiental – Environmental IPTU Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de Souza

62 Prefeitura Municipal. Razões e condições para a adoção do regimede competência pela Contabilidade Governamental, noreconhecimento das receitas e das despesas Heraldo da Costa Reis

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As cidades brasileirase os seus portos:uma relação queestá se aprimorando

Prefeito de Santos (SP)Presidente da ABMP (Associação Brasileira de Municípios Portuários)

As cidades portuárias brasi-leiras vivenciam uma nova rea-lidade no que diz respeito aorelacionamento entre as Prefei-turas e os responsáveis pela ad-ministração dos terminais. A

tão sonhada integração entreporto e cidade, aos poucos, deli-neia-se , dando sustentação à ne-cessária expansão do comércioexterior brasileiro e ao desenvol-vimento econômico, social e

ambiental das comunidades lo-cais.

Entre as principais razões paratais avanços, sem qualquer dúvi-da, está a criação da SecretariaEspecial de Portos da Presidên-

CIDADES PORTUÁRIAS

João Paulo Tavares Papa

RES

UM

O

Ser uma cidade portuária e manter um bom padrão de qualidade de vida para seus moradores. Este é o difícil desafio queos municípios portuários brasileiros enfrentam cotidianamente. Por isso, é tão importante aprimorar o relacionamentocidade-porto, um processo que começa a se concretizar em Santos.

Palavras-chave: Portos. Desenvolvimento. Ambiente. Costa marítima.

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cia da República, oficializada nosegundo semestre de 2007. Sob aliderança do ministro PedroBrito e uma equipe técnicagabaritada, a nova estrutura doGoverno Federal representa umverdadeiro divisor de águas nahistória dos portos brasileiros e,em especial, para Santos, que é omaior porto do Hemisfério Sul eo principal do País. Afinal, é aquique acontecem cerca de 30% detodas as operações portuárias na-cionais de comércio exterior.

Com status de Ministério, aSecretaria garantiu que os temasinerentes aos portos fossemenfrentados com maior eficiên-cia e agilidade. Sua criação foiuma demonstração concreta deque o Governo Federal enten-deu que são necessárias soluçõesurgentes para os problemas queafetam os terminais brasileiros.Na semana seguinte à sua pos-se, o ministro Pedro Brito veioa Santos ver de perto o princi-pal porto do País, e, desde en-tão, sua presença constante naregião comprova a atenção aosassuntos locais.

O ministro e sua equipe estãoimprimindo uma gestão técnicanos portos brasileiros, o que estáfazendo toda a diferença rumo àeficiência necessária. O relaciona-mento dos gestores do portocom as Administrações Munici-pais se aprimorou significativa-mente.

Vale lembrar que o Porto deSantos ocupa áreas não apenassantistas mas também de Guarujáe Cubatão, e sua grandiosidade étamanha que influencia na econo-mia e no modo de vida da popu-lação de toda a Região Metropo-litana da Baixada Santista, com-posta também pelos municípios deSão Vicente, Praia Grande,

Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe eBertioga.

PRIMEIRAS INICIATIVAS

A Prefeitura tem feito darelação entre porto e cidadeum dos focos de atenção per-manente. Logo no início domeu primeiro mandato, em2005, o Governo Municipalpassou a atuar fortemente paraque a cidade conquistasse maisvoz nas questões relacionadas aoporto, principal atividade eco-nômica local desde osprimórdios da vila de Santos.

Era urgente uma efet ivaintegração da autoridade por-tuária com o governo local,para que as metas de produti-vidade e eficiência dos termi-nais não conflitassem com oplanejamento urbano e o pro-jeto municipal de desenvolvi-mento sustentável, que primam

pela inclusão socia l e asustentabilidade ambiental.

De imediato, comecei a parti-cipar assiduamente das reuniõesmensais do CAP (Conselho deAutoridade Portuária), tomandoconhecimento dos fatos e das ur-gências que envolviam a amplacadeia de trabalho, serviços e ne-gócios portuários.

Ciente do importante traba-lho e da força política ABMP(Associação Brasileira de Muni-cípios Portuários), apoiamos arealização em Santos, no final demarço de 2005, do congressoanual da entidade. Problemas co-

muns foram apresentados e de-batidos, e um dos principaisanseios na época era aregional ização dos portos ,apontada então como a manei-ra ideal de solucionar osimpasses decorrentes da falta deintegração dos interesses portu-ários com os das comunidades.

Vale ressaltar que 90% dasimportações e exportações do

Brasil passam pelos portos.Juntos, os municípios

portuários somam 19% do PIB(Produto Interno Bruto)

nacional e concentram 15% dapopulação brasileira

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No último dia do evento, fuieleito para a Presidência da Asso-ciação, função que voltei a desem-penhar em 2009, depois de per-manecer neste intervalo de tem-po como integrante da Diretoria.

A SECRETARIA SANTISTA

Era premente a necessidade dogoverno municipal gerar uma es-trutura técnica específica paraacompanhar tudo o que envolviao porto. Assim, em setembro de2005, com a devida anuência daCâmara Municipal, criamos a Se-cretaria de Assuntos Portuáriose Marítimos (Seport) – provavel-mente uma das decisões mais acer-tadas daquele primeiro ano degoverno. A escolha de um expe-riente profissional para titular dapasta – Sérgio Aquino – tambémfoi muito feliz. Com uma equipepequena e envolvida, a Seportconsegue desenvolver um traba-lho exemplar. A partir daimplementação da Secretaria mu-nicipal, o processo de integraçãoentre porto e cidade ganhou fô-lego, calcado em um permanentediálogo com a autoridade portu-ária. A relação entre a cidade e oseu porto já foi muito difícil.Não havia diálogo nem planeja-mento comum.

Quando criamos a Seport, umdos objetivos primordiais era jus-tamente atuar proativamente paramudar este cenário. Trabalhamospara instituir um relacionamen-to técnico, harmônico e madurocom a autoridade portuária e osdemais segmentos que compõemo setor, que resultasse de formapositiva para todos.

Alguns dos principais portosdo mundo são administrados lo-calmente, como, por exemplo, emLos Angeles, Nova Iorque e Seattle

e o holandês de Roterdã, todosmunicipalizados. Outros cuja árease estende a mais de um Municípiotêm uma administração metropo-litana como a de Vancouver, noCanadá, sendo denominadoMetroporto. Este é o caso do por-to de Santos, que ocupa original-mente áreas no nosso Município –a chamada Margem Direita do Es-tuário e em pontos da Área Con-tinental – e também em territóriosdo Guarujá – onde está a MargemEsquerda – e de Cubatão. Tal con-dição indica que sua administraçãoprecisa do envolvimento dos go-vernos federal e estadual, além dosmunicipais, para a garantia do ne-cessário apoio à sua infraestrutura.

Entre as várias missões da Seport,destacam-se o incentivo àimplementação e a ampliação de ati-vidades portuárias e retroportuárias,indústrias manufatureiras ou de mon-tagem e plataformas logísticas. A Se-cretaria trabalha ainda pela aplicaçãointegral da lei portuária, dando espe-cial atenção para a requalificação dostrabalhadores portuários. Tambémacompanha os estudos sobre a tri-butação municipal no setor; os assun-tos ambientais e aduaneiros; as inicia-tivas em prol da capacitação, da se-gurança e da saúde dos trabalhado-res portuários; a melhoria nainfraestrutura de acesso dos modaise das condições de navegabilidade doestuário.

CAMINHOS PARA AREGIONALIZAÇÃO

Entendemos que o Municípiodeve se preparar tecnicamentepara a regionalização da adminis-tração do Porto de Santos. Tra-ta-se de um processo que precisaser trilhado com responsabilida-de e maturidade, e não pode ocor-rer de forma unilateral. Antes de

mudar, é fundamental criar os ins-trumentos que garantam o perfilprofissional adequado dos dirigen-tes que administrarão o porto, en-volvendo inclusive a aprovação ehomologação destes nomes peloCAP (Conselho da Autoridade Por-tuária).

Para que a regionalização daadministração do nosso porto ve-nha a acontecer, é fundamental queos agentes públicos locais estejamaptos a assumir sua participação.Não é, portanto, um processo sim-ples, que acontece em um passe demágica. Já avançamos muito, eacredito que estamos muito próxi-mos de exercer tais funções local eregionalmente, tão logo o Gover-no Federal sinalize tal decisão.

Mas ainda existem grandes di-ferenças entre os vários municí-pios do Brasil. Alguns enfrentamconflitos com as administraçõesportuárias locais, as quais nãoaceitam o diálogo, confundindo,muitas vezes, os pleitos legítimoscom disputas de caráter político-partidário.

A Prefeitura está fazendo a suaparte. Além de instituir a Seport, com-pôs uma Câmara Intersetorial deDesenvolvimento Portuário, forma-da por representantes de diversasSecretarias municipais e da CET(Companhia de Engenharia de Trá-fego), para acompanhar projetos,ações e intervenções do porto querefletem na vida da cidade.

GOVERNO LOCALE O CAP SANTOS

O Governo Municipal, que jáparticipava ativamente do CAP,conquistou, há cerca de um ano emeio, uma posição inédita: a Pre-sidência do colegiado, que reúnerepresentantes dos operadores, usu-ários, trabalhadores e Poder Públi-

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co. Considero esta nomeação comouma das mais importantes sinaliza-ções da Secretaria Especial de Por-tos referente à participação efetivadas comunidades locais nas ques-tões portuárias.

Tal medida ocorreu pioneira-mente em Santos, em agosto de2008, com a indicação do secretá-rio municipal de Assuntos Por-tuários e Marítimos, SérgioAquino, para o comando docolegiado. Pela primeira vez nasua história, o Conselho, institu-ído pela Lei de Modernização dosPortos (n.º 8.630, de 1993), nãoera mais presidido por represen-tantes do Governo Federal e daAntaq (Agência Nacional deTransportes Aquaviários).

A partir de então, foi assegu-rada oficialmente a importânciadas Administrações Municipaisnas decisões sobre o Porto de San-tos, consolidando a comunicaçãoentre o porto e a comunidade re-gional. Ficou evidente que o ver-dadeiro sentido de regionalizaçãopoderia começar a ser efetivadocom o fortalecimento dos CAPse com o aumento da participaçãoregional no Conselho. Situaçõese impasses entre a área urbana e oporto que, há anos, não se defini-am em nosso Município, agora, co-meçam a ser solucionados.

O ministro Pedro Brito de-monstrou ainda mais claramentea intenção de fortalecer os CAPsao decidir realizar um congressoque reunisse conselheiros de to-dos os colegiados do País. Santosaceitou o desafio de organizar oevento. A Secretaria Especial dePortos, o CAP Santos, a Prefei-tura e a Codesp (CompanhiaDocas do Estado de São Paulo),com o patrocínio da ABTRA (As-sociação Brasileira de Terminais eRecintos Alfandegados), organiza-

ram e promoveram nos dias 24 e25 de novembro de 2009 o I Con-gresso Nacional de Conselheiros deCAPs, que recebeu no TeatroGuarany 220 participantes de dife-rentes estados.

Na oportunidade, represen-tantes dos usuários, dos opera-dores, dos trabalhadores e doPoder Público assistiram expla-nações sobre suas atribuiçõescomo integrantes dos CAPs, es-clareceram dúvidas e trocaramexperiências. Os resultados fo-ram tão positivos que o eventodeverá ser realizado anualmente,em diferentes cidades portuáriasdo País.

TRABALHADORESPRECISAM SERREQUALIFICADOS

Em 1993, a Lei de Moderniza-ção dos Portos determinou queos trabalhadores portuários deve-riam ser treinados e qualificadospara atender às novas exigênciasdas operações. Entretanto, anospassaram sem que as providênci-as para concretizar tal propósitofossem tomadas.

Os problemas enfrentados pe-los milhares de trabalhadores doPorto que residem na BaixadaSantista são bem conhecidos noMunicípio. Muitos perderam seusempregos e postos de trabalhojustamente por não estarem pre-parados para a nova realidade,representada pelas novastecnologias utilizadas, que vãodesde a informatização até a ope-ração das máquinas que substitu-íram o esforço braçal. O proces-so de modernização dos portosbrasileiros resultou em mais efi-ciência, porém ainda estava deven-do muito no que diz respeito aostrabalhadores, para que eles pudes-

sem se inserir definitivamente nanova realidade.

A Prefeitura tomou a iniciativade promover uma parceria inter-nacional, visando à criação de umCenep (Centro de Excelência Por-tuária) no Município, à qual caberiacoordenar a qualificação dos traba-lhadores. O acordo foi firmadocom uma das instituições mundiaismais especializadas no tema, o Cen-tro de Capacitação Profissional doPorto de Antuérpia (Bélgica), ten-do ainda a participação da Codespe do CAP Santos.

O ministro de Infraestrutura,Energia e Meio Ambiente da re-gião de Antuérpia, Kris Peteers,veio à Prefeitura de Santos espe-cialmente para assinar o acordo,em 30 de março de 2007, perantedirigentes de vários sindicatos detrabalhadores na sede da Prefei-tura. Na ocasião, ele destacou anecessidade de balancear o desen-volvimento dos portos com aqualidade de vida nas cidadesonde eles se localizam e afirmouque tais conflitos precisam sersolucionados por políticas inte-gradas.

Em novembro de 2007,uma comitiva de Santos, for-mada por representantes dossindicatos de trabalhadores eoperadores , da Ogmo, daCodesp, da Prefeitura e dasinstituições de ensino partici-param de uma visita a portosda Bélgica e da Holanda, emmais uma etapa para aimplementação do Cenep. NaHolanda, estiveram no Portode Roterdã, o maior do mun-do, e, na Bélgica, foram à An-tuérpia , a Ghent e aZeebrugge, onde conheceramos sistemas de treinamento, desegurança e de operações, alémde assistirem aos encontros, às

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palestras e às reuniões com au-toridades e técnicos do setor.

Oficializado pela SecretariaEspecial de Portos em dezembrode 2007, o Cenep Santos foi o pri-meiro do Brasil e terá ainda a fun-ção de promover as devidas pes-quisas tecnológicas que resultemno aprimoramento das operaçõesportuárias locais, das atividadesmarítimas e das funçõescorrelatas, como, por exemplo, asde apoio offshore.

Após as aulas inaugurais de“Gestão Integrada em Segurança,Saúde Ocupacional e Meio Am-biente nas Operações Portuárias”,

a capacitação da primeira turmade 1.155 alunos teve início em2008 com o “Curso Portuário deAperfeiçoamento e ExperiênciaProfissional”, com apoio do Mi-nistério do Trabalho – ProgramaPLASEQ-PORTUÁRIO, este oprimeiro do País. Além daCodesp, da Ogmo e dos governosfederal e municipal, instituições lo-cais de ensino participam do pro-grama.

MAIOR E MAIS MODERNO

A vocação de Santos como ci-dade portuária é inequívoca des-

de a fundação da pequena vila, em1546. Todas as atividades relacio-nadas, que envolvem a aduana, alogística e a produção industrial,produzem enorme impacto noMunicípio e na Região Metropoli-tana. O Plano Diretor do Municí-pio, que está sendo revisto, tem ne-cessariamente de se preocupar coma principal vocação econômica e ovetor de desenvolvimento do Mu-nicípio, que é o porto.

A expansão do Porto de San-tos é essencial para que o Brasil seconsolide como uma das princi-pais potências do planeta. O úni-co local onde o Porto de Santospode se expandir é a área conti-nental, que já conta com a neces-sária estrutura de transporte rodo-viário e ferroviário. É fundamen-tal que a sua ocupação responsá-vel seja devidamente planejada, deforma que se equilibrem as ativi-dades com os cuidados relaciona-dos ao meio ambiente.

O projeto Barnabé-Bagres,por exemplo, deverá triplicar acapacidade do terminal local. OGoverno Municipal acompanhade perto o planejamento para aimplementação deste novo tre-cho de cais, que será construídona região continental santista,com capacidade para movimen-tar 120 toneladas ao ano – nadamenos que 150% da capacidadeatual. Trata-se de um projetoconceitual, que ainda receberá asdevidas avaliações técnicas neces-sárias, inclusive as que se referemàs medidas mitigadoras e com-pensatórias relacionadas ao im-pacto ambiental. Suaconcretização é a garantia dacompetitividade futura do Por-to de Santos. Os países desenvol-vidos procuram concentrar os in-vestimentos portuários nas mes-mas regiões onde já existem ter-

CIDADES PORTUÁRIAS

A instalação do terminal da Embraport deverá receber no próximo ano US$ 500 milhões e deverá gerar paraa Baixada Santista 1.400 empregos diretos e 4 mil indiretos

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minais, pois, com isso, são eco-nomizados os investimentos eminfraestrutura, como é o caso doBarnabé-Bagres.

Outros projetos de expansãodo porto local estão em anda-mento, também na área Conti-nental. A instalação do terminalda Embraport deverá receberno próximo ano US$ 500 mi-lhões, e o início das operaçõesestá previsto para 2012. Segun-do estimativa da empresa, o em-preendimento deverá gerar paraa Baixada Santista 1.400 empre-gos diretos e 4 mil indiretos. Oaporte decorrente desses salári-os significará pelo menos R$ 52milhões por ano na economialocal.

Em face das tais perspecti-vas, um fato precisa serenfatizado: no mundo todo, asexpansões portuárias têm con-tribuído para a melhoria daqualidade ambiental. Isso por-que os terminais são devida-mente planejados a operar demodo que se promova a redu-ção das emissões de gáscarbônico (CO2) na atmosfera.Entre outras medidas de con-trole da poluição, as operaçõesmodernas racionalizam alogística, o que diminui signi-ficativa o transporte das cargasem caminhões, e utilizam equi-pamentos e tecnologias menospoluentes. De qualquer forma,é fundamental que a expansãoseja acompanhada por medidascompensatórias e mitigadorasdos danos ambientais, devida-mente exigidas pela legislaçãofederal, estadual e municipal.

Paralelamente, Santos buscana Justiça, desde a década de 80,receber o IPTU (Imposto Pre-dial e Territorial Urbano) dasáreas portuárias, o que propici-

aria ao Município arcar comos custos de obras e serviçoscausados pelos inúmeros im-pactos decorrentes da ativida-de, entre os quais os danos napavimentação e na drenagem,os transtornos no trânsito, ocomprometimento ambiental ea sobrecarga nos serviços pú-blicos de saúde e de vigilânciasanitária da presença de cami-nhoneiros e marinheiros. Ocaso está sendo julgado no Su-premo Tribunal Federal.

O PORTO E O PETRÓLEO

O início da exploração e daprodução de petróleo e gás naBacia de Santos e a instalação dasede da Unidade de Negócios daPetrobras no Município têm es-treita ligação com o porto local.Afinal, a atividade portuária éfundamental para asustentabilidade da ampla cadeiade negócios representada pelopetróleo e o gás.

As operações dependem daschamadas “suply bases”, de ondepartem todo o tipo de suprimen-tos, máquinas e equipamentos uti-lizados nas plataformas de ex-ploração. Este será mais umgrande negócio para a cidade, ea Prefeitura trabalha parapotencializar tais perspectivas, oque deverá resultar em desenvol-vimento econômico e social,com mais empregos e postos detrabalho. A cidade também jáconta com terminal offshore deapoio à Petrobras e a outras em-presas que atuam ou venham aatuar na Bacia.

PORTO VALONGO SANTOS

Um dos resultados mais positi-vos do diálogo instituído entre o

Governo Municipal e a autorida-de portuária é o projeto PortoValongo Santos, que vai revitalizaráreas dos antigos armazéns do caishistórico, abandonados há déca-das, assim como as áreas anexas,que serão transformadas em umcomplexo turísticos, náutico, cul-tural e empresarial de nível inter-nacional.

São 55 mil metros quadrados,abandonados durante mais de 20anos, onde serão implementadosum novo terminal de cruzeirosmarítimos, uma marina pública,escritórios, restaurantes, terminal detransporte aquaviário, museu domar, centro de pesquisas, entre ou-tras ocupações.

Cabe aqui uma consideraçãosobre as perspectivas para a nossacidade relacionadas aos cruzeirosmarítimos. A cada temporada, amovimentação cresce, e nossoterminal – um dos mais moder-nos do País – em breve deveráter dificuldade em atender aogrande número de turistas. San-tos registra a maior temporadade cruzeiros marítimos, que res-ponderá por nada menos que80% de toda a movimentação doPaís no setor. Dos 18 transatlân-ticos que navegarão em águasbrasileiras nesta temporada, 15atracarão no porto local, que re-ceberá ainda outros cinco naviosem trânsito. A previsão é de 822mil passageiros no nosso porto,o que representa um crescimen-to da ordem de 7% em termosde público em comparação àtemporada anterior.

A revitalização de áreas por-tuárias abandonadas é um pro-cesso que acontece com suces-so em diversos lugares domundo. Para Santos, as vanta-gens da revitalização do caishistórico são imensuráveis,

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

com reflexos no futuro detoda a região. Os empreendi-mentos projetados promove-rão desenvolvimento econômi-co e social, com geração deemprego e melhoria na quali-dade de vida da população.

O complexo representa aindaa integração efetiva da cidade como seu porto, além da valorizaçãodo espaço urbano, hoje degrada-do, e a elevação da autoestima doscidadãos. A revitalização do caishistórico encerra um ciclo e mar-ca o início da transferência dasatividades portuárias para locaismais adequados com a nova reali-dade.

O valor global estimado dosinvestimento públicos e priva-dos gira entre R$ 500 e R$ 600milhões, sendo que a maior parteficará a cargo dos empreende-

dores privados. O GovernoFederal se encarregará dasobras da passagem subterrâneada Avenida Perimetral, o cha-mado “mergulhão”, cabendo àPrefeitura a contratação dosestudos de viabilidade técnicae econômica do projeto com-pleto e a urbanização daesplanada sobre a passagem,que integrarão o Centro His-tórico ao cais.

Muitos investidores nacio-nais e internacionais têm pro-curado informações sobre asatividades empresariais que se-rão implementadas no PortoValongo, demonstrando gran-de interesse em participar. Te-mos até tido dificuldade ematender a tantas consultas, oque comprova plenamente aviabilidade do projeto.

CIDADES PORTUÁRIAS

É importante ressaltar queos incentivos fiscais concedidospelo Município por meio doPrograma Alegra Centro deRevitalização do Centro Histó-rico valem para os empreendi-mentos a serem realizados noPorto Valongo. Os investido-res também poderão contarcom os benefícios do Progra-ma de Incentivo àRevitalização de áreas UrbanasDegradadas (PRO-URBE), ins-tituído pelo Governo do Esta-do em 2007, pelo qual é possí-vel utilizar em tais empreendi-mentos os créditos acumuladosdo ICMS, quando a alíquotamédia de saída é superior à deentradas das mercadorias, situ-ação que ocorre em geral nasoperações desoneradas deICMS, como as exportações.

A CARTA DE SANTOS

O Congresso da AssociaçãoBrasileira de Municípios Portu-ários foi realizado em agosto úl-timo em nossa cidade, reunindoprefeitos e representantes de ci-dades de todas as regiões do País.Vale ressaltar que 90% das im-portações e exportações do Bra-sil passam pelos portos. Juntos,os municípios portuários somam19% do PIB (Produto InternoBruto) nacional e concentram15% da população brasileira.

Após palestras e debates, osparticipantes elaboraram e divul-garam a “Carta de Santos”, umdocumento que expressa as prin-cipais reivindicações às autorida-des federais e estaduais e as reco-mendações para os governos dosmunicípios portuários.

Reivindicações: Entre as princi-pais solicitações, a aprovação do

A atividade portuária é fundamental para a sustentabilidade da ampla cadeia de negócios representadapelo petróleo e o gás

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Fundo de Desenvolvimento dosMunicípios Portuários, com re-passe de parcela do imposto so-bre importações, sem elevação dacarga tributária, e a participaçãono rateio da parcela do impostosobre circulação de mercadoriase serviços incidente sobre as mer-cadorias importadas que passampelos municípios portuários.

Um ponto destacado é o re-torno à tramitação, visando àaprovação pelo Senado Federaldo projeto de lei que trata dacriação dos centros de logísticasindustriais aduaneiros. Osubstitutivo elaborado pelaABMP sinaliza preferencialmentetais instalações em municípios eregiões metropolitanas onde hajaporto organizado.

A carta destaca ainda a necessi-dade de mudança no marcoregulatório para a participação nosrecursos arrecadados e distribuí-dos pelo Fundo Nacional de Re-novação da Marinha Mercante,para aplicação de um percentualno próprio porto de origem, des-tinando-o inclusive para investi-mentos em infraestrutura necessá-ria às cidades e aos seus portos. Issoalém do incentivo aoalfandegamento das instalações defornecedores de navios situadosem cidades portuárias.

