52
11 NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOS CAMINHOS E ENCANTOS DA ADOÇÃO UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - UCDB CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS CURSO DE PSICOLOGIA CAMPO GRANDE/MS 2006

NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

11

NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOS

CAMINHOS E ENCANTOS DA ADOÇÃO

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - UCDB CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS

CURSO DE PSICOLOGIA CAMPO GRANDE/MS

2006

Page 2: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

12

NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOS

CAMINHOS E ENCANTOS DA ADOÇÃO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do Título de Psicólogo no curso de Psicologia: Formação de Psicólogo, da Universidade Católica Dom Bosco, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Marta Vieira Vilela.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - UCDB

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS CURSO DE PSICOLOGIA

CAMPO GRANDE/MS 2006

Page 3: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

13

A monografia intitulada “CAMINHOS E ENCANTOS DA ADOÇÃO”, apresentada

por NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOS como requisito

para colação de grau no curso de Graduação em Psicologia à Banca

Examinadora da UCDB – Universidade para Católica Dom Bosco, obteve conceito

_______ para aprovação.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Profª. Magali Caldas Coelho

_____________________________________

Psicóloga Ana Flávia Weis Gama Serpa

___________________________________

Prof.ª Dr.ª Marta Vieira Vilela

Campo Grande – MS, 14 de novembro de 2006.

Page 4: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

14

Dedico aos meus pais que muito me

incentivaram ao término deste curso,

assim como ao meu marido Jeferson

que soube enfrentar com sabedoria e

paciência esta fase da minha vida.

Page 5: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

15

RESUMO

O presente Trabalho possibilita conhecer o desenvolvimento de ações que visem o apoio psicológico às crianças que estão entregues em adoção, haja vista que são crianças de algum modo extremamente vitimizadas por sua origem e meio. Do mesmo modo, enfatiza a orientação psicológica e o acompanhamento destas crianças, permitindo que se faça um papel de aconselhador tanto para o infante que se depara com um novo conceito de vida, quanto para a família que o acolhe. O Projeto Adotar é um processo informativo a pretendentes na adoção e será amplamente exposto e difundido nesta monografia. Os dados estatísticos referentes a este projeto são de fundamental relevância, e serão abordados para que a sociedade fique a par no que diz respeito à quantidade de crianças dispostas em Campo Grande-MS para adoção, fazendo um paralelo com a quantidade dos participantes do Projeto Adotar, pois este Projeto é um dos requisitos primordiais aos candidatos que desejam ingressar em um processo de habilitação à adoção.

PALAVRAS-CHAVE: adoção; crianças e adolescentes; orientação psicológica.

Page 6: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

16

ABSTRACT

The present Work makes possible to know the development of actions that aim at the psychological support to the children who are deliver in adoption, it has seen that they are children in some way extremely vitimizadas by its origin and way. In a similar way, it emphasizes the psychological orientation and the accompaniment of these children, allowing that if it in such a way plays a role of aconselhador for the infant who if comes across with a new concept of life, how much for the family who receives it. The project to adopt is an informative process the candidates in the adoption and widely will be displayed and spread out in this monograph. The referring statistical data to this project are of basic relevance, e will be boarded so that the society is the pair in what says respect to the amount of children made use in Campo Grande -MS for adoption, making a parallel with the amount of the participants of the Project To adopt, therefore this Project is one of the primordial requirements to the candidates whom they desire to enter a process of qualification to the adoption.

KEY WORKS: adoption; children and adolescents; psychological orientation

Page 7: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

17

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO.............................................................................................19

2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................21

2.1 Abandono.....................................................................................................21

2.1.2 Sentimentos gerados na criança abandonada.........................................25

2.2 Adoção.........................................................................................................27

2.2.1 Histórico da adoção no Brasil...................................................................29

2.2.1.2 Adoção na 1ª Vara da Infância e Juventude de Campo Grande/MS....31

2.3 Projeto Adotar..............................................................................................34

2.3.1 Preparação dos adotantes da 1ª Vara da Infância e Juventude de Campo

Grande/MS.........................................................................................................36

2.3.2 Critérios utilizados pela equipe para habilitação na 1ª Vara da Infância e

Juventude de Campo Grande-MS.....................................................................38

2.4 Causas que levam a adoção.......................................................................39

3.0 OBJETIVOS.................................................................................................42

3.1 Objetivo Geral..............................................................................................42

3.2 Objetivos Específicos...................................................................................42

4.0 METODOLOGIA..........................................................................................44

4.1Local ............................................................................................................44

4.2 Participantes................................................................................................44

4.3 Procedimento...............................................................................................45

4.4 Instrumentos................................................................................................46

5.0 RESULTADOS.............................................................................................47

6.0 DISCUSSÃO................................................................................................50

7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................52

Page 8: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

18

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................................55

ANEXOS............................................................................................................57

Page 9: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

19

1.0 INTRODUÇÃO

Este trabalho foi elaborado para fins de Conclusão de Curso de modo a

obter o Título de Psicóloga no curso de Psicologia – Formação de Psicólogo da

Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, sob a orientação da Prof.ªDr.ª Marta

Vieira Vilela.

O assunto abordado surgiu a partir do momento em que apenas

leituras não satisfaziam o desejo de aprendizagem. O estágio na 1ª Vara da

Infância e Juventude e o contato com a equipe técnica desta Vara fizeram com

que a literatura fosse posta em prática.

Este trabalho visa propiciar melhor informação a todas as pessoas que

se interessam em assuntos sobre adoção, mostrando um pouco da realidade de

crianças negligenciadas, como será abordado no tópico 2.1 e 2.2 apresentando

conceitos básicos de abandono e os sentimentos gerados na criança

abandonada. Entretanto, os temas que serão abordados, não se restringem às

crianças apenas deste Estado.

Seguindo a ordem de pensamento, a próxima discussão volta-se para

o assunto adoção, ponto chave deste trabalho, e seu histórico, como mostrado

nos tópicos 2.2 e 2.2.1. Nos tópicos 2.2.1.2 falarei sobre a adoção na 1ª Vara da

Infância e Juventude apresentando como a Vara desta comarca trabalha com o

tema adoção, assim como no tópico 2.3, relacionar os dados do Projeto Adotar,

projeto este de alta relevância social.

Page 10: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

20

No item 2.3.1, os critérios usados pela 1ª Vara da Infância e Juventude

de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à

adoção.

O tópico seguinte, 2.3.2, é de fundamental relevância social, de modo a

contribuir informativamente com dados estatísticos sobre o Projeto Adotar,

explicitando o número de participantes do projeto em relação ao numero de

crianças aptas a serem adotadas em Campo Grande-MS.

No item 2.4, as observações serão voltadas para as causas que levam

as pessoas a procurarem adoção. Para tanto, será mostrado o lado encantador

da adoção, relatando um caso positivo realizado nesta comarca, como

demonstrado no tópico 2.5.

No capítulo 3.0, apresento meus objetivos, onde o principal deles será

dar encaminhamento satisfatório no processo de adoção, apontando não apenas

a solução legal, mas também apoio no enfrentamento das questões que a

seguem, tal como, orientar as crianças que passam por este processo.

No próximo Capítulo, indico os participantes do grupo, os materiais e

os procedimentos utilizados, referindo-me a esse, como Método.

No Capítulo 5.0 e 6.0 trago os resultados e discussões da pesquisa

quantitativa realizada através de dados do Projeto Adotar.

E por fim, no próximo capítulo, as Considerações Finais referente a

essa atuação, junto a equipe psicossocial de peritos do Judiciário.

Page 11: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

21

2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Abandono

O abandono infantil não é fator recente na história da humanidade.

