1
10 Agentes Indígenas de Manejo Ambiental - AIMAs APOIO REALIZAÇÃO Organização: Aline Scolfaro (ISA) e Renata A. Alves (ISA). Elaboração de mapa: Renata A. Alves. Pesquisas, mapeamentos e texto: Euclides Lemos Pereira (Aima) e Cledson Moreira Costa (Aima). Desenhos: Adonilson F. Castilho (Ipanoré); Dênio M. Rodrigues (Taracuá); Euclides L. Pereira (Tapira Ponta); João Carlos O. Gama (Matapi); Larissa M. Duarte (Taracuá); Silvaldo Navarro da Silva (São Pedro); Valdir C. Aguiar (Cunuri). Colaboradores da comunidade: Tarcisio Pereira; Paulo Alves Miranda; Mateus Gonçalves Alcântara; Geraldo Azevedo Pereira; Maria Lopes Fernandes; Leliane Fernandes Pereira; Arlete Azevedo Pereira; Reginaldo B.; Lucicleia Pimentel; Antônia F. Pereira; Vitorino da Silva Pereira; Pedro Pablo; Maria Aparecida; Maria de Fátima B. da Silva; Francisco A. Silva; Ediogles Castro; Armando P. Pereira; José Maria L. Dasa; Oziel P. de Oliveira; Ezequiel F. Pereira; Maria Pimentel; Zeca Azevedo Pereira; Anastácia da Silva. Outros colaboradores: Denivaldo Cruz da Silva (Funai); Pieter Van Der Veld (ISA); Raphael Rodrigues (Ufscar). Edição de conteúdo (mapa e texto): Aline Scolfaro. Design gráfico: Roberto Strauss. Fontes: Base Cartográfica dos limites políticos, hidrografia e sedes municipais (IBGE, 2015); Terras Indígenas (Instituto Socioambiental, 2015); Vegetação de fundo (http:arcgis/rest/services/Terrestrial_Ecosustems_Reference_Tiled/MapServer, 2015) e Mapeamento Participativo das comunidades do Baixo Uaupés (FOIRN/ISA/FUNAI, 2014 a 2015). Terra Indígena Alto Rio Negro São Gabriel da Cachoeira A comunidade Tapira Ponta, ou Monte Cristo, como também é conhecida, está localizada na margem direita do rio Uaupés, bem próxima à sua foz, onde este deságua no rio Negro. Os mais velhos que conhecem as histórias dizem que antes dos nossos antepassados chegarem nesse território a área estava ocupada por grupos da etnia Coewano, vindos da Colômbia. No início do século XX chegou na área o senhor Antonio Velásquez, também vindo da Colômbia, com objetivo de trabalhar a extração de látex nos seringais da região. O mesmo casou-se com uma mulher desana chamada dona Maria Fernandes e eles tiveram sete filhos. Um deles foi o Cesário Velásquez, que nasceu em 1928. Ele casou-se com dona Elza Brasão, da etnia Baré, e teve seis filhos. Na década de 1970 o senhor Cesário Velásquez re- solveu morar definitivamente na região, fundando o sítio chamado Tapira Ponta. Em 1975 o sítio passou a ser comunidade, com a permanência de famílias que vinham chegando de outras partes da região dos rios Uaupés e Papuri. Em 1984 a comunidade decidiu eleger o primeiro líder. Em 2015, segundo levantamento que realizamos, 17 famílias viviam em Tapira Ponta, num total de 116 pessoas. A maioria das famílias pertence ao grupo étnico Desano, mas há também algumas famílias Tukano, Tariano, Baré e Hupda. A língua de comunicação na comunidade é o tukano, apesar de haver alguns falantes de nhengatu e hupda. Todas as famílias vivem sobretudo da pesca e da roça. A caça é menos praticada. Muitas famílias também trocam ou vendem peixes para obter alguma renda e mercadorias de que necessitam. Mas a região de Tapira Ponta não é tão boa para a pesca como as comunidades vizinhas Uaupés acima. As áreas de igapó são pequenas e há poucos igarapés. Por outro lado, nossa região é mais favorável à agricultura do que as comunidades vizinhas. Apesar de haver grandes áreas de caatinga, no nosso território existe alguma terra firme e solos férteis para abertura de roçados que ficam relativamente próximos à comunidade. Na nossa área há também outros recursos que utilizamos conforme as épocas e a necessidade, seja para alimentação ou para construção de casas e artesanato, como buriti, açaí, bacaba, patauá, itaúba, inajá e outros. Um problema que enfrentamos já há algum tempo, mas que