Outras reivindicações foramelencadas:

• mudança no marco regulatórioque trata das arrecadações doFundo de Desenvolvimento doEnsino Profissional Marítimo,garantindo que os valores arre-cadados das atividades portuá-rias sejam geridos pela área go-vernamental responsável pelosportos brasileiros, com aplica-ção nos Centros de Treinamen-to instalados pelos CAPs de

cada Porto Organizado, con-forme Art . 32 da Lei n.º8.630/93, para implantação denovos modelos e novos currí-culos de tre inamentos erequalificações dos trabalhado-res portuários e funçõescorrelata;• agilização na implantação do tra-balho portuário multifuncionalcomo instrumento fundamentalpara a facilitação dos treinamen-tos e das requalificações laborais edas contratações de trabalhadoresportuários avulsos pelas empresasportuárias;• participação direta do PoderPúblico municipal na gestão ena administração dos portos si-tuados em seus territórios, compresença em atos de delegaçãopromovidos pelo Governo Fe-deral, com prévia adequação nalegislação e nos estatutos, bemcomo pela criação de Diretoriade Relações Porto-Cidade evaga nos Conselhos de Admi-nistração dos Portos para indi-cações municipais;• transferência para o Município deáreas portuárias sem uso para aoperação decarga, permitindo a implantação deprogramas de revitalização,requalificação urbana, atividades ná-uticas, lazer, turísticas e operaçãoportuária de passageirosnesses locais;• divisão justa e equitativa das re-ceitas advindas da exploração dopetróleo na forma que cada nívelda Administração Pública fiquecom um terço das receitas;• redução da contrapartida do fi-nanciamento do PAC para os mu-nicípios portuários;• instrumentos regulatórios quegarantam o mandato e aprofissionalização das Adminis-trações do Portos Organizados e

a nomeação das presidências dosCAPs no âmbito regional portu-ário;• manutenção da Secretaria Es-pecial de Portos da Presidênciada República com competênciasobre todos os portos marítimose fluviais e hidrovias ou a cria-ção do Ministério da Logísticacom destaque ao segmento por-tuário;• tratamento isonômico por par-te das autoridades federais paraportos fluviais e marítimos,notadamente nas regiões Norte eCentro-Oeste do País, a fim deque haja uma unificação de polí-ticas públicas para o setoraquaviário.

Recomendações: Aos muni-cípios portuários, a carta reco-menda instituir setores em suasestruturas internas preparadospara interagir nas atividades por-tuárias, acompanhando as evo-luções nos sistemas logísticos enos processos produtivos envol-vidos com seus portos, e incen-tivar a implantação de Centrosde excelência educacional parapreparar mão-de-obra apta àsnovas demandas relacionadascom a logística portuária e as ati-vidades correlatas, em cumpri-mento à determinação da Lei n.º8630/93.

Outro ponto destacado é anecessidade de compatibilizaros planos diretores de desenvol-vimento das Prefeituras de for-ma integrada aos planos de de-senvolvimento e zoneamentodos portos, bem como atuarnos CAPs, garantindo que esteúltimo respeite os regramentosmunicipais.

A realização de programaspedagógicos na rede de ensino,a partir dos seis anos de idade,

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM CIDADES PORTUÁRIAS

AB

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The Brazilian cities and their ports: a relationship that is getting better

Being a port city and keeping a healthly life style for its inhabitants. This is the greatest challenge faced daily bythe brazilian port cities. So, it is important to improve the relationship between the city and the port, a processthat is begining to become a reality in Santos.

Keywords: Ports. Development. Environment. Marine cost.

Las ciudades brasileñas y sus puertos: una relación que es cada vez meyor

Ser una ciudad portuaria y mantener una buena calidad de vida para sus habitantes. Este es el dificil desafíocotidiano que los municipios portuarios brasileños enfrentan. Los puertos provocam impactos. Así, es muyimportante estrechar la relación ciudad-puerto, un proceso que há empezado a realizarse em Santos.

Palabras claves: Puertos. Desarrollo. Entorno. Costo del mar.

para difundir conhecimentossobre o porto e a cultura por-tuária, e a busca por apoio e aintegração com as respectivascomunidades, a fim de melhorrepresentar os seus anseios e for-talecer suas reivindicações, pro-piciando a geração de uma cul-

tura portuária, são outros pon-tos destacados.

UM PRINCÍPIO ESSENCIAL

Ser prefeito de Santos e presiden-te da ABMP em um momento tãoimportante para o desenvolvimen-

to regional representa não só umagrande responsabilidade mas tam-bém uma oportunidade de trabalharpela harmonização da cidade com oseu porto, tendo como foco umprincípio essencial: a promoção dodesenvolvimento econômico aliadoà inclusão social e à sustentabilidade.

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O Município e odesenvolvimentocosteiroJoão Carlos CoserPrefeito Municipal de Vitória/ES

O presente artigo deve ser considerado como uma tentativa de compreensão do processo de ocupação das regiões costeirasa partir das formas sucessivas de transformação da produção capitalista que conformou o processo de ocupação doterritório brasileiro e, especificamente, como este processo foi construído a partir de um plano histórico e das suasimplicações espaciais, sociais e econômicas.

Palavras-chave: Portos. Desenvolvimento. Território. Contêineres.RES

UM

ODESENVOLVIMENTO COSTEIRO

O Município e o desenvolvi-mento, tema controverso e de pou-co consenso, tanto no Brasil comono exterior, traz no seu bojo a difi-culdade do gestor público local emintervir, avaliar e medir as suas in-tervenções nos processos de desen-volvimento.

A própria dificuldade de seconceituar o desenvolvimentolocal tem a vantagem de se pensá-lo como um movimento de “bai-

xo para cima”, não mais umadecisão exclusiva do Estado, oude determinadas elites econômi-cas. No caso dos portos, com aconstituição dos Conselhos deAutoridade Portuária – CAP,vemos que os projetos de desen-volvimento portuário devem,necessariamente, ser coadunadoscom um projeto de desenvolvi-mento da cidade ou, pelo me-nos, do território no qual

impacta economicamente, volta-do para a geração de emprego erenda, por meio de um movi-mento que tem a sociedade civilcomo o ator principal desse pro-cesso de construção coletiva des-se desenvolvimento.

A frente de mar, no passado,a única ponte de conexão como então mundo desenvolvido e,hoje, a principal conexão da ca-deia mundial de suprimentos,

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM DESENVOLVIMENTO COSTEIRO

tem nos portos uma das princi-pais infraestruturas econômicasa impactar os projetos de desen-volvimento local. Concreta-mente, no caso da expansão doporto público de Vitória, paraabrigar terminais de contêineresem águas profundas, estamos aassistir à capacidade da socieda-de em mobilizar-se para manter,competitiva e economicamente,um espaço especializado na pres-tação de serviços de logística, osituado envolvendo os municí-pios de Vitória, Serra, Cariacicae Vila Velha.

O novo paradigma dos trans-portes, a exigir infraestruturas por-tuárias de maior especialização, pro-fundidade e uma nova formaoperacional, estará condenando asatuais instalações ao obsoletismo e,consequentemente, a uma reduçãodos níveis econômicos localmente,com reflexos diretos para a gera-ção de emprego e renda das cida-des portuárias. Assim, cabem aosagentes políticos, capazes de arti-cular os atores sociais da cidade, fa-zer frente a esse desafio e assumiro papel de protagonista do desen-volvimento portuário local.

INTRODUÇÃO

O presente artigo deve serconsiderado como uma tentati-va de compreensão do processode ocupação das regiões costei-ras a partir das formas sucessivasde transformação da produçãocapitalista que conformou o pro-cesso de ocupação do territóriobrasileiro e, especificamente,como este processo foiconstruído a partir de um planohistórico e das suas implicaçõesespaciais, sociais e econômicas.

Ao fazê-lo, teremos como pre-missa a compreensão dos proces-

sos de desenvolvimento e suainteração com o poder local, en-tendido como resultado da falên-cia dos modelos tradicionais dedesenvolvimento, ora fundadosexclusivamente no conceito doEstado nacional como principalagente promotor do desenvolvi-mento, ora no mercado comoagente facilitador do ótimo eco-nômico.

A dicotomia entre o Estado eo mercado, portanto, não é maisa questão central, mas o territó-rio, a localidade como sujeito daação coletiva em prol do desen-volvimento local, onde, pormeio dos seus organismos e dasinstituições, apresenta-se comoprincipal protagonista deste de-senvolvimento, ou seja, cada gru-po de instituições e de organis-mos locais é responsável por es-colhas das trajetórias de cresci-mento e, desta forma, altamenteimplicadas no funcionamento ena dinâmica da economia local.

Esse entendimento pode serclaramente identificado na rela-ção dos portos com as cidades,que se tornou paradigmática apartir da constituição dos Con-selhos de Autoridade Portuária– CAP pela Lei dos Portos (Lein.º 8.630/93), ao transferir parao âmbito local a formulação daspolíticas de desenvolvimentoportuário, embora existam vári-as tentativas de recentralizaçãodestas, por parte de organismosfederais.

Questões sobre o nível de par-ticipação das atividades portuá-rias na economia local; em comomanter o porto em um ambien-te de competição; sobre o nívelde sustentabilidade a longo pra-zo; e como lidar com as rápidasmudanças na indústria marítimo-portuária a afetar as atuais insta-

lações portuárias a tal ponto deas tornarem obsoletas assumiramposição de destaque nos debatessobre a atualização destasinfraestruturas econômicas.

São questões que, pratica-mente, consolidam o entendi-mento de que nem a planifica-ção centralizada nem a genera-lização das vantagens do livremercado podem ser aplicadasaos portos. O que está no cen-tro do debate para os municípi-os portuários é o de encontraruma forma híbrida entre inter-venções públicas e ajustamentosdescentralizados decorrentes daspressões competitivas, ou seja,o foco das municipalidades é emse consolidar como protagonis-tas privilegiados no desenvolvi-mento conjunto das políticasportuárias.

O MUNICÍPIO, SUA FAIXACOSTEIRA E O PROCESSODE DESENVOLVIMENTO

O Estado brasileiro tem hoje odesafio de gerir uma extensa faixalitorânea de 8.500km de extensão,com 300 municípios litorâneos ecom uma extrema diversidade desituações, envolvendo uma crescen-te geração de conflitos quanto àdestinação de terrenos e demaisbens sob o domínio da União, comreflexos nos espaços de convivên-cia e lazer, especialmente das prai-as, estas consideradas de uso co-mum do povo.

No plano histórico, buscar com-preender o processo de ocupaçãodo território e de como estrategi-camente a ocupação da faixa cos-teira foi predominante, temos dedividi-lo em duas grandes fases: emuma primeira, quando a ocupaçãose deu sob a lógica de um capitalis-mo mercantilista, que se inicia

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O porto deve agora ter comofator central do seudesenvolvimento e

sustentabilidade o binômiotecnologia e know-how, em que

distribuição e atividadeslogísticas com a formação de

terminais e centros dedistribuição passam a ser

estruturantes de verdadeirosclusteres logísticos, reafirmando

o seu novo papel de portoprestador de serviços de logística

com a economia de exploração dopau-brasil, passando pela econo-mia de produção do açúcar e deoutras culturas agrícolas, como ocafé, e durando esse ciclo agrário-exportador até após a SegundaGuerra Mundial.

No outro momento, sob alógica de um capitalismo indus-trial monopolista, onde o papeldo Estado foi fundamental no

estabelecimento de uma novaordem econômica e,consequentemente, proporcio-nou a maturação da moderniza-ção do País com a consolidação

de grandes projetos, permitin-do o desenvolvimento de par-ques industriais voltados à ex-portação, provocando osurgimento de enormes aglome-rados urbanos à volta destes.

Assim, tanto a relação das pri-meiras cidades coloniais como asatuais cidades próximas à orla ma-rítima foram, e continuam sendo,altamente estratégicas no passado

para as metrópoles colonizadorase, hoje, para o desenvolvimentonacional. Ontem, eram não maisdo que portos construídos paraescoar riquezas coloniais em ex-

ploração, ou fortalezas militarespara proteger os colonizadores.Hoje, são altamente integrados àcomplexa cadeia mundial de su-primentos e em uma posição dedestaque nas trocas comerciaisentre as nações.

Mas, além dessas funções, osmunicípios litorâneos estão passan-do por uma nova fase de desen-volvimento que se abre para oBrasil, com a descoberta da pri-meira extração de óleo abaixo dacamada do sal, produzido, inici-almente, no Campo de Jubarte,situado no litoral sul do EspíritoSanto.

Essa descoberta descortinapara os municípios litorâneosum novo papel a desempenharno processo de desenvolvimen-to brasileiro, principalmente,como receptores dos investi-mentos necessários eminfraestrutura e exploração depetróleo e gás; estes a se tornarum dos principais pilares da sus-tentação do nosso crescimentoeconômico para os próximosanos e, portanto, outra grandeoportunidade de o País firmar-se com um novo “player” mun-dial no segmento de energia ese transformar como importan-te centro de bens e serviços noAtlântico Sul no setor petrolí-fero.

OS MUNICÍPIOSE OS PORTOS

Falar do Município e dosprocessos de desenvolvimentona faixa costeira, sem adentrarna questão portuária, seria qua-se impossível. Os portos, estra-tégicas de infraestruturas econô-micas do desenvolvimento bra-sileiro, respondem sozinhos pormais de 90% das exportações e

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movimentam em torno de 700milhões de toneladas, exercen-do o papel natural dearticulador dos fluxos nacionaiscom a circulação mundial demercadorias. Este ir-e-vir das ri-quezas produzidas por plantasfabris altamente flexíveis,difusas e dependentes de umainfraestrutura informacional dealta tecnologia é a base de umnovo processo produtivo, ago-ra distribuído em rede, nãomais caracterizado pelas grandesconcentrações industriais, deno-minadas “fordistas”.

Esse novo paradigma de pro-dução teve repercussão direta nosistema de transportes, fazendo sur-gir o fenômeno daconteinerização. A consolidaçãodas megatendências de transpor-te por contêineres e em navios degrande porte está a demandarportos com mais profundidadese novos conceitos operacionais,tornando obsoleta a maioria,quando não a totalidade, das atu-ais instalações portuárias brasilei-ras para movimentação decontêineres.

As megatendências influenci-am diretamente a formulaçãodas políticas de desenvolvimen-to portuário, notadamente,quando da elaboração dos Pla-nos de Desenvolvimento eZoneamento Portuário –PDZP, previsto pela Lei dosPortos, que implicam planejá-

los em sua dimensão territoriale localmente.

Assim, estamos a assistir ao mes-mo cenário de mudançasparadigmáticas dos transportesque o segmento das cargas sólidasa granel vivenciou no final da dé-cada de 60 e, agora, sendo repro-duzido no segmento das cargasgerais, a cada vez mais se“containerizando” e reforçando adispersão dos processos produti-vos globalmente, que implicamtransformar portos convencionaisde concepção e construção antigaem terminais modernos, adequa-dos ao recebimento de navios demaior porte e com característicasoperacionais mais sofisticadas,este, talvez, o maior desafio dosgestores públicos e das autorida-des portuárias em todo o mundo.

Esse desafio foi, em parte, es-clarecido na obra “Cidades ePortos, os espaços daglobalização” por Gerardo Sil-va e Giuseppe Cocco [1], em queo porto é pensado como umpoderoso instrumento de desen-volvimento local visto em umarelação de complementaridadecom a cidade, sendo providospelas redes sociais urbanas osrecursos empresariais e as com-petências para aprimorar os ser-viços prestados.

Assim, o porto deve agora tercomo fator central do seu desen-volvimento e sustentabilidade obinômio tecnologia e know-how, em

que distribuição e atividadeslogísticas com a formação de ter-minais e centros de distribuiçãopassam a ser estruturantes de ver-dadeiros clusters logísticos, reafir-mando o seu novo papel de por-to prestador de serviços delogística.

A intensa competição dosmercados trouxe consigo essanova conformação, transfor-mando os espaços onde as ativi-dades de transportes eram exe-cutadas, antes em uma formadesarticulada de ação e compe-tindo entre si, e, agora, na ne-cessidade de construir um in-tenso diálogo em uma estratégiade desenvolvimento concertada,cujas prioridades são as ativida-des de todos os atores da cadeialogística, em uma forma coope-rativa e articulada tal que osbenefícios da aglomeração ge-rem escala e competitividadepara todos.

Nesta nova configuração, aconsolidação de um ambiente decooperação do porto e de diálo-go social fortalece o surgimentode novas cadeias de comércio e detransporte que passam a ser con-centradas no porto, amalgamamas relações entre o porto, a comu-nidade e o governo, tornando-asmais estreitas e,consequentemente, levando auma política de desenvolvimentoconcertada entre os diversos ato-res políticos a longo prazo, onde

O Estado brasileiro tem hoje o desafio de gerir uma extensa faixa litorânea e com uma extrema diversidade de situações, envolvendo uma crescente geração deconflitos quanto à destinação de terrenos e demais bens sob o domínio da União, com reflexos nos espaços de convivência e lazer, especialmente das praias

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a estratégia de expansão da estru-tura portuária passa a ser centralsob uma ótica territorial.

A UNCTAD, organismodas Nações Unidas, tipificouessa nova configuração de por-to como sendo de terceira ge-ração, ou seja, uma nova gera-ção de portos que tem comoprincipais focos um intenso di-álogo social, a eficiência portu-

ária, a proteção e segurança domeio ambiente e a prestação deserviços logísticos e de distri-buição.

Em trabalho produzido porMonié [2] é reafirmada a tendênciade que “o maior desafio consisteentão em definir projetos territoriaisinovadores que articulam portos,que constituem espaços funcionais(atividades musculares) nas redesprodutivas, e as cidades que ossediam, que são focos de recur-

sos imateriais (atividades cere-brais) para enfrentar os desafiosda logística moderna através daagregação de valor aos fluxos daglobalização”.

Assimilar as repercussões dessareflexão e voltado à construção deum projeto de desenvolvimentoportuário das cidades é reforçar opapel dos atores locais, cujo pre-ceito está sendo aplicado no desen-

volvimento do projeto de ampli-ação do porto público de Vitó-ria, dentro de uma visão estraté-gica de se manterem atualizadasas infraestruturas portuárias como novo paradigma dos transpor-tes e, ainda, em estreita relaçãocom o projeto de desenvolvimen-to da cidade, em um conceitocomo exposto por Cocco [1, pg.21] de não se “... privilegiar umfoco (a cidade) com relação a ou-tro (a infraestrutura portuária),

mas de apreender a grande dife-rença entre os dois: apenas um (acidade) detém as melhores condi-ções para fixar localmente o va-lor gerado pelos fluxos e, portan-to, para gerar emprego e rendapara o território local”.

Esse novo olhar sobre o pro-cesso de gestão portuária revela adimensão do cerne da crise do an-tigo modelo, caracterizada por suaenorme centralização tecnocrático-administrativa e modelo de relaçãoentre entes federados do tipo decima para baixo, que negava a im-portância dos atores locais na defi-nição dos temas de política portu-ária. Fica, portanto, claro o acertodo legislador na constituição dosConselhos de Autoridade Portuá-ria (Art. 30, Lei n.º 8.630/93), comoum fórum híbrido de decisões efortalecedor de interações e relaçõessociais entre os atores envolvidosnos temas portuários no territó-rio, criando uma nova forma degovernança dos portos,revalorizando a especificidade pro-dutiva do território em serviços delogística e favorecendo processosde auto-organização competitivados citados atores.

Portanto, a constituição dosConselhos de Autoridade Portuá-ria – CAP concretiza o entrelaça-mento cooperativo dos níveis degoverno na produção e nogerenciamento de políticas por-tuárias, ao incluir no bloco doPoder Público representante doEstado e dos Municípios onde selocaliza o porto ou os portos or-ganizados abrangidos pela con-cessão. Essa participação dos de-mais entes federados no Conse-lho foi um passo decisivo na for-mação de uma estratégia de polí-tica portuária que contempla adimensão territorial, rompendocom o principal malefício da

O fortalecimento das relaçõesdos portos com as cidades,

embora incipiente em algumascidades e, noutras, bastante

adiantado, dá-nos mostras dadimensão do quanto ainda

falta construir

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descentralização ocorrida noprocesso de redemocratização,ao compar-timentar o federalis-mo, não abrindo espaços para ocompar-tilhamento de ativida-des, com uma atuação consorci-ada e cooperativa, ambiente fér-til ao desenvolvimento sustentá-vel dos portos.

OS MUNICÍPIOS E AASSOCIAÇÃO BRASILEIRADE MUNICÍPIOSPORTUÁRIOS – ABMP

Com o objetivo de dar maisdensidade na interlocução com aUnião, os municípios, que possu-em portos em seus territórios,constituíram em 1987 a AssociaçãoBrasileira de Municípios Portuários– ABMP, hoje o principal fórumde debate, no plano municipal, so-bre as questões envolvendo as re-lações dos portos com as cidadesque os abrigam.

Nos congressos realizados pelainstituição, são recorrentes os te-mas da gestão do território e asdemandas portuárias de necessida-des de expansão de áreas primári-as, destinadas à implantação denovas infraestruturas portuárias,notadamente as especializadas emcontêineres e, também, à crescen-te demanda de áreas com frentesde mar voltadas à instalação doconceito de porto – indústria,cujos impactos à infraestruturaviária urbana são de elevada in-tensidade, necessitando de umespaço de diálogo permanente dacidade com os gestores das polí-ticas portuárias, visando àcompatibilização do transporteurbano com o de carga.

Esse diálogo deve ultrapassaro campo da informalidade e assu-mir uma face concreta, com re-presentação do ente municipal nas

várias instâncias governamentaisque tratam da gestão portuária,seja no âmbito do Conselho Na-cional de Integração das Políticasde Transporte – CONIT, ou sejano âmbito local, como o caso deas autoridades portuárias teremem seus quadros diretivos umarepresentação dos municípiosonde se situam. No caso doCONIT, é importante citar queeste possui como principais atri-buições a coordenação da formu-lação de políticas e diretrizes detransporte e a integração física ede objetivos do sistema viário,inclusive no âmbito do Municí-pio, sem possuir uma representa-

ção dos municípios portuários emsua composição.

O fortalecimento das relaçõesdos portos com as cidades, embo-ra incipiente em algumas cidades e,em outras, bastante adiantado, dá-nos mostras da dimensão do quan-to ainda falta construir. A institui-ção de um Dia Brasileiro do Mar,com uma jornada de portas aber-

tas dos portos, poderia ser o cami-nho a convidar o público a adentrarnas suas instalações, incentivando,por um lado, os profissionais queatuam nos portos a conhecer maiso seu papel na sociedade e, de ou-tro, ativar um processo de reflexãodesta, medida de alto alcance peda-gógico, sobre a importância dasinfraestruturas econômicas,exercida pelos portos, para a vidadas cidades, consolidando a cultu-ra portuária localmente.

O tema do diálogo social vemtomando corpo a cada congressoda ABMP. As repercussões soci-ais dos novos métodos de movi-mentação de cargas nos portos,

estes, intensivos em capital etecnologia da informação e comu-nicação, estão a exigir um novoperfil de profissional portuário e,cada vez mais, o debate da políti-ca de formação do contingentedos trabalhadores portuários as-sume papel central. A falta deimplementação do modelo de for-mação profissional previsto pela

Um porto especializado na movimentação de contêineres, com profundidade da ordem de 16 a 21 metros,em uma área consolidada com vários portos, com acessos viários e ferroviários, será um poderoso articula-dor da consolidação de um verdadeiro arco metropolitano

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Lei dos Portos (Art. 32, Lei n.º8.630/93) tem provocado o iní-cio de tensões sobre as responsa-bilidades de financiamento do sis-tema de formação, embora o se-tor portuário contribua, por meiodo recolhimento de contribuiçõesparafiscais, para o Fundo de De-senvolvimento do Ensino Profissi-onal Marítimo – FDEPM, com1,5% incidente sobre a folha depagamento dos trabalhadores dosetor.

A alteração do marcoregulatório da política de formaçãodos trabalhadores portuários passaa ser urgente, definindo a transfe-rência dos recursos arrecadados parao FDEPM para os Centros de Trei-namento Portuário, instituídos pe-los Conselhos de Autoridade Por-tuária no âmbito local, e a institui-ção da política de formação profis-sional de portuário articulada coma política pública de formação pro-fissional, com envolvimento dasmunicipalidades e das ComissõesMunicipais de Trabalho.

Essa ação é decorrente do fatode que todos os municípios quepossuem portos, os postos de tra-balho da cadeia produtiva do setorserviços são preponderantes nouniverso do mapa do emprego dolocal e formular uma política mu-nicipal de formação profissionalportuária desarticulada da políticade formação dos demais trabalha-dores seria uma enorme contra-dição com o princípio da eficiên-cia dos gastos públicos.

O PROJETO DE AMPLIAÇÃODAS ATUAIS INSTALAÇÕESDO PORTO PÚBLICO DEVITÓRIA

O desafio da atualização dasinfraestruturas portuárias estásendo enfrentado pelo Município

de Vitória com a adoção de umanova estratégia de ação ao desen-volver, em conjunto com o Go-verno do Estado, as representa-ções dos trabalhadores e o seg-mento dos empresários, estes comassento no Conselho de Autori-dade Portuária, do projeto deampliação das atuais instalaçõesdo porto público.

A construção em águas pro-fundas de um moderno terminalde contêineres tem por base aforte tendência mundial da in-dústria marítimo-portuária quemostra um vigoroso processo deconcentração e fusão das empre-sas de navegação, sendo forma-das alianças e se construindo no-vos navios porta-conteineres commaior capacidade de carga, cons-tituindo-se em uma quebra deparadigma, tendência esta que iráse acelerar após a conclusão dasobras de ampliação do Canal doPanamá, tornando-se padrão notráfego transoceânico a utiliza-ção de meganavios.

Tanto as empresas como osgestores públicos envolvidos comos processos de planejamento go-vernamentais devem aproveitar es-ses fatores externos para melhorara capacidade logística do territórioe, assim, atrair, atender e agregarvalor aos fluxos do comércio mun-dial.

No caso de Vitória, a capaci-dade logística dos portos e as de-mais instalações voltados às ati-vidades de comércio exterior si-tuados na Região Metropolitanada Grande Vitória estão sendofortemente impactados com a re-volução da “conteinerização”,comprometendo o seu desenvol-vimento a médio prazo, em fun-ção da evolução das dimensõesdos navios porta-conteineres, aexigir portos com maior profun-

didade, maior largura dos canaisde acesso, instalaçõesespecializadas, dentre outros re-quisitos, cujas atuaisinfraestruturas, em função das suaslimitações físicas, estarão impedi-das de atender.