Fatores como negligencia, maus tratos e complacência com “abusadores” fazem

parte do histórico da criança e/ou adolescente abandonado. Necessitava-se uma

política de prevenção e de leis que amparassem esses infantes, assim sendo, em

treze de julho do ano de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),

surgiu como cartilha de lei que ampara a criança e o adolescente de forma a

protegê-los integralmente. Hoje em dia, crianças e adolescentes têm um amparo

legal em relação às situações de abandono e negligência.

Conforme o ECA, no art.5 (p.9):

Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punidos na forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão aos direitos fundamentais.

Na 1ª Vara da Infância e da Juventude, foi possível presenciar várias

formas de negligência e abandono a crianças e adolescentes. Observa-se que em

cada criança ou adolescente diretamente violentada de todas as formas, tanto

psicologicamente quanto fisicamente, o que mais deixa marcas profundas, é o

penoso fim do abandono.

Page 12: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

22

Cada ser precisa e quer ser amado, no entanto, estes infantes que

passam pela Vara da Infância e Juventude, além de não possuírem experiências

amorosas e laços fraternais, se deparam com o evento, por muitas vezes,

inconsciente, de “não serem queridos ou aceitos” por sua família biológica,

mostrando claramente o mecanismo de defesa de negação, elaborado por Freud

(1894) onde o ser humano, simplesmente se recusa a aceitar a existência dessa

situação, pois é árdua demais para ser tolerada.

Para Hunziker (1997) a exposição frente a essas situações intensas e

intoleráveis, faz com que o indivíduo tenha dificuldade em adquirir novas

experiências, tornando esta dificuldade independente de sua vontade, logo, esta

situação de fato acaba se tornando um estímulo adverso. A não aprendizagem às

respostas de estímulo, leva ao que chamamos de desamparo.

O desamparo acarreta déficits cognitivos e motivacionais, que levam os

indivíduos a apresentarem uma sintomatologia semelhante às depressões

reativas. Esta depressão reativa é um esgotamento emocional que o indivíduo

sofre, devido às pressões ocorridas, ou a fatos estressantes.

No entanto, seria fácil demais acolher quem é abandonado, e

“apedrejar” quem abandona. O fato é que cada família que abandona, é por si

uma família com histórico de abandono, onde a repetição acaba sem querer,

fazendo novas vítimas.

A família teria que ser não um objeto de ameaça, e sim um leito

protetor, pois a família para um ser humano em desenvolvimento – criança ou

adolescente - é como um segundo útero, onde cobre todas as necessidades

básicas, de alimentação, abrigo, segurança, carinho e amor. É neste contexto de

proteção que as crianças crescem e desenvolvem suas potencialidades, e quando

Page 13: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

23

esta proteção desaparece, se torna um agravo enorme na vida destes seres

humanos.

Família é aquela que propicia os laços afetivos e o bem-estar

necessário aos seus componentes. É no espaço familiar, que são absorvidos os

valores éticos, humanitários e solidários, e são repassados para as próximas

gerações, relata Ferrari (1994). O seio familiar é o meio mais adequado para

criança desenvolver-se integralmente em todos os seus aspectos, físicos, morais

e afetivos.

A mãe possui um papel primordial nessa pretensão, como cuidadora e

personagem física e afetiva constante na vida da criança, ela favorece a

construção da saúde mental do indivíduo, criando assim, o alicerce de caráter e a

riqueza da personalidade do mesmo (WINNICOTT, 1996).

Segundo Spitz (1979) e Bowlby (1984), a criança ao nascer, necessita

de um cuidador que seja necessariamente competente para suprir todas as suas

necessidades físicas e emocionais, porque o bebê é um ser indefeso, incapaz da

auto sobrevivência, e necessita de uma figura constante para o estabelecimento

de vínculo, e que esta figura possa manter um contato afetivo mútuo, para que

assim, favoreça um bom desenvolvimento biológico, psicológico e afetivo.

Spitz (1979) ressaltou a importância do afeto na relação mãe-filho no

aparecimento e desenvolvimento da consciência do bebê e a participação vital

que a mãe tem ao criar um "clima emocional favorável", sob todos os aspectos,

ao desenvolvimento da criança. Para o autor, são os sentimentos maternos que

criam esse clima emocional que afere ao bebê uma variedade de experiências

vitais muito importantes por estarem "interligadas, enriquecidas e caracterizadas

pelo afeto materno".

Page 14: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

24

Tais experiências evidenciadas são essenciais na infância, pois, nesse

período, os afetos são de altíssima relevância, maior do que em qualquer outro

período posterior da vida, e nesta fase, já que o bebê não possui os aparelhos

sensórios, perceptivos e de discriminação sensorial não amadurecidos, do ponto

de vista psicológico, a atitude emocional da mãe, serve para orientar os afetos do

bebê e conferir qualidade de vida à sua experiência.

Partindo-se de uma base positiva deste pressuposto, o indivíduo tem a

oportunidade de lançar-se no mundo de forma criativa e desfrutar do que o mundo

tem a lhe oferecer, inclusive do legado cultural. Para ele, a mãe satisfatoriamente

boa deverá prover as necessidades básicas do filho, dar amor, principalmente na

forma de contato físico, compreender as manifestações individuais e atuar como

intercessora. Porém, esta mãe deverá lhe impor limites para que a criança possa

se estruturar de forma sólida, feito ao contrário, caso esta mãe, esta família, este

anseio, não lhe dê o suporte básico para as necessidades do filho, assim se

caracterizará o abandono.

O abandono, no entanto, é todo comportamento de descuido,

desatenção e negligência com estas necessidades básicas de carinho, atenção,

abrigo e afeto que devem ser oferecidas pela mãe e pala famílias em um contexto

geral.

As conseqüências deste abandono são extremamente graves, pois os

seres humanos para seu crescimento necessitam serem tocados afetivamente,

em contrapartida, como conseqüência, as crianças e os adolescentes futuramente

poderão gerar uma série de problemas de saúde, integração social, e não adquirir

recursos necessários para o enfrentamento da vida cotidiana, dificultando no

Page 15: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

25

estabelecimento de vínculo afetivo com outros, pois raramente terão estrutura

emocional para fazê-lo.

Rutter (1971), ressalta que o estresse causado pelo abandono causa

prejuízo psíquico e prejuízo na qualidade das relações. ZANNON (1981) vai de

encontro a essa vertente, afirmando que esses prejuízos não são causados

apenas com a separação da díade mãe/bebê, e sim levado em consideração todo

o seio familiar que permeia a relação desta criança.

Vivências traumáticas na infância, como o abandono e a perda de

vínculos afetivos, constituem importantes fatores associados à depressão na vida

adulta, pois a má elaboração do ato do abandono deixa sempre marcas.

(BALLONE, 2002).

2.1. 2 Sentimentos gerados na criança abandonada

Infelizmente os danos causados em conseqüência do abandono podem

ser manifestados em variadas etapas como forma de protesto, desespero e/ou

desinteresse. O abandono é considerado por Miller (1997) como um ato de abuso

infantil.

Trabalhando diretamente com crianças que sofreram este tipo de

abuso, é perceptível alguns sintomas que podem expressar os sentimentos da

criança em relação ao abandono. De acordo com Bowlby (1984), as crianças ao

se separarem da figura constante de afeto e/ou uma figura materna, demonstram

comportamentos tais como: choro constante e mal estar quando entra em contato

Page 16: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

26

com qualquer fator que a lembre o passado; busca ao cuidador ausente, o que

acontece consideravelmente em crianças de até um ano, pois estas sentem

bruscamente o ato da separação do seio materno; a criança passa a recusar

quaisquer tentativas de consolo por outras pessoas, onde nesses casos, a má

elaboração da perda da família biológica, dificulta que haja um processo de

adoção, e caso ocorra uma tentativa de inserção desta criança em qualquer

família, esta dificilmente se adaptará, até que ela realmente aceite o fato da

desvinculação com a família biológica, e da possibilidade de poder ser adotada;

embotamento emocional que pode ser manifestado por expressão de tristeza,

depressão, falta de interesse em atividades comuns, desorganização.

