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NÃO CUMPRIMENTO DE DECISÕES/ACÓRDÃOS Gabinete José Aêdo Camilo Procurador-geral de contas

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NÃO CUMPRIMENTO DE DECISÕES/ACÓRDÃOS

Gabinete José Aêdo CamiloProcurador-geral de contas

AS DECISÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS

• É relevante lembrar que, não obstante a discordância no que se refere à presença ou não de jurisdição nas decisões proferidas pelos Tribunais de Contas, o fato é que referidas decisões trazem valiosa melhoria para o Direito nacional, seja por intermédio de um maior controle das contas públicas, seja por meio da segurança jurídica por ela proporcionada.

• Por meio dessas decisões se declara uma situação, um direito, uma irregularidade punível e se oportuniza o direito a defesa, cabendo reapreciação pelo poder Judiciário tão somente se houver desvio com relação a legalidade ou com a legitimidade do ato.

• Portanto, sempre que houver ato administrativo eivado de ilegalidade, caberá ao Poder Judiciário apreciação desse ato, uma vez que a leitura do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal demonstra que é vedado à lei excluir da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito.

Artigo 5º, XXXV da CF: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

• Para melhor exemplificar, podemos dizer que as Decisões proferidas pelos Tribunas de Contas possuem o mesmo comando normativo que as sentenças judiciais.

A NATUREZA JURÍDICA DAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS

• Após o transito em julgado das decisões (findo o processo), o Ministério Público de Contas, adotando medidas de interesse da Administração e da Justiça, verifica o cumprimento dessas Decisões, zelando pela observância das normas regimentais.

• As decisões das Cortes de Contas que impliquem em condenação de natureza pecuniária são consideradas títulos executivos extrajudiciais, e a execução desses títulos deverá ser ajuizada no prazo de trinta dias contados do recebimento da documentação encaminhada pelo Tribunal e devidamente comunicada à Corte de Contas quanto a sua propositura.

“Art. 77 da Constituição do Estado: ... § 4º - As decisões do Tribunal de que resultar imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo”.

“Art. 78 da Lei Complementar nº. 160 de 2012: A decisão definitiva do Tribunal que impute débito para o jurisdicionado, inclusive no caso de multa, tem eficácia de título executivo extrajudicial. § 1º A ação judicial de execução do título mencionado nas disposições do caput deve ser: I - proposta no prazo de trinta dias contados do recebimento dos documentos encaminhados pelo Tribunal; II - devidamente comunicada ao Tribunal, quanto a sua propositura”.

A EXECUÇÃO DAS DECISÕES• O não atendimento aos comandos decorrentes de imputação de débito e

cominação de multa acarretará na exigência da dívida por meio de ação de cobrança executiva em favor da fazenda Pública Estadual, Municipal e do Fundo Especial de Modernização e Aperfeiçoamento do Tribunal de Contas – FUNTC. A promoção da competente execução forçada será realizada por intermédio da Procuradoria Geral do Estado e das Procuradorias dos Municípios.

• No que concerne às dívidas referentes ao não adimplemento das multas, terá competência para ajuizar ação a Procuradoria do Estado, e quanto aos valores relativos à impugnação de despesas será competente para promover a cobrança a Entidade ou Órgão a que se referem.

• Em simetria com a Constituição Federal, a Constituição do nosso Estado estabelece as atribuições da Procuradoria Geral do Estado, reforçando sua capacidade postulatória no dever de defender os interesses do Poder Executivo:

“Art. 144 - A Procuradoria-Geral do Estado é instituição

“Art. 144 - A Procuradoria-Geral do Estado é instituição essencial à Administração Pública estadual, que representa em caráter exclusivo o Estado, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe a defesa de seus direitos e interesses na área judicial e administrativa, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo”.

• A execução desses títulos executivos seguirá o procedimento descrito no Art. 1º da Lei de Execuções Fiscais:

“Art. 1º - A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil”.