A proposta do porto públicode contêineres de águas profundas,surgida da representação dos tra-balhadores no Conselho de Auto-ridade Portuária, despertou os vá-rios atores políticos para o emer-gente tema das novas infraestruturasportuárias adequadas ao recebimen-to dos modernos navios no seg-mento de cargas “conteinerizadas”.

O Protocolo de Intenção firma-do entre a União, por meio da Se-cretaria Especial de Portos, o Esta-do do Espírito Santo e o Municí-pio de Vitória, para o desenvolvi-mento do projeto do porto públi-co de contêineres, concretiza umestilo de colaboração entre os en-tes federados voltado à construçãode um federalismo cooperativo quepermite associar os três níveis dafederação em ações conjuntas, nocaso, voltadas para o desenvolvi-mento dos portos.

Assim, os planejamentos a mé-dio e longo prazos destasinfraestruturas econômicas, direta-mente associadas às políticas dedesenvolvimento local, estadual enacional, passam a ser prioritáriospara as ações de governo e têm naconstrução de novas instalaçõesportuária de uso público no portode Praia Mole um empreendi-mento para atender ao potencialeconômico da região, contribuirpara o processo de desenvolvi-mento nacional, notadamente dovetor logístico leste, altamente es-tratégico para a região central doEstado brasileiro.

Um porto especializado namovimentação de contêineres,

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM DESENVOLVIMENTO COSTEIRO

com profundidade da ordem de16 a 21 metros, em uma área con-solidada com vários portos, comacessos viários e ferroviários, seráum poderoso articulador da con-solidação de um verdadeiro arcometropolitano, ligando o Portode Praia Mole, situado no Muni-cípio de Vitória, passando poráreas e instalações retroportuáriassituadas nos municípios de Serra,Cariacica e Vila Velha, ao Portode Capuaba, situado também emVila Velha.

O conceito de arco metropo-litano, construído a partir dosestudos “MG-ES, Um SistemaInfraestrutural”, como o “situ-ado entre Vila Velha, Cariacica,Serra e Vitória, o arco metro-politano, é caso exemplar deconfiguração territorial decor-rente das transformações dosdispositivos industriais elogísticos recentes. Trata-se deuma territorialidade local a ser-viço da macroescala econômicaglobal do comércio internacio-nal” [3], veio caracterizar a con-centração espacial e especializa-da no setor de comércio exteri-or e logística e um ambiente derelações entre empresas compe-tidoras/colaboradoras com umforte intercâmbio de bens, in-formação e recursos humanos,além de se consolidar o territó-rio, situado entre os quatromunicípios, como altamente es-tratégico para o desenvolvimen-to, a criação e a difusão de co-nhecimento.

A consolidação desse terri-tório da logística se deve a vá-rios, fatores, e, talvez, o demaior importância foi a proxi-midade do porto prestador deserviços, situado na baía de Vi-tória com a sua inerentepluralidade de atores econômi-

cos e sociais, tal como os ope-radores portuários, de áreasretroportuárias, os sindicatosde trabalhadores e outrosprestadores de serviços integran-tes da cadeia produtiva do co-mércio exterior que viram umlocal fértil para se instalarem eproduzirem, aliados aos incenti-vos financeiros decorrentes doFundo de Desenvolvimento dasAtividades Portuárias –FUNDAP, instrumento indutorda retomada do crescimentoeconômico do Espírito Santoapós a erradicação dos cafezaisno final da década de 50.

Portanto, estamos presenci-ando uma nova era que ultrapas-sou, em muito, a antiga visão deque o desenvolvimento é o con-ceito do porto-indústria, que, naspalavras de Cocco [1], “... mar-

ca a passagem de um período

industrial em que cada um dos

atores estava parado em seu

território...” e, agora, estamoscaminhando celeremente “...para uma fase de comércio e de

serviços que dá um papel

determinante à relação entre

eles, ou seja, a uma nova

centralidade urbana”.

É lógico que essa especiali-zação do território impõe aosgestores públicos dos municí-pios uma nova estratégia de atu-ação, como já citei, voltada àconstrução de um federalismomais cooperativo, com açõesconjuntas , d i scut idas eimplementadas em consensoentre estes e onde o debate darepartição justa e equitativa dosbenefícios dessa especializaçãoassumirá papel de destaque naagenda metropolitana, que po-derá se concretizar, por exem-plo, mediante a instituição deum consórcio público, onde a

política portuária do territó-rio seja pactuada pelos entesfederados municipais e o Es-tado do Espírito Santo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção se globalizou,dispersando os centros de fabri-cação, com um grande aumentoda circulação de bens e serviços,a implicar uma territorializaçãoda distribuição. Assim, a relaçãodas Cidades com os Portos setornou mais do que uma discus-são de questões de infraestrutura,para tornar-se uma necessidadede se mobilizarem competênci-as e atores sociais para além dospróprios limites políticos dosmunicípios, que demandam umnovo tipo de regulamentação eum novo quadro de negociaçãoe pactuação.

Essas infraestruturas econô-micas estão a exigir uma novaconcertação dos entes federadosna formulação de políticas dedesenvolvimento do segmentodo setor de serviços, capazes deestruturar esses territórios pro-dutivos para se afirmarem comoespaços centrais da logísticamundial. Lidar com esse novocenário é encarar o Municípiocomo protagonista essencial dareorganização capitalista do es-paço, com novas demandas parao gestor público que deverá for-mular políticas voltadas ao de-senvolvimento dainfraestrutura, da mobilidadeurbana, do meio ambiente dostransportes, da formação pro-fissional, da mobilidade da in-formação, dentre outras, essen-ciais para a manutenção e a ge-ração de emprego e renda local-mente, em igualdade de posiçãocom os demais entes federados.

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The town and coastal development

This article should be seen as an attempt to understand the process of occupation of the coastal regions from thesuccessive forms of transformation of the capitalist production process that characterized the occupation of Brazilianterritory, and specifically how this process was built from a historical background and its spatial implications,social and economic.

Keywords: Ports. Development. Container. Marine cost.

La ciudad y desarrollo costero

Este artículo debe ser visto como un intento de comprender el proceso de ocupación de las regiones costeras de lasformas sucesivas de la transformación del proceso de producción capitalista, que conformaron la ocupación delterritorio brasileño, y en concreto cómo este proceso se construye con una antecedentes históricos y sus

implicaciones espaciales, sociales y económicos.

Palabras claves: Puertos. Desarrollo. Contenedor. Costo del mar.

[1] COCCO, G. & SILVA, G. Cidades e Portos. Os espaços da globalização. Rio de Janeiro, DP&A Editora, 1999. 280 p.

[2] MONIÉ, Frédéric. Desenvolvimento Territorial nas cidades-porto da América do Sul. Programa de Pós Graduação em Geografia – Universidade Federal do Riode Janeiro Grupo de Estudos em Geografia Portuária – GEOPORTOS.

[3] CAMPOS, Martha Machado. Painel Portos, Cidades e Vazios Operativos. Seminário As Cidades e os Portos. Fev/2005.

[4] PIRES, Maria Coeli Simões; BARBOSA, Maria Elisa Braz (Coord.). Consórcios públicos: instrumento do federalismo cooperativo. Belo Horizonte: Fórum, 2008. 500 p.

[5] SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Produzir para viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Heraldo da Costa ReisProfessor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da UFRJCoordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares de Finanças Municipais ENSUR/IBAM

[email protected]

RESTOS A PAGAR NÃO PROCESSADOS?Gestão, contabilização e controle da despesa empenhada e dos restos

a pagar governamentais

O título é para realçar umaquestão que já pensava nãoexistir, mas eis que uma Prefei-tura de um Município de portemédio, com uma economia empleno desenvolvimento, consul-ta-nos a respeito, em razão depressão de órgãos de controleque alegam estar a referida exi-gência baseada em determina-ções contidas na legislação per-tinente à gestão orçamentáriae financeira governamental.

Penso, todavia, que tal afir-mação decorre de uma interpre-tação equivocada das normasque regem a gestão orçamen-tária e financeira contidas naLei n.º 4.320/64 e na Lei Com-plementar n.º 101/2000.

Iniciemos, pois, a exposiçãosobre o tema, objeto desta apre-sentação: RESTOS A PAGAR NÃOPROCESSADOS na AdministraçãoPública? Qual o seu significado?

O art. 36, da Lei n.º 4.320/64estabelece:

“Art. 36. Consideram-se Res-tos a Pagar as despesas em-penhadas mas não pagas atéo dia 31 de dezembro, dis-tinguindo-se as processadasdas não processadas.Parágrafo único. Os empe-

nhos que correm à conta decréditos com vigênciaplurianual, que não tenhamsido liquidados, só serão com-putados como Restos a Pagarno último ano de vigência docrédito.”

O caput do dispositivo encer-ra as seguintes ideias, a nosso ver,bem claras, quais sejam:

• o que sejam Restos a Pagar;• a composição dos Restos a

Pagar;• a distinção entre as despesas

empenhadas em grupos deprocessadas e não proces-sadas. A partir do entendi-mento destes grupos, é quese apropriam as despesas efe-tivas como consumo de ati-vos na prestação de serviçosou na produção de bens.

Desta forma, somente devemser reconhecidas no exercício,como consumo efetivo de ati-vos, aquelas despesas que retra-tam a execução plena de umcontrato, de um convênio ou deuma lei, cujo procedimento ca-racteriza a aplicação do regimede competência no seu reconhe-cimento pela Contabilidade

patrimonial.Note-se, contudo, que, por

muito tempo, pensou-se sem-pre haver duas categorias deRestos a Pagar:

• aqueles resultantes da des-pesa processada, isto é,que já estavam em fase depagamento quando se esgo-tou o exercício financeiro;

• aqueles oriundos de despe-sas simplesmente empenha-das, mas cujo processo depagamento não se tinha ul-timado. Em realidade, umgrande equívoco de inter-pretação do dispositivo oraem comento.

A despesa empenhada serádiferenciada nos seguintes mo-mentos:

• naquele em que o empenhoé feito sobre a dotação fixa-da para a despesa e que serevela apenas como umaprovisão orçamentária,conforme o art. 35, II, da Lein.º 4.320/64, para dar inícioao cumprimento de umcontrato, de um convênioou mesmo de uma lei. Nes-te caso, diz-se que é despe-

• FINANÇAS MUNICIPAIS •

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sa empenhada não pro-cessada ou a processar;

• naquele em que se verificaque o implemento de con-dição, resultante da execu-ção do contrato ou do con-vênio, ou mesmo da lei, foiou não cumprido. Quandoa verificação constata ocumprimento do imple-mento de condição, comoexpresso no art. 60 da Lei n.º4.320/64, diz-se então que adespesa empenhada está li-quidada, processada oupronta para o pagamen-to. É inscrita pela Contabi-lidade como Obrigações aPagar do Exercício. Nestecaso, quando o pagamentonão é efetivado durante operíodo em que se originouou até o dia 31/12, neste dia,o credor terá o seu crédito,líquido e certo, inscrito efe-tivamente como Restos aPagar.

Os Restos a Pagar devem,entretanto, distinguir-se do Ser-viço da Dívida a Pagar, poiseste refere-se a despesas finan-ceiras com juros e amortizaçõesempenhadas e não pagas, en-quanto aqueles referem-se a des-pesas administrativas com pesso-al, material de consumo e outras.

Deve-se, contudo, esclarecerque a Contabilidade registraránas chamadas Contas de Com-pensação a execução orçamen-tária da receita e da despesa, afim de se evitar que, no Passi-vo da entidade, no que respei-ta às despesas, sejam registradosos empenhos de contratos e deconvênios que não se processa-ram efetivamente, ou cujas obri-gações não foram reconhecidasefetivamente como tais.

Muitos balanços, comoconsequência de procedimentoserrôneos em relação ao mencio-nado art.36, têm apresentado noPassivo a conta Restos a PagarNão Processados, que indicaque os respectivos fatos gerado-res das obrigações e,consequentemente, das respecti-vas contrapartidas, não se efeti-varam no exercício.

Este procedimento prejudica ainformação sobre a situação eco-nômico-financeira da entidade, aqual não é evidenciada correta-mente pela Contabilidade, postoque apresenta dívidas que aindanão foram ratificadas pela Admi-nistração, conquanto elas possamvir a se concretizar. Daí a necessi-dade do saldo de caixa, quepassa para o período seguinte, serdemonstrado com esta afetação.

Assim, em razão do menciona-do procedimento, vários resulta-dos, tais como: o financeiro, o pri-mário, o nominal, o econômico ea situação líquida patrimonial, so-frem consequências danosas, o quenos leva a recomendar a extinçãoda conta Restos a Pagar Não Pro-cessados, porque, em realidade,estes não existem. O que existe sãocontratos e convênios, de vigênci-as plurianuais, em franca execução,cujo reconhecimento das obriga-ções dependerá do cumprimentode alguma exigência no períodoseguinte, ao qual, portanto, a des-pesa efetiva pertencerá.

O art. 57, I e II, da Lei Federaln.º 8.666/1993, com as modifica-ções que lhe foram introduzidas,dispõe sobre a vigência dos con-tratos, que ficará adstrita à doscréditos orçamentários, excetoquanto aos referentes:

• aos projetos cujos produtosestejam contemplados nas

metas estabelecidas no planoplurianual, os quais poderãoser prorrogados se houver in-teresse da Administração edesde que isso tenha sido pre-visto no ato convocatório;

• à prestação de serviços a seremexecutados de forma contínua,que poderão ter a sua duraçãoprorrogada por iguais e suces-sivos períodos, desde que nãoultrapassem 60 meses, com vis-tas à obtenção de preços e con-dições mais vantajosas para aAdministração.

Este artigo deve ser estuda-do conjuntamente com o pará-grafo único do art. 36 da Lei n.º4.320/64, que trata da vigênciado crédito plurianual. Em reali-dade, o que o dispositivo procu-ra esclarecer tem relação com asdespesas contratuais ouconveniadas de execuçãoplurianual, inclusive as resultan-tes de contratos de adesão.

Assim, os empenhos que cor-rem à conta de créditos de vigên-cia plurianual e que se refiram aoscontratos e/ou aos convênios deexecução plurianual devem ter omesmo tratamento dos créditosde vigência anual, ou seja, o atode empenhar é apenas uma pro-visão orçamentária e, quando nãoprocessado, deve ser inscrito emDespesas Contratuais/Conveniadas em Execução nasContas de Compensação. Umavez processados, são inscritos emRestos a Pagar como provisãofinanceira no Passivo para com-promissos a pagar.

Parece-nos, entretanto, que ainterpretação do inciso II, do art.35 da Lei n.º 4.320/64, é que temlevado a conclusões equivocadascom relação ao reconhecimentoda despesa na sua efetividade,

FINANÇAS MUNICIPAIS

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quando o dispositivo trata dereconhecer apenas o volume deempenhos feitos no exercício, oque nos leva a concluir que acompetência é orçamentária,sem consequências patrimoniais,conquanto possa existir uma ex-pectativa de tais repercussõesem torno dessas operações.

O reconhecimento da despe-sa pela sua realização, conformeo art. 60 da mencionada Lei n.º4.320/64, aqui como contrapartidade obrigações a pagar ou de cai-xa, é feito pelo seu fato gerador eeste pode ocorrer em qualquerperíodo, inclusive naquele em queo empenho se originou. Nestecaso, o processo é denominado decompetência financeira e temconsequências patrimoniais.

Entenda-se que o simples atode empenhar não significa rea-lização de despesa, daí por quenão se aceitar a figura dos res-tos a pagar não processados.

Recorrendo ao parágrafoúnico art. 92, da Lei n.º 4.320/64,encontramos a mesma regra re-ferente à distinção entre as des-pesas processadas e as não pro-cessadas para a inscrição dos cre-dores em restos a pagar, confor-me está determinado no art. 36,mencionado no início deste tra-balho, se não vejamos:

“Art. 92 – A dívida flutuantecompreende:......................................................................................................................................................................................................................parágrafo único – O regis-tro dos restos a pagar far-se-ápor exercício e por credor, dis-tinguindo-se as despesas pro-cessadas das não processa-das.”

Mais uma vez, a Lei n.º 4.320/64 dispõe sobre a necessidade de

se distinguirem as despesas reali-zadas, ou seja, aquelas cujos res-pectivos objetos se concretizaram,na forma do art. 60, da mesmalei, daquelas por realizar, aindaque estejam em plena execução,e transferidas para o período se-guinte, a fim de que os resulta-dos e a própria situação financei-ra, exposta no passivo financei-ro como dívida flutuante, nãosejam afetados, com reflexos nasituação líquida patrimonial, oque, entretanto, não significaabandoná-las no momento da ela-boração da demonstração do flu-xo de caixa final.

O que se entende da análiseda lei é que os contratos emfranca execução ou despesas emprocessamento, transferidos doperíodo anterior, poderão afe-tar o saldo de caixa final e como qual se inicia o período se-guinte, ou seja, saldo final me-nos as despesas emprocessamento.

Em realidade, estamos defen-dendo o princípio da compe-tência financeira para as des-pesas realizadas, ou seja, o fatogerador ocorre no exercício emque o implemento de condiçãoé cumprido, e não naquele emque fora empenhado, conformeentendimento decorrente de lei-tura não atenta ao exposto noinciso II, do art. 35, da Lei n.º4.320/64.

Especificamente, sobre acontabilização dos convênios,há de se considerar certos as-pectos de caráter gerencial,além de se tomar conhecimen-to prévio do disposto no art.116 e respectivos parágrafos daLei n.º 8.666/93.

Em realidade, os recursos fi-nanceiros conveniados recebidoscom certa antecedência devem

ser contabilizados sempre emcontrapartida à conta de Convê-nios a Aplicar, registrada no Pas-sivo, a qual será convertida emreceita, à medida que o objetodo convênio vai sendo executa-do. As despesas assim como asreceitas, entretanto, serãocontabilizadas inicialmente nascontas de compensação ativas epassivas, e, posteriormente,como obrigações a pagar, apósas respectivas liquidações, comojá se explicou.

Obs.:

1. O presente trabalho teve porbase os comentários aos ar-tigos mencionados do livro“A Lei 4.320 Comentada e aLei de Responsabilidade Fis-cal,” 32a Ed. IBAM, e do livro“Contabilidade e Gestão Go-vernamental,” Ed. IBAM,2004.

2. Para um aprofundamentodo assunto, objeto destetrabalho, recomendo asleituras dos seguintes tex-tos:

a) Publicados na Revistade Administração Munici-pal, IBAM, RJ:

• Regime de Caixa ou de Com-petência: eis a questão;

• O Superavit Financeiro nasFinanças Governamentais; e

• As Mudanças na LeiComplementas 101/2000, to-dos já publicados na Revistade Administração Municipal,IBAM

b) Livro Contabilidade eGestão GovernamentaL: estu-dos especiais (Ed. IBAM)• Cap. Gestão Financeira• Cap. Gestão e Controle de

Convênios

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

INTRODUÇÃO

A complexidade, a dinâmicae a incerteza que caracterizam omundo atual dos negócios im-põem enormes e constantes desa-fios às organizações e aos merca-dos regionais que pretendem serinseridos no contexto da globali-zação e da competitividade. Abusca de um desenvolvimentosustentável nas arestas social, eco-nômica, tecnológica e ambiental

Modelo de políticaspúblicas municipaispara gestão deciência, tecnologia einovaçãoFarley Simon Mendes NobreDiretor da Innovation Technology EnterprisePhD em Engenharia de Produção pela The University of Birmingham UK (2001-2005)

RES

UM

O

O projeto e a implantação de políticas públicas municipais de base organizacional e tecnológica se fazem necessáriaspara prover suporte ao desenvolvimento regional sustentável, proporcionando estruturas e processos adequadosque contribuam para a geração de vantagens competitivas para o Município, o Estado e a União. Com base nestapremissa, este trabalho propõe um modelo, contendo planejamento estratégico, estrutura e processos para criaçãode Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) em nível municipal.

Palavras-chave: Política e gestão de ciência. Tecnologia e inovação. Desenvolvimento regional e sustentável. Globalização.

POLÍTICAS PÚBLICASRevista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

tem sido, de forma crescente, in-corporada à gestão e assumidacomo compromisso de organiza-ções públicas e privadas que alme-jam satisfazer critérios de excelên-cia do século XXI [NOBRE,TOBIAS & WALKER, 2008]. Àmedida que os desafios aumen-tam, também aumenta a necessi-dade de análise e projeto de no-vos modelos de gestão de políti-cas organizacionais, que devem serelaboradas e colocadas em práti-

ca sob um processo contínuo quecontribua para o desenvolvimen-to sustentável por meio da ciên-cia e da tecnologia e a inovação.Este estilo de governança é dignodo terceiro milênio e de uma novaera que avança, inspirada em umanova agenda de desafios e desen-volvimento sustentável [VER-GARA & CORREA, 2004]. Em resumo, o desenvolvimen-to sustentável é um processo detransformação no qual a exploração

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dos recursos, a gestão dos investi-mentos, a orientação do desenvol-vimento tecnológico e a mudançainstitucional se harmonizam e refor-çam o potencial presente e futuro, afim de atender às necessidades e àsaspirações humanas. [WCED, 1987] Portanto, é neste contexto demudanças, evolução, globalizaçãoe aumento na complexidade domercado que se destaca a grandenecessidade de se proporem no-vas estruturas e processos, defi-nindo novos modelos de planeja-mento, gestão e negócios para osmunicípios do Brasil, visando au-mentar a sua contribuição para odesenvolvimento tecnológico sus-tentável nos níveis municipal, re-gional, estadual e federal. Adici-onalmente, é neste âmbito que aproposta de um modelo de Secre-taria Executiva de Ciência, Tec-nologia e Inovação (SECTI) mu-nicipal se destaca e apresenta a suamaior contribuição.

O Brasil e seus municípios têmpassado por importantes transforma-ções de conjuntura política, econô-mica, organizacional e tecnológica,influenciando todo o seu ambiente eo mercado caracterizados pela forteglobalização e expansão em suas ares-tas acadêmica, industrial e empresa-rial, conforme ocorrido principal-mente a partir da década de 90. Con-siderando-se a complexidade e a rele-vância das transformações de base tec-nológica, requer-se a criação de polí-ticas e estruturas organizacionais quefortaleçam a coordenação dos siste-mas tecnológicos envolvidos na evo-lução da nossa sociedade.

Desta forma, o projeto e a im-plantação de estruturas e polí-ticas tecnológicas municipais se fa-zem necessários para prover su-porte ao desenvolvimento susten-tável das regiões, possibilitandomelhorias na difusão e na gestão doconhecimento, na ampliação de pes-quisas interdisciplinares, na inovação

em setores produtivos de priori-dade, na formação de polo tecno-lógico e, por conseguinte, contri-buindo para o equilíbrio entremudanças regionais de base tec-nológica, organizacional e social.

Portanto, com a finalidade deapoio à criação e à gestão de novasestruturas e políticas públicas debase tecnológica e organizacional,propõe-se neste trabalho o planeja-mento estratégico inicial do modelode Secretaria Executiva de Ciência,Tecnologia e Inovação (SECTI) mu-nicipal, em que esta Secretaria deveráatuar como Agente do Desenvolvi-mento Tecnológico Sustentável nosmunicípios onde ocorrerá a sua im-plantação.

O conteúdo desta propostaestá fundamentado nas diretrizesde Secretarias de Ciência e Tec-nologia de estados e em algunspoucos municípios no Brasil queapresentam experiência nesta fun-ção, estando principalmente ali-nhado à política de gestão doMinistério de Ciência e Tecnolo-gia (MCT) do Governo Federal.

DESENVOLVIMENTOESTRATÉGICO DA SECTI

Esta seção apresenta os ele-mentos principais do planejamen-to estratégico de uma SecretariaExecutiva de Ciência, Tecnologiae Inovação (SECTI) municipal.

Áreas de Competência eAções da SECTI

A Secretaria Executiva de Ci-ência, Tecnologia e Inovação (abre-viada por SECTI) deve ser respon-sável por todas as ações setoriais acargo do Município, relativas ao de-senvolvimento da pesquisa, à geração,à difusão e à aplicação do conheci-mento científico e tecnológico com

Os participantes da Rede de Ciência, Tecnologia e Inovação (RCTI) têm a responsabilidade de elaboraçãode propostas, projeto e avaliação de novas políticas públicas que contribuam para o desenvolvimento daciência, da tecnologia e a inovação do Município e da região

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

foco em inovação. Compete à Se-cretaria:

a) elaborar e institucionalizar polí-ticas públicas sustentáveis para o de-senvolvimento da ciência, da tecno-logia e da inovação no Município,

atuando com responsabilidades so-cial, econômica, ambiental e ética;b) alinhar suas estratégias às políti-cas do desenvolvimento da ciência eda tecnologia estadual e federal (MCT)com foco nas prioridades e nas neces-sidades do Município e da região;c) coordenar a política municipalde ciência e tecnologia, supervisio-nando sua execução nas organiza-ções municipais de ensino, pesquisae desenvolvimento tecnológico,públicas e privadas;d) elaborar planos e programas emarticulação com as Secretarias Munici-pais do Planejamento e do Desenvol-vimento Econômico e acompanhar aexecução de projetos desenvolvidospor órgãos e entidades do Poder Exe-cutivo municipal na área de ciência etecnologia;e) estimular a execução de pesqui-sas básicas e aplicadas por meio

do aperfeiçoamento da infraestru-tura de prestação de serviços téc-nico-científicos no Município;f) articular com organizações depesquisa científica e tecnológica ede prestação de serviços técnico-científicos, públicas ou privadas,

objetivando a adequação e a raci-onalização de políticas e progra-mas na área de ciência e tecnolo-gia e a promoção da inovação tec-nológica, tendo em vista a trans-ferência de tecnologia para o se-tor produtivo e o aumento dacompetitividade de organizaçõesno Município e na região;g) promover o levantamento siste-mático de oferta e demanda de ciênciae tecnologia e difundir informaçõespara organizações, órgãos e entidades;h) manter intercâmbio com organi-zações nacionais e estrangeiras para odesenvolvimento de planos, programase projetos de interesse em áreas da ci-ência e da tecnologia;i) participar do Sistema Nacional deNormalização, Metrologia e Qualida-de Industrial – INMETRO;j) incentivar o conhecimento ci-entífico e tecnológico mediante a

pesquisa, a extensão e a formaçãode recursos humanos em nível uni-versitário e técnico-profissionali-zante, em parceria com a Secreta-ria Municipal de Educação.

