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Natal brasileiro No dia 25 de dezembro, Dona Irene não serve peru assado ou castanhas. O cardápio é tipicamente rural e a moda de viola dá o tom por Texto Juliana Costa | Fotos Kenji Honda Desde criança, Irene Fernandes Neves celebra a data da mesma maneira: ela e seus familiares se reúnem pontualmente às 11h do dia 25 para um almoço. No cardápio, nada das comidas típicas do Natal do Hemisfério Norte, onde agora é inverno. Neve, só no seu sobrenome. Entre os pratos servidos, está a indispensável combinação de arroz com feijão, acompanhada de frango caipira, lombo ao molho de limão e pernil. Para sobremesa, pão de ló recheado com doce de goiaba. Tudo preparado no fogão a lenha. Ou "microlenha", como ela prefere chamar. Nascida há 53 anos em um sítio de Paraibuna, no interior de São Paulo, Dona Irene conserva a tradição iniciada na década de 1930 por seus avós maternos em Passa Quatro, no sul de Minas Gerais. Ela diz que a mãe, falecida 20 anos atrás, fez questão de preservar o costume mesmo depois de se mudar com o marido para o município paulista. "Quando eu era criança, a primeira coisa que minha mãe fazia com os filhos era montar a árvore. Ela cortava um galho e nele todos penduravam bolinhas de algodão e frutinhas vermelhas", conta. Aos nove anos, a pequena Irene fez seu primeiro prato para a festa de Natal: bolinho de chuva com bastante açúcar e canela. Até hoje, a receita é uma das que ela mais gosta de fazer - e de ensinar. Embora viva na zona urbana de Paraibuna desde que se casou, há

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Receitas Brasileiras para o Natal

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  • Natal brasileiro

    No dia 25 de dezembro, Dona Irene no serve peru

    assado ou castanhas. O cardpio tipicamente rural e a moda de viola d o tom

    por Texto Juliana Costa | Fotos Kenji Honda

    Desde criana, Irene Fernandes Neves celebra a data da mesma maneira: ela e seus familiares se renem pontualmente s 11h do dia 25 para um almoo. No cardpio, nada das comidas tpicas do Natal do Hemisfrio Norte, onde agora inverno. Neve, s

    no seu sobrenome. Entre os pratos servidos, est a indispensvel combinao de arroz com feijo, acompanhada de frango caipira, lombo ao molho de limo e pernil. Para

    sobremesa, po de l recheado com doce de goiaba. Tudo preparado no fogo a lenha. Ou "microlenha", como ela prefere chamar. Nascida h 53 anos em um stio de

    Paraibuna, no interior de So Paulo, Dona Irene conserva a tradio iniciada na dcada de 1930 por seus avs maternos em Passa Quatro, no sul de Minas Gerais. Ela diz que

    a me, falecida 20 anos atrs, fez questo de preservar o costume mesmo depois de se

    mudar com o marido para o municpio paulista. "Quando eu era criana, a primeira coisa que minha me fazia com os filhos era montar a rvore. Ela cortava um galho e

    nele todos penduravam bolinhas de algodo e frutinhas vermelhas", conta. Aos nove anos, a pequena Irene fez seu primeiro prato para a festa de Natal: bolinho de chuva

    com bastante acar e canela. At hoje, a receita uma das que ela mais gosta de fazer - e de ensinar. Embora viva na zona urbana de Paraibuna desde que se casou, h

  • 19 anos, Dona Irene mantm o estilo de vida do campo. Na casa em que mora, o

    cheiro nico do fogo a lenha, as prateleiras repletas de panelas de ferro e o pilo para socar caf so algumas das lembranas da roa. ali que ela e seus 15 irmos

    transmitem aos membros mais jovens da famlia os costumes ensinados pela me. Esse

    mesmo local dever receber cerca de 95 parentes - vindos sobretudo de So Paulo e de So Jos dos Campos - para as festas de fim de ano.

    A anfitri calcula que para este Natal sero necessrios aproximadamente 15 quilos de

    lombo, dez fornadas de "panetones caipiras", como o po de l com doce de goiaba foi apelidado, e 40 quilos de figo, cujo doce no pode faltar. Outras dezenas de quilos de

    batata-doce e de laranja tambm sero providenciadas para completar as sobremesas. O banquete farto, mas "feito com muita simplicidade", ressalta.