• Somente a dívida ativa devidamente inscrita na forma da lei, gravada em título executivo, nos termos do art. 585, inciso VII, do CPC, é que poderá ser objeto deste procedimento executório, que é a Certidão de Dívida Ativa (CDA).

• A inércia do agente público em promover a cobrança, caracteriza procedimento incompatível com a dignidade e o decoro do cargo, podendo ele incorrer em infração político-administrativa, conforme preconiza o inciso VIII do artigo 4º do Decreto Lei 201 de 27 de fevereiro de 1967 e o inciso X do artigo 10 da Lei 8.429/92.

Decreto Lei 201 de 27 de fevereiro de 1967: “Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do mandato:

(...)VIII - Omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do Município sujeito à administração da Prefeitura;

Lei 8.429/92:Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:(...)X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;

• Feitas essas ponderações acerca da relevância das decisões das Cortes de Contas, passaremos a analisar as sanções aplicáveis aos administradores ou responsáveis jurisdicionados pelo seu descumprimento:

DAS SANÇÕES APLICADAS PELO NÃO CUMPRIMENTO DE DECISÕES/ACÓRDÃOS

SANCÕES APLICÁVEIS PELA RESOLUÇÃO NORMATIVA TC/MS Nº. 057/06:• O Regimento anterior trazia um rol de sanções bastante completo,

sobretudo acerca das punições pelo descumprimento de decisões. Conforme verificaremos a seguir:

Art. 197 da Res. Normativa 57/06: Nos termos do artigo 53 da Lei Complementar nº. 048/90, o Tribunal pode aplicar multa aos responsáveis por contas e atos adiante indicados, observada a seguinte gradação: (...) IV – não-atendimento no prazo fixado, sem causa justificada, à diligência do Relator ou à decisão do Tribunal – multa de até 900 (novecentas) UFERMS; (...) IX – reincidência no descumprimento de determinações do Tribunal - multa de até 1.800 (mil e oitocentas) UFERMS; (GRIFO NOSSO)

(...)XI – descumprimento à decisão do Tribunal e/ou comunicado da Secretaria-Geral, salvo motivo justificado - multa de até 1.800 (mil e oitocentas) UFERMS;(...)XIII – não-encaminhamento de qualquer documento ao Tribunal sujeito à apreciação - multa de até 900 (novecentas) UFERMS. (...)§ 3º - Na reincidência da mesma irregularidade ou ilegalidade, a multa poderá ser agravada em 1/3 no máximo, desde que conste no processo Certidão do Cartório deste Tribunal provando tal circunstância. (G.N.)(...)

AS SANÇÕES PREVISTAS NA NOVA LEGISLAÇÃO

• Com a edição da nova Legislação não é mais possível penalizar o jurisdicionado simplesmente pelo não cumprimento de uma decisão. Há que se buscar na norma as sanções aplicáveis para cada situação especificamente no caso concreto.

• Analisaremos preliminarmente a Lei Complementar n°. 160 de 2012. O artigo 21 estabelece que o Tribunal de Contas tem competência para aplicar sanções e o artigo 44, no inciso I esclarece que a multa é uma dessas sanções.

• O artigo 42 apresenta o rol das infrações passíveis de sanções e os artigos 45 e 46 discorrem sobre os limites e valores das multas, bem como a majoração dos valores nos casos de reincidência.

• Por fim, o artigo 172, inciso II da Resolução Normativa nº. 76/2013 frisa a competência do Tribunal para impugnar despesas, conforme verificaremos da leitura dos artigos:

LEI COMPLEMENTAR Nº. 160 DE 2012

Art.21. Ao Tribunal compete a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Estado e dos Municípios, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação de subvenções e renúncia de receitas, cabendo-lhe: (...) X - aplicar sanções às infrações cometidas pelos jurisdicionados; (...)

Art. 42. Para os efeitos desta Lei Complementar, é considerada infração toda violação de prescrição constitucional, legal ou regulamentar que discipline a prática de atos sujeitos ao controle externo, tais como: I - o ato que acarrete, efetiva ou potencialmente, dano ao erário; II - a omissão total ou parcial de prestar contas no prazo estabelecido;

(...) IV - a sonegação de quaisquer dados, informações ou documentos solicitados regularmente pela autoridade do Tribunal ou do Ministério Público de Contas; (...)