Objetivos da SECTI

a) desenvolver e ampliar negócios tec-nológicos e produtivos sustentá-veis no Município. Esta atividade serefere à criação de ambiente, condi-ções, processos, infraestrutura e po-líticas que contribuam para o desen-volvimento de vantagens competi-tivas que sustentem a instalação denovos empreendimentos privados epúblicos no Município, assim comoa permanência e o crescimento dasempresas e dos arranjos produtivoslocais já instalados na região;b) fortalecer a articulação entre a Redede Ciência, Tecnologia e Inovação(RCTI) em todo o território muni-cipal com a finalidade de proporcio-nar a fusão de projetos integrados mai-ores e do interesse comum. A RCTI éformada por todas as organizações quetêm interesse em pesquisa e inovação,localizadas no Município e na região,entre as quais incluem instituições pú-blicas e privadas do ensino técnico esuperior, indústrias e empresas de ser-viços;c) proporcionar a formação e aqualificação de mão-de-obra ali-nhada à demanda do setor produ-tivo e tecnológico;d) assegurar a conformidade dosprodutos municipais e da região,segundo padrões nacionais e inter-nacionais de qualidade, para con-sumo e exportação;e) consolidar na sociedade do Mu-nicípio a percepção de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação (C,T& I) como área estratégica do de-senvolvimento sustentável;f) planejar, desenvolver, avaliar ecoordenar todas as atividades refe-

POLÍTICAS PÚBLICAS

A Secretaria Executiva deCiência, Tecnologia e Inovação

(SECTI) deve coordenar eexecutar as políticas de Ciência,Tecnologia e Inovação (C,T&I)

como apoio aodesenvolvimento sustentável

do Município

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rentes à instalação de Parques Tec-nológicos que contribua com infra-estrutura e processos para a gera-ção de novos empreendimentosno Município e na região;g) incentivar a criação de novosempreendimentos e a geração deempregos relacionados à Ciência,à Tecnologia e à Inovação;h) proporcionar a formação dePolo Tecnológico municipal, con-centrando-se em áreas estratégicascomo a exemplo do Desenvolvi-mento e Gestão de Produtos deSoftware e Tecnologia da Informa-ção para uso interno e para expor-tação de acordo com padrões doprograma SOFTEX do Ministériode Ciência e Tecnologia.

Política e Planejamento daSECTI

A Secretaria Executiva deCiência, Tecnologia e Inovação(SECTI) deve coordenar e execu-tar as políticas de Ciência, Tec-nologia e Inovação (C,T&I) comoapoio ao desenvolvimento susten-tável do Município. Neste con-texto, a Secretaria deve desenvol-ver seu Planejamento Estratégicoe Planos Diretores cujas diretri-zes e prioridades incluem:

a) consolidar, no Município, apercepção da Ciência, da Tecno-logia e da Inovação como áreasestratégicas;b) preparar o Município comopolo tecnológico, destacando-senas arestas regional e estadual, for-mando excelência na era e na eco-nomia do conhecimento, concor-rendo com mercados nacionais einternacionais no quesito atração eampliação de novos negócios eempreendimentos de base industriale tecnológica;c) transformar conhecimento em ne-

gócios, elevando a competitividade dosetor produtivo e contribuindo para odesenvolvimento do Município;d) alinhar ações e indicadoresdo sistema de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação às diretrizes doPlano Municipal de Desenvolvi-mento Integrado (PMDI). OPMDI inclui a participação detodas as Secretarias Municipais;e) realizar projetos para captação derecursos nas instituições de fomen-to estaduais e federais.

Missão da SECTI

a) promover a gestão de Ciência,Tecnologia e Inovação (C,T&I)para o desenvolvimento sustentá-vel e a melhoria contínua da quali-dade de vida no Município;b) gerir soluções que satisfaçam cri-térios de excelência organizacionais ede mercado, transformando conhe-cimento em riqueza e promovendoa sustentabilidade do Município comética e transparência.

Visão da SECTI

Ser modelo e referência nos ce-nários estadual e nacional como or-ganização municipal gestora de po-líticas públicas que assegurem o de-senvolvimento científico, tecnológi-co e a inovação, atuando com res-ponsabilidades ambiental e social,com foco na excelência em gestãode C,T&I para geração de negóciosque contribuam para o desenvolvi-mento sustentável do Município.

Valores da SECTI

a) prezar o Município e seupovo;

b) respeitar as diversidades culturais;c) trabalhar com critérios de

excelência;d) estar comprometido com o

Município;e) reconhecer méritos do capital

intelectual humano;f) valorizar a produção e a ges-

tão do conhecimento;g) incentivar criatividade, ino-

vação e aprendizagem;h) difundir e cultivar a melho-

ria contínua de sistemas inte-grados de gestão da qualida-de no Município;

i) praticar integridade, honesti-dade, transparência e ética;

j) atuar com responsabilidadessocial, econômica e ambiental.

ORGANOGRAMA DA SECTI

A Secretaria Executiva de Ci-ência, Tecnologia e Inovação secaracteriza organizacionalmentecomo uma unidade da PrefeituraMunicipal, podendo ser implan-tada de duas maneiras, conformeapresentado em seguida.

Forma Horizontal

A SECTI poderá ser implanta-da na forma horizontal e indepen-dente das demais Secretarias muni-cipais existentes. Este modelo re-quer a criação de uma nova Secre-taria em linha horizontal às demais,conforme ilustra a Figura 1.

Forma Vertical

Alternativamente, pode-seinserir a SECTI em uma das Se-cretarias já existentes, na formade unidade verticalmente depen-dente de uma Secretaria maior.Neste modelo, não há a necessi-dade de criação de uma nova Se-cretaria maior, conforme ilustraa Figura 2.

Neste exemplo ilustrado na Figura2, a SECTI está inserida na SecretariaMunicipal do Desenvolvimento, em-

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM POLÍTICAS PÚBLICAS

bora possa também fazer parte deuma outra Secretaria.

Participantes na SECTI

A Rede de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação (RCTI), definida noitem (ii) de Objetivos da SECTI, éo conjunto de organizações e pesso-

as que compõem o Comitê Direti-vo da SECTI e que deverão reali-zar propostas de políticas públicaspara o Município. Portanto, osparticipantes da SECTI incluemtodos os agentes da RCTI que éformada por todas as organizaçõesque têm interesse em pesquisa, de-senvolvimento e inovação, estandolocalizadas no Município e na re-gião, entre as quais incluem insti-tuições públicas e privadas do ensi-no técnico e superior, indústrias eempresas de serviços.

As responsabilidades dos parti-cipantes da RCTI incluem:

a) elaboração de propostas, projetoe avaliação de novas políticas públi-cas que contribuam para o desen-volvimento da ciência, da tecnolo-gia e a inovação do Município e daregião; que satisfaçam os interessescientíficos, tecnológicos e organiza-cionais comuns; e que proporcio-nem desenvolvimento integrado e sus-

tentável para o Município;b) acompanhar a implantação e aexecução de políticas públicas queinfluenciam os negócios e os interes-ses do Município.

A SECTI deve então recebercontribuições das várias partes queformam a RCTI. Estas partes exe-

cutam operações do ensino técni-co e superior, industriais, empre-sariais e operações de serviços ge-rais, que incluem setores público eprivado do Município e da região.Estas partes, que formam a RCTI,denominadas participantes da Se-cretaria (SECTI), e que constituemo Comitê Diretivo, devem ser de-

finidas em consenso por gestoresda Prefeitura e de outras organiza-ções, podendo incluir pessoas físi-ca e jurídica, representantes de:

• empresas de pequeno, mé-dio e grande portes;

• instituições e organizações doGoverno Estadual e Federalinstaladas no Município;

• instituições do ensino técnico esuperior, privadas e públicas; e

• outras organizações.

Portanto, a estrutura proposta paraa Secretaria Executiva de Ciência, Tec-nologia e Inovação (SECTI) será umaaproximação do seguinte modelo ilus-trado na Figura 3.

CONCLUSÕES

No atual contexto de globaliza-ção em que vivemos, sabe-se que, si-milarmente ao que acontecem entrepaíses, os municípios também sãoagentes globais que competem entresi na captação de recursos nas esferasestaduais, nacionais e internacionais[Editora Abril, 2007]. Para tanto, bus-ca-se o desenvolvimento de vanta-gens competitivas por meio de no-vos modelos de gestão organizacio-

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EDITORA ABRIL (2007). Revista Exame: Edição Especial de Aniversário – 40 Anos. São Paulo, SP: Autor.NOBRE, F.S., TOBIAS, A.M. & Walker, D. (2008). Organizational and Technological Implications of Cognitive Machines: Designing Future Information Manage-ment Systems. ISBN: 978-1-60566-302-9. Information Science Publishing - IGI Global, USA.VERGARA, S.C. & CORRÊA, V.L. (2004) Propostas para uma Gestão Pública Municipal Efetiva. Editora FVG.WCED (1987). Our Common Future. World Commission on Environment and Development. United Nations. Oxford: Oxford University Press.

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Model of public policies for municipal management of science,technology and innovation.The design and implementation of public policies on municipal organization and technology are needed toprovide support to regional development by providing adequate structures and processes that contribute to thegeneration of competitive advantages for the City, State and Union. Based on this premise, this work proposes amodel with strategic planning, structure and processes for creation of Secretariat of Science, Technology andInnovation (Mineral Resources) at the municipal level.

Keywords: Policy and management of science. Technology and innovation. Regional and sustainable development.

Globalization .

Modelo de las políticas públicas de gestión municipal de la ciencia, tecnología einnovación.El diseño y la implementación de políticas públicas sobre la organización municipal y la tecnología son necesariospara prestar apoyo al desarrollo regional, proporcionando estructuras y procesos adecuados que contribuyan a lageneración de ventajas competitivas para la Ciudad, Estado y Unión. Partiendo de esta premisa, este trabajopropone un modelo de planificación estratégica, estructura y procesos para la creación de la Secretaría de Ciencia,Tecnología e Innovación (SECTI) a nivel municipal.

Palabras clave: Política y gestión de ciencia. Tecnología e innovación. Regional y de desarrollo sostenible. Globalización.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

nal para atração de novos investi-mentos e ampliação de negócios.

O planejamento de políticaspúblicas propostas neste trabalhorepresenta um modelo constituídode um conjunto de estratégiascompetitivas que pode ser adota-do nos municípios brasileiros.Adicionalmente, este planejamen-to pode ser considerado comoelemento norteador para o desen-volvimento de vantagens compe-titivas que devem proporcionarbenefícios para os municípios comrelação aos seus concorrentes lo-calizados no Estado, no País e,principalmente, no exterior.

Como forma de prosseguirno desenvolvimento da SECTI,requer-se a elaboração de plane-jamento estratégico das áreas denegócios do interesse e da priori-dade do Município e da região,

entre as quais, podem-se incluirAgronegócios, Saúde, Modelos deGestão Organizacional, Tecnolo-gia da Informação, Software, en-tre outras áreas e produtos. A

partir deste planejamento, po-dem-se então adaptar as políti-cas de C,T&I propostas nestetrabalho às necessidades de cadaMunicípio.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, perce-beu-se uma série de mudançasocorrendo de forma acelerada.Valores, comportamentos e per-cepções, tanto individuais comocoletivas, têm sido remodelados,sobretudo pelas exigências da glo-balização, que apresenta como

um de seus traços marcantes achamada revolução das Tecnolo-gias da Informação e Comunica-ção (TICs). (SANTOS, 2003)

As TICs são tidas como acele-radoras da remodelação das rela-ções sociais conduzidas pela glo-balização (GIDDENS, 1991). Taistecnologias ampliam em volume evelocidade a circulação de dados,

a produção de conhecimento e oacesso a informações, o que causamudanças significativas nas diver-sas organizações da sociedade,como empresas, instituições públi-cas, e também em organizaçõessociais. Bragatto (2007) afirma que,a princípio, verificam-se posiçõespolarizadas entre visões otimistasou utópicas,

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Administração Pública,democracia participativae Internet: uma análisesobre os portais dosmunicípios da região dasAgulhas Negras/RJ

RES

UM

O

O presente artigo analisa os portais das Prefeituras de Resende, Itatiaia e Porto Real, na região das Agulhas Negras, no Suldo Estado do Rio de Janeiro, por meio dos critérios: Navegabilidade, Informações Governamentais, Serviços, ControlePúblico e Participação. Os resultados foram comparados com estudos envolvendo a esfera governamental de vários países,apresentando grande similaridade entre as esferas municipal e nacional. A pesquisa revelou que ainda há um grandepotencial a ser explorado no que tange à adoção de práticas de democracia participativa eletrônica.

Palavras-chave: Administração Pública. Democracia participativa. Internet. Portais municipais.

DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E INTERNET

Júlio Cesar Andrade de AbreuAdministrador, Especialista em “Movimentos Sociais, Organizações Populares e Democracia Participativa” pela UFMG (Univer-sidade Federal de Minas Gerais) e em “Administração de Sistemas de Informação” pela UFLA (Universidade Federal de Lavras).Mestrando em Administração pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) com período de estudos sanduíche na Universidadede Coimbra (Portugal).

Daniel Armond-de-Melo

Cláudio Bezerra LeopoldinoMestre em Administração pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Doutorando em Administração pela UFBA (Universidade Federal da Bahia).

Administrador, Mestre em Engenharia da Produção pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas)Doutorando em Administração pela UFBA (Universidade Federal da Bahia).

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“nas quais o novo media emespecial a Internet, seria respon-sável por uma verdadeira reorga-nização social por meio do seupotencial emancipatório de for-ma a democratizar a sociedade, eoutras pessimistas, preocupadascom a tendência do meio geraruma maior estratificação social ecom o controle das populaçõesatravés da robótica e da informá-tica”. (BRAGATTO, 2007, p.3)

Obviamente, as duas visõesmerecem maior debate teórico eprático, mas fica claro o potenci-al que está inerente nesta novatecnologia. Quando se observa acena pública e os espaços munici-pais de decisão política e partici-pação cidadã, tal tecnologia podeconferir aos munícipes, em certamedida, um poder emancipató-rio, a possibilidade de reorgani-zação social e a chance de dar voza todos os atores sociais para queparticipem da vida pública de for-ma plena e fortaleçam o princí-pio de Democracia Participativa.

A Democracia Participativa édefinida por Teixeira (2005) comoo conjunto de iniciativas oriun-das dos governos (cumprindopreceitos expressos na Constitui-ção Federal) ou mesmo da açãocriativa da sociedade civil, buscan-do participar da AdministraçãoPública (seja por meio de meca-nismos de controle e fiscalizaçãoou mesmo sugerindo e opinandosobre ações do governo). Mas ain-da não é plena a participação ci-dadã nas Administrações Públicasbrasileiras. Talvez por questõessociais, mas também por questõesde gestão pública, a DemocraciaParticipativa não ganha a formanecessária para alterar o cenáriobrasileiro e, muitas vezes, é redu-zida ao ato de votar a cada doisanos. (PEDRINI, 2007)

Bragatto (2007) afirma queo debate sobre a participação po-lítica do cidadão ganha forte im-pulso com o uso das novas Tec-nologias da Informação e da Co-municação, especialmente da In-ternet. Embora tal debate não seja

novo, ele parece alcançar agoraum estágio mais maduro de de-senvolvimento. É isso que o pre-sente trabalho pretende analisar,focalizando a relação entre o Es-tado e a Sociedade. A democraciaparticipativa é praticada por meioda Internet na região das AgulhasNegras/RJ? Para responder a estaindagação, partiu-se do trabalho deRachel Bragatto onde são analisa-dos os portais dos quatros maiorespaíses da América do Sul.

Bragatto (2007), e Akutsu e Pi-nho (2002) apontam os portais degoverno como a principal ferra-menta para interação com a popu-lação por meio da Internet. Cunha(2002) define o termo portal comoa porta de entrada para a granderede mundial e local onde são ofe-recidos diversos serviços (como e-mail, chats, fóruns etc.). Os portaistambém recebem este nome devi-do à sua força em atrair visitantes.

Efetuou-se uma adaptação nametodologia aplicada por Bragat-to, e foram avaliados os sítios detrês municípios da região das Agu-lhas Negras no Sul do Estado doRio de Janeiro. Para mais clareza naapresentação deste trabalho, seuconteúdo está organizado da se-guinte forma: na primeira parte, éapresentado um referencial teóricosobre a democracia, em especial ademocracia participativa. Autores,como Leonardo Avritzer, AnaCláudia Teixeira, Bobbio, entre ou-tros, são referenciados. A segundaparte apresenta uma breve análiseevolutiva da sociedade pelas vias daglobalização, desembocando naInternet. Neste momento, recor-rer-se-á principalmente ao olharde Antony Giddens sobre a mo-dernidade e suas consequênciassociais e a Ladislau Dowbor parajustificar a opção pela análise emâmbito municipal deste trabalho.

(...) estimular a sociedade adespertar seu senso participativoe criar mecanismos criativos para

isso parece uma alternativarazoável para iniciar umamudança do atual cenário

brasileiro

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Finalmente, na quarta parte, de-senvolve-se a metodologia que foiempregada na pesquisa e em seusresultados. Neste momento, sãotecidas análises conclusivas e algu-mas considerações para futuraspesquisas.

DEMOCRACIA EPARTICIPAÇÃO NOCENÁRIO BRASILEIRO

Na década de 70, o Brasil, que,até o início de seu processo dedemocratização, era visto comoum país de baixa propensão par-ticipativa e associativa, inicia osurgimento de uma sociedade ci-vil autônoma e democrática(AVRITZER, 2006). Leonardo

Avritzer ainda enumera algunsfenômenos que propiciaram talfato: a) um crescimento exponen-cial das associações civis e comu-nitárias, extremamente superior

ao da primeira experiência demo-crática brasileira (1946-1964); b) aimportância que os direitos hu-manos e o discurso da cidadaniaadquirem na sociedade brasileira;c) a criação de uma demarcaçãomais clara a respeito dos contor-nos e a autonomia organizacionalentre o Estado e a sociedade ci-vil; d) a defesa de formas públi-cas de apresentação de demandase negociação com o Estado.

A partir do crescente envolvi-mento da sociedade civil na propo-sição de demandas e na negociaçãocom o Estado, observa-se certa “de-manda reprimida” que, após váriosanos de privação de suas possibili-dades de participação e exercício ci-dadão, ocasionados por regimes

militares, vê, nos anos seguintes, napromulgação da Constituição Fede-ral de 1988 a chance da criação deuma democracia participativa.

A consolidação de movimen-

tos sociais, as Organizações NãoGovernamentais (ONGs) e outrasformas de organização da socie-dade civil, como o Fórum Naci-onal de Participação Popular, oProjeto de Monitoramento Ati-vo da Participação da Sociedade(MAPAS) e a Inter-Redes, são al-guns exemplos disso. Klaus Freyvê, de forma positiva, este movi-mento da sociedade civil brasilei-ra na busca por espaços partici-pativos e de debate social e polí-tico, chegando a afirmar que

“a sociedade civil assumiu pro-gressivamente responsabilidadeno que diz respeito à “constitui-ção de espaços públicos nos quaisas diferenças podem se expressare se representar em uma negocia-ção possível” (TELLES, 1994, p.92) e “nos quais os conflitos ga-nham visibilidade e as diferençasse representam nas razões queconstroem os critérios de valida-de e legitimidade dos interesses easpirações defendidos como direi-tos”. (idem, p. 101) (FREY, 2003)

Haja vista a propensão à par-ticipação da sociedade e à limita-ção do sistema representativo, sãonecessários a análise e a proposi-ção de novas opções de Democra-cia ou um aprimoramento do atu-al formato. Chefes de Estado eGoverno e membros das NaçõesUnidas concordaram com estaideia ao ratificar a Declaração doMilênio onde foi afirmado que“o governo participativo e demo-crático baseado na vontade popu-lar garante melhor condições parao povo viver, criar seus filhos comdignidade, segurança, livres dafome, da violência, do medo e dainjustiça”.

Spink et alii (2002), discorrendosobre as novas possibilidades de

Ao somar os problemas ocasionados pela urbanização acelerada e a falta de planejamento sistêmico àgrave questão da desigualdade social brasileira, tem-se uma situação de perda gradual da governabilidadeda máquina pública no atual modelo democrático

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participação democrática, afir-mam que uma “cultura políticaprivatista e clientelista [...] levammuitas vezes os governantes e apopulação a confundir democra-cia com o simples atendimento àsnecessidades dos mais pobres, eparticipação com eficiência daspolíticas mantenedoras do status

quo” (p.75). Os autores exemplifi-cam tal visão por meio do orça-mento participativo, do planeja-mento junto com os cidadãos eoutras medidas, apontando que épossível uma nova arquitetura degoverno democrático. Portanto,estimular a sociedade a despertarseu senso participativo e criarmecanismos criativos para issoparece uma alternativa razoávelpara iniciar uma mudança do atualcenário brasileiro.

É comum encontrar os termos“Democracia” e “Participação”em diversos programas de parti-dos políticos e no discurso de di-versos governantes. Sem dúvida, ademocracia não se resume ao atode votar a cada período eleitoral.Sua plena realização tem de estaracompanhada necessariamente deuma efetiva participação da socie-dade no dia-a-dia político e pú-blico do Município, do Estado eda Federação como um todo. En-tretanto, o termo “participação”ainda possui diversos significadose sentidos, o que gera uma grandevariação de interpretações.

Pateman (2002, apud BRAGA-TO, 2007) indica diversas com-preensões sobre o termo “parti-cipação”, “se deve ser direta ourepresentativa (no caso da segun-da, quais seriam os representan-tes); se todos os cidadãos podemser sujeitos dessa participação; emquais instâncias pode-se interferir;se a participação deve se restrin-gir ao nível local ou nacional; se

todo tipo de decisão deve ser sub-metido à apreciação e à contribui-ção pública etc.” (p.4-5). Mas oEstado em sua atual forma apre-senta condições reais de implan-tação de iniciativas de maior par-ticipação popular? Wilson Gomescrê que sim e sugere que o Estadoteria aderência e possibilidade demutação, afirmando que

“uma perspectiva prática, foca-da no engate entre sociedade e Es-tado e acompanhada por umaagenda apoiada na ideia de que oEstado liberal ainda é uma formaplasmável e que pode ser molda-do de forma a melhorar a sua de-sempenho democrática. A prati-cidade da perspectiva é decorren-te do fato de que ela tem apenasum tema e um procedimento. Otema é que as democracias libe-rais contemporâneas podem edevem ser aperfeiçoadas. O pro-cedimento consiste na identifica-ção de problemas para os quaispossamos oferecer soluções”.(2007, p. 9)

Ou seja, dentro da própriademocracia representativa, po-deriam ser iniciados processosde participação ativa da socieda-de para uma real democraciaparticipativa, que complementa-ria, assim, a primeira. Pensar emuma democracia participativasoa como uma ideia cabível e ne-cessária, dada a atual situação dedesgaste da democracia represen-tativa (DOWBOR, 2003). Ob-viamente que a democraciacomo o modelo praticado naágora de Atenas, onde os cida-dãos participavam de todas asdecisões (a chamada democraciadireta), nos dias atuais, é inviá-vel. A experiência grega nos re-mete a um contingente reduzi-

do de pessoas aptas a participardo processo democrático, poisescravos e mulheres não eramconsiderados cidadãos e, alémdisso, a maioria da população sededicava a atividades rurais evivia afastada dos centros urba-nos.

Bobbio (1986), ao discorrersobre as várias formas de demo-cracia, lembra que Jean-JacquesRousseau salientou que uma verda-deira democracia jamais existiu nemexistirá, pois seriam necessárias di-versas condições: “em primeirolugar, um estado muito pequeno,onde fosse fácil reunir o povo eonde cada cidadão pudesse facil-mente conhecer todos os demais;em segundo lugar, uma grande sim-plicidade de costumes, de tal modoque evitasse a multiplicação dosproblemas e as discussões mais di-fíceis”.

O argumento de Rousseau fazsentido quando se constata que apopulação mundial chega a seisbilhões de pessoas, e mesmo apopulação de um município bra-sileiro não apresenta plena viabi-lidade para atuação no formatoda democracia grega. O esvazia-mento da população rural e a con-sequente migração para os cen-tros das cidades fazem com que ovolume de problemas das muni-cipalidades aumente na mesmaproporção do crescimento popu-lacional.