Ballone (2003) afirma que pode haver uma perda de hábitos e

conhecimentos já adquiridos, levando assim a uma regressão, como por exemplo:

fazer xixi na cama, falar de forma infantilizada, entre outros fatores. A criança

pode ficar seletiva, sendo indiferente a fatores recordações e figuras passadas;

mas por outro lado, pode também ter comportamentos favoráveis, demonstrando-

se extremamente sensível, carinhosa e amorosa.

Autores tais como Spitz, Robertson e Bowlby, desenvolveram estudos

sobre abandono, e discutem que além dos prejuízos psíquicos, as crianças

podem sofrer prejuízos físicos.

Spitz (1979), em um estudo sobre crianças privadas do meio familiar,

e posteriormente, estudando crianças em ambiente hospitalar, observou que em

ambos os casos havia luto precoce, devido à perda da figura maternal, com a qual

existia uma boa relação, que no caso poderia ser qualquer figura de afeto

constante, e traz neste estudo alguns efeitos nocivos do abandono, chamando-os

de Depressão Anaclítica, caracterizada por rigidez facial, em que a criança

Page 17: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

27

apresenta um olhar distante, inexpressivo, que reage freqüentemente com choro

agressivo e gritos. Segundo o dicionário de neuro ciências1, significa uma

depressão infantil precoce, representando um severo prejuízo no

desenvolvimento físico e psíquico das crianças vítimas de abandono e/ou

negligência com perda gradual de interesse pelo meio, perda de peso,

comportamentos estereotipados (tais como balanceios) e, eventualmente, até a

morte.

2.2 Adoção

A adoção é a forma legal e concreta para combater o abandono

recriando uma família àquela criança ou adolescente que perdeu sua família de

origem e ao mesmo tempo, oferece oportunidade ao adotante de exercer a

maternagem ou paternagem, realizando assim uma troca de afeto e de

aprendizagem contínua.

Verdier (1998 apud VARGAS 1998, p. 17) escreve que: “A filiação

adotiva é uma filiação legítima, com o mesmo status jurídico da filiação natural, é

uma realidade tanto social quanto psicológica”.

Segundo Freire (1994), a adoção é um processo afetivo e legal onde a

criança passa a ser filho de um único indivíduo ou de um casal, de forma a

complementar e somar na vida de ambos.

É importante ressaltar que quando um adotante se dispõe a adoção,

ele nunca adota sozinho. É necessário que a criança adote a família acolhedora

para que formem um bom vínculo afetivo (NIBLETT, 1994).

1 http://www.psiqweb.med.br/gloss/dicd.htm

Page 18: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

28

Adotar significa então tornar filho, pela lei e pelo afeto, uma criança que

perdeu ou nunca teve a proteção daquelas pessoas que a geraram.

Adoção é a inserção em um ambiente familiar, de forma definitiva e com a aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as normas legais em vigor, de uma criança cujos pais morreram ou são desconhecidos, ou, não sendo esse o caso, não podem ou não querem assumir o desempenho das duas funções parentais, ou são pela autoridade competente, considerados indignos para tal (DINIZ, 1994, p.13).

No Brasil vários tipos de adoção são consumados, porém, de acordo

com o ECA, nos art. 39 a 52, a adoção é quando é realizada através da Vara de

Infância e Juventude, como sendo a única forma admitida pela lei de uma pessoa

assumir legalmente um filho nascido de outra pessoa. Pode ser legalmente

realizada tanto a adoção nacional quanto adoção internacional.

A Adoção torna-se ato criminoso e ilegal, quando a genitora entrega o

filho diretamente aos adotantes, para depois recorrer à legalização,

caracterizando assim, a adoção intitulada de adoção pronta. No entanto a adoção

pronta, também, pode ser feita de modo legal, quando a genitora tem algum laço

afetivo com os supostos pais adotivos, então estes se dirigem à 1ª Vara da

Infância e Juventude para entrega legalizada da criança.

Outro tipo de adoção comumente realizada no Brasil é a chamada

adoção à Brasileira, conduta admitida como crime pelos art. 242 e 299 do Código

Penal, sendo esta, onde uma pessoa registra em seu nome, a criança como

sendo filho biológico.

Page 19: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

29

2.2.1 Histórico da Adoção no Brasil

De acordo com Camargo (2005), a história de adoção no Brasil

começou no ano de 1734, quando foi instalada na Bahia a primeira Roda dos

Excluídos, cópia de um modelo Europeu de abandono, que era usado para

crianças dadas como rejeitadas ou excluídas, e quem as deixasse na roda, era

mantido no anonimato. Nesta época, as misturas de raças ditavam as regras da

rejeição, e nem o Estado e a Igreja, assumiram a assistência aos pequenos

desamparados. Muitos órfãos embalados pelo giro da roda, eram mantidos por

uma assistência caritativa, protagonizada por instituições como a Santa Casa de

Misericórdia, a Casa Pia e o Colégio dos Órfãos de São Joaquim. A roda teve seu

fim por volta de 1.950.

Após a 1ª Guerra Mundial, a adoção tomou um rumo mais social, pois

era muito grande o número de órfãos e crianças abandonadas, em resposta à

guerra, e tornou-se um problema social digno de atitudes que eliminassem tal

problema.

O estado brasileiro só começou a despertar para a assistência as

crianças abandonadas, na virada do século XIX. Nas duas primeiras

Constituições do país, nada foi estabelecido para amparar crianças em situação

de abandono, a não ser que fosse vítima ou autor de um crime.

De acordo com Ferreira e Carvalho (2002), no ano de 1924, foi criado

o primeiro juizado de menores do Brasil. Três anos mais tarde, Melo de Mattos, o

primeiro juiz de menores do país, foi autor do pioneiro Código de Menores, mas

somente com a Constituição de 1988 as crianças e os adolescentes brasileiros

passaram a ser de fato pessoas com direitos.

Page 20: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

30

Por volta de 1941, foi oficializado a 1ª Agência de Colocação Familiar,

que seguiu de modelo as outras agências que foram espalhadas pelo Brasil,

sendo assim, logo surgiram leis para que estas crianças fossem inseridas nas

famílias de forma legalizada. Porém, após a 2ª Guerra Mundial, iniciaram os

incentivos para a adoção de crianças recém-nascidas. Nesse período surge um

pré-conceito, que pode ser encontrado nas pesquisas desenvolvidas por Weber,

Gagno, Cornélio e Silva (EBRAHIM, 2001).

Segundo esse estudo, a maior parte da população, até nos dias atuais,

evitam a adoção tardia, pois as pessoas têm medo que as características natas

do adotado não sejam tão boas, pois acreditam que pode existir influência de

comportamento e dificuldades posteriores na educação, o que ressalta o pré-

conceito. Nas pesquisas mais atuais realizadas na década de 90, foi verificado

que este pré-conceito do adotante brasileiro é um dos principais motivos de que a

maioria das crianças maiores (acima de três anos) vão para adoção internacional,

ou permanecem em abrigos até completarem a maior idade, ou serem

emancipadas (WEBER, 2001).

Sobre o medo das características natas, Bronfenbrenner (1992 apud

KREBS et.al., 2001) assegura que não há como levar em consideração apenas as

características natas pessoais, e sim o ambiente de convivência da qual a pessoa

está inserida.

A ecologia do desenvolvimento humano é o estudo da acomodação mútua e progressiva entre um ser ativo em crescimento, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos nos quais a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afetado por relações entre esses ambientes e pelos contextos maiores nos quais os ambientes estão incluídos (BRONFENBRENNER, 1992, p.188)

De acordo com a citação de BRONFENBRENNER, garante-se que não

serão apenas características natas que ditarão o modo de agir do adotado.

