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NEGRO, O CIDADÃO BRASILEIRO! · A obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” vêm manifestar, para os livros didáticos, mudanças necessárias; as que

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NEGRO, O CIDADÃO BRASILEIRO!

Fonte 1

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TÍTULO: Representação cultural afro: Negro, o cidadão brasileiro!

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Negro, o cidadão brasileiro!

APRESENTAÇÃO

Este material didático-pedagógico caracteriza-se como proposta para

implementação de projeto de intervenção na Escola Básica. Aborda a contribuição da

cultura afro-descendente para todo povo brasileiro, quando fala deste povo e de sua

luta por cidadania, de suas trajetórias em busca de evitar a exclusão social. Objetiva

dirigir-se a professores e a alunos do Ensino Básico, na tentativa de contribuir para uma

visualização diferenciada da importância do negro, ao trabalhar sua contribuição

cultural e econômica para nossa sociedade.

A obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” vêm manifestar,

para os livros didáticos, mudanças necessárias; as que procuram abranger a

diversidade cultural brasileira e incluir o negro como agente histórico formador da

sociedade brasileira. Pretende-se que a cultura afro-brasileira se amplie sem resumir-se

a ser reflexo da história classe dominante. A diversidade da cultura negra é

apresentada nas publicações nos livros didáticos na tentativa de suprir a temática.

Ao investir em mudanças e estimular reivindicações contra o preconceito, o

movimento negro conseguiu mudanças não apenas quanto a legislação, mas também

fez que este adentrasse as discussões nas escolas. A compreensão sócio-política dos

alunos dos vários níveis de ensino é desafiada pela implantação da Lei 10639/03.

Tematizando o modo como os livros de didáticos de história apresentam o negro,

esta unidade didática visa outro olhar sobre o afro-descente no Brasil. Para tanto divide

sua tarefa três momentos. O primeiro, momento é conceitual e traz A imagem

influenciando a História; já o segundo é problematizador e mostra O Negro retratado – a

arte e a história; e o terceiro quer trabalhar com os outros dois e propõe as Oficinas de

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Sensibilização. As oficinas serão desdobradas em quatro atividades nomeadas:

repressão e castigo; resistência e arte; busca da liberdade e redenção e cinema.

Por fim, a ideia é resgatar do negro uma imagem positiva quando, através de

filmes favorece historias bem sucedidas que elevem sua auto-estima. Aprimora a

representação que se faz do afro-descendente, especialmente o apresentado na

disciplina de história, minimizando esta imagem forjada, na qual figura o negro como o

rebelde, o bandido, o sujeito desqualificado.

Quer refazer essa representação quando opta por uma valorização da

contribuição cultural que este povo traz a cultura brasileira como um todo. Em síntese,

almeja estudar a história e cultura afro-brasileira apresentando-a como componente

fundamental para o processo de inclusão social.

Favorece a aplicação da lei 10.639/03; tornando-se recurso metodológico e

teórico para professores do Ensino Básico. Para o desenvolvimento da unidade

didática, este trabalho é composto dos itens: É o que se passa a considerar.

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I - A imagem influenciando a História

Como determinados acontecimentos quando retratados, contam a história de

nossa sociedade? É possível compreender esta história através da uma análise que

destaque os retratos sobre os negros ao invés das narrativas? Como a história resgata

determinado passado deste povo quando traz na sua representação determinadas

imagens?

1. 1. A arte do Retrato

Este material ou unidade didático-pedagógica preocupa-se em analisar a

dimensão histórica da imagem e as possibilidades de utilizá-la na composição do

conhecimento sobre o passado. Almeja dar suportes a uma reflexão que tenciona a

imagem que se mostra em nome da verdade de uma determinada época; ou desvela a

imagem idealizada, que faz do retrato uma mensagem que se elabora através do

tempo, como um documento do passado.

A história lecionada na sala de aula conta com o conhecimento, em geral

acadêmico do professor e o livro didático. Entre textos lidos e interpretados o professor

mostra aos alunos retratos ou imagens que figuram neste instrumento didático. A

palavra retrato é um termo vindo do Latim, retrahere que significa copiar. Foi no Egito

Antigo que surgiram os primeiros exemplos de retratos para eternizar a grandeza dos

faraós e de toda a alta hierarquia. Na China essa arte também foi usada para registrar

as dinastias. Na Grécia antiga não era diferente, o grego cidadão era retratado, usando

esta técnica com a intenção de cultuar seus antepassados. Logo, pode-se dizer que a

ideia do retrato como imagem fiel, se fez presente nos períodos em que o Naturalismo

era tendência estética.

Compreender qual é o papel do retrato na história e sua inserção social

mostrando as relações com experiências vividas, pode ser interessante para as

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diversas áreas do conhecimento. Em se tratando da história do Brasil, pode-se dizer

que tal arte se mostrou na construção de uma história que envolve o trabalho do

escravo africano. Pode-se desconfiar que na história do Brasil uma interpretação deste

povo se dê por uma representação forjada pelos europeus. Conseqüentemente, fica

explicitado que tal representação faz dele um grupo escravizado e forçado a fazer todo

tipo de trabalho, manchando sua honra.