As municipalidades possuemuma forte relação sistêmica entreas suas diversas variáveis. Dowbor(2003) se referindo a esta intera-ção diz que “o esgoto que produzuma casa flui para o quintal dovizinho, morro abaixo, se não pen-sarmos em um sistema de sanea-mento. Se não se pensar de ante-mão no adensamento urbano te-remos ruas onde não passam car-

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E INTERNET

ros em volume suficiente e tere-mos problemas para nos movimen-tarmos”. (DOWBOR, 2003, p.8)

Ao somar os problemas ocasi-onados pela urbanização acelera-da e a falta de planejamento sistê-mico à grave questão da desigual-dade social brasileira, tem-se umasituação de perda gradual da go-vernabilidade da máquina públi-ca no atual modelo democrático.Perda esta que é fortemente influ-enciada pelos interesses econômi-cos de grupos específicos.

Tudo isso faz com que surjaalgo similar às antigas democraci-as censitárias, onde só podiamvotar e ser votados os que tinhamdinheiro (DOWBOR, 2003),mesmo havendo o sufrágio uni-versal. Percebe-se uma crise daRepresentação a qual Genro(2002) afirma ser global, onde há

um desafio para as representaçõesdemocráticas modernas quanto àlegitimidade dos representanteseleitos, o que sugere o surgimen-to de alternativas ao modelo vi-gente e deixa claro o desgaste dosistema de democracia represen-tativa no caso brasileiro e em di-versas democracias no mundo. Háum esvaziamento do conceito dedemocracia. A problemática abor-dada por Genro pode ser realça-da pela obra de Dahl (2005 apud

AGUIAR JÚNIOR, 2008) aoafirmar que os regimes atuais nãodeveriam ser chamados de demo-cracia, mas sim de poliarquia.Dahl não faz apenas uma simplesmudança semântica. O autor ad-jetiva o funcionamento real dosregimes atuais: a disputa de mui-tas elites pelo poder. (AGUIARJÚNIOR, 2008)

Em tal contexto teórico-prá-tico, pode-se analisar a seguinteafirmativa de Norbeto Bobbio(1986) como uma provocação eum convite:

“ninguém pode imaginar umestado capaz de ser governadoatravés do contínuo apelo aopovo: levando-se em conta as leispromulgadas a cada ano na Itália,por exemplo, seria necessário umaconvocação por dia. Salvo na hipó-tese, por ora de ficção científica,de que cada cidadão possa trans-mitir seu voto a um cérebro ele-trônico sem sair de casa e apenasapertando um botão”. (p.47-48)

À época de Bobbio, não exis-tiam os recursos tecnológicos atu-ais, mas o fato é que já existemcondições técnicas de votar aper-tando apenas um botão e tambémgovernar, interagir e participar dacena pública por meio da Inter-net.

Sobre a relação entre Internet egovernos, Levy (2003) afirma queo governo eletrônico deve refor-çar as capacidades de ação das po-pulações ao invés de sujeitá-lasa um poder. O que será analisa-do nos próximos tópicos é a rela-ção entre Internet e sociedade e,principalmente, se a possibilida-de técnica está sendo realmentetransformada em participaçãodemocrática por parte dos gover-nos municipais.

GLOBALIZAÇÃO, INTERNETE SOCIEDADE

Giddens (1991) aponta a glo-balização e a tecnologia da infor-mação como aceleradores do pro-cesso de modernização da socie-dade que foi iniciado na Europado século XVIII. Em sua teoria

O que fica claro é que a Internetnão fará nenhuma mágica e que

possui várias limitaçõesprincipalmente no que tange aoalcance de toda a população (aexclusão digital é um agravanteneste caso). Mas, mesmo assim,ela pode contribuir muito paracomplementar e fortalecer o

processo democráticoparticipativo

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de “Desencaixe do espaço-tem-po”, Giddens mostra que, há sé-culos, o senso de espaço geográfi-co ou social era estático, pois aspessoas viviam em pequenas aldei-as protegidas pelos senhores feu-dais. O status social também erainerte, e não havia preocupaçõescom a carreira profissional, porexemplo. Em geral, uma pessoajá tinha seu status social definidode acordo com a origem de suasfamílias (quem nascia em famíliareal seria um membro da corte,quem fosse de uma família de ar-tesãos, muito provavelmente, tam-bém seria um artesão). Essas pes-soas também estavam intimamen-te ligadas à natureza, e o própriosenso temporal era relacionadoaos ciclos das estações do ano, ouseja, o tempo era percebido deforma cíclica. Cada sociedadepoderia ter um “tempo” diferen-te, influenciado principalmentepela natureza e pelas estações. Aspessoas da época tinham uma sen-sação de grandiosidade de distân-cia, pois a percepção de tempo eracíclica, o status social era inerte, eo espaço era estreito. A socieda-de estava “encaixada” sobre umespaço-tempo determinado e es-tático.

A modernidade trouxe parasociedade da época inovaçõescomo o relógio. A partir dessainvenção, o tempo passa a ser li-near e não reflete um tempo sa-zonal, mas sim um tempo sociale artificial. Em razão disso, as di-ferentes sociedades, de diversoslugares do planeta, passaram a tera mesma noção de tempo. Outrainovação de grande impacto foio dinheiro. Por meio dele, as tro-cas passaram a ser realizadas en-tre outras vilas e outros lugaresmais distantes. A ideia de espaçocomeça a ser alterada com a che-

gada do dinheiro. Com todas es-sas inovações trazidas pela moder-nidade, Giddens demonstra quehouve um “desencaixe” da socie-dade da época de suas bases espa-ço-temporais no século XVIII.

Este princípio apresentado porGiddens também contribui paraa compreensão do cenário con-temporâneo. A modernidade,agora pelas vias da globalização eda tecnologia da informação, pro-move um novo desencaixe de es-paço-tempo. Tais mudanças dete-rioram alguns paradigmas forma-dos ao longo dos tempos, crian-do condições propícias para umnovo desencaixe da sociedade.

Os relacionamentos são modi-ficados e não é mais necessário sedeslocar para um estabelecimen-to comercial para realizar umacompra de um bem. Agora sepodem comprar diversos produ-tos em qualquer lugar do planetapela Internet. A competitividademercadológica faz com que as pes-soas pensem cada vez mais em suaformação para o mercado de tra-balho, visando sempre a um car-go e a um status melhor. O tradi-cional papel moeda deixa de serseguro e prático, e os cartões decrédito começam a ganhar maisespaço nas relações comerciais.Nota-se que novamente está ocor-rendo um desencaixe no espaço-tempo social.

Relações sociais, comerciais, pro-cessos produtivos e também siste-mas políticos são repensados, visan-do à formação de um novo para-digma. Chama a atenção o caso dosistema político democrático que,em especial, se mantém pouco al-terado para acompanhar as modi-ficações da sociedade.

Em termos mundiais, perce-bem-se indicações claras sobre adireção que os sistemas democrá-

ticos estão seguindo. Dowbor(2003) argumenta que, em demo-cracias mais “avançadas”, os mu-nicípios começam a ganhar mai-or capacidade de gestão de recur-sos, atuando com mais foco. Emdemocracias mais incipientes eimaturas, os municípios têm pou-co acesso aos recursos do país. NoPanamá, por exemplo, as cidadestêm acesso a 4% do bojo de re-cursos públicos. No Brasil, estenúmero chega a 15%, e os proble-mas locais não são solucionadosnem os macroproblemas ambien-tais (DOWBOR, 2003). Uma sériede outros fatores argumentadospor Dowbor (como corrupção,influência e interesses de podereseconômicos privados etc.) conduza uma sensação de descrédito polí-tico por parte da população.

Porém, Dowbor e o próprioGiddens sugerem uma respostaa este quadro por meio de umamaior participação da popula-ção nas decisões públicas. Segun-do Avrizter (2002), ao longodos últimos anos, nota-se o sur-gimento de algumas ferramen-tas eficazes de democracia par-ticipativa (como o orçamentoparticipativo etc.). Muitas vezes,a própria sociedade organizadapelos movimentos reivindicató-rios cobra e fiscaliza os agentespúblicos (o que indica uma pre-disposição de algumas comuni-dades em atuar no atual sistemademocrático e buscar uma par-ticipação maior no contextopúblico). Tais iniciativas criamuma educação política mais só-lida, mudando a situação de des-crédito das instituições e que, aomesmo tempo, abra espaço paraque as demandas da sociedade,excluídas pelo sistema represen-tativo, sejam colocadas na pau-ta do governo.

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Temos à disposição uma sériede ferramentas das TICs que po-dem potencializar a participaçãopopular, e uma delas é a Internet.Bragatto (2007) reforça esta ideia,afirmando que

“o surgimento de uma platafor-ma de comunicação com caracterís-ticas distintas dos meios de comuni-cação tradicionais, a Internet, restau-ra as esperanças no que tange o em-prego dos meios para aperfeiçoar ademocracia e a participação cidadã”.(BRAGATTO, 2007, p. 3)

A partir da relação entre TICs(em especial a Internet), Globaliza-ção e Democracia Participativa,tem-se uma conjunção de fatores,capazes de criar participação ge-nuína, como afirma SZEREME-TA (2005), na medida em que seaprimoram as formas de comu-nicação entre cidadãos e gover-nos, melhora-se a transparênciapública e criam-se domínios com-partilhados de interesse público.

Alguns entusiastas acreditamque a Internet é uma benção quepode revolucionar a relação en-tre sociedade e governo, mudan-do a realidade e solucionando to-dos os problemas. Porém, é ne-cessária certa cautela, pois astecnologias da informação apre-sentam algumas limitações, comoé apresentado a seguir.

Limites das TICs em relaçãoà democracia participativa

Vários autores (Dowbor,Akutsu e Pinho, Bragatto, Levy,Castells, Santos, entre outros)afirmam que é inegável o poten-cial que as Tecnologias da Infor-mação carregam no que tange àdemocracia e aos processos parti-cipativos. Entretanto, também é

inegável que existem diversas am-biguidades sociais que ainda nãoforam respondidas.

Akutsu e Pinho (2002) afir-mam que, ao mesmo tempo emque as TIC representam um enor-me leque de possibilidades, umleque igualmente grande é colo-cado de questionamentos sobremudanças e configurações sociais.

A Internet despontou comouma esperança para a promoçãoda democracia, mas ela ainda nãopassa de uma esperança segundoCastells (2003). Ela poderia for-necer grande interatividade, fa-zendo com que governos fossemcontrolados e fiscalizados pelos ci-dadãos. Mas, segundo o autor, umestudo muito bem documentadorealizado na Inglaterra sobre o usoda Internet por parlamentares mos-tra um rápido crescimento do usodesta ferramenta por parte dosparlamentares e dos eleitores. Aose analisar os sítios e os portais,no entanto, verifica-se um usoapenas informativo e com baixaparticipação popular.

Tanto Castells como Akutsu ePinho concordam que a Internetpode tanto promover a democra-cia como aprofundar a crise de le-gitimidade política. O problemanaturalmente não está na ferra-menta, mas sim no tipo de políti-ca que as sociedades estão geran-do. A tecnologia fornece condiçõespara uma ampla transformaçãosocial, mas é necessária a aberturapor parte dos governos para umamaior transparência e participaçãosocial. Isso não depende só de tec-nologia, mas de um processo dia-lógico das forças políticas existen-tes. O que fica claro é que a Inter-net não fará nenhuma mágica eque possui várias limitações prin-cipalmente no que tange ao alcan-ce de toda a população (a exclusão

digital é um agravante neste caso).Mas, mesmo assim, ela pode con-tribuir muito para complementare fortalecer o processo democráti-co participativo.

DETALHAMENTO DAPESQUISA E PROPOSTAMETODOLÓGICA

Ainda que não haja uma gran-de originalidade em debates so-bre a participação cidadã e asTICs, especialmente a Internet,nos processos democráticos, per-cebe-se que, no atual estágio dedesenvolvimento das tecnologi-as da informação, existe um gran-de potencial a ser explorado prin-cipalmente pelos municípios depequeno ou médio porte, pois oproblema central nestas localida-des, que era o isolamento, estámudando rapidamente segundoDowbor (2002 apud SPINK et alii,2002). Segundo o autor, “hoje es-tamos todos nos integrando na in-ternet, e abrem-se novas perspec-tivas [...] de uma visão de simplesarticulação de políticas setoriais,estamos evoluindo, no caso dosmunicípios, para a compreensãode que uma cidade, ainda que pe-quena ou média, pode ser vista demaneira ampla como unidadebásica de acumulação social”.(2002, p.47)

Entretanto, é destacado pordiversos autores (Bragatto,Dowbor, Spink) que este po-tencial é subutilizado. Quan-to mais a economia se globali-za, mais a sociedade tem neces-sidade e, ao mesmo tempo, es-paços para criar âncoras locaisde debates, diálogos e demo-cracia, baseadas nas perspecti-vas abertas pelas novas tecno-logias. Isso é, de certa forma,interessante, pois, ao mesmo

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tempo em que se vive a globa-lização integrando diversossegmentos sociais em escalamundial, as perspectivas deação local são positivamenteinfluenciadas, segundo Dow-bor (2002), por este fenômeno.

Tais perspectivas são amplase podem ser encaradas por vári-os enfoques. Por isso, faz-se ne-cessário estabelecer uma ênfasenesta pesquisa, ou seja, foco na so-ciedade ou foco no Estado. Go-mes (2007) afirma que o foco noEstado, também chamado peloautor de “vertente institucional”,possui três endereços: a) o estu-do sobre a conformação digitaldas instituições da democracia emsentido estrito (cidades e gover-nos digitais, parlamentos on-line) oulato (partidos políticos on-line); b)o estudo sobre iniciativas insti-tucionais no vetor Estado-cida-dão ou G2C (como a prestaçãode serviços públicos on-line e go-verno eletrônico); c) o estudosobre iniciativas institucionaisno vetor cidadãos-Estado ouC2G (oportunidades de partici-pação ou oferta de inputs porparte da cidadania na forma devotos, respostas a sondagens,decisões ou sugestões orçamen-tárias, registro e discussão deopiniões em fóruns eletrônicos

etc.). O foco da presente pesqui-sa é na vertente institucional, ouseja, a relação entre Estado e Ci-dadão no que tange à participa-ção por meio das TICs, mais es-pecificamente a Internet. O re-corte empregado é no PoderExecutivo municipal das cidadesque compõem a chamada regiãodas Agulhas Negras, no Sul doEstado do Rio de Janeiro (Re-sende, Itatiaia e Porto Real). A In-ternet propicia grande interativi-dade entre as instituições e as pes-soas. Logo, observar-se-á até queponto tal interatividade pode sertransformada em participação ci-dadã pelos governos municipais.Porque há um risco, como lem-bra Bragatto, de que

“mesmo os governos tendoà disposição uma série de ferra-mentas que possibilitam uma re-lação distinta do cidadão com oEstado que a possível nos meiosde comunicação de massa, taisartifícios nem sempre são ado-tados de modo a garantir umamaior soberania da sociedadecivil. Deste modo, percebemosque muitos sítios na rede sãoutilizados como os tradicionaisveículos de comunicação, pro-movendo apenas informaçãounidirecional sem se preocupar

em acolher as contribuições quecidadãos possam e queiram ofe-recer”. (2007, p.3)

Segundo Gomes (2007), a in-teratividade que propicia a par-ticipação cidadão pode ser clas-sificada em cinco graus de de-mocracia digital, conforme ex-posto na tabela 1. Após a análisecomparativa, buscar-se-á enqua-drar as Prefeituras dentro destaclassificação.

A metodologia empregadanesta pesquisa é baseada no tra-balho de Bragatto (2007) ondeforam analisados os portais dosgovernos federais dos quatromaiores países da América do Sul(Brasil, Argentina, Colômbia ePeru).

Bragatto parte de um recor-te sobre os portais de governos(Poder Executivo) para sua aná-lise. Segundo a autora, tal abor-dagem é representativa, pois oPoder Executivo é detentor deum significativo poder de deci-são política. Além disso, embo-ra o uso das TICs possa ocorrerde diferentes formas, a Interneté o principal meio utilizado pe-los governos, e os portais – cri-ados, sustentados e administra-dos unilateralmente pelo PoderPúblico – são o “formato mais

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difundido de projetos de demo-cracia no que concerne uma in-terface política entre Estado ecidadão”. (2007, p-4)

Aqui cabe a primeira adapta-ção à proposta metodológica deBragatto. Por mais que os gover-nos federais possuam grande for-ça política e decisória, a visãoempregada nessa pesquisa privile-gia o espaço local como locus deanálise. Tal posição foi justificadanos tópicos anteriores onde desta-camos as potencialidades de umviés local, mais especificamentemunicipal.

Como se propõe uma análiseda relação entre Estado e Socie-dade, é importante destacar quala visão e/ou o modelo de Estadoque será empregada neste traba-lho. Bragatto utiliza uma ênfase emtrês visões de Estado. A primeira,baseada em Held (1987), seria ummodelo liberal de Estado comduas correntes. Uma corrente éa democracia desenvolvimentis-ta que defende a participação po-pular para criação de um corpode cidadãos informados e com-prometidos com o desenvolvi-

mento. Outra corrente é o eli-tismo que “tem como condiçãoum eleitorado mal informadoou emocional, cabendo a umaelite política hábil as tomadas dedecisões necessárias para a con-dução do Estado democrático”(2007, p.8). De acordo com Bra-gatto, a participação sob esteolhar deve ocorrer por meio dositens enumerados na coluna“Modelo Liberal” da tabela 2.

A segunda visão de Estado ébaseada em um foco participativodefendido por Paterman (1992),que diz que o Estado deve ser de-mocratizado e aberto às vontadescivis. “A participação promove edesenvolve qualidades que lhe sãonecessárias; quanto mais os indivídu-os participam, mais bem capacita-dos eles se tornam para fazê-lo” (PA-TEMAN, 1992, p. 61). Desta for-ma, a participação teria um efeitocumulativo, integrativo, gerariacoesão social e auxiliaria a aceita-ção das decisões coletivas. A parti-cipação neste modelo ocorre pormeio dos itens enumerados na co-luna “Modelo Participativo” databela 2.

A terceira e última visão é ade um Estado deliberativo. Se-gundo a autora, “os teóricosdeste modelo dividem um en-tendimento comum que o sis-tema democrático não deveriaser definido pela simples agre-gação de interesses particularese que a democracia é justifica-da somente na medida em quetorna possível o uso público darazão” (2007, p.9). A democra-cia é vista neste modelo comoum processo de aprendizagembaseado na lógica racional,onde os participantes trocamargumentos e contra-argumen-tos para tomarem conhecimen-to da visão do outro. A parti-cipação neste modelo acontecepor meio dos itens enumeradosna coluna “Modelo Deliberacio-nista” da tabela 2.

A partir dessas considerações,a autora defende uma visão cumu-lativa e inter-relacionada dos trêsmodelos apresentados e, baseadanestas premissas, propõe um qua-dro com as exigências de cadamodelo sobre a democracia ele-trônica.

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Fica evidente que, com oatual aparato tecnológico, ositens elencados na tabela 2 sãofactíveis e passíveis de se trans-formarem em ferramentas con-cretas de participação. A expo-sição de informações e o acom-panhamento de informaçõespúblicas, o debate de proposi-ções do executivo, a cobrançae a monitoração de ações dasPrefeituras etc. A autora pro-põem uma avaliação das ferra-mentas de interação com os ci-dadãos por meio da Internet.Neste sentido, conforme deba-tido nos tópicos anteriores, fo-ram escolhidos os Portais Mu-nicipais de Resende, PortoReal e Itatiaia, na região Sul doEstado do Rio de Janeiro (tam-bém chamada de região dasAgulhas Negras) como objetosde análise. Foi efetuado umacompanhamento dos sítiosmunicipais no período de ja-neiro a março de 2008 onde seobservou a existência de umconjunto predeterminado deitens e sua funcionalidade.Foram atribuídos os seguintespontos para cada situação: 2pontos – item existente de for-ma completa ou satisfatória; 1ponto – item incompleto ouinsatisfatório; e nenhum pon-to – item de difícil localizaçãoou inexistente.

Os itens observados foramagrupados em cinco categorias:Navegação (onde foram avalia-dos os itens: Mecanismos de buscano portal; Mecanismos de Ajudano Portal; Mapa do sítio; Link devolta para página anterior visível;Dicas de acessibilidade e navega-ção; Impressão amigável; Enviode informações por e-mail), Infor-mações Governamentais (com ositens: Informações econômicas,

turísticas, geográficas, étnicas,históricas, culturais; Programasgovernamentais; Notícias sobrefatos decididos; Notícias deações governamentais que aindaserão tomadas; Programas deinclusão digital), Serviços (Pres-tação de informações mediantecadastro; Atendimento On-line;

Emissão de documentos ofici-ais), Controle Público (Presta-ções de informações financeiras;Pré-legislação com possibilida-de de debate prévio) e Partici-pação (Informações acerca deespaços de debate existentes;Sondagem de opinião pública;Sistema de votação eletrônicapara sondagem de opinião;Constituição de agenda decisó-ria). Foi aplicada uma planilhacom os itens acima mencionadosnos portais das Prefeituras e foiatribuída uma pontuação paracada item. Ao final da pontua-ção de cada uma das cinco cate-gorias, foi feita uma média sim-ples para posterior comparaçãodos resultados entre os três mu-nicípios.

Resultados obtidos

Os itens que foram analisa-dos na primeira categoria são osde navegação. Entende-se que éfundamental criar uma interfa-ce que possibilite uma navega-ção tranquila e a permanênciado usuário no sítio. Os resulta-dos obtidos mostram que osgovernos municipais têm poucapreocupação com a navegabili-dade e o conforto do usuárioque acessa os sítios.

Resende apresentou o me-lhor desempenho neste aspecto.No sítio da cidade, foram en-contrados elementos link de vol-ta, mecanismos de busca, im-

pressão amigável e envio de in-formações por e-mail em boascondições de uso e disponibili-dade. Porém, outros itens,como mapa do sítio e mecanis-mos de ajuda, estão ausentes, nãosó em Resende, mas também nosdemais municípios. O sítio dePorto Real possui, por exemplo,uma indicação de mapa do sítio,porém está desabilitado. Dentretodos os portais analisados, o doMunicípio de Itatiaia é o queapresenta o pior índice no que-sito navegabilidade.

A categoria de análise seguin-te foi de informações municipais.Este grupo é de extrema impor-tância, pois para a prática da De-mocracia Participativa é funda-mental o fornecimento de infor-mações claras e precisas. Bragattonos lembra que é importante

“o acesso aos representantese instituições governamentais,informações sobre programassociais e sobre legislação, pre-sença de notícias sobre fatosdecididos e também a decidir einformações sobre inclusão di-gital e infraestrutura tecnoló-gica para atendimento da popu-lação. Tal campo é de suma re-levância para todos os modelosde democracia, já que a infor-mação governamental e sua pu-blicidade são compreendidascomo forma de se proteger domau governo pelos liberais, sãoimportantes para que a popu-lação possa intervir nas decisõespolíticas para os participacio-nistas e fundamentais para ga-rantir uma deliberação adequa-da ao sistema democrático”.(BRAGATTO, 2007, p.14)

Todos os sítios oferecem umconjunto satisfatório de infor-

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mações sobre economia, turis-mo, geografia, etnias, históriae cultura. É vasta também a pre-sença de notícias e informaçõessobre fatos decididos. O pon-to negativo fica pela ausência deinformações sobre programasgovernamentais e pela fraca ex-pressão no quesito Programasde Inclusão Digital. A questãoda inclusão digital, inclusive, épreocupante, pois, como afir-ma Bragatto, a falta de mençãoao tema, “e nem à infraestrutu-ra para isso, se torna um pro-blema se tivermos em menteque a universalização do acessoé fundamental para a efetiva par-ticipação política dos cidadãospor meio das TICs”. (BRA-GATTO, 2007, p.15)

O portal da Prefeitura de Ita-tiaia se mostra insatisfatórioquanto à apresentação e à divul-gação de programas de inclusãodigital. Enquanto as demais Pre-

feituras divulgam algumas inici-ativas neste sentido, Itatiaia nãofaz nenhuma menção ao tema.Tal medida é carregada de con-tradições, pois, ao iniciar umprocesso de comunicação via In-ternet, é fundamental que a po-pulação (principal público inte-ressado) tenha condições de aces-sar as informações e interagircom o governo.

Na categoria de serviços,buscou-se observar as possibi-lidades de emissão de docu-mentos e a prestação de servi-ços se valendo da Internet. Talgrupo é relevante no sentidode criar um canal para agilizaralguns processos burocráticose contemplar (juntamente como grupo navegabilidade) o pri-meiro nível da classificação dedemocracia digital, propostapor Gomes (2007). O resulta-do foi insatisfatório para oMunicípio de Itatiaia que teve

baixo desempenho em todos ositens da avaliação.

Com relação ao controle pú-blico, os municípios de PortoReal e Resende apresentam umsatisfatório conjunto de infor-mações sobre prestação de con-tas e finanças públicas. Itatiaia nãoexibe nenhuma informação so-bre a prestação de contas e teveo pior rendimento neste quesitoavaliado. A prestação de infor-mações públicas, porém nãoapresenta nenhuma ferramentaou manual que auxilie a compre-ensão das planilhas por toda apopulação. Tudo isso, sem dúvi-da, prejudica a transparência ne-cessária para a plena Democra-cia Participativa.