Page 21: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

31

Segundo o autor, o meio e as relações, construirão de forma continua as

características que o individuo levará consigo durante toda sua vida. Ao contrário

do que o autor nos coloca, muitos adotantes tem o pré-conceito quanto ao

comportamento nato do adotado. A criança e o adolescente necessitam de uma

base legal para se amparar e se proteger destes e outros pré-conceitos de acordo

com a lei, levando em consideração direitos e deveres a serem cumpridos.

Com isso, em 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), que assegura as crianças e aos adolescentes esses direitos e

deveres. O ECA prevê a formulação de políticas sociais a partir da articulação de

ações governamentais e não-governamentais. Conforme o Art. 88 garantindo a

participação popular na formulação das políticas e no controle das ações em

todos os níveis onde tornou-se possível a criação de Conselhos de Direitos,

Conselhos Tutelares e Fundos Financeiros e atribuiu novas funções ao Ministério

Público, a Defensoria Pública e à Justiça da Infância e da Juventude.

2.2.1.2 ADOÇÃO NA 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE CAMPO

GRANDE/MS

Algumas pessoas que chegam a esta Vara da Infância com inúmeras

dúvidas e pré-conceitos, no que se diz respeito a adoção. Muitos candidatos a

entrarem na lista de habilitação para adoção não distinguem de forma legal

adoção de “doação”. Para isso, é necessário reuniões explicativas, de modo com

que estes candidatos não cometam ato infracionário.

Page 22: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

32

Nessas reuniões se faz entender que a doação por meio de entrega

voluntária denotando falta de capacidade, cuidado e afeto dos cuidadores em

relação à criança ou adolescente, é feita por meio legal através da 1ª Vara da

Infância e Juventude e subseqüente haverá um processo de destituição destes

pais para que haja possibilidade de adoção, no entanto, quando a mãe abre mão

do seu filho para terceiros em troca de vantagens, esta “doação”, é qualificada

como um ato de crime.

As crianças que vão para adoção, são crianças vítimas de violência

doméstica, sexual, psicológica, abandono, negligência ou são crianças e/ou

adolescentes entregues espontaneamente por falta de recursos financeiros e

afetivos de seus pais.

Após a entrega da criança e/ou adolescente à 1ª Vara da Infância e

Juventude, elas ficam em um abrigo público ou privado, onde são entregues

mediante guarda, a pessoas confiadas, até que o processo de destituição seja

encerrado, e elas então, fiquem disponíveis a uma possível adoção.

Há alguns requisitos básicos para se adotar na 1ª Vara da Infância e

Juventude de acordo com a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, onde a pessoa terá

que ser maior de dezoito anos, independente do estado civil, porém deve ter no

mínimo dezesseis anos de diferença do adotado. O requerimento de adoção a

maiores de dezoito anos será realizado através da Vara de Família.

• Não poderá requerer a adoção pessoas que sejam irmãos biológicos ou avós

do preterido adotado, no entanto, estes podem adquirir a guarda ou a tutela do

infante.

Page 23: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

33

• O preenchimento do cadastro da adoção é um meio obrigatório para pessoas

que desejam adotar de forma legal. A pessoa (requerente) faz um pedido

perante o juiz da comarca, iniciando assim, todo um processo de habilitação.

• Neste processo, o requerente terá que preencher um requerimento inicial que

será fornecido pela 1ª Vara da Infância e Juventude e anexar alguns

documentos necessários exigidos, que são: certidão de casamento ou

comprovação de união estável (caso seja casado); certidão de nascimento;

comprovantes de residência e rendimento mensal; cópias da carteira de

identidade e do cadastro de pessoa física (CPF); certidão negativa dos

distribuidores criminais; outros documentos comprobatórios de sua aptidão

para adotar, incluindo fotos do seu ambiente familiar. Os documentos exigidos

devem ser recentes, não ultrapassando o máximo sessenta dias.

• Depois do recolhimento de todos os documentos, o requerente deverá

entregá-los no cartório distribuidor, e esperar que a equipe psicossocial haja,

marcando com este, entrevistas e visitas domiciliares. Aprovados, os

habilitados passarão a fazer parte de um cadastro de possíveis adotantes, que

é organizado por ordem de deferimento do processo de habilitação e terá

duração de dois anos.

• Independente da “colocação” que o habilitado estiver na organização do

cadastro se houver alguma criança que atenda os requisitos deste candidato e

não atenda os requisitos de candidatos anteriores a ele, a criança irá para

aquele que atender melhor os requisitos de solicitação. O processo de

habilitação para adoção é gratuito e não necessita de advogado, o

requerimento pode ser preenchido pelo próprio candidato.

Page 24: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

34

2.3 Projeto Adotar

Existem iniciativas no Brasil que visam melhorar o entendimento de

quem procura ingressar em um processo de habilitação para adoção, em

especial, o Projeto Adotar, que iniciou na Vara da Infância e Juventude de Campo

Grande-MS e atualmente, se estende em boa parte das Varas de Infância do

Brasil.

No Mato Grosso do Sul, se tem outro projeto de incentivo à adoção

chamado Projeto Padrinho, onde as pessoas maiores de dezoito anos podem se

cadastrar, escolhendo a idade e o sexo da criança pretendida, e apadrinhar uma

criança abrigada. Há três modos de apadrinhamento: afetivo, financeiro e

acolhedor.

No apadrinhamento afetivo, o cadastrado, leva a criança ou

adolescente para casa aos fins de semana, feriados e férias. Já no

apadrinhamento financeiro, o padrinho por meio de ajuda financeira ajuda o

“afilhado” com tudo que lhe couber ajudá-lo financeiramente, cursos, roupas,

podendo posteriormente arrumar um emprego a este afilhado. No

apadrinhamento acolhedor, a criança ou adolescente, fica sob guarda do padrinho

até que haja uma possível adoção ou a maioridade. Atualmente, o tipo de

apadrinhamento mais procurado no município de Campo Grande-MS é o

apadrinhamento afetivo.

Estes tipos de apadrinhamentos citados acima, provocam um vínculo

afetivo entre padrinhos e afiliados, o que torna possível a possibilidade de adoção

tardia nacional. Os padrinhos já afetivamente enlaçados por seus afiliados,

acabam por adotá-los após algum tempo de convívio.

Page 25: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

35

O Projeto Adotar é de fundamental relevância social, uma vez que tem

como objetivo, promover encontros com pessoas interessadas em adotar crianças

ou adolescentes, esclarecendo, sanando as dúvidas e dessensibilizando os

mesmos, de pré-conceitos e taxações, realizando assim, esclarecimentos gerais

sobre os processos de habilitação para adoção e motivando o maior número de

pessoas possíveis para a o processo adotivo. Seu objetivo principal é sensibilizar

pessoas para a possibilidade de adoção de crianças/ adolescentes em situação

de abrigo, viabilizando a adoção tardia e promovendo a troca de experiências

entre os participantes.

Como conteúdo primordial, visa esclarecer a quem quiser se habilitar

no cadastro de adoção, os conceitos básicos para adoção; leis que dirigem o

papel do adotante e do adotado, bem como as fases e burocracias para se chegar

a uma habilitação; histórias de crianças institucionalizadas; desmistificação de

mitos sobre o assunto; discussão de dúvidas e relato de experiências.

O histórico aqui apresentado sobre o Projeto Adotar, foi baseado no

projeto apresentado para autoridades do Fórum de Campo Grande, para

obtenção da aceitação deste. Não há livros que possam ser citados, porém, tanto

o Projeto Padrinho, quanto o Projeto Adotar, estão com emendas disponíveis para

população no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, e ambos os projetos

podem ser esclarecidos através da equipe psicossocial das Varas de Infância no

Fórum de Campo Grande.

O Projeto Adotar foi criado em 14 de agosto de 2002 na Comarca de

Campo Grande-MS, e vem sendo desenvolvido pela equipe interdisciplinar da 1ª

Vara da Infância e da Juventude. Foi motivado a partir da necessidade de falar

Page 26: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

36

sobre adoção, sobre o direito da criança/ adolescente ter uma família e da

necessidade de agilizar o trabalho da equipe.