tem se intensificado nos últimos anos é a entrada de pescadores de fora na nossa área e por todo o Baixo Uaupés. São tanto pescadores não indígenas que vêm da cidade pescar de arrastão para depois vender os peixes na cidade, quanto alguns parentes indígenas de outras regiões que utilizam nossos locais de pesca sem pedir permissão. Além disso, há ainda alguns problemas internos de desrespeito às áreas de pesca das comunidades e uso excessivo de malhadeiras por pescadores da própria região. Por isso estamos tentando discutir formas de fiscalizar e cuidar melhor de nosso território, através da reivindicação de um sistema de comunicação eficiente, acordos de manejo internos e com parentes de outras regiões, respeito às áreas de uso de cada comunidade e valorização dos lugares sagrados ( wametisé). Muitos de nossos locais de pesca, pontos de piracema e áreas importantes para o manejo, são wametisé. Na área de Tapira Ponta há alguns lugares de grande importância, como Itapinima, onde há desenhos nas pedras deixados pelos primeiros ancestrais, e Muhîpũ wii (Casa do Sol), local importante para os Desana. Todos eles exigem respeito, conhecimento e cuidados. Esse mapa é um dos resultados desse trabalho, ao qual nós AIMAs (Agentes Indígenas de Manejo Ambiental) de Tapira Ponta, com apoio dos conhecedores, professores, lideranças e outros moradores, viemos nos dedicando entre os anos de 2014 e 2016. Ele foi elaborado a partir de oficinas ministradas por as- sessores do Instituto Socioambiental-ISA em parceria com a FUNAI (Coordenação Regional Rio Negro) e com a FOIRN. A intenção é que esse trabalho possa ajudar nossa comunidade e todos os moradores da região a manejar e cuidar melhor de nosso território, a partir da valorização de nossos próprios conhecimentos e modo de vida. Área de Manejo da Comunidade Tapira Ponta Baixo Rio Uaupés Terra Indígena Alto Rio Negro AIMAs de Tapira Ponta em oficina de mapeamento Desenho na laje de Itapinima, um dos lugares sagrados da área de Tapira Ponta ©Aline Scolfaro, 2015 ©Aline Scolfaro, 2015 Serra do Camaleão nas proximidades de Tapira Ponta ©Aline Scolfaro, 2015 Legenda geral adotada nos mapeamentos participativos de toda a região do Baixo Uaupés. Pode ser que alguns elementos não sejam encontrados na área de manejo de Tapira Ponta e que, portanto, não estejam representados no mapa da comunidade. Manejo florestal Wehse Roça Mihpita Açaí Neeta Buriti Ñumumahká Bacaba Ñumu pahka Patauá Mhûita Caranã Mihsi nĩro Cipó Poópu nĩro Molongó Diipu Seringa Wahtá nĩro Paxiúba Barasuhtiku Copaíba Wu hu ta Arumã Mõá pũnitá Buçu Nohka puri Tucum Pepuri Palha Branca Itaúba Itaúba Di’ímiró Argila Outros lugares importantes Nuhkũ paro Praia Nu hku ro Ilha Poeya Cachoeira Dia u hkũ ari tukurõ Poço do rio Ahkó whîro Fonte d’água Trilhas Ma’a Trilha/caminho Paisagens mapeadas Nu hku u ’mu arõ Mata alta Nu hku u ’mu atiro Mata baixa Tahtá boa Caatinga Diakoe Igapó O’pata Chavascal Bu hku wiake Capoeira antiga Ma’ma wiake Capoeira nova Ocupações Pahri mahka Comunidade/ Povoado Bu hku mahka Comunidade antiga Kamahka Sítio Wi’itó Sítio antigo Bohsénu mu weri mahka Sítio de festa A’peye mahkari Outras comunidades Dehsubari di’ta Limites das áreas de uso Lugares sagrados e históricos Õãmarã na niséti ukũke wiseri Lugar sagrado ancestral Wa’i mahsã wii Casa de peixe gente Wa’i turĩ bahsari wii Casa sagrada de peixes Pinõ wii Casa de cobra Bu hku ra bahsaka wiito Antiga maloca Wame’tiri wii Lugar histórico Wẽrikhára kuñaró Cemitério Manejo de peixes e caça Wa’iró Cacuri Kahsaka Cerca para matapi Wa’ia Turĩse Piracema Doé diekurõ Desova de traíra Ûá yari u’tu Desova de irapoca Omaperi Lugar onde cantam as rãs Bahpa nĩro Daracubizal Dihtara Lago Wehku ahko nerẽro Bebedouro de anta Yehsea ma’a Caminho de queixada Dehsu ba’ri u’tu Acampamento de pesca/caça APOIO 9 7 8 8 5 8 2 2 6 0 5 6 2