Importa mostrar como vem sendo contada a história desse povo! Sensibilizar

para uma percepção desta imagem, que mostra o afro-descendente como alguém se

auto-representa negativamente, por toda uma trajetória de trabalhos forçado. Etnia que,

mesmo com o fim da escravidão, fica à margem da sociedade; sem políticas que a

ampare, sem oportunidades que a desenvolva do ponto de vista cultural, social e

político.

Segundo Oliveira (2001), a política de branqueamento que caracterizou o

racismo no Brasil foi gerada por ideologias e pelos estereótipos de inferioridade e/ou

superioridade raciais. A ideologia do branqueamento teve como objetivo propagar que

não existem diferenças raciais no país e que todos aqui vivem de forma harmoniosa,

sem conflitos (mito da democracia racial). Além de projetar uma nação branca que

através do processo de miscigenação pretende erradicar o negro da nação brasileira,

esta supõe toda uma opressão racial que acaba por realizar na raça negra um processo

de branqueamento. Essa tese é apresentada pelo Brasil ao mundo. Com a luta dos

movimentos anti-racista a representação que se faz do negro sofreu mudanças no

século XX

Apenas nos anos 80, depois do período ditatorial, quando a idéia integracionista

de "democracia racial" se transforma numa ideologia oficial e as instituições negras são

banidas, o movimento negro passa a assumir cada vez mais um discurso racialista e

multicultural. Os dois alvos anteriores que são: a luta contra a segregação e a

discriminação racial e a luta pela recuperação da auto-estima negra, passam a ser

reinterpretados pelo ideário multiculturalista. Este último revaloriza a herança africana,

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procurando desvencilhá-la das adaptações e dos sincretismos com a cultura nacional

brasileira. Nesse movimento se abrem novas frentes de lutas, contra as desigualdades

raciais, contribuindo para que, além das discriminações raciais cometidas

individualmente, passe-se a combater também a estrutura injusta de distribuição de

riquezas, de prestígio e de poder entre brancos e negros.

Esta frente, descolada agora de qualquer ideário monocultural e universalista,

desvia-se do socialismo e vai desembocar, mais tarde, na reivindicação de políticas

corretivas, compensatórias ou afirmativas voltadas para a população negra (Guimarães,

1999). Tal analise sobre a dimensão histórica da imagem converge para as

possibilidades de se estar utilizando uma composição do conhecimento sobre o

passado que aponta para uma imagem que alude à verdade parcial; quando diz de uma

determinada época idealizada sob uma arte do retrato, estende-a tal uma mensagem

que elabora através do tempo um passado idealizado.

1. 2. O Livro Didático

A arte do retrato no livro didático tem representado o negro através de uma visão

estereotipada quando trabalha o tema da escravidão. As representações do negro,

nesse meio, reforçam apenas as condições de vida dos cativos, mostrado como objeto

ou mercadoria ou o apresentando como um ser incapaz e passivo.

Para Cardoso (1977, p.87), o escravo é retratado como um ser desprovido de

raciocínio ou de qualquer sentimento humano. Incapaz de criar ou produzir por conta

própria, “o escravo era uma coisa” sujeita ao poder e propriedade de outrem e, como

tal, privado de todos os direitos e sem representação alguma.

Constantemente consultado pelo professor, o livro didático apresenta o negro e

resgata sua história sob condições negativas. Isto induz que se mantenha sobre este

povo uma visão que fomenta sua baixa auto-estima. Tal panorama tende a se repetir

nos alunos como tal. Quando entre eles se incluem os afro-descendentes, provoca que

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se pense o papel da escola nesse contexto. Uma vez que a humilhação e a rejeição

passam a ser dado incluído na identidade destes jovens.

Fonte 2

Estudos também mostram que as imagens vinculadas em livros didáticos muitas

vezes são carregadas de dados preconceituosos, nas quais os negros são

representados em situação social inferior à do branco. Geralmente não costuma

aparecer representada a família negra, é como se eles não tivessem núcleo familiar ou

situações afetividade no passado. Negando-lhes determinadas visualizações tende-se a

celebrar uma memória que resgata a soberania do sujeito imperial europeu e todo um

legado identitário.

Essas representações repetidas pelos livros didáticos, unidas a falta de uma

contextualização por parte dos professores só reforça a composição de uma imagem

negativa das pessoas negras, inclusive nega que o afro descendente construa uma

imagem positiva de si. Para reeducar as relações étnico-raciais no Brasil é necessário

fazer emergir as dores e os medos com que essas têm sido geradas. É preciso

entender que o sucesso de uns tem preço da marginalização e da desigualdade

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impostas a outros. Decidir sobre a sociedade que se quer construir, impõe reavaliar o

que se fez para pensar daqui para frente (Diretrizes Curriculares, 2005, p.14).