A participação da populaçãopor meio da Internet se mostrainsatisfatória. Dos quatro itensque compõem este quesito, ne-nhum é plenamente cumpridopor todos os municípios da re-

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gião. Apenas o Município deResende apresenta algum es-paço participativo em seu sí-tio. Tal espaço é caracteriza-

do por uma ação temporal,pois se refere ao Plano Dire-tor do Município. A partici-pação é resumida em uma vei-

culação das atas das reuniões(que não estão atualizadas) eum blog (também desatualiza-do) sobre as plenárias do Pla-

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no Diretor. Existe ainda umcalendário informando ondeocorrem os debates sobre estetema. Esta é a única iniciativapercebida entre os municípi-os pesqui sados sobre e s teitem. Resende dispõe de um sis-tema de enquetes sobre temasespecíficos, porém, também éalgo extremamente limitado,tratando de temas como o clu-be de futebol local, entre ou-tros. Porto Real possui um sis-tema de sondagem de opiniãomais sofisticado, com pontua-ção e percentuais das respostas.Nenhum dos municípios apre-senta a possibilidade de uso deuma agenda decisória entre osmunícipes, demonstrando bai-xa propensão participativa dedebates com a comunidade.

O detalhamento dos resul-tados é dado pela tabela 3.Após tabulação, foi efetuadauma conversão dos númerosobtidos para o formato gráfi-co por meio da conversão dasmédias obtidas em cada cate-goria em percentuais. Este for-mato possibilitou a compara-ção com os resultados obtidosem nível municipal com os re-sultados obtidos por Bragattoem nível federal.

Os resultados obtidos porBragatto são apresentados na ilus-tração 1.

Já os resultados deste traba-lho, organizados graficamente ecom médias percentuais, é dadopela ilustração 2.

Nos governos municipais daregião das Agulhas Negras, perce-be-se uma tendência similar, aexemplo dos federais pesquisadospor Bragatto, de apropriação daInternet somente para divulgaçãode informações, dados institucio-nais e prestação de serviços. Tais

resultados vão ao encontro de pes-quisas realizadas sobre esta temá-tica desenvolvida por Akutsu ePinho (2002).

CONCLUSÃO

Não se podendo pensar em umsistema totalmente participativocomo o que fora praticado na an-tiga Grécia (a Democracia Direta),pode-se, pelo menos, vislumbrarum sistema híbrido, mesclando aDemocracia Representativa com aDemocracia Participativa.

Para se chegar a este estágio,o uso das TICs, para criar umprocesso dialógico que visa darvoz a todos os participantes dacena social, surge como uma al-ternativa interessante que podedar força e sustentabilidade àprática da Democracia Partici-pativa, mudando o cenário dedesgaste político e descréditonas instituições que tem paira-do sobre a sociedade brasileira.

Entretanto, esta potencialtransformação que surgiria darelação entre democracia par-ticipativa e Internet ainda estálonge de ser uma realidade.No estudo desenvolvido porBragatto em nível Sul-Ameri-cano, o gráfico final com asmédias dos diversos quesitosconsolidados apresentava umacurva decrescente que ia desdeo item de Informações Gover-namentais até o quesito parti-cipação. Justamente os itensServiços, Controle Público eParticipação que buscam me-dir o nível da democracia par-ticipativa digital são os maisnegligenciados pelos governosfederais estudados por Bragat-to e da mesma forma pelas Pre-feituras da região das AgulhasNegras. Neste sentido, os mu-

nicípios pesquisados estariamno primeiro nível de democra-cia digital criado por Gomes,pois apenas fornecem informa-ções e acesso a alguns serviçospúblicos.

Por meio desta pesquisa,constatou-se que não há, até omomento, um grande esforçodos gestores públicos dos mu-nicípios pesquisados (Resende,Itatiaia e Porto Real) em utili-zar a Internet de forma que sepropicie a participação cidadã,o que responde à pergunta departida deste artigo.

Porém, o presente trabalholevanta mais dúvidas do que sus-cita outras questões, pois, na me-dida em que se aprofundaram aanálise e o acesso à visão de dife-rentes autores, notaram-se diver-sos antagonismos. Seria a Inter-net, enquanto ferramenta, capazde transformar a cena social? Ouseriam os movimentos sociais in-cumbidos de tal transformação?Ou ainda depender-se-ia única eexclusivamente da boa vontadedos governos para proporcionarmais participação por meio dasTICs? Tais indagações podemconstituir interessantes basespara futuras pesquisas nesta te-mática.

Entre tantas questões, fica cla-ro, por meio da comprovação des-ta pesquisa, que muito ainda deveser feito para a construção de es-paços democrático-participativospor meio da Internet nos municí-pios da região das Agulhas Negras.Ainda que haja uma grande trans-formação social por meio das TICse da globalização, a utilização daInternet pelas atuais Administra-ções Municipais ainda é incipien-te e pouco contribui para o forta-lecimento da cidadania e do desen-volvimento democrático.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Os termos portal e sítio foram utilizados como sinônimos neste trabalho (embora haja uma distinção conceitual entre os mesmos).2 Conforme HTTP://pnud.org.br acesso em dezembro de 2007.

NOTASA

BST

RA

CT

RES

UM

EN

Public Administration, participatory democracy and the Internet: an analysis of thewebsites of municipalities in the region of Agulhas Negras/RJ

This article analyzes the websites of public management of the cities: Resende, Itatiaia and Real Porto, in the region of theAgulhas Negras in the South of the State of Rio de Janeiro, based on criteria: navigability, governmental information,services, public control and participation. The results were compared with studies involved the national government ofsame countries and had a great similarity with municipalities and national level. This research showed that exist a greatpotential to explorer about the relationship between government and citizens based in participative democracy electronic.

Keywords: Public management. Participative democracy. Internet. Websites of cities.

Administración Pública, democracia participativa y Internet:an análisis de portales de los municipios en la región de las Agulhas Negras/RJ

Este artículo analiza portales de las prefecturas de Resende, de Itatiaia y de Porto Real, en la región de las AgulhasNegras en el sur del Estado de Río de Janeiro, según los criterios: mantenimiento de la aeronavegabilidad, elGobierno de Servicios de Información, Control y Participación Pública. Los resultados se compararon con losestudios sobre la esfera gubernamental de varios países, presentando una gran similitud entre los niveles municipaly nacional. El estudio reveló que todavía hay un gran potencial por explorar en lo que respecta a la adopción deprácticas de democracia participativa electrónica.

Palabras clave: Administración pública. Democracia participativa. Internet. Portales municipales.

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Ano 55 - Nº 273Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 47

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Congresso promulga emenda dosprecatórios

O Congresso promulgou em 9 dedezembro a Emenda Constitucionaln.º 62, que altera as regras para pa-gamento de precatórios, como sãochamadas as dívidas judiciais daUnião, dos estados, do Distrito Fede-ral e dos municípios. O texto promul-gado obriga os municípios a destina-rem entre 1% e 1,5% de suas recei-tas correntes líquidas para o paga-mento dos precatórios. A emendaestabelece ainda que os valores dasdívidas sofrerão atualização monetá-ria de acordo com as regras da cader-neta de poupança.

Conforme a emenda, 50% dos re-cursos dos precatórios serão usadospara pagamento por ordem cronoló-gica e à vista. A outra metade da dívi-da deverá ser quitada por meio de lei-lões, onde o credor que conceder omaior desconto sobre o total da dívi-da a receber terá seu crédito quitadoprimeiro. Também estão previstos pa-gamentos por ordem crescente de dé-bito ou por conciliação entre as par-tes.

Jurisprudência de interessedos municípios

Município deve pagar Ecad porsonorização do carnaval de rua

O Superior Tribunal de Justiça – STJdeterminou que o Município de San-to Ângelo (RS) pague determinadaimportância ao Escritório Central deArrecadação e Distribuição – Ecad pelautilização de obras artístico-musicaiscomo sonorização ambiental quandoda promoção de carnaval de rua.

No caso, o Ecad propôs ação decobrança de direitos autorais contrao Município em decorrência desonorização ambiental para o desfiledo carnaval de rua, ocorrido em 12de fevereiro de 1999.

Em primeiro grau, o pedido foijulgado improcedente. Na apelação,o Tribunal de Justiça do Rio Grandedo Sul confirmou a sentença, enten-dendo que a exigência de que o Mu-nicípio recolha valores referentes aosdireitos autorais, em promoções po-

pulares sem fins lucrativos, dificultariaa realização das mesmas, bem como oacesso da população.

No STJ, o Ecad sustentou que oMunicípio ao utilizar-se de obras mu-sicais está obrigado ao recolhimentoda retribuição autoral, objetivando emrazão desse fato a condenação ao pa-gamento dos direitos autorais.

Ministério da Integração Nacionallança prêmio

O Ministério da Integração Nacio-nal lançou o Prêmio Nacional de De-senvolvimento Regional. Em sua pri-meira edição, o Prêmio homenageia oeconomista Celso Furtado, pela suacontribuição ao estudo dos problemasde desenvolvimento econômico e re-gional no Brasil e em comemoraçãoaos 50 anos do lançamento do clássi-co Formação Econômica do Brasil.

O Prêmio se divide em três catego-rias, destinadas, respectivamente, ateses e dissertações acadêmicas, rela-tos de experiências em andamento epropostas inovadoras de atuação noterritório de natureza social, econômi-ca, cultural ou ambiental.

Em cada categoria, os escolhidosreceberão diploma de reconhecimen-to de mérito e a importância de R$46.500,00 (para o 1º lugar) e R$23.250,00 (para o 2º lugar).

Mais informações podem ser obtidas nosítio do Ministério da Integração Nacional:h t t p : / / w w w . m i . g o v . b r /desenvolvimentoregional/premio/index.asp

Prêmio CAIXA Melhores Práticas emGestão Local 2009

Em 9 de dezembro de 2009, ocor-reu, em Brasília, a cerimônia de entregados prêmios a 20 práticas de gestãolocal que concorreram à Sexta Ediçãodo PCMP, que é apoiado pelo IBAM.

Entre as premiadas, dez referem-seà Gestão Municipal, quatro à Habita-ção e seis ao Desenvolvimento Social eInclusão Social. Todas essas práticasserão inscritas pela CAIXA no PrêmioDubai 2010, após revisão e traduçãopara o inglês a ser feita pelo Centro deReferência Melhores Práticas da Esco-la Nacional de Serviços Urbanos –Ensur do IBAM. Mais informações so-

bre o Prêmio CAIXA 2009 podem serobtidas em www.caixa.gov.br. Sobreo Prêmio Dubai 2010, consulte a pá-gina do IBAM: www.ibam.org.br.

Convênios com a SPM

A Secretaria Especial de Políticaspara as Mulheres – SPM da Presidên-cia da República firmou em dezembrodois convênios com o IBAM, ambostendo por objeto a continuidade dedesenvolvimento do projeto Trabalhoe Empreendedorismo na Perspectivade Gênero, agora com foco na RegiãoNorte e em Pernambuco, conformeprevisto nos referidos acordos.

Trata-se de ampliação de projetoque vem sendo executado pelo IBAMhá três anos, com início restrito aoEstado do Rio de Janeiro, tendo de-pois sido estendido a outros estados.

Seleção pública de experiênciasmunicipais em gestão ambientalurbana

O Ministério do Meio Ambiente –MMA, por meio da Secretaria de Re-cursos Hídricos e Ambiente Urbano –SRHU, com o apoio do Ministério dasCidades, está desenvolvendo a AçãoPPA 8320 – Apoio à Gestão Ambientalem Áreas de VulnerabilidadeAmbiental, cujo objetivo é promoverapoio efetivo aos municípios para oaperfeiçoamento da gestão ambientalurbana. Serão selecionados casos emque os Municípios encontraram solu-ções ou meios de aplicar as normasambientais, em consonância com a le-gislação urbanística local, em ações deplanejamento e gestão para o desen-volvimento urbano sustentável e paraa melhoria da qualidade de vida na ci-dade.

Os municípios interessados emenviar suas experiências deverão pre-encher o roteiro para inscrição, o qualse encontra disponível em links indi-cados nos sites do Ministério do MeioAmbiente (www.mma.gov.br/srhu) edo Ministério das Cidades(www.cidades.gov.br). A divulgaçãooficial dos selecionados ocorrerá pormeio eletrônico, nos mesmos sites, ea premiação será em Brasília, em datae local a serem definidos.

Marcos Flavio R. GonçalvesAdvogado e Assessor da Superintendência do IBAM

• NOTÍCIAS MUNICIPAIS •

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

I. Hodiernamente, tem-se dis-cutido a respeito do IPTU Ambi-ental. Verificar-se-á a respeito da te-mática, bem como sua aplicaçãono ordenamento jurídico pátrio.

II. Passemos à análise do tema.

II.1 DA DEFINIÇÃO DETRIBUTO

Primeiramente, importa definiro que é tributo1. Conforme o arti-

go 3º do Código Tributário Naci-onal, “tributo é toda prestação pe-cuniária compulsória, em moeda oucujo valor nela se possa exprimir,que não constitua sanção de ato ilí-cito, instituída em lei e cobrada me-diante atividade administrativa ple-namente vinculada”. Segundo ovoto do Ministro Carlos Velloso,

“os tributos, nas suas diversasespécies, compõem o SistemaConstitucional Tributário brasileiro,

que a Constituição inscreve nos seusartigos 145 a 162. Tributo, sabemostodos, encontra definição no arti-go 3º do CTN, definição que seresume, em termos jurídicos, noconstituir ele uma obrigação que alei impõe às pessoas, de entrega deuma certa importância em dinhei-ro ao Estado. As obrigações sãovoluntárias ou legais. As primeirasdecorrem da vontade das partes,assim, do contrato; as legais resul-tam da lei, por isso são denomina-

IPTUAmbiental

O presente artigo analisa a questão do IPTU Ambiental. Durante o transcorrer do texto, percebemos quealgumas considerações são enfatizadas, como o conceito de tributo, o conceito de fator gerador, a questão da propriedadee o seu conceito, as formas de aquisição da propriedade imobiliária, a função socioambiental, além de esmiuçar as característicasdo IPTU Ambiental.

Palavras-chave: IPTU Ambiental. Tributo. Função socioambiental. Meio ambiente.RES

UM

OIPTU

Daniel Barbosa Lima FariaCorrêa de SouzaProcurador do Município de São LeopoldoEspecialista em Direito Tributário e Direito Constitucional

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das obrigações ex lege e podem serencontradas tanto no direito públi-co quanto no direito privado. Aobrigação tributária, obrigação exlege, a mais importante do direitopúblico, ‘nasce de um fato qual-quer da vida concreta, que anteshavia sido qualificado pela lei comoapto a determinar o seu nascimen-to.’ (Geraldo Ataliba, ‘Hermenêuti-ca e Sistema Constitucional Tribu-tário’, in ‘Diritto e pratica tributa-ria’, volume L, Padova, Cedam,1979).” (ADI 447, Rel. Min. Octá-vio Gallotti, voto do Min. CarlosVelloso, julgamento em 5-6-91, DJde 5-3-93)

O Município tem a obrigação,nos termos do art. 11 da Lei Com-plementar n.° 101/2000, de insti-tuir, cobrar e efetivamente arre-cadar todos os tributos de suacompetência, dentre os quais, oIPTU, sob pena de renúncia dereceita.

Trata-se de dever fundamen-tal o pagamento de tributos2, por-quanto se constitui em forma decontribuir com o gasto público.

II.2 CONCEITO DE FATOGERADOR

Fato gerador pode ser classi-ficado em fato gerador em abs-trato e fato gerador em concre-to3. A expressão fato gerador éequívoca porque pode significarqualquer uma das espécies men-cionadas, embora a maioria dadoutrina a utilize no segundosentido.

Fato gerador em abstrato étambém denominado de hipó-tese de incidência. Conformeaponta Machado4, é a descriçãoque se encontra inserida no tex-to da lei, a qual é suficiente enecessária para o surgimento da

obrigação tributária5. Por seu tur-no, o fato gerador em concreto,também denominado de fatoimponível, é a ocorrência, nomundo dos fatos, do fato gera-dor em abstrato.

A Constituição da Repúbli-ca, ao definir as competênciastributárias de cada ente políti-co, está indicando e descreven-do os fatos genéricos passíveisde tributação, os quais reve-lam, invariavelmente, fatos sig-nos de riqueza. Fato geradorem abstrato, destarte, é a des-crição na lei de um fato depossível ocorrência, o qual,uma vez ocorrido, ensejará aobrigação tributária, o deverquanto ao pagamento do tri-buto6.

Conforme preceitua o já men-cionado art. 114 do Código Tri-butário Nacional, “o fato gera-dor da obrigação principal é a si-tuação definida em lei como ne-cessária e suficiente à sua ocor-rência”.

Segundo ensina o mestre RuyBarbosa Nogueira, “fato geradordo tributo é o conjunto dos pres-supostos abstratos descritos nanorma de direito material, de cujaconcreta realização decorrem osefeitos jurídicos previstos”.

Ocorrido o fato gerador, de-verá ocorrer o lançamento. Emsíntese7, podemos afirmar que lan-çamento é um procedimento ad-ministrativo, o qual tem por desi-derato observar a ocorrência dofato gerador da obrigação tribu-tária, determinar a matéria tribu-tável, calcular o quantum de tribu-to devido, apontar o sujeito passi-vo e, eventualmente, cominar apenalidade aplicável. Assim, o lan-çamento constitui o crédito tribu-tário. Impende, de outra banda,gizar o conceito de lançamento

tecido por Hugo de Brito Macha-do8:

“Lançamento tributário, por-tanto, é o procedimento adminis-trativo tendente a verificar a ocor-rência do fato gerador da obriga-ção correspondente, identificar oseu sujeito passivo, determinar amatéria tributável e calcular oupor outra forma definir o mon-tante do crédito tributário, apli-cando, se for o caso, a penalidadeaplicável. Esta é a definição de lan-çamento, contida no art. 142 doCódigo Tributário Nacional,com alterações decorrentes da in-terpretação sistemática da referi-da norma, como acima demons-trado”.

II.3 DA PREVISÃOCONSTITUCIONAL

Estabelece a Constituição Fe-deral, em seu artigo 156:

“Art. 156. Compete aos Mu-nicípios instituir impostos sobre:

I - propriedade predial e terri-torial urbana;”

Paulsen9 anota ser a baseeconômica propriedade predi-al e territorial urbana como osuporte econômico à tributa-ção do IPTU. Ainda, destaca-se que o sujeito ativo para ainstituição do IPTU é o Mu-nicípio da localização do bemimóvel.

II.4 DO FATO GERADOR EMABSTRATO DO IPTU

O Código Tributário Na-cional explicita os elementosdo fato gerador em abstratodo tributo em exame. Con-

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forme preceitua o artigo 32do Código Tribunal Nacio-nal:

“Art. 32. O imposto, decompetência dos Municípios,sobre a propriedade prediale territorial urbana tem comofato gerador a propriedade,o domínio útil ou a posse debem imóvel por natureza oupor acessão física, como de-finido na lei civil, localizadona zona urbana do Municí-pio”.

O Ministro Luiz Fux referiu:

“(...) 1. O IPTU, na sua con-figuração constitucional, incidesobre a propriedade predial eterritorial urbana, cujo concei-to pressuposto pela Carta Mag-na envolve a faculdade de usar,de gozar e de dispor, sendo apropriedade a revelação de ri-queza capaz de ensejar a sujei-ção do seu titular a esse impos-to de competência munici-pal.(...)”

(REsp 772.443/SP, Rel. Mi-nistro LUIZ FUX, PRIMEIRATURMA, julgado em21.08.2007, DJ 20.09.2007 p. 226)

Dessarte, com supedâneono Código Tribunal Nacio-nal, o fato gerador do Impos-to Predial e Territorial Urba-no é a propriedade, o domí-nio útil ou a posse a qualquertítulo de prédio ou terrenourbano, conforme veremos aseguir10.

A localização do imóvel,em terreno urbano ou rural,dá ensejo à tributação peloimposto em apreço ou peloImposto Territorial Rural.Tal discussão é ampla, comple-

xa e foge dos objetivos desteestudo.

II.5 DO CONTRIBUINTEDO IPTU

De acordo com o artigo 34 doCódigo Tribunal Nacional:

“Art. 34. Contribuinte do im-posto é o proprietário do imóvel,o titular do seu domínio útil, ou oseu possuidor a qualquer título”.

É mister referir ter o Esta-tuto das Cidades (Lei Federaln.º 10.257/2001), em seu arti-go 21, apontado o superficiá-rio como contribuinte doIPTU11.

Dessarte, são contribuintesdo IPTU o proprietário, o su-perficiário, o titular do domínio

útil ou seu possuidor a qualquertítulo.

A tributação do possuidora qualquer título vem suscitan-do inúmeros posicionamentosno sentido de sua inconstituci-onalidade. Prevalece a tese desua constitucionalidade parcial.Portanto, a tributação do pos-suidor somente será constituci-onal quando este possuir “ani-

mus domini” ou “posse ad usucapio-

nem”12.O Superior Tribunal de Justi-

ça tem entendido ser válida a tri-butação do titular do domínioútil, embora haja vozes em senti-do contrário13.

II.6 DA PROPRIEDADE

No azo, é mister definir oque é propriedade e como se dá

Ao instituir o IPTU, aConstituição Federal autoriza os

municípios, em algumashipóteses, a ter alíquotas

diferentes de acordo com alocalização e o uso do imóvel1.

No caso, a preservaçãoambiental poderá dar azo àdiferenciação da alíquota de

IPTU, com lastro no artigo 156,§1º, inciso II, da CF

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sua transferência para efeitos le-gais.

II.6.1 Conceito de Propriedade:

Propriedade é, segundo MariaHelena Diniz14, “o direito que apessoa física ou jurídica tem, den-tro dos limites normativos, deusar, gozar e dispor de uma coisacorpórea ou incorpórea, bem

como de reivindicar de quem in-justamente a detenha”. Conformeo artigo 1.228 do Código Civil:

“Art. 1.228. O proprietáriotem a faculdade de usar, gozar edispor da coisa, e o direito de re-avê-la do poder de quem quer queinjustamente a possua ou dete-nha”.

O direito de propriedade éo mais amplo dos direitos re-ais, é perpétuo e exclusivo15.Ademais, pelo direito de pro-priedade, a “coisa fica subme-tida à vontade monopolística

de uma pessoa, apenas limita-da pela lei, pelas suas funçõessociais ou por atos de vonta-de”.16

II.6.2 Das Formas de Aquisi-ção da Propriedade Imobiliária:

De acordo com o Direito Ci-vil, existem quatro formas deaquisição da propriedade imo-

biliária: por meio do Registro,da Usucapião, da Acessão e daSucessão Hereditária (Parte Es-pecial, Livro III, Título III, Ca-pítulo II: Da aquisição da pro-priedade imóvel). Afora estasquatro hipóteses, não há trans-ferência legal da propriedadeimobiliária.

Outrossim, impende destacarque é necessário o competenteregistro no cartório de Registrode Imóveis para a perfectibiliza-ção da transferência de domínio.Nos termos do artigo 1.245 doCódigo Civil, transfere-se entre

vivos a propriedade mediante o

registro do título translativo no

Registro de Imóveis.

II.7 DA FUNÇÃOSOCIOAMBIENTAL DAPROPRIEDADE

II.7.1

É importante referir que aConstituição Federal de 1988 al-berga a função social da proprie-dade, forte no artigo 5º, XXIII,in verbis: a propriedade atenderá asua função social;

II.7.2

De outra banda, é misterapontar ter o Código Civil de2002 trazido a lume expressa-mente, além da função social dapropriedade, a função socioam-biental da propriedade, com su-pedâneo no artigo 1.228:

“Artigo: 1.228. O proprietá-rio tem a faculdade de usar, go-zar e dispor da coisa, e o direitode reavê-la do poder de quemquer que injustamente a possuaou detenha.

§ 1o O direito de proprieda-de deve ser exercido em conso-nância com as suas finalidadeseconômicas e sociais e de modoque sejam preservados, de con-formidade com o estabelecidoem lei especial, a flora, a fauna,as belezas naturais, o equilíbrioecológico e o patrimônio his-tórico e artístico, bem como evi-tada a poluição do ar e daságuas”.

Dessa forma, a lei civil ex-pressamente assevera a necessi-dade de preservação da flora,da fauna, das belezas naturais,do equilíbrio ecológico e a não-

IPTU

Dessa forma, a lei civil expressamente assevera a necessidade de preservação da flora, da fauna, dasbelezas naturais, do equilíbrio ecológico e a não poluição do ar e das águas, denotando a preocupação dolegislador civil com o meio ambiente e o dever de o proprietário preservá-lo

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poluição do ar e das águas, de-notando a preocupação do le-gislador civil com o meio am-biente e o dever de o proprie-tário preservá-lo.

Consoante, assevera MariaHelena Diniz17, a norma em apre-ço constitui limitação ao direitode propriedade e impedimento aoexercício abusivo deste, evitandoprejuízos ao bem-estar social.Ademais, visa à prevalência doindividual sobre o coletivo. Ain-da, aponta a doutrinadora:

“Dever-se-á, então, preser-var, observando-se normas espe-ciais, a flora, a fauna, as belezasnaturais, o equilíbrio ecológico,o patrimônio histórico e artís-tico e evitar quaisquer tipos depoluição. (...) A proibição estáimpregnada de socialidade e li-mitada pelo interesse público.O atendimento ao princípio da

função social da propriedade re-quer não só que seu uso seja efe-tivamente compatível com a des-tinação socioeconômica do bem(...) mas também que sua utili-zação respeite o meio ambien-te, as relações de trabalho, obem-estar social e a utilidade deexploração”.