É debatida nos encontros do Projeto a motivação de cada um dos

participantes em adotar. As reuniões têm como metodologia dinâmicas de grupo,

onde nessas dinâmicas, é feita a apresentação de cada um dos participantes e a

exposição de temas que envolvam adoção e a legislação vigente, para que haja

maior conscientização dos participantes de modo a não cometerem atos não

legais, tais como a adoção a brasileira. Posteriormente, um debate e discussão

sobre dúvidas geradas no encontro e a entrega da relação da documentação

necessária para o processo de habilitação e formulário de requerimento.

Os encontros do Projeto acontecem uma vez por mês, sempre na

última quarta-feira do mês. A cada encontro uma assistente social e uma

psicóloga recebem as pessoas interessadas na adoção, orientando e

esclarecendo sobre os processos de habilitação e de adoção. A participação no

Projeto Adotar é um pré-requisito do processo de habilitação e o interessado

poderá participar de quantos encontros se sentir motivado.

2.3.1Preparação dos adotantes da 1ª Vara da Infância e Juventude de

Campo Grande/MS

Antes de qualquer criança ser entregue ao estágio de convivência da

adoção, onde este se refere ao período de um mês que a criança fica sob guarda

do (s) requerentes, com o total vínculo e apoio da equipe técnica da 1ª Vara da

Infância e Juventude, ela tem todo um preparo especial para esta fase tão

Page 27: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

37

desejada. A criança geralmente não está “pronta” psicologicamente para se

adequar aos novos costumes de uma família estruturada, visto que, ao longo de

seus anos, geralmente desconhece esta estrutura.

Para uma adoção nacional, a criança e/ou adolescente passa por uma

série de conversas e entrevistas, pelas quais é possível identificar qual o modelo

de família que ela espera, os desejos dela em relação a adoção, e o que ela

espera dos novos cuidadores. Com isso, trabalhamos este infante com os

sentimentos de frustração, logo com a ansiedade da mesma decorrente da espera

pelo momento da recepção da nova família.

Em uma adoção internacional, o período pré-adotivo requer um pouco

mais de cuidado, haja vista que, uma vez indo para o exterior, esta criança

romperá definitivamente os vínculos com esta Vara, e qualquer problema que

ocorra posterior ao estágio de convivência, terá que ser resolvido com todas as

dificuldades pertinentes a costumes e língua diferentes. Para tanto, é importante

que as crianças recebam uma preparação desde o hotel que passarão o estágio

de convivência com os novos “pais”, até com o tipo de comida que terão que se

habituar em comer.

Passos de uma preparação da criança em uma adoção internacional:

As crianças virão á 1ª Vara da Infância e Juventude, e inicialmente

começam as entrevistas e a preparação na sala lúdica. Posteriormente, a equipe

técnica passa a visitar a instituição de abrigo, onde a criança reside, para que a

mesma faça uma primeira aproximação com o dossié dos requerentes, isto é,

com a história e as fotos enviadas por eles.

Sendo assim, a criança é levada para conhecer o hotel, muitas vezes,

a equipe terá que apresentar a ela o que é um hotel, então, esta conhecerá o

Page 28: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

38

quarto que irá ficar com sua família, para que não haja espanto ao chegar nele

apenas no estágio de convivência. Posteriormente, a criança é levada ao

aeroporto para conhecer de perto o que é um avião, e se habituar a fatos, como:

fazer o chek-in e pegar a mala na esteira quando o avião desembarcar.

O último passo é levar a criança a um piquenique para conhecer

algumas comidas que irão fazer parte das refeições diárias.

2.3.2 Critérios utilizados pela equipe para habilitação na 1ª Vara da

Infância e Juventude de Campo Grande-MS

A equipe técnica da 1ª Vara da Infância e Juventude tem como base

essencial o método de entrevista, sendo que por meio deste pode-se analisar de

forma ampla o candidato, pois é na entrevista, que o candidato acaba revelando

suas situações relacionais, familiares, e sentimentos, podendo também encadear

pelo discurso, desejos inconscientes a ele subjacentes.

Na entrevista, o candidato é questionado sobre sua infância,

adolescência, contato relacional familiar e social desde pequeno até o atual

momento, e se casado e /ou com filhos, será questionado sobre a vida conjugal e

relacionamento do casal com os filhos, porque a história pessoal e familiar dos

candidatos e a história do romance do casal pode revelar elementos significativos

sobre a dinâmica familiar e conjugal. A duração e a estabilidade dos vínculos é

fundamental ser levantada pelo fato de ter uma percepção do nível de tolerância

mantida pelo candidato nas suas relações, levando em consideração também a

sua tolerância a frustrações.

Page 29: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

39

É realizada uma coleta de dados a respeito da motivação do candidato

em adotar, os desejos e como este candidato dentro do seu contexto familiar e

social encara o fator adoção, levando em consideração como se dirigirá ao filho

adotivo, e qual atitude terá frente a questionamentos posteriores feitos pela

família, sociedade ou da própria criança, averiguando igualmente se há ou não

rigidez nos valores

“Trata-se, sempre, de encontrar uma família adequada a uma

determinada criança, e não de buscar uma criança para aqueles que querem

adotar”. (BECKER, 2002, p. 150)

Os mitos e crenças do candidato à habilitação, serão desmistificados

ao passo que este terá obrigatoriamente que fazer parte das reuniões do Projeto

Adotar, a fim de clarear e resolver tais questionamentos e dúvidas.

2.4 Causas que levam a adoção

Há inúmeras causas que podem levar um ser humano a pensar na

adoção. Uma delas é o fato de que ao amadurecer, todo ser humano passa a ter

níveis de responsabilidade sociais, e um destes níveis é o ato da procriação, onde

este se sente na obrigação social e familiar de passar de geração em geração os

costumes, hierarquia, crenças, valores além da crença hereditária.

Woiler (1987) relata que ter um filho é, a priori, não morrer, o que

Berthoud (1992) define como "desejo de continuidade". Desejo este de não

estancar a geração por conta da infertilidade, e sim continuar os laços parentais

por muitas outras gerações, porém, esta luta contra a impossibilidade de gerar a

continuidade de laços sanguíneos, pode envolver tanto as saudáveis sublimações

Page 30: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

40

implicando nas possibilidades de elaboração e relacionamento com outros objetos

(que não o objeto perdido, no caso a infertilidade ou a perda de um filho), como as

regressões mais arcaicas que segundo Woiler (1987), se definem como

sublimação e defesa do papel parental. Sendo assim, o ser humano se depara

com o fato da própria luta contra a morte.

Neste caso, é importante que o luto da perda, tanto a perda de um filho

quanto a perda da fertilidade natural, seja muito bem elaborado, pois segundo

Savage (1989), a capacidade de restabelecer-se da perda simbólica, aliada à

aceitação da perda real que aumenta a capacidade que se tem de apegar-se de

novo, para que a adoção não apareça como possibilidade de substituição, e

portanto, ser possível uma adoção bem sucedida.

A vontade pode desconhecer o desejo, nega-lo, caricatura-lo, às vezes, revela-lo. Além disso, uma vontade de ter uma criança deve, obrigatoriamente, compor-se com a vontade de pelo menos um outro; ela está alienada nesse jogo de ressonâncias da linguagem entre seres desejantes (CHATEL,1995).

Segundo Garma et.al. (1985 apud WOILER, 1987), dependendo do

nível de elaboração da perda, definida por ele como "ferida narcísica”, a posição

dos pais em relação aos filhos adotivos tomará rumos diferenciados, pois o nível

de elaboração das angústias também será diferente, por exemplo, o filho por

adoção de pais que perderam filhos biológicos poderá vir a ser substituição pelo

objeto perdido.