Segundo Santos e Calil (2005), a escravidão deixou marcas. Ainda hoje, são

discutidas as conseqüências da escravidão na sociedade brasileira. Essas se tornam

muitas vezes obstáculos para o pleno exercício da cidadania. Não é possível deixar que

os alunos fiquem afastados dessas discussões. A escola básica através de algumas

políticas públicas tem possibilitado o ingresso na universidade. Neste outro espaço

educativo, se abre a questão das cotas e esta, com toda sua discussão que traz, pode

ser trabalhada propondo o desfazer-se de uma visão ingênua, romantizada e

inconsistente a respeito da escravidão.

Fonte 3

No livro didático é comum que os negros sejam apresentados apenas

acorrentados, chicoteados, passivos nas senzalas das fazendas. Visto como pessoas

sem identidade e sem nenhuma forma de resistência e mobilização. Porém, na

verdade, as comunidades e os grupos se mobilizavam em resistência à escravidão.

Havia por parte dos negros o uso de fugas explicitas a sua condição de escravo; eles

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também faziam uso de danças, de outras sabotagens e formas violências para resistir a

esta condição.

Na luta contra as desigualdades raciais, o movimento enfrenta as muitas

dificuldades no Brasil. A sociedade brasileira não se percebe racista, nas suas atitudes

mais comuns tende a responsabilizar o sistema, preferencialmente o econômico como

responsável pelas desigualdades raciais no Brasil. Logo, o combate ao racismo

percebe desigualdades raciais como desigualdades sociais de classe. Mais que isso,

vê gerado pelo imperialismo europeu o subdesenvolvimento econômico e a pobreza,

que tem afetado a sociedade como um todo.

Na tentativa de reverter essa situação, o movimento negro encontra resistência

num senso comum fortemente estabelecido, que é percebido pelo aspecto da cor e da

pratica generalizada da desigualdade de tratamento.

A desconstrução do mito da democracia racial, aliada a rejeição das pluralidades

e conflitos entre diferentes culturas, tem se tornado um mecanismo para superação dos

preconceitos raciais. De outra parte os livros didáticos vêm se esforçando para

acompanhar esta perspectiva de pluralidade e respeito étnico-racial.

São instrumentos que vem tentando mostrar a realidade como ela realmente é;

ou seja, tentam analisá-la sem máscaras neutralizantes, estimulando a convivência

entre diferentes tradições e práticas, articulando debates e reflexões sobre as

desigualdades. Porém, fica evidente que existem dificuldades para tal desvelo do real.

O livro didático, embora pretenda um novo discurso sobre este tema continua em

muitos casos reproduzindo imagens e estereótipos historicamente recorrentes. Apela

para um Brasil mestiço e integrado numa falsa harmonia entre raças, numa falsa

igualdade social. Os livros apresentam capítulos onde ora defendem uma pluralidade

cultural e social, ora reproduzem o mesmo velho paradigma acerca de uma sociedade

homogênea (Wanderley, 2010).

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Fonte 4

A temática sobre o racismo se apresenta nos livros didáticos de História, sem

desassociar o negro da escravidão. Fora desse contexto muito pouco mostra sobre este

povo: suas lutas como forma de resistência, suas conquistas históricas e outros fatos

que podem os apresentar como personagens “não-coadjuvantes” na História do Brasil.

.

Fez de negro uma que o apresenta um escravo vitimizado, aquele que está

sempre trabalhando em péssimas condições ou sendo castigado e que é incapaz de

reagir, ou fugir.

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Fonte 5

II - O Negro retratado – a arte e a história

A representação do negro no Brasil foi mudando ao longo do tempo, em

decorrência de discursos ideológicos e reivindicações do movimento negro. Logo,

destacar a participação dos movimentos negros no reconhecimento da existência do

preconceito racial no Brasil parece de fundamental importância. Os debates sobre a

situação social do negro e a existência do preconceito a sua cor faz parte das

inquietações dos diversos movimentos negros que surgem a partir do inicio do século

XX.

O Movimento Negro tem buscado uma representação positiva do negro,

removendo uma visão que o mostra um incapaz, que não a reage ao seu senhor. O

escravo passou da condição de sujeito miserável a um agente histórico.

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Existem pinturas de artistas da época da escravidão que representavam o negro

não como vitimas, mas em situações mais dignas, como é o caso das imagens do

artista Johann Rugendas

.

Fonte 6

2. 1. Pintura Histórica

Parte da História do Brasil se sabe através das representações pictórias de

Debret. Artista que veio da Europa e integrou a Missão A Artística Francesa, organizada

por D. João VI, com objetivo de fundar no Brasil a Academia de Belas Artes. Chegou ao

Rio de Janeiro em março de 1816. Pintou grandes momentos da história até a

independência do Brasil, e parte do governo de D. Pedro I. Através de artistas como

Debret ficou registrado um pouco das pessoas e do Brasil.