II.7.3

Ana Maria Faria18 anota que odireito de propriedade deve sercompatível com a preservação domeio ambiente, o qual “foi eleva-do a macrolimite constitucionalinsuperável (artigo 225 da Cons-tituição), no sentido da constru-ção do desenvolvimento ecologi-camente sustentável. O meio am-biente é bem de uso comum dopovo e prevalece sobre qualquerdireito individual de proprieda-de, não podendo ser afastado até

mesmo quando se deparar com asexigências de desenvolvimentoeconômico (...). É oponível e exi-gível por todos”. Ademais, refe-re: “O interesse social deve pre-valecer sobre o interesse social”.19

II.7.4

Destacamos, ainda, estar omeio ambiente protegido consti-tucionalmente, constituindo-seem direito fundamental de todaa humanidade. Reza a Constitui-ção Federal:

“Art. 225. Todos têm direitoao meio ambiente ecologicamen-te equilibrado, bem de uso co-mum do povo e essencial à sadiaqualidade de vida, impondo-se aoPoder Público e à coletividade odever de defendê-lo e preservá-lopara as presentes e futuras gera-ções”.

II.7.5

Ademais, o meio ambiente, apropriedade privada e a funçãosocial da propriedade são princí-pios da ordem econômica, ex vi

artigo 170, incisos II, III e VI, daConstituição Federal20. Dessa for-ma, a ordem econômica deverá seralicerçada nestes princípios, sobpena de inconstitucionalidade.

II.7.6

A propriedade urbana atingesua finalidade social, conformeNathalia Arruda Guimarães21, quan-do houver:

“1) acesso à moradia a todos;2) justa distribuição dos benefí-cios e ônus decorrentes do pro-cesso de urbanização; 3) regula-rização fundiária e urbanização

Porém, para a correta aplicaçãodo dispositivo, é imperioso

verificar se a não construçãoimporta em preservaçãoambiental (e, nesse caso,

aplica-se o IPTU AmbientalPreservacionista) ou se importaem descumprimento da função

socioambiental (e, nessasituação, incide o IPTU Ambiental

progressivo no tempo)

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das áreas ocupadas por popula-ção de baixa renda; 4) recupera-ção para a coletividade da valo-rização imobiliária decorrente daação do Poder Público; 5) ges-tão democrática da cidade; 6)proteção, preservação e recupe-ração do meio ambiente naturale construído”.

II.7.7

Para o presente estudo, impor-ta ainda fazer uma breve referên-cia à distinção entre meio ambien-te natural, meio ambiente artifici-al e meio ambiente do trabalho.

Márcio Fernando Elias Rosaassim distingue meio ambiente na-tural de artificial:

“Meio ambiente natural: é oque existe independentemente daatuação do homem (flora, fauna).

Meio ambiente artificial: é ainteração do homem com o meioambiente natural. Alguns auto-res chamam de meio ambientecultural ou patrimônio cultural(urbanismo, paisagismo, zonea-mento, meio ambiente do traba-lho, patrimônio histórico)”.

Por seu turno, o meio ambi-ente do trabalho é o que decorredas relações trabalhistas.

Dessa forma, o imóvel atingea sua função socioambiental, querhaja proteção do meio ambientenatural, artificial ou do trabalho.

II.8 DO IPTU AMBIENTAL

De “prima facie”, podemos clas-sificar o IPTU Ambiental em trêstipos:

a) IPTU Ambiental Preserva-cionista, em função da preserva-ção ambiental;

b ) IPTU Ambienta l Re-p r e s s i v o , e m f u n ç ã o d oimpacto causado pe lo imó-vel;

c) IPTU Ambiental Progres-sivo no tempo, em função do nãocumprimento da função social dapropriedade.

II.8.1 Considerações Gerais:

II.8.1.1

A propriedade tem de aten-der à função social. Para tanto,a proteção e a preservação doMeio Ambiente são medidas fun-damentais. Com o escopo de efe-tuar a proteção ao meio ambi-ente, pode e deve o Municípioutilizar o IPTU como forma dealcançar tal desiderato, introdu-zindo incentivos fiscais aos mu-nícipes que colaborarem em suapropriedade imobiliária com apreservação da natureza (II.8.2.IPTU Ambiental Preservacio-nista), ou gravames fiscais àque-les que obrarem em sentido di-verso (IPTU Ambiental Repres-sivo ou IPTU Ambiental Pro-gressivo no tempo).

II.8.1.2

O Estatuto das Cidades, em seuartigo 47, determina que os tributossobre imóveis urbanos sejam diferen-ciados em função do interesse soci-al22. Comentando tal dispositivo le-gal, Ana Maria Faria23 ressalta:

“Para que a função social dapropriedade inserida na Consti-tuição Federal possa ser atendidao legislador concedeu aos Muni-cípios a autonomia para legislaracerca dos tributos de sua com-petência, com o dever de utilizartais instrumentos para atender

aos objetivos do Estado”.

II.8.1.3

Ana Maria Faria24 aduz aindaa importância de um adequado pla-nejamento urbano, devendo o tri-buto ser utilizado para tal finali-dade, almejando uma melhor qua-lidade de vida da população, po-dendo este ser utilizado como uminstrumento de política social decidadania25. Dessa forma, poderiao IPTU ser utilizado como impor-tante instrumento de política ur-bana, em sua função extrafiscal26.

II.8.1.4

Conforme o inciso VIII do ar-tigo 30 da Constituição Federal:

“Art. 30. Compete aos Muni-cípios:

(...) VIII – promover, no quecouber, adequado ordenamentoterritorial, mediante planejamentoe controle do uso, do parcelamen-to e da ocupação do solo urbano”;

Assim, é dever do Município rea-lizar o adequado ordenamento terri-torial e o planejamento do uso, doparcelamento e da ocupação do solourbano. E a tributação pelo IPTUpode e deve ser realizada para esse fim.

II.8.1.5

O artigo 182, §2º, da CF esta-belece:

“Art. 182. A política de desen-volvimento urbano, executadapelo Poder Público municipal,conforme diretrizes gerais fixadasem lei, tem por objetivo ordenaro pleno desenvolvimento das fun-ções sociais da cidade e garantir obem-estar de seus habitantes.

IPTU

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§ 1º - O plano diretor, apro-vado pela Câmara Municipal, obri-gatório para cidades com mais devinte mil habitantes, é o instrumentobásico da política de desenvolvimen-to e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbanacumpre sua função social quan-do atende às exigências fundamen-tais de ordenação da cidade ex-pressas no plano diretor”.

Por conseguinte, conforme aConstituição Federal, a proprie-dade somente atenderá à sua fun-ção social quando observar as or-denações do Plano Diretor.

Ana Maria Faria27 leciona:

“A propriedade urbana cumpresua função social quando atende àsexigências fundamentais da ordena-ção da cidade expressa no Plano Di-retor, devidamente aprovado por leimunicipal, assegurando o atendi-mento das necessidades dos cidadãosquanto à utilidade de vida, à justiçasocial e ao desenvolvimento das ativi-

dades econômicas, respeitadas as di-retrizes urbanísticas gerais”.

II.8.1.6

Conforme assevera Ana MariaFaria28, deve o Poder Público mu-nicipal utilizar o IPTU como ins-trumento de aplicação da função so-cial da propriedade urbana.

II.8.1.7

Outrossim, ao instituir o IPTU,a Constituição Federal autoriza aosmunicípios, em algumas hipóteses, ater alíquotas diferentes de acordo coma localização e o uso do imóvel29.

II.8.2 IPTU AmbientalPreservacionista:

II.8.2.1

Conforme referido, deverá apropriedade atender à função so-cial. Para tanto, a proteção e a pre-servação do Meio Ambiente são

medidas fundamentais. A lei civil30

expressamente assevera a necessi-dade de preservação da flora, dafauna, das belezas naturais, doequilíbrio ecológico e a não-polui-ção do ar e das águas, denotandoa preocupação do legislador civilcom o meio ambiente e o deverde o proprietário preservá-lo.

II.8.2.2

Com o fito de propiciar a efe-tiva proteção do meio ambiente,pode e deve o Município utilizaro IPTU como forma de alcançartal desiderato, introduzindo in-centivos fiscais aos munícipes quecolaborarem em sua propriedadeimobiliária com a preservação danatureza.

II.8.2.3

O IPTU Ambiental Preser-vacionista pode ser conceituadocomo forma de tributação redu-zida sobre a propriedade imo-biliária urbana, de modo que sediminua a tributação ou de isen-tá-la a quem efetivamente pre-serve o meio ambiente, querseja cuidando da flora, da fau-na, das belezas naturais, do equi-líbrio ecológico ou do patrimô-nio histórico e artístico, ou ain-da evitando a poluição do ar edas águas.

Rinaldo Segundo aduz:

“Outra medida importanteque pode constar do CódigoTributário Municipal são incen-tivos para os cidadãos e empre-endimentos que se proponhama proteger, conservar e/ou re-cuperar o meio ambiente muni-cipal, com a adoção de medidascomo a preservação de constru-ções e monumentos de interes-

A propriedade tem de atender à função social. Para tanto, a proteção e a preservação do Meio Ambientesão medidas fundamentais

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se histórico, cultural e paisagís-tico; a recuperação, manutençãoou construção de praças e jar-dins públicos... (1)

O fundamental é perceberque os tributos podem ser uti-lizados para mudar hábitos in-compatíveis com a preservaçãodo meio ambiente em compor-tamentos dignos de exemplo. Éo tributo arrecadando e melho-rando a qualidade de vida daspessoas. Por outro lado, àque-les hábitos reticentes em preser-var o meio ambiente, haveriaum grande estímulo para a mu-dança. Esse posicionamentoestá amparado no Estatuto daCidade (Lei 10.257/2001),quando este estabelece a previ-são de utilizar de incentivos ebenefícios fiscais e financeiroscomo instrumentos do planeja-mento urbano (art. 4º, IV, alí-nea “c”).”31

II.8.2.4

Como exemplo, o Código deMeio Ambiente do Municípiode São Leopoldo concedeu aosproprietários de terras que ti-verem instituído Reserva Parti-cular de Patrimônio Naturalredução do valor do IPTU, re-duzindo da base de cálculo des-te tributo a área corresponden-te à reserva. Tal benefício foitambém estendido aos proprie-tários de Áreas de PreservaçãoPermanente.32

II.8.2.5

Tal benefício do IPTU Am-biental Preservacionista tambémpoderia ser aplicado a empresasque reduzissem a poluição pro-duzida durante seu processo pro-dutivo.

II.8.2.6

A base legal para a implemen-tação do IPTU Ambiental Pro-tetivo encontra guarida no pró-prio artigo 5º, XXIII, da CF33, noartigo 1.228 do Código Civil34, noartigo 47 do Estatuto das Cida-des35, artigos 225; 156, §1º, incisoII, e 30, inciso VIII, da Constitui-ção Federal36.

II.8.2.7

A lei civil expressamente asse-vera a necessidade de preservaçãoda flora, da fauna, das belezas na-turais, do equilíbrio ecológico e anão poluição do ar e das águas, de-notando a preocupação do legis-lador civil com o meio ambiente eo dever de o proprietário preser-var o meio ambiente. O meio am-biente está protegido constitucio-nalmente37, constituindo-se em di-reito fundamental de toda a huma-nidade.

II.8.2.8

O Estatuto das Cidades, emseu artigo 47, determina que ostributos sobre imóveis urbanossejam diferenciados em função dointeresse social38. Por conseguinte,é de interesse social a preservaçãoambiental, razão pela qual é pos-sível, com base neste diploma le-gal, a redução do IPTU para imó-veis que, de alguma forma, con-tribuam com o meio ambiente.

Ademais, o artigo 4º, incisoIV, letras “a” e “c” do Estatutodas Cidades autoriza ainda a uti-lização de institutos tributários efinanceiros para a realização dosobjetivos previstos no diplomalegal referido, especialmente in-centivos fiscais e financeiros paraa correta ordenação das cidades.

II.8.2.9

Ademais, aos municípios, com-pete promover, no que couber,adequado ordenamento territorial,mediante planejamento e controledo uso, do parcelamento e da ocu-pação do solo urbano, forte no in-ciso VIII do artigo 30 da Consti-tuição Federal.

II.8.2.10

Outrossim, ao instituir oIPTU, a Constituição Federal au-toriza os municípios, em algumashipóteses, a ter alíquotas diferen-tes de acordo com a localização eo uso do imóvel39. No caso, a pre-servação ambiental poderá dar azoà diferenciação da alíquota deIPTU, com lastro no artigo 156,§1º, inciso II, da CF.

II.8.2.11

Dessarte, é possível a imple-mentação do IPTU AmbientalProtetivo, com o fito de preser-vação da flora, da fauna, das bele-zas naturais, do equilíbrio ecoló-gico e a não poluição do ar e daságuas, conferindo-se vantagens aoscontribuintes deste tributo muni-cipal que realizarem alguma ati-vidade para a consecução dos ob-jetivos alhures destacados.

II.8.3 IPTU Ambiental Re-pressivo

II.8.3.1

A propriedade tem de aten-der à função social. Para tan-to, a proteção e a preservaçãodo Meio Ambiente são medi-das fundamentais. Com o es-copo de efetuar a proteção aomeio ambiente, pode e deve o

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Município util izar o IPTUcomo forma de alcançar tal de-siderato, introduzindo incen-tivos fiscais aos munícipes quecolaborarem em sua proprie-dade imobiliária com a preser-vação da natureza ( I I .8 .2 .IPTU Ambiental Preservacio-nista) , ou gravames f iscaisàqueles que obrarem em senti-do diverso (IPTU AmbientalRepressivo ou IPTU Ambien-tal Progressivo no tempo).

II.8.3.2

A lei civil40 expressamente asse-vera a necessidade de preservaçãoda flora, da fauna, das belezas na-turais, do equilíbrio ecológico e anão poluição do ar e das águas, de-notando a preocupação do legisla-dor civil com o meio ambiente e odever de o proprietário preservaro meio ambiente. Os que obraremem sentido diverso deverão sofrermajoração em sua tributação.

II.8.3.3

Com o fito de propiciar a efe-tiva proteção do meio ambiente,pode e deve o Município utilizaro IPTU como forma de alcançartal desiderato, introduzindo ma-jorações fiscais aos munícipes queNÃO colaborarem em sua pro-priedade imobiliária com a pre-servação da natureza.

II.8.3.5

O IPTU Ambiental Repres-sivo pode ser conceituado comoforma de tributação majoradasobre a propriedade imobiliáriaurbana, de modo que se aumen-te a tributação aos contribuin-tes que efetivamente causem gra-vames ao meio ambiente, quer seja

descuidando da flora, da fauna,das belezas naturais, do equilíbrioecológico ou do patrimônio his-tórico e artístico, ou ainda pro-vocando a poluição do ar e daságuas.

II.8.3.6

Não há de se falar que tal me-dida implica indevida sanção aoato ilícito.

Define o artigo 3º do CódigoTributário Nacional: “Tributo étoda prestação pecuniária compul-sória, em moeda ou cujo valor nelase possa exprimir, que não consti-tua sanção de ato ilícito, instituí-da em lei e cobrada mediante ati-vidade administrativa plenamentevinculada.” Conforme o disposi-tivo legal, é inviável utilizar tribu-to como sanção ao ato ilícito.

Destacamos, primeiramente,que tal vedação vem cominadaem norma infraconstitucional.Outrossim, em várias situações,a função extrafiscal do tributoé utilizada para impedir ou fo-mentar comportamentos docontribuinte.

A própria Constituição Fede-ral autoriza o aumento do tribu-to IPTU nas hipóteses do artigo182, §4º quando a área incluídano Plano Diretor da cidade nãoestiver sendo utilizada de formaadequada, especialmente se o solonão edificado estiver sendo nãoutilizado ou subutilizado, comfulcro no artigo 182, §4º da Cons-tituição41, o que verificaremos maisadiante.

No caso vertente, a normafundamental de direito ao meioambiente se sobrepõe a esta nor-ma infraconstitucional. O pró-prio disposto na Súmula 668 doSTF42 permite essa interpretação,sendo válido o aumento da tribu-

tação como penalidade por des-cumprimento de norma constitu-cional fundamental, in casu, o meioambiente.

II.8.3.7

Lembramos que compete aosmunicípios promover, no quecouber, adequado ordenamentoterritorial, mediante planejamen-to e controle do uso, do parcela-mento e da ocupação do solo ur-bano, forte no inciso VIII do ar-tigo 30 da Constituição Federal.

II.8.3.8

Outrossim, ao instituir o IPTU,a Constituição Federal autoriza osmunicípios, em algumas hipóteses,a ter alíquotas diferentes de acordocom a localização e o uso do imó-vel43. No caso, a NÃO preserva-ção ambiental poderá dar azo à di-ferenciação da alíquota de IPTU,com lastro no artigo 156, §1º, inci-so II, da CF.

II.8.3.9

Dessarte, é possível a imple-mentação do IPTU AmbientalRepressivo, com o fito de coibira não preservação da flora, da fau-na, das belezas naturais, do equi-líbrio ecológico e a poluição doar e das águas.

II.8.4 IPTU AmbientalProgressivo no Tempo

II.8.4.1

A propriedade tem de atenderà função social. Para tanto, a pro-teção e a preservação do meioambiente são medidas fundamen-tais. Com o escopo de efetuar aproteção ao meio ambiente, pode

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e deve o Município utilizar oIPTU como forma de alcançar taldesiderato, introduzindo incenti-vos fiscais aos munícipes que co-laborarem em sua propriedadeimobiliária com a preservação danatureza (II.8.3 IPTU AmbientalPreservacionista), ou gravamesfiscais àqueles que obrarem emsentido diverso (IPTU Ambien-tal Repressivo ou IPTU Ambien-tal Progressivo no tempo).

II.8.4.2

A Constituição Federal autoriza osmunicípios a efetuar IPTU progressi-vo no tempo quando a área incluídano Plano Diretor da cidade não estiversendo utilizada de forma adequada, es-pecialmente se o solo não edificado es-tiver sendo não utilizado ou subutiliza-do, com fulcro no artigo 182, §4º daConstituição..44

II.8.4.3

Conforme assevera Paulsen45

:

“IPTU progressivo com funçãoextrafiscal: A progressividade no tem-po do IPTU, autorizada neste arti-go, faz com que atue como instru-mento para assegurar o cumprimen-to da função social da propriedade”.

II.8.4.4

A progressividade do IPTUvem disciplinar pelo Estatuto dasCidades46, artigo 7º, para as hipó-teses de não correto aproveitamen-to do solo, nos termos de lei muni-cipal própria.

II.8.4.5

Porém, para a correta aplica-ção do dispositivo, é imperiosoverificar se a não construção impor-

ta em preservação ambiental (e,nesse caso, aplica-se o IPTU Am-biental Preservacionista) ou seimporta em descumprimento dafunção socioambiental (e, nessasituação, incide o IPTU Ambien-tal progressivo no tempo).

Ana Maria Faria47 observa que,muitas vezes, a não edificação atin-ge a finalidade social:

“Porém, para certas regiões,para que seja atendido o fim soci-al da propriedade urbana, neces-sário, por vezes, a não edificaçãoou mesmo uma edificação maisrestrita, a manutenção da área ver-de, além de outros critérios.”

II.8.4.6

Ana Maria Faria refere48:

“Assim, o IPTU Ambientaltem natureza extrafiscal, ou seja,tem como objetivo motivar a uti-lização devida da propriedadeurbana, de modo a garantir, den-tro dos parâmetros previstos noPlano Diretor, a função social dapropriedade. Ao utilizar o IPTUdesta forma, a finalidade nãopode ser a arrecadação fiscal, massim induzir o proprietário a cum-prir com a obrigação de parce-lar, edificar, enfim, de utilizar apropriedade urbana de forma aatender a sua função social, den-tro dos critérios previstos no Pla-no Diretor do Município”.

II.8.4.7

O próprio Supremo TribunalFederal já reconhecera a possibi-lidade de o IPTU ser progressivopara assegurar o cumprimento dafunção social da propriedade,mesmo antes do advento daEmenda Constitucional n.º 29/

2000, como se observa ao perlus-trar a Súmula 668, in verbis:

“É inconstitucional a lei muni-cipal que tenha estabelecido, antesda Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas parao IPTU, salvo se destinada a asse-gurar o cumprimento da funçãosocial da propriedade urbana”.

III. EX POSITIS

Obtempera-se:

(i) propriedade predial e terri-torial urbana é o suporte econômi-co à tributação do IPTU;

(ii) com supedâneo no Códi-go Tribunal Nacional, o fato ge-rador do Imposto Predial e Ter-ritorial Urbano é a propriedade,o domínio útil ou a posse a qual-quer título de prédio ou terre-no urbano;

(iii)são contribuintes do IPTUo proprietário, o superficiário, otitular do domínio útil ou seupossuidor a qualquer título;

(iv) é mister apontar ter oCódigo Civil de 2002 trazido alume expressamente, além dafunção social da propriedade, afunção socioambiental da pro-priedade;

(v) a lei civil expressamente as-severa a necessidade de preserva-ção da flora, da fauna, das bele-zas naturais, do equilíbrio ecoló-gico e a não poluição do ar e daságuas, denotando a preocupaçãodo legislador civil com o meioambiente e o dever de o proprie-tário preservá-lo;

(vi) a norma civilista consti-tui limitação ao direito de pro-priedade e impedimento ao exer-cício abusivo deste, evitando pre-juízos ao bem-estar social. Ade-mais, visa à prevalência do indi-vidual sobre o coletivo;

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(vii) o direito de propriedadedeve ser compatível com a preser-vação do meio ambiente;

(viii) estar o meio ambienteprotegido constitucionalmen-te, constituindo-se em direitofundamental de toda a huma-nidade;

(ix) o imóvel atinge a sua fun-ção socioambiental, quer haja pro-teção do meio ambiente natural,artificial ou do trabalho;

(x) podemos classificar oIPTU Ambiental em três tipos:a) IPTU Ambiental Preservaci-onista, em função da preservaçãoambiental; b) IPTU AmbientalRepressivo, em função do impac-to causado pelo imóvel; c) IPTUAmbiental Progressivo no tem-po, em função do não-cumpri-mento da função social da pro-priedade;

(xi) é dever de o Municípiorealizar o adequado ordenamen-to territorial e o planejamentodo uso, do parcelamento e daocupação do solo urbano. E atributação pelo IPTU pode edeve ser realizada para esse fim;

(xii) a propriedade tem deatender à função social. Paratanto, a proteção e a preserva-ção do meio ambiente são me-didas fundamentais. Com o es-copo de efetuar a proteção aomeio ambiente, pode e deve oMunicípio utilizar o IPTUcomo forma de alcançar tal de-siderato, introduzindo incenti-vos fiscais aos munícipes quecolaborarem em sua proprieda-de imobiliária com a preserva-ção da natureza (II.8.2. IPTUAmbiental Preservacionista), ougravames fiscais àqueles queobrarem em sentido diverso(IPTU Ambiental Repressivoou IPTU Ambiental Progressi-vo no tempo);

(xiii) o IPTU Ambiental

Preservacionista pode ser con-ceituado como forma de tribu-tação reduzida sobre a propri-edade imobiliária urbana, demodo que se diminua a tribu-tação ou de isentá-la a quemefetivamente preserve o meioambiente, quer seja cuidandoda flora, da fauna, das belezasnaturais, do equilíbrio ecoló-gico ou do patrimônio histó-rico e artístico, ou ainda evi-tando a poluição do ar e daságuas;

(xiv)o Estatuto das Cidades,em seu artigo 47, determinaque os tributos sobre imóveisurbanos sejam diferenciadosem função do interesse soci-al49. Por conseguinte, é de in-teresse social a preservação am-biental, razão pela qual é pos-sível, com base neste diplomalegal, a redução do IPTU paraimóveis que, de alguma forma,contribuam com o meio ambi-ente;

(xv) é possível a implementa-ção do IPTU Ambiental Prote-tivo, com o fito de preservaçãoda flora, da fauna, das belezasnaturais, do equilíbrio ecológi-co e a não poluição do ar e daságuas, conferindo-se vantagensaos contribuintes deste tributomunicipal que realizarem algu-ma atividade para a consecuçãodos objetivos alhures destaca-dos.

(xvi) o IPTU Ambiental

Repressivo pode ser conceitu-ado como forma de tributaçãomajorada sobre a propriedadeimobiliária urbana, de modoque se aumente a tributação aoscontribuintes que efetivamen-te causem gravames ao meioambiente, quer seja descuidan-do da flora, da fauna, das be-

lezas naturais, do equilíbrioecológico ou do patrimôniohistórico e artístico, ou aindaprovocando a poluição do are das águas. Não há de se falarque tal medida implica indevi-da sanção ao ato ilícito.

(xvii) ao instituir o IPTU, aConstituição Federal autorizaos Municípios, em algumas hi-póteses, a ter alíquotas diferen-tes de acordo com a localizaçãoe o uso do imóvel. No caso, aNÃO-preservação ambientalpoderá dar azo à diferenciaçãoda alíquota de IPTU, com las-tro no artigo 156, §1º, inciso II,da CF.

(xviii) é possível a implemen-tação do IPTU Ambiental Repres-sivo, com o fito de coibir a não-preservação da flora, da fauna,das belezas naturais, do equilíbrioecológico e a poluição do ar e daságuas.

(xix) IPTU Ambiental Pro-

gressivo no Tempo: A Consti-tuição Federal autoriza os mu-nicípios a efetuar IPTU pro-gressivo no tempo quando aárea incluída no Plano Diretorda cidade não estiver sendo uti-lizada de forma adequada, es-pecialmente se o solo não edi-ficado estiver sendo não utili-zado ou subutilizado, com ful-cro no artigo 182, §4º da Cons-tituição. Para a correta aplica-ção do dispositivo, é imperio-so verificar se a não-construçãoimporta em preservação ambi-ental (e, nesse caso, aplica-se oIPTU Ambiental Preservacio-nista) ou se importa em des-cumprimento da função socio-ambiental (e, nessa situação, in-cide o IPTU Ambiental pro-gressivo no tempo). Em muitasvezes, a não-edificação atinge afinalidade social.

