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Naquele silêncio, cheio de mormaço de tarde de verão, o sol permaneceu em um pequeno espaço no lado oeste da cidade. E, lançando seus últimos brilhos de final
de dia, enfrentou as sombras urbanas.
Aos olhares que assistiram essa
movimentação, através das vidraças,
as incandescências lançadas pelo sol,
que teimavam e persistiam aos domínios
dos mistérios das montanhas e das
coberturas dos edifícios, indicavam
que estava na hora dele substituir a lua
e iluminar o lado oriental da terra,
enquanto que neste lado ocidental ia ser
substituído pela lua e sua claridade.
Aos olhares, sem as vidraças, que percorreram aquele último espaço de sol,
concluíram que suas amostras de luz, misturadas com as das lâmpadas,
deixavam impressões naturalmente artificiais...Ou artificialmente naturais?
Talvez, como conseqüência do amor impossível entre eles e contado como
uma fábula:
“Quando o sol e a lua se encontraram
pela primeira vez, eles se apaixonaram
perdidamente. A partir daí, começaram
a viver um grande amor. Acontece
que o mundo ainda não existia e no dia
em que Deus resolveu criá-lo, deu ao sol
e à lua o toque final, o brilho.
Ficou também decidido que o sol iluminaria o dia e a lua, a noite. Sendo assim, eles seriam obrigados a viver
separados para sempre. Abateu-se sobre eles uma grande tristeza. A lua foi ficando cada vez mais amargurada,
mesmo com o brilho que Deus lhe havia dado, tornando-se cada vez mais solitária.
O sol, ainda que com um título de
nobreza, o de astro-rei, também não se
sentia feliz. Deus então os chamou e lhes
explicou: "Vocês não devem ficar tristes,
porque agora ambos possuem um brilho
próprio. Tu lua, iluminará as noites frias
e quentes, encantará os namorados e será,
por diversas vezes, motivo de poesias.
Quanto a ti sol, sustentará o título de astro-rei, porque será o mais importante dos astros, iluminando a terra durante o
dia e fornecendo calor para o ser humano. E a “tua simples presença fará com que
as pessoas sejam mais felizes".
A lua entristeceu-se muito com o seu terrível destino e chorou dias a fio. Já
o sol, ao vê-la sofrer tanto, decidiu que não poderia se deixar abater, pois teria que dar forças à ela e ajudá-la a aceitar
o que havia sido decidido por Deus.
No entanto, a preocupação do sol era tão grande, que ele resolveu fazer um pedido
a Deus:
"Senhor, ajude a lua, por favor. Ela é
mais frágil do que eu
e não suportará a solidão".
E Deus, na sua imensa bondade, resolveu
criar as estrelas para fazer companhia
à lua. E ela, sempre que está muito triste,
recorre às estrelas, que tudo fazem para
lhe consolar, mas quase nunca
conseguem.
Hoje, sol e lua vivem assim separados.
O sol finge que é feliz e a lua não
consegue esconder sua tristeza. O sol
ainda arde de paixão pela lua e ela, ainda
vive na escuridão da saudade.
Dizem que a ordem de Deus era que a lua
deveria estar sempre cheia e luminosa.
Mas ela não consegue isso, porque é
mulher e uma mulher tem fases: quando
feliz, consegue ser cheia, mas quando
infeliz, é minguante e, como minguante,
nem sequer é possível ver seu brilho.
Sol e lua seguem seus destinos.
Ele solitário, mas forte. Ela,
acompanhada pelas estrelas, mas fraca.
Deus decidiu que nenhum amor neste
mundo seria de todo impossível. Nem
mesmo o da lua e o do sol.
Foi então que Ele criou o eclipse. Hoje
em dia, o sol e a lua vivem à espera desse
instante, desses momentos que custam
tanto a acontecer.
Quando alguém olhar para o céu e
enxergar o sol encobrindo a lua, é que ele
se deitou sobre ela e começaram a se
amar. Esse ato de amor se chama eclipse.
Eclipses do sol e da lua”.
Entendo que a resistência do sol, em
partir no fim do dia, deve-se ao desejo
dele de se encontrar com a lua, além dos
eclipses. Afinal, não custa nada tentar...
mesmo que esteja tentando desde
a criação do mundo.
O dia em que o Sol quase se encontrou com a lua
Música: Vangelis
Imagens: Internet
Texto e formatação: Fujiyama Shiroaoi