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Fonte 7

Jean Baptiste Debret1 (1989) que veio sob a tutela da nobreza para fazer através

da um retrato do Brasil colonial ou da sociedade brasileira diga-se escravocrata, do

século XVIII. Criado na Europa e educado nos ideais de nobreza, Debret chega ao

Brasil com outros imaginários. Tendo sido pago pelos nobres, não consegue fazer uma

leitura crítica da sociedade que passa a conhecer (Berenzin, 2011).

Segundo Costa não obstante os retratos dos negros possuírem um caráter

realista na obra de Jean Baptiste, não há os paradigmas morais de atitudes que

conotem uma grandeza de espírito universalmente reconhecida. A preocupação

documental deste artista, manifestada no registro cenas típicas e cotidianas das ruas da

corte, não invalida sua formação classicista. Mesmo longe dos rigores acadêmicos, o

que o permitiu maior liberdade de composição, Debret utilizou os instrumentos da

escola neoclássica, pintando escravos com porte nobre, de beleza ideal. Moralmente

abatidos, porém, os negros africanos são apresentados numa perspectiva física

bastante positiva. Evocando postulados do pensamento aristotélico, Debret mostra os

1 DEBRET, J. B. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. v. I, II e III. São Paulo: Editora da USP, 1989.

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negros em atividades nas quais o vigor físico é fundamental; acentuando com isso sua

natureza “insolente, libertina e preguiçosa” (Debret, 1989: II).

Debret contratado pela Nobreza, não podia questionar a escravidão o que levou

sua analise pictória sobre o negro a uma espécie de neutralidade de sentido, ainda que

fosse influenciado pelo realismo do século XIX,.

Fonte 8

Outro artista que retratou o negro foi Johann Moritz Rugendas2 (1940), pintor

alemão que viajou o Brasil inteiro, pintando os povos e seus costumes. Coletou em

território brasileiro, material para pinturas e desenhos e registrou costumes locais. Sua

obra retrata a manifestação cultural coletiva típica dos negros no século XIX: o jogo da

capoeira.

As telas de Rugendas retrataram a cultura dos negros de modo singular. Pois o

representam sob um aspecto positivo quando os retrata em momentos de lazer,

festividades e práticas de resistência. A luta de capoeira utilizada pelos negros para sua

defesa tinha de ser disfarçada como dança para que as autoridades não os

reprimissem.

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Fonte 9

Nessa outra tela está sendo representado o lundu. Genero musical e dança

brasileira criada a partir dos batuques dos escravos e ritmos portugueses. Esta

modalidade do “lundu”, aponta para dança de roda praticada na Ilha de Marajó e nos

arredores de Belém no estado do Pará. Recentemente outros grupos culturais do

entorno do Distrito Federal reiniciaram essa prática.

Rugendas e Debret vieram para o Brasil na metade do século XIX, quando o

Brasil deixava de ser colônia e se tornou império, com a finalidade de desenvolverem

atividades culturais. Rugendas pintou mais de 500 telas retratando os negros, a

paisagem e cenas do cotidiano.

Mesmos lembrados através de uma história de discriminação, os afro-

descendentes foram essenciais na contribuição da cultura brasileira. Destacam-se no

gênero musical que melhor representa a identidade musical brasileira o samba, de

2 RUGENDAS, G. M. Viagem Pitoresca Através do Brasil. ed: 2. São Paulo: Martins, 1940

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nítida influencia africana. Pois o samba nasceu na Bahia e emigrou para o Rio de

Janeiro no princípio do século. Tronco maior da Musica Popular Brasileira, MPB, o

samba gerou outros ritmos como o samba-canção, o samba-de-breque, o samba-

enredo e, inclusive, a bossa nova.

À medida, que o africano se integrou à sociedade brasileira tornou-se afro-

brasileiro e, mais do que isso, brasileiro sendo de grande importante as contribuições

dos africanos em nossa formação.

As escolas de samba também são expressão artística das comunidades afro-

brasileiras da periferia do Rio de Janeiro. Reunidas a capoeira que é uma dança de

luta, ritualizada e estilizada, são contribuições deste povo, que tem sua própria música

praticada, principalmente, na cidade de Salvador no estado da Bahia.

As identidades culturais sofrem contínuos deslocamentos ou descontinuidades.

O enfoque interculturalista parte de um conceito de cultura mais dinâmico, que permite

o intercâmbio e o diálogo entre os grupos culturais e seu mútuo enriquecimento. Ao

considerar a diversidade cultural como positiva, deixa-se de enfocá-la como problema

simplesmente, pois se vê nela uma expressão da riqueza da espécie humana.

Na perspectiva intercultural não se sobrelevam as diferenças apenas, mas se

busca elementos que possam unir os distintos grupos na possibilidade de comunicação

e o entendimento intercultural.