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1 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Correa de. Concessão à autarquia federal de isenção de tributos municipais, distritais e estaduais por norma infraconsti-tucional da União. Inconstitucionalidade da isenção heterônoma. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.º 1496, 6 ago. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/dou-trina/texto.asp?id=10237>. Acesso em: 6 ago. 2007.2 IVO, Gabriel. O Princípio da Tipologia Tributária e o dever fundamental de pagar tributos. In: Direitos Fundamentais na Constituição de 1988 - Estudos Comemo-rativos aos seus Vinte Anos. Coordenador: Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar. Porto alegre: Nuria Fabris, 2008, p. 41.3 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. Prescrição e Decadência em Direito Tributário. Natal, 2008.4 MACHADO, Hugo de Brito. Op. Cit., p. 156, apud SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. Prescrição e Decadência em Direito Tributário. Natal, 2008.5 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. Prescrição e Decadência em Direito Tributário. Natal, 2008. 6 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. DO CONTRIBUINTE DO IPTU: Definição do sujeito passivo da obrigação tributária decorrente do Imposto Predi-al e Territorial Urbano. Porto Alegre, 22/06/2008. Publicado em 23/06/2008 no site Pesquise Direito: em http://www.pesquisedireito.com/artigos.htm Disponível em:http://www.pesquisedireito.com.br/do_contribuinte_do_iptu.htm7 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. Prescrição e Decadência em Direito Tributário. Natal, 2008.8 MACHADO, Hugo de Brito. Op. Cit., p. 200. apud SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. Prescrição e Decadência em Direito Tributário. Natal, 2008. 9 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário – Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 7ª ed.,2005, p. 763. 10 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. DO CONTRIBUINTE DO IPTU: Definição do sujeito passivo da obrigação tributária decorrente do Imposto Pre-dial e Territorial Urbano. Porto Alegre, 22/06/2008. Publicado em 23/06/2008 no site Pesquise Direito: em http://www.pesquisedireito.com/artigos.htm Disponívelem: http://www.pesquisedireito.com.br/do_contribuinte_do_iptu.htm11 § 3º O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à suaparcela de ocupação efetiva, com os encargos e os tributos sobre a área, objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato res-pectivo. 12 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. DO CONTRIBUINTE DO IPTU: Definição do sujeito passivo da obrigação tributária decorrente do Imposto Pre-dial e Territorial Urbano. Porto Alegre, 22/06/2008. Publicado em 23/06/2008 no site Pesquise Direito: em http://www.pesquisedireito.com/artigos.htm Disponívelem: http://www.pesquisedireito.com.br/do_contribuinte_do_iptu.htm13 SOUZA, Daniel Barbosa Lima Faria Corrêa de. DO CONTRIBUINTE DO IPTU: Definição do sujeito passivo da obrigação tributária decorrente do Imposto Predi-al e Territorial Urbano. Porto Alegre, 22/06/2008. Publicado em 23/06/2008 no site Pesquise Direito: em http://www.pesquisedireito.com/artigos.htm Disponível em:http://www.pesquisedireito.com.br/do_contribuinte_do_iptu.htm14 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2006, p. 1228.15 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. São Paulo: Método, 2007, p. 795.16 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. São Paulo: Método, 2007, p. 795.17 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2005, 12ª ed., p. 975.18 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 32.19 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 35.20 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os dita-mes da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboraçãoe prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 42, de 19/12/2003) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dadapela Emenda Constitucional n.º 6, de 1995) Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casosprevistos em lei.21 GUIMARÃES, Nathalia Arruda. Os Municípios e o Estatuto das Cidades. Rio de Janeiro: Temas & Idéias, 2004, PP.46/7.22 Artigo 47: Os tributos sobre imóveis urbanos assim como as tarifas relativas a serviços públicos urbanos serão diferenciados em função do interesse social.23 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 25.24 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 27.25 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 53.26 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 53.27 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 34.28 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 32.29 CF, artigo 156, §1º, inciso II, incluído pela EC 29/2000.30 Código Civil: Artigo 1.228: O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a pos-sua ou detenha.§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidadecom o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do are das águas.31 SEGUNDO, Rinaldo. O orçamento público, os tributos e o meio ambiente . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.º 62, fev. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3774>. Acesso em: 3 fev. 2009.32 Código Municipal de Meio Ambiente do Município de São Leopoldo (RS), Lei Municipal n.º 6.463/2007:Art. 536 O Poder Público Municipal incentivará os proprietários de áreas de interesse ambiental a instituírem Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN, loca-lizadas em áreas urbanas ou rurais, conforme disposto na legislação vigente.§ 1º A área de Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, instituída nesta lei, é excluída da área total do imóvel, para o efeito de apuração do Imposto Territo-rial Rural – ITR, nos termos do artigo 10, § 1º, inciso II, da Lei n.º 9.393, de 19 de dezembro de 1996.§ 2º A considerar a predominância de zona urbana no município de São Leopoldo e a pressão antrópica sobre as Áreas de Preservação Permanente – APPs, a Reser-va Particular do Patrimônio Natural – RPPN, localizada na área urbana, poderá ter a redução do valor venal proporcional às Áreas de Preservação Permanente – APPs– e Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, para fins de apuração de Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU.33 Artigo 5º, XXIII, da CF: a propriedade atenderá a sua função social;34 Artigo: 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou dete-nha.§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidadecom o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do are das águas.35 Artigo 47: Os tributos sobre imóveis urbanos assim como as tarifas relativas a serviços públicos urbanos serão diferenciados em função do interesse social.36 CF, artigo 156, §1º, inciso II, incluído pela EC 29/2000.37 CF, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se aoPoder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.38 Artigo 47: Os tributos sobre imóveis urbanos assim como as tarifas relativas a serviços públicos urbanos serão diferenciados em função do interesse social.39 CF, artigo 156, §1º, inciso II, incluído pela EC 29/2000.40 Código Civil: Artigo 1.228: O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a pos-sua ou detenha.§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidadecom o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do are das águas.41 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o ple-

NOTAS

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Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

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no desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo ur-bano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; 42 “É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a as-segurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.”43 CF, artigo 156, §1º, inciso II, incluído pela EC 29/2000.44 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes-gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o ple-no desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo ur-bano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; 45 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário – Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 7ª ed., 2005,p. 461.46 Seção IIDo parcelamento, da edificação ou da utilização compulsóriosArt. 5º Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano nãoedificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação da referida obrigação.§ 1º Considera-se subutilizado o imóvel:I – cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele decorrente;II – (VETADO)§ 2ª O proprietário será notificado pelo Poder Executivo municipal para o cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no cartório de registro deimóveis.§ 3º A notificação far-se-á:I – por funcionário do órgão competente do Poder Público municipal, ao proprietário do imóvel ou, no caso de este ser pessoa jurídica, a quem tenha poderes de ge-rência geral ou administração;II – por edital quando frustrada, por três vezes, a tentativa de notificação na forma prevista pelo inciso I.§ 4º Os prazos a que se refere o caput não poderão ser inferiores a:I - um ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente;II - dois anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento.§ 5º Em empreendimentos de grande porte, em caráter excepcional, a lei municipal específica a que se refere o caput poderá prever a conclusão em etapas, assegu-rando-se que o projeto aprovado compreenda o empreendimento como um todo.Do IPTU progressivo no tempoArt. 7ª Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5o desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no §5o do art. 5o desta Lei, o Município procederá à aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo, mediante a majo-ração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos.§ 1º O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado na lei específica a que se refere o caput do art. 5o desta Lei e não excederá a duas vezes o valor refe-rente ao ano anterior, respeitada a alíquota máxima de quinze por cento.§ 2º Caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em cinco anos, o Município manterá a cobrança pela alíquota máxima, até que se cumpra areferida obrigação, garantida a prerrogativa prevista no art. 8o.§ 3ª É vedada a concessão de isenções ou de anistia relativas à tributação progressiva de que trata este artigo.47 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 32.48 FARIA, Ana Maria Jara Botton. O IPTU Ambiental e a aplicação do Princípio do fim social da propriedade urbana. Curitiba: fevereiro de 2005, p. 30.49 Artigo 47: Os tributos sobre imóveis urbanos assim como as tarifas relativas a serviços públicos urbanos serão diferenciados em função do interesse social.

Environmental IPTU

This article examines the issue of property tax Ambient. During the course of the text, we realize that someconsiderations are asked how the concept of tribute, the concept of generating factor, the question ofownership and its concept, forms of acquisition of land, the socio-environmental function. In addition toscrutinize the characteristics of IPTU Environmental

Keywords: Environmental property tax. Tax social. Environmental function. The environment.

IPTU Ambiental

Este artículo examina la cuestión de los impuestos sobre la propiedad Ambiental. En el curso del texto, nosdamos cuenta de que se le hizo algunas consideraciones de cómo el concepto de tributo, el concepto defactor generador, la cuestión de la propiedad y su concepto, las formas de adquisición de tierras, la funciónsocio-ambiental. Además de examinar las características de los impuestos a la propiedad Ambiental.

Palabras clave: Impuesto a la propiedad del medio ambiente. Impuestos. Función social y del medio ambiente.El medio ambiente.

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Ano 55 - Nº 273Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 61

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM • PERGUNTE AO IBAM •

Sim, é possível! Porém, há dese buscar uma relação de sinto-nia entre setores da administra-ção e harmonia entre as leis e osregulamentos que instituem e ins-truem o licenciamento no Muni-cípio. As licenças urbanísticas sãodadas para parcelamento da ter-ra, aprovação de projeto e reali-zação da obra (Licença de Obras),uso e ocupação da edificação (Ha-bite-se) e funcionamento de es-tabelecimento (Licença de Loca-lização e Funcionamento). A Li-cença Sanitária é dada para to-dos os estabelecimentos de inte-resse à saúde e assemelha-se bas-tante à Licença de Localização eFuncionamento, com foco maisrestrito. As licenças ambientaismais comuns são a Licença Pré-via, que trata da viabilidade doempreendimento e impactos po-tenciais da atividade no meioambiente; a Licença de Instalaçãoque é dada mediante aprovaçãodo projeto de construção e im-plantação da tecnologia em ques-tão; e a Licença de Operação éaquela que assegura as condições

Agora, com o licenciamento ambiental e sanitário, é possívelque um mesmo contribuinte tenha de tirar nada menos que seteou oito licenças na Prefeitura. É possível simplificar esse processo?

de funcionamento conforme as nor-mas ambientais pertinentes.

Identificam-se, em um primeiromomento, duas sobreposições queocorrerão conforme o tipo de em-preendimento em questão:

a) Licença Prévia e Licença deInstalação (ambientais) versus Apro-vação de Projeto e Licença de Obras(urbanística);

b) Licença de Operação (ambi-ental) versus Licença Sanitária (saú-de) versus Localização e Funciona-mento e Habite-se (urbanísticas).

Um modo de se evitar a viacrucis do licenciamento seria re-desenhar o processo de trabalho,criando instâncias comuns deanálise a partir de uma “mode-lagem de negócio”, feita na ori-gem a partir de um serviço de ori-entação e de consulta préviabem estruturado. Tal alternativapoderá não reduzir o número delicenças, mas alinhará os mo-mentos-chave do processo e per-mitirá a emissão das licenças si-multaneamente.

Outro caminho seria recortar ouniverso de empreendimentos, evi-tando sobreposições desnecessári-as. Por exemplo, se o estabeleci-mento será objeto de Licença deOperação e/ou de Licença Sanitá-ria, por que exigir o Alvará de Lo-calização e Funcionamento? Porsimples rito burocrático tributário?As duas licenças anteriores são mui-to mais rigorosas, e a questão dalocalização é inerente a qualquerempreendimento (Lei de Uso doSolo, Plano Diretor, ZoneamentoAmbiental etc.), ou seja, é possívelmapear previamente os diversos ti-pos de empreendimentos e identi-ficar qual licenciamento e qual pro-cesso de trabalho mais adequados.

As Prefeituras já estão buscan-do soluções para tal contexto, eteremos novidades em breve. Po-rém uma coisa é certa: sem inte-gração das unidades administrati-vas e sem diálogo com a socieda-de (principalmente com o empre-endedor), o licenciamento muni-cipal poderá tornar-se uma Torrede Babel burocrática e deixar decumprir seu importante papel.

Romay Conde GarciaAssessor técnico da Área de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente

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Ano 55 - Nº 273 Janeiro/Fevereiro/Março de 201062

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAMPARECERES E JURISPRUDÊNCIA

RESPOSTA

Preliminarmente, há de seapresentar os significados dosregimes adotados pela Conta-bilidade na gestão orçamentá-ria e patrimonial para o reco-nhecimento das receitas e dasdespesas no âmbito das enti-dades governamentais, União,estados, Distrito Federal emunicípios e respectivos ór-

gãos autárquicos e fundacio-nais.

No Brasil, atualmente, em to-das as esferas governamentais,conforme o disposto no art. 35, Ie II, da Lei n.º 4.320, de 17 demarço de 1964, é adotado o regi-me misto, que se compõe dosregimes:

• de caixa, para as receitasobtidas por meio das atividades

geradoras de receitas próprias, dasrelações jurídico-financeiras comoutras entidades de direito públicoe de direito privado, das aplicaçõesno mercado financeiro e de capi-tais e outras; e

• de competência para as despe-sas legalmente empenhadas noexercício financeiro.

Os seguintes aspectos, impor-tantes para a organização do sis-

Prefeitura Municipal. Razõese condições para a adoçãodo regime de competênciapela ContabilidadeGovernamental, noreconhecimento dasreceitas e das despesasHeraldo da Costa Reis

CONSULTA

Solicitam-se informações mais detalhadas, inclusive dos reflexos positivosou negativos, que poderão se originar da adoção do regime de competência

no âmbito da gestão orçamentária e patrimonial das entidadesgovernamentais, principalmente do Município e de suas autarquias efundações.

Coordenador do CEIF – ENSUR/IBAM

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Ano 55 - Nº 273Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 63

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

tema de controle interno da enti-dade governamental, são destaca-dos e nos levam a refletir sobre orelacionamento do setor da Con-tabilidade com os demais setoresda entidade, e sobre o cumpri-mento das normas pertinentes noregistro das operações realizadaspara elaborar as informações queauxiliarão o gestor na tomada dedecisões, tais como:

·• no regime de caixa, adotadopara o reconhecimento das recei-tas, o relacionamento da Contabi-lidade se estreita com a Tesouraria,relevando, desta forma, o controlesobre o dinheiro, o qual se refere àreceita obtida no período;

·• no regime de competênciapara as despesas, o relacionamentoda Contabilidade com os demaissetores da organização dependerá,exclusivamente, da organização lo-cal.

Evidentemente, os dois regi-mes deixam a desejar, posto que,se, de um lado, não evidenciamem nenhum momento a verdadei-ra situação econômico-financeirada entidade; do outro lado, nãocumprem com os princípios fun-damentais de Contabilidade.

Observe o consulente, que, noregime de caixa, não se mencionamos devedores da fazenda pública,independentemente da naturezajurídica do débito e que, no regi-me de competência orçamentária,a lei não menciona a realização oua concretização do objeto da des-pesa, o que nos levam a entenderque um e outro não atendem àsnecessidades de uma informaçãocorreta que respalde decisões quedevam ser tomadas pelo gestor go-vernamental.

Entretanto, no regime de com-petência financeira, principalmen-

te quando se refere às receitas, énecessário que a administração daentidade se organize de tal modoque possibilite a evidenciação dosseus devedores, sejam ou não denatureza tributária.

Assim, a adoção do regime decompetência exigirá da adminis-tração as seguintes providências:

1. No que respeita às receitas:• reorganização ou organiza-

ção das rotinas de relacionamen-to entre o setor da Contabilida-de e o setor da receita tributária;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-to entre o setor da receita tribu-tária e o setor da ProcuradoriaJurídica para os registros dos de-vedores da Fazenda, a fim de pos-sibilitar a cobrança judicial dadívida ativa tributária;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-to entre o setor da Contabilida-de e o setor da Procuradoria Ju-rídica para os registros de inscri-ção e cobranças da Dívida Ativatributária e não tributária;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-to entre o setor da ProcuradoriaJurídica e o Cartório por ondecorrem as cobranças judiciais doscréditos da Fazenda Pública;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-to entre os setores da Contabili-dade e aqueles que têm a respon-sabilidade de gerir e controlar agestão de contratos e convênios;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-to entre os setores que controlamas receitas de transferências, inde-pendentemente da natureza;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamentoentre os setores da Contabilida-

de e da Tesouraria que possibili-tem as visualizações das receitas,dos recebimentos e dos pagamen-tos das obrigações da entidade;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de natureza con-tábil que abranjam todos os rela-cionamentos anteriores, com vis-tas à geração de informações e dosrelatórios, que são de interesse daadministração e exigidos pela le-gislação pertinente e em vigor .

2. No que respeita às despe-sas:

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-tos entre os setores da Contabili-dade e aqueles que realizam lici-tações, adjudicações de contratos,empenhos, liquidações e paga-mentos de obrigações;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-tos entre os setores da Contabili-dade e da Tesouraria;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-tos entre os setores de Contabili-dade e aqueles que são responsá-veis pela gestão e pelo controle debens, para fins de cálculo e regis-tros das depreciações, avaliações,reavaliações e ajustes monetários,inventários permanentes e/ouperiódicos;

• reorganização ou organiza-ção das rotinas de relacionamen-tos entre os setores da Contabili-dade e os demais setores da orga-nização para o fim de controle dagestão orçamentária.

Certamente, não se pode es-quecer da capacitação dos servi-dores da entidade que estejamenvolvidos direta ou indireta-mente nas atividades descritas, se-jam de órgãos da administração

PARECERES E JURISPRUDÊNCIA

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Ano 55 - Nº 273 Janeiro/Fevereiro/Março de 201064

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

direta, sejam de órgãos da admi-nistração indireta.

Demais disso, a grande vanta-gem da adoção do regime de com-petência no reconhecimento dasreceitas governamentais, conformedispõem os arts. 39, 52, 53, com-binados com o art. 35, I e II, to-dos da Lei n.º 4.320/64 e com osdispositivos do Código Tributá-rio Nacional e da Lei n.º 8.666/93 (Licitações, Contratos e Con-vênios), é o cumprimento do ob-jetivo contábil, a Evidenciação,bem como a visualização na estru-tura do Balanço Patrimonial e oconsequente reflexo no BalançoFinanceiro dos devedores da Fa-zenda Pública.

Outra vantagem que a adoçãodo regime de competência possi-bilita quanto às receitas, é a mu-dança do foco do controle paraos devedores em cobrança admi-nistrativa e judicial, além de me-lhor controle sobre a Tesouraria,e por extensão ao Cadastro Imo-biliário e ao cadastro do ISS.

Acrescente-se ainda que a in-formação gerada pela Contabili-dade tem mais credibilidade, con-

forme se pode verificar pelo se-guinte exemplo: supondo que oMunicípio tem 1.000 imóveis ca-dastrados, cujo valor venal indi-vidual: é de R$ 1.000, e como va-lor total seja R$ 1.000.000, e queo IPTU é igual a 10% sobre ovalor venal, o que indica uma re-ceita de R$ 100.000,00, cujos re-cebimentos serão em dez presta-ções mensais, a partir do mês defevereiro. No regime de caixa, aContabilidade registra apenas oque entrou em caixa, sem estarpreocupada com quem deve, oque só acontecerá no encerramen-to do exercício, quando, então,os devedores serão inscritos naDívida Ativa para a cobrança ju-dicial.

No regime de competência, apreocupação começa no momen-to em que os devedores são lan-çados, quando, então, a Contabi-lidade registra a receita pelo seuvalor global, antes, portanto, dearrecadar, em contrapartida comos devedores já inscritos e lança-dos pelo setor responsável. A par-tir daí, os devedores tornam-se oprincipal alvo dos controles da ad-

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ministração.Se, porventura, desses devedo-

res, 10% forem inscritos na Dívi-da Ativa para a cobrança judicial,a Contabilidade receberá da Pro-curadoria Jurídica as informaçõessobre a situação dos mesmos, cu-jos efeitos serão sentidos no Ba-lanço Financeiro.

Com referência às despesas,o regime de competência apli-cado com correção, de confor-midade com o art. 60 da Lei n.º4320/64, evitará, por exemplo,que apareçam contas não respal-dadas pela legislação vigente,como é o caso de Restos a Pa-gar não Processados, e que fa-zem com que os resultados fi-nanceiro, primário e econômi-co e a situação liquida patrimo-nial se apresentem prejudica-dos.

Assim, o regime de compe-tência financeira possibilitará àadministração informações con-tábeis melhor estruturadas e con-fiáveis, o que permitirá decisõescorretas em relação ao resguar-do e à utilização do PatrimônioPúblico.

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Ano 55 - Nº 273Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 65

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

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estatutário, poderão ter acesso a pareceres e a outros documentos, via

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Câmaras, órgãos da Administração Pública indireta municipal e outras

entidades da Administração Pública brasileira, também poderão ter

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mentos e artigos publicados na Revista de Administração Municipal

que desejarem, mediante contribuição de R$ 28,00 a unidade. As pes-

soas jurídicas terão direito a baixar até 50 pareceres, documentos e

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Ano 55 - Nº 273 Janeiro/Fevereiro/Março de 201066

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O rio Palmital, afluente do rioIguaçu, faz parte do manancial deabastecimento da Região Metro-politana de Curitiba. Possuía ele-vados índices de carga orgânicadespejados principalmente poruma ocupação irregular denomi-nada Vila Zumbi dos Palmares.

Com cerca de 1.790 unidadeshabitacionais desprovidas de siste-ma de esgoto e coleta de lixo eprecárias condições dehabitabilidade, a Vila, com altosíndices de poluição e degradaçãoambiental, comprometia a quali-dade da água do rio Palmital.

A Companhia de Saneamentodo Paraná assumiu um papel cen-tral de integrar 16 diversas institui-ções do governo e da sociedade,visando implantar um projeto desaneamento ambiental necessárioà revitalização do rio Palmital.

Com o compromisso de mantera população no local e com oengajamento da comunidade naspropostas apresentadas, o grupogestor pôde conduzir o planejamen-to e a execução das obras. Um es-critório foi criado na própria VilaZumbi com uma equipe de técnicospara sensibilização socioambientalda comunidade e acompanhamen-to de toda intervenção. Diversascomissões foram criadas com obje-tivos distintos: de moradores paramobilizar a comunidade e democra-tizar as informações; do grupo gestorformado por representante de cadaentidade envolvida na prática pararedefinição e inclusão de novos pro-jetos; e a comissão paritária forma-da por representante de cada par-ceiro para ajuste técnico e executi-vo semanal.

Com essa estratégia de interven-ção montada e contando com re-

Autoria: Carlos Alberto Silva Arruda/Centro de Referência Melhores Práticas/IBAM

cursos da ordem de R$52.666.212,00obtidos na própria SANEPAR, noBNDES e no repasse pela CAIXA doOrçamento Geral da União, foi possí-vel implantar um sistema de coleta etratamento de esgoto e um sistemade drenagem pluvial e ampliar a redede água e de energia elétrica, a pa-vimentação, a construção de mora-dias e a recuperação da mata ciliar.

A adoção de tarifa proporcionalà capacidade de pagamento dasfamílias e a inclusão das carentesna tarifa social evitaram o corte dosserviços de água, coleta e tratamen-to de esgoto por inadimplência,mantendo os ganhos ambientais ede saúde. Houve melhoria nos indi-cadores de saúde após as interven-ções físicas, como a redução em50% dos atendimentos diários doscasos de diarréia e vômitos. Asmelhorias socioambientais produzi-ram uma alteração no perfil dasocorrências policiais na região.

Significativos ganhos foram obti-dos neste projeto. Em termos econô-micos, a recuperação da bacia demanancial do rio Palmital evitou fi-nanciamentos para novas fontes decaptação de água. Em termos soci-ais, a inclusão das famílias na tarifasocial, a educação socioambiental,formando rede de gestoras ambientais

Melhoria ambiental

• EM FOCO •

comunitárias para desenvolver açõeslocais, e a corresponsabilidade nagestão do rio por meio demonitoramento voluntário da quali-dade ambiental resultaram em inclu-são social. No âmbito institucional,observamos a implementação depolítica pública integrada com res-ponsabilidade compartilhada e aotimização de recursos humanos dasdiversas instituições participantes,atuando de forma consequente me-diante as várias comissões implanta-das. Por fim, na dimensão ambiental,verificamos a proteção do mananci-al com a recuperação da mata ciliar,a diminuição da carga orgânica des-pejada no rio, o incremento do lododo esgoto reciclado como fertilizan-te, o controle de perdas d’água nasredes locais e a mudança do rioPalmital da classe de qualidade dequatro para dois, conforme Resolu-ção CONAMA 357/05.

O êxito na metodologia adota-da na implantação do sistema dedrenagem na Vila Zumbi dosPalmares gerou a criação do Pro-grama de Gestão Ambiental Inte-grada em Microbacias. Dez outrasvilas instaladas ao longo da baciado rio Palmital já estão recebendorecursos para a implantação de sis-temas de drenagem semelhantes.

• EM FOCO •

Algumas familias viviam na beira do rio (anterior à prática) e casas foram construídasdurante a intervenção (depois da prática)