Art. 44. No exercício de sua competência, o Tribunal pode aplicar as seguintes sanções: I - multas; (...) Parágrafo único. As multas podem ser aplicadas cumulativamente, para sancionar as infrações apuradas pelo Tribunal e pela falta de remessa, dentro do prazo, de informações, dados ou documentos solicitados pelo Tribunal.

Art. 45. As multas decorrentes de infrações apuradas pelo Tribunal devem observar, como limites máximos, os valores correspondentes a: I - mil e oitocentas Unidades Fiscais Estaduais de Referência de Mato Grosso do Sul (UFERMS), relativamente à infração que não resulte dano ao erário; II - cem por cento do valor do dano, relativamente à infração que resulte dano ao erário.§ 1º Constatada a reincidência do infrator, os limites estabelecidos nas disposições do caput podem ser majorados até cinquenta por cento. (GRIFO NOSSO) § 2º É considerado reincidente o jurisdicionado que cometa infração da mesma natureza de outra que lhe tenha sido imputada pelo Tribunal, em decisão definitiva proferida nos últimos cinco anos contados da data em que ela se tornou irrecorrível.

Art. 46. A multa incidente sobre a falta de remessa tempestiva de informações, dados ou documentos ao Tribunal corresponde ao valor de uma UFERMS por dia de atraso, não podendo ultrapassar o valor correspondente ao de trinta UFERMS.

RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº. 76 DE 2013

Art. 172. No caso de apuração de irregularidade nas contas prestadas pelo jurisdicionado, ou dele tomadas, inclusive quanto às contratações públicas (LC n. 160, e 2012, arts. 42, 59, caput, III, e 61), compete ao Conselheiro, à Câmara ou ao Tribunal Pleno, conforme a respectiva competência:(...)II - impugnar despesas, para os fins de ressarcimento de dano ao erário;

APLICAÇÃO DAS SANÇÕES NO CASO CONCRETO

Situação nº1: Não adimplemento de determinação para encaminhar documentos

Neste caso, houve uma Decisão que declarou ilegal e irregular a execução contratual e determinou que o responsável encaminhasse a documentação complementar relativa a fase de execução da despesa, sob pena de responsabilidade pelo desatendimento.

Conduta: Aplicação de multa pela omissão de prestar contas no prazo determinado, bem como pela sonegação de documentos solicitados pelo Tribunal e Ministério Público de Contas, nos termos do artigo 21, inciso X e 44, inciso I, c/c com artigo 42, incisos II e IV da Lei Complementar nº. 160, de 2012;

Confira o modelo na íntegra:

Situação nº 2: Não atendimento à determinação para comprovar a rescisão dos contratos

Decisão Simples pelo não registro de contratações por prazo determinado de servidores, com determinação de que no prazo de 30 (trinta) dias o ordenador de despesas adotasse as medidas necessárias para rescindi-las. Se as referidas contratações já estivessem com o prazo expirado e não renovado, o responsável deveria encaminhar a comprovação a esta Corte no mesmo prazo.

Conduta: Aplicação de multa pela sonegação de dados, informações e documentos solicitados pelo Tribunal e Ministério Público, nos termos do artigo 21, inciso X e 44, inciso I, c/c com artigo 42, inciso IV da Lei Complementar nº. 160, de 2012

Confira o modelo do parecer na íntegra:

Situação nº 3: Não adimplemento de determinação para encaminhar documentos, sob pena de impugnação

dos valores

Decisão Simples que determinou o encaminhamento de documentos referentes a execução contratual, sob pena de impugnação dos valores.