2.2 Análise de Quadro de Debret Execução do Castigo de Açoite

O longo período escravista ocorrido no Brasil, a violência foi uma das

características marcantes desse sistema socioeconômico. Na violência imposta à

escravidão se configura a dominação dos senhores e toda uma violência imposta.

Nesse cenário a sociedade escravista submete e controla as ações de negação dos

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cativos contra escravidão. Em plena praça publica, no Pelourinho, era aplicado o açoite

ao escravo quando acusado de alguma falta grave. Uma multidão se reunia nesta praça

para assistir ao açoite do carrasco e o abater-se sobre o corpo do escravo condenado,

que ali ficava exposto ao público.

O açoite variava entre 50 a 200 chibatadas, sendo o horário mais comum entre

nove e dez horas da manhã. O escravo depois do açoite tinha seus ferimentos lavados

com vinagre e pimenta para não infeccionar. O escravo chefe de quilombo quando era

descoberto tinha a pena mais severa, ao sair da cadeia carregando um cartaz com os

dizeres “chefe de quilombo”. Sua pena podia ser de 300 chibatadas, que podiam ser

dividida de 30 em 30, executadas em diversas praças públicas, sempre com o objetivo

para servir de exemplo aos outros para que não fugirem para os quilombos.

Fonte 10

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Do lado esquerdo, se encontram os condenados. Os escravos dos extremos estão

cabisbaixos, pois um dos dois será o próximo.

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O carrasco é hábil ao arranhar a pele ao chicotear. Ele fabrica o chicote que é feito de 7

ou 8 tiras de couro secas e retorcidas. Importante analisar, que o carrasco é um negro.

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O executado, mesmo amarrado ao tronco, deixa entrever seu caráter enérgico; apesar

da dor que sente, tem forças para ficar na ponta do pé a cada golpe. Alguns

condenados se mostram de caráter forte, pois sofrem toda a pena em silêncio.

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Deitados no chão estão os negros que acabaram de ser executados, deitados para que

não haja hemorragia e com fraldas sob os ferimentos para que as moscas não pousem

e infeccione.

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III - As oficinas de sensibilização

As oficinas consistem na apresentação e análise de algumas telas dos pintores

Rugendas e Debret, que estiveram no Brasil durante o século XIX e retrataram aqui

vários aspectos do cotidiano dos negros escravos. Essas pinturas são documentos

históricos e servem como fonte para a reconstrução daquele momento histórico e suas

representações.

1. Repressão e Castigo:

A escravidão na História do Brasil pode ser vista como o sistema de trabalho no

qual o indivíduo – o escravo – é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado,

emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Perante a Lei escravo mesmo com sua

participação na formação nação brasileira não têm direitos: não pode possuir ou doar

bens e nem iniciar processos judiciais, mas pode ser castigado e punido.

O longo período escravista ocorrido no Brasil, a violência foi uma das

características marcantes desse sistema socioeconômico. O escravo realizava todo tipo

de trabalho, nas plantações de açúcar, algodão, tabaco, e variadas funções no meio

urbano: carpinteiro, pintor, pedreiro sapateiro, ferreiro, marceneiro, entre muitas outras.

O professor deve fazer uma introdução, chamando a atenção da turma para as

questões de valores morais, sociais, direitos humanos. Deve silenciar com seus alunos

durante alguns minutos para juntos analisarem as imagens abaixo.

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Observe as imagens abaixo e responda:

Figura 1

Fonte 11

a) Análise o lugar que estão os personagens.

b) Escreva a situação das pessoas que você observa no quadro.

c) Que época está sendo retratada nesta imagem?

d) O que o artista quer destacar nesta representação?

e) Você diria que há um sentimento dessas pessoas, expressado neste quadro?

f) Você associa esta imagem diretamente a represália e punição?

g) Você diria que há uma dor associada ao trabalho e as pessoas que o realizam?

h) você já sofreu alguma punição por não realizar determinada tarefa?

i) Você acha que alguém deva ser castigado por sua origem?

j) Você já se sentiu discriminado, humilhado, ou desmoralizado por algum motivo?

l) Você já leu ou viu pela televisão algum caso de discriminação?

Aqui se associa a violências sociais, pela cor da pele, diversidade, repressão e

violência aos menos favorecidos.

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Observe a imagem e responda:

Figura 2

Fonte 12

a) Observe as relações de poder neste quadro?

b) Quem apanha e quem está batendo?

c) Por que motivo estaria essa pessoa apanhando neste quadro?

d) Você considera normal corrigir a ação de alguém através do castigo físico?

e) Como as figuras humanas desempenham seus papeis sociais nesta foto?

f) Qual lugar na historia possui aquele que é representado nela sem nenhum direito?

g) Você considera que a Historia do Brasil conta com um mesmo principio de igualdade

a historia de todos os seus cidadãos?

h) Quais ações na atualidade tentam reparar esta ausência de uma narrativa equânime

na historia do Brasil?

i) Você acha que determinados fatos que ocorreram na historia do Brasil nos constroem

hoje um horizonte de oportunidades desiguais na atualidade?