Um dado comumente observado nas inscrições de candidatos

nacionais à Habilitação para adoção é que, para a população de baixa renda, a

adoção emerge como uma boa opção logo que se constata a impossibilidade de

uma gravidez, pois ao perceberem os altos custos dos tratamentos ou as

intermináveis filas de espera em hospitais públicos, decidem, sem muito

Page 31: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

41

questionar, o projeto da adoção que quase sempre desponta como um dos

últimos recursos. Porém, à população de classe média alta, resta a possibilidade

de um longo histórico de tratamentos médicos e à utilização de diferentes

métodos de fertilização assistida, e após esgotada todas as probabilidades

possíveis e imaginarias para uma gravidez natural, aparece o recurso da adoção

Page 32: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

42

3.0 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Propiciar encaminhamento satisfatório no processo de adoção,

apontando não apenas a solução Legal, mas também apoio no enfrentamento das

questões que a seguem, tal como, orientar as crianças que passam por este

processo.

3.2 Objetivos Específicos

• Acompanhar pessoas que participaram das reuniões do Projeto Adotar

desde 2002, a fim de quantificar quantas pessoas se habilitaram após

participarem destas reuniões, e destas, quantas adotaram;

• Realizar a preparação de crianças que serão entregues a adoção tanto

nacional, quanto internacional.

• Acompanhar as entrevistas psicológicas dos candidatos a habilitação, com

o objetivo de estabelecer um informe psicológico dos pretendentes à habilitação;

Page 33: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

43

• Fazer juntamente com a da Assistente Social do setor, visitas domiciliares

aos pretendentes da habilitação para adoção, a fim de averiguar as condições

sociais destes pretendentes em receber uma criança e/ou adolescente;

Page 34: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

44

4.0 METODOLOGIA

Os métodos utilizados para realização e finalização desta monografia,

foram os métodos de pesquisa bibliográfica e pesquisa quantitativa e informativa,

referentes aos dados exemplificados do Projeto Adotar.

4.1 Local

• Primeiramente visitamos os abrigos governamentais não-governamentais;

• Trabalhamos toda a parte de entrevistas, pesquisa e do Projeto Adotar na 1ª

Vara da Infância e Juventude no Fórum Heitor de Medeiros situado na rua Da

Paz,14 em Campo Grande-MS;

4.2 Participantes

• Crianças e adolescentes em situação de abrigamento;

• Participantes do Projeto Adotar;

Page 35: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

45

4.3 Procedimento:

Foi realizado um primeiro contato com a equipe técnica e com os

processos da 1ª Vara da Infância e Juventude, de modo a ter maior compreensão

dos casos que esta Vara recebe. Após esta identificação, entrevistas foram

marcadas, de acordo com a entrada da remessa dos processos.

Com a chegada dos requerentes no dia e hora marcada pela psicóloga

do setor, dá-se início às entrevistas psicológicas para avaliação do perfil

psicológico de adotantes, familiares e crianças a serem adotadas. Assim

encerradas, espera-se a disponibilidade da assistente social do caso, para que

seja feita a visita domiciliar de caráter investigatório. Relacionando os dois

aspectos, psicológico e social, e iniciado um estudo de caso com a equipe

interdisciplinar, faz-se a elaboração do relatório conclusivo psicossocial.

No caso de adoção, é necessário que se faça visitas regulares aos

abrigos, para preparação emocional daquela criança ou grupo de irmãos que será

adotado.

Em relação à pesquisa quantitativa realizada, foi necessário a

participação no Projeto Adotar, de modo a conhecer e ter acesso ao livro ponto do

projeto para iniciar a estatística para fins de pesquisa informativa do número de

participantes em relação à crianças destituídas. Estudos quantitativos sobre as

reuniões do Projeto Adotar foram feitas mensalmente desde o ano de 2002 até

fevereiro do ano de 2006.

4.4 Instrumentos

• Vídeo, para reuniões do Projeto Adotar;

• Carro, para locomoção até os abrigos, e para visitas domiciliares;

Page 36: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

46

• Papel Sulfite A4 ;

• Lápis grafite;

• Borracha branca;

• Caixa Ludoterapica;

• Computador;

• Disquete;

Page 37: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

47

5.0 RESULTADOS

Pesquisas realizadas pos Vargas (1998), já apontam as expectativas

mencionadas na pesquisa informativa do ano de 2006 realizada para os fins desta

monografia. Tais pesquisas apontam que a maioria dos habilitados à adoção

nacional, almeja crianças recém nascidas, brancas e do sexo feminino.

A adoção tardia acima de três anos de idade, na 1ª Vara da Infância e

Juventude de Campo Grande-MS, é finalizada na maioria das vezes através da

adoção internacional, bem como as de crianças não brancas, portadoras de

algum tipo de deficiência e grupos numerosos de irmãos.

Enquanto a pesquisa sobre cadastrados a habilitação em adoção era

realizada, aconteceram duas adoções de grupo de irmãos em adoção

internacional, sendo o primeiro grupo com cinco irmãos com idades de um à sete

anos, e o segundo grupo de dois irmãos com idades respectivas de quatro e seis

anos.

Page 38: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

48

A adoção internacional foi escolhida para estes dois grupos, pelo fato

de não haver candidatos brasileiros devidamente habilitados para adoção dos

infantes. Seria possível a adoção nacional apenas para a infante de um ano de

idade pertencente ao primeiro grupo de irmãos, no entanto, é entendido que se o

grupo de irmãos tiver que ser separados, as famílias deverão residir pelo menos

no mesmo país, para que os irmãos mantenham contato e não percam o vínculo

entre eles.

A pesquisa quantitativa realizada se refere ao Projeto Adotar desde

2002 até fevereiro de 2006. Esta pesquisa revela com clareza os aspectos

pertinentes ao Estado de Mato Grosso do Sul, mais especificamente na comarca

de Campo Grande, abordando quantas pessoas até o momento participaram do

projeto, que é requisito primordial para iniciar um processo de habilitação, e

destes, quantos entraram com o pedido de habilitação, e dos que entraram

quantos entraram com o pedido do processo de adoção.

1 . Nº. DE PARTICIPANTES QUE FREQUENTARAM O PROJETO ADOTAR

DESDE O SEU INÍCIO EM 2002 ATÉ FEVEREIRO DE 2006.

• 152 participantes

2 . Nº. DE PARTICIPANTES DO PROJETO ADOTAR QUE ENTRARAM COM O

PEDIDO DE HABILITAÇÃO:

• EM 2002: 27 participantes

• EM 2003: 42 participantes

• EM 2004: 38 participantes

• EM 2005: 28 participantes

• EM 2006: 05 participantes

Page 39: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

49

• TOTAL GERAL DE PARTICIPANTES QUE ENTRARAM COM O PEDIDOS

DE HABILITAÇÃO :

• 140 participantes.

3%

31%27%

20%

19%

20022003200420052006

3 . DESTES QUE ENTRARAM COM O PEDIDO DE HABILITAÇÃO, QUANTOS

ENTRARAM COM O PEDIDO DO PROCESSO DE ADOÇÃO:

• 72 participantes.

8%

47%

92%

ENTRARAM COM O PROCESSODE HABILITAÇÃOENTRARAM COM O PROCESSO DE ADOÇÃONÃO ENTRARAM COM NENHUMTIPO DE PROCESSO PROCESSO

Page 40: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

50

6.0 DISCUSSÃO

Das pessoas que participaram do Projeto Adotar, 92% entraram com o

pedido de habilitação. Destas, 47% já ingressaram com o pedido de adoção de

criança, isto é, já estão com guarda pré-adotiva de criança entregue pela 1ª Vara

da Infância.

No mês de maio deste ano, havia 46 crianças liberadas para adoção,

sendo que destas 29 estão em guarda pré-adotiva e as 17 restantes, que ainda

encontram-se abrigadas, são crianças com idade superior a sete anos.