Conduta: Aplicação de multa pelo cometimento de ato que acarreta dano ao erário e pela sonegação de documentos solicitados pelo Tribunal, nos termos do artigo 21, inciso X e 44, inciso I, c/c com artigo 42, incisos I e IV da Lei Complementar nº. 160, de 2012; Impugnação da quantia de R$ 12.423,88 referente ao valor empenhado e não comprovado, posto que não foi apresentada nota de anulação ou rescisão contratual, responsabilizando o Sr. Joãozinho, CPF: XXXXXXX, pela restituição aos cofres públicos, devidamente corrigidos, nos termos do artigo 172, inciso II do Regimento Interno.

Confira o modelo do parecer na íntegra:

Reincidência nas infraçõesA manifestação do Ministério Público de Contas será no sentido de que a multa seja majorada em 50% nas situações em que o jurisdicionado seja considerado reincidente, ou seja, nos casos em que tenha cometido infração da mesma natureza de outra que lhe tenha sido imputada pelo Tribunal, em decisão definitiva proferida nos últimos cinco anos contados da data em que ela se tornou irrecorrível.

Aplicação do artigo 21, inciso X c/c com artigo 45, parágrafos 1º e 2º da Lei Complementar nº. 160, de 2012.

IMPULSÃO DO PROCESSO• A impulsão do processo é requisitada pelo agente ministerial ao

Conselheiro Relator nas situações em que já foi julgado o não cumprimento de decisão, inclusive com a imputação das sanções pertinentes, e ainda assim não há manifestação do responsável. O Ministério Público de Contas se manifesta no sentido de que os autos devem seguir a tramitação extintiva, devendo ser adotadas as medidas necessárias à certificação do recolhimento da multa aplicada ou da restituição dos valores impugnados aos cofres públicos e posterior extinção do processo, conforme determinação do artigo 174, § 4º, da Resolução Normativa nº 076/2013.

“Art. 174. Consumada a efetividade do controle externo do Tribunal (art. 173), a autoridade competente deverá certificá-la nos autos do processo. (...)

§ 4º Caberá também ao Cartório: I - verificar o cumprimento das decisões do Tribunal, especialmente quanto à efetividade: a) do pagamento, em favor do FUNTC, do valor da multa aplicada; b) do ressarcimento do valor do dano causado ao erário; c) da cobrança judicial do valor não ressarcido tempestivamente ao erário, mediante a propositura da ação de execução do título, nos termos do art. 78, caput e § 1º, I e II, da Lei Complementar n. 160, de 2012;

• Assim, tão logo nos seja informado o recebimento dos valores determinados pelas decisões ou acórdãos, o processo será extinto.

Confira o modelo do parecer na íntegra:

REFERÊNCIAS• BRASIL. Código de Processo Civil Brasileiro. Disponível em <

www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.html>

• _______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988, artigo 5º, inciso XXXV. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.

• BRASIL. Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul. Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1989. Legislação informatizada. Disponível em: <http://www.al.ms.gov.br/LinkClick.aspx?/fileticket=vY9Gt9a1ypw%3d&tabid=220>.

• _______, Lei Complementar n. 160, de 2 de janeiro de 2012. Dispõe sobre o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul e dá outras providências. Legislação Informatizada. Disponível em: <http://www.tce.ms.gov.br/portal/admin/db/legislacaoServicoConsulta/272.pdf>

• BRASIL, Resolução Normativa TC/MS n. 76, de 11 de dezembro de 2013. Aprova o Regimento Interno do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul e dá outras providências. Legislação Informatizada. Disponível em: <http://www.tce.ms.gov.br/portal/admin/db/legislacaoServicoConsulta/277.pdf>.

• BRASIL, Lei nº. 6.830, de 22 de setembro de 1980. Dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. Legislação Informatizada. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/16830.htm>.

• BRASIL, Decreto Lei nº. 201 de 27 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a

responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências. Legislação Informatizada. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0201.htm>.

• BRASIL, Lei nº. 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Legislação Informatizada. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ccivil_03/leis/18429.htm >.

COLABORADORES

ANGELO DONATO

BRUNA GALINA

DANIELLE DAVID

MUNIRA FERZELI