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Repressão

e

Castigo

j) Você acha que existe alguma relação entre trabalho e cor de pele?

l) Você lembra alguma situação associada a sua cidade, bairro escola em que se possa

visualizar uma escala entre poder econômico e cor de pele?

Fonte 13

Aqui se associa aos índices econômicos de subemprego e da população carcerária.

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2. RESISTÊNCIA e ARTE

O professor deve iniciar a aula abordando as condições de vida que os escravos

levavam nos engenhos de açúcar, analisando as características e a forma de

desumana a que os escravos eram submetidos nas senzalas. Lembrando que mesmo

castigados resistiam.

No Brasil a partir do século XVI foi cenário de uma das maiores violências contra

um povo, sendo escravizado e subjugado pelo europeu. Foram trazidos da África mais

de dois milhões de negros pelos colonizadores portugueses para mão-de-obra escrava

nas lavouras da cana-de-açúcar.

É importante que os alunos conheçam – as formas de resistência – para

desmistificar a ideia de que os escravos aceitavam pacificamente todas as formas de

violências às quais foram submetidos. Chame a atenção para que eles percebam a

capoeira como uma das formas de resistências e símbolo da cultura afro-brasileira

presente em nossos dias.

Para iniciar uma discussão sobre cultura afro-brasileira, faz-se necessário notar

as formas de resistências e suas contribuições para a formação de uma identidade

cultural brasileira. O professor depois de apresentar as imagens (pintura de Johann

Moritz Rugendas) pode encaminhar um debate sobre a capoeira.

O africano vivendo por imposição no Brasil e de modo escravo, era suprimido de

sua cultura, transformado em coisa. Tiravam o nome tribal dando um em português,

proibiam também manifestações religiosas africanas. Para manter certo domínio de si e

para sobrelevar a resistência negra, a luta de capoeira foi utilizada para defesa, embora

tivesse que ser disfarçada como dança para que as autoridades não os reprimissem.

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Dignidade E

Moradia

"A capoeira era uma luta que se disfarçou em dança, para escapar das

perseguições dos feitores e senhores-de-engenho". A forma de resistência escrava

mais temida pelos senhores era a fuga seguida da formação de aldeamentos coletivos,

os quilombos. A fuga era para o escravo a solução mais simples contra a violência da

dominação dos senhores. O trabalho forçado envolvia uma rotina de trabalho que podia

chegar a dezoito horas. Eram precárias as condições de subsistência, a média de vida

do escravo não passava dos vinte anos. Alimentação limitada, e a rigorosa vigilância a

que estavam submetidos fazia com que os escravos fugissem para os locais de

resistência, os quilombos.

Fonte 14

Muitos escravos explorados articulavam planos de fuga e desenvolviam

comunidades auto-suficientes chamadas de quilombos. Os quilombos eram auto-

suficientes desenvolviam uma pequena agricultura associada a atividades artesanais

constituídas com o objetivo de atender a demanda da própria comunidade.

Entre os principais quilombos destacamos o Palmares, que se desenvolveu em

Alagoas, na região da Serra da Barriga. Considerado principal foco de resistência

negra.

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Com a forte participação na formação histórica da sociedade brasileira a

escravidão africana trouxe marcas profundas para a atualidade.

Fonte 15

Segundo Sousa (2011), entre outros problemas destacamos a desvalorização

atribuída às atividades braçais, um imenso processo de exclusão sócio-econômica e,

principalmente, a questão do preconceito racial. Mesmo depositado no passado,

podemos ver que as heranças de nosso passado escravista ecoam na constituição da

sociedade brasileira. A partir da discussão sobre as formas de resistência do escravo,

os alunos devem responder a atividade:

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2- Analise a pintura e responda:

Fonte 16

a) Qual a função da arte para construção da identidade das comunidades e etnias etc.?

b) Você consegue associar algum movimento social a arte?

c) Qual a relação entre arte cultura e História que se pode construir observando a

imagem acima?

d) Quais contribuições você destacaria do povo afro-descendente para nossa cultura.

e) Você diria que você tem hábitos gostos e costumes diretamente influenciado pelo

afro-descendente?

f) Você considera possível pessoa criativa e espontânea, num grupo onde você se

sente minoria?

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RESISTÊNCIA

E

CIDADANIA

g) Você já passou por situações de grupo nas quais o desejo da maioria não prevaleceu

em função de leis maiores ou regra arbitraria?

h) O que os movimentos culturais como a dança, comida vestimenta, musica

representam para manutenção de um grupo hoje?

i) Qual a relação entre arte e resistência

Fonte 17

Relacionar a Semana de Arte Moderna: Anita Malfatti, Mario de Andrade.