Neeta Comunidade Tapira Ponta - Socioambiental

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

10

Agentes Indígenas de Manejo Ambiental - AIMAs

APOIORE AL IZ AÇ ÃO

Organização: Aline Scolfaro (ISA) e Renata A. Alves (ISA). Elaboração de mapa: Renata A. Alves. Pesquisas, mapeamentos e texto: Euclides Lemos Pereira (Aima) e Cledson Moreira Costa (Aima). Desenhos: Adonilson F. Castilho (Ipanoré); Dênio M. Rodrigues (Taracuá); Euclides L. Pereira (Tapira Ponta); João Carlos O. Gama (Matapi); Larissa M. Duarte (Taracuá); Silvaldo Navarro da Silva (São Pedro); Valdir C. Aguiar (Cunuri). Colaboradores da comunidade: Tarcisio Pereira; Paulo Alves Miranda; Mateus Gonçalves Alcântara; Geraldo Azevedo Pereira; Maria Lopes Fernandes; Leliane Fernandes Pereira; Arlete Azevedo Pereira; Reginaldo B.; Lucicleia Pimentel; Antônia F. Pereira; Vitorino da Silva Pereira; Pedro Pablo; Maria Aparecida; Maria de Fátima B. da Silva; Francisco A. Silva; Ediogles Castro; Armando P. Pereira; José Maria L. Dasa; Oziel P. de Oliveira; Ezequiel F. Pereira; Maria Pimentel; Zeca Azevedo Pereira; Anastácia da Silva. Outros colaboradores: Denivaldo Cruz da Silva (Funai); Pieter Van Der Veld (ISA); Raphael Rodrigues (Ufscar). Edição de conteúdo (mapa e texto): Aline Scolfaro. Design gráfico: Roberto Strauss.

Fontes: Base Cartográfica dos limites políticos, hidrografia e sedes municipais (IBGE, 2015); Terras Indígenas (Instituto Socioambiental, 2015); Vegetação de fundo (http:arcgis/rest/services/Terrestrial_Ecosustems_Reference_Tiled/MapServer, 2015) e Mapeamento Participativo das comunidades do Baixo Uaupés (FOIRN/ISA/FUNAI, 2014 a 2015).

Terra IndígenaAlto Rio Negro

São Gabriel da Cachoeira

A comunidade Tapira Ponta, ou Monte Cristo, como também é conhecida, está localizada na margem direita do rio Uaupés, bem próxima à sua foz, onde este deságua no rio Negro. Os mais velhos que conhecem as histórias dizem que antes dos nossos antepassados chegarem nesse território a área estava ocupada por grupos da etnia Coewano, vindos da Colômbia. No início do século XX chegou na área o senhor Antonio Velásquez, também vindo da Colômbia, com objetivo de trabalhar a extração de látex nos seringais da região. O mesmo casou-se com uma mulher desana chamada dona Maria

Fernandes e eles tiveram sete filhos. Um deles foi o Cesário Velásquez, que nasceu em 1928. Ele casou-se com dona Elza Brasão, da etnia Baré, e teve seis filhos. Na década de 1970 o senhor Cesário Velásquez re-

solveu morar definitivamente na região, fundando o sítio chamado Tapira Ponta. Em 1975 o sítio passou a ser comunidade, com a permanência de famílias que vinham chegando de outras partes da região

dos rios Uaupés e Papuri. Em 1984 a comunidade decidiu eleger o primeiro líder.Em 2015, segundo levantamento que realizamos, 17 famílias viviam em Tapira Ponta, num total de 116 pessoas.

A maioria das famílias pertence ao grupo étnico Desano, mas há também algumas famílias Tukano, Tariano, Baré e Hupda. A língua de comunicação na comunidade é o tukano, apesar de haver alguns falantes de nhengatu e hupda.

Todas as famílias vivem sobretudo da pesca e da roça. A caça é menos praticada. Muitas famílias também trocam ou vendem peixes para obter alguma renda e mercadorias de que necessitam. Mas a região de Tapira Ponta não é tão boa para a pesca como as comunidades vizinhas Uaupés acima. As áreas de igapó são pequenas e há poucos igarapés. Por outro lado, nossa região é mais favorável à agricultura do que as comunidades vizinhas. Apesar de haver grandes áreas de caatinga, no nosso território existe alguma terra firme e solos férteis para abertura de roçados que ficam relativamente próximos à comunidade. Na nossa área há também outros recursos que utilizamos conforme as épocas e a necessidade, seja para alimentação ou para construção de casas e artesanato, como buriti, açaí, bacaba, patauá, itaúba, inajá e outros.