    Todos os alimentos so produzidos nos stios dos membros da famlia. Cada irmo contribui com um ingrediente, e durante todo o ano h uma articulao para que as

    frutas sejam colhidas na poca certa e para que os animais estejam preparados at o Natal. s vsperas do dia 25, os parentes se renem para comear a fazer os pratos, o

    que, segundo Dona Irene, uma verdadeira confraternizao. Ela diz que a oportunidade de cozinhar juntos um dos motivos pelos quais eles no abrem mo de

    conservar a tradio iniciada pelos avs. No dia da festa, a camisa xadrez sai do armrio, j que a roupa tpica da roa quase uma obrigao. Depois do almoo,

    brindado com suco de limo-cravo ("Para ajudar na digesto"), a famlia brinca de amigo secreto e troca os presentes. Apesar disso, Papai Noel no tem vez no encontro.

    "Ns vemos muito isso, mas no damos muita pelota, no", comenta.

    A famlia aproveita o resto da tarde conversando e contando piadas, herana do bom

    humor mineiro, explica Dona Irene. Os momentos engraados, porm, no so causados apenas pelas anedotas. Em tantos anos de festa, muitas situaes inusitadas

    j aconteceram. Ela conta que tempos atrs os homens queimaram um pernil, pois colocaram a carne para esquentar ("Coisa de cinco minutos", observa) e foram beber

    uma limonada misturada a uma generosa dose de cachaa. Quando perceberam, o pernil j estava completamente torrado. "Todo mundo falava que era esquecimento,

    mas no era. Foi a 'marvada' que deixou a carne queimar", diz, em meio a gargalhadas.

    Como toda boa festa caipira, a trilha sonora fica por conta da moda de viola. No dia da celebrao, cada parente leva seu instrumento e a cantoria segue at o fim da tarde.

    Bernardo Antunes das Neves, marido de Dona Irene, toca violo e sanfona e no dispensa um bom desafio. Espirituoso, ele at montou, de brincadeira, uma parceria

    musical com um colega da cidade: Pedro Estrada e Z do Bento, um trocadilho com o nome da dupla Pedro Bento e Z da Estrada.Na casa da famlia Neves, o apego s

    tradies rurais est presente em cada detalhe, no importa a poca do ano. Assim como os ovos consumidos tm de ser caipiras, o caf socado, torrado e modo por

    Dona Irene. Alm disso, h mais de 15 anos o casal trabalha servindo pratos da roa em eventos empresariais e em feiras tpicas. Nessas ocasies, Dona Irene e Seu

    Bernardo cozinham no fogo a lenha e fazem demonstraes sobre o preparo da comida.

    O fogo a lenha, alis, fundamental para Dona Irene, pois o instrumento que d a ela o prazer de cozinhar. Tempos atrs, o marido a presenteou com um forno de

    microondas, mas o aparelho nunca foi usado. "Gosto mesmo do meu microlenha", brinca. O fogo a faz lembrar da me e dos momentos que passou na roa. Para

    reviver as boas lembranas e recarregar as energias, sempre que possvel ela visita os irmos que moram na zona rural. "Stio vida. Colocar a mo na terra muito bom",

    comenta.

    LOMBO AO MOLHO DE LIMO-CRAVO (Rendimento: 10 pores)

  • Ingredientes 1 kg e de lombo

    2 colheres (sopa) de sal colher (sopa) de organo

    5 dentes de alho de tamanho mdio 4 limes-cravo de tamanho mdio

    Como fazer

    Soque o alho com o sal e coloque-os em uma vasilha. Acrescente o organo e o suco

    dos limes. Faa pequenas perfuraes no lombo (para que o tempero penetre) e junte-o na vasilha regando a carne com o molho. Cubra o recipiente com papel

    alumnio e deixe descansar por quatro horas. Depois disso, coloque para assar. Em forno convencional pr-aquecido a 180, deixe a carne por trs horas. Passado esse

    perodo, retire o papel alumnio e deixe mais 20 minutos para dourar. No forno a lenha, o lombo deve ser colocado para assar por cinco horas. Mais 40 minutos so necessrios

    para a carne dourar.

    PANETONE CAIPIRA (Rendimento: 10 pores)

  • Ingredientes para o po de l 4 ovos 2 xcaras (ch) de farinha de trigo

    1 xcara (ch) de leite

    2 colheres (sopa) de margarina colher (sopa) de fermento em p

    Como fazer

    Coloque todos os ingredientes em uma vasilha e misture com uma colher de pau. Despeje em uma forma retangular e leve para assar em forno convencional pr-

    aquecido a 180 por 20 minutos. Caso seja colocada no forno a lenha, a massa levar 35 minutos para ficar pronta.

    Ingredientes para o recheio 2 kg de goiabas vermelhas limpas e sem o miolo

    1 kg de acar 12 cravos

    Como fazer

    Pique a goiaba e leve ao fogo baixo junto com o acar e os cravos. Mexa at que a fruta derreta por completo. A mistura estar pronta quando comear e desgrudar do

    fundo da panela. Deixe esfriar e, quando o doce estiver em temperatura ambiente,

    recheie o po de l ainda quente.