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3. Busca da liberdade Desde os tempos mais antigos alguns homens escravizaram outros homens, que

não eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos ou inferiores. Deve

ser considerada a escravidão como situação na qual a pessoa não pode transitar

livremente nem mesmo pode escolher o que vai fazer; tendo pelo contrario, de fazer o

que manda seu senhor, pois pode ser castigada fisicamente e vendida caso seu senhor

ache necessário (Souza, p.47, 2010)

Na pintura de Rugendas – Negros no porão do navio – Rugendas apresenta a

travessia dos negros da África para a América, mostra as condições, pois vinham

amontoados nos porões dos navios. Eram cerca de duzentos a trezentos, variando

entre homens, mulheres e crianças. Nota-se, na pintura, que o interior desses porões

era muito baixo, que se fazia necessário fazer prateleiras para a acomodação de tantos

escravos. A alimentação ser escassa era pobre à base farinha e água.

Nesta pintura também fica clara a forma de aprisionamento e de manutenção da

ordem: algemas e correntes nos pés e nas mãos, que prendiam uns aos outros. A

manutenção da ordem não era apenas às más condições alimentação e higiene, mas

pelo sentimento que se fazia presente a tristeza pela perda da liberdade.

A escravidão é uma condição na qual a pessoa é para sempre forçada a agir de

acordo com a vontade de outro. Liberdade é a capacidade do ser humano de agir e

expressar-se.

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1- Observe a pintura e responda:

Fonte 18

Compreender aspectos do tráfico de escravos africanos para o continente americano,

ocorrido entre os séculos XVI e XIX. Observar os detalhes da obra e levante hipóteses:

a) Descreva o espaço em que estão as pessoas.

b) Como estão as pessoas nesse ambiente?

c) Como as pessoas estão acomodadas?

d) Quantas pessoas estão nesse lugar?

e) Como será a alimentação?

f) Você tem liberdade? Quem tem liberdade?

g) Todas as pessoas são livres?

h) A minha liberdade interfere na vida dos outros?

i) Posso-me sentir livre sabendo que existem pessoas que não o são?

j) Quem são os oprimidos?

l) Onde estão atualmente?

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4. REDENÇAO E CINEMA

Esta ultima oficina vai usar o cinema. Trará filmes como uma das maneiras de

acesso ao conhecimento da história, uma opção para ampliar o trabalho do professor

em sala de aula. Aguçando o interesse pelo conhecimento e pela pesquisa dos alunos

a idéia é levantar questões que focam a situação do negro em nossa sociedade.

Após a apresentação do filme, faz-se necessário um debate para que os alunos

possam expressar suas opiniões. Será solicitada uma produção de texto, e as devidas

conclusões coletivas, mostrando as possíveis mudanças de conceitos, gerando novas

atitudes em sociedade. Aliado a isso, será solicitado aos alunos pesquisarem

representações do negro em situações positivas.

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FILME 1-

O Contador de Histórias é um filme sobre a vida de Roberto Carlos Ramos, que

nasceu na década 1970. É a história de como o afeto pode transformar a realidade.

Caçula entre dez irmãos, Roberto desde cedo demonstra um talento especial para

contar histórias. Menino pobre de Minas Gerais vê sua família passar por várias

dificuldades.

Tendo passado por uma infância pobre, mostra que uma das diversões da sua

família era assistir TV, aos domingos, na casa dos vizinhos. Na programação da época

estava vinculada uma propaganda do governo sobre a Fundação para o Bem-Estar do

Menor FEBEM.

Segundo a propaganda para que as crianças tivessem um futuro elas precisavam de 5

coisas:

F – fé

E – educação

B – bons modos

E – esperança

M – moral

A propaganda firmava que na FEBEM as crianças carentes iriam encontrar toda

educação necessária para terem a chance de se tornarem homens do bem. Poderiam

almejar carreiras como as de médicos, de engenheiros ou de advogados.

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Aos 6 anos, o menino, cheio de imaginação, é deixado pela nessa entidade

assistencial, recém criada pelo Governo. Ela acreditava estar, assim, garantindo um

futuro melhor para seu filho, supunha que era como um colégio interno, que receberia

uma boa educação.

A mãe de Roberto Carlos, uma pessoa humilde, leva-o para a FEBEM para que

ele saia de lá um doutor. No ônibus indo para a unidade ele pergunta a mãe.

– Mãe o que tem na FEBEM? A mãe respondeu.

– Um monte de coisa boa.

Na sua imaginação pensou em muito divertimento, circo, palhaços etc.

Chegando lá percebeu que era muito diferente do que tinha pensado.

A mãe foi assinar os documentos e pergunta para a diretora:

– Vai ser melhor para ele? Ele é meu caçula e, se Deus quiser, vai ser doutor. Com ele,

aqui afirma a mãe, vou poder trabalhar, tenho mais nove em casa.

Sem despedir de Roberto, a mãe vai confiante que está fazendo o melhor para o

filho. Porém, a vida na FEBEM não foi nada fácil. A realidade na instituição é diferente

do que se promovia pela propaganda na TV. Roberto, aos poucos, perde a esperança.