De todos os indivíduos participantes, foi observado pelo cadastro para

adoção, que a pretensão dos mesmos é em adoção de crianças abaixo de dois

anos, do sexo feminino da cor branca ou parda, o que vai de encontro com os

estudos de EBRAHIM 2001, quando sugere inúmeros pré-conceitos dos

adotantes em relação às crianças acima de três anos. EBRAHIM,2001 afirma que

a população adotante evita a possibilidade de adoção tardia por medo das

características natas da criança ou do que elas possam ter adquirido de hábitos

ruins até aquela idade, o que remete a estas crianças ditas “velhas demais” a

opção de adoção internacional, inclusive, muito bem aceita em nosso Estado.

Page 41: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

51

Logo a pesquisa realizada por Weber (1996) acusa um perfil de

adotado assim correspondente à pesquisa neste trabalho realizada, onde 69%

tem preferência por bebês até três meses de idade, 60% do sexo feminino e 64%

de pele clara .

Page 42: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

52

7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados apresentados nesse Trabalho de Conclusão de

Curso, além do referencial bibliográfico para o embasamento da realização do

estágio, foi possível detectar que além de preocupações relacionadas ao ato de

adotar, há possibilidades muito positivas referentes a esta abordagem.

Preocupações são inerentes a todo ato novo, no entanto, em relação

ao ato de adotar, verificamos que há muitos mitos ainda a serem desmistificados

e esclarecidos à população. Tomaremos como exemplo, o fato da pesquisa

quantitativa aqui demonstrada mostrar resultados tão absurdos, tais como as

Page 43: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

53

questões de gênero relacionadas ao estudo. Nesta pesquisa, foi possível verificar

a falta de oportunidade de crianças abandonadas maiores de dois anos, pardas

ou negras e do sexo masculino, em relação à adoção nacional.

Nestes dois últimos anos, trabalhando no Tribunal de Justiça, em

lugares diferentes, porém correlacionados, pude crescer como estudante e

aprofundar meus conhecimentos como profissional da área de Psicologia, pois na

1ª Vara da infância e Juventude do Fórum desta comarca, os processos chegam

a causar impacto depressivo, já que estar em contato com as história das

crianças que sofrem qualquer tipo de violação exige boa estrutura emocional do

profissional da área. Estrutura esta, que se abalou no primeiro instante, porém, se

reconstruiu com a firmeza de uma rocha, a fim de me dar subsídios emocionais

para fazer além de bons relatórios, boas escolhas.

Por outro lado, é maravilhoso reconhecer que há pessoas capazes de

fazer tais crianças se sentirem felizes, e, em um lar familiar saudável e protegido,

sendo em família substituta, ou em um lar abrigo.

Durante todo o estágio realizado no Fórum de Campo Grande – MS,

houve a necessidade de levantar dados que possam embasar de modo científico,

tanto os prestadores de serviço do meio, quanto a quem procura ingressar em um

processo de habilitação, enfatizando estatística de pretendentes a adoção, de

modo a tentar contribuir para redução do número de crianças abandonadas. O

estudo também promoveu a aceitação das crianças em relação à adoção, bem

como orientação jurídica e emocional para pessoas habilitadas.

Na questão jurídica, foram prestadas informações aos pretendentes à

habilitação com o intuito de que eles não cometam negligências, por conta do

sonho de um dia adotar, associado à ansiedade da espera na “fila” de habilitados,

Page 44: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

54

negligências estas, tais como adoção à brasileira, muito comum em nosso País.

Para tanto, Weber (2001) afirmou que a maioria dos conceitos errôneos

sobre adoção, poderiam ser esclarecidos através de campanhas, publicações,

folhetos, cursos e outras estratégias que visassem simplesmente maiores

informações sobre o tema, sendo assim, foi discorrido sobre o Projeto Adotar,

pois este, se torna essencial para alcançar os objetivos e esclarecimentos de

questões relativas à adoção para a sociedade, e para as crianças e adolescentes

que estão à espera deste momento.

Page 45: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

55

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV: manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais. 4.ed. Washington D.C., BERTHOUD, Cristiana Mercadante Esper. Filhos do coração: O comportamento de apego em crianças adotivas. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992. BOWLBY, J. Separação: da trilogia apego e perda. São Paulo: Martins Fontes, 1984. _____. Apego e Perda. São Paulo: Martins Fontes, 1990. BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. Coordenadoria de Desenvolvimento de Programas e Projetos. Brasília, p. 9-23, 1990.

BRONFENBRENNER, U. Ecological systems theory. London: Jessica Kingsley Publishers, 1992.

BUSSAB, V. S. R. Fatores hereditários e ambientais no desenvolvimento: a adoção de uma perspectiva interacionista. Psicologia Reflexão Crítica, Porto Alegre, v.13, n. 2, p. 233-243, 2000. Disponível em: www.scielo.br CAIXEIRO, N. C. A arte de amar. 5. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1966. CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. CHATEL, M. M. O mal estar na procriação. Rio de Janeiro: Campo Matêmico, 1995.

CREPALDI, M. A. Os efeitos do abandono para o desenvolvimento psicológico de bebês e a maternagem como fator de proteção. Estudos de Psicologia, Campinas, v.21, n.3, p.211-226, 2004.

DOLTO, F. Sexualidade Feminina. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

EBAHIM, S. G. Adoção tardia: alturismo maturidade e estabilidade emocional. Psicologia Reflexão Crítica, Porto Alegre, v. 14, n.1, p. 73-80, 2000. FREIRE, F. Abandono e Adoção: contribuições para uma nova cultura da adoção. Curitiba: Terres des Hommes, 1991. GONÇALVES, H. S. et al. Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: editora Nau, 2005,99-157.

Page 46: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

56

HUNZIKER, M. H. L. O desamparo aprendido revisitado: estudos com animais. Psicologia Teoria e Pesquisa. Brasília, v. 21, n. 2, 2005, Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 02 Outubro 2006. ITO, L. M. Cognitivo comportamental para transtornos psiquiátricos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

KALOUSTIAN S. M.; FERRARI, M. Família brasileira, a base de tudo. Brasília: Cortez-Unicef, 1994.

MILLER, A. O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. São Paulo: Summus. 1997. OLIVEIRA, B. R. G.; COLLET, N. Criança hospitalizada: percepção das mães sobre o vínculo afetivo criança-família. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 5, 1999. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 02 Outubro 2006. ORIONTE,I.; SOUZA, S. M. G. O significado do abandono para crianças institucionalizadas. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 11, n. 17, p. 29-46. 2005. PILOTTI, F.; RIZZINI, I. A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. Rio de Janeiro: Amais, 1995. SAWAIA, B. B. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2001.

SOUZA, S.; RIZZINI, I. Desenhos de família – Criando os filhos: a família goianiense e os elos parentais. Goiânia: Cânone Editorial, 2001.

VARGAS, M. M. Adoção Tardia : da família sonhada à família possível. São Paulo: Casa dos Psicólogos, 1998.

Weber, L. N. D. Pais e filhos por adoção no Brasil: características, expectativas e sentimentos. Curitiba: Juruá, 2001.

_____; KOSSOBUDZKY, H. Filhos da solidão: institucionalização, abandono e adoção. Curitiba: Governo do estado do Pará, 1996.

WINNICOTT, D. W. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

ZANNON, C. M. L. C. O comportamento de crianças hospitalizadas e a rotina hospitalar: subsídios para atuação do psicólogo junto à equipe de pediatria. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1981.

Page 47: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

57

ANEXOS

Exemplo de casos que ocorrem em Campo Grande-MS

Alguns mitos questionados sobre adoção e as respostas designadas a

eles, formulado por Luziclaire Sanches Colnaghi da Silva, psicóloga jurídica da 1ª

Vara da Infância e Juventude de Campo Grande/MS:

1º Mito sobre adoção:

É verdade que todo filho adotivo mais cedo ou mais tarde, dá problemas?