Um problema que enfrentamos já há algum tempo, mas que tem se intensificado nos últimos anos é a entrada de pescadores de fora na nossa área e por todo o Baixo Uaupés. São tanto pescadores não indígenas que vêm da cidade pescar de arrastão para depois vender os peixes na cidade, quanto alguns parentes indígenas de outras regiões que utilizam nossos locais de pesca sem pedir permissão. Além disso, há ainda alguns problemas internos de desrespeito às áreas de pesca das comunidades e uso excessivo de malhadeiras por pescadores da própria região.

Por isso estamos tentando discutir formas de fiscalizar e cuidar melhor de nosso território, através da reivindicação de um sistema de comunicação eficiente, acordos de manejo internos e com parentes de outras regiões, respeito às áreas de uso de cada comunidade e valorização dos lugares sagrados (wametisé). Muitos de nossos locais de pesca, pontos de piracema e áreas importantes para o manejo, são wametisé. Na área de Tapira Ponta há alguns lugares de grande importância, como Itapinima, onde há desenhos nas pedras deixados pelos primeiros ancestrais, e Muhîpũ wii (Casa do Sol), local importante para os Desana. Todos eles exigem respeito, conhecimento e cuidados.

Esse mapa é um dos resultados desse trabalho, ao qual nós AIMAs (Agentes Indígenas de Manejo Ambiental) de Tapira Ponta, com apoio dos conhecedores, professores, lideranças e outros moradores, viemos nos dedicando entre os anos de 2014 e 2016. Ele foi elaborado a partir de oficinas ministradas por as-sessores do Instituto Socioambiental-ISA em parceria com a FUNAI (Coordenação Regional Rio Negro) e com a FOIRN. A intenção é que esse trabalho possa ajudar nossa comunidade e todos os moradores da região a manejar e cuidar melhor de nosso território, a partir da valorização de nossos próprios conhecimentos e modo de vida.

Área de Manejo da Comunidade Tapira PontaBaixo Rio UaupésTerra Indígena Alto Rio Negro

AIMAs de Tapira Ponta em oficina de mapeamento

Desenho na laje de Itapinima, um dos lugares sagrados da área de Tapira Ponta

©Aline Scolfaro, 2015

©Aline Scolfaro, 2015

Serra do Camaleão nas proximidades de Tapira Ponta©Aline Scolfaro, 2015

Legenda geral adotada nos mapeamentos participativos de toda a região do Baixo Uaupés. Pode ser que alguns elementos não sejam encontrados na área de manejo de Tapira Ponta e que, portanto, não estejam representados no mapa da comunidade.

Manejo florestalWehse RoçaMihpita AçaíNeeta BuritiÑumumahká BacabaÑumupahka PatauáMhûita CaranãMihsi nĩro CipóPoópu nĩro MolongóDiipu SeringaWahtá nĩro PaxiúbaBarasuhtiku CopaíbaWuhuta ArumãMõá pũnitá BuçuNohka puri TucumPepuri Palha BrancaItaúba ItaúbaDi’ímiró Argila

Outros lugares importantesNuhkũ paro PraiaNuhkuro IlhaPoeya CachoeiraDia uhkũari tukurõ Poço do rioAhkó whîro Fonte d’água

TrilhasMa’aTrilha/caminho

Paisagens mapeadasNuhku u’muarõMata altaNuhku u’muatiroMata baixaTahtá boaCaatinga Diakoe IgapóO’pataChavascalBuhku wiakeCapoeira antigaMa’ma wiakeCapoeira nova

OcupaçõesPahri mahka Comunidade/ PovoadoBuhku mahka Comunidade antigaKamahka Sítio Wi’itó Sítio antigoBohsénumu weri mahka Sítio de festaA’peye mahkari Outras comunidadesDehsubari di’ta Limites das áreas de uso

Lugares sagrados e históricosÕãmarã na niséti ukũke wiseri Lugar sagrado ancestralWa’i mahsã wii Casa de peixe genteWa’i turĩ bahsari wii Casa sagrada de peixesPinõ wii Casa de cobraBuhkura bahsaka wiito Antiga malocaWame’tiri wii Lugar históricoWẽrikhára kuñaró Cemitério

Manejo de peixes e caçaWa’iró CacuriKahsaka Cerca para matapiWa’ia Turĩse PiracemaDoé diekurõ Desova de traíraÛá yari u’tu Desova de irapocaOmaperi Lugar onde cantam as rãsBahpa nĩro DaracubizalDihtara LagoWehku ahko nerẽro Bebedouro de antaYehsea ma’a Caminho de queixadaDehsu ba’ri u’tu Acampamento de pesca/caça

APOIO

9 7 8 8 5 8 2 2 6 0 5 6 2