Aos treze anos, após incontáveis fugas, ele é classificado como „irrecuperável‟, nas

palavras da diretora da entidade. Ali dentro, ele encarou o abandono e a violência que

no seu caso, incluiu espancamentos até detenção em solitária.

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Outro filme que mostra história de resistência se passa após a Abolição da

Escravidão, mas onde os ex-escravos não usufruíam de direitos, surgindo um líder para

lutar pelo seu povo.

Os africanos no Brasil além de ter suprida sua liberdade, sofreram maus tratos e

perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e

repressão que recebiam dos seus senhores, como mostra o fime O Besouro.

Os escravos alienados do seu passado cultural, ficam proibidos de manifestá-lo.

Proibidos de praticar qualquer tipo de luta, passam a utilizar o ritmo e os movimentos de

suas danças africanas para se defender adaptando ou criando um tipo de luta. Assim

surge a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante

da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.

A capoeira era praticada nos terreiros próximos às senzalas (galpões que

serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção

da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas

vezes, tais as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época

de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta. Por ser

percebida como violenta, a capoeira foi proibida no Brasil, e alguns dos seus praticantes

foram presos. Mais tarde o presidente Getulio Vargas transformou em esporte nacional.

Em uma época na qual os negros ainda não tinham conquistado sua liberdade

real, embora formalmente fossem considerados livres, pois, a Abolição da Escravidão já

tinha sido decretada. Alguns ex-escravos encontraram um caminho para lutar pelos

seus direitos, pois não havia políticas que os amparassem, uma coreografia que

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combinava luta e dança conhecida como Capoeira. Assim surge um dos heróis mais

lendários do Brasil, o Besouro.

Sob este codinome, foi o maior capoeirista de todos os tempos. Menino que

identificado na infância com um inseto que desafia as leis da física, posteriormente

também vai alterar o preconceito e a pressão social que sofre, transformando-se num

herói. O Besouro adere ao movimento negro e se torna um mito. Quando conterrâneos,

incapazes de explicar de outra forma suas constantes vitórias sobre a repressão

policial vinda das autoridades constituídas, passam a atribuir seu sucesso ao seu dom

de voar o transformam em um mito.

Também apelidado de Mangangá, explica miticamente sua incrível capacidade

de fugir dos seus adversários – ele se refere a uma espécie de besouro que provoca

uma contundente ferroada. Ou seja, o lutador derrotava o inimigo e logo após

desaparecia sem deixar vestígios. Diz a lenda que ele simplesmente saía voando.

5. Conclusão

O interesse que se implícita nesse trabalho é conhecer o tema para dizer dele e

ensinar com ele algo mais amplo, podendo fazer com conquista de novos materiais

melhores atividades didático-pedagógicas. Dentre os fatores interessa aqui é

valorização do afro-descendente, para que este possa co-usufruir com outros povos

que fazem parte da Historia do Brasil, oportunidades diversas como cidadão brasileiro

Escolhe-se trabalhar com representação do afro-descendente através de pintura

pictórica e cinema. Filmes de projeção nacional que hoje procuram desvelar as

possibilidades educativas do Cinema Nacional produzido a partir de situações reais ou

literárias, argumentando que podem ser utilizados como recurso didático tecnológico

audiovisual, para desenvolver a consciência crítica dos alunos e a cidadania.

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FONTES CONSULTADAS FIGURAS Fonte1 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugenavios.jpg Acesso em: 06/07/11 Fonte 2 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugedomesticos.jpg Acesso 26/07/11 Fonte 3 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugemandioca.jpg Acesso 31/07/11 Fonte 4 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/debretbarba.jpg Acesso 29/07/11 Fonte 5 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/debretjantar.jpg Acesso 02/09/11 Fonte 6 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugereis.jpg Acesso 27/07/11 Fonte 7 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/debretserra.jpg Acesso 12/07/11 Fonte 8 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/debretmilho.jpg Acesso 28/07/11 Fonte 9 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugelundu.jpg 20/06/11 Fonte 10 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/debretpublico.jpg Acesso 21/06/11

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Fonte 11 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/debretsapataria.jpg Acesso 28/06/11 Fonte 12 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/historia/4escdbr.jpg Acesso 21/06/11 Fonte 13 RUGENDAS, Johann Moritz. MOULIN À SUCRE. Domínio Público. Acesso 27/06/11 Fonte 14 RUGENDAS, Johann Moritz. HABITATION DE NÈGRES. Domínio Público. Acesso 27/06/11 Fonte 15 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugehabita.jpg 01/08/11 Fonte 16 http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23690 28/07/11 Fonte 17 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/3sociologia/6grito2006.jpg Acesso 04/08/11 Fonte 18 http://www.diaadia.pr.gov.br//tvpendrive/arquivos/File/imagens/2010/historia/rugenavios.jpg Acesso em: 06/07/11

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