Nenhum pai ou mãe, adotivo ou biológico, pode afirmar com segurança que seu

filho jamais apresentará um problema físico, psíquico ou comportamental. Ser pai

e ser mãe é estar disponível para viver um amor que desafia, incondicional.

2º Mito sobre adoção:

Dizer que “está no sangue” para a criança adotada que apresenta algum

problema (e que qualquer criança poderia apresentar) é uma forma confortável

dos adultos explicarem o que não compreendem ou não conhecem para tentar

ajudar a criança na solução do problema.

O fato de se ter o mesmo sangue não garante sucesso da relação, porque o amor

verdadeiro se conquista no dia-a-dia.

A única coisa que “está no sangue” é a necessidade de toda criança ou

adolescente tem de receber amor e proteção.

Page 48: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

58

3º Mito sobre adoção:

Mas será que eu vou conseguir amar um filho que não nasceu da minha barriga?

É preciso lembrar que o filho ideal, quase sempre, é diferente do filho real, seja

ele biológico ou adotivo. Os verdadeiros vínculos afetivos e familiares não se

transmitem pelo sangue. São construídos pela convivência, dedicação e

cuidados.

O filho gerado na barriga também precisa ser gerado no coração, é esse

sentimento que faz alguém se tornar pai e mãe de verdade.

4º Mito sobre adoção:

Mas se quando crescer a criança quiser procurar sua mãe “de verdade”?

Pai e mãe verdadeiros são aqueles capazes de criar vínculos de afeto com seus

filhos, biológico ou não, são pessoas capazes de amar e dar as condições

necessárias para que o filho cresça e se realize como pessoa.

Os pais adotivos devem encarar com naturalidade o desejo do filho em conhecer

sua família biológica, para construir internamente sua própria história.

5º Mito sobre adoção:

Toda mãe que entrega um filho em adoção é má?

Vamos refletir: há muito mais dignidade na mãe que entrega seu filho para

adoção do que naquela que fica com ele e o maltrata ou o explora.

As mães que entregam um filho em adoção precisam de ajuda e não de críticas.

Na verdade o ato de entregar uma criança, que não pode ou não deseja criar,

permite que ela seja acolhida em uma outra família, que vai tê-la como filho. É

um ato de amor.

Page 49: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

59

6º Mito sobre adoção:

Para adotar é preciso ser rico?

De forma alguma. Basta ter condições de oferecer assistência material e

educacional à criança ou adolescente, tais como:habitação, alimentação,

escolarização, vestuário, assistência à saúde e orientação religiosa. Além de um

lar onde exista um ambiente sadio e benéfico ao desenvolvimento da criança ou

do adolescente.

Adoção não é ato de bondade ou caridade. Na adoção não basta uma nova

família, uma boa casa e escola. É fundamental que a criança ou o adolescente se

sinta acolhida e amada, sinta que é alvo de investimento afetivo, e que é aceita

incondicionalmente com o seu passado.

A adoção permite à família a maternagem e a paternagem conscientes.

A adoção precisa ser uma oportunidade para todas as crianças que dela

necessitam, na garantia de um de seus direitos fundamentais: “O direito à

convivência familiar e comunitária.”

Page 50: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

60

ESTUDO DE CASO

NOME: D.;J.;C.

NÚMERO DE IRMÃOS: TRÊS (abrigados há um ano , separadamente)

Trata-se de uma prole de três irmãos, onde houve abandono por parte

dos genitores. A mãe os abandonou quando a menor das crianças tinha apenas

dois meses de idade. O infante foi separado da mãe enquanto ainda era

amamentado no peito, o que fez com que o vínculo entre as eles se rompesse de

forma bastante agressiva para o menor.

As crianças eram mantidas sob forma de abusos físicos, negligência

social e emocional. No primeiro momento após o abrigamento, buscou-se junto

aos genitores a reintegração familiar, sendo os resultados insatisfatórios, pois o

casal não apontou nenhum interesse em ficar com as crianças, alegando

dificuldade para criá-las.

A equipe técnica conseguiu após várias tentativas unir os irmãos em

um só abrigo, pois estavam em dois abrigos diferentes, o que trouxe um resultado

positivo em relação ao vínculo. Observamos que após o abrigamento nessa

instituição, as crianças demonstraram excelente desenvolvimento psicossocial.

Trata-se de adoção do grupo de três irmãos, que estão sendo adotados

por dois casais estrangeiros, porém ambos casais fizeram o compromisso de

manter contato entre eles, pois os irmãos possuem forte vínculo afetivo.

No momento de formular um parecer sobre a adoção destes irmãos,

houve muito estudo por parte da equipe no sentido de evitar o máximo possível à

separação definitiva, pois o vínculo entre todos é muito forte e positivo. A escolha

Page 51: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

61

dos casais foi feita levando em consideração o fato deles morarem no mesmo

país e na mesma região. Não havia nenhuma família habilitada para ficar com

todos conjuntamente, daí a separação, e a possibilidade de adoção nacional foi

severamente descartado pelo fato de haver candidato habilitado apenas para C.,

à criança mais nova do grupo.

Durante o período pré-adotivo, houve um trabalho intenso da equipe,

com auxílio das estagiárias de psicologia, no sentido de preparar as crianças para

a adoção. As crianças receberam o acompanhamento psicológico de preparação

para a adoção: foram levadas ao hotel onde ficariam hospedadas juntamente com

o casal requerente, conheceram também o aeroporto de onde iriam partir com o

casal, participaram de piquenique com as estagiárias de Psicologia e receberam

informações e fotos sobre as futuras famílias.

Os funcionários do abrigo também foram orientados sobre o processo

de preparação das crianças para adoção e colaboraram muito nessa fase. Os

casais, orientados pela equipe, encaminharam presentes, álbuns de fotos e

cartinhas para os futuros filhos, falando da expectativa e da motivação para tê-los

como filhos.

Na data da entrega das crianças foi realizada entrevista no setor

psicossocial, com as famílias requerentes à adoção do grupo de irmãos, ocasião

em que repassamos ao casal o histórico de vida dos irmãos. Os requerentes já

haviam recebido e lido os relatórios com o perfil psicológico de cada uma delas,

acompanhado de fotografias. Durante a entrevista, os casais receberam da

equipe técnica todas as informações sobre o histórico das crianças, bem como,

tiveram respondido todas as suas dúvidas.

Page 52: NATÁLIA ZAMBIANCO DE FIGUEIREDO VASCONCELOSnewpsi.bvs-psi.org.br/tcc/48.pdf · de Campo Grande-MS para habilitar um candidato na lista de pretendentes à adoção. O tópico seguinte,

62

Aos casais foram passadas informações importantes sobre todas as

fases do estágio de convivência e suas respectivas vicissitudes, pelas quais

poderiam passar, situações essas inerentes ao processo de adoção de grupo de

irmãos. Observamos que os casais se mostraram receptivos para respeitar todas

essas fases.

Durante o estágio, o trabalho da equipe técnica consistiu na realização

sistemática de visitas, entrevistas com o casal e com as crianças em tela,

momentos em que foram realizadas todas as orientações pertinentes, sempre

respeitando as peculiaridades de cada criança e o momento que estava

vivenciando.

Com relação aos pais biológicos, fizemos intervenções individuais junto

às três crianças no sentido de verbalizarem, através de dramatização, tudo que

gostaria de dizer aos seus genitores, momento este muito importante para a

elaboração da perda e abertura para uma nova vida junto aos adotantes, esta

técnica agiu como uma autorização interna para D. receber a nova família.

As crianças apresentaram boa receptividade aos casais, e o estágio de

convivência fluiu com naturalidade e respostas positivas em relação à integração

familiar.